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MEMÓRIA HISTÓRICA DO
COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 - 1937
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Fernando Henrique Cardoso
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO
Paulo Renato Souza
SECRETARIA-EXECUTIVA DO MEC
Luciano Oliva Patrício
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS
Maria Helena Guimarães de Castro
Escragnolle Dória
MEMÓRIA HISTÓRICA DO
COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 - 1937
Brasília
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
1997
COLÉGIO PEDRO II
Wilson Choeri
Diretor-Geral
COMISSÃO DE ATUALIZAÇÃO DA MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO PEDRO II
Roberto Bandeira Accioli
Presidente
Afonso Bensabat Pinto Vieira, Aloysio Jorge do Rio Barbosa
António Nunes Malveira, Demóstheres Vieira Machado
Gastão Nogueira Gorrese, Marílio Pires Domingues
Noemi Pacheco Dias Gonçalves
EDIÇÃO ORIGINAL: 1937
FOTOGRAFIA E REPRODUÇÕES
Alexandre Souza Lima
NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
Regina Helena Azevedo de Mello, Rejane Dias Ferreira Ribeiro
PROJETO GRÁFICO
Danilo Barbosa, Marisa Maass, Matheus Gorovitz
REVISÃO
José Adelmo Guimarães
PUBLICAÇÃO REALIZADA DENTRO DO ACORDO MEC - UNESCO
TIRAGEM: 2.000 exemplares
INEP - SGAS, Quadra 607, Lote 50, 70200-670 Brasília - DF
Fone: (061) 244-2612 - Fax: (061) 244-4712
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Dória, Escragnolle.
Memória histórica do Colégio de Pedro Segundo / Escragnolle Dória;
Comissão de Atualização da Memória Histórica do Colégio Pedro II,
Roberto Bandeira Accioli... et ai. - Brasília: Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais, 1997.
XXVIII, 302 p.; il. ; color. ; retrs.
ISBN 85-86260-70-X
1. Ensino secundário - Colégio de Pedro Segundo - Brasil. I. Accioli,
Roberto Bandeira. II. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais. III. Projeto de Atualização da Memória Histórica do Colégio
Pedro II. III. Título.
CDU 37.057
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Sumário
Prefácio
Apresentação
Projeto de Atualização da Memória Histórica do Colégio Pedro II
Luiz Gastão D'Escragnolle Dória: Apontamentos Biobibliográficos
Bibliografia de Escragnolle Dória
Texto da publicação original de 1937
índice onomástico
vii
ix
xi
XV
xxiii
1
285
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Prefácio
Em 1990, o professor António José Chediak, então diretor-geral,
nomeou uma Comissão, sob a presidência do professor emérito
Roberto Bandeira Accioli, para atualizar a Memória Histórica do Colégio
Pedro II, reeditando a Memória Histórica do Colégio de Pedro Segundo
- 1837-1937, de Luis Gastão d'Escragnolle Dória, de longa data
esgotada. Houve por bem a Comissão assim proceder, para, numa
segunda etapa, dar continuidade ao período que decorre de 1938 até a
época presente.
Ao assumirmos a Direção-Geral, tornou-se. também, nosso
empenho a realização desse empreedimerito.
Conhecedor dos nossos propósitos, e do papel que o Colégio
Pedro II vem desempenhando no desenvolvimento educacional,
pedagógico e cultural do Brasil, o Intituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais (INEP), pelo zelo de sua presidente, professora
Maria Helena Guimarães de Castro, acolheu nossa proposta, como
uma das edições comemorativas dos 60 anos dessa consagrada
instituição.
Wilson Choeri
Diretor-Geral
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Igreja de São Joaquim (1758) posteriormente demolida
para o prolongamento da atual Avenida Marechal Floriano,
ao lado da qual existiu o Seminário de São Joaquim,
transformado em Colégio Pedro II.
Apresentação
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837- 1937
A atualização da memória histórica do Colégio
Pedro II tem sentido bastante significativo.
A republicação de edição comemorativa do
Centenário, acrescida do texto referente ao transcurso,
daquela data em diante, traduz a experiência vivida,
evocando quadro da nossa evolução politica e cultural.
Nos mais variados setores da vida nacional,
qualitativa e quantitativamente, a contribuição do Colégio
Pedro II se fez valer de modo expressivo.
A condição democrática que o anima alicerça sua
atividade, desde seus primórdios, a impor um proceder
que se vê consagrado por mais de século e meio e
festejado por parte de todo o Brasil que pensa e ama as
belas realidades.
Assinalado no Colégio o ano letivo de 1881 pela
conversão do Conselho Colegialem Congregação, constitui
norma o provimento das cátedras por via de concurso de
títulos e provas.
A relação dos professores recai em personalidades
das mais representativas, no que diz respeito às funções
docentes.
À frente da administração do Colégio se acharam
figuras das mais dedicadas e eficientes, cujo procedimento
se torna apreciável.
A participação nas reformas de ensino se objetiva
com o intuito de oferecer a solidariedade de propósitos
para aperfeiçoamento dos princípios basilares, quais
cânones a serem devidamente assegurados em benéfico
rendimento ao progredir da coletividade.
O diploma de Bacharel em Letras ao aluno que tiver
completado todo o curso é galardão conferido a ostentar
o importa a profissão escolhida, em que geralmente seu
portador se destaca.
Compartilhando dos grandes momentos da
nacionalidade, o Colégio Pedro II, através de seus mestres,
discípulos e servidores, prega a Liberdade e o amor à
Pátria, sem qualquer restrição, o que constitui apanágio
habitual.
O pessimismo inoperante e o otimismo
inconsequente cedem lugar ao equilíbrio. Nota-se, ainda,
o esvanecimento da velha querela entre antigos e
modernos, reunindo os mais e menos idosos nos menores
empreendimentos, e, assim mantendo o adquirido,
harmonizado com a inspiração inovadora.
Fim precípuo da civilização que ora se elabora é
conciliar em uma cultura e uma educação reais os
conhecimentos que afluem, numerosos e indispensáveis,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
para definir os valores fundamentais e justificar os dias
que correm e os vindouros.
Na cultura geral, a pesquisa do essencial faz-se
imprescindível.
Na cultura especializada ao indivíduo cumpre
preservar o saber,o só acolhendo-o como simples
herdeiro, mas fiel depositário de um património a ser
ampliado. Incumbe partir do passado para colocar as
vinculações que conduzem ao presente e permitam definir
sua originalidade. É a esse preço que se libera. Fazendo
bom uso do passado, alimenta-se o êxito.
Distante do derrotismo peninsular de outrorao há
por que deixarmos de considerar a validade dos dias atuais
e contribuir para um futuro promissor a ser obtido em bom
prazo...
Eis o grande ensinamento do Colégio Pedro II.
Já foi dito "não se compreende o elogio da árvore
sem o apreço pela raiz".
Viver exclusivamente do passado seria truncar a
existência, que é considerada como renovação contínua
de que participam simultaneamente , além do passado, o
presente, o futuro.
Roberto Bandeira Accioli
Professor Emérito do Colégio Pedro II
Presidente da Comissão de Atualização da Memória
Histórica.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
Projeto de Atualização da Memória Histórica
do Colégio Pedro II
I - Justificativa
0 Colégio Pedro II é um marco educacional brasileiro
que atravessou, com a mesma excelência de trabalho,
dois momentos maiores da vida do país: o tempo do
Império e o surgimento da República.
Em 1739, foi fundado o Colégio dos Órfãos deo
Pedro, origem do Seminário deo Joaquim que, por
decreto de 1837 levado para assinatura do Regente Pedro
de Araújo Lima pelo eminente Ministro Bernardo Pereira
de Vasconcellos, veio a transformar-se no Colégio Pedro
II. Homem de sólida formação humanística de irradiação
francesa, Bernardo Pereira de Vasconcellos tinha como
objetivo criar no Brasil um estabelecimento nacional de
ensino que recordasse a grandeza do Colégio de França,
considerado o maior monumento cultural da Europa.
o se veja aqui nenhum traço de cópia servil a
modelos estrangeiros, mas a vontade de dar passos em
caminhos já trilhados, na certeza de um resultado positivo
quanto à educação de um povo.
Os mais de cento e cinquenta anos de existência
do Colégio Pedro II respondem afirmativamente aos
anseios de seu idealizador. Durante esse período ele tem
sido a centelha viva a iluminar o aparecimento de novas
instituições. Seus professores irão participar da criação
do Instituto de Educação, do Colégio Militar e vieram a
influenciar outros estabelecimentos académicos, como a
Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Em seus bancos escolares se educaram
personalidades ilustres em diversas áreas da cultura
brasileira. Do mundo das letras ao universo da política
brilham nomes como Álvares de Azevedo, Joaquim
Nabuco, Barão do Rio Branco, Visconde de Taunay, Antenor
Nascentes, Manuel Bandeira, Souza da Silveira, Afonso
Arinos de Melo Franco, dentre muitos outros. Contam-se
também os três presidentes da República: Rodrigues
Alves, Hermes da Fonseca e Washington Luís.
Se os alunos atestam o alto padrão da qualidade de
ensino do Colégio Pedro II, ele se justifica por um quadro
docente memorável, onde se destacam Joaquim Manuel
de Macedo, Araújo Porto Alegre, Gonçalves Dias,
Gonçalves de Magalhães, Barão de Planitz, Barão
Tautphoeus, Barão Homem de Melo, Barão do Rio Branco,
Capistrano de Abreu, Euclides da Cunha, Fausto Barreto,
Carlos de Laet, Sylvio Romero, João Ribeiro, Manuel Said
Ali, José Veríssimo, Antenor Nascentes, Manuel Bandeira,
Celso Cunha em lista numerosa e exaustiva.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Nascentes e Bandeira foram alunos que voltaram
ao Colégio como professores, somando dois casos em
listao menos numerosa e exaustiva. Esse contínuo ir-
e-vir, essa dinâmica amorosa que só uma grande
instituição pode ostentar, é a marca do Colégio Pedro II.
o esmoreceu no tempo. Hauriu forças sempre
novas de sua comunidade, atenta às mudanças e pronta
a mudar. Tantas vezes emprestou seus talentos a reformas
educacionais, quantas vezes o Brasil necessitou de sua
presença estelar. Contribuir para o desenvolvimento da
Educação nacional foi, é e será o compromisso maior do
Colégio Pedro II, entendendo tal meta como a disposição
perseverante na preparação de um futuro melhor para o
país. Educaro é informar, mas formar verdadeiros
cidadãos do mundo a experimentar a vida ao compasso
de um coração brasileiro em que repousem indeléveis os
valores de nosso povo.
Estamos a postos, trabalhando, como fizemos nas
Reformas Rocha Vaz e Francisco Campos, através da
presença, entre outros, dos Professores Catedráticos
Floriano de Brito e Delgado de Carvalho.
O Colégio Pedro II representa a tradição gloriosa de
uma instituição que cresceu, multiplicando espaço físico,
corpo docente, administrativo e discente, a partir do
"Casarão"da Rua Larga deo Joaquim (hoje Av. Marechal
Floriano), onde se encontra a Unidade Escolar Centro. Em
nossos dias, compreende um grande complexo
educacional desdobrado em nove casas de ensino que se
estendem por diferentes bairros da cidade do Rio de Janeiro:
quatro Unidades Escolares atendem a crianças da Classe
de Alfabetização até a 4
a
série do Ensino Fundamental e
as cinco restantes a adolescentes no prosseguimento dos
estudos até a 3
a
série do Ensino Médio, totalizando 15.000
(quinze mil) alunos com índice de aprovação e permanência
escolar que fazem inveja até a estatísticas de países no
mundo desenvolvido.
O Colégio Pedro II, reverente a seu património
histórico cujos fios se entrelaçam a tecer a vida cultural
brasileira, como atestam a obra literária de Pedro Nava e
a dramaturgiao moderna de Dias Gomes e de Gilberto
Braga, deve permanecer como exemplo de uma instituição
escolar que cultua a liberdade e o conhecimento alicerçado
em valores a firmar raízes em sua tradição
sesquicentenária.
II - Proposta
A história dessa singular instituição federal de ensino
o pode ser perdida, com o risco de se perder também a
memória nacional.
É urgente que se alinhem no tempo os fatos
importantes que tiveram lugar no Colégio Pedro II.
Escragnolle Dória registrou, em páginas lapidares, a
trajetória do Colégio desde sua fundação até 1937. A
Memória histórica é parada obrigatória para qualquer
estudioso que pretenda penetrar no universo cultural
brasileiro quer na política, quer nas artes, quer na ciência,
quer na Educação. De tudo participou, emprestando sua
experiência e seu engenho.
Em branco está sua história pós-centenária a pedir
prelo que a imortalize na alma do leitor brasileiro,
desenhando o perfil de uma gente assinalada pela fé no
processo da Educação como o caminho transformador da
sociedade.
Eis por que se reedita, com ortografia atualizada, a
obra de Dória e a ela se dará continuidade, traçando a
linha histórica que liga o Colégio Pedro II de 1937 aos dias
atuais.
III -
Objetivos
III.I Geral
Manter viva a memória do Colégio Pedro II, através
da organização de documentos existentes nos arquivos
das diversas Unidades Escolares e Administrativas.
III.II Específicos
Atualizar a ortografia da Memória histórica de
Escragnolle Dória, tanto quanto for possível, corrigir gralhas
e erros óbvios, reconhecíveis ou identificáveis.
Escrever a continuação dessa obra.
IV - Estratégias
Nessa busca pelo desenho de uma fisionomia
completa do Colégio Pedro II, desde suas origens até o
presente momento, foi criada uma comissão, presidida
pelo Catedrático Emérito e Decano Professor Roberto
Bandeira Accioli, que vem colhendo material, já tendo
formado um acervo de pesquisas de grande importância
para a confecção da obra pretendida.
Nomeada em 1990, pelo Professor António José
Chediak, então Diretor-Geral, mantida pela administração
da Professora Maria Amélia Amaral Palladino, a Comissão
de Atualização da Memória Histórica do Colégio Pedro II,
presidida pelo Professor Roberto Bandeira Accioli, é
formada pelos Professores Aloysio Jorge do Rio Barbosa,
António Nunes Malveira Demósthenes Vieira Machado,
Gastão Nogueira Gorrese, Marílio Pires Domingues, Noemi
Pacheco Dias Gonçalves e o Museólogo Alfonso Bensabat
Pinto Vieira.
Com os originais prontos, a Comissão passou a
tratar da segunda fase do projeto: a elaboração de uma
obra a dar continuidade à Memória histórica que deverá
conter a evolução do Colégio Pedro II compreendida entre
2 de dezembro de 1937 e os dias atuais. Focalizando
eventos importantes e suas imediatas repercussões, a
linha narrativa obedecerá a duas partes gerais:
1
a
parte: A evolução estrutural
2
a
parte: A evolução didático-pedagógica.
Na Primeira Parte, haverá uma abordagem sobre a
estrutura física, os bens patrimoniais que foram acrescidos
à Casa, a ampliação de suas instalações, expandindo a
área de atuação do Externato, no Centro da cidade, e do
Internato, no bairro deo Cristóvão, nas proximidades
do Palácio Imperial, para outros distritos administrativos,
como Humaitá e Engenho Novo, em 1952, e Tijuca, em
1957. Destaque-se ainda a reconstrução do complexo
arquitetônico deo Cristóvão, a partir dos anos 60, por
força de um incêndio que o destruiu.
Na Segunda Parte, o foco da obra centrar-se-á no
desdobramento didático-pedagógico, relacionando planos
e programas de ensino, o paulatino aumento de matrículas
e o crescimento dos corpos docente, paradocente e
técnico-administrativo.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Luiz Gastão DEscragnolle Dória
Apontamentos Biobibliográficos
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
"Relativamente velho em um paíso novo, o Colégio de Pedro
II pode justamente se ufanar de sua existência e pode dizer às
gerações futuras que as passadas souberam cumprir nobremente o
seu dever".
Escragnolle Dória (Memória, 1937, p. 228)
Luiz Gastão DEscragnolle Dória
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Na cidade do Rio de Janeiro, em 1869, no número 25
da Rua Visconde de Itaúna, hoje desaparecida para
a abertura da Avenida Presidente Vargas, nascia o nosso
historiador e literato arqueólogo. Em 1948, na mesma
cidade faleceu.
Filho de Luiz Manoel das Chagas Dória, General de
Divisão reformado, Bacharel em Ciências Físicas e
Matemáticas, professor da Escola Superior de Guerra, e
autor celebrado da obra Estradas de ferro em tempo de
guerra (Rio, 1883), que mereceu ser traduzida para o
alemão e o francês por oficiais daqueles exércitos;
escreveu, também, uma conceituada memória sobre a
estabilidade das abóbadas circulares.
Dona Adelaide d'Escragnolle Taunay Dória, sua mãe,
como se evidencia por seu sobrenome, era uma
Escragnolle Taunay. Eram tios do menino o Barão de Itaipu
e o Visconde de Taunay, ilustre ex-aluno do imperial colégio.
Pela Portaria de dois de abril de 1934, por decisão
da Colenda Congregação, Escragnolle Dória foi incumbido
de elaborar a história dos cem primeiros anos do Colégio
fundado por Bernardo Pereira de Vasconcelos em 1837.
No tempo aprazado, em 1937, terminou ele a
Memória Histórica do Colégio de Pedro II, obra que se
recomenda àqueles que estudam a evolução da Instrução
Pública, da Pedagogia, da Educação e da Cultura no Brasil
- fonte bibliográfica inestimável, raríssima e hoje muito
procurada - razão da presente reedição. Em justa
apreciação desse trabalho escreveu Noronha Santos:
"Obra de inestimável valor histórico, minuciosa e
excelentemente documentada, com testemunhos
fidedignos sobre a história daquele notável estabelecimento
de educação secundária, acompanhando o progresso e
desenvolvimento conquistados numa centúria em prol da
instrução pública no Brasil. Trabalho de raro mérito que
exemplifica a capacidade produtiva de Escragnolle Dória,
o seu esforço beneditino na consulta de documentos
arquivais, e, sobretudo na probidade, por todos reconhecido
como homem de bem a toda prova". (Revista da Semana,
10jan. 1948.).
Escragnolle Dória, efetivamente engajado, bem
cumpriu a tarefa que lhe fora atribuída - missão arduamente
beneditina de compulsar nas tradições do passado as
presenças infindas das forças de continuidade do futuro.
Com desvelo da sua operosidade, competência e
obstinação, foi coadjuvado pela ajuda reverente de dois
auxiliares, dois contínuos, Domingos e Leite, escribas
copistas e contritos, e que também passavam a conhecer
e eram parte da memória que ajudavam a recuperar.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Entregue a sua preciosa Memória, jubilou-se, por
imperativo legal, do magistério do Colégio. A Congregação
Colenda, com sabedoria, justiça e alto espírito de
reconhecimento de seus serviços e proficiência, prestância
pedagógica e educacional singular, foi buscá-lo para, por
unanimidade, conferir-lhe solenemente o título de Professor
Emérito. O Professor Jônatas Serrano, educador
excepcional, saudou-o em nome de seus pares daquela
Congregação a qual o agraciado pertencia desde 1906.
o era só o Colégio Pedro II que se rejubilava com
a outorga da emerência concedida. José Piragibe, citado
por Serrano, em comentário no Jornal do Brasil, naquela
oportunidade, assim se manifestou: "Só como professor
do Colégio Pedro II é que Escragnolle Dória está
aposentado. No sentido figurado da palavra emérito a
Congregação do Ginásio Nacional apenas confirmou a
opinião de quantos, mesmo sem o conhecerem,
aprenderam e continuarão a aprender com ele muito da
nossa História, muitas minúcias, grandes coisas aos olhos
dele, pelo mundo de maravilhas que encerram e que ele
nos desvenda, e que nos educam, tomando-nos melhores".
Jônatas Serrano, no seu discurso, glosando texto
do próprio Dória, sobre o papel do mestre como informador
e educador, vistoo serem educação e instrução "coisas
nem sempre gémeas", acentuou: "E a segunda sem a
primeira - que pobreza moral e que perigo! Oxalá jamais
o olvidem os reformadores do ensino. Programas,
currículos, métodos renovados facilitam a tarefa. O
essencial no prodígio da formação de uma personalidade,
só o realiza o verdadeiro mestre, pelo que sabe, e,
sobretudo, pelo que é. Esta solenidade vos exalça pelo
que sabeis e pelo que sois".
Coroava-se, naquela sessão magna de 26 de agosto
de 1937, no Salão Nobre que ele tanto admirava e exaltara
em artigo especial, a carreira de um professor autêntico e
predestinado. Vocação que cedo se delineara.
Vejamos a formação de Escragnolle Dória.
Passou parte da sua infância no Alto da Boa Vista,
bem pertinho da Cascatinha da Tijuca, desfrutando da
beleza e da quietude daquele sítio privilegiado.
Terminados os estudos primários, Luiz Gastão foi
estudar no Colégio Aquino e no Colégio Amorim. O Pedro
II era passagem obrigatória, e, assim o confirma Jônatas
Serrano: "Desta Casa já éreis desde os tempos de aluno
e ainda o quero redizer, a ela tornastes como bom filho...".
Ainda com onze anos já demonstrava a sua
precocidade literária ao traduzir do francês uma novela
jocosa de Méry, O sábio e o crocodilo, que foi publicada
na Revista da Escola Militar, em 1880.
Em 1886 matriculou-se na Faculdade de Direito de
o Paulo, onde se diplomou em Ciências Jurídicas e
Sociais, em 1890. Foram seus condiscípulos Wenceslau
Braz e Delfim Moreira. Dois futuros presidentes da
República.
Durante algum tempo, exerceu brilhantemente a
advocacia, mas foi, sobretudo, no magistério e nas letras
que desenvolveria com maior proficiência, produtividade
e empenho as suas atividades, sem esquecer a sua
importante contribuição para a arquivística brasileira.
Desde 1887, talvez antes, já escrevia contos, mais
tarde, em 1902, enfeixados em volume com o título Dor,
nome do primeiro, e louvados pela crítica da época.
No magistério cedo ingressara como professor a
partir de 1890. Entre 1896 e 1898 foi Redator de Debates
do velho Senado Federal, que funcionava onde hoje está a
Faculdade Nacional de Direito, no Rio de Janeiro.
De 1902 a 1909 ministrou aulas no Ginásio Nacional,
regendo interinamente as cadeiras de Francês, Inglês,
Lógica e Geografia. Entre os anos de 1908 e 1909, suas
atividades docentes se distribuíram, ainda, pelo
Pedagogium Municipal, Colégio Paula Freitas, Ginásio
Fluminense, Escola Normal, Ginásio Pio Americano,
Instituto Comercial, bem como outras instituições de
ensino.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Em 1906, em concurso ao qual concorreram José
Veríssimo, Felisbelo Freire, Joaquim Osório Duque Estrada,
Armando Dias e Pedro Coutto, obtém, com brilhantismo,
em primeiro lugar, a cátedra de História Universal e
especialmente da América e do Brasil do Colégio Pedro II,
então denominado Ginásio Nacional. Nomeado pelo
presidente Rodrigues Alves, bacharel do Colégio,
Escragnolle Dória tomou posse em sete de novembro
daquele ano, sendo saudado pelo professor Dr. Fortunato
Duarte, decano da Congregação.
Em 1909/1910, justo um ano. encontra-se na Europa
a serviço do Governo Brasileiro, o que irá ocorrer,
novamente, nos anos de 1911 e 1912, quando, por ordem
do Barão do Rio Branco, ficou à disposição do Ministério
das Relações Exteriores, para pesquisar e recolher nos
arquivos europeus documentos que pudessem interessar
à História do Brasil. E note-se, somente com os
vencimentos de professor do Colégio!...
O pai de Herbert Moses, sabendo em que condições
seria a sua estada na Europa, fez questão de entregar-lhe
uma carta de crédito de vinte mil francos, jamais utilizada
pelo professor, mas cujo gesto, de todo o coração,
também, jamais foi esquecido por Escragnolle Dória (cf.
AGRA.Alexandrino, O Globo de 2 fev. 1948.).
Max Fleiuss, em 1911, encabeça proposta que o
torna, em 1912, sócio do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro.
Nomeado para a direção do Arquivo Nacional, sua
gestão profícua desenvolveu-se de 1917 a 1922. Foi um
dos mais dignos e operosos diretores, cuja administração
caracterizou-se, principalmente, por grande atividade
arquivológica, à qual se juntava um acentuado culto às
mais genuínas tradições brasileiras, de que foi prova o
desenvolvimento dado ao Museu Histórico do Arquivo,
primitivo núcleo do outro que o sucedeu, ampliou-se, e
que hoje tanto se recomenda. Escragnolle Dória sabia que
só a preservação consciente desses valores, como
comportamento ético e social, cultural e cívico é que se
mantém viva a memória nacional. E isto ele o viu bem.
Era-lhe um sentimento inato.
As suas atividades de labor incansável, intelectual
e artístico,o o impediam de colaborar com outras que
eram pauta de seu espírito humanitário da verdadeira
caridade. Como Irmão da Santa Casa de Misericórdia ,
foi procurador da então Casa dos Expostos, depois
Fundação Romão de Matos Duarte, sobre a qual, registre-
se, deu à publicidade um opúsculo histórico que revela,
dentro da isenção do historiador, a sensibilidade de um
coração generoso. Depois de observar que "pouquíssimo
se sabe da vida de Matos Duarte", que viveu no Rio de
Janeiro no século XVIII, lembra que "a biografia deste
continuaráo árida quão fecundo foi o seu coração,
reduzido sacrário humano das infinitas bênçãos de Deus".
Uma instituição surgiu do mesmo espírito que fez nascer,
em 1739, um seminário para órfãos, que, mais tarde,
reformado e renovado, encontraria o seu historiador naquele
procurador da Misericórdia.
o abandonou a liça. Como procurador, militara de
1912 até 1920. Novas atribuições o esperam de 1920 a
1921. É investido como Quinto Mordomo dos Prédios, e
passa a gerir o património do Hospital Geral. Comoo
poderia deixar de ser, escreveu a História da quinta
mordomia, onde, num passo, exprimiu um pensamento
lapidar, principalmente, para as instituições: "Inútil tentar
entender, ainda menos explicar presente ou prever futuro,
sem recurso do passado. A ordem intelectual ou moral é
cadeia, tem elos, forçosamente".
Foi um missionário militante. E assim o
encontraremos nos registros das Irmandades da Glória do
Outeiro, na Cruz dos Militares ou da Lapa dos Mercadores.
Pertenceu a muitas instituições científicas, dentre
outras, ao Instituto histórico e Geográfico Brasileiro,
Instituto de Bacharéis em Letras, ao Instituto Genealógico
deo Paulo, e sócio correspondente da Sociedade de
Geografia de Lisboa.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
A campanha da Assistência Dentária Infantil
encontrou nele um grande incentivador participante e só
atingiu os seus objetivos porque foi apoiada por Escragnolle
Dória, Irineu Marinho, Eurides de Matos, Costa Rego e
Elmano Gomes Cardim.
Eo mestre!
Ele mesmo, antologicamente, se gizou no prefácio
do Epítome de história universal (1917), de Jônatas Serrano:
"Ser mestreo é dar aula mecanicamente, a
namorar o relógio, mastigando noções e deglutindo
enfados, chamando quatro ideias para manter palavra
durante sessenta minutos.
Ser mestre é um pouco mais, é espreitar com
alvoroço o progresso do aluno, afagando-o no impulso do
esforço, corrigindo-o no tatear do erro.
O aluno aproveitável, brioso de futuro,o se
desampara com o prazer à porta da escola, perdendo-o de
vista, para sempre, no reboliço da turba humana.
Cultivando-o para bem da comunidade, o mestre
continua a segui-lo pelo enleio sinuoso da vida, desviando-
o do perigo pelo conselho, pelo apoio material se for
preciso, fixando-o no bem e no trabalho pelo aplauso,
sóbrio, mas cordial."
O depoimento de Heitor Beltrão, seu ex-aluno, atesta
que o mestre espelhara-se em si mesmo: "Se os discípulos
aproveitáveis precisavam, depois da aula, do seu concurso,
de seu conselho, e mesmo de seu auxílio material,
ressurgia-lhes Escragnolle Dória, como nume benfazejo
do Colégio, emissário espiritual das aulas idas, projetando-
se, amparador e discreto, até as lides ásperas cá de fora..."
(Jornal do Brasil, 18/11/1937).
o fora outra a razão da homenagem que lhe
prestaram, em 24 de dezembro de 1933, seus alunos da
Quinta série - Turma B, que o tiveram como professor de
Francês, História do Brasil e História Universal, no
Externato, de 1929 a 1933. A sua efígie modelada em
bronze exorna a Sala 18, denominada, daí então, Sala
Escragnolle Dória.
Espírito polimórfico de invulgar sensibilidade, desde
cedo empolgou-se pela literatura, artes, teatro, ópera e
bel-canto. Apaixonado pela psicologia das emoções,
retrata nos seus contos as causas da dor ou da alegria, os
estados da alma e os desencontros, e as situações
conflitivas da vida na sua variada e cambiante
complexidade.
Biografias e perfis, como os do Visconde de Souza
Franco, de Salles Torres Homem ou do Conde de Porto
Alegre, pontilham luminosamente os seus artigos, quer
pela reversão de momentos vividos quer pela análise dos
documentos. Das suas lembranças da ópera e do Bel-
Canto bem as evoca na série de artistas de outros tempos,
numa galeria que inclui, dentre outros, Juliana Bejeau,
Rosina Laborde, Gottschalk, SigismundoThalberg, Rosina
Stoltz, Enrico Caruso, Eleanora Duse e Adelaide Ristori.
Conhecedor de várias línguas, e, principalmente da
francesa, de que é exemplo precoce a tradução da novela
de Méry e, em especial, a que fez, mais tarde, do célebre
soneto de D'Arvers. Traduziu também O corvo, de Edgar
Allan Poe.
Parece ter sido o único brasileiro a ser mencionado,
com aplauso, no Journal des Goncourts. Correspondia-se
com François Coppée, Edmond de Goncourt, Júlio Verne,
Pierre Loti, Mistral, Massenet, Mallarmé, Maeterlinck,
Edmond Rostand, Saint-Saens, Émile Zola, dentre outros
grandes vultos consagrados da literatura e das artes da
França. Nomes representativos de uma "Belle Époque".
Professor e publicista, exerceu, com êxito, o conto,
a poesia, a crítica artística e literária. Outra atividade
querida, simultaneamente, o acompanhou em todo o curso
de sua vida - o jornalismo.
Iniciou-se no jornalismo emo Paulo. De julho de
1891 a 18 de fevereiro de 1893 colaborou na Folha da Tarde,
de Santos. Participou da segunda fase de A Semana de
Valentim Magalhães e Max Fleiuss, de 1892 a 1895. Passou
pelas redações do Jornal do Commercio (1891 -1922); Rua
do Ouvidor (1896), Gazeta de Notícias (1908), Capital
Paulista (1900), Anais (1905) etc. Colaborou nas revistas
Eu Sei Tudo, Renascença, Kosmos, A Semana, Arquivo
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Público Mineiro, Século XX e Sul América. Longa é a lista.
Cumpre ressaltar que foi, sobretudo, na Revista da
Semana, onde, desde 1921 até 1948, escreveu cerca de
1320 artigos, tendo sido o último postumamente publicado:
"Três Cartas de Euclides da Cunha". Labutou ali durante
vinte e seis anos, com pequenas interrupções redigindo
artigos que fizeram época. Eram de ampla aceitação pelo
seu teor verdadeiramente documental e iconográfico.
Trabalhos honestos, pautados exclusivamente na verdade
histórica. O seu primeiro artigo na revista (01/01/1921)
intitulava-se Exposição de arte e história dos três reinados,
1808-1889.
Escreveu libretos para óperas e poemas sinfónicos
para: Jupira, Marabá e Insónia de Francisco Braga; Navio
Negreiro de Assis Nepomuceno; Anchieta de Newton
Pádua; Independência de Elza Cármen; e comoo poderia
deixar de ser para a composição de Villa Lobos, A Guerra.
De 1913 a 1931 comentou os programas da
Sociedade de Concertos Sinfónicos.
Usou vários pseudónimos: Vegex, D. Demetrius,
Branca de Miramar, Ulisses de Aguiar, Mac Nemo, Nemo,
José Belém, Dornelas, Um Abelhudo, Álvaro Guedes, Jacy
Belém e E.D.
Nos artigos que escrevia na Revista da Semana
predominavam estudos sobre temas da História da
Civilização e, notadamente, assuntos brasileiros. Foram
crónicas de micro-história , mas necessárias, de
memorialista sublime, em estilo cativante, talvez, barroco
para nossa atualidade, onde o passado era visualizado pela
oportunidade da revalorização das instituições, dos
homens, dos monumentos e acontecimentos, com a
preciosidade do realce correspondente à sua fama
redimensionada.
O seu arquivo arqueológico de recuperação do
passado era excepcional em todos os sentidos, tanto dos
recursos documentais de que dispunha, quanto da sua
extraordinária memória. Entretanto, nada disto valeria se
o tivesse uma sensibilidade criadora - pedra de toque
da empatia que tornava o leitor presa das suas intenções
éticas, cívicas, artísticas e educacionais. Pela linguagem
dos periodistas e como um sacerdócio, escrevia um
mestre das nossas antiqualhas, da sua cidade e do Brasil.
Vinha Escragnolle Dória juntar-se a outros nomes
inesquecíveis do Colégio Pedro II: Joaquim Manoel de
Macedo (seu primeiro historiador) e Moreira de Azevedo,
professores, e Vieira Fazenda, ex-aluno, todos mestres de
antiqualhas.
Merece citada o elogio fúnebre que dele fez Pedro
Calmon, Professor Catedrático do Colégio no 110°
Aniversário da fundação do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro a 21 de outubro de 1948:
"Biógrafo, ensaísta, historiador admiravelmente
instruído acerca dos grandes e dos miúdos
acontecimentos, manteve até o final de laboriosa
existência a preocupação do patriotismo. O que de
panegírico houvesse na sua literatura, o que nela vibrasse
de tradicionalismo polémico, até o seu recorte vetusto de
evocação repassado de contrastes com a medíocre
atualidade, correspondiam à energia um tanto intratável
desse patriotismo intransigente. Dava aos moços que o
viam de longe no isolamento austero, de seus assuntos e
de sua idade, a impressão de um desterrado -o na sua
terra, senão no seu tempo, pois conservava intacta a alma
dos vinte anos e, o que era mais, a recordação e a
sensibilidade de sua literatura espoliada de acessórios
verbais que dispensava, para dar à frase uma suposta
elegância, torcendo-a a seu jeito. Que suprimia
sistematicamente os artigos e abusava do jogo de
palavras... maso se negava a sua arte de recompor as
imagens, a engenhosa invocação dos cenários, a galanteria
e o virtuosismo das descrições de que ressaltava o perfil
vigoroso do seu personagem.
Possuía o segredo desse género literário e a seu
serviço punha o insondável acervo de sua erudição, espécie
de gaveta de feiticeiro donde, infalivelmente, o mago
solitário retirava, sem esforço o chiste, a raridade, a figura
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Ou o esplendor dos episódios que contava. Contava-os
com o veio de ensinar. E ensinou honradamente até o
fim, artífice modesto agarrado a vida toda às ferramentas
do ofício e que só as deixou quando enregelado pela morte
jáo podia suster a máo laboriosa."
Sua cidade soube homenageá-lo, dando o seu nome
a uma Rua de Santa Tereza, e a uma escola na Estrada do
Acaraí, em Costa Barros. Em maio de 1957, seu busto foi
erigido na Rua Conde de Bonfim, na Praça Pinheiro
Guimarães, defronte do Hospital da Penitência, na Tijuca.
O Colégio Pedro II jamais o esqueceu.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
I - Obras publicadas em livros ou opúsculos:
DÓRIA, Escragnolle. As Semivirgens. Tradução do
romance de Mareei Presvot. Com
prefácio do tradutor. Rio de Janeiro:
[S.I.], 1896.
Dor: contos variados. [S.l.l: Liv.
Garnier.1904.
Coisas do passado. Rio de Janeiro,
1909. Separata do Tomo LXXI, 2"
parte da Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro.
Obs. Trabalho assim dividido:
Artistas de outros tempos: Rosina
Stoltz, Sigismundo Thalberg,
Henrique Tamberlick, Julianne
Dejean, Rosina Laborde, Emilio
Wrobleski, Gottshalk, Adelaide
Ristori, Carlota Patti, Ritter Sarasate,
Julião Gayarre, Domingos Santinelli
e Eleanora Duse. O Teatro na
exposição; - O noviço; As doutoras.
Deus e natureza. Os Irmãos das
almas. As Asas de um anjo;
História de uma moça rica. Notas
de história financeira.
Biografias do Visconde de Souza
Franco e de Sales Torres Homem
(Inhomirim). Figuras do passado:
Conde de Porto-Alegre.
Ubique Patriae Memor. Rio de
Janeiro, 1913. Separata do Tomo
LXXVI da Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro.
Três conferências Europeias sobre
o Brasil. Da conveniência de um
Acordo Luso-Brasileiro (Lisboa,
1909).
A significação da obra de Anchieta
na História do Brasil (Roma, 1910);
Un coup d'oeil sur 1'Histoire du
fírés/1 (Roma. 1910)
Romão de Matos Duarte, o benfeitor
da Casa dos Expostos. Rio de
Janeiro: [S.I.], 1916.
Publicações do Arquivo Nacional.
Rio de Janeiro, 1917. v. 17.
D. Pedro II, infância e educação.
Notas biográficas da família
imperial. Rio de Janeiro: Arquivo
Nacional, 1917. v. 17.
Bibliografia de Escragnolle Dória
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Publicações do Arquivo Nacional.
Rio de Janeiro. 1922. v. 20. Edição
comemorativa do Centenário da
Independência.
Terra Fluminense. Descrição de
todos os municípios do Estado do
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: [S.I.],
1929.
Memória histórica do Colégio de
Pedro II. Publicação oficial do
Ministério de Educação e Saúde,
comemorativa do Primeiro
Centenário (2 de dezembro de 1837
- 2 de dezembro de 1937). Rio de
Janeiro: MEC, 1937.
II - Títulos de temas ou assuntos publicados em
revistas ou periódicos que fazem referência ao Colégio
Pedro II, direta ou indiretamente, levantados,
principalmente, a partir do Códice que registra a produção
intelectual de Escragnolle Dória, incorporado ao arquivo
desse professor, e que se encontra sob a guarda da Seção
de Arquivos Particulares da Divisão de Documentação
Escrita do Arquivo Nacional, no qual se podem contar quase
três mil títulos, talvez mais.
III - Artigos de Periódicos
DÓRIA, Escragnolle. Um alunno histórico do Collegio Pedro
II. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 21 nov. 1916.
Sobre Carlos Vieira Ferreira, que socorreu o Barão do
Ladário, ferido no dia 15 de novembro do 1889.
. Um alunno do Pedro II. Boletim Oficial da Casa do
Estudante, v. 1, n. 10, maio 1937. Transcrito também
na Revista Ciências e Letras, dos alunos do Colégio
Pedro II.
. Álvares de Azevedo, bacharel em Letras. Revista da
Semana, Rio de Janeiro, v. 32, n. 30, jul. 1931.
Bacharel em Letras pelo Colégio Pedro II, na turma de
1847.
. Álvares de Azevedo no Colégio Pedro II. Jornal do
Commercio, Rio de Janeiro, 2 abr. 1914. Miscelânea.
Aspectos da vida colegial do poeta.
. Antigos colégios cariocas: Pedro II, Marinho, Vitorio,
Abílio, S. Pedro de Alcântara, Menezes Vieira, Aquino.
Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 39, n. 40, set.
1938.
. Ao pé da letra: uma anedota atribuída ao 1
o
Marquez
de Paranaguá. Sciencias e Letras, Rio de Janeiro, v.
1, n. 2, ago. 1926.
. O Barão de Tautphoeus (Jacob José Hermann).
Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 23, n. 10, mar.
1922.
. Bernardo de Vasconcellos. Jornal do Commercio, Rio
de Janeiro, 1 maio 1914. Vultos históricos. Estadista,
ministro, fundador do Colégio Pedro II.
. . Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 39, n. 1,
dez. 1937. A propósito do 1
o
centenário da fundação
do Colégio Pedro II.
. Bertholdo Goldschmidt. Revista da Semana, Rio de
Janeiro, v. 34, n. 33, jul. 1933. Professor do Colégio
Pedro II.
. O Bispo de Areópolis. Revista da Semana. Rio de
Janeiro, v. 47, n. 42, out. 1946. D. João de Seixas
Fonseca e Borges, beneditino.
. Bom Retiro, professor. Revista da Semana, Rio de
Janeiro, v. 34, n. 42, nov. 1933. Luiz Pedreira do Couto
Ferraz, Visconde do Bom Retiro.
. A cadeira de história do Collegio Pedro II. Revista da
Semana, Rio de Janeiro, v. 35, n. 20, abr. 1934.
Histórico da cátedra no Colégio e seus principais
ocupantes.
. Carlos de Laet. Revista da Semana, Rio de Janeiro,
v. 41, n. 4, jan. 1940. Professor e diretor do Colégio
Pedro II.
. Carlos de Laet: notícia biográfica. Bibliotheca
Internacional de Obras Célebres, n. 11, p. 6330-1,119?].
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Transcrito também em Bii (Boletim Oficial da Casa do
Estudante do Brasil).
. Centenário de Carlos de Laet. Revista da Semana,
Rio de Janeiro, v. 48, n. 40, out. 1947. Professor e
jornalista, 1847-1947.
. O centenário de Tautphoeus. Escola Primária, Rio de
Janeiro, v 2, n. 5, fev. 1918. O 100° aniversário natalício
de Tautphoeus.
. O centenário de Vieira Fazenda. Revista da Semana,
Rio de Janeiro, v. 48, n. 18, maio 1947. Bacharel em
Letras pelo Colégio Pedro II, médico pela Faculdade
de Medicina do Rio de Janeiro, bibliotecário do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, 1847-1947.
. O Chácara do Mata. Revista da Semana, Rio de
Janeiro, v. 36, n. 19, abr. 1935. Edifício do antigo
Internato do Colégio Pedro II, ora Colégio da
Companhia Tereza de Jesus, na rua S. Francisco Xavier.
. O Collegio Pedro II. Revista da Semana, Rio de
Janeiro, v. 38, n. 52, dez. 1937. A propósito do 1
o
centenário da fundação do Colégio.
. O Collegio de Pedro II em Riachuelo. Jornal do
Commercio, Rio de Janeiro, 11 jun. 1917. Vultos
históricos. A participação do Colégio na batalha,
através da presença de seu antigo aluno Aurélio
Garcindo Fernandes de.
. Dantes (D. Duarte da Costa, 2
o
governador geral do
Brasil). Sciencias e Letras, Rio de Janeiro, v. 2, n. 6,
jun. 1927.
. De Simoni: o médico, o professor, o literato. Revista
da Semana, Rio de Janeiro, v. 30, n. 25, jun. 1929.
. A dívida do estudante. Sciencias e Letras, Rio de
Janeiro, v. 1, n. 3, set. 1926. Sobre a resistência dos
estudantes na invasão de Duclerc.
. Em demanda do Preste Johan. Pantheon, Rio de
Janeiro, v. 1, n. 3, set. 1916. Transcrição.
. O Escudo de Minerva. Revista da Semana, Rio de
Janeiro, v. 23, n. 11, mar. 1922. Jornal manuscrito e
desenhado por alunos do Colégio Pedro II, entre eles
Jerónimo José Teixeira Júnior e António Ferreira Vianna,
depois figuras políticas eminentes do Segundo Reinado.
. A exposição de História do Brasil, em 2 de dezembro
de 1881, na Biblioteca Nacional, diretor Ramiz Galvão.
Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 44, n. 51, dez.
1943.
. Farias Brito. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro,
22 jan. 1917. Poetas e prosadores. Raymundo Farias
Brito, filósofo brasileiro.
. Fausto Barreto. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro,
5 set. 1915. Professor do Colégio Pedro II.
. Ferreira Vianna, estudante. Revista da Semana, v.
33, n. 22, maio 1932. António Ferreira Vianna, notável
jurisconsulto.
. Frei Camilo de Monserrate. Revista da Semana, Rio
de Janeiro, v. 44, n. 5, jan. 1943. Professor do Colégio
Pedro e o bibliotecário da Biblioteca Nacional da Corte.
. Garcindo. Sciencias e Letras, Rio de Janeiro, v. 1, n.
5, nov. 1926. Aurélio Garcindo Fernandes de, antigo
aluno do Colégio Pedro II e herói de Riachuelo.
. . Pronome, Rio de Janeiro, v. 1, n. 25, jun. 1933.
. Gonçalves Dias. Pronome, Rio de Janeiro, v. 5, n. 26,
jul. 1933. António Gonçalves Dias, poeta.
. Gymnasio Nacional. Rua do Ouvidor, v. 1, n. 31, dez.
1898. Sem assinatura.
. A história e a anedota: relação entre ambas. O
NacionaL Rio de Janeiro, v.1, n. 2-3, out. 1924. Revista
do Colégio Pedro II.
. Homem de Mello. Revista da Semana, Rio de Janeiro,
v. 46, n. 26, jun. 1945. Barão Francisco Inácio
Marcondes, professor de história do Colégio Pedro II e
do Colégio Militar, 1837-1918.
. Homem de Mello: o erudito, o político, o professor.
Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 13 jan. 1918.
. Joaquim Caetano. Jornal do Commercio, Rio de
Janeiro, 28 fev. 1913. Poetas e prosadores. Joaquim
Caetano da Silva, o sábio.
. Joaquim, médico. Revista da Semana, Rio de Janeiro,
v. 42, n. 42, out. 1941. Joaquim Caetano da Silva,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
recordações de sua vida, sobretudo do seu curso
médico na Faculdade de Montpellier.
. Jonathas Serrano. Revista da Semana, Rio de Janeiro,
v. 45, n. 45, nov. 1944. Professor de história do Colégio
Pedro II e do Instituto de Educação.
. Justiniano da Rocha. Revista da Semana, Rio de
Janeiro, v. 42, n. 4, jan. 1941. Justiniano José da Rocha,
jornalista e professor.
. Magistério. Revista d. Semana, Rio de Janeiro, v.
42, n. 5, fev. 1941. A propósito da morte dos
professores José Piragibe e Caetano de Azeredo
Coutinho.
. Manuel Artur Ferreira. Revista da Semana, Rio de
Janeiro, v. 42, n. 43, jun. 1941. Pintor e professor do
Colégio Pedro II.
. Marabá. Pantheon: Revista dos alunos do Colégio
Pedro II. , Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, jul. 1916.
Transcrição.
. Um mas: a propósito de palavras curtas. Sciencias e
Letras, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, jul. 1926.
. Um ministro e um decreto: o cónego Januário da
Cunha Barbosa e o ministro Manoel António Galvão.
Sciencias e Letras, Rio de Janeiro, v. 2, n. 8, nov. 1927.
. Na véspera do exílio: o último dia do Imperador no
Colégio Pedro II. Ateneu: Revista dos alunos do Colégio
Pedro II. Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, nov. 1933.
. Palavras da nossa história: "Libertas quae será
tamem". Sciencias e Letras, Rio de Janeiro, v. 1, n. 4,
out. 1926.
. Posta restante: correspondência entre Joaquim
Caetano da Silva com Porto Alegre e Eusébio de
Queiroz. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 48, n.
1, maio 1947.
. O presente de dois de dezembro: a fundação do
Colégio Pedro II. Ateneu, Rio de Janeiro, v. 1, n. 3,
dez. 1933.
. A primeira Igreja de S. Joaquim. Revista da Semana,
Rio de Janeiro, v. 36, n. 45, out. 1935. Igreja contígua
ao Externato do Colégio Pedro II, na rua Larga de S.
Joaquim, hoje Marechal Floriano, demolida por ordem
do prefeito Passos, na presidência Rodrigues Alves.
. O primeiro livro de Raul Pompeia: "Tragédia no
Amazonas", livro escrito quando o autor ainda era aluno
do Colégio Pedro II. Jornal do Commercio, Rio de
Janeiro, 21 abr. 1915.
. O 1
o
reitor do Collegio de Pedro II: frei António de
Arrábida, Bispo de Anemuria. Jornal do Commercio,
Rio de Janeiro, 31 out. 1915. Vultos históricos.
. Ramiz Galvão. Revista da Semana, Rio de Janeiro,
v. 47, n. 29, jul. 1946. Bacharel em Letras pelo Colégio
Pedro II; médico e professor de Botânica, por concurso,
da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro; diretor
da Biblioteca Nacional: preceptor dos príncipes; diretor
da Instrução Pública Municipal.
. Rio Branco: a sua 1
a
função pública: professor do
Colégio Pedro II. Revista Americana, Rio de Janeiro,
v. 2, n. 1. abr. 1913.
. Rio Branco no Collegio Pedro II. Jornal do Commercio,
Rio de Janeiro, 20 abr. 1909. Artigo publicado no dia
de grande manifestação popular por seu natalício.
. A rua Larga. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v.
28, n. 17, abr. 1927. A rua Larga de S. Joaquim, ora
Marechal Floriano.
. Salão de Pedro II: a sala nobre do Externato do Collegio
de Pedro II. Revista da Semana. Rio de Janeiro, v. 26,
n. 49, nov. 1925. Edição do centenário.
. Salas magnas: a da Alfândega, a do Senado do Império
e a do Colégio Pedro II. Revista da Semana, Rio de
Janeiro, v. 47, n. 12. mar. 1946.
. Saldanha da Gama. Jornal do Commercio, Rio de
Janeiro, 24 jun. 1914. Vultos históricos. O almirante
Luiz Felippe Saldanha da Gama.
. Saldanha no Pedro II. Revista da Semana, Rio de
Janeiro, v. 27, n. 27, jun. 1926. Luiz Felippe Saldanha
da Gama.
. Salvador de Mendonça, professor. Revista da Semana:
Rio de Janeiro, v. 42, n. 32, ago. 1941. Salvador Furtado
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
de Mendonça e Menezes, escritor, diplomata e
professor interino do Colégio Pedro II.
. Seminário de Bispos: recordação dos sacerdotes em
exercício no Colégio de Pedro II e depois bispos.
Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 42, n. 14, abr.
1941.
. O Serão: jornal dos alunos do Colégio Pedro II. O
Serão, Rio de Janeiro, v. 1, n. 21, ago. 1934.
. Um 7 de setembro no Pedro II: recordações de uma
festa no Collegio em 1857. Jornal do Commercio, Rio
de Janeiro, 7 set. 1916.
. Sinos e história. Sciencias e Letras, Rio de Janeiro,
v. 2, n. 7, jul. 1927. Transcrição da palestra sobre a
Batalha do Riachuelo, pela Radio Club do Brasil.
. A supressão do Gymnasio Nacional. Rua do Ouvidor,
v. 1, n. 30, dez. 1898. Sem assinatura.
. Tautphoeus educador. Revista da Semana, Rio de
Janeiro, v. 40, n. 54, dez. 1939. O magistério do Barão
de Tautphoeus e a fundação do seu colégio no Rio de
Janeiro.
. Tomaz Alves Nogueira: histórico da vida desse
professor do Colégio Pedro II. Revista da Semana, Rio
de Janeiro, v. 41, n. 13, mar. 1940.
. Último concurso. Revista da Semana, Rio de Janeiro,
v. 41, n. 32, ago. 1940. O último concurso no Colégio
Pedro II no Império, em novembro de 1889.
. Vésperas de centenário. Revista da Semana, Rio de
Janeiro, v. 35, n. 1, dez. 1933. A propósito do 1
o
centenário de fundação do Colégio Pedro II.
IV - Discursos
DÓRIA, Escragnolle. Discurso de saudação ao Dr. Fortunato
Duarte, no Internato do Gymnasio Nacional, em 26 de
outubro de 1907. S.n.t.
. Discurso, no Externato do Gymnasio Nacional, pelo
70° aniversário da fundação do Colégio Pedro II, em
2 de dezembro de 1907. S.n.t.
. Discurso de paraninfo, no Externato do Gymnasio
Nacional, na colação de grau de Bacharéis em Letras,
em 2 de fevereiro de 1908. S.n.t.
. Discurso, no Gymnasio Nacional, pelo 71° aniversário
da fundação do Colégio Pedro II, em 2 de dezembro
de 1908. S.n.t.
. Discurso de paraninfo, no Externato do Gymnasio
Nacional, na colação de grau de Bacharéis em Letras,
em 28 de fevereiro de 1909. S.n.t.
. Discurso em nome da Congregação do Gymnasio
Nacional, no cemitério de S. João Batista, à beira do
túmulo do Dr. Alfredo Coelho Barreto, em 20 de março
de 1909. S.n.t.
. Discurso de posse no Instituto de Bacharéis em Letras,
em 28 de julho de 1909. S.n.t.
. Palavras ditas junto ao túmulo de Euclydes da Cunha,
no cemitério de S. João Batista, em 15 de agosto de
1916. S.n.t.
. Discurso, no Externato do Colégio Pedro II, em nome
da Congregação, na sessão solene comemorativa do
centenário natalício de D. Pedro II, em 2 de dezembro
de 1925. S.n.t.
. Discurso de paraninfo, no Externato do Colégio Pedro
II, na colação de grau dos Bacharéis em Letras, em
2 de dezembro de 1928. S.n.t.
. Discurso de paraninfo dos 5°anistas do Colégio Pedro
II. em 29 de dezembro de 1928. S.n.t.
. Discurso de paraninfo dos 5°anistas do Colégio Pedro
II, em 8 de setembro de 1929. S.n.t.
. Discurso de agradecimento no ato da inauguração,
em 24 de dezembro de 1933, de um medalhão numa
sala do Colégio Pedro II, designada com seu nome.
S.n.t.
. Discurso de agradecimento na sessão solene da
Congregação do Colégio Pedro II, em 25 de agosto
de 1937, ao lhe ser entregue o título de Professor
Emérito do mesmo Colégio. S.n.t.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
. Discurso de agradecimento na sessão realizada no
Colégio Pedro II, em 7 de novembro de 1937, por
iniciativa de antigos alunos e amigos, por motivo de
sua jubilação. S.n.t.
.Discurso, no Colégio Pedro II, na sessão comemorativa
do centenário natalício de Salvador de Mendonça, em
1 de agosto de 1941. Sn.t.
V - Diversos
DÓRIA, Escragnolle. Alocução radiofónica, em
agradecimento, na sessão lítero-musical promovida
por alunos do Colégio Pedro II, por motivo de sua
jubilação, realizada na Rádio do Ministério da
Educação, em 3 de dezembro de 1937. S.n.t.
. Conferência sobre um episódio da Inconfidência
Mineira. Promovida pela Academia de História do
Colégio, realizada no salão nobre do Externato do
Colégio Pedro II, em 20 de abril de 1934. S.n.t.
. Prefácio. In: SERRANO, Jonathas. Epítome de história
universal. Rio de Janeiro: F. Alves, 1917. p. 16
. . In: CHEDIAK, António José. Carlos de Laet, o
polemista.o Paulo: Anchieta, 1942, v. 1
. O systema métrico decimal. In: THIRÉ, Cecil, SOUZA,
Mello e. Mathematica, I
o
anno. 4.ed. Rio de Janeiro:
F.Alves, 1933. p. 231.
VI - Bibliografia sobre Escragnolle Dória
Boletim Mensal da Seção Guanabarina da Biblioteca
Municipal do Rio de Janeiro, v. 1, n. 22, fev. 1959.
ESCRAGNOLLE Dória, "In Memoriam". Rio de Janeiro:
Liv. F. Bastos, 1959.
FROTA, Guilherme de Andréa. O Rio de Janeiro na imprensa
periódica. Registros de número 1175 a 1682. Rio de
Janeiro: [S.n.], 1966.
Escragnolle Dória
MEMORIA HISTÓRICA
DO
COLLEGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837-1937
Rio de Janeiro
* Reprodução da capa da edição original
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Colégio Pedro II. Vista atual do Externato, na Avenida Marechal
Floria no (antiga Rua Larga de São Joaquim), esquina com a Rua
Camerino (antiga Rua do Valongo, depois Rua da Imperatriz).
Escragnolle Dória
Professor Emérito do Colégio de Pedro Segundo
Memória Histórica
Comemorativa do 1
o
Centenário do
Colégio de Pedro Segundo
(2 de dezembro de 1837 - 2 de dezembro de 1937)
Publicação oficial sob os auspícios do
Ministério da Educação
Rio de Janeiro
Presidente da República
Sua Excelência o Senhor Doutor
Getúlio Domelles Vargas
Ministro de Estado da
Educação e Saúde
Sua Excelência o Senhor Doutor
Gustavo Capanema
Presidente da Congregação
Professor Doutor
Fernando António Raja Gabaglia
Secretário
Dr. Octacilio Álvares Pereira
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Corpo docente do Imperial Colégio de Pedro Segundo
na Época de sua Fundação e Organização
1837-1838
Dr. Joaquim Caetano da Silva
Gramática Portuguesa e Língua Grega
José da Silva Pinheiro Freire
Gramática Nacional e Latina
Jorge Furtado de Mendonça
Gabriel de Medeiros Gomes
João de Castro e Silva
Latim
Dr. Justiniano José da Rocha
Geografia, História Antiga e Romana
Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia
Aritmética e Ciências Naturais
Dr. Domingos José Gonçalves de Magalhães
Manoel de Araújo Porto Alegre
Desenho
Januário da Silva Arvellos
Música
Padre Joaquim de Oliveira Durão
Padre Leandro Rebello Peixoto e Castro
Religião
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Antiga sala de Geografia, mantida em sua estrutura original.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Corpo Docente do Colégio de Pedro Segundo -1937
Congregação
1 - Francisco Pinheiro Guimarães
2 - Joaquim Ignácio de Almeida Lisboa
3 - José Cavalcante de Barros e Accioli
4 - Henrique César de Oliveira Costa
5 - Agliberto Xavier
6 - José Philadelpho de Barros Azevedo
7 - Augusto Xavier Oliveira de Menezes
8 - Fernando António Raja Gabáglia
9 - Lafayette Rodrigues Pereira
10 - Honório de Souza Silvestre
11 - Euclides de Medeiros Guimarães Roxo
12 -Antenor Nascentes
13 - Guilherme Augusto de Moura
14 - Cecil Thiré
15-Pedro do Couto
16 -José Rodrigues Leite e Oiticica
17 - Waldemiro Alves Potsch
18 - Othello de Sousa Reis
19 - Henrique de Toledo Dodsworth Filho
20 - Carlos Miguel Delgado de Carvalho
21 - Hahnemann Guimarães
22-Quintino do Valle
23 - João Baptista de Mello e Souza
24 - Jonathas Archanjo de Silveira Serrano
25-George Sumner
26 - Benedicto Raimundo da Silva
27 - Enoch da Rocha Lima
28 - José de Sá Roriz
29 - Haroldo Lisboa da Cunha
30 - Ciro Romano Farina
31 - Nelson Roméro
32 - Clóvis do Rêgo Monteiro
Professores Catedráticos Jubilados
Adrien Delpech
Luiz Gastão de Escragnolle Dória
Manoel Said Ali Ida
Rodolpho Paula Lopes
Professor de Desenho Jubilado
Manoel Arthur Ferreira
Professores Catedráticos Interinos
Gildásio Amado
Luiz Pinheiro Guimarães
Professor de Ginástica Jubilado
Guilherme Herculano de Abreu
Professor de Ginástica
Mário Belleti
Professores Assistentes
Aldimir S. Paulo
Arlindo Fróes
Ernesto de Paiva Marreca
Henrique Feio Galvão
João Capistrano Raja Gabáglia
João De Lamare S. Paulo
José Curvello de Mendonça
Luiz do Nascimento Gurgel
Walter Gomes Cardim
Docentes Livres
Francisco Figueira de Almeida
Francisco Venâncio Filho
Jacques Raimundo da Silva
Jayme Coelho
Jurandir Paes Leme
Mozart do Rêgo Monteiro
Mecenas Pereira Dourado
Milton Barboza
Murilo Araújo
Oscar Przewodowski
Paulo Ferreira
Professores
Israel França
Octávio de Castro
Oswaldo Ferreira Mendonça
Professores Dirigentes de Línguas Vivas
António Carneiro Leão
Augusto Rocha Vianna
Júlio Nogueira
Nuno Lopo Smith de Vasconcelos
Osvaldo Serpa
Tristão da Cunha
ESCRAGNOLLE DÓRIA
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Intróito 13
Cap. 1 15
A instrução secundária anterior à fundação do Colégio de
Pedro Segundo - Os seminários deo Pedro eo
Joaquim - A fundação do Colégio - D. Pedro II no dia da
fundação - Adaptação do Seminárioo Joaquim - O zelo
de Bernardo de Vasconcellos pela recente fundação
Cap. II 29
O Colégio até 1839 - Primeiro reitor - Primeiros funcionários
- Primeiros professores efetivos e interinos - Primeiro livro
de matrícula - Primeiros alunos - Ainda os órfãos deo
Joaquim - Ação conjunta do Governo e da Reitoria do
Colégio - Retirada de Bernardo de Vasconcellos do Governo
- Seus sucessores - Novo reitor, novo vice-reitor - O Colégio
até 1839 - A sessão do Senado do Império em 1839
Cap. Ill 49
O Colégio de 1840 a 1843 - Novos Ministros do Império -
Alteração dos estatutos - Modificação no corpo docente -
O decreto Silva Maya e a colação de grau de Bacharel em
letras - A primeira colação de grau em 1843
Cap. IV 57
O Colégio de 1844 a 1851 - Solicitude de D. Pedro II para
com o Colégio - Vigilância do Governo - Pequenos sucessos
e curiosas providências - Joaquim Caetano e Frei Rodrigo
deo José - Retirada de Joaquim Caetano
Cap. V 75
O Colégio de 1851 a 1855 - Terceira reitoria do Colégio -
Relatório do Dr. Justiniano José da Rocha - Administração
Souza Corrêa - Reforma Pedreira - Retirada de Souza Corrêa
Cap. VI 83
O Colégio de 1855 a 1858- Início da reitoria Pacheco da
Silva - Reforma Pedreira - Património do Colégio -
Gonçalves da Silva e Joaquim Manoel de Macedo - Divisão
do Colégio em Externato e Internato - Instalação deste -
Seu primeiro reitor - Paula Menezes - Sete de setembro de
1857 - Novos professores - Imprensa colegial - Colação
de grau de 1858 - Incidentes colegiais
Cap. VII 97
O Colégio de 1859 a 1865 - O Colégio de 1859 a 1860 -
Confraternização do Externato e Internato - Ensino de
ginástica - Professores e repetidores em 1859 - Bacharéis
índice
ESCRAGNOLLE DÓRIA
de 1859 - Ministros do Império de 1859 - Aulas
suplementares - Aula de dança - Finanças do Colégio -
Ano letivo de 1860 - Novos professores - Morte do Bacharel
Gonçalves - O Colégio de 1861 a 1865
Cap. VIII 111
O Colégio de 1866 a 1875- Nova reitoria do Internato - O
Colégio e a guerra do Paraguai - Novos professores -
Introdução do sistema métrico decimal - Nova reitoria do
Externato - Professoras de ensino - O bacharelando Teixeira
Mendes - Reitoria interina do Internato - Matrícula do
príncipe D. Pedro Augusto - Nova Reitoria interina do
Internato - Bethencourt da Silva e o Salão Nobre do
Externato - A colação de grau de 1875
Cap. IX 125
O Colégio de 1876 a 1881 - Adiamento das aulas em 1876
- Desocupação da Igreja deo Joaquim - Caso Schieffler/
Thomaz Alves - Novos professores de Filosofia - Reforma
Leôncio de Carvalho - O ensino livre - Novos reitores - O
Conselho Colegial, suas sessões em 1880-1881 - A
conversão do Conselho Colegial em Congregação - A
primeira sessão da Congregação - A turma de bacharéis
de 1881
Cap. X 149
O Colégio de 1882 a 1889- Morte de Joaquim Manoel de
Macedo - Reforma Rodolpho Dantas - Parecer Ruy Barbosa
- Primeiras alunas no Colégio - Introdução do telefone -
Providências administrativas - Novo reitor do Internato -
Extinção de meio-pensionistas colegiais - Retiradas das
alunas do Colégio - Supressão de periódicos colegiais -
Fiscalização do Colégio - Dádivas ao mesmo -
Transferência do Internato - Novos reitores do Internato e
do Externato - Fim da Monarquia e do Imperial Colégio -
No dia da Proclamação da República
Cap. XI 171
O Colégio de 1890 a 1917 - os primeiros atos da República
em relação ao Colégio - Mudanças de nomes do mesmo -
Reformas Benjamin Constant e João Barbalho - O Código
de Ensino de 1892 - Fusão do Externato e Internato - O
restabelecimento de ambos - Reforma do Código de Ensino
de 1892 - A primeira equiparação do Ginásio Nacional -
Regulamento Amaro Cavalcanti - Reforma Epitácio Pessoa
- Novos diretores e novos lentes - Código de Ensino de
1901 - Concursos - Reforma Tavares Lyra - O património
do Colégio - Relatório Esmeraldino Bandeira - Novos lentes
- Reforma Rivadavia Corrêa - Eleições para diretor e
representante do Colégio, já de novo de Pedro Segundo,
junto ao Conselho Superior de Ensino - Extinção do
bacharelado pela reforma Rivadavia - O Anuário do Colégio
- Reforma Carlos Maximiliano - Nomeação de diretores
pelo Governo - Restabelecimento do bacharelado e do
concurso de provas
Cap. XII 199
O Colégio de 1917a 1925- Diretoria interina e efetiva Laet
- Batalhão escolar - A cadeira de Espanhol - Ampliação do
curso do Colégio - Arquivo e Biblioteca do Colégio - Obras
no Externato - Exames parcelados - Óbitos - Concursos
para substitutos - Novos óbitos - A gripe de 1918 e suas
consequências para o ensino - Reformas de gabinetes -
Restabelecimento da cadeira de Italiano - Novos lentes -
Óbitos - Concursos - O prémio Nerval de Gouvêa -
Platonismo da restauração do bacharelado em letras -
Serviços dos exames parcelados e suas dificuldades -
Trasladação dos restos mortais de Porto Alegre - O Colégio
nas comemorações do Centenário da Independência e na
volta dos restos mortais de D. Pedro II e D. Thereza
Christina - Óbitos e moções de pesar - Diversas ocorrências
- Projeto de reforma do ensino - O Colégio como Faculdade
de Letras - Novos lentes - Disponibilidade de professores -
Retirada do Diretor Laet
Cap. XIII 223
O Colégio de 1925 a 1931 - Reforma Rocha Vaz - Extinção
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
da cadeira de Espanhol - Diretoria Euclides Roxo -
Disponibilidade de professores - Desmembramento das
cadeiras de Física e Química, Latim e Português - Novos
professores - Ressurgimento da cadeira de História do
Brasil -Turmas suplementarei Instruçào Militar e Esporte
- Sobrecarga da secretaria do Externato - Centenário
Natalício de D. Pedro II - Nomeação efetiva do diretor e do
vice-diretor do Externato - 1926, ano dos concursos - Novos
piofessores - Óbitos - Modificações no Corpo Docente -
Solenidades escolares - Diretoria Pedro do Coutto -
Introdução dos testes no ensino do Colégio -
Melhoramentos materiais no Externato e no Internato -
Exames parcelados - Transferência da cadeira de Instrução
Moral e Cívica - Proposta de supressão da livre docência
Inauguração do retrato de D. Pedro II - Sessão solene em
memória de Carlos de Laet - Vacância de cadeiras e
modificações no Corpo Docente - Melhoramentos materiais
no Externato em 1929 - Medidas de disciplina propostas
em Congregação - Óbitos
Cap. XIV 245
O Colégio de 1932 a 1937 - Gastão Ruch, professor
emérito - Dn etoria Dodswoi 1 h - Homenagem ao professor
Nascentes - Projeto de Instituto Brasileiro de Filologia -
Reforma Francisco Campos - Extinção da cadeira de
Instrução Moral e Cívica - Ensino de línguas vivas
estrangeiras - Auxiliares de ensino e provas parciais -
Imprensa e clubes colegiais - Intercâmbio pedagógico -
Embaixadas intelectuais ao estrangeiro - Curso livre de
Italiano - Movimento da secretaria, da tesouraria e da
biblioteca do Externato - Obras no Colégio - A galeria dos
reitores e diretores - O gabinete de Educação - Serviço de
refeições - Disciplina colegial - O Clube pela Paz - A
celebração do centenário do Colégio - Homenagem ao
professor Frontin - Criação do curso noturno - O professor
Garric - Curso livre de Grego - Cursos de aperfeiçoamento
de História Natural e Química - Cursos livres de Canto
Orfeònico - Concertos musicais educativos - Concursos e
cursos estranhos ao Colégio - Óbitos - Inauguração do busto
de Augusto Comte - Obras, reformas e novas instalações
- Diretoria Raja Gabaglia - Homenagem ao professor
Escragnolle Dória - A Emenda n.° 1.845 - Projeto de
Associação Brasileira de Cultura - Jubilação de antigos
professores - Aumento das disciplinas da 6
1
série - Cursos
complementares - Novos professores - Óbitos -
Homenagens - Propostas - Restauração das cadeiras de
Historia do Brasil, Instrução Moral e Cívica e Direito Usual
- Concurso - Novos Óbitos - Centenário Coqueiro - O
Conselho Nacional de Educação e seu plano pedagógico -
Admissão de professores contratados no Colégio e a
maneira de regulá-la - A Circular 1.200 de 1
o
de junho de
1937 - Escragnolle Dória, professor emérito - Óbito do
professor Badaró - O professor Dodsworth Interventor no
Distrito Federal - A celebração do I" Centenário do Colégio
Cap. XV 271
O Instituto dos Bacharéis em Letras - Sua fundação - Seu
reconhecimento oficial - Sua vida e seus trabalhos - A
solenidade de 2 de dezembro de 1902 - A equiparação ao
Colégio e o Instituto - Seu eclipse.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Bernardo Pereira de Vasconcelos, Ministro do Império. Idealizador e
fundador do Colégio (1837).
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Festejou-se, condignamente, a 2 de dezembro de 1937, primeiro
centenário de fundação do Colégio de Pedro Segundo. Associou-se
às comemorações a pátria inteira, avaliando-lhe alcance no render
preito ao passado, a esforços e sacrifícios de maiores.
Comemorações, mesmo ruidosas e brilhantes, acabam indo a
meio ou completo olvido ao correr do tempo roaz, na substituição de
sucessos, no transformar de gerações.
Para ciência e juízo dos pósteros convém apresentar-lhes
testemunhos fidedignos da vida das instituições. Tal em brevidade o
intuito das memórias históricas, de prefácio e subsídio a obras de
tomo, tal o propósito da presente Memória, resumo do essencial na
história da primeira centúria do Colégio de Pedro Segundo.
História completa e documentada dele dentro de século 1837-
1937 é em diuturnidade matéria parao poucos volumes,
resultantes de pesquisas exaustivas, algumas infrutíferas,
acompanhando o desenvolvimento da instrução pública nacional.
sobretudo secundária. Sem estudar o Colégio de Pedro Segundoo
se compreende aquela.
Memória históricao é quadro acabado, sim esboço em leve
tinta. No futuro, de tantos mistérios quantas surpresas, talvez do
próprio Colégio surja autor do quadro acabado: Avalie ao menos ele,
no desconto de naturais e humanas imperfeições, às quais seo
forrará, todo o amor com o qual foi traçado o atual esboço por quem
ao executá-lo sempre se lembrou do avisado conselho de Terêncio:
Quoniam non potest id fieri quod vis, id velis quod potuit.
2 de dezembro de 1937
E.D.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Imperador D. Pedro II, na data da fundação do Colégio (1837).
Verdadeira raridade, essa pintura a óleo encontra-se
exposta no Salão Nobre.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
I
A Instrução Secundária Anterior à Fundação do Colégio de Pedro Segundo
Os Seminários deo Pedro eo Joaquim A Fundação do Colégio D. Pedro II
no Dia da Fundação Adaptação do Seminário deo Joaquim O Zelo de
Bernardo de Vasconcellos pela Recente Fundação.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Na a história da pedagogia brasileira escreveram os
jesuítas capítulo notável. Inútil suprimi-lo. Lançou-
nos a Companhia de Jesus sementes de religião e cultura.
Outros semeadores, donatários, governadores-gerais,
lançar-nos-iam germens de organização administrativa.
Brasil afora os Colégios jesuíticos abriram e
alhanaram caminho a ensino secundário, preocupação da
Companhia no decorrer do tempo. Viveiro de capacidades,
confiava a Sociedade de Jesus seus Colégios a professores
escolhidos. Gente capaz de formar gente.
Ninguém versado em História ignora quanto à
perseguição adere, benditamente, porque alenta e apura
ao flanco da Companhia. Século a século acossam-na
inimigos para os quais fins de destruição justificam meios
de barbaridade. Absurdos monstruosos, fábulas irrisórias
com sobreteimao empregados para aniquilamento da
Companhia atirada à sepultura, rediviva porém.
Parece a Ordem de Jesus participar das amarguras
do Divino Pastor, da flagelação à cruz. No Brasil recebeu
vinditas em paga de serviços. Pombalo apagou
Anchieta. Perseguida pelo Ministro de D. José I, o
onipotente e depois o omnisubjugado, a Companhia
suspendeu esforços na catequese. Resposta silenciosa
à injustiça, tanto mais expressiva quanto até hoje secular.
Atacou a Sociedade quem lhe fora adstrito e por ela
socorrido: Pombal. Dias de claros benefícios iluminam
quase sempre vésperas de negra ingratidão.
Segundo Moreira de Azevedo, estudando instrução
pública em nossos tempos coloniais, mantiveram os
jesuítas aulas únicas no antanho do Brasil.
"Nas capitanias onde situavam Colégios ensinavam
gratuitamente gramática latina, filosofia, teologia
dogmática e moral, primeiras letras e matemática
elementar. Tais disciplinas eram exercidas por professores
de verdadeiro merecimento. Conferiam os colégios graus
científicos, literários e teológicos entre outros o de mestres
em artes título então mais estimado do que é hoje o de
doutor por qualquer academia" (Moreira de Azevedo
escreveu isto em 1892). No Colégio da Bahia, além das
citadas aulas, criaram os jesuítas aula de retórica; meio
de bem ordenar pensamentos e palavras.
No Colégio de Piratininga, depois de S. Paulo,
ostentou Anchieta zelo inteiro sobre dedicação evangélica.
Encarregado de ensino dos neófitos, escrevia, na falta de
livros, nos cadernos de cada aluno. Aprendiam jovens
catecúmenos e filhos de colonos princípios das línguas
portuguesa, espanhola e brasileira ou tupi, indispensável
esta no trato com indígenas. Para ensinarem tupi os jesuítas
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
abriam escolas por eles frequentadas chamando
graciosamente, lá entre si, a língua indígena de grega.
Informa Varnhagen.
Constituiram-se os jesuítas mestres de distintos
brasileiros, cujos trabalhos formam literatura nossa nos
séculos XVII e XVIII. Entre outros, se assinalam Eusébio
e Gregório de Mattos, Manoel Botelho, Rocha Pitta, Basílio
da Gama, Santa Rita Durão, Cláudio Manoel da Costa, Silva
Alvarenga e Alvarenga Peixoto.
Expulsos os jesuítas, dentre nós, ficaram os estudos
confiados a escolas regidas por três ordens religiosas, a
beneditina, a carmelita e a franciscana.
Ainda segundo Moreira de Azevedo "Se a supressão
do instituto dos jesuítaso causou tanto abalo na
capitania do Rio de Janeiro como em outras foi isto devido
ao Bispo D. José Joaquim Justiniano". Trata-se de D. José
Joaquim Justiniano Mascarenhas Castello Branco, sétimo
Bispo do Rio de Janeiro, carioca de berço, por nascido na
freguesia da Candelária, prelado no Rio de 1774 a 1805.
Por muito tempo houve na cidade o Largo dae do Bispo.
Era praça existente nas vizinhanças da Rua da Ajuda, via
pública quase desaparecida com a construção da Avenida
Central, hoje Rio Branco, e da Rua Evaristo da Veiga, esta
nas proximidades da Igreja anglicana. Teve o Largo da
e do Bispo tal nome por morar nele a progenitora legítima
de D. José Joaquim Justiniano.
Cassando aos jesuítas o direito de ensinar no Brasil,
Pombal, pelo Alvará de 28 de junho de 1759, declarou
abolida a memória das classes-escolas regidas pelos
padres, "como se nunca houvessem existido no Reino e
nas colónias, onde haviam causado tantos prejuízos e
escândalos". Abolida a memória jesuítica, Pombal
esquecera a História vigilante, fossem quais fossem as
maldições de alvo à Companhia. A história registra, julga
e avisa. Pertencem-lhe passado, presente e futuro.
Que as acusações de Pombal eram levantadas só
para ferir fundo a Companhia parece prová-lo de sobra o
Alvará de 11 de junho de 1776. Aprova este estatuto para
estudos criados pelos franciscanos no Rio de Janeiro.
Obedeciam ao espírito dos estatutos pombalinos e
coimbrões, figurando nas aulas franciscanas o ensino da
retórica, do grego, da filosofia e da história eclesiástica.
Secularizado quanto possível o ensino, faltava dar-
Ihe recursos pecuniários. Criou-se para tanto o subsídio
literário, imposto cobrado sobre vinhos e outras bebidas
alcoólicas.
Coube aos vice-reis no Rio de Janeiro a arrecadação
do subsídio. Nem aos governos do Marquês do Lavradio,
de Luiz de Vasconcellos, do conde de Rezende foi alheia a
preocupação do ensino embora decadente.
Reconheceu-o Carta Régia de 9 de setembro de
1799 impondo aos governadores e capitáes-gerais a
obrigação de informar a coroa acerca do aumento do
subsidio literário. Caberia àquelas autoridades a inspeção
das escolas, de acordo com o Bispo quanto à nomeação
de professores no caso de dúvida, enviada a proposta à
metrópole para decisão final.
Pouco antes de expedir a Carta Régia de 9 de
setembro de 1799, a coroa lusa ordenara o
restabelecimento no Rio de Janeiro das cadeiras de grego,
latim, retórica, filosofia e matemática.
Com o tempo, as aulas destas três disciplinas foram
estabelecidas em outros pontos do país. Em Pernambuco.
por exemplo, uma carta régia instituiu aulas de aritmética,
geometria e trigonometria. No Rio de Janeiro, outra carta
régia, a de 20 de novembro de 1800, estabeleceu aula de
desenho. Deu-lhe titular brasileiro. Foi Manoel Dias de
Oliveira, com direito a ordenado equiparado ao dos
professores de filosofia. Manoel Dias, por alcunha o
"Romano", devido a estudos em Roma, abriu aula de
desenho em casa, em frente à Igreja do Hospício, na atual
Rua Buenos Aires.
Na era colonial conheceria o Rio de Janeiro duradoura
instituição de ensino. Foi chamada o Colégio dos Órfãos
deo Pedro. Fundou-a a Provisão de 8 de junho de 1739,
do quarto Bispo do Rio de Janeiro desde 1725, D. Frei
ESCRAGNOLLE DÓRIA
António de Guadalupe, português de Amarante, professo
na ordem franciscana.
Duas criações assinalaram o múnus pastoral de D.
Frei António na futurosa cidade carioca, o estabelecimento
do Seminário deo José e do Colégio deo Pedro, para
meninos órfãos de pais pobres. Foi posto Colégio.
seminário chamava-o a voz popular, nas costas da igreja
do Príncipe dos Apóstolos.
Anos após a criação do Colégio dos Órfãos deo
Pedro, retírou-se o Bispo Guadalupe para Portugal,
transferido para mitra de Viseu, falecendo pouco depois
em Lisboa.
De inicio tomara o Colégio ou Seminário deo
Pedro feição de convento. Funcionava em sobradinho da
rua deo Pedro, sujeito a reitores responsáveis pela
educação de meninos fadados a perdição. Pela experiência
da cidade e seus contornos, afirmara o prelado fundador.
Com o tempo e a boa administração de reitorias, o
Colégio deo Pedro obteve património para sustento e
educação de órfãos. Desses, o número em aumento
tornava sobremaneira insuficiente o sobrado-asilo. Era de
três andares, o térreo com portão, o segundo e o terceiro
com duas janelas, a imagem deo Pedro em nicho entre
as janelas do último pavimento.
A estreiteza das acomodações, de inconvenientes
para a disciplina e a higiene de coletividade, ajuntava-se,
conforme Monsenhor Pizarro, "o tumulto do centro da
cidade impedindo todo o sossego a qualquer estudo".
Tumulto carioca de 1758 provoca sorrir de hoje.
Alguém remediaria o mal; um "homem bom" da
cidade, Manoel de Campos Dias, pessoa de recursos
sobejantes. No Rio de Janeiro pequeno de então, embora
nele todas as distâncias dobradas por vencidas
pedestremente, a propriedade territorial constituía a riqueza
maior. Afluíam para ela as economias de quantos
amealhavam cruzados no chamado pé de meia. Preferiam
outros ocultá-los em soalhos e vãos de portas,o raro
para lucro de futuros e imprevistos herdeiros, os
demolidores de casas velhas.
Em terras empregou sobras, senão haveres ou
legado, Manoel de Campos Dias. Possuía terrenos no
Valongo, região da cidade na atual Rua Camerino, lados
da Saúde.
Por impulso filantrópico, mais digno supô-lo, ou
talvez pela convicção filosófica de ninguém levar nada do
mundo, preferível julgou Campos Dias aplicar bem a legar
a terceiros para mau ou péssimo destino de cabedais.
Campos Dias resolveu doar. Senhor de terras no Valongo
presenteou com elas os seminaristas deo Pedro. A
dádiva abrangia capela, terrenos adjacentes, tudo logo
aproveitado pelos reitores, o padre Jacintho Pereira da
Costa, antecedido pelo padre Sebastião de Motta Leitão.
o Cónego Manoel Pereira e o padre Pedro Luiz de Carvalho.
Resolveu o padre Costa erigir no sítio um Colégio
mais proveitoso aos seminaristas, pela localidade, silêncio
mui necessário às aplicações estudiosas e pelos cómodos
precisos,o só aos indivíduos da sociedade como às
oficinas de casa e seus arranjamentos.
Ao findar reitorado o padre Costa deixava edifício
semi-erguido. Devia rematá-lo sucessor o Cónego António
Lopes Xavier, com prática de mandar construir. Deve-lhe
o Rio de Janeiro uma igreja, a de N.S. da Conceição, na
Rua General Câmara, posta ao alto a expensas do Cónego
Xavier.
Coube a este, quando reitor, transferir os
seminaristas deo Pedro para a nova casa, em dezembro
de 1766, aproveitando a doação Campos Dias. Ao fundar
o Bispo Guadalupe o Colégio onde os órfãoso tivessem
infância pervertida, "com o leite dos maus costumes
relaxada, inepta, adversa aos séquitos das virtudes"
expressões do Bispo reinava em Portugal e dai sobre o
Brasil D. João V. Exercia por ele autoridade suprema na
América Portuguesa, de sede na Bahia, André de Mello e
Castro, Conde das Gaiveas.
Ao transportar o Cónego Xavier os colégios deo
Pedro para o Valongo, D. João V ausentara-se da vida
presente, após quarenta e quatro anos de reinado em
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
sessenta e um de existência. D. João V, Magnífico até
em prole, de onze filhos, tivera pompa de cadáver no
mosteiro de S. Vicente de Fora.
Obedeceria o Brasil de 1766 ao filho e sucessor de
D. João V, D. José I. O dia 31 de julho de 1750 fizera-o
perder pai ganhando coroa, os herdeiros presuntivos quase
sempre entrando na majestade do poder após a da morte.
A doação de Campos Dias aos órfãos deo Pedro
abrangia capela sob o orago deo Joaquim. Instalados
aqueles órfãos no sítio foi o povo substituindo a
denominação de órfãos deo Pedro pela de órfãos e
depois seminaristas deo Joaquim.
Ficou a cidade com dois seminários, o deo
Joaquim e o deo José, fundado este, como o Colégio
dos Órfãos deo Pedro, pelo mesmo Bispo, D. Frei
António de Guadalupe, pois de filantrópica lembrança.
Conforme declarou o prelado em provisão, ao criar
o Seminário deo José, "logo que principiara a servir o
bispado trouxera ele sempre no coração um ardente desejo
de que na cidade houvesse seminário para formação de
clero idóneo para a direção das almas."
Segundo Balthazar Lisboa, os seminaristas deo
Joaquim eram preferidos nas contínuas festas religiosas
cariocas para mestres de cerimónias, coristas e cantores
remunerados. Acompanhavam enterros de categoria, neles
participando de tudo quanto exigiam pompas fúnebres.
Em 1771, desaparecia a lembrança material da casa
deo Pedro onde deu raiz a instituição do Bispo
Guadalupe. O reitor do Seminário deo Joaquim, padre
Alexandre Ferreira da Rocha, antes vice-reitor, com licença
do ordinário, vendia o Colégio Velho, de tal nome por nele
terem assistidos os órfãos antes da transferência para o
deo Joaquim. Justificando venda, o padre reitor alegou
"a nenhuma utilidade" que o colégio recebia da
propriedade. Dava até prejuízo "pela obrigação de mandar
dizer capela de missas anuais por alma da instituidora D.
Bernarda Castello Branco". Para satisfação do encargo a
propriedade rendera apenas dez patacas pors (a pataca
valia 320 réis), em três meses de aluguel, a mesma
propriedade devoluta na data da petição para venda.
Ponderava o reitor Rocha a conveniência de vender
a casa dos órfãos deo Pedro com o mesmo ónus da
capela de missas. Era útil à Irmandade deo Pedro
comprar o imóvel com o dito ónus por estar a propriedade
encostada às paredes de sua igreja. Assim quanto
pertencesse ao Príncipe dos Apóstolos a ele tornaria.
Realizou-se a venda, batidos por ela cinco mil
cruzados (20:000$000), dando mil cruzados de lucro sobre
o custo primitivo.
Por muito que se tenham esforçado os reitores do
Seminário deo Joaquim poucos excederam, em zelo e
utilidade, o padre Plácido Mendes Carneiro. Ficou-lhe
devendo a casa obras de importância e o templo deo
Joaquim a conclusão de torres.
Com maior ou menor regularidade, destino de
qualquer instituição, foi vivendo o Seminário deo
Joaquim no seu canto do Valongo. Nas três grandes
solenidades deo Joaquim, N. S. das Dores eo José
afluía o povo devoto de sempre do seminário. Ao púlpito
aí subiam os seminaristas pelo reitor julgados mais de
habilitações para honrar na tribuna sagrada a palavra do
Evangelho.
Em 1807, porém, ia mudar por completo a vida do
seminário. Transmigrou para o Brasil a Família Real
Portuguesa pondo-se a salvo da invasão napoleônica, esta
por terras de Portugal até alcançar Lisboa.
A presença do Príncipe Regente e da Corte lusitana
assinalando progresso para a colónia, a ponto de adiantar-
Ihe independência, foi entretanto motivo do abater rápido
do Seminário deo Joaquim.o deixa tal de causar
espanto, dada a religiosidade de D. João e consequente
amparo a instituição da ordem do seminário.
Tudo dependeu da substituição de ótimo reitor,
sucedido por outro sem sorte, sendo inepto. Servia a
contento geral o padre Mendes Carneiro. Bons
administradores a muitos molestam eo raro por simples
ESCRAGNOLLE DÓRIA
ações de presença. Infelizmente, Deus sabe levado por
que diabólicas sugestões, o Príncipe Regente entendeu
dispensar da reitoria o padre Carneiro. Ainda mais,
infelizmente lhe deu sucessor desastrado, José dos Santos
Salgueiro, Abade de Alverca, um da leva transmigratória.
O padre Mendes Carneiro saiu do cargo aspergido.
Recebeu o que os franceses chamam "eau bénite de cour".
o fingidos protestos de amizade ou recompensas de
consolação. A água benta da corte, para o padre Mendes
Carneiro, foi a promoção a Cónego da Capela Real.
Começava a decadência do Seminário deo
Joaquim, posto sob o orago do Pai da Virgem, este na
casa substituindo o patrocínio de Simão, pela palavra de
Jesus, na cena de Cesaréia, tornado Pedro para pedra
angular da Igreja.
Caíra, entretanto, o Seminário deo Joaquim nas
simpatias da cidade. Dádivas sucessivas acresceram-lhe
património. O "vil metal", a indicar tantos vilões, serve
o só de nervo à guerra, assim o proclamava Frederico
o Grande, como na paz prospera muito obra útil.
Populares, de longa data, eram os seminaristas de
o Pedro, depois deo Joaquim. Alcunhavam-nos de
"carneiros", pelo uso público de túnica marrom e barrete
de baetilha branca. Algumas vezeso escapavam os
seminaristas à perseguição da garotada, balindo, a puxar-
Ihes túnicas com ressalva de fuga. De onde a alcunha?
Na opinião de Raja Gabaglia Sénior referia-se ao tempo de
instalação do seminário na Rua deo Pedro, antes da
construção da igreja da mesma invocação, contemporâneo
da Casa dos Órfãos deo Pedro. Durante algum tempo
a rua deo Pedro se chamou do Carneiro, em homenagem
à distinta senhora residente na rua.
Segundo Noronha Santos a denominação de rua do
Carneiro substituiu a de António Viçoso, a partir de 1602,
tradicionalmente carioca pois a referida via pública.
Para mal de seminário, antes bem andado, por
ordem do Príncipe Regente ficou fingindo dirigir o deo
Joaquim o padre Salgueiro, nome de árvore aliás tumular,
até enterrá-lo. Nem teve o Abade de Alverca apoio
eclesiástico sequer. Melindrara-se o Bispo diocesano com
o ato do Príncipe Regente. Entendia, e bem, D. José
Caetano da Silva Coutinho ter sido menoscabada a
autoridade prelatícia. Competia-lhe a direção dos
seminários, logo lhe pertencia a nomeação dos por eles
principais responsáveis.
Em fins de 1817 era o Bispo o primeiro a pugnar
pela extinção do seminário entregue ao Abade de Alverca.
Circunstância e ocasião veio favorecer o desaparecimento
desejado, a chegada de tropas portuguesas.
Desta vez ouvindo o Bispo, o Príncipe Regente, a
bem de militança, extinguiu o seminário, a 5 de janeiro de
1818.
Dizia o Príncipe Regente no decreto de extinção:
"Fazendo-se necessário determinar o local em que deve
estabelecer o conveniente aquartelamento, assim para um
dos batalhões de divisão de tropas, que mandei ir
ultimamente do exército de Portugal, como para o corpo
de artífices, engenheiros ,que acompanhou a mesma
divisão e reconhecendo-se que o edifício do seminário de
o Joaquim reúne as mais adequadas proporções para
aquele fim, ao mesmo tempo que sem inconveniente se
podem acomodar, com aproveitamento e maior vantagem,
tanto pública como particular , os atuais seminaristas
deste colégio, ou seja, no Seminário deo José aqueles
que, pelo seu adiantamento nos estudos e vocação, se
julguem prósperos para o estado eclesiástico, ficando
adidos ao sobredito corpo de artífices de ofícios mecânicos
nelas estabelecidos aqueles queo estiverem no mesmo
caso e circunstâncias. Hei por bem ordenar o seguinte:
Que o referido edifício do Seminário deo Joaquim e
suas dependências, passando a ser incorporado nos
próprios da coroa, seja destinado para aquartelamento da
tropa e artífices supra mencionados".
A tropa tomou conta do Seminário, o templo
adjacente servindo-lhe de casa de oração. As rendas do
estabelecimento desaparecido, para diversos fins, ficaram
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
incorporadas às do Seminário deo José, acudindo, dizia
o Príncipe Regente, "não só a manutenção e tratamento
dos alunos do extinto seminário deo Joaquim,
escolhidos pelo Bispo capeláo-mor por mais próprios e
aptos para a vida eclesiástica". Tais alunos seriam
admitidos e tratado no seminário deo José, "onde para
o futuro se admirariam e tratariam do mesmo modo,
rapazes órfãos e pobres, que pudessem com
aproveitamento destinar-se à vida eclesiástica, sendo
empregados utilmente, com vantagem do serviço de Deus
e da coroa".
o ficou esquecido diz Raja Gabaglia Sénior
"o ex-reitor Abade de Alverca pelos desserviços feitos",
continuando a receber regularmente ordenado anual de
200$000 como aposentação.
Fechado o Seminário, disperso o seu mui minguado
património, lá se foi o arquivo da casa. Mais tarde, por
incumbência ministerial do Conde dos Arcos, Silva Lisboa,
aindao Visconde de Cayru, conseguiu reunir alguns
documentos do arquivo quase todo posto fora. Mas a
coleção deles necessária ao estudo da origem e do
progresso da instituição ficou perdida para sempre, salvo
alguma ressurreição de documentos, pouco provável.
Católica, a antiga população do Rio de Janeiro atribuía
a castigos divinos os males de certas instituições
causados por atos desacertados de governos.
Ao tempo do Seminário deo Joaquim o estado
sanitário da casa fora sempre bom, gozando saúde os
seminaristas. Transformando oo Joaquim em quartel
por ele entraram enfermidades, de casos fatais, algumas
de caráter epidêmico como a zamperini, enfermidade a
lembrar o nome de afamada cantora do tempo.
Castigo! murmurava o povo, como havia de
murmurar quando pedras de inconstruída sé catedral,
no Largo deo Francisco de Paula, foram dar alicerce ao
hoje desaparecido Teatroo Pedro de Alcântara, presa
de sucessivos incêndios.
o desaparecia porém o Seminário deo
Joaquim sem se recomendar à estima da gente culta da
cidade, por vários títulos, um deles o seguinte, assinalado
por José Silvestre Ribeiro.
" No dia 20 de abril do ano de 1813 foi aberto na sala
do Real Colégio deo Joaquim, no Rio de Janeiro, um
curso de preleções filosóficas, que tinham por objeto:
1
o
) A teoria do Discurso e da Linguagem; devendo
ser expostos os princípios da lógica da gramática geral e
da retórica;
2
o
) O tratado das paixões; primeiramente
consideradas como simples sensações, e versando sobre
matérias de gosto, donde se viam deduzidas as regras da
estética, ou a teoria da eloquência da poesia e das belas
artes, depois considerando-as como artes morais,
compreendidas nas ideias de virtude, ou de vício,
desenvolvidas as máximas ou Diceósyna que abrange a
ética e o direito natural;
3
o
) O sistema do mundo: em que, depois de se tratar
das propriedades gerais dos entes, ou da ontologia e da
nomenclatura das ciências físicas e matemáticas, seriam
expendidas as noções elementares da cosmologia, e
destas seriam deduzidas as relações dos entes criados
com o Criador, nos princípios da teologia natural.
Afora a exposição da teoria, era do plano do curso
ler e analisar, em cada uma das preleções, alguma obra
escolhida dos principais filósofos, oradores e poetas, assim
antigos como modernos, sagrados e profanos".
Anunciavam por esta forma o curso de filosofia do
Real Colégio deo Joaquim, tanto o Investigador
Portuguezem Inglaterra, de agosto de 1813, como a Gazeta
do Rio de Janeiro em seu número de 30 do mesmo ano.
ambas as publicações hoje raridades bibliográficas.
As preleções filosóficas do Seminário deo
Joaquim, tachado de Real Colégio,o foram confiadas a
qualquer. Tomou-as a cargo Silvestre Pinheiro Ferreira,
espíritoo culto quanto caráter íntegro, aliança pouco
frequente. Estadista, filósofo, mereceu Silvestre Pinheiro,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
este louvor: "muito seria necessário para elogiá-lo, visto
a dificuldade de pintar gigantes em pequenas tábuas, como
o imaginosamente diz frei Luiz de Souza".
Quando em Paris, por volta de 1839, Silvestre
Ferreira realizou quanto prometera na introdução das
Prelecções no Real Colégio deo Joaquim, publicadas
no Rio de Janeiro, isto é, o projeto de compor compêndio
de filosofia. Estampou-o com o título de Noções
Elementares de Philoscphia, Geral e Applicada às Sciencias
Moraes e Politicas, Antologia, Psycologia e Ideologia.
Mais tarde, Spix e Martius, os ilustres cientistas
vindos ao Brasil a mando de Maximiliano José I, rei da
Baviera, em viagem realizada e descrita de 1817 a 1820,
de relação publicada em Munich em 1823, referiram-se à
instrução secundária no Rio de Janeiro, nos seguintes
termos:
"A educação da juventude é cuidada na capital por
vários colégios privilegiados. Os abastados confiam a
professores particulares o preparo de seus filhos, a fim de
frequentarem a Universidade de Coimbra. Isso é muito
custoso por falta de professores competentes. A maioria
deles pertence ao clero, atualmente de influência muito
menor, no que diz respeito à educação popular, do que
outrora e principalmente no tempo dos jesuítas.
No Seminário deo Joaquimo ensinados os
rudimentos de estudo e cantochão. O melhor colégio,
porém, é o Liceu do Seminárioo José, onde, a par do
Latim, do Grego, do Francês, do Inglês, da Retórica, da
Geografia e da Matemática também se ensinam Filosofia
e Teologia".
Obra de piedade sobre beneficênciao podia
perecer de vez o Real Colégio. Estava escrito, ressurgiria
o Seminário deo Joaquim metamorfoseado, dando
ensejo à criação de colégio novo, o de Pedro Segundo.
Questão de tempo dentro do qual o destino tantas surpresas
guarda.
O Príncipe Regente de 1807, D. João VI, em 1821
saiu do Brasil soberano, a antiga colónia subida a reino,
deste então regente o Príncipe D. Pedro. A requerimento
de vários moradores do Rio de Janeiro, o novo Príncipe
Regente restabeleceu o Seminário deo Joaquim tal
como este se encontrava no momento da extinção em
1818. Reverteu de novo tudo à instituição, imóveis,
cabedais, templo. Até o antigo reitor Cónego Carneiro foi
reconduzido a cargo "pelas provas de inteligência,
prudência e virtudes exigidas pelo importante emprego".
Nada como um dia depois do outro, devia pensar sob a
batina o Cónego Plácido Mendes Carneiro, dispensado de
obrigações na Capela Real e mandado morar quanto antes
na casa do mesmo seminário.
Apesar de toda a boa vontade do Cónego Carneiro e
seu digno sucessor, frei Pedro Nolasco da Sacra Família,
o pôde reerguer-se o seminário. Certos homenso
funestos para sempre. Tal o padre Salgueiro.
Nem valeu, para mascarar ruína, o título de Imperial
concedido ao Seminário após a Independência. Todos os
agitados sucessos do férvido Primeiro Reinado, desde o
reconhecimento do Império,o davam margem à
regularidade de qualquer organização pedagógica.
Estudava quem queria,o quem devia ou podia.
Da Abdicação passou o Brasil à Regência, república
de fato sob forma imperial de direito. No tempo regencial
encontrou reformador o periclitante Seminário deo
Joaquim. Foi José Lino Coutinho, Ministro do Império de
julho de 1831 a janeiro de 1832.
Para execução de reforma obteve o seminário do
Ministro novos estatutos, regendo curso de seis anos. De
minudência se mostravam os estatutos. Assim na lista
das culpas e dos castigos de discentes figuravam dois
pecados mortais. Punia-se a gula diminuindo alimento; a
preguiça com trabalho braçal em serviço útil ao seminário.
Decadente este, adotou a Regência medida muito
vulgar, no horror da responsabilidade, descartou-se do
seminário, entregando-o à Câmara Municipal.
Confiou esta a direção leiga ao vereador Felippe
Ribeiro da Cunha. Administrador eo pedagogo,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
aumentou património, melhorando materialmente o
seminário e igreja anexa. Mas a instrução ia de mal a
pior, na casa de ensino cada vez mais doutrinando
ignorância. Chegou a fechar oficinas, diz Joaquim Manoel
de Macedo, ignoradas as provas de asserção. Inútil, sofria
o Seminário deo Joaquim derradeira transformação em
1837.
Renasceria das próprias cinzas, tendo em áureos
tempos dado instrução a futuras glórias nacionais. No
Seminário deo Joaquim, entre outros, aprendeu Joaquim
José Ignacio, o vindouro almirante Visconde de Inhaúma,
cuja carreira de mar nossas últimas vitórias na Guerra do
Paraguai se encerraram em tanta glória para ele e para
nós, glória própria e nacional.
Lembrado da mitologia, apesar do caráter religioso
do Seminário deo Joaquim, alguns amigos das letras
clássicas talvez lhe atribuam a recordação da fénix
fabulosa. Após cinco séculos de existência a ave ainda
achava forças para formar ninho de plantas aromáticas
nele se deixando consumir por ardentes raios solares para
nova vida tirada de si mesma.
Politicamente, de excepcional importância para o
Brasil foi o ano de 1837.o o seria menos para o
Seminário deo Joaquim. Pela renúncia do Regente Feijó
entrou a exercer, constitucional e interinamente, a regência
do Império o Senador Pedro de Araújo Lima.
No dia imediato da renúncia de Feijó, chamava
Araújo Lima o governo novo ministério, o de 19 de setembro
de 1837. Compunham-no Maciel Monteiro, Calmon,
Rodrigues Torres e Bernardo de Vasconcellos, este Ministro
da Justiça e interino do Império, pasta acabada de deixar
por Araújo Lima. Dava este a Bernardo o que recebera de
Feijó.
Regente e Ministro, Araújo Lima e Bernardo, ambos
por coincidência interinos, voltaram vistas para o Seminário
deo Joaquim. Avaliaram-lhe decadência, deliberando
encampá-lo. Chamaram-no ao Estado, absorveram-lhe o
património de origem colonial, transformaram o seminário
em estabelecimento modelo de letras secundárias. No
requiescat in pace da velha Instituição eclesiástica, feliz
a espaços, havia o renascer à fénix de nova instituição.
o quiseram contudo Regente e Ministro escolher
para data da fundação do colégio dia insignificativo.
Elegeram um natalício, o do menino mais de vista no
Império: D. Pedro II.
Completava ele doze anos a 2 de dezembro de 1837.
Tinha aniversário de berço entre pompas e tristezas,
aquelas conferidas por uma nação ao seu Imperador, estas
impostas pelo destino a órfão dee com um ano de
idade, de pai aos nove.
Vejamos como transcorreu para D. Pedro II a data
da fundação do Colégio de seu nome. Di-lo oficio inédito
do encarregado de negócios da França no Rio de Janeiro
dirigido a 3 de dezembro de 1837 no calor portanto do
grande natalício da véspera ao Ministério dos
Estrangeiros de sua nação regida na época por Luiz Felippe,
rei dos franceses,o de todos porque alguns tentavam
assassiná-lo.
Às quatro e meia da tarde de 2 de dezembro de
1837, dia da fundação do colégio, chegava o jovem
Imperador de doze anos ao paço da cidade. Sem anúncio
prévio havia sido modificado o itinerário do cortejo imperial
deo Cristóvão para o largo do Paço. Em vez de tomar,
como de hábito, pela rua do Ouvidor, passou o cortejo
pelas ruas deo Pedro e Direita.o faltou quem
quisesse ver na mudança do itinerário, aliás explicável de
modo muito simples, espécie de tendência para favorecer
e lisonjear o amor próprio dos portugueses domiciliados
no quarteirão distinguido. Para reforço de suposição vieram
à baila nomeações recentes recaindo em alguns lusitanos.
Recebeu o Imperador naquela parte da cidade
Ruas deo Pedro e Direita uma ovação no meio de
fervoroso acolhimento. Na passagem de D. Pedro II
crianças vestidas de anjo espalharam profusão de rosas e
poesias análogas ao dia. Sem levar em linha de conta
qualquer tendência lusitana, a mudança de itinerário fora
ESCRAGNOLLE DÓRIA
provavelmente devida a simples sugestão de Paulo
Barbosa, mordomo da casa Imperial, cioso de fazer admirar
novas e magníficas carruagens de obra inglesa. Pela
primeira vez saíram à rua, desejo de Paulo Barbosa pô-las
a rodar em vias públicas assaz largas e menos mal
calçadas da cidade. Assim mais a gosto poderia o povo
contemplar os veículos do que se estes descessem pela
angusta rua do Ouvidor.
Embora atrapalhasse um pouco a Paulo Barbosa o
pagamento imediato dos carros, a 2 de dezembro de 1837,
ignorava ainda o público que os veículos tinham custado
200.000 francos. Só os arreios valiam 80.000, arreioso
pesados que, gracejando, dizia D. Pedro II ao mordomo
o poderem encontrar cavalos capazes de suportá-los.
Após o Te Deum na Capela Imperial, D. Pedro II,
loiramente ameninado, chegava à janela do palácio dando
para a praça. Mandou então o general comandante das
armas desfilar, do melhor modo possível, infantaria e
cavalaria da guarda nacional.
Finda a revista, entrou o corpo diplomático na sala
do trono. Cercado pelo Regente Araújo Lima, pelo tutor,
Marquês de Itanhaem, pelos Ministros de Estado e pela
chusma de pessoas da corte, muito mais numerosa do
que no anterior, recebeu o imperador os cumprimentos
congratulatórios pela data natalícia. D. Pedro II ostentava
vistosa farda, trazida com graça e desembaraço. A todos
acolhia de, tendo à esquerda a irmã mais nova, a
Princesa D. Francisca, notável pela compostura como
pelos atrativos de rosto. Quantos concorreram ao cortejo
reparavam no ar de saúde e viço da fisionomia do jovem
Imperador.
Mas como nem tudo quanto brilha ouro é, a cidade
estava cheia de boatos. Rumorejava-se que a solenidade
e as cerimónias do dia seriam perturbadas por motins e
gritos de viva a República e viva o Imperador emancipado.
Nada porém deslustrou o 2 de dezembro de 1837. Aliás o
comandante do Corpo de Permanentes, homem de
coragem e decisão, tomou precauções. As armas dos
soldados estavam carregadas, as patronas cheias de
cartuchos. Espalhou-se o boato que o comandante dos
Permanentes resolvera mandar atirar sobre a plateia do
teatro no espetáculo de gala à menor manifestação hostil
ao governo.
Nada porém justificou surpresas. Pôde o soberano
regressar ao Cristóvão sem o menor incidente
desagradável a assinalar o seu primeiro dia de protetor do
Colégio de Pedro Segundo.
O decreto de fundação do estabelecimento era
conciso, abrangia treze artigos. Copioso, porém, seria o
decreto de 31 de janeiro de 1838 aprovando estatutos
colegiais, discriminando em duzentos e tantos e dois as
regras atinentes à formação e desenvolvimento da Casa.
Apenas expedido o decreto de criação do Colégio,
ocupou-se Bernardo de Vasconcellos em conceder-lhe
instalação material. Procurou melhorar a do antigo
Seminário deo Joaquim, dando a muitas das velhas
dependências, espaço, ar e luz.
Valeu-se para tanto da competência do arquiteto
consagrado na Europa, Grandjean de Montigny, um dos
componentes da Missão Francesa atraída ao Rio de Janeiro
sob os auspícios de D. João VI pelo conde da Barca para
fundação da Escola das Belas Artes.
Arranjou Grandjean, no como pôde das pressas e
das adaptações, o antigo Seminário. Animava-o a presença
constante do Ministro, Bernardo de Vasconcellos,
encorajador tanto mais de louvar quanto por paralisia de
membros inferiores,o tinha movimento próprio, obrigado
a mover-se à triste sujeição do préstimo alheio.
Trabalharam, de acordo e rápido, Bernardo de
Vasconcellos e Grandjean de Montigny. Fora este
ordenador dos monumentos de Cassei, capital do reino
de Westphalia ao tempo de Jeronymo Bonaparte, soberano
de uma das realezas efémeras criadas através da Europa
pelo génio e pela espada de Napoleão. No Brasil de 1837,
por voltas do destino, Grandjean de Montigny, bem longe
de Cassei aprontava para inauguração o Colégio de Pedro
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Segundo, em rua aberta nos terrenos da antiga chácara do
Carneiro ou do Julião. A pedido do Ministro da Justiça, o
próprio Bernardo de Vasconcellos mandava o Ministro
interino do Império, ainda o mesmo Bernardo, recolher ao
Colégio "porção de prata da Igreja dos extintos Jesuítas,
sob a guarda do capelão do Colégio, vistoo oferecer a
necessária segurança a Igreja do dito Colégio dos
Jesuítas". Tudo conforme aviso de 21 de março de 1838,
quatro dias antes da abertura oficial do Colégio de Pedro
Segundo.
Fixaram-lhe data de abertura relacionada com a
história pátria, 25 de março de 1838. Memorava o
aniversário do juramento da Constituição do Império que
custara vida à Constituinte de 1823, a morte da qual nem
faltou, à humana noite da de Agonia, a da véspera da
dissolução da Assembleia pela força armada contrariando
o cedant arma togaeciceroniano.
Na época, o dia 25 de março tinha suma importância
para a Igreja e o Estado, unia-se aquela a este na famosa
aliança histórica de trono e altar, nem sempre através dos
séculos isenta de lutas e contrariedades, inclusive no Brasil
onde vara e báculo contenderam desde Duarte da Costa.
A 25 de março celebrava a Igreja a Anunciação de
N. Senhora em Nazareth e o Estado, por meio de dia de
grande gala, assinalava o aniversário do juramento da
Constituição.
Dois dias antes da dupla celebração e da abertura
do Colégio de Pedro Segundo, seu primeiro reitor, figura
primacial na diocese do Rio de Janeiro, frei António de
Arrábida, Bispo titular de Anemúria, recebia Aviso do
Ministro Bernardo de Vasconcellos.
Aviso de alta prudência sobre subida cortesia, o
seguinte: "Bernardo Pereira de Vasconcellos envia ao
Exmo. E Rvmo. Sr. Bispo de Anemúria cópia do Discurso
que tem de recitar na ocasião da abertura do Colégio de
Pedro Segundo, no dia 25 do corrente, a fim de que S.
Exa. Revma. tenha dele prévio conhecimento".
Quarenta e oito horas depois estava o reitor
preparado para receber a augusta visita de D. Pedro II na
inauguração do Colégio de seu nome, a 25 de março de
1838.
o veio só o Imperador, acompanhavam-no duas
irmãs, as Princesas D. Januária e D. Francisca, a segunda
já tendo tido ensejo de conhecer futuro esposo, o Príncipe
de Joinville, filho de Luiz Felippe, de passagem pela capital
do Império em 1838.
Na abertura do Colégio, dizia o "Jornal do
Commercio": "Quase todo o Rio de Janeiro intelectual se
achava, para ouvir da boca do Exmo. Sr. Vasconcellos, o
discurso que ele dirigia, em nome do Regente, ao Exmo.
Reitor (o Bispo de Anemúria)".
o se moveu emo o Rio de Janeiro intelectual.
Aplaudiu discurso lapidar, mais do que isso profético.
Relida a oração, verifica-seo ter o tempo lhe feito
perder valor. Constitui ainda programa. Afirmava Bernardo
de Vasconcellos: "O Colégio é o Reitor, nele principiando
e acabando a beleza e a utilidade do estabelecimento,
respeitando a mor parte das disposições do regulamento
do Colégio mais aos professores e inspetores de que aos
alunos, a severidade da disciplina devendo passar mais
sobre tais empregados do que sobre os discentes, fáceis
de conduzir quando a vigilância e o respeito lhes assinala
a estrada".
Quando errassem deveriam os alunos conhecer os
castigos desvanecendo-se o Governo que as penas
impostas "arraigassem desde cedo na mocidade o horror
ao crime, a aversão à indolência, o cuidado dessem
deveres, o necessário hábito de mandar sem despotismo
e obedecer sem servilismo".
Ao concluir sucinto e imortal discurso, declarava
Bernardo de Vasconcelos ser mister repetir ao Bispo de
Anemúria "que o intento do Regente interino ao criar o
Colégio era oferecer um exemplo ou norma aos que já se
achavam instituídos nesta Capital por alguns particulares,
ESCRAGNOLLE DORIA
convencido como estava que a educação colegial era
preferível à educação privada.
"Nenhum cálculo de interesse pecuniário, frisava o
Ministro, nenhum motivo menos nobre, e menos patriótico
que o desejo de ver a boa educação da mocidade, e o
estabelecimento de proveitosos estudos influíra na
deliberação do Governo. Relevava pois, ser fiel a este
princípio, manter e unicamente adotar os bons métodos,
resistir a inovação queo tivesse a sanção do tempo e o
abono de felizes resultados, prescrever e fazer abortar todas
as espertezas de especuladores astutos, ilaqueavam a
credulidade dos pais de família com promessas de fáceis
e rápidos resultados na educação dos filhos, repelir os
charlatães que aspiravam à celebridade inculcando
princípios e métodos que a razão desconhecia e muitas
vezes assustada reprovava."
"Pouco importava adiantava Bernardo de
Vasconcellos que a severidade da disciplina do Colégio,
que a prudência e a salutar tendência no proceder a
reformas afastassem do Colégio muitos alunos. O tempo,
sempre o condutor da verdade, e o destrutor da impostura
faria conhecer o seu erro. O Governo só fitava a perfeita
educação da mocidade, deixando (não sem pequeno pesar)
as novidades e a celebridade aos especuladores, que
faziam do ensino da mocidade um tráfico mercantil, nada
lhes interessando a moral e felicidade dos alunos. Ao
Governo só cabia sanear para colher os frutos".
A Bernardo Vasconcellos respondeu o Bispo-reitor,
oferecendo ao Governo a sua colaboração, sem que,
infelizmente, se encontre registrado o seu discurso, a
contrapor ao do diligente Ministro. É grande pena.
Finda a inauguração, o Imperador e as irmãs,
seguidos pela Corte, percorreram o plano superior do
Colégio. Abertas portas, logo escadas, corredores e salas
encheram-se de povo em burburinhos.
A 27 de março de 1838, o "Jornal do Commercio",
noticiando a inauguração, observava estar "o Colégio em
embrião, necessitando de auxílios para prosperar,
aprouvesse a Deuso lhe dar a sorte de todas a:
instituições fundadas com muito calor no Brasil, oxalá(
fosse o Colégio presa da guerra de individualidades, de
sistema desmoronador de ministro para o outro".
Cessadas as festas, começava labor. Um séculc
aindao o interrompeu. Inaugurado o Colégio, no di<
seguinte da abertura, recebia o Bispo-reitor Aviso de
Ministro Bernardo Vasconcellos.
Comunicava "haver sido indicado ao Marquês tuto
do Imperador (o Marquês de Itanhaem) poder ser realizad.
a entrega ao tesoureiro interino do Colégio da quantia d(
400S000 como princípio da subscrição de 2:000$000
dádiva do Imperador ao Colégio".
Em seguida, autorizado por Aviso de 30 de marçc
de 1838, o Bispo-reitor recebia "mandada recolher a<
Colégio, a prata pertencente ao Colégio dos extinto:
Jesuítas por cuidados do Juiz de Paz da Freguezia d<
Jacarepaguá, dita prata encontrada entre o espólio do padn
José de Amor Divino".
Aberto o Colégio, Bernardo de Vasconcelloso (
s à margem de preocupações de governo e atormentad(
como o da Regência. Dedicou à Casa cuidados <
providências de toda ordem visando futuro.
Em constante relação com o Bispo-reitor, ora lh<
comunicava a oferta de 50 exemplares do compêndio d<
Aritmética do bacharel Francisco de Paula Leal, ora lh<
participava o pedido ao Ministério da Guerra, do qua
Ministro Sebastião do Rego Barros, para que o Arsenal d<
Guerra aprontasse tábuas para as demonstrações d<
cálculo nas aulas do Colégio.
Preocupava-se Bernardo de Vasconcellos com <
fornecimento de água para a nova instituição
determinando, por Aviso de 11 de junho de 1838, que <
dito fornecimento, feito pela administração das obras di
Casa de Correção, fosse substituído pelo fornecimentt
pelas carroças empregadas em vender água na cidade.
Velava Bernardo de Vasconcellos pela higiene <
saúde da coletividade proibindo admissão de aluno:
internos portadores de doenças contagiosas.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Comunicava o Ministro ao reitor "ter o Governo
resolvido que das máquinas, instrumentos e dos produtos
dos três reinos naturais existentes no Museu Nacional da
Corte se emprestassem ao Colégio aqueles queo
fizessem falta alguma ao mesmo Museu, fazendo aprontar
a casa, as estantes e armários convenientes onde
devessem ser conservados os referidos produtos" Dirigia
o Museu o sábio frei Custódio Alves Serrão.
Multiplicava avisos Bernardo de Vasconcellos
completando a fundação do Colégio. Num dia ampliava o
enxoval dos alunos internos, noutro autorizava a reitoria a
gratificar com 20S000 os professores que lecionassem
durante férias. Mereciam-lhe cuidados a adoção de
compêndios, aprovado para o ensino de História Universal
a tradução do compêndio de Poisson e Cayx para História
Antiga e o compêndio de De Rozoir e Dumont para História
Romana.
No ensino de Física era mandado adotar pelo zeloso
Ministro o compêndio de Barruel, reduzido a quadros pelo
Cónego Francisco Vieira Goulart, sendo adotado o
compêndio de Lacroix para estudo de Geometria.
Caberia ainda a Bernardo Vasconcellos expedir aviso
revogando o artigo 46 dos Estatutos do Colégio na parte
em que facultava precedendo licença especial do Governo,
admissão de alunos menores de 12 anos.
Apreciando a fundação do novo Colégio, assim se
exprimia o "Jornal do Commercio": "Qual será o coração
entusiasta pela prosperidade do Brasil queo sentirá
palpitações movidas por um interesseo grande qual o
da fundação do Colégio de Pedro II, de um estabelecimento
que tende a preparar a nova geração que há de se reger os
futuros destinos do país de uma maneira mais ampla já
nos princípios adquiridos em prática, um dos dogmas da
religião, já pelo certames científicos que aí colherá em
sucessão de estudos clássicos e progressísticos.
Faltava ao Brasil um semelhante estabelecimento,
uma escola progressiva de educação à mocidade, como
disse o Ministro do Império, que servisse de tipo as outras
que se acham em atividade no país.
O pai de família folgará de receber em sua casa um
novo filho, modesto, laborioso, instruído e apto para penetrar
no santuário de qualquer missão civil que seus
compatriotas lhe encarreguem, um homem que tudo
apreciará porque ali ele aprenderá a tudo respeitar, enfim
um filho que respeitará o saber, a idade eo levará a
imprudência e o escárnio até o altar de Deus".
O Governo imperial querendo realizar esta grande
ideia lançou mão dos homens que lhe pareceram mais
hábeis para o desempenho deo árdua tarefa e a escolha
do arquiteto, do reitor e dos professores, é de certo lisonjeira
para o Brasil.
Mr. Grandjean é um artista de cunho, um homem
de arte que sabe o que faz, reunindo ao útil o agradável, e
a grande atividade que ele empregou na restauração do
Seminário antigo, assim como o bem acabado da obra,
prova em seu abono as qualidades que deve possuir um
arquiteto.
O Exmo. Sr. Bispo de Anemúria é um homem moral,
de caráter firme, instruído e que já suportou sobre seus
ombros um peso maior que o do Colégio, o da educação
de dois príncipes (D. Pedro e D. Miguel): o seu nome sem
nódoa é a maior garantia para os pais de família e para a
prosperidade do Colégio de Pedro II. Dos professores
nomeados tais como os Srs. Magalhães, Silva, Maia, etc,
etc.o muito conhecidos por seus talentos e todos
laboriosos, o queo deixa a duvidar ser um belo
complemento à formação do corpo de ensino do Colégio".
o foram vãos os esforços de Bernardo de
Vasconcellos na fundação do Colégio, granjeando aplauso
geral. Incansável o grande paralítico, deu exemplo a tantos
validos. Tolhido de passos,s entretanto o Colégio a
andar célere em caminho glorioso.
Frei D. António de Arrábida, Bispo de Anemúria, primeiro Reitor.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
II
O Colégio até 1839
Primeiro Reitor Primeiros Funcionários Primeiros Professores Efetivos e
Interinos Primeiro Livro de Matrícula Primeiros Alunos Ainda os Órfãos deo
Joaquim Ação Conjunta do Governo e da Reitoria do Colégio Retirada de
Bernardo de Vasconcellos do Governo Seus Sucessores Novo Reitor, Novo
Vice-Reitor O Colégio até 1839 A Sessão do Senado do Império em 1839.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837- 1937
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Descrita seja, a largos traços, a vida nacional do ano
de 1838, primeiro do funcionamento regular do
Colégio de Pedro Segundo.
Cessaria a interinidade regencial do Senador Araújo
Lima, Regente efetivo por eleição para o cargo procedida
em todo o Império, alcançando nela o regente interino 4.308
votos.
Acudindo embora à debelação de guerras civis, quais
a Sabinada baiana, a Balaiada maranhense, a luta dos
Farrapos sul-riograndense, a Regência Araújo Lima, em
1838, procurava administrar, criava serviços de vulto,
reformava outros, favorecia instituições úteis, estimulava
iniciativas individuais, tentava conduzir o país à paz,
favorecido no intuito já pelo abrandamento de paixões e
linguagem da imprensa partidária, já pelo apreço público
votado a obras da inteligência em vários departamentos
do saber humano.
Assim, em 1838 formavam-se nove primeiros
doutorandos saídos da nossa Escola de Medicina instituída
pela lei de 3 de outubro de 1832, três cirurgiões pela antiga
Escola Médica Cirúrgica reformada pela mesma lei.
Dos nove doutorandos de 1838 mais se assinalaria,
na vida nacional, Martinho Álvares da Silva Campos,
deputado-geral, Senador do Império, presidente de
província, Presidente do Conselho de Ministros,
Conselheiro do Estado na monarquia, sobre tipo original
de inveterado oposicionista parlamentar.
Começava o Brasil a preocupar-se em ter
comunicações rápidas com o mundo por meio da
navegação a vapor. Pretendia a organização de companha
nacional, começada a estudar a possibilidade da abertura
do istmo de Panamá, quando no Rio de Janeiro se estudava
outra possibilidade, a do desmonte do Morro do Castelo.
o se preocupava somente Bernardo de
Vasconcellos, Ministro da Justiça e interino do Império,
com a transformação e bom estabelecimento do Colégio
de Pedro Segundo. Merecera-lhe cuidados, por exemplo.
o Jardim Botânico da Lagoa de Rodrigo de Freitas, dera-
Ihe regulamento, "de maneira que as pessoas que o
visitassem pudessem utilizar-se do que ele oferecia ao
recreio, à curiosidade e às investigações científicas, sem
contudo lhe causarem prejuízo, nem ofenderem a decência
que se deve guardar em um lugar de pública concorrência".
A 21 de outubro de 1838, surgia no Rio de Janeiro,
no seio da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, o
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Com esta
agremiação o protetor do Colégio de Pedro Segundo
repartiria desvelos vida inteira.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Começava a presidir a nova sociedade, do passado
vinda e agora no primeiro centenário, o Visconde deo
Leopoldo, auxiliado pelo Cónego Januário da Cunha
Barbosa e pelo Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia, professor
do Colégio de Pedro Segundo.
Em 1838, outro professor do Colégio, Gonçalves de
Magalhães, atraía atenção pública no Rio de Janeiro,
oferecia-lhe famosa primeira representação, a de António
José ou o Poeta e a Inquisição, peça escrita em Bruxelas,
levada à cena no Theatro Constitucional Fluminense, depois
o Pedro de Alcântara, hoje João Caetano, e interpretada
pelo até hoje tido como primeiro ator nacional e proclamado
pelo próprio Gonçalves de Magalhães, "sempre mestre e
discípulo de si mesmo".
A necrologia de 1838 registrava os nomes de vários
prestantes cidadãos brasileiros, entre eles, até na morte
primus inter pares, José Bonifácio de Andrada e Silva,
falecido às três horas da tarde de 5 de abril de 1838 em
o Domingos de Niterói e sepultado no Rio de Janeiro na
Igreja dos Terceiros do Carmo na atual Rua 1
o
de Março.
Mal desceram os restos mortais de José Bonifácio
à catacumba do Carmo levantava-se na capital do Império
a ideia de consagrar monumento em memória dele e outro
à do soberano ao qual José Bonifácio tanto servira, D.
Pedro I do Brasil e IV de Portugal.
Eis fugidiamente descrito o maior fato do ambiente
social de 1838, primeiro ano do viver pedagógico do Colégio
de Pedro Segundo.
O decreto de criação do Colégio chamava Reitor a
autoridade maior do estabelecimento. Corria a palavra na
época, de tradição coimbrã. Aindao caíra em desuso,
aplicada a quantos em cargo ou negócios de certas
corporações, mais particularmente escolares ou religiosas.
Designando o chefe do Colégio, mesmo quando dividido
este, a palavra seria por longo tempo mantida no trato
oficial.
No discurso de inauguração do Colégio, da lavra de
Bernardo de Vasconcellos, bem patente estava o desejo
do Governo imperial de escolher reitor à altura da criação.
"O Colégio é o reitor", declarava o Ministro inaugurante.
Na transição do Seminário deo Joaquim para
Colégio de Pedro Segundo, Bernardo de Vasconcellos
convidou um bispo para primeiro reitor do novo Instituto.
Escolheu o franciscano frei António de Arrábida, Bispo in
partibus de Anemúria. Trazia no nome religioso bastante
pátria: António lembrava o santo que Pádua reclamou;
Arrábida, o convento luso da serra transtagana onde fez
pousoo Pedro de Alcântara.
Frei António de Arrábida transmigrara com o Príncipe
Regente tendo na pátria ocupado cargos na sua Ordem.
Escapara de vir ao Brasil antes da Corte lusitana. Em 1807,
o Príncipe Regente quase mandara ao Rio de Janeiro o
filho D. Pedro, duplamente infante, na idade, e na hierarquia
dinástica com o título de condestável. Acompanhá-lo-ia
um aio: Frei António. Em vez de o franciscano viajar,
ou com o príncipe da Beira, chegou ao Brasil de roldão
com a corte portuguesa e milhares de compatriotas.
Frei António, no Rio de Janeiro, alusitanado do dia
para a noite, foi preceptor de D. Pedro e D. Miguel, para
muitos preceptor in partibus, dada a índole rebelde dos
dois irmãos príncipes.
Começando a operar a Independência, em 1823, foi
frei António despachado 1
o
bibliotecário da Biblioteca
Pública do Rio de Janeiro. Exerceu o cargo até a Regência
Provisória Trina, afinal esta o pondo na rua, lugar pouco
grato a empregados.
Ficou em penúria frei António, a observar pobreza
além do voto franciscano. Amigos o remediaram com
subscrição, acudindo mais tarde D. Pedro II com
mensalidade servida ao pensionista até a morte para
manter decoro de bispo.
Ao assumir a reitoria do Colégio de Pedro Segundo,
era frei António de Arrábida quase septuagenário. A última
Regência de Araújo Lima reparava nos últimos dias de frei
António a demissão imposta pela Regência Provisória Trina,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
talvez ao calor de paixões políticas e jacobinas, quiçá pela
necessidade de colocar apaniguados, coisa comum na
inversão de partidos.
Além do reitor, compunham o corpo administrativo
do Colégio um síndico, um vice-reitor e um tesoureiro; no
corpo subalterno, o número de serventes necessários.
Ajuntou-se-lhes mais tarde um secretário interino,
José Tavares de Mello. Eram reitor e funcionários
destinados a assegurar o regime do estabelecimento.
Mantendo-lhe instrução e vigilância, achou-se
congregado corpo de professores e inspetores; entre os
primeiros o professor de Religião tendo também a seu cargo
a Capelania do Colégio. Para cuidar da saúde física dos
alunos foram designados um médico e um cirurgião de
partido. Tanto o médico como o cirurgião tinham estipêndio
certo por serviço determinado. Condecorava ambos o
expressivo título de Professores de Saúde.
Sucinto fora o decreto de criação do Colégio.
Extenso, porém, veio a ser o decreto de 31 de janeiro de
1838, aprovando os Estatutos do Colégio, opondo 232
artigos aos 13 do decreto de criação. Segundo a cópia dos
artigos, da ação harmónica do corpo docente e
administrativo resultaria a prosperidade do Colégio, bem
justa em toda a parte a divisa das armas belgas: a União
faz a Força.
Aos professores primeiros do Pedro Segundo
lembrava o poder público, para exemplo de sucessores,
a necessidade de ensinar aos alunos letras e ciências,
sem contudo descurar imprescindíveis deveres para com
Deus, Pais, Pátria e Governo.
Eis os primeiros professores do Colégio nomeados
a 29 de abril de 1838 pelo ministro Bernardo de
Vasconcellos:
Coube a Joaquim Caetano da Silva a cadeira de
Retórica, ele interinamente encarregado de lecionar
Gramática Portuguesa e Grego. Rio-grandense-do-sul, de
Jaguarão, o jovem professor de 28 anos, precocemente
se graduara em Medicina na Faculdade francesa de
Montpellier, vemacularmente Monpilhér. Desde estudante
se anunciara mestre para ser depois mentor da mocidade
brasileira.
Justiniano José da Rocha foi designado professor
de Geografia, História Antiga e Romana,o muito
perceptível a exclusividade pedagógica da última disciplina.
Era outro professor moço e já notório. Carioca, de educação
literária em Paris, no célebre Colégio Henrique IV, contava
26 anos. Formado em Direito em S. Paulo, tornar-se-ia
figura política notável e mestre completo do jornalismo
político, representando a nação na Câmara dos Deputados.
A facilidade de composição de Justiniano era quase
miraculosa, atestou-a alguém que passou pelo magistério
do Colégio, embora por breve tempo: Salvador de
Mendonça. Disse-nos: "Justiniano escrevia em todo e
qualquer lugar, a toda e qualquer hora do dia ou da noite,
em casa, na Câmara dos Deputados, no teatro, sobre as
costas de uma cadeira, sobre a perna, em um peitoril de
janela, no silêncio do gabinete, na sua varanda, no meio
do chilrear dos pássaros e das correrias e barulho das
crianças".
Dizia Octaviano que Justiniano, ao acordar de
manhã, a primeira coisa que fazia era ver onde havia
deixado a pena na véspera eo garantia queo
escrevesse quando dormia.
Logrou nomeação de professor de Ciências Naturais
e interino de Aritmética Emílio Joaquim da Silva Maia.
Brasileiro dos mais ilustrados, natural da Bahia, como
Joaquim Caetano e Justiniano o recebera cultura europeia.
Graduou-se em Filosofia em Coimbra, em Medicina em
Paris. Na época do nascer do Colégio figurava entre os
membros fundadores do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro e da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional.
Contava trinta anos de idade em 1838 o jovem professor
Dr. Silva Maia, cuja vida seria das mais profícuas à ciência
e à pátria.
A Domingos José Gonçalves de Magalhães foi
entregue, em 1838, a aula de Desenho. Outro jovem
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
professor de 27 anos, carioca de 1811 e poeta já anunciador
do Romantismo nos Suspiros Poéticos e Saudades, obra
publicada pouco antes da nomeação do autor para o
Colégio.
Ao grupo dos primeiros nomeados para lecionar no
estabelecimento pertenceu por último Januário da Silva
Arvellos, professor de Música e como tal conhecido na
época. Ainda hoje, vez e outra, surge composição sua em
festividades religiosas.
Que Arvellos, no seu tempo, teve notoriedadeo
padece dúvida, à vista dos versos de Porto Alegre
exaltando o Brasil e colocando Arvellos na linha de
compositores de arte, a principiar por José Maurício.
Augurando ao Brasil só brilhante futuro, Porto Alegre
apostrofava:
Em teus templos se animam, se engrandecem
Os cânticos sublimes que um Garcia,
Um Rosa, um Portugal, e um Arvellos
Anotaram co'a dextra sapiente.
Às primeiras nomeações efetivas seguiram-se
outras, a título interino, para o ensino de várias disciplinas.
Dos nomeados, mais notório era quem substituiu no ensino
do Desenho o professor Gonçalves de Magalhães.
Chamava-se Manoel de Araújo Porto Alegre, a grafar com
minúscula o último apelido, para lembrar terra natal sul-
rio-grandense, ele de berço em Rio Pardo.
Em 1838, o futuro barão de Santo Ângelo já cursava
a Academia das Belas Artes, onde foi discípulo de Debret,
vindo depois a percorrer a Europa em aperfeiçoamento de
estudos artísticos.
À designação dos primeiros professores devia
corresponder matrícula dos primeiros alunos.
Cumpria, porém, selecioná-los e depois, com o maior
escrúpulo, realizavam-se os exames de admissão ao 1
o
ano do 1 ° ano letivo do Colégio, o de 1838.
Disto faz fé o ofício da mesa examinadora em ofício
redigido por Joaquim Caetano, ofício dirigido ao Exmo. e
Revmo. Sr. Bispo-reitor, peça na qual se insere o seguinte
tópico:
"Quandos procedemos a exames de que até
agora temos sido encarregados, bem sabe V. Exa.
Revdma. o melindroso escrúpulo com que nos louvamos:
idade, mérito adquirido, mérito ingênito, tudo isto
averiguamos em cada menino, e nisso foi que fundamos
cada uma das notas. Facilmente poderíamos então
expender por miúdo os motivos da significação pors
estabelecida unanimemente. Hoje, porém, no-lo veda o
decurso do tempo e o grande número de examinados que
a esta mesa se tem apresentado. Só podemos, portanto,
remeter agora essa mesma classificação rogando a V.Exa.
Revdma. se sirva lembrar-se de ponderação com que
assentarmos a organização da adjunta tabela, resultado
do nome consciencioso dos examinados que nela se
contém".
Do ofício resulta a prova de o nascente Colégio
selecionar quanto possível, tomando por lema pedagógico
o lema pauca sed bona, observado nas matrículas dos
futuros discentes da nova instituição.
No começo de longa existência, certoo lhe
faltariam livros de matrículas, o primeiro digno de especial
menção. Conserva-se no arquivo do Colégio o curioso livro,
solidamente encadernado em escuro, com 354 páginas
de excelente papel. Tinta de primeira ordem, com nitides
apresenta assentamentos. Representando tradição
venerável, o 1
o
livro de matrícula do Pedro Segundo
também retrata época aos olhos do observador arguto e
de comércio com a História.
Escriturado o livro minudentemente, dele na primeira
folha se:
Livro Primeiro de Matrfcula-Geral dos Alunos deste
Imperial Colégio de Pedro Segundo, no qual se nota para
os Internos o dia em que entraram para o Colégio, e, para
os Externos, aquele em que principiaram a cursaras aulas.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Mais abaixo:
Vão marcadas com umas entrelinhas os alunos que
saíram do Colégio sem ultimarem os seus estudos e com
duas, os Bacharéis.
A 27 de abril de 1838, único no dia, matriculou-se o
aluno de 16 anos, Pedro de Alcântara Lisboa, filho do
Conselheiro António Lisboa, nascido nesta Corte em 1822.
Interno. Tinha sido aprovado para a quinta classe,
mas, por falta de companheiros matriculou-se na sexta.
Passou para externo no 1
o
de agosto do mesmo ano. Em
dezembro foi aprovado unanimemente para a sétima classe
e obteve o primeiro prémio em Geografia, o segundo prémio
em Latim, Aritmética, História e Grego, e Menção Honrosa
em Francês e Desenho. Retirado do Colégio em 31 de
março de 1839.
Iniciada a matrícula em abril de 1838, ficou em aberto
o ano inteiro, a 20 de novembro, sob n.° 91, ainda se
matriculando último aluno, João da Silva Mondeiro.
O primeiro matriculado do Colégio, Pedro de
Alcântara Lisboa, seguiria estudos de engenharia em Paris.
Aí serviu à pátria adido de 1
a
classe à legação imperial
brasileira, e depois longamente professando matemática.
cuidando de agricultura e finanças.
Alguns dos primeiros alunos do Colégio distinguir-
se-iam na vida pública do Império. Assim, João José de
Andrade Pinto seria Ministro do Supremo Tribunal de
Justiça; Luiz Affonso de Escragnolle morreria em flor da
idade, 30 anos, capitão do exército e lente da Escola
Central, emulando em concurso com os seus amigos
Joaquim Gomes de Souza, o Souzinha, de tanta celebridade
matemática, e Ignacio da Cunha Galvão, a cabo de carreira
diretorda Escola Politécnica.
Outros dos primeiros alunos do Colégio:
António Pedro de Carvalho Borges, Barão de
Carvalho Borges, Ministro Plenipotenciário, representando
o Brasil na Áustria, na Holanda e em Portugal.
António Marianno de Azevedo, que, alcançando
renome na armada nacional, atingiu o posto de capitão de
mar-e-guerra, devendo-lhe especiais serviços a Biblioteca
da Marinha.
Segundo se depreende de ofício do Bispo-reitor a
Bernardo de Vasconcellos, a 8 de março de 1838, tentativas
houve logo no início do Colégio de perturbar-lhe a seriação,
afinal mantida. Pedindo a Deus que guardasse o Ministro
por muitos anos, consoante fecho de redação oficial da
época, dizia o Bispo-reitor:
"Tendo afluído inumeráveis pretendentes a
matricular-se táo-somente em diversas e singulares aulas
cujos requerimentos alguns no princípio foram admitidos,
como porém duvide qual seja o pensar de V. Exa. a este
respeito, rogo a V.Exa. mui particularmente uma declaração
que me sirva de regra geral para tais pretensões,
consideradas tão-somente as aulas em atual exercício ou
a qualquer outras que se abrirem, o bem do serviço me
obriga a rogar isto".
Opôs-se Bernardo de Vasconcellos à pretensão dos
alunos sem regra, providenciando também sobre outra
pretensão, a de quatro alunos do antigo Seminário deo
Joaquim, até então sob os cuidados do professor primário
Silva Moraes. Pretendiam os antigos órfãos do Seminário
matrícula no incipiente Colégio de Pedro Segundo; ordenava
porém o Ministro que se os mandassem examinar a ver,
se em condições de admissão a seguir Letras ou se, por
falta de talento e aplicação, conviria antes preferível destiná-
los para as Artes. Nada de pesos mortos no corpo discente,
frequentasse o Colégio quem merecesse e aproveitasse.
Ministro enérgico, Bernardo de Vasconcellos cortou abusos,
os quais, segundo máxima do Marquês de Maricá, como
os dentes, nunca se arrancam sem dores.
Sabendo do interesse de Bernardo de Vasconcellos
pelo Colégio, em ofício de 27 de maio de 1838, o Bispo-
reitor prestava-lhe informações sobre o andamento do^
serviço público no incipiente Colégio sub báculo.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Atestava o Bispo-reitor:
"Dando conta hoje a V.Exa. do estado do Colégio de
Pedro Segundo para ser presente ao Regente interino em
nome do Imperador, devo declarar que julguei necessário
esse espaço de tempo para queo fossem simples
participações de alguns dias e dias de primeiros arranjos
e nem os dos passos dados no andamento da vida
colegial".
o dignas de menção as informações do Bispo-
reitor fora "dos dias de primeiros arranjos".
Dizia o Bispo de Anemúria em 1838, para ciência
de vindouros, que, a 27 de abril de 1838, tinham começado
a entrar no Colégio os primeiros alunos internos, faltando
só 6 dos 30 aceitos, no número dos 30 incluídos 7 pobres.
"Só admitia o edifício 65 alunos internos", declarado que
o espaço de leito a leito era menos do que aquele designado
nos estatutos.
Avisava também o reitor ao ministro que nos
primeiros dias de aula haviam ocorrido algumas
irregularidades, sobretudo na aula de Ginástica, e na de
Latim, nesta por falta do compêndio. Quanto à salubridade
do Colégio, afora incómodos de saúde de certos alunos, 4
graciosamente curados pelo Dr. Silva Maia, o estado
sanitárioo oferecia perigo algum.
"O andamento económico informava o Bispo-
reitor enquanto a alimentos está frugalmente
estabelecido, e marcha variado e bem feito.o tem este
sido assim, nem é quanto ao serviço de 2 únicos serventes
para uma casa deo grande família e de tantos ministérios
e que tais bem elesm sido. Hoje resta um só deles, o
qual havia procurado para me servir interna e externamente
em coisas do Colégio. Hoje acaba de entrar um terceiro
apesar deo saber o que havia de prometer. Este objeto
é vital para o estabelecimento. O estudo em que tem
estado é violento e irregular, euo sei o que sucederia se
esses zelosos empregados, inclusive os inspetores de
alunos, e o Capelãoo se dedicassem com toda boa
vontade e com grande zelo a todo serviço, até braçal e
grosseiro.
O estado do edifício é o de incompleto para o seu
destino.o há aposento para o vice-reitor nem para o
Capelão. Esta obra é urgente.o há onde se recolham
os serventes, nem mesmo os pretos."
"Na quadra do pátio há três casas inúteis porque
ficaram por acabar", dizia o Bispo-reitor ao ministro,
pugnando por diversos melhoramentos.
Com espírito cristão sobre-sacerdotal, o Bispo-reitor
chamava a atenção do ministro Bernardo de Vasconcellos
para a falta de conforto dos quatro negros incumbidos de
serviços grosseiros.
"Para conhecer o peso do trabalho na limpeza e
asseio basta lembrar a grandeza do Edifício, de que ele
o tem esgoto algum e do número de gente que o habita".
Com franqueza expunha o Bispo-reitor "o estado
desteo excelente quão útil Estabelecimento, que
reunindo em um ponto as Ciências secundárias para encher
a lacuna que havia entre as grandes Escolas da Ciência e
as destacadas aulas de princípios. O Estabelecimento a
todas as respostas é digno do Século e da época em que
acaba de ser instituído, e para cujo aperfeiçoamento
nenhuns esforços serão excessivos".
Honrando-se em dirigir "um estabelecimento a todos
os respeitos digno do século", cientificava o Bispo-reitor
ao ministro "ter convocado professores para saber os que
se dispunham a aceitar a regência interina de várias
disciplinas, pronunciando-se pela aceitação os professores
Silva Maia, Justiniano José da Rocha, Joaquim Caetano
da Silva e Jorge Furtado de Mendonça. Abrira exceção o
professor de Filosofia, Magalhães, que declaravao se
achar em circunstâncias de encarregar-se da cadeira de
Desenho e que havendo de encarregar-se de alguma outra
diversa da sua (a de Filosofia) seria a dos primeiros anos
de História".
Segundo o Bispo-reitor "pela urgência das
circunstâncias se haviam aberto aulas sem designação
de compêndios e mais objetos necessários ao andamento
da instrução". Mas o reitor "solicitara dos professores as
ESCRAGNOLLE DÓRIA
novas ideias a respeito de compêndios e mais coisas
necessárias e sobre as instruções deles formaria lista
oferecida à designação de S. Exa.".
Louvando os esforços do Bispo-reitor, Bernardo de
Vasconcellos obtemperava: "É do concurso de todas as
vontades, do sacrifício de muitos cómodos, do zelo e
atividade da parte do reitor e de todos os demais
empregados que pode resultar o progressivo
aperfeiçoamento da classe. Em tal coadjuvação contava
o governo, como até então, achar em todos, especialmente
no reitor".
Para maiores ou menores providências entrava
sempre o Ministro em contacto com o reitor. Tendo este
lhe representado que a capacidade de dois dormitórios
apenas permitia admissão de 65 alunos, retorquia Bernardo
de Vasconcellos, dizendo "que o regente Araújo Lima se
persuadia que a capacidade dos dormitórios podia ser
aumentada. Cumpria mudar a posição das camas
colocando-as em quatro linhas ao comprido. Entre a
cabeceira de um leito e oss do imediato ficaria apenas
espaço para a passagem de um homem. No momento,
fazer qualquer mudança nos dormitórios seria
desnecessária, visto o diminuto número de alunos".
De olhos abertos sobre abusos, Bernardo de
Vasconcellos advertia o próprio reitor. Recomendava-lhe
providências para que uns professoreso estivessem
lecionando matéria estranha à sua aula quando o professor
gozando da substituição nenhum impedimento tinha que o
privasse de dar as lições de sua obrigação".
Nem à reitoria, para exato cumprimento de Estatutos,
faltavam avisos deste teor: "Fique a reitoria na inteligência
de que o Regente só quer a execução de ordens quando
o possam prejudicar os interesses do Colégio ou quando
a direção deleo tenha concebido outro plano e sistema
julgado preferível". Neste caso, daria parte do plano e
sistema com o necessário desenvolvimento, a fim de ser
resolvido o mais conveniente. Ficasse certa a reitoria "que
o Regente ouvia sempre com satisfação as reflexões
inspiradas pelos louváveis desejos de aperfeiçoamento
social, ainda quandoo se lhe desse assenso".
Levava também o Ministro Bernardo de Vasconcellos
a solicitude a ponto de amparar docentes como sabia
adverti-los. Punha presente à reitoria do Colégio a
existência da "presumpção infundada", de ser certo
professor "homem debochado para que talvez contribuísse
o seu modo de andar". Informado, entretanto, Bernardo
de Vasconcellos "de suas boas qualidades, sobriedade e
bastante inteligência na sua arte, julgava conveniente que
o reitor procurasse desvanecer quanto fosse possívelo
desfavorável quão imerecida opinião a seu respeito".
Aliás, tanto Ministro como reitoria procuraram
melhorar retribuição pecuniária do corpo docente, por um
decreto, fixados provisoriamente parcos ordenados anuais
a professores e empregados do Colégio. Venceria o Capelão
700$000. Os professores de Latim, Grego, Aritmética e
Geografia teriam 500S000, os de Desenho e Música
400$000. Enquanto desse lição única semanal o professor
de Francês receberia 200$000, tanto quanto os inspetores
e caso estes pelo seu preparo servissem de substituto se
lhes abonaria mais 100S000.
Em continuação dos serviços de estreia do Colégio
ordenava o Regente que, em livro à parte, com o título de
Anais do Colégio de Pedro Segundo, se lançassem os
principais acontecimentos ocorridos ano por ano. Ter-se-
ia especial cuidado pelos assuntos de interesse para a
instrução pública. Principiaria o 1
o
ano dos Anais a 2 de
dezembro de 1837 e acabaria a 31 de dezembro de 1838.
Incumbia também ao reitor apresentação do relatório
dos alunos internos conforme o disposto nos Estatutos,
Título e Capítulo 1
o
, Artigo 4
o
. Pelo mesmo relatório muitas
informações seriam ministradas sobre os alunos, sobre a
filiação, a residência, o aproveitamento e a conduta deles.
Até meados de outubro de 1838 esteve o Bispo-reitor
em exercício ativo de cargo, assaz pesado para o seu
avanço de idade e saúde precária. No meio de um Brasil
conturbado por lutas civis e dificuldades já políticas, já
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
financeiras, o Regente e o Ministro tinham auxiliado o
Bispo-reitor na organização do Colégio-modelo, cujo
augusto patrono crescia em anos para lhes dedicar vida
inteira.
Na inatividade do Bispo-reitor passou a dirigir o
Colégio o vice-reitor, padre Leandro Rabello Peixoto e
Castro, de 13 de outubro de 1838 em diante a entender-se
com Bernardo de Vasconcellos, o Ministro minudente.
Tudo do Ministro merecia atenção, reclamações do
reitor, número e divisão de aulas, saúde dos alunos à
inspeção do Dr. Silva Maia, andamento económico da
Casa. Cumpria nesta atender, dizia Bernardo de
Vasconcellos, à necessária economia, à abundância e
salubridadeo recomendadas nos Estatutos.
O serviço diário e interno da Casa ficava a cargo de
dois serventes, para a limpeza, de três empregados
especiais para a cozinha, quatro africanos incumbidos das
tarefas mais grosseiras. Até neste particular atendia o
Governo à reitoria, autorizando-a humanitariamente a
melhorar a condição dos africanos.
Representando a reitoria sobre a conveniência de
obras no Colégio, respondia o Governo que só obras novas
autorizaria quando estivesse "tudo em andamento e se
soubesse por meio de contas quais os recursos do
Colégio".
Estavam as contas de remessas atrasadas, mas
declarava Bernardo de Vasconcellos a reitoria pela omissão,
o Governoo a incriminava, nem aos empregados.
Reconhecia o Governo que nos primeiros tempos ou
fundação de Estabelecimento da ordem do Colégio, "tudo
eram embaraços e tropeços".o era igualmente o
governo alheio às dificuldades com as quais "lutava o reitor
e com quantos haveria de lutar".
Sabendo que Bernardo de Vasconcellos fiscalizava
pessoalmente, meio único de bem dirigir, a reitoria do
Colégio tudo lhe relatava. Dizia-lhe, por exemplo,
atendendo a pedido ministerial de informações sobre o
requerimento do aluno Luiz de Almeida Brandão:
"Tenho a honra de informar a V. Exa. para fazer subir
ao conhecimento do Exmo. Regente que este pretendente
já pelo Governo foi atendido para frequentar as aulas do
Colégio na qualidade de aluno externo gratuito; o seu
comportamento tem sido louvável, e tem mostrado sempre
aplicação e aproveitamento, ele mora na rua da Alfândega
n.° 215 em companhia de sua avó, Catharina Margarida
Salinas, mas como esta se muda para fora da terra, a
procurar uma subsistência mais cómoda a suas
circunstâncias por isso é que o pretendente procura este
asilo, para poder desenvolver os talentos de que parece a
Providência o dotara. Por outra parte, o Colégio sustenta
sete alunos gratuitos, e mais dois que pagam a terça parte
e sustenta além desses mais quatro que no principio deste
Colégio foram daqui removidos para um Colégio particular
no Largo de Santa Rita. À vista do que pode V. Exa. tomar
a resolução que melhor convenha às circunstâncias
expostas".
Em outubro de 1838 também a reitoria informava
ao Ministro no tocante à marcha dos serviços de instrução
no Colégio: "Em observação do título e Capítulo 1
o
, Artigo
4
o
dos Estatutos deste Imperial Colégio, remeto a V.Exa.
os inclusos Relatórios, nos quais se vê o grau de
aproveitamento de cada um dos alunos. Afirmando a
V.Exa. que o estado quer físico, quer moral do Colégio
tem com pouca atenção sido satisfatório e lisonjeiro."
Para tanto, concorria o zelo do professor de Saúde
Dr. Emilio Joaquim da Silva Maia, assistindo aos enfermos
com aquela atitude que o caracteriza, pelo que o Bispo-
reitor pedia-lhe fosse concedida justa gratificação.
Que os desvelos profissionais do Dr. Silva Maia
eram os de verdadeiro "professor de Saúde" ficou prova
em favor dele, da caridade do Bispo e reitor, da atenção
do Ministro a quanto se passava no Colégio. A 3 de
dezembro de 1838 dirigia o Bispo e reitor o seguinte ofício
a Bernardo de Vasconcellos, peça característica de época
e de seus homens até da linguagem deles:
ESCRAGNOLLE DÓRIA
"Levo ao conhecimento de V.Exa. que o aluno
Manoel Moreira de Figueiredo Mascarenhas, apresentando
há três dias uma pontada em um dos lados, acaba de
desenvolver um furioso pleuriz que tem merecido a mim e
ao professor de Saúde o maior cuidado e atenção. Dei
logo parte deste incidente ao Dr. António Ildefonso que é
seu parente, o qual aqui o veio visitar e juntamente com o
professor de Saúde do Colégio dirigiram o curativo que as
circunstâncias exigiam. Tenho a satisfação de poder
informar a V. Exa. que o enfermo tem apresentado hoje
notáveis melhoras, cedendo visivelmente a enfermidade
às sangrias que ontem se lhe aplicaram".
0 médico, ao qual se referia o reitor a propósito da
enfermidade do aluno Figueiredo Mascarenhas, era o Dr.
António Ildefonso Gomes. Gozava na época fama de ótimo
clinico, homem de notável cultura, muito dedicado aos
estudos de ciências naturais, incansável perlustrador de
terras brasileiras. Em medicina era o Dr. António Ildefonso
Gomes partidário da hidroterapia, antecessor, em 1848,
dos métodos curativos em momentoo em voga pela
propaganda de Monsenhor Kneipp. Com o Dr. Gomes, as
teorias tinham prática, pois andava quase sempre des
no chão, antecipando-se a conselhos kneippistas.
o se limitava o Dr. António Ildefonso Gomes a
estudos nos livros, tinha-os em lição constante em
vastíssima chácara de sua propriedade, em Catumbi onde
vicejavam as mais variadas espécies, tanto nossas como
alienígenas.
Mostrava-se o Dr. António Ildefonso Gomes dedicado
ao Colégio onde, além do parente ao qual acudira, para
aliviá-lo de "furioso pleuriz", contava um neto António
Ildefonso Nascentes Burnier, bacharel em letras, falecido
em esperançosa adolescência.
A nomeação de inspetores para o Colégio merecia
também vigilante cuidado da reitoria. Tendo esta, exercida
pelo vice-reitor por exoneração do Bispo-reitor, de informar
ao Ministro acerca do requerimento de José Ferraz de
Oliveira Dourado pedindo o lugar de inspetor de alunos, no
dito requerimento exarava a reitoria na seguinte declaração:
"Tenho a informar a V.Exa. que eu nomeei o dito
Dourado interinamente, em virtude do Artigo 1
o
dos
Estatutos, para poder firmar o meu juízo sobre suas
qualidades pessoais. Parece-me um moço de juízo, bem
instruído em Gramática Latina. Teve estudos completos
no Colégio de Jacuecanga na Ilha Grande, por isso,
Aritmética, a Álgebra e a Geometria, a Língua Francesa, e
a Filosofiao lheo desconhecidas, ainda que confessa
estar nestas últimas faculdades algum tanto esquecido
por ter sido por seu pai aplicado por alguns tempos na
administração de sua roça. Pelo que me parece nas
circunstâncias de poder ser aproveitado". (Ofício de 3 de
novembro de 1838).
Por todos os meios procurava a direção do Colégio
ministrar a instrução dos alunos, buscando também formar-
Ihes o caráter, ensinando-lhes gratidão.
A 2 de dezembro de 1838 completava D. Pedro II
treze anos de idade. Longo ofício do padre Leandro Rebello
Peixoto de Castro, vice-reitor do Colégio. Do natalício do
soberano conservou-se a memória na manifestação de
reconhecimento da instituição incipiente ao memorado dia
do imperador menor.
Associou-se o Colégio à data de berço celebrada
em todo o Império com o monarquismo então
característico no Brasil. Génio frio e melancólico, a frieza
provinda da raça germânica, a melancolia de orfandade
completa, da infância a verdes anos, D. Pedro II receberia
talvez com mais carinho, entre homenagens palacianas e
oficiais, o preito do seu Imperial Colégio.
Na benemerência dos papéis velhos, no remoçar
passado, ofício do vice-reitor do Colégio, padre Leandro
Rebello Peixoto de Castro, felizmente permite saber, e por
miúdo, quanto para o Colégio ocorreu a 2 de dezembro de
1838, informado Bernardo de Vasconcellos dos sucessos
do dia.
o convém resumi-los, sim transcrever na íntegra
o ofício do vice-reitor de há século:
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
"limo. Exmo. Sr. Tenho a honra e a satisfação de
levar ao conhecimento de V.Exa. a maneira satisfatória
com que os alunos deste Colégio de Pedro 2
o
celebraram
o dia natalício de S.M. seu Augusto Protetor. Na manha
deste dia dirigiu-se todo o Coletivo à Imperial Quinta da
Boa Vista onde chegou às oito horas da manhã, depois de
ter feito felizmente a viagem por mar desde o Saco do
Alferes até o porto deo Cristóvão. Às 8 e meia horas
depois que ali se chegou foi o Colégio introduzido à
presença de S.M. pelo Exmo. Tutor (na época o Marquês
de Itanhaem) e S. Majestade recebeu com especial
benevolência a todos e a cada um em particular
mostrando-se agradecido às felicitações que eu por me
achar à frente do Colégio tive a honra de lhe dirigir por
esta forma:
"Senhor
As felizes recordações que o dia de hoje nos inspira
o as que trazem diante de V. M. os alunos do Imperial
Colégio de Pedro 2
o
para terem a distinta honra de tributar
a seu Augusto e Imperial Patrono a homenagem do respeito
e do reconhecimento.s todos fazemos votos pela saúde
e prosperidade de V. M. I. e das Augustas Princesas com
que o Brasil tanto se enobrece, mas com impaciência
esperamos a hora em que V. M. I. assumindo as rédeas
de um governo, que por tantos títulos lhe é devido,
possamos então contar com a firmeza e a estabilidade
deste grande Império, sobre que a Providência tem velado
de um modoo maravilhoso".
S. M. que com muita atenção ouviu o breve discurso
houve por bem responder que Agradecia e se lisonjeava
com as felicitações que o Colégio acabava de lhe desejar.
Em seguida o Colégio se retirou fazendo a S. M. e
aos assistentes as vénias de costume.
Cumpre-me manifestar a V. Exa. que Sua Majestade
nos recebeu em o seu Gabinete particular e somente
rodeado do Exmo. Tutor e outros, creio que os professores
dos estudos a que S. M. se aplica, acolhimento este que
foi franco, singelo e sem as etiquetas da Corte, mais e
mais nos penhorou e nos fez ver a ternura de um coração
que nos ama e estima mesmo sem reservas nem
cerimónias.
Na volta deo Cristóvão nos dirigimos ao Palácio
da Câmara Municipal cujo Presidente nos tinha com
antecipação franqueado as janelas de dois salões para que
os alunos dali observassem o cortejo que trazia S. M. I. e
o desfilamento das bravas e asseadas tropas que, no
Campo de Santana, estavam postadas em respeito.
Pela volta do meio-dia, chegaram os alunos do
Colégio e em seguida nos foi servido o jantar, que as
circunstâncias do dia exigiram que excedesse alguma
coisa os termos do ordinário. Em atenção às mesmas
circunstâncias, permiti aos alunos que tivessem mais
liberdade (estando eu sempre presente) e, por isso, que
tiveram lugar as saúdes ao S. M. I., ao Exmo. Regente,
ao seu Governo, ao ilustre Ministro que imediatamente
vela sobre os destinos do Colégio etc, etc. Foi este ato
celebrado com a maior alegria e satisfação e me lisonjeio
que com a mais atenta e circunspecta civilidade.
À noite se iluminou o Colégio de modo que pôde
ser, no entretanto permita-me V. Exa. descer a notar a
minuciosidade que para cima de seiscentas luzes
brilharam nas torres e frontispício da Igreja e frente do
Colégio, o que junto com frequentes repiques de sinos da
Igreja tornavam esta festividade bastantemente airosa para
os alunos que se honraram de habitar o Colégio de Pedro
2
o
e de serem por S. M. I.o benignamente acolhidos e
honrados".
O curioso sobre o precioso ofício do vice-reitor, reitor
interino, padre Leandro, merece alguns comentários. Nele
encontramos boleios de frases características da época e
também prova dos costumes desta. Assinala a predileção
e o interesse de D. Pedro II pelo Colégio, recebendo os
alunos dele em gabinete particular, sem etiqueta, rodeado
pelos professores aos quais incumbia instruir o jovem
monarca. Sem alongar comentários ponhamos reparo ao
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
de prover com urgência os calçados deles, bem como o
corte dos cabelos que acham bastante crescidos, podendo
mesmo V. S. tratar algum cabeleireiro que se incumba
deste último objeto. B. R de Vasconcellos".
As férias do primeiro ano letivo do Colégio, o de
1838, foram bem aproveitadas pelo vice-reitor, padre
Leandro, para melhorar materialmente o Colégio. Posta a
vestiaria, hoje se diz rouparia, na sala inferior detrás da
Igreja foi mandada pintar a óleo, pela posição oferecendo
a mesma vestiaria a vantagem de ser melhor guardada à
disposição dos Estatutos que proibia a entrada de alunos
na repartição, onde custosa de executar quando a vestiaria
se achava encravada no dormitório. Além de melhoria da
vestiaria, procurou o vice-reitor dotar o Colégio com outras
reformas de utilidade das quais sempre dava conta a
Bernardo de Vasconcellos, cujo zelo pela instituição que
ajudara a criar, os padecimentos físicoso conseguiram
diminuir, admirável resistência,o de estranhar no
Bernardo de Vasconcellos, chefe do governo de Minas em
1833. Segundo o Conde de Castelnau, o grande explorador
científico do Brasil, ao reger Bernardo de Vasconcellos a
província natal, em 1833, fora alvo de motim popular
quando em palácio estudava papéis. Chegando-lhe a
ouvidos o clamor público, Bernardo de Vasconcellos
determinou que o seu ajudante-de-ordens fosse saber do
que se tratava. De volta o oficial declarou: "O povo pede
a cabeça de V. Exa.". "Só isto?" obtemperou o
desdenhoso ameaçado e antes de recomeçar exame de
papéis, ajuntou irónico: "Volte e indague se em vez de
minha cabeça querem a sua".
A ministro de ordem tal devia corresponder zelo de
vice-reitor como o padre Leandro. Consultando-o Bernardo
de Vasconcellos acerca de remuneração que conviria a
conceder ao tesoureiro do Colégio, o padre Leandro assim
se externou sobre a pretensão:
"Tenho a honra de fazer subir ao conhecimento de
V. Exa. que em atenção ao artigo 155 e seguintes dos
Estatutos que marcaram as obrigações do tesoureiro, e
dele exigem uma fiança eu lhe marcaria oitocentos mil
réis anuais, o que lhe daria neste ano por considerar que,
nas obras precedentes à abertura do Colégio, ele
empregaria mais cuidados, mas como depois daquela
época ele vem aqui apenas de passagem e se demora
uma hora e mais, quando muito, e somente se emprega
em cobrar as rendas do Colégio, euo lhe daria mais
que quatrocentos mil réis por ano, se ele assim houver de
continuar.
No entretanto, permita-me V. Exa. a observação de
que me persuado que o tesoureiro deve estar neste Colégio
desde pela manhã até a noite, pelo assim exigir as
contínuas ocorrências que pelo dia adiante se oferecem;
o necessárias compras e tirar dinheiro do cofre, como
também recolher a ele as quantias que se recebem".
Considerando o tesoureiro, conforme os Estatutos,
"o braço direito do reitor no que tocava à administração
temporal", o vice-reitor, padre Leandro, concluía longo
ofício de 31 de dezembro de 1838 dizendo ao ministro:
"Pelo que repito que a continuar o Tesoureiro neste
modo de procurar os negócios do Colégio me persuado
que com 400S000 ficaria pago e bem pago: e a morar aqui
todo o dia, como convém, então venceria com justiça
800S000 anuais. V. Exa. porém determinará o que melhor
convier".
Assim se exprimia, no resguardo dos dinheiros
públicos, o vice-reitor do Colégio, onde, segundo ele no
mencionado ofício, o tesoureiro fazia "visitas de médico",
obrigando o padre Leandro a fazer-lhe às vezes para que
o periclitasse o serviço e os interesses das partes, "pelos
muitos afazeres do Tesoureiro de que se achava incumbido
na Carioca e no comando dos Guardas Nacionais".
O tesoureiro acumulador pagava um amanuense para
lhe fazer o serviço, mas como dizia o padre Leandro a
Bernardo de Vasconcellos "o amanuense se pode dizer
que só está enquanto o Tesoureiro aqui se conserva e
saindo um, o outro sai também".
o só às voltas com o tesoureiro se amofinava o
vice-reitor, também tinha de acudir à vadiação de
ESCRAGNOLLE DÓRIA
discurso do vice-reitor saudando D. Pedro II, oração fiel
ao esto brevis et placebiso pouco obedecido por oradores
espraiados.
No momento do discurso, a ideia da antecipação da
Maioridade já andava nos espíritos e dela um sacerdote,
José Martiniano de Alencar, se tornara arauto fora do
púlpito, trocando-o pela tribuna parlamentar.
Em 1838o eram poucos os sacerdotes políticos
ou politicantes. Ignoramos s i ao grupo pertencia o padre
vice-reitor do Pedro Segundo, que saudando D. Pedro II,
de treze anos, declarava: "com impaciência esperamos o
dia em que V. M. I., assumindo as rédeas de um governo
que por tantos títulos lhe é devido, possamos então contar
com a firmeza e a estabilidade deste grande Império sobre
que a Providência tem velado de um modoo
maravilhoso".
A ler nas entrelinhas do discurso transcrito no ofício
dirigido a Bernardo de Vasconcellos, justamente o ministro
cabeça da reação anti-maiorista de 1840, parece possível
acreditar que o vice-reitor do Colégio de longe, senão de
perto, acompanhava os maioristas abatinados.
Sem julgar intenções, impossíveis de apreciar tanto
no presente quanto no passado, "a impaciência"
manifestada pelo vice-reitor do Colégio, o anelo de poder
"contar com a firmeza e a estabilidade deste grande
Império sobre que a Providência tem velado de um modo
o maravilhoso", pode parecer hoje alusão aos governos
regenciaiso trabalhados pelas guerras civis.
No fim do ano letivo de 1838, o vice-reitor padre
Leandro, reitor em exercício, pugnava junto a Bernardo de
Vasconcellos pelo aumento do edifício do Colégio. Levava
ao conhecimento do Ministro a avaliação de três prédios
paralelos ao Colégio da parte do Morro da Conceição, n.°
58, 60 e 62, de numeração correspondente a várias partes,
contíguos os prédios pela Rua do Aljube (mais tarde da
Prainha) oferecendo em globo quase 13 braças de frente e
28 de fundo e quintal maior que o quadrado interno do
Colégio.
"A benefício de um passadiço, alvitrava o vice-reitor,
se poderia arranjar um quintal para recreio dos alunos, o
qual se poderia aumentar pelo tempo adiante com outras
propriedades anexas, onde se poderia formar jardim
botânico que servisse para esclarecimento da História
Natural".
A avaliação do prédio mencionado pelo vice-reitor
subia a 12:400$000,o parecendo ao padre Leandro "fora
de razão".
Logo depois de oficiar no sentido do aumento do
Colégio, no mesmo dia, 13 de dezembro de 1838, o vice-
reitor pedia a Bernardo de Vasconcellos deliberação
conveniente a respeito de quatro antigos seminaristas de
o Joaquim, matriculados no colégio particular de
Felizardo Joaquim da Silva Moraes, no Largo de Santa Rita.
Pagava por aqueles seminaristas o Colégio e por
12$000 cada um os recebia o professor Moraes. "Mas
como houvessem no ato de remoção manifestado desejo
de seguir a profissão de alguma arte", entendia o vice-
reitor do Colégio necessárias providências, pois é certo,
dizia o padre Leandro, "que estão absorvendo o que poderia
sustentar três ou dois gratuitos neste Colégio de Pedro
II". Insurgia-se o vice-reitor contra aluno peso morto,
eterna praga colegial.
Afinal resolveu o Governo que os órfãos
aprendessem a arte de fundir tipos, exigindo-se-lhes
presença diária na oficina da Tipografia Nacional onde se
ensinava a arte, provendo-os a reitoria do Colégio, como
melhor lhe parecesse, ao sustento e vestuário.
Caso proposto pela reitoria a Bernardo de
Vasconcellos, caso resolvido.o consultado o ministro,
providenciava por conta própria.
Para prova o seguinte aviso:
"limo. Sr. Padre Leandro de Castro Rabello.
Tendo-se finalizado os exames que nesse colégio
tiveram lugar, convirá que V. S. mande quanto antes passar
as camas dos meninos para a sala competente. Por esta
ocasiãoo posso deixar de mostrar a V. S. a necessidade
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
de prover com urgência os calçados deles, bem como o
corte dos cabelos que acham bastante crescidos, podendo
mesmo V. S. tratar algum cabeleireiro que se incumba
deste último objeto. B. P. de Vasconcellos".
As férias do primeiro ano letivo do Colégio, o de
1838, foram bem aproveitadas pelo vice-reitor, padre
Leandro, para melhorar materialmente o Colégio. Posta a
vestiaria, hoje se diz rouparia, na sala inferior detrás da
Igreja foi mandada pintar a óleo. pela posição oferecendo
a mesma vestiaria a vantagem de ser melhor guardada à
disposição dos Estatutos que proibia a entrada de alunos
na repartição, onde custosa de executar quando a vestiaria
se achava encravada no dormitório. Além de melhoria da
vestiaria, procurou o vice-reitor dotar o Colégio com outras
reformas de utilidade das quais sempre dava conta a
Bernardo de Vasconcellos, cujo zelo pela instituição que
ajudara a criar, os padecimentos físicoso conseguiram
diminuir, admirável resistência,o de estranhar no
Bernardo de Vasconcellos, chefe do governo de Minas em
1833. Segundo o Conde de Castelnau, o grande explorador
científico do Brasil, ao reger Bernardo de Vasconcellos a
província natal, em 1833, fora alvo de motim popular
quando em palácio estudava papéis. Chegando-lhe a
ouvidos o clamor público, Bernardo de Vasconcellos
determinou que o seu ajudante-de-ordens fosse saber do
que se tratava. De volta o oficial declarou: "O povo pede
a cabeça de V. Exa.". "Só isto?" obtemperou o
desdenhoso ameaçado e antes de recomeçar exame de
papéis, ajuntou irónico: "Volte e indague se em vez de
minha cabeça querem a sua".
A ministro de ordem tal devia corresponder zelo de
vice-reitor como o padre Leandro. Consultando-o Bernardo
de Vasconcellos acerca de remuneração que conviria a
conceder ao tesoureiro do Colégio, o padre Leandro assim
se externou sobre a pretensão:
"Tenho a honra de fazer subir ao conhecimento de
V. Exa. que em atenção ao artigo 155 e seguintes dos
Estatutos que marcaram as obrigações do tesoureiro, e
dele exigem uma fiança eu lhe marcaria oitocentos mil
réis anuais, o que lhe daria neste ano por considerar que,
nas obras precedentes à abertura do Colégio, ele
empregaria mais cuidados, mas como depois daquela
época ele vem aqui apenas de passagem e se demora
uma hora e mais, quando muito, e somente se emprega
em cobrar as rendas do Colégio, euo lhe daria mais
que quatrocentos mil réis por ano, se ele assim houver de
continuar.
No entretanto, permita-me V. Exa. a observação de
que me persuado que o tesoureiro deve estar neste Colégio
desde pela manhã até a noite, pelo assim exigir as
contínuas ocorrências que pelo dia adiante se oferecem;
o necessárias compras e tirar dinheiro do cofre, como
também recolher a ele as quantias que se recebem".
Considerando o tesoureiro, conforme os Estatutos,
"o braço direito do reitor no que tocava à administração
temporal", o vice-reitor, padre Leandro, concluía longo
ofício de 31 de dezembro de 1838 dizendo ao ministro:
"Pelo que repito que a continuar o Tesoureiro neste
modo de procurar os negócios do Colégio me persuado
que com 400$000 ficaria pago e bem pago: e a morar aqui
todo o dia, como convém, então venceria com justiça
800$000 anuais. V. Exa. porém determinará o que melhor
convier".
Assim se exprimia, no resguardo dos dinheiros
públicos, o vice-reitor do Colégio, onde, segundo ele no
mencionado ofício, o tesoureiro fazia "visitas de médico",
obrigando o padre Leandro a fazer-lhe às vezes para que
o periclitasse o serviço e os interesses das partes, "pelos
muitos afazeres do Tesoureiro de que se achava incumbido
na Carioca e no comando dos Guardas Nacionais".
O tesoureiro acumulador pagava um amanuense para
lhe fazer o serviço, mas como dizia o padre Leandro a
Bernardo de Vasconcellos "o amanuense se pode dizer
que só está enquanto o Tesoureiro aqui se conserva e
saindo um, o outro sai também".
o só às voltas com o tesoureiro se amofinava o
vice-reitor, também tinha de acudir à vadiação de
ESCRAGNOLLE DÓRIA
escolares. Remetia-lhe Bernardo de Vasconcellos o
requerimento do pai de aluno externo pedindo passagem
do filho para interno, desejando, para decidir, que o padre
Leandro o esclarecesse sobre a pretensão.
Assim o fez o vice-reitor nestes curiosos termos:
"Tenho a honra de levar ao conhecimento de V. Exa.
que, segundo as informações a que procedi, achei que o
dito aluno externo era notavelmente remisso na frequência
das aulas: e apesar de parecer de conduta sossegada ele
pouco desenvolvimento apresentou nos exames gerais; e
por isto ficou esperando para fevereiro; e esta é a causa
que move o pai do dito aluno para solicitar o ingresso de
seu filho para ver se o obrigava a estudar, ainda que seja
à custa de meios coercitivos; no entretanto posso afiançar
a V. Exa. que se o mandar entrar para o Colégio, o mesmo
há de estudar e dar o que tem".
Com estes propósitos contra a vadiação abria o vice-
reitor segundo ano letivo do Colégio, o de 1839, a 4 de
janeiro deste ano. Mas também buscando amparar a quem
trabalhava, em ofício de 31 de janeiro de 1839, o vice-
reitor propunha ao ministro o pagamento de gratificação a
professores pelo trabalho extraordinário de lecionarem no
tempo de férias, gratificação aquela hoje a parecer por
demais módica seo atentarmos nas condições de vida
da época e no valor aquisitivo da moeda. Propunha o vice-
reitor pelo serviço extraordinário a gratificação de vinte
mil réis a todos, "apesar de se contarem a uns mais lições
que a outros".
No exercício da reitoria o vice-reitor de vez em
quando, antecipando Congregação, reunia professores para
ouvi-los sobre interesses do ensino no Colégio; de tais
reuniões dando conta a Bernardo de Vasconcellos. Dizia-
Ihe, por exemplo, a 14 de fevereiro de 1839, que os
professores do Colégio desejavam ver em andamento as
aulas de Filosofia e Retórica. "Reflexionavam que seria
muito honroso ao Colégio que ao número das aulas se
ajuntasse de fato a de Filosofia, que no resto da cidade
eram pouco frequentadas e a de Retórica, de que na cidade
nenhuma aula havia".
Os professores do Colégio lembravam "que se devia
ter todo o cuidado em conservar o professor Magalhães,
(o futuro Visconde de Araguaia) o Génio da Filosofia, que
o sendo ocupado, em 1839, podia ser que se desviasse
da ocupação para que tinha sido nomeado".
Observavam os professores do Colégio que, na
Corte, se conhecia e era bem patente o desejo das duas
mencionadas aulas.
Entretanto, o vice-reitor julgava dever ponderar ao
ministro que "dentro do Colégio aindao havia alunos
prontos a cursar tais aulas de 2
a
classe, somente por
externos avulsos podendo ser frequentadas, necessário,
porém, dispensar a portaria ministerial proibindo a
frequência de externos avulsos. Acrescia igualmente para
o bom andamento das aulas a criar a carência absoluta de
compêndios das disciplinas nelas lecionáveis.
Fazia igualmente o vice-reitor chegar ao
conhecimento do Governo a necessidade de quanto antes
serem fixados os ordenados dos professores e dos
principais empregados do Colégio.
Com instância pugnava o padre Leandro por aquelas
fixações, dirigindo-se a superior:
"Permita-me V. Exa. a observação de que se exige
fixarem-se quanto antes os ordenados dos professores e
dos principais empregados do Colégio porque se até julho
eleso tiverem sido fixados o Colégio vem a perder um
de seus mais acreditados professores o Dr. Joaquim
Caetano da Silva, o qual é convidado para ir no Colégio de
Jacuecanga na Ilha Grande ocupar duas cadeiras,
vencendo por uma 800SOOO, e por outra 400$000, com
jubilação passados 20 anos de ensino".
A 16 de abril de 1839, no início do segundo ano letivo
do Colégio, deixava Bernardo Pereira de Vasconcellos o
exercício cumulativo de duas pastas, a da Justiça e a do
Império, no 1
o
Gabinete da Regência Araújo Lima, ode 19
de setembro de 1837. Tinham sido bem empregados os
574 dias dos ministérios de Bernardo de Vasconcellos,o
úteis ao Colégio, onde deixava nome imortal.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
O ano letivo de 1839 seria assinalado pela
exoneração do reitor-Bispo, exoneração concedida, à vista
de representação do prelado, pelo governo "muito louvado
o distinto zelo com que desempenhara funções".
Reitor afastado, reitor posto. Saía do corpo docente
a nova cabeça da Casa. Recebeu a designação e a honra
o Dr. Joaquim Caetano da Silva, reitor de 29 anos de idade,
no qual verdor de idadeo tolhia mérito, nem fama.
Doutor em medicina pela Faculdade de Montpellier,
Joaquim Caetano aí foi estudante hors ligne, já que se
trata de França, prenunciando quem, no decurso de 1861,
escreveria UOyapoc et 1'Amazone. questions brésilienne
et française. Obra magna, para D. Pedro II valendo
200.000 baionetas na fronteira, obra de tal importância que
dela se utilizaria Rio Branco 2
o
para base e defesa de
nossos direitos territoriais e alcançar do laudo de Berna, a
confirmá-los na chamada questão do Amapá.
Vinha Joaquim Caetano reitor encontrar o Colégio
sob a direção do vice-reitor, padre Leandro. Havia pouco
haviam sido "despedidos", palavra mais amena que
expulsados, dois alunos "pelo fato de brigarem à saída
das aulas", providência logo aplaudida pelo governo, por
entender que sem prémio e castigoo se anima nem
contém mocidade, pronta sempre a aproveitar abusos e
falhas de superiores
Entregava o vice-reitor a reitoria a Joaquim Caetano,
pela conservação do qual no corpo docente, o padre
Leandro pugnara. A um Príncipe da Igreja o governo
regencial dava por substituto no Colégio também um
Príncipe no saber, este de futuro alicerce na defesa de
direitos nossos levantados contra a França, ã qual
entretanto Joaquim Caetano devia cultura e até esposa.
Tornou-se, porém, o esplêndido prefaciador da obra de
reivindicação pátria que teria por último capítulo o laudo
de Berna, dando-nos na justiça o que por tantos anos
outros, de boa fé ou de má-fé, a França retivera como
bem próprio.
Porto Alegre, nas Brasilianas, à pintor esfumou
retrato de Joaquim Caetano, aludindo ao seu saber, ao
seu trato da História, e sobretudo ao de Grego. Disse-nos
de um professor do Colégio outro professor deste:
Meu nobre Silva, meu patrício caro,
Que a passos graves triunfante marchas
Por entre legiões de augustas larvas!...
Silva que eu amo, e a quem meu canto oferto,
Deixa os sepulcros dos helenios astros,
E o reino da morte a lousa fecha,
Os doutos solilóquios suspendendo
Teus ouvidos afeitos a magia
Da voz de Homero, dos antigos vates.
Pouco depois de nomeado Joaquim Caetano,
deixava governo quem o nomeara, o Senador Almeida e
Albuquerque, magistrado, substituído por outro magistrado
na Pasta do Império no Gabinete de 1
o
de setembro de
1839 organizado por Alves Branco.
Conheceria o Colégio novo Ministro, na pessoa do
Conselheiro Manoel António Galvão. Podia dar valor a quem
ensinava ou a quem estudava. Nascido na Cidade do
Salvador, fora Galvão caixeiro em Lisboa e Londres,
conseguindo, esforço a esforço, graduar-se em leis em
Coimbra, de bom exemplo, pois, a jovens estudantes.
Figurara na Constituinte de 1823, representando a
nativa Bahia e o Brasil, na Corte de Saint James, nessa
mesma Londres onde labutara no balcão.
Era o Conselheiro Galvão apto para compreender o
valor de Joaquim Caetano, nomeado por decreto que o
apontava para reitoria "em atenção às luzes e mais partes
que lhe concorrerem na pessoa".
De acordo com o reitor nomeou o Ministro Galvão,
em outubro de 1839, comissão encarregada de examinar
os Estatutos do Colégio "tendo em vista os inconvenientes
demonstrados pela experiência na sua execução, propondo
as alterações convenientes".
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Compuseram a comissão dois Bispos, o de
Anemúria, com a experiência de reitor, e o Bispo eleito do
Rio de Janeiro D. Manoel do Monte Rodrigues de Araújo,
pouco depois confirmado por bula de Gregório XVI. Aos
dois bispos ajuntou o ministro Galvão, como membro da
comissão revisora de estatutos, o Senador José Saturnino
da Costa Pereira.
O Bispo Monte, pernambucano como o Regente
Araújo Lima,o era estranho ao magistério, professara
no Seminário de Olinda. O Senador Costa Pereira também
conhecia ensino. Nascido na Colónia do Sacramento, como
o irmão Hypolyto, o memorado redator do Correio
Braziliense, lecionava Matemática, ciência na qual o
graduara Coimbra, lente na Academia Militar do Rio de
Janeiro.
Nenhum, pois, dos membros da comissão revisora
dos Estatutos do Colégio de Pedro Segundo andaria às
cegas no assunto, deliberando com ciência e causa.
Pouco depois da vice-reitoria do Colégio, se retirava
o padre Leandro Rabello Peixoto de Castro, no exercício
do cargo e na reitoria interina, tendo prestado reconhecidos
serviços de excelência.
Como se ao Colégio houvesse deixado signo de cruz
o Seminário deo Joaquim, ao padre Rabello sucederia
em breve um frade. Era beneditino frei Rodrigo deo
José, cuja presença no Colégio em nada deslustraria o
antecessor, propondo-se a seguir-lhe, quanto à disciplina,
o lema do suaviter in modo fortiter in re.
Abrindo arquivos do Vaticano a pesquisas de
eruditos, declarou Leão XIII fazê-lo desassombrado, a
Igreja,o receando a verdade. No exemplo, o Colégio
o foge daquela, ocultando. Daí consignar aqui ter sofrido,
em segundo ano de existência, impugnações
parlamentares, defensores ou acusadores entre prós e
contras, sorte de tudo quanto acompanha obra humana,
mesmo a que se tenha por duradoura, nenhuma impecável.
No fim da sessão parlamentar de 1839, discutiu o
Senado o orçamento do Ministério do Império para 1840.
Governava a Regência exercida por Araújo Lima, presidia
o Senado Regente de havia pouco, Feijó.
Na sessão do Senado de 8 de outubro de 1839,
entrou em 1
a
e 2
a
discussão o orçamento do Ministério do
Império.
Rompeu debate na assembleia o Marquês de
Barbacena. Declarava ter visitado o Colégio de Pedro
Segundo, o qual lhe pareceu "um monumento de glória do
seu fundador". Entretanto, afirmavao estar o
estabelecimento nas condições desejáveis de disciplina e
moralidade. Reconhecia o Ministro do Império, Conselheiro
Manoel António Galvão, a procedência das censuras de
Barbacena, embora em consequência de desacatos,
alunos mais insubordinados houvessem sido expulsos. A
seu ver, contribuía para afrouxar da disciplina admissão
de alunos maiores de 15 anos.
o foi Barbacena o único a observar. Acompanhou-
o o Marquês de Paranaguá quanto à ineficiência de certos
compêndios adaptados no Colégio. Entendia depois o
Senador padre Ferreira de Mello ter o governo violado a
Constituição, transformando o Seminário deo Joaquim
em Colégio de Pedro Segundo, desviado aquele do fim
almejado por seus instituidores, fins justos e filantrópicos.
Ignorava Ferreira de Mello porque, sem autorização
legislativa, havia julgado o Governo ter autoridade para fazer
tal mudança.
Acudia ao debate Bernardo de Vasconcellos,
declarando, mostrar depois, achar-se o Ministro do Império
mal informado sobre sucessos do Colégio.
Ponderava o Marquês de Barbacenao haver no
orçamento artigo expresso para o Colégio de Pedro II,
pedindo informações sobre ele por considerá-lo debaixo
da rubrica Obras Públicas. Esperava ocasião mais própria
para tratar dele, dizendo a sua opinião sobre o Colégio, no
seu sentir "o estabelecimento mais importante e mais útil
fundado pelo Gabinete de 19 de setembro".
Na sessão do Senado de 9 de outubro de 1839, na
discussão do orçamento do Império, tomou a palavra Feijó,
para combater a criação do Colégio, taxando de escândalo
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
que um Ministro desviasse, arbitrariamente, o Seminário
do destino dado por particulares apoiados na lei, criando o
Governo, além disso, empregos e ordenados para depois
vir ao Senado pedir dinheiro para criação toda
governamental.
Rogava, pois, Feijó ao Ministro do Império que, por
honra do Senado e dever seu,o consentisse no progresso
do ilegalmente criado, restituindo ao Seminário o
verdadeiro destino.o bastava a Feijó acusar ao Ministro
que, segundo ele arbitrariamente desmanchara obras
feitas, dando nova forma ao edifício, aplicando-o a fim
diverso do próprio. Ainda no dizer de Feijó, passava o
Senado pela vergonha de aprovar despesas de criação
arbitrária, Feijó acrescentava: "Quem criou o
estabelecimento que o dote e faça as despesas. A
assembleiao teve parte nisso".
Roborou conceitos de Feijó o Senador Ferreira de
Mello. Declarou afinal mandar à mesa emenda suprimindo
despesas com o Colégio de Pedro Segundo, "porque
palavras sem ser acompanhadas com exemploso
valem nada".
Na sessão de 9 de outubro de 1839 o Marquês de
Paranaguá (Villela Barbosa) discutiu os Estatutos do
Colégio, por implicarem revogação de leis, referindo-se
aos artigos 234 e 235 dos mesmos estatutos. O primeiro
conferia o diploma de bacharel em letras ao aluno aprovado
em todas as matérias ensinadas no curso; o segundo artigo
conferia o direito de entrar nas academias do Império
mediante a apresentação daquele diploma.
Declarava Galvão, Ministro do Império,o julgar
conveniente submeter logo os Estatutos do Colégio ao
Corpo Legislador. Nomeara comissão para exame
daqueles estatutos, exame que concluído permitiria ao
Ministro dar destino ao resultado dos trabalhos da
comissão.
Lida, apoiada, entrou em discussão a seguinte
emenda do Senador Ferreira de Mello. "Suprima-se a
quantia de 18:000$000 com o colégio de Pedro II, que na
sua fundação era Colégio deo Joaquim. Salva a
redação".
O Ministro combateu a emenda; julgando que só
por terem sido notadas no Colégio coisas defeituosas,
emendáveis,o parecia bem suprimir o estabelecimento.
Declarava o Ministro dever o Colégio 7:200$000 de
materiais comprados para obras, arruinadas caso
suspensas. Declarava ainda o Ministro que os ordenados
dos professoreso eram pagos pela nação, sim
gratificados com o produto de matrículas.
Barbacena veio à tribuna dizendo requerer o
adiamento da discussão para que nela interviesse Bernardo
de Vasconcellos, que então se havia retirado. "Eo
admira que o fizesse observava Barbacena porque
ele sofre muito em sua saúde".
Desejava Barbacena requerer o adiamento do debate
para a sessão seguinte, pelo motivo exposto. Entretanto
tais haviam sido as razões expostas pelo Ministro do
Império que Barbacena acreditavao deixar Senador
algum de aprovar a consignação de 18:000$000 para o
Colégio Pedro II até o ano de 1840. Referindo-se ao Pedro
II disse Barbacena: "Eu sentirei muito que esta
instituição pereça".
Voltou à carga o Senador Ferreira de Mello. Padre,
o concordava com a transformação do antigo Seminário.
Acusava de erro o Governo de tê-la operado para
"acomodar afilhados", censurando até o título do Colégio,
"aparatoso, para fascinar a população", referindo-se
também à demissão do reitor-Bispo de Anemúria. Ouvira
Ferreira de Mello dizer que o Bispo se demitira poro
concordar com a reversão ao Colégio de aluno dele
despedido.
Na sessão de 10 de outubro de 1839, continuando
no Senado a discussão do orçamento do Império,
pronunciou-se Vergueiro contra a transformação do
Seminário deo Joaquim em Colégio de Pedro II.
Votava pela emenda Ferreira de Mello, fazendo-a
sua. Sem desaprovar a instituição do Colégio,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
manifestava, como em outras ocasiões, a dor que lhe
causava ver que para se procurar um bem se destruía um
bem maior, alterando-se instituição estabelecida pela
caridade dos fiéis para fim diverso qual o do Colégio de
Pedro II.
Conveio o Senado na retirada da emenda Ferreira
de Mello, renovando-a Vergueiro, insistindo nas
ponderações do discurso anterior.
Pediu então a palavra Bernardo de Vasconcellos, para
defender o Colégio.
o duvidava votar pela emenda supressiva da
consignação de 18:000$000. Para a sua manutenção e
despesas ordinárias, o Colégio dispensava graças
orçamentárias. Feito minudente histórico do Colégio e de
seus rendimentos, passou Bernardo de Vasconcellos a
referir-se aos estatutos do estabelecimento. Organizador
deles emo pequena parte, consultara os estatutos do
Colégio da Prússia, Alemanha e Holanda e o sistema de
educação adotado por Napoleão I e de todos aproveitara o
que lhe parecera mais adaptável às circunstâncias
nacionais.o desanimava com desordens havidas e por
haver no Colégio. "Os mais bem administrados Colégios
e que vivem há séculos sofrem estes choques, a coisa
está em saber atalhar o progresso dos males". Lembrou
Vasconcellos caso idêntico no Seminário de Coimbra,o
se tendo por isto argumentado contra ele, nem se entender
que morria por sofrer desar. Durante o seu ministérioo
tinha havido desordens, nem Vasconcellos usava de
severidade para conter meninos.
Longa e viva foi a defesa de Vasconcellos em prol
do Colégio de sua criação. Sucederam-lhe na tribuna
Galvão, Ministro do Império, Barbacena e Paranaguá, este
criticando compêndio do Colégio, apontando-lhe erros de
Geometria e Geografia. Replicava-lhes Vasconcellos,
sucedendo-lhe o Senador maranhense Costa Ferreira,
voltando à tribuna Galvão e Vergueiroo raro repisando
argumentos.
Concluída a discussão do orçamento do Império,
o passou a emenda supressora Vergueiro. Entretanto,
na sessão de 17 de outubro de 1839, o Senador Ferreira
de Mello requeria que se perguntasse ao Governo quantos
estudantes pobres havia no Colégio, qual o seu tempo de
entrada, acompanhadas as informações pela relação
nominal dos alunos e dos nomes dos pais dos meninos.
A discussão senatorial de 1839 acerca do Colégio
mostra zelo por ele e pela causa pública.o é impossível,
porém, que a tudo isso se misturasse também um tanto
de oposição política. Feijó, renunciante da Regência em,
1835, cedera-a a Araújo Lima, seu adversário. Presidindo
Senado em 1839, a propósito da subvenção ao Colégio de
Pedro Segundo, descia da cadeira presidencial e vinha ao
recinto, à tribuna combater o Governo, formando ao lado
de impugnadores entre os quais o padre Ferreira de Mello
o impressionado com a transformação do Seminário de
o Joaquim.
Os senadores empenhados na discussão do
orçamento do Ministério do Impérioo grandes figuras
na história pátria. Avivemos, porém, a figura do padre José
Bento Leite Ferreira de Mello, nascido em 1875 na hoje
cidade mineira de Campanha. Cónego honorário da Sé de
o Paulo, vigário colado de Pouso Alegre, membro de
governo provisório em Minas, deputado-geral, Senador do
Império em 1834. Atirado à politica seria um dos ardentes
pugnadores da Maioridade como parte menos ardente na
revolta de Minas em 1842. Declarou-o Xavier da Veiga
"homem de vontade forte, inteligente, ativíssimo, partidista
extremado,o fugia à responsabilidade de sua posição
leal e franca em quaisquer circunstâncias". Teria fim
trágico. Na tarde de 8 de fevereiro de 1844, ao regressar
a sua fazenda, próxima de Pouso Alegre, morria
assassinado, por questões de terras, autores do crime
antigos protegidos da vítima, um deles dela afilhado.
Defendendo o Colégio, no Senado, em 1839,
Bernardo de Vasconcellos merece mais um grande título
de gratidão do estabelecimento. Desconte-se no discurso
de defesa a parte do amor-próprio de criador, sobre ainda
assim motivo de reconhecimento do Colégio para com
Bernardo Pereira de Vasconcellos.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Uma coisa é trabalhar em condições de validez,
outra em estado de enfermidade persistente e
imobilizadora. Assim acontecia a Bernardo de
Vasconcellos. hemiplégico e achacado.o exagerava
Barbacena quando declarava que Bernardo "sofria muito
em sua saúde".
A tal ponto ia sofrer que, na sessão do Senado, em
1839, Bernardo se dirigira à assembleia dizendo: "Peço
licença ao Senado para falar sentado,o só agora como
sempre, porque o meu estado de saúdeo permite fazê-
lo de outro modo". Ouviu-se então Feijó declarar no alto
da cadeira da presidência: "O Sr. Senador pode falar
sentado".
Em tais condições de saúde, a defesa do Colégio
por Bernardo de Vasconcellos sobe de ponto. Honra ao
vencedor de males e dores a bem do Pedro Segundo.
Vista Parcial do Colégio, em meados do século XIX.
Foto em exposição no Museu do Colégio.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Ill
O Colégio de 1840 a 1843
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Novos Ministros do Império Alteração dos Estatutos Modificação do Corpo
Docente O Decreto Silva Maya e a Colação de Grau de Bacharel em Letras
A Primeira Colação de Grau em 1843.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
A ssinalaria o terceiro ano letivo do Colégio um
sucesso magno: a Maioridade. Trabalhado o Brasil
por lutas civis e por sedições militares na constância da
Regência, havia em 1840 no país inteiro ânsia de paz,
embora na míngua de completa harmonia nunca dos
nuncas atingida pela humanidade, desde obscuros tempos
da pré-história, a mostrar minuto a minuto quanto é o
homem lobo para o semelhante, consoante lição de Plauto
na Asinaria.
Mal começou D. Pedro II a adolescer, partidários
políticos de sua maioridade prematura entraram a surgir e
congregar-se, sobretudo, parlamentarmente. Frustraram-
se a princípio desígnios dos maioristas, afinal triunfantes,
a 23 de julho de 1840, vencida a Regência, exaltado ao
trono D. Pedro II aos quinze anos de idade incompletos,
quando o devia ser aos dezoito inteiros. Soubera o Partido
Liberal, hostilizando o Conservador, conjugar política
partidária e vontade popular, esta a exprimir-se na
conhecida quadrinha em 1840o de boca em boca.
Queremos Pedro Segundo
Embora não tenha idade;
A nação dispensa a lei,
E viva a maioridade!
Alvorecida esta, naturalmente o primeiro ministério
do incipiente reinado no Brasil de terceiro Bragança,
maternalmente Habsburgo, seria composto de maioristas,
adeptos do sucesso de 23 de julhoo de vulto quanto o 7
de abril de nove anos transatos. Fora a Abdicação obra
do ímpeto próprio de D. Pedro I, almejando coroar filho de
Portugal. Cedeu o pai à vontade do Exército e de fração
de povo no Rio de Janeiro, esta cidade, então, como
depois, arrogando-se poderes de procuradora do país.
Resultara a Maioridade, ainda na mesma procuração,
do movimento de um partido servindo-se do povo cansado
de discórdias. A abdicação tirara cetro ao pai, encostado
o cetro na Regência, a Maioridade colocou-o nas mãos do
filho "para bem de todos e felicidade geral da nação",
assim diziam muitos na época, parodiando o "Fico".
No dia seguinte da Maioridade, o jovem soberano
chamava a Governo o primeiro dos 36 gabinetes do seu
reinado, que também findaria em exílio como o primeiro.
No Ministério de 24 de julho de 1840 coube a Pasta do
Império, da qual na Monarquia sempre dependeu o Colégio
de Pedro Segundo, ao deputado de voz mais eloquente,
sobreardorosa no movimento liberal da Maioridade;.
António Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Era o Ministro mais vistoso e mais facundo do
Gabinete. Tonitroava parlamentarmente desde as Cortes
de Lisboa, sustentando tradição de tribuno. Apostrofava
com facilidade e frequência, como orador tinha a
veemência, senão o coração nos lábios.
Tornara-se António Carlos figura primeira da
Maioridade desde quando na Câmara dos Deputados fora
lido decreto regencial adiando de julho para novembro de
1840 a Assembléia-Geral. Subscrevera o ato o benfeitor
do Colégio de Pedro Segundo, Bernardo de Vasconcellos,
na Pasta do Império por nove horas, as mais honrosas de
sua vida pública, conforme confissão de interessado em
célebre "Exposição" recolhida pela História.
Ao maiorismo, aos maioristas serviu então António
Carlos, levantando-se no meio do tumulto provocado pela
leitura do decreto regencial. Soube exclamar: "Quem
for brasileiro siga-me para o Senado". A História é tecida
por aproximações e repetições. Em dezembro de I868,
Caxias na ponte de Itororó, atirando-se à peleja, diria a
batalhões seus retrocedentes "Sigam-me os que forem
brasileiros".
o teria longa duração o Gabinete da Maioridade,
também um pouco o dos parentes, Ministros António
Carlos e Martim Francisco, ao lado de dois fraternos
Cavalcantis de Albuquerque, um futuro Visconde de
Albuquerque, e outro de Suassuna.
António Carlos, na Câmara dos Deputados, já
Ministro, dissera "ter cabelos até então embranquecidos
nos caminhos da verdade". Com experiência es voltar-
se-ia para o Colégio de Pedro Segundo, reitorado por
Joaquim Caetano da Silva com auxílio do vice-reitor frei
Rodrigo deo José, substituto do esforçado padre
Leandro Rebello e Castro.
Em dezembro de 1840, dirigindo-se ao reitor Joaquim
Caetano, António Carlos declarava-lhe "ter o Imperador
em particular consideração o adiantamento da mocidade
educada no Colégio", palavras jamais desmentidas pelo
tempo e pelo patrono.
Segundo o Ministro, cumpria a cada professor da
Casa expor inconvenientes e defeitos demonstrados pela
experiência na parte do ensino a seu cargo. Alvitraria o
expositor providências para removê-los acrescentadas à
exposição de cada professor as reflexões do reitor sobre
o assunto. Remeter-se-ia tudo à Secretaria do Império a
fim de ser possível providenciar "com clareza e perfeito
conhecimento sobreo importante objeto", dizia António
Carlos.
Certo, as exposições do reitor e do corpo docente
o foram estranhas à primeira reforma dos estatutos do
Colégio. Obteve-a pelo regulamento de 1
o
de fevereiro de
1841 da responsabilidade de António Carlos, auxiliado por
Joaquim Caetano em o novo plano de ensino.
Elevou o regulamento de 6 para 7 anos o curso de
bacharelado, julgado necessário mais um ano de estudos
para perfeição de curso secundário, exigidos antes a alunos
de anos mais baixos da série escolar conhecimentos para
cuja aquisição lhes faltava ainda memória e raciocínio.
Modificou o Regulamento António Carlos o número
de lições semanais 25 até o 5
o
ano, 30 no 6
o
e 7
o
fixada uma hora para cada aula. Ao professor de
Matemática incumbiria o ensino da disciplina e mais o de
Geografia e Cronologia.
O Regulamento António Carlos, a ser executado no
Colégio, vinha encontrar o corpo docente e administrativo
um tanto modificado desde 1840.
Recebera o Colégio novo secretário, o Dr. Fernando
Francisco Lessa, substituto do secretário interino José
Tavares de Mello
A maior novidade na corporação docente era o
aparecimento da cadeira de Alemão, primeira da língua no
Brasil, tendo por titular Carlos Roberto, Barão de Planitz.
Inaugurava no Colégio o que se poderia chamar nele a
série germânica continuada porTautphoeus, Goldschimidt,
Gade, Schieffler, Meschick e Hans Heilborn.
Teria o Colégio outras séries de magistério, a
nacional representada pela maioria dos professores do
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Colégio em extenso rol, a série francesa de Piquet ,
Halbout, Gastão Ruch, a série inglesa de Maze, de
Cumberworth, de Alfredo Alexander, a série italiana de De
Simoni, Lipparoni e Gervais, além da unidade grega de
Calógeras.
Em 1840, começou a lecionar no Colégio, a título
interino o professor de Aritmética, o Dr. Emilio Joaquim
da Silva Maia, a prestar à Casa importantes serviços
médicos e de magistério.
Além de Planitz, era em 1849 nomeado Tiburcio
António Craveiro, professor de Latinidade, Retórica e
Poética, com o vencimento anual de um conto de réis,
para aumento da série de professores acrescidos aos
primeiros de 1838.
Ao assumir a Pasta do Império, António Carlos
encontrou estabelecido no Colégio o regime das matrículas
gratuitas de internos e externos. Fixadas pela primeira
vez pelo Ministro interino do Império, efetivo da Justiça,
Conselheiro Assis Coelho, numa interinidade proveitosa a
desvalidos, suposta bem aplicada a mercê em distribuição
de justiça.
Um dos primeiros a solicitar o favor da gratuidade
foi Mathias José Fernandes de, procurador de causas
litigiosas, subadvocacia exercida pelos solicitadores.
Dirigiu-se Sá ao reitor Joaquim Caetano para
obtenção da graça em benefício do filho, Aurélio Garcindo
Fernandes de, informada favoravelmente por Joaquim
Caetano a petição paterna.
Atendeu o Governo à súplica, em nome de sua
Majestade o Imperador, mandando admitir como aluno
externo gratuito Aurélio Garcindo Fernandes de.
Roda o tempo, o menino é homem, e de guerra,
oficial da armada. Em 1865, vamos encontrá-lo de pé na
história pátria, em dia de morte e glória sobre águas, o dia
de Riachuelo, Garcindo secundando Barroso no arrebatar
vitória no imortal tombadilho da Amazonas, Garcindo a
comandar a Parahyba, com o denodo celebrado no poema
épico Riachuelo, de Pereira da Silva, dizendo o poeta:
"... e nâo prescindo
Que o nome a todos chegue de Garcindo".
Retribuía assim em 1865 o aluno sergipano do
Colégio a gratuidade de seus estudos.
António Carlos, sem saber,o só concedia
gratuidades proveitosas, mais tarde como a de Garcindo
pagas na glória. Procurava, também, aperfeiçoar o ensino
do Colégio pela nomeação de bons professores,
recomendáveis pelo saber, tanto quanto pela compostura,
indispensável a quem se propõe a dirigir, sobretudo moços,
sempre a lançar descréditos e ridículos sobre mestres
nominais.
Referendava António Carlos a nomeação do Dr.
Marcellino José da Ribeira Silva Bueno, Cónego
penitenciário da Capela Imperial. Seria professor de História
Geral, Pátria, Geografia e Cronologia, "em consideração
aos importantes serviços prestados no magistério e em
outros lugares de Letras". Assim o disse, expressa e
expressivamente, o Decreto de 23 de setembro de 1840.
O novo professor era sacerdote secular, antes frade
franciscano, gozava, na Ordem do "poverello" de Assis,
fama de bom pregador. Pouco lecionaria, falecido a 21 de
janeiro de 1842.
A António Carlos, Ministro do Império, deveria o
Colégio a primeira nomeação de Comissário do Governo
para inspecionar o estabelecimento e sobretudo interferir
nos exames.
Recaiu o cargo no Dr. Joaquim Cândido Soares de
Meirelles, médico diplomado no Rio de Janeiro e em Paris,
um dos fundadores da Academia Imperial de Medicina,
amigo de Evaristo da Veiga, muito ligado aos sucessos
políticos da Independência, do Primeiro Reinado e da
Regência, cirurgião militar de vulto na armada e no exército.
Vinte e cinco anos após o comissariado pedagógico
no Pedro Segundo, em 1840, ainda assistiria à Rendição
de Uruguaiana.
À nomeação de Soares de Meirelles, na gestão
ministerial de António Carlos, recebeu o Colégio novo
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
tesoureiro, Manoel Raymundo Galvão, por exoneração de
José Teixeira de Abreu Silveira.
Sobretudo para a época, eram de vulto os bens
patrimoniais do Colégio, inventariados em 1838 e
constantes de dois prédios, uma morada de casas de
sobrado na Rua das Violas, ora Theophilo Ottoni, uma
morada de casas térreas, na Rua da Alfândega, uma
morada de casas de sobrado na Rua Estreita deo
Joaquim, desaparecida na República e na Prefeitura
Passos. No património do Colégio figuravam 163 apólices
de conto de réis, além de duas no valor de 400S000.
Em março de 1841, o Partido Conservador vencia o
Liberal da Maioridade, apeado de governo o ministério por
ele constituído e do qual era ministro António Carlos.
Organizando o Marquês de Paranaguá o Gabinete de 23 de
março de 1841, chamou o sucessor de fogo Andrada um
calmo, Cândido José de Araújo Viana, futuro Visconde e
Marquês de Sapucaí, já Senador do Império.
Ministro, pela última vez em 1841, Araújo Viana
assim grafava segundo nome patronímico interveio em
pequeno sucesso característico da época. Devia o
património do Colégio aumento a récitas promovidas em
seu benefício pela Sociedade Dramática do Teatro deo
Januário, bandas da rua D. Manoel. Dirigiu-se o diretor da
referida Sociedade ao reitor Joaquim Caetano. Propôs para
a 5
o
representação em benefício do Colégio levar à cena
intitulada O Ambicioso ou O Ministro Demitido.
Declarava o diretor ao reitor ser esta a única peça
com brevidade capaz de subir à cena ou então qualquer
de sete peças já vistas cuja relação acompanhava o ofício
do diretor da Sociedade Dramática.
Intervindo o governo, atendendo a consulta do reitor,
respondeu-lhe Araújo Viana. Mandava Sua Majestade o
Imperador declarar-lhe que "ao ser possível representar-
se peça nova, visto a indicadao convir, havia por bem
permitir, por esta vez, a representação da intitulada Abade
de UEpée.
Conteria O Ambicioso ou O Ministro Demitido
alusões a António Carlos exonerado? "Visto a indicação
o convir", diz o oficio de Araújo Viana a Joaquim Caetano,
a 3 de junho de 1841.
Provavelmente a peça Abade de VEpée exaltaria
serviço à humanidade prestado pelo sacerdote francês
fundador em Paris da escola dos surdos-mudos, a estes
permitindo, por sinais de convenção, comunicarem-se com
os semelhantes.
Em todo o caso se O Ambicioso ou O Ministro
Demitido falava demais, o Abade de 1'Épée, guia de surdos-
mudos, seria mais discreto.
Maior incómodo do que a censura teatral daria ao
Ministro Araújo Viana e ao reitor Joaquim Caetano, novo
tesoureiro do Colégio, suspenso de funções mal as
começava a desempenhar, substituído interinamente pelo
Dr. Silva Maia.
Intimado o funcionário a prestar imediatas contas
de gestão, Araújo Viana mandava pagar contas ao
professor de História, Justiniano José da Rocha, metade
das despesas pela tradução e impressão de compêndios.
Pouco antes havia o Ministro António Carlos
autorizado a adoção no Colégio de "Resumo de História
do Brasil" de Niemeyer Bellegarde e dos "Elementos de
Cronologia" do Senador José Saturnino da Costa Pereira.
o bastava cultivar a inteligência do aluno, cumpria
robustecer-lhe o corpo. Daí a nomeação de Guilherme
Augusto de Taube para primeiro mestre de Ginástica do
Colégio. Por quatrocentos mil réis anuais robusteceria,
corrigindo falhas de calipedia.
Além de Taube, nomearia Araújo Viana novo
comissário do Governo para o Colégio, substituindo Soares
de Meirelles, chamado a outras funções. Em outubro de
1841 investia-se no cargo o Desembargador Rodrigo de
Souza da Silva Pontes, homem de luzes, caráter e probidade
jamais desmentidos em vida inteira. Magistrado,
parlamentar, presidente de três províncias , quando colhido
pela morte, em 1855, seria representante nosso
diplomático em Buenos Aires.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
A 7 de dezembro de 1842, presidia Araújo Viana à
solene distribuição de prémios aos alunos do Colégio. Dele
se ausentava o professor de Filosofia, Domingos José
Gonçalves de Magalhães. Autorizava ausência da cadeira,
partida para o Rio Grande do Sul em companhia do
Presidente da Província deo Pedro. Era este o Barão
de Caxias a opor-se à luta farroupilha, guerra civil pelo
Segundo Reinado da Regência tristemente herdada.
Gonçalves de Magalhães já servira de secretário de Caxias
na repressão da Balaiada.
Prestava o Governo a maior atenção à disciplina da
Casa. Demonstrava-o o Decreto de 7 de novembro de
1842, referendado por Araújo Viana, revogando o artigo 135
dos Estatutos vigentes. Tais Estatutos, pelo citado artigo,
permitiam com a presença do Ministro, do Comissário do
Governo ou do reitor, reunião em banquete, dos alunos
contemplados com recompensas, livros, coroas de ramos
de café ou de flores. A distribuição de prémios, seguir-se-
ia o banquete aos alunos distinguidos. Entre os jovens
uniformizados, de casaca e calça verde e chapéu alto de
pelo, houve quem se excedesse por atos e palavras, talvez
procurando demais conhecer a exatidão do "in vino
veritas".
o concordou o Governo com a pesquisa, suprimiu
o banquete "poro ser acompanhado de vantagem
alguma, mas antes de graves inconvenientes", declarava
o ministro Araújo Viana ao reitor Joaquim Caetano.
O Colégioo podia, entendia-se no alto, viver sem
austeridade.o costuma esta presidir banquetes nos
quaiso raro inteligências se anuviam e línguas por
demais se soltam.
Estabelecimento de tradição honrosa, o Colégio
participava do empenho do Governo em moralizar-lhe os
exames. Assim, para presidi-los especialmente convidava
pessoa das mais notórias do Império, Fernandes Pinheiro,
Visconde deo Leopoldo. Era personagem já tanto em
história pátria quanto nos fastos da instrução pública
nacional, referendador do Decreto de 1827 instituindo
Cursos Jurídicos emo Paulo e Olinda.
Em 1847, novo Ministro do Império, substituto de
Araújo Viana, superintendeu o Colégio oficialmente, que o
seu superintendente de coração se chamava D. Pedro II.
Para o Colégio os ministros passavam, o soberano, amigo
e patrono, permanecia, e ficou até o seu exílio.
Veio à Pasta do Império o Conselheiro de Estado
Silva Maia, no Gabinete de 20 de janeiro de 1843, Gabinete
deo Sebastião, organizado no dia do padroeiro carioca,
por Honório Hermeto Carneiro Leão, vindouro Marquês de
Paraná.
Na gestão ministerial de Silva Maia, em 1843,
ocorreriam modificações no corpo docente do Colégio. Em
março o Barão de Planitz era designado para a cadeira de
Geografia Descritiva e História; em julho frei Rodrigo de
o José, vice-reitor, nomeado professor de Religião, em
agosto o Cónego honorário Sebastião Pinto do Rego, futuro
Bispo deo Paulo, provido no cargo de Capelão do
Colégio. Deste se despedia o mestre de ginástica Guilherme
LuizdeTaube.
Continuava Joaquim Caetano na reitoria, a esta
anexada então, o que o Aviso de 3 de abril de 1843
chamava concessão do sustento. Residindo e
alimentando-se no Colégio, Joaquim Caetano, em agosto
de 1843, foi chamado a providenciar para a realização de
festa extra-escolar na Casa sob sua digna direção.
A 9 de setembro de 1843, à Sala Nobre dizia-se
então grande do Colégio acolhia seleto auditório para
sessão instaladora do Instituto dos Advogados do Rio de
Janeiro.
Nem os alunos ficaram sem festa em 1843. O
Ministro Silva Maia autorizou o reitor a conceder-lhes férias
extraordinárias, tanto mais gostosas quanto inesperadas.
Férias no decurso do ano letivo? A razão era grata
sobre nupcial: o casamento de D. Pedro II e D. Thereza
Christina.
o se acharam os alunos do Pedro Segundo
privados de participar do regozijo público pelo fausto
sucesso conjugalmente assegurador de dinastia.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
A terceira Imperatriz do Brasil chegou de Nápoles a
3 de setembro de 1843, desembarcando no Valongo, zona
carioca entre Gamboa e Saúde, assim conhecida do período
colonial ao início do Segundo Reinado, nome ainda hoje
lembrado por uma ladeira em morro na citada zona.
Para entrar no Rio de Janeiro passou a nova
Imperatriz, nascida no ano de nossa independência, pela
Rua do Valongo, depois da Imperatriz em honra da soberana
e hoje Camerino. Os alunos do Colégio podiam ver pois
de casa a primeira festa, a do desembarque.
Seguiram-se para eles e para todos, outras
manifestações de regozijo, entre elas numerosos bailes já
oficiais, já familiares.
Cessados os festejos, outra vez vieram os alunos
do Pedro Segundo a aulas e sabatinas precedendo exames
sob a inspeção do Ministro do Império de havia pouco,
Araújo Viana, nomeado Comissário de Governo a 6 de
novembro.
No exercício do cargo teria ensejo de aplicar Araújo
Viana providência sua quando governo.
Todo e qualquer aluno chamado a exame deveria
prestá-lo no dia marcado. Para evitar repetição de recusa,
Araújo Viana, então Ministro, declarara ao reitor haver o
Imperador determinado que se algum aluno se abstivesse
de provas em dia para elas fixado "fosse considerado com
o ano perdido, como se tivesse sido reprovado". Salvo se
alegasse e provasse "que para tal procedimento houvesse
causa convincentemente justificada". Dada a
circunstância poderia ser admitido, por ordem do governo,
a exame na abertura das aulas do ano letivo seguinte.
Findos os exames em 1843, o Colégio preparou-se
para a solenidade habitual da distribuição de prémios, desta
vez realçada com a primeira colação de grau de bacharel
em letras. Na véspera do ato Silva Maia expediu decreto
a ele relativo.
Ouvido o Conselho de Estado, o Ministro referendou
o Decreto de 20 de dezembro de 1843, dizendo respeito à
colação do grau de bacharel em letras e respectiva
expedição de diplomas. Pela carta de lei de 30 de agosto
de 1843, já bastava apresentação de diploma do Colégio
para matricula imediata nas academias do Império.
Segundo o Decreto Silva Maia o bacharel em letras
prestaria juramento sobre os Santos Evangelhos, ligados
a Igreja e Estado, nem sempre em paz, o espiritual
incomodado pelo temporal e vice-versa.
Devia o bacharel, por juramento, respeitar e defender
constantemente instituições pátrias, concorrendo, quanto
possível para a prosperidade do Império, satisfazendo com
lealdade as obrigações a ele incumbidas.
Após o juramento, o Ministro do Império ou o
Comissário do Governo imporia ao bacharel barrete branco
franjado, proferindo solenemente estas palavras: "Dou-
vos o grau de bacharel em letras, que espero honreis
sempre tanto como o haveis sabido merecer".
Em ato solene ouo recebia diploma o novo
bacharel, diploma em pergaminho, subscrito pelo Ministro
do Império, pelo reitor e pelo vice-reitor.
Na segunda-feira 21 de dezembro de 1843, o Colégio
de Pedro Segundo engalanou-se para a cerimónia, o da
estreia da colação de grau à primeira turma de bacharéis,
cerimónia honrada com a presença do Imperador.
De acordo com os estatutos, deu princípio à
solenidade, obtida vénia imperial, o professor de Retórica,
Dr. Santiago Nunes Ribeiro, lendo discurso de cunho
filosófico, desejando demonstrar a necessidade de unir
religião à mocidade para esta produzir bons frutos.
Ao discurso de Santiago Ribeiro seguiu-se a
distribuição de prémios. Aos primeiros premiados dignou-
se D. Pedro II entregar recompensas, os demais atendidos
pelo reitor, com expressões de benignidade. A Sala Grande
da Casa, senão a maior do Brasil, estava repleta de público.
Dele boa parte, por má colocação de cadeiras, ficou privada
de presenciar o ato da colação e o cortejo dos alunos
premiados.
Ao cortejo seguiu-se a colação de grau conferido
aos seguintes alunos: Agostinho Marques Perdigão
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Malheiro, de Minas Gerais, António Manoel Loureiro, da
província do Rio de Janeiro, Carlos Arthur Busch Varella,
do Município Neutro; Francisco de Salles Rosa, Joaquim
Fernandes da Silva, José Carlos de Almeida Arêas,
também da citada província, José Alexandrino Dias de
Moura, de Matto Grosso, Paulino de Souza Brito, de
Moçambique.
Finda a colação de grau o bacharel Busch Varella
leu discurso de agradecimento e despedida, a produzir no
auditório grata impressão.
"Este pequeno trabalho que foi ouvido com muita
atenção, causou no auditório bastante abalo, tanto pelo
garbo e entusiasmo com que foi recitado, como pelas flores
de retórica de que se achava adornado".
Disse-o Joaquim Manoel de Macedo, nas páginas
da Minerva Brasiliense, acrescentando: "A criação e
existência do Colégio de Pedro Segundo é um dos
acontecimentos que mais honram aos nossos
contemporâneos; é o feito que mais deve concorrer para
o progresso e orgulho das letras Brasileiras".
Alguns dos novos bacharéis haviam participado da
primeira distribuição de prémios no Colégio a 13 de
dezembro de 1838. Pela primeira vez assistira também o
Rio de Janeiro a solenidade do género em estabelecimento
nacional, "esplêndida e aparatosa cerimónia quanto podia
ser", registrou-a imprensa da época , em sala ricamente
adornada, dossel e estrados preparados para o Jovem D.
Pedro e o Regente Araújo Lima, tendo aos lados os
Ministros e grande número de pessoas gradas. A
solenidade da primeira distribuição de prémios do Colégio
tivera novidade e importância alvoroçando alunos
premiados, incitando colegas a merecerem recompensas
idênticas entre alegrias de família. A solenidade da primeira
colação de grau de bacharéis em letras também novidade,
subia de importância. Dignificava jovens que, uns mais,
outros menos, teriam elevação social, destacados,
sobretudo. Perdigão Malheiro, o jurisconsulto, Busch
Varella, o grande orador forense, Arêas o diplomata,
quarenta e seis anos depois do seu bacharelado em letras
Visconde de Ourém. A Busch Varella reservava o destino
a dita de celebrar, em discurso e ato solene, o jubileu do
Colégio, substituída pelass a alvura passageira do
barrete imposto ao jovem bacharel de 1843.
IV
O Colégio de 1844 a 1851
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
Solicitude de D. Pedro II para com o Colégio Vigilância do Governo Pequenos
Sucessos e Curiosas Providências Joaquim Caetano e Frei Rodrigo deo José
Retirada de Joaquim Caetano.
ESCBAGNOLLE DÓRIA
Em 1844, entrava o Colégio em sétimo ano de labor.
Dezenove anos de idade contava o dele augusto
patrono. Começava já a mostrar Bernardo de Vasconcellos
profético no discurso de inauguração do Colégio. "O culto
das letras e das ciências seria um dos principais títulos
de glória de seu reinado" afirmara o estadista. Em 1844,
principiava D. Pedro II a ter por sacrário de tal culto o
Colégio sob sua proteção e seu nome.
A solicitude do amigo do Colégio só cresceria com
o tempo que tanto diminui ou suprime cuidados. Obrigava-
se o Ministro do Império, fosse qual fosse, a zelar pelo
Colégio, mesmo quando pessoalmente lheo merecesse
especial atenção.
Assim reinando no Rio de Janeiro a escarlatina,
deliberara o facultativo do Colégio aplicar a alunos internos
a tintura de beladona, como preservativo. Logo veio ofício
do Ministro ao reitor Joaquim Caetano, aliás médico,
advertindo-o deo fazer uso da tintura, "convindo que
fosse mais geralmente experimentado e aprovado o
indicado preservativo, para que com prudência e segurança
fosse admitido no Colégio".
o era de rosas o cargo de reitor, mesmo exercido
por homem qual Joaquim Caetano. Representando certa
vez o administrador da Tipographia Nacional contra o
costume de algumas Repartições Públicas mandarem
imprimir papéis de expediente em tipografia particular, com
grave prejuízo da Fazenda Nacional, houve então por bem
Sua Majestade o Imperador que o reitor do Colégio fizesse
imprimir naquela Tipographia tudo quanto pertencesse ao
expediente do estabelecimento a seu cargo.
Quando o Ministro do Império autorizava despesas
recomendava logo ao reitor parcimônia nos gastos. "Haja
a maior economia", dizia o Secretário do Estado a propósito
da iluminação do Colégio em noites de festa oficial.
Nem sempre corriam amenas as relações entre
ministro e reitor,o hesitando aquele em censurar este.
Havendo Joaquim Caetano despedido um servidor modesto
do Colégio, o despenseiro Manoel Pereira, em funções
desde 1838, foi ele queixar-se ao ministro. "Não me
havendo V. Mce. dizia o ministro ao reitor participado
este seu ato com razões que o compeliram a praticá-lo;
ocorrendo além disto o parecer tal ato contraditório, e
infundado, pois que na mesma ocasião em que V. Mce.
despede aquele empregado dessa casa lhe passa uma
Atestação em que afirma ter ele servido sempre muito
bem a todos os respeitos: manda Sua Majestade o
Imperador que V. Mce. informe circunstanciadamente sobre
este objeto, para se resolver como for conveniente".
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837- 1937
Tendo informado o reitor, mandou-lhe declarar o
Governo, sempre falando em o nome imperial, que embora
usasse o reitor da faculdade de demitir serventes
contratados do Colégio devia ficar em inteligência que uma
vez contratados tais serventes entravam no número dos
empregados da Casa e pois só podiam ser demitidos por
faltas ou transgressões cometidas.
"Estando, acrescentava o ministro, o Colégio
debaixo da imediata Inspeção do Ministro e Secretário de
Estado dos Negócios do Império, e devendo-lhe por isso
ser presente tudo quanto é relativo à disciplina, estudo, e
estado moral do mesmo Colégio, como à sua
administração em geral, preciso que o Reitor lhe
participasse o que ocorresse a respeito de tais objetos".
A respeito do atestado passado ao despenseiro
demitido o ministro censurava o reitor, em termos
energicamente corteses queo deviam ter doído pouco
ao subordinado ilustre.
A vigilância do governo, tanto a censurar o forte
como a ouvir o fraco,o escapava à equidade. O Ministro
do Império, Almeida Torres, organizador do Gabinete Liberal
de 2 de fevereiro de 1844 e sucessor do Ministro Silva
Maia, mandara oficialmente de modo especial, fossem
fornecidos alimentos ao vice-reitor, frei Rodrigo deo
José. "Por suas enfermidades e em razão das ocupações
dos seus lugares,o podia eo convinha que o vice-
reitor tomasse os seus alimentos no refeitório. Deviam
estes ser mandados ao seu cubículoo em géneros, mas
preparados da mesma maneira por que iam para o refeitório
na quantidade razoavelmente conveniente para a frugal
sustentação de uma pessoa".
Frei Rodrigo, monge beneditino,o devia estranhar
nem "cubículo, nem frugal sustentação", tudo na
observância do regime de sua ordem.
Mais ainda, sempre em atenção ao grande e ao
pequeno, ordenava o Ministro Almeida Torres que "se
continuasse o alimento como até então ao aluno José
Teixeira de Souza".
Ao reitor prestava o ministro contas do favor que
dispensava àquele jovem "atentas as circunstâncias da
longitude em que morava sua família, e da pobreza dele,
além das circunstâncias do bom comportamento e da
aplicação do aluno". Favor justo é exemplo sobre estímulo.
Nem deixava o Ministro Almeida Torres de atender
ao requerimento de Joaquim Peixoto, índio da Aldeia de
o Pedro, pedindo admissão do filho de nome Joaquim
como aluno interno gratuito do Colégio.
A petição do índio fluminense, das cercanias de
Cabo Frio, apresenta-se sugestiva. Longe já havia chegado
o renome do Colégio.
Em 1844, também recebia o reitor, para informar, o
requerimento do major Manoel Mendes da Fonseca pedindo
fossem admitidos no Colégio, como alunos gratuitos
externos, quatro dos seus filhos. O major Fonseca era pai
de Deodoro, este em 1844 aluno da Escola Militar. Os filhos
para os quais o major Fonseca pedia gratuidade de
matrícula eram Pedro Paulino, na República governador
de Alagoas e Senador federal por esse Estado; Hypólito
Mendes da Fonseca, capitão do exército; Eduardo Emiliano
da Fonseca, major do exército, mortos ambos na guerra
do Paraguai e João Severiano da Fonseca, médico, futuro
chefe do Corpo de Saúde do Exército.
Às vezes, em nome do ministro dirigia-se ao reitor
o oficial-maior da Secretaria do Império então na Rua da
Guarda Velha, hoje 13 de Maio, António José de Paiva
Guedes de Andrade, poeta elegante, tradutor fiel de
clássicos latinos c deo terminada versão da Jerusalém
de Tasso.
Por ofício, solicitava Guedes Andrade a Joaquim
Caetano informação sobre a maneira de contar faltas aos
professores do Colégio. Convinhao mais fosse enviado
à Secretaria simples extrato, um mapa circunstanciado
das faltas, "de forma que se conhecesse se o Professor
faltava logo à primeira das lições ou a qual delas".
Grande era a preocupação do Governo quanto às
faltas dos professores. Assim o Ministro Almeida Torres
ESCRAGNOLLE DÓRIA
se julgava na obrigação de justificar ao reitor, o motivo de
certas faltas de seus administrados.
Dizia-lhe por exemplo, no Aviso de 11 de abril de
1844 que "tendo sido designados os professores do Colégio
Carlos Roberto, Barão de Planitz e Francisco Maria Piquet
para servirem de examinadores da língua francesa no
concurso dos opositores à Cadeira da língua no dia 18 do
corrente, eo podendo por isso comparecerem nesse
dia para dar aulas aos seus alunos, fazia isto chegar ao
conhecimento do reitor".
Incessantes e de minudente ordem eram as
providências do governo com relação ao Colégio. Delas a
variedade testemunha quanto os poderes públicos se
interessavam pela sorte e boa marcha do estabelecimento,
procurando acertar, deferindo ou indeferindo pretensões.
Mandava o Ministro do Império, à vista de
representação do interessado e de informação do reitor,
restituir ao recém-bacharel Reginaldo Netto Caldeira a
quantia de 25S000 por ele pagos ao Tesouro Público do
selo da respectiva carta. As despesas com os diplomas
dos bacharéis em letras alunos gratuitos do Colégio
acrescentava o ministro deviam ser feitas por conta
dos cofres do estabelecimento.
Por outro lado tendo conhecimento da nomeação,
embora a título interino, de um inspetor dos internos do
Colégio, o Governo cientificara ao reitoro confirmar tal
nomeação. E por quê? Fora o Ministro Almeida Torres
informado de haver sido o mesmo inspetor despedido do
noviciado do Convento do Carmo da Corte, por
irregularidade de comportamento. Declarava o Governo
ao reitor que "não podendo ser confirmada a nomeação,
fazia-se por isso desnecessário continuar o inspetor a servir
cargo interino para se conhecer da sua capacidade e
morigeração".
Mais significativo ainda é o ofício do Ministro
Almeida Torres, oficio registrado no Colégio sob n.° 788 e
expedido a 11 de setembro de 1845. Declara o ministro
ao reitor que "ficava Sua Majestade o Imperador inteirado
pela leitura do ofício do reitor, de haver sido entregue a
correspondente na corte, em presença do desembargador
Chefe de Polícia, um ex-aluno do Colégio, afim de embarcar
na escuna Ligeira com destino ao Rio Grande".
Nem se podiam queixar alunos de objeto único de
advertências em punições. Presentes ao Imperador, por
intermédio do Ministro do Império, os mapas das faltas
dos professores no trimestre de fevereiro a abril de 1845,
ordenava Sua Majestade que o reitor estranhasse àqueles
professores a falta de cumprimento de deveres.
Deixando Almeida Torres a Pasta do Império foi nela
substituído pelo deputado Joaquim Marcelino de Brito,
membro do Gabinete Liberal de 2 de maio de 1846,
organizado pelo senador Hollanda Cavalcanti.
Entre as punições infligidas aos alunos do Colégio
figurava a pena de reclusão em quarto preparado para tal
fim. Conheciam-no os alunos pelo nome de cafua.
Declarava o Ministro Marcelino de Brito ao reitor constar
na Augusta Presença de Sua Majestade o Imperador que
o quarto para reclusão dos alunos do colégio, por faltas
merecedoras de tal castigo, era inteiramente impróprio
para semelhante uso, tanto pela insuficiência da
capacidade dele como pela falta de luz e de circulação do
ar e pela prejudicial proximidade do lugar dos despejos do
Colégio. Assim mandava o Imperador, em nome de quem
falavam sempre os ministros do Império, que, com
urgência, se preparasse outro local sem as inconveniências
apontadas.
Certoo seria a cafua, mesmo melhorada, do
agrado dos alunos punidos. Mas quanto a todos, gratos
pareceria o aviso ministerial aprovando a prática de serem
feriados no Colégio, além dos dias marcados nos Estatutos,
a 2
a
e a 3
a
feira do Entrudo. Do Entrudo eo do Carnaval,
o segundo nascido bastante depois no Rio de Janeiro, em
1854.
Ao Entrudo deviam os alunos do Colégio férias
extraordinárias a serem aproveitadas estúrdia e
c
hidroterapicamente, com dano às vezes para saúde.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Segundo os Estatutos, férias grandes eram as de 2
de dezembro a 1
o
de fevereiro, data esta de início do ano
letivo, aquela do seu encerramento. Era permitido a
interinos passar férias no Colégio. Mas aí teriam 2 horas
de aula e 4 de estudo, aulas às quais podiam comparecer
externos, remunerados os professores com gratificação
especial. Além de aulas e horas de estudo, os alunos de
férias no Colégio dariam passeios longos e instrutivos,
sobretudo úteis ao ensino da História Natural.
Além das férias grandes e do Entrudo lá vez ou outra
surgiam imprevistos feriados. Gozaram os alunos do
Colégio três dias de sueto por ocasião do batizado do
Príncipe imperial D. Afonso, nascido na Corte a 23 de
fevereiro de 1845, primogénito de D. Pedro II, e D.Thereza
Christina. A botão de flor mal despontada fenecida,
passava o príncipe pela vida, desaparecido infante, em
junho de 1847, com mágoa natural sobre dinástica dos
pais ao entregarem à morte filho e sucessor, esperança
de lar e de nação.
De 1844 a 1845 conheceu o Colégio duas figuras
novas, no corpo docente e no administrativo. Em 1844 o
professor de Inglês, Diogo Maze, declarava ao Governo
o lhe convir mais lecionar por quinhentos mil réis anuais.
Aceitou-lhe o Governo a demissão e designou-lhe
substituto, interino, José Luiz Alves, já professor público
de língua inglesa, efetivado no princípio de 1844. Na época
recebia a cadeira de Francês professor substituto, o Dr.
Fernando Francisco Lessa, já secretário do Colégio, ao qual
se proporcionava novo tesoureiro, Firmino José Soares da
Nóbrega.
Diogo Maze deixara o Colégio por insuficiência de
remuneração, na tabela de estudos, fixada desde 1841,
figurando o ensino de Inglês, do 2
o
ao 7
o
ano, e Francês
ensinado do 1
o
ao 7
o
ano.
Módicas as retribuições dos professores, em época
de moeda valorizada e vida fácil,o eram também
elevadas as contribuições dos alunos. Pagavam os
externos 24S000 trimestrais, só recebendo instrução; os
internos contribuíam com 100$000 trimestrais a troco do
ensino, alimentação e asseio, enxoval à custa dos pais
ou representantes. Caso da manutenção do enxoval, pela
lavagem e costura, se incumbissem os pais ou
responsáveis dos internos só deviam satisfazer o
pagamento anual de 300$000.
A admissão no Colégio era precedida de exame do
candidato por professor designado pelo reitor. Joaquim
Caetano costumava lançar despacho nos requerimentos
pedindo admissão, incumbindo o dito professoro só de
examinar como de classificar o pretendente, subscrevendo
o despacho com um bem conhecido Dr. Sa. R. (Doutor
Silva Reitor).
O professor designado aprovava ouo o candidato,
no primeiro caso designando-lhe ano de estudos conforme
capacidade revelada no exame vestibular.
Prestigiando sempre examinadores, mandava o reitor
fosse o candidato matriculado no ano designado pelo juiz
da admissão. Levava escrúpulo o reitor a ponto de lançar
no requerimento de admissão notas como esta em relação
a matriculados:
"Entrou como interno com o ónus do vestuário em
1
o
de junho de 1845, às 5 da tarde. Dr. Sa. R.".
Reitor e vice-reitor, Joaquim Caetano e frei Rodrigo
deo José, dividiam encargos da direção do Colégio.
Joaquim Caetano, sempre metido entre livros, ocupava-
se mais das relações administrativas da casa com o
Governo, relações nem sempre amenas, afora obrigações
de lente de Grego.
Frei Rodrigo deo José, o vice-reitor, zelava a
disciplina. Frade, só Deus e ele sabiam quão difícil é manter
ordem em casa de moços e meninos, assegurando-a entre
severidade e jeito, conforme ocorrências.
Os alunos viam mais frei Rodrigo que Joaquim
Caetano. A cultura clássica do vice-reitor porém não
destoava junto a do doutíssimo reitor. Frei Rodrigo, baiano
do arraial deo Pedro de Muritiba, município de Cachoeira,
era por sua vez um erudito. Amigo dos livros ainda mais
ESCRAGNOLLE DÓRIA
se lhes afeiçoara depois de muitos desgostos como abade
de S. Bento, no mosteiro da Corte.
Poliglota, filósofo, dedicou-se à musa e manejava a
latina com amor, abeberado de lição humanística, adjecto
a outras muitas lições de variados conhecimentos
humanos.
Dele disse professor do Colégio, Paula Menezes:
" Entusiasta da poesia latina, lia Horácio por gosto, e quase
por costume, e no seu género escreveu ele inúmeras odes
da mais acabada perfeição. Excelente poeta, feliz em tudo
quanto escrevia, cultivou a sátira, e o espírito fino e os
delicados conceitos da maior parte de suas poesias
deixam sentir o fundo de moralidade do coração de quem
as traçou. Inflamado do Espírito de David, imitou psalmos
e neste estilo nos deixou bem feitas traduções.
Frei Rodrigo foi um homem póstumo, pode-se assim
dizer: e condenado pela timidez de seu caráter a fugir da
sociedade, sepultava no fundo de uma gaveta todos os
seus preciosos trabalhos, que dificilmente mostrava aos
mais íntimos dos seus amigos".
A timidez de caráter de frei Rodrigo, assinalada por
Paula Menezes, deve ser interpretada simplesmente em
relação à sociedade. Nesta o mongeo se comprazia,
sem dúvida conhecendo o fundo falso de tantos caracteres
humanos de sedutoras aparências.
Na vice-reitoria do Colégio a ação de frei Rodrigo
mostrava-se enérgica e severa. O próprio Paula Menezes
encarregou-se de prová-la. Disse do frei: "Alma cândida,
coração sincero, vontade de ferro, juntava a este montão
de qualidades superiores, uma modéstia que, degenerando
em timidez, punha em conflito quotidianamente sua
reputação com este desejo inqualificável de fugir a toda
publicidade".
Joaquim Caetano e frei Rodrigo, completando-se na
ilustração, estavam nas condições de tomar parte na
fiscalização do ensino do Colégio cujo proveito os exames
evidenciavam.
Assim os setimanistas de 1844, na seção de línguas
vivas e mortas, podiam ter das mesmas suficiente
conhecimento. Piquet, o professor de Francês, exigia a
bacharelandos a tradução dos melhores passos do teatro
clássico do século XVII já na "Athalia" de furores no verso
de Racine, já no "Misanthropo", de rir amargo em Molière.
Qualquer dos componentes da segunda e reduzida
turma de bacharéis em letras, a de 1844, formada apenas
por 5 sétimoanistas, devia mostrar-se habilitado no último
ano do curso. Passaria a vernáculo alguns 400 primeiros
versos do canto 1
o
do "Paraíso Perdido", enquanto
Medeiros Gomes, o professor de Latim, lhes exigia
interpretação sem silabadas das odes e sátiras de Horácio,
o amigo de Augusto, o protegido de Mecenas, o poeta a
dar glória a ambos junto a renovados vindouros.
Joaquim Caetano pedia ao setimoanista de 1844 a
tradução do Canto 1 ° da "Miada" onde Homero, por conta
própria ou resumindo dados, situou vingança grega contra
Tróia.
Desembaraçados de exames, aos setimanistas de
1844 entre eles José Teixeira de Souza - o aluno
beneficiado quanto ao sustento por aviso de 22 de março
de 1844, restava esperar a distribuição de prémios e a
colação de grau.
No momento de imposição do barrete branco, ante
numerosa e seleta assistência, o olhar de cada bacharel
nela buscava de preferência os seus, jubilosos com ele.
Primeira figura do auditório havia de ser o imperador, já
esposo em verdes anos, já primeiro magistrado de Império
imenso, já encarregado da tríplice responsabilidade perante
a consciência junto ao presente da nação, ante o futuro da
História.
o sem humana pontinha de inveja, nas
solenidades de grau, acompanhariam condiscípulos a
partida dos novos bacharéis em letras, consolados os 6
o
anistas pela proximidade da ventura. Nas escolas, de
grau em grau do ensino, os alunos contam os dias que os
avizinham de diplomas, ansiando pela vida prática, de
tantos meses de labuta e anos nas decepções, na virilidade
ou na velhice tornados saudosos os dias da adolescência.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837- 1937
Sempre sob a direção reitoral e vice-reitoral de
Joaquim Caetano e frei Rodrigo abriu-se no Colégio o ano
letivo de 1845. Inauguração de ano letivo trazia à casa
mais juventudes, mormente para o 1 ° ano do curso. Alguns
jovens, por exceção, mediante exame, matriculavam-se
logo em anos adiantados. A ousadia e o sucesso
impressionavam pela raridade.
Em 1845 estudavam e brilhavam nas aulas e
recreios do Colégio adolescentes que,o muitos anos
depois, ocupariam no Império altas posições em várias
carreiras. Contraíam nos bancos escolares amizades
duradouras vida inteira pela lembrança de felizes dias na
alegria e na despreocupação.
Teixeira Júnior, Eduardo de Andrade Pinto, Castrioto,
Costa Pereira Júnior,o adivinhavam ainda, sob fardetas
colegiais, a farda bordada de Ministros de Estado. Eduardo
Calladoo pressentia carreira de diplomata e de ministro
plenipotenciário, nem o irmão Dário a sina do seu
desaparecimento misterioso, inesperado, como chefe de
polícia da Corte. Anastácio do Bonsuccessoo cogitava
em tomar-se um dos nossos raros fabulistas.
Na época o estro já alvorecia em rapazola que
entrado no Colégio como veterano, escapou ao calourado,
quase sempre de ingratas recordações morais quandoo
físicas pelo sarcasmo ou brutalidade dos mais adiantados.
Chamava-se o rapazola Manoel António Álvares de
Azevedo. Nascido emo Paulo, a 12 de setembro de
1831, matriculava-se como aluno interno a 2 de junho de
1845, com 14 anos por fazer. Prestadas provas de
habilitação entrou logo Álvares de Azevedo para o 5
o
ano
do curso de bacharelado.
Outro matriculado, Honório Hermeto Carneiro Leão
Filho, imitou-o, classificado porém no 4
o
ano.
Ingressaram ambos no Colégio com a obrigação de
estudar mais que os outros colegas, pois começaram a
frequentar aulas em junho em ano letivo começado em
fevereiro.
A 5
a
série do curso de bacharelado em letraso
era, como se dizia na gíria escolar, "brincadeira". Pedia
aplicação em onze aulas, em disciplinas variadas, da
sintaxe latina exigida por Falletti aos sustenidos e
bequadros de mestre Luz Pinto, do dizer história de Planitz
ao explicar ciências naturais do Dr. Silva Maia.
Em 1917, no Anuário do Colégio, foi minuciosamente
recordada, por professor da casa, a vida escolar de Álvares
de Azevedo.
Já por certa altivez, já pelo pendor para a caricatura,
Álvares de Azevedo sofreu bastante. Provou a cafua
colegial. Os chefes da disciplina reconhecendo queo
quebravam génio, nem lápis, por fim o deixaram em paz.
A saúde sempre débil de Álvares de Azevedoo
consentia, sem maldade, castigos rigorosos.
Naturalmente o alvo principal das caricaturas de
Álvares de Azevedo foram os inspetores. Em todos os
colégios do mundo inspetores e alunos nem sempre se
entrestimam.
Em França, a gíria colegial atribui a inspetores de
alunos a alcunha de pion. Quando, porém, o tempo já
envelheceu os antigos alunos outrora lourinhos, voltam-
se eles para as reminiscências de antanho e estas nas
sombras divisam professores e inspetores já sem
exigências ou impertinências.
Todo glória, Edmond Rostand, lembrando colégio,
recordou antigos inspetores , consagrou versos àquele que
a irreverência juvenil alcunhava de Pif Luisant Vieux
pion qu'on railluit, ô si doux philosophe.
Pif Luisant escrevia versos. Também os fazia
Rostand, ambos às escondidas, cada qual na sua idade e
posição.
Revelaram-se mutuamente, o inspetor encontrando
versos na carteira do inspecionado.
Célebre do dia para a noite, pelo Cyrano de Bergerac,
Rostand pensava no antigo inspetor do colégio de província.
Dedicou-lhe longa poesia, Le Vieux Pion, dizendo:
Pif Luisant je t'aimais. Quelque fois je suis triste
En repensant à toi. Qu'es tu donc devenu?
Cest toi qui m 'as prédit que je será is artiste
E c'est toi le premier rimeur que j'ai connu.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Célebre, Rostand indagava de si próprio porque
cargas de sorte o inspetor poeta fora ter ao colégio de
província. E na longa poesia, "Le Vieux Pion", disse ao
desaparecido toda sua saudade.
o encontrou Álvares de Azevedo um rimador entre
os inspetores do Colégio em 1845. Três tinham os internos,
um os externos, aqueles distribuídos por divisões, de
maiores, médios e menores.
Os inspetores, à parte relações e quizílias com
certos alunos, eram pessoas estimáveis, aturando muito.
Alguns inspetores até se recomendavam por instrução
superior ao cargo. José da Silva Pinheiro Freire, a princípio
inspetor, fora professor substituto interino de Português e
Latim na reitoria do Bispo de Anemúria.
Desde tal reitoria, rapidamente firmara opinião
pública honroso conceito do Colégio, de estreia prestigiada
pelo Imperador e pelo Governo avantajava-se por isto a
quantos estabelecimentos de instrução secundária contava
a Corte.o eram poucos na época, tanto para instrução
do sexo masculino como do feminino, sem nenhuma
tentativa de coeducação.
Acreditado o Colégio via-se alvo de doações, em
moeda, ou de outras espécies. No último trimestre de
1845, de transporte para o ano seguinte, donativos no valor
de 3:320$000 tinham sido entregues ao tesoureiro Firmo
José da Nóbrega para aumento do património.
No mesmo trimestre foi a receita de 24:844$822, a
despesa de 10:373$256, com saldo de 14:471$556.
Permitia a folga orçamentária certas larguezas de
administração qual a proposta de criação do cargo de
preparador de Química, largueza de 200S000 anuais de
ordenado.
Animava-se então o coronel Frederico Hoppe, súdito
espanhol, entretanto de nome a indicar ascendência
germânica, a pedir nomeação para mestre de Ginástica
com o vencimento anual de 800S000.
Informava o reitor ao Governo sobre tal proposta que
dizia "de sumo proveito por se encontrar o Colégio havia
quatro anos sem possibilidade de achar mestre daquela
arte". Anuiu o Governo e Hoppe começou funções de
setembro de 1846 em diante, preenchendo longa vacância,
substituindo Guilherme Augusto de Taube.
o eram raras então as doações para o Colégio.
O Dr. Joaquim Vicente Torres Homem, pai do grande clínico
de igual nome, enriquecia a biblioteca do Colégio com a
oferta de 34 volumes de Walter Scott, as obras do
romancista escocês traduzidas em alemão.
Entre as ofertas ao Colégio era de assinalar a do
professor Barão de Planitz oferecendo amostra lavrada de
mármores branco de Carrara em que se esculpiria estátua
de D. Pedro I.
Qualquer estabelecimento de ensino obedece
sempre ao mesmo ritmo de vida. Abre-se o ano letivo,
chegam à casa alunos antigos e novos, começam as aulas,
encerram-se, realizam-se exames, graduam-se os
terminantes de curso, premiam-se quantos mais se
distinguiram, estimulando-os para maiores esforços a bem
do cultivo espiritual.
Cabeça do ensino secundário, o Colégio de Pedro
Segundoo podia fugir à regra geral, antes a pondo mais
de exemplo.
No fim do ano letivo de 1845, anunciava o Colégio
terceira colação de grau, bacharelando onze setimanistas,
um, João António Gonçalves da Silva, fadado a professor
da Casa. Começava o Colégio a encontrar para a regência
de cadeiras os próprios filhos espirituais, ufanos de o
serem.
A cerimónia de 1845, no salão grande da Casa,
trouxe a esta o imperador, a imperatriz e por conseguinte
após ambos o Rio de Janeiro de escol.
Era o dia da alegria no Colégio. Juncavam-no de
flores e folhas odoríferas fornecidas pelo Jardim Botânico
à requisição do reitor.
Vinham logo depois as férias, de transcorrer
aproveitado para limpeza geral e reparos mais urgentes
na Casa.o podia ficar esta a mercê de incêndio,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
segurando-a o Governo como bem nacional, para a
operação escolhida a Companhia Argos Fluminense.
Assumia esta a responsabilidade de indenização de sinistro
pelo prémio anual de 411 $745, prémio a prazo, renovável
pelas partes.
Entrou em 1846 o Colégio em novo ano letivo sempre
debaixo das vistas do imperador, e superintendido naquele
ano pelo Ministro do Império, Conselheiro Marcelino de
Britto.
Atos oficiais presentes ao corpo legislativo ajudam-
nos a acompanhar progressos nas modificações do
Colégio.
Assim em 1846 o Ministro do Império, Conselheiro
Marcelino de Britto, dava contas administrativas aos
Augustos e Digníssimos Senhores Representantes da
Nação e em relatório os informava quanto ao Colégio de
Pedro Segundo nos seguintes termos:
"No Colégio de Pedro Segundo tem continuado os
estudos com a costumada regularidade; cumpre-me nesta
ocasião chamar a vossa atenção para o pedido, que se
fez no antecedente relatório, de um legislativo que absolva
o Colégio da dívida em que está para com a Fazenda
Pública, proveniente da décima de prédios do mesmo
Colégio, e o isente para o futuro do lançamento do imposto
indicado.
Este Colégio foi ultimamente provido de uma boa
coleção de clássicos gregos, e de alguns produtos de
história natural; um chafariz ali construído lhe fornece a
água necessária para seu uso; havendo ele obtido em
prémios que tirou na décima sexta loteria do Teatro de
o Pedro de Alcântara a quantia de Rs. 18:440$000, foi
esta convertida em apólices da dívida pública, em cujo
produto se tornará menos sensível o decrescimento e
cessação de alguma de suas rendas. O reitor tem proposto
a conversão dos prédios que o Colégio possui em apólices
daquela dívida; mas o governo aindao resolveu sobre
este objeto. O conserto da igreja é a obra de mais urgência
necessidade, e para ela conta o governo com o auxílio
que des solicitou no antecedente relatório. O ordenado
do tesoureiro foi elevado a 800S000, por decreto de 8 de
setembro do ano passado".
Bacharelaram-se, no fim do curso letivo de 1846,
cinco bacharéis, dois dos quais mais notáveis, um José
Carlos Pereira de Almeida Torres, fadado a professor do
Colégio, e José Pedro Werneck Ribeiro de Aguilar, da alta
representação nossa diplomática no estrangeiro.
Curiosa seria lista dos bacharéis em letras pelo
Colégio de serviços distribuídos de diversas classes
sociais nossas e diversos interesses pátrios.
Enquanto graduava jovens, continuava o Colégio a
firmar conceito na opinião pública, cujo favor e cujos
aplausos se evidenciavam já no crescer de matrículas, já
no ambicionar por parte de professores o ter assento no
corpo docente da instituição.
Eis a prova. Em 1847, cinco candidatos, por
concurso de títulos, pediam a cadeira de História e
Geografia Descritiva. Eram Francisco José Borges, o padre
Patrício Muniz, Luiz Joaquim de Almeida e Arnizaut,
Ludgero da Rocha Ferreira Lapa e João Baptista Calogeras.
Até então o ingresso no corpo docente fora feito
mediante livre nomeação do governo. O concurso de 1847
tornou-se no Colégio o primeiro indício de concurso,
embora de títulos, o governo imperial acostumado ao ad
libitum das designações desde 1838.
Qualquer dos candidatos de 1847o era
desconhecido ou professor improvisado.
Francisco José Borges dirigia estabelecimentos de
educação, ensinava língua vernácula, História e Geografia
e gozava de conceito público.
O padre Patrício Muniz, ilhéu da Madeira, chegara
ao Brasil com oito anos de idade. Formara-se em letras
em Paris, em teologia em Roma, ali se ordenando
presbítero secular. Bom pregador, lia História Sagrada no
Seminário deo José.
Luiz Joaquim de Almeida e Arnizaut era médico,
baiano, com tirocínio de professor. Também médico,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Ludgero da Rocha Ferreira Lapa, exercia o cargo de
bibliotecário da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
Joáo Baptista Calogeras, grego de Corfu, tinha grande
trato de coisas de cátedra e ensino.
Dirigiram-se os cinco candidatos à cadeira de
História e Geografia do Colégio ao Ministro do Império de
1847, o Senador Alves Branco. Encaminhou este os
requerimentos ao reitor Joaquim Caetano pedindo-lhe
informações sobre o mérito dos requerentes.
Sempre foi e será de suma delicadeza pronunciar-
se em qualquer espécie de concurso da inteligência ou da
própria beleza. Haja vista a sentença de Paris no Monte
Ida, simples maçã aniquilando um povo.
Os escolhidos principiam indiferentes ao eleitor, os
excluídos a ele logo infensos.o saberemos jamais o
que sucedeu a Joaquim Caetano. Sabemos certo ter
informado as petições dos candidatos à cadeira de História
e Geografia Descritiva.
Parece valer a pena, ao menos pelo inédito,
transcrição das informações do eminente reitor de 1847.
1
o
) Francisco José Borges Sabe Francês.o
tem estudos de História.
2
o
) Padre Patricio Muniz. É doutor em Teologia pela
Universidade de Roma e bacharel em letras pela Faculdade
de Paris; sabe Latim, Francês e Italiano. Esteve quatro
anos em Paris e dois em Roma.o tem estudos
especiais de História.
3
o
) Luiz Joaquim de Almeida e Arnizaut é formado
em medicina pela Faculdade desta Corte; sabe Latim e
Francês,o tem estudos de História.
4
o
) Ludgero da Rocha Ferreira Lapa É formado
em medicina pela Faculdade desta Corte; sabe Latim e
Francês; tem muito talento, maso me consta que o
tenha empregado no estudo de História.
5
o
) João Baptista Calogeras Possui bem as línguas
e as literaturas Grega, Latina, Francesa. Italiana e Inglesa;
é dotado de raro talento, de uma cabeça filosófica e grande
facilidade de elocução e tem se aplicado com muito mérito
e proveito ao estudo da História. Pelo que o considero
capaz de reger a cadeira com indisputável superioridade.
Esteve dois anos em Bolonha e nove em Paris.
O governo concordou com a preferência de Joaquim
Caetano pela cabeça filosófica. Foi Calogeras provido na
cadeira de História e Geografia Descritiva. Mas uma vez
se verificara que o Evangelho tinha razão, último tornado
primeiro. No 5
o
lugar da lista dos candidatos, Calogeras
saía vencedor.
Em 1847, como sempre, a vencidos em qualquer
prélio caberia exalar ou remoer queixas, por espaço de
quarenta e oito horas, alguns vida inteira.
Professor novo, Calogeras participava da cerimónia
da colação de grau de bacharel em letras em 1847. Mal
tivera tempo de lecionar à turma do 7
o
ano, sem dúvida
com a facilidade de elocução, reconhecida por Joaquim
Caetano.
Compunha-se a turma de 1847 de sete alunos, todos
destinados a futuro. A estrela da turma fulgia em Manoel
António Álvares de Azevedo. Deste o génio seria luz breve,
tanto quanto haviam de ser imortais seus versos, sua
posição nas letras patrícias.
Pela preeminência em literatura nacional merece
transcrição o seguinte documento inédito relativo à
admissão de Álvares de Azevedo ao Colégio.o só lhe
atesta invulgar capacidade prematura como revela bastante
usos do estabelecimento na época,o se esquecendo
sequer o reitor, Dr. Joaquim Caetano da Silva, de notar a
hora de entrada do aluno admitido.
"limo. Sr. Reitor do Imperial Colégio de Pedro 2
o
.
Diz Ignacio Manoel Álvares DAzevedo residente na
cidade de Niterói na rua da Cadeia n.° 23, onde tem o seu
escritório de advocacia que desejando admitir no Colégio
o seu filho Manoel António Álvares dAzevedo, nascido na
cidade deo Paulo no dia 12 de agosto de 1831, do que
o pode agora apresentar a respectiva certidão, mas se
obriga a apresentar em um termo razoável, pretende que
V. S.
a
se digne mandar admiti-lo a exame a fim de que
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
sendo aprovado possa entrar no Colégio como aluno
interno, obrigando-se porém o suplicante a fornecer-lhe a
roupa necessária para seu vestuário por tanto.
R a V.S. seja servido deferir-lhe na forma requerida.
RR. Mcê.
Ignacio Manoel Álvares d'Azevedo
Despachos:
Peço ao Sr. Barão de Planitz queira examiná-lo e
classificá-lo. Dr. Sa. R.
Aprovado para o quinto ano de estudos. Rio de
Janeiro, 15 de maio de 1845.
Matricule-se no quinto ano 15 de maio 45 Dr.
Sa. R.
Tem boas cicatrizes de vacina e nenhum sinal de
doença contagiosa. Rio de Janeiro 1 de junho de 1845.
Dr. Maia
Entrou para o Colégio como interno com o ónus do
vestuário do quinto ano, em 2 de junho de 1845, ao meio-
dia.
Dr. Sa. R."
A colação de grau de 1847 daria ensejo a pedido de
providências ao Governo por parte da reitoria do Colégio,
no momento às ordens do vice-reitor frei Rodrigo deo
José.
Solicitava este ao Ministro do Império, Alves Branco,
medidas "que obstassem a continuação do escandaloso
abuso introduzido no Colégio deo comparecerem os
alunos com prémios ou menções honrosas ao ato solene
da distribuição de recompensas sem darem justificação
da falta".
Respondia Alves Branco ao vice-reitor, logo após o
ato solene de 1847. Explicou, em nome de Sua Majestade
o Imperador, que os Estatutos do Colégio exigiam a
presença dos premiados.o ficava portanto dependente
do mero arbítrio o cumprimento da exigência. Mister se
fazia, pois, de futuro tornar público, com antecedência,
que na conformidade dos Estatutos os alunos quer
premiados, quer distinguidos com menção honrosa, eram
irremissivelmente obrigados a comparecer ao ato de
distribuição, a fim de serem proclamados e receberem os
prémios. O comparecimento pessoal constituía condição
essencial para a efetiva e real aquisição dos mesmos
prémios e honras, salvo provado impedimento legitimo e
reconhecido pelo Reitor do Colégio.
No fim do ano letivo de 1847 perdia o corpo docente
do Colégio o professor de Inglês, José Luiz Alves, falecido
na véspera do Natal daquele ano. Enfermara gravemente
outro professor, o de Retórica, Santiago Nunes Ribeiro,
substituído no impedimento pelo médico Dr. Francisco de
Paula Menezes.
O ano letivo de 1848 abriu-se com a falta de Santiago
Nunes Ribeiro, falecido a 21 de janeiro de 1848. Pertencia
Santiago ao grupo dos professores estrangeiros da Casa,
grupo renovado no decurso do tempo.
Santiago, chileno de origem, emigrara para o Rio de
Janeiro, com um tio frade. Morrendo este ficou o sobrinho
desvalido. A princípio caixeiro, depois taquígrafo, tornou-
se em seguida professor ilustrado, como Macedo disse
ser Santiago, excessivamente modesto, triste de rosto,
de voz muito débil, de timidez depressiva, mas de mérito
real e incontestável. Morreu ainda muito moço, "quem
passara na vida inteira, esperando, sofrendo e por isto
sempre infeliz". Era poeta, fundador e último redator da
celebrada revista literária do tempo, a "Minerva Brasileira".
O Ministro do Império Almeida Torres, Visconde de
Macaé, nomeou, para a vaga de Santiago Ribeiro, o Dr.
Paula Menezes, professor público de Retórica desde 1844,
portanto nada hóspede na cadeira lecionada a disciplina já
por ele, bem como Filosofia, professada no Colégio, a título
interino.
O princípio do ano letivo de 1848 foi quadra de
nomeações. Além de Paula Menezes entravam para o
corpo docente do Colégio, José Manoel Garcia Ximenes e
para o ensino da língua inglesa, Guilherme Fairfax Norris,
nomeado na mesma data de Paula Menezes, 17 de março
ESCRAGNOLLE DÓRIA
de 1848 e o Dr. Joaquim Pinto Brasil, designado para reger
interinamente a cadeira de Filosofia a 15 de maio de 1848.
O Governo imperial nomeava e fiscalizava. A um
mestre do Colégio, à vista de representação do reitor
acusando-o de "ter constantemente faltado aos seus
deveres", o Ministro Visconde de Macaé repreendia a 14
de abril de 1848. Comunicava ao reitor que ao mestre
incriminado deveria ser "estranhado o irregular
procedimento, suspendendo-se-lhe pagamento do
ordenado, fazendo-lhe saber que seria demitido do
Emprego, no caso de reincidência".
No dia seguinte da reprimenda, o mesmo Ministro
Macaé aprovava a expulsão, sumária, ordenada pelo reitor,
de aluno externo do 4
o
ano, "visto ter ele obstinadamente
se recusado ao castigo de queo devia ser relevado".
A justiça do Governoo queria nem devia ter dois
pesos e duas medidas, recairia sobre grandes e pequenos
ouo seria justiça.
Quase trimestre esteve o mestre culposo fora do
cargo, nele reintegrado com a obrigação de dar aulas
dobradas. O perdão levava castigo. Nem era para admirar
a determinação. A minudência fiscalizadora do governo
baixava a conceder ao reitor permissão, à vista de razão
justa, para que aluno externo do 2
o
ano do Colégio nele
passasse o dia e jantasse. As concessõeso iam a
granel, o alto queria saber como e a quem eram dadas.
Em 1908, desejoso de estudar a história do Colégio,
o professor Escragnolle Dória pedia informações ao antigo
Conselheiro de Estado, ex-Ministro da Marinha e da
Justiça, Manoel Duarte de Azevedo, irmão do professor
do Pedro Segundo Dr. Manuel Duarte Moreira de Azevedo.
Cursara o Conselheiro Duarte de Azevedo o Colégio
de 1848 a 1851, do 4
o
ao 7
o
ano, tendo tido, dizia ele, "a
felicidade de merecer o 1
o
prémio em todos os anos de
estudo", o que com ufania relembrava apesar "da carga
de 77 anos de idade".
"Nesse tempo em 1848 era o reitor o Dr.
Joaquim Caetano da Silva e vice-reitor o Revmo. frei
Rodrigo deo José, por sua energia e severidade o
verdadeiro diretor do Colégio"
E, reportando-se à meninice da ancianidade,
acrescentou epistolarmente o Conselheiro Duarte de
Azevedo menção de sucesso que lhe dizendo respeitoo
é displicente para a história do Colégio.
"Releve-me uma nota de falta de modéstia que
lançará em conta das saudosas recordações de minha vida
de colégio, no 6
o
ano retardaram-me o exame, para que,
fosse feito em presença do Imperador, e fui dispensado
de fazer exame em várias matérias, porque os professores
declararam-se satisfeitos com o do ano, com exceção da
aula de Desenho, em que tinha o segundo lugar, havia
obtido o primeiro nos concursos mensais de todas as aulas.
Perdoe-me esta recordação".
Pouco mais de vinte anos depois, o sextanista de
1848, cujo exame fora retardado para ser realizado em
presença de Sua Majestade, encontrava-se com ele nos
despachos ministeriais deo Cristóvão, Ministro do
Gabinete Rio Branco, o 7 de marçoo assinalado pela
Lei do Ventre Livre.
Releva notar que os exames de 1848 tinham a
presença efetiva do Comissário do Governo, o Visconde
de Abrantes, já dos mais altos personagens do Império.
Antes de iniciar o ano letivo de 1849 pedia demissão
Bernardo José Falleti de professor de Latim. Para lecionar
Geografia e História Antiga era nomeado, a 3 de abril de
1849, com o ordenado anual de 800$000 um homem de
letras, já bem destacado, o Dr. Joaquim Manoel de
Macedo,o beletrista que a sua tese inaugural médica
versara "A Nostalgia", tese cheia de fundo científico e
forma literária.
o era Macedo o único professor ilustre novo no
Colégio, nem o único de fora para dentro a trazer láurea.
De poeta insigne a conquistara o professor de Latim do 2
o
e 3
o
ano: António Gonçalves Dias, de latinista a trazia outro
professor de latinidade, o Dr. António de Castro Lopes,
lecionando o 4
o
ao 7
o
ano.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Para substituir o professor de Filosofia Pinto Brasil
era designado douto monge beneditino frei José de Santa
Maria Amaral, ornamento de corpo docente. Nele já
figurava, com foros de sábio, pela universalidade da
cultura, o Barão de Tautphoeus ensinando alemão depois
de Planitz.
Além de novos professores, de vencimento taxado
em um conto de réis anual, o Colégio no ano letivo de
1849 recebia alterações nos Estatutos, alterações
mandadas executar na conformidade do Decreto de 25 de
março de 1849, referendado pelo Ministro do Império,
Visconde de Monte Alegre (este grafava MonfAlegre).
O decreto era justificado pela "urgente necessidade
de providenciar sobre o julgamento dos exames do Colégio
de Pedro Segundo, a fim de que houvesse em aquele ato
a maior garantia de imparcialidade e retidão, bem como
necessidade de distribuir melhor as matérias de ensino de
algumas Cadeiras então oneradas de excessivo número
de lições".
Atendia também o decreto Monte Alegre "à precisão
de melhorar a sorte dos professores, fazendo desaparecer
a desigualdade e mesquinhez no vencimento de alguns,
bem assim à conveniência de regular a hora de entrada
dos professores, de modo a fiscalizar e punir qualquer
impontualidade da parte deles".
O decreto Monte Alegre bipartiu a cadeira de
Geografia e História, lecionadas na 1
a
cadeira Geografia,
História Média e Moderna e do Brasil, posta a cargo da 2
a
cadeira a História Antiga. Subdividiu o decreto a 2
a
cadeira
de Latim, suprimiu a prática do quarto de hora de tolerância
para entrada de professores em aula, havidos por faltosos
aqueles que "ao toque preciso na horao se achasse à
porta da aula, descontando-se no vencimento a parte
equivalente à hora perdida".
Na parte relativa a exames o Decreto Monte Alegre
introduziu modificações sensíveis nos Estatutos de 1838.
O tribunal de exame continuaria a compor-se na
forma do artigo 132 do regulamento de 1838. Segundo
tribunal, o de julgamento, seria constituído pelo Comissário
do Governo, pelo reitor, pelo vice-reitor e por dois
professores, um da classe de ciências e outro da de letras,
designados pelo Ministro do Império no dia da abertura
dos exames.
A unanimidade de votos aprovava plenamente; a
minoria a favor aprovava simplesmente, a maioria contrária
reprovava.
O julgamento se realizaria no fim de cada exame.
O reitor proclamaria logo o resultado do escrutínio ante
alunos e assistência.
No dia da abertura dos exames, para uso particular
do Comissário do Governo, o Colégio fornecer-lhe-ia o
apanhamento das notas dos bancos de honra obtidos pelos
alunos no transcorrer do ano letivo.
O Decreto Monte Alegre, de 25 de março de 1849,
dividia a cadeira de História e Geografia. A 3 de abril o
Ministro Monte Alegre comunicou à reitoria do Colégio ter
Sua Majestade o Imperador havido a bem da 1
a
cadeira de
História e Geografia, desligar o ensino da História do Brasil.
Ficava provisoriamente o ensino da disciplina a cargo do
professor da 2
a
cadeira de Latim, Dr. António Gonçalves
Dias, devendo este em vez de dez lições dar doze
semanais, as duas últimas destinadas ao ensino da
História Pátria.
Venceria pelo acréscimo de trabalho a gratificação
anual de 200S000 contada do dia da entrada em exercício.
Distribuído o ensino de História e Geografia no
Colégio, lecionaria Calogeras a 1
a
cadeira, Macedo a
segunda, a História Pátria a cargo de Gonçalves Dias, escol
de docentes pois.
A título de atividade, e também de prova de
meticulosidade da época, aqui se consigne Aviso do
Ministro Monte Alegre à reitoria do Colégio:
"Rio de Janeiro Ministério dos Negócios do
Império em 27 de abril de 1849.
Participando o Ajudante de Bibliotecário da Biblioteca
Pública desta Corte que existe em poder do Professor da
ESCRAGNOLLE DÓRIA
1
a
cadeira de História e Geografia desse Colégio, João
Baptista Calogeras, a História de Southey que o Professor
da 2
a
cadeira de Latim do mesmo Colégio, o Bacharel
António Gonçalves Dias, deseja consultar para o
desempenho de trabalhos que tem a seu cargo: Há Sua
Majestade o Imperador por bem que a referida História de
Southey seja entregue ao dito bacharel Gonçalves Dias,
debaixo de sua responsabilidade. O que comunica a V.
Mcê. Para seu conhecimento e execução.
Deus Guarde a V. Mcê.
Visconde de Mont'Alegre".
Prosseguia o Colégio em missão educativa retriz
quando, em 1850, veio perturbá-lo sucesso de maior
gravidade para o Rio de Janeiro em peso, a irrupção de
violenta epidemia de febre amarela, uma das mais
dizimadoras da população da capital do Império. Havia de
trazer consequência, a supressão de enterramentos nas
catacumbas das igrejas, datando daí a criação das grandes
necrópoles cariocas.
Em fevereiro de 1850, à vista de ponderações do
reitor do Colégio, no resguardo da saúde dos alunos, o
Ministro Monte Alegre recomendava ao reitor que os
internos porventura afetados de moléstias contagiosas ou
epidemias graveso fossem tratados no
estabelecimento, mas imediatamente entregues a pais ou
correspondentes.
A 13 de março de 1850, por Aviso ao reitor a este
comunicava o ministro "fizesse parar as aulas do Colégio
até depois da Páscoa, mandando os alunos para a casa
de seus pais ou correspondentes, a fim de prevenir que aí
se desenvolva a epidemia que está grassando".
A 31 de março de 1850, o Ministro Monte Alegre, à
vista de novas ponderações do reitor, participando-lhe
haverem sido atacados de febre amarela quase todos os
criados do Colégio, autorizava a continuação do
fechamento das aulas até segunda ordem.
A 6 de maio de 1850, o mesmo Ministro, atendendo
a ofício do reitor, sobre o estado sanitário do Colégio,
ordenava fossem abertas "quanto antes" as aulas do
estabelecimento. Restabelecida a normalidade, e para
coibir abusos, o Ministro Monte Alegre tomava
providências.
Para obstar impontualidades no desempenho de
cargos propôs o reitor ao governo a necessidade de dirigir
aos professores menos pontuais, uma circular participando-
Ihes que a falta de um professor à sua aula seria justificada,
o excedendo a falta a mais de três dias, e caso o faltoso
com antecedência dirigisse parte oficial ao reitor
declarando-se enfermo. Excedesse a falta três dias, por
enfermidade, deveria ainda o faltoso dirigir ao reitor certidão
de médico, selada e com firma reconhecida. Todos estes
alvitres do reitor, participava-lhe o Ministro Visconde de
Monte Alegre, haviam merecido aprovação imperial.
Pouco depois, a 1 ° de junho de 1850, comunicava o
mesmo Ministro ao reitoro poder ser chamado a lecionar
o Dr. Joaquim Manoel de Macedo por se achar com assento
na Assembleia Provincial Fluminense,o podendo ele
enquanto impedido receber vencimento algum pelo
Colégio, vencimento aplicado a substituto interino.
Também comunicava o ministro ao reitor, para
conhecimento e execução, referindo-se ao professor
Calogeras,o ser lícito a professor algum residir fora da
cidade sem permissão para tanto, mesmo enfermo, salvo
se no gozo de licença enfermasse ao findar esta. Neste
caso, justificada a enfermidade, devia ser impetrada
prorrogação de licença.
Antes do início do ano letivo de 1851, perdia o
Colégio professor eminente. A 18 de janeiro era concedida
demissão de emprego de professor de Alemão a Hermann
de Tautphoeus, à vista de representação dele atendida pelo
imperador.
Cargos oficiaiso sempre objeto de esperança ou
cobiça.o adiantemos que suba esta a ponto de haver
quem deseje a morte ou o afastamento do ocupante,
tornando-se a saúde ou os revezes da sorte dele objeto de
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
preocupação de noite e dia de candidatos à vaga,
preocupação que o otimismo manda crer carinhosa.
Vaga a cadeira de Alemão, pelo pedido de demissão
de Tautphoeus, logo se apresentaram dois candidatos, Luiz
de Azevedo Júnior e Bertholdo Goldschmidt, sobre cuja
idoneidade para o emprego o governo desejava informação
do reitor.
Nenhum dos dois candidatos alcançaria nomeação.
Por decreto de 3 de fevereiro de 1851 era nomeado
professor de Alemão o Dr. Jorge Gade, brasileiro
naturalizado. Sacramento Blake adianta ter ele sido
professor de línguas modernas na escola prussiana de
Eiderferd.
Do início até hoje inscreveu sempre o Colégio no rol
de professores personalidades estrangeiras ou
descendentes de alienígenas.
Calogeras, o grego, tendo solicitado demissão de
professor da 1
a
cadeira de História foi nesta provido o Dr.
Joaquim Manoel de Macedo. Logrou nomeação para a 2
a
o monge beneditino frei Camillo de Montserrate, expedindo-
se aviso ao abade do mosteiro do Rio de Janeiro, para frei
Camillo poder exercer o magistério no Colégio.
Frei Camillo, no século Camillo Cléon, trazia nome
dos pais adotivos. Na verdade era Bourbon, filho natural
do Duque de Berry, gênito do conde de Artois, depois rei
de França, dinasticamente Carlos X.
Ano antes da nomeação para o Colégio professara
Camillo Cléon na Ordem Beneditina no Rio de Janeiro.
Tinha 32 anos, nascido em Paris a 14 de novembro de
1818. Humanista, erudito, helenista e latinista por amor e
ofício, o jovem monge professor vinha honrar no mais alto
grau o magistério do Colégio a cuja frente encontrava outro
helenista, Joaquim Caetano, cujos anos de saber já se
iam contando dobrados no estudo.
Embora frei Rodrigo deo José, outro beneditino,
como vice-reitor do Colégio fosse o fiscal supremo da
disciplina dos discentes, por estes muito se interessava
Joaquim Caetano.
De tudo ficou prova na solicitude com que procedeu
na ocasião da epidemia de febre amarela de 1850,
arrebatadora de tantas vidas, entre as quais a de Bernardo
de Vasconcellos, o ministro fundador de 1837.
Dentre os alunos do Colégio alcançados pela
epidemia, dois teriam futuro mais notório, José Fernandes
da Costa Pereira Júnior, transportado para a casa de
correspondentes, e Henrique Francisco dÁvila,o levado
a casa por ser tempo chuvoso quando adoeceu.
Restabeleceram-se ambos, bacharelaram-se em
letras, e em direito, entraram na política. Costa Pereira no
Partido Conservador. Ávila no Liberal, aquele deputado geral
pelo Espírito Santo, presidente de cinco províncias, Ceará,
Pernambuco, Espírito Santo,o Paulo e Rio Grande do
Sul, Ministro da Agricultura no Ministério Rio Branco de
1871 e do Império no Gabinete João Alfredo de 1888.
O aluno de 1850, Henrique Francisco d'Ávila, como
o condiscípulo Costa Pereira, teria feliz carreira politica.
Presidiria o Ceará e a província natal, o Rio Grande do Sul.
Seria ministro da Agricultura no Ministério Paranaguá de
1882, deputado geral pelo Rio Grande e finalmente por este
Senador do Império, com a honra de preencher a vaga do
Duque de Caxias.
Dois afastamentos importantes assinalariam o ano
letivo de 1851, o primeiro no princípio dela, o segundo no
seu termo.
Em março de 1851, ausentava-se do Colégio o
professor Gonçalves Dias. Encarregava-o o Governo de
correr quase todas as províncias do Norte em busca de
documentos para enriquecimento do Arquivo Público do
Império, na época dirigido pelo seu primeiro diretor Cyro
Cândido Martins de Brito.
Verificaria também Gonçalves Dias, na constância
da comissão arquivista itinerante, o estado da instrução
pública no Norte, recebendo durante a dita comissão
vencimentos integrais de professor do Colégio.
Macedo substituiu Gonçalves Dias em regência da
cadeira de História do Brasil, o douto poeta sucedido na
ESCRAGNOLLE DÓRIA
cadeira de Latim do 2
o
e 3
o
ano por Jorge Furtado de
Mendonça.
Estendia-se o escrúpulo nas nomeações até o corpo
de inspetores, buscando o Governoo fossem somente
manequins para manutenção de disciplinas, sim homens
de certa ou boa capacidade mental e até pedagógica.
No corpo de inspetores do Colégio figurava Felippe
Hypollito Ache, futuro e competentíssimo lente da Escola
de Marinha, após brilhante curso.
Em 1851, como sempre, o governo imperial nomeou
comissário para os exames do Colégio. Como sempre
também recaiu nomeação em pessoa de notoriedade
social, em 1851, o Conselheiro de Estado Visconde de
Abrantes.
A 27 de novembro de 1851 encerrava-se o ano letivo
com a costumeira solenidade da colação de grau de
bacharel em letras, solenidade invariável.
Por cuidados da Diretoria do Jardim Botânico da
Lagoa de Rodrigo de Freitas, as salas do Colégio ficavam
juncadas de folhas de cravo e canela em dias festivos.
Joaquim Caetano e frei Rodrigo deo José
aformoseavam-nas, dando últimas ordens a alunos e
empregados. À porta do estabelecimento formava guarda
de honra.
Súbito rodar de carruagem, quadrupedar de cavalaria,
vozes do capitão comandante da guarda, apresentar armas,
som de Hino Nacional.
Chegava o Imperador, recebido à porta pelo reitor,
vice-reitor e lentes, conduzido ao Salão Nobre, Sua
Majestade cumprimentado e cumprimentando.
Tomava assento no trono, ao lado da Imperatriz, e o
ato principiava pelos coros de alunos entoando o Hino da
Independência.
Procedia-se à chamada dos premiados, do primeiro
ao sétimo ano. Iam buscar recompensas nas mãos do
Imperador e da Imperatriz, a ambos apresentados os
prémios em salvas de prata trabalhada.
O principal atrativo escolar da solenidade consistia
na colação de grau, termo em geral de septênio de estudos,
permitido, entretanto, mediante sérias provas de
habilitação, matricular-se diretamente até o 5
o
ano do
curso.
Cabia imposição do barrete branco ao Ministro do
Império, em 1851 o ex-regente Visconde de Monte Alegre,
Presidente do Conselho.
A turma de bacharéis de 1850 havia contado em
seu grémio estudantes dos mais distintos aos quais, o
futuro e posições elevadas no país dariam ensejo de
confirmar créditos iniciados na juventude.
Da turma de vinte bacharéis de 1850 mais notáveis
no porvir seriam Paulino de Souza, Henrique d'Ávila,
Ministros e Senadores do Império, Ferreira Viana, Ministro
e deputado-geral, António Carlos 2
o
, lente de Direito em
o Paulo, João Ribeiro de Almeida, Barão de seu nome e
chefe do Corpo de Saúde da Armada, Caetano José de
Andrade Pinto, magistrado na Relação da Corte, Felisberto
Pereira da Silva, deputado-geral e presidente da terra natal,
o Rio Grande do Sul, em 1879.
Luzida era também a turma de bacharéis de 1851,
cuja imposição de grau se realizava na augusta presença
de S.S.M.M. Imperiais, como se dizia no tempo.
Compunham a turma vinte bacharéis, nela os rostos
juvenis de três futuros ministros de Estado de outro ministro
de Estado a receberem o barrete branco. Eram aqueles
bacharelandos de 1851, Manoel António Duarte de
Azevedo, Carlos Frederico Castrioto e José Fernandes da
Costa Pereira, os quais da Câmara dos Deputados
passariam aos Conselhos da Coroa.
As solenidades de grau eram rematadas pelo
discurso de professor de Retórica,o sem propriedade
portanto. Em 1851 lecionava a disciplina um médico, o
Dr. Francisco de Paula Menezes, amigo de letras e de
pendor para a tribuna académica, na qualo a gosto se
sentia outro professor do Colégio, Joaquim Manoel de
Macedo.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
o eram as solenidades de grau no Pedro Segundo
assinaladas apenas pela presença dos soberanos e de
membros da família imperial, pela satisfação de lentes ao
verem premiados discípulos diletos, pela alegria aindao
contaminada de mundo dos alunos recompensados.
Participavam das festas de grau quantos de coração,
por parentesco ou estima, se achavam ligados a
bacharelandos ou a premiados, sobrelevando-se a todos
alegria de progenitores.
Pouco depois de graduar a turma de 1851,a 14 de
dezembro deste ano, o Dr. Joaquim Caetano da Silva
deixava o exercício cumulativo de reitor e professor de
Grego do Colégio.
Dirigira Joaquim Caetano o Colégio por espaço de
doze anos, cinco meses e dias. Deixava a casa em boas
condições administrativas e financeiras e nem sempre lhe
fora fácil atender aos interesses do ensino. Os interesses
financeiros do Colégio, na reitoria Joaquim Caetano, foram
até auxiliados pela sorte, premiado com 20:000$000 o
bilhete n.° 3859 da 23
a
loteria do teatroo Pedro de
Alcântara contempladas na época com bilhetes lotéricos
instituições de ensino ou caridade.
o alheio às ciências físicas e naturais, Joaquim
Caetano nos últimos tempos de reitoria, bastante se
esforçara para melhorar o estudo daquelas ciências,
propondo a criação do cargo de preparador de Química.
Venceria 200S000 anuais, indicado para o cargo o boticário
José Caetano da Silva Costa, estabelecido na rua Larga
deo Joaquim 116. Inassíduo,o poderia invocar
distância do Colégio.
Desamparando esta, o reitor Joaquim Caetano
mudava de carreira, trocava o magistério e a administração
pública pela carreira diplomática, nomeado nosso
Encarregado de Negócios em Haia. Aliás havia dez anos,
estávamos sem representante junto à Holanda, último
encarregado nosso no país, em 1841, Felisberto Caldeira
Brant de Oliveira e Horta, 2
o
Visconde de Barbacena, fadado
a morrer centenário.
Afastado Joaquim Caetano da Silva da longa reitoria
do Pedro Segundo, o Governo Imperial honrava o douto e
a Casa. Retirava-se Joaquim Caetano para estabelecer
na Holanda negociações com o fito de solver a questão de
limites entre o Brasil e a Guiana Holandesa. A questão só
seria resolvida a 5 de março de 1906 pelo tratado Rio
Branco, subscrito em nome da Holanda pelo seu Ministro
residente no Rio de Janeiro, Frederico Palm.
o parou nas negociações de Haia a glória, ainda
o devidamente recompensada pela altura dos serviços
patrióticos do ex-reitor do Pedro Segundo, Joaquim
Caetano. Seria ainda o paladino de direitos nossos nos
monumentais volumes do "L'Oyapoc et TAmazone"
escritos em francês pelo antigo estudante de Montpellier,
defendendo direitos do Brasil sobre as fronteiras do Oyapoc
e da serra de Tumucumaque contra pretensões francesas,
levando a Guiana Francesa até o Araguari e o Rio Branco.
Terminada a questão, a 1 ° de dezembro de 1900, na
presidência Campos Salles, pelo laudo de Berna, a favor
do Brasil. Amparando-lhe causa, nosso representante em
missão especial, o Barão do Rio Branco, sobremaneira se
valeu da obra de Joaquim Caetano. Tornou-se indispensável
para redação da primeira e segunda memória nossa
apresentadas ao árbitro, o presidente da Confederação
Helvética, junto à qual, para adversário, a França deputara
o embaixador Pierre Bihourd.
Na defesa de nossos direitos territoriais assinalaram-
se, pois, dois professores do Colégio: Joaquim Caetano e
Rio Branco.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Uniformes de gala em 1855. O desenho original pertence ao acervo
do Museu do Colégio.
V
O Colégio de 1851 a 1855
Terceira Reitoria do Colégio Relatório do Dr. Justiniano José da Rocha
Administração Souza Corrêa Reforma Pedreira Retirada Souza Corrêa.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Deixando Joaquim Caetano a reitoria do Pedro
Segundo, a 14 de dezembro de 1851, mister foi
escolher-lhe condigno substituto. Escolha e substituição
a cargo do Ministro do Império, o Visconde de Monte
Alegre,o demoraram. Recaíram sobre o Capitão-de-
mar-e-guerra José de Souza Corrêa, do qual foi traçada
biografia no 2
o
volume do Anuário do Colégio em 1915.
O primeiro reitor fora um frade, o segundo um sábio,
o terceiro seria um homem do mar. Contraste frisante.
Do burel e da cruz ao livro, do livro e da pena à espada e à
âncora.
Quem era o capitão-de-mar-e-guerra designado para
comandar o Colégio?
Quantos tratam do Pedro Segundo mencionam
apenas o nome e o cargo de Souza Corrêa, as datas de
sua nomeação e demissão. Documentos do Arquivo e da
Biblioteca de Marinha auxiliam, porém, a mostrar a figura
de Souza Corrêa com traço firme e real.
O terceiro reitor do Pedro Segundo era português
como o primeiro. Nascera em Santarém, onde na igreja
do convento da Graça foi sepultado Cabral, nosso
descobridor.
Aos 17 anos Souza Corrêa assentava praça na
Brigada Real de Marinha, vindo ao Brasil com o Príncipe
Regente. Em 1820 nomearam-no lente substituto da
Academia de Marinha, em 1844, lente proprietário, hoje
se diria catedrático, da mesma Academia. Ano antes fora
reformado, galões de capitão-de-mar-e-guerra aos punhos.
Após sete anos de reforma e vida privada via-se
Souza Corrêa terceiro reitor do Colégio de Pedro Segundo.
Encontrava a Casa organizada, em pleno funcionar, com
movimento pedagógico adquirido. Lente jubilado de ensino
superior,o era, pois, estranho ao magistério, ao lado
dos professores do Colégioo um intruso, sim um par.
É tradição, porém, ter Souza Corrêa conservado na
reitoria do Pedro Segundo, locuções de velho marujo.
Chamava, talvez por graça, às salas de aulas "beliches",
à portaria "portaló". "tombadilho " era a sala da diretoria.
A reitoria Souza Corrêa assinalar-se-ia por movimento
notável de reforma do ensino secundário e primário. Tal
movimento fora determinado pela inspeção de professor
do Colégio aos institutos de ensino da Corte por
incumbência do Governo.
A 5 de abril de 1851, o Dr. Justiniano José da Rocha
apresentava relatório ao Governo. Fez época, pelo
desassombro. Nenhum mal do ensino deixou de ser
apontado pelo professor do Pedro Segundo. Multiplicação
de colégios sem necessárias garantias, improvisação de
educadores da mocidade, açodamento de pais em formar
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
filhos a trouxe-mouxe de saber, diretores de colégios pouco
escrupulosos no desejo deo perder clientela, tudo
Justinianos a nu.
Como providência de reação lembrava ao Governo
o professor do Pedro Segundo a criação de inspetoria de
aulas públicas e particulares, instituição de colégio de
externos com um reitor e um censor de estudos, com
professores nomeados por concurso, a este concorrendo
os professores de estabelecimentos particulares,
"recompensando e prometendo futuro aos que se
dedicavam ao triste lidar do magistério".
Extenso o estudo do Dr. Justiniano, publicado em
anexo no Relatório do Ministério do Império de 1851. Da
longa exposição convém reter algumas providências
propostas ao governo imperial.
Uma: quando estrangeiro o diretor de qualquer
estabelecimento de educação ser-lhe-ia exigido que pelo
menos metade do corpo docente fosse brasileiro, e sendo
brasileiro o diretor pelo menos um terço.
Outra providência: no fim de cada ano letivo todos
os alunos dados por prontos em quaisquer
estabelecimentos de instrução secundária nas matérias
de ensino do externato (inclusive os do Pedro Segundo)
apresentar-se-iam em concurso geral. Constaria o concurso
de tantas provas escritas, feitas em dias sucessivos,
quantas fossem as matérias do externato. Amparariam
os concursos todas as seguranças contra a injustiça e o
patronato, coisa facílima, admitida a prática dos colégios
franceses.
Propunha o Dr. Justiniano que os cinco melhores
alunos distinguidos pelo concurso geral fossem
matriculados gratuitamente nas Academias, recebendo
coleção de compêndios adotados nas que quisessem
frequentar.
Ainda mais, se todos os cinco premiados fossem
alunos do mesmo estabelecimento, o diretor deste seria
condecorado, igualmente agraciado o diretor que em três
anos consecutivos apresentasse alunos premiados,o
premiado o aluno maior de 18 anos.
As provas do concurso geral conferiria aos
aprovados o diploma de bacharel em letras.
O Dr. Justiniano José da Rocha estudara
humanidades em França, no Liceu Henrique IV. Imbuíra,
pois, o seu Relatório de 1851 muita pedagogia francesa,
assim a do concours general seguido em ponto menor pelo
palmarés ou lista de prémios concedidos em uma escola
a cabo de ano letivo.
Profundamente nacionalista, o Dr. Justiniano da
Rocha chamava a atenção do Governo para a nacionalidade
de estrangeiros, muitos diretores de colégios tidos por
brasileiros.
"Parece-me isto de suma gravidade, dizia um dos
cardeais objetos da educação da mocidade deve ser infundir
o culto da pátria, o conhecimento de suas glórias, o amor
às suas tradições, o respeito aos seus monumentos
artísticos e literários, nobre aspiração torná-la mais bela e
mais gloriosa. Esse sentimento de religiosa piedade para
com a nossae comumo se ensina com preleçôes
catedráticas, comunica-se, porém, nas mil ocasiões em
que se apresentam no correr da vida e das lições colegiais,
mas para comunicá-lo é necessário tê-lo".
Enquanto o Governo e Justiniano José da Rocha se
entendiam a respeito de reformas de ensino, o reitor Souza
Corrêa buscava administrar economizando.
Ao assumir cargo inventariara o estabelecimento.
Parecera-lhe excessivo ter encontrado na vestiaria 828
lençóis e 711, tudo de bom linho. Propôs ao governo
fossem uns reservados à enfermaria, vendendo-se o
excesso de roupa. Aplicar-se-ia o produto da operação na
compra de camas de ferro para dormitórios. Opinava
igualmente Souza Corrêa pelo aluguel das lojas da casa
da reitoria, vistoo oferecerem cómodos para família.
Comunicava Souza Corrêa ao Ministro do Império,
Visconde de Monte Alegre, ter achado excessiva a lavagem
de roupas da casa por 90, 100 e 130S000, providenciando
nesta e noutras despesas no sentido da economia. Nas
pequenas despesas do Colégio figuravam remunerações
ESCRAGNOLLE DÓRIA
a subalternos cuja mençãoo deixa de ser curiosa por
evidenciar o custo da vida naquela época, os criados do
Colégio vencendo 14$000 mensais, o despenseiro e o
cozinheiro 30S000.
Contra algumas medidas do reitor representou o
tesoureiro do Colégio, por ver nelas invasão de suas
atribuições. Sem apurar o caso, era o eterno conflito entre
subordinado,o raro no hábito de abusos, contra o
superior desejoso de modificar corrigindo, a bem da causa
pública.
Apoiou, porém, o Governo, in totum, o reitor,
autorizando-o a tomar todas as providências necessárias
à economia e regularização de despesas.
o se estendeu só ao administrar o zelo de Souza
Corrêa. No impedimento do professor de Matemática Lino
António Rabello lecionou a cadeira aos alunos do 5
o
e 6
o
ano, louvado por isto pelo governo imperial.
Na reitoria Souza Corrêa em 1852, em março,
entravam a lecionar Grego o Dr. Jorge Gade, transferido
da cadeira de Alemão e Tautphoeus renomeado para ela.
Enquanto estudava o relatório de Justiniano José
da Rocha, nomeava o Governo o Barão de Kulner para
substituto interino da cadeira de Inglês, exonerado a pedido
o tesoureiro Firmo José Soares da Nóbrega, entregando
ele cargo a sucessor, Graciano Leopoldino dos Santos
Pereira.
Souza Corrêa continuava administrando e
providenciando. Assim mandava pintar a capela do Colégio,
à própria custa. Homem de mar estava acostumado a
respeitar Deus no infinito do oceano.
Mandou pintar a capela do Colégio e o corredor que
a ela conduzia "pelo estado de indecência em que se
achavam", pedindo que o governo aceitasse como pequena
oferta ao Colégio a quantia de 3245000, em que importara
a respectiva despesa.
Por Aviso de 29 de abril de 1852, o ministro Monte
Alegre agradeceu as despesas da pintura satisfeitas com
o ordenado do reitor, agradecendo a oferta, em nome de
Sua Majestade o Imperador.
Acrescentava, porém, o ministro: "Louvo o zelo
que manifesta pela prosperidade do Estabelecimento
confiado à sua direção sem que porém anua ao sacrifício
que quer fazer da ténue retribuição que lhe dá o Colégio
para aplicá-la àquela despesa, que aliás deverá ser paga
pelos fundos do Colégio".
Em maio de 1852 cumpria a Souza Corrêa prestar
atenção ao provimento interino da cadeira de Grego. Jorge
Gade, professor para ela nomeado em março, partia para
a Europa no gozo de licença de um ano, sem vencimento
algum.
Mal saía do Rio de Janeiro, requeria Alexandre Audret
a regência interina da cadeira. O Governo decidiu ouvir o
reitor sobre a pretensão e o pretendente. Opinava Souza
Corrêa pela nomeação interina de Tautphoeus, substituído
este na cadeira de Alemão.
Pouco depois deixava Pasta do Império o Visconde
de MonfAlegre, sempre assim se assinava
nobiliarquicamente José da Costa Carvalho, antigo
Regente do Império.
Substituiu-o na Pasta Gonçalves Martins, futuro
Visconde deo Lourenço, um dos vultos mais notáveis
e operosos da terra natal, a Bahia, sobre prestimoso
servidor do Brasil.
Recomendava o novo ministro a maior atenção
quanto à assiduidade dos professores, providenciando o
reitor em relação aos faltosos, tornando-se "indispensável
prover-lhes a substituição, poro ser do interesse da
instrução que as lições deixassem de ser dadas aos
respectivos alunos".
Completava Gonçalves Martins a instante
recomendação concedendo trimestre de licença ao
professor de Latim, Castro Lopes, devendo este indicar e
pagar à sua custa substituto idóneo.
Quinzena de licença era também concedida a
Gonçalves Dias, este sem prejuízo de vencimentos, para
escrever sumário da instrução pública nas províncias do,
Norte.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Só em julho de 1852 uma portaria de Gonçalves
Martins preenchia interinamente a cadeira de Alemão,
Tautphoeus além da de Grego. Entrava para o corpo
docente do colégio, Bertholdo Goldschmidt. enquanto
daquele desaparecia o professor de Inglês, Guilherme
Fairfax Norris, falecido a 23 de julho de 1852.
Outro professor também se retirava do Colégio,
exonerado a pedido, a 5 de agosto de 1852, Gonçalves
Dias, o proprietário da 2
a
Cadeira de Latim. Oferecia-se,
porém, o demissionário para lecionar, gratuitamente, a
cadeira de História do Brasil até o fim do ano letivo.
Recebia então o Colégio Ernesto Ferreira França Júnior para
a regência interina da cadeira de Inglês, vaga pelo óbito
de Norris.
Pouco depois, em setembro de 1852, perdia o reitor
prestimoso auxiliar, no Colégio figura venerável e útil, o
vice-reitor frei Rodrigo deo José.
Nascera a 9 de agosto de 1789, na Bahia, filho do
intendente do Ouro, Dr. Marcellino da Silva Pereira. Monge
beneditino aos 18 anos, viera ao Rio de Janeiro, em 1820.
Aí mais tarde exerceria dignidade abacial no mosteiro de
sua Ordem, dignidade amargurada por desgostoso
poucos. Desaparecia frei Rodrigo em 1852,aos 63 anos
de idade, dos quais os últimos consagrados ao Pedro
Segundo,o tendo a idade conseguido vencer-lhe férrea
vontade.
Outro monge, outro beneditino, substituiria frei
Rodrigo, frei Luiz da Conceição Saraiva, irmão do político
do Império, o Conselheiro Saraiva, e futuro Bispo do
Maranhão.
Com estes principais sucessos findava o ano letivo
de 1852, marcados nele os exames para 8 de novembro
de 1852, com a presença e fiscalização do Comissário do
Governo, o Visconde de Abrantes.
Findos os exames, sempre com a presença do
Imperador, bacharelava-se a turma dos setimanistas de
1852. Figuravam entre eles dois que muito amor
demonstrariam sempre ao Colégio, Manoel Duarte Moreira,
só mais tarde Moreira de Azevedo, futuro professor da
Casa; Anastácio Luiz do Bonsuccesso, de tantos serviços
à vindoura instituição, ao Instituto dos Bacharéis em Letras.
No período de férias do Colégio continuava
Gonçalves Martins a ocupar-se incessantemente com o
estabelecimento, no zelo pelo interesso público. Inspirava
este determinação do ministro de mandar o Colégio
executar obras de encadernação nas oficinas da Casa de
Correção, preferindo-as a qualquer outra para a feitura de
livros em branco. O Estado protegia o Estado.
Também antes de iniciar-se o ano letivo de 1853, na
reitoria Souza Corrêa, iluminava-se as o Colégio.
Beneficiava de pronto pelo melhoramento havia pouco
introduzido no Rio de Janeiro, cujas ruas mais centrais
conheceram clarear des a 25 de março de 1852,
solenizada em progresso mais uma data do juramento da
Constituição do Império, o Brasil sempre na vanguarda
da aplicação das grandes ou pequenas conquistas da
civilização.
O ano letivo de 1853 principiava com o Colégio todo
iluminado as e pintado de novo, por 870S000, informação
para quantos estudam o custo da antiga vida nacional.
De fevereiro a março de 1853, o corpo docente do
Colégio sofria alteração.
Gonçalves Dias deixava de reger grátis a cadeira de
História do Brasil, transferido provisoriamente para ela
Joaquim Manoel de Macedo, professor de Geografia e
História Moderna.
Castro Lopes saía da cadeira de Latim do 4
o
ao 7
o
ano , exonerado por pouca assiduidade. Vinha ocupar,
cátedra, a título interino, outro médico, o Dr. António José
de Souza.
Novo elemento para o corpo docente era, proposto
pelo reitor Souza Corrêa, o Dr. Valdez y Palácios,
substituindo interinamente na cadeira de Inglês o professor,
também interino, Ernesto Ferreira França Júnior.
No meio do ano letivo retirara-se de vez do Colégio
o professor de Grego, Jorge Gade, substituído por
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Tautphoeus, vigilante sempre o Governo quanto à
assiduidade dos professores. Pelo Aviso de 6 de junho de
1853, o Ministro Gonçalves Martins pedia ao reitor que
"ouvisse Joaquim Manoel de Macedo se havia
probabilidade de continuar enfermidade sua para
providenciar-se sobre imediata substituição".
Só uma vez ministro, e do Império, foi, entretanto,
Gonçalves Martins dos mais operosos e diligentes
ocupantes daquela pasta dos negócios públicos, pasta
política na monarquia brasileira.
No ministério único de Gonçalves Martins, gestão
de 483 dias, teriam início muitos melhoramentos no Brasil
e sobretudo no Rio de Janeiro, melhoramentos aqueles à
testa dos quais se encontrou sempre Mauá, ainda somente
na época Irineu Evangelista de Souza.
Seria, porém, coisa mais rara do que se pensa, o
operoso Gonçalves Martins substituído por outro operoso,
tanto ou mais do que o antecessor.
Em setembro de 1853, nas vésperas de memória
da Independência, organizava o Visconde, depois Marquês
de Paraná, famoso Ministério entre os numerosos
Gabinetes Monárquicos, dez no Primeiro Reinado, doze
na Regência e onze no Segundo Reinado até a ascensão
de Paraná.
Presidente do Conselho de Ministros de fato em
1843, e de direito em 1853, a Presidência do Conselho
de Ministros criada a 20 de julho de 1847, pela
conveniência de dar a ministérios organização mais
adaptada às condições do sistema representativo, seria
Paraná o 6
o
Presidente do Conselho após a criação do cargo
no Ministério Alves Branco.
Ficaria o Gabinete Paraná marcado para a História
com o nome da ideia principal de sua formação. Paraná
chamou a governo membros dos dois partidos políticos, o
Conservador, ao qual ele pertencia, e o Liberal, abrigando-
Ihes representantes no Ministério conhecido por isto pelo
da Conciliação.
Apreciar os intuitos e os serviços do organizador e
bem assim os do gabinete por ele compostoo cabe
neste ensaio da vida do Pedro Segundo. Com os latinistas
dele diremos non erat his locus.
Do Ministério Paraná cumpre, porém, apartar o
Ministro do Império,o só por ele ser administrativamente
o superintendente supremo do Colégio como de envolta
com os interesses daquele ser também um grande
remodelador da instrução pública brasileira.
Conhecia-a bem, lente substituto e depois
catedrático da Faculdade de Direito deo Paulo.
Remodelara-a, presidente de província, no Espírito Santo
em 1846, do Rio de Janeiro em 1848.
Está nomeado Conselheiro Luiz Pedreira do Couto
Ferraz duplicando ele o "t" em o nome de família. Futuro
Barão e Visconde de Bom Retiro, o Conselheiro Pedreira
gozava de excepcional estima de D. Pedro II, deste amigo
de infância, respeitosa e discretamente fiel até o túmulo.
Também o imperador, ao visitá-lo no leito de morte, havia
de declará-lo "a consciência mais pura que conhecera".
o era dizer pouco. Valia muito tal conceito de soberano
que, em reinado semi-secular, avaliara tantos homens da
mais variada espécie na zoologia social e política.
Nascido no Rio de Janeiro, em 1818, o Ministro do
Império, Pedreira, em 1853 contava 35 anos. No vigor da
idade, no continuar brilhante carreira política a afastá-lo
do magistério superior, pretendia fazer muito, e muito fez
na gestão da Pasta para a qual o designara a clarividência
de Paraná.
Em 1851, o Poder Legislativo entregara ao Governo
autorização para reforma do ensino primário e secundário
do Município da Corte ou Neutro. Lançando mão da
medida legislativa, Pedreira realizou a projetada e adiada
reforma por um Regulamento aprovado pelo decreto de 17
de fevereiro de 1854.
De tal regulamento disse justiça alheia, assim se
exprimindo:
"Este regulamento seo foi obra completa,
encerrava todos os gérmens preciosos sobre a educação .
de que tanto se ufanam hoje as nações civilizadas, sendo
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
para lamentar que disposições importantes nunca fossem
postas em prática, e outras só mui tardiamente e sob
vistas diversas. Estão nesse caso as que se referem ao
ensino obrigatório, ao estabelecimento das conferências
pedagógicas e ao das escolas do 2
o
grau".
Na Reforma Pedreira, de 1854, foram incluídas
algumas medidas propostas pelo professor do Colégio de
Pedro Segundo, Justiniano José da Rocha, no referente
ao ensino particular primário e secundário.
Estatuía a reforma estímulo para este. Anualmente,
em novembro, os alunos de colégio particulares seriam
admitidos a exames escritos de todas as matérias exigidas
como preparatórios para entrada no ensino superior.
Os alunos distintos em tais provas gozariam de
isenção de matrícula para receber grau de bacharel em
letras no Pedro Segundo, gozariam da mesma isenção no
ensino superior e finalmente no Colégio teriam preferência
na nomeação para repetidores.
"Estabelecendo este regime de concursos foi por
outrem ponderadoo quis o reformador, divergindo
nesse ponto da proposta do Dr. Justiniano da Rocha,
estendê-lo ao bacharelado em letras. Contentou-se em
declarar que de futuro poder-se-iam ampliar os concursos
a todas as matérias constitutivas do curso do Colégio de
Pedro Segundo".
Ajudado pelo Inspetor-Geral do Ensino Primário e
Secundário, figura notável, a do Visconde de Itaboraí, o
Ministro Pedreira em 1855, por meio de instruções
expedidas a 5 de janeiro, completava a reforma de 1854.
De acordo com esta e com as instruções anexas
ficou o Colégio de Pedro Segundo dividido em duas classes
de estudos. Consideravam-se estudos de 1
a
classe os do
1
o
ao 4
o
do curso, de 2
a
classe os do 5
o
ao 7
o
ano. No
ensino de línguas vivas da 1
a
classe estava compreendida
a conversação nas mesmas línguas entre professor e
discípulos.
A dança e a ginástica preencheriam horas de recreio,
as aulas de Música e Desenho dadas às quintas-feiras.
Os exames do Colégio deveriam ser prestados sobre
pontos tirados à sorte dentre os formulados pelo Conselho
Diretor de Instrução Primária e Secundária. Tais pontos
abrangeriam para os exames do 4
o
ano as matérias dos
cursos de estudos da 1" classe, para os exames do 7
o
ano
as matérias do curso de estudos da 2
a
classe e para os
outros anos apenas as matérias ensinadas em cada um
deles.
A Reforma Pedreira teve início de cumprimento na
reitoria Souza Corrêa, o capitão-de-mar-e-guerrao alheio
às causas do ensino por ele ministrado aos alunos da
Academia de Marinha, como já foi dito.
Em breve, porém cessaria a sua ação no Colégio
de Pedro Segundo de onde, a 24 de outubro de 1854, já
desaparecia, por falecimento, o professor de Inglês Dr.
José Manoel Valdez y Palácios.
Peruano de nascimento, advogado, teve de deixar a
pátria por motivo de perseguições políticas. Para salvar a
vida e a de um filho atravessou os Andes, foi ter ao Pará,
daí se transferindo para o Rio de Janeiro, mal refeito de
penosa viagem de Cuzco a Belém, varando rios, avaliados
os transes da vida do Dr. Valdez na fuga repentina, na
passagem de abismos e desertos, com um menino que
mal movia os passos. Viagem de contemplações e
horrores, de termo em Cocabambilla, onde Valdez se veria
a salvo de inimigos. Mas até certeza de vida, quantos
obstáculos ante pai e filho: atravessar de rochedos,
sotoposição de montes debaixo dos pés, frio insuportável,
vento furioso, abrigo em cavernas, passagem por um
vulcão, num espaço de 10 ou 12 milhas de circunferência
a dois mils aproximadamente de profundidade,
contendo em tal superfície mais de sessenta crateras
cónicas já apagadas, em aspecto ondeante de superfície
inconsistente. Tudo dito pelo Dr. Valdez, em livro publicado
no Rio de Janeiro em 1844.
Segundo Porto Alegre, "no meio destes magníficos
episódios do grande livro da terra, no meio do ansiar aflitivo
do leitor, Valdez fazia alguma vez rir quando se pintava
ESCRAGNOLLE DÓRIA
ironicamente, e se considerava com o seu escudeiro (o
filho) como dignos da musa humorística de Cervantes".
Após provações sobre provações, o Dr. Valdez,
embora sempre pobre, devia ter o Rio de Janeiro pelo
paraíso terrestre. Naturalizou-se, lecionando no Colégio
de Pedro Segundo e no Liceu de Niterói, um dos redatores
de Minerva Brasiliense, colaborando no Correio Mercantil
e fundando A Nova Minerva, periódico científico, moral,
artístico e literário. Lutou sempre tanto com a sorte o Dr.
Valdez y Palácios que, ao ser sepultado, um orador resumiu
adeus dizendo: "Vai começar tua primeira hora de
felicidade".
Em junho de 1855, retirou-se do Colégio o capitão-
de-mar-e-guerra José de Souza Corrêa, nomeado em 1851,
em substituição ao segundo reitor Dr. Joaquim Caetano
da Silva.
o tinha Souza Corrêa o mérito intelectual, nem a
erudição do antecessor. Contudo, soube sempre conduzir-
se de modo digno no exercício do cargo, em boas relações
com os ministros do Império dos quais dependia.
Deram-lhe apoio e robusteceram força moral,
condições indispensáveis a quem dirigindo se vê
dependente de aprovação e auxílio superior.
Deixando a reitoria do Pedro Segundo, exercida por
três anos e meses, Souza Corrêa passou cargo ao vice-
reitor interino Jorge Furtado de Mendonça, professor de
Latim desde a fundação do Colégio.
Retirava-se com honra o terceiro reitor, afastando-
se do posto com sossego de consciência. Tal o confere
dentro de si próprio o bem intencionado, à espera da justiça
divina, tantas vezes suprindo a humana, falível ou ratinhada
pela inveja.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
VI
O Colégio de 1855 a 1858
Início da Reitoria Pacheco da Silva Reforma Pedreira Património do Colégio
Gonçalves da Silva e Joaquim Manoel de Macedo Divisão do Colégio em
Externato e Internato Instalação Deste Seu Primeiro Reitor Paula Menezes
Sete de Setembro de 1857 Novos Professores Imprensa Colegial
Colação de Grau de 1858 Incidentes Colegiais.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Exonerado Souza Corrêa de reitor do Colégio em junho
de 1855, teve o Governo imperial de prover
substituição.
Empenhou-se, sobretudo, no intento o principal
responsável ante o Imperador, pelo acerto da escolha, nas
questões relativas ao Colégio indispensável ouvir o
Imperador.
Era aquele responsável o Ministro do Império,
Conselheiro Pedreira. Nem deixaria Pedreira de consultar
o soberano seu amigo, nemo pouco ao Presidente do
Conselho, Paraná, Visconde elevado a Marquês a 2 de
dezembro de 1854, natalício de D. Pedro II.
Recaiu afinal a escolha para quarto reitor do Colégio
no Dr. Manoel Pacheco da Silva, em exercício a 10 de
setembro de 1855. Encontrava a Casao mais dirigida
pelo vice-reitor interino Jorge Furtado de Mendonça,
substituído pelo monge beneditino José da Purificação
Franco.
Nascera Pacheco da Silva, o novo reitor, no Rio de
Janeiro, em 1812, do consórcio de pai baiano ee
andaluza. Doutorara-se em Medicina no Rio de Janeiro
em 1839.
Caber-lhe-ia continuar aplicação da Reforma
Pedreira no Colégio a cuja reitoria fora chamadoo sem
haver já mostrado interesse por questões pedagógicas.
No início da administração Pacheco, existiam no
Colégio quatro classes de alunos: pensionistas de 1
a
classe, com direito a repetidores em horas de estudo,
médico, botica,o se dizia ainda farmácia, refeitório,
banhos, roupa lavada e engomadas; pensionistas de 2
a
classe com as mesmas vantagens, salvo lavagem e
engomado de roupa; meio-pensionistas e externos. A
matrícula anual para todos custava 12S000, a pensão
trimestral, de acordo com as classes, 100S000, 75S000,
37S000 e 24S000. A aula de Italiano, criada em 1855, e
regida pelo Dr. Luiz Vicente De Simoni, também professor
de Latim, era considerada avulsa, com pagamento à parte.
Qualquer sociedade humana baseia manutenção
no prémio e no castigo, ideias derivadas de princípios
eternos, o bem e o mal. Para premiar dispunha o reitor de
meios, de outros para castigar. Tinham estes a seguinte
ordem: repreensão, trabalhos nas horas de recreio,
prisão com trabalho na cafua, comunicação aos pais para
elevação de punições, expulsão do Colégio, com vénia do
Inspetor-Geral da Instrução Pública.
Para auxílio de estudos, mormente dos pensionistas
de 1
a
e 2
a
classes, haviam sido criados seis lugares de'
repetidores. Um para Grego e Alemão; um para Francês e
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Inglês; um para Matemática; um para Filosofia e Retórica;
um para Latim; um para Ciências Naturais com encargos
de preparador e conservador.
Morariam os repetidores no Colégio, com direito a
sustento. Venceriam 4005000 por ano; o repetidor de
Ciências Naturais, por acumular funções, teria 600$000,
ordenado dos demais repetidores, enquantoo residissem
no Colégio. Deveriam obter nomeação mediante concurso
e no decorrer de aulas serviriam como inspetores de
alunos. A fiscalização do ensino no Colégio cabia ao
Inspetor-Geral da Instrução Pública, reservada ao reitor a
inspeção direta das aulas e a direção económica da casa.
Assumindo reitoria, em meados de 1855, o Dr.
Pacheco presidiria ao bacharelado da turma de 7
o
ano
composta de oito jovens um dos quais se distinguiria no
professorado do Colégio, Evaristo Nunes Pires.
Em 1855, prestando diretamente exames par o 5
o
ano, matriculava-se na casa, menino de doze anos
chamado Alfredo Maria Adriano d' Escragnolle Taunay,
futuro Senador do Império e autor de duas obras imortais,
na literatura pátria e fora dela, a primeira pelo número de
traduções, Inocência e A Retirada da Laguna.
Deixar-nos-ia, em 1890, notas sobre pregressa vida
escolar e nelas muitas impressões de várias espécies,
sobre o Colégio e seu funcionamento.
Declarava Taunayo ter sido nos anais do Colégio
dos mais felizes o ano letivo de 1856, desavindos o reitor
e quase todo o corpo docente. Por quê?o nos foi dito.
O professor de subida força moral na época era João
António Gonçalves da Silva, mais conhecido por Bacharel
Gonçalves, graduado em letras pelo Colégio em 1845. Em
1855, substituía frei Camillo de Montserrate nomeado
diretor da Biblioteca Nacional. O bacharel Gonçalves,
dispondo de muita audácia e pretensão, tinha reais aptidões
para o professorado. Conhecia de pronto os bons
estudantes, sabia estimulá-los e encaminhá-los, à maneira
dos espartanos em relação aos ilotas, aproveitando vadios
e madraços, para exemplo e contraste.
A desunião entre reitor e corpo docenteo podia
deixar de trazer consequência, indisciplina colegial
resultante da falta de harmonia dos encarregados de mantê-
la nas aulas sem apoio da primeira autoridade da casa.
Releva-se em jovens a turbulência, a insolência não.
Traquinadas dos alunos, algumas sem atenção a
professores ilustres quais frei Camillo e Tautphoeus,o
encontravam imediato corretivo, eo lhes teria faltado
no tempo do vice-reitor frei Rodrigo deo José.
Compreende-se, pois, que jovens se atrevessem a
alcunhar professores, o de Física e Química tido pelo
Besouro, "por causa do modo monótono e igual de expor
lição".
Ao iniciar-se o ano letivo de 1856, aviso do Ministro
do Império, o reformador Pedreira, aprovou provisoriamente
os primeiros programas de ensino do Colégio, organizados
pelo Conselho Diretor da Instrução Pública.
Conforme fonte oficial "foram um progresso para a
instrução secundária,o só porque estabeleciam a
orientação dos estudos de um modo analítico, mas também
porque traziam as indicações dos livros didáticos".
Desde 1851 conhecia o Imperial Colégio programa
impresso para exames. Nele se mencionavam o tribunal
de exame, por ordem de antiguidade dos professores, o
tribunal de julgamento, o nome dos alunos ano a ano, por
ordem de antiguidade, e a lista dos pontos para exame,
disciplina por disciplina.
Em 1856 terminaria a independência económica do
Colégio, oficializado apenas pedagógica e
administrativamente desde Bernardo de Vasconcellos.
Pela lei orçamentária do exercício financeiro de 1852-
1853, fora concedido ao governo a faculdade de levar à
hasta pública os prédios do património do Colégio, outrora
constituído por legados e doações com fins expressos,
convertendo em apólices inalienáveis o produto da venda
dos imóveis.
Daí serem leiloados oito dos prédios do Colégio, três
o encontrando adquirentes. Eram imóveis bem situados,
na parte central e comercial da cidade. O último dos três
ESCRAGNOLLE DÓRIA
prédios inalienados em 1856 foi o da Rua Estreita deo
Joaquim, n.° 66 à ilharga do Colégio, utilizado para serviços
deste. Arrematou-o na República a Prefeitura Passos, por
34:000$000, quando do alargamento da Rua Larga deo
Joaquim, hoje Avenida Marechal Floriano.
O ano de 1856, malaventurado na disciplina,
encerrou-se com sombrios vaticínios para os alunos.
Tinham culpas eo se lembravam do destino das cordas
até nos patíbulos arrebentando pelo lado mais fraco. O
lente de Latim, Dr. António José de Souza, anunciou a
catástrofe com solenes palavras na aula de despedida.
"Meus amiguinhos, breve chegará para vocês, odies illa,
dies irae." Veio o dies irae em novembro de 1856; com
os exames, presente o Imperador, os alunos todos
encasacados. Houve rigores e injustiças, quando
reprovação doía ao reprovado, a ponto de levar ele tempos
e tempos sem sair à rua por vexame, certos pais
mandando fechar janelas dando para a rua em sinal de
pesar.
Deu bom resultado o dies irae de 1856, embora
alguns justos pagassem por chusma de pecadores. Trouxe
calma e regularidade ao ano letivo de 1857, honradas as
aulas do Colégio, vez ou outra com a presença de
personagens. Um: Eusébio de Queiroz.
"Que homemo simpático este! Anotou Taunay.
Ainda me lembro da atração que sentia ao vê-lo,
admirando-lhe os olhoso grandes,o serenos e de azul
puro!". A impressão da meninice persistia viva na
memória de Taunay, afinal Senador do Império como o
fora Eusébio.
Foi 1857 ano típico para o Colégio, até então
conjuntamente internato, semi-internato e externato. A 3
de maio de 1857 deixava o governo o Ministério da
Conciliação. Falecera a 3 de setembro de 1856 o seu
organizador, o Marquês de Paraná, fora o gabinete
continuado, por algum tempo, na Presidência do Conselho
pelo Ministro da Guerra, o Marquês de Caxias, já de tanta
luz como general e pacificador.
A 4 de maio de 1857, pela segunda vez Presidente
do Conselho, antigo Regente do Império, o Marquês de
Olinda organizava ministério. Reservou-se nele a Pasta
do Império na qual acabavam de revelar tanta operosidade
próximos antecessores. Gonçalves Martins e Pedreira.
Por inspiração de Olinda foi baixado o Decreto de
24 de outubro de 1857 cujo Regulamento secionou a
fundação de 1837, em dois estabelecimentos distintos
Externato e Internado do Imperial Colégio de Pedro
Segundo.
o se limitou o Regulamento à separação,
reformou, substituindo a divisão de estudos do Colégio,
da Reforma Pedreira, em 1
a
e 2
a
classes. Estabeleceu
curso geral de sete anos, a cabo do qual o aluno seria
bacharel em letras.
Formou curso especial de cinco anos, ao termo
deste entregue ao aluno apenas um certificado de estudos.
No dito curso eram dispensados os estudos de Desenho,
Música, Dança, Ginástica e Italiano, exigidos para o
bacharelado em letras. O curso especial representava mais
ou menos o curso do bacharelado até o 5
o
ano.
A Reforma Olinda, segundo explicação do relatório
do Ministério do Império em 1858, "tinha unicamente por
fim organizar o plano dos estudos do Colégio de Pedro
Segundo de modo que se restringisse algumas matérias
cujo excessivo desenvolvimento prejudicava o ensino de
outras disciplinas mais indispensáveis e tornar assim
possível melhor distribuição das matérias pelos diversos
anos do curso, com maior aproveitamento do tempo".
Na reitoria Pacheco, em julho de 1857, dava-se
execução à divisão do Colégio prescrita pela Reforma
Olinda. Descongestionando o Externato, pretendia
contribuir para melhorar a disciplina da Casa. Até as
tormentas aumentam pelo tamanho das naus.
Distinto ia ficar o novo Internato do antigo Externato,
instalado, aquele por aluguel, em casarão do Engenho Velho
na chamada chácara do Matta, nome do proprietário, o Dr.
Nascimento Matta.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Ir da cidade ao Largo da Segunda-Feira, com o qual
fazia esquina a chácara do Internato, coisa penosa em
1858.o dispunha o Rio de Janeiro de fáceis meios de
transportes públicos. Recentemente, Noronha Santos
compendiou-os em dois ótimos sobre alentados volumes,
"Meios de transporte no Rio de Janeiro", ricos de seguras
informações.
Em 1858, localizado o Internado do Pedro Segundo
na chácara do Matta, no bairro do Engenho Velho, cabiam
seis viagens diárias de ônibus até o Largo da Segunda-
Feira. Daí regressavam os veículos à Praça da
Constituição, hoje Tiradentes, ponto inicial dos ônibus, até
1859 transferido depois para o Largo deo Francisco.
A criação do Internato ocasionou muitas
modificações na vida do Colégio. Passou o reitor do
Externato a ter por substituto um vice-reitor, nomeado por
decreto, e tirado do corpo docente,o acontecendo o
mesmo ao vice-reitor do Internato, de simples escolha do
governo.
Viram-se melhorados materialmente os repetidores.
Houve autorização para criação reitoral de turmas
suplementares conforme o número de alunos em cada
aula. A divisão das turmas, a nomeação de professores,
dependeriam porém da aprovação governamental.
Além do vencimento, o professor do Internato teria
gratificação para transporte, arbitrada segundo
necessidade de presença no Colégio. Os vencimentos
dos funcionários do Internato sobrelevariam um pouco os
do Externato. Perceberia o reitor do Internato 4:000$000
anuais, o colega de Externato receberia 3:000$000.
Descendo na escala administrativa, o capelão do
Internato venceria 800S000, o do Externato 400$000,
estabelecida proporção para todos os cargos de uma e
outra seção do Colégio.
Instalado o Internato, informava ao Governo o reitor,
Dr. Pacheco. "Os professores do Externato, dizia ele,
exceto os docentes de Grego e de Latim do 5
o
ano, que
propunham condições, estavam prontos a servir em
qualquer das duas. Para o do Internato seguiriam os
inspetores de alunos mais antigos, fornecido para a
instalação da nova casa material pedagógico do Externato".
Teve em 1858 o Internato, por primeiro reitor, o Dr.
Joaquim Marcos de Almeida Rego, médico carioca, clínico
dos mais abalizados, irmão do Dr. José Pereira Rego, Barão
do Lavradio.
Presidente do Ceará em 1851, o Dr. Almeida Rego
fora benemérito na província pelo procedimento como
homem de bem e de ciência. Quis a província, por
gratidão, elegê-lo deputado geral, declinando ele da oferta.
Instalando o Internato, logrou Almeida Rego um bom
auxiliar, transferido do cargo de vice-reitor do Externato,
frei José da Purificação Franco. Contrabalançava no
Externato a bondade do reitor. Era disciplinador, atestou-o
em 1914, antigo bacharel do Internato, Vieira Fazenda,
dizendo-nos pitorescamente na habitual bonomia de grande
sabedor da história do berço carioca.
"Trazia-nos de canto chorado o tal vice-reitor, o
beneditino Frei José da Purificação Franco.o deixava
passar camarão por malha. Parecia até sogra ranzinza".
Assim em 1865, com maioria de razão, mais moço em
1857, devia ser disciplinador às direitas. Nem sempre se
achava coadjuvado frei José da Purificação. Muitos
inspetoreso tinham precisa força moral, daí abusos dos
alunos, contidos os meio-pensionistas por inspetor de real
prestígio, o Viegas, muito afeiçoado ao professor
Gonçalves.
Com o Viegas as brincadeiras saíam bem caras,
daí evitadas. Aliás os meio-pensionistas, sob a guarda
do Viegas, vinham de casa almoçados, a entrada no
Colégio, quando aindao dividido, marcada para as oito
e quarenta e cinco da manhã. Jantavam no
estabelecimento e dele saíam às quatro e meia ou cinco
da tarde.
No ano letivo de 1857,o assinalado na criação do
Internato, morria professor bastante querido dos alunos o
Dr. Francisco de Paula Menezes, dono da cadeira de
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Retórica e Poética, "falador a valer e figura indispensável
ao Instituto Histórico, bom coração e cheio de meiguices",
diz Taunay.
Acrescenta este: "Reuniram-se, quando ao
Colégio chegou a notícia do seu falecimento, os alunos
que ele lecionara e tratou-se, por meio de uma discussão,
que tomou logo feição de sessão, do modo de melhor
manifestarmos nossos sentimentos". Valeram-se para isto
de associação colegial a "Sociedade Recreativa".
Nela costumavam os alunos, como hoje nos grémios
congéneres, discutir, absolver ou condenar personagens
em júris históricos. Em associações tais o essencial é
falar, sem nenhum abalo do mundo universo, nem o menor
desarranjo das biografias dos personagens históricos
louvados ou incriminados.
A turma de 1857 seria a última das quinze turmas
que, desde 1843, graduara o Colégio indiviso. Contava
cinco bacharéis em letras.
Na vida pública se distinguiriam Manoel de Queiroz
Mattoso Ribeiro, filho de Eusébio de Queiroz, formado em
Direto emo Paulo, em 1863, deputado provincial na
monarquia, Senador federal na República pelo Estado do
Rio de Janeiro e vice-presidente do Senado; José António
de Azevedo Castro, formado em Direito emo Paulo,
em 1862, alto funcionário do Tesouro agraciado com o título
de Conselheiro e por longos anos até a morte, em 1911,
delegado do Tesouro em Londres, aí gozando da maior
confiança e apreço, presidente do Rio Grande do Sul em
1875; António Rodrigues Monteiro de Azevedo, formado
em Direito emo Paulo, em 1862, chefe de polícia na
província do Rio de Janeiro e magistrado na Corte; Gervásio
Mancebo, promotor público na Corte e finalmente Manoel
Thomaz Alves Nogueira, formado em Filosofia na
Alemanha, país do qual foi sempre admirador e longo
tempo habitante.
Doutíssimo, regeria Thomaz Alves a cadeira de
Grego do Colégio, autor de obras substanciosas. Para glória
do sábio escritor e do estabelecimento onde se instruiu e
lecionou mereciam ser bem mais conhecidas do que são.
Após alegrias da distribuição de prémios e da
colação de grau de bacharel, seriam as férias de 1857
assinaladas tristemente pelo desaparecimento do estimado
professor Bacharel Gonçalves. Seguia para o túmulo
acompanhado pela fidelidade de afeição do inspetor Viegas.
Segundo Taunay, 6
o
anista em 1857, era grande o
entusiasmo entre alunos, despertado pelo bacharel
Gonçalves.
Nas aulas, admiração lhes inspiravam os menores
ditos e gestos do mestre, tal ideia formavam os discípulos
das habilitações do lente, da sua elevada posição, da
influência exercida ou por exercer na sociedade brasileira,
que o falecimento de Gonçalves sinceramente pareceu aos
escolares verdadeira calamidade pública.
Diziam o bacharel Gonçalves versado em grego.
Atesta também Taunay ter o seu professor muito jeito para
o teatro, aquele cómico por natureza. Em representação
particular no Ginásio Dramático desempenhara o principal
papel no António José ou O Poeta e a Inquisição, a
celebrada peça de Gonçalves de Magalhães. Saiu-se
Gonçalves da Silva da empresa com muito talento,
recebendo calorosos aplausos.
O Bacharel Gonçalves aproximara-se dos alunos
auxiliando-os na celebração patriótica do dia 6 de setembro
de 1857.
Mercê das lembranças de escolar coeva, Rego
César, o nonagenário em 1935, no 3
o
volume do Annuario
do Colégio foi pelo professor Escragnolle Dória descrita a
festa de 7 de setembro de 1857.
Nessa noite, em palco improvisado, representavam-
se a comédia Brancas o Distraído, o drama O Judeu e a
farsa Aviso à Gazeta.
Na comédia defenderam papéis os alunos Manoel
de Queiroz, Gervásio Mancebo, Monteiro de Azevedo e
Azevedo Castro, todos setimanistas, Jorge João
Dodsworth, Rego César e Gomensoro, quintanistas.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
No drama O Judeu apresentaram-se duas damas
sob cujas saias se ocultavam os alunos Gomensoro e Luiz
da Cunha Feijó, o futuro lente de medicina.
O Aviso à Gazeta pedia no palco a presença de duas,
Andreza, o aluno Gomensoro, e Ludovina, o calourinho
Possolo.
Findo o espetáculo, bem depois da meia-noite, após
a saída do Imperador e da Imperatriz, o Colégio continuou
em festa.
Em pleno 7 de setembro, foi servida ceia, primeiro
às senhoras, a ele conduzidas pelo braço de jovens alunos,
na preocupação própria da idade a de parecerem homens
fortes.
Em seguida, a meninada tomou conta da mesa,
erguendo brindes ao ex-Ministro do Império Pedreira, ao
Marquês de Olinda, Ministro da Pasta e Regente do Império
na criação do Colégio, a Eusébio de Queiroz, inspetor da
Instrução Pública, à Independência.
"Houve disse depois o Diário do Rio de Janeiro
em todo esse festejo um entusiasmo cheio de inocência
que o homemo pode sentir em qualquer outra idade da
vida". Na festa o mais velho dos alunos contava dezesseis
anos.
Da importância do Colégio na época fornece notícia
obra de Kidder e Fletcher, Braziland the Brazilians, editada
em Nova York, justo em 1857.
Dizem aqueles autores "que a instituição pedagógica
a despertar mais interesse do que congéneres na capital
do Brasil fora organizada em fins de 1837 com o nome de
Colégio de D. Pedro II".
Acrescentam Kidder e Fletcher: "em
desenvolvimento e proteção primava o Colégio em relação
aos liceus provinciais".
O ano letivo de 1858 foi, principalmente no 7
o
ano,
de estudos severos sobre aperto de disciplina.
Assinalou-o também a entrada de vários professores
efetivos, um deles Bacharel do Colégio, Joaquim Mendes
Malheiros, graduado em letras em 1847, colega de turma
de Álvares de Azevedo, o poeta impedido pela morte de
pagar à vida todas as promessas de talento genial pela
precocidade.
Malheiros substituía Gonçalves da Silva, substituição
difícil,o só pela distinção com a qual o antecessor regera
a cadeira de História Geral como pela simpatia por ele
desfrutada entre alunos.
Tinha, porém, Malheiros prática de magistério, e isto
muito vale a docente novo em qualquer estabelecimento
de ensino. Conhece os segredos do ofício, as manhas
dos alunos de audácia ou de fingida ingenuidade se
servindo para experimentara força do professor.o era
Malheiros pedagogo fácil de ludibriar. Conhecia a Casa e
a sua presença nela poderia aplicar, mudada a quarta
palavra, o:
"Nourri dans le sérail j'en connais les détours".
Enérgico e mordaz, sabia Malheiros impor todo
respeito a adolescentes propensos à familiaridade, geradora
da confiança, no mau sentido.
Havia adquirido Malheiros, no Colégio, boa cultura
de humanidades, a ponto de novel bacharel em letras e
académico na Faculdade de Direito deo Paulo ser
convidado, conforme Almeida Nogueira, pelo diretor da
Faculdade para, em substituição, lecionar e examinar
Geografia e História no Curso Anexo.
Nada neófito no magistério. Malheiros assumia,
com garbo e segurança, a cadeira de História no Colégio,
cadeira honrada por ilustres antecessores.
Outro professor efetivo de 1858 foi o de Geografia,
Pedro José de Abreu, a reger cadeira por longos anos até
fins do Império. Era baiano, de estudos na província natal.
Mais tarde, em 1867, seria autor de compêndio da
disciplina com edições sucessivas, em muita voga nos
colégios da época imperial.
Com Malheiros e Abreu entrara para o Colégio quem
nele deveria permanecer anos e anos, morrendo no cargo:
José Francisco Halbout.
De progénie francesa, pelo atavismo bem
familiarizado com a língua a ensinar, aos poucos foi-se
ESCRAGNOLLE DÓRIA
tornando Halbout temido pela severidade, pela minúcia com
a qual ensinava ou exigia a partir, sobretudo, da publicação
de sua gramática teórica e prática da língua francesa, em
dois volumes.
Português de origem, José Ventura Boscoli
transferiu-se em 1858 de cargo na Biblioteca Nacional para
a cadeira de Matemática do Colégio.
o era estranho a este o professor efetivo de
Filosofia Frei José de Santa Maria Amaral, tendo lecionado
a matéria como substituto. Monge beneditino, professo
na Bahia, terra nativa, era Santa Maria Amaral considerado
por saber e virtudes, sobre douradas por modéstia, levando-
oa recusar a mitra de Diamantina.
Para completar série de professores efetivos de
1858, seja mencionado o lente de Grego, Guilherme
Henrique Theodoro Schieffler, hanoveriano, formado em
Direito em Goettingen, servindo cargos de magistratura
na pátria.
Chegara ao Brasil em 1853, dedicando-se ao
magistério particular lecionando línguas vivas e mortas.
Naturalizando-se, concorreu à cadeira de Grego, obtendo
também por concurso cadeira de Alemão no Instituto
Comercial.
Halbout e Schieffler tinham lecionado no Colégio a
título interino no próprio ano letivo de 1858.
Por ocasião da abertura deste o reitor Pacheco
comunicara à Inspetoria do Ensino Primário e Secundário
do Município da Corte, tornar-se necessária substituição
de alguns professores poro pretenderem exercer
funções nas duas casas do Colégio.
Na leva dos interinos de 1858 haviam figurado
Halbout, Schieffler, colegas de alguém queo prosseguiria
no magistério, para se notabilizar na cultura nacional:
Baptista Caetano de Almeida Nogueira, o insigne cultor da
língua tupi. Dele, em relação a esta, foi dito: Nenhum
brasileiro em tal estudo se lhe avantajou, ele excedeu a
todos.
Então pelo professorado, seleto tanto quanto
possível, se distinguia o Colégio, vanguardeiro na
pedagogia nacional. Também os alunos procuravam apurar
cultivo intelectual. Ensaiavam-no em associações e
jornaizinhos destinados a primícias de inteligência e
mostras de pendores literários.
Antes de 1858 já se conheciam no Colégio o que
alunos com a enfatuação própria dos estreantes,
chamavam pomposamente "órgãos de imprensa".
Dez anos antes de surgir O Tamoyo, no qual pela
primeira vez viu impresso composição sua, o futuro
Visconde de Taunay, e o relembraria com emoção no
declínio da idade, aparecia no Colégio o Escudo de Minerva,
órgão da associação do mesmo nome.
Compunham-na, em 1848, um presidente, dois
secretários e vinte e um sócios, entre eles Teixeira Júnior,
Ferreira Vianna, André Fleury e Duarte de Azevedo, futuros
ministros de Estado.
O Escudo de Minerva era manuscrito. Cada sócio
concorria com quarenta réis mensais para compra de
papel, capas, lápis para desenhos e fitas. O jornalzinho
feito com muita ordem e limpeza, com ortografia e
caligrafia, proporcionava também aos leitores alguns
desenhos a lápis ou a bico de pena. Apresentava, por
exemplo, um dos números do Escudo de Minerva, a célebre
Madona na Cadeira de Rafael, jóia do florentino Palácio
Pitti. Muito bem desenhada figurava a obra-prima de Sanzio
nas páginas do colegial Escudo de Minerva, que num de
seus números, a bico de pena, trazia a vista deo Paulo.
o é despiciendo conservar aqui uma ou outra
amostra dos escritos dos juvenis colaboradores do Escudo
de Minerva, dada, sobretudo, a notoriedade adquirida pelos
mesmos.
Assim em escorço intitulado Do Brazil Ferreira
Vianna, o futuro panfletário da Conferência dos Divinos,
referia-se a D. Pedro I nos seguintes termos:
"Revolvei, desfolhai com toda a atenção as páginas
de uma história, que talvez achareis quem o iguale, mas
quem o exceda não.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837- 1937
D. Pedro sustentava duas coroas, abdicou-as,
chamando a si unicamente o título de Duque de Bragança,
e nas duas campanhas contra seus próprios súditos; ele
com a destra empunhava a espada e com a sinistra
enxugava os prantos, corria com seus soldados, partilhador
de suas desgraças, enfim seu fiel companheiro.
O Brasil é uma planta ainda nascente, mas que
brotará galhos em cuja sombra acolherá todas as nações.
Finalmente o Amazonas, o Xingu, o Tocantins e o
Pratao foram criados pelao do Onipotente para serem
habitados por um povo bárbaro, mas sim por um povo que
tenha um monarca que do alto de seu trono radiante,
conferencia com as nações e até, traça-lhes a rota dos
seus destinos".
Outro colaborador do Escudo de Minerva, Jeronymo
José Teixeira Júnior, o vindouro Senador do Império,
ministro, Conselheiro do Estado e Visconde de Cruzeiro,
na Oração Fúnebre do Barão de Planitz, professor do
Colégio, revelava em uma produção tristeza e educação
clássica.
"Quão frágil é a vida humana!. Um só dia... um só
instante, mais rápido que o pensamento, bastou para
roubar-lhe todos os encantos da vida/ Omnia admitum
dies infesta sibi proemiae vitae".
Teixeira Júnior conservaria até a morte, com carinho,
quase com religião, cinco números do manuscrito Escudo
de Minerva.
Ofereceu-os, ao Arquivo Nacional, quando o dirigia
o professor Escragnolle Dória, o Dr. Henrique Carneiro Leão
Teixeira, digno filho do Visconde do Cruzeiro. Na primeira
página do Escudo de Minerva, circundando efígie da deusa
sapiente a divisa: Vita sine Litteris Mors Est.
Em 1858, O Tamoyo, indigenamente procurou imitar
o Escudo de Minerva, com vantagem de impressão. Do
O Tamoyo dá-nos lembrança um dos colaboradores, o
futuro Visconde de Taunay, como a respeito do Escudo de
Minerva nos informa o vindouro Visconde do Cruzeiro.
Apesar das preocupações jornalísticas o ano letivo
de 1858 correu com regularidade. Atestou-o, mais tarde,
o setimanista de então Alfredo dEscragnolle Taunay,
dizendo: "estudávamos seriamente esse 7
o
ano eo
faltaram provas do nosso aproveitamento".
Também, em ofício a Eusébio de Queiroz, Inspetor
da Instrução Pública, Pacheco da Silva, então mais
sof ridamente aproximado do corpo docente do que no início
da reitoria, afirmava "severidade na disciplina e polícia da
casa".
Mas como nos minúsculos jornais de alunos
houvesse abuso de liberdade de imprensa, apressava-se
o reitor em pedir à Inspetoria de Instrução licença para
censura prévia de publicações colegiais.
Zelava Pacheco da Silva o renome da Casa.
Publicação no Jornal do Commercio levantara acusação
ao porteiro do Colégio, a de maltratar alunos.
Dava-se pressa o reitor, homem de ponto, em
sindicar providência. Dirigiu-se pessoalmente à redação
do Jornal, comunicou-lhe o resultado do inquérito, o porteiro
chamando à responsabilidade aquele órgão de imprensa.
Pacheco informa-se do número exato de aulas
dadas. Apresentava-se nas mesmas. Quando nalgumas
notava atraso de alunos oficiava à Inspetoria de Instrução,
externando com franqueza seu modo de pensar:
A bem do ensino consultava o reitor Pacheco a
Inspetoria a cargo do Barão deo Félix, o professor de
medicina Dr. António Félix Martins. Dizia-lhe:
"Deve um professor ocupar-se unicamente dos que
podem dar boas lições deixando entregues a sis os
outros que por sua idade ou compreensão menos feliz o
o podem fazer contentando-se em chamá-los à lição de
quando em quando, explicando as lições em forma
académica sem se importar que todos entendam ou não?
Nunca pensarei assim. O Governo colocou-me à
testa deste estabelecimento para velar pela execução das
leis que o regulam, eu faltaria a deveres se carecesse de
zelo e atividade no desempenho do honroso cargo que me
foi conferido".
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Mais um ano de reitoria venceu Pacheco em 1858.
Chegou a época dos exames, prestados os do 7
o
ano, por
processo diferente do até então adotado.
Houve dia marcado para as provas escritas e orais
de cada disciplina. A votação seria final, matéria por
matéria, em geral os exames presenciados pelo Imperador,
das 11 da manhã às 5 da tarde e além, já escuro.
Findas as provas, aprovados uns, reprovados outros,
raiava suspirado dia, o da distribuição de prémios e colação
de grau a 24 de dezembro de 1858, dia bem próprio, pelo
Natal, para santas alegrias.
A Sala Nobre do Colégio, muito comprida, tinha
numa das extremidades uns quartinhos onde se alojava a
música. Na ponta oposta erguia-se o trono, com duas
cadeiras douradas, para o Imperador e a Imperatriz.o
longe dos sólios, alçados sobre estrados, havia extensa
mesa coberta com pano verde. Sentavam-se à mesa o
Ministro do Império, os reitores do Externato e do Internato
e os professores.
Dois trechos musicais soavam, infalíveis na
cerimónia: O Hino da Independência e um trecho da
"Stabat Mater" rossiniano.
Acolhia o Imperador e a Imperatriz o Hino Nacional
executado à porta do Colégio pela banda de música da
guarda de honra.
Começava a distribuição de prémios, estes, livros
ricos, apropriados à idade do recompensado. Conduziam
os prémios dois alunos menores até o Imperador e a
imperatriz que para entregá-los, tomavam-nos de bandejas
de prata, bandejas com. Muitos dos bacharelandos
viam-se premiados, com obras de latinidade ou de filosofia.
A entrega dos prémios era feita pelo Imperador e
pela Imperatriz, bondosos para com todos os laureados,
mormente para aqueles cujas famílias mantinham
conhecimento mais próximo com o par imperial.
Assim, premiado em 1858, disse o futuro Visconde
de Taunay: "Ao chegar diante dos Imperantes, deles
recebi um olharo bom,o meigo,o enternecedor, de
verdadeiros pais a partilharem a alegria de um filho, que
medi, desde então, a verdadeira afeição que me dedicavam
como primogénito de quem lhes era bom e leal amigo:
Félix Emílio Taunay".
Fora este, mestre de Grego, História Universal e das
Artes, de Desenho, do Imperador e o discípulo o
recompensou dizendo ao primogénito, o bacharel de 1858:
"Por mais distante que eu olhe para meu passado,
sempre me recordo de haver visto o seu bom Pai e com
ele estado a conversar".
Mais tarde, no exílio, em Cannes, conversando com
Ferreira Viana, sobre os guias de sua educação, dir-lhe-ia
D. Pedro II, referindo-se no momento a seu preceptor frei
Pedro de Santa Mariana, Bispo do Crisópolis: "Era
matemático, mas a quem tudo devo é ao velho Taunay.
Espírito vasto, versado em quase todos os ramos dos
conhecimentos humanos, este, sim, foi meu verdadeiro
mestre".
A presença, constante do Imperador e da sua família,
de Ministros de Estado, das pessoas mais gradas do Rio
de Janeiro, imprimiam à colação de grau dos bacharéis
em letras pelo Pedro Segundo a maior importância e
solenidade ao ato anual.
o duvidemos: alguns a ele sem dúvida só
compareciam para que o Imperador os visse.
Aos bacharelandos a cerimónia impunha gastos para
os quais muitos se preparavam com antecedência, quando
favorecidos de pecúnia.
O alfaiate da moda era o Raunier, ao qual se dirigiam
os bacharelandos mais endinheirados, para uma casaca,
um colete e uma calça desejados a primor.
Segundo a praxe, o bacharelando devia ir de casa
ao Pedro Segundo de coupé. puxado por parelha de cavalos
brancos e cujo aluguel por horas custava muito caro, pelo
menos cem mil réis, despesa fabulosa no tempo. Daí
alguns bacharelandos repartirem gastos, dois no mesma
carro.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Aquelas despesaso se limitavam ao graduado,
abrangiam a família dele. em todo o tempo senhoras se
apresentando de ponto em branco, faceirando-se jovens.
Dez bacharéis contou a turma de 1858, da qual mais
notório se tornou o Visconde de Taunay, tendo por êmulos
Agostinho José de Souza Lima, lente de Medicina,
autoridade em Medicina Legal, e José Viriato de Freitas,
lente de Direito e mestre também na matéria.
Aos dez bacharelandos do Externato ajuntaram-se
dois do Internato. Deste se tinham transferido para o
Externato, quando dividido administrativamente o Colégio
e reformado seu plano de estudos.
Foram aqueles bacharéis, os primeiros do Internato,
Cândido José Rodrigues Torres e João José de Moura
Magalhães. Torres, parente do Visconde de Itaboraí seria
deputado geral, depois Ministro do Brasil em Haia, em
1873, agraciado pelo governo português com o título de
Visconde de Torres, nosso último ministro-residente em
Haia, ondeo tivemos representante diplomático de 1878
a 1893.
Possuía Cândido Torres veleidades literárias,
extraindo do Sul, Olinda e Recife, os gloriosos cursos
jurídicos do Norte. Cândido Torres, em 1868, teria a
coragem de combater Itaboraí, Presidente do Conselho e
tio do oposicionista, exigindo dele nada mais nada menos
do que proposta de paz a Solano Lopes.
Tinha Cândido Torres veleidades literárias, extraindo
de D. Quixote um drama, aproveitando na obra de
Cervantes, entre imaginação e sátira, o episódio de
Cardênio.
Em 1858, um dos primeiros bacharelandos do
Internato, longe estava Cândido Torres, ainda de brilhar na
vida. Entre os bacharelandos de 24 de dezembro de 1858,
completa a distribuição de prémios, viera Cândido Torres
prestar juramento aos Santos Evangelhos para receber o
barrete branco.
Refere um dos bacharéis do dia, Taunay, ter ocorrido
curioso incidente na solenidade. Por enfermoo pôde
acudir a esta António Ildefonso Nascentes Burnier.
Constituiu representante para tomar grau por ele. O
procurador "sui generis" foi bacharel do ano anterior, Costa
Ferraz, depois bem conhecido médico, e espírito sempre
original.
Dando dela prova precoce, intentou Costa Ferraz,
dizendo-se já bacharel, ficar com o gorro branco à cabeça
durante o ato e na presença do Imperador.
Proibido de tal, Costa Ferraz, representando Burnier,
que faleceria pouco depois,o se eximiu de beijar como
os demais colegas, a mão de D. Pedro Segundo e de D.
Thereza Christina, bondosa a ponto de merecer o cognome
dee dos Brasileiros.
Nas colações de grau, como de estilo, discursava o
professor de Retórica, lendo peça cheia de considerações
históricas ou literárias de conselhos e advertências aos
bacharelandos.
Em 1858 orou o lente de Retórica, Cónego Fernandes
Pinheiro, desfavorecido de voz, mas muito querido de
alunos.
O discurso do professor, como se dizia então, de
Poética e Eloquência nacional rematava colação de grau.
Despediam-se o Imperador e a Imperatriz, ao som
do Hino Nacional, invariavelmente seguidos até à porta da
rua, atapetada de folhagens, pelo reitor e pelos professores
incorporados.
Os novos bacharéis dirigiam-se para casa, no
famoso coupé de cavalos brancos,o sem se demorar
alguns na entrada do Colégio para serem melhor
contemplados.
O Imperador e a Imperatriz rumo deo Cristóvão,
afastava-se a guarda de honra ao som de dobrado de sua
banda de música.
Voltava a Rua Larga deo Joaquim ao sossego,
da cerimónia restando na via pública folhas de mangueira
e canela e requisitadas com antecedência, e fornecidas
pelo Horto Botânico da Lagoa Rodrigo de Freitas.
Cada qual no seu bairro, eram os bacharéis
esperados pela vizinhança, aglomerada às portas e janelas
para observar a chegada do recente triunfador.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Vinham visitas cumprimentá-lo, enchia-se a casa
de amigos e parentes, eo raro opíparo jantar ou animado
baile acabavam dia inolvidável.
Os próprios professores, os mais folgazões,o se
dedignavam de presidir jantares oferecidos por colegas a
colegas.
Robora afirmação testemunho de Taunay, bacharel
de 1858:
"Disse-nos:
Desfrutava eu o começo das férias quando em casa
apareceu comissão de bacharéis, três dos meus colegas
e mais o Dr. Souza (Dr. António José de Souza, professor
de Latim no Colégio), a fim de pedir a meus pais
consentissem fosse eu assistir ao jantar que um rapaz de
nossa turma nos dava. O primeiro movimento de meu pai
foi recusa...
Vai ser um bródio formidável e Alfredo é capaz
de perder-se! Mas enfim, ponderava minha mãe, vendo o
desejo louco que eu tinha de ir, jáo é mais um fedelho,
precisamos conceder-lhe alguma liberdade".
Aí usaram meus pais ardilzinho, que prometi
confirmar pela minha atitude durante aquele banquete e
com efeito confirmei por escrúpulo de consciência.
"Alfredo irá, concordou meu pai, mas como está bastante
adoentado,o comerá nada que lhe possa fazer mal, e
torno o Dr. Souza responsável de qualquer transgressão
na meia-dieta em que se acha".
Todos prometeram vigiar-me e lá partimos de carro.
De fato o jantar foi opíparo; mas mantive boa a palavra
dada a meu pai, e voltei bem cedo para casa, enquanto os
outros convivas faziam mil diabruras".
Tudo a demonstrar época, costumes e de envolto
com estes sentimentos de família. Eram levados a ponto
de mandar esta fechar a casa quando algum dos seus
jovens habitantes sofria reprovação.
Privava-se, espontaneamente, o desditoso de sair
à rua dias e dias, evitando qualquer pergunta indiscreta ou
amarga.
Acendrados, declaravam-se igualmente,
sentimentos de solidariedade entre colegas e
condiscípulos. Colega da turma de 1858, revivendo
aqueles sentimentos, conservou-nos memória, no fim da
vida, o Visconde de Taunay.
Salvou um pouco do olvido aquele Burnier,
representado na colação de grau pelo excêntrico Costa
Ferraz, fazendo tanta questão do barrete à cabeça, diante
do Imperador.
Nascentes Burnier, faleceria em 1860, dois anos
após o bacharelado por procuração, morrendo em Juiz de
Fora, minado pela tuberculose assassina de tantas
juventudes, antes dos 18 anos de idade, e cursando
estudos jurídicos.
Versejava Burnier, com extrema elegância e adorável
naturalidade desde os 12 anos atesta-nos o condiscípulo
Taunay e reunia poesias, repassadas de melancolia e
profunda tristeza, num livrinho intitulado Cantos dos Quinze
Annos, tomando por epígrafe, dolorosa previdência,
significativo e bem adequado verso Poete, il n'a vécu
que la saison des roses.
Além de ter deixado no Colégio fama de espírito
superior sobre excelente estudante, irmanou-se um tanto
na precocidade poética com Álvares de Azevedo, também
da Casa Ilustre.o aproximáveis os Cantos dos Quinze
Annos da Lyra dos Vinte Annos, falecidos Álvares de
Azevedo e Nascentes Burnier, quando cursavam estudos
jurídicos, aquele no 5
o
ano emo Paulo, e este no 1 ° em
Recife.
Tudo mostra tendência para o cultivo das letras nos
estudantes do Colégio, também propensos a pilhérias, nem
sempre de bom gosto, mas reprimidas por quem de direito.
Certa vez, no Jornal do Commercio, apareceu
anúncio em aviso de feriado na véspera deo Pedro.
Deu-se pressa o reitor Pacheco em contravisar professores
e alunos, muitos dos quais entretanto compareceram no
Externato no dia anunciado de féria. Reclamando o,
autógrafo da publicação na tipografia, teve razões o reitor
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Pacheco em atribuí-la a aluno do Internato. Disto deu logo
ciência ao reitor do Internato, para devida sindicância e
Dunicão do culpado se descoberto.
o há notícia de o haver sido. Riu-se à socapa na
ocasião para mais tarde talvez sentir peso de consciência.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Alunos em aula de ginástica sueca, no Internato - 1908.
Foto em exposição no Museu do Colégio
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
O Colégio de 1859 a 1860 Confraternização do Externato e Internato Ensino de
Ginástica Professores e Repetidores em 1859 Bacharéis de 1859 Ministros do
Império de 1859 Aulas Suplementares Aula de Dança Finanças do Colégio
Ano Letivo de 1860 Novos Professores Morte do Bacharel Gonçalves
O Colégio de 1861 a 1865.
VII
O Colégio de 1859 a 1865
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Em 1859 entrava o Colégio em 21° ano letivo, à frente
ainda do Externato o Dr. Pacheco da Silva, em 3
o
ano de reitorado. Regia o Internato o Dr. Joaquim Marcos
de Almeida Rego, duas vezes colega de Pacheco, no cargo
administrativo e na profissão médica.
Confundiam-se a vida de Externato e Internato,
embora separados por distância, na época considerável,
Rua Larga deo Joaquim de um lado, chácara do Matta
na Rua de S. Francisco Xavier, do outro e oposto.
Reitores e vice-reitores do Colégio, professores e
funcionários das duas seções do estabelecimento viviam
em constante comunicação. Carecedor de qualquer auxílio
material, o Internato recorria logo ao Externato. Tal fora no
momento da instalação do primeiro, assim depois, uma
seção procurando rivalizar com a outra.
Assim, inaugurada aula de Ginástica, construído
pórtico no Internato para a disciplina e seus exercícios,
em breve o Dr. Pacheco pedia ao governo levantamento
de pórtico de madeira para o mesmo fim no Externato.
No ano letivo de 1859 seria alvitrada e posta em
execução medida vedando aos professores do Colégio
ensinar em colégios e casas particulares as matérias das
quais pudessem ser examinadores, no Internato ou
Externato.
A regra geral conheceu exceção, a bem do professor
de Italiano, o Dr. De Simoni, de aula facultativa pouco
frequentada.
Beleza suprema da justiça é tocar a todos. Abriam-
se, porém, exceções em favor de alunos quando
circunstâncias especiais justificavam um pouco de
transgressão ao regime do Internato. Ainda assim só o
Ministro do Império podia ser juiz da exceção.
Em 1859, o Ministro Sérgio de Macedo autorizava
uma. O reitor do Internato permitia que aluno de 11 anos,
filho do Barão de Muritiba, o Senador Manoel Vieira Tosta,
"em atenção ao seu estado de saúde pudesse ir todos os
domingos à casa paterna". Mas acrescentava o ministro
"menos queo deva ser retido por castigo ou queo
haja outro motivo inconveniente à sua saúde". Favoro
invalida disciplina.
Guarda o arquivo do Internato, na correspondência
do Ministério do Império com a respectiva reitoria, curioso
documento favorável a pai de família chamado Marquês
de Caxias.
"Sua Majestade o Imperador, atendendo ao que
representou o Marquês de Caxias, há por bem permitir
que Luiz Alves de Lima, filho do suplicante, e aluno desse
Internato, possa depois do toque de recolher, sair desse
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Estabelecimento para ir dormir na casa paterna, enquanto
estiver doente. O que comunico a V.Mce. para seu
conhecimento e execução.
Deus Guarde a V.Mce.
Marquês de Olinda".
O favoro era gracioso. Há disso prova terrível, a
da morte. O segundo Luiz Alves de Lima, varão único na
descendência de Caxias, desaparecia adolescente e quem
sabe quantos sonhos alimentava para o filho, sempre
lembrado, o glorioso pai, solicitante de 1859.o
continuara Caxias, altivamente, a carreira magna do pai,
o brigadeiro Lima e Silva, o Regente do Império?
Quem concedia graças também as retirava. O
ministro Ferraz mandava declarar ao reitor do Internato
importar a reprovação do aluno gratuito em duas matérias
perda imediata da gratuidade.
Em 1859 começaram os dirigentes do Externato e
do Internato a cogitar das desvantagens dos repetidores
em exercício acumularem cargos nas duas casas do
Colégio, fiéis os reitores ao preceito de ninguém poder
bem servir a dois senhores.
Sem maiores tropeços decorreu o ano letivo de 1859,
ao fim do qual se graduaram somente seis bacharéis do
Externato, três dos quais mais notórios em subsequente
vida pública: Francisco Belfort Duarte, deputado geral
pelo Maranhão e orador parlamentar apreciado; João
Joaquim Pizarro, facundo lente de Botânica da Faculdade
de Medicina do Rio de Janeiro, e o Dr. João Pinto do Rego
César, médico de muita reputação no Rio de Janeiro,
tornando-se nele figura da cidade, decano dos bacharéis
em letras até 1 de janeiro de 1935, data do seu falecimento,
nascido Rego César em Porto Alegre a 14 de dezembro de
1839. Era homem de bem na maior extensão da palavra,
digno de saudade do Colégio.
Dependia este de duas entidades administrativas, o
Ministério do Império e a Inspetoria-Geral de Instrução
Pública Primária e Secundária do Município da Corte.
Em 1859 as reitorias do Externato e do Internato
tiveram de subordinar-se a três Ministros do Império, ao
deputado Sérgio Teixeira de Macedo, ao Senador Ferraz,
interinamente, e ao deputado João de Almeida Pereira Filho.
Em fevereiro de 1860 abriam-se as aulas do Colégio,
presentes às nove horas da manhã, no Externato, 148
alunos, 11 gratuitos meio pensionistas e 34 externos, num
total de 45 gratuitos para 103 alunos contribuintes. No
Internato a abertura das aulas sempre sofria um pouco
mais demora para espera de colegiais, muitos regressando
de lares longínquos.
Propôs então ao governo, o reitor do Internato,
aumento anual de 20S000 nas pensões dos alunos e
extinção dos pensionistas de 2
a
classe. Ouvida a seçào
do Império do Conselho de Estado, respondeu o Ministro
Almeida Pereira ao reitor,o poder ser aceita a proposta
"nas circunstâncias da vida de então,o convindo
dificultar os meios de instrução".
Insistiam muito os reitores na conveniência de
possuir cada seção do Colégio repetidores privativos,
assim como na vantagem da criação de aulas, cadeiras
dizia-se na época, suplementares para desafogo das lições
de professores efetivos. Chegaram os reitores a alvitrar
também a criação de professores substitutos, transitório
o caráter dos suplementares.
Autorizada cadeira suplementar de Matemática
entraram a requerê-la Benjamin Constant Botelho de
Magalhães, José Arthur de Murinelly, Jorge Eugênio de
Lossio, e Seiblitz e Joaquim Inácio do Couto.
A presença de 100 alunos no 1
o
ano determinava a
criação de cadeiras suplementares qual a de Matemática.
Foi a cadeira suplementar de Português confiada ao
repetidor Dr. João da Cruz Santos, a de Francês ao repetidor
Simeão Pereira de Moraes, a de Geografia ao professor
efetivo Gonçalves da Silva, a de Matemática,
interinamente, a Benjamin Constant, a de Doutrina Cristã
a José Manoel Garcia.
Seria este, mais tarde, secretário e professor efetivo
do Colégio, autorizado por Eusébio de Queiroz, Inspetor
da Instrução Pública, a lecionar Doutrina Cristã, por clérigo
ESCRAGNOLLE DÓRIA
"in minoribus". A tanto ninguém podia ascender sem
aprovação do respectivo diocesano nas matérias teológicas
exigidas pelos cânones. Tais matérias tinham sido
estudadas por José Manoel Garcia no Seminário Episcopal
de Santo António, emo Luís do Maranhão, terra natal
de Garcia, mestre em artes pela Universidade norte-
americana da Pensilvânia.
O ano letivo de 1860 assinalar-se-ia no Colégio pela
criação da aula de Dança ante o desejo manifestado por
muitos pais de alunos de iniciarem os filhos nos passos e
meneios da coreografia comedida da época, arte de recreio
e salão sem apelo à voluptuosidade disfarçada em
diversão, no respeito mútuo de dois sexos instruídos pelo
lar.
Dirigida por Júlio Toussaint, inaugurava-se no
Externato a aula de Dança, na tarde de 29 de setembro de
1860. Servia de complemento à instrução fornecida pelo
Colégio, compreendendo a aula conhecimento das regras
de civilidade social então apurada.
Em fins de 1860 um decreto estatuía novo regime
de matrículas, declarando o Governo a renda do Colégio
arrecadável pela Recebedoria do Município Neutro, com
escrituração especial. Em consequência foram recolhidas
ao erário público as apólices patrimoniais do Colégio.
Satisfaria o Tesouro os compromissos pecuniários do
estabelecimento, suprimido o cargo de tesoureiro,
transferidas atribuições dele aos escrivães do Externato e
do Internato.
o cuidava, porém, só o Ministro do Império dos
dinheiros públicos, também da presteza no serviço ainda
público, expedindo-o as atribuições dele aos escrivães do
Externato e do Internato.
"Havendo muitas vezes demora nas informações
que se exigem das Autoridades, Repartições e Empregados
sujeitos a este ministério, do que resulta inconvenientes
para o serviço público: cumpre que V.S., quando lhe for
exigida alguma informação, dê toda pressa em satisfazê-la.
O que lhe hei por muito recomendado".
Ambas as seções da Casa graduaram bacharéis em
1860, o Externato 6, o Internato 4; formando estes a
segunda turma de bacharelandos do Internato. A do
Externato forneceria à Faculdade de Medicina dois lentes:
Domingos José Freire e António Caetano de Almeida.
Desde a criação em 1837, a vida do Colégio ia a par
da vida nacional, expressa sobretudo no Rio de Janeiro,
passado para este, em 1763, o vice-reinado do Brasil antes
na Bahia. A influência do centro sobre a periferia cada
vez mais se acentuaria.
Dos sucessos sociais também participava o Colégio.
Viera da quarta Regência, presenciara a Maioridade, o
encerrar em 1848 do ciclo fratricida das lutas civis do
Império. Conheceu Segundo Reinado para receber de quem
o representava, D. Pedro Segundo, a mais decidida e
desvelada proteção desdobrada em amor e vigilância. Era
o Colégio a menina dos olhos azuis do Imperador, desde a
inauguração presente às solenidades do estabelecimento,
depois às suas aulas nas quais, inspetor escolar coroado,
observava professores estimulando alunos.
Sempre sob tais auspícios, pregressos e presentes,
inaugurou-se no todo do Colégio, Externato e Internato, o
ano letivo de 1861.
Nele, recebia o Colégio, a título efetivo, professores
já nele conhecidos. Designado para reger a cadeira de
Ciências Naturais, honrada no mais alto grau pelo Dr. Emílio
Joaquim da Silva Maia, um dos novos catedráticos, Sá e
Benevides, era filho da Casa, por ela bacharelado em
numerosa turma de setimanista, os de 1853. De tal turma
haviam participado Henrique Pereira de Lucena e José
Ladislau Terra, uruguaio. Lucena desempenharia papel
político notório no Império e na República, presidente de
Pernambuco no momento da Questão Religiosa movida
pelo Bispo D. Vital, partícipe na República do golpe de
Estado de 3 de novembro de 1891 dissolvendo o Congresso,
Nacional. José Ladislau Terra atuaria na política do Uruguai,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
aí senador, e mais tarde o filho, em visita oficial ao Brasil,
relembraria o bacharelando paterno no Colégio de Pedro
Segundo.
Oito anos depois de bacharelado o colega de Lucena
e Terra, António Maria Corrêa de Sá e Benevides, a lecionar
então Matemática no Colégio, passava nele a proprietário
da cadeira de Ciências Naturais, também por ele
professada no Seminário deo José.
Benevides era campista, nascido fluminense em
1836. Moço, de trinta e cinco anos, tinha amor à Casa
onde se instruíra e procurava honrá-la. Entrava para o
corpo docente com o Cónego Félix Maria de Freitas
Albuquerque e o Dr. Felipe da Mota Azevedo Correia,
nomeados professores efetivos de Religião e Inglês.
O Cónego, depois Monsenhor, Félix Maria de Freitas
Albuquerque, era português, de Coimbra, beneditino
professo no mosteiro da Bahia. Secularizado exerceria no
ofício eclesiástico cargos importantes, 8
o
pároco colado
da freguesia de N. S. da Apresentação de Irajá, inspetor
da Capela Imperial, confessor de D. Pedro Segundo e D.
Thereza Christina, finalmente vigário capitular por morte
do bispo Monte, de 1863 a 1866, vigário geral até morte,
em 1883.
Fortalecido o corpo docente com a nomeação de
bons professores efetivos, para maior regularidade do
ensino, os reitores Pacheco e Almeida Rego, responsáveis
pelas duas casas do Colégio, continuaram atentos aos
interesses pedagógicos das respectivas seções. Em geral
as providências tomadas para uma seção logo na outra
se refletiam.
No Externato, naturalmente de frequência superior
à do Internato, a reitoria Pacheco, em junho de 1861,
pugnava pela divisão das aulas em três turmas, e na
verdade em turmas numerosas só há ensino em bolo.
Consentia a Inspetoria de Instrução na divisão
proposta, reduzindo as turmas de três a duas. Em longo
sobre expressivo ofício respondia Pacheco ao Inspetor Félix
Martins, dizendo com independência: "Sou obrigado,
Exmo. Sr., a entrar em minuciosas referências para
esclarecer V. Ex.
a
de tudo que há a esse respeito, para
que nem a V. Ex.
a
, em coisas queo importantes, nem a
mim, caiba a pecha doo cuidar nem a maldição
dos pais. Quanto a falta de dinheiro nada posso dizer a
o ser ondeo há el-rei o perde"..
Como em 1861 recebia o Colégio novos professores,
a 18 de junho de 1861,perdia um dos seus bons sobre
estimados docentes, o bacharel em letras João António
Gonçalves da Silva, cuja perda acentuava a reitoria.
o só a reitoria também o corpo discente
manifestou consternação grande pela morte do esforçado
professor.
Outro afastamento, com causa bem diversa,
ocorreria em 1861, o de um professor do Externato, sob
ação criminal por injúrias. Convidou o reitor Pacheco um
bacharel em letras dos mais distintos da classe, Manoel
Thomaz Alves Nogueira, para substituição do professor
afastado de funções. Recusou-se Thomaz Alves alegando
necessidades de ultimar "trabalhos académicos".
Empregando frase feita, a chave de ouro de todos
os anos letivos do Colégio era a solenidade da distribuição
de prémios e da colação de grau.
Diminuta foi a turma de bacharelandos do Externato
em 1861, formada apenas por cinco bacharéis, menor ainda
a do Internato de sextanista único. Entre os setimanistas
do Externato, figurava Benjamin Franklin Ramiz Galvão,
cuja individualidade se iria afirmando no decurso do tempo
e na cultura do país, sobretudo na pedagogia, no magistério
superior de medicina, na direção do ensino, sem lhe
esquecer serviços prestantíssimos como diretor da
Biblioteca Nacional.
A 3 de fevereiro de 1862, abriam-se as aulas do
Colégio, afluindo 215 alunos no Externato. Dois dias antes,
referendado pelo Ministro do Império, José Ildefonso de
Souza Ramos, membro do Ministério Caxias de 1861, um
decreto alterava o ensino no Colégio. Reduzia-lhe
disciplinas, tornando facultativo o estudo do Alemão, do
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Italiano e das Artes. Tornar facultativo é meio fácil de
suprimir estudos. Acabava o Decreto Souza Ramos com
o curso especial de 5 anos, os exames de T ano prestados
somente quanto às matérias do ano. Para cada matéria
de exame final haveria duas provas, a escrita e a oral,
para as matérias de promoção unicamente se exigiriam
provas orais.
Antes de inaugurar-se o ano letivo de 1862, o Ministro
do Império, ainda Souza Ramos, tratava do aumento do
edifício do Internato, ouvindo previamente dois professores
da Academia Imperial das Belas Artes.
Sem incidentes de monta, decorreu o ano letivo de
1862. Nele passaria a secretário do Externato, o professor
José Manoel Garcia, e começaria a lecionar História
Universal o Dr. Francisco Inácio Marcondes Homem de
Mello, em 1877 Barão Homem de Mello.
Entrava a lecionar, após concurso, disputando
cátedra a valente contendor, o Dr. Cortines Laxe. Era
Homem de Mello aquisição de proveito para o Colégio,
privado do professor Malheiros.
Assim Martim Francisco 3
o
definiu Homem de Mello:
"foi, era e ainda depois de morto continuava a ser: o
homem que sabia História".
E sabia mesmo. Por baixo da farda do Conselheiro
da coroa (Ministro do Império, Homem de Mello, em 1881)
sentia-se a beca do professor; tal foi por concurso que
teve data nos fastos intelectuais do país, sobejando para
isso a circunstância de ter como contendor o talento
brilhante de Cortines Laxe, foi professor ainda aos oitenta
anos, trôpego, cego.
No Pedro Segundo de 1862, como antes, o
ensinamento literário ia a par do religioso. Nas duas seções
do Colégio celebrava-se missa aos domingos, com homilia
para compreensão do Evangelho do dia, prática suspensa
por algum tempo no Externato,o autorizado o reitor a
despesas com a capela.
Domingo a domingo, com ou sem missa, chegou a
termo o ano letivo de 1862, assinalando, a 2 de dezembro,
25° aniversário da fundação do Colégio. Ainda vivia o
Marquês de Olinda, dela criador como Regente do Império,
morto o seu insigne colaborador, Bernardo de Vasconcellos,
arrebatado pela febre amarela em 1850.
A turma de bacharelandos do Externato, em 1862,
compunha-se de oito alunos, a do Internato de seis.
Salientou-se na primeira José Pereira Rego Filho, que,
médico, prestou muitos serviços ao país, notadamente à
Academia Imperial de Medicina, da qual anos e anos, foi
alma como secretário geral. Daí merecer, por ocasião do
jubileu como membro da associação, o colocar de seu
busto em bronze, obra do emérito escultor Pinto do Couto,
na sala das sessões da Academia.
Na turma do Internato, em 1862, figuraram João
José deo Paulo e Galdino Fernandes Pinheiro, o qual
dedicado à vida agrícola, continuou trato de letras. Com o
pseudónimo de Galpi, tirado do próprio nome, escreveu
Narrativas Brasileiras e romance de costumes nacionais,
O Flor.
Decorreu em calma o ano letivo de 1863. O
Externato era dirigido por Pacheco da Silva, o Internato
por Almeida Rego, sempre fiscalizado o ensino pela
imperial instância superior, a ponto de exigir esta lhe fosse
presente, em separado, a relação dos professores menos
assíduos, pois o Imperador desejava conhecê-los. No
momento da celebração no Colégio do centenário natalício
do patrono, em 1925, o orador oficial do Colégio proclamou
sem exagero, D. Pedro II o maior inspetor escolar do
Segundo Reinado.
Vigiados pelo soberano, os Ministros do Império
faziam igualmente muita questão, senão real. aparente,
da assiduidade dos professores do Colégio. Tendo, em
1863, o professor de Latim do Internato, Gabriel de
Medeiros Gomes, requerido continuação no magistério,
com aumento de 5
a
parte de ordenado, o Ministro. Marquês
de Olinda, pedia ao reitor do Internato informação do
"número de faltas dadas pelo professor, desde início do ,
exercício no Colégio".
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
Na turma de bacharelandos de 1863, no Externato.
teriam subsequente relevo intelectual, científico e social
os médicos Santos Titara, Rocha Lima e na turma do
Internato, os médicos Furquim Werneck, prefeito do Distrito
Federal na República, e Pedro Afonso de Carvalho Franco,
lente de medicina e operador de nota.
Seria o ano letivo de 1864 assinalado por nomeação,
de certo, grata ao Colégio, designado o antigo segundo
reitor, Dr. Joaquim Caetano da Silva, Inspetor da Instrução
Pública.
Na turma de bacharéis de 1864, contavam-se, por
parte do Externato, Alfredo Piragibe, futuro diretor do
Internato, e por parte deste, João Baptista de Lacerda,
médico como Piragibe, diretor do Museu Nacional e
presidente da Academia Imperial de Medicina,
recomendando-se por trabalhos de ordem científica, assim
a aplicação do permanganato como antídoto ofídico.
Da severidade e minúcia com os quais o Governo
Imperial participava da vida do Colégio,o faltam
exemplos, mesmo porque, o Ministro do Império, nos
despachos semanais, presididos pelo Imperador, emo
Cristóvão ou no Paço da Cidade, era obrigado a estar ao
corrente de quanto sucedia no Colégio, para de pronto
responder por ele ante D. Pedro II.
Em 1864,perdeu o Colégio bom professor, Homem
de Mello, pouco antes provido na cátedra de História, após
provas de concurso. Nomeado Presidente da Província
natal,o Paulo, para aceitar nomeação teve de renunciar
a cátedra. Era Ministro do Império José Bonifácio, o Moço,
lente de Direito. Obtemperou a D. Pedro IIo existir
incompatibilidade entre o cargo de professor e o de
presidente de província, de natureza transitória este,
dependendo de confiança de governos por sua vez
substituíveis.
O Imperador discordou do ministro, observando: "Eu
só governo duas coisas no Brasil: a minha Casa e o Colégio
de Pedro Segundo". Homem de Mello, exonerado de
professor, foi presidiro Paulo, nomeado a 8 de março
de 1864, para desempenhar cargo que deixaria em outubro
do mesmo ano.
Em setembro de 1864, jáo era também mais
Ministro do Império José Bonifácio, substituído por outro
lente de Direito, José Liberato Barroso.
A 9 de novembro de 1864, falecia Jorge Furtado de
Mendonça, lente de Latim no Colégio desde a fundação,
em 1864 a lecionar a disciplina no Internato. O reitor deste,
Dr. Almeida Rego, tomou a deliberação de suspender as
aulas do dia, em sinal de pesar; comunicando-o ao
ministro, pela Inspetoria de Instrução. Em aviso entendeu
o superior respondendo a consulta sobre o procedimento
a adotar em caso de óbito de professores, que só o reitor
podia julgar da conveniência do seu ato,o reconhecido
pelo governo como disposição genérica.
Nos anais do Colégio, o ano de 1864, ficaria
assinalado pela aprovação dos Estatutos do Instituto dos
Bacharéis em Letras, por Decreto de 16 de maio de 1864.
Ato governamental reconhecia instituição pela qual jovens
bacharéis em letras continuavam a recomendar por ensaios
literários a instrução ministrada pelo Colégio.
Em seu nome a Associação dos Amigos do Pedro
Segundo, que no valor da própria individualidade reconhecia
os serviços do estabelecimento a bem da cultura nacional.
Daí merecer a instituição referência particular nesta
memória, por viver muitos anos, celebrando regularmente
sessões, até magnas, animando vocações literárias, em
viva tradição do Colégio, onde sempre funcionaria o
Instituto dos Bacharéis em Letras. Muitos destes, mal
graduados, pleiteavam logo admissão no Instituto,
continuando assim a frequentar a casa de ensino de onde
haviam saído laureados.
Foi 1864 tempo de guerra para o Brasil, empenhado
em luta contra o Uruguai. Ano seguinte, o de 1865,o
seria de paz. À campanha do Uruguai, seguiu-se a do
Paraguai, movida por três nações sulamericanas, Brasil,
Argentina e Uruguai, contra o governo tirânico de Francisco
Solano Lopez eo contra o Paraguai, segundo declaração
oficial constante.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
No sobressalto geral da naçáo, ajuntado ao dos lares,
direta ou indiretamente atingidos pela guerra, transcorreria
para o Colégio o ano letivo de 1865.
Dela, no início, entravam em exercício na regência
da cadeira de História e Corografia do Brasil, no
impedimento de Joaquim Manoel de Macedo, conterrâneo
deste, itaboraíense como ele, Salvador Furtado de
Mendonça e Menezes Drumond.
Crescer-lhe-ia fama nas letras na vida pública em
carreira consular e diplomática, com bastante luzimento e
labor, já na América, nos Estados Unidos, já na Europa,
em Portugal. Cegando nos últimos anos de vida, até
derradeiros momentos manteve na inteligência e na
memória a luz que nos olhos lhe faltava.
Cursava, em 1865, o Internato, o setimanista José
Vieira Fazenda. Muito e muito conheceria a história da
terra carioca, concorrendo despretensiosamente para
divulgação de usos, costumes e sítios do torrão natal, deste
benemérito cronista.
O setimanista de 1865, muitos anos depois, em
1915, em Anuário do Colégio, daria testemunho da vida
daquele no período de 1860 a 1865.
Por Vieira Fazenda, possível é conhecer a existência
colegial do tempo, no Internato, abrigado no Engenho Velho,
na chácara do Matta. Vamos evocá-la acrescentando
talvez.
Os internos despertavam às cinco e meia da manhã.
No verão o sono é encurtável sem dificuldade; no inverno,
embora doce a estação no Rio de Janeiro, sair cedo da
cama representao pequeno sacrifício do sonolento do/ce
farniente.
Mas às cinco e meia da manhã, sol em raios ou
neblina a cobrir a serra da Tijuca, o porteiro do Internato
agarrava-se à corda da sineta, enchendo o casarão do
Matta de um nunca acabar de badaladas.
No princípio do ano o despertar dos calouros era
desagradável. Judiavam com eles os veteranos, os do 2
o
ano sobretudo, sequiosos de vingança nas recordações
de vexame de pouco antes. Transformavam calças e
mangas das jaquetas dos calouros em verdadeiras roscas,
obrigando o 1
o
anista, com os dentes, a desatars da
roupa.
Às seis da manhã, os alunos do Internato entravam
na capela. Sobre o altar, diz Vieira Fazenda, havia velho
livro de orações, impresso em Lisboa, no qual se pedia
pela saúde do Rei, do Vigário e do povo da paróquia. Caso
o estudante menos prevenidoo substituísse tais
palavras pelas do Imperador, Reitor e Colégio, era alvo de
risota. Acontecia tal quando o aluno, à míngua de prática
ou por descuido, lia automaticamente.
Da capela iam os internos para o silêncio, leia-se
para o estudo, até oito horas. Às oito e meia, a meninada
conhecia o refeitório, seguindo-se recreio até às nove.
Principiavam então as aulas até uma da tarde.
Meia hora depois nova ida ao refeitório, para o jantar,
"farto e bem feito", atesta Vieira Fazenda: O menuo
trazia surpresas, mas em 1915 provocava ainda
"saudades" no setimanista de 1865.
Tudo comida bem brasileira, às quintas-feiras,
feijoada completa, às sextas, peixe frito, aos sábados,
picadinho com batatas e azeitonas, "cozido suculento",
nos domingos sem saída.
Recreios das duas às três, das cinco às seis, das
oito e meia às nove da noite, silêncio ou sala de estudos
das três às cinco, das seis às oito; e assim decorria a
vida dos internos de 1865.
Tinham, pois, quatro aulas diárias, quatro recreios,
três horas de sala de estudo.
"Estudávamos a valer", declara Vieira Fazenda.
Havia rigor na disciplina, força moral no reitor Almeida
Rego, "distinto médico provou-o quando caridoso prestou
serviços ao Ceará, por ele presidido em 1851, numa
epidemia amarílica, profundo latinista e ótimo
administrador".
Em 1915, Vieira Fazenda, ao dizê-lo, ainda se
lembrava de Almeida Rego, inspecionando o Internato,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
precedido por um cachorrinho de estimação. "Podia-se
ouvir voar uma mosca". Nas aulas quando as moscas
voam o ensino e a disciplina andam.
Dia de sabatina, dia de pavor, sobretudo, na aula de
Grego, mais temidas as de verbos irregulares helénicos.
"Davam cólicas". E acrescenta Vieira Fazenda:
"Schiefflero concedia quartel, três notas más, só
conquistando um sofrível no trimestre". Três notass
em trimestre equivaliam, no máximo, a simplesmente
pelo amor de Deus ou, mais certo, a bomba.
o só o professor de Grego obrigava alunos a
aoristos bem sabidos. Na lista dos exigentes, Vieira
Fazenda colocou os professores de Francês, Latim,
Geografia, História Natural, Matemática, Inglês, Física e
Química, a saber, Halbout, Jorge Furtado de Mendonça,
Abreu, Benevides, Bôscoli, Mota e Silva Lisboa.
No rol dos benévolos figuravam os professores de
Retórica, História e Corografia do Brasil, Latim, nomeados
Fernandes Pinheiro, Macedo e Lucindo dos Passos.
Ao rigor da disciplina do reitor Almeida Rego, com
propriedade dizia amen o monge beneditino frei José da
Purificação Franco, vice-reitor, levando à risca a
manutenção da ordem. Os colegiais comparavam o vice-
reitor à "sogra".
Fumar constituía crime passível de prisão simples,
privação de recreio por três dias, na reincidência recolhidos
os delinquentes à cafua, sob uma escada. Aí o estudante
de História Natural podia solitariamente recordar a matéria,
à passagens rápida de rato ou ao voejar de baratas,
sobretudo em tarde calmosa, quando se assanham.
Isto era, contudo, tristeza evitável. Nem faltavam
alegrias no Internato, sobretudo na festa deo Joaquim,
padroeiro do Colégio todo. Celebrava-se missa festiva nas
duas seções, a da chácara do Matta e a da rua Larga.
Em 1865, a festa deo Joaquim teve, no Internato,
brilho especial, divino e profano. Na capela executou-se
missa de Santos Pinto, professor de Música da Casa. No
edifício do Colégio realizou-se baile mais concorrido que o
de anos anteriores, baile de convites disputados por
famílias da cidade e das redondezas. Danças até duas da
madrugada, no tempo sucesso quase orgíaco. Subscrição
entre alunos aprovisionaram o buffet de doces, sorvetes e
refrescos. Orquestra alemã, a quarenta mil réis por noite,
s a girar os pares.
Mostra-nos tudo istoo só vida transata do Colégio
como época, vida recordada por Vieira Fazenda, às vezes
em linguagem bem pitoresca. Em que dia o memorava o
grande cronista carioca? A 8 de dezembro de 1914. Havia,
então ele, quarenta e nove anos antes, recebido o grau de
bacharel em letras, em ato solene, presidido pelo Marquês
de Olinda, presentes o Imperador e a Imperatriz, no salão
de honra do Colégio.
Ao subir das recordações confessava Vieira
Fazenda, em nome da juventude desvanecida: "Quemo
terá saudades desses tempos que jamais voltarão? Dessa
vida de mocidade na qual tudo é visto pelo prisma da
esperança, embora esta muitas vezes se transforme em
enganadora miragem".
Lembrava-se também Fazenda da grata notícia da
rendição de Uruguaiana, recebida no Rio de Janeiro, nos
primeiros dias de outubro de 1865, desafrontado o solo
brasileiro e sul-riograndense, da invasão paraguaia no
período da guerra ofensiva de Lopez contra a Tríplice
Aliança.
Aos alunos do Internato acarretou a nova da rendição
ordem de saída geral. Em liberdade ensaiaram arengas
patrióticas, deram vivas a D. Pedro II, ao duque de Saxe,
ao Conde d'Eu, aos Voluntários da Pátria. Acrescentaram
ao júbilo algumas amabilidades dirigidas a Solano Lopez,
tirano do seu povo no ensanguentar América do Sul.
Efémero, porém, o feriado de Uruguaiana. Cumpria,
depois dele, aos internos regresso à Chácara do Matta, a
cujo portão estava, tomando nota dos retardatários, o
porteiro Cordovil, outrora soldado, no cumprir ordens
continuando antigo ofício. De pena em punho,o tinha
misericórdia para lançar nomes na lista dos atrasados.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Quemo estivesse à hora marcada, podia contar com a
mais desagradável das penalidades: quinzena de
privação de saída. Nenhum empenho livrava do castigo.
Cordovil sabia os superiores inflexíveis. Depois de
Cordovil, de soldado a porteiro, passou a receber alunos,
no Internato, o inspetor José Romualdo de Noronha, ex-
ator. Participara da companhia de João Caetano, dele amigo
e frequentador da Petalógica, centro de reunião de literatos
na loja de Paula Brito, no Rocio, ora praça Tlradentes.
De bela cabeça, um tanto calvo, sorriso a mostrar
lindeza de dentes, cara sempre escanhoada, o inspetor
Romualdo, compadre de Paula Brito, tinha maneiras à
fidalga. Abrandar-lhe rigores era citá-lo como ator que
figurara no palco doo Pedro, ao lado de João Caetano.
Tal o meio único de torná-lo menos perseguidor de
fumantes. Entretanto, como o homem, desde pequeno,
é eterno fraudador de leis e disciplina, os fumantes
procuravam burlar a severidade do Romualdo, usando
fósforos especiais em tirazinhas de couro.
Houve expansões patrióticas da meninada do
Colégio, por motivo do feriado extraordinário pela rendição
de Uruguaiana, presenciada por D. Pedro II, a declarar-se
o primeiro Voluntário da Pátria.
o se olvidem porém, expansões cívicas de outro
género dos alunos do Colégio, anos antes requisitados para
participar da inauguração da estátua de D. Pedro I.
Haviam sido, então, os discentes do Colégio,
incluídos orfeonicamente no Te Deum entoado por ocasião
da estreia do monumento. Principiaram ensaios colegiais
na chácara do Internato. Seguiram-se ensaios gerais, no
Quartel General da então Praça da Aclamação, atualmente
da República. Francisco Manoel dirigia os ensaios gerais,
substituindo a batuta por uma bengala, atento aos coros
juvenis.
Presenciou o Colégio a inauguração da estátua de
D. Pedro I, no Rio de Janeiro, um dos mais belos
monumentos do mundo universo. Concebido pelo artista
nacional João Maximiano Mafra, fora modificado e prefeito
pelo escultor francês Luiz Rochet. A cidade ficou devendo
o monumento à iniciativa da sua Ilustríssima Câmara
Municipal, na sessão extraordinária de 7 de setembro de
1854, por proposta do vereador Haddock Lobo. O Senado
da Câmara, de onde proviera a Ilustríssima em 1825, já
havia aventado a ideia de erigir estátua ao fundador do
Império, posto o monumento na Praça da Aclamação ou
Rocio, apresentando Granjean de Montigny dois planos para
levantamento da estátua, um plano para cada praça.
o foi adiante o projeto, renovado em 1838, em
1844, em 1852, neste ano, na Câmara Municipal, por
proposta do vereador, Dr. Domingos de Azevedo Coutinho
Duque Estrada, em 1854, na Câmara dos Deputados e
outra vez na edilidade.
Finalmente, a 30 de março de 1862, inaugurava-se
a estátua, em presença do Imperador, da Imperatriz, das
Princesas, da Corte, do Ministério presidido pelo Marquês
de Caxias, da Câmara Municipal e com o concurso da
população carioca apinhada no Rocio e no Morro de Santo
António.
Após a bênção da estátua, seguiu-se, ao ar livre, a
execução do Te Deum, de Segismundo Neukom, presente
no Rio de Janeiro, no governo de D. João VI. Neukom
recebera lições de Haydn, por seu turno mestre de
contraponto de D. Pedro I e de Francisco Manoel.
Dirigiu este o Te Deum executado por orquestra de
242 músicos e 653 cantores, entre eles os alunos do
Colégio, bem ensaiados, do Engenho Velho ao quartel do
Campo.
Alguns de tais alunos, um deles Vieira Fazenda,
chegados à virilidade ou à velhice se jactavam de saber
de cor a sua parte no Te Deum de Neukom.
o muito longe da inauguração da estátua de D.
Pedro I, a turma de bacharelandos de 1865, recebia grau.
Coisa invulgar, foi a turma do Internato bem mais numerosa
que a do Externato, 17 bacharéis do Internato, 7 do
Externato. A esta pertencia António Mendes Limoeiro,
futuro professor do Colégio, depois de médico. Na turma
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
do Internato figuravam vindouro professor substituto da
Casa, o Dr. Afonso Carlos Moreira, e futuro catedrático, o
Dr. Custódio Américo dos Santos. Tiveram para colegas,
entre outros, José Vieira Fazenda, o cronista carioca, e o
foi em ponto pequeno do Colégio, e Joaquim Aurélio Barreto
Nabuco de Araújo, a subir na vida nacional.
Em 1865, porém, cursava no Internato último ano
de estudos secundários, um paulistazinho de
Pindamonhangaba, discípulo conceituado por aplicação e
procedimento. Chamava-se Francisco de Paula Rodrigues
Alves. O Ministro do Império que, em fins de 1865, lhe
impôs o barrete branco do bacharelado, o Marquês de
Olinda, certo nem por sombras poderia suspeitar tudo
quanto o destino reservava ao jovem bacharel do Internato.
Dados a D. Pedro II e ao antigo Regente do Império
dons divinatórios, serviriam a ambos para desvendar até
onde chegaria o bacharelando de 8 de dezembro de 1865.
Trinta e sete anos depois, Francisco de Paula
Rodrigues Alves, a 15 de Novembro de 1902, Presidente
da República, ocuparia o lugar de D. Pedro II, como primeiro
magistrado da nação, nomeador de ministros quem das
mãos do Marquês de Olinda recebera o barrete branco.
Em 1865 viagem de cientista célebre se assinalaria
o só na vida intelectual do Rio de Janeiro, como mais
particularmente na existência do Colégio.
Veio ao Brasil, em 1865, Luiz Agassiz, afamado
paleontogista e geólogo suíço. Nascido em 1807, no cantão
de Friburgo, ainda estudante fora encarregado, por Martius,
da descrição de peixes recolhidos no Brasil por Spix e
Martius. Transferindo-se para os Estados Unidos, aí fundou
Agassiz grande museu zoológico em Cambridge. Atraído
ao Brasil, antecipadamente aí contando com a viva
simpatia pessoal de D. Pedro II, este levando a mesma
simpatia a todos os empreendimentos científicos, no dizer
do próprio Agassiz. O célebre geólogo chegou ao Rio de
Janeiro em fins de abril de 1865, acompanhado pela
esposa, sua colaboradora, e por vários companheiros de
excursão, alguns dos quais sócios de diferentes préstimos
na empresa científica de Agassiz. Eram um desenhista,
um conchiologista, um ornitologista, um preparador e dois
geólogos, estes Frederico Carlos Hartt e Orestes Saint
John. Canadense de berço, Hartt consagraria existência
ao Brasil onde falecera, no Rio de Janeiro, em 1878, vítima
da febre amarela. Morrendo, como desaparecem todos
os homens de trabalho e da ciência, pobre e desanimado
deixava ao desamparo esposa dedicada, e na orfandade
dois inocentes filhinhos, as mais doces esperanças de
sua vida, vivida para o labor, para o estudo e para a ciência.
Assim disse o Dr. Carlos Alberto de Menezes, traçando
biografia de Hartt.
Com Agassiz, em 1865, conheceu-o o Colégio de
Pedro Segundo, justa pois, homenagem à sua memória.
Demorando-se no Rio de Janeiro e a ele tornando
após viagem ao Amazonas, ao Pará e ao Ceará, Agassiz,
amparado pela proteçáo do Imperador e pela estima do
reitor Dr. Pacheco da Silva, realizou duas séries de
conferências no salão nobre do Externato. De tais
conferências, da novidade delas, vai dizer o mesmo
Agassiz, na alentada obra ilustrada de sua lavra Viagem
ao Brazil, de mais de 500 páginas, com 54 gravuras e 5
mapas, obra traduzida do inglês para o francês por Félix
Vogeli, recebendo também a obra colaboração da senhora
Agassiz.
Referindo-se às conferências no Colégio, a obra de
Agassiz consigna o seguinte trecho a transcrever na
íntegra.
Representa atestadoo só de cultura, como de
importância do Colégio no qual o Imperador, sempre por
ele desvelado, fez questão fossem ouvidas lições de honra
para a Casa, quais as de um sábio.
Disse Agassiz: "Estas conferências , a dar crédito
aos próprios brasileiros, foram para eles novidade
desconhecida e até certo ponto revolução de hábitos.
Trabalho científico ou literário é apresentado ao público
do Rio em condições especiais e diante de seleto auditório,
na presença do Imperador, ante o qual o autor procede
ESCRAGNOLLE DÓRIA
solenemente à leitura do seu trabalho. O ensino popular,
consistindo em admitir livremente, todos quantos querem
ouvir e aprender, foi causa até aqui desconhecida. A ideia
partiu do Dr. Pacheco, diretor do Colégio D. Pedro II, homem
de cultura, de espírito verdadeiramente liberal e de grande
inteligência ao qual a instrução pública no Rio deve mais
de um progresso. A ideia encontrou acolhimento junto ao
Imperador, sempre bem disposto quando se trata de
estimular o gosto pelo estudo no seu povo. A pedido do
Imperador, o Sr. Agassiz deu, em francês, uma série de
lições familiares sobre diversos assuntos científicos.
Julgou-se muito feliz por poder assim introduzir neste país,
um meio de educação popular cuja influência o Sr. Agassiz
julgou das mais salutares. A princípio a presença das
senhoras foi tida por impossível como inovação demasiado
grande nos costumes nacionais; mas o preconceito em
breve foi vencido e as portas ficaram abertas para todos,
à verdadeira moda da Nova Inglaterra. Se a atenção a
mais seguida é da parte de auditório prova de inteligência,
manda dizer a verdade que nenhum orador pode almejar
auditório mais inteligente ou melhor dotado do que aquele
ao qual o Sr. Agassiz teve o prazer de dirigir-se no Rio de
Janeiro. Foi, aliás, para ele, gozo, após ensino de mais
de vinte anos por meio da língua inglesa, libertar-se dos
entraves de idioma estrangeiro e de exprimir-se de novo
em francês. Seja como for, salvo raras exceções, a língua
materna de um homem torna-se sempre para ele o idioma
preferível como o ar ao pássaro, a água ao peixe, o
elemento no qual se move à vontade. O Imperador e a
família imperial assistiram a estas reuniões e coisa digna
de nota, a testemunhar bem a simplicidade dos hábitos
imperiais, em vez de ocupar o estrado erguido para ele, a
Imperatriz e as Princesas, D. Pedro fez colocar as poltronas
destinadas a ele e aos seus, no mesmo plano das demais,
como se tivesse querido mostrar que ao menos ante a
ciência todas as hierarquias se apagam".
Tornado de viagem ao Norte, Agassiz voltou a
conferenciar no Colégio. Do êxito das mesmas disse a
obra do professor Agassiz com mostras de conhecimento.
"O Sr. Agassiz terminou esta semana outra série
de conferências no Colégio D. Pedro II, sobre a formação
do vale amazônico e suas produções. A presença de
senhoras nestas tardes científicaso provoca mais
comentários, havia-as em muito maior número no auditório
do que nas primeiras conferências, nas quais a presença
feminina constituía novidade. Nada há mais simpático de
que um auditório brasileiro e, isto porque o público do Brasil
se assemelha mais ao da Europa do que o norte-americano
sempre frio e impassível. Há ligeiro movimento, espécie
de comunicação entre orador e ouvintes e se alguma coisa
lhes apraz manifestam,o raro palavra de elogio ou de
crítica".
Bem antes de Agassiz, dois viajantes, os reverendos
pastores Kidder e Fletcher em volumosa e mínudente obra,
O Brasil e os Brasileiros, publicada nos Estados Unidos
em 1857, haviam se referido em termos lisonjeiros ao
Colégio, termos completados pelas expressões de
Agassiz.
Segundo Kidder e Fletcher: "Na cidade do Rio a
instrução podia ser dividida nas seguintes classes: a
primária, a secundária, e a dos colégios. O Colégio de
Pedro Segundo, a academia Militar e a de Marinha, o
Colégio Médico, e o Seminário Teológico deo José estão
sob a direção do Estado. Nos colégios particulares há
aproximadamente 500 alunos.
Nesses estabelecimentos de ensino a mocidade
brasileira ascende à montanha do saber. Uma instituição
a despertar maior interesse do que qualquer outra na capital
do Brasil, foi organizada no fim de 1837, com o nome de
Colégio de Pedro Segundo. É destinada a dar educação
escolar completa e corresponde, em plano geral, aos liceus
estabelecidos em muitas províncias, embora em progresso
e proteção, o Colégio de Pedro Segundo se avantaje a
qualquer outra instituição da mesma espécie.
A afluência de alunos foi considerável, desde a'
primeira organização das aulas do Colégio. Ponto de grande
interesse, relativo à instituição, é a circunstância de
expressamente determinarem os estatutos do Colégio a
leitura e o estudo das Escrituras Sagradas em língua
vernácula. Por algum tempo antes da criação do Colégio,
exemplares das Escrituras se achavam em uso em outras
escolas e seminários da cidade, nos quais começaram a
ser apreciadas depois do exemplo do Colégio do
Imperador".
o se contentava D. Pedro II em prezar o Colégio,
queria-o benquisto no conceito público, eliminando quanto
possível o que naquele o prejudicasse. Amar é sobretudo
resguardar.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Salão Nobre, após a reforma de Bethencourt da Silva, em 1875.
Local de reunião da Congregação e das solenidades magnas.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
VIM
O Colégio de 1866 a 1875
Nova Reitoria do Internato O Colégio e a Guerra do Paraguai Novos Professores
Introdução do Sistema Métrico Decimal Nova Reitoria do Externato
Professoras de Ensino O Bacharelando Teixeira Mendes Reitoria Interina do
Internato Matrícula do Príncipe D. Pedro Augusto Nova Reitoria Interina do
Internato Bethencourt da Silva e o Salão Nobre do Externato
A Colação de Grau de 1875.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
A no letivo de 1866 transcorreria no Colégio dentro em
mais um ano da luta externa na qual o Brasil,
aliado à Argentina e ao Uruguai, se empenhava contra o
governo de Solano Lopez. Entretanto, a este o pai,
antecessor na presidência da República do Paraguai, Carlos
António Lopez, instantemente recomendarao combater
o Brasil com a espada, sim com a pena.
Os colegiais do Externato e do Internato, pelo lar,
pelas agitações públicas ao anunciar de vitórias,
forçosamente participariam da guerra, por muito que a
adolescência seja versátil. Um tudo nada de curiosidade
sempre lhe fica.
Viam escolares um professor, o alferes Pedro
Guilherme Meyer, iniciador dos alunos nas voltas e
destrezas da Ginástica, de partida para o Paraguai, a
combater no Exército já em plena campanha.
Coisao belicosa era a exoneração do mestre de
dança, Júlio Toussaint, valente auxiliar coreográfico das
companhias de João Caetano. Voltava às dançarinas
deixando para substituto de ritmos e mesuras José
Lourenço de Paiva.
Nem ao internato também faltavam ritmos e
mesuras. O Ministro Marquês de Olinda autorizava ao
Internato o pagamento de 2405000 "ao rabequista auxiliar
do professor de dança", concedendo 360S000 anuais à
verba para o dentista e para cabeleireiro do
estabelecimento.
Concorriam os alunos com gosto às aulas de Dança,
naturalmente por facultativas menos frequentadas as de
Alemão e Italiano, sempre de diminuto auditório.
Goldschmidt lecionava um aluno, De Simoni, onze.
Dia houve, porém, de ficar o Colégio deserto e
danificado por memorada chuva de pedras, da qual muito
tempo se falou no Rio de Janeiro, bombardeado pelo céu.
Só no Colégio a chuva partiu 317 vidros, cuja reparação
nos caixilhos, determinando suspensão de aulas, custou
bem mais de 600S000, atingida a Sala do Retrato, assim
chamada por figurar nela retrato em ponto grande de D.
Pedro II.
Para o Externato isto, para o Internato o ano de 1866
seria assinalado pela retirada do primeiro reitor, o Dr.
Almeida Rego.
Substituiu-o frei José de Santa Maria Amaral, nome
e pessoa das mais distintas do Colégio, nomeado vice-
reitor o padre Sá e Benevides, professor da Casa. Ao Dr.
Almeida Rego, médico, sucedia Santa Maria Amaral, frade,
a religião também medicina de alma.
Ao novo reitor prestariam obediência dez'
setimanistas de 1866, em breve bacharéis, entre eles
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
futuro lente de medicina, Chaves Faria. Nove eram os
bacharelandos do Externato, dois vindouros lentes de
medicina, Augusto Ferreira dos Santos e Kossuth de Vinelli,
acrescidos de futuro jurisconsulto, Carlos de Carvalho.
Sem dúvida a colação de grau de 1866 passaria com
sombras de tristeza, como as demais até encerrar a Guerra
do Paraguai. Muita gente morria, muita sofria, ao longe
ou de perto. Tudo dor no coração do Rio de Janeiro.
Nas mesmas disposições de ânimo público, a
refletirem-se nos lares, entrou no Colégio o ano de 1867.
Recebeu novo mestre de Ginástica, Valeriano Ramos da
Fonseca, substituto de Meyer, no Paraguai.
Da turma de bacharéis de 1867, no Externato,
incontestavelmente, o nome de mais brilho seria o de
Carlos de Laet, aliás, sempre ufano, vida inteira, do título
de bacharel em letras. À turma do Internato pertencia
Guilherme Afonso de Carvalho, depois professor do
Colégio, aumentando a lista dos docentes filhos da Casa.
No relatório do Ministério do Império, em 1867, pelo
Ministro da Pasta, Senador José Joaquim Fernandes Torres,
foi apresentada à Assembleia Geral, Senado e Câmara,
estatística referente ao Colégio, à vista de informação da
Inspetoria de Instrução Pública, a cargo de antigo reitor e
professor do Colégio, o Dr. Joaquim Caetano da Silva.
Em 1867 haviam se matriculado no Externato 65
alunos contribuintes, totalmente externos e 14 meio
pensionistas, 67 alunos gratuitos, totalmente externos e
13 meio pensionistas, total 159.
No Internato tinham permanecido 95 alunos
contribuintes e 20 gratuitos, total 115. Trezentos e quatro
alunos contava o Colégio, para que deles prestassem
exames 81, 74 aprovados com diversos graus e 7
reprovados. 10 concluindo curso e recebendo o diploma
de bacharéis em letras. Achavam-se matriculados 2.000
alunos em diversos estabelecimentos de ensino particular,
alguns dos quais de maior fama, como os colégios Marinho
e Victorio,o Pedro de Alcântara, para o sexo masculino,
assinalados entre colégios para o sexo feminino os de
Imaculada Conceição, Leuzinger e Taulois. Em alguns
desses estabelecimentos de instrução lecionavam
professores do Colégio, antigos ou futuros, como por
exemplo, no Colégio Pinheiro, os Drs. Joaquim Mendes
Malheiros e Luiz Pedro Drago.
Em 1868, o Colégio seria atingido, por providência
do governo imperial, visando a recompensar bravura extinta
na vida eterna da caridade. Decreto de 1
o
de fevereiro de
1868, referendado pelo Ministro do Império, Senador
Fernandes Torres, provisoriamente elevava o número de
pensionistas gratuitos. Tal o meio de admitir no Internato,
alguns filhos dos militares falecidos no Paraguai ou
invalidados na campanha.
Premiava também o Governo a longa reitoria de
Pacheco da Silva, outorgando-lhe o título de Conselheiro.
Com ele, de 22 de abril de 1868 em diante, começou a
subscrever correspondência oficial.
Avultando em guerra o ano de 1868, o Colégio, deu
poucos bacharéis, três no Externato, quatro no Internato.
Destacar-se-ia da turma do Externato, José Pedro da Silva
Maia, filho do Dr. Silva Maia, lente do Colégio, o bacharel
de 1868,o só vindouro funcionário da Secretaria da
Guerra como distinto ocupante interino da cadeira de
Literatura do Colégio.
Os bacharéis do Externato, na ausência do
catedrático de História e Corografia do Brasil, Joaquim
Manoel de Macedo,o raro no Parlamento, ouviram lições
de substituto interino. Chamava-se José Maria da Silva
Paranhos, seria o Barão do Rio Branco.
o só no Brasil o Colégio de Pedro II gozava fama
crescente, a notícia do seu progresso despertava interesse
em patrícios nossos no estrangeiro, prova-o fato seguinte.
Em 26 de outubro de 1869, a Legação Imperial em
Bruxelas, a cargo do Ministro Thomaz Fortunato de Brito,
depois Barão de Arinos, avisava ao reitor Pacheco da Silva,
da partida de Antuérpia com destino ao Colégio de oferta
ESCRAGNOLLE DÓRIA
do referido ministro qual a de coleção de modelos de
figuras geométricas em arame, de invenção do professor
Stressner.
"As vantagens que para o ensino oferece o novo
sistema dizia o ofertante me parecem
exuberantemente provadas,o só pelo fato de ter sido
ele adotado por considerável número de estabelecimentos
de instrução pública deste país, como também pelas
razões que V.S. encontrará exaradas em parecer incluso".
Aberto o ano letivo de 1869, por licença de três
meses, concedidos a Schieffler, lente de Grego, era
interinamente chamado a lecionar a cadeira o Dr. Benjamin
Franklin Ramiz Galvão, do qual a nomeada o tempo só iria
acrescentando.
Entram uns, saem outros, tal a lei da vida, bem de
extremidades em berço e túmulo. Da existência saía o
mestre de Dança do Colégio, Paiva, entrava no cargo
Francisco de Paula Paiva, daquele filho.
Ficava também em cátedra da Casa, por concurso,
o professor de História Média e Moderna, o Dr. Domingos
Ramos Mello.o só então se dedicaria à cadeira como
estimaria a disciplina publicando, já jubilado, em 1923,
Lições de História Universal. Antiguidade, Vinte e Um anos
de Magistério no Tempo do Imperador. Obra na qual o
autor revela um erudito, a par de todos os adiantamentos
da História, e por vezes apreciável pensador. Pena foi a
morteo deixar Ramos Mello concluir obra valiosa.
Bastantes anos de magistério lograria Ramos Mello,
a jubilação pelo Império concedida aos professores de
qualquer grau por cinco lustros de exercício. Em 1869,
estava no caso o mestre de Desenho do Colégio, Faria
Pardal, a pedir conservação no magistério, também
permitida a juízo do governo, mostrando Pardal "necessária
atividade e robustez para desempenho de cargo".
A turma de bacharéis de 1869 daria mais tarde ao
ensino superior e secundário, quatro lentes: Domingos Jacy
Monteiro Júnior, lente de Medicina; Viriato Belfort Duarte,
lente da Politécnica, ambos do Externato; Francisco van
Erven, lente da Escola de Minas, e João Henrique Braune,
lente do Colégio, os dois graduados no Internato.
Seria 1870 ano de júbilo e desafogo para o Brasil.
Terminou nele, a guerra do Paraguai, expiando Solano
Lopez, com coragem, de espada em punho, vida
sanguinosa, bem característica de tirano divinamente
elevado a El Supremo.
No ano letivo de 1870, passado o reitor do Internato,
frei Santa Maria Amaral a Inspetor Interino da Instrução
Pública, voltaria a lecionar Retórica, no impedimento do
catedrático, Fernandes Pinheiro, o havia pouco substituto
interino de Grego, Ramiz Galvão.
Embora a título interino, substituindo o catedrático
Silva Lisboa, teria ingresso no corpo docente do Colégio,
para lecionar Física, o bacharel Agostinho José de Souza
Lima, futuro lente de Medicina.
Matéria lecionada no Colégio, sofreria modificação
no programa de estudos com a introdução do Sistema
Métrico Decimal no Império.
A Lei n.° 1157, de 26 de junho de 1862, referendada
por Sinimbu, Ministro da Agricultura do 3
o
Gabinete Olinda,
substituiu, em todo Brasil, o sistema de pesos e medidas
vigente e complicado pelo Sistema Métrico Francês.
Nada fácil a mudança e até motivou, no Norte, a
revolta dos Quebra Quilos. No Colégio também se operou
lenta a introdução do ensino do Sistema Métrico Decimal.
No programa pedagógico da Casa, em 1865, ainda se
mencionava, logo após o estudo das operações relativas
às frações ordinárias, o dos números complexos e
operações sobre eles, tudo pela Aritmética de Ottoni.
Desde 1868, o professor de Matemática, João
Bernardo de Azevedo Coimbra, pedira ao reitor Pacheco,
cessão de sala para ensinar o novo sistema, opusera-se o
reitor à concessão, a bem da disciplina, a seu ver já
prejudicada pela presença de preparatorianos em exames
no Colégio.
Mas pouco a pouco, sem embargo de resistência^
da Inglaterra ao sistema métrico francês, Albion, fiel às
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
jardas, o Brasil e nele o Colégio, foi aceitando a morte dos
complexos, sepultados o alqueire, a vara, o arrátel.
Substituir o antigo sistema de pesos e medidas pelo
novo sistema,o foi única preocupação da reitoria
Pacheco. Felizmente o Colégio nunca onerado com dívidas,
sem credor de espaço, desejava aumentar-se no Externato,
o Internato à folga no Engenho Velho. Para alargar-se e
alojar-se, cumpria ao Externato desalojar dois hóspedes,
a irmandade de N. S. da Batalha e o Liceu de Artes e
Ofícios. Funcionava aquela na igreja deo Joaquim,
anexa ao Colégio, este desde a inauguração, a 1
o
de
fevereiro de 1859, também ocupava cada vez mais o
templo,o cessando o reitor Pacheco de pugnar por
desalojamento.
Pacheco e o próprio governo sofriam obstáculos nas
pretensões. Quem dirige pode aborrecer muitos, mas se
aborrece muito. Estejam certos disso, os mais incrédulos
ou os mais desejosos de proventos e se persistirem na
dúvida tentem experiência.
Experiência , de outro género, porém, houve no
Colégio, em setembro de 1868, pelo Chefe de Polícia,
Francisco Augusto Xavier de Brito, solicitada ao reitor
Pacheco devida permissão para no Externato ser feita
colocação provisória de telégrafo elétrico, no lugar indicado
pela reitoria.
Desde 1868, era Ministro do Império o Conselheiro
Paulino de Souza, bacharel em letras. Tendo sugerido ao
Parlamento, em 1869, medidas úteis à elevação e
fiscalização do ensino, em agosto de 1870 formulou projeto
pedagógico.
Projeto de amplitude. Criava universidade
abrangendo Faculdades de Direito, Medicina, Ciências
Naturais e Matemáticas e Teologia. Suprimia Cursos
Anexos nas Faculdades deo Paulo e Recife. Dando o
Colégio de Pedro Segundo por Padrão ao ensino secundário,
Paulino de Souza desejava abrir externatos emo Paulo,
Recife e Salvador. Transferia o internato do Colégio para
cidade do interior, da província do Rio de Janeiro ou de
Minas. Reorganizando cursos primário e secundário do
município da Corte ou Neutro, criava o Ministro uma Escola
Normal.
O projeto Paulino de Souza, discutido no Senado,
encontrou contradições.
Partiram de dois membros conspícuos daquela
Câmara, versados em assuntos de instrução pública, os
Senadores Zacarias de Góes e Vasconcellos e o padre
Thomaz Pompeu de Souza Brazil.
Retirando-se Paulino de Souza do governo, com a
queda do Gabinete 16 de julho de 1868 e formação do
Ministério de 29 de setembro de 1870, o projeto morreu no
nascedouro.
Contudo Paulino de Souza teve ensejo, pelo Decreto
de 1
o
de fevereiro de 1870, de alterar regulamentos do
Colégio pelo qual se graduara em letras vinte anos antes.
As alterações visavam apenas à distribuição de disciplinas,
passando a obrigatórias aulas facultativas: Desenho,
Música e Ginástica. Nos exames de admissão os
candidatos deveriam mostrar-se habilitados em doutrina
cristã, leitura e escrita, em noções elementares de
gramática portuguesa, nas quatro operações aritméticas
fundamentais e no Sistema Métrico Decimal.
Os exames seriam de suficiência ou finais, estes
realizados no Externato, a aprovação nos exames finais
conferindo os direitos dos exames prestados na Instrução
Pública ou de preparatórios. Desapareciam do Colégio a
cadeira de Italiano e o ensino de Dança.
O Decreto Paulino de Souza mandava continuar
facultativa a aula de Alemão, designava duas classes de
professores, a dos comuns ao Externato e ao Internato,
assim, por exemplo, o de Francês e Retórica, a dos
professores privativos de cada seçáo, verbi gratia o de
Ciências Naturais. Para o ensino de Música e Ginástica
os reitores contratariam mestres.
Escapando, por setimanistas, às modificações do
Decreto Paulino de Souza, seis foram, em 1870, os
bacharéis do externato, em igual número os do Internato.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Da turma do externato, mais destacados se tornariam, no
transcurso do tempo, António Felizardo Cupertino do
Amaral, alto funcionário da Secretaria do Império e do
Interior, na República, e Domingos Sérgio de Sabóia e Silva,
engenheiro de boa nota e deputado federal pelo Ceará, dele
berço.
É corrente a imagem do "pâo do espírito"
significando cultura intelectual. A par deste pão, defeso a
padeiros, os alunos do Internato, incluídos no número
destes os bacharéis de 1870, recebiam outro, o fabricado
por aqueles, na masseira e no forno, onde cumprindo à
risca preceito bíblico, os amassadores ganham a vida com
o suor do rosto, acrescentando-lhes outras transpirações,
para que quantos obtêm oo nosso de cada dia o achem
alvo e saboroso.
Também o Externato em 1870 fornecia dois pães a
alunos meio pensionistas, oo da mesa a par do "pão
do espírito" este devorado ou rejeitado nas aulas. Para
fornecimento do primeiro dos dois pães abria-se
concorrência de padeiros, minúciaso despiciendas na
pintura de épocas. Em 1870, havia padeiro para propor
"ao Imperial Externato de Pedro Segundo, durante
semestre, fornecero ao preço de 29 réis cadao de 4
onças". Logo acudia outro fornecedor de carnes verdes
para propor abastecer o mesmo Externato, por seis meses,
de carnes a 160 réis a libra.
Além das funções de regedor supremo da direção
do ensino do Colégio, da disciplina, das relações com o
governo, cabia ao reitor o fiscalizar da alimentação, de
cuidados maiores no Internato pelas naturezas do
estabelecimento. Cumpria estar atento, pois a solicitude
do Imperador pela Casa se estendia à fiscalização da boa
qualidade dos géneros fornecidos às duas seções do
Colégio, mormente o Internato.
o tratava o Colégio apenas do sustento material
de alunos, preocupava-o sobremaneira o alimento espiritual
dos mesmos.
No fim de ano letivo costumavam professores
apresentar aos reitores súmula dos trabalhos de aula no
decurso do tempo que lhes fora dado lecionar,o raro
perturbado o ano letivo por efeito de reformas pedagógicas.
O zelo do Imperador pelo Colégio era de todas as
horas. Mudassem os ministros, o grande inspetor escolar
lá estava emo Cristóvão. Nada se passava no Colégio
sem ciência dele e certoo lhe seria estranha a proposta
que, em 1871, fazia o reitor Pacheco do aumento de
remuneração do pessoal administrativo do Colégio,
elevados, por exemplo, os do secretário a 1:800$000
anuais. Favorecia-se, assim, o ocupante do cargo, José
Manoel Garcia,o só clérigo de ordens menores como
mestre em artes pelo Trinity College, estabelecimento de
instrução norte-americano com privilégio universitário.
A proposta de aumento monetário descia aos cargos
mais modestos da casa. Beneficiava Inspetores com
1:000$000 anuais, o porteiro com 600S000 anuais. Na
proposta o aumento dos reitores expressivamente ficava
em branco.
Procurava-se também associar a mocidade a
demonstrações patrióticas. Assim ao reitor do Internato
enviava o Ministro do Império o programa organizado pelo
Ministério da Guerra para recepção dos contingentes do
nosso exército de regresso da campanha do Paraguai, "a
fim de ter o programa a devida execução na parte que
competia ao Internato".
Sem maiores tropeços escoou-se o ano letivo de
1871, assinalado pela entrada do novo catedrático de
Matemática, Dr. Luiz Pedro Drago, deo famosa rispidez
para com discentes.
Foi de doze a turma de bacharéis de 1871 do Colégio,
sete no Externato, cinco no Internato. Entre os sete
bacharéis do Externato, dois engenheiros civis se
destacariam em profissão, Luiz Goffredo d' Escragnolle
Taunay e Ezequiel Corrêa dos Santos, enquanto bacharel
do Internato, Martinho Álvares da Silva Campos, ocuparia
posições políticas elevadas.
A vida do Colégio tinha ritmo habitual, rarg
modificado. Os anos letivos seguiam curso marcado por
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sucessos de data fixa, abertura de aulas, lições, sabatinas,
exames, encerramento de aulas, distribuição de prémios,
colação de grau. Só perturbavam o curso dos anos letivos,
reformas de ensino e substituições de reitores, vice-reitores
e professores. Menos sensíveis para alunos eram
substituições no corpo administrativo com o qual só por
acidente lidavam; zelados de perto os interesses dos
alunos por pais ou responsáveis. Estudante de então só
tinha uma coisa a fazer: estudar, apontados os estudantes
honorários.
Duas modificações sofreria o Colégio em 1872, a
retirada do reitor do Externato e uma reforma do ensino.
Cerca de dezesseis anos desempenhava a reitoria
do Externato o Dr. Manoel Pacheco da Silva, em 1855
substituto do Capitão-de-mar-e-guerra Souza Corrêa.
Datando último ofício de reitoria a 6 de agosto de
1872, o Dr. Pacheco deixava superintendência do Colégio,
para ocupar outro cargo atinente à instrução. Fora
escolhido preceptor dos príncipes D. Pedro Augusto e D.
Augusto Leopoldo, netos de D. Pedro Segundo, filhos da
princesa D. Leopoldina e do Duque de Saxe. Morrera-lhes
ae em Viena d' Áustria e o avô materno, D. Pedro II,
trouxera-os ao Brasil para educá-los sob suas vistas.
Passara o Dr. Pacheco a acompanhar-lhes a vida diária e
nela as lições que fossem recebendo, de contínuo
fiscalizados pelo Imperador, chegado havia pouco de
primeira viagem à Europa, ausente do Império desde 24
de maio de 1871. Ao regresso imperial associou-se o
Colégio. Em abril de 1872 apresentava-se ao soberano e
protetor para felicitá-lo por volta à pátria. Precedido pela
banda de música do 1
o
Batalhão de Artilharia a,
aquartelado no largo do Moura, no bairro da Misericórdia,
dirigiu-se o Colégio, incorporado, à presença do Imperador
e da Imperatriz, por ambos afavelmente acolhido, timbrando
sempre D. Pedro II em dar ao Colégio mostras de pública
consideração.
A obrigação da reitoria era dirigir, observando e
ponderando. Antes de passar reitoria, dirigida a Inspetoria
de Instrução em 1872 pelo Conselheiro José Bento da
Cunha e Figueiredo, ponderava o reitor Pacheco. Ponderava
que em consequência da alteração de horário vigente desde
1870 para execução do Decreto 4468, de 1
o
de fevereiro
daquele ano, precisava a reitoria do Colégio de algum
tempo para acompanhar a marcha do ensino antes de emitir
juízo seguro. Daí demora em atender a ordens superiores.
Frutos e reformas carecem de sazão.o deixaria o reitor
Pacheco de expor ao Inspetor José Bento, em longo ofício,
os resultados de sua observação.
Verificada a demissão de Pacheco, nomeou o
governo reitor do Externado um sacerdote, sucedendo a
um bispo, a um marinheiro, a um médico, tais os três
primeiros reitores do Colégio.
O novo reitor, o Cónego da Capela Imperial, José
Joaquim da Fonseca Lima, tomava posse da reitoria a 26
de agosto de 1872.
Fonseca Lima, natural da Bahia, pertencia ao cabido
da Catedral, desde 1864, protonotário ad/'r>sfar, governador
interino do Bispado do Rio de Janeiro. Gozava fama de
bom pregador, chamado a missão em atos oficiais solenes.
Logo ao entrar no Colégio, apresentava o novo reitor
pormenorizado ofício sobre o estado da Casa, ele, no
Externato, executor de ordens do Ministro do Império, o
Conselheiro João Alfredo Corrêa de Oliveira Andrade, o
qual, em 1872, já suprimira último nome, acabando por
ser depois geral e mais tarde historicamente conhecido
por João Alfredo.
Com este ocorrera fato raríssimo no Brasil, de até
então e de futuro, no regime monárquico nosso Ministro
do Império no Gabineteo Vicente de 29 de setembro de
1870 continuou, João Alfredo a ocupar o mesmo cargo no
Gabinete subsequente, o de 7 de março de 1871, organizado
pelo Visconde do Rio Branco e fadado a decretar, para os
anais da Nação, e tábuas de ouro da História, a lei
Argêntea. Áurea a de 13 de maio, Argêntea seria a lei de
28 de setembro de 1871, libertando os nascituros da
escrava.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Expediu o Ministro João Alfredo o Decreto de 24 de
outubro de 1872, tornando obrigatória a residência do vice-
reitor no Internato. Atendia também o Decreto ao aumento
de inspetores da Casa. Cada uma das duas seções teria
cinco inspetores, vencendo anualmente 1:000$000,
conforme proposta do ex-reitor Pacheco.
Venceriam os reitores 4:800$000 ou 4005000
mensais, os vice-reitores 300S000 mensais, os secretários
100S000, os escrivães, substitutos dos antigos tesoureiros,
2:000$000 por ano, os bedéis 9005000, os porteiros
700S000, os repetidores 1:200$000, o médico do Internato
8005000. Era este o Dr. Carlos Luiz de Saules, cultor das
letras, autor do drama original brasileiro em cinco atos,
Manoel Beckman representado por João Caetano.
A decretação da residência efetiva do vice-reitor do
Internato já encontrava morando no estabelecimento o
reitor frei Santa Maria Amaral e o vice-reitor padre-mestre,
bacharel em letras, Corrêa de Sá e Benevides. Nos fundos
do Externato morava também o respectivo reitor Cónego
Fonseca Lima.
Para eles e para os funcionários do Colégio, grato
seria o ano letivo de 1872, pelo aumento de vencimentos,
e na época nosso câmbio oscilava entre 24 e 25 14.
Funcionário bem remunerado e digno redobra
esforços em bem da causa pública. Aumentados de
vencimentos, os funcionários do Colégio, em 1872, certo
apurariam zelo pela disciplina, sempre mais fácil de manter
no Externato pelao permanência de discentes.
A vida disciplinar do Internato, em 1872, pode ser
avaliada por curioso documento recolhido à seção de
manuscritos da Biblioteca Nacional. Em livro bem
encadernado acham-se lançados os nomes de todos os
internos de 1872 e considerados os seus procedimentos
no ano letivo.
Encontram-se no referido livro notas favoráveis e
desfavoráveis a discentes de há mais de meio século;
mostrando a irrepreensibilidade do proceder de uns, o
propósito de emenda de outros, ou a vontade de persistir
no mal, praticando sem conhecer o vídeo meliora proboque
deteriora sequor das palavras de Medeia no verso ovidiano.
Justo é ainda hoje mencionar o ótimo proceder de
alguns alunos de 1872, louvados então; calando os nomes
daqueles que na idade de turbulências insopitáveis,
incidiam em falta e castigo, aquela de vária ordem, este
de vários graus.
Algumas notas do livro:
Raymundo Teixeira Mendes Irrepreensível.
Luiz Cândido Paranhos de Macedo Irrepreensível.
José Thomaz da Porciúncula Irrepreensível.
Qualquer destes discenteso desmentiu na vida o
proceder da juventude. Teixeira Mendes foi o apóstolo do
Positivismo no Brasil, ao lado de Miguel Lemos. É possível
discordar das ideias filosóficas de Teixeira Mendes, do
seu caráter ninguém duvidou. Paranhos de Macedo dirigiu
o Internato e professou no Colégio, distinguindo-se como
administrador pela energia sob aparências de bonomia,
pelo espírito de disciplina, que empreendera como aluno
e, portanto, em perfeita paz de consciência podia exigir de
discípulos. O terceiro "irrepreensível", José Thomaz da
Porciúncula, seria na República, governador do Estado do
Rio de Janeiro, Senador, Ministro do Brasil no Uruguai.
Alguns discentes de 1872 mereciam quanto o
procedimento a nota sofrivelmente Um aluno recebia
"1
o
castigo por conversar no silêncio, segundo informava
o inspetor Vaz Pinto". O mesmo aluno foi Ministro do Brasil
em cortes europeias e na carreira diplomática, na qualo
raro nas negociações a habilidade consiste em "conversar
no silêncio", vingou-se o diplomata da parte do inspetor
de 1872. Mostrado ou e o purgatório da disciplina, baixa
o livro do Internato de 1872 a indicar o inferno com o seu
círculo de incorrigidos. Um era posto no índex colegial
com a menção "castigado várias vezes, mau no último
semestre", outro aluno acompanhado por menção pior:
"no último semestre tem procedido mal e deixa graves
suspeitas por escritos que lhe atribuem e sem assinatura".
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A menção é tanto mais curiosa quanto o aluno, uma
vez homem, se caracterizou como polemista temido de
adversários, violento, satírico em prosa e verso,
escrevendo com elegância reveladora de cultura clássica.
o só pelo lado psicológico,o considerado hoje
pela ciência moderna, como atestado do zelo pela
disciplina, e bastante curioso o livro guardado na Biblioteca
Nacional, expressiva minima pars na história do Colégio.
Fique também registrada na história do Colégio, em
1872, a distinção dispensada ao Internato, pelo governo
Imperial, comissionando pelo Ministério da Agricultura, o
secretário João Barbosa Rodrigues para explorações
botânicas no vale amazônico, sem vencimento algum pelo
Colégio.
A primeira solenidade de distribuição de prémios e
colação de grau das quais o novo reitor, Fonseca Lima,
participaria, seriam as do ano de 1872, graduando-se cinco
bacharéis no Externato, três no Internato.
Em obras a Sala Nobre do Colégio, a cerimónia da
colação de grau à turma conjunta de 1872o se pôde
realizar na Casa, sim na pinacoteca da Academia Imperial
das Belas Artes, esta então nos fundos da atual rua Barbara
de Alvarenga, antiga Leopoldina.
No dia de Ano Bom de 1873, passava a morar no
Colégio novo vice-reitor, o padre João Pires de Amorim,
nomeado a 28 de dezembro de 1872, Cónego em 1877,
Monsenhor em 1875, por motivos de consciência
recusando, em 1893, recém-criada diocese de Curitiba.
De cátedra ou emprego no Colégio, gente sacerdotal
tornou-se um tanto o estabelecimento viveiro de prelados.
Bispo fora o primeiro reitor, frei António de Arrábida, Bispo
deo Paulo tinha sido de 1861 a 1868 Monsenhor
Sebastião Pinto do Rego, antigo capelão do Externato,
Bispos ainda de Mariana e do Maranhão foram o padre
Benevides e frei Luiz da Conceição Saraiva, aquele bacharel
em letras e professor da Casa, este também ai tendo
lecionado. Mais tarde, reitor do Colégio, Monsenhor Brito,
seria Bispo de Olinda.
O ano letivo de 1873 assinalar-se-ia por duas
providências governamentais, relativas ao Colégio, o Aviso
de 18 de março e o Decreto de 6 de agosto de 1873. O
citado Aviso isentava o aluno aprovado em exame final
de qualquer disciplina, do estudo da mesma, embora
reprovado noutras matérias do respectivo ano. O Decreto
de 6 e agosto, inspirado pelos reitores do Externato e do
Internato, ambos sacerdotes, mandava fazer no Colégio,
dominicalmente, o comentário do Evangelho do dia. Além
disto, o Decreto, a pedido dos reitores do Externato e do
Internato, tornava obrigatório o estudo do Alemão e
ordenava distribuição de aulas por todos os dias úteis da
semana, cessando a prática do ensino de religião e de
artes em dia único da semana.
No ano letivo de 1873 tomava posse, após concurso,
do cargo de professor de Português, Geografia e Aritmética
do primeiro ano do Internato, quem no Colégio deveria
percorrer longa e notável carreira, bacharel em Letras,
bacharel em Ciências Físicas e Matemática pela Escola
Central, mais tarde Politécnica. Chamava-se o novo
professor de 1873, Carlos Maximiliano Pimenta de Laet,
cuja causticidade famosa um de seus sobrenomes já
exprimia.
Findo o ano letivo de 1873, tomaram grau três
bacharéis do Externato, um deles futuro professor do
Colégio, Carlos Ferreira França, e três bacharéis do
Internato. Um bacharelando deixou de receber grau,
Raymundo Teixeira Mendes, recusando-se ao juramento
do estilo, de manter a religião do Estado, obedecer e
respeitar ao Imperador e às instituições vigentes,
concorrendo quanto possível para a prosperidade do
Império e satisfazendo com lealdade as obrigações que
lhe fossem impostas.
Raymundo Teixeira Mendes estudara no Internato,
desde o 2
o
ano, aluno gratuito, como faz fé o seguinte
termo extraído do livro competente do Internato:"Matrícula
385. Aos trinta e um dias de janeiro de mil oitocentos e
sessenta e oito, matricula-se no 2
o
ano do Internato de
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Pedro Segundo, como aluno gratuito por aviso de 20 de
setembro de 1867, o senhor Raymundo Teixeira Mendes,
filho do Dr. Raymundo Teixeira Mendes, natural do
Maranhão, nascido em 5 de janeiro de 1856. Para constar
lavrei o presente termo que assino como Secretário. João
Barbosa Rodrigues.
Frei José de Santa Maria Amaral".
Antes da abertura das aulas de 1874, o Ministro João
Alfredo dividiu em duas cadeiras, comuns ao Externato e
ao Internato, o ensino das Ciências Naturais. Por seu lado
antes da abertura das aulas de 1874, por ofício de 5 de
janeiro, pedia o reitor Fonseca Lima a nomeação de mais
dois inspetores de alunos. No Externato só havia 5,
contendo 258 escolares, lidando o dia inteiro, sem um
momento de folga. Qual o resultado? Respondia o reitor:
"Falta de paciência para resistir à tendênciao natural da
mocidade de ir ao encontro às leis disciplinares, e daí a
prepotência e um rigor de inspeção ditado pela cólera e
pela vingança do que pelo amor do bem no regime escolar".
Logo depois, em fevereiro de 1874, o Ministro João
Alfredo firmava doutrina quanto a gratificações adicionais
resolvendo o caso do professor jubilado do Colégio, Gabriel
de Medeiros Gomes. Declarava o ministro que ao dito
professor, nomeado para a cadeira de Português, em 1838,
competiamo só o ordenado e a gratificação do cargo,
como a gratificação extraordinária correspondente à quinta
parte do vencimento. Eram 960S000 concedidos em
recompensa de serviços distintos no magistério.
Já bem antes do caso Medeiros Gomes, em
novembro de 1854, fora declarado ser a gratificação
adicional prémio de serviços eo pro-labore permanente
e cabendo a todos os professores jubilados.
O ano letivo de 1874 findava por nova providência
governamental em relação à Casa. Determinava o poder
público o provimento de cadeiras por concurso, dispondo
sobre a composição das mesas de exame e sobre o
tribunal de julgamento de tais certames, tribunal composto
de examinadores, do reitor do Externato ou do Internato,
conforme a seção, cuja cadeira fosse provida a concurso,
do inspetor de Instrução e de um membro do Conselho
Diretor desta. Caso a cadeira a concurso abrangesse mais
de uma disciplina, os candidatos sorteariam ponto para
cada disciplina. Constaria o concurso de duas provas, a
de preleção e a complementar para confirmar o juízo do
examinador, defeso debate entre este e o candidato.
Em 1874 deixava a reitoria do Internato frei José de
Santa Maria Amaral, Monsenhor Félix Maria de Freitas e
Albuquerque nomeado substituto Interino.
A turma de bacharéis do Externato de 1874, oito,
forneceria mais tarde, ao Colégio, um professor, António
Henrique de Noronha, e ao jornalismo carioca Fernando
Mendes de Almeida. Dos quatro bacharéis do Internato,
em 1874, um lecionaria na Escola Normal, já na República,
Ugolino Ayres de Freitas e Albuquerque.
Aos setimanistas, de 1874, estaria, porém,
reservado grata distinção a coroar-lhe esforços. Com a
turma de bacharéis de 1874, começou a entrega do anel
simbólico do bacharelado em letras, anel ostentando opala
cercada de brilhantes. Aplaudia Fonseca Lima a inovação
da entrega da jóia no ato da colação de grau. Entendia o
reitor do Externato ser aquela entrega, naquele ato,
"incentivo para maior concorrência ao grau de bacharel
em letras".
Opinava também, oficialmente, Fonseca Lima, no
sentido de usarem os professores do Colégio, anel igual
ao dos bacharéis, bem como de outra insígnia no ato da
distribuição dos prémios e nas solenidades em que
tivessem de aparecer em corporação, convindo cercar a
classe dos professores de todas as considerações
possíveis e, para isso,o pouco concorriam distintivos
oficiais, tanto mais quanto outras corporações do país os
possuíam.
Em 1874, declarava à Assembleia Geral o Ministro
do Império, Conselheiro João Alfredo Corrêa de Oliveira,
reconhecer "os serviços do Imperial Colégio de Pedro II èu
instrução pública em consequência de sua regular
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organização e pelos hábeis e zelosos reitores e professores
que tinha". Anteriormente, em 1872, o mesmo ministro
aventava a conveniência de algumas modificações no
regulamento do Colégio, no intuito de melhor ordenar o
ensino de certas matérias, desenvolvendo o de outras,
instituindo-se a classe dos substitutos, de falta sensível,
ao menos para algumas aulas, aumentando-se o número
de explicadores e dos inspetores de alunos. De acordo
com tais ideias anunciava o ministro João Alfredo estar
preparando projeto sujeito à ilustrada consideração do Corpo
Legislativo.
Abria-se o ano letivo de 1875 por distinção especial
do augusto patrono do Colégio. D. Pedro II mandava
estudar nele um neto, o príncipe D. Pedro Augusto, filho
dos duques de Saxe, órfão de mãe, a princesa D.
Leopoldina, o pai de residência na Europa.
Confiada a primeira educação do príncipe ao antigo
reitor do colégio, Dr. Manoel Pacheco da Silva, era D. Pedro
Augusto, em 1875, levado a estudos secundários regulares
no primeiro estabelecimento de instrução secundária do
país.
Para a matrícula do príncipe expediu o reitor do
Externato, Cónego Fonseca Lima, a seguinte ordem:
"O Senhor secretário matricule como aluno externo
deste Externato no primeiro ano, depois de feitos os
competentes exames de habilitação e independente de
qualquer outro documento a S. Alteza o Senhor D. Pedro
de Alcântara. Externato do Imperial Colégio de Pedro II,
1
o
de fevereiro de 1875. O Cónego José Joaquim da
Fonseca Lima Reitor."
Obedeceu o secretário, ao tempo José Manoel
Garcia, e nas matrículas de 1875 figurou esta:
"N." 181 S. A. o Príncipe D. Pedro de Alcântara.
Ano do curso 1.
Naturalidade Rio de Janeiro.
Anos de idade 9.
Classe Externo contribuinte.
Moradia Imperial Quinta da Boa Vista.
Filiação S. A . o Duque de Saxe."
Conserve-se aqui, a titulo de curiosidade, a prova
escrita de ditado e aritmética do exame de admissão do
imperial externo contribuinte de 1875, de residência na
Quinta da Boa Vista.
" Externato do Imperial Colégio de Pedro 2
o
1 ° de
fevereiro de 1875.
Ditado As primeiras criaturas que com suas vozes
nos injuriam e envergonham entre aquelas que o mesmo
Senhor criou, maso remiuo as aves. A sociedade
nos trabalhos aligeira o peso deles como a singularidade
os agrava.
368105
48
2944840
1472420
17669040
D. Pedro.
Prova escrita e oral muito boas.
M. O. R. Costa.
Prova de Doutrina ótima.
Monsenhor Félix d'Albuquerque."
O ano letivo de 1875 assinalou-se, pois, no
Externato, pela matrícula do príncipe D. Pedro.
Seguia o avô, D. Pedro II, exemplo do rei Luiz
Felippe, este matriculando os filhos em colégios afamados
em Paris. Assinalar-se-ia também o ano letivo de 1875,
no Internato pela nomeação interina de novo reitor, o Dr.
César Augusto Marques, ao qual Monsenhor Félix
entregaria cargo.
César Marques, nascido em 1826, ia completar
cinquenta anos. Nascido no Maranhão, matriculado na
Universidade de Coimbra, a estudos matemáticos, viu-se
privado de continuá-los pela revolução conhecida na história
lusitana pela da Maria da Fonte.
Veio, então, César Marques, filho de pai
farmacêutico, estudar medicina na Bahia, aí graduando
ESCRAGNOLLE DOR
em 1846, depois médico militar, servindo vários cargos
administrativos no Amazonas, no Piauí e no Maranhão.
Era um estudioso, mormente de coisas pátrias,
avultando entre escritos seus até a entrada para a reitoria
do Internato, o "Almanaque Histórico de Lembranças
Brasileiras", em 3 volumes, as traduções das obras de
Cláudio d' Abeville e Ives d' Evreux, relativas ao norte do
Brasil, e o "Dicionário Histórico Geográfico do Maranhão",
obra publicada em 1870, cabendo ao autor várias ordens
honoríficas, entre elas, o Oficialato da Rosa, e a admissão
em diversas associações científicas.
Começadas as aulas do ano letivo de 1875, a 11 de
fevereiro, a 27 de fevereiro o Colégio abria as portas para
a colação de grau à turma de bacharéis de 1874, no amplo
Salão Nobre da Casa, inaugurado com júbilo da instituição.
Havia de exprimi-lo o reitor Fonseca Lima ao Inspetor
José Bento, dizendo: "Seja-me licito felicitar o Governo
Imperial pela glória de realizar obrao suntuosa, que é
neste género a primeira do Império e um monumento de
gosto e primor de arte que honra o País e com razão tem
merecido os louvores de Nacionais e Estrangeiros".
"Seja-me ainda permitido agradecer ao mesmo
Governo por parte deste Estabelecimento, imerecidamente
confiado aos meus cuidados, mais este assinalado
benefício, com que ele, na sua solicitude pela Instrução o
enriqueceu, tomando-o com esta majestosa obra, mais
digno do fim a que é destinado e do Augusto nome que
tem".
Devia o Colégio "a obrao suntuosa, à fecundidade
de iniciativas do Ministro do Império, João Alfredo. Ainda
incompleto o Externato do Colégio, encarregou o ministro
a Bethencourt da Silva o acabamento do edifício e a reforma
da parte construída. Entendeu o arquiteto, discípulo de
Granjean de Montigny, este o adaptador do Seminário de
o Joaquim, transformado em Colégio, convir na
empreitada um plano geral de reedificação.
Professor do Colégio, bacharel em letras, o Dr.
Moreira de Azevedo, no 2
o
volume de importante obra O
Rio de Janeiro, reeditada em 1877 e dedicada a colega do
corpo docente, o Dr. Joaquim Manoel de Macedo, legou-
nos enumeração dos serviços prestados ao Colégio pelo
talento artístico de Francisco Joaquim Bethencourt da Silva,
filho de portugueses e nascido em alto mar, a bordo do
Novo Commerciante, a 8 de maio de 1831.
Após carreira artística notável, Bethencourt da Silva,
a 27 de fevereiro de 1875, na arte ainda uma vez se
afirmava com a inauguração do Salão do Grau do
Externato, dando o maior realce à distribuição de prémios
e à colação de grau aos bacharéis cujo curso findara em
1874.
Recebeu a obra de Bethencourt da Silva apoio
constante do Ministro João Alfredo, mas sobretudo, quase
escusa dizê-lo, a de D. Pedro II. Reproduzia-se sem cessar
a profecia de Bernardo de Vasconcellos em 1838, ao
inaugurar o Colégio, asseverando que ele animava
"sobretudo a certeza da poderosa proteção do Príncipe,
cujo nome honrava a instituição, e cuja generosidade para
com ela e aplicação, afiançavam que o culto das letras e
das ciências seria um dos principais títulos de glória de
seu reinado".
O Segundo Reinado, em 1875, já ia em quarenta e
quatro anos, a datar da Abdicação e em parte alguma mais
do que no Colégio com tanto amor se assinalaria.
O Imperador e todos os participantes ou
espectadores da inauguração do Salão do Bacharelado do
Externato puderam, a 27 de fevereiro de 1875, com
satisfação, admirar quanto a proficiência de Bethencourt
da Silva havia se esmerado na grandiosa Sala Nobre do
Externato.
Tivera Bethencourt da Silva de dar forma ao teto e
ao soalho de molde a disfarçar defeitos de construção,
corrigindo excesso de comprimento em desacordo com a
largura. Mereceu-lhe especiais cuidados o soalho,
substituído o antigo e comum por novo e precioso.
Formava este mosaico obtido pela combinação das
nossas mais escolhidas madeiras. Segundo Moreira de
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
Azevedo, "constituindo florões e festões de cores vivas e
variadas e delicados arabescos, era o soalho um lindo
mosaico de preciosas madeiras do país, constituindo
florões de cores vivas e variadas, e delicados arabescos;
soalho lindo e rico espécimen da opulenta flora brasileira".
O teto do salãoo destoava do conjunto. Cinco
painéis o enchiam, cheios de enfeites de folhas de carvalho
e louro, de flores e folhas, ali rosas, aqui acantos, nos
ângulos do painel central, relevos simbólicos, lembrando
letras, artes, ciências físicas e matemáticas.
Tal, em traços gerais, o Salão Nobre do Externato
onde, a 27 de fevereiro de 1875, recebia grau a turma de
bacharéis de 1874, salão principiado a modificar em março
de 1873.
Acabada a festa recomeçou o ano letivo de 1875,
numa casa em parte nova, devido ao esforço e à
inteligência de Bethencourt da Silva. Nas partes
reconstruídas o arquiteto levantara o madeiramento mais
de metro, arejara e iluminara salas, melhorando,
substituindo, ornando.
Uma das partes principais do edifício era o pátio
central, onde dispostos aparelhos ginásticos. Sombreavam-
no amendoeiras, nas quais ao abrasar do verão se ouvia o
si-si alistridente das cigarras. Outrora, vindo sem dúvida
do tempo do seminário deo Joaquim, no centro do pátio,
erguia-se um poço mandado tapar pelo reitor Souza Corrêa.
No correr do ano letivo de 1875, o Ministro do Império
e os reitores do Externato e do Internato zelavam interesses
do Colégio, sabendo quanto por ele se desvelara o
Imperador.
Opunha-se, por exemplo, o reitor do Externato,
Cónego Fonseca Lima, que para matrícula no Colégio fosse
dispensado de repetir provas o estudante aprovado em
qualquer disciplina, nos exames prestados na Instrução
Pública.
Mostrava-se o reitor infenso à isenção, abrindo
precedente do qual se pretendia valer "Jean Gustave de
Frontin" matricular, no 5
o
ano do Colégio, seu filho André
Gustavo Paulo de Frontin.
Cuidado pelos reitores correu o ano letivo para o
Colégio e para os alunos, sempre em maior número no
Externato, 212 em 1875, entre eles, como dizia o reitor
Fonseca Lima ao Inspetor da Instrução, "S. A. o Príncipe
D. Pedro, honra com que S. M. o Imperador dignou-se de
distinguir o estabelecimento".
Ano letivo concluído, exames feitos, distribuição de
prémios, colação de grau, de novo reaberto para ela o Salão
Nobre, em dia de recompensar e despedir.
Em 1875, novo público vinha admirar o Salão Nobre
do Externato, na solenidade da colação de grau aos
bacharéis em letras. À espera do Imperador, sempreo
pontual, tendo talvez meditado a advertência de ser a
pontualidade a suprema cortesia dos reis, muita gente
passava olhos e admirações na obra recente de
Bethencourt da Silva.
Contemplavam os espectadores as paredes do
salão, revestidas de estuque-lustre, formando apainelados
coroados de rosas e louros com filetes dourados.
Apresentava o saláo do século XIX, alguma coisa graciosa,
do faceiro estilo Pompadour.
Enquanto aguardavam a chegada do soberano, mais,
do amigo indefectivel da Casa, os bacharéis de 1875
podiam relancear vistas nas sobreportas do salão, nada
menos de vinte três, nelas, entre adornos esculturais,
gravados nomes que para os bacharéis constituíam
verdadeiro ementário das matérias do curso de bacharelado
em letras.
Em cada sobreporta um vulto gravado: Euler
simbolizando a matemática, Demóstenes, a retórica,
Horácio, a poesia, Lucena, a literatura portuguesa, Basílio
da Gama, a brasileira, Xenofonte, a língua grega, César, a
latina, Bossuet a francesa, Goethe, a alemã, Milton, a
inglesa, Rossini a música, Rafael o desenho, Clias, a
ginástica, Anchieta, a doutrina cristã, Calmet a história
sagrada, Temístocles, a antiga, Gibbon, a média, Guizot,
a moderna, Gândavo, a do Brasil, Platão, a filosofia, Cuvier,
as ciências naturais, Kepler, a cosmografia, Estrabão, a
geografia.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Interromperam, contudo, os bacharéis de 1875, o
exame das sobreporias, cujos símbolos diziam aos haviam
pouco setimanistas, todo o curso do bacharelado. Ouvíu-
se o Hino Nacional. Subiram da rua vozes de comando à
guarda de honra. Reitores, corpo docente desceram a
escada, chegavam o Imperador e a Imperatriz.o
tardavam muito a entrar no salão.
Cumprimentando à direita e à esquerda,
correspondidos com inclinações de cortesia por parte da
assistência, dirigiram-se o Imperador e a Imperatriz ao
trono, enquanto, na tribuna da música, alunos do 1
o
e 2
o
anos do Colégio entoavam o Hino da Independência.
Ao fundo do salão erguiam-se duas enormes
cariátides , ornato arquitetônico a ressaltar de superfície
quase sempre vertical, para sustentação de figura ou
objeto.
Tinham as cariátides do salão do Colégio significação
especial, simbolizavam a capital do Império, cingidas de
coroas douradas sustentavam cimalha, esta com escudos
das armas imperiais e as setas deo Sebastião, padroeiro
da cidade carioca.
Ao fundo do salão assim ornamentado erguia-se
todos os anos, no dia de grau, o trono imperial , entre
cortinas de veludo verde, dragões ao lado, o dragão símbolo
da Casa de Bragança.
O Imperador e a Imperatriz ocupavam lugar
privilegiado. Sentava toda a assistência , de pé desde a
entrada dos imperantes, começava a cerimónia.
Distribuídos os prémios, ouvia-se o discurso do
professor de retórica, uma vez conferido grau a treze
bacharéis, 6 do Externato e 7 do Internato. Três teriam
vida de magistério no Colégio: Alfredo Augusto Gomes,
professor interino da Casa; Samuel Castrioto de Oliveira
Coutinho, substituto no Colégio; Luiz Cândido Paranhos
de Macedo, vice-reitor da Casa, e nela catedrático em 1911.
Alguém, num prefácio à obra didática do professor
da Casa, Jonathas Serrano, pôde expender os seguintes
conceitos:
"Mercê de Deus, nunca houve míngua no Colégio
de Pedro II, de professores distintos e de alunos
distinguidos".
Do Colégiom saído as mais belas flores para as
exposições de nossa cultura intelectual".
Daí o famoso estabelecimento, emo boa hora
fundado pela Regência, possuir, pelo menos, um
representante conspícuo em cada província de saber no
reino do engenho humano.
IX
O Colégio de 1876 a 1881
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837- 1937
Adiamento das Aulas em 1876 Desocupação da Igreja deo Joaquim
Caso Schieffler/Thomaz Alves Novos Professores de Filosofia Reforma Leôncio
de Carvalho O Ensino Livre Novos Reitores O Conselho Colegial, suas
Sessões em 1880-1881 A Conversão do Conselho Colegial em Congregação
A Primeira Sessão da Congregação A Turma de Bacharéis de 1881.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Ao iniciar-se o ano letivo de 1876, propunha o reitor
do Externato, Fonseca Lima, o adiamento da
abertura das aulas para 15 de fevereiro, de acordo com
César Marques, reitor interino do internato. O Externato
achava-se em obras, entendendo o Cónego Fonseca Lima,
necessário aquele adiamento, e justificava-o "poro ser
higiénico respirarem os alunos, em quadra de excessivo
calor, a exalação de substâncias mais ou menos tóxicas
de que se compõem as tintas".
Anuiu o Governo, pelo Ministro do Império, José
Bento da Cunha e Figueiredo, abrindo-se as aulas do
Colégio a 15 eo 1
o
de fevereiro.
Logo após, em abril, era o Colégio distinguido , com
a nomeação de um de seus professores, o Dr. Azevedo
Corrêa, para Comissário do Ministério do Império, na
Exposição de Filosofia, comemorativa do 1
o
Centenário
da Independência Norte-americana, na qual Washington
alcançara imortalidade, modelo humano na História.
Outro professor do Colégio, o Dr. Joaquim Manoel
de Macedo funcionava como Secretário-Geral da
Exposição Nacional, dispensado de aulas no
estabelecimento. Tudo distinções a refletirem sobre o
Colégio.
No meio do ano letivo, pedia o reitor do Externato
restituição ao culto religioso da Igreja deo Joaquim,
anexa ao Colégio. Segundo o Cónego Fonseca Lima "dar-
se-ia a Deus o que pertencia a Deus", evangelicamente
de acordo com a decisão de Jesus no dever do tributo a
César. Achava-se também a igreja ocupada pelo Liceu de
Artes e Ofícios, mal acomodado, no perigo constante de
incêndio no templo pelo número excessivo de luzes acesas
nos diversos andares de madeira, levantados no recinto
sagrado. Tudo ponderado pelo reitor do Externato. Dentro
em breve era satisfeito o desejo do Cónego Fonseca Lima.
Restituiu o Ministro José Bento, ao Colégio, a igreja
e as acomodações das quais tivera privado havia anos.
A 22 de dezembro de 1876, graduava-se a turma de
bacharelandos do ano, importando a solenidade da colação
de grau e distribuição de prémios na despesa de
1:267$000, metade da despesa por conta do Internato.
Bacharelavam-se, em 1876, nove jovens no
Externato, entre eles futuro lente da Escola Politécnica,
Francisco Manoel das Chagas Dória, e sete jovens no
Internato, um deles Manoel Edwiges de Queiroz Vieira,
futuro chefe de polícia e Ministro da Agricultura em a
República.
No correr do ano letivo de 1877, avultaria no Colégio,
uma dessas questõeso raras nas casas de ensino^
provocando atrito entre docentes.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
No Externato lecionava Grego o professor Schieffler,
no Internato o professor Manoel Thomaz Alves Nogueira,
bacharel em letras de 1857. Constando a Schieffler que
alunos do Internato estavam a traduzir a Ilíada, reclamou
o professor do Externato, junto ao reitor Fonseca Lima,
pedindo providências. Cumpria fazer cessar "a imensa
disparidade resultante do atraso para os alunos do
Externato aos quais fora categoricamente proibida a
tradução da Ilíada, reservado o poema homérico para os
exames".
Urgido por Schieffler, o reitor Fonseca Lima pedia
explicações ao reitor do Internato, César Marques.
Agradeceu este a Fonseca Lima "a prova de intimidade e
bom coleguismo, enviando-lhe a reclamação" de Schieffler.
Ponderou, porém, queo havendo subordinação entre as
duas seções do Colégio, alvitrava o encaminhamento do
protesto à Inspetoria de Instrução. Tudo por "desejar
corresponder à atenção que lhe merecia a pessoa de
Fonseca Lima", afiançava César Marques. Ele "reputava
nulo e impertinente" o protesto do professor do Externato.
Entretanto, submetia-o à consideração do incriminado
Thomaz Alves.
Expendendo defesa surgia o professor do Internato:
"Prescrevo aos alunos do T ano leituras de Homero, porque
ignoro haver artigo ao Regulamento vigente que proíba aos
alunos exercitarem-se nas formas poéticas e de
metrificação que constituem matéria de exame".
Acrescentava a Schieffler: "A respeito da disparidade de
circunstâncias que deste fato possa resultar para os que
oo alunos deste Internato,o é da minha atribuição
cogitar".
o nos informam documentos do Colégio como
terminou o caso Schieffler-Thomaz Alves e logo a propósito
da belicosa Ilíada. No poema homérico às vezes
intervinham nas pelejas deusas ocultas em nuvens, em
1877, a mitologia já sem poder de auxílio.
Em meados de 1877, jubilava-se o professor de
Filosofia do Externato, frei José de Santa Maria Amaral.
Passou a reger a cadeira o substituto, Dr. Joaquim
Jerônymo Fernandes da Cunha Filho. Transferido logo após
para o Internato ocupou a cadeira do Externato, Frei
Saturnino de Santa Clara Antunes de Abreu. Monge
beneditino como o antecessor, Santa Maria Amaral, era o
substituto deste dele continuador na cátedra.
Ensinaria pelo compêndio de Barbe, professando
Lógica e Metafísica no 6
o
ano, Ética e História da Filosofia,
detida esta em Descartes, Malebranche, Spinoza e Leibniz,
no 7
o
ano.
O professor de Filosofia do Internato era moço lido
em filosofia mais moderna. Chamava-se Joaquim
Jerônymo Fernandes da Cunha Filho, formado em Direito
pela Faculdade deo Paulo, ledor infatigável, dotado de
ótimas humanidades, possuía palavra fluente, presença
agradável, físico desgracioso, jamais favorecendo
professor. Manifestaria depois o professor do Colégio dotes
oratórios na Câmara dos Deputados, dotes por assim dizer
de família, Fernandes da Cunha Pai um dos maiores
oradores quem honrado a tribuna parlamentar pátria,
cognominado o "Cícero Brasileiro".
É de assinalar na reitoria do Cónego Fonseca Lima
ofício de 31 de outubro de 1877, ofício de maior extensão.
Nele o reitor expunha ao Ministro do Império, Costa Pinto
e Silva, as necessidades do estabelecimento posto à
guarda do nome Imperial. É documento completo e digno
de leitura por parte de quantos amam o passado do Colégio.
Findo o ano letivo de 1877 ocorria, a 23 de dezembro,
distribuição de prémios e colação de grau. Para a
solenidade, à porta do Externato, achavam-se a guarda
de honra habitual no ato, pela primeira vez, porém, a Guarda
dos Arqueiros. Só acompanhava esta o Imperador nas
sessões de abertura ou encerramento da Assembleia Geral
no Paço do Senado.
Na lista dos premiados em 1877, entre outros
nomes, liam-se o do 1
o
anista Argemiro Gabriel de
Figueiredo Coimbra, futuro comediógrafo, o do 3
o
anista
Príncipe D. Pedro Augusto, o de Pardal Mallet, o de José
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Cândido de Albuquerque, depois de Albuquerque, Mello
Mattos, vindouro diretor do Colégio, e do setimanista
António Jansen do Paço, futuramente funcionário ilustrado
da Biblioteca Nacional e do Ministério das Relações
Exteriores.
Quando sextoanista, em 1876, tivera Jansen do
Paço necessidade de recorrer a concessão especial do
Ministro do Império, o Conselheiro José Bento da Cunha
Figueiredo. Autorizara este ao reitor do Internato a deixar
sair da Casa, por horas, a Jansen do Paço, a fim de
presenciar casamento em sua família. O sucesso e dos
menores, dele, porém, é possível tirar conclusão maior, a
do rigor e exemplo nas saídas extraordinárias.
Com mais dezesseis colegas do Externato, e do
Internato, recebia Jansen do Paço o grau de bacharel em
letras, toda a turma jurando aos Santos Evangelhos, honrar
o grau conferido, pelo Ministro do Império, Conselheiro
António da Costa Pinto e Silva, ministro desde 15 de
fevereiro de 1877.
No ano letivo de 1878, o Colégio sofreria perturbação.
A institutos de instrução sempre as acarretam reformas
de ensino. Logo no Ano Bom de 1878, ascendeu ao
Governo, o Partido Liberal em ostracismo havia quase
decénio. Organizado o primeiro gabinete da nova situação,
o de 5 de janeiro de 1878, nele coube a Pasta do Império a
professor da Faculdade de Direito deo Paulo, o Dr. Carlos
Leôncio de Carvalho, recusada a pasta pelo Senador José
Bonifácio.
Leôncio de Carvalho, imbuído de ideias pedagógicas
norte-americanas de liberdade do ensino, sem pesar bem
o perigo das adaptações, tanto a desajeitar sociedades
como roupas, entrou para o ministério disposto a reformar
o ensino superior do Império e o secundário e primário da
Corte.
Começou pelo Colégio de Pedro Segundo, alterando-
Ihe, ou antes, golpeando-lhe o regulamento, pelo Decreto
de 20 de abril de 1878. A simples enumeração das
providências nada previdentes do Decreto mostra quanto
o velho Colégio de chofre virava pelo avesso.
Antes de tudo tornou-se livre a frequência no
Externato. O bedel passou a figura nula. Ficou o ensino
religioso sem caráter obrigatório, modificando o juramento
para concessão do grau de bacharel em letras.
Restabeleceu a reforma as aulas avulsas, permitindo a
qualquer, fosse qual fosse a idade, frequência nas aulas
do Externato. Reduziu o número dos substitutos,
designando-os, bem como os professores do Colégio, para
examinadores gratuitos de preparatórios, melhorados os
seus vencimentos de magistério. A Reforma Leôncio de
Carvalho restabeleceu a cadeira de Italiano, conservou o
septenato de curso.
Malgrado inconvenientes, tornou, porém, mais
aligeirado o ensino por melhor distribuição de disciplinas.
No Internato, uma vez por semana, funcionaria aula
de Latim para turma grande composta dos alunos do 4
o
,
5
o
, 6
o
e 7
o
anos, uma aula de Inglês conjunta para os 5
o
, 6
o
e setimanistas, uma vez por semana. Nestas aulas
especiais seriam lidas, vertidas, obras clássicas latinas e
inglesas, acompanhadas de temas e análises.
Em outubro de 1878, Leôncio de Carvalho ainda
aprovaria instruções para provimento dos cargos de
professor catedrático e substituto do Colégio, neste as
reformas do ministro inovador, nem por todos bem aceitas.
A reforma do regulamento do Colégio fora primeiro
passo do reformador. Passo maior seria em breve o do
Decreto de 19 de abril de 1878, reformando o ensino
superior em todo o Brasil, o ensino primário e secundário
no Município Neutro, declarado tal ensino inteiramente
livre.
No momento de 1878, a Reforma Leôncio de
Carvalhoo podia deixar de perturbar o curso do ano letivo
do Colégio, em menor grau para os setimanistas a saírem
da casa em número de cinco, três no Externato e dois no
Internato.
Propugnador do ensino livre, entretanto, o Ministro
Leôncio de Carvalho, a João Severiano da Fonseca,
Hermes, bacharel pelo Internato, em 1878, e a Hemeterio
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837- 1937
José dos Santos, negava permissão "para, por convite de
alguns pais, explicarem a alunos as matérias que tinham
de estudar no Internato".
De modo diferente, a quem estudava ou não, os
professores do Colégio prestavam atenção, louvando ou
reclamando, premiando estudiosos, incriminando
desidiosos.
A 25 de outubro de 1878, o professor Goldschmidt
pedia providências ao reitor Fonseca Lima contra a falta
de aplicação de dois alunos do 5
o
ano, cujos nomes
declinava, "alunos estes que nunca estudam a lição,
confiados nos seus colegas dos quais procuram obter
cola". Desejava o professor fossem punidos, rogando a
S. Ex.
a
o reitor que o ajudasseo só para o progresso
dos alunos, mas ainda para a moralidade do Colégio".
Zeloso pelo cargo, no ano letivo de 1878, o professor
de Ginástica, Paulo Vidal, representava ao reitor Fonseca
Lima acerca da frequência dos discentes, à hora da aula,
muitos pais alegando motivos para oo comparecimento
dos filhos às aulas da tarde.
"Mudada a hora dizia Paulo Vidal esses
inconvenientes todos haviam de desaparecer. Teríamos
aula proveitosa para todos. Teríamos o desenvolvimento
físico considerado como elemento especial na educação
e como auxiliar indispensável na vida intelectual, ou se
fosse possível, os exercícios físicos entremeados com
as aulas fanam uma feliz diversão à posição forçada, à
imobilidade e quietação das aulas, servindo também, de
descanso ao espírito.
Dispondo dum lugar livre das intempéries do tempo,
o haveria inconveniente que fosse adotada qualquer hora,
conquanto fosse respeitada a digestão.
Apresento a V. Ex.
a
o risco de um pavilhão, podendo
ser levantado no centro do pátio, pavilhão cuja capacidade
permite exercitar os alunos por turmas e que em nada
prejudicam as condições higiénicas do estabelecimento.
Das escolas do Governo e do Imperial Colégio de
Pedro Segundo devia partir a iniciativa em tudo que diz
respeito à educação.
o se lhe dando a devida atenção nos ditos
colégios, com dificuldade a educação física se propagaria
ao Brasil, apesar dos esforços que cidadãos beneméritos
m feito procurando em vários escritos e várias
conferências demonstrar a sua utilidade.
Poderia transcrever um número considerável de
pareceres de homens competentes, apóstolos benévolos
de tudo o que o progresso ordena a favor da mocidade,
futuro do país, cujo fraco trabalho apresento a V. Ex.
a
esperando merecer a vossa sábia e justa aprovação."
O ofício de Paulo Vidal é prova de atenção por saúde
e desenvolvimento físico de discentes.
Foram atendidas as ponderações do professor de
Ginástica, construído em centro de pátio, como alvitrava
Paulo Vidal, um pavilhão onde em dias chuvosos seo
interrompiam exercícios de educação física, hoje,o
preconizada a ponto deo raro entre alunos a mens sana
ser prejudicada pelo corpore sano; o pavilhão de ginástica
do Externato subsistindo até reconstrução do edifício.
Ao abrir-se o ano letivo de 1879, verificou-seo
haver nenhum aluno matriculado no 7
o
ano do Externato.
No Internato, vigoravam novidades, a dispensa da
aula de Religião para os alunos acatólicos, reformado até
o juramento de grau de modo a poder ser proferido por
bacharelandos acatólicos, a elevação de exigências para
o exame de admissão só podendo ser realizada matrícula
de maiores de onze anos e menores de quinze.
A 20 de março de 1879, declarava o Ministro Leôncio
de Carvalho às reitorias do Colégio as condições para
concessão de gratuidades escolares.
Caberiam a órfãos reconhecidamente pobres, a
filhos de militares falecidos na Guerra do Paraguai, a filhos
de professores com dez anos de bons serviços no
magistério, a alunos pobres que se houvessem distinguido
no ensino primário.
A 19 de abril de 1879, referendava Leôncio de
Carvalho, o Decreto chamado do Ensino Livre, livre em
todos os graus de instrução.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
O Decreto tornava extensíveis as prerrogativas do
Colégio de Pedro Segundo aos colégios que pelo programa
de estudos dele se moldassem, funcionando com
regularidade por espaço de sete anos, apresentando no
mínimo 60 alunos ao grau de bacharel em letras.
O Decreto de 19 de abril, entre protestos e aplausos,
coisa humana, acabou influindo para a demissão de
Leôncio de Carvalho, substituído pelo Conselheiro
Francisco Maria Sodré Pereira, executor da Reforma
Leôncio.
No ano por esta assinalado, 1879, pela primeira vez,
o se graduou ninguém no Externato, cabendo ao
Internato a colação de grau inteiro, à qual compareceram
quatro bacharéis.
Em 1879, o Externatoo apresentava
pesarosamente setimanista algum para receber grau. No
meado do ano, lamentava a perda do vice-reitor interino
Cónego Pedro da Silva Corrêa, substituído pelo padre
Álvaro Soares de Andréa, admitido como inspetor de alunos
quem mais tarde dirigiria o Internato: Luiz Cândido Paranhos
de Macedo.
o teve o Ministro Sodré Pereira tempo de ocupar-
se com o Colégio, poucos meses à testa da Pasta do
Império.
Apenas alterou o regime dos exames de
preparatórios na Corte, determinando fossem prestados
perante mesas presididas pelo reitor do Externato.
Comporiam as mesas três membros indicados pelo reitor
e tirados dos corpos docentes do Colégio e da Escola
Normal. Só pelo Decreto de 4 de setembro de 1877
haviam tido validade, em qualquer tempo, os exames de
preparatórios, anteriormente de validade limitada a prazo
certo.
Encerrava-se o ano letivo de 1879 com um concurso
de Filosofia, para preenchimento do cargo de substituto
da cadeira.
Tal concurso merece especial menção,o só por
ter sido muito disputado, como por ter aberto ensejo a
curioso incidente.
Apresentavam-se em concurso oito candidatos:
Monsenhor Gregório Lipparoni, o Cónego José Gomes de
Azambuja Meirelles, os Drs. Sylvio Romero, Rozendo
Muniz Barreto, António Luiz de Mello Vieira, Joaquim
Jerônymo Fernandes da Cunha Filho e os Srs. Boaventura
Plácido Loureiro de Andrade e Franklin da Silva Lima e
André Gustavo Paulo de Frontin.
Para julgá-los constituiu-se comissão examinadora
composta do Conselheiro José Bento da Cunha Figueiredo,
Inspetor da Instrução Pública, dos reitores do Externato e
do Internato, Cónego Fonseca Lima e Dr. César Marques
e do professor do Colégio, Pedro José de Abreu. Serviriam
de examinadores os Drs. Nuno de Andrade e Joaquim José
do Carmo.
Logo no início do concurso ocorreram dois casos.
O candidato Silva Lima, alegando enfermidade, pediu
adiamento por um mês, tendo o mesmo candidato
participado de concurso anterior da matéria, aliás anulado.
Resolveu a comissão examinadorao espaçar o certame.
Logo após, o candidato Paulo de Frontin, ainda menor,
requereu à comissão julgadora lhe fosse facultado tirar
ponto para tese, ao menos condicionalmente.
Respondeu-lhe a comissão julgadora ter consultado
o Ministro do Império "o Conselheiro Sodré Pereira"
expondo a dúvida de admitir o candidato à concurso, por
o ter a idade legal de 21 anos.
Sem solução da consulta, entendia a comissãoo
lhe ser lícito dar ponto ao candidato Frontin, nem
condicionalmente, podendo ele ter ciência do ponto
sorteado, dissertando sobre o mesmo por sua conta e risco
até resolução do Governo.
Comunicada esta resolução ao candidato Frontin,
procedeu-se ao sorteio do ponto para tese, tirando
Monsenhor Lipparoni da urna o ponto n.° 8: Da interpretação
filosófica na evolução dos fatos históricos.
Frontin recusou-se a copiar o ponto sorteado,
protestando em grau de recurso para o Conselho de Estada
se o Ministro do Império o desatendesse.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Nas férias de 1879. prosseguiria o concurso de
Filosofia.
A 12 de janeiro de 1880, realizava-se. na presença
de D. Pedro II, a defesa de teses de cinco candidatos dos
oito da inscrição: Sylvio Romero, Rozendo Muniz,
Fernandes da Cunha Filho. Mello Vieira e Cónego
Azambuja, submetidos todos à prova escrita a 16 de
janeiro, versando a prova sobre o ponto número 3. Da
ideia de um Ente Supremo.
Lidas as provas escritas dos candidatos, a 17 de
janeiro, procedeu-se à classificação daqueles, dado o
primeiro lugar a Sylvio Romero, com as seguintes notas
da comissão examinadora (Nuno de Andrade e Carmo
Tese oficial Provas escrita e oral, ótimas).
Rozendo Muniz e Mello Vieira foram classificados
ex aequo em 2
o
lugar, cabendo o 3
o
ao Cónego Azambuja
e o 4
o
a Fernandes da Cunha Filho.
Sylvio Romero, o sergipano, vinha do Norte
precedido pela famao só do mérito próprio como pelo
incidente de famoso concurso na Faculdade de Direito de
Recife, em março de 1875.
No curso da arguição de Sylvio, pelo lente Coelho
Rodrigues, tendo este declarado que a lógicao excluía
a metafísica, replicou Sylvio Romero, dizendo esta é morta.
"Foi O senhor que a matou?..." perguntou Coelho
Rodrigues. "Foi o progresso, foi a civilização", retorquiu
o candidato, retirando-se da sala com expressões
indignadas.
Exposto o incidente ao Governo pela Congregação
da Faculdade deu em nada.
No concurso do Pedro Segundo, em 1879, veio Sylvio
Romero encontrar, entre contendores, o Dr. Mello Vieira,
que com ele concorrera, em 1876, por provimento da
cadeira de Filosofia do Curso de Preparatórios anexo à
Faculdade de Direito de Recife.
Concorrendo pela segunda vez da primeira em
concurso anulado fora Sylvio classificado em primeiro lugar
à cadeira do Curso Anexo se viu Sylvio colocado em
segundo lugar, cabendo o primeiro a Mello Vieira,
particularmente recomendado ao Governo pelo diretor da
Faculdade, Paula Baptista, em ofício reservado, segundo
Clóvis Bevilacqua.
Sylvio diz o mesmo Clóviso se conformou
com esta classificação, que, realmenteo era de justiça
absoluta, dados os seus méritos excepcionais de
inteligência e preparo, além do julgamento do concurso de
1875, anterior à defesa de teses.
Mas devemos reconhecer que seo afastou muito
da justiça como costumam praticá-la os homens. Nem
sempre tem ela olhos vendados.
No ano anterior, dera-se o escândalo, da defesa de
teses do futuro grande brasileiro e já escritor notável.
A Congregação fora injuriada, a mágoa era muito
recente, e os julgadoreso tiveram a isenção de ânimo
preciso para esquecer o desrespeito e ver o mérito em
sua límpida afirmação.
Ao Ministério Sinimbu de 1878 sucedia em 1880 o
Primeiro Gabinete Saraiva. Nele ocuparia a Pasta do
Império antigo professor do Colégio, o Barão Homem de
Mello, nomeado Ministro, em março de 1880, quando o
Colégio em 42° ano letivo.
Francisco Ignácio Marcondes Homem de Mello,
Barão Homem de Mello, regressava indiretamente ao
Colégio, onde, por concurso, lecionara a cadeira de História
Universal, dela se demitindo para exercer a Presidência
deo Paulo, em 1864.
Alguns lustros depois, Ministro do Império, entrava
a superintender o Colégio e logo para lhe reformar estudos
no ano seguinte da nomeação ministerial.
Ao ministro novo, sucedia reitor novo no Externato.
Deixava a reitoria deste, exercida desde 1872, o Cónego
Fonseca Lima, o baiano da ilha de Itaparica, cheio de cargos
e encargos na vida, entre aqueles o de Coronel-chefe do
Corpo Eclesiástico do Exército e seu organizador.
Na tribuna sagrada tivera sempre preferência para
grandes solenidades, famosa na Bahia, a oração fúnebre
ESCRAGNOLLE DÓRIA
de Fonseca Lima nas exéquias de Labatut, de ossos
trasladados para a matriz de Pirajá, onde combatera pela
Independência,o doente o pregador que o tinham levado
do leito ao púlpito. Na Bahia ainda orara nas exéquias por
D. Maria II, em 1854, por D. Pedro I, em 1859 e 1860,
chamando-o então o repentista Muniz Barreto de "sagrado
poeta do Evangelho".
Vindo ao Rio de Janeiro, Fonseca Lima ainda
continuara carreira feliz de pregador apreciado, produzindo
orações fúnebres quais as dos Bispos Conde de Irajá e de
Crysopolis, quais a da Imperatriz D. Amélia e da Princesa
D. Leopoldina, qual a oração fúnebre nas exéquias da
Capela Imperial pelos mortos na Guerra do Paraguai, oração
que lhe valeu elogio do Ministério da Guerra.
Na fecundidade das obras impressas do Cónego
Fonseca Lima destacava-se, para o Colégio, a
"Consolidação de todas as disposições relativas ao
Externato do Imperial Colégio de Pedro Segundo", trabalho
publicado em 1874.
Com a exoneração do Cónego Fonseca Lima,
homem público ilustre, respeitável e respeitado, assumiu
reitoria do Externato, o Dr. José Joaquim do Carmo, natural
do Rio de Janeiro, bacharelado em direito pela Faculdade
deo Paulo.
Sobre versado em matéria de instrução pública,
antigo diretor de colégio particular, tinha o Dr. Carmo prática
de administração. Antes de reitor do Externato presidira
três províncias do Império, a do Paraná, em 1861, a do
Espírito Santo, em 1865, a do Pará, em 1878. Tomou posse
da reitoria do Externato a 26 de julho de 1880. Quando o
Externato recebia novo reitor, Carmo em substituição a
Fonseca Lima, dispensava o Governo o reitor do Internato,
César Marques, dando-lhe por sucessor, a 25 de julho de
1880, o Dr. António Henriques Leal, maranhense como o
antecessor.
Médico pela Faculdade do Rio de Janeiro, clinicara
Leal em S. Luís até 1868, quando de insulto cerebral lhe
resultou hemiplegia do lado esquerdo. Passando a Lisboa
aí residiu muitos anos, tornado ao Rio de Janeiro para dirigir,
interinamente, o Diário Oficial, deixando o cargo para
exercer a reitoria do Internato.
Era António Henriques Leal, homem de muitas boas
letras, espírito de trabalhador servido por sólida cultura,
vencendo no bem o mal físico resultante do insulto de
1868. Polígrafo, dedicava amor à terra natal e ao assumir
a reitoria do Internato já havia publicado, em Lisboa, em 4
volumes, o Pantheon Maranhense, tentando ensaios
biográficos de falecidos maranhenses ilustres.
É trabalho ainda hoje lido e consultado assim como
a Notícia acerca da vida e das obras de João Francisco
Lisboa, da estimada lavra do mesmo António Henriques
Leal.
Entrou este em exercício no Internato, justo, quando
José Joaquim do Carmo tomava posse da reitoria do
Externato, onde, a exemplo de antecessores, deu
oficialmente balanço no estabelecimento, cuja direçáo lhe
haviam confiado.
Logo de princípio opôs-se o novo reitor ao
provimento da vaga de preparador de Física, por um
requerente reprovado em concurso, em maio de 1880.
Novo reitor no Externato, recebeu este novo vice-
reitor, muito de Casa. Era José Manoel Garcia o "Canário",
assim o tratavam os alunos, em ausência, bem se, ele
muito louro. Chegava à vice-reitoria quase no fim do ano,
nomeado a 9 de novembro de 1880, de posse a 12,
substituto do padre Álvaro Soares de Andréa.
Encerrava-se o ano letivo de 1880 com a colação
de grau à turma de bacharéis. Compunha-se de oito 7
o
anistas, quatro do Externato e quatro do Internato. Entre
os bacharelandos do Externato figuravam António
Fernandes Figueira, depois médico pediatra notável e cultor
de letras sob o pseudónimo de Alcides Flávio, e Raul de
Ávila Pompeia, o futuro romancista do Atheneu, já se
ensaiando no Colégio com a publicação da novela Uma
Tragédia no Amazonas, célebre na Casa o seu dissídio
entre Pompeia e Schieffler, o professor de Grego.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
No primeiro ano da reitoria Carmo, o de 1880,
reviveria aquela disposição caída em desuso, embora
consignada no regulamento primitivo do Colégio, o de 31
de janeiro de 1838. Por tal disposição o reitor deveria ser
assistido pela reunião de professores da Casa, formando
Conselho Colegial.
A 2 de agosto de 1880, o reitor Carmo presidia
primeira sessão do Conselho Colegial, presentes o vice-
reitor do Externato e os seguintes professores catedráticos:
Goldschmidt, Monsenhor Félix, Pedro José de Abreu,
Halbout, Schieffler, Silva Lisboa, Lucindo, Ramos Mello,
Drago, Pacheco da Silva Júnior, Araújo Góes, João José
Moreira, e Rozendo Muniz Barreto.
Achavam-se também presentes à reunião, três
professores substitutos regendo cadeiras interinamente,
Berquó, Carlos França e João Rodrigues de Macedo, bem
como os mestres de Música, Desenho e Ginástica,
Mathias Teixeira, Poluceno Manoel e Paulo Vidal.
Abrindo sessão inaugural do Conselho Colegial, o
reitor Carmo mostrou rapidamente a conveniência da sua
nova reunião, revivida assim a prática do artigo 2
o
do
Regulamento de 31 de janeiro de 1838, "em desuso de
tempo imemorial". Em seguida o reitor convidou os
presentes a expenderem parecer sobre pontos para os
quais previamente lhes chamara atenção.
Coube a Goldschmidt, professor de Alemão, em
nome de colegas e no próprio, agradecer a prova de
atenção e apreço do reitor, procurando ouvir, o que nunca
acontecera, o corpo docente do Colégio.
Discutiu o Conselho, logo em primeira sessão,
numerosos assuntos relativos ao ensino e indicados aos
professores e mestres pelo reitor Carmo em ofício de 27
de julho de 1880. Começada às cinco horas da tarde
prolongou-se a sessão até às oito da noite, lavrando-se
dela minuciosa ata.
Apresentara o reitor Carmo ao Conselho Colegial as
seguintes perguntas: 1
o
Quais as causas da baixa
de matrícula do Colégio em 1880? 2
o
Que convém
fazer para remediar esse estado de coisas? 3
o
Que
medidas adotar quanto à conveniência dos estudos do
estabelecimento?
Longamente, vários professores discutiram o
assunto da consulta reitoral, cada umo só do ponto de
vista geral como visando interesses da sua cadeira.
Tornou a reunir-se o Conselho Colegial a 6 de
setembro, de cinco da tarde às oito da noite, sem nenhum
prejuízo de aulas. Na sessão, o professor Lucindo dos
Passos, condenava o ensino do Latim pela Artinha do padre
Pereira, preconizando tal ensino pelo método de Clintock.
Assim justificava opinião: "Chegando a esta
Corte, tive a ventura de ter às minhas ordens a boa livraria
latina do meu pranteado amigo Dr. Almeida Rego, então
estimadíssimo reitor do Internato, cujo nome olvidado pelo
Governo, terá sempre gratas recordações nos seus
discípulos, amigos, colegas e clientes.
Foi nessa biblioteca despertada minha curiosidade
para as pesquisas do Latim, e foi por essa curiosidade
que ao ler um anúncio de se achar esgotada em 10 anos a
8
a
edição da gramática de Clintock, eu a mandei buscar.
O que fiz com ela, máxime no Internato é mais que sabido,
e para minha glória basta dizer que o Barão de Tautphoeus
assim que ela apareceu a admitiu no seu Colégio, e o
mesmo fez o Sr. Dr. Abilio (Dr. Abílio César Borges, depois
Barão de Macaúbas): haverá alguém mais competente
que estes dois Senhores?
Muitos outros a tem admitido principalmente nas
províncias.
Esgotada a 2
a
edição e a necessidade próxima de
3
a
, provam que muito acertei acomodando também para o
Brasil essa excelente obra, que só tem um grande defeito:
dá muito trabalho ao professor".
A 4 de outubro de 1880, nova reunião do Conselho
Coíegial, iniciada pela proposta para a concessão de
bancos de honra aos alunos do Colégio, por proposta dos
respectivos professores, notando-se entre os distinguidos
no 5
o
ano João da Costa Lima Drumond, bancos de honra
ESCRAGNOLLE DÓRIA
em História, Física e Cosmografia, no 6
o
ano o príncipe
D. Pedro Augusto e João Carlos Pardal de Medeiros Mallet,
bancos de honra em Retórica, no 7
o
ano e Raul de Ávila
Pompeia, bancos de honra em Italiano, História e Corografia
do Brasil.
Em seguimento ocupou-se o Conselho Colegial de
responder a quesitos formulados pelo reitor Carmo, tratando
de estabelecer bases para a distribuição de notas, da
conveniência de monitores nas aulas e da presença nestas
do inspetor da turma.
Na marcha da discussão colhiam-se opiniões
diversas,o fosse o Conselho assembleia humana,
sempre propensa à multiplicidade de sentenças pela das
cabeças.
Declarava o professor Schieffler "achar impossível
outras bases para as notas queo os sentimentos de
justiça e equidade do professor", esposada a opinião do
professor pelos demais docentes.
Mais agitada foi a discussão quanto à necessidade
de monitores nas aulas.
Schieffler declarou-os "nocivos ao ensino, nada do
que foi estudado ficando senão o obtido pelos próprios
esforços do estudante".
Halbout entendia convenientes os monitores em
aulas numerosas, na opinião acompanhado pelo professor
Ramos Mello.
Drago declarava "abominável à instituição,
mormente quando se poderia lançaro de professores
suplementares, cada aula no máximo com 40 alunos".
O substituto Berquóo aceitava os monitores,
segundo ele "nesse cargo os alunos se tornam servis".
Tinha a propor, em relação à presença de inspetores
nas aulas, "medida que poderia parecer estranha, mas
nem por isto menos profícua".
Reconhecia o bom desempenho dado a deveres
pelos inspetores do Colégio, mas desejaria que nele
houvesse um inspetor "manejando bem francês, outro
inglês, outro alemão, a fim de se dirigirem sempre aos
alunos a seu cargo naquelas línguas representando o papel
de professores meramente práticos".
Apoiou a ideia o Dr. Moreira, professor de Italiano,
achando-a excelente, desejando-a estendida ao Italiano.
O professor de Inglês, João Rodrigues Macedo,
defendia os monitores, "não podendo tolerar se dissesse
o monitor um delator, quando o seu papel era de confiança,
habilitando alunos à prática da justiça".
Quanto à polícia das aulas entendia o professor
Macedo "absolutamente desnecessária a presença de
quem quer que fosse além do professor para manter a
ordem. Tal coisa, a seu ver, "redundaria em menoscabo
do professor que conscienciosamente cumpria dever".
Acentuava Macedo a "que por mais numerosa que fosse
a classe, quemo sabia manter disciplina,o merecia
o nome de professor ipso facto desmoralizado". "O aluno
dizia Macedo tateia o pulso do professor e de achá-
lo forte ou fraco torna-se bom ou mau".
"A manutenção da ordem em uma classe está tão-
somente no critério do professor e nenhum há que oo
tendo, possa, jamais por meio de inspetores, conseguir a
ordem e o respeito que lheo devidos".
A 8 de novembro de 1880, o reitor Carmo, sempre
às horas do costume, das cinco da tarde às oito da noite,
reunia o Conselho Colegial, com a presença de quatorze
professores.
Tratou-se na sessão de concessão dos bancos de
honra e de notas em aulas, até nas de Halbout. Até hoje
há muito quem represente o professor Halbout como
distribuidor feroz de notas más, reprovador-mór, sem
atenção a quaisquer méritos. Tal apreciação do seu
procedimento proveio de alunos jamais esquecidos da
severidade justa do docente.
Na sessão do Conselho Colegial de 8 de novembro
de 1880, propunha, entretanto, Halbout, medida destoante
da sua proclamada ferocidade. Achava "que as notas de
aula deviam ter toda a importância nos exames, garantindo-.
lhes os resultados. Prestasse o aluno mau exame, desde
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
que fossem boas as suas contas de ano, deveria ser
aprovado, embora com grau inferior".
Tais as ideias do impiedoso Halbout.
Roborou-as Lucindo, o professor de Latim,
lembrando o caso de dois alunos seus, de notass em
aplicação, contudo prestando bons exames.
Ramos Mello, o professor de História, entendia
"deverem ser tidas em muita consideração nos exames
as contas do ano e os bancos de honra. No sentir de
Ramos Mello, quando o exame fosse bom, emboras
as notas de aulas, o aluno devia ser aprovado.
O professor Drago, outro feroz, opinava haver três
elementos a atender no julgamento de exames finais:
prova escrita, prova oral e conta de ano, aprovado o aluno
quando reunisse ao menos dois desses elementos.
Na sessão do Conselho Colegial de 8 de novembro
de 1880, o Dr. João José Moreira, professor de Italiano,
entrou "em largas considerações sobre a necessidade de
ter a corporação docente do Colégio a autonomia de
Congregação para decidir de tudo quanto dissesse respeito
ao ensino e até ao provimento dos lugares de magistério,
mediante concurso".
Isto encartado na discussão do valor de notas e
bancos de honra em relação a exames finais e de
suficiência, empenhados naquela discussão muitos dos
professores presentes.
Cabe, pois, ao Dr. João José Moreira a ideia da
transformação do Conselho Colegial do Colégio em
Congregação.
Opinavam também os professores de Arte
consultados pelo reitor sobre assuntos pedagógicos,
funcionando qualquer estabelecimento de instrução por
engrenagem, na harmonia de vistas entre professores de
todas as disciplinas lecionadas, sem distinção pueril de
cadeiras maiores e menores tendentes no conjunto a bem
instruir os que se supõem vir à escola educados.
Consultado sobre o sistema de recompensa e
punições a alunos, respondia o professor de Música Mathias
José Teixeira, a 8 de novembro de 1880, "Penso que
os alunos merecedores durante o ano letivo de 9 notas
boas de aplicação e de exemplar procedimento, poderão
ter distinção; os que obtiverem 6 notas boas de aplicação,
tendo bom procedimento plenamente os que tiverem
3 notas boas de aplicação, bem procedendo
simplesmente.
Quanto a punições por ser o reitor "chefe e versado
em dirigir estabelecimento de instrução, era o competente
para decretar castigo com o maior critério".
Só deveria ser concedido, no sentir de Mathias
Teixeira, banco de honra ao aluno apresentando 3 notas
boas no trimestre, além de exemplar procedimento.
"Notas de aplicação, bancos de honra pesariam a
favor do aluno nos exames de suficiência ou finais,
elevando-os de um grau se as provas fossem
desfavoráveis ao aluno".
De grande importânciao prémio e castigo, num
estabelecimento de instrução, sobretudo secundária,
frequentado por adolescentes encalorados pela puberdade,
na inexperiência de muitos ou na audácia de alguns,
julgando permitido ou tolerado justamente o defeso.
Prémio e punição, como dispensá-los na
manutenção da sociedade humana, se até ou reclama
paraíso, purgatório, inferno. Viver às claras, sim, às soltas,
não.
Pedida a opinião do professor de Desenho, Poluceno
Pereira da Silva Manoel, acerca de prémios e punições,
propunha ela o sistema de graus para os alunos de
progresso, graus de 1 a 10, conferido graus 10 ao aluno de
constantes notas boas. Os graus de 9 a 6 caberiam ao
aluno de notas entremeadas boas e sofríveis; os graus de
5 a 1 seriam conferidos ao aluno só de notas sofríveis.
Quanto a punições, Poluceno entendiao ter que
opinar.
A respeito de bancos de honra, julgavao ser
conveniente tal recompensa na aula de Desenho: "O
ESCRAGNOLLE DÓRIA
aluno mudando de banco para ser prejudicado quanto ao
bom lugar", dizia o professor, interessado na justiça de
julgamento.
Em vez de banco de honra na sua aula, seria
preferível a escolha dos melhores desenhos. Figurariam
em quadro, num quadro os nomes dos autores dos
desenhos.
A 6 de dezembro de 1880, nova sessão do Conselho
Colegial muito concorrida, la o Conselho tratar do ensino
de Línguas e da conveniência da adoção do método de
Clintock para o estudo do Latim.
Segundo o professor Schieffler, no ensino das
Línguas Vivas a prática devia ser associada à teoria, esta
precedendo aquela, vicioso o processo contrário, dele
provindo a incapacidade de reduzir, estendendo a todos os
alunos.
Contrariava Goldschmidt a opinião de Schieffler,
entendendo dever a parte prática preceder a teórica, em
cursos distintos ambas, por corresponder o método e
ensino das Línguas Vivas ao modo como o menino aprende
a língua materna, só servindo a acumulação de prática e
teoria para sobrecarregar o estudante e distrair-lhe a
atenção.
A discussão sobre a gramática de Clintock,o
preconizado pelo professor Lucindo, levou Schieffler a
discordar.
Goldschmidt acreditava o livro de Clintock útil
apenas nas aulas dos primeiros anos de Latim.
Declarava Halbouto conhecer o método de
Clintock, sabendo-o, porém, inspirado no de Jacotot. já
condenado pela prática.
Com tal método o aluno progredia nos primeiros dias
ou meses, estacionava depois.
Lucindoo podia deixar Clintock indefeso.
Declarou-lhe o sistema meia modificação do de
Ollendorf. Preferia o livro de Clintock depois de ter lido e
relido vinte e seis gramáticas.
Praticamente com o método clintockiano colhera
grandes resultados,o só no Colégio, como no Colégio
de Santa Cândida, os alunos do Externato, dando quinaus
nos do Internato.
Dezoito edições contava a gramática de Clintock nos
Estados Unidos, "só podendo ser repelida por aqueles
queo a conheciam bem".
O professor Rozendo Muniz Barreto, concordava
com Halbout.
No ensino das Línguas Vivas a teoria devia preceder
à prática sob pena de tomarem-se os alunos "papagaios".
Informava ter conhecido e conhecer na Bahia
eminentes professores de Latim alheios, na sua formação
e no seu ensino, ao método Clintock.
Lastimava o professor Ferreira França, a ausência
do colega Pacheco da Silva Júnior, "que reunia
conhecimento para tratar proficientemente dos assuntos
sujeitos à discussão", combatendo, França, como o colega
Rodrigues de Macedo, o método Clintock. Às quatro da
tarde findava a agitada sessão do Conselho Colegial,
iniciada às duas horas.
Afora as sessões do Conselho Colegial,
manifestavam-se os professores sobre a orientação
pedagógica do Colégio.
Assim dirigia o professor Goldschmidt ofício ao reitor
Carmo, a 11 de novembro de 1880, dizendo-lhe:
" Permita V.Ex.
a
que aqui apresente por escrito uma
ideia que expus na última Conferência Colegial, e, segundo
me parece, passou desapercebida, isto é, que na reforma
que se tem de fazer, se acabe com os exames de
suficiência, servindo o último concurso trimestral, que pode
ser assistido ou mesmo presidido por V. Ex.
a
, como prova
do exame, e aos alunos que nele passarem, serem
aprovados conforme os seus merecimentos.
Deste modo o exame tornar-se-á de certo modo mais
rigoroso e ao mesmo tempo mais agradável aos alunos e
aos professores, mais rigoroso por constar de uma prova
escrita, mais agradável aos alunos, porqueo terão de
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
fazer exames de prova ostentação e mais agradável aos
professores porque poderão empregar o tempo gasto por
eles em exames em pura perda, porque já conhecem o
merecimento de cada um de seus discípulos.
Se V. Ex.
a
achar esta minha ideia plausível, digne-
se de aceitá-la, se não, desculpe o haver eu ocupado o
precioso tempo de V.Ex.
a
com objetoo pouco
importante".
O ofício de Goldschmidt em 1880 é curioso por
despertar reflexões. A proposta dele precede de muito o
regime atual das aprovações por média, tanto o novo é
quase sempre muito velho.
À espera do início do ano letivo de 1881, por ofício
de 16 de fevereiro, declarava o reitor Carmo a superiores
hierárquicos, o Ministro do Império e o Inspetor de
Instrução Pública, "que o Imperial Colégio de Pedro
Segundoo preparava alunos para os cursos superiores
tais quais se achavam constituídos entre nós, preparava-
os para conhecimento mais amplo das matérias que
constituem o seu programa, fornecendo-lhes os
indispensáveis elementos para esse resultado, e
preparava-os para as condições de cidadãos nas múltiplas
e complexas relações da sociedade em que tinham que
viver, fossem ouo os alunos do Colégio bacharéis em
Direito, doutores em Medicina ou Matemática".
Em abril de 1881, declararia o reitor Carmo "que
Externato e Internatoo eram dois estabelecimentos de
instrução distintos e separados senão duas seções de um
só estabelecimento", frisando assim a imperiosa
necessidade da indefectivel harmonia entre as duas
seções de Casa única.
Ponderava Carmo a vantagem da harmonia entre
as reitorias do Externato e do Internato. "Ponho, dizia,
todo o empenho em conservar tal harmonia, bem certo de
que da rivalidade e da luta entre essas duas seções só
poderiam resultar prejuízos para ambas".
Observava o reitor Carmo que tomando posse do
cargo cogitara em restabelecer a disposição do artigo 2
do Regulamento n.° 8, de 31 de janeiro, reunindo o Conselho
Colegial nos dias ai determinados.
Afigurava-se a Carmo que para certo declínio do
Colégio contribuiu o isolamento em que se haviam mantido
largo tempo os membros do corpo docente, cada um deles
concentrado na esfera relativamente estrita de sua aula,
fato sem dúvida a dificultar senão impedir direção técnica,
geral e harmoniosa de ensino.
Em fevereiro de 1881, novo encargo vinha pesar
sobre a reitoria do Externato, transferidos da Inspetoria da
Instrução Pública para aquela reitoria superintendência dos
exames gerais de preparatórios.
Entendia, porém, o reitor Carmo conveniente a
extinção das delegacias e das mesas de exames de
preparatórios em algumas províncias.
" Sei dizia Carmo de que ordemo as
objeções que se opõem a este desideratum; maso
recuo diante da ideia que sugiro (ao Ministro Homem de
Mello), porque estou certo que nenhuma objeçào assenta
em considerações de interesse público.
o basta por diante a palavra descentralização para
ocultar os inconvenientes que derivam da conservação das
escolas a que aludo, queo cumprem, queo podem
cumprir, a missão que lhes é confiada."
Carmo procurava cumprir a promessa,o há
dúvida, no grande e no pequeno. Assim tendo os alunos
do 7
o
ano pedido feriado nos dias 25, 27 e 28 de junho, por
serem dias intercalados entre os feriados deo João e
o Pedro, ponderava Carmo ao Ministro Homem de Mello,
que os feriados legaiso constituíam razão para converter
em feriados dias úteis a estes próximos. Além disso o
ano letivo de 1881 iniciara-se a 2 de abril eo a 16 de
março, diferença de 16 dias nos trabalhos letivos.
Trabalhando com afinco na direção do Externato, em
janeiro de 1881, havia o reitor Carmo remetido ao Ministro
Homem de Mello projeto de reforma do Imperial Colégio,
ponderando a conveniência de qualquer modificação ao
plano de estudos da Casa era útil antes de iniciar o ano
letivo.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Querendo expedir reforma do ensino no Colégio, o
Ministro Homem de Mello desejou que fossem ouvidos
os professores da Casa sobre o projeto de reforma em
elaboração.
O reitor Carmo reuniu o Conselho Colegial às cinco
horas da tarde de 8 de fevereiro e abrindo sessão, declarou
"que os Srs. Professores estavam habilitadíssimos para
dar, de momento, seus pareceres sobre a reforma,o só
pela sua experiência no magistério, como porque já sobre
o assunto também detida atenção, ao responderem aos
quesitos formulados na primeira reunião do Conselho
Colegial (a 2 de agosto de 1880).
Então o secretário interino do Externato, João Alves
Mendes da Sylva, sem interrupção procederia à leitura de
todo o projeto de reforma e seu plano geral. Seguir-se-ia
leitura espaçada de cada artigo, de modo a permitir
observações por parte de professores.
Das cinco da tarde às dez da noite, o Conselho
Colegial discutiu a matéria, oferecida à sua consideração
pela do Ministro; conforme atas do Conselho Colegial.
A 24 de março de 1881, um Decreto referendado
pelo ex-professor do Colégio, o Ministro Homem de Mello,
modificava bastante os regulamentos da instituição.
A reformao alterava a duração do curso de
bacharelado, continuava a ser septenato. Dezoito
professores leriam no Externato, outros tantos no Internato.
Treze substitutos, comuns às duas seções do Colégio,
auxiliariam os catedráticos no curso de bacharelado. O
estudo da língua vernácula prosseguiria até o 5
o
ano.
Prosseguiria também no 6
o
ano o estudo da Retórica,
da Poesia e da Literatura Nacional. No 7
o
ano far-se-ia o
estudo comparativo do Português e das Línguas
Românicas, dos principais períodos literários da Língua
Portuguesa, analisadas as diversas fases da Literatura de
Portugal.
Pela reforma de 1881 seriam assim estudadas as
disciplinas no Colégio:
Latim —No 2
o
, 3
o
, 4
o
e 5
o
ano.
Grego —No 6
o
e 7
o
ano.
Inglês No 4
o
e 5
o
ano.
Francês No 1
o
, 2
o
e 3
o
ano.
Alemão —No 6
o
e 7
o
ano.
Português No 1
o
, 2
o
. 3
o
, 4
o
e 5
o
ano.
Italiano No 7
o
ano.
História Geral No 5
o
e 6
o
ano.
Corografia do Brasil No 7
o
ano.
Geografia Geral No 1
o
, 3
o
e 4
o
ano.
Matemática No 1
o
, 2
o
, 3
o
e 4
o
ano.
Filosofia —No 6
o
e 7
o
ano.
História Natural No 6
o
ano.
Dispensava a Reforma Homem de Mello para a
obtenção de grau de bacharel em letras, aprovações em
Desenho, e Música e Ginástica, sem dispensa contudo
das respectivas aulas.o seria obrigado o acatólico à
frequência ou exame da aula de Religião.
Fixava a reforma horária das aulas. Iniciadas às 9
da manhã, nos dias úteis, findariam às 3 da tarde.
Programas de ensino, adoção de livros, horários ficariam
a cargo de reitores, consultados professores e mestres,
submetendo o Inspetor Geral da Instrução ao Ministro do
Império as providências das reitorias. Mantinha a reforma
a classe dos meio-pensionistas e no Externato frequência
de aulas avulsas, habilitado o candidato a elas a seguir-
Ihes o ensino, prestados exames vagos de qualquer ou de
todas as matérias do curso. Visando acatólicos, a reforma
substituía verbo no juramento do grau. Deveria o acatólico
jurar respeitar eo manterá religião do Estado.
Anualmente, no Diário Oficial, seria publicada, por
indicação dos competentes mestres, a lista dos alunos
mais destacados nas aulas de Música, Desenho e
Ginástica.
Em vigor no Colégio a Reforma Homem de Mello, o
reitor Carmo convocava o Conselho Colegial a 2 de maio
de 1881.
Aberta a sessão, às cinco e meia da tarde, o reitor
s em discussão vários pontos já submetidos em circular
ao exame dos professores, a circular expedida a 23 de
abril.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Os pontos sujeitos à consideração do Conselho eram
os seguintes:
1
o
relação entre o ensino e os exames. Meios
práticos de evitar prejudicial antagonismo entre a
preocupação destes e o fim daquele, atendendo-se,o
só ao que respeitava os exames do Colégio como o que
entendia com os exames gerais de preparatórios.
2
o
Condições que deviam reunir os professores
e se suficientes as até então exigidas para admissão ao
professorado do Imperial Colégio de Pedro Segundo.
3
o
Possibilidade de converter-se, desde logo, o
Conselho Colegial em Congregação, em que condições,
consideradas as duas seções Externato e Internato.
Abriu discussão o professor Goldschmidt dizendo
que por mais que procurasseo achara possível o
antagonismo enunciado no primeiro quesito da circular.
Quanto ao segundo, entendia suficientes, senão
excessivas, as condições em vigor para admissão ao
professorado do Colégio.
Nunca compreendera a vantagem da divisão do
Colégio em duas seções, parecendo-lhe que deveria a Casa
ser dirigida por um só reitor, dois vice-reitores servindo-
Ihe de auxiliares.
Opinava ainda Goldschmidt pela conveniência da
conversão do Conselho Colegial em Congregação,
mantendo-se a reitoria em esfera elevada, concedida ao
corpo docente mais direta e eficiente influência na direção
do ensino.
Schieffler e Halbout declaravam-se de inteiro acordo
com Goldschmidt, cujas, ideias também Monsenhor Félix
aceitava. Mas esteo confiava muito nos corpos
coletivos parecendo-lhe necessária alteração dos
regulamentos em vigor para conversão do Conselho
Colegial em Congregação real e não nominal.
O professor Silva Lisboa reputava insuficientes as
provas de concurso da época, mau o sistema de teses,
podendo elas ser escritas por terceiros, preparando-se o
candidato para prova de efeito, simuladora de habilitação,
pondo em jogo recursos intelectuais próprios. Condenando
a prova oral, o professor Lisboa encarecia, em parte, o
valor da escrita. Recuava o mesmo professor ante a ideia
da conversão do Conselho Colegial em Congregação.o
podia combinar os interesses dos professores com a
utilidade e proveito do Colégio, deixando a competentes a
solução do problema.
O professor Olímpio da Costa declaravao
compreender bem o que fosse antagonismo entre ensino
e exames, parecendo-lhe que se antagonismo havia entre
o Colégio e o que fora dele se passava, evitá-lo-ia
uniformização dos programas.
Referindo-se aos concursos, dizia o professor
Olímpio da Costa "não acompanhar os que queriam
quebrar os andaimes por onde haviam subido" ao
professorado do Colégio.
Parecia-lhe preferível arguição recíproca entre
candidatos, julgando necessária a conversão do Conselho
Colegial em Congregação útil, caso realizada sobre a base
da distinção entre administração e economia.
Declarava o professor estar de acordo quanto ao 1
o
quesito com o professor Goldschmidt, quanto ao 2
o
com o
professor Lisboa, quanto ao 3
o
com Monsenhor Félix.
Parecia-lhe, entretanto, que o candidato à cadeira
de uma ciência deveria mostrar-se habilitado em todas as
ciências lecionadas no Colégio, o mesmo se dando com o
aspirante a cadeira de qualquer língua.o parecesse o
seu juízo exigência rigorosa, pois pelas disposições em
vigor ao bacharel pelo Colégio cabia preferência na
nomeação para professor.
O professor Rozendo Muniz Barreto entendia dever
o programa de exames estar de acordo com o do ensino,
o mesmo programa vigorando para os exames do Imperial
Colégio e os de preparatórios. Aludindo aos "andaimes"
citados pelo professor Olímpio, asseverava o professor
Rozendo "não se arrecear de quebrar a escada por onde
subira, ainda que fácil a ascensão, o que para eleo se
dera".
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Focalizando a questão apenas no interesse público,
julgava Rozendo o pergaminho, presunção da habilitação,
suficientes as provas de concurso, confirmadoras da
presunção derivada do pergaminho, "colocando o candidato
em condições deo ser equiparado a qualquer
aventureiro".
Dava toda importância à apresentação de tese,
insuficiente, porém, o prazo de quinzena para sua
apresentação. Era pela arguição mútua dos candidatos,
substituída a da mesa examinadora, mormente o Conselho
Colegial convertido em Congregação apreciadora das
provas. Quanto à conversão cumpria distinguir entre
matérias permanentes, administrativas e outras de
natureza pedagógica ou de natureza mista. Caberiam
exclusivamente as primeiras à reitoria, as segundas ao
professor, as terceiras à Congregação presidida pelo reitor
com voto de qualidade, conveniente reitoria única para as
duas seções do Colégio.
Manifestou-se o professor Rodrigues de Macedo,
em substância, de acordo com o professor Goldschmidt,
julgando possível "o compadresco na arguição pelos
examinadores", embora o mal encontrasse corretivo na
suprema inspeção do Governo.
O professor Arthur de Oliveira pediu vénia para
abster-se no momento de participar da discussão, visto
ser "homem novo na casa".
Lamentava o mestre de Ginástica, Paulo Vidal,o
se achar a sua classe em pé de igualdade com a dos
professores. Para as aulas de Ginásticao se exigiam
habilitações, todavia indispensáveis provas do
conhecimento do corpo humano, de osteologia, da
miologia, da diferenciação dos grandes centros nervosos.
O mais longo dos pareceres foi o de José Manoel
Garcia, professor de Português do 2
o
e 5
o
ano do Externato
e dele vice-reitor.
Disse que estabelecer programas de pontos para
exames gerais, de molde a conhecer se o examinando
sabia a matéria inteira era "descarregar golpe de morte na
especulação que preparava por pontos ad hoc os jovens
preparatorianos".
Quanto a concursos entendia Garcia que dos
candidatos se deveria exigir, além do perfeito conhecimento
da matéria, provas de habilitação e metodologia,
especialmente da matéria a ensinar.o era inovação em
face das instruções de 5 de janeiro de 1855, considerando
Garcia insuficiente a prova oral estabelecida pelas
instruções de 24 de outubro de 1878.
Nenhuma importância ligava à prova de tese, pois
esta podia ser feita por terceiro, dando-se o caso de ser o
candidato ensaiado para brilhante defesa.o via
inconveniente na arguição mútua de candidatos, autorizado
o presidente do ato excluir dele quemo se portasse
com devida urbanidade e circunspeção.
Tratando da transformação do Conselho Colegial em
Congregação, opinava Garcia haver duas espécies de
Congregação: as autónomas e as dependentes de
quem as custeia. A primeira espécieo lhe parecia
aplicável ao Imperial Colégio, porquanto o "self
government" só pertencia às corporações de ensino livre
administradoras do próprio património.
Supunha a segunda espécie, a da Congregação
dependente, o mesmo pé de igualdade de seus membros
quanto à ilustração, consideração e importância pessoal.
De outro modo, dizia Garcia a seus pares, o interesse
individual, a inveja inconfessável, os ódios reencontrados,
as pretensões contrariadas acharão meios de formar
maiorias caprichosas, para levar de vencida os adversários,
e daí o prejuízo do ensino, o declínio da instrução, sem ser
possível descobrir o verdadeiro responsável.
Com estas e outras muitas considerações severas
opunha-se Garcia à transformação do Conselho Colegial.
Como lhe lembrassem existência de Congregação
na Escola Normal da Corte, "filha de Garcia" diziam
lembradores, o impugnador retorquia ser a Escola Normal
ainda muito jovem, mal se podendo prever o que produziria
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
no futuro.o lhe cabia responsabilidade na criação da
Congregação da Normal. Já existia quando para ela
entrara.
Caso ao Governo aprouvesse transformar em
Congregação o Conselho Colegial, julgava Garcia que, dos
males preferido o menor, mais consentâneo seria a índole
da Instituição, estabelecer-se reitor único para as duas
seções do Colégio, uma só Congregação formada pelos
professores das duas seções da Casa dirigida por aquele
reitor. Teria a Congregação esfera de ação determinada,
sujeitos os seus atos à aprovação do Governo.
Assim, às 7Vè da noite de 2 de maio de 1881
terminava mais uma sessão de Conselho Colegial. Às 5
M? da tarde de 6 de junho de 1881 nova sessão para discutir
quesitos propostos pela reitoria do Externato aos
professores por circular de 19 de maio.
Desejou consultá-los a reitoria para saber se os
compêndios e manuais de ensino usados no Colégio
satisfaziam necessidades da instituição e dado queo
satisfizessem quais os susceptíveis de revisão, correção
ou organização.
Desejava mais a reitoria dissesse o Conselho que
obras literárias, pedagógicas ou científicas conviria adquirir
para engrandecimento da Biblioteca do Externato, como
ordenava o plano de estudos do Colégio.
Pronunciar-se-ia, também, o Conselho Colegial
sobre a utilidade de preleções ou conferências públicas e
periódicas feitas pelos professores do Externato, apontando
o Conselho, no caso afirmativo, quem se achava em
condições de realizar aquelas conferências.
O professor Schieffler julgava-as, com franqueza
rude, "inconvenientes, porquanto em geral só se animava
a tomar nelas a palavra quemo entendia da matéria".
Acompanhou-o na franqueza germânica a franqueza
de Halbout, no bom sangue francês polvilhando-a de ironia.
"Parece-me, disse, que o Colégio deve resistir ao
prurido de falar, moléstia crónica ou enfermidade da moda,
manifestada nas conferências, ondeo raro apareciam
pigmeus, como nas da Glória a que a gargalhada pública
fazia justiça".
Monsenhor Félix acrescentava que preleções e
conferências figuravam entre causas da queda do Império
Romano. Silva Lisboa pendia para a utilidade das
conferências, "uma vezo feitas a esmo, embora
onerassem professores". Lucindo aplaudia as conferências,
mas constituindo cursos. Era Carlos França favorável à
ideia das conferências.
"Produziriam excelentes resultados para os ouvintes
e dariam medida da importância do Colégio".
Conferências públicas, inscrições voluntárias e
pontos de discussão escolhidos pelos professores nos
limites da matéria do programa do ensino, seriam de
incontestável utilidade. E França terminava oração, com
uma seta do parta. "Talvez me exprimo assim porque
o falto". Difícil, seo impossível, saber hoje quem
recebeu a seta.
O professor Rodrigues de Macedo, a propósito do
melhoramento da Biblioteca do Externato, dizia saber "que
as obras pedagógicas eram úteis, embora já tivesse
passado o tempo em que cada erro, cada bolo. Ao
professor queo soubesse tocar a corda sensível do
estudante pouco poderiam aproveitar tais obras".
Era adverso às conferências porque o público ficaria
formando mau conceito do professor queo pudesse falar
por acanhamento e, demais,o podendo as preleções
versar sobre matéria inteiramente nova ninguém lhes
prestaria atenção e qualquer aranha distrairia o público.
O professor de Ginástica, Paulo Vidal, lembrando
conveniência de organização de compêndio de educação
física nacional, entendia úteis as preleções se
consistissem na exposição de métodos de ensino.
O mestre de Desenho Poluceno Manoel achava as
preleções úteis relativamente à arte de sua aula.
Terminou a sessão do Conselho Colegial às 7 % da
noite por longa exposição do professor José Manoel Garcia.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Entre muitas considerações disse pugnar "para que o
público ficasse conhecendo que no Imperial Colégio de
Pedro Segundo havia professores que mereciam tal nome,
dissipando a má impressão causada pela acusação de
plágio e o ridículo que em publicações a pedido nos jornais
da Corte se tinham lançado sobre algumas teses de
concurso."
Entendia, mais uma vez, o professor Garcia que o
concurso provava apenas habilitação em tal ou tal disciplina
eo que o professor escolhido tivesse variada ilustração
e tino pedagógico.
Amiudava o reitor Carmo as sessões do Conselho
Colegial, a eles chamados os professores e mestres do
Externato e do Internato.
A 4 de julho de 1881 reunia o Conselho, sujeitando-
Ihe à apreciação três quesitos mandados a estudo prévio
a 27 de julho.
Desejava o reitor que o Conselho lhe dissesse:
1
o
Atento o fim da instituição, cuja resolução
depende do trabalho harmonioso de todos os senhores
professores, em que condições e dentro de que limites
podia cada um opinar e influir sobre a direção das aulas
dos outros.
2
o
Em que bases convinha assentar com as
noções de gramática geral recomendadas pelas instruções
em vigor para uso de todas as aulas de línguas no
estabelecimento.
3
o
Qual o melhor método para o ensino de Línguas
Vivas.
Rompeu discussão o professor Halbout. Julgou
competir à administração eo professores a inspeção
das aulas, tendo como certoo ser possível tal inspeção
por destacadas as matérias do ensino.
o via necessidade de gramática geral, "cuja
consequência seria modificarem-se compêndios de
colegas que, no seu entender, continham ideias
extravagantes. Quanto ao melhor método do ensino de
Línguas Vivas eram a regra, o exemplo, a aplicação, mais
profícuas do que guias de conversação e repetidas
composições."
Pensava o professor Lisboa haver utilidade no
preparo de gramática geral, achando ao mesmo tempo
difícil "harmonizar tantas cabeças divergentes".
Declarou-se o professor Lucindo de acordo com os
preopinantes, seguindo-se o professor Olímpio da Costa,
entre várias considerações, declarando insuficiente o
tempo para que os alunos pudessem bem falar uma língua
estrangeira. Com a franqueza e independência reveladas
nas discussões do Conselho, o professor Olímpio da Costa
opinava "que o Governoo tinha meios de satisfazer o
luxo de fazer o aluno, dada a premência do tempo,
expressar-se bem no idioma alienígena para ingressar na
sociedade, ele Governoo tendo podido cumprir as suas
promessas relativamente ao ensino primário".
Com a mesma franqueza do professor Olímpio da
Costa, perguntava o professor Carlos França "porque os
Srs. Ministros que para resoluções procuravam auxílio de
simples empregados de secretariaso consentiam ao
professor habilitado opinar sobre o ensino das diversas
aulas".
Desejava França nomeação de comissão que
assentasse as bases das noções de gramática geral,
convocados os professores de línguas para juízo do plano,
resolvida finalmente em assembleia geral.
No ensino de Línguas Vivas entendia indispensável
prática, muita prática, ao lado da teoria. Deviam, no seu
entender, ser feitas traduções e versões em alta escala,
vertendo e compondo os alunos frases de uso quotidiano,
ao arbítrio do professor, quais as encontradas nas contas,
artigos de jornais, até em rótulos de garrafas.
Sugeria a ideia da criação de três censores falando
bem francês, inglês e alemão, com eles praticando os
alunos. Nos colégios das irmãs de caridade as meninas
o falavam francês?
A necessidade de exprimir-se em línguas
estrangeiras parecia ao professor França incontestável,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
"até porque tínhamos corpo diplomático ao qual convinha
mostrar-se habilitado a exprimir-se em línguas
estrangeiras."
Segundo o professor Macedo qualquer professor
podia influir e opinar sobre aulas alheias, mas só por meio
de colóquios e conversações particulares. Podia "parecer
carranca", mas entendia que no ensino de Línguas Vivas
a teoria ia a par da prática, facilmente o aluno chegando a
esta uma vez senhor do mecanismo da língua. "Ainda
assim o aluno devia dar graças a Deus se conseguisse
verter da língua estranha para a nacional e vice-versa,
condição essencial o conhecimento da língua vernácula,
bastão e arrimo".
O professor José Manoel Garcia discutiu longamente
os quesitos propostos pela reitoria, considerando o
Conselho Colegial, conselho de família, necessárias
providências para atingir o ensino o grau de perfeição
desejável em Colégio modelo qual o de Pedro Segundo;
evitando-se que os professores de certas aulas pudessem
queixar-se do mau progresso de alunos em outras aulas.
Acudia Lucindo declarando queo duvidaria
ensinar português (Garcia era professor da língua), aos
alunos de Latim que mal o soubessem. Respondia-lhe
Garcia que "pagando o Governo professor para certa
disciplinao era justo encarregar outrem do trabalho que
o lhe competia".
No curso secundário, Garcia conforme no ensino de
Línguas Vivas era "preferível o método universitário, isto
é, regra, exemplo e prática, eo aquele dando ao
professor o papel de ama de leite".
As sessões do Conselho Colegial, correspondentes
à futura novidade dos Conselhos Técnicos, demonstravam
interesse pelo "grau de perfeição" desejado pelo professor
Garcia para o colégio modelo, depois padrão. Modelo ou
padrão o essencial é o ser.
A 27 de julho de 1881 propunha o reitor Carmo ao
corpo docente os seguintes quesitos:
1
o
Qual o melhor sistema para formação dos
professores de ensino secundário.
2
o
Nos Externatos de instituição oficial a ação do
Estado deve limitar-se à instrução, isto é, ao fornecimento
de certa ordem de conhecimentos ou estender-se a direção
moral, à educação propriamente dita.
Ao primeiro quesito Qual o melhor sistema para
formação dos professores de ensino secundário assim
responderam vários docentes na sessão do Conselho
Colegial de 2 de agosto de 1881:
Monsenhor Félix: Mostrar-se o professor
habilitado na matéria que leciona e capaz de ensiná-la.
Abreu: Possuir a índole e o génio do professorado,
escolhido quem revelasse mais prática de ensino.
Schieffler. Mandar estudar na Europa desde oito
anos de idade quantos se destinassem à carreira do
magistério, evitando-se assim professores curiosos ou
amadores e o preenchimento de cadeiras por bacharéis
apenas três meses após bacharelado.
Silva Lisboa: Exigir do professorado conhecimento
especial da matéria a lecionar e das disciplinas mais
intimamente relacionadas com aquela, além de
conhecimentos de pedagogia.
Lucindo: De inteiro acordo com Monsenhor Félix.
Ramos Mello: De acordo com o professor Abreu,
o parecendo indispensável ir à Europa para aprender
alguma coisa, bastando como aperfeiçoamento pedagógico
prémio de viagem "ad instar" do praticado com alunos da
Academia das Belas Artes.
Rozendo Muniz: Adquirir antes de tudo,
indispensavelmente, a arte comunicativa de transmitir os
fatos do pensamento, a educação literária do professor,
devendo favorecer o estilo na eloquência didática,o
sendo menos útil penetrar as origens e os verdadeiros
elementos da vida nacional, nem sendo para desdenhar
os exercícios corpóreos por aspirante a professores, sendo
até bom que possuíssem o que se denominava academia
da antiga nobreza, por formar o ensino médio a nata social,
a aristocracia intelectual do país.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Olímpio da Costa: Fundar estabelecimento normal
secundário ou, atentas circunstâncias do país, dividir os
estudos do Imperial Colégio em seções, com uma seção
pedagógica para formação de professorado.
Carlos França: Impedir o sistema proposto pelo
professor Schieffler de preparar para o magistério
estudantes desde oito anos de idade, idade de propensões
e tendênciaso bem definidas, impossível verificar então
vocações para o professorado.
Rodrigues de Macedo: Estabelecer-se liceu ou
academia para verificação de aptidões para o magistério,
contratados professores hábeis em pedagogia.
Garcia: Criar seminários pedagógicos para
preparação de professorado.
Ao segundo quesito formulado pelo reitor Carmo
Nos Externatos de instituição oficial a ação do Estado deve
limitar-se à instrução, isto é, fornecimento de certa ordem
de conhecimentos ou estender-se à direção moral da
educação propriamente dita assim se manifestaram
vários membros do Conselho Colegial.
Monsenhor Félix: Instrução sem educação,
principalmente religiosa, nada vale.
Abreu: Cumpre aproveitar todo o ensejo para
inocular no ânimo dos alunos princípios de boa educação.
Schieffler: Ensino sem educação é quadro sem
moldura.
Lucindo: De acordo com Monsenhor Félix.
Ramos Mello: A educação pertence à sociedade,
a família é a verdadeira escola para formação do coração
e do caráter.
Rozendo Muniz:o é possível ser homem e
cidadão sem princípios de moralidade. Assim sendo, não
há pretexto para que o Estado se possa subtrair à missão
de exercer, pelo professor e pelo ensino, influxo moral nos
alunos. Opinião antecedida por muitas e eruditas
considerações.
Olímpio da Costa: A instruçãoo pode
absolutamente ser separada da educação moral, como
também esta seo pode separar da educação religiosa,
inconveniente em Externato oficial, firmar o princípio da
educação religiosa, essencialmente católica ou não. No
primeiro caso por ir de encontro à liberdade de cultos, no
segundo por afrontar o pensamento da maioria consagrado
na religião do Estado,o inspecionável a educação dada
pela família, podendo afrontar a oficialmente dita e em
prejuízo desta.
Rodrigues de Macedo : A felicidade do homem
está no cumprimento do dever.
Paulo Vidal: Instrução sem educação é
instrumento de ruína.
Indagava o reitor Carmo do Conselho Colegial qual
o melhor regime disciplinar aplicável ao Colégio.
Assim vários professores respondiam:
Monsenhor Félix: No regulamento vigente está
exarado o melhor regime.
Abreu: De modo absolutoo se pode determinar
qual o melhor regime, variável conforme o caráter do
professor e as circunstâncias do país e só pelos resultados,
avaliável o mentor de regime disciplinar qualquer.
Schieffler. O regime depende da índole, do caráter
e de outras circunstâncias.
Lucindo: De acordo com o Monsenhor Félix.
Ramos Mello : Nada acrescentaria ao juízo dos
colegas.
Rozendo Muniz : Sem impugnar o regime
disciplinar vigente no Colégio, só lhe restava dizero
haver regime disciplinar capaz de manter a ordem,
despertar a emulação e corrigir delinquentes ; por falta de
ensinamentos ou por vícios e firmeza de inteligência
próprios da índole, quando o professor, personificação da
lei que prefere impedir a falta a castigá-la improficuamente,
deixa de ser vivo transunto da mansuetude, da paciência
eda equidade.
Olímpio da Costa: A verdadeira moral consiste
na aplicação das regras da disciplina, em estabelecimento,
disciplinado, cada professor na sua aula incumbido de
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
manter disciplina de apoio na força moral dada pelos
administradores.
José Manoel Garcia: Posto em prática com o
devido critério o regime disciplinar vigente no Colégio nada
deixa a desejar.
Tal a última das sessões do Conselho Colegial,
objeto do artigo 2
o
do Regulamento de 31 de janeiro de
1838, e ressuscitado pela reitoria Carmo.
Pelo Decreto de 24 de agosto de 1881, atendendo
às representações dos professores e substitutos do
Imperial Colégio, o Ministro Homem de Mello convertia
em Congregação o Conselho Colegial, cuja breve
existência ficou assinalada por discussões minudentes e
interessantes, entendendo de perto com a vida da
instituição, discussões nas quais se observou a maior
liberdade de juízos, alguns repassados de expressões
felizes e até de ironias.
O Decreto instituidor da Congregação traçava-lhes
direitos e deveres. Os substitutos só tomariam parte no
corpo congregado, quando ocorresse matéria de concurso,
os mestres nele presentes se ocorressem assuntos
relativos às suas aulas.
Organização anual de programas de ensino, de
horários, de adoção de obras e compêndios, mediante
aprovação do Ministro do Império, formação dos pontos
dos exames finais e de suficiência, isto é, de promoção,
julgamento de expulsão de alunos com efeitos devolutivos
para o Governo, eleição de mesas examinadoras de
concursos, julgamento destes, apresentação ao Governo
de lista de candidatos classificados por ordem de
merecimento, além de regimento especial de provas e
processos dos concursos e programas dos pontos a serem
utilizados nestes, eleição de professor para elaborar a
memória histórica do ano letivo findo, tudo o Decreto
Homem de Mello entregava à Congregação do Colégio,
providenciando também sobre formação das mesas de
exames finais e de suficiência, sempre presididas pelo
reitor.
Havia o Conselho Colegial durado justo um ano, de
2 de agosto de 1880 a 2 de agosto de 1881, no espaço de
ano de vida, celebrando dez sessões prolongadas,
estendendo-se da tarde à noite, cinco sessões em 1880 e
outras tantas em 1881.
As atas do Conselho Colegialo dignas de leitura
e demonstram o interesse do corpo docente por questões
pedagógicas, esclarecidas com conhecimento de causa.
O Decreto n.° 8227 de 24 de agosto de 1881
convertera em Congregação o Conselho Colegial do
Imperial Colégio de Pedro Segundo.
Quases depois celebrava a nova assembleia
primeira sessão numa das salas do Externato, sob
presidência do Inspetor Geral de Instrução Primária e
Secundária, Conselheiro José Bento da Cunha e Figueiredo,
presentes os reitores do Externato e Internato, Carmo e
Leal, vinte e nove catedráticos, e treze substitutos, faltando
apenas três membros da Congregação.
Às cinco e meia da tarde de 24 de setembro de 1881,
o Conselheiro José Bento, abrindo sessão primeira da
Congregação explicava o fim da reunião. Tratava-se de
dar execução ao Decreto criador da Congregação, convindo
desde logo que ela cogitasse de regimento interno.
Após algum debate resolveu a Congregação em
definitivo e por votação nominal, que ela se limitasse a
nomear comissão para redigir projeto de regimento sujeito
a ulterior discussão.
Assentou votação nominal que a comissão fosse
composta de cinco membros.
Saíram eleitos os professores Carlos de Laet, por
37 votos, Caminhoá por 35, Frontin por 33, Goldschmidt
por 21, Abreu por 19, encerrando-se em seguida a sessão
por nada mais caber na ordem do dia, conforme ata redigida
e subscrita pelo secretário do Externato João Alves
Mendes da Sylva, o qual fazia aliás muita questão do y
em vez do /no apelido último.
A 3 de novembro de 1881 reunia-se de novo a
Congregação para eleger duas comissões, uma incumbida
ESCRAGNOLLE DÓRIA
de alunos e do regimento do Colégio, outra de elaborar
regimento especial de provas e processos de concurso.
Procedeu-se a eleição por listas de dez nomes cada
uma, presentes 35 votantes.
Para a primeira comissão foram eleitos, por ordem
de votação, Goldschmidt, Frontin, Tautphoeus, Drago e
Garcia, para a segunda comissão mais votados
Tautphoeus, Drago, Caminhoá, Thomaz Alves e Ramos
Mello.
Instituindo a Congregação do Imperial Colégio, o
Governo procurava prestigiá-lo. Assim, na sessão de 31
de dezembro de 1881, o Inspetor da Instrução Pública,
presidente da assembleia, declarava-lhe, de ordem do
Ministro do Império, então interinamente na Pasta o
Senador Dantas, poder a Congregação do Colégio dar
parecer sobre projeto de Universidade nas vistas do
Governo, parecer sobre todo projeto eo só sobre
instrução primária e secundária.
Assinalado no Colégio o ano letivo de 1881 pela
conversão do Conselho Colegial em Congregação também
o termo do referido ano letivo assinalaria turma de
bacharéis.
Compunha-se de doze setimanistas, seis do
Externato, seis do Internato. Na turma, pela posição social,
primava o príncipe D. Pedro, neto do Imperador pelo lado
materno, colega no Externato de João Carlos Pardal de
Medeiros Mallet, que mosqueteiro, desde moço, deveria
destacar-se nas letras, e de Alexandre Soares de Mello,
mais tarde secretário do Externato, por fim, diretor geral
de uma seçâo do Ministério da Justiça e Negócios
Interiores. Na turma do Internato figurava Aureliano Vieira
Werneck Machado, conhecido depois como
dermatologista.
Distinguia-se D. Pedro II, pela presença nas
solenidades de grau do Colégio e só ausência motivada
delas o privava.
À satisfação habitual de presidir colações de grau
no Colégio, juntou-se em 1881, o grande prazer de saber e
ver laureado neto pelo qual se desvelava. No ato o chefe
de família sobrelevava-se ao soberano, o coração à coroa.
Encerrando o histórico do ano letivo do Colégio em
1881, cumpre frisar uma das principais preocupações de
Carmo, como reitor do Externato, a fiscalização dos
exames gerais de preparatórios, realizados, por força do
Decreto de 5 de fevereiro de 1881, perante mesas
presididas pelo reitor do Externato e formadas por três
examinadores designados pelo reitor e tirados do corpo
docente do Colégio ou da Escola Normal.
o só o reitor Carmo influíra para as disposições
do referido Decreto, referendado pelo Ministro Sodré
Pereira, como tomava parte ativa nos exames de
preparatórios presente, ora em uma mesa, ora em outra,
correndo todas. Os professores do Colégio haviam
coadjuvado o reitor no impedir que alunos do Pedro
Segundo prestassem exames entre preparatorianos.
Em 1880, o professor substituto João Rodrigues de
Macedo, "fazendo as vezes de catedrático", como se
dizia na época, ou catedrático interino, como hoje se diz,
protestava junto à reitoria contra aquele fato.
Referindo-se às aprovações de alunos do Colégio
na Instrução Pública, declarava Rodrigues de Macedo, ao
reitor Carmo, que tais aprovações "desmoralizavam o
aluno aprovado aos olhos de alguns colegas que, sensatos,
lhes conheciam a força; ao mesmo tempo que espantavam
outros que, ignorantes,o sabiam a quem dar crédito
se ao professor da cadeira que lhes assegurava queo
sabia e que lhes cumpria estudar muito se à mesa
examinadora que os aprovava acoroçoando-lhes a estulta
crença de que conheciam a matéria trazendo, como
consequência, o desamparo dos livros, da aplicação, a
indolência enfim".
Vários professores do Colégio, em 1881, reclamavam
contra o abuso da prestação de exames de preparatórios
por alunos da Casa obtendo boas notas, quandoo se
mostravam habilitados nas disciplinas nas quais haviam
sido aprovados.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
O professor de Filosofia, Rozendo Muniz Barreto,
dizia o reitor Carmo, entre considerações, que "se por um
lado era honroso para o Colégio, que os seus piores alunos
ombreassem com os melhores dos colégios particulares,
por outro ladoo se fariam esperar funestas
consequências de tantas disparidades".
Halbout, professor de Francês, reclamava também
contra prestação de exames de alunos do Colégio na
Instrução Pública, citando casos ocorridos em suas aulas,
concluindo por dizer ao reitor Carmo:
"Aproveito a oportunidade que se me oferece,
chamando a ilustrada atenção de V.Ex.
a
, parao
clamoroso abuso que reclama providências muito
enérgicas, a fim de impedir que se reproduza como
efetivamente se tem repetido de alguns anos a esta parte,
com grave prejuízo da disciplina do Externato."
Assim, no ano de 1880, em Latim, exame
considerado mais difícil, se haviam inscrito nos exames
gerais de preparatórios 278 candidatos, aprovados 229,
nenhum com a nota de distinção, reprovados 49.
Em 1880, apareceram 1.329 candidatos ao exame
de Aritmética, 992 aprovados, 337 reprovados. Em 1881,
os inscritos eram 1.118, 670 aprovados, 448 reprovados.
Incumbido de fiscalizar exames de preparatórioso
foi pequeno, em 1881, o trabalho do reitor Carmo, nele
incluído a regência do Colégio para o qual, a 30 de maio
de 1881, entrava em exercício, coadjuvante contratado de
Desenho, quem depois seria professor efetivo da arte,
Manoel Arthur Ferreira, de assinalados serviços à
instituição pela perícia no ensino, formador de muitas
vocações pelo rigor de disciplina em aula modelar no
silêncio e no respeito.
Tinha então o provecto Manoel Arthur Ferreira como
colega, Quintino José de Faria, coadjuvante também
contratado, outro nome benquisto na arte nacional,
constante a preocupação de Colégio em escolher para
docentes os melhores elementos do magistério nacional.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Francisco de Paula Rodrigues Alves, Presidente da República
(1902 - 1906). Ex-aluno, bacharelando de 8 de dezembro de 1865.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
Morte de Joaquim Manoel de Macedo Reforma Rodolpho Dantas Parecer Ruy
Barbosa Primeiras Alunas no Colégio Introdução do Telefone Providências
Administrativas Novo Reitor do Internato Extinção de Meio-Pensionistas
Retiradas das Alunas do Colégio Supressão de Periódicos Colegiais Fiscalização
do Colégio Dádivas ao Mesmo Transferência do Internato Novos Reitores do
Internato e do Externato Fim da Monarquia e do Imperial Colégio
No Dia da Proclamação da República.
X
O Colégio de 1882 a 1889
ESCRAGNOLLE DÓRIA
A 1 ° de março de 1882 abriam-se as aulas do 44° ano
letivo do Colégio, pouco antes, a 18 de dezembro
de 1881, a lamentar a perda do professor de Italiano, Dr.
João José Moreira.
Logo ao iniciar-se o ano letivo o reitor Carmo dirigiu-
se a autoridade superior para saber se devia continuar no
Externato a prática de alunos avulsos deixarem de
comparecer às aulas subsequentes às outras nas quais
matriculados, aulas que funcionavam em primeiro lugar
em cada dia útil, com a justificativa apresentada pelos
alunos avulsos de receberem lições em outros
estabelecimentos de ensino.
Consultando, a quem de direito, Carmo obtemperava
que "a experiência demonstrava prejuízo da medida quanto
à boa ordem e disciplina do Colégio".
Logo após a consulta Carmo, recebia o Colégio
lutuosíssima notícia, a da perda de um dos luminares do
corpo docente, o Dr. Joaquim Manoel de Macedo, falecido
a 12 de abril de 1882, na terra natal,o recordada em
suas obraso João de Itaboraí.
Fecunda fora a vida de Macedo.
Dela boa parte se escoara em cátedra do Colégio.
Neste, por lições e livros, ensinava discípulos a amar o
Brasil, a recordar-lhe feitos de maiores em glorioso
passado nacional.
Por ocasião da morte de Macedo pôde dizer dele
Franklin Távora, sem receio de contestação: "O romance
nacional perdeu seu fundador, o drama um dos seus mais
devotados cultores, a poesia, uma de suas inspirações, a
história pátria uma de suas autoridades, a política, um
nome puro, a família, um esposo exemplar e um irmão
capaz de sacrifício".
À voz de Franklin Távora, orador do Instituto
Histórico, ajuntou a pena de alguém do Colégio, Carlos de
Laet, sentenciando: "Macedo exerceu o magistério no
Colégio de Pedro II e para seus alunos escreveu tratado
de corografia e história do Brasil, muito criticados, mas
geralmente copiados pelos que o censuram".
Outro homem de letras, Rozendo Muniz, ao ser
proposto voto de pesar na Congregação do Colégio pelo
falecimento de Macedo, professor da Casa desde 1849,
assim se expressou: "O vulto humano deo ilustre
colega atravessou esta vida em honra do magistério, da
família e da pátria.
A síntese de sua gloriosa carreira pode-se exprimir
nestas três palavras: talento, trabalho e probidade".
"Homem de bem" Macedo, declarava um
antigo discípulo dele, Alfredo d' Escragnolle Taunay, ao
dedicar-lhe romance de estreia "A Mocidade deTrajano".
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Prova a dedicatória quanto o professor vivia na
memória de alunos agradecidos, grupo à parte na massa
dos estudantes.
Provido na cátedra de Macedo, de História e
Corografia do Brasil, o professor substituto Joáo Maria da
Gama Berquó, a vida no Colégio retomou imperiosos
direitos.
Nele o Decreto de 24 de agosto de 1881, referendado
por Homem de Mello, antigo professor da Casa, convertera
o Conselho Colegial em Congregação: "Aspiração dos
professores", dizia o reitor Carmo ao Ministro do Império
Rodolpho Dantas.
Observava porém o reitor ter sido dada a presidência
da Congregação à Inspetoria de Instrução, colocados à
margem, à maneira de simples membros da corporação,
os reitores aos quais incumbia a direção do Colégio.
Ao Ministro Rodolpho Dantas, deveu o Colégio, o
Decreto de 23 de junho de 1882 mandando observar o
regimento especial das provas e processos de concurso
para provimento dos lugares de catedráticos e substitutos.
Segundo o regimento e o Decreto os concursos
seriam realizados no Externato.
Constaria de defesa de tese, de provas escrita e
oral e de provas práticas, estas nos concursos de Física,
Química e História Natural.
A tese seria apresentada dentro de 40 dias contados
do sorteio do ponto. O Inspetor Geral de Instrução presidiria
a mesa examinadora composta pelo reitor do Externato
ou do Internato, conforme ocorresse a vaga nesta ou
naquela seção, de um juiz e de dois examinadores eleitos
pela Congregação; cada examinador arguindo o candidato
por espaço de meia hora.
A prova escrita, comum a todos os candidatos,
realizar-se-ia no prazo de quatro horas sobre ponto tirado à
sorte.
A prova oral duraria uma hora, sorteado para
preleção um ponto, com vinte e quatro horas, de
antecedência. A prova prática efetuar-se-ia três dias após
a oral.
As notas atribuídas pela comissão julgadora seriam:
ótima, boa, sofrível e. Julgar-se-ia inabilitado o
candidato queo alcançasse para habilitação maioria de
votos. Logo depois a comissão passaria a classificar os
habilitados por ordem de merecimento. A Congregação
apreciaria o parecer da Comissão e apresentaria ao
Governo o candidato que julgasse digno de preencher a
vaga.
o se contentou o Ministro do Império, Rodolpho
Dantas, com o Decreto de 23 de junho de 1882. Sujeitou
à apreciação da Câmara dos Deputados, projeto
remodelador da instrução pública.
Partidário das universidades, quanto ao ensino
superior, em relação ao primário pugnava Rodolpho Dantas
pela urgência de criação dos jardins de infância e
acreditando preponderante o papel feminino no ensino
primário defendia a ideia da instituição de Internatos
normais para formação de professoras.
Dominado por teorias norte-americanas acerca de
instrução, entendia o Ministro Dantas, indispensável a
supressão dos exames de preparatórios descidos a muita
desmoralização nas províncias.
No ensino secundário prevaleceria o bacharelado em
ciências e letras,o concedido a estabelecimentos
particulares independente de fiscalização.
O projeto Dantas foi distribuído na Câmara dos
Deputados à comissão respectiva, relator do projeto o
Deputado Ruy Barbosa.
Apresentou este extenso parecer cujos pontos
principais eram: a criação de um Ministério de Instrução
Pública, a liberdade do ensino, a laicidade e a frequência
da escola pública, a divisão do ensino, a divisão do ensino
primário no Município Neutro, em quatro categorias (jardins
de infância, escolas primárias elementares, médias e
superiores), além de escolas mistas, dirigidas somente
por professoras, escolas normais uma de arte aplicada,
com museu anexo, tipo Inglês, constituição de fundo
escolar.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Isto quanto ao ensino primário, em relação ao
secundário, o Externato do Colégio de Pedro Segundo,
recebendo o nome de Liceu, manteria os seguintes cursos:
ciências e letras, finanças, comércio, agrimensura e
direção de obras agrícolas, maquinistas, industrial,
relojoaria e instrumentos de precisão.
O curso de ciências e letras compreenderia seis
anos, conferindo o diploma de bacharel. A criação dos
outros cursos do futuro Liceu era justificada pelo autor do
parecer. Entendia este, por exemplo, "de manifestar
conveniência o curso de relojoaria e instrumentos de
precisão".
A classe dos relojoeiros era entres numerosa em
toda a parte, balda da instrução indispensável para que
dela fosse possível surgirem artistas capazes de alargar e
fecundar tal indústria.
A classe de fabricantes de instrumentos de precisão,
limitada em toda parte, tendia a assumir importância
crescentemente avultada pela difusão dos estudos
matemáticos, dos trabalhos de alta ciência, das
investigações experimentais.
O país lucraria consideravelmente em abrir ensino
a esta espécie de vocações, a cujos produtos nunca
faltariam procura e copiosa retribuição.
No curso de ciências e letras do Imperial Liceu de
Pedro Segundo o parecer de Ruy Barbosa incluía disciplinas
novas, Estenografia, Agricultura, Economia Política,
Sociologia e Direito Constitucional em noções elementares,
a estenografia em exercício.
Dando suma importância ao ensino de Línguas Vivas
no Imperial Liceu, baseada no princípio capital deo saber
Línguas Vivas sem as saber falar, o parecer Ruy Barbosa
aconselhava que no Imperial Liceu o Alemão fosse
estudado durante quatro anos, o Francês e o Inglês durante
três, o Italiano durante dois, condenado como improdutivo
o ensino por temas e versões.
Em relação ao ensino da Filosofia no programa do
bacharelado, entendia Ruy Barbosa que "o programa oficial
da disciplina comportaria a história da evolução filosófica
das ideias, escolas e sistemas de filosofia com a
apreciação crítica da influência de cada escola, o
conhecimento da apologia das bases de cada sistema, a
separação entre a parte dessas ideias confirmadas pela
verificação experimental e a parte pertencente ao domínio
extra-científico da metafísica e dos sentimentos pessoais
do sistemático ou crente".
Justificando opinião, adiantava Ruy Barbosa:
"Ensina-se hoje a provar como de certeza absoluta, como
de exatidão verificada, certas e determinadas maneiras
de ver, a respeito da natureza da alma, da origem do
mundo, das coisas finais da ordem do universo. Mas
acerca de cada um desses imensos problemas quantas
opiniões diversas, contrárias, opostas,om existido e
disputado a palma da verdade?"
Dizia Ruy Barbosa: "Porventura o Estado há de
escolher, tem o direito de escolher, nessa luta de
afirmações e negações profundas, bandear-se a um
sistema, militar numa escola, impor aos que frequentam
os seus institutos docentes o ensino do credo, de uma
filosofia especial ou de uma seita religiosa? Com que
direito ordenais ao examinando, ao aspirante ao currículo
das Faculdades: Provai-me a imaterialidade da alma
ou as portas do ensino superioro se vos abrirão? Não,
esteo é o papel do Estado; entre as filosofias, entre as
religiões,o é a ele que incumbe eleger, mas a
consciência individual".
Aparatoso o Projeto de Reforma da Instrução Ruy
Barbosa, ficou onde repousam tantos projetos, no papel
impresso.
Findo o ano letivo de 1882, graduaram-se no
Externato 8 bacharéis e igual número no Internato,
sobrelevando-se na turma João da Costa Lima Drummond,
futuro e notável juiz, e Roberto Nunes Lindsay, engenheiro
civil e professor da Escola Normal.
A abertura do ano letivo de 1883 no Externato seria
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assinalado por novidade. O Dr. Cândido Barata Ribeiro,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
lente de medicina, requerera matrícula no 1 ° ano para suas
filhas Cândida e Leonor Borges Ribeiro.
Ocupava a Pasta do Império, no Gabinete
Paranaguá, o Senador Pedro Leão Velloso, o qual por aviso
de 22 de fevereiro de 1883 autorizou o reitor Carmo a admitir
no Externato alunos do sexo feminino, poro existir
disposição legal proibitiva.
Aproveitaram-se da concessão Cândida e Leonor
Borges Ribeiro, Maria Júlia Picanço da Costa, depois
professora municipal, Maria Olympia e Zulmira de Moraes
Kohn, também depois professoras municipais.
Ainda Leão Velloso na Pasta do Império veio lecionar
interinamente Latim, no Externato, o Dr. Amaro Cavalcanti,
futuramente de altos postos na República, inclusive os
de Prefeito do Distrito Federal e Ministro da Justiça.
Zelando pelo Internato, o ministro Leão Velloso
designava ali o bedel António Alves Carneiro para substituto
do secretário no impedimento deste.
Talvez cortando algum abuso, o Ministro
recomendava ao reitor vigilância quanto à distribuição de
passes gratuitos das companhias de carris, destinados
segundo o Ministro "para auxiliar o serviço do Estado e
o em benefício de funcionários ou pessoas de suas
famílias".
Em maio de 1883 era o Senador Leão Velloso
substituído na Pasta do Império pelo deputado sul-
riograndense Francisco Antunes Maciel, membro do
Ministério Lafayete.
Caber-lhe-ia autorizar, em novembro de 1883, o
assentamento de linhas telefónicas no Colégio pela
Empresa Telefónica do Brasil, sabido quanto a presença e
a animação do D. Pedro II na Exposição de Filadélfia em
1876 contribuiu para chamar atenção para Graham Bell e
o seu invento.
Encerrou o ano letivo de 1883 a respectiva colação
degrau.
Para realce desta o reitor Carmo pedia a guarda de
honra do estilo, "por isso que, frisava no pedido, SS. MM.
II,m de assistir, como sempre, à solenidade.
Ao ato concorreu, para bacharelado, reduzida turma,
de 4 bacharelandos, 2 do Externato, 2 do Internato, um
daqueles Tito Lívio de Castro, futuro médico cuja perda as
letras e a ciência lamentaram prematuramente.
Dois bacharéis em 1883, num Externato frequentado
por 236 alunos, atestava queo se ia facilmente ao 7
o
ano do curso.
Seria este assinalado, em 1883, pelo meio jubileu
de magistério de dois assíduos professores, o Dr. José da
Silva Lisboa e Monsenhor Félix de Freitas Albuquerque,
como também em 1884 completaria o professor Schieffler
vinte e cinco anos de cátedra.
Em junho de 1884 passou a Ministro do Império, no
Gabinete Dantas, Felippe Franco de, homem de grande
cultura e sabedor do vernáculo conforme hábito da terra
natal, o Maranhão, cognominada Atenas Brasileira.
Qual antecessores, Franco de Sá velava pelo Colégio,
querendo saber o que nele se passava, a exemplo do
"Homem deo Cristóvão". Assim, na intimidade, os
políticos do Império, temendo-o soíam tratar o Imperador.
Abrindo exemplo, pela presença e pela fiscalização,
o "Homem" queria que os ministros olhassem para o
Colégio, fossem quais fossem suas ocupações.
À menor acusação pública contra a instituição era
mister imediata resposta do Governo, para confundir ou
punir. Um exemplo: Em 1884, apareceu artiguete nas
colunas, assaz oposicionistas e com tinta republicana,
da Gazeta da Tarde, acusando o Externato de manter portas
abertas, alta noite.
Apressou-se o reitor daquele em informar logo ao
ministro e publicamente declarar ao jornal que o articulista
só se podia referir ao Instituto Farmacêutico cujo edifício
contíguo ao Externato fora entregue ao mesmo Instituto
sob cuja guarda se achava.
Viviam os reitores do Externato e do Internato em
constante correspondência, já com o Ministro do Império,
já com o Inspetor da Instrução Pública, cargo para o qual
se escolhiam pessoas notórias e quanto possível versadas
ESCRAGNOLLE DÓRIA
em assuntos pedagógicos. Ao Ministro do Império subiam
com frequência consultas e pedidos das reitorias do
Colégio.
Em 1884, o Ministro Franco de Sá tanto tinha de
receber o pedido dos alunos do Internato, representados
pelo reitor, para ser feriado a véspera deo João, como
consulta do mesmo reitor do Internato acrescida de
pretensão do vice-reitor do Internato e do substituto
Almeida Torres à regência de turmas suplementares.
Decidia o ministro determinando que idênticos
pedidos fossem acompanhados de informação do reitor
sobre a idoneidade moral e pedagógica dos pretendentes.
As turmas suplementares eram quase sempre
destinadas a subdividir o ensino no 1
o
ano, turmas únicas
e reduzidas, as dos anos superiores do Colégio.
Em 1884 o 7
o
ano graduava 2 bacharéis, e o
Internato 1.
Assinalava-se lutuosamente o ano letivo de 1885,
pelo falecimento do professor, e antigo secretário do
Externato, José Manoel Garcia, desaparecido a 14 de julho
de 1885. Deixando família em condições de pobreza, as
dos servidores do Império, o Governo procurou suavizá-la.
Adquiriu a biblioteca de Garcia, assaz numerosa e dividiu
livros entre o Colégio e a Biblioteca Nacional, no tempo
dirigida pelo Dr. João Saldanha da Gama.
Deixara a Pasta o Senador Franco de, pela
retirada do Gabinete Dantas, substituído pelo Senador Meira
de Vasconcellos, membro do Segundo Gabinete Saraiva.
Ministro novo, o Senador Meira de Vasconcellos,
recebeu ofício do reitor do Externato, comunicando-lhe a
existência no estabelecimento de 15 alunas matriculadas
e 5 ouvintes.
Pedia ao mesmo tempo a nomeação de inspetora,
ponderando contudo a conveniência de serem as alunas
do Externato encaminhadas para a Escola Normal ou para
o Liceu de Artes e Ofícios.
Das alunas do Externato no ano letivo de 1885 uma
contava 22 anos de idade, outra 16, a idade das demais
variando entre 14 e 10 anos. Só 1 aluna frequentava o 3
o
ano, as outras matriculadas no 2
o
e 1
o
ano.
Na gestão da Pasta do Império, o Senador Meira de
Vasconcellos continuou exemplo de antecessores zelando
pelo bom nome do Colégio, para mantê-lo,o hesitando,
embora reservadamente, em advertir.
Assim tendo o vice-reitor do Internato publicado na
imprensa ofício do reitor sobre caso ocorrido no
estabelecimento com um aluno do mesmo, ofício dirigido
à Inspetoria de Instrução Pública, o Ministro declarava ao
reitor "que, sem permissão do Governo,o podia nenhum
funcionário dar à publicidade, ofício dirigido às autoridades
superiores".
A 20 de agosto de 1885, saia Meira de Vasconcellos
da Pasta do Império, pouco antes da perda do reitor do
Internato, Dr. António Henrique Leal, falecido a 29 de
setembro de 1885; substituído interinamente pelo vice-
reitor, o bacharel em letras Luiz Cândido Paranhos de
Macedo.
As mutações de Governo para o Colégio, eram
sensíveis na Pasta do Império, da qual eleo
estreitamente dependia.
Fora do poder o Gabinete Saraiva, organizado o
Gabinete Cotegipe. de 20 de agosto de 1885, teria dele a
Pasta do Império o Senador Ambrósio Leitão da Cunha,
Barão de Mamoré.
Caber-lhe-ia referendar o Decreto de nomeação de
novo reitor do Internato, o professor do Colégio Aureliano
Corrêa Pereira Pimentel, entrado em exercício em outubro
de 1885.
Merece referência especial o ingresso de Aureliano
Pimentel no corpo docente do Colégio. Nascido no mineiro
o João d'EI Rey a 26 de novembro de 1830, distinguiu-
se Aureliano Pimentel na cidade natal como escritor e
jornalista, cultor da prosa e do verso, por obra volumosa
cuja parte inédita dava para publicação de alguns volumes.
Sabedor emérito da língua vernácula e de Latim, vivia
Aureliano Pimentel na sombra provinciana, à luz apenas
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
dos estudos de gabinete. D. Pedro II visitou, porém, Minas,
e teve ensejo de conversar com o modesto douto,
induzindo-o logo à cadeira do Colégio. Transferiu-se
Aureliano Pimentel para o Rio de Janeiro, obtendo por
concurso, e notável, a cadeira de Português cuja posse
lhe vaticinara o soberano. Certoo foi alheia a
benevolência deste na elevação de Aureliano Pimentel à
reitoria do Internato.
Pouco antes da designação de Aureliano Pimentel,
o Ministro Barão de Mamoré, pelo Aviso de 26 de setembro
de 1885, extinguia o meio-pensionato no Colégio.
Dava este ensejo ao reitor Carmo de pedir aumento
de vencimentos dos funcionários do Externato à vista da
cessação de alimentos aos mesmos.
Aproveitando ocasião, propugnava pelos interesses
dos serventes, dizendo ao ministro fazê-lo "emborao
tendo podido requererem eles pelo seu direito".
Finalizava o ano letivo de 1885, com a providência
do Ministro Mamoré no sentido deo mais serem
admitidas alunas no Externato.
"O orçamento vigenteo facultava verba para
inspetora de alunas, sendo o Colégio destinado somente
ao ensino de pessoas do sexo masculino. Mas como
seria injusto deixar as alunas do Externato ao desamparo
de instrução convinha encaminhá-las para a Escola
Normal, para o Liceu de Artes e Ofícios ou mesmo para o
curso noturno secundário da fundação do professor José
Manoel Garcia".
A 30 de dezembro de 1885 recebia grau a mais que
reduzida turma dos 7°anistas do ano, 1 do Externato, 1 do
Internato. Pouco antes de iniciar-se o ano letivo de 1886 o
Governo deu ciência aos reitores que só com autorização
dele Governo, seria lícito prorrogar trabalhos de qualquer
aula dos estabelecimentos.
o tardou também providência equitativa , a do
aumento de vencimentos de funcionários do Externato
prejudicados pela falta de alimentação, suprimido o meio-
pensionato dos alunos, aumento pecuniário de 50S000,
30$000 e 20S000 segundo categorias.
Extinto o meio-pensionato, a reitoria do Externato
deu destino à sobra dos géneros alimentícios da despensa
do estabelecimento, remeteu-os ao Asilo de Meninos
Desvalidos, ora Instituto Profissional João Alfredo,
procedendo-se à venda dos fogões e da bateria de cozinha.
O reitor, em mão de distribuir e remover, removeu
vários objetos da igreja do Externato para a Capela
Imperial.
Procurava o reitor Carmo manter a casa em ordem
e asseio, este mais aliviado com a extinção do meio-
pensionato.
Visitado o Colégio pelo presidente da Junta de Higiene
Pública, o Barão de Ibituruna, e mais dois membros da
Junta, autorizou aquele ao reitor a participar ao ministro
as boas condições higiénicas em que as autoridades
sanitárias tinham encontrado o Colégio.
Quando necessário cedia este, mediante autorização
superior, o Salão Nobre para solenidades, assim em 1886
o cedeu para instalação da Associação Geral de Auxílios
Mútuos da Estrada de Ferro D. Pedro Segundo.
Na época, o Ministro Mamoré ordenou que das
gratificações adicionais concedidas por merecimento aos
professores do Colégio seo deviam descontar faltas
justificadas ou licenças com vencimentos.
De fiscalização ao Internato, por Aviso de 9 de junho
de 1886, o Ministro Mamoré pedia ao reitor Aureliano
Pimentel informações sobre a publicação de jornal colegial
intitulado A Discussão.
Desejava que, ao informá-lo, o reitor considerasse
o só as ideias expendidas no periódico, mas também o
prejuízo que pudesse advir para os estudos dos trabalhos
a que se dedicassem alunos para levar a efeito a
publicação. Informou o reitor "que os trabalhos de redação
do periódico A Discussão concorriam para que os alunos
desamassem estudos". Logo após declarava o Ministro
ao reitor "não convir a continuação do periódico".
No fim do ano letivo de 1886 verificou-se ausência
absoluta de bacharéis em letras a graduar.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
o se limitava o Ministro do Império a fiscalizar o
Colégio por dentro, queria-o defendido fora. Um caso.
O órgão conservador e do partido do Ministro O
Rio de Janeiro no seu número de 15 de abril de 1887,
inseriu local, sob a epígrafe Colégio de Pedro II acusando
o professor de Religião do Externato de considerar
acatólicos 7 ou 8 alunos ouvintes, obrigados pelo professor
a se retirarem da aula.
"Para queé pago o professor?" perguntava o jornal.
No mesmo dia da acusação, 15 de abril de 1887, o
Ministro do Império, Barão de Mamoré, pedia informações
ao reitor do Externato, Dr. José Joaquim do Carmo,
encarregando este da respectiva sindicância o vice-reitor
Dr. Urbano Burlamaqui Castello Branco.
Informou o segundo sem demora:
"O fato narrado no referido jornal é o seguinte: O Sr.
Fr. Saturnino, professor de Religião da 1
a
seção, disse em
aula que, geralmente, os alunos ouvintes eram oriundos
dos reprovados no exame de admissão, portanto sem o
necessário preparo para serem estudantes deste Colégio,
que o professor tendo de empregar toda a sua atenção
com os matriculados, eo sendo pelo regulamento
obrigado a chamar os ouvintes à lição os mesmos se
aproveitavam dessa circunstância para descurarem de
seus deveres escolares.o fez intimação aos ouvintes
para se retirarem de sua aula, mas os aconselhou a
aproveitarem melhor o tempo".
O jornal deu-se por satisfeito.
No ano letivo de 1887, sempre fiscalizando, o
Ministro Mamoré expedia aviso indeferindo pedido do
escrivão do Internato quanto à alimentação, fundado em
dispositivo legal e em tabelas orçamentárias.
Declarou mais o Ministro que, de acordo com
prescrição regulamentar, o escrivão poderia participar de
refeição, no Internato, pagando, professores e empregados
sem direito à alimentação.
A fiscalizaçãoo era só governamental, exerciam-
na também, professores, reclamando à reitoria do Externato
contra insuficiência de tempo para bem julgar alunos em
exame, considerado este, dizia o professor de Latim, Dr.
Lucindo Pereira dos Passos, "pesado encargo para os que
o examinassem com os olhos no chapéu".
Vivia o Colégio em círculo de fiscalizações, a do
Imperador, a do Ministro, a do reitor, a de professores.
o era de estranhar, pois, que Mamoré expedisse aviso
ao reitor do Internato pedindo informações sobre os
motivos da saída de alunos em desacordo com as
prescrições do regulamento n.° 8 de 31 de janeiro de 1838.
Mandava este limitar a saída de internos, duas
vezes por mês, os colegiais acompanhados pelos
progenitores ou por pessoas expressamente autorizadas.
o recebia, porém, só o Internato pedido de
informações, também dádivas.
Em junho de 1887, o professor Dr. Manoel Thomaz
Alves Nogueira oferecia ao Internato quadros e livros de
valor.
Pedia a colocação daqueles na sala de aula de
História do Brasil. Entre as telas oferecidas havia uma
pequena de Kiesser, obra de 1618, representandoo
Sebastião e também uma vista do Rio de Janeiro.
Entre as dádivas de Thomaz Alves à biblioteca do
Internato figurava a obra de Villegaignon sobre a expedição
de Carlos V a Alger em 1541, tradução de Menrad no fim
do livro de Schomburgle.
"Obra raríssima, declarava o doador, com o
merecimento de ser de Villegaignon e apreciada como o
melhor livro que se conhece sobre aquela expedição
imperial".
Em 21 de julho de 1887 deixava a Pasta do Império
o Barão de Mamoré, substituído pelo Conselheiro Manoel
do Nascimento Machado Portella, lente da Faculdade de
Direito de Recife.
Com a saída de Mamoré do Ministério Cotegipe,
coincidia o pedido de demissão do reitor Aureliano Pimentel,-
substituído pelo vice-reitor Paranhos de Macedo.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Pouco se demorou o Conselheiro Machado Portella
na Pasta do Império,o reeleito deputado pelo 1
o
distrito
eleitoral de Pernambuco, de sede principal no Recife.
Chamou a si a Pasta o Presidente do Conselho e
Ministro da Fazenda, Barão de Cotegipe.
Apesar de interino, até demissão do Gabinete de 20
de agosto de 1885, caber-lhe-ia na qualidade de Ministro
do Império impor o barrete branco aos bacharelandos de
1887, em número de doze, sete do Externato e cinco do
Internato.
Em 9 de março de 1888 alterava o Barão de Cotegipe
várias disposições do regulamento do Colégio, mandando
abrir-lhe as aulas a 15 de março e fechá-las a 30 de
novembro.
Fixava o número de alunos no Internato à vista da
tabela orçamentária e no Externato atendendo aos recursos
do pessoal docente e de inspeção.
O Internato admitiria 25 alunos gratuitos, e o
Externato 100, aqueles favorecidos com enxoval e livros.
Deviam obter matrícula gratuita menores de
atestada pobreza, preferidos em igualdade de méritos os
órfãos, os filhos de professores públicos com dez anos de
bons serviços, os filhos de oficiais subalternos da armada
e do exército e os filhos de empregados públicos com
mais de dez anos de função.
Caberia também ao Barão de Cotegipe providência
de maior relevância quanto ao Colégio, a de transferência
do Internato.
Desde 1858, funcionava este na chácara do Matta,
na rua deo Francisco Xavier, a dois passos do largo da
Segunda-Feira. Deliberou mudá-lo o Governo, mandando
para bairro bem diferente, o deo Cristóvão. Para tanto,
a 24 de novembro de 1888, compareciam na Diretoria-Geral
do Contencioso do Tesouro Nacional como outorgante
vendedora a Irmandade do Santíssimo Sacramento da
Candelária, e como outorgada compradora a Fazenda
Nacional.
Representavam a Irmandade o vice-provedor Dr.
António Ferreira Viana, aliás bacharel em letras, e outros
irmãos de mesa, em figura da Fazenda Nacional o
procurador fiscal Dr. Carlos de Menezes.
Vendia a Irmandade ao Governo o prédio da praça
D. Pedro I, mais conhecida por Campo deo Cristóvão.
Fora o prédio construído em terreno onde haviam existido
dois imóveis, n.° 9 e 11; comprados ao Banco do Brasil.
Receberia a Irmandade 200:000$000, dependente o
pagamento da concessão de crédito pelo poder legislativo.
Entretanto, a chave do prédio fora entregue ao
Governo desde fevereiro de 1888, pagando ele 10:000$000
de aluguel anual até poder dispor do crédito.
Casoo fosse este concedido para pagamento
total, o prédio seria ocupado por arrendamento, durante 9
anos, vencendo 10:000$000 de aluguel por ano.
O poder legislativo votou o crédito e o prédio ficou
definitivamente em poder do Património Nacional para nova
instalação do Internato.
Ao prazer da mudança, vinha ensombrar o suicídio
de um aluno gratuito, participando-o o reitor do Internato,
ao Ministro José Fernandes da Costa Pereira Júnior,
bacharel em letras.
Substituía o Conselheiro Costa Pereira o Barão de
Cotegipe, na Pasta do Império, no Ministério João Alfredo.
Recomendava então Costa Pereira ao reitor "o
emprego de todos os esforços para que fossem os alunos
convenientemente doutrinados no sentido de fortificar-se
a sua instrução moral e religiosa", à vista do lamentável
sucesso ocorrido fora da Casa.
Desde fevereiro de 1888 assumira a reitoria do
Internato o Conselheiro João Capistrano Bandeira de Mello
Filho, recebendo a administração do vice-reitor Paranhos
de Macedo.
Bandeira de Mello antigo professor como o pai, da
Faculdade de Direito de Recife, presidira províncias do
Império, cinco, enquanto o pai regera três.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
O novo reitor de 1888 achara-se à testa do Rio Grande
do Norte em 1873, de Santa Catarina em 1875, do Pará,
do Maranhão em 1885 e da Bahia em 1866.
o só o Internato recebeu novo reitor, sucesso
idêntico ocorreu no Externato aí substituído em março de
1888, o reitor Dr. José Joaquim do Carmo por Monsenhor
Luiz Raymundo da Silva Brito, voltando-se assim à tradição
de sacerdotes à frente de destinos do Imperial Colégio.
Nascido em 1840, na vila maranhense deo Bento,
monsenhor Brito na província natal paroquiara freguesias,
exerceu a reitoria do seminário, nele regendo cadeiras.
Transferindo-se para a capital do Império fora vigário
em Niterói, vigário geral do bispado do Rio de Janeiro,
professor de Religião da Escola Normal.
Orador sagrado dos mais solicitados e ouvidos,
Monsenhor Brito, de futuro, encerraria como Bispo de
Olinda a lista dos bispos de vida no Colégio de Pedro
Segundo, aí tendo por antecessores de mitra, Arrábida,
Saraiva, Pinto do Rego e Benevides.
Apenas assumia a reitoria do Externato. Monsenhor
Brito pedia ao Governo desocupação do prédio contíguo
ao estabelecimento onde funcionava o Instituto
Farmacêutico.
Protestava também o novo reitor contra a utilização
da igreja deo Joaquim anexa ao Colégio.
Dizia ser "profanação dolorosa a continuar um
templo antigo, objeto de veneração de maiores,
transformado em laboratório farmacêutico, como se a
cidadeo possuísse lugar mais próprio para ser despojada
do que a Casa de Deus eo igreja interdita, que nunca o
fora, e sim aberta à profanação".
Dirigindo-se ao Ministro do Império alegava ainda o
reitor Brito: "a restituição da parte ocupada pelo Instituto
Farmacêutico trazia a vantagem de alargar e regularizar
as propriedades dos serviços internos do Colégio, reabrindo
um templo à piedade cristã".
Reforçando opinião, observava ainda o reitor Brito
ao Ministro do Império: "V. Ex.
a
resolverá como melhor
entender e como espero de seu amor por este
estabelecimento que se orgulha de o contar entre seus
filhos (era Ministro o Conselheiro Costa Pereira, bacharel
em letras de 1851) e pelo respeito que lhe inspiravam pelo
templo os seus sentimentos religiosos".
Conseguido afinal o templo foi nele reorganizada a
irmandade deo Joaquim, realizado afinal o desejo do
antigo reitor do Colégio, Monsenhor Fonseca Lima, o da
restauração do culto na vetusta igreja.
Nomearam para ela um cura, restabelecidas as
solenidades religiosas, sempre ameaçado porém o templo
pelo projeto de alargamento da Rua Larga deo Joaquim.
Assim os bacharéis de 1888 puderam ouvir a missa
do Espírito Santo na velha igreja, daqueles bacharéis, 6
saídos do Externato e 5 do Internato.
A colação de grau dos bacharéis em letras da turma
de 1888 tem hoje significação especial, derradeira
solenidade do Colégio no regime monárquico.
Foi solenidade na qual, pela última vez, no Salão
Nobre se ouviu a voz de quem conferia o grau repetir a
cada bacharel em letras a bela fórmula, subsequente ao
juramento: "a lei vos declara bacharel em letras cujo
grau espero honreis tanto quanto o haveis sabido merecer".
Pela última vez encheu-se de povo a Rua Larga de
o Joaquim para assistir à chegada de quantos acudiam
à festa do Colégio.
Mais curiosidade despertava a vinda das pessoas
imperiais e a estas a guarda de honra prestava continências
ao som do Hino Nacional.
Até simples visitas do Imperador ao Externato
despertavam atenção popular, o modesto carro do
soberano,o avaro consigo mesmo quão pródigo na
caridade, precedido por bulhentos cadetes batedores e
seguido por piquete do 1
o
Regimento de Cavalaria
estacionado emo Cristóvão.
O ano letivo de 1889 seria o último do Imperial
Colégio, tendo este à sua testa no Externato Monsenhor,
Brito e no Internato o Conselheiro Bandeira de Mello.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Apesar de envelhecido e enfermiço, gasto no serviço
da pátria, escapo à morte em 1888 quando em Milão, o
Imperadoro cessava visitas ao Colégio, a cujos
concursos jamais negou presença.
Era regra para admissão no corpo docente
catedrático da Casa em 1886, como assegurava o reitor
do Externato, prestando informação num requerimento
sujeito à sua apreciação: "Não consta até esta data
que se tenham efetuado nomeações de professor
catedrático independente de concurso, exceto da cadeira
de Religião em que este nunca foi exigido".
E como aqui se versam aspectos intelectuais e
morais da vida do Colégio no seu último ano letivo
transcorrido, na Monarquia, em 1889,o vem fora de
molde ajuntar, àqueles aspectos, outras feições até
materiais da Casa no referido ano quando tudo ia mudar
na instituição e mormente no Brasil.
Nunca os aspectos da vida do Colégio foram
recordados com tanta significação como no centenário do
nascimento de D. Pedro II, celebrado pelo Colégio em
presença do neto do Imperador, o príncipe D. Pedro.
Recordou muitos daqueles aspectos, como orador
oficial, o professor Escragnolle Dória.
Relembrou-os o professor de medicina Dr. José
António de Abreu Fialho, bacharel em letras, em nome de
antigos alunos do Colégio.
A formosa oração justiceira do Dr. Abreu Fialho
presta-nos de preferência subsídios para caracterizar as
visitas, a assistência moral indefectível do Imperador ao
Colégio do seu mecenato.
Eis aqui o depoimento de Abreu Fialho e muitos
bacharéis do Colégio do tempo do Império poderiam prestar
depoimentos idênticos.
"O Imperador, (e este é já lugar comum) visitava
amiúde o Colégio,o por formalidade ou cortesia, como
turista, mas como visita interessada, de dever e de
amizade e de estudo, de quem quer se inteirar por si próprio
das coisas, vê-las e examiná-las com o coração.
Aquela sineta que despertava com reticência sonora
o silêncio da hora de aula, que soava álacre, acelerava
igualmente o ritmo cardíaco dos Colegiais. Aí vinha o
Imperador! A que aula vai chegar? E se aqui vier, a esta
de Latim, quem apresentará como decurião o nosso
Mestre? Isso perguntávamos nós, os da classe de Lucindo
em certo dia do ano de 1888.
Eu me considerava um dos papáveis, por ter assento
em banco de honra, mas desejava que o destino me
poupasse o sobressalto, o enleio, a confusão de chamada
imperial. De nada, porém, me valeram os votos íntimos.
Lucindo segredou ao Imperador o meu nome. O Imperador
chamou-me à lição. Traduzia-se naquele tempo a Vita
Agricolae de Tácito.
D. Pedro II abriu o livro, que lhe passou Lucindo,
convidou-me a ler e traduzir certa extensão daquele trecho
que assim começa: Nunc demum redit animus; sed
quamquam, primo statim...
Entalado em naturais apertos, li paulatinamente o
texto corrido, como quem mede alturas, fiz segunda leitura
na ordem direta. O Imperador acompanhava solícito a
leitura, com o seu pencenê de tartaruga a meio do nariz.
Eu arriscava de instante a instante uns furtivos
olhares, como se quisesse avaliar os efeitos dos meus
recursos no ânimo do Imperador, que se mantinha
indiferente à minha proeza, mas sempre atento ao livro.
Já agora mais quietado o meu ânimo daquela
responsabilidade de que me sentia salteado, e com meio
caminho andado, iniciei a tradução, que os meneios da
cabeça do Imperador anunciavam aprovar. Sobre duas
outras palavras latinas deu-me um correspondente
português, a seu ver mais preciso que a minha tradução.
A respeito de certo vocábulo apontou como as edições
divergiam.
E na sua galanteria de homem culto e polido e sua
bondade e candidez de Imperante, premiou-me a lição com
alguns amáveis e lisonjeiros conceitos.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Depois trocou com Lucindo impressões sobre aquela
obra de Tácito a biografia de Júlio Agrícola escrita
em estilo enxuto, sentencioso, elegante, embora austero,
à altura de seu valor de filósofo e de moralista.
A propósito da passagem traduzida, ora fitando
Lucindo, ora olhando-me por sobre o pencenê, falou com
admiração viva do amor de Tácito à liberdade, liberdade
que os tiranos tornam ainda mais apetecida e cobiçada.
s Tácito entre as duas épocas, a de Domiciano e
a de Nerva e Trajano.
Eu ouvia maravilhado aquelas coisas, aqueles
comentários, aquelas erudições atraentes, raros pratos
queo costumavam figurar na tradução trivial de cada
dia.
Depois de breve pausa perscrutadora, e voltando-
se para mim com certa curiosidade, o Imperador indagou
de qualquer parentesco meu com os Fialho do Rio Grande
do Sul, eu, nada versado ainda naquela idade em
genealogias,o pude satisfazer à pergunta de D. Pedro.
Limitei-me a dizer, com certo entono orgulhoso, que
descendia de tronco genuinamente nortista, e era eu próprio
do Norte.
Com isto levantou-se o Imperador,o sem me
recomendar que quando sobrassem folgas lesse
empenhadamente toda a obra de Tácito, talvez que nesta
ordem, Vida de Júlio Agrícola, Costumes dos Germanos,
História, Anais."
Depois de narrar com tanta singeleza, na qual se
obriga a elegância no dizer, conta-nos Abreu Fialho à
chegada ao lar onde se deu pressa em contar ao pai todo
o sucedido no Pedro Segundo, junto ao progenitor,
"monarquista fiel, e político do partido liberal, capitão da
velha guarda nacional, Conselheiro da Ordem da Rosa".
o pôde o pai ocultar ao filho a satisfação do seu
ânimo.
Ao filho sempre falava o pai "da vantagem que
tinha todo homem em escrever e possuir o seu Diário, no
curso da vida, presenteando com vistoso livro àquele fim
destinado".
Julgava Abreu Fialho Sénior, de bom conselho fazer
com que o descendente honrasse a primeira página do
Diário com a narrativa já para ele história aula de latinidade,
"grande , porém, foi a decepção paterna quando viu no
limiar do livro, e precedido de algumas palavras políticas
e colegialmente ingénuas, um excerto de gazeta
republicana da época, com uma tirada demagógica contra
o trono, que, dizia o jornal, "amordaçava a opinião e
sufocava a liberdade".
Abreu Fialho Pai, "depois de alguns instantes, teve
o sorriso satisfeito de quem dialoga com os próprios
pensamentos, e deles tem assentimento íntimo, concluiu
que nuncao de molde viria ali aquela narrativa que lhe
havia feito o filho, e onde o acaso tinha posto a defesa
filial do Imperador e de sua política liberal".
Aplicava o método filosófico do confronto, de
comparar para julgar.
Iluminado o espírito pela experiência, já mais
amadurecido e emancipado nas ideias, Abreu Fialho
escreveria comentários à margem do livro doado pela
bondade paterna. E dizia, entre outras coisas, "Honrar
com entusiasmo a Tácito nos seus ódios à tirania é louvar
uma alma republicana e livre. Falar em amor à Liberdade
é mostrar-se liberal. Que diferença haverá entre um
Imperador democrata e liberal, fazendo provança de suas
virtudes, e um verdadeiro estadista republicano".
O contato moral com D. Pedro II, "com quem tratara
frente a frente, que o interrogara em lições e, camarada e
familiarmente, conversara com um rapazinho de 14 anos,
começou a esmaecer os fumos de republicanozinho, que
lia gazetas republicanas e decorava tiradas demagógicas
contra o trono".
Em 1925, pôde o antigo colegial consagrar a D. Pedro
II seu examinador adhoc, a aula em que o examinara fora
a de Latim, as seguintes palavras: "Pela primeira vez
depois de fitar o semblante sereno do Imperador, e pelos
tempos afora muitas vezes e a outros propósitos, repito e'
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
tenho repetido a justeza deste princípio: "Quantos
murmuram de nossas coisas, sem que nos conheçam de
rosto!"
o só a D. Pedro II prestou justiça Abreu Fialho,
também ao Imperial Colégio, denominando-o escola de
civismo, "ensinando pais e mestres a respeitar a lei como
o melhor exemplo de educação cívica".
Formava o Colégio pequenino Estado, com a sua
lei, os seus chefes supremos e os auxiliares destes,
mestres ou não, desenvolvendo tudo quanto requer a vida
coletiva:a cidadania, a união, a solidariedade, o espírito
de disciplina social, o hábito de convivência em
comunidade, a consciência dos deveres e dos direitos.
Conforme Abreu Fialho, sabia o aluno que
implicitamente na lei do Colégio a obrigação era estudar,
estudando para saber, voltando o escolar a repetir ano se
o bem saldadas e rigorosas as contas de aproveitamento,
julgado cada um segundo obras e méritos.
Para contas bem saldadas em fim de ano o aluno
do Colégio levava, informa Fialho, ordenadas para o dia
seguinte, as obrigações, os exercícios, os temas, as
lições, tudo fiscalizado pelas chamadas de presenças,
pelas chamadas à lição, pela verificação dos "deveres",
pelas notas, pelas médias de trimestre, pelos exames.
Ninguém se dizia escravo! E escravo do dever "era titulo
de honra sublinhando ainda mais o de bacharel".
A perda do ano por faltas convidava à assiduidade.
As notas em público, em face dos examinadores,
dos colegas, e do auditório, valiam por aplicação prática
da justiça.
Completava-a, durante o ano e na ocasião dos atos,
o Imperador, "chamando, interrogando, explicando,
animando paternalmente os estudantes, fossem aplicados
ou obstinados, contumazes na vadiação, presidindo a
chamadas, banca de exames e aos atos solenes do
bacharelando, o Imperador trazia a todos enleados em
doce e confortante atmosfera, e ensinava civismo, unia
os interesses do Estado aos da instrução pública, porque
avaliava a influência moral que dá a presença do Chefe da
Nação no exato funcionamento da complexa máquina
governamental".
Além da oração do Dr. Abreu Fialho, várias foram
as homenagens prestadas no Colégio ao ínclito protetor
de outrora por ocasião do seu primeiro centenário natalício.
Entre aquelas homenagens, mostrando ainda o
Colégio até 1889, roborando o testemunho de Abreu Fialho,
outro depoimento prestou em discurso o Dr. Luiz
Cantanhede de Carvalho e Almeida, o professor da Escola
Politécnica e bacharel em letras do Externato na turma de
1893.
Mostrou o professor Cantanhede "no Colégio um
grupo a cuja frente, vagaroso caminhava um velho,
cercado pelas atenções de pequeno séquito. O velho era
o Imperador, acompanhado de grande servidor do Brasil
velhinho de passo ainda firme e cabeça branca, aureolada
de glória, que foi o orgulho do Brasil e se chamava
Tamandaré; aos dois grandes velhos acompanhavam o
Reitor e o vice-Reitor, Monsenhor Brito e o Dr. Epiphanio
José dos Reis".
Entrou o Imperador na aula de Francês regida por
Halbout.
Estava um estudante a terminar lição, pouco antes
do fim da aula. "Ajudado o estudante que traduzia, pela
atenção maior que Halbout dava ao Imperador,o
percebendo ou desculpando algumas faltas que em dias
normais seriam notáveis a sineta anunciou fim de aula.
De pé a turma, o Imperador e comitiva se retiraram; mas
antes de descer os três degraus que ligavam a sala ao
corredor o velho Imperador faz voltar Tamandaré, para dar
ao aluno que acabara de receber uma nota boa, as
felicitações do Imperador, felicitações de um grande avô
que o Herói transmitia ao estudante, quando este e os
colegas comentavam os riscos da aventura bem
sucedida".
Grandemente apoiados por Cantanhede Almeida,
bacharel de 1893, e pelas recordações do bacharel Raul
Paranhos Pederneiras, da turma de 1892, e do bacharel
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Júlio Adolpho da Fontoura Guedes, da turma de 1901, além
das recordações próprias, busquemos fixar ainda mais um
pouco o aspecto do Colégio quando a mudança de regime
ia afastar para sempre o patrono da Casa.
Assim os atuais alunos e os vindouros poderão
evocar antecessores e deles os modos de vida, assaz
diferentes, pela natureza das duas seções do Colégio, no
Externato e no Internato.
Comecemos pelo primeiro, o decano e a princípio
também Internato.
De manhã cedo chegavam os alunos ao Colégio, os
calouros canhestros, com medo dos veteranos, os segundo
anistas todos anchos pela perda do calourado, dando-se
ares de veteranos ante os primeiro anistas. Mostravam-
se os demais alunos, do 3
o
ao 5
o
ano familiarizados com
a Casa , os do 6
o
ano procurando imitar os setimanistas
compenetrados de posição especial, a dar-lhes próximo
ingresso em cursos superiores, embora aí de novo
baixassem à calouros.
Livros em bolsa ou empacotados e presos por
pegador, merenda no bolso depois da extinção do meio-
pensionato, lá se apresentavam no Colégio os alunos de
farda verde com botões dourados onde em relevo RH.
Chegavam alguns mais cedo, sem dúvida
moradores de arrabalde ou longínquo subúrbio, aqueles
trazidos ao centro da cidade pelas linhas ferro-carris, estes
pelas composições da Estrada de Ferro D. Pedro II, ou
Central do Brasil. Desembarcavam na Estação Central
ou popularmente do Campo, estação terminal de via férrea
com perto de mais de 700 quilómetros em tráfego e de
penetração em três províncias, Rio de Janeiro,o Paulo
e Minas, estendida a linha suburbana da Corte ao Realengo.
Os alunos de chegada mais cedo costumavam ficar
pelas imediações do Colégio, pelas Rua da Imperatriz, hoje
Camerino, pela Rua Estreita deo Joaquim, ao flanco da
igreja da mesma invocação.
Permaneciam alguns na porta sempre fechada do
templo, que o povo dizia interdita por ter sido nela morto
um padre! Tudo imaginação, fértil sempre a do vulgo.
Em qualquer colégio há sempre um funcionário
conhecido de todos os alunos, o porteiro.
Conhecê-lo é sabê-lo preposto à sineta, outrora a
do Externato confiada ao velho Babo, à memória do qual
Joaquim Manoel de Macedoo desdenhou consagrar
referências ao passear em livro pela cidade do Rio de
Janeiro.
Nos fins do Império portaria e sineta do Externato
estavam a cargo de Carlos Gonçalves Mattos, primeiro
fiscal de quem entrava ou saía.
Eram então familiares as figura dos seis inspetores
da época de Alexandre Mondaini, Manoel Silveira,
Domingos Lima, o segundo capitão, o terceiro tenente da
Guarda Nacional, de Joaquim Alves, depois escrivão do
Externato, de Pedro Baptista, depois bedel, finalmente do
Pereira Santos, madrugando para vir ao Colégio, por morar
na Pavuna.
Todos terríveis inspetores, "que ameaçavam
sempre", disse Cantanhede. No fundo excelentes
criaturas.
Quando por efeito da repreensão ou castigo se lhes
queria mal era por pouco tempo. Sabiam os alunos, os
inspetores prestigiados pelas reitorias, vez por outra a
corrigir-lhes demasias, mas em surdina, longe de
discentes, de modo a nem abater autoridade de subalternos
nem proporcionar reincidências a discentes animados
nelas por fraquejar de disciplina, tocando a todos. Um
exemplo.
Durante o seu curso de bacharelado foi sempre o
príncipe D. Pedro Augusto de bom procedimento. "Uma
dama", dizia dele o seu inspetor Pereira dos Santos.
Mostrando lhaneza e gravidade natural era D. Pedro muito
estimado pelos inspetores. Quando andava de "coupé"
debruçava-se à portinhola do veículo para saudá-los fosse
onde fosse.
Entretanto, um dia, ao correr no pátio do Externato,
em ocasião indevida, excedeu-se o príncipe aluno, privadç
do recreio pelo inspetor Santos.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Nisto chega ao Colégio, em visita, o Imperador.
Detendo-se na sala do vice-reitor, perguntou D. Pedro II:
"Onde está o Pedrinho?". "De castigo", foi-lhe respondido.
"Muito bem, muito bem, redarguiu o Imperador, nada de
exceções, é aluno como outro qualquer".
Anos muitos depois, decaído o Império, comprazia-
se o inspetor Santos em narrar o incidente a quantos se
interessavam pela vida do Colégio eo se esqueciam de
ir registrando particularmente o que no passado lhe dizia
respeito.
Retomado fio de narração, diga-se que estabelecida
forma, às badaladas da sineta da portaria, cada turma
seguia corredores afora, em marcha cadenciada, em busca
das salas de aula sobre cujas mesas dos professores o
inspetor respectivo estendia a lista caligrafada pelo bedel,
José Pinto da Silva Leal, baixo, barbado, superintendendo,
à cérbero amável no cumprimento do dever, as presenças
e faltas de professores e alunos.
Depois da chamada à aula, nesta recebido de pé os
lentes, alguns bem recordados por Cantanhede. Inolvidável
era Halbout, de sobrecasaca negra, mento e lábios
raspados entre "suíças" bastas; usando rapé sem um só
salpico, ao invés dos tabaqueadores descuidados
procurando esconder desmazelos nasais em grandes
lenços policrômicos de Alcobaça.
Em contrário ao depoimento de muito vadio, jamais
esquecido das notass ou das reprovações ou "raposas"
de Halbout, Cantanhede diz-nos este tipo íntegro de juiz,
igual nas exigências da repetição das páginas de sua
gramática. E que pontualidade a de José Francisco
Halbout! "Velho mestre cuja falta à aula nunca foi
prevista, porque nunca acontecera e aconteceria, dele a
falta escapava ao cálculo das probabilidades; a presença
de Halbout era certeza. Faltou dois dias no Colégio para
morrer no terceiro dia".
Na aula de Matemática "aparecia a velhice esguia
de Drago, magro, alto, secarrão, nervoso, um tanto
agitado, gritando sempre, metendo muito medo aos
calouros".
"Os veteranos já lhe conheciam as manhas e
sabiam que dentro daquele velho brigador e rabugento,
havia uma criatura bonachona e mansa que era preciso
saber levar com jeito, dentro das páginas do livro de Ottoni
onde se achavam todas as chaves que abriam as portas
do curso de matemática elementar".
O livro de Ottoni, leia-se os compêndios do então
Senador Christiano Benedicto Ottoni, outrora lente da
Academia de Marinha.
Autor de compêndio qual Halbout, era Pedro José
de Abreu, professor de Geografia, "sempre bem apurado
no traje, de fino trato, tipo de avô tolerante", muito
preconizador das excelências da sua habilitação no morro
das Dores, na estação de Todos os Santos e aí tido por
espécie de patriarca.
o calmo era Abreu quão impaciente o professor
Lucindo Pereira dos Passos, enraivecido e impacientado
seo conseguia incutir a alunos gosto pela latinidade,
para ele só aprendível pelo método de Clintock.
Corpulento,o era qualquer cadeira que lhe servia
e devia estar bem limpa parao lhe macular as habituais
calças brancas. Sabia Latim e queria que o soubessem,
olhos a fuzilarem atrás dos óculos de ouro se o aluno dava
silabadas, ou gaguejava quando César mostrava como
vencera Vercingetorix ou Horácio em ode indicava quão
fugidia é a vida humana, quão preciso aproveitá-la ao ritmo
da ampulheta que a todos mede existência.
Dois sacerdotes ensinavam Religião, regular um,
secular o outro. Do mosteiro deo Bento descia frei
Saturnino Santa Clara Antunes de Abreu, pregador imperial,
teólogo da Nunciatura Apostólica, ao tempo no convento
do Carmo no largo da Lapa, e vinha explicar História
Sagrada aos meninos do Externato, com a gravidade dum
abade titular deo João Gualberto. "Alma de erudito
declara Cantanhede em cujo olhar se percebia uma
faísca de convicção do próprio valor, que a humildade da
sotainao conseguira apagar de todo, contrapondo-se à
figura simples do velho sacerdote, Monsenhor Amorim,
seu substituto".
ESCRAGNOLLE DÓRIA
À galeria dos professores do Externato dos quais
nos deu até agora muitos traços Cantanhede de Almeida,
ajuntemos outros tipos: Ramos Mello, professor
estimado, culto, cuja modéstia bem mostrava quanto sabia
que o tudo do saber humano é afinal nada; Rozendo Muniz,
poeta emaranhado no ensino de Filosofia; Nerval de
Gouvêa, baixinho, rotundo, calvo, organização intelectual
de primeira ordem que tornava a Física e a Química quase
sorridentes por lições entre saber e amabilidade;
Goldschmidt, maciçamente germânico e como tal não
desdenhando cachimbo, de fumaças no intervalo das
aulas, numa pausa entre Schiller e Goethe. O mais esquivo
dos lentes era o de Retórica, Poética e Literatura, Franklin
Dória, já Barão de Loreto, ora Ministro, ora deputado geral.
Cada um desses e cada um dos mais lentes do
Colégio que longos estudos de personalidades merecem,
cada qual com seu jeito de ensinar, com seus cacoetes,
com seus tiques observados pelos alunos, inspetores
mudos ou traquinas dos mestres no decurso das aulas,
entre bater de sineta para entrar ou sair delas.
Em artigo com o título O Velho Colégio e subtítulo
Um Pouco de Saudade Raul Pederneiras e Fontoura
Guedes concorreram para lembrar sob diversos aspectos
professores do Colégio no fim de Império.
Apresentam-se-nos em 1889: Halbout "para os
vadios e relapsos" temeroso, usando de ameaças
cumpridas para chamá-los ao cumprimento do dever, de
estribilho no fim do ano há de contar com minha bolinha
preta; Alexander que ensinando Inglês "pouco faltava para
ser Berlitz, desenhando quadros explicativos da aplicação
das palavras invariáveis por meio de pássaros em torno
de uma gaiola", quandoo arrastava alunos, e até o reitor
Monsenhor Brito à Quinta da Boa Vista, toda silêncio,
despovoada e vegetações, para exercícios de cultura física,
nisto Alexander bem Inglês.
Ramos Mello ensinava História Universal servido por
invejável memória, Pedro José de Abreu explicava
Geografia personificando a bondade, atribuindo aos
distraídos e vadios "memória de abóbora", coisa que na
cucurbitácea jamais a botânica descobriu.
Aureliano Pimentel dirigia a aula de Português, língua
aindao diferenciada da brasileira, do 2
o
ao 5
o
ano. A
calourada ficava a cargo de Manoel Olympio Rodrigues
da Costa, esforçado no entregar bons discípulos a
Aureliano Pimentel. Este "erudito abalizado, seguro,
frequentemente consultado pelos paredros do idioma,
primava pelas lições de redação e de estilo, possuindo
caderno onde averbava as cincadas e os cochilos dos
professores e letrados da época". Muito havia aproveitado
no recolhimento de longos anos em Minas, no nativoo
João d'El Rey de onde o havia retirado D. Pedro II ao passar
pela cidade.
Diz-nos Fontoura Guedes dos professores do
Colégio, ainda do tempo do Império, cujas lições recebeu
no Externato de 1895 a 1901: "Cada professor possuía
uma psicologia própria, um modo particular, especial na
forma de lecionar; bondosos ou rigorosos eram todos
acatados, respeitados por seus discípulos, incapazes de
manifestações hostis".
Nem escaparam aos cronistas da saudade do
Colégio os tipos dos inspetores, os dois Lima, o Leal Pai,
o Baptista Pai. o Santos, o Perrayon, bondoso como a
bondade, chamando o estudante desobediente "de quinta
roda de carro". Quando a aula estava quieta o inspetor
ficava a ler clássicos franceses.
Do aspecto intelectual e moral passemos ao
material do Externato no fim do Império, aspecto
conservado até bem adiante na República.
Recorda-o Raul Pederneiras descrevendo o Externato
"no amplo edifício do antigo seminário, de arquitetura
monástica, com enormes arcarias circundando o vasto
pátio central, transformado em campo de recreio e da
ginástica, salas amplas, arejadas, cheias de luz,
destinavam-se às aulas, em dois pavimentos".
A entrada das aulas era ao lado da Igreja deo
Joaquim, aquela de feitio severo, entre colunas de granito
e capitéis de bronze.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
Notável pela extensão a sala de estudo onde em
torno das paredes corriam os cabides numerados para
guarda de chapéus.
Havia dois lugares reservados na Casa. Um era a
secretaria onde no fim do Império trabalhavam o Secretário,
António Joaquim Rodrigues Júnior, substituído nos
impedimentos pelo inspetor Carneiro Vidal, e o escrivão
João Bernardo de Brito. O aluno conhecia a secretaria por
tradição, e mesmo no princípio da República, atesta Raul
Pederneiras, "nenhum aluno subiu as escadas rumo da
Secretaria". Quem falava aí por ele e pelos seus interesses
eram pais ou responsáveis.
O segundo lugar reservado do Colégio, onde o aluno
só entrava uma vez por ano, era o Salão Nobre. Mas para
o dia de contemplá-lo haviam primeiro de chegar os dias
dos exames finais.
"Solenes, realizados no salão de estudo,
enormíssimo e repleto, à mesa os reitores, os vice-reitores,
os professores da matéria, do Externato e do Internato,
muita vez sob a presidência do Imperador", segundo Raul
Pederneiras.
Para os setimanistas, o termo dos exames finais
era anúncio da colação de grau. Patenteava-se então a
solenidade a entrada nobre do edifício no ângulo da Rua
da Imperatriz, ora Camerino, da Imperatriz em lembrança
da chegada de D. Thereza Christina ao Rio de Janeiro em
1843, desembarcada no antigo Valongo.
Na entrada nobre da Casa pompeava "imponente
escadaria artística de madeira lavrada, ostentando no limiar
admiráveis esculturas de grifos, símbolos alados da
previdência, obra de arte substituída (depois do Império)
por escada angulosa, inestética, de ferro batido e mármore
vulgar".
No dia da colação de grau os setimanistas e os
premiados em vários anos do curso esqueciam por
momentos os sustos de fim de ano, os terríveis exames,
no verão já bem de rigor, anunciado pelas cigarras nas
amendoeiras do pátio central.
O dia era de ouro na colação de grau e na distribuição
de prémios. Quão melodiosos aos ouvidos dos
recompensados soavam as vozes de colegas orfeonizados
pelos ensaios e esforços do Mathias Teixeira e do seu
coadjuvante Balduíno Rodrigues de Carvalho, morador em
Niterói, no largo da Memória, a gravar na dos alunos os
exercícios de solfejo de Garandé.
O dia da colação de grau assinalava o do descanso
temporário para o Mathias, zangado se o tratavam por
doutor, lisonjeado se o chamavam de maestro, e para o
Balduíno, a declarar aos recalcitrantes de solfejo que "os
desafinados afinam-se", enquanto eles se vingavam
alcunhando o zeloso professor de "suplemento musical",
aludindo ao cargo de coadjuvante do Mathias.
Certoo faltava malícia aos alunos do Externato,
como ao dizerem ser possível acertar relógios pelos
espirros infalíveis do professor Goldschmidt ao soar do
meio-dia, anunciado à cidade pela badalada de numerosos
sinos. O anedotário do Colégio é vasto, abrange no decurso
do tempo muito e muitos, para ele contribuindo uns mais,
outros menos na Casa onde o estudo era vigiado por todos
os lados, do Imperador e dos ministros, aos reitores e
vice-reitores, aos inspetores.
Assim pôde Raul Pederneiras asseverar, "que o
vadio, o amigo de 'gazetas'o escapava; os pais
recebiam, no dia seguinte ao 'fato', um bilhete participando
que o estudanteo comparecera às aulas".
O ajuste de contas era feito em casa, da
admoestação ao puxão de orelhas, e às vezes de
consequências piores para o reincidente, sem nenhuma
atenuante, nem mesmo o da privação de sentidos
inadmissível na vadiação sobretudo crónica, coisa na
época assaz rara, o aluno de passos da casa para o Colégio
e vice-versa, os menores acompanhados pelos pais ou
por pagens.
No ano de 1889, último do Império de 1822, último
do Segundo Reinado, o Internato do Imperial Colégio de
Pedro Segundo deixara havia pouco a chácara do Matta,
no Engenho Velho, onde funcionava desde instalação.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Passava-se para bairro bem oposto, o deo
Cristóvão.
Desamparava solar, boscarejamente entre árvores,
leões de gesso ao portào, para abrigar-se em ponto
elevado, dominador de paisagem, sobranceiro a vasta
praça, o Campo deo Cristóvão, então praça Pedro I,
sem nenhum ajardinamento, teatro de frequentes revistas
de tropa pela amplitude do logradouro sobremaneira
favorecidas.
A mudança do Internato, posto em prédio destinado
a asilo, constituía, pois, novidade para os alunos do
estabelecimento. A quem podem ser mais gratas as
novidades senão à juventude no deslumbramento de viver.
Quem em 1889, dia e noite, velava pelo Internato?
O vice-reitor Luiz Cândido Paranhos de Macedo, residente
na Casa, como a maioria dos inspetores. Tinha-os, pois,
Paranhos de Macedo, à mão para manter a ordem no
respeito.
O reitor, Conselheiro Bandeira de Mello, salvo caso
excepcional, vinha só ao expediente diário. Secundava
porém o auxiliar mantendo-lhe as determinações
sobretudo no tocante à disciplina, nem sempre fácil de
assegurar, pelas diferenças de idades e índoles em alunos,
uns nascidos e criados para compreendê-la, outros para
contrariá-la por interioridades de temperamento ou de meio
social.
Como o reitor, só vinham também ao Cristóvão
e ao Internato para desempenho de funções os professores
do Colégio, catedráticos ou substitutos. Traziam-nos os
bondes da Companhia deo Cristóvão, de lenta quando
o acidentada tração animal, bondes aqueles, à subida
ou à descida, passando pela Praça D. Pedro I de onde
irradiavam nada menos de sete vias públicas. Serviam-se
os professores do Internato das linhas ferro-carris do
Pedregulho,o Januário, Ponta do Caju e Alegria, uma
os deixando mais perto, outras mais longe.
Em a nova casa do Internato lecionavam
Tautphoeus, regendo as cadeiras de Alemão e Grego, de
Schiller se transportando a Homero; Oliveira Fernandes,
antigo oficial do exército, ensinando Francês sem os
extremos de rigor de Halbout; Fortunato Duarte, lendo Latim,
explicando com a maior vida a língua morta.
Desvendava o Idioma Vernáculo ao 1 ° ano quem do
idioma se servia a primor, Carlos de Laet, cuja ironia
enfrentara impávida o sarcasmo de Camillo. Do 2
o
ao 5
o
ano a Língua Portuguesa era explicada por Fausto Barreto,
que abandonando o curso médico se tornara
exclusivamente professor e dos melhores.
A cadeira de Italiano, qual a de Grego, vagara.
Preenchia-a o substituto, Monsenhor João Onofre de Souza
Breves, sacerdote de físico imponente, douto e viajado.
O Inglês,o oposto ao Italiano, ensinava-o o Dr.
Custódio Américo dos Santos, médico e bacharel em letras;
o Dr. Joaquim Gonçalves Guillon dirigia alunos na
Matemática; Oliveira de Menezes Pai, na Física e na
Química; Caminhoá na História Natural; António Limoeiro,
bacharel em letras e médico na História Literária. Sylvio
Romero na Filosofia, examinando de acordo com a cadeira,
filosoficamente, disposto a perdoar as inteligências
negativas.
Entusiasta no ensino da Retórica, Poética e Literatura
Nacional era o professor da cadeira, o médico Dr. José
Maria Velho da Silva, loquaz como convinha a professor
de Retórica, arroubado como quem cultivava poesia,
literato, como quem às letras pátrias entregara Gabriella,
romance histórico a competir com as Memórias de um
Sargento de Milícias de Manoel António de Almeida, outro
médico como Velho da Silva.
Os alunos, sobretudo, os menos aplicados,
esperavam sempre que nos exames, ao interrogá-los,
Velho da Silva, tomasse a palavra, permitindo-lhes delicioso
silêncio. Passavao raro o examinador a prestar o
exame, enquanto a areia ia passando da superior para a
inferior da ampulheta...
Frei Bento da Trindade Cortez, monge da abadia
carioca de N. S. de Montserrat, vinha do Mosteiro deo
Bento doutrinar Instrução Religiosa e dizer missa, Capelão,
da Casa.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Além dos catedráticos no Internato, aí funcionavam
mestres de Música, Desenho, Ginástica e Esgrima.
Também serviam ao ensino os substitutos comuns
ao Externato e ao Internato, Carlos Jansen lecionando
Alemão, João Henrique Braune, Grego; Vicente de Souza,
Latim, Magalhães Couto, Francês, Almeida Torres, Inglês,
Frontin, Filosofia, Carlos França, Retórica, Raja Gabaglia,
Matemática, Gama Berquó, Geografia e Cosmografia.
Em 1889, regia Berquó a cadeira de História do Brasil
no Externato por impedimento do titular, ou do proprietário
como se dizia outrora, da cadeira, João Capistrano de
Abreu.
Ficara no Internato a cátedra de Geografia a cargo
exclusivo do professor efetivo, o Dr. Francisco José Xavier,
médico e diretor do Hospício de Nossa Senhora das Dores,
em Cascadura, estabelecimento da Santa Casa da
Misericórdia, então dirigido pelo Barão de Cotegipe.
Geografia e História irmanam-se. No Internato, em
1889, História Universal chegava a alunos por intermédio
do Dr. Moreira de Azevedo, pela bondade para os alunos o
Vovô, médico e bacharel em letras, ao qual a crónica do
Rio de Janeiro ficou devendo grandes serviços.
Professava História e Corografia do Brasil outro
médico, o Dr. Mattoso Maia, de préstimos da profissão na
Guerra do Paraguai.
Dele disse Raul Pederneiras mostrando-o "jovial,
comunicativo, amigo até o sabugo da alma, condimentando
a aridez dos assuntos com episódios anedóticos".
Sempre de preto, de longas barbas brancas em
contraste, pausado no andar e rápido da palavra, Mattoso
Maia era dos mais estimados professores do Colégio.
Continuando a tradição de muitos colegas, quais por
exemplo Justiniano da Rocha, Calógeras, Gonçalves da
Silva, Tautphoeus, Macedo, Ramos Mello, Thomaz Alves
Nogueira, Moreira de Azevedo, autores de compêndios de
História, Mattoso Maia também os escreveu versando
história universal e pátria.
Era frequente reduzirem os professores do Pedro
Segundo lições a compêndios, declarando-os para uso dos
alunos do Imperial Colégio.o impedia isso de serem
aqueles compêndios adotados em outros
estabelecimentos de instrução secundária. Consideravam
o Pedro Segundo Colégio tipo, sabiam-no sujeito à
fiscalização suprema do Imperador, jamais nela
esmorecido. O exemplo sempre desce do alto. Modela-
se fatalmente o subalterno pelo superior. Tal um, tal outro.
Antigo aluno do Internato, o Dr. Everardo Vallim
Pereira de Souza, a honrar na vida pública o nome paterno
do Conselheiro Pedro Luiz, forneceu ao professor
Escragnolle Dória subsídios para dizer algo da vida do
Internato, "intra muros", no fim do Império.
Atestou a impressionante frequência das visitas do
Imperador ao Internato. "Chegava sempre de surpresa,
sem avisos prévios, com o mesmo traje preto,o
dispensando cartola. De preferência entrava pela cozinha,
dizia qualquer coisa ao chefe da mesma. Passava à
despensa, examinando géneros e ao despenseiro solicitava
informações. Na copa observava o estado de limpeza do
respectivo material. Percorrendo o refeitório fazia
observações sobre quaisquer irregularidades.
Sucedia o mesmo quanto aos dormitórios. Na
enfermaria, se nela havia doentes, inquiria do estado de
cada um, desejando sempre melhoras a todos. Quando
na roupariao raro fazia descer roupas dos gavetões, a
fim de verificar-lhes o asseio. As dependências sanitárias
o ficavam esquecidas e triste do chefe da faxina se
qualquer coisa deixasse a desejar!
Ao entrar em diferentes aulas, assistia às lições e
comumente interrogava os alunos. Quando na Biblioteca
lá confabulava com alguns lentes, nunca deixando de dizer
duas palavras ao velho Barão de Tautphoeus, quase sempre
em alemão.
Ao despedir-se do reitor, D. Pedro II manifestava
as impressões da visita. Em todas as festas solenes
pontualmente comparecia. Ao passar pelos recreios,o
ESCRAGNOLLE DÓRIA
raro mandava chamar alguns alunos, filhos de pessoas
suas conhecidas, e com eles ligeiramente confabulava".
A missa dominical era obrigatória para quantoso
saíam aos sábados e, às vezes, havia confissões e
comunhões gerais.
Tais práticas eram com ânsia disputadas e sempre
que possível repetidas, porquanto os que caíam em graça
ganhavam goiabada ao jantar, servidas bananas aos infiéis.
A alimentação dos alunos era da melhor qualidade,
muito farta e bem feita...
Estado sanitário ótimo.
Do zelo de D. Pedro II, diga-nos, apoiado no
testemunho do apoio paterno, o Dr. João Marques, filho
do antigo reitor do Internato, Dr. César Augusto Marques.
"O Imperador dando aos Ministros plena liberdade
de ação no Governo, fazia exceção para o Colégio de Pedro
II, Internato e Externato. O Colégio, todos o sabiam, vivia
sob a direção imediata e pessoal do Imperador. Havia
exageros na acusação de poder pessoalo falado pelos
políticos da época... quando o seu partido deixava o
Governo.
Ah! Não... Quanto ao Colégio, o poder pessoal do
Imperador era verdade incontestável e cuja existênciao
se podia negar.
Acompanhava os concursos, exame por exame,
passo por passo, tomando notas, conversando com os
examinadores e com os concorrentes, e no fim verificava-
seo lhe ter escapado qualquer minuciosidade e qualquer
circunstância.
Quase todas as semanas aparecia inopinadamente,
com tal insistência que sempre se contava com a visita
do Imperador.o se limitava a assistir às aulas, percorria
a chácara, os dormitórios, a biblioteca, a cozinha e mais
de uma vez sentava-se à mesa e provava a comida.
Constantemente, o Imperador mandava recados ao
reitor, relativos ao Colégio, numa tira de papel, a lápis azul,
sem endereço, com rabisco já conhecido como assinatura
imperial".
Prova-o de sobejo a dedicação ininterrupta de D.
Pedro II pelo Colégio de seu nome, dedicação à qual o
destino apôs fundo selo.
O último dia do Imperador seria vivido no Externato,
onde se processava concurso para preenchimento da
cadeira de Inglês.
Uma das provas do certame foi realizada a 14 de
novembro de 1889, e Abreu Fialho fixou a lembrança do
involuntário adeus de D. Pedro II ao Colégio, que se honrava
tendo-o D. Pedro II por protetor.
"Parecia refere Abreu Fialho que do alto de
seu trono tinha a visão sinóptica das necessidades do
Estado, e a elas acudia com amor, e, no particular do
ensino, nunca se afastou no curso do seu patriótico mister,
antes persistiu nesta louvável porfia, porque ainda nas
vésperas da revolução que lhe derribou a potestade, às 5
horas, mais ou menos, da tarde de 14 de novembro de
1889, na porta do Externato, acabava de assistir à prova
do concurso de Inglês, e ao tomar o carro que o levaria à
Estrada de Ferro para Petrópolis, virou-se para Tautphoeus,
o divino Tautphoeus, como o chama o nosso Sylvio
Romero, lembrando-lhe jocoso, que trouxesse bem
estudada a lição de grego do dia seguinte, cadeira de que
era detentor aquele inolvidável sábio e mestre".
Cinco da tarde, mais ou menos, de 14 de novembro
de 1889. Poucas horas depois graves sucessos
terminados pela Proclamação da República.
Depoimento de bacharel do Colégio, em 1889 a
cursar o 1
o
ano do Externato, vai dizer de 15 de Novembro
de 1889. Disse-nos:
"Desci a Ladeira do Senado, atravessei a rua do
Riachuelo, a do Senado, a travessa do Senado , o Campo
de Santa Ana, saindo pelo portão do parque fronteiro ao
Quartel General em direção à Rua Larga.
Movimento de tropas em frente ao grande quartel.
Virei-me para o colega que me acompanhava e observei:
Hojeo há aula. Vamos ver a parada. E ficamos
vendo a parada. E fomos ficando.o me lembro bem
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
do que vi, nem do que fiz. Atravessei a tropa e subo, lado
da rua Larga. Chego ao Pedro II. O Imperador estava
demorando e cansamos de esperá-lo.
Lá dentro grande vozeria, para as bandas do 6
o
ano.
Tomei o corredor à esquerda e dirigi-me à sala do 1
o
ano
onde o inspetor naquele dia era impotente para manter
ordem. O vice-reitor entrou e soltou um berro:
Todos de pé e de braços cruzados.
Mas a voz tremeu. O homem estava fulo. Sentou-
se na cadeira do professor.o no queixo e pôs-se a
meditar.
Assim ficamos por algum tempo, depois tivemos
ordem de sentar e a de saída, ao meio-dia, quando nos
retirávamos de ordinário à hora e meia.
Dirigi-me para a cidade, em companhia de colega.
Quando íamos dobrar uma esquina, surge papai, muito
pálido. Aparece também o aio do colega. Papai vinha de
tílburi. Entrei neste.
Por queo voltou para casa? Perguntou meu
pai, em caminho.
Indaguei o que havia de novo.
Proclamaram a República. O ditador é o Deodoro.
Ignorava o que vinha a ser república, nunca ouvira
pronunciar o nome de Deodoro,o sabia o que era ser
ditador. Para admissão no Pedro II bastava saber ler,
escrever, cantar e doutrina Cristã.
E, no tílburi, perguntei a papai se Deodoro ficava
então sendo Imperador.
Meu paio teve tempo de entrar em explicações,
já estávamos em casa, onde, no portão, mamãe me
esperava toda chorosa".
Assim, descrita por um calourozinho de 10 anos,
hoje glória do magistério nacional, transcorreu no Externato
a manhã de 15 de Novembro de 1889. É de crer que no
Internato, pela proximidade de quartéis de cavalaria e
artilharia, chegassem logo notícias do movimento militar
encabeçado pelo Marechal Deodoro.
o nos ficou, porém, depoimento algum de aluno,
mesmo calouro, do Internato.
Na deposição do D. Pedro II aprouve ao destino dar
papel histórico a aluno do Colégio.
Na noite de 14 para 15 de Novembro de 1889,
inteirado do movimento militar, reuniu-se o ministério
presidido pelo Visconde de Ouro Preto na Chefatura de
Polícia, na Rua do Lavradio, no Arsenal de Guerra e no de
Marinha onde o Governo viu clarear o dia, acabando o
Ministério por se congregar no Quartel General do Exército,
exceto o Ministro da Marinha, o chefe de esquadra José
da Costa Azevedo, Barão do Ladário.
Ao dirigir-se de carro para o Campo, ajuntando-se a
colegas, ao descer de "coupê", intimado por um tenente,
teve ordem de prisão. Sem palavra, com o silêncio que
nas ocasiões supremas falao alto, Ladário alvejou o
tenente intimador. O tenente atirou e Deodoro acudiu ao
estampido. Ladário alvejou-o também, sem atingi-lo, a bala
passou pela cabeça de Deodoro. Já se retirava Ladário,
quando o piquete de Deodoro, desfechando tiros, atingiu o
Ministro com quatro ferimentos.
Ladário apressou o passo e caiu na calçada, junto
ao armazém de secos e molhados da Rua Larga deo
Joaquim, com uma porta para a Rua deo Lourenço,
hoje Visconde da Gávea. O armazém fechou-se, às
pressas. Ladário ficou estendido sobre o lajedo.
Acercou-se então do ferido um moço. Chamava-se
Carlos Vieira Ferreira, aluno sextanista do Externato do
Colégio de Pedro II. Com certeza aí tinha se fartado, como
o calouro cujo depoimento citamos, de esperar o
Imperador, de visita anunciada.
Acercou-se Vieira Ferreira de Ladário. Então alguns
homens do povo acabaram se aproximando, curiosos,
humildes.
A mocidade generosa pediu-lhes auxílio para socorro
do ferido.o podia ficar assim no meio da rua, talvez
morrer, sem alívio, ou pelo menos sem piedade.
O apelo foi correspondido. O grupinho dos
populares, aquecido pela chama de caridade de Vieira
Ferreira, levantou Ladário.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Acrescidos de um comissário da armada, os
enfermeiros improvisados do momento trágico conduziram
Ladário ao saguão do Palácio Itamarati. No edifício achava-
se o Dr. João Pinto do Rego César, bacharel em letras, à
cabeceira de enfermo, um genro da Marquesa de Itamarati,
o Comendador Monteiro. Segundo depoimento inédito do
Dr. Rego César, mandou este pedir à família Itamarati um
lençol de linho para fazer ataduras. Pensado de urgência
Ladário, o Dr. Rego César pediu a presença de outro
médico, indicando o Dr. João Câncio Nunes de Mattos,
cirurgião militar, que julgava dever encontrar-se na farmácia
o Joaquim, na Rua Larga, próximo à do Costa.
Realmente, o Dr. Câncio de Mattos permanecia na
farmácia, ponto de encontro de vários facultativos
conhecidos e empório de diversos preparados de muita
vulgarização no mercado de droga da época, procurada
sobretudo por gente da roça em busca de anti-sezônicos.
O Dr. João Câncio seguiu Vieira Ferreira, o aluno do
Imperial Colégio, e o fulgor do ato do escolar iluminava
em chefe o Colégio inteiro. Provou-o para a posteridade,
à bíblica, o bom samaritanozinho compassivo do Pedro II
amparando homem idoso, tinto de sangue a jorrar de
ferimentos em honra de causa vencida.
Justifica-se, pois, o apontar de alguns dados
biográficos de Carlos Vieira Ferreira, dado o seu papel,
honrando-se e honrando o Colégio, no dia 15 de Novembro
de 1889.
Carlos Vieira Ferreira pertenceu à turma dos
bacharéis em letras do Externato em 1890. Descendia do
Dr. Miguel Vieira Ferreira, maranhense ilustrado, amigo e
colega dileto de Benjamin Constant. Homem
desinteressado, de variadas aptidões, no fim da vida
fundou, no Rio de Janeiro, igreja protestante.
Formado em Direito, Carlos Vieira Ferreira iniciou
vida pública por magistério no Colégio Militar. Mais tarde
entrando para a carreira diplomática, serviu o cargo de 2
o
secretário (1898). Por efeito de medidas de economia
governamental, retirou-se do corpo diplomático. Muito
jovem, faleceu a 3 de junho de 1900, deixando viúva D.
Albertina Gusmão Vieira.
Honra à memória de Carlos Vieira Ferreira.
Bem merece no Colégio homenagem especial.
Os Primeiros Atos da República em Relação ao Colégio Mudanças de Nomes do
Mesmo Reformas Benjamin Constant e João Barbalho O Código de Ensino de
1892 Fusão do Externato e Internato O Restabelecimento de Ambos
Reforma do Código do Ensino de 1892 A Primeira Equiparação do Ginásio
Nacional Regulamento Amaro Cavalcanti Reforma Epitácio Pessoa
Novos Diretores e Novos Lentes Código de Ensino de 1901 Concursos
Reforma Tavares Lyra O Património do Colégio Relatório Esmeraldino Bandeira
Novos Lentes Reforma Rivadávia Corrêa Eleições para Diretor e Representante
do Colégio, já de Novo de Pedro Segundo, junto ao Conselho Superior do Ensino
Extinção do Bacharelado pela Reforma Rivadávia O Anuário do Colégio
Reforma Carlos Maximiliano Nomeção de Diretores pelo Governo
Restabelecimento do Bacharelado e do Concurso de Provas.
XI
O Colégio de 1890 a 1917
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
ESCRAGNOLLE DORIA
Proclamada a República, instituído nela primeiro
Governo Provisório, presidido por Deodoro da
Fonseca, foi o Ministério do Império, a cuja jurisdição
pertencia o Colégio de Pedro Segundo, transformado em
Ministério do Interior.
Nele serviu como primeiro ministro o Dr. Aristides
da Silveira Lobo, antigo político da monarquia.
Quanto à instrução a breve passagem daquele
Ministro, pela Pasta, apenas se assinalava por um Aviso,
determinando que continuassem a regular-se pelas
disposições vigentes os institutos de ensino superior ou
secundário criados ou dirigidos por leis de caráter geral.
No Governo Provisório o sucessor de Aristides Lobo,
Cesário Alvim, nomeado em fevereiro de 1890,
presenciaria a separação dos negócios relativos à instrução
pública dos negócios políticos da Pasta do Interior.
Solvendo crise violenta no Governo Provisório, surgiu
nova Pasta, a da Instrução Pública, Correios e Telégrafos
para ela transferido Benjamin Constant, Ministro da Guerra.
Lente da Escola Militar e pouco antes da República.
da Escola Superior de Guerra, Benjamim Constant,
assumindo nova Pasta, encontrou como ato único da
administração Alvim, um Aviso riscando dos programas
de ensino a instrução religiosa..
Ministro da Instrução, na Pasta criada a 19 de abril
de 1890, Benjamin Constant, em julho do mesmo ano,
modificava o processo de concurso do antigo Imperial
Colégio de Pedro Segundo.
Havia este passado a Instituto Nacional de Instrução
Secundária quando Ministro Aristides Lobo.
Por Decreto de 14 de julho de 1890, dos concursos
do Instituto desaparecia a defesa de tese, arguidos os
candidatos por dois examinadores sobre provas escritas
e orais.
A arguição das primeiras seria feita no dia seguinte
ao da leitura pública das provas, a arguição das provas
orais, logo após a sua realização.
Julgariam o concurso a comissão examinadora e a
Congregação, logo depois da arguição do último candidato.
o tardaria Benjamin Constant a reformar a
instrução pública primária e secundária do antigo Município
Neutro ou da Corte, rotulado pelo novo regime como
Distrito Federal.
No regulamento anexo ao Decreto de 8 de novembro
de 1890 enfeixou Benjamin Constant a reforma do ensino
de inspiração e lavra própria.
Principiou mudando o nome de Instituto Nacional.
de Instrução Secundária, substituto do Imperial Colégio
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
de Pedro Segundo, para Ginásio Nacional, mantendo-lhe
provisoriamente a velha divisão em Internato e Externato.
Antigo professor das duas seções da Casa, a título
suplementar, Benjamin Constant conservou no Ginásio o
curso septenal.
Tornava, porém, independentes por inteiro,
administrativamente, Externato e Internato. Reger-se-iam
pela mesma lei, com identidade de programas, sujeitos à
Inspetoria Geral do Ensino e a Conselho Diretor desta.
Todas as matérias do curso seriam obrigatórias,
facultado porém ao aluno escolher a aula de Inglês ou a
de Alemão.
Doze anos de idade, pelo menos, seriam exigidos
para admissão ao 1
o
ano, além da apresentação do
atestado de vacina e de diploma de exame final primário
ou certificado do grau primário, mediante exame procedido
no Ginásio.
Os exames de suficiência ou de promoção
constariam de provas orais, os finais de provas escritas,
orais e práticas, os exames de madureza prestados no
fim do curso para verificação da cultura individual.
Aos exames de madureza só concorreriam os alunos
do Ginásio aprovados em todos os exames finais.
Aos aprovados em tal exame, pelo menos com 2/3
de notas plenas seria atribuído o título de bacharel em
ciências e letras.
Poderiam ser admitidos a exame de madureza
candidatos estranhos, munidos de atestados fornecidos
pelos diretores de colégios ou pelos professores
particulares que os houvessem habilitado, informando dos
precedentes intelectuais e morais dos discípulos.
Pela Reforma Benjamin Constant, o corpo docente
do Ginásio procedia de concurso, dirigida a Congregação
da Casa pelos reitores, por alternativa de presidência. A
Congregação elaboraria os programas de ensino, confiando-
Ihes a elaboração a comissão por ela eleita.
Apresentados os programas sofreriam exame do
Conselho Diretor de Instrução acompanhado de parecer
da Congregação e do Reitor Presidente.
No Conselho Diretor da Instrução figuraria um lente
do Ginásio.
No Internato e no Externato haveria em sala de honra
um Panteão.
Destinava-se aos retratos de alunos distintos pelo
talento, amor ao trabalho, procedimento exemplar e mais
virtudes, a recompensa do Panteão dependendo do juízo
da Congregação.
Extinguia a Reforma Benjamin Constant a classe
dos substitutos, o reformador tendo pertencido a esta
classe, com o titulo de repetidor, na antiga Escola Militar
da Praia Vermelha, aí lente interino por longos anos, provido
afinal em cátedra na Escola Superior de Guerra,
estabelecimento de ensino militar criado no fim do Império.
Pela Reforma Benjamin Constant, o corpo docente
do Ginásio Nacional compor-se-ia de 12 lentes privativos
de cada estabelecimento, Externato e Internato e de 6
lentes comuns a ambas as seções, cada uma servida por
professores de Ginástica, Evoluções Militares e Esgrima.
A 22 de novembro de 1890, Benjamin Constant
completava a reforma expedindo regulamento especial
para o Ginásio Nacional. Abrangia plano de estudo e sua
distribuição por curso de 7 anos, condições de admissão
de alunos no Internato e Externato, organização do corpo
docente, aulas e exames, processo de concursos, jogos
escolares, distribuição de prémios,o se descuidando o
regulamento do pessoal administrativo e docente.
Teria o reitor 6:000$000 de vencimento anual, e cada
lente 5:400$000, o secretário 3:000$000. Em novembro
de 1890, estendia-se aos funcionários de nomeação efetiva
e aposentáveis do Ministério do Instrução, o montepio
obrigatório criado em 31 de outubro de 1890.
o abrangia o benefício o amparo das famílias, do
pessoal subalterno do Ministério do Instrução e do Colégio,
bem necessitadas de tal amparo.
Os porteiros do Colégio venceriam 850S000 anuais,
os serventes 720S000.
No momento em que a Reforma Benjamin Constant
assinalava no Colégio a primeira reforma de ensino do
ESCRAGNOLLE DÓRIA
regime republicano, perdia o estabelecimento, por morte,
um dos seus mais antigos e conceituados professores:
Halbout, filho de pais franceses, tido por muitos por
francês, nasceu José Francisco Halbout, no Rio de Janeiro.
Educou-se em meio pedagógico, a mãe, Mme. Luiza
Halbout mantendo acreditado Colégio de meninas no centro
da cidade, na Rua do Hospício, ora Buenos Aires, esquina
da Ruao Jorge, ora Gonçalves Ledo.
Adolescente, dedicou-se Halbout à profissão de
relojoeiro, desamparada pelo magistério.
Começou a lecionar bem jovem, aos 22 anos,
iniciando carreira para a vida inteira.
Após concurso, Halbout ocupou no magistério
secundário oficial posição digna de seus méritos.
Por Decreto de 5 de junho de 1858, referendado pelo
Marquês de Olinda, foi Halbout nomeado professor de
Francês do Internato e Externato do Imperial Colégio de
Pedro Segundo, percebendo o ordenado anual de
1:600$000.
Autorizado o diretor do Instituto Comercial, o reitor
do Colégio de Pedro Segundo, o Dr. Pacheco, por Aviso
ministerial, a convidar os professores do Imperial Colégio
que quisessem lecionar no Instituto, neste Halbout
ocupando a cadeira de Francês por Decreto de 7 de outubro
de 1863, com o vencimento anual de 1:200$000.
Na folha de serviços de Halbout ao magistério
nacional ainda se registrariam os de lições de Francês, na
Escola Normal da Corte.
Antes, porém de ter nela ingresso, Halbout passou
no Colégio a reger unicamente a cadeira de Francês do
Externato, por opção feita nos termos do art. 56 do
regulamento anexo do Decreto 61.30, de 1
o
de março de
1876, expedido na 2
a
Regência Imperial de D. Isabel.
Por Decreto de 2 de outubro de 1885, era Halbout
nomeado professor da Escola Normal da Corte, a funcionar
provisoriamente oito anos na Escola Politécnica, já tendo
Halbout na Escola Normal regido para ela a cadeira de
Francês em 1880.
Cinco anos depois recebia designação efetiva,
assumindo interinamente a diretoria da Escola Normal, no
impedimento do diretor Dr. João Pedro de Aquino, por
portaria de 23 de dezembro de 1887, expedida pelo Ministro
do Império, Barão de Cotegipe.
Além das funções docentes, Halbout exercia outras,
sem sair do magistério, quais os encargos de examinador
de concursos no Colégio e no Instituto Comercial.
s a pena a serviço de traduções de monografias,
destinadas a exposições universais das quais o Brasil
participava.
Assim traduziu Halbout para francês as Noções de
Corographia do Brasil, do colega Joaquim Manoel de
Macedo.
Para se avaliar a monta da tradução basta dizer que
constou de livro de 504 páginas, com vários mapas, livro
impresso em 1873 pela tipografia Brockhaus de Leipzig.
Ficou a cargo dos professores Thomaz Alves
Nogueira e Guilherme Schieffler a tradução da mesma obra
para o Alemão.
Após decénio de magistério na Escola Normal da
Corte, dela se retirava Halbout, jubilado por Decreto de 4
de março de 1889, percebendo pela jubilação 1:600$000
anuais.
Continuou, porém, a lecionar no Externato do
Imperial Colégio, até pouco depois da República.
Nos últimos tempos de magistério, escusava-se de
examinar, o que fizera longos anos, a seu ver o programa
de estudos vigente só favorecendo reprovações.
Lembrado para diretor da Escola Normal, já na
República, Halbouto aceitou o cargo.
Noticiando o óbito de Halbout, dizia a Gazeta de
Notícias, então um dos maiores órgãos da imprensa
carioca:
"O vulto que acaba de desaparecer há de ser sempre
lembrado como tipo da mais alta honestidade e do
cumprimento mais rigoroso do dever.
Seus muitos discípulos podem ter se queixado,
alguma vez, da severidade de seus juízos, mas é difícil
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
que os tenham acoimado de injustiças, porque de fato ele
s o mais meticuloso cuidado emo cometê-las."
Para acréscimo do ligeiro esboço da personalidade
de Halbout fiquem destacadas as seguintes linhas de
Evaristo Nunes Pires, professor no Colégio, inscritos na
Revista Didáctica de 1
o
de janeiro de 1906.
"Quando Halbout completou 25 anos de carreira
pública, tratou de justificar faltas, então se apurando que
só 5 vezes deixara de dar aula.
Também de Halbout foi dito que, primando sempre
pela execução de deveres, ninguém o excedia no
desempenho das funções do magistério, assim também
na banca de examinador, ninguém se mostrava mais
honestamente rígido e altaneiro às importunações do
empenho.
o só na sociedade brasileira, vinda de berço, era
Halbout tido em subida conta como no seio da colónia
francesa à qual o ligava o atavismo que honrava por
costumes puros de excelente chefe de família, como
professor considerando o ensino "o mais santo dos
deveres".
Tanto era a estima da colónia francesa do Rio de
Janeiro por Halbout que pessoas influentes dela se
interessavam junto ao Ministro da França no Brasil, Conde
Amelot de Chaillot, para ser concedido a Halbout o grau
de cavaleiro da Legião de Honra, em curso o pedido quando
a morte de Halbout veio tristemente cancelá-lo.
A Benjamin Constant sucedeu na Pasta da Instrução
Pública o Dr. João Barbalho Uchôa Cavalcanti
Aluno assinalado do Ginásio Pernambucano, aí
recebendo primeiro prémio em 1859 e prémio entregue por
D. Pedro II, em viagem pelo Norte, Barbalho por espaço
de 17 anos dirigira a instrução pública em Pernambuco.
Sempre a par do movimento pedagógico universal,
procurando adaptá-lo na província de berço, Barbalho, futuro
e douto comentador da Constituição de 1891, dera a lume
várias obras versando pedagogia.o era, pois. um
deslocado na Pasta da Instrução.
Dela Ministro, a 22 de janeiro de 1891, membro do
segundo Gabinete do Governo Provisório, o do Barão de
Lucena, Barbalho, logo em fevereiro de 1891 mandou
entrarem em vigor, provisoriamente, os regulamentos
anteriores ao regulamento expedido pelo antecessor
Benjamin Constant. Isto a 6 de fevereiro de 1891 e no dia
seguinte um Decreto golpeava a Reforma Benjamin
permitindo, sem concurso, primeira nomeação para
cadeiras vagas ou recém-criadas.
Em março de 1891, o Inspetor da Instrução Pública,
Dr. Ramiz Galvão, bacharel em letras, propunha ao ministro
Barbalho várias medidas em relação ao Colégio.
Entre elas a de vigorar o antigo plano de estudos
com algumas modificações de pequena monta, atendendo
a próxima apresentação de projeto reformador do plano do
Ginásio Nacional.
Promulgada a primeira Constituição da República, a
24 de fevereiro de 1891, entrou a nação em regime regular,
eleito Presidente da República, pelo Congresso Nacional,
o marechal Deodoro da Fonseca para o primeiro quadriénio
legal, de 25 de fevereiro a 15 de novembro de 1894.
Nomeou Deodoro Ministério do qual continuou chefe
o Barão de Lucena, passando João Barbalho da Pasta da
Instrução Pública para a da Justiça, substituído naquela
pelo Desembargador António Luiz Affonso de Carvalho.
Tomaria este alguma providência de ordem secundária
quanto ao ensino público.
Em dezembro de 1891, em virtude da
constitucionalização do regime, surgia a primeira lei
orçamentária da República atribuindo dotação de
175:530$000 ao Externato, igual soma destinada ao
Internato.
Autorizado pela referida lei orçamentária, o Governo
equipararia as vantagens dos lentes e professores do
Ginásio Nacional às dos lentes e professores de ensino
superior.
No ano letivo de 1891 receberiam grau 19 bacharéis
da turma de futuros cargos no Colégio, Francisco Pinheiro
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Guimarães, lente de Português e Literatura, e Sylvio Alfredo
Bevilacqua, secretário do Internato.
Com a proclamação da República, havia coincidido
a entrada de novos lentes para o Colégio, os seguintes:
Alonso Garcia Adjunto, lente de Grego, Manoel Said Ali
Ida e Augusto Guilherme Meschick, lentes de Alemão,
Rodolpho de Paula Lopes e João Ribeiro, lentes de História
Natural e de História Universal, Guilherme Affonso de
Carvalho, de Inglês, Alfredo Coelho Barreto e Agostinho
Luiz da Gama, lentes de Matemática, e João Gonçalves
Coelho Lisboa, lente de Geografia.
O ano letivo de 1892 seria inaugurado com reformas
para o Colégio.
De posse de autorização competente, qual a da
primeira lei orçamentária da República, o Governo ia mais
uma vez modificar o Ginásio Nacional.
Renunciante da Presidência da República, a 23 de
novembro de 1891, o Marechal Deodoro da Fonseca
entregou governo ao Vice-presidente, Marechal Floriano
Peixoto; o qual confiou o Ministério do Instrução Pública
ao Dr. José Hygino Duarte Pereira.
Professor de humanidades na juventude, lente de
Direito no Recife, como João Barbalho, seu conterrâneo,
José Hyginoo era também um deslocado na Pasta da
Instrução.
A exemplo do antecessor e comprovinciano numa
época de transição, a da Monarquia para a República, José
Hygino pouco podia fazer pelo ensino.
Apôs, entretanto, referendo ao Decreto de 2 de
fevereiro de 1892 a alterar profundamente a estrutura do
antigo Colégio de Pedro Segundo de 1837. O citado Decreto
extinguiu o Internato, substituindo-o por 2
o
Externato,
sujeito às disposições do 1
o
e funcionando no edifício do
extinto Internato sem modificação de pessoal docente ou
administrativo.
Extinto por sua vez o Ministério da Instrução Pública,
Correios e Telégrafos, os assuntos e interesses do ensino
ficaram subordinados a novo Ministério, denominado da
Justiça e Negócios Interiores, para o qual foi nomeado, na
Presidência Floriano Peixoto, o Dr. Fernando Lobo Leite
Pereira.
A passagem do Dr. Fernando Lobo pela Pasta da
Justiça e Negócios Interiores assinalou-se pela elaboração
e aplicação de um Código de Ensino precedido de
autorização legislativa.
Encerrou o Código disposições tendentes a garantir
e premiar corpos docentes e discentes.
Determinou que a Congregação de cada instituto de
ensino superior bienalmente indicasse catedrático ou
substituto para em viagem ao estrangeiro estudar métodos
de ensino ou proceder a investigações científicas.
Ao aluno anualmente classificado primeiro de cada
estabelecimento de curso superior teria direito a prémio
de viagem na Europa ou na própria América.
O Código de 1892 permitia que os estabelecimentos
de ensino formassem património, recebendo doações,
legados e subscrições, livre ao Governo a concessão do
título de Faculdades ou Escolas, equiparando-as às
federais, as Faculdades ou Escolas de fundação particular,
mediante condições.
O ano de 1892 foi de reformas no ensino.
Transformado em Distrito Federal o antigo município
Neutro ou da Corte, pela Lei Orgânica do mesmo Distrito,
de 20 de setembro de 1892, a instrução primária do Distrito
ficou a cargo da Prefeitura Municipal, à expensas da União
a instrução secundária.
Em novembro de 1892, Ministro ainda o Dr. Fernando
Lobo, a lei orçamentária do citado ano autorizou o Governo
a fundir o 1
o
Externato, o do centro da cidade, e o 2
o
Externato do Ginásio Nacional, o antigo Internato do Campo
deo Cristóvão.
Desaparecida a divisão, em dezembro de 1892, o
Ministro Fernando Lobo aprovava novo regulamento para
o Ginásio.
Tal regulamento extinguia as denominações de reitor
e vice-reitor no alto do corpo administrativo, substituía-os'
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
pelas de diretor e vice-diretor, delegados de confiança
governamental, fixados em 6:000$000 anuais os
vencimentos dos lentes, pelo Regulamento Fernando Lobo.
A Proclamação da República encontrara dois
reitores, um no Externato do Imperial Colégio, Monsenhor
Luiz Raymundo da Silva Brito, outro no Internato, o
Conselheiro Joáo Capistrano Bandeira de Mello,
substituído o primeiro em janeiro de 1892, por José
Veríssimo Dias de Mattos, até dezembro com o título de
Reitor, e o segundo em 1890 e 1891 por Paranhos de
Macedo, este em 1891 substituído o primeiro em janeiro
de 1892, por José Veríssimo Dias de Mattos, até dezembro
com o título de reitor, e o segundo em 1890 e 1891 por
Paranhos de Macedo, este em 1891 substituído pelo Dr.
Alfredo Piragibe, médico e bacharel em letras da turma de
1864, o segundo bacharel da Casa a exercer-lhe reitoria,
sendo o primeiro Paranhos de Macedo.
No ano de 1892, de tantas modificações para o
Ginásio Nacional, por ele se graduavam em ciências e
letras duas turmas de setimanistas, a do Externato
composta de 13 jovens e a do Internato de 9. Haviam
estudado no Externato diversos bacharéis votados ao
ensino superior ou secundário.
No ensino superior figurariam Raul Paranhos
Pederneiras, professor de Direito e da Escola Nacional das
Belas Artes, e João Marinho de Azevedo, professor de
Medicina. Da turma do Externato em 1892 passaria para
o corpo docente do Ginásio Nacional, Gastão Mathias Ruch
Sturzenecker, pela competência e assiduidade um dos
ornamentos da Congregação e do ensino público.
Professor interino, seria ainda o bacharel Carlos
Leopoldo Jorge Sallaberry, da turma do Externato,
pertencendo à do Internato José Bernardino Paranhos da
Silva, servidor da instrução pública em vários cargos,
inclusive o de Diretor do Internato.
No ano letivo de 1892 foi aventada a ideia da
fundação de associação de socorros mútuos destinada a
auxiliar funcionários do Ginásio Nacional, por várias formas
beneficentes.
A 14 de junho de 1892, para tal fim, acharam-se
reunidos na sala da Biblioteca do então 1
o
Externato do
Ginásio, a convite do capitão Domingos da Silva Lima, os
Srs. António Joaquim Rodrigues Júnior, António Manoel
Pereira dos Santos, Carlos Galdino Leal, Domingos da
Silva Lima, Joaquim José de Oliveira Alves, João Francisco
de Góes, Marcellino Sampaio Castello Branco, Pedro Pinto
Baptista e Pedro Felippe Perrayon.
Pelo capitão Silva Lima foram expostas as bases
da fundação da Caixa Beneficente de Socorros Mútuos do
Ginásio Nacional, eleita comissão para redação de
estatutos, escolhidos os Srs. Oliveira Alves, Rodrigues
Júnior e João de Góes.
Com vária sorte progrediu a Caixa, que ainda há
pouco se tratou de reformar.
O ano de 1893 transcorreria entre perturbação da
vida nacional, agitada pela revolta da armada, de início a
6 de setembro de 1893, e chefiada pelo Contra-almirante
Custódio José de Mello.
Pouco antes de explodir a revolta na baía do Rio de
Janeiro, para mais tarde conjugar-se com a Revolta
Federalista estendendo-se ao sul do país, o vice-presidente
do Senado o Dr. Prudente José de Moraes e Barros
promulgava Decreto, a 5 de julho de 1893.
Criava em Minas Gerais, na cidade de Campanha,
um Externato ou Ginásio Nacional, servindo nele o pessoal
docente ou administrativo que a isto se dispusesse, dirigido
para o estabelecimento a criar o material das duas seções
do Ginásio Nacional, material inaproveitado na fusão.
Conforme Raja Gabaglia, tal Decreto ficou letra
morta, a legislação também necrópole.
Lei orçamentária para o exercício financeiro de 1894,
em breve restabeleceria o Internato, convertido até então
em 2
o
Externato com o pessoal docente e administrativo
correspondente.
Findo o ano letivo de 1893, através de sucessos de
ordem pública, quais os oriundos das revoltas naval e
federalista e das mudanças no regime do Colégio,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
bacharelaram-se no Externato dez setimanistas e no
Internato quatro. Dos bacharéis do Externato dois se
encaminhariam para o ensino superior, Fernando Augusto
Ribeiro de Magalhães, professando na Faculdade de
Medicina e Luiz Cantanhede de Carvalho e Almeida na
Escola Politécnica.
Em dezembro de 1893. deixava a Pasta da Justiça
e Negócios Interiores o Dr. Fernando Lobo, republicano
histórico, desde a formatura jurídica emo Paulo em 1876.
Homem sempre respeitado pela integridade de caráter.
Levá-lo-ia este a renunciar mandato de senador por
Minas por ter sido apresentado pelo Partido Republicano
Federal, para a Vice-Presidência da República.
Vencido nas eleições, pobre e desprendido, entendeu
renunciar ao mandato legislativo, nunca mais tornando à
política. Um homem e um exemplo.
Foi o Dr. Fernando Lobo substituído pelo Dr. Alexandre
Cassiano do Nascimento, riograndense do sul.
Na Presidência, Floriano Peixoto acumularia o
exercício de várias Pastas, Ministro efetivo do Exterior e
interino da Justiça e da Fazenda.
Longa seria a interinidade de Cassiano do
Nascimento na Pasta da Justiça, de 8 de dezembro de
1893 a 15 de novembro de 1894, termo da Presidência de
Floriano Peixoto.
Ministro interino da Justiça, Cassiano do Nascimento
apôs referenda ao Decreto de 15 de janeiro de 1894,
aprovando regulamento para o revivido Internato.
Pelo citado Decreto, militarizados, os alunos do
Internato formariam batalhão escolar, de quatro
companhias, a instrução militar ministrada por oficiais
subalternos do exército.
O batalhão escolar do Internato, no qual os alunos
tinham graduações militares, teria ensejo de exibir-se
publicamente e com garbo, comandante do batalhão o
aluno considerado mais distinto do estabelecimento.
A 15 de novembro de 1894, tomava posse da
Presidência da República o Dr. Prudente de Moraes,
nomeando Ministro da Justiça o Dr. António Gonçalves
Ferreira, pernambucano de longa prática na magistratura
e na administração da sua província, deputado geral por
ela, presidente de Minas, na monarquia, lente de Direito
no Recife.
Coube-lhe referendar, mal na Pasta da Justiça, o
Decreto de 7 de dezembro de 1894, aprovando, para
modificá-lo ou acrescentá-lo, o Código de Ensino de 1892.
Modificou-o o novo Decreto sobretudo na parte
financeira, aumentando ou diminuindo ordenados e
gratificações, gratificando porém o pessoal do Ginásio a
serviço de exames de preparatórios.
Findou o ano letivo de 1894, ainda de bastante
agitações políticas, quais as posteriores à transição da
Presidência Floriano Peixoto para a de Prudente de Moraes.
Tais agitações, perduraram por bastante tempo culminando
na tentativa de assassínio de Prudente de Moraes no antigo
Arsenal de Guerra, pelo anspeçada do exército do 10°
Batalhão de Infantaria, Marcellino Bispo dos Santos.
No fim do ano letivo de 1894 haviam de bacharelar-
se dez alunos do Externato e três do Internato.
Assinalou também o referido ano letivo a admissão
no corpo docente de lentes novos, o Dr. Francisco Pinheiro
Guimarães, provido na cadeira de Português do Internato,
o Dr. Augusto Daniel de Araújo Lima na de Geografia, o
Dr. José Dias Delgado de Carvalho na de Francês do
Externato e Timotheo Pereira na de Matemática, o último,
exemplo da força de vontade, pois se elevara de humilde
empregado no comércio a professor acatado e bem
autodidata.
Em 1895, ainda na Pasta da Justiça, o Dr. Gonçalves
Ferreira referendava o Decreto de 22 de abril de 1895
concedendo ao Instituto Kopke, equiparação ao Ginásio
Nacional.
A concessão alargar-se-ia,o raro com grave dano
para a regularidade e moralidade do ensino.
No sentir de Raja Gabaglia, o Decreto de 22 de abril
de 1895 "foi a fonte de onde emanou a desmoralização e
o declínio da instrução secundária". Outras fontes viriam
e de abundante jorro.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
No ano letivo de 1895, o Externato do Ginásio
Nacional graduou seis bacharéis no Externato, cinco no
Internato.
Dos bacharéis do Externato dois consagrar-se-iam
ao ensino: Henrique César de Oliveira Costa, lente do
Ginásio e da Escola Politécnica, e Heitor Lyra da Silva,
lente da Escola das Belas Artes.
Em 1896, por lei orçamentária, foram transferidos
para os diretores de estabelecimentos de instrução
atribuições das Congregações,o referente
exclusivamente ao ensino, a disciplina escolar, a
programas, a exames, a prémios ou concursos.
Graduaram-se no ano letivo de 1896 sete bacharéis
no Externato e onze no Internato. Da turma do Externato
menos numerosa que a do Internato, coisao muito
comum, serviria o ensino Everardo Adolpho Backeurser,
lente distinto da Escola Politécnica. Da turma do Internato
se destacaria para o ensino José Ferreira da Costa Piragibe,
lente interino do Colégio, diretor do Instituto Ferreira Vianna
e do Instituto Profissional João Alfredo, figura de relevo
no magistério secundário.
O ano letivo de 1897, no Ginásio Nacional,
transcorreria como o de 1886, no antigo Imperial Colégio
de Pedro Segundo. Nenhuma das seções da casa
tradicional graduaria bacharéis.
Lutuoso sucesso assinalaria o fim do ano letivo de
1897.
Três dias após o aniversário da fundação do Colégio
de Pedro Segundo, falecia no Rio de Janeiro, a 5 de
dezembro, o Dr. Alonso Garcia Adjunto, lente de Grego no
Ginásio Nacional e de Inglês no Liceu de Humanidades de
Niterói.
Nascera em Paracatu, Minas, em 1863. Iniciando
estudos na cidade natal completou-os no Seminário de
Diamantina.
Prestados exames preparatórios, de uma só vez,
em Ouro Preto, veio Adjunto ao Rio de Janeiro,
frequentando um ano a Escola Politécnica e quatro anos a
Faculdade de Medicina.
Deixou estudos académicos no 4
o
ano da Faculdade
para dedicar-se ao cultivo de línguas, cultivo para o qual
sentia irresistível pendor, dedicando-se também à Filosofia.
A cópia de estudos linguísticos e filosóficoso
privou Garcia Adjunto de bacharelar-se em direito e com
brilho.
Concorrendo à cadeira de Grego do Internato do
Ginásio Nacional, obteve-a revelando invulgares
conhecimentos linguísticos, também por concurso
conquistando a cadeira de Inglês no Liceu de Humanidades
de Niterói.
A propósito dos concursos de Garcia Adjunto
consigna conterrâneo dele, o professor Olympio Gonzaga,
dois sucessos assinalados.
Diz o professor Gonzaga:
"Descobrindo no Morro de Santo António, no Rio de
Janeiro, um professor de Grego, em Alemão aprendeu essa
língua,o bem que em 3 meses derrotou o seu professor
em concurso para ocupar cadeira de Grego no Ginásio
Nacional, onde lecionava com proficiência.
Segundo estamos informados, a nomeação do
saudoso conterrâneo para a cadeira de Inglês do Liceu de
Niterói, foi feita após concurso admirável, "sendo preciso
que se criasse nota acima de distinção para qualificação
de provas".
Tal foi o Dr. Alonso Garcia Adjunto, tal o professor
que a Congregação do Ginásio Nacional viu desaparecer
em 1897.
Tinha 34 nos de idade o mestre que, como
adivinhando morte prematura, tanto na vida se anteciparia.
Ficou o Governo em 1897, armado de lei
orçamentária. Permitia-lhe reforma, na sua parte relativa
ao ensino secundário, do regulamento baixado com o
Decreto de 4 de novembro de 1890, isto é, o da Reforma
Benjamin Constant.
Tratava logo o Governo de valer-se da autorização,
sendo Ministro da Justiça o Dr. Amaro Bezerra Cavalcanti,
inspetor da Instrução Pública e diretor do Liceu do Ceará
ESCRAGNOLLE DÓRIA
de 1881 a 1883, tendo exercido interinamente o cargo de
professor de Latim no Imperial Colégio.
Referendou o antigo docente, quando Ministro, o
Decreto de 30 de março de 1898, com o qual se abriu o
ano letivo de 1898, aprovando novo regulamento,o só
a vigorar no Ginásio Nacional como no ensino secundário
a cargo dos Estados.
Foi mantida a divisão do Ginásio Nacional em
Externato e Internato, regidos pela mesma lei,
independentes quanto a administração, unidos os seus
professores em congregação única, presidida um ano pelo
diretor do Externato, no seguinte pelo do Internato.
Abrangeria o ensino dois cursos simultâneos, um
propedêutico ou realista, de seis anos, outro humanista
ou clássico, de sete anos.
As disciplinas de ambos os cursos seriam as
mesmas,o estudando porém Latim e Grego os alunos
chamados propedêuticos, permitido a todos os alunos a
escolha de aulas de Inglês ou Alemão. Constituiria sétimo
ano curso de revisão acrescido do estudo de Literatura
Geral e Nacional, bem como do estudo da História da
Filosofia. Os exames seriam substituídos por promoções
de ano. No fim do curso propedêutico receberia o aluno
certificado de conclusão de curso secundário, dando-lhe o
direito de requerer exame de madureza mediante
condições.
Tal exame realizar-se-ia ante a Congregação,
formando prova geral de habilitação, exame aquele também
facultado ao candidato inscrito nas matérias dos dois
cursos.
A habilitação nos exames de madureza conferiria
ao aprovado o grau de bacharel em ciências e letras.
O Decreto de 30 de março de 1898 minudentemente
tratou dos exames de madureza, dos de admissão, dos
concursos para lentes, do pessoal administrativo, da
colação de grau.
Duas seriam as causas principais da oposição à
Reforma Amaro Cavalcanti, dificultando-lhe aplicação.
Primeira a constituição do exame de madureza,
depois o aproveitamento de professores dos extintos
Cursos Anexos às Faculdades Jurídicas deo Paulo e
Recife, para preenchimento no Ginásio Nacional de
segundas cadeiras de Línguas Vivas e Matemática.
Para apressar nulificação da Reforma Amaro
Cavalcanti breve viria, em lei orçamentária, autorização
ao Governo para reformar de novo.
Em meio, porém, de tanta incerteza de vistas e
propósitos, como em 1897, em 1898 nem o Externato,
nem o Internato graduariam bacharéis em letras, sucesso
único nos cinquenta e dois anos de existência do Pedro
Segundo no Império, sucesso duas vezes ocorrido nos
seus nove anos de vida na República.
O ano letivo de 1899 iniciar-se-ia no Ginásio Nacional
com aplicação de reforma, a do Decreto de 8 de abril de
1899, referendado pelo Ministro da Justiça da presidência
Campos Salles, Dr. Epitácio Lindolpho da Silva Pessoa.
Pelo citado Decreto, o curso do Ginásio abrangeria
seis anos, os exames seriam de promoções sucessivas
e de madureza, mantido o curso propedêutico, a nomeação
dos diretores recaindo sobre lentes do Ginásio ou cidadãos
brasileiros de notória competência.
Tais as disposições de maior relevo num texto de
lei de 166 artigos.
Além de regulamento novo recebeu o Ginásio
Nacional em 1899 novo lente, o de História Natural do
Internato, o Dr. Wenceslau Leite Alves de Oliveira Bello,
provido mediante concurso.
Findo o aludido ano letivo graduaram-se no Externato
quatro bacharéis,o dando o Internato bacharel algum,
dois setimanistas da seção transferidos para o Externato
em meio do curso.
No ano letivo de 1900, em setembro, achou-se o
Externato privado de vice-diretor, extinto o cargo.
Dirigia então o Externato o Dr. Francisco Carlos da
Silva Cabrita, nomeado a 15 de setembro de 1898, em
substituição de José Veríssimo Dias de Mattos, exonerado
a pedido.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Desde 1897 o Internato estava sob a direçáo do Dr.
José de Souza da Silveira, substituto do Dr. Alfredo
Piragibe, falecido no cargo.
O Dr. Cabrita havia muito militava no magistério, já
na Escola Normal, já na Politécnica servindo a causa do
ensino popular gratuito no liceu de Artes e Ofícios, além
de autor de compêndios de matemática.
Tanto Cabrita como o diretor do Internato, D. José
da Silveira, queo dispensava o uso e o tratamento de
dom, tornaram-se bastante conhecidos pelo espírito
disciplinador, procurando ambos trazerem os seus
estabelecimentos como um brinco, conforme expressão
familiar ao povo.
Vaga a cadeira de Francês, pela renúncia do Dr. José
Dias Delgado de Carvalho, foi em 1900 provida por
concurso, pouco depois dele aberta segunda vaga, por
falecimento do lente de Francês do Internato, Dr. Manoel
de Magalhães Couto, antigo diretor do Instituto dos Surdos-
Mudos, principiado o ensino destes no Rio de Janeiro, em
1856 pelo surdo-mudo francês Huet, no Colégio Vassimon,
na Rua Municipal n.° 8.
Iniciara-se com dois alunos, um menino e uma
menina, mediante a pensão anual de 500S000 para cada
um, pensão paga por D. Pedro II.
O Governo imperial mandou o Dr. Magalhães Couto
à Europa para habilitar-se no Instituto dos Surdos-Mudos
de Paris, regressando ele em 1862, para dirigir o Instituto
do Rio de Janeiro até 1868.
Falecido o Dr. Magalhães Couto, a 23 de março de
1900, a 10 de abril eram nomeados para as cadeiras vagas
do Externato e do Internato o Dr. Henrique Monat, médico,
e Gastão Mathias Ruch Sturnezecker, bacharel em letras.
Ambos em breve escreveriam um método para o
ensino da língua francesa, rivais classificados no mesmo
concurso, Monat em 1
o
lugar, Ruch em 2
o
.
o passou o ano letivo de 1900, também assinalado
pela nomeação de Hans Heilborn, por concurso, para a
cadeira de Grego, sem alteração na vida do Ginásio
Nacional.
Por autorização legislativa e orçamentária ficou o
Governo autorizado a rever o Código de Ensino baixado
com o Decreto de 2 de dezembro de 1892 ao tempo do
ministro Fernando Lobo.
Findo o ano letivo de 1900, haviam se habilitado ao
grau de bacharel em letras, oito setimanistas, só no
Internato, o Externato sem bacharelandos.
Havia também o Internato mudado de diretor,
nomeado para o cargo o Dr. Alexandre Camillo, por motivo
de óbito repentino do Dr. D. José de Souza da Silveira.
A 1
o
de janeiro de 1901 o Governo da República,
presidido por Campos Salles, utilizava autorização
legislativa expedindo o Decreto aprovando o Código dos
Institutos Oficiais de Ensino Superior e Secundário,
dependentes do Ministério da Justiça.
o terminara janeiro de 1901 e já em Decreto
referendado pelo Ministro da Justiça, Epitácio Pessoa,
aprovava regulamento para o Ginásio Nacional.
Dele disse Raja Gabaglia: "Pouco diferia do
anterior, mas teve uma originalidade, extinguiu a cadeira
de História do Brasil quando se comemorava o 4
o
Centenário do Descobrimento".
Desaparecia em 1901 a cadeira inaugurada em 1849
por Joaquim Manoel de Macedo e ocupada na época por
Capistrano de Abreu no Externato e Mattoso Maia no
Internato.
Ficou o Ginásio Nacional com a cadeira de História
Universal especialmente do Brasil, pelo Decreto de 26 de
janeiro de 1901, o qual por disposição transitória, enquanto
o vigorasse o exame de madureza, mandava conferir
aos sextanistas, de curso completo o grau de bacharel
em letras. Conferido em 1901 a turma de 16 alunos do
Externato e 11 do Internato.
O Dr. Alexandre Camillo deixando a diretoria foi
substituído pelo Dr. João António Coqueiro. Desprovido
de cabedais, rico porém, de força de vontade, o Dr.
Coqueiro estudara em Paris, dedicando-se aí a altos
estudos de ciências físicas e matemáticas, graduando-se
ESCRAGNOLLE DÓRIA
nelas, praticando astronomia no Observatório de Bruxelas,
doutorando-se na Universidade da capital belga.
Aos 18 anos, ainda estudante em Paris, publicou
tratado de Aritmética, alvo de elogios de cientistas
eminentes. Numerosas e sempre bem aceitas foram as
obras do Dr. Coqueiro no domínio da Matemática,
professada por ele em diversos cargos do magistério no
Maranhão, contribuindo com estudos e planos para a
transformação no Rio de Janeiro da Escola Central em
Politécnica. Na província natal o Dr. Coqueiro prestou
serviços relevantes à indústria de açúcar. Transferindo-se
para o Rio de Janeiro, aí exerceu o Dr. Coqueiro vários
cargos, na Repartição de Telégrafos e na Prefeitura
Municipal, até ser diretor do Internato do Ginásio Nacional.
Sucesso eclesiástico para honra do Colégio e motivo
de sua satisfação, ocorreu em Roma, no consistório público
de 18 de abril de 1901, nomeado Bispo de Olinda o último
reitor do Externato no regime monárquico, Monsenhor Luiz
Raymundo da Silva Brito.
Com assistência do Colégio, seria sagrado, a 5 de
maio de 1901, na Catedral do Rio de Janeiro, sagrantes D.
Joaquim Arcoverde, Arcebispo da Diocese, D. Silvério
Gomes Pimenta, Bispo de Mariana e D. João Braga, Bispo
de Petrópolis.
Ao sair o novo Bispo da Catedral, o povo desatrelou
os animais do carro de Monsenhor Brito e ào conduziu
o veículo aos altos do Palácio do Morro da Conceição.
Após o prazer ou à elevação a dor e a queda, tal a
vida em qualquer de seus múltiplos setores.
No ano letivo de 1901, a 11 de maio, falecia no Rio
de Janeiro, onde nascera a 5 de janeiro de 1827, o Dr.
António de Castro Lopes, latinista eminente e antigo
professor de latinidade no Colégio.
Pouco depois, a 25 de junho de 1901, desaparecia
no Rio de Janeiro, nascido em 1828, o Dr. José da Silva
Lisboa, médico como Castro Lopes, por muitos anos
professor de Física e Química no Imperial Colégio. Era
filho do Visconde de Cayru.
No Colégio também, de 1878 a 1890, professara
literatura outro médico, o Dr. José Maria Velho da Silva,
nascido em 1831, e falecido a 1
o
de junho de 1901.
Cultor assíduo das letras, vangloriava-se de havê-
las bem tratado no romance histórico Gabriella, memorativo
de tempos coloniais.
Em 5 de novembro de 1901 perdia o Ginásio Nacional
o professor Thimoteo Pereira, nele e na Escola Naval, lente
de Matemática, de nascimento e principio de vida humilde,
elevado socialmente pelo próprio esforço, sem auxílio da
sorte, tantas vezes se negando a prestá-la ao mérito.
Em 1902 apenas alguns avisos do Ministro da
Justiça, José Joaquim Seabra, lente de direito no Recife,
cuja Faculdade dirigira, atingiram o Ginásio Nacional, para
o corpo docente do qual entrava, após concurso, o Dr.
Joaquim Ignacio de Almeida Lisboa, nomeado a 21 de
junho de 1902.
Numerosa seria a turma de bacharéis do Externato
em 1902, de dezenove setimanistas, a turma do Internato
apresentando três bacharelandos.
Na turma do Externato figurava quem deveria honrar
altamente o magistério no Colégio. Antenor Nascentes.
Dois alunos da turma dedicar-se-iam ao ensino normal e
particular, Aloysio Ferdinando de Souza da Silveira e
Washington Garcia.
O ano letivo de 1903 abrir-se-ia para o Externato
com a nomeação de diretor, substituto de Cabrita, o Dr.
José Gil Castello Branco, nomeado a 23 de março de 1903.
Na diretoria Castelo Branco, o Ministro da Justiça,
Seabra, referendava o Decreto legislativo de 24 de agosto
de 1903, tornando privativas duas cadeiras até então
comuns ao Externato e ao Internato, as de Lógica e
Literatura.
Por Decreto de 31 de agosto de 1903 foi o lente de
Português do Internato, Dr. Francisco Pinheiro Guimarães
transferido para a cadeira de Literatura do mesmo Internato,
substituindo-o interinamente na cadeira de Português, o
Dr. José Júlio da Silva Ramos.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Lecionava este disciplina no estabelecimento, cinco
anos a titulo suplementar, professor e diretor no Estado do
Rio do Ginásio Fluminense.
Para a cadeira de Lógica do Externato foi transferido
o lente de Latim, Dr. Vicente de Souza, a cadeira de
latinidade provida interinamente pelo Dr. José Cavalcanti
de Barros Accioli.
Assinalado o ano letivo de 1903 pela nomeação para
diretor do Externato do Dr. José Gil Castello Branco,
assinalado também ficaria pela revogação de quatro artigos
do Código de Ensino de 1901.
Referiam-se à impressão e prémios de trabalhos
elaborados por professores e bem assim ao prémio de
viagem concedido, de dois em dois anos, a
estabelecimento de ensino para investigações cientificas
no estrangeiro.
Dezesseis bacharéis graduaram-se no Externato em
1903, dois no Internato. Daqueles, dois se dedicariam ao
ensino superior na Escola Politécnica, Carlos Américo
Barbosa de Oliveira e Cipriano Amoroso Costa.
No corpo docente do Ginásio Nacional, em 1903,
tomou assento antigo e ótimo professor suplementar de
Português, Francês e Matemática, Floriano Corrêa de Britto,
de sólida cultura de humanidades.
Obteve em segundo concurso a cadeira de Francês
e nomeação para catedrático a 4 de agosto de 1903.
Tomou posse da cadeira do Internato, transferido
para o Externato o professor Gastão Ruch, a 23 de março
de 1903.
Ficavam assim ambas as cadeiras de Francês da
Casa ocupadas por bacharéis em letras.
Breve seria a administração do Dr. José Gil Castello
Branco, no Externato, falecido a 14 de fevereiro de 1905.
A pedido, foi o Dr. Coqueiro transferido da diretoria
do Internato para a do Externato a 29 de maio de 1905,
nomeado para dirigir o Internato o Dr. Leôncio Correia.
Também funebremente assinalaria o ano letivo de
1905 o falecimento, a 18 de outubro, do Conselheiro João
Capistrano Bandeira de Mello, último reitor do Imperial
Colégio de Pedro Segundo, a exercer o cargo quando
proclamada a República.
Graduar-se-iam em 1905, onze bacharéis em letras,
um dos quais, João Baptista de Mello e Souza fadado a
professor da Casa e Carlos Leoni Werneck fadado ao
magistério e à diretoria da Escola Normal.
No ano letivo de 1906, obtinham os professores
catedráticos elevação de vencimentos, promovida pelo Dr.
Victorino de Paula Ramos, deputado federal por Santa
Catarina, beneficiado também na elevação o magistério
superior.
Dois concursos preencheriam as vagas no corpo
docente de 1906, as da cadeira de História Geral,
especialmente do Brasil e da América, no Externato, vaga
pelo transferência para o Internato do respectivo lente, João
Ribeiro, e a cadeira de Latim, ainda do Externato, vaga
pela remoção do Dr. Vicente de Souza para a cadeira de
Lógica do Externato.
Após concurso empossavam-se como catedráticos
de História Geral e de Latim, Luiz Gastão d'Escragnolle
Dória, nomeado a 5 de novembro de 1906, no momento
professor suplementar de Inglês no Internato, e José
Cavalcanti de Barros Aciolli, nomeado a 27 de novembro
de 1906 e interino desde 1903.
Do exercício interino da cadeira de História Geral do
Externato, retirava-se o bacharel em letras Joaquim Osório
Duque Estrada.
Em 1907, Decreto referendado na presidência de
Affonso Penna pelo Dr. Tavares de Lyra, Ministro da Justiça,
elevava a gratificação dos diretores do ensino superior e
também a dos diretores do Ginásio Nacional.
No ano letivo de 1907, deixava a direção do Internato
o Dr. Leôncio Correia para assumi-lo o Dr. José Bernardino
Paranhos da Silva, bacharel em letras.
No mesmo ano, outro bacharel em letras, após
concurso, entrava para o corpo docente da Casa, o Dr.
Henrique César de Oliveira Costa, nomeado para a cadeira
ESCRAGNOLLE DÓRIA
de Matemática do Internato a 20 de junho de 1907, dois
anos preparador do gabinete de Física e Química do
Externato, tendo regido interinamente as cadeiras de
Matemática do Externato e Internato. Mas tarde ocuparia
cátedra de Geometria Descritiva da Escola Politécnica, por
onde o fizeram engenheiro civil.
No ano letivo de 1907, o professor de História
Universal, da América e do Brasil, Escragnolle Dória,
lecionando História Pátria no 6
o
ano do curso ginasial,
inaugurou a prática de visitas a sítios ou instituições, lições
com caráter objetivo, assim, por exemplo, a visita pela
turma de sextanistas de 1907 ao morro do Castelo, para
explicação dos primórdios do Rio de Janeiro.
No curso de visitas foram professor e alunos
recebidos nas seções de manuscritos e medalhas da
Biblioteca Nacional, nas diversas seções, histórica,
administrativa e judiciária, do Arquivo Nacional.
No Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
acharam-se os visitantes amavelmente acolhidos pelo
bacharel em letras Dr. Vieira Fazenda, bibliotecário do
Instituto solícito em patentear a futuros colegas livros e
manuscritos referentes aos estudos de História Pátria.
Findo o ano letivo de 1907, achavam-se prontos para
recebimento de grau oito bacharéis em letras, sete do
Externato e um do Internato.
o quiseram os bacharelandos de 1907 deixar para
sempre o Colégio sem honrá-lo de modo especial.
Coadjuvados pelo professor Escragnolle Dória,
celebraram os bacharelandos do Ginásio Nacional o
septuagésimo aniversário da fundação do antigo Colégio
de Pedro Segundo.
Na noite de 2 de dezembro de 1907, iluminou-se o
Ginásio para sessão solene presidida pelo professor e
diretor interino Nerval de Gouvêa.
Proferiu discurso oficial o professor Escragnolle
Dória, recitando poesias o Sr. Adriano Delpech, seguindo-
se palestra do sextanista propedêutico Jacques Raymundo
Ferreira da Silva sobre Álvares de Azevedo, o glorioso
bacharel em letras de 1847. Recitou duas poesias de
Álvares de Azevedo o mesmo sextanista Jacques
Raymundo.
À parte literária seguiu-se variada parte musical
desempenhada pelas pianistas senhoritas Guiomar de
Nóbrega Beltrão, Cármen Casado Lima, pelos professores
Amaro Barreto e Eurico Costa, pelo violinista Orlando
Frederico, e pelo Sr. Quirino de Oliveira.
Com o Ginásio Nacional ainda em férias escolares,
recebiam grau os bacharelandos da turma de 1907.
Designado para a festiva solenidade do costume o
dia 2 de fevereiro de 1908, por circunstância imprevista
perdeu todo caráter festivo.
A 1
o
de fevereiro de 1908, chegaram ao Rio de
Janeiro notícias de regicídio em Lisboa, vítimas de atentado
el-rei D. Carlos e seu filho, herdeiro presuntivo da coroa,
D. Luiz Felippe, ferido o infante D. Manoel.
Na impossibilidade de ser transferida a solenidade
do Ginásio, a 2 de fevereiro, uma comissão de
bacharelandos dirigiu-se à legação de Portugal para
apresentar pêsames ao Encarregado de Negócios,
explicando-lhe a impossibilidade de adiar a colação de grau.
Abrindo a sessão no Ginásio, o diretor do Internato,
Dr. Paranhos da Silva, presidente da Congregação, declarou
ao auditório ter infelizmente a cerimónia perdido toda
alegria ante o atentado de Lisboa.
Procedeu-se apenas à distribuição de prémios e à
colação de grau, suprimidas as bandas de música e as
danças subsequentes à festa.
Feita a chamada dos alunos premiados Euclides
de Medeiros Guimarães Roxo, João Baptista Guimarães
Roxo e Jairo Maciel de Aquino Penteado entregues aos
recompensados, livros de rica encadernação, o Dr.
Paranhos da Silva conferiu o grau aos bacharelandos da
turma de 1907, tendo estes por paraninfo o professor
Escragnolle Dória e por orador o bacharelando Heitor da
Nóbrega Beltrão.
A turma de bacharéis de 1907, privada das festas,
de colação de grau, foi distinguida com um almoço de
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
honra, oferecido no Internato pelo respectivo diretor Dr.
Paranhos da Silva. Do almoço participaram em
confraternização, lentes do Externato e do Internato e os
bacharéis do Externato em geral e neste vários 6
o
anistas
antigos alunos do curso do Internato.
Delegaram os bacharéis do Externato ao professor
Escragnolle Dória a incumbência de agradecer a
homenagem, pedindo o Dr. Paranhos da Silva que
trabalhassem os novos graduados continuamente pelo
progresso do Ginásio. Fora o Dr. Paranhos da Silva o
presidente da colação de grau da turma de 1907.
Enquanto o Ginásio esperava abertura do ano letivo,
no Externato se realizavam exames de preparatórios com
mesas examinadoras constituídas de conformidade com
as instruções anexas ao Decreto 4.247 de 23 de novembro
de 1901, aproveitados os serviços de muitos professores
do Ginásio nas referidas mesas examinadoras.
Assinalar-se-ia lutuosamente o ano de 1908 pela
morte do professor da cadeira de Lógica do Externato Dr.
Vicente de Souza, falecido a 18 de setembro de 1908.
Durante muitos anos, como substituto e depois
catedrático, regera no Externato a cadeira de Latim, tendo
aí concorrido a vaga de lente de Filosofia.
Encerrado, porém, o ano letivo de 1908, o corpo
discente do Ginásio Nacional celebrou de modo condigno
o septuagésimo primeiro aniversário de fundação,
encontrando para tanto o professor Escragnolle Dória o
mais decidido apoio, na turma de bacharéis de 1908, apoio
ao qual se ajuntou o dos colegas de outros anos tomando
a peito continuar tradição, festejando a data insigne da
instituição, por meio de subscrição entre os próprios
discentes. Nem a celebração de 2 de dezembro, já em
1907, já em 1908 custou um real aos cofres do Ginásio.
Começou a solenidade de 2 de dezembro de 1908,
realizada à noite no Salão Nobre da Casa, por parte literária
com discursos do professor Escragnolle Dória e do
bacharelando Olympio dos Reis Netto.
No discurso da festa teve o professor Escragnolle
Dória o grato ensejo de caracterizar a festividade como a
da tradição.
"Sem respeito pela tradição disse nada
subsiste, no progresso dos povos, nas instituições e
baixando oo nos institutos de ensino".
Pela tradição, os alunos do Ginásio em 1908 entram
em íntima correspondência com os colegas de 1838, os
primeiros alunos do Colégio Pedro Segundo, de ninguém
foram calouros.
No discurso de 1908 referiu-se o orador ao Decreto
do Governo de Minas Gerais, em data de 26 de novembro
de 1908, subscrito pelo então Secretário do Interior da
presidência João Pinheiro, Dr. Estevão Leite de Magalhães
Pinto.
Fora o Decreto precedido de várias considerações
de alto valor moral, educativo e patriótico, entre aquelas
considerações as seguintes demonstrativas da solicitude
de Pedro Segundo pela instrução pública nacional.
"Considerando que D. Pedro Segundo sempre
revelou acendrado amor e dedicação à causa da instrução
pública no Brasil e que essa virtude se traduziu por
múltiplos atos positivos e dentre eles pela aquisição de
prédio em Ouro Preto para escolas públicas primárias.
Considerando que este prédio adotado para nele
funcionar o grupo escolar dessa cidade, resolve o Governo
de Minas dar o nome do grupo escolar D. Pedro II ao
estabelecimento recentemente criado em Ouro Preto."
Ao discurso do professor Escragnolle Dona seguiu-
se oração do bacharelando Ignácio dos Reis Netto, dizendo
este, em nome dos discentes:
"Queremos instituir tradição que entre futuro a
dentro, conservando a memória do dia 2 de dezembro de
1837, viva e perene como o fogo sagrado que ardia nas
aras do tempo.
A tradição é a história viva do passado. É corrente
mas cujo último elo temos na mão. Éo venerável como
o tempo, porque do tempo é irmã."
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Finda a parte literária da solenidade de 1908 deu-se
início a parte concertante.
Dela participaram a consagrada violinista Paulina
D'Ambrásio. o Dr. António Carlos de Arruda Beltrão,
aplaudido cultor do canto.
Secundaram-nos a professora Maria dos Santos
Mello, laureada pelo Instituto Nacional de Música, o Dr.
Roberto Gomes e o Sr. Ernani Braga acompanhando estes
últimos executantes.
A terceira parte do programa da festa de dois de
dezembro de 1908 apresentou nota de originalidade, por
constar da representação da comédia em um ato "Os
Viúvos", subida à cena em palco improvisado no fundo do
Salão Nobre.
Era a comédia da lavra do segundanista Horácio
Mendes Campos, intérpretes da peça os segundanistas
Vicente Trotte, Nelson Alves de Oliveira, Olindo Pinto
Coelho, Sebastião Pereira Brazil e António Coelho
Bittencourt.
Todos os jovens atores desempenhavam papéis com
naturalidade e graça, provocando gostosas gargalhadas,
no fim da comédia muito aplaudidos autor e atores.
Na peça figurava apenas um papel feminino, o da
criada Miquelina, confiada ao aluno António Coelho
Bittencourt, cujo desempenho do papel e cujo perfeito
travesti foram muito apreciados.
Infelizmente trágica seria a sorte de António Coelho
Bittencourt, falecido na flor da idade, académico de
medicina na Faculdade do Rio de Janeiro da qual era lente
o pai o Dr. Nascimento Bittencourt inconsolável pela perda
do esperançoso filho, vítima de desastre em via férrea.
Remataram a festa de 1908 danças animadas, para
satisfação de muitas e muitos dos numerosos convidados.
Em 1908, graduaram-se no Internato cinco
bacharéis, um dos quais Cecílio de Carvalho, futuro
bibliotecário do Ginásio e Leonidas Ribeiro de Rezende,
vindouro lente de Direito da Universidade do Rio de Janeiro.
Quatorze foram os bacharéis de 1908. Figuravam
na turma, Quintino do Valle, João Baptista Ferreira Pedreira
e Mário Paulo de Britto.
O primeiro consagraria vida à Casa, nela chefe de
disciplina do Internato em 1915, de 1909 a 1915 tendo
lecionado, já no Internato já no Externato várias disciplinas,
Português, Francês e Latim, afinal e por concurso lente
catedrático do Colégio.
Dois bacharéis da turma do Externato em 1908 se
dedicaram ao magistério e ao ensino, Mário Paulo de Britto,
lente da Escola Politécnica, acatado diretor de ensino
municipal e federal, e João Baptista Ferreira Pedreira,
íntegro magistrado, no ensino secundário se especializando
no cultivo e na propaganda da língua latina.
Dirigida a República pelo Presidente Affonso Penna,
antigo deputado geral e ministro três vezes na monarquia,
o Governo usando de autorização orçamentária, no último
dia do ano de 1908, mandava observar o regulamento
subscrito pelo Dr. Tavares de Lyra.
Providenciava a respeito da administração dos
patrimónios dos vários estabelecimentos subordinados ao
Ministério da Justiça, entre eles o Ginásio Nacional.
Superintendidos pelo Ministro, confiados à direção
de Conselho Administrativo, de caráter gratuito, ficariam
os patrimónios dos ditos estabelecimentos.
No Conselho Administrativo, de dez membros,
figurariam os diretores dos institutos cujos bens
patrimoniais convinha zelar, possivelmente acrescidos por
doações, legados, dotações, subvenções e quotas
lotéricas.
A verba orçamentária fixada para o Ginásio Nacional
era então de quantia superior a 700 contos, suspensa a
admissão de matrículas gratuitas por excesso de alunos
extraordinários.
No ano letivo de 1908, fora o Ginásio Nacional alvo
da atenção do Ministro da Justiça, Dr. Tavares de Lyra, o
qual pretendeu reformar o Ginásio mediante autorização
legislativa.
Expôs o Ministro oficialmente as suas ideias
esperando reduzi-las a lei. Segundo o plano Tavares de
Lyra o ensino secundário seria reformado nas seguintes
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
bases: a) divisão do ensino em dois ciclos, o primeiro
propedêutico e simplificado, o segundo, o do bacharelado
em letras de conhecimentos mais aprofundados; b)
exigência de provas escritas e orais só para exames finais,
os de promoção dependentes de notas e provas parciais
no curso do ano letivo; c) organização de programas
de noções essenciais; d) desdobramento de cadeiras
para evitar turmas numerosas confiadas a professor único;
e) fundação de escolas normais superiores ou
admissão no professorado por concurso de títulos, o
tirocínio no magistério condição preponderante para
escolha do candidato; f) extinção da vitaliciedade
imediata de professores, concedida aquela após estágio
e no caso de recondução; g) verificação de provas
de capacidade, assiduidade, gosto e dedicação no
magistério para assegurar a professores proporcionalidade
de vantagens; h) concessão de disponibilidade aos
professores em limite máximo de idade ou de tempo de
serviço; i) extinção definitiva dos exames de
preparatórios e restrições de equiparações ao Ginásio
Nacional.
O plano Tavares de Lyra ficou para as calendas mais
famosas, as gregas, embora encerrasse medidas postas
depois em prática e outras inexecutadas, mas dignas de
atenção.
Coube contudo ao Dr. Tavares de Lyra ensejo de
mandar apurar pelo Ministério a seu cargo o património do
Ginásio Nacional, Externato e Internato, este em 1908
tendo passado por grande remodelação material na diretoria
Paranhos da Silva, remodelação da qual ficou lembrança
em opúsculo ilustrado.
Incumbiu o Ministro o Sr. Pedro Guedes de Carvalho
e o Dr. Luiz Augusto Drumond Alves de estabelecer
positivamente o valor do património da Casa,o
administrado desde 1860, quando extinto o cargo de
tesoureiro do Colégio, então as apólices e os imóveis dele
passadas à guarda da Recebedoria do Tesouro Nacional e
posteriormente à Diretoria de Rendas Públicas do mesmo
Tesouro.
Dispondo embora de escassas informações, a
comissão do Ministério da Justiça apurou de princípio ser
o património do ex-seminário deo Joaquim, ex-Colégio
de Pedro Segundo, então Ginásio Nacional, composto de
163 apólices da dívida pública de 1:000$000, juros de 6%
e de 2 apólices de 400S000, do edifício do Externato, da
igreja deo Joaquim, e de 30 prédios, cabendo ao
património em 10 deles só a quarta parte.
Verificou a comissão a venda da maior parte dos
imóveis, transformando o produto da venda em apólices e
na conservação dos prédios restantes.
Tais prédios eram situados na zona mais central da
cidade, Rua 1
o
de Março, Candelária, Mercado, e na
Travessa do Comércio.
Apurou-se que, em 1908, na Presidência Campos
Salles, Ministro da Fazenda o Dr. Joaquim Murtinho, fora
lavrado na Diretoria do Contencioso do Tesouro Federal
uma escritura de sub-rogação da quarta parte dos prédios
do Ginásio à Ordem Terceira de S. Francisco da Penitência.
Na transaçãoo se ouvira o Ministério da Justiça,o
cientificado da transação uma vez realizada.
À Ordem da Penitência, a troca da sub-rogação
entregou ao Tesouro 260 apólices de 1:000$000, das quais
os juros, por inadvertência de inscrição na Caixa de
Amortização, passaram a recebimento pelo Tesouro. Este,
até 1905, recebeuo só tais juros como os de todas as
apólices do património do Ginásio.
Enfim, em 1908, a comissão do Ministério da
Justiça, designada pelo Ministro Tavares de Lyra, pôde
fixar o total do património do Ginásio. Computou-o em
4.496:457$427, excluindo do cálculo o edifício do
Externato, avaliado na época em 580:000$000 e o do
Internato em 200:000$000.
O ano letivo de 1909 seria assinalado já pela entrada
de novos professores, já pelo falecimento do Dr. Affonso
Penna, Presidente da República. Dois concursos
memorariam o citado ano letivo, rumoroso o de provas
para obtenção da cadeira de Lógica do Externato, vaga
ESCRAGNOLLE DÓRIA
pelo falecimento do Dr. Vicente de Souza e interinamente
regida pelo professor Escragnolle Dória.
Apresentaria novidade, o da reprodução pela
taquigrafia, para publicação na imprensa, da prova oral do
candidato Euclydes da Cunha.
Este, embora classificado em 2
o
lugar, o 1
o
cabendo
ao Dr. Farias Brito, logrou nomeação, facultada então a
nomeação do primeiro ou do segundo candidato
classificado em concurso.
A 21 de julho de 1909, dava Euclydes da Cunha
primeira aula no Ginásio e pouco depois última, a 15 de
agosto, tragicamente arrebatado à vida.
Vaga a cadeira de Latim do Internato, pelo
falecimento do Dr. Fortunato da Fonseca Duarte, abriu-se
concurso para o provimento da cátedra, nela afinal
empossado o Dr. Eduardo Gê Badaró, classificado em 2
o
lugar.
Coubera o 1
o
a Joaquim Luiz Mendes de Aguiar,
graduado em humanidades, filosofia, teologia, e direito
canónico pelo seminário arquiepiscopal deo Salvador
da Bahia.
Mendes de Aguiar, emérito latinista, tinha longo
tirocínio no magistério ao qual também pertencia seu
competidor, o Dr. Badaró, onze anos catedrático de Latim
no Ginásio de Campinas, no Estado deo Paulo.
A 14 de junho de 1909, falecia no Palácio do Catete,
o Dr. Affonso Penna, Presidente da República, ocasionando
o triste sucesso reviravolta política de sucessão.
Coube esta, na forma constitucional, poro haver
o Presidente Penna exercido dois anos de mandato, ao
Vice-Presidente da República, Dr. Nilo Peçanha.
Tal ascensão à suprema magistratura determinou
logo modificação ministerial.
Do Ministério da Presidência Affonso Penna, formado
a 15 de novembro de 1906, dois Ministros entenderam
servir a Presidência Nilo Peçanha, o Barão do Rio Branco
na Pasta das Relações Exteriores e o Contra-almirante
Alexandrino Faria de Alencar na da Marinha.
Exonerado a pedido o Ministro da Justiça, Dr. Tavares
de Lyra, teve por substituto na Pasta o Dr. Esmeraldino
Olympio Torres Bandeira, formado em Direito no Recife,
no ano da Proclamação da República, pertencendo portanto
à última turma de bacharéis do Império na Faculdade
Pernambucana.
Mais tarde Esmeraldino Bandeira participaria do
ensino, lente de Direito Penal em Faculdade jurídica do
Rio de Janeiro, membro do Conselho Superior de Ensino.
Ao assumir Pasta encontrou Esmeraldino Bandeira
o Senado Federal a discutir reforma do ensino superior e
secundário de alçada da União.
Teve ensejo o novo Ministro de apresentar relatório
no qual expendeu juízo sobre a aludida reforma, pugnando
pelo preparo pedagógico de professores, pela cultura
generalizada eo especializada em relação a alunos, pela
simplificação de programas acarretando a inutilização da
sobrecarga dos mesmos, por boa forma de exames,
criticando a existente c terminando por condenar a
colocação do Externato em edifício sem as condições mais
comuns de higiene pedagógica.
A 14 de julho de 1909, um Decreto dava duplo nome
ao antigo e unificado Imperial Colégio de Pedro Segundo,
nas duas seções, Externato e Internato.
O Externato do Ginásio Nacional passou a Colégio
de Pedro Segundo e o Internato a Colégio Bernardo de
Vasconcellos.
Medida pouco feliz.o só golpeava a fundo a
tradição como a bacharéis em letras formados pelo mesmo
instituto de ensino concedia diplomas parecendo expedidas
por estabelecimentos diferentes.
Nem é talvez demasia pensar que à memória do
próprio Bernardo de Vasconcelloso parecia consentânea
a homenagem, dela excluído o Regente do Império, Araújo
Lima, com Bernardo de Vasconcellos, em nome do
imperador menor, criador do Colégio de Pedro Segundo
em 1837.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
No relatório do Ministério da Justiça, subscrito por
Esmeraldino Bandeira, a par das ideias deste relativas à
reforma do ensino superior e secundário, encontram-se
resumidamente informações sobre a reforma do Colégio
Bernardo de Vasconcellos, destacado do de Pedro Segundo,
informações prestadas pelo diretor do primeiro
estabelecimento, Paranhos da Silva.
Simplificação de programas, criação do antigo cargo
de substitutos, modificações no processo de concursos,
distribuição de disciplinas por seções, vitaliciedade de
professores após um lustro de exercício, instituição de
jubilação compulsória para os professores com mais de
três décadas de exercício, elevação de matrículas
gratuitas, aumento do quadro de funcionários cujos
vencimentos eram os mesmos havia vinte anos, exceto
quanto a diretores, tais as bases apresentadas pelo Diretor
do Colégio Bernardo de Vasconcellos, ex-lnternato do
Ginásio Nacional, para reforma do estabelecimento.
No antigo Internato, em 1909, bacharelavam-se dois
alunos, um deles Euclides de Medeiros Guimarães Roxo,
laureado com o prémio Panteão, futuro diretor e professor
da Casa.
No antigo Externato bacharelavam-se nove alunos,
dois dos quais se consagrariam a magistério, Maurício
Joppert da Silva, vindouro professor da Escola Politécnica,
e Pandiá Hermann de Tautphoeus Castello Branco,
professor da Escola de Comércio.
A vida é tecido de escassos fios no prazer, de
espessos na dor. Assim, à alegria dos bacharelandos de
1909 se opunha o necrológio do Colégio no mesmo ano.
A 9 de março de 1909 falecia José Barbosa
Rodrigues, diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro,
antigo secretário do Internato e nele professor de Desenho.
Para recomendá-lo, como naturalista, basta a sua
"Iconografia das Orquídeas do Brasil", em 17 grandes
volumes com 1.000 estampas.
A 15 de agosto de 1909, era o Colégio surpreendido
pela morte brutal e imprevista do recém-professor de
Lógica, Euclydes da Cunha, assassinado na estação da
Piedade, quando havia imenso a esperar do talento de quem
estreara nas letras com a publicação de "Os Sertões".
A 9 de dezembro de 1909 perdia o Colégio antigo
professor de Física e Química, o Conselheiro Saturnino
Soares de Meirelles, também lente da Escola de Marinha
e fervoroso propagandista das doutrinas homeopáticas.
Eleito Presidente da República, para o quadriénio de
1910a 1914, o Marechal Hermes da Fonseca, dois antigos
alunos do Colégio, os Drs. José Moreira Pacheco e João
Maria Portugal tomavam a iniciativa de reunir os
condiscípulos do novo chefe da nação em almoço íntimo.
Foi escolhida para tanto a casa de um deles, na
praia de Botafogo n.° 290.
Reuniram-se aí 35 antigos colegas do Marechal
Hermes participantes de refeição durante a qual uns e
outros relembravam episódios de vida colegial comum.
Na sala do almoço, em delicada homenagem,
achavam-se dois retratos bem significativos para os
convivas, um representando o Conselheiro Manoel
Pacheco da Silva e outro o professor José Manoel Garcia,
o primeiro reitor e o segundo secretário a tempo de estudos
dos convivas (1868-1869).
0 próprio "menu" do almoço recordava aquele
tempo.
Ei-lo como alegre lembrança do Colégio:
"Menu do almoço oferecido a Hermes da Fonseca
pelos jovens condiscípulos de 1868-1869 no Imperial
Colégio de Pedro Segundo. Em 6 de janeiro de 1910
CARDÁPIO
1 Uma porção de coisas esquisitas para abrir o
apetite.
2 Mistura de coisas do mar, com produtos de
terra, vegetais e animais, como gostava o nosso velho
Reitor, Conselheiro Pacheco.
3 Arranjos de galinha, pelo sistema do secretário
Garcia, amante de canários do reino.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
4 Badejo com molho, cuja receita o velho latinista
Souza aceitaria.
5 Língua com gelatina, mais quente que a do
inspetor Aguiar, queo tinha papas na mesma.
6 Neve artificial, com o respectivo álcool, para
ficar a gente gelada, tal como quando o Halbout exigia as
regras de cor.
7 Peru, um pouco mais gordo de que era o Bóscoli,
mesmo com a flecha em roletes. Isto vai com presunto,
conforme o costume, e o "visto" do Brito escrivão,
meticuloso o Francisco Bernardo de Brito, como bom
custódio da Fazenda Nacional.
Para adoçar a boca, uma fruta daqui e dalém mar,
conforme a geografia do Abreu.
Para sobremesa uma série de complicações, piores
que os exames com aquele pessoal todo.
Apesar de jovens, há vinhos velhos e águas moças,
licores e preciosa rubiácea, para que vejam que somos
todos brasileiros".
Tal cardápio, evocativo sobre espirituoso, relembrava
muito aos convivas do almoço de 1910, condiscípulos de
1868-1869. Era resumo gastronómico de vida colegial,
nela destacando figuras magnas ou modestas, do corpo
docente ou do administrativo.
Avultava na evocação o reitor, Conselheiro Pacheco,
seguindo-se-lhe o secretário José Manoel Garcia, por
alcunha o canário do reino, visto ser muito louro, ao
Marquês de Abrantes, por orador dulçuroso dada também
a alcunha de canário do Senado.
O badejo com molho trazia à lembrança o professor
de Latim, Dr. António José de Souza, ao que diziam
gastrônomo na pausa dos gerúndios.
A língua com gelatina, "mais quente que a do
inspetor Aguiar", aludia a veemências de voz ou palavras
de Carlos Augusto da Costa Aguiar, zelando disciplina.
A neve artificial era de lembrete, ao treme-treme
das sabatinas gramaticais de Halbout, com o peru recordava
as arguições de José Ventura Bóscoli, professor de
Matemática, seguindo com a flecha em roletes
demonstrações na pedra, já nas extrações de raiz cúbica,
já no desenvolvimento do problema dos correios, já no
teorema do quadrado da hipotenusa.
As frutas daqui e dalém mar, para adoçamento de
boca, resumiam pomiferamente as lições de geografia do
bondoso Pedro José de Abreu, em antonimia com Halbout,
ríspido e justo.
O fecho do cardápio dos convivas do almoço de 6
de janeiro de 1910, com vinhos velhos e alguns moços
era chistoso resumo de horas sobressaltadas.
Daí constar a sobremesa "de uma série de
complicações, piores que os exames com aquele pessoal
todo".
Estas quatro últimas palavras punham em
reminiscência o fim dos anos letivos, o fechar de contas
de aplicação prestadas a examinadores, contas de relativa
tranquilidade para estudiosos, de susto e remorso para
quem preferira nas aulas e em casa livro fechado a aberto.
Num almoço entre antigos condiscípulos, reunidos
para saudades, a oratória aparece, mas sem ênfase, entre
fraternidade e risos, cada qual conhecendo de longa data
os vizinhos de mesa.
No repasto íntimo de 6 de janeiro de 1910 houve
discursos fora da retórica, um pouco baralhados talvez
exórdio, narração, confirmação e peroração.
Oraram, de acordo com o caráter da festa diversos
convivas.
Mendes de Almeida, bacharel da turma do Externato
em 1874, respondeu agradecendo sem demora ao Marechal
Hermes, sem dúvida com a "imperatoria brevitas" marcial.
Em seguida, o Dr. Alfredo Gomes, bacharel do
Externato em 1875 saudou o antigo condiscípulo como
homem de coração, secundado pelo coronel Augusto
Goldschmidt, acentuando quanto a festa alegrava os
presentes elevando-lhes as almas.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
De novo orava o Dr. Fernando Mendes de Almeida,
secundado pelo Dr. Fonseca Hermes, bacharel do Internato
em 1877.
Correspondidos todos os brindes com entusiasmo,
mais o foi o brinde de honra erguido pelo Dr. Fernandes
Mendes: à Amizade.
Em 1910, o ano letivo no Pedro Segundo assinalava
luto, o da perda do diretor do Externato, Dr. João António
Coqueiro, que em 1908 apresentara ao Governo minucioso
projeto de reforma do ensino secundário, mandado publicar
na íntegra no Diário Oficial.
Passou a dirigir o Externato o Dr. José Cândido de
Albuquerque Mello Mattos, ex-aluno do Colégio, antigo
promotor público de renome no foro do Rio de Janeiro, ex-
deputado do Congresso Nacional pelo Distrito Federal.
Além do diretor Mello Mattos, dois novos
professores recebia o Colégio, o Dr. Arthur Thiré e o Dr.
Agliberto Xavier, nomeados para as cadeiras de
Matemática e Filosofia. O Dr. Thiré, nascido em Caen,
antiga capital da Baixa Normandia, continuava no Pedro
Segundo a tradição dos professores dele de berço ou de
origem francesa, Piquet, Halbout, Ruch, Escragnollle Dória.
Aluno da Escola de Minas de Paris, por ela formado,
fora o Dr. Thiré convidado por D. Pedro II, constante
selecionador de competências, para secundar o professor
Gorceix na organização e início da escola de Minas de
Ouro Preto.
Aí lente de várias cadeiras e diretor interino da Escola
até 1885, Dr. Thiré dirigiu a mineração de ouro em Sabará,
para mais tarde ocupar cargos de administração nos
Estados de Minas e do Rio de Janeiro para afinal, a 14 de
abril de 1910, ser professor efetivo de Matemática no
Internato do Pedro Segundo, então Colégio Bernardo de
Vasconcellos.o se limitou o Dr. Thiré a professar, a
literatura didática ficou-lhe devendo compêndios úteis e
despretensiosos, no molde do caráter e da vida de Arthur
Thiré.
Outro professor de 1910 era o Dr. Agliberto Xavier,
nomeado lente de Lógica do Colégio Bernardo de
Vasconcellos, ou melhor do Internato, à vista do parecer
da Congregação e nos termos do parágrafo único do artigo
52 do Código de Ensino de 1901. Em maio de 1909 fora o
Dr. Agliberto Xavier unanimemente habilitado no concurso
para provimento da cadeira de Lógica.
Dedicado ao ensino, professor na Escola de Estado
Maior do Exército, docente na Escola Normal do Distrito
Federal, ora Instituto de Educação, preparador de Química
Orgânica na Escola Politécnica, o Dr. Agliberto Xavier vinha
ser ornamento do magistério no Pedro Segundo.
, em 1910, graduavam-se em ciências e letras
quinze alunos do Externato e dois do Internato. Da turma
de 1910 destinar-se-iam a futuro magistério Arnaldo de
Moraes, professor de medicina, Ciro Romano Farina,
professor do Colégio, Guilherme José Jorge, professor da
Escola Wenceslau Braz e José Philadelpho de Barros
Azevedo, professor do Colégio, um dos alunos mais
distintos do Internato, merecedor do prémio denominado
Panteão conferindo colocação de retrato em sala nobre.
A 15 de novembro de 1910 assumira a Presidência
da República o Marechal Hermes da Fonseca, antigo aluno
do Internato, chamando à Pasta da Justiça o Dr. Rivadávia
da Cunha Corrêa.
A 5 de abril de 1911, o Dr. Rivadávia Corrêa,
utilizando autorização legislativa, referendava Decreto
modificando completamente a orientação pedagógica do
ensino. Estabelecia a medida governamental a Lei
Orgânica do Ensino Superior e do Fundamental na
República.
Compreendia a Lei Orgânica 137 artigos. Logo no
primeiro declaravao gozarem de privilégio de qualquer
espécie a instrução superior e a fundamental difundidas
pelos institutos criados pela União.
A Lei Orgânica, entre disposições mais importantes
declarava corporações autónomas, didática e
administrativamente, os institutos até então subordinados
ESCRAGNOLLE DÓRIA
ao Ministério da Justiça; dando-se-lhes personalidade
jurídica. Criava ainda a Lei Orgânica o Conselho Superior
do Ensino para substituir a funçào fiscal do Estado.
Estabeleceria o Conselho as necessárias e
imprescindíveis ligações no regime de transição, partindo
da oficialização completa do ensino, vigente na época, para
total independência futura, entre a União e os
estabelecimentos educativos.
Cabendo a estes, em virtude de inteira autonomia
didática, a organização dos programas de seus cursos,
revestir-se-iam os do Colégio de Pedro Segundo de caráter
prático, libertando-se da condição subalterna de mero curso
preparatório para as Academias.
Mandou a Lei Orgânica, no artigo 11, que o Conselho
Superior de Ensino tivesse sede na capital da República,
funcionando num dos institutos aos quais se referia a Lei
Orgânica, escolhido para sede do Conselho parte do edifício
do Externato.
Providenciara a Lei Orgânica sobre a composição
do Conselho. Nele deveriam figurar o diretor do Colégio
de Pedro Segundo e um docente deste, eleito pela sua
Congregação para mandato bienal; duas vezes por ano,
em fevereiro e agosto, convocado o Conselho.
Cada instituto de ensino, prescrevia a Lei Orgânica
de 1911, seria dirigido por diretor eleitor pela respectiva
Congregação, por dois anos; o diretor substituído nos
impedimentos pelo vice-diretor, este sempre o diretor do
período anterior.
A Lei Orgânica , aplicando tais disposições ao
Colégio de Pedro Segundo nele incumbiu ao vice-diretor
simples dever, o de substituir o diretor em exercício nos
impedimentos. Para manutenção da ordem interna do
Colégio, antes a cargo do vice-diretor, a Lei Orgânica criou
lugares de chefe de disciplina, uma para o Externato e
outro para o Internato, funcionários de livre escolha e
nomeação do diretor.
Só os professores ordinários, antes catedráticos,
poderiam ser eleitos diretores, inelegível o diretor saído
de funções.
Eleito em dezembro, o novo diretor tomaria posse
no primeiro dia útil de janeiro.
Cada instituto de ensino teria corpo docente formado
por professores ordinários, extraordinários efetivos ou
honorários, mestres e livres-docentes, o corpo docente do
Colégio de Pedro Segundo composto apenas por
professores ordinários e mestres.
Inspirando-se nos processos de ensino alemães, a
Lei Orgânica suprimiu o concurso de provas para o
provimento de cátedras.
Estabeleceu o de títulos e obras, exigido estágio no
magistério superior, proibindo admissão em cátedra, a
qualquer, sem o exercício de auxiliar de ensino.
Os professores extraordinários efetivos seriam
nomeados pelo Governo em lista tríplice apresentada pela
Congregação em votação uninominal, mediante concursos
de títulos e obras. A Congregação , em casos especiais,
indicaria nome único, tal nome devendo ser indicado por
unanimidade de votos.
No Colégio de Pedro Segundo a nomeação de
professor ordinário seria feita pelo Governo. Escolheria
este um nome tirado da lista tríplice apresentada pela
Congregação e formada por eleição nos termos de
regulamento especial.
Um dos pontos capitais da Lei Orgânica era a criação
da livre-docência; estabelecidas as condições da sua
obtenção e de seu exercício, "da instituição da livre-
docência esperando o legislador os melhores resultados,
confiando-lhe a correção dos abusos e transformando-a
no viveiro ou estágio dos futuros professores". Com tal
intuito a Reforma Rivadávia Corrêa estabelecia minudentes
normas para a habilitação à livre-docência, assegurando-
Ihe elementos para o seu magistério.
Tratava também a Reforma Rivadávia das
Congregações, traçando-lhes composição, marcando-lhes
fins, atribuições e normas gerais para as sessões.
0
Concedia apenas aos mestres dos institutos de ensino
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
superior e do Pedro Segundo o direito de participar das
reuniões quando se tratasse de assunto referente aos seus
cursos.
O artigo 60 da Reforma, fixando atribuições das
Congregações foi declarado "o fulcro da reforma",
acrescentado que "a autonomia didática, a independência
administrativa, a representação no Conselho Superior e
tudo mais que decorria desses grandes princípios estava
respeitado no artigo e em suas letras".
Achou-se o regime escolar superior e secundário
profundamente modificado pela Reforma de 1911. Dividia
o ano letivoem dois períodos, de 1
o
de abril a 31 de julho,
de 15 de agosto a 31 de dezembro, fechadas as aulas a
30 de novembro.
Entre aqueles dois períodos escolares mediaria
quinzena de férias. Proceder-se-ia a exames em todo o
s de dezembro, seguindo-se janeiro, fevereiro e março
para gozo de férias dos docentes e discentes.
Para a matrícula de internos no Pedro Segundo a
Reforma exigia no máximo14 anos, para a matrícula de
externos 12 no mínimo.
Destacada da Reforma a parte relativa aos exames
no Pedro Segundo proibia aquela, exames finais, ou
promoção, ao estudante que em cada período letivo
houvesse dado 20 faltas.
As médias bimensais de aproveitamento e as notas
de conduta garantiriam promoção e nos exames finais
influiriam no julgamento.
Posteriormente, um Regulamento do Colégio de
Pedro Segundo auxiliaria o espírito da reforma. Segundo
aquele regulamento a promoção seria feita em reunião do
diretor e dos professores de cada série, aprovada ouo
a promoção por votação, à vista do confronto das notas
obtidas pelo aluno nos períodos escolares.
Declarava a Reforma, no artigo 82, a polícia
académica destinada a manter, no seio da corporação
académica, a ordem e a moral.
No caso de infrações cominar-se-iam penas
disciplinares a docentes e discentes, mais leve a pena de
advertência particular feita pelo diretor, mais pesada a de
exclusão de estudos em todas as Faculdades nacionais,
sem embargo das penas do Código Penal para
delinquentes.
No Pedro Segundo, dirigidos pelo Chefe de disciplina,
seriam os inspetores de alunos encarregados de manter a
ordem interna.
O artigo 124 da Reforma Rivadávia Corrêa suprimia,
de acordo com o seu artigo 1
o
, a concessão de títulos
académicos. Determinou o artigo 124 que, ao terminar o
aluno provas escolares, mediante pagamento da taxa
respectiva, fosse expedido o certificado que lhe
competisse, de acordo com os regulamentos especiais.
Na defesa e na explicação da Reforma Rivadávia
Corrêa salientou-se na imprensa o professor do Colégio,
Dr. Francisco Pinheiro Guimarães, nas colunas do Jornal
do Commercio e em editoriais da Gazeta de Notícias.
recolhidos os seus artigos em opúsculos para retirá-los
da publicidade efémera do jornalismo.
Assinalado pela Reforma Rivadávia Corrêa, o ano
letivo de 1911, para todo o Colégio, também se assinalou
na seção do Internato pela utilização de vasto terreno
contíguo ao estabelecimento e adquirido em 1910 por
50:000$000 por indicação do diretor do Internato, Dr.
Paranhos da Silva e resolução do Conselho Administrativo
dos Patrimónios do Ministério da Justiça e Negócios
Interiores.
De acordo com a Lei Orgânica do Ensino, em 1911,
o Colégio passou a obedecer a direção única das suas
duas seções, deixando a reitoria do Internato o Dr.
Paranhos da Silva, visto determinar a Lei Orgânica, no seu
artigo 21, que cada instituto de ensino fosse dirigido por
um diretor eleito pela Congregação para período bienal.
o sendo o Dr. Paranhos da Silva membro do corpo
docente,o podia continuar a dirigir o Internato por força
de lei.
Obedecendo a esta, a Congregação do Pedro
Segundo, em sessão de 20 de abril de 1911, elegeu diretor
ESCRAGNOLLE DÓRIA
do Externato e do Internato o Dr. José Cândido de
Albuquerque Mello Mattos, diretor do Externato desde
1910, na vaga por falecimento do Dr. João António
Coqueiro, de saudosa memória.
Em 22 de abril de 1911 elegia a Congregação, ainda
em obediência à Lei Orgânica, o seu representante no
Conselho Superior do Ensino, escolhendo o Dr. Augusto
Daniel de Araújo Lima.
O diretor eleito, Mello Mattos, havia sido aluno do
Externato do Imperial Colégio de Pedro Segundo e em 1911,
independente de concurso, à vista de disposição da Lei
Orgânica, artigo 136, fora nomeado professor ordinário de
Instrução Cívica e Noções Gerais de Direito.
O primeiro representante do Colégio no Conselho
Superior de Ensino foi o Dr. Araújo Lima, também professor
do Colégio Militar, e professor ordinário de Geografia no
Internato.
A Lei Orgânica de 1911, em todo o seu texto, sempre
se referia ao Colégio de Pedro Segundo, desaparecendo,
pois o nome de Colégio Bernardo de Vasconcellos atribuído
ao Internato em 1909, regressando-se pois à tradição do
Colégio, a de conservar o nome do imperial patrono.
Interpretando a Lei Orgânica endereçou o Ministro
da Justiça ao da Fazenda um Aviso declarando-lhe que os
vencimentos dos estranhos ao antigo quadro do pessoal
do Colégio, isto é, os novos nomeados, deveriam ser pagos
na tesouraria do respectivo instituto, continuando os demais
a receber vencimentos no Tesouro Nacional.
Mais tarde, em 1911. outro Aviso do Ministro da
Justiça declararia que os professores, auxiliares e novos
empregados dos institutos de ensino superior ou secundário
o eram considerados funcionários públicos federais.
Em 1911, ano de tantas modificações no ensino,
o houve bacharéis no Pedro Segundo, Lei Orgânica
havendo extinto o bacharelado em letras, iniciado em
1843.
Pouco depois, o património do Colégio era destacado
de direção alheia e confiado ao diretor Dr. Mello Mattos e
ao tesoureiro Dr. Mário Bevilacqua, nomeado para o cargo
a 24 de abril de 1912 e antes subsecretário. Ao diretor e
ao tesoureiro foram entregues os imóveis pertencentes
ao Colégio e 479 apólices gerais nominativas.
Coadjuvou o Ministro Rivadávia Corrêa o
reerguimento do património do Colégio e bem assim
auxiliou a remodelação material do Externato, de tanto
monta que o obrigou a pedir asilo a instituição de ensino.
Com a maior boa vontade, foi-lhe concedido pela
Sociedade Propagadora das Belas Artes, benemérito nela
o nome de Bittencourt da Silva, lembrada a sociedade do
abrigo que durante tantos anos tiveram no Externato do
Pedro Segundo as aulas noturnas do Liceu de Artes e
Ofícios.
Em fins de 1912 expirava o mandato do diretor Mello
Mattos, eleito para o cargo, pelo voto da Congregação, o
Dr. Eugênio de Barros Raja Gabaglia, a 21 de novembro de
1912. Professor antigo do Colégio, nele professor substituto
e em 1890 catedrático de Matemática, além de professor
da Escola Politécnica e da Escola Naval, dispunha Raja
Gabaglia de vasta cultura demonstrada em várias provas
públicas.
Do seu amor ao Colégio, ficou indestrutível prova
na criação do Anuário da instituição. Dizia da obra o
fundador no prefácio do 1
o
volume do Anuário:
"Na qualidade de Diretor do Colégio de Pedro
Segundo resolvi publicar um Anuário, onde, além das
informações úteis para os que necessitam manter relações
com o mesmo Colégio, se conserve a tradição dos que
nele trabalharam em prol do florescimento de nossa Pátria.
Relativamente velho em um paíso novo, o Colégio
de Pedro II, pode justamente se ufanar de sua existência
e pode dizer às gerações futuras que as passadas
souberam cumprir nobremente o seu dever.
A princípio pobre Seminário de Órfãos, criado pela
clarividência e pela caridade de um elevado e santo prelado,
o Colégio, depois de quase um século (Gabaglia escrevia
isto em 1913) de glorioso trabalho, lutando dia a dia, foi
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
radicalmente transformado pelo profundo saber de um
grande estadista, que o colocou sob a proteçâo do ilustre
brasileiro que, por Gladstone, mereceu ser julgado "o
modelo dos soberanos".
"O Bispo D. António de Guadalupe, o Ministro
Bernardo de Vasconcellos e o Imperador Pedro IIo as
figuras eminentes que dominam a evolução histórica do
Colégio até o advento da República."
o se contentou Raja Gabaglia em criar oAnnuário
do Colégio, logo no 1
o
volume deste se encontrava
substanciosa memória de sua lavra, fruto de aturada
pesquisa, memória de 130 páginas aclarando o passado
da instituição, dos primórdios de 1739, data da criação do
Seminário dos Órfãos deo Pedro depois deo Joaquim,
até 1812.o se cifrou o autor em historiar, retificou pontos
controversos, restabelecendo a verdade.
Na vigência da diretoria Raja Gabaglia, a
Congregação, a 26 de abril de 1913, elegeria segundo
representante no Conselho Superior do Ensino, recaindo a
escolha no professor de Geografia do Externato, João
Gonçalves Coelho Lisboa.
Terminado o prazo da diretoria Raja Gabaglia, na
constância da qual entrara o Colégio novo professor de
Inglês, no Externato, Carlos Américo dos Santos, foi eleito
diretor por escolha da Congregação o Dr. Augusto Daniel
de Araújo Lima, professor de Geografia do Internato,
escolhido por seus pares, a 21 de dezembro de 1914, para
nortear as duas seções da Casa.
Pouco antes sucedera ao Marechal Hermes da
Fonseca na Presidência da República o Dr. Wenceslau Braz
Pereira Gomes, o qual nomeou Ministro da Justiça o Dr.
Carlos Maximiano Pereira dos Santos, antigo deputado
federal pelo Rio Grande do Sul, jurista e constitucionalista
reputado.
Pouco depois de Ministro da Justiça o Dr. Carlos
Maximiliano referendava o Decreto n.° 11.538 de 18 de
março de 1915, reformando o ensino a cargo da União,
ouvidas pelo Ministro autoridades pedagógicas de várias
espécies.
No Decreto 11.530 larga parte foi reservada ao
Colégio de Pedro Segundo. Considerando-o de alto, em
relação ao Colégio, encontram-se no Decreto 11.530 as
seguintes disposições principais:
a) fixação do período letivo, de 1 ° de abril a 15 de
novembro (artigo 73 do Decreto), compreendendo o ano
escolar 80 lições, suprimidas férias de meio de ano;
b) modificação dos exames de admissão no
sentido de simplificá-los;
c) modificação do processo de exames;
d) instituição de exames parciais, precedência
do exame de certas disciplinas, assim o de Português
antecedendo o de qualquer outra língua, o de Geografia
antes do de História;
e) nomeação dos diretores dos institutos de
ensino, e portanto do Pedro Segundo, por nomeação do
Presidente da República, considerados aqueles diretores
demissíveis ad nutum, escolhidos porém dentre os
professores catedráticos ou jubilados de cada instituto de
ensino, vice-diretor o decano dos catedráticos;
f) restabelecimento do concurso de provas,
eliminando dele a prova escrita, limitando o concurso ao
provimento das vagas de substituto, dispensado do
concurso, pelo voto de 2/3 da Congregação e voto
confirmativo do Conselho Superior do Ensino o autor de
obra verdadeiramente notável sobre o assunto de qualquer
das cadeiras de uma seção. No concurso de provas seria
nomeado o candidato classificado pela Congregação em
primeiro lugar,o recaindo nomeação em candidato
classificado nos dois primeiros lugares como
anteriormente;
g) fortificação da constituição, do funcionamento
das atribuições das Congregações;
h) restabelecimento integral das solenidades de
colação de grau, de distribuição de prémios e da entrega
ESCRAGNOLLE DÓRIA
dos certificados de conclusão de curso, na solenidade do
Colégio de Pedro Segundo, inaugurado o retrato ou os
retratos, na sala chamada de Panteão, dos alunos que
terminando curso nele se houvessem distinguido por
inteligência, excepcional aproveitamento e exemplar
procedimento.
Contariam os laureados pelo menos dois terços de
distinções sem nenhuma aprovação simples.
A colação de grau nos institutos de ensino, antes
o festiva e solene, descera no Colégio de Pedro Segundo
a ponto de ser presidida por um representante de ministro
apenas preparatoriano.
O Decreto 11.530 fora precedido de parecer sobre a
reforma de ensino apresentado ao Governo da República
pelo Conselho Superior do Ensino, parecer da lavra de
professor do Colégio de Pedro Segundo, o Dr. André
Gustavo Paulo de Frontin, em sessão de 23 de fevereiro
de 1915; existindo no parecer Frontin muitas referências
ao Colégio no qual Frontin se iniciara no magistério como
substituto de Filosofia no tempo do Império, nomeado por
concurso a 10 de agosto de 1886.
Expressamente declarou a Reforma Carlos
Maximiliano o Colégio de Pedro Segundo "difusor do ensino
das ciências e letras (artigo 30), nas duas antigas seções,
Externato e Internato, feito em ambas as seções um curso
ginasial de cinco anos com caráter literário e científico
suficiente para ministrar a estudantes sólida instrução
fundamental de modo a prepará-los para o exame vestibular
exigido para ingresso em qualquer academia.
Os alunos que se destinassem aos cursos de
odontologia, farmácia ou obstetrícia seriam dispensados
do estudo de Inglês, de Alemão, de Latim, de Álgebra,
Geometria e Trigonometria retilínea e de História Universal
e Pátria.
O aluno escolheria o estudo do Alemão ou do Inglês,
podendo frequentar o curso facultativo de Psicologia,
Lógica e História da Filosofia funcionando no Externato e
no Internato.
Só os alunos das quatro primeiras séries receberiam
lições de Ginástica e Desenho, cada aula teórica de
cinquenta minutos, tanto quanto possível prático o ensino
das Línguas Vivas,o podendo receber mais de quatro
aulas diárias os alunos de cada ano.
Ao diretor do Colégio, Araújo Lima, caberia começar
a aplicação da Reforma Carlos Maximiliano no instituto à
sua guarda, assinalando Araújo Lima "a excelência do
Decreto reformador".
Ao diretor do Colégio parecia "o ensino secundário
passar por uma fase de verdadeiro renascimento".
Logo em início de administração , o diretor Araújo
Lima introduziu no Colégio a prática do canto de hinos
patrióticos, composto e musicado especialmente para o
estabelecimento a Canção da Marcha, útil sobretudo à
instrução militar obrigatória administrada nas duas seções
do Colégio após o regulamento anexo ao Decreto de 8 de
maio de 1908; criando batalhões escolares no Externato
e no Internato, concorrendo ambos a solenidades cívicas.
Em campeonato promovido pela Confederação do Tiro
Brasileiro 3
o
anista do Colégio, Astor Ramos Quitito,
alcançou primeiro lugar nas provas de fuzil Mauser.
Na vigência da diretoria Araújo Lima, por efeito da
Reforma Carlos Maximiliano. passou a ser restabelecida
no Internato a cadeira de Física e Química, suprimida pela
Lei Orgânica Rivadávia.
Fora então transferido para a cadeira de Física e
Química do Externato o catedrático das disciplinas no
Internato, Dr. Francisco Xavier Oliveira de Menezes,
substituindo o Dr. Oscar Nerval de Gouvêa, falecido.
Restabelecida a cadeira no Internato serviram-na o próprio
diretor Araújo Lima, professor de Física e Química no
Colégio Militar, e o substituto Dr. Augusto Xavier Oliveira
de Menezes.
Desejou porém e obteve o catedrático Oliveira de
Menezes volta à cadeira do Internato, passando para a do
Externato o substituto Dr. Augusto Xavier Oliveira de
Menezes.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
Na administração Araújo Lima, perdia o corpo
docente do Colégio membro distinto, o Dr. Hans Heilborn,
catedrático de Grego do Internato, falecido a 21 de dezembro
de 1916.
Continuava o Colégio a ser preterido para instrução
de alunas e a apresentar boa situação financeira, conforme
as disposições da Reforma Carlos Maximiliano, cabendo
à Congregação elaborar, por meio de comissão, o
orçamento da receita e despesa do Colégio sujeito à
aprovação do Conselho Superior do Ensino e homologado
pelo ministro. Somente 7 turmas suplementares no
Externato, 1 no Internato, cuja despesa ficava fora de
previsão orçamentária, exigiam abertura de crédito.
Para melhoria dos gabinetes de Física e Química,
nas duas seções do Colégio, incluía a Congregação elevada
verba orçamentária, a deficiência daqueles gabinetes
representando a maior lacuna do Colégio modelo, lacuna
que a Conflagração impediria de tornar desaparecida com
prontidão, perturbando ela a vida dos povos europeus e o
intercâmbio comercial no mundo universo.
Na remodelação dos gabinetes de Física e Química,
coadjuvando os respectivos lentes das disciplinas e a
Congregação do Colégio, empenhava-se o Ministro Carlos
Maximiliano, o qual mandava excluir dentre os alunos
gratuitos do Internato os filhos de homens conhecidos
como abastados, dando preferência aos órfãos pobres no
preenchimento das vagas anuais dos dispensados do
pagamento de mensalidades.
Com a reversão rigorosa ao património do Colégio
das taxas exigidas dos alunos, pôde o Ministro Carlos
Maximiliano ultimar obras no edifício do Externato.
Em meados de 1917, cessava a administração
Araújo Lima. Deixando cargo, o diretor comunicava em
carta oficial a sua demissão, a pedido, ao decano da
Congregação, Dr. Carlos de Laet, convidando-o a substitui-
lo no governo da Casa, na forma das disposições vigentes.
Entendeu-se Laet com o Ministro, a confirmar a
comunicação Araújo Lima, sem maior formalidade
assumindo a diretoria do Colégio o decano da Congregação,
decanato conferido por longos anos de prática e utilidade
no magistério, reconhecido Laet decano do Corpo Docente
por decisão do Conselho Superior do Ensino a 14 de
fevereiro de 1917.
Sete meses após tal decisão, assumiria Laet a
direçào efetiva do Colégio ao qual serviria no relevo de
inconfundível personalidade.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca,
Presidente da República (1910- 1914). Ex-aluno.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
XIII
O Colégio de 1925 a 1931
Reforma Rocha Vaz Extinção da Cadeira de Espanhol Diretoria Euclides Roxo
Disponibilidade de Professores Desmembramento das Cadeiras de Física e
Química, Latim e Português Novos Professores Ressurgimento da Cadeira de
História do Brasil Turmas Suplementares Instrução Militar e Esporte
Sobrecarga da Secretaria do Externato Centenário Natalício de D. Pedro II
Nomeação Efetiva do Diretor e do Vice-Diretor do Externato 1926, Ano dos
Concursos Novos Professores Óbitos Modificações no Corpo Docente
Solenidades Escolares Diretoria Pedro do Coutto Introdução dos Testes no
Ensino do Colégio Melhoramentos Materiais no Externato e no Internato
Exames Parcelados Transferência da Cadeira de Instrução Moral e Cívica
Proposta de Supressão da Livre Docência Inauguração do Retrato de D. Pedro II
Sessão Solene em Memória de Carlos de Laet Vacância de Cadeiras e
Modificações no Corpo Docente Melhoramentos Materiais no Externato em
1929 Medidas de Disciplina Propostas em Congregação Óbitos.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Em 1925, o Colégio de Pedro Segundo conheceria
mais uma reforma de ensino. Estabeleceu-a o
Decreto 16.782-A , de 13 de janeiro do citado ano.
Expedido na Presidência Arthur Bernardes, Ministro
da Justiça o Dr. João Luiz Alves, o Decreto 16.782-A,
conhecido vulgarmente como Reforma Rocha Vaz,
estabelecia o concurso da União no sentido de difundir o
ensino primário, organizava Departamento de Ensino,
reformava este no grau superior e secundário.
Criava o Decreto um Departamento Nacional do
Ensino, subordinando-o diretamente ao Ministério da
Justiça e Negócios Interiores.
Teria o novo Departamento a seu cargo assuntos
referentes ao ensino, bem como o estudo e a aplicação
dos meios tendentes à difusão e ao progresso das ciências,
letras e artes no país.
Sena o Departamento presidido por um Diretor-Geral.
também Presidente do Conselho Nacional do Ensino, criado
em substituição do Conselho Superior do Ensino.
O Conselho Nacional discutiria, proporia e opinaria
sobre questões do ensino público submetidas à sua
deliberação pelo Governo, pelo Presidente do Conselho ou
por qualquer dos membros deste.
Comporiam o Conselho três seções: a do Ensino
Superior e Secundário, a do Ensino Artístico, a do Ensino
Primário e Profissional.
Na primeira seção figurariam os diretores do Pedro
Segundo, um catedrático deste instituto, anualmente eleito
pela Congregação, bem como um docente-livre,
anualmente designado pelo Ministro da Justiça.
Fixou o Decreto 16.782-A a competência do
Conselho de Ensino Superior e Secundário, mantendo-o
oficialmente no Externato e no Internato de Pedro Segundo.
Destinava-se o ensino secundário, prolongamento
do primário, a fornecer a cultura média geral do país.
Compreenderia seis anos de estudos, providenciou o
Decreto sobre o número de disciplinas do curso, programas
dele, exames de promoção e finais, conferindo o
bacharelado ao sextanista aprovado em todas as matérias
da última série.
A idade mínima para matrícula no Pedro Segundo
seria a de dez anos. Livres-docentes, e na falta deles
pessoa idónea, substituiriam catedráticos, autorizados
estes, em caso de desdobramento de turmas, a regerem
duas turmas suplementares além das efetivas próprias.
Providenciava o Decreto 16.782-A sobre constituição, ,
direitos e deveres do corpo docente do ensino superior e
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
secundário, constituído no Pedro Segundo por catedráticos,
docentes-livres, professores honorários e professores de
Desenho e Ginástica. Os catedráticos seriam escolhidos
por concurso, nomeados por Decreto e vitalícios desde a
data da posse. Para a inscrição em concurso no Colégio,
cumpriria ao candidato provar curso completo de
humanidades ou diploma de escola superior.
As provas do concurso para catedráticos
compreenderiam a defesa de duas teses perante a
Congregação, uma prova oral de caráter didático por
espaço de 50 minutos, sobre ponto sorteado com 24 horas
de antecedência entre dez pontos constantes de lista
aprovada pela Congregação.
Das duas teses, uma versaria assunto escolhido pelo
candidato, a outro assunto sorteado entre os dez pontos
aprovados pela Congregação. Discorreriam assim todos
os candidatos sobre ponto comum, anunciado na abertura
da inscrição para o concurso.
Constaria este também de prova prática, quando o
caso, sobre assunto sorteado de momento. A inscrição
para concursos estaria aberta durante semestre.
Determinou o Decreto 16.782-A o modo de proceder às
provas, atribuindo-lhes notas por grau de 0 a 10, públicas
todas as provas.
Achar-se-ia unicamente habilitado para o provimento
do cargo de catedrático o candidato que alcançasse média
final superior a 7, nomeado livre-docente o candidato
merecedor de média superior a 5.
Terminado o concurso, o diretor do Colégio, por
intermédio do Conselho Nacional do Ensino, comunicaria
ao Governo o nome do candidato de maior média a fim de
nomeação. No caso de empate de médias, a Congregação
enviaria ao Governo os nomes dos candidatos em igualdade
de média, para escolha do Governo. Na hipótese do
empate de média, a preferência para nomeação caberia
ao bacharel diplomado pelo Colégio.
A docência-livre poderia ser obtida na segunda
quinzena de outubro, sujeito o concurso para docentes e o
respectivo julgamento, no que fosse aplicável às regras
estabelecidas para o concursos de catedráticos. Constaria
o concurso da docência-livre da defesa de tese de livre
escolha, de prova oral de 50 minutos, com 24 horas de
antecedência, versando sobre ponto sorteado entre os
pontos de lista aprovada pela Congregação, e de prova
prática segundo a natureza da disciplina. Ao candidato à
docência-livre que houvesse obtido média final inferior a 7
o seria conferido o título , só admitindo a novo concurso
passado biénio, durante este defeso ao candidato recusado
inscrição para catedrático.
Condições para nomeação de professores honorários
e privativos, para obtenção de disponibilidade, composição
e competência de congregações, foram reguladas pelo
Decreto 16.782-A. Na presidência da Congregação do
Pedro Segundo revezar-se-ia, em anos alternados, os
diretores do Externato e do Internato, auxiliados por três
comissões eleitas pela Congregação, a saber, a de Ensino,
a de Docência e a de Redação de Publicações.
No Colégio, segundo o citado Decreto, o Externato
e o Internato teriam cada um o seu diretor, o seu vice-
diretor e o seu secretário. Dois seriam os períodos do ano
escolar, de 1 ° de abril a 15 de julho, de I
o
de agosto a 15
de novembro, considerados de férias escolares os períodos
de 15 a 31 de julho, e de 1
o
de janeiro a 1
o
de março.
Matrículas, exames, regime escolar eram objeto de
providências no Decreto 16.782-A. No Pedro Segundo as
transferências de alunos ou de remoção de funcionários
do Externato para o Internato e vice-versa ficariam a cargo
do Diretor-Geral do Departamento Nacional do Ensino, de
cuja aprovação dependeria o horário das aulas do Colégio.
Concedia o Decreto 16.782-A equiparação ao Pedro
Segundo, mediante condições, aos estabelecimentos de
ensino secundário oficialmente mantidos pelos Estados.
O Decreto cassava a equiparação aos institutos de ensino,
por qualquer forma equiparados aos oficiais, se no prazo
de ano, salvo quanto a património, o do tempo da
equiparação,o se houvessem revigorizado na forma do
Decreto 16.782-A.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
A estabelecimentos de ensino particular, de qualquer
sede, poderia ser concedida a faculdade da obtenção de
juntas examinadoras para os diferentes anos do curso
secundário. Entre as condições para a concessão se
enumerava a de provar o estabelecimento manter corpo
docente idóneo, observando nos seus cursos programa
igual ao do Pedro Segundo.
Os exames de cada aluno se cingiriam às matérias
de cada ano do curso, rigorosamente observada a seriação
do Pedro Segundo.
Determinava o Decreto 16.782-A que o professor da
cadeira de Espanhol poderia ser, como foi, transferido para
a 2
a
cadeira de Português, extinta a cadeira de Espanhol,
continuando facultativo no 4
o
ano o ensino de Italiano.
A Reforma Rocha Vaz, a do Decreto 17.782-A, de
13 de janeiro de 1925, aboliu no Colégio a unidade de
direção das duas seções.
Voltava-se à divisão de diretorias, uma para o
Externato, outra para o Internato, este desde maio de 1925
exercida pelo bacharel em letras Quintino do Valle.
Convidado o professor Escragnolle Dória para diretor
do Externato, agradecendo declinou o convite, nomeado
então interinamente para dirigir o Externato o professor
Euclides Roxo, bacharel em letras como o antecessor Laet,
por Decreto de 19 de agosto de 1925, saudado o novo
diretor em nome da Congregação pelo professor Gastão
Ruch e também pelo ex-diretor Laet.
De 1925 em diante começaram de novo Externato e
Internato vida administrativa independente, continuando
vida pedagógica entrelaçada.
No Externato, a reforma do Decreto 16.782-A trouxe
modificações sensíveis ao corpo docente. Em virtude do
citado Decreto, obtiveram disponibilidade, de golpe, quatro
professores: Said Ali, Paula Lopes, Manoel Arthur
Ferreira e Arthur Higgins, professores de Alemão, História
Natural, Desenho e Ginástica.
Desmembrada em duas cadeiras, uma de Física, a
outra de Química a antiga cátedra de Física e Química, foi
na cadeira de Física provido o respectivo substituto Dr.
Henrique de Toledo Dodsworth e professor de Química ficou
sendo o antigo catedrático de Física e Química Dr. Augusto
Xavier Oliveira de Menezes.
Empossou-se na cadeira de História Natural o
substituto Dr. Waldemiro Alves Potsch, assumindo a
cadeira nova de Cosmografia o substituto de Geografia,
Dr. Othelo de Souza Reis.
Desdobradas as cadeiras de Latim e de Português
do Externato e do Internato foram providos na nova cadeira
de Latim o professor substituto da disciplina, Joaquim Luiz
Mendes de Aguiar, e na cadeira nova de Português o
substituto Dr. José Oiticica.
Ressurgida a cadeira especial de História do Brasil,
foi nela provido o professor Escragnolle Dória, desde 1906
catedrático por concurso de História Universal, da América
e do Brasil, ocupada a cadeira vaga de História Universal
por provecto professor catedrático interino, o Dr. Marcos
Baptista dos Santos, nomeado catedrático de História do
Brasil no Internato o Doutor Pedro do Coutto.
Preencheram também interinamente as cadeiras de
Instrução Moral e Cívica, Alemão e Literatura o Cónego
Francisco Mac Dowell e os Drs. Tristão da Cunha e Júlio
Nogueira.
O professor Adriano Delpech, único dos substitutos
do Colégio ao ter acesso a catedrático, passou a reger
a cadeira de Sociologia, interinamente, criada a cadeira
por disposição do Decreto 16.782-A, de 13 de janeiro de
1925.
Novos lugares de professores de Desenho ficaram
sendo exercidos, interinamente, pelos professores José
Paula Ferreira e Araripe Macedo.
Assegurada pelo Decreto 16.782-A a unidade
didática do Colégio e a indivisão do seu corpo docente,
portanto a da sua Congregação, decorreu o ano letivo no
Externato, em 1925, sem incidentes de maior monta, na^
constância da direção interina do professor Euclides Roxo.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
O maior inconveniente para o ensino em 1925, como
em anos anteriores, provinha da grande quantidade de
alunos em cada turma. Muitas compreendiam 55
discentes quando além de 20, no máximo 25,o pode
haver ensino completo, embora a pouca frequência de
alguns alunos faça baixar um tanto nas turmas o número
diário de presentes.
Pugnava o diretor Roxo, sem possibilidade de
aumentar turmas suplementares, dada a míngua
pecuniária, pela homogeneidade na composição das
turmas, reunidos os repetentes em turmas para o ensino
das quais os professores lançariam mão dos recursos
pedagógicos próprios para os menos aplicados ou
retardados de natureza.
Apontava também o diretor Roxo, em 1925, diversas
causas geradoras da pouca eficiência do ensino em geral
e em particular no Colégio. Entre elas, mencionava a
insuficiência de preparo dos candidatos ao exame de
admissão, a falta de disciplina moral, de amor ao estudo,
de entusiasmo pela nobre curiosidade de saber, pela falta
de impulso inicial dado pelo lar e pela insuficiência de curso
primário.
Continuou a ser ministrada, no ano letivo de 1925, a
instrução militar no Externato, com a frequência média de
80 a 100 alunos e encerrado o período de instrução a 15
de novembro, de acordo com os regulamentos dos Tiros
de Guerra. Nos exames para obtenção da Carteira de
Reservista de 2
a
classe foram aprovados 66 candidatos,
quantos se apresentaram; deles provada resistência em
duas marchas de 12 quilómetros e uma de 24.
Participou também o Externato do campeonato de
atletismo instituído pelo Colégio Militar do Rio de Janeiro
e do campeonato de basquetebol organizado pelo Clube
de Regatas Flamengo.
Continuou a Secretaria do Externato, em 1925, a
carecer do auxílio de inspetores pelo aumento anual de
serviços. Declarava o diretor Roxo poder afirmar com
segurançao haver em todo o país nenhuma repartição
que conseguisse tanto com o triplo de empregados.
Só pelo protocolo da Secretaria passaram, em 1925,
21.899 papéis de diversas classificações.
Sobrecarga de trabalho sobre responsabilidade para
a Secretaria continuou a ser em 1925 o serviço dos exames
seriados de candidatos estranhos, ajuntado ao serviço dos
exames de preparatórios.
Procurou o diretor Roxo, por várias medidas, aligeirar
o trabalho e a responsabilidade da Secretaria, de modo a
o se prolongar o expediente até alta madrugada,o
raro até o clarear da manhã, chegando funcionários a se
alimentarem às pressas ou a mal dormirem no Externato.
A 2 de dezembro de 1925, transcorreu o primeiro
centenário natalício de D. Pedro II.o podia o Colégio
do qual era patrono desde origem, desde 1837, conservar-
se alheio à celebração de semelhante data.o via mais
a instituição o soberano de cetro de quase meio século na
pátria, sim o desvelado amigo e protetor do Colégio, deste
lembrado a toda a hora, chegando a adiantar haver para
ele no Brasil só duas posições invejáveis, a de senador
do Império e a de professor do Colégio que lhe consagrava
o nome.
Coube ao diretor Roxo dispor a celebração do
centenário natalício de D. Pedro II. Associou-se o Colégio
às manifestações tributadas à memória e aos serviços do
antigo imperador, manifestações do Amazonas ao Prata,
para utilizar expressão de D. Pedro I em proclamação
célebre.
A 2 de dezembro de 1925, no Salão Nobre do Colégio,
onde tantas vezes comparecera D. Pedro II para a
solenidade da colação de grau de bacharel em letras e
para distribuição de prémios, realizava-se sessão magna.
Presidiu-a Ministro da Justiça, Dr. Affonso Penna Júnior,
filho de quem no Império, fora Ministro de Estado dos
Negócios da Guerra, na Justiça e da Agricultura, o Dr.
Affonso Augusto Moreira Penna, ex-Presidente da
República.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Na mesa da solenidade figurava neto materno de D.
Pedro II, ex-aluno do Colégio, o Príncipe D. Pedro de
Orleans e Bragança, e sua esposa, a Princesa Elisabeth,
Condessa Dobrenzenky de Dobrzenicz, na Bohemia.
Em bancada especial, na extremidade do salão, onde
outrora erguido trono imperial armado para as solenidades
de colação de grau, tomaram assento a Congregação do
Colégio, o secretário do Externato e o decano dos bacharéis
em letras, Dr. José António de Magalhães Castro, graduado
na turma de 1856.
Em face da mesa de honra ficaram, em lugares
reservados, numerosos bacharéis em letras, alguns destes
figurando na Congregação os bacharéis Laet, Ruch,
Nascentes, Philadelpho Azevedo, José Piragibe, Quintino
do Valle e João Baptista de Mello e Souza.
Abriu a sessão o diretor Roxo, mostrando que "o
próprio nome do Instituto justificava sobejamente a atitude
de seus diretores, lentes e alunos ao promoverem a
solenidade, a que em boa hora se tinham associado os
bacharéis e discípulos em formoso e espontâneo gesto
que revelava nobilitantes sentimentos de solidariedade e
gratidão".
Oraram na solenidade o professor Escragnolle Dória,
em nome da Congregação, logo após o diretor Roxo, o
professor Abreu Fialho, catedrático da Faculdade de
Medicina, em nome de antigos alunos do Colégio.
Em nome dos bacharéis em letras discursou o
professor Cantanhede e Almeida, catedrático da Escola
Politécnica, recitando o professor Adriano Delpech poesia
de sua lavra "São Vicente de Fora", alusiva ao túmulo de
D. Pedro II em Lisboa.
Além da senhorita Zita Coelho Netto, filha do
professor do Colégio Henrique Coelho Netto, e da senhorita
Edla da Costa Lima, participaram da parte literária da
solenidade os seguintes alunos do Externato Mário de
Oliveira e Silva, do 5
o
ano, Fahim Pedro e Nelson
Rodarte Machado, ambos do 3
o
ano, recitando sonetos
de D. Pedro II.
Findou a solenidade com a execução do Hino
Nacional, cantado por alunos. Em seguida, no pavimento
térreo do Colégio, logo no saguão de entrada, foi inaugurada
placa de bronze com a efígie de D. Pedro II, singela, mas
expressiva homenagem promovida e realizada por um
grupo de 86 bacharéis em letras. Ao ser inaugurada a
placa, o professor Mendes de Aguiar recitou poesia em
latim, de sua lavra, em honra a D. Pedro II.
Na placa a este memorou inscrição de antigos
alunos:
A Pedro II
Patrono deste Collegio
Os que aqui estudaram
1825-2-XII 1837-XII-2-1925
Antes de inaugurar-se o ano letivo de 1926, eram
nomeados, por Decreto de 3 de março, diretor efetivo o
interino, Professor Roxo e vice-diretor, o professor Othelo
Reis.
Em consequência da Lei 16.782-A, 1926 seria o ano
dos concursos. Iniciou-o o de Latim, para provimento de
vaga proveniente do desdobramento de cadeira no
Internato.
Concorreu à vaga em maio de 1926, candidato único,
antigo aluno do Externato, o Dr. Hahnemann Guimarães .
Foi o 1
o
candidato a concurso no Colégio a submeter-se
às quatro provas exigidas pelas disposições vigentes do
Decreto 16.782-A, isto é, defesa de tese sobre ponto
sorteado, defesa de tese de livre escolha, prova prática e
prova oral.
Habilitado unanimemente pela comissão
examinadora e pelos votos da Congregação na 1
a
, 2
a
e 4
a
das mencionadas provas e com grau 8 na 3
a
, foi o Dr.
Hahnemann Guimarães nomeado catedrático de Latim do
Internato por Decreto de 4 de junho de 1926.
Ao concurso de Latim, para cadeira do Internato,.
seguiu-se o de Português para a mesma seção do Colégio,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
em virtude do desdobramento de cadeira por efeito do
Decreto 16.782-A. Suscitaram-se, por parte da
Congregação, dúvidas sobre a interpretação do artigo 164
do Decreto 16.782-A, dúvidas resolvidas pelo Diretor-Geral
do Departamento do Ensino, autorizada a Congregação a
convidar pessoas estranhas ao corpo docente do Colégio
para membros das comissões examinadoras de concurso,
podendo nelas ser admitida a presença de professores
interinos, de outras cadeiras,o sujeita a concurso.
Processou-se o concurso de Português de 10 de
junho a 9 de julho de 1926, classificados respectivamente
os candidatos Quintino do Valle, bacharel em letras de
curso no Internato e no Externato, Jacques Raymundo
Ferreira da Silva, antigo aluno do Externato onde concluíra
curso propedêutico, e Clóvis do Rego Monteiro, acatado
professor de língua vernácula.
Por Decreto de 4 de agosto de 1926, foi nomeado
catedrático o bacharel Quintino do Valle,o tendo obtido
provimento um recurso contra o resultado do concurso.
Por ato do Diretor-Geral do Departamento do Ensino, na
forma das disposições vigentes, foram nomeados livres-
docentes da cadeira de Português, por dez anos, os Drs.
Jacques Raymundo Ferreira da Silva e Clóvis do Rego
Monteiro.
Em princípio de agosto de 1926, ocupava-se a
Congregação do Colégio com o provimento de três lugares
de professor de Desenho, um vago pela disponibilidade do
professor Arthur Ferreira e dois novamente criados.
Processado o concurso, a Congregação indicou ao
Governo os nomes dos candidatos classificados nos três
primeiros lugares, os Drs. Enoch da Rocha Lima, José de
Sá Roriz e Alcino José Chavantes, o primeiro para a seção
do Internato, os dois outros para a do Externato.
À vista das médias obtidas, a Congregação indicou
para a livre-docência de Desenho os Srs. Jurandyr dos
Reis Paes Leme, diplomado pela Escola Nacional de Belas
Artes, José Paulo Ferreira, bacharel em letras e Murillo
Araújo, também bacharel em direito.
Interposto recurso, por um dos candidatos, contra o
julgamento do concursoo logrou provimento a
reclamação.
Tratando-se ainda no ano letivo de 1926 do
provimento da cadeira de Química do Internato, após vários
incidentes, processado o concurso em setembro de 1926,
à vista do resultado geral do certame e de acordo com a
disposição do artigo 170 do Decreto 16.782-A, a
Congregação, a 29 de outubro, indicou ao Governo o nome
do professor Correggio de Castro para catedrático e os
nomes dos professores Arlindo Fróes, Luiz Pedreira de
Castro Pinheiro Guimarães, Rubens Descartes e Júlio
Hauher para livres-docentes por tempo de dez anos. Foi,
porém, nulo o concurso por decisão do Dr. Affonso Penna
Júnior, Ministro da Justiça, apreciando razões de recurso
de um dos candidatos.
Em setembro de 1926, logo após o concurso anulado
de Química, procedia-se no Colégio ao concurso para
provimento de cadeira de História Universal no Externato
e outra no Internato, a primeira vaga pela transferência do
professor Escragnolle Dória para a cadeira de História do
Brasil no Internato, pelo professor Pedro do Coutto,
nomeado para a cadeira de História do Brasil na seção do
Internato.
Após quatro provas de concurso, tendo antes, este
sofrido prorrogação de prazo, acabou a Congregação
indicando, a 30 de outubro de 1926, os Drs. Jonathas
Archanjo da Silveira Serrano e João Baptista de Mello e
Souza, classificados em 1
o
e 2
o
lugares para catedráticos,
respectivamente do Externato e do Internato. A
Congregação habilitou para a livre-docência os Drs.
Francisco Mozart do Rego Monteiro, bacharel em direito e
docente da Escola Normal, Jayme Coelho, Mecenas
Pereira Dourado, bacharel em direito, Mário Guedes Naylor,
bacharel em letras, António Figueira de Almeida, bacharel
em direito e Milton Pires Barbosa, bacharel em direito e
Oscar Przewodowski, bacharel em direito e candidato
classificado em anterior concurso no Colégio, o de Inglês,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
um candidato, deixando de ser proposto para a livre-
docência, vistoo haver obtido média superior à exigida
pelas disposições do Decreto 16.782-A.
o logrou provimento recurso interposto contra o
julgamento do concurso de História Universal por um dos
candidatos classificado como livre-docente, nomeados
catedrático do Externato o classificado em 1
o
lugar Dr.
Jonathas Archanjo da Silveira Serrano, antigo aluno do
Externato, e catedrático do Internato o classificado em 2
o
lugar Dr. João Baptista de Mello e Souza, bacharel em
letras, nomeados por Decretos de 10 e 12 de novembro
de 1926.
A posse dos novos professores do Colégio, os Drs.
José de Sá Roriz, Enoch da Rocha Lima, Alcino José
Chavantes, Jonathas Archanjo da Silveira Serrano e João
Baptista de Mello e Souza, deu ensejo a sessão solene, a
18 de novembro de 1926, como belo fecho do ano letivo.
De improviso, o professor Raja Gabaglia saudou os
novos colegas, reconhecendo nos três professores de
Desenho, Roriz, Rocha Lima e Chavantes qualidades para
imprimir ao ensino do Desenho toda a eficiência
obedecendo à pedagogia moderna.
Referindo-se às cadeiras de História Universal,
declarou o professor Gabaglia que cadeiras havia no Colégio
o cheias de tradições gloriosas como as que vinham
ocupar os Drs. Serrano e Mello e Souza, professores de
nomeada no magistério público e particular.
Às saudações do professor Raja Gabaglia
responderam os novos professores Sá Roriz e Jonathas
Serrano.
Salientou o professor Roriz que ao candidatar-se ao
concurso de Desenho, desconhecido e completamente
estranho ao meio, apresentara-se confiante na justiça dos
homens, cônscio, porém, do pouco valimento de forças
próprias. Aquela justiça, afirmou o novo professor, surgiu,
pois imparciais e retos tinham sido os juizes, esquecendo
antigas amizades, compromissos e simpatias, e direitos
em parte adquiridos por outros já na cátedra interinamente.
A Congregação escolhera simplesmente quantos lhe
pareceram merecer valioso prémio de esforços.
Salientou igualmente o professor Sá Roriz a
cordialidade existente entre os candidatos do concurso de
Desenho na constância das provas do mesmo certame.
Ninguém, afirmou o concorrente primeiro classificado, "ao
vê-los juntos trabalhando diria que jogavam reciprocamente
futuro. Pena que, para concorrentes legais e cavalheiros,
o existissem outros tantos lugares para geral
aproveitamento".
Agradecendo, por sua vez, a saudação do professor
Raja Gabaglia, um dos examinadores do concurso de
História, o novo catedrático, Dr. Jonathas Serrano, recordou
ter sido aluno no Colégio, depois preparatoriano e
académico ao tempo em que a Faculdade de Ciências
Sociais e Jurídicas funcionava no edifício do Externato, à
tarde, findas aulas do Colégio. Na Faculdade, o novo
professor recebera grau jurídico acrescido de prémio
especial por distinção de curso, o Prémio Manoel Portella.
Acabando de prestar no Colégio renhido concurso,
julgava o professor Serrano ser o concurso, "apesar das
múltiplas objeções e dos reais inconvenientes deparados
na prática, capaz de dar bons frutos e corresponder
cabalmente ao que dele se espera quando cercadas as
provas de todas as indispensáveis garantias".
Referindo-se o professor Serrano às gloriosas
tradições do Colégio, às qualidades necessárias aos
mestres de História,o arma de partido, privilégio de
escola, pseudo-demonstraçào de teses, sim a mais alta,
a mais educativa, a mais genuinamente cristã das
homenagens porventura prestadas à Verdade.
E, afirmado credo católico, lembrava o professor
Serrano o gesto de Leão XIII, abrindo arquivos do Vaticano
a pesquisadores de qualquer doutrina, roborando o pontífice
o gesto pela declaração deo ter a Igreja medo da
Verdade.
Nem deixou o professor Serrano, na alegria do
triunfo, de recordar antigos mestres cujas lições recebera
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
no Colégio, Fausto Barreto a iniciá-lo nas belezas e
sutilezas do vernáculo, Alexandre Monat a mostrar-lhe toda
a disciplina e brilho do Francês, Alfredo Alexander, senhor
e transmissor dos tesouros do Inglês, finalmente Raja
Gabaglia Sénior, consagrado cultor da ciência matemática.
o só a posse de cinco distintos professores
encerraria jubilosamente o ano letivo de 1926, e tanto mais
jubilosamente quanto aquela posse derivava apenas da
criação dos desmembramentos de cadeiras eo de
sucessões por falecimentos.
Também em relação ao corpo discente seria
encerrado com prazer o ano letivo de 1926.
Restabelecido o curso de bacharelado frequentou
6°ano aluno único, Mário de Oliveira e Silva. Aprovado
em exames de primeira época, recebeu diploma de
bacharel em ciências e letras. Coube-lhe ser o primeiro
aluno do Externato laureado em Ciências e Letras,
restabelecido prémio de curso completo, abolido havia
quinze anos.
A Mário de Oliveira e Silva, dos mais esperançosos
alunos da fase moderna do Colégio, parecia fadado
brilhante futuro. Decidiu a sorte o contrário. Destinando-
se à carreira militar, nela dedicado à aviação, foi Oliveira
e Silva vítima de desastre aviatório, perecendo
instantaneamente a 8 de maio de 1931.
o raro começam os anos letivos por lutos no corpo
docente ou administrativo, até no corpo discente. Antes
da abertura das aulas, falecia, a 26 de fevereiro de 1927, o
catedrático de Latim, provecto e bom, Joaquim Mendes
de Aguiar, classificado em 1
o
lugar num concurso para a
cadeira em 1909, nomeado porém o 2
o
classificado, como
permitia a legislação vigente Professor suplementar no
Colégio, já de Latim, já de Português, Mendes de Aguiar,
por voto da Congregação, foi escolhido para substituto de
Latim, cargo exercido de 1915 a 1925, enfim catedrático
pelo desdobramento da cadeira em virtude da Reforma
Rocha Vaz.
Mendes de Aguiar falava e escrevia em Latim.
Familiarizado no idioma nele poetava com elegância e
facilidade, buscando introduzir o metro poético moderno
da língua morta.
Professor assíduo até últimos dias, resistindo a
morte prematura com resignação de católico convicto,
Mendes de Aguiar deixou memória de colega sem refolhos.
o só o nigro notando lapillo do óbito de Mendes
de Aguiar assinalaria o ano letivo de 1927 no Colégio. A
13 de agosto de 1927, desaparecia no Rio de Janeiro, João
Capistrano de Abreu, professor em disponibilidade de
Corografia e História do Brasil, afastado do ensino desde
1899 por absurda extinção de cadeira.
Na necrologia de Capistrano de Abreu feita no
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro pelo orador da
associação, Dr. Ramiz Galvão, bacharel em letras, declarou
este, ter Capistrano "regido com amor a sua cadeira, até
o ano em que uma reforma infeliz a suprimiu no programa
de estudos do grande instituto oficial de ensino secundário
"reduzida a obra grandiosa de História Pátria a simples
capítulo da História Universal".
Passou Capistrano a dedicar-se com mais afinco a
estudos históricos e linguísticos, figurando entre suas obras
notáveis "A Língua dos Caxinauás", tribo indígena dos
confins de Mato Grosso, produto de três anos de trabalho
e resultado da convivência de Capistrano e de dois jovens
selvagens caxinauás.
Também estudou Capistrano, pelo mesmo processo
de convivência, a língua de outra tribo indígena, a dos
Bacaeris.
Os trabalhos de Capistrano em matéria de história
pátriam peso e autoridade, fruto de pacientes pesquisas.
Posto em disponibilidade em 1899, por efeito de
reforma, ao vagar no Externato em 1909 a cadeira de
História Universal, da América e do Brasil, pela
transferência do professor João Ribeiro para a cadeira da
disciplina no Internato, escusou-se Capistrano de reger a
cadeira vaga.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Participou, entretanto, da comissão examinadora do
concurso para o preenchimento da vaga da cadeira de
História Universal, da América e do Brasil do Externato,
concurso terminado pela nomeação, a 5 de novembro de
1906, do professor Escragnolle Dória, classificado em
primeiro lugar.
Abria-se o ano letivo de 1927, com dois lutos, deveria
encerrar-se com outros.
Um seria a perda do catedrático de Francês do
Internato, o bacharel em letras Floriano Corrêa de Britto,
falecido a 27 de outubro de 1927, outro luto o da perda do
catedrático de Português do Externato e deste ex-diretor,
Carlos de Laet, bacharel em letras.
Floriano de Britto sempre tivera em mira obter
cátedra no Colégio, por onde se graduara, e para tanto se
empenhara em dois concursos de Francês, em ambos
bem classificado, da segunda vez em 1
o
lugar, nomeado
catedrático a 4 de agosto de 1903. De então, até a morte,
salvo interrupções pelo exercício do mandato de deputado
federal em duas legislaturas, de 1912 a 1917,
representando o Distrito Federal, consagrou-se Floriano de
Britto ao ensino de humanidades e, sobretudo, ao da língua
francesa, autor de gramática deste idioma. Na Câmara
dos Deputados apresentou Floriano de Britto parecer sobre
reforma de instrução pública. Militou na imprensa e em
serviços técnicos da Prefeitura Municipal. Dotado de
grande cultura humanística, salientava-se em qualquer
discussão pelo ardor de convicções, pela veemência das
afirmações, fiel a compromisso, dedicado ao extremo às
causas que abraçava, prometia para cumprir.
De Floriano de Britto, bacharel em letras, disse com
razão o diretor Roxo: "Era um dos atestados mais
brilhantes da eficiência do ensino clássico do Colégio, de
que fora aluno dos mais distintos e onde formara a sua
profunda cultura humanística".
Atestou ainda o diretor Roxo a assiduidade modelar
do extinto em largos anos de magistério.
Regesse aulas de turmas efetivas de obrigação,
suplementares, foi sempre Floriano de Britto um desses
professoreso assíduos que a menor de suas faltas de
presença constitui acontecimento para o estabelecimento
onde lecionava. Onde havia 82 aulas a dar 82, eram dadas
por Floriano de Britto.
A atividade dele no Colégio foi sempre exercida no
Internato. Por ocasião do seu falecimento, tanto a diretoria
do Internato, exercida pelo Dr. Pedro do Coutto, como a
do Externato, pelo Dr. Euclides Roxo, timbraram em
prestar-lhe homenagens, inclusive a de armar câmara
mortuária no Salão Nobre do Internato, de onde partiu o
enterro de quem tanto nele estudara, vivera e labutara.
Foi em relação a lutos particularmente doloroso ao
Colégio o ano de 1927. Mal a terra pátria em necrópoles
do Rio de Janeiro havia coberto os despojos mortais de
Mendes Aguiar e de Floriano de Britto, a mesma terra se
abria para leito último dos restos terrenos de outro notável
professor e dirigente da Casa, Carlos de Laet, falecido a 7
de dezembro de 1927.
Historiar a vida intelectual de Laet nas letras
nacionais, no magistério, no jornalismo, na administração
pública, com escala breve pela política, na tribuna
académica, é matéria para obra aindao composta.
Cumpre ser escrita, tanto melhor se emanar de professor
ou ex-aluno do Colégio, bacharel em letras ou não.
No Colégio professou Laet por mais de meio século.
Teve jubileu de ouro no magistério, consagrado por sessão
especial e solene, dando ensejo para lhe serem tributadas
grandes homenagens. Diretor do Colégio, de 1917 a 1926,
Carlos de Laet mereceu do sucessor Euclides Roxo este
juízo: "Como diretor, manteve sempre linha impecável
de administrador honesto, justiceiro e zeloso de suas
atribuições, tendo durante a sua administração aumentado
muito o prestígio do Colégio, graças à austeridade, ao brilho
intelectual e à integridade moral de sua pessoa. Era
incontestável a grande ascendência que tinha sobre os
colegas, resultanteo só das suas qualidades pessoais,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
como da sua aureolada anciania, que lhe permitia, quando
necessário, tratar a alguns como filhos ou mesmo como
netos".
Assim disse o diretor do Externato. No Internato,
de 1873 a 1890, lecionara Laet, professor por concurso de
Português, Geografia e Aritmética do 1
o
ano. Voltou a
lecionar no Colégio, mas no Externato, de 1915 a 1927.
Exonerado por ato ditatorial em 1890, por haver protestado
em Congregação, contra a mudança de nome do Colégio,
privado de ser de Pedro Segundo, jubilado e posto em
disponibilidade, só assim se afastou Laet do Colégio de
1890 a 1915.
Exerceu, porém, neste lapso de tempo o magistério
particular, notadamente no Ginásioo Bento e no
Seminário Arquiepiscopal deo José, tendo ao tempo
do Império lecionado na Escola Normal da Corte.
Demitido do cargo vitalício de professor do Colégio,
recebeu Laet, por parte de conspícuos cidadãos e alunos
do Internato, manifestação de apreço promovida em
reunião nos salões de Derby Club, a 5 de maio de 1890, e
levada a efeito na própria residência de Laet.
À frente da comissão estavam os Drs. Rodrigo
Lobato, Amarílio de Vasconcellos e Domingos José da Silva
Cunha.
Representavam o Internato os Srs. Bandeira de
Mello, Pinheiro Guimarães, Cantão, Jayme de Miranda,
Arthur Cunha, Francisco Passos, Torquato Vieira de
Mesquita, João Roberto d'Escragnolle e Amarílio Hermes
de Vasconcellos.
Entregou a comissão a Laet mimo de alto valor,
custoso relógio e corrente em cuja medalha, na qual, entre
cintilar de brilhantes e azular de safiras, havia sido gravada
divisa horaciana: "Impavidum ferient ruinae".
Por parte dos admiradores de Laet, orou o Dr. Rodrigo
Lobato, destacando-se no discurso expressivo trecho, o
seguinte:
"Na minha província (o então Estado deo Paulo),
os melhores cidadãos apressaram-se a alistar-se entre
os subscritores desta manifestação, sem embargo deo
partilharem todos inteiramente às vossas opiniões
políticas. É que, no seio daquele povo altivo, ainda os
que sentem diversamente de vosso modo de sentir vos
respeitam e admiram."
Em seguida ao Dr. Rodrigo Lobato, orou o aluno do
Internato, Amarilio Hermes de Vasconcellos, para declarar:
"Nós que fazemos parte da mocidade,s que
representamos o futuro, viemos em nome da mocidade
brasileira, queo é ingrata, em nome do futuro, que nos
o intimida, comissionados pelo corpo de alunos do
Internato do Instituto Nacional de Instrução Secundária,
trazer ao nosso querido ex-professor Dr. Laet a homenagem
de nossa saudade".
Respondendo aos manifestantes, de coragem e
coração, disse Laet, "considerar-se viajante perdido em
meio de gelos polares, quase sem esperança de atingir
desejada meta, por toda a parte, rodeado pela escuridão e
pelo frio. Banidos muitos de seus melhores amigos,
dissolvido ao sopro da revolução o partido a que pertencia
(o liberal) bem sabia trancado para a sua pessoa todo o
futuro político na pátria. Acontece, porém, que nas gélidas
regiões do pólo basta um raio de sol para fazer um prisma
de cada fragmento de neve e iriar a paisagem com
surpreendentes e mágicos reflexos."
Este raio de sol traziam-nos os amigos ao orador e
de coração ele o agradecia".
Associados à manifestação a esposa e os filhos de
Laet, foi-lhe entregue a representação dirigida ao Chefe do
Governo Provisório, Marechal Deodoro da Fonseca,
reclamando contra o Decreto de demissão de Laet,
professor vitalício do Colégio, "dizendo-se e parecendo que
determinou o ato do Governo a proposta daquele professa
na respectiva Congregação, indicando que se pedisse ao
Governo para aquela instituição de ensino se
restabelecesse a anterior denominação de Colégio de Pedro
Segundo".
Ponderava a representação ao chefe do Governo
Provisório:
ESCRAGNOLLE DORIA
"Não há na proposta, Sr. General, nada de ofensivo
ao Governo, como nada há de inconvenientes à ordem
social, em seus termos e nas razões que lhe serviram de
fundamento e foram publicados pela imprensa. O
proponente relembrou os serviços prestados pelo Sr. D.
Pedro II ao instituto e disse que se devia conservar para
este o nome de seu fundador.
Começai, Sr. General, vossa obra de patriotismo,
restituindo ao magistério da República o digno e talentoso
professor. Esse ato honrará o vosso Governo es vô-lo
pedimos no interesse da educação superior e em nome
dos nossos concidadãos."
, porém, em 1915, o poder executivo do pais anuiu
ao voto de 1890, tendo o poder judiciário reparado outro
ato do Governo ditatorial Deodoro, demitindo professor
vitalício do Colégio, o Barão de Loreto, companheiro de
exílio de D. Pedro II, reintegrado Loreto em funções
docentes,o mais exercidas. Bem mais tarde, a justiça
dos homens na voz da História, restituiria ao Colégio
primitiva denominação. O episódio da vida de Laet
também é testemunho de coragem cívica de discentes na
existência do Colégio.
Por ocasião do falecimento de Laet e interpretando
particularmente pensamento do Internato, o diretor do
mesmo, o Dr. Pedro do Coutto, entre louvores, declarava
que, "professor por mais de meio século no Colégio de
Pedro Segundo, Laet formara gerações que o admiraram
e que lhe aclamavam o nome, do Colégio irradiado
brilhantemente para o país inteiro, através de colaboração
assídua nos jornais, onde em estilo pessoal, elegante e
correto lhe dava relevo em meio às nossas letras.
Professor de várias matérias do curso secundário,
nelas se revelou sempre mestre culto, mas especialmente
Laet se destacava pelo vigor, pelo brilho e pela argúcia da
inteligência, pronta e impressionante. Um talento
fulgurante forrado de cultura bem cuidado."
Memorados os mortos de 1927 pelo Colégio,
apresentou este no ano letivo a vida operosa de sempre
nas seções do Externato e do Internato. Presidia a
Congregação o diretor do Internato, na forma das
disposições vigentes, alternando-se direção do Corpo
Congregado cada um dos diretores da Casa.
No decurso do ano letivo de 1927 seria preenchida a
vaga de professor de Física do Internato, mediante
concurso, processado de 18 de agosto a 10 de setembro,
afinal indicado para catedrático o engenheiro civil Dr.
George Sumner e para livre docente o engenheiro civil Dr.
Francisco Venâncio Filho. O Dr. Sumner, desde junho de
1926, exercia no Internato funções de repetidor interino de
Ciências Físicas. Tomou posse da cadeira de Física a 5
de outubro de 1927, proferindo discurso, correspondido
em nome da Congregação pelo professor Accioli. Em
oração inaugural, o novo catedrático evocou grandes
mestres de sua juventude na terra natal, o Pará, e fora da
mesma. Agradeceu ao lar e a amigos, "obreiros do
coração e do afeto, a dedicação do seu carinho, o apoio
da sua afeição desinteressada". Evocou dois ilustres
antecessores na cadeira de Física e Química Nerval de
Gouvêa e Oliveira de Menezes. Declarouo deslustrar a
memória desses grandes mestres associando à sua
evocação a lembrança da passagem pelo Internato de
professor ilustre, que o glorioso instituto se honrava de
contar entre os seus catedráticos. Referia-se ao Dr. José
Ferreira da Costa Piragibe, filho de antigo diretor do
Internato, ele próprio bacharel em letras por esta seção do
Colégio. Frisou o novo catedrático ter-se imposto o
professor José Piragibe entre os que militavam na
espinhosa carreira do magistério, "como educador de escol,
mestre inexcedível, cujo lugar ao professorado era indicado
pelo consenso unânime de sucessivas gerações de
discípulos".
Além do provimento da cadeira de Física do
Internato, no ano letivo de 1927, sofreu o corpo docente
catedrático do Colégio algumas modificações de
relevância.
A 21 de novembro de 1927, o Dr. Carlos Delgado de
Carvalho, ocupante da cadeira de Inglês do Externato, era'
Ml MÓRIAHISTÓRH ADOCOI I GlO DF PEDRO SEGUNDO 1837 1937
transferido para a cadeira de Sociologia, regida
interinamente pelo substituto Adriano Delpech.
A 5 de dezembro de 1927, via-se o referido substituto
promovido a catedrático de Francês no Internato, na vaga
aberta pela morte do professor Floriano de Britto.
Saudado em nome da Congregação pelo mais novo
dos professores desta, o Dr. Sumner, respondeu o
professor Delpech exaltando a memória e a obra
pedagógica do antecessor. "Unicamente com as lições
recebidas no Colégio de Pedro Segundo, completados pelo
próprio esforço, Floriano de Britto tornara-se senhor da
filologia francesa."
Logo após, porém, era Delpech, catedrático de
Francês do Internato, transferido para a cadeira de Literatura
Brasileira e de Línguas Latinas até então interinamente
ocupada pelo Dr. Júlio Nogueira, por sua vez nomeado
catedrático interino de Francês do Internato.
No ano letivo de 1927, o ensino em ambas as seções
do Colégio correu com regularidade, aplicadas disposições
de novo Regimento Interno. Dividindo turmas de alunos
respeitava a classificação de discentes obtida pela média
das notas de exames do ano anterior, alguns professores
embora, discordassem da medida apresentando objeções.
Na cadeira de História Natural do Externato, bem
como nas cadeiras de Física, Química e Instrução Moral
e Cívica, o ensino revestiu muito feição prática por parte
dos respectivos professores. O professor suplementar Dr.
Octacílio Álvares Pereira, acompanhou alunos de turma a
seu cargo nas diversas visitas feitas a estabelecimentos
públicos ou particulares.
Dava assim execução a programa da cadeira, tendo
em vista concretizar os ensinamentos da mesma. Visitou
a 3
a
turma suplementar do 1
o
ano, entre outros
estabelecimentos, o Arquivo Nacional, o Instituto Histórico
e Geográfico Brasileiro, o Tribunal do Júri, o "Jornal do
Brasil".
A 27 de maio de 1927, na sala da Congregação,
presidida pelo Ministro da Justiça, Dr. Vianna do Castello,
realizou-se a solenidade da entrega de certificados de
conclusão de curso a alunos de 1925 e 1926. Foi conferido
o Prémio Nerval de Gouvêa, instituído em 1921, para
recompensar os estudantes mais distintos no estudo da
Física e da Química. Coube o prémio de 1925 a aluno do
Externato, Eurico António da Costa, obtendo-o também
alunos do Internato, Albino Silva e Henrique Vaz Corrêa, o
primeiro em 1925, o segundo em 1926.
Uma das constantes preocupações das diretorias
do Colégio era atender às sugestões dos professores de
disciplinas exigindo ensino prático a par do teórico,
obedecendo à moderna orientação pedagógica. Crédito
de 150 contos votado pelo Congresso para os gabinetes
de ciências físicas e naturais, permitiu em 1927, no
Externato, aparelhar os gabinetes de Física e Química.
Sensivelmente alargado o primeiro ficou possuidor do que
requer o ensino moderno da Física, podendo, segundo o
diretor Roxo, sofrer confronto com qualquer
estabelecimento congénere nacional ou estrangeiro. Ao
professor Henrique Dodsworth, aos seus esforços, ficou
devendo a cadeira de Física do Externato importantes
melhoramentos materiais, uma das salas do gabinete tendo
recebido o nome daquele professor.
Melhorados consideravelmente ficaram, em 1927,
os gabinetes de História Natural, bem como o de
Geografia, também sala de aula da disciplina, dotado com
aparelho, máquina de projeção fixa, servida por 300
diapositivos, de preferência apresentando vistas e coisas
nacionais.
Mostruários com amostras de produtos nossos,
quadros representativos de vários tipos de cortes
geológicos, desenhados no próprio estabelecimento, sob
a direção do Dr. Delgado de Carvalho, excelentes
fotografias, ornaram com proveito a sala de aula de
Corografia do Brasil.
Sob a direção dos professores Serrano e Delgado
de Carvalho preparou-se em 1927 sala destinada às aulas
de História Universal, cujas paredes receberam, a fresco,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
seis grandes mapas de diversos épocas históricas, sob
as quais figuravam retratos de grandes vultos americanos.
A estabelecimento como o Externato do Colégio de
Pedro Segundo, frequentado por numerosíssimos alunos,
de vária formação educativa e sentimentos nem sempre
cultivados até primor, a disciplina é condição vital,
disciplina eficaz quando temperada pela justiça e pela
equidade. No ano letivo de 1927, a disciplina no Externato,
à parte algumas punições a tempo, por faltas leves,o
sofreu alteração, em porte, mercê de inspetores nem
sempre isentos de contrariedades no exercício de funções
para as quaiso está habilitado qualquer. Demandam
o só cultivo intelectual como, sobretudo, formação
moral, a míngua de um e mormente da outra logo
percebidas pelo aluno, principalmente, pelo mal
intencionado ou desrespeitador por natureza.
Desde 17 de março de 1926, achava-se o Internato
sob a direção interina do Dr. Pedro do Coutto, passando
este em 1927, a dirigi-lo efetivamente. Exerceu o cargo
de vice-diretor o bacharel em letras Quintino do Valle,
catedrático de Português, o Dr. Coutto catedrático de
História do Brasil na seção do Internato. Coube ao Dr.
Pedro do Coutto, em 1927, a presidência da Congregação,
a qual escolheu o catedrático Doutor Philadelpho de
Azevedo para representante no Conselho Superior do
Ensino.
Cresceu, sobremaneira, a matrícula no Internato no
ano letivo de 1927, ampliado o quadro da Secretaria,
exercido o cargo de secretário do estabelecimento pelo
Sr. João Baptista Torres. Prestava bons serviços no
Internato desde 1906, inspetor de alunos, amanuense
desde 1917, conhecendo bem o mecanismo administrativo
no instituto de ensino ao qual se dedicara e onde, degrau
a degrau, conquistou posto de secretário, nele se
assinalando.
A disciplina em Internatos é muito diferente da
exigida nos Externatos nos quais a vigilância se exerce
por algumas horas eo dia e noite como num Internato.
Em 1927, foi chamado a exercer o cargo de chefe
de disciplina, no qual já se notabilizara Quintino do Valle,
o Dr. José Lourenço dos Santos, docente da Escola Normal,
incumbido de zelar pela ordem na Casa, auxiliado por 28
inspetores para 400 alunos.o havendo substituto para
o chefe de disciplina, mister foi criar cargo de subchefe.
Em 1927 o foi o Dr. Octávio Severo Castão, antigo inspetor
de alunos, podendo assim o chefe de disciplina revezar
um pouco nas funções incessantes.
Empenhou-se a diretoria do Internato na regularidade
da instrução militar, participando os alunos de várias
solenidades e campeonatos de jogos desportivos.
Zelou também a diretoria do Internato pela eficiência
do serviço médico, a cargo do Dr. Rodolpho Chapot Prevost,
e do dentário, a cargo do Dr. Francisco de Paula Severino
da Silva. É sabido hoje a importância ligada pela medicina
à odontologia para descoberta, cura ou lenitivo de várias
afecções das muitas que ameaçam, minam ou extinguem
vida humana.
Em 1927, propunha o Dr. Chapot Prevost várias
medidas tendentes a melhorar as condições higiénicas do
estabelecimento: pavilhões separados para dormitório
de limitado número de colegiais, acréscimo de banheiras,
aquisição de instrumentos, adoção de lâmpadas elétricas
com vidros foscos para resguardo da vista dos alunos nas
salas de estudo. Na série de medidas proposta pelo
médico do Internato, achavam-se incluídas algumas
relativas à higiene intelectual de modo ao prejudicar a
corpórea, lembrando o Dr. Chapot Prevost, que dada a
idade dos colegiais e o nosso clima, a fadiga cerebral é
dez vezes mais funesta de que a dos outros sistemas de
economia.
As solenidades do costume encerraram o ano letivo
de 1927 no Colégio, ano letivo no curso do qual vários
professores experimentaram nas aulas o uso de testes,
facultado pelo regimento. Dois professores, Antenor
Nascentes e Delgado de Carvalho, adotaram
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
definitivamente tal processo de avaliações de
aproveitamento nas sabatinas e concursos bimestrais de
suas aulas.
Bastante melhorado materialmente ficou o Internato
em 1927, construído mais um andar e nele localizados
três vastos dormitórios e uma rouparia. Reconhecia,
porém, o diretor Coutto, que a despeito da boa vontade e
esforço do corpo docente e administrativo, o Internato
"ainda estava bem longe do que devia ser estabelecimento
de seu género".
Igualmente, o diretor Roxo, quanto ao Externato,
reconhecia o edifício impróprio para os seus fins.
Apresentava as razões do seu sentir, sugerindo a
localização do Externato nos Morros de Santo António ou
da Conceição, tornado fácil o acesso aos mesmos. A única
vantagem da presença do Externato na Rua Marechal
Floriano era o de ser esta ponto central, sem maior
dificuldade atingido pelos alunos dos bairros pobres ou dos
subúrbios, isto é, pela maioria dos alunos do Colégio.
Sendo impossível despender avultada quantia para
a construção de novo e modelar Externato, dizendo-se
precisos para tanto 20.000 contos, propunha o diretor Roxo
várias alterações, no edifício, alterações orçadas em 500
contos, para melhoria de condições higiénicas e
pedagógicas do instituto a seu cargo. Entre as medidas
propostas pelo diretor Roxo avultava a construção de casa
para o porteiro em terreno de propriedade do Colégio, com
oito metros de frente para a Rua da Prainha. Isso permitiria
a construção de três boas salas de aula na parte então
tomada pela residência do porteiro, construção de 3
o
andar
na ala do edifício, dando para a Rua da Prainha,
ajardinamento dos pátios internos e outras medidas
tendentes a tornar quanto possível o Externato edifício
capaz de preencher ainda por alguns anos sua natureza e
seus fins.
Aos poucos iria o diretor Roxo atendendo às
necessidades mais urgentes do Externato, uma delas a
remodelação do Arquivo, finalmente senhor de excelentes
armações metálicas adquiridas pelo diretor Laet.
Removidos os documentos do arquivo das estantes de
madeira para as de aço, ficou a importante seção do
Colégio, confiada ao inexcedível zelo do arquivista Augusto
Pedro da Silva Maia, localizada na parte do edifício de face
para a Rua Marechal Floriano, parte imprópria para o
serviço das aulas, visto o contínuo e numerosíssimo
trânsito público pela citada rua, uma das mais
pulverulentas.
Estabeleceu o diretor Roxo confortável sala para
professores, um gabinete contíguo à sala da Congregação,
ampliada para o duplo da antiga área e formada
interiormente.
Muitos outros melhoramentos materiais nas
diversas dependências do Colégio foram devidos à
administração Roxo, zelando por uma casa que lhe
preparara o espírito e abrira carreira.
Entre aqueles melhoramentos de utilidade para o
bom funcionamento das aulas, cumpre mencionar a
instalação de relógio central elétrico colocado no gabinete
da diretoria, acionando outros relógios postos em diversos
pontos do edifício.
Automaticamente, o relógio central punha a soar as
campainhas elétricas, dando anúncio do início ou fim das
aulas, fimo grato aos menos aplicados.
Encerradas as aulas em 1927, teve mais uma vez o
Colégio de incumbir-se de serviço exaustivo, o dos exames
parcelados e seriados, prestados uns pelo Decreto 5.309-
A, outros pelo Decreto 11.530, outros ainda obedecendo
a Lei 16.782-A.
Compreende-se facilmente o aperto de serviço e o
redobrar da possível fiscalização na realização simultânea
de exames processados de acordo com três Decretos
diferentes, os de números 5.309-A e 11.530, referindo-se
a exames de preparatórios e o de número 16.782-A a
exames de curso seriado realizados por candidatos
estranhos ao Colégio.
Para ser bem avalizada a monta do serviço
extraordinário do Colégio, basta dizer que outrora, no
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Império, tal serviço incumbia a uma repartição especial, a
Inspetoria de Instrução Pública Primária e Secundária do
Município da Corte.
Os anos letivos do Colégio começavam sempre por
convocações de Congregação. A 2 de março de 1928,
precedendo a abertura de aulas, reunia-se a Congregação,
presidida pelo diretor do Externato, Dr. Roxo. Comunicava
ele oficialmente ao Corpo Congregado o falecimento do
professor Laet,o sem lhe ter consagrado expressões
de respeito e saudade, propondo a realização de sessão
solene em memória do desaparecido. À proposta do
presidente da Congregação foram acrescentadas propostas
dos professores Lafayette Pereira e Henrique Dodsworth.
Requereu o primeiro inserção em ata de voto de profundo
pesar pela morte de Laet, propondo o segundo que, de
acordo com antiga sugestão sua, fosse dado o nome de
Carlos de Laet a uma das salas do Externato. Todas as
propostas receberam sanção unânime.
No ano letivo de 1928, o ensino no Colégio sofreria
alteração, apresentada em sessão da Congregação,
proposta subscrita por numerosos professores, proposta
motivada tendente a modificar a seriação do curso do
Colégio.
A proposta sugeria a conveniência da transferência
da cadeira de Instrução Moral e Cívica do 1 ° para o 5
o
ano,
a ideia combatida pelos professores Gabaglia e Delpech,
chegando o primeiro a propor a extinção da cadeira.
Discutida a proposta Gabaglia, com emenda deste
professor mantendo a Cadeira no 1
o
ano, foi mandada a
proposta à Comissão de Ensino, visto insistir o professor
Gabaglia no propósito de serem ouvidas as respectivas
comissões sobre assuntos ventilados em Congregação.
Voltando esta a discutir o plano de nova seriação de
matérias do curso secundário aprovou o Corpo Congregado
o parecer da Comissão de Ensino relativo ao assunto.
Manteve, por 17 votos contra 12, a denominação da cadeira
de Português em vez da de Idioma Nacional. Por 18 votos
contra 7, confirmou a denominação da cadeira de Instrução
Moral e Cívica em vez Instrução Cívica e Noções de Direito
Usual.
Entendeu também a Congregação nomear comissão
para estudo dos pontos alteráveis do Regimento Interno
do Colégio. Ficou a comissão constituída pelos vice-
diretores do Externato e do Internato, Othello Reis e
Quintino do Valle e pelos professores Antenor Nascentes
e Escragnolle Dória.
Para representante do Colégio no Conselho Superior
do Ensino em 1929, elegeu a Congregação, por 18 votos,
o professor Philadelpho Azevedo. Representava os
docentes-livres na Congregação, em 1927, o docente
Jayme Coelho, substituído em 1928 pelo docente Dr.
António Figueira de Almeida.
Aliás, o Conselho Superior do Ensino, por voto
unânime, solicitara ao Governo a supressão da docência-
livre no Pedro Segundo, opinião secundada pelo juízo do
diretor Roxo poro se justificar no Colégio a docência-
livre, instituição universitária e própria de ensino superior.
Caracterizava a docência-livre a faculdade pela escolha
de professores por parte do aluno dizia o diretor do
Externato tal escolha, evidentemente,o podia partir
de meninos ou adolescentes. Acrescia a esta ponderação
a impossibilidade de adaptar-se a livre-docência à
organização de turmas em colégio de instrução secundária,
organização sujeita a critérios pedagógicos, qual por
exemplo a limitação do número de alunos, devendo haver
nas referidas turmas necessária homogeneidade.
Em relação ao ensino, foi apresentada à
Congregação proposta do professor George Sumner. Por
intermédio do Ministro da Justiça, sugeria ao Congresso
Nacional a conveniência de serem considerados
catedráticos os professores de Desenho do Colégio.
Aceita pela comissão de Docência, foi a proposta
de Sumner unanimemente aprovada pela Congregação.
Todos os serviços do Externato, em 1928, correram
com a devida regularidade, humanamente embora sujeitos
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
a senões, o diretor Roxo procurando corrigi-los por meios
suasórios, ou discretos se de maior monta.
Tratava também de corrigir, no alcance de sua
autoridade e das possibilidades financeiras do Colégio, os
senões da localização do Externato. Insistia pelo
ajardinamento dos pátios da Casa, "não só para tornarem-
se aprazível local de estudos, como permitindo o
jardinamento a constituição de pequeno horto com certo
número de espécies botânicas para estudos de História
Natural".
Desejoso de levantar o inventário do Externato,
designava o diretor Roxo Comissões para auxílio seu na
realização do intento. Incumbia aos professores
Escragnolle Dória e José Oiticica e ao bibliotecário do
Externato, Dr. Fernandes Veiga, a avaliação dos 15.000
volumes da biblioteca do estabelecimento.
Duas solenidades encerraram o ano letivo de 1928.
A 2 de dezembro, data natalícia de D. Pedro II e, portanto,
sempre memorável no Colégio, presidida pelo Ministro da
Justiça, realizava-se sessão solene comemorativa do 91°
aniversário da fundação da Casa. À cerimónia ajuntou-se
a inauguração do retrato de D. Pedro II, retratado o antigo
soberano de corpo inteiro, trazendo numa das mãos o
Decreto de fundação do Colégio, quadro aquele obra do
pintor patrício Carlos Osvald.
Seguiu-se à inauguração da tela a colação de grau
dos bacharéis em Ciências e Letras de curso concluído
em 1927: António Gabriel de Paula Fonseca, Carlos
Rocha Mafra de Laet, neto de Carlos de Laet, José Cândido
Sampaio de Lacerda e Luiz Torres Barbosa, alunos do
Externato.
Doze alunos receberam prémios de aplicação e sete,
de procedimento exemplar, cabendo o Prémio Nerval de
Gouvêa a aluno do Internato, Plínio Gomes de Mattos Filho.
Constou a festa também de parte literária e musical,
preenchida aquela pela recitação de poesias por alunos e
alunas, estas por execuções de trechos clássicos de
Beethoven e Schumann por alunos, encerrada a solenidade
com o Hino Nacional cantado pelo Orfeão do Colégio.
A 29 de dezembro, realizou a Congregação sessão
solene dividida em três partes, a primeira dedicada a Carlos
de Laet, a segunda, à entrega de certificados aos alunos
de 5
o
ano de curso concluído em 1927, a terceira, à sessão
literária.
Apreciando a personalidade inconfundível de Laet
oram o professor Jonathas Serrano, em nome da
Congregação e o quintanista Gentil Coelho de Castro, em
nome de colegas de turma.
Analisou o professor Serrano a individualidade de
Carlos de Laet sob os variados aspectos por ela
apresentados na existência, "professor quase até o dia da
morte". O professor Serrano, em minudente estudo, disse
muito sobre aquele a quem elogiava e "cuja obra, na
imprensa, daria, reduzida a volumes, uma biblioteca",
desejoso o orador "por ver a obra de Laet reduzida a livros,
apelo feito da tribuna do Colégio que o escritor amou, dirigiu
e dignificou, sem se acomodar, emudecer ou infletir na
defesa de ideais", declaração tanto mais insuspeita
porquanto oriunda de antigo adversário do polemista na
imprensa, o queo impedira Laet de prestar justiça ao
seu contendor ao concorrer este a cátedra no Colégio.
Estudando, longamente, a vida de Carlos de Laet, o
professor Serrano concluiu, lembrando-lhe feição conhecida
de poucos, a da sua capacidade poética, citando-lhe um
soneto: "Rosa", bem digno de figurar em antologia.
la Rosa vestir-se e do vestido
Uma voz se desprende e assim murmura:
"Muitas morremos de uma morte escura
Porque te envolva sérico tecido".
la toucar-se e escuta-se um gemido
Do marfim que as madeixas lhe segura:
"Por dar-te o afeite desta minha alvura
Jaz na selva meu corpo sucumbido".
ESCRAGNOLLE DÓRIA
e um colar e a pérola mais fina:
"Para pescar-me quantos párias, quantos
Padeceram no mar lúgubres sortes".
E Rosa chora: Oh! desditosa sina!
Todo sorriso é feito de mil prantos
Toda vida se tece de mil mortes!"
o pareça fora de propósito a transcrição e a
memória deste soneto porque, recitado em sessão solene,
o professor Serrano pôde acrescentar perorando, "quem
metrificou e rimou tais estrofeso era apenas uma
inteligência robusta, era ainda um coração capaz de
emoção e ternura, uma alma que vibrava aos grandes
mistérios da dor".
O ano letivo de 1929 abriu-se com certo número de
cadeiras vagas, quais no Externato as de Alemão, vaga
desde junho de 1925, por efeito da disponibilidade do
professor Said Ali, a de Latim, vaga desde fevereiro de
1927, pelo falecimento do professor Mendes de Aguiar, a
de Química, vaga desde setembro de 1929, em virtude da
disponibilidade do professor Oliveira de Menezes, a de
Instrução Moral e Cívica, criada pela Reforma Rocha Vaz,
a tais cadeiras achava-se interinamente e respectivamente
ocupadas pelos professores Drs. Tristão da Cunha, Nelson
Romero, Luiz Pinheiro Guimarães e Cónego Dr. Francisco
da Gama Mac Dowell.
Havia, porém, anteriormente, o Governo resolvido
sustar inscrições para concurso no Colégio.
Todas as cadeiras acima enumeradas pertenciam
ao Externato, no Internato também vagas algumas
cadeiras, assim a de Francês, vaga, pelo óbito do professor
Floriano de Britto e transferência do professor Delpech,
regendo-a interinamente o professor Júlio Nogueira, antes
lecionando no Externato a cadeira de Literatura Brasileira
e de Língua Latina.
No Internato, também preenchia interinamente o Dr.
Nuno Lopes Smith de Vasconcellos a cadeira de Inglês,
vaga pela transferência para a cadeira congénere do
Externato do professor Álvaro Espinheira.
Frequentemente, havia cadeiras vagas no Colégio,
já por falecimentos, diversos impedimentos,o
permitindo preencher definitivamente vagas resultantes de
óbitos ou disponibilidades.
Assim, transferido o professor Nascentes da cadeira
de Português do Internato para a do Externato, vaga
proveniente do falecimento do professor Laet, passara reger
interinamente a cadeira respectiva no Externato o Dr.
Jacques Raymundo Ferreira da Silva, docente-livre.
Serviram também interinamente, no impedimento
dos professores Almeida Lisboa, Henrique Dodsworth e
Oliveira de Menezes, os dois últimos no exercício de
funções eletivas, os Drs. Irineu Leite de Freitas, Francisco
Venâncio Filho e Corregio de Castro nas cadeiras de
Matemática. Física e Química.
Considerável era o número de matriculados no
Colégio.
Daí necessidade de criar turmas suplementares, 14
no Externato, onde sempre mais numerosas estas turmas,
menos três turmas em 1929 do que em 1927 e em 1928.
Difícil era sempre organizar horário de aulas no Colégio,
sobretudo no Externato, cujo edifício cada vez mais, pelo
crescer de matriculados, se ressentia da impropriedade
para preencher fins educativos, a falta de espaço sensível
a cada momento em prédio de faces voltadas para vias
públicas de intenso trânsito e ruído, quais a Avenida Passos
e as ruas Marechal Floriano e Camerino.
Pelos fundos ficava o edifício, voltado para a rua da
Prainha, ora Leandro Martins, onde se localizavam
estabelecimentos industriais de rumor e perigo, serrarias
e fundições. As primeiras acompanhavamo raro as
aulas com a música das serras, as segundas enfumaçando
e enfagulhando salas.
Nos edifícios do Externato e do Internato tudo
acabava se reduzindo a obras de simples adaptação ou
remodelações.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Em abril de 1929, a diretoria Roxo pôde concluir a
reconstrução começada em 1928, das alas do edifício do
Externato dando para a Rua da Prainha e de esquina com
a rua Camerino, abrangendo cerca de 300 metros em cada
um dos pavimentos.
Com a reconstrução pôde o imóvel conter bem maior
número de dependências no pavimento térreo e no
superior.
Neste, o Salão Nobre foi inteiramente restaurado.
Durante algum tempo esteve a obra de Bettencourt da Silva
ameaçada de completa destruição, ideia contra a qual
sempre se manifestaram sobretudo os professores Carlos
de Laet e Escragnolle Dória.
Felizmente,o medrou ideiao contrária à tradição
e beleza do estabelecimento. Achou-se o soalho, mudado
por inteiro, trazido ao nível do resto do pavimento, foram
mudadas as esquadrias, restaurados, pintados e
redoirados os painéis de estuque do teto e das paredes.
Para obter mais duas salas de aula houve mister sacrificar
parte do salão, aquele em que figurava tribuna de música.
Mais tarde, ficou reconhecido que mais valia ter conservado
o Salão Nobre do Externato qual o havia legado o Império.
Muito se perdeu.
Outras adaptações foram feitas no edifício do
Externato em 1929, recebendo o Salão Nobre mobiliário
de imbuia, trabalho nacional de fábrica de Santa Catarina,
reformado aos poucos o mobiliário escolar, estabelecidos
filtros para uso dos alunos, aproveitada antiga sala dos
inspetores, num vestíbulo, para instalação de pequeno
refeitório para uso de professores, no intervalo de aulas, e
para venda de merendas a alunos.
Substituía a modesta instalação outra do mesmo
género e modestíssima, localizada na parte do edifício do
lado da Rua da Prainha, instalação pitorescamente
denominada Café Fumaça e dirigida por serventes, ai
obtendo parcas vantagens acrescidas a minguados
vencimentos, daqueles serventes o mais popular entre
docentes e discentes o de nome Romeu.
Num estabelecimento com a frequência diária de
700 alunos, como o Externato em 1929, houve apenas a
lamentar um caso de indisciplina, de aluno do 1
o
ano contra
o seu inspetor, punido o aluno, após inquérito regular feito
por professores, com a pena de suspensão de exames
em 1
3
e 2
a
época.
Outro caso de indisciplina, por parte de um
preparatoriano, por ocasião de exames parcelados,
também foi objeto de inquérito, proposta ao Diretor-Geral
do Departamento de Ensino a exclusão do preparatoriano
dos estudos, por tempo a arbitrar, de quaisquer
estabelecimentos oficiais ou equiparados.
Procurava, assim, a diretoria Roxo resguardar o
princípio indispensável da disciplina, sem o qualo vale
a pena abrir portas de estabelecimento de instrução.
Nem se estendia a vigilância da diretoria só a
discentes e preparatorianos, também a subordinados,
advertindo inspetor, convidando-o usar com alunos, de
linguagem queo desse motivo a reclamações.
Advertia a diretoria do Externato, mas reconhecia
oficialmente que "no desempenho de funções exercidas
com zelo e dignidade os inspetores faziam jus a preito de
reconhecimento por parte da administração do Colégio".
Daí, lamentar este o falecimento inesperado, com
suspeitas infelizmenteo apuradas de crime, por traição,
em sua própria residência, do inspetor de alunos Octávio
Freire de Andrade, desaparecido do número dos vivos a
19 de outubro de 1929. Admitido como inspetor no
Internato em 1912, no mesmo ano transferido para o
Externato, aí no decurso de 16 anos de exercício distinguiu-
se por espírito disciplinador. Conseguia, com pouco vulgar
serenidade, manter ordem e respeito nas turmas das quais
era encarregado, sem altear voz sem punir, por simples
força moral, equiparando-se destarte a outros colegas
dotados das mesmas qualidades.
Coadjuvava os diretores do Externato e do Internato
a Congregação do Colégio, a eleger em 1929 representante
dos docentes-livres junto ao Corpo Congregado Dr. Mário
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Guedes Naylor. Procurava o Corpo Congregadoo só
manter a disciplina como pugnar por quanto interessasse
a causa do ensino, mormente em relação ao Colégio.
Em 1929, a Congregação discutia longamente, à
vista de parecer de comissão especial, indicação
apresentada ao Conselho de Ensino pelo professor Figueira
de Mello sobre reforma do ensino secundário.
Sem maior alteração e sob a direção Roxo correu
em 1930 o ano letivo no Externato, funcionando na
Congregação, como representante dos docentes-livres o
Dr. Oscar Przewodowski, eleito para servir em 1930.
Escolheu igualmente a Congregação para representá-la no
Conselho Nacional do Ensino o professor Quintino do Valle,
sucedendo ao professor Gastão Ruch.
Por proposta do professor Lafayette Pereira, votava
louvores a Congregação com o professor Oiticica, então
na Alemanha, pelo brilhantismo das lições do mencionado
lente de Português do Externato, naquele país de tanta
cultura e apreciado saber.
Ainda por proposta do professor Lafayette Pereira,
votava louvores a Congregação aos docentes-livres Jayme
Coelho e Clóvis do Rego Monteiro, por motivo de seus
concursos na Escola Normal e subsequentes nomeações
para as cadeiras de História da Civilização e Literatura da
referida Escola.
Ao encerrar-se o ano letivo de 1930, por proposta
do professor Quintino do Valle, secundada pelo diretor
Roxo, a Congregação votava moção de pesar, lamentando
a morte do Doutor José Júlio da Silva Ramos, falecido a
15 de dezembro de 1930.
Formado em Direito pela Universidade de Coimbra,
após concurso, fora nomeado lente de Português do
Internato a 6 de junho de 1907, aí lecionando até obter
disponibilidade. Servira de professor suplementar de
Português do Externato em 1884, 1895, 1896 e 1897, três
anos inspetor escolar no Distrito Federal, diretor e professor
durante dois anos do Ginásio Fluminense instalado em
Petrópolis. Era, pois, Silva Ramos um radicado no ensino.
Lamentou-lhe a morte a Congregação do Colégio, a qual
foi presente proposta do professor Lafayette Pereira, para
ser dado o nome de Silva Ramos à sala de História Natural
do Internato.
No Externato, por oferta do professor Escragnolle
Dória, foi inaugurado, na sala dos inspetores, o retrato de
meio corpo do finado inspetor de alunos Octávio Freire de
Andrade, retrato aquele obra fotográfica ampliada de outro
inspetor, Carlos Pederneiras.
A 18 de outubro de 1930, realizou-se a inauguração
do retrato do inspetor Andrade. O diretor Roxos
empenho na realização do ato como exemplo ao corpo de
inspetores e a discentes.
Reunidos aqueles e presente toda a turma do 5
o
ano
B, a última inspecionada pelo inspetor Andrade, no 2° ano
daquela turma em 1929, foram descerradas as cortinas
de sobre o retrato.
Oraram o professor Escragnolle Dória e o diretor
Roxo, ambos concitando os inspetores em face de alunos,
a nunca desampararem trabalho e dever conforme fizera
o colega desaparecido.
Em nome do Colégio, orou agradecendo um inspetor,
realizando-se a modesta, mas expressiva solenidade, na
véspera do 1
o
aniversário da morte do inspetor Andrade,
por ser o dia de tal aniversário um domingo.
No ano letivo de 1930, entendeu o diretor Roxo
promover no Externato algumas conferências de caráter
educativo ou instrutivo, conferências concorridíssimas por
parte de alunos e seguidas com interesse por parte de
docentes.
Também no ano letivo, para entretenimento de
alunos, realizavam-se no Salão Nobre, com o auxílio de
profissionais, curiosas sessões de prestidigitação e
transmissão de pensamento.
O fim do ano letivo de 1930 contaria, em outubro,
alguns dias de sobressalto geral, a refletir-se no Colégio,
em virtude de sucessos políticos findos em mudança
radical nas instituições vigentes, afastado do Governo o
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Presidente Dr. Washington Luiz Pereira de Souza, aluno do
Internato no Império, instituído afinal um Governo
Provisório, tendo por chefe o Dr. Getúlio Dornelles Vargas,
empossado a 3 de novembro, com poderes discricionários.
A 7 de novembro era expedido um dos primeiros
Decretos do novo Governo adiando os exames do Colégio.
Encerrava-se o ano letivo para o Colégio com
mudanças na direção das suas duas seções. Deixava a
direção do Internato o professor Pedro do Coutto, nomeado
para substituí-lo o diretor do Externato, o professor Roxo,
nomeado diretor do Externato o professor Delgado de
Carvalho, tudo por Decretos de 9 de dezembro de 1930.
Continuava na vice-diretoria do Internato o professor
Quintino do Valle. Era nomeado para o cargo de vice-diretor
do Externato, exercido pelo professor Othelo Reis, o
professor Escragnolle Dória, queo aceitou tal nomeação
como declinara a de diretor em 1925.
Ressentira-se o Colégio de efeitos da revolução de
abalo ao país em 1930, depondo o Presidente da República,
Doutor Washington Luiz Pereira de Souza, a 24 de outubro
de 1930, quando poucos dias faltavam para terminação
de mandato e consequente entrega de Governo a sucessor
eleito e reconhecido, Dr. Júlio de Albuquerque Prestes. A
31 de outubro de 1930, chegava ao Rio de Janeiro, vindo
do Rio Grande do Sul, terra natal, o Dr. Getúlio Dornelles
Vargas, para chefiar Governo Provisório.
Adiados, a 6 de novembro, os exames do Colégio,
a 11 do mesmo mês, parte do edifício do Externato era
transformado em quartel provisório de batalhão do exército
trazido ao Rio de Janeiro pelo movimento revolucionário,
a inaugurar novo período político chamado República Nova.
Aquartelou-se em parte considerável do edifício do
Externato o 8
o
Batalhão de Caçadores, repetindo-se assim
mais uma vez a História, pois o seminário deo Joaquim,
ao tempo do Príncipe Regente, dera guarida a tropas
portuguesas.
Ao iniciar-se o ano letivo de 1931, a Congregação
entendeu designar comissão de membros seus para
acompanhamento dos trabalhos de comissão nomeada por
parte do novo Ministério da Educação e Saúde Pública com
o fim de adotar o regimento interno do Colégio de Pedro
Segundo a nova reforma do ensino. Por proposta aprovada
do presidente da Congregação, o diretor Roxo, ficou a
referida comissão a cargo dos professores Nascentes,
Philadelphoe Coutto.
A 4 de fevereiro de 1931, falecia o catedrático de
Inglês, Álvaro Espinheira, antigo e probo substituto da
cadeira por escolha da Congregação, em 1915, e
catedrático em 1920, designado para o Internato, tendo
servido como chefe de disciplina no Externato de 1911 a
1915.
A 25 de março de 1931, em sessão de Congregação,
o professor George Sumner propunha voto de pesar pelo
trespasse de Espinheira, declarando-o "sempre cumpridor
de deveres por modo distinto". Como sucede a professores
ríspidos, nem a todos agradava Álvaro Espinheira, mas
no tocante a assiduidade, a cumprimento exato de
deveres, de palavra, a devotamento, a obrigações de
cidadão e de chefe de família, só merecia louvores. Sabia
mais o "fortiter in re" do que o " suaviter in modo", no
exercício de funções de magistério, exercendo-as, porém,
com escrúpulo, alheio a empenhos de torcer justiça.
A 20 de setembro de 1931, sob a presidência do
Ministro interino da Educação e Saúde Pública, Dr. Belisário
Augusto de Oliveira Penna, no edifício do Externato
realizava-se a colação de grau à turma de bacharéis de
curso concluído em 1930. Na mesma ocasião, foram
distribuídos prémios a alunos que melhores teses haviam
apresentado na aula de Geografia do professor Raja
Gabaglia.
O Colégio festejava os seus, sabendo honrar alheios.
Assim, recebeu em 1931 os delegados do 2
o
Congresso
Feminino, dedicando-lhes sessão especial no Salão Nobre
do Externato, chamando à mesa da solenidade as
delegadas Dras. Bertha Lutz e Cármen Portinho.
No decurso do ano letivo de 1931, realizaram-se na
aula de História Natural do Externato interessantes
ESCRAGNOLLE DÓRIA
preleções da disciplina por alunos, preleções às quais, a
convite do professor Potsch, davam presença vários
professores do Colégio. Tais exercícios, antes inaugurados
nas aulas de História do professor Escragnolle Dória,
serviam de estímulo a alunos, sobrelevando-se entre outras
as preleções da aula de História Natural as das alunas
Oridéa Fernandes, Cybelle Gourlart, Rosa Vianna e dos
alunos Daniel Penna Aarão Reis e Alberto Raja Gabaglia.
Mostravam-se assim os alunos do Colégioo só
empenhados em dar largas de inteligência como a
patentear sentimentos de coração.
Demonstrou estes a turma do 3
o
ano B do Externato
ao falecer colega dos melhores, Newton Costa de Azevedo
Osório, um dos mais apreciados alunos do Colégio; de
morte geralmente pranteada, o que convém mencionar,
para abono do coração e caráter dos discentes do Colégio,
que também prestaram idêntica homenagem por ocasião
do falecimento do distinto quintanista Linneu Bittencourt
Quadros.
Luto também foi para o Colégio em 1931, a 9 de
setembro, o desaparecimento prematuro do professor
Mário Barreto, professor do Colégio Militar, tendo também
lecionado no Internato do Colégio. Continuando nesta
tradição paterna, a de Fausto Barreto, Mário Barreto era
respeitado como filólogo, sempre na estacada para estudar
e defender o lídimo da língua vernácula. Levou-oa morte
quando a vida ainda bastante lhe prometia para lustre de
nome e proveito de estudiosos. Por ocasião do seu
falecimento foram suspensas as aulas do Colégio, além
de outras homenagens ao professor bom e modesto.
A 28 de novembro, deixava a diretoria do Externato,
passando a vice-diretor, o Dr. Delgado de Carvalho,
empossado como diretor o Dr. Henrique de Toledo
Dodsworth, a assumir direção no período rumoroso do
Colégio, o dos exames, prolongado até nova abertura de
aulas pelos exames parcelados e de candidatos estranhos
sujeitos a provas perante professores do Colégio. O labor
sempre o caracterizou, nele de reflexo a atividade do seu
Augusto Patrono, nas funções de semi-secular
desempenho no cargo de primeiro magistrado da Nação
fiel ao "nulla dies sine labor".
Gastão Ruch, Professor Emérito Diretoria Dodsworth Homenagem ao
Professor Nascentes Projeto de Instituto Brasileiro de Filologia Reforma
Francisco Campos Extinção da Cadeira de Instrução Moral e Cívica Ensino de
Línguas Vivas Estrangeiras Auxiliares de Ensino e Provas Parciais Imprensa e
Clubes Colegiais Intercâmbio Pedagógico Embaixadas Intelectuais ao
Estrangeiro Curso Livre de Italiano Movimento da Secretaria, da Tesouraria, da
Biblioteca do Externato Obras no Colégio A Galeria dos Reitores e Diretores
O Gabinete de Educação Serviço de Refeições Disciplina colegial O Clube pela
Paz A Celebração do Centenário do Colégio Homenagem ao Professor Frontin
Criação do Curso Noturno O Professor Garric Curso Livre de Grego Cursos de
Aperfeiçoamento de História Natural e Química Cursos Livres de Canto Orfeônico
Concertos Musicais Educativos Concursos e Cursos Estranhos ao Colégio
Óbitos Inauguração do Busto de Augusto Comte Obras, Reformas e Novas
Instalações Diretoria Raja Gabaglia Homenagem ao Professor Escragnolle Dória
A Emenda n.° 1.845 Projeto de Associação Brasileira de Cultura
Jubilação de Antigos Professores Aumento das Disciplinas da 6
a
Série
Cursos Complementares Novos Professores Óbitos Homenagens Propostas
XIV
O Colégio de 1932 a 1937
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Restauração das Cadeiras de História do Brasil, Instrução Moral e Cívica e Direito
Usual Concurso Novos Óbitos Centenário Coqueiro O Conselho Nacional de
Educação e seu Plano Pedagógico Admissão de Professores Contratados no
Colégio e a Maneira de Regulá-la A Circular 1.200 de 1
o
de Junho de 1937
Escragnolle Dória Professor Emérito Óbito do Professor Badaró
O Professor Dodsworth Interventor no Distrito Federal
A Celebração do 1
o
Centenário do Colégio.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Wf em antes da abertura do ano letivo de 1932, a 16 de
ILJ janeiro, reunia-se a Congregação do Colégio, em
sessão solene, a da colação de grau aos bacharéis em
Ciências e Letras de curso findo, em 1931, curso enlutado
pela perda do probo professor Álvaro Espinheira, falecido
a 4 de fevereiro de 1931.
A 30 de janeiro, realizava a Congregação nova
sessão.
Dedicou-a ao professor Gastão Mathias Ruch
Sturzenecker, havia pouco jubilado, a 5 de janeiro,
catedrático de Francês do Externato.
Oraram o professor Delpech, salientando a nobreza
da vida de magistério do homenageado; o professor
Nascentes, afirmando o amor de Ruch pelo ensino; o
professor Accioli interpretando sentimentos próprios e dos
funcionários administrativos do Colégio, bem como os dos
professores de Línguas Vivas Estrangeiras; o professor
Raja Gabaglia, traduzindo a emoção dos professores ex-
alunos de Gastão Ruch; o professor Sumner, louvando em
nome do corpo discente, por último, o professor
Przewodowski, prestando homenagem pelos livres-
docentes.
Em seguida, a Congregação, por unanimidade,
aprovava moção subscrita por 23 professores.
Conferia ao colega jubilado o título de Professor
Emérito, atendendo a serviços relevantes prestados ao
Ensino Secundário durante mais de 30 anos com a maior
assiduidade e sobretudo interesse.
Na mesma sessão de homenagem a Ruch, o
professor Roxo fundamentou duas propostas, uma relativa
ao professor Delgado de Carvalho, pela sua atuação na
diretoria do Externato, outra de congratulação com o
Governo Provisório pela escolha do professor Dodsworth
para diretor do Externato, assinalando o esforço do
nomeado em favor do Colégio, na qualidade de deputado
federal.
Nova homenagem, esta porém no fim do ano letivo
de 1932, prestaria a Congregação.
Distinguiu um de seus membros, o professor
Nascentes, por motivo da publicação de notável e útil
Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, por mestres
apreciada a obra no Brasil e no estrangeiro.
Na sessão de homenagem ao professor Nascentes,
a 22 de dezembro de 1932, orou o professor Oiticica.
Defendeu então a ideia de conseguir o Colégio dos
poderes públicos a criação do Instituto Brasileiro de
Filologia.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Independente ou agregado ao Museu Nacional, teria
por diretor o professor Nascentes, digno da honra por títulos
de honestidade, esforço e competência.
Agradecendo a homenagem da Congregação, frisou
o professor Nascentes que "a publicação do dicionário de
sua lavra interessavao tanto à pessoa do autor como à
corporação docente do Colégio".
"Apagado o nome do autor, cumpria elevar o do Pedro
Segundo, prestando-lhe assim o mais meritório dos
serviços."
No decurso do ano letivo de 1932, elevar-se-ia,
sobremaneira, o número de alunos do Externato, perto de
500.
Foram divididos em turmas, no 1 ° ano obedecendo-
se ao critério da média dos graus nos exames de admissão
e nas demais séries, observada quanto possível a
classificação de ano anterior.
Assinalar-se-ia o ano letivo de 1932 no Colégio e no
Ensino Secundário brasileiro pelo começo de execução de
reforma daquele ensino.
Triunfante a revolução de 1930, o Chefe do Governo
Provisório, o 2
o
da República, Dr. Getúlio Vargas, expediu
o Decreto 21.241, de 4 de abril de 1932.
Referendou-o o Ministro da Educação e da Saúde
Pública, Dr. Francisco Luiz da Silva Campos, expedido
aquele Decreto para consolidação das disposições sobre
o Ensino Secundário entre outras providências.
Pelo citado Decreto, o Ensino Secundário,
oficialmente reconhecido, seria ministrado no Colégio de
Pedro Segundo e em estabelecimentos sob regime de
inspeção oficial.
Compreendiam dois cursos seriados: um
fundamental, de 5 anos, e outro complementar de 2, o
segundo curso obrigatório para os candidatos à matrícula
em determinados institutos de ensino superior,
discriminadas as disciplinas necessárias aos candidatos
à matrícula em cada instituto de ensino.
Poderia o curso complementar ser organizado no
Colégio de Pedro Segundo.
Os catedráticos do Pedro Segundo deveriam ser
nomeados por Decreto, mediante concursos de provas e
de títulos, escolhidos entre diplomados pela Faculdade de
Educação, Ciências e Letras.
Enquantoo houvesse tais diplomas, o cargo de
professor do Pedro Segundo seria provido por concurso,
nas condições estabelecidas para a escolha dos
catedráticos de ensino superior.
Indicaria o Conselho Nacional de Educação três
membros da comissão examinadora do concurso, porém,
estranhos à Congregação do Colégio.
O professor seria nomeado por 10 anos. Findo o
decénio, caso fosse o professor candidato a recondução
no cargo, sujeitar-se-ia a novo concurso, ao qual
concorreria conjuntamente com professores do
estabelecimento de Ensino Secundário nomeados por
concurso.
o sendo o professor nomeado por 10 anos
candidato à recondução, o concurso seria de títulos e
provas.
Para o ensino de Línguas Vivas no Colégio haveria
professores contratados, auxiliados por professores
nacionais ou estrangeiros admitidos anualmente por
portaria de contrato, tendo a seu cargo pequenas turmas,
no máximo de 20 alunos.
Contratar-se-iam serviços de professores de Música
e Educação Física.
O candidato a exame de admissão no Pedro Segundo
deveria provar, por certidão de registro civil, ter a idade de
11 anos ou completado até 30 de junho do ano em que
requeresse inscrição.
Seriam nulos os exames de admissão prestados na
mesma época em mais de um estabelecimento de Ensino
Secundário, válido o exame de admissão feito no Pedro
Segundo para a matrícula no 1
o
ano em qualquer outro
estabelecimento de citado grau.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
No Pedro Segundo, a banca examinadora de
admissão constaria de três professores do Colégio
designados pelo diretor de cada seção.
Processada a matrícula no curso secundário na
primeira quinzena de março, o ano letivo começaria a 15
de março para terminar a 30 de novembro, salvo caso de
força maior, mediante autorização do Ministro da Educação.
Haveria férias escolares nos meses de janeiro,
fevereiro até a primeira quinzena de março inclusive, tido
por período de férias a segunda quinzena de junho.
Cada aula duraria 50 minutos, obrigatória a
frequência às aulas,o podendo prestar exame, em
primeira época, o aluno de frequência inferior a
Z
A da
totalidade das aulas obrigatórias da respectiva série.
Constariam os trabalhos escolares no ano letivo de
arguições, trabalhos práticos, provas escritas parciais,
quatro, para cada disciplina. A tais provas deveriam ser
atribuídas notas, graduadas de cinco em cinco pontos, em
maio, junho, setembro e novembro.
Entrando em minudentes providências sobre as
provas parciais, isentas de segunda chamada, o Decreto
21.241 estabelecia que ao aluno faltoso a uma prova parcial
se atribuísse a nota zero, quaisquer que fossem os motivos
da ausência.
Determinou o Decreto 21.241 as condições para ser
o aluno secundário aprovado na última série do curso ou
promoção em qualquer das duas séries.
Extinguiu o Decreto 21.241 a Cadeira de Instrução
Moral e Cívica de lições a princípio ministradas no 1
o
ano
e depois no 5
o
ano do curso ginasial.
Nomeado para reger interinamente aquela Cadeira,
o Cónego, depois Monsenhor, Dr. Francisco da Gama Mac
Dowell, por Decreto de 9 de julho de 1925, desempenhou
ele funções até ser exonerado, por extinção da Cadeira,
pelo Decreto de 27 de julho de 1932.
Tal ocorria, quando o ensino de Línguas Vivas
Estrangeiras, instituído no Colégio pelo Método Direto, com
caráter exclusivamente prático, carecia de instruções.
Formularam-nas os professores Antenor Nascentes,
Adriano Delpech, Delgado de Carvalho e o dirigente do
ensino de Francês, Dr. António Carneiro Leão, aprovadas
as mencionadas instruções pelo Ministro da Educação e
Saúde Pública.
Determinaram as instruções a finalidade do ensino
direto do Francês, do Inglês e do Alemão no Colégio. Tal
ensino seria ministrado em turmas de 15 alunos, fixados
o horário das aulas, estabelecido o processo dos exames
finais de Línguas Vivas por meio de provas escritas e orais.
Foi o ensino pelo Método Direto iniciado no ano letivo
de 1932 somente no 1
o
e 2
o
ano,o podendo principiar o
curso de Alemão, visto os alunos da 3
a
e 4
a
séries
estudantes daquela língua estarem sujeitos a regime
anterior.
A fins de estímulo, resolveu o diretor Dodsworth
aproveitar como auxiliares de ensino ex-alunos do Colégio.
Escolheu os mais distintos por aplicação e conduta,
favorecendo assim estreia de magistério a elementos de
boa recomendação para o Colégio.
Em 1932, o regime das provas parciais entrou a ser
aplicado a todas as séries do curso, no termo do ano letivo
processada a promoção dos alunos do Colégio de acordo
com os dos institutos de ensino superior, secundário,
comercial e técnico profissional.
Feita nos termos do Decreto 22.167 de 5 de
dezembro de 1932, a promoção era obtida por média
aritmética superior ou igual a 40 pontos no cômputo das
disciplinas das séries nas quais se achassem os alunos
regularmente matriculados.
No ano letivo de 1932, procurou a diretoria do
Externato animar o gosto de alunos por questões
intelectuais. Fundou o corpo discente vários periódicos,
nascidas quatro associações colegiais: Academia de
História, Academia de Sciencias, Lettras e Artes, o Grémio
Scientifico e Litterario e o Club de Química, achando-se
em projeto a Academia dos Dez.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
O Clube de Química reunia-se na sala de preleções
do gabinete da disciplina, sala por voto unânime da
Congregação denominada Oliveira de Menezes em
lembrança do primeiro professor da Cadeira, separada da
de Física, Dr. Augusto Xavier Oliveira de Menezes.
Grande atividade desenvolveu a Academia de
História, fundada por iniciativa do professor Serrano.
Recebeu estatutos elaborados pelos 5
o
anistas Ascanio
Pedro de Farias, António Jorge Ananias, Jorge Américo
de Araújo. Octávio Christo Miscow, Pedro Américo de
Araújo, Renée Nogueira e René Pereira Alves.
A par da atividade das associações colegiais de
cultura surgiam vários periódicos redigidos por alunos.
Traziam variados nomes: Pronome, O Atalaia, O Arauto,
Sciencias e Lettras, Atheneu e Noticias, este último
subvencionado pela administração do Colégio, no intuito
de trazer o corpo discente bem informado das medidas
referentes ao ensino.
Assim, os alunos, sem dispêndio, tomavam
conhecimento fidedigno dos sucessos da vida escolar.
Nas modestas lides jornalísticas do Colégio
adestravam-se muitos alunos, entre outros Júlio Salek,
Sérgio Frazão, Ary da Matta, Alziro Zarur, Carmindo Carneiro
da Rocha, Eremildo Vianna, Sylvio e Hamilton Elia, Daniel
Aarão Reis, Annibal Barcellos, Carlos Brazil de Araújo,
Hugo Kammseter.
Era redator chefe do Noticiário, órgão semi-oficial
do Colégio, aluno dos melhores, pela aplicação,
procedimento e cultura: Alziro Zarur.
Por sua parte, o Decreto 21.241 de 4 de abril de
1932 procurava apegar ao Colégio os alunos e os pais
responsáveis por eles, e também nos estabelecimentos
de Ensino Secundário sob inspeção. Haveria reuniões de
pais de alunos ou responsáveis por eles, no intuito de
desenvolver em colaboração harmónica a ação educativa
da escola.
Por seu lado, a diretoria do Externato buscava facilitar
o intercâmbio de correspondência entre estudantes
nacionais e estrangeiros, recebendo destes mensagens
destinadas àqueles. Assim acontecia com a dos alunos
do Liceu José Henrique Rodo, em Montevideu, do Liceu
Normal Pedro Nunes, de Lisboa, do Liceu João de Deus,
do Porto, e de outras instituições.
Aos exercícios intelectuais praticados por uns,
juntavam-se os esportivos do agrado, força e destreza de
outros, para tanto construída no pátio interno do Externato
uma quadra destinada a jogos de basquetebol, realizando-
se ali vários páreos entre alunos do Colégio, e discentes
de vários estabelecimentos de Ensino Secundário,
sobrelevado o Colégio Militar.
Bacharéis ou alunos do Colégio participavam de
manifestações de vida intelectual, como a do concurso
de oratória, estabelecido pelo Diretório Central Académico,
e favorecido pela Reitoria da Universidade do Rio de
Janeiro, para escolha da embaixada académica, retribuindo
em Portugal a visita de estudantes lusitanos ao Rio de
Janeiro.
Triunfou no concurso o académico de Direito,
bacharel do Externato, José Guilherme de Araújo Jorge,
para dar cabal desempenho ao mandato, muito apreciada
em Portugal a eloquência do jovem bacharel.
Procurando conhecer o país natal, uma embaixada
de 19 alunos quinto e quartanistas do Externato, visitaram
em excursão educativa, sob a inspeção do secretario Dr.
Octacílio Álvares Pereira, as cidades de Juiz de Fora e
Ouro Preto. Sabia-se a primeira digna de nota pelo
desenvolvimento industrial, merecendo ser chamada a
Manchester brasileira, a segunda cidade cheia de
recordações históricas e coloniais constituindo verdadeiro
museu au aberto, de lições patrióticas.
Nada disso impedia no Colégio zelo pela regularidade
do ensino.
No Externato, evitava a diretoria a coincidência de
duas aulas de Línguas Vivas no mesmo dia, estabelecia
também a necessária alternância entre as demais aulas,
acomodadas em 1932 nada menos de 28 turmas no limite
do horário.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
No Externato, funcionou, com a devida autorização
ministerial, um curso livre de literatura italiana, sobretudo
medieval, ministrado por meio de conferências pelo
professor Guido Vitalleti.
O curso, inteiramente gratuito, era útil a estudantes
e à classe intelectual, sendo patrocinado pelo Governo
Italiano, difundindo e ampliando relações de cultura ítalo-
brasileira.
Realizadas no decurso do ano letivo de 1932, duas
vezes por semana, as conferências Vitalleti atraíram cerca
de 80 alunos e angariaram seletos auditórios de pessoas
gradas.
Sempre onerada de serviços, a última organização
deles datando de 1927, a Secretaria do Externato, em 1932,
sofreu reorganização dividida em seções: de Ensino, de
Contabilidade, de Protocolo, Informações e Arquivos e de
Expediente.
Nas disposições gerais da remodelação da
Secretaria, remodelação realizada à vista de exposição de
motivos do Secretário, a diretoria do Externato buscava
facilitar o serviço, presidido pelo Secretário, com a
obrigação de atender este diariamente, das 11 às 15 horas,
as pessoas que o procurassem em objeto de serviço,
encarregados vários amanuenses da chefia das seções
cujo expediente seria despachado com o secretário, o
despacho deste com o diretor em hora fixada pelo último.
Para simplificação do serviço da Secretaria, o diretor
Dodsworth mandava organizar um fichário, para
assentamentos relativos a alunos, destinados a fichas,
ano inteiro, a permitir de pronto conhecer a vida escolar
de cada estudante.
Outro órgão da maior importância no Colégio foi
sempre a Tesouraria. De 1925 a 1931, funcionou no
Departamento do Ensino, a cargo do funcionário exemplar,
o Dr. Mário Bevilacqua.
Transferida a Tesouraria para o Colégio, aí recebeu
instruções permitindo a eficiência de serviços,
apresentando em 1932, receita superior a 800:000$000 e
saldo aproximado de 160:000$000.
Balanceada a Tesouraria em 1932, como de hábito,
nela tudo foi encontrado na mais perfeita ordem.
Quanto ao movimento, apresentou igualmente a
Biblioteca do Externato, em 1932, frequência crescente, a
de perto de 6.000 leitores consultando 5.849 obras em
várias línguas.
A Biblioteca do Externato, como as demais
dependências do edifício, ressentia-se da insuficiência do
prédio, este longe de apresentar requisitos necessários
ao cabal preenchimento de sua natureza e de seus fins.
De ano a ano, apesar de por muito combatido, o Colégio
via crescer matrícula de discentes, prova de favor público,
malgrado defeitos atribuídos à instituição.
Aumenta aqui, diminui ali, adapta além, continuou
o Colégio, nas suas duas seções, a abrigar elevado número
de alunos, impossível satisfazer a inclusão de muitos e
muitos aprovados nos exames de admissão com graus
menos elevados.
Para acudir a necessidades, julgadas prementes, os
edifícios do Externato e do Internato viviam por assim dizer
em obras.
Assim, em 1932, a diretoria do Externato tratou de
dotar duas salas ao ensino eficiente do Desenho,o só
lhes melhorando condições de luz, como permitindo melhor
colocação de alunos, facilitando trabalho aos professores.
Aperfeiçoados os gabinetes de diversas disciplinas,
serviram a alunos de outros estabelecimentos secundários.
Foram franqueados, por exemplo, os gabinetes de Física
e Química, mediante solicitação, às alunas do último ano
do Externato Nossa Senhora de Sião, sob a fiscalização
de professora do respectivo Colégio.
Entre melhoramentos materiais do Externato, um
avultou, em significação moral elevada, a criação de
galeria, instalada no gabinete do Diretor, apresentando os
retratos dos antigos reitores e diretores do Externato.
Em colocação de honra passaram a figura na galeria
as efígies de D. Pedro II, o inexcedível patrono do Colégio,
e o de Bernardo de Vasconcellos, o zeloso Ministro do
Império de tantos serviços na fundação da ilustre Casa.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Impossível foi obter na ocasião os retratos dos três
primeiros reitores do Colégio, a saber frei António de
Arrábida, Bispo de Anemuria (1838-1839), Dr. Joaquim
Caetano da Silva (1839-1851) e Capitâo-de-Mar-e-Guerra
José de Souza Corrêa (1851-1855).
Ficaram no momento da inauguração na Galeria de
Honra do Externato os retratos de cinco dos reitores:
Dr. Manoel Pacheco da Silva (Barão de Pacheco)
1857-1872
Dr. Monsenhor José Joaquim da Fonseca Lima
1872-1880
Dr. José Joaquim do Carmo
1880-1888
Monsenhor Luiz Raymundo da Silva Brito
1888-1892
José Veríssimo Dias de Mattos
1892-1898
Ainda na estreia da Galeria de Honra do Externato
figuravam os retratos dos seguintes diretores:
Dr. Francisco Carlos da Silva Cabrita
1898-1903
Dr. José Gil Castello Branco
1903-1905
Dr. João António Coqueiro
1905-1910
Dr. José Cândido de Albuquerque Mello Mattos
1910-1912
Dr. Eugénio de Barros Raja Gabaglia
1912-1914
Dr. Augusto Daniel de Araújo Lima
1914-1917
Dr. Carlos Maximiliano Pimenta de Laet
1917-1925
Dr. Euclides de Medeiros Guimarães Roxo
1925-1930
Dr. Carlos Delgado de Carvalho
1930-1931
Instituído no Externato um Gabinete de Educação,
foi ele, por aviso de 13 de maio de 1932, incumbido de
serviços de várias ordens: inspeção do regime alimentar
de discentes, organização de gráfico fornecendo à primeira
vista o aspecto morfofisiológico de aluno por aluno.
Realizaram-se no Gabinete de Educação palestras
semanais sobre questões de higiene, palestras por espaço
de quarenta minutos, com projeções luminosas quanto
possível, tudo sem perturbar funcionamento de aulas. No
Gabinete de Educação, dirigido pelo vice-diretor do
Externato, das referidas palestras ficou encarregado o
diretor do serviço médico do Gabinete, Dr. Savino Gasparini,
subinspetor sanitário rural, zeloso funcionário, auxiliado pelo
inspetor de alunos, de excelente nota, António da Rocha
Nogueira, em comissão no Gabinete.
Instituindo palestras sobre questões de higiene, de
acordo com um programa de 30 lições, o Dr. Gasparini
com elas prestava serviços ao desenvolvimento da cultura
no Colégio, modelo dos estabelecimentos de Ensino
Secundário. Frisava o Dr. Gasparini a ação geral das
grandes endemias nacionais, a enfraquecerem a raça.
Constituíam-se, pois, aqueles alunos, bem
instruídos, ótimos propagandistas da higiene no meio da
população, sobretudo nas classes menos favorecidas de
pecúnia.
Assistiriam às lições do Gabinete de Educação
apenas alunos do 4
o
, 5
o
e 6
o
anos, já em idade de recebê-
las com proveito. Sobre cada ponto de higiene individual
seriam formulados testes.
Em 1932, anexo ao Gabinete de Educação, funcionou
serviço de refeições, especialmente destinado ao pessoal
docente e administrativo do Externato, depois ampliado
este serviço em proveito de discentes, por D. Leopoldina
de Maya Monteiro, inspetora de alunas, com todos os
requisitos para o delicado cargo, do nascimento às
qualidades pessoais.
Do corpo disciplinar do Externato desaparecia, a 6
de julho de 1932, o inspetor de alunos Jurandyr Veiga,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
falecido em Lavras, Minas, aos 29 anos, quando havia
ainda muito a esperar de sua vida.
Tanto valia o desaparecido que a Diretoria do
Externato o declarou "um dos bons elementos do corpo
disciplinar, gozando gerais simpatias de seus superiores,
colegas e inspecionados".
Apontava a Diretoria do Externato o inspetor Veiga
como um dos bons elementos da disciplina, mas tratava
também de eliminar discentes incompatíveis com a
regularidade da vida colegial. Para tanto, a Congregação
elegia os professores Gabaglia, Roxo e Nascentes,
incumbindo-os de procederem ao devido exame da
situação dos indesejáveis, inclusive os envolvidos em
inquéritos e com responsabilidade comprovada.
O cuidado da disciplina, por parte da Diretoria do
Externato, era contínuo, pois ao encerramento do ano letivo
no Colégio, sempre se seguiam exames parcelados ou de
candidatos estranhos, determinando afluência de pessoas
ao edifício do Externato e ao seu estreito âmbito.
No Colégio, a disciplina era coadjuvada, nas suas
duas seções, pela instrução militar.
Conduz esta a hábitos de obediência e subordinação,
existente aquela instrução obrigatória desde maio de 1908.
No Externatoo pôde, dada a insuficiência de local
apropriado, ser ministrada no próprio edifício. Solicitou o
1 ° sargento instrutor Arlindo Gonçalves Raposo permissão
a quem de direito para instruir alunos no pátio do Quartel-
General, no Campo de Instrução da Vila Militar e no Estande
de Tiro na mesma Vila.
Em 1932, por ordem superior,o havendo exames
para encerramento de instrução militar foram os alunos
do Colégio, em virtude de Aviso Ministerial, considerados
reservistas de segunda categoria.
Ao lado da preparação para a guerra e seus
imperiosos flagelos, a preparação para a paz e seus
fecundos benefícios.
Um grupo de professores e alunos do Colégio, a cuja
testa se colocou o secretário do Externato, Dr. Octacílio
Álvares Pereira, promoveu a fundação de um "Clube pela
Paz", sob a égide de Alexandre de Gusmão, o santista de
tantas colaborações no reinado de D. João V, colocado o
clube sob os auspícios da Fundação Carnegie, pela Paz
Internacional.
Encerrava o ano letivo de 1932, sucesso lutuoso qual
o do falecimento de antigo vice-diretor do Internato, Nestor
Victor dos Santos, à memória do qual a Congregação
consagrou voto de pesar.
O ano letivo de 1933, em período de férias,
assinalou-se pela colação de grau à turma de bacharéis
em ciências e letras de 1932, colação realizada em sessão
solene da Congregação a 4 de fevereiro.
Ainda em período de férias, a 25 de março, abriram-
se inscrições no Colégio para os concursos às cadeiras
vagas de Português, Latim, Matemática e Química.
Nas primeiras sessões da Congregação, em 1933,
começou a esboçar-se o desejo de comemorar
condignamente o centenário da fundação do Colégio, a 2
de dezembro de 1937. Na sessão de 18 de julho cogitou o
Corpo Docente de medidas tendentes à realização daquele
fim.
O presidente da Congregação e diretor do Internato,
o professor Roxo, aventou a ideia de ser solicitado ao
Governo a construção de novos edifícios para
funcionamento do Externato e do Internato, realizando-se
igualmente na data centenária um Congresso Internacional
de Ensino Secundário.
Propôs o professor Serrano a nomeação de comissão
de professores para elaborar projeto de festas
comemorativas.
Autorizou a Congregação ao seu presidente a
designá-la, nomeando então o professor Roxo, comissão
composta pelos professores Antenor Nascentes, Jonathas
Serrano, Henrique Dodsworth, Raja Gabaglia, Cecil Thiré,
João Baptista de Mello e Souza e Escragnolle Dória.
A 10 de agosto de 1933, reunia-se a Congregação
em sessão solene, la prestar homenagem a figura
ESCRAGNOLLE DÓRIA
expressiva do corpo docente, o professor André Gustavo
Paulo de Frontin, falecido a 15 de fevereiro de 1933. Entrara
para o Colégio em 1880, provido por concurso no cargo de
substituto de Filosofia, cargo exercido até 1890, então
nomeado lente catedrático de Mecânica e Astronomia do
Externato até disponibilidade em 1911. por extinção da
Cadeira.
Lamentando a perda do professor Frontin, a
Congregação realizou, em honra de sua memória, sessão
solene. Oraram nela os professores Roxo, Accioli,
Nascentes, este como discípulo de Frontin, Gabaglia e
Przedowoski, este por parte dos docentes-livres.
Falecendo, a 2 de outubro de 1933, o chefe da
disciplina do Internato, Octávio Severo Castão, a 23 de
outubro de 1933 via-se ainda o Internato privado dos
serviços de seu prestimoso ecónomo João Guilherme de
Seixas.
A 25 de novembro de 1933 reunia-se a Congregação
em caráter ainda solene, desta vez festivo. Tratava-se da
posse de novo diretor do Externato, o Dr. Fernando António
Raja Gabaglia, em substituição ao Dr. Henrique de Toledo
Dodsworth, exonerado a pedido, tendo a 16 de novembro
transmitido a direção do Externato ao vice-diretor Delgado
de Carvalho.
Neto de antigo reitor e filho de antigo professor e
diretor do Colégio, ao tomar posse, propôs-se o Dr. Raja
Gabaglia a continuar lembradas carreiras de avô e pai na
direção e professorado da Casa Ilustre.
Revestiu-se a posse do novo diretor de grande e
jubilosa solenidade, felicitando o recém-nomeado
administrador o professor Delgado de Carvalho em nome
da Diretoria, o professor Jonathas Serrano pela
Congregação, o Dr. Octacílio Pereira, por delegação do
corpo administrativo, e o bacharel Carlos Brasil de Araújo,
por parte de discentes.
Em sessão de 18 de dezembro de 1933, a
Congregação tomava conhecimento de requerimento
firmado por 36 alunos representantes da turma B do 5
o
ano. Pediam vénia para homenagear o professor
Escragnolle Dória, o qual por espaço de lustro lecionara a
turma B na mesma sala 18. Segundo o desejo da turma,
tal homenagem consistiria na colocação na referida sala
de medalhão comemorativo, conferido à sala o nome do
professor Escragnolle Dória.
Dando conhecimento ao corpo Congregado, da
petição a ele dirigida, o professor Roxo, presidente da
Congregação, sugeriu a ideia de associar-se a mesma às
homenagens solicitadas; proposta aprovada sob
aclamação, segundo ata da Congregação.
Julgando interpretar sentimento de pares, o professor
Roxo designou os professores Coutto, Serrano e Mello e
Souza para no dia da homenagem orarem, o primeiro em
nome da Congregação, o segundo em nome do Externato
e o terceiro em nome do Internato. Generosamente, o
professor Mello e Souza manifestou satisfação em
associar-se à homenagem projetada e o professor Serrano
agradeceu à Congregação a honra de sua designação.
A 24 de dezembro de 1933, realizava-se, na sala
18, a homenagem ao professor Escragnolle Dória, já na
sala figurando o nome dele, bem como medalhão com o
seu retrato, obra artística do laureado escultor Benevenuto
Berna, por vezes professor suplementar de Desenho no
Externato, o dito medalhão materialmente adquirido por
subscrição entre alunos.
Por ocasião da solenidade, oraram os professores
Roxo, Gabaglia, Serrano e Mello e Souza, em nome do
Colégio, o Dr. Octacílio Pereira, em nome do corpo
administrativo, e os alunos Dagmar Barbosa Pereira Filho,
Ary da Matta e Júlio Salek, em nome do corpo discente,
com a maior boa vontade associado à manifestação o
diretor do Externato, Dr. Raja Gabaglia.
Ao Externato, pela sua natureza afluíam cada vez
mais candidatos à matrícula. Superlotados os cursos
matutino e vespertino do Externato foi nele criado, em 1933,
terceiro curso, e noturno. Para matrícula em tal turno só
houve uma dificuldade, a de atender à cópia das
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
pretensões, para tanto em parte contribuindo a
circunstância de ser o Colégio o estabelecimento de Ensino
Secundário cobrando menores taxas.
Já em 1932, por iniciativa de professor do Internato,
Doutor Honório Sylvestre, fora proposta a criação do
referido curso, instituídoo sem estudos preliminares,
sobretudo pelo lado financeiro, de modo ao
sobrecarregar os cofres públicos. Submetido, porém, em
1933, como de costume, o orçamento interno do Colégio
à aprovação do Ministro da Educação e Saúde Pública,
foi a este presente o projeto da criação do curso noturno.
Aprovou-a, o Ministro por despacho de 3 de junho de 1933,
atento o perfeito equilíbrio entre receita e despesa,
assegurando vida própria ao dito curso.
A principio foi pensamento da diretoria do Externato
iniciar o curso noturno somente pela 1
a
série. Seriam nele
matriculados quantos candidatos tivessem logrado
aprovação nos exames de admissão do Colégio, sem
possibilidade de matricula nos cursos matutino e vespertino
por falta de vagas. Classificados entre os graus 67 e 50
nos referidos exames, havia nada menos de 300 candidatos
à espera de ensino.
A requerimento, porém, de estudantes impedidos
de frequentar o Colégio no correr do dia, por empregos
públicos ou obrigações particulares, ficou criado um curso
destinado a candidatos à habilitação na 3
a
, 4
a
e 5
a
séries,
na conformidade do artigo 100 do Decreto 21.241, de 4 de
abril de 1932, seus números e parágrafos.
Nos três turnos, matutino, vespertino e noturno do
Externato, achou-se ministrado ensino, em 1933, a perto
de 2.000 alunos distribuídos por 37 turmas.
Auxiliando o ensino, pelo alargar de cultura,
funcionavam no Externato cursos livres. Assim o de
Italiano a cargo do professor José Citanna, da Real
Universidade de Milão, coincidindo com a abertura do
curso, a 10 de junho de 1933, inauguração de bronze
artístico, oferta do Governo Italiano ao Colégio,
comparecendo à solenidade o Embaixador da Itália,
Roberto Cantaluppo.
Funcionou igualmente no Externato, em 1933, um
curso livre de Literatura Francesa, por meio de conferências
feitas pelo professor Roberto Garric, da Sorbonne, curso
inaugurado com a presença do ilustre Embaixador da
França, Luiz Hermitte.
Interessou-se o professor Garric pelo ensino de
Línguas Vivas no Colégio, assistindo às aulas de Francês
ministradas pelo Método Direto.
Devido ao professor José Oiticica foi instituído, em
1933, um curso livre de Grego, de caráter inteiramente
gratuito e regido por aquele professor. Logo se inscreveram
no curso 126 pessoas, entre professores, funcionários e
alunos da Casa, além de académicos de diversos cursos
superiores.
Continuaram em funcionamento cursos de
aperfeiçoamento de História Natural e Química, destinados
a alunos da 4
a
e da 5
a
séries, cursos promovidos e mantidos
por iniciativa e presença dos professores Waldemiro Potsch
e Luiz Pinheiro Guimarães.
Funcionaram igualmente no Externato, em 1933,
cursos livres de Música e Canto Orfeônico, instituído o
ensino de Música, nas três primeiras séries do curso
ginasial.
Voltara-se assim, por disposição de decreto, à
tradição do Colégio, onde o ensino de Música começou a
vigorar desde fundação em 1837.
No começo do ano letivo de 1933, independente de
remuneração, a diretoria do Externato aceitou o
oferecimento de duas professoras de Música, D. Maria
Elisa Leite de Freitas Lima e Francisca Miranda Freitas.
Pediram e obtiveram autorização para funcionamento de
cursos livres de Música e Canto Orfeônico do Externato,
onde o professor José Oiticica já iniciara algumas aulas
daquele Canto, compondo até hino para o Colégio.
Em breve o pequeno, mas afinado, Coro Orfeônico
Pedro II, com 40 vozes, 25 femininas e 15 masculinas,
classificadas de acordo com o timbre, a afinação e a
extensão, pôde participar de solenidades da Casa, dirigido
o Coro pela professora Maria Elisa Leite de Freitas Lima.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
O ensino da Música no Colégio, em 1933, foi
completado por concertos educativos organizados pelo
professor José Oiticica e a cargo de duas distintas artistas
de piano e de canto, a senhorita Dora Bevilacqua e D.
Rosetta da Costa Pinto.
No correr dos concertos, o professor Oiticica
incumbia-se de explicar ao auditório, sempre numeroso,
os números dos programas, comentando ligeiramente a
vida e a obra dos músicos naqueles apresentados.
Realizavam-se os concertos educativos no Salão
Nobre do Externato. Aí também se reunia ainda o Club
pela Paz Alexandre de Gusmão, presidido pelo secretário
do Externato, Doutor Octacílio Álvares Pereira.
Por iniciativa de bacharéis e bacharelandos do
Colégio, aqueles da turma de 1929, estes da turma de
1933, foi inaugurado numa das salas do Externato,
previamente designada pela Diretoria, o busto de Augusto
Comte, presidido o ato pelo Dr. Octacílio Pereira, ouvidos
vários oradores.
Sem mais alteração, continuaram os serviços de
ordem diversa do Colégio. No Externato, anexo ao Gabinete
de Educação e por sua vez anexo ao serviço de refeições,
começou a funcionar, em 1933, serviço da natureza do
primeiro. Destinava-se a fornecer ligeiras refeições aos
alunos, entregue o serviço à exploração de concessionário
de serviços idênticos na Escola Politécnica e no Instituto
de Educação, antiga Escola Normal.
Insuficiente mostrava-se o Externato para os
próprios interesses do Colégio. Ainda assim, além de dar
sede a exames estranhos à Casa, nunca recusou auxiliar
com a maior boa vontade, o bem público que serve no
Ensino Secundário. Cedeu o Externato várias salas para
realização de cursos e concursos alheios ao Colégio.
Foram cedidas, por exemplo, em 1932, por um trimestre,
3 salas para funcionamento de Cursos de Emergência
criados pelo Departamento de Correios e Telégrafos, então
a cargo de antigo aluno do Pedro Segundo, o Dr. Trajano
Furtado Reis.
Orientados tais cursos pelo Dr. João Pinto Pessoa,
no fim de missão, dirigiu este agradecimento à Diretoria
do Externato, louvando funcionários do Colégio que, para
regularidade dos Cursos de Emergência, haviam trabalhado
fora de horas de expediente.
Devendo, em fins de 1933, realizar-se na Faculdade
de Direito da Universidade do Rio de Janeiro um concurso
para professor catedrático foi o mesmo certame
processado no Salão Nobre do Externato, para tanto
oferecido, poro dispor a Faculdade de Direito de local
amplo onde se realizassem a série de provas destinadas
a prover-lhe cátedra. Materialmente, zelando pelo bom
nome do Colégio, já na limpeza do edifício durante o ano
letivo, já em ocasiões extraordinárias, como as dos cursos
e concursos aos quais foi feito referência, os serventes
do Externato na modéstia de funções procuravam
coadjuvar, deixando honrada memória quando colhidos
pela morte.
Por isto, a diretoria, o corpo docente e o
administrativo manifestaram especial pesar ao
desaparecer do corpo de serventes do Externato um dos
mais antigos servidores da classe, Manoel José da Silva.
Mias de trinta anos de serviços, assiduidade, dedicação,
respeito a superiores e a ordens, popularidade no corpo
discente, dão-lhe direito a menção de estímulo e
homenagem à classe, tanto a justificar o conceito da fábula
de La Fontaine:
On a souvent besoin
D un plus petit que soi
Inibido, em razão de enfermidade, de prestar serviços
como servente, desde 1927, Manoel José da Silva
desempenhou o cargo de ajudante de porteiro, sempre
demonstrando o mesmo zelo e dedicação até o último
alento.
Nos estabelecimentos e qualquer ordem, pequenos
e pequenas coisasm grande importância.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837- I937
Em 1933, sofreu reforma de vulto o mobiliário
escolar. Instalavam-se nas salas de aulas 100 carteiras
de imbuia compensada, de tipo pedagógico e higiénico
moderno, adquiridas mesas e poltronas de fabricação
nacional destinadas a professores.
Do mobiliário antigo foram cedidos ao Internato
carteiras, mesas e armários melhor conservados, as
demais peças sujeitas a concorrência pública de bom
resultado pecuniário.
Acudiram à licitação numerosos pretendentes, entre
os quais diretores de escolas, professores particulares e
representantes de prefeituras de Estados vizinhos do
Distrito Federal.
No plano de reforma do mobiliário, ficou abrangida
a Secretaria do Externato, os seus móveis pedindo
substituição.
Foram melhoradas as condições materiais da
mesma Secretaria pela ampliação de salas, instalada
convenientemente a movimentada seção do Protocolo,
sempre cheia de interesses e de interessados na solução
daqueles, e poro pouco tempo, a seção confiada ao
dedicado servente António Leite, habilitando-se a estudos
no Colégio no esforço de louváveis aspirações.
Mobiliário reformado eo incessantemente
cuidado, mobiliário em breve estragado, mormente em
casa de ensino, onde nem todos os discentes zelam
propriedade comum.
Compreendendo-o, a diretoria do Externato mandara
construir um galpão nos fundos do edifício, ai instalando a
oficina de carpintaria anteriormente mal acomodada,
embora a título provisório, na garagem do Externato.
Ficou dotada a útil seção do estabelecimento, para
continuidade de incessantes trabalhos, de área de 60
metros quadrados em concreto e cimento. Recebeu o
galpão da carpintaria telhado de uma só água a fim deo
ser prejudicada iluminação de salas vizinhas.
As obras das novas instalações do Externato foram
fiscalizadas por professor do Colégio, o Dr. Enoch da Rocha
Lima, abalizado engenheiro construtor e arquiteto.
A nova instalação da carpintaria produziu logo bons
frutos, reconhecendo-lhe oficialmente a diretoria do
Externato, os inúmeros trabalhos, os valiosos serviços,
com apreciável economia para os cofres do Colégio.
Concretando, reparando, pintando e fabricando,
colocando, a oficina de carpintaria, de serviços executados
por serventes do Externato, robora quanto da modesta,
mas profícua classe já foi dito.
À reforma do mobiliário, seguiu-se, por parte da
diretoria do Externato, reforma das instalações elétricas
do edifício, consultada a Inspetoria-Geral de Iluminação,
julgando defeituosa a instalação elétrica existente, por
o distribuir boa luz, em edifício onde funcionava curso
noturno frequentado por jovens estudantes, sujeitos por
deficiência de luz a perturbações visuais e até nervosas.
Aconselhava a Inspetoria-Geral de Iluminação o uso
de aparelhos de luz indireta, diminuindo as manchas de
sombra, permitindo iluminação em qualquer ponto de
salas, antes de ser determinado o tipo de aparelho mais
próprio, bem estudados a cor, a natureza do teto e a das
paredes dos aposentos, tudo de suma importância técnica.
Coube ao diretor Raja Gabaglia, inaugurar no
Externato, o ano letivo de 1934, presidindo a Congregação.
A esta, em sessão especial de 19 de maio, dava o
diretor conhecimento de estar-se cuidando na Assembleia
Nacional Constituinte da passagem automática do Colégio
para a Prefeitura Municipal.
Emenda de n.° 1.845, apresentada à Assembleia
elaboradora de Constituição dava aos Estados e
Municipalidades a faculdade de coordenação de ensino
em todos os seus graus, observando o diretor Gabaglia à
Congregação quão perniciosa era a Emenda tal qual estava
redigida.
Declarou o mesmo diretor ter-se entendido com a
Comissão Coordenadora da Assembleia Nacional
Constituinte.
Junto a esta se manifestava em favor do Colégio, o
seu corpo discente, bem recebido pelo presidente da
Constituinte, Dr. António Carlos Ribeiro de Andrada.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Em seguida às ponderações do diretor Gabaglia, o
professor Mello e Souza leu moção de protesto contra a
projetada medida.
Deliberou a Congregação mandar imprimir o protesto,
para maior e pronta divulgação do mesmo.
Na ocasião, declarou o professor Philadelpho de
Azevedo votar pela conclusão do projeto relativo ao Colégio.
Novamente reunida a Congregação, em sessão
extraordinária a 30 de maio de 1934, o presidente do Corpo
Congregado, o professor Gabaglia, propôs expedição de
telegrama de congratulações à Assembleia Nacional
Constituinte, na pessoa do presidente desta, Dr. António
Carlos, bem como aos deputados, Henrique Dodsworth e
Euvaldo Lodi, aquele representante do Distrito Federal, e
este Deputado Classista, por seus esforços em prol do
Colégio.
A Assembleia, por grande maioria, aprovou o regime
do ensino preconizado pelo Colégio.
Era o estabelecimento apoiado pela imprensa e a
esta também entendeu a Congregação endereçar
telegramas de felicitações e agradecimentos.
Na mesma sessão extraordinária de 30 de maio de
1934 propôs à Congregação o professor Accioli a realização
por parte da Congregação de sessão solene em
homenagem a quantos haviam secundado os esforços do
Colégio na rejeição legislativa da Emenda 1.845.
Propôs também o professor Lafayette Pereira da
formação de associação de professores, sob a
denominação de Associação Brasileira de Cultura, com o
fim de trabalhar pela difusão do ensino e pela propaganda
dos processos de ensino educativo.
A 3 de novembro de 1934, por proposta do diretor
Gabaglia, a Congregação formulou votos de homenagem
e saudade a quatro professores havia pouco jubilados: Said
Ali, Paula Lopes, Badaró e Arthur Ferreira, por muitos anos
lecionando no Colégio nas cátedras de Alemão, História
Natural, Latim e Desenho.
À proposta, unanimemente aprovada, ajuntou o
professor Sumner a ideia, logo aprovada, da realização
solene de preitos aos professores por força de tempo e lei
afastados do exercício de funções.
Na mesma sessão de 3 de novembro de 1934,
encareceu o professor Gabaglia a necessidade de aumento
de disciplinas na 6
a
série, visto funcionar esta para
concessão de bacharelados, propondo aquele diretor,
desde logo, a criação do curso de História da América no
anoletivode 1936.
Mostrou também o professor Gabaglia a
conveniência de dirigir-se a Congregação ao Poder
Legislativo no sentido deo serem reduzidos para 30 ou
40 os coeficientes exigidos para promoção no curso
seriado.
Provinha a sugestão do diretor da notícia de haver
em andamento, na Câmara dos Deputados, projetos no
sentido de redução dos citados coeficientes.
Encerrou a Congregação seus trabalhos em 1934
com a sessão solene de colação de grau à turma de
bacharéis do Colégio em 1934.
Realizou-se a cerimónia, a 2 de dezembro, data de
saudade e reverência para as duas seções da Casa, visto
ser a data natalícia de D. Pedro II,o desvelado pelo
Colégio, em meio às ocupações e preocupações de meio
século de reinado.
Bem precisava o Colégio de nota final de alegria em
1934. Para ele o ano decorrera entre lutos de perda de
professores. Retirava a morte do corpo docente quatro
professores: José Cândido de Albuquerque Mello Mattos,
ex-diretor, falecido a 2 de janeiro de 1934, desaparecidos,
João Ribeiro a 13 de fevereiro, Gastão Ruch a 25 de outubro
e Henrique Coelho Netto a 28 de novembro de 1934. A
todos esses professores prestou o Colégio homenagens
fúnebres, tradutoras de reconhecimento e saudade.
Começou o Colégio, desde 1935, a tratar com mais
afinco da celebração do 1
o
Centenário de sua fundação,
mesmo entre labores do ano letivo. Assinalou-se este
pelo processo do concurso para provimento da cadeira de
Matemática do Internato, concurso terminado pela
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
indicação e nomeação do candidato classificado em 1
o
lugar, Dr. Haroldo Lisboa da Cunha, processado também,
mas interrompido o concurso para provimento das cadeiras
de Química do Externato e do Internato.
Nomeado por Decreto de 24 de junho de 1935, o Dr.
Haroldo Lisboa da Cunha tomou posse do cargo de
professor catedrático de uma das cadeiras de Matemática
do Internato, em sessão solene da Congregação, realizada
a 2 de julho. Saudado pelo presidente da Congregação,
Dr. Raja Gabaglia, e em nome daquela pelo professor
Lafayette Pereira, o novo professor respondeu agradecendo
as demonstrações de acolhida.
A 18 de novembro de 1935, reunia-se de novo
solenemente a Congregação para dar posse, após
concurso, ao professor Nelson Romero, nomeado
catedrático de Latim por Decreto de 11 de novembro de
1935.
Concorrendo e obtendo a cadeira por concurso, bem
classificado em concurso de Italiano processado no
Colégio, Nelson Romero conseguia satisfazer alta aspiração
de saber mesclada ao nobre desejo de figurar em
corporação docente na qual tivera assento e relevo o
inconfundível Sylvio Romero.
Ao novo professor de Latim, saudou o presidente
da Congregação, Raja Gabaglia, dando-lhe boas vindas em
nome de colegas o professor Sumner, a todos agradecendo
Nelson Romero.
A 2 de dezembro de 1935, com o aparato e o
programa do costume, conferia o Colégio o grau de bacharel
em ciências e letras aos alunos de 6
a
série concluída num
ano letivo de termo socialmente perturbado pelos sucessos
de levante no 3
o
Regimento de Infantaria e na Escola de
Aviação, triunfando a ordem.
No decurso do ano letivo de 1935, o rol fúnebre do
Colégio seria acrescido pelo falecimento, a 14 de janeiro,
do decano nonagerário dos bacharéis em letras, Dr. João
Pinto do Rego César, figura da cidade na de um homem
de bem, na extensão da palavra.
Inscrever-se-iam no citado rol fúnebre de 1935 os
nomes: de antigo professor suplementar do Colégio, Aprigio
Carlos de Macedo, falecido a 29 de maio no Asiloo
Luiz, de Carlos Galdino Leal, inspetor de alunos no Externato
de 1895 a 1921 e dele chefe de disciplina de 1921 até a
morte. Faleceria, a 24 de novembro, antigo médico do
Internato, o Dr. Luiz de Castro.
A 23 de dezembro, a Congregação votava moção
de pesar pelo óbito do chefe de disciplina Carlos Galdino
Leal.
É de estímulo dar sempre o Colégio homenagem à
memória de alunos seus distintos, aberto exemplo, pelo
Internato, ornando-se com o retrato de falecido aluno,
Simão. A 11 de dezembro de 1935, sucumbia, em Friburgo,
o bacharel e oficial da reserva do Exército José Ângelo
Cavalli, exemplo de gratidão e respeito a mestres por ele
lembrados e agradecidos comovedoramente em leito de
morte. A discentes tais devem ser consagrados preitos
de retribuição a nobres sentimentos.
A 9 de junho de 1936, deliberava a Congregação
nomear representantes com o fim de associar-se o Colégio
às homenagens prestadas pelo Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro ao orador perpétuo da associação,
fundada ano após o Colégio e, como este, sempre de
especial desvelo por parte de D. Pedro II. Após o
falecimento do Dr. Rego César, nonagenário como ele, o
Dr. Ramiz Galvão se tornara o decano dos bacharéis em
letras, diplomado em turma do Externato em 1861.
No mesmo momento de participação das
homenagens do Instituto Histórico, recebia a Congregação
ofício do Embaixador Argentino, Dr. Ramon Carcano,
comunicando a criação no seu país de curso quadrienal
de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira.
No decurso do ano letivo de 1936, a 4 de agosto foi
submetido ao juízo e ao voto da Congregação, proposta
subscrita pelos professores Coutto, Sumner e Thiré,
pedindo a restauração das cadeiras de História do Brasil,
Instrução Moral e Cívica e Direito Usual.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Entendeu a Congregação sujeitar a proposta a exame
de comissão, para ela designados os professores Coutto,
Oliveira de Menezes e Alcino Chavantes, relator o primeiro
dos eleitos.
Apresentou parecer o professor Coutto, opinando
pelo restabelecimento das mencionadas cadeiras.
Votou a Congregação pelo ressurgir da cadeira de
História do Brasil, estabelecendo-se divergência de opiniões
quanto ao restabelecimento da cadeira de Instrução Moral
e Cívica. Pelo restabelecimento votaram 8 professores, 8
outros o condenando.
Chamado a pronunciar-se por último, o presidente
da Congregação, professor Raja Gabaglia, pelo voto de
qualidade decidiu contra o restabelecimento.
No intuito de celebrar o 1
o
Centenário de fundação
do Colégio, em sessão de 1
o
de dezembro de 1936, a
Congregação encaminhou à Câmara dos Deputados
indicação tendente a ser auxiliada oficialmente aquela
celebração, apresentada a indicação pelo deputado
Henrique Dodsworth, professor do Colégio, além de ex-
diretordo Externato.
Por proposta do professor Sumner. congratulou-se a
Congregação, a 10 de agosto, com o professor Accioli pelo
seu 33° ano de magistério no Colégio.
Em 1936, procederia a Congregação a concurso para
uma das cadeiras de Português, deixada vaga pelo
falecimento de Carlos de Laet e longamente preenchida
em interinidade pelo docente Jacques Raymundo Ferreira
da Silva. Processado o concurso, nele foi classificado
em 1
o
lugar o Dr. Clóvis do Rego Monteiro, já distinto no
magistério do Colégio.
o poupou a morte o Colégio no decurso do ano
letivode1936.
Arrebatou-lhe um dos seus estimados professores,
o de Desenho, Dr. Alcino José Chavantes, que por concurso
obtivera o cargo.
Operoso, prezado pelos colegas e pelos discentes,
competente, lhano de trato, honrava posição no Colégio
do qual fora aluno.
Por ocasião do falecimento do Dr. Chavantes, deu o
Colégio à sua memória devidos preitos, ocorridoo
lamentável e prematuro sucesso a 24 de novembro de
1936.
Ajuntou-se a Congregação às homenagens
administrativas do Colégio ao honrado professoro só
votando moção de pesar, como aprovando proposta do
professor Lafayette Pereira para ser dado o nome de Alcino
Chavantes à sala de aula de desenho no Externato.
Após o óbito do catedrático Chavantes, ocorreu o
do docente Dr. Mário Guedes Naylor, falecido a 20 de junho
de 1936, ele bacharel em letras.
Haja igualmente lembrança do desaparecimento de
dois modestos servidores do Colégio no Externato, o do
servente José Romeu, falecido a 3 de novembro, e o do
auxiliar Aleixo Pinheiro, falecido a 12 de novembro.
Tornara-se o primeiro muito popular entre docentes
e discentes, o segundo encarregado da vigilância noturna
do Externato e a zelava intransigentemente.
Por ocasião do falecimento de ambos, administrativa
e particularmente, foram atendidaso só despesas de
funeral como as de primeiros socorros à família do
servente Romeu, caída em desvalimento pela perda do
chefe, fulminado pela morte por "angina pectoris" no
exercício de funções.
Felizmente, abriu-se o ano letivo de 1937 com a
sessão solene de 22 de janeiro, convocada para dar posse
da cadeira de Português, no Internato, ao Dr. Clóvis do
Rego Monteiro, para ela nomeado por Decreto de 14 de
janeiro.
Prestado o compromisso de bem preencher funções,
recebeu o novo lente saudações por parte do presidente
da Congregação, Raja Gabaglia, felicitado em nome da
Congregação pelo Professor Hanehmann Guimarães,
agradecendo a todos os professor Clóvis Monteiro.
Por Decreto de 5 de abril de 1937, a pedido e nos
termos constitucionais, foi concedida jubilação ao
professor Escragnolle Dória, catedrático de História do
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Externato e neste de posse de cadeira a 7 de novembro
de 1906, em virtude da nomeação por concurso a 5 de
novembro.
A 30 de abril de 1937, entendeu o Colégio associar-
se à celebração do centenário do nascimento de antigo
diretor do Internato e depois do Externato, o Dr. João
António Coqueiro, centenário que mereceu expressivas
comemorações em vários setores da cultura nacional em
reverência àquele educador.
Na direção do Colégio, em suas duas seções,
continuou o Dr. Coqueiro a lembrança de comprovincianos
maranhenses que regeram a instituição, assim os Dr.
António Henrique Leal, Monsenhor Raymundo da Silva
Brito e D. José de Souza da Silveira.
Memorou o centenário natalício do Dr. Coqueiro no
Colégio, sessão solene no Salão Nobre do Externato,
sessão presidida pelo diretor deste, Dr. Raja Gabaglia.
Pelo mesmo diretor especialmente convidados
oraram na solenidade o Almirante Graça Aranha nos
louvores à vida científica e pedagógica de Coqueiro, pelo
diretor Raja Gabaglia declarando que, sem grave injustiça,
seria impossível ao Colégio de Pedro Segundo deixar em
olvido a memória do seu antigo diretor. Participou também
das homenagens um representante do corpo discente.
Na sessão do dia 30 de abril do Conselho Nacional
de Educação, rendeu preito ao Dr. Coqueiro, membro do
referido Conselho, o Dr. Alceu de Amoroso Lima, bacharel
em letras da turma de 1908, graduado no Externato, então
dirigido pelo Dr. Coqueiro.
Recordou o aluno de outrora a figura do seu diretor,
assinalando-lhe austeridade impecável, zelo pela disciplina,
indefectível espírito de justiça, qualidade de tanta auréola
a quem dirige seja o que for, a obediência devendo vir
tanto mais exata de baixo quanto o exemplo mais exato
de cima.
Aliás, o centenário Coqueiro mereceu grande
homenagens,o só na capital da República, como em
outros pontos do país, notadamente no Maranhão, onde o
preito de muitoss em relevo a memória do conterrâneo
ilustre.
Logo após a celebração do centenário natalício de
quem com proficiência e austeridade dirigira o Internato e
o Externato do Colégio, o Conselho Nacional de Educação
entregou ao Ministro de Educação e Saúde Pública, plano
de educação elaborado dentro de prazo fixado, achando-
se no dito Conselho representado o Colégio pelo professor
Jonathas Serrano, partícipe de tudo quanto especialmente
respeitava o Ensino Secundário.
Trabalhando incessante, o Conselho realizou 65
sessões com a maior diligência de seus membros e de
seus auxiliares, os funcionários da Secretaria do Conselho
e os da Reitoria da Universidade.
No plano apresentado pelo Conselho certas
disposições mais de perto entendiam com o Colégio.
Segundo o plano, um representante do Ensino
Secundário deveria figurar entre os representantes do
ensino em seus diferentes ramos e graus e os da cultura
nacional, os primeiros em número de 13, os segundos
sendo 6, nomeados todos pelo Presidente da República e
escolhidos em lista tríplice organizada pelo próprio
Conselho, aberta exceção para o representante da
Imprensa como representante da cultura nacional.
O ensino religioso deveria ser ministrado de acordo
com os princípios da confissão religiosa do aluno,
manifestada por pais ou responsáveis no ato da matrícula,
facultativa a frequência nas respectivas aulas.
Nos cursos secundários a educação moral e cívica
seria ministrada pelo professor de História do Brasil,
naqueles cursos obrigatória a Educação Física.
O plano elaborado pelo Conselho Nacional de
Educação declarou o Ensino Secundário destinado à
educação do adolescente, visando ao desenvolvimento
harmónico da personalidade física, intelectual e moral por
meio de cultura geral autónoma.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Deveria o Ensino Secundário abranger dois ciclos,
um fundamental de 5 anos, outro complementar de 2.
Neste curso, o estudo do Grego, Italiano e Espanhol seria
somente obrigatório em casos previstos em lei. O aluno
que concluísse o curso secundário, obteria o diploma de
bacharel em letras, se aprovado em exame final de
conjunto e no de Grego.
Toda a matéria relativa ao Ensino Secundário, quando
discutida no Conselho Nacional de Educação, recebeu a
participação assídua e orientadora do professor Jonathas
Serrano.
No seu título VI o plano pedagógico elaborado pelo
Conselho Nacional de Educação dispunha sobre assistência
escolar, já conhecida no ensino primário, mantida sobretudo
pelo corpo docente do magistério primário com muitos
esforços e dedicação, tanto mais meritórios quanto
obscuros.
Para estender assistência escolar, tratou o Conselho
Nacional de Educação de providenciar quanto à assistência
a alunos necessitados por meio de Caixas Escolares,
bolsas de estudos e colónias de férias .
As Caixas Escolares seriam administradas pelo
diretor de cada estabelecimento de ensino primário ou
secundário, auxiliado por um representante do corpo
discente ou dos pais dos alunos, coadjuvada a Caixa
Escolar pelos poderes públicos, por meio de quota aplicada
aos fins de assistência. Para atender aos gastos com a
assistência escolar, seria reservada anualmente quota
mínima de 10% dos fundos especiais de educação.
A bolsa de estudos, de que tratava o plano de
educação, deveria equivaler à soma que permitisse ao
estudante pobre manter-se, pagar taxas e contribuições
escolares, seguir cursos especiais, adquirir livros e material
indispensável ao aperfeiçoamento dos estudos.
Perderia direito à bolsa: a) o aluno reprovado em
qualquer disciplina; b) o queo obtivesse notas plenas
ou distintas em mais de duas provas parciais ou finais; c)
o que deixasse de preencher as condições necessárias à
promoção para a série imediata sem motivo justificado;
d) o queo tivesse bom comportamento escolar ou social.
Conforme o plano pedagógico do Conselho Nacional
de Educação, os poderes públicos deveriam assegurar aos
alunos necessitados o repouso dos trabalhos escolares
em instituições destinadas a este fim ou em locais
convenientes, instituídas também pelos poderes públicos
colónias de férias para os alunos dos cursos primário,
secundário e profissional.
Seriam admitidos em tais colónias os alunos dos
referidos cursos mediante as seguintes condições: a)
idade mínima de 13 anos; b)o poderem por motivos
económicos iniciar estudos ou neles prosseguir, preferidos
os filhos de famílias numerosas: c) estar em condições
de matricular-se em estabelecimento de Ensino
Secundário, profissional ou superior; d) ter obtido somente
notas plenas ou distintas nas provas parciais ou finais das
séries ou cursos anteriores.
Tais as disposições principais relativas ao Ensino
Secundário do plano elaborado pelo Conselho Nacional de
Educação, plano constante de 501 artigos, muitos
completados por parágrafos. Outras disposições do
mesmo plano entendiam com o Ensino Secundário de
modo geral, lembrado que só poderiam ser oficialmente
reconhecidos pelos poderes públicos os estabelecimentos
particulares de ensino que reservassem anualmente 5%
de matrículas gratuitas para alunos necessitados.
Pelo plano do Conselho Nacional de Educação era
vedada a dispensa de concurso de títulos e provas no
provimento dos cargos de magistério oficial, entendendo-
se tal o que dependesse de nomeação dos poderes
públicos, federais ou municipais.
A 7 de abril de 1937, o Decreto n.° 1.555 regulou,
entre outras providências, a admissão de professores
contratados no Colégio de Pedro Segundo.
Pelo citado Decreto, organizadas em cada ano letivo,
as turmas do curso fundamental e complementar, os
diretores do Externato e do Internato, deveria ser oferecida
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
aos catedráticos a escolha da Regência direta das turmas
das disciplinas em que se mostrarem habilitados. As
turmas excedentes, na disciplina respectiva, seriam
distribuídas a docentes-livres e preparadores. No caso de
turmas sem Regência, ao diretor de cada seção do Colégio,
por edital, competiria abrir inscrição para contrato ânuo
de professores, mediante condições especificadas na
referida inscrição, entre elas a da prova de idade maior de
21 anos, certificado de professor expedido pelo
Departamento Nacional de Educação, prova de exercício
de magistério com indicação de tempo de serviço e títulos
diversos de cultura.
Para regulamento dos títulos apresentados e
classificação de candidatos seria organizada comissão da
qual participantes os diretores das duas seções do Colégio,
como membros permanentes, e os professores
catedráticos das várias disciplinas, membros variáveis na
comissão.
A classificação obedeceria ao número de pontos
atribuído a cada candidato, pontos de 0 a 100, pontos de
cada membro da comissão julgadora, a nota de
classificação constituída pela média aritmética dos pontos
obtidos pelo candidato.
Caberiam as designações de professores ao Ministro
da Educação e Saúde Pública, segundo as necessidades
do ensino e na ordem de classificação, disciplina por
disciplina.
Salvo os professores contratados para o ensino de
Línguas Vivas, os demais se obrigariam a 12 horas
semanais de ensino, no mínimo.
O professor catedrático de cada disciplina nas
seções do Colégio orientaria e fiscalizaria os trabalhos dos
professores contratados. No caso de haver mais de um
catedrático para a mesma disciplina o encargo da
orientação e fiscalização entre catedráticos sofreria
distribuição equitativa.
Tratou ainda o Decreto 1.555 de 7 de abril de 1937
da gratificação devida a docentes livres e professores
contratados no curso fundamental, 22S000 por hora,
gratificados os professores do curso complementar com
50S000 por hora de trabalho na Regência de turma até 3
horas semanais e com 22S000 por hora excedente.
Na Regência de turmas ou na orientação e
fiscalização do ensino, as gratificações a professores
catedráticos, contratados ou preparadores deveriam ser
pagas segundo instruções baixadas pelo Ministro da
Educação e Saúde Pública. Professor algum, de qualquer
categoria, prestaria mais de cinco horas de trabalho diário.
A 1
o
de junho de 1937, o Diretor-Geral do
Departamento Nacional de Educação, Dr. Lourenço Filho,
baixava a Circular n.° 1.200 dando instruções às escolas
superiores em 1938, encontrando-se na citada circular
referências a exames prestados no Pedro Segundo.
A 12 de junho de 1937 reunia-se a Congregação do
Colégio e por unanimidade de votos, à vista de motivada
moção, proclamava Professor Emérito o professor
Escragnolle Dória, que, após mais de 30 anos de serviço,
requerera jubilaçáo, concedida por Decreto de 5 de abril
de 1937. Ao honroso voto da Congregação ajuntaram-se
demonstrações oficiais de apreço por parte do Diretor-Geral
do Departamento Nacional de Ensino, Dr. Lourenço Filho,
e do Diretor do Ensino Secundário, Doutor Mário Paulo de
Brito, bacharel em letras do Colégio.
Como a vida é oscilar entre alegria e tristeza, a 24
de junho de 1937, finava-se, em Guaratinguetá, Estado de
o Paulo, onde residia, o professor jubilado de Latim do
Internato e depois do Externato Dr. Eduardo Gê Badaró,
sem muito tempo para gozar jubilaçáo.
Admitido no Colégio após dois concursos, um em
1906 e outro em 1909, o professor Badaró deixou entre
colegas lembranças de moderação e competência, entre
discípulos exemplo de benevolência e assiduidade no
cumprimento do dever.
Para justificação do conceito de ser a vida oscilar
perpétuo entre dor e alegria, rejubilou-se o Colégio, a 3 de
julho de 1937, com a posse do Dr. Henrique de Toledo
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Dodsworth, professor catedrático de Física do Externato
e seu antigo diretor, no cargo de Interventor no Distrito
Federal de onde é natural.
Em novembro de 1937, organizado programa oficial
para comemorar o 1
o
Centenário de fundação do Colégio
de Pedro Segundo, foram iniciadas comemorações de vária
ordem, tendentes todas a alvo único, o de fixar bem na
memória pública a gloriosa data secular de 2 de dezembro
de 1837.
Conferências na Escola Nacional de Música, missa
em sufrágio de reitores, diretores, professores e
funcionários falecidos no decurso do centenário de
existência do Colégio, missa campal na praça deo
Cristóvão, colação de grau à turma dos bacharéis em
ciências e letras da turma de 1937, denominada do
Centenário, lançamento de pedra fundamental de novo
edifício para o Colégio na Praia Vermelha, sessões solenes
no Externato e no Internato para entrega de certificados a
alunos de curso fundamental concluído, bailes escolares
nas duas seções do Colégio, baile de gala no Automóvel
Clube, espetáculo do Teatro Escolar no Teatro João
Caetano, com papéis confiados a alunos do Externato e
Internato, entrega da Bandeira Nacional e de estandartes
do Colégio à Diretoria do Externato; bandeiras e estandartes
adquiridos pelos corpos docente, administrativo e discente,
nada seria poupado para lustro das solenidades
memorativas da fundação do Colégio, no sétimo ano de
reinado em minoridade de D. Pedro Segundo.
Novembro de 1937 constituiu como que ums
de preparação espiritual para as festas do Centenário. Na
Escola Nacional de Música, em sessões presididas pelo
Ministro da Educação, os professores Francisco Venâncio
Filho, Jonathas Serrano e Raja Gabaglia discorreram,
sucessiva e respectivamente, sobre as personalidades de
Euclydes da Cunha, Farias Brito e Capistrano de Abreu,
ocupantes de cátedras no Colégio e por concursos
memoráveis.
Nas comemorações do Centenário nem foi só
lembrada a vida presente,o olvidados o fundo e o cunho
religioso da instituição secular.
Mandou esta celebrar missa em sufrágio de reitores,
professores e funcionários falecidos no decurso da centúria.
No Salão Nobre o Externato realizou a Congregação sessão
solene de culto à memória de catedráticos falecidos em
1936, os Drs. Eduardo Gê Badaró e Alcino José Chavantes
Júnior, do primeiro dizendo o professor Nelson Romero e
do segundo o professor Enoch da Rocha Lima.
Demonstrações de natureza diferente assinalaram
o memorar do primeiro centenário de fundação do Colégio.
No extenso sobre variado rol das comemorações,
cumpre sobrelevar algumas solenidades de alta ou piedosa
expressão, umas de incitamento à vida, outras de
reverência à morte.
No número das últimas incluem-se romarias em
memória de D. Pedro Segundo, do Marquês de Olinda e
de Bernardo de Vasconcellos.
Realizou o Colégio, matutinamente, a 1 ° de dezembro
de 1937, romaria a Petrópolis, onde jazem os restos mortais
de D. Pedro Segundo e da consorte, a Imperatriz D. Theresa
Christina.
Umas 600 pessoas participaram da ida do Colégio
à Cidade de Pedro, de nascedouro em 1834. Foi a romaria
ali recebida pelo secretário da Prefeitura, Dr. Cardoso de
Miranda, por autoridades locais e por delegações dos
colégioso Vicente de Paulo, Pinto Ferreira, Plínio Leite
e do Ginásio Petropolitano, estabelecimentos de Ensino
Secundário associados à homenagem.
Reunido o Colégio na Matriz, em torno do local onde
se achavam os despojos terrenos dos imperantes, depois
de ter sido depositada coroa de bronze junto ao ataúde de
D. Pedro Segundo, orou em nome da Congregação do
Colégio o diretor e professor Raja Gabaglia, traduzindo
sentimentos de respeito e gratidão ao protetor do Colégio,
que lhe consagrara larga parte de vida. Presenciaram a
cerimónia o neto e o bisneto de D. Pedro Segundo, os
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Príncipes D. Pedro de Orleans e Bragança e D. Pedro
Gastão, associando-se assim o antigo lar do finado
Imperador à renovada família do Colégio.
Na Catedral, ao ser benzida a coroa de bronze
ofertada ao Imperador pelo Colégio, disse da significação
do ato, Monsenhor Mac Dowell, professor do Pedro
Segundo. Ao túmulo imperial, ainda de caráter provisório,
o Ginásio Pinto Ferreira entregou coroa de flores naturais.
Na cerimónia, o Centro Carioca achou-se representado
pelo Dr. Ernani de Figueiredo Cardoso, ex-aluno do Colégio
e conhecido educador.
Nem deixou o Colégio, congregado em Petrópolis,
de passar pela estátua de D. Pedro Segundo, num dos
locais de maior evidência da cidade serrana. Admiraram
todos a estátua que representa D. Pedro Segundo à
paisana, sem nenhum atributo imperial, na atitude do
pensamento,o própria do soberano que, à filósofo
meditativo, tanto reinou sobre os homens quanto sobre os
livros.
Ante a estátua de D. Pedro II, tomaram a palavra o
professor Raja Gabaglia, pela Congregação do Colégio, o
professor Murillo Araújo, em nome de antigos alunos,
orando em nome dos alunos atuais um 5
o
anista do
Externato, os intérpretes do Colégio dizendo em nome
deste todo o reconhecimento da instituição centenária ao
ínclito Imperador.
Oferecido, no Palace Hotel, um almoço à romaria
pelo prefeito Dr. Yeddo Fiúza, o Dr. Miranda Cardoso,
secretário da Prefeitura, explicou a homenagem, dizendo-
ao só preito à comemoração cívica, como de sinal de
simpatia ao Colégio de Pedro Segundo, na dedicação à
memória do seu patrono, também o de Petrópolis.
Agradeceu o professor Dr. Lafayette Pereira, Diretor
do Internato, retribuindo o acolhimento hospitaleiro do povo
petropolitano, acolhimento que, logo ao chegar ao Rio de
Janeiro, o professor Raja Gabaglias em relevo num
expressivo telegrama de novo agradecimento.
Iniciaram-se as comemorações dos da fundação
do Colégio em 1837, a 2 de dezembro de 1937, no
nemoroso parque da Quinta da Boa Vista. No Palácio
nascera D. Pedro II e passara vida até exílio. Realizou-se
missa campal em sítio, pois lembrado do bairro deo
Cristóvão, onde ainda funciona o Internato.
Por desejo e iniciativa da Comissão do Centenário,
foi o santo sacrifício da missa celebrado, em altar adrede
preparado próximo à estátua de D. Pedro Segundo,
convidado para celebrante D. Benedito Alves de Souza,
Bispo resignatário do Espírito Santo e titular de Oriza.
Finda a missa, orou o professor Jonathas Serrano,
professor de História da Civilização, disciplina do exame
na justiça, estudando D. Pedro Segundo e relembrando o
maior de seus amigos, também amigo do Colégio e seu
reformador, o Visconde de Bom Retiro.
Estavam representados na solenidade a Presidência
da República, vários Ministros de Estado, comandos de
forças militares.
Numerosas delegações dos mais opostos centros
de cultura deram presença ao ato, sobrelevando-se
naquelas delegações, a da colónia norte-americana no Rio
de Janeiro na pessoa do Sr. e da Sra. Danfort.
No pedestal da estátua, os professores Raja
Gabaglia, Philadelpho de Azevedo e Benevenuto Berna,
este presidente do Centro Carioca, depuseram palma florida
ofertada por aquele Centro em nome da Cidade do Rio de
Janeiro. Alunos do Colégio atiraram então flores à estátua
do Grande Amigo da Instituição, e isso ao som do Hino
Nacional,o grato aos ouvidos de D. Pedro Segundo no
decurso do seu reinado.
Completou o preito do Centro Carioca um discurso
de representante do mesmo, Dr. Luiz Paula Freitas, diretor
do Instituto Brasileiro de Ensino, trazendo à mente e à
memória dos presentes a imagem e o afeto de D. Pedro
Segundo pelo Colégio a ele dedicado pela Regência Araújo
Lima.
A 29 de novembro, mandada celebrar missa pelos
bacharéis de 1937, em ação de graças por feliz conclusão
de curso, pelo meio-dia de 2 de dezembro, no Salão Nobre
ESCRAGNOLLE DÓRIA
do Externato, realizou-se a colação de grau de bacharel
em ciências e letras à turma de 1937, em presença do
Ministro da Educação, para os amigos do passado a
solenidade de evocação à primeira em 1843.
O fim da tarde de 2 de dezembro de 1937 foi
consagrado ao lançamento de pedra angular de novo
edifício do Colégio, na Praia Vermelha, em terrenos do
Hospício Nacional de Alienados, antigo Hospício de D.
Pedro Segundo, erguido pela Santa Casa da Misericórdia
do Rio de Janeiro, na benemerência do seu provedor José
Clemente Pereira.
Participou do lançamento da pedra básica o
Presidente da República, primeiro a lançar-lhe pá de
revestidor cimento, discursando no ato o Ministro da
Educação e o professor Raja Gabaglia. Acentuou o
Ministro que em o novo edifício, surgiria novo ciclo de
grandeza da prestimosa instituição. Agradeceu o diretor
do Externato o apoio do Presidente da República às
comemorações do Centenário, concluindo por afirmar "que
o Colégio seria, como fora e era, o Seminário da
Nacionalidade".
Às 9 horas da noite de 2 de dezembro, grandiosa
festa encerrou o magno dia evocador da fundação do
Colégio, celebrando sessão solene no Teatro Municipal.
Abriu sessão o Ministro da Educação, proferindo
longo discurso de natureza cívica e pedagógica, no correr
do qual declarou o Colégio de Pedro Segundo "um dos
mais preciosos monumentos do património nacional,
havendo pois, justo motivo de alegria pública a celebração
do seu primeiro centenário", numa época que o orador
declarou "dura e trágica".
Em seguida, discursaram o professor Raja Gabaglia,
em nome do Colégio, o professor Fernando de Magalhães,
bacharel em letras da turma de 1891, em nome de antigos
alunos, o Dr. Ramiz Galvão, outrora professor interino do
Colégio por onde se graduara em 1861, declarando-se o
decano dos bacharéis em letras ao qual a Divina
Providência ainda dilatara vida para presença na
solenidade.
O professor Ignácio de Azevedo Amaral, pela
Universidade do Rio de Janeiro, o Dr. Leon Renault, ex-
diretor do Instituto de Minas, João Pinheiro, pelo ensino
profissional, e o Dr. Costa Senna, diretor do Departamento
da Educação na Prefeitura, relembraram a glória e os
serviços do Colégio.
Em nome do corpo discente orou o 5
o
anista do
Internato, Octávio Costa, que se revelando orador
empolgou a atenção do auditório, do qual mereceu
entusiásticas ovações pela elevação, fluência e patriotismo
do seu discurso de filho espiritual do Colégio.
Para remate da brilhante sobre inolvidável sessão,
orou o Dr. Getúlio Vargas, declarando logo ao romper oração
que "entre as numerosas solenidades que presidira,
nenhuma lhe parecera mais edificante e sugestiva, porque
o centenário do Colégio de Pedro Segundo evocava todo o
quadro da evolução política e cultural do Brasil".
Assinalou também o orador: "quão difícil fora
estabelecer os fundamentos de tal obra, quão grande o
devotamento de seus organizadores.
Na missão árdua a que se devotaram, orientando o
problema da aculturação brasileira, os nossos primeiros
educadores chegaram a resultados os mais
extraordinários. Só o espírito evangelizador e as virtudes
da fé podem explicar o milagre de termos conseguido
amálgamas na sociedade colonial os fatores díspares e
primários de nossa formação indígenas da idade da
pedra, escravos africanos em diversos estados culturais
e imigrantes peninsulares integrados todos na
civilização cristã" Tais palavras do Presidente da
República em louvor do Colégio.
À sessão solene do Teatro Municipal, promovida pelo
Ministério da Educação, deram presença o Presidente da
República, o Corpo Diplomático, Ministros de Estado, o
Prefeito do Distrito Federal, professor do Colégio, muitas
autoridades e pessoas gradas, convidados os antigos e
novos alunos do Colégio, comparecendo a Congregação
para remate da homenagem. Nem da festa, para exemplo
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
sobre união, foram excluídos os demais estabelecimentos
de Ensino Secundário do Rio de Janeiro, representados
por docentes e discentes.
Dera início à sessão magna comemorativa o erguer
de vozes dos orfeões do Externato e do Internato dirigidos
pelas professoras D. Maria Elisa de Freitas e Lucilia Villa-
Lobos. De, a assistência ouviu os sons do Hino Nacional
consagrador da Pátria na memória de seu autor, Francisco
Manoel da Silva. Após o hino pátrio, o do Colégio.
A sessão solene de 2 de dezembro de 1937 foi
realizada em recinto fechado e acessível só a convidados.
Outra homenagem do Colégio à sua primeira centúria seria
patenteada ao público, a 4 de dezembro. Tal o desfile pela
Avenida Rio Branco de préstito formado por professores.
antigos e novos alunos e funcionários do Colégio. Do
desfile participaram com o maior garbo e luzimentoo
só o Colégio como o Colégio Militar e estabelecimentos
de grau secundário, da Prefeitura Municipal e de ensino
particular.
Desfile comovedor o de 4 de dezembro de 1937,
apesar do desfavorecimento da tarde salpicada de chuva,
afrontando o cortejo, a intempérie como se realizada a
marcha em dia entre azul e sol.
Professores, bacharéis, funcionários encanecidos,
o se deixaram vencer no entusiasmo pelo vigor das
mocidades de corpo no desfile, os mais velhos ritmando
passo com os mais jovens.o houve quem comentando
o aplaudisse , a principiar pelo Presidente da República.
A 1
o
de dezembro, o Colégio, reunido em Petrópolis,
rendera preito a D. Pedro Segundo, organizada para tanto
romaria cívica, tributando justiça ao protetor do Colégio,
título a resistir a qualquer negação de outros títulos ao
antigo monarca.
Nova romaria conduziu o Colégio, a 5 de dezembro
de 1937, à necrópole da Venerável Ordem Terceira dos
Mínimos de S. Francisco de Paula. Aí se encontram os
túmulos de Bernardo de Vasconcellos, falecido em 1850,
vítima ilustre de uma das mais devastadoras epidemias
de febre amarela no Rio de Janeiro, e de Pedro de Araújo
Lima, Marquês de Olinda, falecido em 1870, vinte anos
após o eficacíssimo colaborador na obra ingente e futurosa
da fundação do Colégio de Pedro Segundo.
Em homenagem a Bernardo de Vasconcellos, junto
a seu túmulo, aos ecos da necrópole, orou em nome da
Congregação o professor Nelson Romero. Delegado da
mesma congregação, o professor Pedro do Coutto
discursou junto ao túmulo do Marquês de Olinda, ambos
evocando em síntese a vida e os serviços do Regente do
Império e do Ministro de 1837.
No mesmo dia 5 de dezembro, no Internato, realizou-
se sessão solene para entrega de certificados de conclusão
do curso fundamental aos quintanistas do estabelecimento.
turma paraninfada pelo professor Lafayette Pereira e tendo
como orador o aluno Octávio Costa, que da sua eloquência
derao brilhante cópia na sessão solene do Teatro
Municipal. A 6 de dezembro, o Externato entregava
certificados de conclusão de curso fundamental aos alunos
5
o
anistas da seção, com os festejos do costume.
Em continuação aos festejos do Centenário, o Teatro
Escolar, de sede no Externato, realizou espetáculo original
no Teatro João Caetano, antigoo Pedro de Alcântara,
exibição pública bem curiosa, visto nela só representar
gente do Colégio.
Renovava-se destarte tradição no estabelecimento.
Neste, em espaçados tempos, no Externato e no Internato,
alunos de ambas as seções haviam representado quase
sempre em datas magnas da Pátria ou do Colégio, assim
a 7 de setembro, assim a de 2 de dezembro, datas
presentes a todas as memórias pelo alto significado.
A exibição pública do Teatro Escolar do Colégio, no
âmbito do Teatro João Caetano, a 23 de dezembro de 1937
e à noite, obedecia à direçáo dos professores Delgado de
Carvalho, Raul Penido Filho e Gilberto Chrokatt de.
O programa do espetáculo merece ser conservado.
Com o tempo perde a lembrança de muito e de muitos
ESCRAGNOLLE DÓRIA
fins da presente Memória resguardar passado para
apresentá-lo a futuro.
Compreendeu o espetáculo comemorativo de 23 de
dezembro de 1937 duas partes no seu programa, uma parte
musical e outra teatral.
A execução do Hino do Colégio, música de Francisco
Braga e letra do aluno Hamilton Elia, deu princípio à festa,
seguindo-se apresentação ao público do Teatro Escolar pelo
professor Raul Penido Filho.
Minueto, música de Barroso Netto, letra de Marinha
Braga Sonho de Amor, adaptação da Serenata de
Schubertpor Lozano, letra de Máximo de Moura Santos
Luar do Sertão, música de J. F. Guimarães, poesia de
Catullo Cearense tais foram as composições
executadas pelo Orfeão do Colégio, dirigido pela professora
Maria Elisa de Freitas. A execução de Mocidade, marcha,
música e letra do professor Sá Roriz, seria ainda confiada
às vozes do mesmo Orfeão. Complementaria a parte
musical o aluno Jayme Cluck interpretando a Symphonia
Hespanhola de F. Sala.
Na parte teatral da festividade apreciou o público,
seleto e numeroso, os esquetes Duas Cartas, de Chrokatt
de, e Crepúsculo de Satanás, do mesmo autor, professor
do Colégio, bem como Primos Por Selecção, farsa em 1
ato do professor Delgado de Carvalho.
No desempenho das três peças de caráter ligeiro,
foi notado o desembaraço dos intérpretes Dinorah Santos,
Edilia da Rocha Coelho ea Rosenbaum, alunas do
Colégio, secundadas pelos seus colegas efetivos de estudo
e momentâneos de palco, Décio Guimarães Abreu, Hilgard
Sternberg e Mário Camarinha, sem esquecer Dirceu e
Tasso.
Menção especial fique reservada à aluna Lygia
Walker nos papéis a ela confiados em Duas Cartas e
Primos Por Selecção.
Reserve-se também menção particular para a
representação de Casamento A Pulso, título dado à comédia
de Molière Le Mariage Force pelo seu adaptador em
vernáculo, o Dr. Pires de Almeida.
Molière é autor de obra diante da qual se inclina a
posteridade, obrigando à curvatura a Academia Francesa
em peso, ao declarar que nada faltava à glória do
comediógrafo se a glória de acolhê-lo no seu grémio faltara
à Academia, de tantos imortais de vidas logo perecedouras
e ocas de méritos, até para coevos.
Rien ne manque à sa gloire, il manquait à la nôtre.
Tal a inscrição do busto de Molière na Academia
Francesa.
É mister, no programa do Teatro Escolar, acentuar
fundo o Casamento A Pulso. Mesmo de título mudado,
representa Molière na sua admirável galeria de tipos
humanos, na originalidade das suas pinturas de costumes
e de caracteres, dos seus processos cómicos e
dramáticos.
Que o génio francês luz em Molièreo padece
dúvida, justificada a resposta de Boileau a Luiz XIV, padrinho
da filha do ator-autor, ao perguntar-lhe o "Rei Sol" que
escritor mais lhe honrara o reinado. "Molière, Senhor",
responde Boileau, que a confradeso poupava sátiras.
Le Mariage Force, representado em França de 7 a
13 de maio de 1664, seria exibido no Rio de Janeiro a 21
de abril de 1792, data da execução capital de Tiradentes.
Afirmou-o Pires de Almeida na 3
a
parte da desordenada,
mas útil coletânea Brazil-Theatro, na qual é preciso achar
o fio dos assuntos para proveito da pesquisa.
Segundo Pires de Almeida, a comédia de Molière
foi representada "em terreno baldio e fronteiro ao adro da
capelinha da Lapa dos Mascates", que constituía então
os fundos da igreja da atual Igreja da Cruz dos Militares e
a parte alargada pelo mar, na qual se construiu mais tarde,
e definitivamente, a atual Igreja da Lapa dos Mercadores
(no fim da Rua do Ouvidor, próxima ao mar).
oo despiciendas tais informações.o cunho
literário e histórico à comédia molieresca de 1664,
interpretada em 1937 por alunas e alunos do Colégio,
ensaiados por Celestino Silva, de papéis bem sabidos
para folga do ponto Paschoal Américo e movendo-se num
cenário devido a Gustavo Dória.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Oito personagens deram vida à comédia de Molière
na qual em torno de figura feminina única, gira a ação da
peça, a figura de Dorimena, encarnada na graciosa aluna
Cilka da Silva Leite, em discreto papel de Pagem a aluna
Walkyria Almeida.
Dos papéis de Sganarello, Jeronymo, Alcantor,
Alcides encarregaram-se com distinção e aplauso os
alunos Decio Guimarães Abreu, Augusto Cláudio Ferreira,
Nilo Andrade e Hilgard Sternberg.
Na comédia de Molière a prosa deste fustiga em
Pancrácio, filósofo pirrônico e em Marfório. filósofo
aristotélico, todas as contendas e rusgas da filosofia no
século XVII.
Marfório, o filósofo pirrônico encontrou no aluno
Waldomiro Rothberg um bom intérprete. Mas, a revelação
da noite na obra de Molière foi a do aluno Octacilio da
Silva Chaves, encarnando Pancrácio, filósofo aristotélico.
Dicção, gesticulação, a gosto em cena, tudo no jovem
intérprete impressionou o auditório. Dir-se-ia ele
acostumado ao palco tal a naturalidade e vivacidade com
as quais representou, aplaudíssimo.
O curioso e bem-sucedido espetáculo do Teatro
Escolar do Colégio, na noite de 23 de dezembro de 1937,
terminou ao som do Hino Nacional, pelo Orfeão do Colégio,
hino aquele mais do que simples música, a voz da própria
Pátria.
Alunos das duas seções do Colégio acresceram
realizações do programa oficial comemorativo. Realizou
o corpo discente celebração de missa na matriz do
Engenho Velho, celebrante vigário da paróquia, Monsenhor
Mac Dowell, professor do Colégio. Realizaram também
os alunos da 5
a
série do Externato e do Internato sessões
lítero-musicais nas duas casas do Colégio, no Internato
sessão solene em o Grémio Litterario Mello e Souza, no
Internato também oferecido e promovido pelos quintanistas
da casa um almoço em homenagem a professores e ex-
alunos daquela seção do Colégio. Discentes do Externato
e do Internato dedicaram irradiações radiofónicas, emitidas
pela estação do Ministério da Educação, em honra das
duas casas do Colégio e dos professores Raja Gabaglia,
Pedro do Coutto, José Accioli, Henrique Dodsworth e
Escragnolle Dória.
Para a segunda quinzena de março de 1938, ficou
reservada, ainda na lembrança do Centenário do Colégio,
sessão solene, no Salão Nobre do Externato, sessão
presidida pelo Ministro da Educação e consagrada à lição
inaugural do ano de 1938, proferida pelo professor Dr.
Francisco Pinheiro Guimarães, e a inauguração na Sala da
Congregação dos bustos de D. Pedro Segundo, do Marquês
de Olinda e de Bernardo de Vasconcellos. Seria a
solenidade condigno fecho das comemorações do
Centenário.
No programa das festividades da centúria, bem
assinalado ficou o empenho de associar a elas, o mais
possível, a classe inteira dos bacharéis em letras,
graduados, ex-alunos e discentes próximos de graduação.
Grande o júbilo a 2 de dezembro de 1937, ao abrir-
se o Colégio, menoro foi o prazer do mesmo em 1937,
ao acentuar bem fundo o seu traço indelével na cultura
nacional.
Muito deveu o Colégio a D. Pedro Segundo, como
ao Colégio, em cem anos, ficou devendo o Brasil. Ao
considerar-lhe existência, serviços, esforços, lustre, pôde
a Pátria dizer, em 1937, Casa Benemérita, em lembrança
humanística e dantesca:
Onorate I'Altíssima Progénie.
Quadro de formatura, no Museu do Colégio, dos Bacharéis em
Ciências e Letras, turma de 1902, do Ginásio Nacional, nome do
Colégio na época, e onde se encontram, entre outros, Antenor
Nascentes, Manuel Bandeira e Souza da Silveira.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
XV
O Instituto dos Bacharéis em Letras Sua Fundação Seu Reconhecimento Oficial
Sua Vida e Seus Trabalhos A Solenidade de 2 de Dezembro de 1902
A Equiparação ao Colégio e o Instituto Seu Eclipse.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
M
erece referência especial, na vida centenária do
Colégio de Pedro Segundo, instituição singular
florescida nele anos seguidos. Constituiu associação de
antigos alunos da Casa a preceder de muito associações
do género,o apreciadas na Europa e ora tentadas de
novo no Brasil. Na espécie cabe prioridade ao Instituto
dos Bacharéis em Letras.
Em 1863, a 2 de julho, congregavam-se sete
bacharéis do Pedro Segundo para dar corpo à ideia do
grémio.
Àqueles, a coevos, a vindouros recordariam a vida
do Colégio, nele as lições, o proveito do seu ensino, a sua
tradição enfim.
Sete foram os fundadores do grémio. De inteira
justiça é memorar-lhes os nomes, mencionando o ano do
seu bacharelado.
Benjamim Franklin Ramiz Galvão Externato (1861)
Eduardo César de Almeida Rego Internato (1862)
Ernesto Frederico da Cunha Internato (1862)
Francisco José Xavier Internato (1862)
João Carlos Mayrink Internato (1862)
José Pereira Rego Filho Externato (1862)
Pantaleão José Pinto Externato (1861)
Em reunião de 2 de julho de 1863, data
festejadíssima na Bahia por último selo de Independência
propôs o bacharel Pereira Rego se denominasse o
grémio a criar Instituto Brazileiro de Sciencias e Letras.
A 25 de junho de 1863, realizava-se segunda sessão,
presentes os bacharéis fundadores e mais 21 bacharéis,
a convite dos fundadores para reunião de todos os
bacharéis residentes na Corte. Sejam eles mencionados
com o ano de graduação, pelas duas seções do Colégio,
realizada a divisão do Colégio em 1857.
Américo Romão de Figueiredo Mussuranga (1853)
(Bacharel pelo Liceu da Bahia)
Augusto José de Castro e Silva (1852)
António Dias Pinto Aleixo (1853)
Anastácio Luiz do Bomsuccesso (1852)
Alfredo d'Escragnolle Taunay (1858)
António José de Souza Rego —(1849)
António Maria Corrêa de Sá e Benevides (1862)
Carlos José Xavier —(1849)
Domiciano Fortes de Bustamante e Sá (1849)
Domingos José Freire —(1860)
Evaristo Nunes Pires —(1855)
José António de Araújo Filgueiras (1856)
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
João José de S. Paulo —(1862)
João de Saldanha da Gama (1853)
João Pinto do Rego César —(1859)
José Carlos de Almeida Áreas (1843)
José Vicente de Azeredo Coutinho (1849)
José Manoel da Silva (1862)
Luiz José de Carvalho Mello Mattos (1855)
Manoel Francisco Corrêa —(1855)
Theophilo das Neves Ledo —(1850)
(Bacharel em Letras pelo Liceu da Bahia)
Do grupo dos fundadores e dos primeiros adeptos,
do novel Instituto, muitos das primeiras turmas do Colégio,
haviam de notabilizar-se mais na vida nacional: Sá e
Benevides, Bispo de Mariana, Domingos Freire, lente de
Medicina, Alfredo d'Escragnolle Taunay e Manoel Francisco
Corrêa, Senadores do Império, o último também Ministro
de Estado, dos Negócios Estrangeiros.
Progrediu rapidamente o Instituto, a ponto de
encontrar amparo e consagração oficial, dada pelo Decreto
de 16 de maio de 1864, concedendo ao Instituto dos
Bacharéis em Letras autorização para exercer funções e
aprovando-lhe os respectivos Estatutos.
Era a consagração pelo poder público da sociedade
fundada na Corte com o título de Instituto dos Bacharéis
em Letras.
Fora o título proposto pelo bacharel Evaristo Nunes
Pires e aceito no correr da discussão de estatutos,
preferido ao de Instituto Brazileiro de Sciencias e Letras,
proposto pelo bacharel Pereira Rego, a 2 de julho de 1863.
O Decreto n.° 3.270 de 16 de maio de 1864, ano
quadragésimo terceiro da Independência e do Império, deu
prestígio ao Instituto.
Pelo Decreto, declarava Sua Majestade o Imperador,
com a referenda do Ministro do Império, José Bonifácio
de Andrada e Silva, que, atendendo à representação do
presidente do Instituto (o futuro Bispo de Mariana Sá e
Benevides) e à resolução tomada sobre o parecer da seçáo
dos Negócios do Império do Conselho de Estado, exarado
em consulta de 16 de abril de 1864, ficava o Instituto
autorizado a funcionar.
O Decreto de 16 de maio de 1864, porém, estatuía
explicitamente que as resoluções constantes do artigo 44
dos estatutos do Institutoo podiam contrariar disposições
do Decreto.
Careciam de aprovação do Governo Imperial os
princípios que se pretendiam servir de arestas e as reformas
a que se referia o artigo 45.
Diziam os estatutos:
Artigo 44 Qualquer casoo previsto pelos
presentes Estatutos será provisoriamente resolvido pela
Diretoria, cuja resolução, para formar aresto, fica
dependendo de aprovação da assembleia geral.
Artigo 45 Os sócios em número superior à metade
dos efetivos, poderão, quando julgarem necessário,
requerer uma assembleia geral, para reforma dos Estatutos,
o que, sendo aprovado, se incumbirá tal reforma a uma
comissão especial composta de cinco membros.
Os estatutos submetidos ao "placet" do Governo
Imperial haviam sido subscritos na sala das sessões do
Instituto pelos bacharéis Costa Ferraz, Freitas Mussuranga
e José Pereira Rego Filho.
Constavam os estatutos de 12 capítulos e 45 artigos.
Destes, os dois primeiros davam como juiz ao
candidato a reunião dos bacharéis em letras do Império,
para, pelos melhores meios possíveis, combinar e
promover o progresso intelectual de associados.
A fim de alcançar tal escopo, o Instituto realizaria
reuniões, e também aulas públicas, fundando caixas de
beneficência, quando possível.
Compor-se-ia o Instituto de cinco classes de sócios:
efetivos, honorários, beneméritos, benfeitores e
correspondentes.
Fundadores seriam quantos houvessem
comparecido à sessão inicial, a 2 de julho de 1863.
Desejando pertencer ao Instituto devia o candidato,
bacharel em letras, apresentar memória sobre qualquer
parte dos estudos do Imperial Colégio de Pedro II.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Os sócios efetivos contribuiriam com a quota mensal
de 2$000, remidos e benfeitores se oferecessem a quantia
de 50$000.
Todas as outras categorias de sócios do Instituto
ficavam isentas de contribuição pecuniária.
Cuidavam os estatutos da administração do Instituto
Incumbia-se o orador de produzir na sessão
aniversaria o elogio histórico dos sócios falecidos durante
o ano social, também caber-lhe-ia orações à beira túmulo.
As sessões ordinárias do Institutoo se realizariam
em novembro e dezembro, bimestre considerado de férias.
A abertura das sessões ordinárias dependeria da presença
mínima de 6 sócios.
Para apreciação de trabalhos dos sócios manteria o
Instituto 11 comissões, de 3 membros cada uma, relator
o membro mais votado. Uma de tais comissões seria a
de línguas vivas, especialmente a nacional, atendendo
também à indígena.
A 2 de julho de 1864, no Externato do Imperial
Colégio de Pedro Segundo, o Instituto celebrava sessão
inaugural contando no quadro social 52 bacharéis em letras.
À imitação de qualquer sociedade do género,
verificou, porém, o Instituto durante muito tempo presença
e esforços de infatigável grupo de sócios.
Em 1867, o Instituo conseguia publicar revista.
Intitulava-se Bibliotheca do Instituto dos Bacharéis
em Letras. Trazia 298 páginas abrangendo, entre outros
trabalhos literários, o discurso proferido na sessão solene
de instalação do Instituto pelo respectivo presidente
bacharel Sá e Benevides, O Púlpito no Brasil, da lavra
do bacharel Ramiz Galvão, e Quatro Vultos, ensaio crítico-
biográf ico de Álvares de Azevedo, Junqueira Freire, Laurindo
Rabello e Gonçalves Dias pelo bacharel Anastácio Luiz do
Bomsucesso.
Tal número da Biblioteca foi único, é hoje raridade
bibliográfica. Infelizmente, nisto ficou a publicação,o à
míngua de trabalhos literários, sim por falta de recursos
pecuniários de qualquer género.
Portaria do Ministério do Império, de 15 de fevereiro
de 1865, concedeu ao Instituto dos Bacharéis uma sala
no Externato para celebração de sessões e organização
da biblioteca.
Cumprindo a portaria, e dando maior desafogo ao
Instituto, muito se interessou por ele o secretário do
Externato e nele professor José Manoel Garcia, daí o
Instituto conferir-lhe o título de sócio honorário.
Os bibliotecários do Instituto, de 1865 em diante,
deles primeiro o bacharel Francisco José Xavier,
esforçaram-se por desenvolver a seção a seu cargo.
Contou a Biblioteca do Instituto, depois desamparada
e dispersa, obras de valor e coleção de manuscritos dignos
de apreço como fossem:
a) A Estolaida, poema herói-còmico do Cónego
João Pereira da Silva, oferecido ao Instituto pelo bacharel
Rego César.
Do poema publicado em 1878, só se conheciam
algumas estrofes e estas mesmo adulteradas.
Pereira da Silva era carioca, Cónego da Capela Real
em 1803, pregador régio, humanista de vida vária, tendo-
a iniciado como soldado. Escreveu A Estolaida. Do poema
extraiu e publicou o Cónego Januário da Cunha Barbosa,
no seu Parnaso, algumas oitavas do canto 2
o
, descrevendo
oo de Açúcar e a baía de Botafogo.
b) Poesias humorísticas e satíricas do monge
beneditino frei Rodrigo deo José, vice-reitor do Externato
e neste alma de disciplina para honra do Colégio.
c) O Orphão, trabalho de Joaquim Gonçalves
Ledo, o prócer da Independência, oferecido ao Instituto
pelo bacharel Carlos Alberto de Menezes, ajuntando este
à dádiva breve memória explicativa da sua autenticidade.
Era, aliás, a Biblioteca do Instituto alvo de dádivas
importantes. Assim a do bacharel Fernando Mendes de
Almeida, doador de 300 obras, pertencentes à biblioteca
paterna, a do laborioso sobreerudito Senador Cândido
Mendes de Almeida.
Em 1874, o Instituto dos Bacharéis em Letras
recebia graça especial do poder público. Concedia-o o .
Decreto de 22 de julho de 1874, permitindo aos sócios do
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Instituto, em atos públicos e solenes, uso de medalha de
ouro pendente de colar também de ouro. Numa das faces
da medalha via-se gravada a cabeça de Minerva, deusa
da sabedoria, laureada com a inscrição Pefro Duce et
Auspice Petro, eras ingens iterabimus aequor. Na outra
face da medalha, na parte central, a data do Decreto de
sua instituição 22 de julho de 1874 em derredor
Instituto dos Bacharéis em Letras.
O distintivo foi estreado por vários sócios em sessão
solene do Instituto, honrada com a presença de D. Pedro
II e da Família Imperial.
Até 1884, muitos trabalhos foram lidos nas sessões
regulares do Instituto. Entre eles figuravam, como mais
importantes,o só pelo interesse dos assuntos como
pela notoriedade dos autores, as seguintes produções:
Humanidade e Progresso (estudo das diversas
escolas filosóficas até a cartesiana), pelo bacharel Corrêa
de Sá e Benevides.
Geração Espontânea pelo mesmo , futuro Bispo
de Mariana.
O Púlpito no Brasil pelo bacharel Ramiz Galvão.
Quatro Vultos (Álvares de Azevedo, Junqueira Freire.
Laurindo Rabello e Gonçalves Dias) pelo bacharel
Bomsuccesso.
Historia da Poesia no Brazil pelo bacharel Oscar
Adolpho de Bulhões Ribeiro, futuro lente de medicina e
reputado cirurgião.
Historia do Theatro Grego pelo bacharel João
Baptista de Lacerda, futuro diretor do Museu Nacional.
A Glória de Colombo aos olhos da Historia pelo
bacharel Ramiz Galvão.
O Génesis e a Geologia pelo bacharel Pedro
Affonso de Carvalho, futuro lente de medicina e Barão de
Pedro Affonso.
Analyse das causas da decadência da litteratura
portugueza nos séculos XVI, XVII e XVIII, sua restauração
em Portugal pelo bacharel Alfredo Piragibe, futuro
diretor do Internato do Colégio.
Estudos sobre a provinda do Pará pelo bacharel
Custodio Américo dos Santos, futuro médico e professor
de Inglês do Colégio.
A Epopeia no Brasil pelo bacharel Carlos
Maximiano Pimenta de Laet, futuro professor e diretor do
Colégio.
Historia e Geographia da Provinda do Espirito Santo
pelo mesmo.
Etymologia, prosódia e ortographia das palavras
portuguezas derivadas do grego pelo bacharel Ramiz
Galvão.
Historia da cidade do Rio de Janeiro pelo bacharel
Vieira Fazenda, futuro cronista emérito da Cidade.
Apontamentos para a historia civil e ecclesiástica
do Rio de Janeiro pelo mesmo.
Diccionario etymologico e prosodico da lingua
portugueza (princípio da letra A) pelo bacharel Ramiz
Galvão.
Historia e Geographia da provinda de Goyaz pelo
bacharel Carlos Artur Moncorvo de Figueiredo,futuro e
acatado pediatra.
Catálogo dos manuscriptos que possam interessar
à historia e geographia do Brazil pelo mesmo.
Macbeth pelo bacharel Augusto Ferreira dos
Santos, futuro lente de Medicina do Rio de Janeiro.
Viagem à America por João de Léry tradução do
bacharel Moncorvo.
Estudo sobre o theatro nacional pelo bacharel
Manoel Veloso Paranhos Pederneiras, futuro decano do
jornalismo carioca.
Considerações sobre a obra de Draper Conflito
de Ciência e da Religião pelo bacharel João Pinto do
Rego César, futuro médico, clínico por longos e notórios
anos no Rio de Janeiro.
A Alma e o Cérebro pelo bacharel Rego César.
Considerações sobre a obra Fim da Criação ou a
natureza interpretada pelo senso commum pelo bacharel
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Rego César (A obrao traz nome do autor, é porém da
autoria de José de Araújo Ribeiro, Visconde do Rio Grande
e Senador do Império).
A educação da Mulher pelo bacharel Alfredo
Moreira Pinto, o futuro geógrafo.
Hermann e Dorothéa, tradução do original de Goethe
pelo bacharel João Henrique Braune, futuro lente de
Grego do Colégio.
O Sonho, o Elogio da Mosca, e Tragapo dagra
(tradução do original grego de Luciano) pelo bacharel
Tomaz Ramos da Fonseca, futuro lente de Grego no Colégio.
Além dos mencionados trabalhos literários, outros
muitos foram lidos nas sessões do Instituto dos Bacharéis
em Letras, assim as produções dos seguintes bacharéis:
Pantaleão José Pinto (Estudos das Línguas Vivas),
Manoel Gomes Belfort Duarte (História da Literatura
Antiga), António Teixeira de Souza Alves (Principais
Classificações Mineralógicas), João Marinho de Azevedo
(Agentes Plutônicos), Ernesto Frederico da Cunha (História
dos Primeiros Séculos do Cristianismo), Joaquim da Cunha
Barbosa (Consciência e Crime, Poesia, e História da
Literatura Sagrada e Profana), José Pereira Leitão Júnior
(Concerto dos Séculos), Balthazar Bernardino Baptista
Pereira (Memória Histórica do Município de Itaboraí e
Memória sobre os Governadores do Brasil), João Luiz dos
Santos Titara (Considerações sobre o Governo do Paraguai),
João Diogo Esteves da Silva (A Filosofia e a Humanidade
e Estudos sobre a Educação Brasileira), José Tito de
Araújo (Lendas Bíblicas Históricas e Imaginativas), Eduardo
de Lima Barros (Estudos Bibliográficos dos Poetas
Nascidos no Brasil), e traduções em verso da Piedade
Suprema hugoana, de To Be or Not To Be (o monólogo
Shakespeareano), Evaristo Nunes Pires (A Pasmaceira,
poema satírico), Carlos Alberto de Menezes (Calabar
Perante a História), Childerico Paranhos Pederneiras
(História das Artes no Brasil, Os Meninos das Ruas de
Nova âorú, tradução), Duarte José de Mello Pitada
(Apontamentos Curiosos e Históricos), António Mendes
Limoeiro (O Passado e o Futuro, poesia. Vida e Progresso,
sátira. Páginas Literárias, 93 e Vitor Hugo), Anastácio Luiz
do Bomsuccesso (Análise do Colombo, de Porto Alegre,
em 6 cartas dirigidas ao bacharel Nunes Pires, A Fábula,
sua Cultura em todos os Tempos e em todos os Lugares,
Alegrias da Pátria, Análise de três romances de Alencar:
Iracema, O Garatuja e O Ermitão da Glória), José Basileu
Neves Gonzaga (Memória sobre o Dilúvio Universal).
Copiosa, pois, a lista de trabalhos apresentados ao
Instituto dos Bacharéis em Letras e nele discutidos.
Celebrava o Instituto, em 1884, à solene, o
aniversário de instalação (1863-1884).
Memorava a data em sessão honrada, pela segunda
vez, com a presença de D. Pedro II e da Família Imperial,
em 2 de julho de 1884.
Dizia então o secretário do Instituto, o doutor em
medicina e bacharel em letras Diogo Garcez Palha,
referindo-se às augustas presenças imperiais: "Praza
aos Céus que tal ventura sirva de estímulo ao Instituto
para continuar no trabalho e aplicação e fazendo pela minha
parte votos pela sua prosperidade , peço aos meus
colegas queo desanimem, certos de que no estudo das
ciências só poderão encontrar um hino majestoso entoado
ao Criador e ao ordenador dos mundos e que só com muita
aplicação poderão descobrir armas para as contrariedades
quem sofrido e queoo mais que a revelação da
imperfeição e contingências humanas, e lhes peço que se
dediquem ao trabalho tendo sempre em vista que o homem
nascido para a verdade jamais a poderá encontrar na terra
que habita e nas ciências que possui, por maior que seja
a sua soma, se as deixar de aceitar, aprender e conservar
cuidadoso na revelação do Supremo Criador do Universo.
Avante, pois, senhores do Instituto,o
desanimemos após vinte anos de trabalhos e, ainda,
quando pareçam superiores às vossas forças os
obstáculos a vencer, prossegui, trabalhai, lutai porque a
luta é a vida".
A enumeração dos principais trabalhos dos sócios
do Instituto no decurso de mais de dois lustros, os
decorridos de 1863 a 1884, sugere reflexões.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Cumpre considerar primeiro o esforço de sucessivas
diretorias, buscando manter a continuidade e o prestígio
do Instituto.
Assinale-se o interesse manifestado por muitos
sócios pelos trabalhos do Instituto. Observe-se a
orientação do espírito de alguns bacharéis em letras,
orientação partida do Instituto e seguida vida inteira.
Assim Ramiz Galvão a preocupar-se com estudos
linguísticos, muitos hauridos do grego, Vieira Fazenda a
tratar no Instituto do passado do Rio de Janeiro. Nem
pareça descurioso notar a orientação inversa dos espíritos
de outros sócios do Instituto, tais os de Oscar Bulhões e
Pedro Afonso, de Moncorvo de Figueiredo, de Moreira Pinto,
os três primeiros dedicados à ciência médica, o último,
cultor da História e Geografia deo boa sociedade.
Às diretorias do Instituto coube grande parte do
merecimento de conservação dele. A primeira diretoria,
eleita para o biénio 1863-1864, assim se compôs:
Presidente Bacharel António Maria Corrêa de Sá
e Benevides, ao depois Bispo de Mariana. Vice-
Presidente Manoel Francisco Corrêa, depois deputado
geral, Senador do Império e Ministro de Estado.
1
o
Secretário Bacharel Ernesto Romão de Freitas
Mussurunga.
2
o
Secretário Bacharel Benjamin Franklin Ramiz
Galvão, sócio fundador, lente de medicina, diretor da
Biblioteca Nacional, preceptor dos Príncipes D. Pedro e D.
Luiz de Orleans e Bragança.
Tesoureiro Bacharel José Pereira Rego Filho,
sócio fundador, médico, secretário-geral da Imperial
Academia de Medicina.
Orador Bacharel Luiz José de Carvalho Mello
Mattos, advogado, Presidente da Assembleia Provincial
Fluminense.
1
o
Suplente Bacharel João Carlos Mayrink,
médico, sócio fundador.
2
o
Suplente Bacharel Ernesto Frederico da Cunha,
médico.
De 1863 a 1867 ocupou a presidência do Instituto o
bacharel Sá e Benevides, substituído em 1867 pelo
dedicadíssimo bacharel Anastácio Luiz do Bomsuccesso,
anteriormente 1
o
secretário e vice-presidente.
Foi o cargo de orador do Instituto desempenhado de
1864 a 1871, pelo bacharel Ramiz Galvão. Sucederam-
Ihe o bacharel Neves Gonzaga, orador de 1871 a 1875, o
bacharel Mendes Limoeiro de 1875 a 1877, e de 1880 a
1881, o bacharel Manoel Velloso Paranhos Pederneiras de
1877 a 1878, o bacharel Rego César de 1878 a 1879, o
bacharel Fernandes Figueira de 1880 a 1881.
Solenidade das maiores e da mais alta expressão
promoveu o Instituto dos Bacharéis em Letras, presidido
em 1902 pelo bacharel José Bernardino Paranhos da Silva.
Foi aquela solenidade a sessão comemorativa do
65° aniversário da fundação do Colégio de Pedro 2
o
, então
"Gymnásio Nacional", nome no qual as paixões partidárias
de momento obliteravam gratidão perene.
Pouco antes da solenidade de 2 de Dezembro de
1902, o Instituto dos Bacharéis em Letras incumbira uma
comissão de elaborar o programa do ato festivo.
Compunha-se a delegação dos bacharéis:
Conselheiro Manoel Francisco Correia, da turma de 1849,
Alfredo Russell, da turma de 1891, Paranhos da Silva, da
turma de 1892, Raul Pederneiras, da mesma turma,
Theodoro Magalhães, da turma de 1893.
A 2 de dezembro de 1902, às 11 horas da manhã,
Monsenhor João Pires de Amorim, ex-vice-reitor e antigo
professor de Religião do Colégio, celebrou missa em ação
de graças acolitado por antigo aluno do Colégio, Cónego
Manoel Marques de Gouvêa.
Rezou-se a missa na igreja deo Joaquim, contígua
ao Colégio, nela celebrada outra missa, a 3 de dezembro,
por alma dos bacharéis em letras desaparecidos no
decurso de mais de meio século de vida do Instituto.
Na manhã de 2 de dezembro de 1902, comissão de
bacharéis, representando o Instituo, na necrópole de
Catumbi, visitou os túmulos do marquês de Olinda e de
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Bernardo de Vasconcellos, o Regente e o Ministro
fundadores do Colégio, sem ser possível prestar igual
homenagem aos restos mortais do primeiro reitor, o Bispo
D. Frei António de Arrábida.
Junto aos túmulos de Olinda e Bernardo de
Vasconcellos, quedaram-se respeitosos os bacharéis
Conselheiro Manoel Francisco Correia, da turma de 1849,
Theodoro Magalhães, Alfredo Russell, Werneck Machado,
da turma de 1881, Amarílio de Vasconcellos e Hermínio
Lyra da Silva, da turma de 1893.
Reuniram-se depois ao tradicional toque da sineta,
no pátio do Externato do Ginásio Nacional, numerosos
bacharéis em letras.
Muitos representavam outros colegas.
Formaram todos, por ordem de turmas, à testa
destes o bacharel decano de 1849, Carlos Arthur Busch
Varella. Caminharam os bacharéis para o Salão Nobre do
Ginásio.
Aí os aguardava luzido auditório no qual, entre
pessoas gradas, figuravam o Dr. José Joaquim Seabra,
Ministro da Justiça, os Drs. Francisco Cabrita e Coqueiro,
diretores do Externato e Internato, assistidos pela
Congregação do Ginásio composta de lentes em exercício
e jubilados.
Fora reservado aos bacharéis lugar distinto na
solenidade.
Sentaram-se por ordem de turmas. No meio de
colegas da turma de 1865, divisava-se o então Presidente
da República, Rodrigues Alves, perto dos bacharéis José
Américo dos Santos, Edmundo Mendes Limoeiro, Luiz
Betim Paes Leme e Valeriano da Fonseca.
Na mesa de honra da sessão alvejavam dois
barretes. Um havia imposto grau aos bacharéis de 1849,
da primeira turma saída do Colégio, o outro pousara sobre
a cabeça dos bacharéis de 1901, última turma graduada
em ciências e letras.
Convidou o presidente do Instituto dos Bacharéis,
Paranhos da Silva, o bacharel mais antigo, Busch Varella,
para presidir a sessão.
Ficavam-lhe ao lado os bacharéis Theodoro
Magalhães e Lima Drummond, 1
o
secretário e orador do
Instituto.
Como de direito orou primeiro o bacharel Busch
Varella, cheio de triunfos oratórios na tribuna forense. O
discurso do bacharel decano de 1843 foi expressivo
transunto de passado e saudade.
Com aquele rememorou a vida oficial do Colégio,
com esta a vida íntima dele.
Bacharel em letras em 1843, era Busch Varella
advogado da mais célebre nota. Em 1902, remontando ao
antanho, dizia de antigos professores do Colégio,
Gonçalves de Magalhães, Joaquim Caetano, Santiago
Nunes Ribeiro, Silva Maia, Porto Alegre.
Do patrono da casa, D. Pedro II, afirmava Busch
Varella, referindo-se aos primórdios do Colégio Imperial:
"Poucos eram então os alunos; o jovem Imperador,
moço da mesma idade que eles, visitava com frequência
as aulas, acompanhado quase sempre do seu venerando
amigo, o Visconde de Sapucaí, de saudosa memória;
tomava vivo interesse pelo adiantamento dos alunos,
assistia às suas lições e para todos tinha boas palavras
de animação. Foi assim que ele radicou nos corações de
todos aqueles moços uma respeitosa simpatia que o
acompanhava nos seus dias de glória e nos transes de
sua acidentada existência".
Tratando das reformas de modificação, à primitiva
regulamentação do Colégio, observava ainda Busch
Varella:
" Dessas reformas, a mais importante foi a de 1854,
elaborada pelo benemérito Visconde de Bom Retiro, que
com tanto zelo, atividade e inexcedível patriotismo geria
os negócios do Ministério do Império, onde deixou traços
luminosos de sua passagem.
o me acoimeis de indiscrição se vos disser que
o Ministro Visconde, declinando dos louvores que alguém
tributava ao seu magnífico trabalho, respondeu que todo o
merecimento dessa reforma cabia ao Imperador, que tinha
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
estudado acirradamente todo o movimento pedagógico nos
modernos sistemas e métodos de ensino na Europa,
especialmente em França".
Prosseguindo na oração, o bacharel Busch Varella,
em nome da Pátria, pugnou pela repatriação dos restos
mortais de D. Pedro II e de D. Theresa Christina postos no
panteão mortuário bragantino do mosteiro deo Vicente
de Fora, em Lisboa.
"A iniciativa da ideiao é minha, antes de mim
manifestou-a na imprensa um ilustre brasileiro queo
pode ser averbado de suspeito; onze anos foi ele Cônsul
e Ministro do Brasil nos Estados Unidos da América do
Norte e a sua adesão às formas republicanas é bem
conhecida: foi ele quem em 1893 aconselhou à
República que para dar ao mundo documento de sua
estabilidade mandasse trasladar para a terra da Pátria os
restos mortais do Brasileiro e de sua santa esposa, que
nos deram a todos o modelo da família e o exemplo dos
bons costumes e dos sentimentos pios, o republicano que
assim se exprime é o Sr. Salvador de Mendonça."
Vinte anos passaram. Só em 1922, celebrado o 1
o
Centenário da Independência, realizaram-se os votos de
Salvador de Mendonça, em 1893, e de Busch Varella em
1902, a 2 de dezembro de justo em data natalícia do
Imperador, "dia outrora festivo e de gala", como disse
Busch Varella, comparando D. Pedro II "a filho que chorava
com saudade, maso se queixava dae que o lançara
de si".
A Busch Varella sucedeu na tribuna o 1
o
Secretário
do Instituto dos Bacharéis em Letras, o bacharel Theodoro
Augusto Ribeiro de Magalhães inventariando, às rápidas,
os principais sucessos da vida do Colégio, da fundação a
1902.
Prestando homenagens aos vultos da Casa,
exaltando-lhes préstimos sem lhes calar culpas
obedientes à franqueza humana, "como republicano
intransigente e cronista imparcial ", Theodoro Magalhães
salientava sobretudo a valia do estabelecimento
"sancionada pelo correr dos decénios e testificada pela
lista dos 704 bacharéis por ele diplomados,o contando
os estudantes que abandonaram o curso no 5
o
e 6
o
ano de
estudos para, com aproveitamento, frequentarem as
academias".
Ao bacharel Theodoro de Magalhães seguiu-se com
a palavra o bacharel João da Costa Lima Drummond, desde
os bancos colegiais tido por orador, na solenidade de 2 de
dezembro de 1902, o sendo por mandato e conta do
Instituto dos Bacharéis em Letras.
O discurso de Lima Drummond focalizou sobretudo
a figura de Bernardo Pereira de Vasconcellos, o Ministro
interino da Regência Olinda a desvelar-se tanto na fundação
como na posterior defesa do Colégio.
s Lima Drummond também em relevo a figura de
morto querido do Instituto, o Dr. Anastácio Luiz do
Bomsuccesso "o médico caridoso e exímio fabulista,
que durante muitos anos do género fora muitas vezes a
única personificação genuína e viva, desdenhando sempre,
por inúteis e fugaces, as seduções da força e do poder, na
íntima convivência com os pobres e os humildes, porque
confiava nestes dois poderosos elementos de formação
do caráter, o trabalho e a honra, transunto fiel da sua vida".
Principiada ao meio-dia, findava quase às quatro
horas da tarde a solenidade promovida pelo Instituto dos
Bacharéis, a 2 de Dezembro de 1902.
Tornara realidade ideia havia muito no pensamento
de alguns bacharéis em letras, entre eles Teixeira Júnior,
Visconde do Cruzeiro, e Busch Varella.
A 5 de agosto de 1902, em reunião de 40 bacharéis,
fora resolvido levar avante a ideia da comemoração do
65° aniversário da fundação do Colégio.
Realizou-se o ato, qual o narramos, com toda a
solenidade e júbilo geral da classe dos bacharéis em letras
do Pedro Segundo.
A estes associaram-se vultos da maior
representação pátria e até estrangeira, presente à festa o
Dr. Susviela Guarch, Ministro do Uruguai no Brasil, também
entre convidados o Arcebispo do Rio de Janeiro, D. Joaquim
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti e representantes de
oito associações científicas, bem como significativamente
irmãos da Irmandade deo Joaquim, funcionando no
templo contíguo ao Externato do então Gymnásio Nacional.
Por ocasião da solenidade de 2 de Dezembro de 1902,
reeditou e distribuiu o Instituto de Bacharéis em Letras o
discurso lapidar de Bernardo de Vasconcellos, na abertura
do Colégio, a 25 de março de 1838, dia de grande gala
pelo aniversário do juramento da Constituição do Império.
Nunca se mostrou o Instituto de Bacharéis indiferente
às questões de ensino, sobretudo se diziam respeito ao
Colégio.
Sobretudo aos bacharéis em letras sempre parecer
provisório o título de Ginásio Nacional.
A divina justiça imanente, superando a dos homens,
dia mais, dia menos, restituiria à gloriosa Casa o nome
daquele cujos auspícios fora fundada em 1837.
Do interesse do Instituto dos Bacharéis por questões
pedagógicas, mormente relativas ao Colégio, há frisante
exemplo.
No uso de Direito Constitucional, o de petição, aos
membros do Congresso Nacional representou o Instituto
dos Bacharéis em Letras.
Verberou o ato do poder executivo federal contido
no Decreto equiparando em 1895 ao Gymnásio Nacional,
aos seus 58 anos de existência, o Instituto Kopke com
sede no Rio de Janeiro, dirigido aliás por pessoa digna e
de cultura.
O Instituto dos Bacharéis nomeou comissão para
redigir representação ao Congresso Nacional.
Compuseram-na os bacharéis Luiz Carlos Fróes da
Cruz, presidente, José Bernardino Paranhos da Silva,
relator, Carlos José Sallaberry, Alfredo de Almeida Russell
e Ildefonso Castilho Lisboa.
A extensa e bem elaborada representação do
Instituto foi distribuída em avulso. Analisava os artigos
dos Decretos aos quais se referia o ato do poder executivo,
bem como os avisos e as deliberações do mesmo poder
referentes ao assunto, entrando por último o relator da
representação a estudar, com minudência e segurança, o
Decreto favorecendo o Instituto Kopke.
Ao próprio Congresso Nacional, o Instituto Kopke
pleiteara a equiparação ao Ginásio Nacional, pelo Poder
Legislativo rejeitada a pretensão.
A representação do Instituto, pelo relator desta,
Paranhos da Silva, mostrava a ilegalidade da concessão
do Poder Executivo ao Instituto Kopke.
O Instituto dos Bacharéis firmou, pois, protesto
contra o regime das equiparações cuja história, cujas
consequênciaso serão aqui narradas, examinando quais
os seus efeitos em relação ao ensino.
Nem foi o Instituto dos Bacharéis indiferente à
postergação do nome de D. Pedro II como o do verdadeiro
nome do Colégio. Em sessão ordinária, por unanimidade
de votos e sob a presidência do bacharel Paranhos da Silva,
aprovou o Instituto representação dirigida ao Presidente
da República e da lavra do sócio honorário professor
Escragnolle Dória ao qual o Instituto conferira aquele título
pelo seu devotamento à instituição, na qual tomara posse
proferindo discurso de exaltação ao Colégio, aos seus
serviços, à sua tradição
No recuperar antiga denominação de Colégio de
Pedro Segundo, podem encontrar-se o esforço e os votos
do Instituto de Bacharéis em Letras.
Eis, como em nome dele, se expressava o professor
Escragnolle Dória, dirigindo apelo aos altos poderes do país
no sentido de reparar injustiça oriunda de instantes
agitados de transição do regime monárquico para o
republicano, quando por efeito de paixões momentâneas
até direitos adquiridos de professores do Colégio foram
violados para ulteriores reparações judiciárias e
administrativas.
A Mudança de Nome do Ginásio Nacional
Eis a representação do Instituto pedindo a restituição
ao Colégio do nome de D. Pedro II:
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
"Sr. Presidente da República O Instituto de
Bacharéis em Letras, associação exclusivamente fundada
por Bacharéis do Colégio de Pedro Segundo e por eles
também exclusivamente mantida 46 anos (1863-1909),o
pode conservar-se indiferente à mudança de nome ora
sofrida pelo Gymnasio Nacional.
Considerando-se, com justo orgulho, ante mural do
Gymnasio, tendo sido por várias vezes pelo Governo
julgado objeto de favores especiais, o que equivale à
declaração implícita de utilidade pública o Instituto acredita
ter pleno direito de intervir no assunto com a força de sua
tradição e o vigor de suas convicções.
Fundado em 1837, o Colégio de Pedro Segundo
começou a funcionar em 1838 como internato, semi-
internato e externato. Corridos dois decénios, o Decreto
de 24 de outubro de 1857 desmembrou o estabelecimento
em duas seções: Externato e Internato do Colégio de
Pedro Segundo. A divisãoo alterou o nome principal do
Colégio.
Sobrevêm a República. Apaga-se o título do Colégio.
Extingue-se o internato. Transformam-se as antigas duas
seções em 1
o
e 2
o
Institutos de Instrução Secundária,
ambos em caráter de externato. Mais tarde, adota-se,
enfim, novo nome, Gymnasio Nacional seccionando em
Externato e Internato do Gymnasio Nacional, seguimento
do Externato e Internato Imperial Colégio de Pedro
Segundo.
Agora desaparece o Gymnasio. Surgem em lugar
dele o Externato Nacional de Pedro Segundo e o Internato
Nacional Bernardo de Vasconcellos, substituindo o
Externato e o Internato do Gymnasio Nacional.
Com a devida licença, parece ao Instituto de
Bacharéis em Letras lhe ser lícito pleitear para o ex-
Gymnasio Nacional a restituição in-integrum do antigo título
Externato e Internato de Colégio de Pedro Segundo, pelas
razões seguintes:
1
o
Cinquenta e dois anos de tradição sagraram
para o Colégio o nome de Pedro Segundo.
Trinta e dois anos de tradição lhe assinalaram as
denominações de Externato e Internato do Colégio de Pedro
Segundo. Tradição inteiriça, coesão perfeita.
2
o
No período republicano, o Gymnasio Nacional
se viu dividido em Externato e Internato do Gymnasio
Nacional eo recebeu duas denominações opostas.
3
o
O voto da Congregação, o desejo dos órgãos
da opinião nacional, a voz dos oradores nas festas de grau
da Casa sempre pediram a mesma coisa: a volta do
nome de Pedro Segundo para todo o estabelecimento.,
pura e simplesmente.
4
o
Quaisquer que tenham sido os serviços de
Bernardo Pereira de Vasconcellos ao Colégio, no momento
histórico de sua fundação — e ninguém os nega como
ninguém esquece também os préstimos do Regente, a
primeira figura do Governo tais serviços se limitaram à
época da fundação. Entretanto, a vida do Monarca
identificou-se com o Colégio de Pedro Segundo, e o
soberano muito se esforçou nas funções de protetor da
Casa, proporcionando-lhe o maior esplendor, impondo-a
de tal modo, que de 1889 par diante todos reivindicaram a
restituição ao Gymnasio Nacional do título de Colégio de
Pedro Segundo.
Ninguém falou em Bernardo Pereira de Vasconcellos.
5
o
O nome de Bernardo Pereira de Vasconcellos,
na tradição do Colégio de Pedro Segundo, representa corpo
estranho, quando pode merecer completo aplauso e
unânime simpatia a concessão do glorioso nome a nova
fundação pedagógica. Chamado Bernardo Pereira de
Vasconcellos o Internato, é forçoso chamar o Externato
Marquês de Olinda pois, na época da fundação do
Colégio, Olinda dirigia o país em nome do Imperador menor,
nada se podendo fazer sem anuência dele.
Tradições equivalem a grandes brilhantes,o se
partem. Que valor tem a Estrela do Sulou o Kohinoorem
pedaços?
6
o
Argumentando por absurdo, como muitos
argumentam no caso, o nome de Pedro Segundo representa
apenas adulação antiga de 1837, com a qual se conformou
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Bernardo Pereira de Vasconcellos. Que nos ensinam,
porém, lições do mundo civilizado?
Os nomes de monarcas podem estar ligados a
institutos de ensino, corroborando a posteridade
homenagem oficial do momento. Na cultíssima França
espelho secular da civilização e dela perene exemplo
nos plenos dias da democrática Terceira República
ninguém ainda se insurgiu em Paris contra o Lycée Henry
IV'ou contra o Lycée Louis le Grand.
o consta a presença de Henrique IV ou de Luiz
XIV na história da pedagogia.
Ninguém se lembrou de arrancar o nome de Henrique
IV e de substituí-lo pelo de Sully, entretanto Ministro de
assinaladíssimos serviços ao rei e à Pátria.
7
o
Denominar o ex-Gymnasio Nacional
externato de Pedro Segundo e Internato Bernardo de
Vasconcellos equivale a produzir confusões em muita
ordem de assuntos:
a) dividindo a Congregação em dois grupos
anualmente presidido pelo diretor de estabelecimento de
nome diferente; dois corpos visíveis animados por suposta
alma.
b) provocando a coexistência de títulos como o
de bacharel em ciências e letras pelo Externato de Pedro
Segundo e bacharel em ciências e letras pelo Internato
Bernardo de Vasconcellos quando, entretanto, tais títulos
emanam da fonte e contudo nada de comum representam;
c) disassociando completamente em futuro muito
próximo a tradição histórica e a vida em comum de dois
estabelecimentos ligados há mais de meio século;
d) dificultando distribuição das rubricas
orçamentárias e de todos os serviços delas decorrentes.
8
o
— A presença de dois títulos Colégio de Pedro
Segundo e Colégio Bernardo de Vasconcellos acarretará
para o Governo numerosas dúvidas para as equiparações
de que infelizmente tanto se usa.
Qualquer colégio a equiparar-se a qual será
equiparado ao Externato de Pedro Segundo ou ao
Internato Bernardo de Vasconcellos?
Talvez se responda: os externatos ao Externato
tipo o Pedro Segundo os internatos ao Internato tipo
o Bernardo de Vasconcellos.
Mas os colégios "ad-equiparandum"o de regime
misto na maior parte. A soluçãoo resolve, pois, a
dificuldade.
O argumento é apresentado pelo Instituto apenas
como lisura e inteireza na argumentação, porquanto o
Institutoo dá quartel ao regime das equiparações, que
combateu e combaterá tenaz e inflexivelmente.
Volvendo-se à denominação Colégio de Pedro
Segundo Externato e Internato tudo ficará sanado.
A restituição será perfeita, a tradição se tornará
inteira, as complicações de ordem administrativa
desaparecerão.
o há desar para governo algum reconsiderar seus
atos.
A fórmula sem efeito que os governos
empregam quotidianamente em relação a pessoas e
coisas jamais os desdoura, quando derivados de motivos
justos ou recuo de boa.
Nem o Estado é oráculo, nem os estadistaso
granito. Insensatez é teimar sem razão. O futuro, aliás,
governa mais do que o presente. Leis e medidas bem feitas
perduram. Na hipótese contrária espera-as o porvir para
suprimi-las ou modificá-las.
Ousaria o Governo de 1890 transformar o Instituto
Nacional de Instrução Secundária em Colégio de Pedro
Segundo?
Entretanto, em 1909, dentro da mesma geração, foi
o ato perfeitamente possível e aplaudido.
Os signatários de célebre manifesto republicano de
1870 foram tachados de visionários. Que se disse deles
em 1889?
o é demais insistir no amor ao nome antigo do
colégio. Nome ilustre constitui na pátria, em qualquer ordem
social, na própria família, património inestimável, defendido
à custa dos maiores sacrifícios, honrado a poder dos
maiores esforços.
Protestando, pois, o seu súbito apreço ao Governo
constituído, o Instituto dos Bacharéis em Letras, escudado
na razão, nas tradições, no desejo unânime da classe,
vem respeitosamente solicitar-lhe a restituição inteira do
nome de Pedro Segundo para o Externato e o Internato do
ex-Gymnasio Nacional".
Infelizmente, após longos anos de vitalidade, na
constância de esforço pela cultura, o Instituto dos
Bacharéis em Letras entrou em eclipse do qualo saiu
até hoje. Merece ressurreição pois, e sempre teve vida
nobre. Que ressurja.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Washington Luiz Pereira de Souza,
Presidente da República (1926- 1930). Ex-aluno.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
AARÃO REIS, Daniel Penna 244, 250
ABRANTES, Marquês de ver ALMEIDA, Miguel Calmon
du Pin e
ABREU, Decio Guimarães 268-269
ABREU, Joào Capistrano de 167, 181,222, 231, 264
ABREU, Pedro José de 89, 105, 130, 133, 143-145, 163-
164, 190
ABREU, Saturnino Santa Clara Antunes de, Frei 127,
163
ACADEMIA DE CIÊNCIAS, LETRAS E ARTES 249
ACADEMIA DE HISTÓRIA 249
ACADEMIA DE MARINHA 76, 108, 163
ACADEMIA DOS DEZ 249
ACADEMIA FRANCESA 268
ACADEMIA IMPERIAL DAS BELAS ARTES 102, 119,
143
ACADEMIA IMPERIAL DE MEDICINA 102-103
ACADEMIA MILITAR DO RIO DE JANEIRO 44, 108
ACCIOLI, José Cavalcanti de Barros 183, 234, 254,
258, 260, 269
ACHE, Felippe Hypolito 72
ADJUNTO, Alonso Garcia 176, 179
AFFONSO PENNA JÚNIOR 221, 229
AFFONSO PENNA, Presidente (1906-1909) 183, 186-
188,227
AGASSIZ, Luiz 107-108
AGRÍCOLA, Júlio 159
AGUIAR, Carlos Augusto da Costa 190
AGUIAR, Joaquim Luiz Mendes de 188, 226, 228, 231-
232, 240
AGUILAR, José Pedro Werneck Ribeiro de 65
AITA, Nella 210
ALBUQUERQUE, Almeida e 43
ALBUQUERQUE, António Francisco de Paula e Holanda
Cavalcanti de 51
ALBUQUERQUE, Félix Maria de Freitas e 101,120-121,
153
ALBUQUERQUE, Francisco de Paula Cavalcanti de 51
ALBUQUERQUE, José Cândido de 128
ALBUQUERQUE, Ugolino Ayres de Freitas e 120
ALBUQUERQUE. Visconde de ver ALBUQUERQUE.
António Francisco de Paula e Holanda Cavalcanti de
ALEIXO, António Dias Pinto 272
ALENCAR, Alexandrino Faria de 188
ALENCAR, José Martiniano de 40
ALEXANDER, Alfredo 52, 164, 231
ALFREDO, João ver OLIVEIRA, João Alfredo Correia de
71, 117-118, 120, 122
ALMEIDA LISBOA, Joaquim Ignacio de 182, 240
ALMEIDA, António Caetano de 100
* Elaborado pela Comissão de Atualização. As entradas para nomes institucionais aparecem em itálico e para os títulos de
publicações, em negrito. (N. do E.)
índice Onomástico*
ESCRAGNOLLE DÓRIA
ALMEIDA, António Figueira 229.238
ALMEIDA, Cândido Mendes de 274
ALMEIDA, Fernando Mendes de 120, 191, 274
ALMEIDA, Joào Mendes de 190,213
ALMEIDA, João Ribeiro de 72
ALMEIDA, Luiz Castanhede de Carvalho e 161-164,
178,213,228
ALMEIDA, Manoel António de 166
ALMEIDA, Miguel Calmon du Pin e 23, 68, 72, 79
ALMEIDA, Pires de 268
ALMEIDA, Vital de 212,218
ALMEIDA, Walkyria 269
ALVARENGA, Silva 17
ALVARES DE AZEVEDO, Manoel António 63-64, 66, 89,
94, 184
ALVERCA, Abade de ver SALGUEIRO, José dos Santos
ALVES, António Teixeira de Souza 276
ALVES, João Luiz 214, 216, 221, 224
ALVES, Joaquim José de Oliveira 162, 177
ALVES, José Luiz 61,67
ALVES, Luiz Augusto Drumond 187
ALVES, René Pereira 250
ALVIM, Cesário 172
AMARAL, António Felizardo Cupertino do 116
AMARAL, Ignacio de Azevedo 266
AMARAL, José de Santa Maria 69, 90, 112, 114, 118,
120,127
AMÉRICO, Paschoal 268
AMOR DIVINO, José de 26
AMORIM, João Pires de 119, 163, 277
ANANIAS, António Jorge 250
ANCHIETA 16,123
ANDRADA, António Carlos Ribeiro de 50-51, 53, 72,
257-258
ANDRADE, António José de Paiva Guedes de 59
ANDRADE, Boaventura Plácido Loureiro de 130
ANDRADE, Nilo 242
ANDRADE, Nuno de 130-131
ANDRADE, Octávio Freire de 241
ANDRÉA, Álvaro Soares de 130. 132
ANEMÚRIA, Bispo dever ARRÁBIDA, António de, Frei
ANUÁRIO 63, 76
AQUINO, João Pedro de 174
ARAGUAIA, Visconde de ver MAGALHÃES, Domingos
José Gonçalves de
ARANHA, Graça, Almirante 261
ARAÚJO, Carlos Brasil de 250, 254
ARAÚJO, Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de 107
ARAÚJO, Jorge Américo de 250
ARAÚJO, José Tto Nabuco de 276
ARAÚJO, Manoel de Monte Rodrigues de 44
ARAÚJO, Murillo 229, 265
ARAÚJO. Pedro Américo de 250
ARAÚJO, Urbano dos Santos da Costa 214
ARAUTO, O 250
ARCOS, Conde dos 21
ARCOVERDE, Joaquim 182,280
ARÊAS, José Carlos de Almeida 56,273
ARINOS, Barão dever BRITO, Thomás Fortunato de
ARNIZAUT, Luiz Joaquim de Almeida e 65-66
ARQUIVO NACIONAL 184, 235
ARRÁBIDA, António de, Frei 25, 27, 31,35, 45, 64, 119,
158,252,278
ARTOIS, Conte de 71
ARVELLOS, Januário da Silva 33
ATALAIA, O 250
ATHENEU E NOTÍCIAS 250
AUDRET, Alexandre 78
AUGUSTO, Pedro, Dom, Príncipe 121
AZAMBUJA, Cónego 131
AZEVEDO JÚNIOR. Luiz de 71
AZEVEDO, António Mariano de 34
AZEVEDO, António Rodrigues Monteiro de 88
AZEVEDO, Duarte Moreira de 68, 122, 167
AZEVEDO, Ignacio Manoel Alvares de 66-67, 274
AZEVEDO, João Marinho de 177,276
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
AZEVEDO, José da Costa 169
AZEVEDO, José Philadelpho de Barros 191, 204, 214,
216, 222, 228, 236, 238, 243, 258, 265
AZEVEDO, Manoel António Duarte de 72, 90
AZEVEDO, Moreira 16-17, 68
BABO 162
BACKEUSER, Everardo Adolpho 179, 212
BACKEUSER, João Carlos Restier 213
BADARÓ, Eduardo Gê 188, 258, 263-264
BANDEIRA, Esmeraldino Olympio Torres 188-189
BAPTISTA PAI 164
BAPTISTA, Paula 131
BAPTISTA, Pedro Pinto 162, 177, 200-201, 203
BARBACENA, Marquês de ver PONTES, Felisberto
Caldeira Brant
BARBOSA, Francisco Vilela 44-46
BARBOSA, Isaltino 202
BARBOSA, Januário da Cunha 31, 274
BARBOSA, Joaquim da Cunha 276
BARBOSA, Luiz Torres 239
BARBOSA, Milton Pires 229
BARBOSA, Paulo 24
BARBOSA, Ruy 151-152
BARCA, Conde da 24
BARCELLOS, Annibal 250
BARRETO, Alfredo Coelho 176
BARRETO, Amado Menna 201
BARRETO, Amaro 184
BARRETO, Fausto 166, 231, 244
BARRETO, Mário 244
BARRETO, Rozendo Muniz 130-131, 133. 136, 139,
143, 147, 150, 164
BARROS, Eduardo de Lima 276
BARROS, Prudente José de Moraes e 177-178
BARROS, Sebastião do Rego 26
BARROSO NETTO 268
BARROSO, Almirante 52
BARROSO, José Liberato 103
BARRUEL 27
BEETHOVEN 239
BELL, Graham 153
BELLEGARDE, Niemeyer 53
BELLO, Wenceslau Leite Alves de Oliveira 180
BELTRÃO, António Carlos de Arruda 186
BELTRÃO, Guiomar de Nóbrega 184
BELTRÃO, Heitor da Nóbrega 184
BENEVIDES, António Maria Corrêa de Sá e 100-101,
105, 112, 118-119, 158,272-275,277
BENTO, José 122
BERGERAC, Cyranode 63
BERNA, Benevenuto 254, 265
BERNARDES, Arthur 214, 218, 221, 224
BERQUÓ, João Maria da Gama 133-134, 151, 167
BERRY, Duque de 71
BEVILÁQUA, Clóvis 131
BEVILÁQUA, Dora 256
BEVILÁQUA, Mário 194, 201, 203, 251
BEVILÁQUA, Sylvio Alfredo 176
BIBLIOTECA NACIONAL 90, 101. 118-119, 184
BIBLIOTECA PÚBLICA DO RIO DE JANEIRO 31
BIHOURD, Pierre 73
BITTENCOURT, António Coelho 186
BITTENCOURT, Nascimento 186
BLAKE, Sacramento 71
BOM RETIRO, Barão de ver FERRAZ, Luiz Pedreira do
Couto
BOMSUCESSO, Anastácio Luiz do 63, 79, 272, 274-277,
279
BONAPARTE, Jeronymo 24
BORGES, Abílio César 133
BORGES, António Pedro de Carvalho 34
BORGES, Francisco José 65-66
BOSCOLI, José Ventura 80, 90, 105, 190
BOSSUET 123
BOTELHO, Manoel 17
BRAGA, Ernani 186
ESCRAGNOLLE DÓRIA
BRAGA, Francisco 268
BRAGA, João 182
BRANCO, Alves 66-67
BRANDÃO, Luiz de Almeida 37
BRANNER, John Casper 214
BRASIL, Joaquim Pinto 69
BRAUNE, João Henrique 114,167,276
BRAZIL, Thomaz Pompeu de Souza 115
BRAZIL, Sebastião Pereira 186
BREVES, João Onofre de Souza 166,208,210, 212
BRITO, Cyro Cândido Martins de 71
BRITO, Floriano Corrêa de 209, 215, 232, 235
BRITO, Francisco Augusto Xavier 115
BRITO, Francisco Bernardo 190
BRITO, João Bernardo de 165
BRITO, Joaquim Marcelino de 60
BRITO, Luiz Raymundo da Silva 119, 158, 161, 164,
177, 182,252
BRITO, Marcelino de 65
BRITO, Mário Paula 106, 186, 263
BRITO, Paulino de Souza 56
BRITO, Raymundo Farias 188, 203, 264
BRITO, Thomaz Fortunato de 113
BUENO, Marcelino José da Ribeira Silva 52
BULHÕES, Oscar 277
BURNIER, António Ildefonso Nascentes 38, 93-94
CABRITA, Francisco Carlos da Silva 180-182, 252, 278
CAETANO, João 106,112
CALDEIRA, Reginaldo Netto 60
CALMET 123
CALOGERAS, João Baptista 52, 65-66, 69-71, 167
CAMARINHA, Mário 268
CAMILLO, Alexandre 181
CAMINHOÁ 145-146,166
CAMÕES 202
CAMPOS SALLES, Manoel Ferraz de, Presidente (1898)
73, 180-181, 187
CAMPOS. Francisco Luiz da Silva 248
CAMPOS, Horácio Mendes 186
CAMPOS, Martinho Alvares da Silva 30, 116
CANTALUPPO, Roberto 255
CANTÃO 233
CARCANO, Ramon 259
CARDOSO. Ernani de Figueiredo 265
CARDOSO, Miranda 265
CARLOS V 156
CARMO, José Joaquim do 130, 132, 134, 136-138, 142-
144, 146-147, 150-151, 153, 155-156, 158, 252
CARMO, Nuno de Andrade 131
CARNEIRO LEÃO, António 249
CARNEIRO, António Alves 153
CARNEIRO, Plácido Mendes 19-20,22
CARVALHO BORGES, Barão de ver BORGES, António
Pedro de Carvalho
CARVALHO, António Luiz Affonso de 175
CARVALHO, Balduíno Rodrigues de 165
CARVALHO, Carlos de 113
CARVALHO, Carlos Delgado de 210-211, 220, 234-236,
243-244, 247, 249, 252, 254, 267-268
CARVALHO, Carlos Leôncio de 128-130
CARVALHO, Cecílio de 186, 203, 205, 211, 217-218,
221
CARVALHO, Guilherme Affonso de 113, 176, 209
CARVALHO, João da Costa 69-70, 72, 76-78
CARVALHO, José Dias Delgado de 178, 181
CARVALHO, Pedro Affonso de 275
CARVALHO, Pedro Guedes de 187
CARVALHO, Pedro Luiz de 18
CASTÃO, Octávio Severo 236, 254
CASTELLO BRANCO, Bernarda 19
CASTELLO BRANCO, José Gil 182-183, 252
CASTELLO BRANCO, José Joaquim Justiniano
Mascarenhas 17
CASTELLO BRANCO, Marcelino Sampaio 177
CASTELLO BRANCO, Pandiá Hermann de Tautphoeus
189
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
CASTELLO BRANCO, Urbano Burlamaqui 156
CASTELLO, Vianna do 235
CASTELNAU, Conde de 41
CASTRIOTO, Carlos Frederico 63, 72
CASTRO, Correggio de 229, 240
CASTRO, Gentil Coelho de 239
CASTRO, José António de Azevedo 88
CASTRO, José António de Magalhães 228
CASTRO, Leandro Rebelo Peixoto e 37-38, 40-41, 44,
51
CASTRO, Luiz de 259
CASTRO, Tito Lívio de 153
CAVALCANTE, Amaro Bezerra 153, 179, 180
CAVALCANTI, Holanda 60
CAVALLI, José Angelo 259
CAXIAS, Duque de ver SILVA, Luiz Alves de Lima e
CAYRU, Visconde de ver LISBOA, José Maria da Silva
CAYX 27
CEARENSE, Catulo da Paixão 268
CENTRO CARIOCA 265
CERVANTES 82, 93
CÉSAR, João Pinto do Rego 88, 99, 170. 259, 273, 275,
277
CHAILLOT, Amelot de, Conde 175
CHAPOT PREVOST, Rodolpho 236
CHAVANTES, Alcino José 229-230, 260, 264
CHAVES, Octacilio da Silva 269
CHRISTINA, Thereza 61
CHROKATT DE, Gilberto 267-268
CITANNA, José 255
CLÉON, Camillo 71
CLIAS 123
CLINTOCK 133,136,163
CLUCK, Jayme 268
COELHO NETTO, Henrique 258
COELHO NETTO, Zita 228
COELHO, Assis 52
COELHO, Edilia da Rocha 268
COELHO, Jayme Jansen 229,238,242
COELHO, Manuel Inácio Souto Maior Pinto 24, 26
COELHO, Olindo Pinto 186
COIMBRA, Argemiro Gabriel de Figueiredo 127
COIMBRA, João Bernardo de Azevedo 114
COLÉGIO AQUINO 200
COLÉGIO DA BAHIA 16
COLÉGIO DE JACUECANGA 38, 42
COLÉGIO DE PIRATINGA 16
COLÉGIO DE PIRATININGA 16
COLÉGIO DE SANTA CÂNDIDA 136
COLÉGIO DOS JESUÍTAS 16-17
COLÉGIO HENRIQUE IV 282
COLÉGIO IMMACULADA DA CONCEIÇÃO 113
COLÉGIO LEUZINGER: 113
COLÉGIO MARINHO 113
COLÉGIO MILITAR 250
COLÉGIO PAULA FREITAS 218
COLÉGIO PINHEIRO 113
COLÉGIO PINTO FERREIRA 264
COLÉGIO PLÍNIO LEITE 264
COLÉGIO SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA 113
COLÉGIO SÃO VICENTE DE PAULO 264
COLÉGIO VASSIMON 181
COLÉGIO VICTORIO 113
COMPANHIA DE JESUS 16
COMTE, Augusto 256
CONSTANT, Benjamim 99, 170, 172-173, 179
COQUEIRO, João António 181-182, 191, 194,252,261,
278
CORDOVIL 105-106
CORRÊA, Azevedo 126
CORRÊA, Henrique Vaz 235
CORRÊA, José de Souza 76-79, 81-82, 84, 117, 123,
252
CORRÊA, Manoel Francisco 273, 277
CORRÊA, Pedro da Silva 130
CORRÊA, Rivadavia da Cunha 191-194
ESCRAGNOLLE DÓRIA
CORREIA, Felipe da Motta Azevedo 101
CORREIA, Leôncio 183
CORTEZ, Bento da Trindade 166
COSTA, Cláudio Manoel da 17
COSTA, Cypriano Amoroso 183
COSTA, Eurico António da 235
COSTA, Henrique César de Oliveira 179, 183
COSTA, Jacintho Pereira da 18
COSTA, José Caetano da Silva 73
COSTA, Manoel Olympio Rodrigues da 139, 142, 144,
164
COSTA, Maria Júlia Picanço da 153
COSTA, Octávio Corrêa 266-267
COTEGIPE, Barão de ver WANDERLEY, João Maurício
COUTINHO, José Caetano da Silva 20
COUTINHO, José Lino 22
COUTINHO, José Vicente de Azeredo 273
COUTINHO, Samuel Castrioto de Oliveira 124
COUTO, Joaquim Ignacio do 99
COUTO, Manoel de Magalhães 167,181
COUTO, Pinto do 102
COUTTO, Pedro do 215-216, 226, 229, 232, 234-235,
237, 243, 254, 259, 260, 267, 269
CRAVEIRO, António Tibúrcio 52
CRISOPÓLIS. Bispo dever SANTA MARIANNA, Pedro de
CRUZ, Luiz Carlos Fróes da 280
CRUZEIRO, Visconde de ver TEIXEIRA JÚNIOR, Jerónimo
José
CUMBERWORTH 52
CUNHA FILHO, Joaquim Jeronymo Fernandes da 127,
130-131
CUNHA, Ambrósio Leitão da 154-155
CUNHA, Arthur 233
CUNHA, Domingos José da Silva 233
CUNHA, Ernesto Frederico da 272, 276-277
CUNHA, Euclides da 188-189, 203, 264
CUNHA, Felippe Ribeiro da 22
CUNHA, Haroldo Lisboa da 259
CUNHA, Joaquim Jeronymo Fernandes da 127
CUNHA, Tristão da 226,240
CUVIER 123
DABEVILLE, Cláudio 122
D'AMBRÁSIO, Paulina 186
D7WILA, Henrique 72
D'ESCRAGNOLLE, João Roberto 233
DANFORT 265
DANTAS, Rodolpho 151
DE ROZOIR 27
DELPECH, Adriano 184, 226, 228, 235, 238, 240, 247,
249
DEMOSTHENES 123
DIAS, António Gonçalves 68-71, 78-79, 202, 274
DIAS, Manoel de Campos 18-19
DIRCEU 268
DOBRENZENKY. Condessa de 227
DODSWORTH, Henrique de Toledo 209, 214, 226, 235,
238, 240, 244, 247, 249, 253-254, 258, 263, 269
DODSWORTH, Jorge João 88
DÓRIA, Francisco Manoel das Chagas 126
DÓRIA, Franklin 164,234
DÓRIA, Gustavo 268
DÓRIA, Luiz Gastão d'Escragnolle 68, 167, 183-185,
188. 191, 213, 216. 226, 228, 232, 238-239, 241-243,
253-254, 263, 269, 280
DOURADO, José Ferraz de Oliveira 38
DOURADO, Mescenas Pereira 229
DRAGO, Luiz Pedro 113, 116, 132, 135, 146, 163
DRUMOND, João da Costa Lima 133, 152, 278-279
DUARTE, Fortunato da Fonseca 166, 188
DUARTE, Francisco de Paula Belfort 99
DUARTE, Manoel Gomes Belfort 276
DUARTE, Viriato Belfort 114
DUMONT 27
DUQUE ESTRADA, Domingos de Azevedo Coutinho 106
DUQUE ESTRADA, Joaquim Osório 183
DURÃO, Rita, Santa 17
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
ELIA, Hamilton 250, 268
ELIA, Sylvio 250
ERVEN, Francisco van 114
ESCOLA DAS BELLAS ARTES 24
ESCOLA DE ESTADO MAIOR DO EXÉRCITO 191
ESCOLA DE MEDICINA 30
ESCOLA DE MINAS DE OURO PRETO 191
ESCOLA DE MINAS DE PARIZ 191
ESCOLA DE SOLDADOS DO COLLEGIO 217
ESCOLA NORMAL DO DISTRITO FEDERAL 130, 140,
146, 152, 154-155, 158, 174, 183, 191, 256
ESCOLA POLYTECHNICA 114, 119, 126, 161, 174, 191,
256
ESCOLA WENCESLAU BRAZ 191
ESCUDO DE MINERVA 90
ESPINHEIRA, Álvaro 240,243,247
ESTATUTOS DO INSTITUTO DOS BACHARÉIS EM
LETRAS 103
ESTRABÁO 123
EU, Conde d' 105,214
EULER 123
EVREUX, Ivesd' 122
FACULDADE DE DIREITO DE RECIFE 131, 157
FACULDADE DE DIREITO DE SÃO PAULO 80, 89, 127
FALLER, Annibal 207,218
FALLETI, Bernardo José 68
FARIA, Chaves 113
FARIA, Eutropio Pereira de 203
FARIA, Quintino José de 147
FARIAS, Ascanio Pedro de 250
FARINA, Ciro Romano 191,212
FAZENDA, José Vieira 104-107, 275, 277
FEIJÓ, Luiz da Cunha 89
FEIJÓ, Regente 23, 44-47
FÉLIX, Monsenhor 133, 139-140, 143-144, 153
FERNANDES, Oliveira 166
FERNANDES, Oridéa 244
FERRAZ, Costa 93, 273
FERRAZ, Jorge Belmiro de Araújo 219
FERRAZ, Luiz Pedreira do Couto 80-81, 86, 265, 278
FERREIRA, António Gonçalves 178
FERREIRA, Augusto Cláudio 269
FERREIRA, Carlos Vieira 169-170
FERREIRA, José Paula 226,229
FERREIRA, Luiz Nunes 212
FERREIRA, Manoel Arthur 147, 214, 226, 229, 258
FERREIRA, Miguel Vieira 170
FERREIRA, Silvestre Pinheiro 21-22
FIALHO SÉNIOR, Abreu 160
FIALHO, José António de Abreu 159, 161, 168, 228
FIGUEIRA, António Fernandes 132, 277
FIGUEIREDO, Afonso Celso de Assis 169
FIGUEIREDO, Carlos Arthur Moncorvo de 275, 277
FIGUEIREDO, José Bento da Cunha e 117, 126, 128,
130, 145
FIGUEIREDO, Moncorvo de 277
FIGUEIREDO, Sebastião Ferreira de 217, 218
FILGUEIRAS, José António de Araújo 272
FIÚZA, Yeddo 265
FLETCHER 89,108
FLEURY, André 90
FONSECA, António Gabriel de Paula 239
FONSECA, Eduardo Emiliano da 59
FONSECA, Hypolito Mendes da 59
FONSECA, João Severiano da 59
FONSECA, Manoel Deodoro da 169, 172, 176, 233-234
FONSECA, Manoel Mendes da 59
FONSECA, Marechal Deodoro da 59
FONSECA, Marechal Hermes da 189-191
FONSECA, Mariano José Pereira da 210
FONSECA, Thomaz Ramos da 276
FONSECA, Valeriano Ramos da 113, 278
FRAENKEL, Cláudio Alfredo de Magalhães 215
FRANÇA JÚNIOR, Ernesto Ferreira 79
FRANÇA, Carlos Ferreira 119, 133, 136, 141-142, 144,
167
FRANCISCA, Princesa 24-25
ESCRAGNOLLE DÓRIA
FRANCISCO, Martim 51
FRANCO, José da Purificação 84, 87, 105
FRANCO, Pedro Affonso de Carvalho 103
FRAZÃO, Sérgio 250
FREDERICO, Orlando 184
FREIRE, Domingos José 100,272-273
FREIRE, José da Silva Pinheiro 64
FREIRE, Junqueira 274
FREITAS, Francisca Miranda de 255
FREITAS, Irineu Leite de 240
FREITAS, José Viriato de 93
FREITAS, Luiz Paula 265
FREITAS, Maria Elisa Leite de Lima 255, 267-268
FRÓES, Arlindo 229
FRONTIN, André Gustavo Paulo de 123, 130, 146-147,
196,208,254
FRONTIN, Jean Gustave de 123
GABAGLIA SÉNIOR, Eugênio Raja 20-21, 167, 177-178,
181, 194-195, 200, 208-209, 231
GABAGLIA, Alberto Raja 244
GABAGLIA, Fernando António Raja 203, 214-216, 218-
219, 230, 238, 243, 247, 253-254. 257-259, 260-261,
264-266, 269
GADE, Jorge 51, 71, 78-79
GALVÃO, Ignacio da Cunha 34
GALVÃO, Manoel António 43-46
GALVÃO, Manoel Raymundo 53
GALVEAS, Conde das 18
GAMA, Agostinho Luiz da 176,215
GAMA, Basilioda 17, 123
GAMA, João Saldanha da 154, 273
GÂNDAVO 123
GARCEZ PALHA, Diogo 276
GARCIA, José Manoel 99-100, 102, 116, 121, 132,140-
142, 144-146, 154-155, 189, 274
GARCIA, Roberto 255
GARCIA, Washington 182
GASPARINI, Savino 252
GASTÃO, Pedro 265
GAZETA DA TARDE 1 53
GAZETA DE NOTÍCIAS 174, 193
GAZETA DO RIO DE JANEIRO 21
GERVAIS, Desnelle de 52, 208
GIBBON 123
GINÁSIO NACIONAL 173, 186-188
GINÁSIO PETROPOLITANO 264
GÓES, Araújo 133
GÓES, João Francisco de 177, 203
GOETHE 123,164
GOLDESCHMIDTBertholdo 51,71,79, 129, 133, 136-
137, 139-140, 145-146
GOLDSCHMITDT, Augusto 51, 190
GOMENSORO 88
GOMES, Alfredo Augusto 124. 190
GOMES, António Ildefonso 38
GOMES, Gabriel de Medeiros 62, 102, 120
GOMES, Roberto 186
GOMES, Wenceslau Braz Pereira 195
GONÇALVES, Bacharelvex SILVA. João António Gonçalves
da
GONÇALVES, Salathiel Firmino 205. 209
GONZAGA, José Basileu Neves 276-277
GONZAGA, Olympio 179
GORCEIX, Henrique 191,220
GOULART, Cybelle 244
GOULART, Francisco Vieira 27
GOUVÊA, Manoel Marques de 277
GUADALUPE, António de, Bispo 18-19, 195
GUARCH, Susviela 279
GUEDES FILHO, Manoel Joaquim 217-218
GUEDES, Júlio Adolpho da Fontoura 162, 164
GUILLON, Joaquim Gonçalves 166
GUIMARÃES, Francisco Pinheiro 176, 178, 182, 193,
269
GUIMARÃES, Hanehmann 228,260
GUIMARÃES, J. F. 268
GUIMARÃES, Luiz Pedreira de Castro Pinheiro 229,
233, 240, 255
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
GUIZOT 123
HALBOUT, José Francisco 52, 89-90, 105, 133-136,
139, 147, 161, 163-164, 166, 174-175, 190-191
HARRT, Frederico Carlos 107
HAUHER, Júlio 229
HEILBORN, Hans 51, 181, 197
HERMES, João Severiano da Fonseca 128, 191
HERMITTE, Luiz 255
HIGGINS, Arthur 213,226
HOMEM DE MELLO, Barãover HOMEM DE MELLO,
Francisco Ignácio Marcondes
HOMEM DE MELLO, Francisco Ignácio Marcondes 102-
103, 131, 137-138, 145, 151, 204
HOMEM, Joaquim Vicente Torres 64
HOMERO 62,166
HOPE, Frederico 64
HORÁCIO 62, 123, 163
HUET 181
IBITURUNA. Barão de 155
IDA, Manoel Said Ali 176, 222, 226, 240, 258
ILLIADA 62,127
INÁCIO, Joaquim José 23
INHAÚMA, Visconde dever INÁCIO, Joaquim José
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO ver ESCOLA NORMAL DO
DISTRITO FEDERAL
INSTITUTO DOS ADVOGADOS DO RIO DE JANEIRO 54
INSTITUTO DOS BACHARÉIS EM LETRAS 272, 283
INSTITUTO DOS SURDOS MUDOS 181
INSTITUTO FERREIRA VIANNA 179
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRAPHICO BRAZILEIRO
30, 184,235,259
INSTITUTO KOPKE 178, 280
INSTITUTO NACIONAL DE MÚSICA 186
INSTITUTO PHARMACEUTICO 158
INSTITUTO PROFISSIONAL JOÃO ALFREDO 155,179
INVESTIGADOR PORTUGUEZ 21
IRAJÁ, Conde de, Bispo 132
ITABORAHY, Visconde de ver TORRES, Joaquim José
Rodrigues
ITANHAEM, Marquês dever COELHO, Manuel Inácio Souto
Maior Pinto
JACOTOT 136
JANSEN, Carlos 167
JANUARIA, Princesa 25
JOÃO V, Dom 18-19
JOÃO VI, Dom 19-22,24,31,106
JOINVILLE. Príncipe 25
JORGE, Guilherme José 191
JORGE, José Guilherme de Araújo 250
JORNAL DO BRASIL 235
JORNAL DO COMMÉRCIO 25-27, 193
JOSÉ I, Dom, Ministro 16, 19
KAMMSETER, Hugo 250
KEPLER 123
KIDDER 89,108
KIESSER 156
KNEPP, Monsenhor 38
KOHN, Zulmira de Moraes 153
KULNER, Barão de 78
L OIAPOQUE ET L AMAZONE, QUESTIONS
BRESILIENNE ET FRANÇAISE 43, 73
LABATUT 132
LACERDA, João Baptista de 103, 205
LACERDA, José Cândido Sampaio de 239
LACROIX 27
LADÁRIO, Barão de ver AZEVEDO, José da Costa
LAET, Carlos Maximiliano Pimenta de 113, 119, 145,
150, 166, 197, 200-210, 212-214, 216-222, 226, 228,
232-234, 239, 241, 252, 260. 275
LAET, Carlos Rocha Mafra de 239
LAPA, Ludgero da Rocha Ferreira 65-66
LAVRADIO, Barão dover REGO, José Pere\ra
LAXE, Cortines 102
LEAL PAI 164
LEAL, António Henrique 132, 154, 261
LEAL, Carlos Galdino 177,212,259
LEAL, Francisco de Paula 26
ESCRAGNOLLE DÓRIA
LEAL, José Pinto da Silva 163
LEAL, Pedro Galdino 209, 212
LEÁO FILHO, Honório Hemeto Carneiro 63
LEÃO XIII 230
LEÃO, Francisca de Azevedo 221
LEÃO, Honório Hermeto Carneiro 54, 80, 86
LEÃO, José Eugénio de Azevedo 221
LEDO, Theophilo das Neves 273
LEIBNITZ 127
LEITÃO JÚNIOR, José Pereira 276
LEITÃO, Sebastião da Motta 18
LEITE. António 257
LEITE. António Pires Ferreira 204-205
LEME, Jurandyr dos Reis Paes 229
LEME, Luiz Betim Paes 278
LEMOS, Miguel 118
LESSA, Fernando Francisco 51, 61
LICEU DE ARTES E OFÍCIOS 115, 126, 154-155
LIMA, Agostinho José de Souza 93,114
LIMA, Alceu de Amoroso 261
LIMA, Augusto Daniel de Araújo 178, 194-197, 202,
205.211,252
LIMA, Carmem Casado 184
LIMA, Domingos da Silva 162.177
LIMA, Edla da Costa 228
LIMA, Enock Rocha 103, 229-230. 257, 264
LIMA. Franklin da Silva 130
LIMA, José Joaquim da Fonseca 117-118, 120-123,
126-132, 158,252
LIMA, Luiz Alves de 98-99
LIMA, Pedro de Araújo 86, 99, 102, 105, 107, 112, 174,
188, 264-265, 267, 269, 278-279, 281
LIMOEIRO, António Mendes 106, 166, 276-277
LIMOEIRO, Edmundo Mendes 278
LINDSAY, Roberto Nunes 152
LIPPARONI, Gregório 52, 130, 208
LISBOA, Balthazar 19
LISBOA, Ildefonso Castilho 280
LISBOA, João Francisco: 132
LISBOA, João Gonçalves Coelho 176
LISBOA, José da Silva 105, 133, 139, 141-143, 153,
182
LISBOA, José Maria da Silva 21
LISBOA, Pedro de Alcântara 34
LOBATO, Rodrigo 233
LOBO, Aristides da Silveira 172
LOBO, Fernando 178
LODI, Euvaldo 258
LOPES, António de Castro 68, 78, 182
LOPES, Moacyr Araújo 216
LOPES, Rodolpho de Paula 176. 206-207, 221-222, 226.
258
LOPEZ, Carlos António 112
LOPEZ. Francisco Solano 103. 105, 112, 114
LORETO, Barão de ver DÓRIA, Franklin
LOUREIRO, António Manoel 56
LOURENÇO FILHO 263
LUCENA 123
LUCENA, Barão de ver LUCENA, Henrique Pereira de
LUCENA, Henrique Pereira de 100,175
LUCIANO 276
LUISANT, Pif 63
LUTZ, Bertha 243
LYCÉE HENRY IV 77, 282
LYRA, Tavares 183, 186-188
MAC DOWELL, Francisco, Cónego 226, 240, 249, 264,
269
MACAÉ, Visconde de ver TORRES, José Carlos Pereira
de Almeida
MACAHUBAS, Barão de ver BORGES, Abílio César
MACEDO, Aprigio Carlos de 259
MACEDO, Araripe 226
MACEDO, João Rodrigues de 133-134, 136, 140-142,
144, 146
MACEDO, Joaquim Manoel de 67-72, 79-80, 105,113,
122, 126, 147, 150-151. 162, 167, 174, 181
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
MACEDO, Luiz Cândido Paranhos de 118, 124, 154,
156-157, 166,204-205
MACEDO, Sérgio Teixeira de 98-99
MACHADO, Aureliano Vieira Werneck 146
MACHADO, Brasido 200
MACHADO, Leão Vieira do Nascimento 207
MACHADO, Nelson Rodarte 228
MACIEL, Francisco Antunes 153
MACIEL, Maximiniano 218
MAFRA, João Maximiniano 106
MAGALHÃES, Domingos José Gonçalves de 31-33, 35.
42,202,278
MAGALHÃES, Fernando Augusto Ribeiro de 178, 266
MAGALHÃES, João José de Moura 93
MAGALHÃES, Theodoro Augusto Ribeiro de 212, 214,
277-279
MAGNUS, Gustavo 203
MAIA, Augusto Pedro da Silva 237, 278
MAIA, Emilio Joaquim da Silva 31-32, 35, 37, 52, 54-
55,63, 100
MAIA, José Pedro da Silva 59,113
MAIA, Mattoso 167, 181
MALEBRANCHE 127
MALHEIRO, Agostinho Marques Perdigão 55
MALHEIROS, Joaquim Mendes 89,113
MALLET, João Carlos Pardal de Medeiros 127, 134, 146
MAMORÉ, Barão de ver CUNHA, Ambrósio Leitão da
MAMORÉ, Ministro 156
MANCEBO. Gervásio 88
MANOEL. Francisco 106
MANOEL, Poluceno Pereira da Silva 133, 135
MARANHÃO, Bispo de ver SARAIVA, Luiz da Conceição
MARIANNA, Bispo dever PIMENTA, Silvério Gomes
MARICÁ, Marquês dever FONSECA, Mariano José Pereira
da
MARQUES, César Augusto 121, 126-127, 130, 132, 168
MARQUES, João 168
MARTINS 22,107
MARTINS, António Félix 91
MARTINS, Francisco Gonçalves 78-80, 86
MASCARENHAS, Manoel Moreira de Figueiredo 38
MASSINI.José 212
MATTA, Aryda 150,254
MATTA, Nascimento 86
MATTOS FILHO, Plinio Gomes de 239
MATTOS, Carlos Gonçalves 162
MATTOS, Eusébio de 17
MATTOS, Gregório de 17
MATTOS, João Cancio Nunes de 170
MATTOS. José Cândido de Albuquerque Mello 191,
194,252, 258
MATTOS. José Veríssimo Dias de 177, 180, 252
MATTOS, Luiz José de Carvalho Mello 128, 217, 273,
277
MAXIMILIANO, Carlos 201
MAYRINK, João Carlos 272,277
MAZE, Diogo 52, 61
MEIRELLES, Joaquim Cândido Soares de 52
MEIRELLES, José Gomes de Azambuja 130
MEIRELLES, Saturnino Soares de 189
MELLO E SOUZA, João Baptista de 183, 228-230, 253-
254, 258
MELLO FILHO, João Capistrano Bandeira de 157
MELLO, Alexandre Soares de 146
MELLO, Custódio José de 177
MELLO, Domingos Ramos 114, 133-135, 143-144, 146,
164. 167. 212
MELLO, Figueira de 242
MELLO, João Capistrano Bandeira de 157-158,166, 177,
183
MELLO, José Bento Leite Ferreira de 44-46
MELLO, José Tavares de 32,51
MELLO, Maria dos Santos 186
MENDES, Fernandes 191
MENDES, Raymundo Teixeira 118-120
MENDONÇA, Jorge Furtado de 35, 72, 82, 84, 103, 105
ESCRAGNOLLE DÓRIA
MENDONÇA, Salvador Furtado de 32, 104, 279
MENEZES, Augusto Xavier de Oliveira de 196, 204, 215,
226, 234, 240, 250
MENEZES, Carlos Alberto de 107, 274, 276
MENEZES, Francisco de Paula 62, 67, 72, 87
MENEZES, Francisco Xavier Oliveira de 166, 196, 207,
209-210,260
MESCHICK, Augusto Guilherme 51, 176,211.215
MESQUITA, Torquato Vieira de 233
MEYER, Pedro Guilherme 112-113
MIGUEL, Dom 27
MILTON 62, 123
MINERVA BRASILIENSE 82
MIRANDA, Cardoso de 264
MIRANDA, Jayme de 233
MISCOW, Octávio Christo 250
MOLIÈRE 62,268
MONAT, Alexandre 231
MONAT, Henrique 181
MONDAINI. Alexandre 162
MONTE ALEGRE, Marquês de ver CARVALHO, João da
Costa
MONTEIRO JÚNIOR, Domingos Jacy 114
MONTEIRO, Clóvis do Rego 229, 242, 260
MONTEIRO, Francisco Mozart do Rego 229
MONTEIRO, Leopoldina de Maya 252
MONTEIRO, Maciel 23
MONTIGNY, Granjean de 24, 27, 106, 122
MONTSERRATE, Camillo de 71, 85
MORAES, Arnaldo de 191
MORAES, Felizardo Joaquim da Silva 34, 40
MORAES, Simeão Pereira de 99
MOREIRA, Affonso Carlos 107
MOREIRA, João José 133-135, 150, 208
MOREIRA, Manoel Duarte 79
MOTTA 105
MOURA, Guilherme Augusto de 56, 205. 209
MUNIZ, Patrício 65-66
MUNIZ, Rozendo 131,143-144
MURINELLY, José Arthur de 99
MURITIBA, Barão de ver TOSTA, Manoel Vieira
MURTINHO, Joaquim 187
MUSEU NACIONAL 103, 248
MUSSURANGA, Américo Romão de Figueiredo 272
MUSSURANGA, Ernesto Romão de Freitas 273, 277
NAPOLEÃO I 24
NASCENTES, Antenor 182. 209, 212-213, 228, 236,
238, 240, 243, 247-249, 253-254
NASCIMENTO, Alexandre Cassiano do 178
NAYLOR, Mário Guedes 229, 242
NERVA 160
NEUKON, Segismundo 106
NÓBREGA, Firmino José Soares da 61, 78
NOGUEIRA, Baptista Caetano de Almeida 89-90
NOGUEIRA, Júlio 226,235,240
NOGUEIRA, Manoel Thomaz Alves 88, 101, 127, 146,
156, 167, 174
NOGUEIRA, Renée 250
NORONHA, António Henrique de 120, 215
NORONHA, José Romualdo de 106
NORRIS, Guilherme Fairfax 67,79
NOTICIÁRIO 250
NOTÍCIAS 250
NOVA MINERVA 82
OITICICA, José Rodrigues Leite e 203, 226, 239. 242,
247, 255-256
OLINDA, Bispo dever BRITO, Luiz Raymundo da Silva
OLINDA, Marquês de ver LIMA, Pedro de Araújo
OLIVEIRA, Arthur Baptista de 140, 213, 216-217
OLIVEIRA, Carlos Américo Barbosa de 183
OLIVEIRA, Manoel Dias de 17
OLIVEIRA, Nelson Alves 186
OLIVEIRA, Quirino de 184
OLLENDORF 136
OLYMPIA, Maria 153
OSÓRIO, Newton Costa de Azevedo 244
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
OTTONI, Christiano Benedicto 163
OTTONI.Theophilo 114
OURO PRETO. Visconde de ver FIGUEIREDO. Afonso
Celso de Assis
PACHECO, Barão de ver SILVA, Manoel Pacheco da
PACHECO, José Moreira 189
PAÇO, António Jansen do 128
PAIVA, Francisco de Paula 114
PAIVA, José Lourenço de 112
PALM. Frederico 73
PARANÁ, Marquês de ver LEÃO, Honório Hermeto
Carneiro
PARANAGUÁ, Marquês de ver BARBOSA, Francisco Vilela
PARANHOS JÚNIOR, José Maria da Silva 73, 113, 188
PARANHOS, José Maria da Silva 71,117
PARDAL, Faria 114
PASSOS, Francisco 233
PASSOS, Lucindo Pereira dos 105. 133, 135-136, 141-
144, 156. 159, 163
PAULINO, Pedro 59
PEÇANHA, Nilo 188
PEDERNEIRAS, Carlos 242
PEDERNEIRAS, Childerico Paranhos 276
PEDERNEIRAS, Manoel Velloso Paranhos 275, 277
PEDERNEIRAS, Raul Paranhos 161, 164-165, 167, 177
PEDREIRA, João Baptista Ferreira 186
PEDRO I, Dom 31
PEDRO, Fahim 228
PEIXOTO, Alvarenga 17
PEIXOTO, Floriano 176,178
PEIXOTO, Joaquim 59
PENIDO FILHO, Raul 267-268
PENNA, Belisario Augusto de Oliveira 243
PENTEADO, Jairo Maciel de Aquino 184
PEREIRA DE SOUZA, Washington Luiz, Presidente(1926-
1930) 243
PEREIRA FILHO, Dagmar Barbosa 254
PEREIRA FILHO. João de Almeida 99
PEREIRA JÚNIOR, Castrioto Costa 63
PEREIRA JÚNIOR, José Fernandes da Costa 63, 71-72,
157-158
PEREIRA. Baltazar Bernardino Baptista 276
PEREIRA, Fernando Lobo Leite 176
PEREIRA, Francisco Maria Sodré 130
PEREIRA, Graciano Leopoldino dos Santos 78
PEREIRA. Hypolyto José da Costa 44
PEREIRA, José Clemente 266
PEREIRA. José Hygino Duarte 1 76
PEREIRA, José Saturnino da Costa 44, 53
PEREIRA, Lafayette Rodrigues 204-205. 207. 219, 238,
242, 258. 260. 265, 267
PEREIRA, Manoel 18,58
PEREIRA, Marcelino da Silva 79
PEREIRA, Octacilio Alvares 201, 203, 211. 235, 250,
253-254, 256
PEREIRA, Timotheo 178,182
PERRAYON, Pedro Felippe 164, 177
PESSOA, Epitacio Lindolpho da Silva 180-181
PESSOA, João Pinto 256
PETALOGICA 106
PIMENTA, Silvério Gomes 182
PIMENTEL, Aureliano Corrêa Pereira 154-156, 164
PINHEIRO, Aleixo 260
PINHEIRO, Fernandes, Cónego 93, 105
PINHEIRO, Galdino Fernandes 102, 114
PINHEIRO, João 185
PINHEIRO, José Feliciano Fernandes 31, 54
PINTO, Alfredo Moreira 212, 276-277
PINTO, António da Costa 128
PINTO. Caetano José de Andrade 72
PINTO, Eduardo de Andrade 63
PINTO, Estevão Leite de Magalhães 185
PINTO, João José de Andrade 34
PINTO, Luz 63
PINTO, Pantaleão José 272, 276
PINTO, Rosetta da Costa 256
ESCRAGNOLLE DÓRIA
PINTO, Santos 105
PINTO, Vaz 108
PIQUET, Francisco Maria 52, 60, 191
PIRAGIBE, Alfredo 103,177,181,275
PIRAGIBE, José Ferreira da Costa 179, 228, 234
PIRES, Evaristo Nunes 85, 175, 272-273, 276
PITA. Rocha 17
PITADA, Duarte José de Mello 276
PIZARRO, João Joaquim 99
PIZARRO, Monsenhor 18
PLANITZ, Barão de ver PLANITZ. Carlos Roberto
PLANITZ, Carlos Roberto 51, 54, 60, 63-64, 67
PLATÃO 123
POISSON 27
POMBAL, Marquês de 16-17
POMPEIA, Raul de Ávila 132, 134
PONTES, Felisberto Caldeira Brant 44-46, 73
PONTES, Rodrigo de Souza e Silva 53
PORTELLA, Manoel do Nascimento Machado 156
PORTINHO, Cármen 243
PORTO ALEGRE, Manoel de Araújo 33, 81, 202, 214,
278
PORTUGAL, João Maria 189
POTSCH, Waldemiro 226, 244, 255
PRESTES, Júlio de Albuquerque 243
PREVOST, Rodolpho Chapot 236
PRONOME 250
PRZEWODOWSKI, Oscar 229, 242, 247, 254
PULUCENO, Manoel 141
QUADROS, Linneu Bittencourt 244
QUEIROZ, Euzébio de 86,99
QUEIROZ, Manoel de 88
QUITITO, Astor Ramos 196
RABELLO, Laurindo 41
RABELLO, Leandro de Castro 37, 40-41, 44
RABELLO, Lino António 37. 40
RAJA GABAGLIA ver GABAGLIA
RAMIZ GALVÃO, Barão dever RAMIZ GALVÃO, Benjamin
Franklin de
RAMIZ GALVÃO, Benjamin Franklin de 101, 114, 175,
216, 231, 259. 266. 272. 274-275, 277
RAMOS, Álvaro Porfírio de Andrade 212
RAMOS, José Ildefonso de Souza 101-102
RAMOS, José Júlio da Silva 182, 222, 242
RAMOS, Lameira 203
RAMOS, Victorino de Paula 183
RAPHAEL, Sanzio 123
RAPOSO, Arlindo Gonçalves 253
REGO FILHO, José Pereira 102, 272-273, 277
REGO, António José de Souza 272
REGO, Eduardo César de Almeida 101-105, 112, 272
REGO, Joaquim Marcos de Almeida 87, 98, 133
REGO, José Pereira 87
REGO, Sebastião Pinto 54,119,158
REIS NETTO. Ignacio dos 185
REIS NETTO, Olympio dos 185
REIS, Epiphanio José dos 161
REIS, Ernani 214
REIS, José 214
REIS, Manoel Pereira 215
REIS, Othello de Souza 208, 226, 228, 238, 243
REIS, Trajano Furtado 256
RENAULT, Leon 256
REZENDE, Conde dever VASCONCELOS, Luiz de
REZENDE, Leonidas Ribeiro de 186
RIBEIRO, Cândida Borges 153
RIBEIRO, Cândido Barata 152
RIBEIRO, Delphim Moreira da Costa 208
RIBEIRO, João 176,183,222,231,258
RIBEIRO, José de Araújo 276
RIBEIRO, José Silvestre 21
RIBEIRO, Leonor Borges 153
RIBEIRO, Manoel de Queiroz Mattoso 88
RIBEIRO, Oscar Adolpho de Bulhões 275
RIBEIRO, Santiago Nunes 55, 67, 278
RICCI, Gian Pietro 212
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
RIO BRANCO, Barão do ver PARANHOS JÚNIOR, José
Maria da Silva
RIO BRANCO, Visconde dever PARANHOS, José Maria
da Silva
RIO DE JANEIRO, O 156
ROCHA VAZ, Juvenil 221-222, 224, 226. 231, 240
ROCHA, Alexandre Ferreira de 19
ROCHA, Carmindo Carneiro da 250
ROCHA, Justiniano José da 32, 35, 53, 76-78, 167
ROCHET, Luiz 106
RODO, José Henrique 250
RODRIGUES ALVES, Francisco de Paula, Presidente (1902-
1906) 107,278
RODRIGUES JÚNIOR, António Joaquim 177
RODRIGUES, António Joaquim 165
RODRIGUES, Coelho 131
RODRIGUES, Joào Barbosa 119-120
RODRIGUES, José Barbosa 189
ROMERO, Nelson 240, 259, 264, 267
ROMERO. Sylvio 130-131. 166, 168, 259
ROMEU, José 260
ROMITTI. Mário 212
RORIZ, José de Sá 229-230, 268
ROSA, Francisco de Salles 56
ROSENBAUM,a 268
ROSSINI 123
ROSTAND, Edmond 63-64
ROTHBERG.Waldomiro 269
ROXO, Euclides de Medeiros Guimarães 184, 189, 209,
221, 226-228, 232, 235, 237-238, 242-243. 247, 252-
254
ROXO, João Baptista Guimarães 184
RUSSEL, Alfredo de Almeida 211-212, 277, 280
, Aurélio Garcindo Fernandes de 52
, Domiciano Fortes de Bustamante e 272
, Felippe Franco de 153-154
, Mathias José Fernandes de 52
SACRA FAMÍLIA, Pedro Nolasco da, Frei
SAINTJOHN, Orestes 107
SAKKA, F. 268
SALÃO NOBRE 122-124
SALEK, Júlio 250, 254
SALGUEIRO, José dos Santos 20
SALINAS, Catharina Margarida 37
SALLABERY, Carlos José 280
SALLABERY, Carlos Leopoldo Jorge 177
SANTA MARIANNA, Pedro de 92
SANTO ANGELO, Barão de ver PORTO ALEGRE, Manoel
de Araújo
SANTOS, António Manoel Pereira dos 177
SANTOS, Augusto Ferreira dos 113, 275
SANTOS, Carlos Américo dos 195, 220-221
SANTOS, Carlos Maximiliano Pereira dos 195-197, 201,
203
SANTOS, Custodio Américo dos 107, 166, 275
SANTOS, Dinorah 268
SANTOS, Ezequiel Corrêa dos 116
SANTOS, Hemeterio José dos 129
SANTOS, Inspetor 162-164
SANTOS, João da Cruz 99
SANTOS, José Américo dos 278
SANTOS, José Lourenço dos 236
SANTOS, Marcellino Bispo dos 178
SANTOS, Marcos Baptista dos 226
SANTOS, Máximo de Moura 268
SANTOS, Nestor Victor dos 253
SANTOS, Noronha 87
SANTOS, Pereira 162
SANTOS, Urbano 208,210
O FÉLIX, Barão dever MARTINS, António Félix
O JOSÉ, Rodrigo, Frei 44, 51, 54, 59, 61-63, 68, 71-
72,79,85,274
O LEOPOLDO, Visconde de ver PINHEIRO, José
Feliciano Fernandes
O LOURENÇO, Visconde de ver MARTINS, Francisco
Gonçalves
O PAULO, Bispo dever REGO, Sebastião Pinto
ESCRAGNOLLE DÓRIA
O PAULO, João José de 102,273
SAPUCAÍ, Marquês dever VIANA, Cândido José de Araújo
SARAIVA, Conselheiro 131
SARAIVA, Luiz da Conceição 79, 119, 158
SATURNINO, Frei ver ABREU, Saturino Santa Clara
Antunes de, Frei
SAULES, Calos Luiz de 118
SCHIEFFLER, Guilherme Henrique Theodoro 51, 90,105,
114, 126, 132-134, 136, 139-140, 143-144, 174
SCHILLER 164,166
SCHOMBURGLE 156
SCHUMAN 239
SCOTT, Walter 64
SEABRA, José Joaquim 182, 278
SEIBLITZ, Jorge Eugénio de Lossio e 99, 218
SEMINÁRIO DE SÃO JOAQUIM 19,21,122
SEMINÁRIO DE SÁO JOSÉ 18-19, 108
SENNA, Costa 207, 266
SERÃO, Custodio Alves 27
SERRANO, Jonathas Archanjo da Silveira 124, 229-230,
235, 239, 253-254, 261, 264-265
SILVA JÚNIOR, Pacheco da 133, 136
SILVA, Albino 235
SILVA, António Carlos Ribeiro de Andrada Machado e 50-
51
SILVA, António da Costa Pinto e 127
SILVA, Augusto José de Castro e 272
SILVA, Benecdito Raymundo da 214
SILVA, Celestino da 268
SILVA, Domingos Sérgio de Sabóia e 116
SILVA, Felisberto Pereira da 72
SILVA, Francisco de Paula Severino da 236
SILVA, Francisco Joaquim Bethencourtda 122-123, 202,
241
SILVA, Francisco Manoel da 267
SILVA, Heitor Lyra da 179,212
SILVA, Jacques Raymundo Ferreira da 184, 229, 240
SILVA, João Alves Mendes da 138,145
SILVA, João António Gonçalves da 64, 85, 88, 99, 101,
168
SILVA, João Diogo Esteves da 276
SILVA. João Pereira da 274
SILVA, Joaquim Caetano da 32, 35, 42-43, 51-52, 58-59,
61-63, 66, 68, 72-73, 76, 103, 113, 252, 278
SILVA, Joaquim Fernandes da 56
SILVA, José Bernardino Paranhos da 177, 183-185, 189,
193,277,278,280
SILVA, José Bonifácio de Andrade e 31, 273
SILVA, José Manoel da 256, 273
SILVA, José Maria Velho da 166, 182
SILVA, Luiz Alves de Lima e 54, 71,86, 98, 106
SILVA, Manoel Pacheco da 84-87, 91-92, 94, 98, 101-
102, 107-108, 113-117,1 74, 189-190, 252
SILVA, Mário de Oliveira e 228, 231
SILVA, Maurício Joppert da 189
SILVEIRA, Aloysio Ferdinando de Souza da 182
SILVEIRA, José de Souza da 181, 261
SILVEIRA, José Teixeira de Abreu 53
SILVEIRA, Manoel 162
SILVESTRE, Honório de Souza 205, 211, 255
SIMONI, Luiz Vicente de 52, 84, 98, 112
SINIMBU 114,131
SOCIEDADE AUXILIADORA DA INDÚSTRIA NACIONAL
30
SOUTHEY 70
SOUTO, Luiz Honório Vieira 215
SOUZA, António José de 79,86,94,190
SOUZA, Benedicto Alves de 265
SOUZA, Carlos Henrique Pereira de 201
SOUZA, Everardo Vallim Pereira de 167
SOUZA, Irineu Evangelista de 80
SOUZA, Joaquim Gomes de 34
SOUZA, José Teixeira de 59, 62
SOUZA, Luiz de, Frei 22
SOUZA, Octávio Augusto Inglez de 212
SOUZA, Paulino de 72,115
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
SOUZA, Pedro Luiz Pereira de 167
SOUZA, Vicente de 167,183, 188, 203
SOUZINHA, O ver SOUZA, Joaquim Gomes de
SPINOSA 127
SPIX 22, 107
STENBERG. Hilgard 268, 269
STRESSNER 114
STURZENECKER, Gastão Mathias Ruch 52, 177, 181,
183, 191, 216, 219, 226, 228, 242, 247, 258
SUASSUNA, Visconde de ver ALBUQUERQUE, Francisco
de Paula Cavalcanti de
SUMNER, George 234-235, 238, 243, 247, 258-260
TÁCITO 159-160
TAMANDARÉ, Marquês de 161
TASSO 268
TAUBE, Guilherme Augusto de 53-54, 64
TAUNAY, Alfredo Maria Adriano d'Escragnolle 85-86,
88,90-95, 150,272-273
TAUNAY, LuizGoffredod'Escragnolle 116
TAUNAY, Visconde cie ver TAUNAY, Alfredo Maria Adriano
d'Escragnolle
TAUTPHOEUS, Barão deverTAUTPHOEUS, Hermann de
TAUTPHOEUS, Hermann de 51, 69-70, 78, 80, 85, 133,
146, 166-168
TAVARES, Carlos Augusto 206
TÁVORA, Franklin 150
TEATRO JOÃO CAETANO 267
TEATRO MUNICIPAL 266
TEIXEIRA JÚNIOR, Jerónimo José 63, 90-91, 279
TEIXEIRA, Mathias José 133, 135, 165
TERRA, José Ladislau 100
THEMISTOCLES 123
THIRÉ, Arthur 191,220-221
THIRÉ, Cecil 220, 253, 259
THOMAZNETTO, João 218
TIPOGRAFIA NACIONAL 58
TITARA, João Luiz dos Santos 103, 276
TORRES, Almeida 167
TORRES, Cândido José Rodrigues 23, 93
TORRES, João Baptista 201,217, 236
TORRES, Joaquim José Rodrigues 81
TORRES, José Carlos Pereira de Almeida 59-60, 65, 67-
68, 154
TORRES, José Joaquim Fernandes 113
TOSTA, Manoel Vieira 98
TOUSSAINT, Júlio 100,112
TRAJANO 160
TRINDADE, Elpidio Maria da Silva 202, 206,211, 217
TRINITYCOLLEGE 116
TROTTE, Vicente 186
UCHÔA CAVALCANTI, João Barbalho 175
UNIVERSIDADE DE COIMBRA 22
VALDEZ Y PALÁCIOS, José Manoel 79, 81-82
VALLE, Quintino do 186, 205, 222, 226, 228-229, 236,
238, 242-243
VALLONGO 18
VARELLA, Carlos Arthur Busch 56, 278-279
VARGAS, Getulio Domelles 242, 248, 266
VASCONCELLOS, Amarilio Hermes de 233
VASCONCELLOS, Bernardo Pereira de 23-27, 30-32, 34,
36-38. 40-42, 46-47, 51, 58. 71, 85, 102, 188, 195, 251,
264, 267, 269, 278-279, 281-282
VASCONCELLOS, Meira de 154
VASCONCELLOS, Nuno Lopes Smith de 240
VASCONCELLOS, Zaccarias de Góes e 115
VASCONCELOS, Luiz de 17
VEIGA, Evaristo da 52
VEIGA, João José Fernandes 218,239
VEIGA, Jurandir 252
VEIGA, Xavier da 46
VELLOSO, Pedro Leão 153
VENÂNCIO FILHO, Francisco 234, 240, 264
VERGUEIRO, Senador 45-46
VERNEY, Luiz António 213
VIANA, Cândido José de Araújo 53-55
VIANNA, António Ferreira 90, 92, 157
VOCABULÁRIO DE BLUTEAU 202
VOGELI, Feliz 107
WALKER. Lygia 268
WANDERLEY, João Maurício 156-157
WERNECK. Carlos Leoni 183
WERNECK, Furquim 103
XAVIER, Agliberto 191, 206. 208
XAVIER, António Lopes, Cónego 18
XAVIER, Carlos José 272
XAVIER, Francisco José 167, 272, 274
XENOFONTE 123
XIMENES, José Manoel Garcia 67
ZARUR, Alziro 250
VIANNA, Eremildo 250
VIANNA, Rosa 144
VIDAL, Carneiro 165
VIDAL. Paulo 129,133,140-141.144
VIEGAS 87-88
VIEIRA, Albertina Gusmão 170
VIEIRA, António Luiz de Mello 130-131
VIEIRA, Manoel Edwiges de Queiroz 126
VILLA-LOBOS, Lucília 267
VILLEGAIGNON 156
VILLELA. Dantas 217
VINELLI, Kossuthde 113
VITAL, Dom 100
VITALLETI, Guido 251
ESCRAGNOLLE DÓRIA
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