O apelo às traduções, todavia, é ainda uma forma encontrada pelos editores para camu-
flar suas deficiências. Uma programação nacional exige uma série de atividades para as
quais grande número de editores não se sente habilitado. De saída, há de ser criado um
plano editorial, um programa de edições, importando a escolha de uma temática, de
títulos, de autores, etc. Decidida a temática, há que descobrir o original já elaborado,
ou o escritor capaz de elabora-lo. Há que acompanhar sua elaboração. A tradução dis-
pensa tudo isso: o editor estrangeiro ja' se incumbiu de tudo e, mais ainda, testou a
obra no mercado americano ou europeu. E entre nós também na área editorial vigora
um axioma simplista: se vendeu nos Estados Unidos venderá aqui também. Ao inverso,
se não vendeu aqui a culpa não foi do editor que escolheu errado, mas do mercado que
não reagiu... E o editor brasileiro recebe a tradução já cozinhada: todos os problemas
editoriais foram previamente solucionados; cumpre-lhe, apenas, proceder à tradução.
Tratando-se de obras infantis, as vantagens são ainda maiores, pois o editor brasileiro
ja' recebe o fotolito com as ilustrações cabendo-lhe tão-só inserir o texto em português.
Quanto mais esteja subordinada a um programa de traduções (ha' editores que se dizem
especializados em best sellers), mais fácil será a administração, produção e editoração.
Não estão, porém, esgotados os problemas relativos às traduções; estes invadem a área
de custos, onerando sensivelmente o preço de venda de nossos livros e periódicos. Um
dos mais sérios, por exemplo, é o referente à aquisição de direitos autorais no exterior.
A grande maioria das editoras brasileiras — exceção feita às especializadas em obras
jurídicas ou didáticas (em especial as destinadas aos cursos fundamental, de 19 e 29
graus) tem nas traduções cerca de 50% de seu movimento editorial. São várias as
questões levantadas a propósito, a primeira das quais é relativa ao custo dos direitos
autorais. Muitas vezes a simples transcrição de determinado artigo ou a tradução de um
estudo torna-se inviável diante dos direitos cobrados; originariamente caros e pagos
em dólar, são, quase sempre, inacessíveis ao editor médio brasileiro.
As publicações especializadas, particularmente as culturais, estão entre as que mais
padecem com isso. Suas tiragens, pequenas em geral, nao proporcionam recursos
suficientes para a publicação, em português e no Brasil, de original estrangeiro.
Se o escopo das traduções é suprir deficiência da nossa bibliografia, tem-se por óbvio
que sobre os temas versados inexiste texto nacional. A tradução encontra justificativa
em nossas fraturas culturais e atraso tecnológico e científico. Em outras palavras, à
ausência de uma doutrina própria, adotaremos a expressa no texto traduzido. Mas a
tradução não deve ser vista como fim, porém como meio. Se não provoca ou estimula
textos nacionais substitutivos, poderá ser lesiva aos interesses nacionais. Não se está
propondo uma política chauvinista de rompimento com a cultura estrangeira, é evi-
dente que a nossa será formada pelo acúmulo de experiência de toda a humanidade:
não tem sentido estarmos aqui pesquisando o que já foi descoberto ou repetindo expe-
riências, mas acumulando-as. O que sugerimos, como vital para nosso desenvolvimento,
é a formação de uma bibliografia nacional, mesmo a partir dos textos importados. As
traduções nunca devem ser literais, mas, sempre que possível, adaptadas ao entrecho
nacional e precedidas de uma introdução técnica de autoridade do próprio país.
Os elementos capazes de apontar os novos caminhos encontram-se na universidade
brasileira. E um desses caminhos pode ser o estabelecimento de convênios editoriais
com instituições universitárias. Em sua execução, elas contribuem com texto do seu
corpo docente e a editora com assessoramento técnico-editorial, assim entendido todo
o processo que engloba seleção, preparação de originais, diagramação, composição,
impressão, acabamento e até distribuição.