Os QUILOMBOS
8) «Os primeiros inimigos», dizia o Provincial «são os negros da Guiné alevan-tados que estão
em algumas serras, donde vem a fazer saltos e dar algum trabalho. . E como que profetizando: "e pode
vir tempo em que se atrevam a cometer a destruir as fazendas, como fazem seus parentes na ilha de S.
Tomé. A rebeldia dos escravos naquela possessão tornara-se ameaçadora por não haver índios no
interior que pudesse contra escravos fugidos. O resultado foi a sanguinolenta tragédia ocorrida na ilha
numa antecipaçã.o dos levantes de S. Domingos, em que os brancos foram assassinados. os engenhos
destruídos, as lavouras perdidas. Teve o regime escravocrata no Brasil maior estabilidade que em
outras regiões do mundo onde existiu, a despeito de episódios isolados a confirmar a regra, como foi o
de Palmares.» E acrescentava o roupeta: «Só podemos explicar essa diferença pela contribuição do
índio, destruidor-mor de quilombos, erigido daí por diante em "Capitão-do-mato», elemento da maior
importância na segurança dos engenhos, juntamente com os mestiços especializados no mister". (Anais
da Biblioteca Nacional. XX, pg. 255. — Também J. F. de Almeida Prado, Pernam-buco e as
Capitanias do Norte do Brasil, II, pg. 388, São Paulo, 1941) .
9) «Mas, a mais perfeita organização de defesa, no período da escravidão, foram os
quilombos», já dizia Arthur Ramos, para mais adiante acrescentar: «Já nos primeiros tempos da
escravidão, as fugas dos escravos eram frequentes. Os escravos fugidos, denominados quilombos,
reuniam-se muitas vezes em agrupamentos, os quilombos. Estes movimentos foram mais intensos no
século XVII, quando houve a formação da
célebre república dos Palmares, e no século XIX, com os movimentos de guerra santa dos Males, na
Bahia, "(Arthur Ramos, "O Espírito Associativo do Negro Brasileiro» in Revista do Arquivo
Municipal de São Paulo , XLVII, pgs. 105/126.
10) Nina Rodrigues, Os Africanos no Brasil, 3ª, pg. 127, São Paulo, 1954.
11) De quão numerosos foram os pontos, e trechos de mata, onde se acoutaram os escravos
tentando fugir à contenção dos brancos — diz Afonso de E. Taunay — subsistem as provas nessa
infinidade de quilombos e mocambos, incorporados à nossa toponímia nacional, em todas as regiões do
Brasil. Rios, cachoeiras, ilhas lagos, praias pontes, etc, assim batizados, recordam a presença em sua
vizinhança, de quilombolas, macumbeiros e canhemboras mais e menos recentes. (...) No terceiro tomo
da obra preciosíssima de Moreira Pinto, os Apontamentos para o Dicionário Geográfico do Brasil,
publicado em 1899, arrolou o sábio corógrafo 20 localidades chamadas Quilombo e Quilombinho, das
quais 7 em Minas e outras tantas em São Paulo. E mais de cinquenta acidentes geográficos cujos nomes
decorrem da mesma procedência.» «Deu-se ate curioso caso: a oticialização em Minas, de um desses
quilombos sob a égide de seu Orago São José do Quilombo hoje União, distrito de Barbacena.
«Prossegue Taunay:
«Na toponímia brasileira avultam também os Mucambos e Mucambinhos.» «O segundo tomo do
Dicionário de Morais Pinto arrola quinze lugares e arraiais intitulados Mocambos. No Maranhão, Piauí,
Pernambuco ( 2) . Alagoas (2), Sergipe (2), Bahia (5), Minas Gerais (2).» "Ainda há Mucambinho no
Maranhão, Ceará e Mucambeiro em Minas.» "Rios, serras, ilhas, igarapés, pontes chamados Mucambo,
cita-os Moreira Pinto no Maranhão, Ceará, Sergipe, Bahia, Goiás, Pará, Piauí, Minas." "No utilíssimo
Guia Postal do Brasil, de 1930, avultam os Quilombos e Mucambos. Nada menos de 94 agências
postais há com o nome de Quilombo, seis com o de Quilombinho, uma cora o de Quilombolas. Destas
101, 35 estão em Minas Gerais, 22 em São Paulo, 19 no Rio de Janeiro. Reminiscência da grande
cultura cafeeira... Fora de Pernambuco (4) e da Bahia (2) o nome não parece muito divulgado nos
Estados do Norte onde predominam a forma Mucambos, e os derivados desta, ao passo que no Sul a
preferência e para quilombo. Insere o Guia Postal 74 agências com estas designações das quais 28 só na
Bahia, 5 em Pernambuco, 10 no Piaui, 8 em Sergipe, 4 no Maranhão, Alagoas e Ceará.» (Afonso de E.
Taunay, Subsídios para a história do tráfico africano no Brasil, pgs. 50-52, São Paulo, 1941) Alguns
desses núcleos lograram vida longa e chegaram a granjear celebridade em razão de elementos tais como
população, extensão, organização econômica, política, social, e militar se assim pode-se classificar os
sistemas de defesa e de resistência às tropas de aniquilamento.