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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL
PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO
DE RECURSOS HUMANOS DO
ENSINO FUNDAMENTAL
DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA
VOLUME 2
SÉRIE
ATUALIDADES PEDAGÓGICAS
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2
Presidente da República Federativa do Brasil
Fernando Henrique Cardoso
Ministro da Educação
Paulo Renato Souza
Secretário Executivo
Luciano Oliva Patrício
Secretária de Educação Especial
Marilene Ribeiro dos Santos
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Especial
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PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO
DE RECURSOS HUMANOS DO
ENSINO FUNDAMENTAL
DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA
VOLUME 2
SÉRIE
ATUALIDADES PEDAGÓGICAS
5
4
Ministério da Educação
Esplanada dos Ministérios, Bloco L, 6º andar, sala 600
CEP 70047-901 - Brasília - DF
Fone (061) 410-8651 – 226-8672
Fax (061) 321-9398
PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO DE RECURSOS
HUMANOS DO ENSINO FUNDAMENTAL:
DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA VOL. 1. FASCÍCULOS I – II –
III / ERENICE NATÁLIA SOARES DE CARVALHO. (ORG.)
BRASÍLIA: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO,
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL, 2000.
___ P. (SÉRIE ATUALIDADES PEDAGÓGICAS (ORG.)
1. DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA. 2. EDUCAÇÃO DO DEFICIENTE.
I SÉRIE. II TÍTULO
CDU 376. 2/.3
5
APRESENTAÇÃO
A Secretaria de Educação Especial do Ministério da
Educação, objetivando a divulgação de conhecimentos técnico-
científicos mais atualizados acerca das diferentes áreas de
deficiência, bem como relativos à deficiência múltipla, edita
textos e sugestões de práticas pedagógicas referentes à
educação dos alunos com necessidades especiais.
A presente série trata da Educação de aluno portador de
deficiência múltipla.
MARILENE RIBEIRO DOS SANTOS
Secretária de Educação Especial
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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL
Deficiência Múltipla
Volume 2
Fascículos IV, V, VI, VII
Brasília / 2000
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SUMÁRIO GERAL
VOLUME 1
Fascículo I - A Concepção de Deficiência
Histórico da deficiência na humanidade
Conceitos de deficiência
Bibliografia
Fascículo II – Deficiência Múltipla
Conceitos
Incidência e Avaliação
Prevenção
Questões educacionais e de cidadania
Bibliografia
Fascículo III – O Bebê com Deficiência Múltipla
Aspectos de desenvolvimento
Abordagem educacional – programas de estimulação
Serviços comunitários
Trabalho interdisciplinar
Bibliografia
VOLUME 2
Fascículo IV - A Criança de Quatro a Seis Anos com
Deficiência Múltipla
Aspectos de desenvolvimento
Agregação e integração pelos modelos de atendimento
Serviços comunitários
Trabalho interdisciplinar
Bibliografia
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Fascículo V - A Criança de Sete a Onze Anos com
Deficiência Múltipla
Aspectos de desenvolvimento
Educação escolar
Segregação e integração pelos modelos de atendimento
Serviços comunitários
Trabalho interdisciplinar
Bibliografia
Fascículo VI - O Adolescente com Deficiência Múltipla
Aspectos de desenvolvimento
Educação para o trabalho
Segregação e integração pelos modelos de atendimento
Adaptações curriculares
Serviços comunitários
Trabalho interdisciplinar
Bibliografia
Fascículo VI - A Competência Social
A competência social
A tecnologia na educação da pessoa cega e de baixa visão
A orientação vocacional
Estudo profissiográfico e encaminhamento ao mercado de
trabalho
Bibliografia
Fascículo VII - O Adulto com Deficiência Múltipla
Aspectos de desenvolvimento
Inserção no mercado de trabalho
Constituição de família
Segregação e integração pelos modelos de atendimento
Bibliografia
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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL
Fascículo IV
A Criança de Quatro a Seis Anos
com Deficiência Múltipla
Conteudista
Erenice Natália Soares de Carvalho
Brasília, 2000
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SUMÁRIO
FASCÍCULO IV - A Criança de Quatro a Seis Anos com
Deficiência Múltipla
Aspectos do desenvolvimento
Segregação e integração pelos modelos de
atendimento
Serviços comunitários
Trabalho interdisciplinar
Verificando sua aprendizagem
Conferindo suas respostas
Bibliografia
14
1. Leia os objetivos específicos do fascículo;
2. Estude o texto do fascículo;
3. Teste seus conhecimentos, respondendo às avaliações
propostas;
4. Confira suas respostas com a da chave de correção, no final
do fascículo;
5. Se bem sucedido nas respostas, passe para o fascículo
seguinte;
6. Se não conseguir bons resultados, reestude o texto;
7. Realize novamente a avaliação. Se não conseguir, consulte o
professor aplicador do fascículo.
Informações iniciais
15
1 -Estudar o texto relativo ao fascículo.
2 -Rever o vídeo para tirar dúvidas.
3 -Recorrer ao professor aplicador da unidade, caso a dúvida
persista.
4 -Realizar a avaliação proposta e as atividades sugeridas.
Alternativas de aprendizagem do professor
16
Este é o volume 2 – fascículo IV Série Atualidades Pedagógicas
5 – Educação Especial.
Tem como objetivo instrumentalizar os professores para
atuar com alunos com deficiência múltipla.
O fascículo visa a fornecer subsídios para que esses
professores alcancem os seguintes objetivos:
Compreender especificidades comportamentais
da criança de quatro a seis anos portadoras de
deficiência múltipla;
identificar similaridades do seu comportamento e
desenvolvimento em relação aos demais colegas
não portadores de deficiências;
caracterizar as necessidades educacionais
especiais dessa população específica;
desenvolver estratégias de intervenção
pedagógica.
Objetivos
17
O desenvolvimento das crianças de quatro a seis anos
com deficiência múltipla realiza-se segundo os mesmos
princípios e bases biopsicossociais das demais, que não
apresentam deficiências.
A forma como uma criança cresce e se desenvolve
depende de variados fatores individuais, sociais e ambientais.
Quando apresenta múltipla deficiência, as causas individuais
podem ser diversas e os efeitos variados, sobre a personalidade
e o comportamento.
Essa diversidade deve-se a vários, incluindo o
comprometimento das deficiências e a sua abrangência, às
capacidades atingidas, bem como a forma de reação da família
e da comunidade afima situação .
Quando a criança tem acesso à participação social e
comunitária, recebe atendimento adequado e convive em
ambiente em que não é rejeitada, suas possibilidades de
desenvolvimento são favorecidas, mesmo que as deficiências
sejam numerosas e limitantes.
Um ambiente é favorável ao desenvolvimento e à
aprendizagem quando é estimulante, encorajador, socialmente
receptivo e afetivamente acolhedor. Todas as crianças,
independentemente da existência de deficiências, têm acesso
a oportunidades de crescimento em ambiente assim estruturado.
As capacidades cognitivas e afetivas das crianças têm
sido muito consideradas ao longo dos últimos anos. Suas
habilidades podem ser afloradas pelo contato dinâmico com o
ambiente físico e social. Ainda manifestam desejo de aprender
e interagir com sua realidade. Essa nova forma de pensar
considera que a criança se desenvolve por meio de
aprendizagem e aprende no seio da cultura que tem significado
para ela desde seu nascimento. Dessa forma interage com
elementos do ambiente que são culturalmente interpretados e
que lhe são oferecidos como estímulo, ou seja, convive com
Aspectos de desenvolvimento
18
elementos lingüísticos, relações, pensamentos e afetos que estão
a seu redor e responde a eles de acordo com seu potencial
humano. Nessa interação, entram suas habilidades cognitivas,
de atenção, percepção, memória, imaginação e outras. Os
conhecimentos que adquire nessa ação
eu
versus
ambiente
permitem-lhe desenvolver suas capacidades de pensar e agir
no mundo físico e social.
Para as crianças com deficiência múltipla, esses
pressupostos são todos válidos. É importante oportunizar-lhes
uma interação rica com o ambiente, proporcionando-lhes, o mais
cedo possível, contatos sociais com seus pares, com os adultos,
com os objetos e situações, de modo a compreender e aprimorar
sua realidade e o desejo de participar. Desse modo, a criança
só se desenvolve porque aprende.
Não se pode ignorar que a criança com múltipla
deficiência apresenta limitações nessa interação com o
ambiente. Suas condições individuais de desenvolvimento,
aprendizagens anteriores, disposição atitudinal, capacidades
cognitivas, entre outras, são elementos essenciais para aprender
o novo e produzir conhecimentos.
Por essa razão, é de suma importância que essas
crianças recebam atendimento adequado para reduzir os efeitos
de suas deficiências e prevenir o aparecimento de outras que
possam ir associando-se às já existentes. Enquanto isso, todos
os aspectos de interação e participação previstos
genericamente para o desenvolvimento das crianças e que foram
até aqui analisados, devem ser considerados e aplicados em
sua experiência de aprendizagem.
Na fase dos quatros a seis anos, as crianças já
conquistaram muita independência de movimentos, podendo
correr, saltar, subir, pular, atirar os objetos, alcançá-los, etc. O
domínio adquirido da linguagem oferece muitas oportunidades
de trocas sociais com adultos e companheiros. Desse modo, têm
a sua disposição um campo vasto de atividades. Podem agir no
ambiente de forma mais independente, explorar e alcançar novas
descobertas e aprimorar suas habilidades sociais.
A formação do auto-conceito tem lugar privilegiado
nesse faixa etária. Com base nas observações de suas próprias
19
realizações, do comportamento dos seus pares e das opiniões
da família e dos adultos significativos para a criança, ela começa
a firmar a sua identidade, sua auto-imagem.
Quem sou eu?
Essa
pergunta tem um amplo significado nessa fase.
O pensamento e a consciência da criança também estão
em pleno desenvolvimento. A fantasia e a realidade têm espaço,
em sua forma de interpretar o mundo a sua volta. A brincadeira,
o brinquedo, o jogo, a imitação, a imaginação, são os
ingredientes do desenvolvimento infantil e a forma de consolidar
as experiências da criança e de sua cultura, bem como de
exercitar suas capacidades latentes.
Quando se tem em mente a criança com múltipla
deficiência, alguns aspectos precisam ser considerados:
seu vigor físico, em alguns casos, pode estar
comprometido pelos problemas de saúde, principalmente nas
causas orgânicas;
os movimentos corporais e a mobilidade podem
estar alterados ou limitados, quando a deficiência física está
associada;
a exploração do ambiente e a formação de
conceitos podem estar dificultadas pelas deficiências
sensoriais, na ocorrência de cegueira ou surdez;
a comunidade auditivo-oral pode estar
inviabilizada ou dificultada, em decorrência de surdez ou de
lesões cerebrais.
Essas e outras condições podem estar presente quando
uma criança convive com múltipla deficiência. Seu
desenvolvimento requer atenção e apoio para que possa superar
essas limitações e compensar suas dificuldades específicas.
Apoiar uma criança em seu processo de
desenvolvimento e aprendizagem implica respeitar sua fase
evolutiva; atuar sobre suas emoções e afetividade, encorajando-
a, estimulando-a e acreditando em suas capacidades potenciais;
favorecer sua auto-estima e ajudá-la a superar possíveis
sentimentos de inferioridade, por meio do reconhecimento de
suas realizações e reais conquistas.
É reduzido o número de crianças com múltipla
deficiência que possuem um repertório tão pequeno e
20
deficiências em níveis tão elevados que não lhes possibilitem
atuar no ambiente de forma funcional.
Infelizmente, a visão corrente que se tem de múltipla
deficiência é equivocada, de modo que as pessoas subestimam
as potencialidades e capacidades de seus portadores, movidas,
muitas vezes, apenas pelas aparências. A experiência, no
entanto, tem demonstrado o contrário. Essas crianças, quando
atendidas e apoiadas adequadamente e desafiadas a participar,
criar, construir e realizar, respondem de maneira promissora e
realizadora, apesar das limitações.
A ação educativa comprometida com a cidadania
implica o reconhecimento da dignidade humana, da diversidade
entre as pessoas e do convívio portado em valores éticos. É um
desafio para a educação cumprir suas finalidades junto a todas
as crianças, sem discriminação.
Cabe aos educadores considerar que as crianças com
deficiências desenvolvem-se segundo processos e princípios
similares aos de todos os demais, tendo que se levar em conta
sua singularidade, como ser humano com caracteristicas
próprias. Devem as condições educacionais organizar-se de
modo a respeitar as necessidade e ritmos próprios, de modo a
contribuir para o aprimoramento pessoal dos alunos, ressaltando
principalmente suas competências e experiências.
21
Destinada ao atendimento das crianças de zero a seis
anos, a educação infantil realiza-se em creches, pré-escolas e
em outras instituições consideradas espaços sociais,
educativos, coletivos e pedagógicos, que visam à formação da
cidadania, desde a mais tenra idade. Segundo o texto dos
“Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil”
(MEC, 1997), esses espaços devem:
“Garantir e oferecer às crianças tanto o acesso aos mais
variados instrumentos físicos quanto aos simbólicos, tais como:
conceitos, valores, atitudes, objetos socioculturais necessários
à constituição da personalidade, capazes de compreender a
cultura e a sociedade, de maneira segura, solidária e
cooperativa”
(p. 11)
Ainda dentro do mesmo tema, a Política Nacional de
Educação Infantil do MEC (1994) preconiza para as crianças
nessa fase, os seguintes direitos:
“... à brincadeira; à individualidade; a ambiente
aconchegante, seguro e estimulante; ao contato com a natureza;
à higiene e à saúde; à alimentação sadia; a desenvolver sua
curiosidade e capacidade de expressão; ao movimento em
espaço amplo; à proteção, ao afeto e à amizade; a expressar seus
sentimentos; a especial atenção durante seu período de adaptação
na creche; a desenvolver sua identidade cultural, racial e religiosa.”
Quando se considera a criança na faixa de quatro a seis
anos, seja na fase pré-escolar, a educação deve preocupar-se
com oferta de oportunidades educacionais que visem às
interações sociais variadas, aos desafios e à solução de
problemas reais que demandem da criança o uso de sua
experiência e de seu conhecimento, bem como a busca de novas
possibilidades de aprendizagem.
O reconhecimento das capacidades cognitivas, afetivas
e interativas da criança fundamenta toda a ação educativa. Do
Educação infantil
22
mesmo modo, a convicção da interdependência entre o
desenvolvimento e a aprendizagem. Os educadores estão
cientes dessa influência na formação da consciência infantil.
Crianças com múltipla deficiência podem e devem ter
acesso aos objetos e às fontes socioculturais, bem como apoio
a seu desenvolvimento e aprendizagem, nos moldes das demais
não portadoras de deficiências. As instituições educativas que
lhes propiciarem essas oportunidades constituem espaços em
que, efetivamente, sejam garantidos os direitos de cidadania.
A intervenção educativa é um recurso que promove o
desenvolvimento infantil, pelo uso das estratégias cognitivas da
criança na internalização dos conhecimentos socialmente
elaborados, de acordo com a fase evolutiva. O papel da
intervenção educativa é, portanto, básico no direcionamento para
a aquisição de conceitos e de valores, bem como na
organização de situações de aprendizagem que inspirem
soluções criativas por parte da criança e que impulsionem seu
desenvolvimento integral.
O trabalho de educação infantil realiza-se por meio de
ações planejadas, sistemáticas e intencionais, com o objetivo
de educar, buscando a socialização da criança, o
desenvolvimento de suas capacidades e sua inserção cultural e
social.
As tendências mais recentes na educação infantil
apontam para um currículo que contemple não apenas o
desenvolvimento da criança mas também, para a dimensão
cultural relativa à aquisição de valores e de conhecimentos, o
saber a ser apropriado.
O currículo deve ter dinamicidade suficiente para atender
às necessidades de todos os alunos, inclusive os que
apresentam necessidades especiais. De modo geral, as
Adaptações curriculares
23
crianças com múltipla deficiência, não precisam desenvolver um
currículo diferenciado para sua educação. Podem beneficiar-se
do regulamento adotado, flexibilizando-se de modo a considerar
as capacidades e necessidades dos educandos. A participação
da família na proposição desse currículo é da maior relevância,
uma vez que o contexto familiar e comunitário complementam e
consolidam as aprendizagens escolares, além de constituir o
espaço privilegiado para sua aplicação.
O currículo da educação infantil tem objetivo de, segundo
o MEC (1997, p. 33), “promover o desenvolvimento das seguin-
tes capacidades nas crianças:
construir uma imagem positiva de si mesma;
descobrir, conhecer seu próprio corpo;
desenvolver hábitos de saúde e bem-estar;
atuar de forma independente, com segurança e
confiança em si própria;
ampliar as relações sociais, aprendendo a articular
seus interesses e pontos de vista com os demais,
respeitado a diversidade e desenvolvendo atitudes
de ajuda e colaboração;
estabelecer vínculos afetivos e de trabalho com
adultos;
observar e explorar o ambiente com atitude de
curiosidade e cuidado;
conhecer algumas manifestações culturais com
interesse, respeito e participação;
representar e evocar aspectos diversos da
realidade, vividos, conhecidos ou imaginados
através do jogo e demais formas de expressão;
ser usuário competente da língua;
exercer as especificidades de seu pensamento
através do acesso a informações desafiantes e/
ouestruturas que possibilitem a explicitação de
suas hipóteses;
desenvolver as potencialidades da criança de
modo a minimizar as conseqüências de suas
deficiências.”
24
A análise desses objetivos revela sua total adequabilidade
para crianças com deficiência múltipla. Evidentemente, alguns
educandos, principalmente os que apresentam maiores
comprometimentos necessitarão de apoio e flexibilidade para
alcançá-los.
Estratégias de alteração curricular são previstas na
educação de crianças com necessidades especiais. Por
exemplo, no elenco de objetivos esboçados anteriormente,
consta um que deverá ser alterado para atender às
possibilidades da criança surda: “ser usuário competente da
língua”, principalmente se essa criança tiver uma lesão cerebral
em área de fala ou em área motora ligada à emissão verbal.
Nesses casos extremos, objetivos alternativos devem ser
traçados quanto às possibilidades de comunicação do aluno.
De um modo geral, o currículo delineia algumas
habilidades esperadas para as crianças dessa faixa etária: o
domínio da linguagem; o uso dos objetos cotidianos; a orientação
no tempo e no espaço; o desenvolvimento da percepção,
memória, pensamento e imaginação; o desenvolvimento de
habilidades sociais e de convivência em grupo; o conhecimento
do acervo cultural e científico, compatível com o desenvolvimento
evolutivo da criança, entre outros (MEC, 1997, obra citada).
A intervenção educativa deve levar em conta as
capacidades das crianças, a qualidade de suas relações com
os colegas e com os adultos e suas condições físicas. Na faixa
dos quatro aos seis anos, o domínio da linguagem e a
capacidade psicomotora do educando, permite-lhe mais
desenvoltura nas interações com o ambiente físico e social. O
currículo deve prever a introdução de novos conhecimentos e
desafios pessoais, em acréscimo às habilidades anteriormente
adquiridas pelas crianças.
Os conteúdos devem ser organizados, ordenados e
priorizados de acordo com as condições dos alunos e com os
significados que representam para eles. Consideram as
necessidades e possibilidades das crianças e seu contexto
sociocultural.
25
Adaptações dos programas educacionais
Genericamente, todas as atividades interessantes e
adequadas para as crianças sem deficiências são indicadas
para os portadores de deficiências de sua faixa etária.
As adaptações são realizadas nos objetivos, nos
conteúdos, nas atividades, nas metodologias de ensino e na
avaliação do aluno, bem como nos elementos organizativos da
escola e da sala aula, se essas medidas forem necessárias.
Nem sempre são, em todos os aspectos e devem ser
condizentes com as necessidades individuais identificadas. A
intervenção educacional normalmente desenvolvida para todos
os alunos seria o ideal, mas, não sendo possível, as adaptações
devem conter procedimentos que se aproximem, ao máximo,
do cotidiano da turma e assemelhar-se aos interesses dos
demais para que possam beneficiar-se delas e, não apenas, as
crianças com necessidades especiais.
Crianças com deficiência auditiva associada a
outra(s) deficiência(s)
A criança com múltipla deficiência necessita, como as
demais de sua idade, de estímulos favoráveis a seu
desenvolvimento, aprendizagem e formação da personalidade.
Quando a deficiência auditiva – surdez ou hipocrisia – está
presente, algumas intervenções especificas precisam ser
realizadas.
Como o problema de comunicação é significativo para
essas crianças, uma forma alternativa necessita ser
desenvolvida. É importante que antes da fase dos quatro aos
seis anos esse procedimento já deva ser iniciado, pois os
primeiros anos de vida possibilitam maiores aquisições e
transformações no desenvolvimento infantil.
A autonomia motora da criança e sua evolução cognitiva
permitem-lhe mais atividade de exploração e compreensão da
realidade ambiental. Sua curiosidade está aguçada, bem como
o interesse e o desejo de aprender.
26
É indispensável que a criança tenha acesso aos recur-
sos tecnológicos especializados para a educação de surdos: a
prótese auditiva, os treinadores de fala, e equipamentos não
especializados, apropriadamente adaptados para o processo
ensino-aprendizagem, como é o caso dos computadores, ferra-
mentas eficientes para apoiar e desenvolver a comunicação
desses alunos.
A apropriação da linguagem de sinais pelo aluno e o
uso de sinais e gestos de apoio por parte do professor têm sido
defendidos por grande número de educadores especializados
no atendimento educacional de crianças surdas. Formas de
linguagem estimula a participação da crianças e favorece seu
desenvolvimento, além da capacidade de comunicação; a
aprendizagem da linguagem de sinais não desestimula nem
impede a realização da fala da criança surda, como afirmam
seus defensores.
A pluralidade de linguagens parece gerar na criança
surda atitude positiva, de maior auto-estima e segurança para
estabelecer novas interações e interagir com o ambiente.
A surdez pode acarretar, além dos problemas de
comunicação auditivo-oral, dificuldades na formação de
conceitos e na capacidade de abstração. Em decorrência
dessas limitações, a integração social da criança pode ser
prejudicada. À escola cabe o papel de estimular o
desenvolvimento de sua capacidade auditiva e melhorar seu
desempenho lingüístico, bem como facilitar a aquisição de
conhecimentos e sua integração social.
A pré-escola deve enfatizar aquisição da linguagem; a
estimulação lingüística, visual, auditiva e psicomotora; a iniciação
à leitura audiovisual, à escrita e à matemática; a expressão artística
e os programas de atividade da vida diária. O objetivo do
atendimento é atuar nas áreas sensório-motora, cognitiva, afetiva
e social, visando a atingir o pleno desenvolvimento do aluno.
A flexibilidade curricular para atender às necessidades
específicas desses alunos inclui, além dos conteúdos e
procedimentos metodológicos usuais, os seguintes componentes
curriculares (FEDF, 1992):
27
treinamento auditivo
Visa a desenvolver as funções auditivas necessárias à
aquisição e ao desenvolvimento da linguagem oral: análise e
síntese auditiva, discriminação auditiva, memória auditiva e a
evocação. O treinamento auditivo precisa ser associado ao
treinamento da percepção visual e tátil-cinestésica, que servem
de apoio à compreensão do ambiente da criança, uma vez que
a via auditiva se encontra alterada.
Atividades que podem ser desenvolvidas no
treinamento auditivo envolvem a percepção auditiva do mundo
sonoro (sons produzidos pelos objetos e pelo corpo humano);
a identificação da presença ou ausência de sons ambientais
(ruídos e sons instrumentais, da voz humana, etc.); a localização
de fontes sonoras; o reconhecimento de sons ambientais
diversos, entre outros exercícios que podem ser realizados com
as crianças, normalmente, na sala de aula ou em sessões
individuais de atendimento, em horário contrário em que
freqüenta a escola.
treinamento fonoarticulatório e de fala
Visa à produção da fala e à aquisição da linguagem.
Envolve o sistema fonêmico, apoiado pelas habilidades rítmicas e
das funções auditivas residuais da criança. O treinamento envolve
atividades que atuam sobre a respiração do aluno; sobre os órgãos
fonoarticulatórios (palato, língua, lábios, alvéolos, dentes, bochechas,
mandíbula, etc.); sobre a tensão e o relaxamento muscular do corpo,
como um todo, e dos órgãos fonoarticulatórios; sobre a voz e a
produção e automatização na emissão de fonemas.
Muitas atividades podem ser realizadas na sala de aula
com as demais crianças, como apoio ao treinamento individual,
que se realiza em sessões fora do horário normal de aula:
exercícios de inspirar e expirar; fazer mímicas variadas com os
lábios, as bochechas; sugar líquidos; soprar velas, penas, apitos;
brincar com a língua em várias posições e direções; produzir
sons altos, fortes, lentos, longos, etc.
treinamento rítmico
Visa à aquisição do ritmo prosódico (próprio da
linguagem, que possibilita a emissão da fala), por meio da
28
movimentação e do controle corporal; da percepção das
relações espaciais, temporais e proprioceptivas.
O treinamento abrange atividades que desenvolvem o
esquema corporal, o equilíbrio, a lateralidade, as relações
espaciais e temporais, o relaxamento e a respiração, bem como
os movimentos que facilitam a produção vocal.
As atividades que produzem movimentos corporais
ritmados; sensações corporais de relaxamento e de tensão das
partes específicas do corpo; que associam tempo e movimento;
vocalizações ritmadas, entre outros, são importantes para o
desenvolvimento e a aquisição da linguagem.
As crianças com deficiência múltipla, dentre as quais
se ressalta a deficiência auditiva, precisam da adaptações
curriculares que contemplem suas dificuldades específicas nas
demais áreas defasadas e que promovam suas capacidades e
habilidades nos demais aspectos do desenvolvimento.
Deve evitar-se fragmentação de atividades de
atendimentos, para que a criança não fique sobrecarregada. A
integração de procedimentos que visam a aproveitar as
atividades para atingir vários objetivos e aspectos do
desenvolvimento é sempre mais eficiente e proveitoso.
O ambiente físico para o atendimento das crianças com
múltipla deficiência associada à deficiência auditiva deve incluir
ambientes para o trabalho de ritmo, de estimação auditiva e de
treinamento de fala, com os equipamentos e recursos didáticos
adequados (objetos sonoros, recursos para estimular a
respiração, treinadores individuais e coletivos da fala,
amplificador, gravador, instrumentos musicais, tablado,
brinquedos e objetos para exercitar o sopro, etc.).
Crianças com deficiência visual associada a
outra(s) deficiência(s)
Quando a deficiência múltipla inclue a deficiência visual
– cegueira ou baixa visão – o currículo proposto deve contemplar
o aprimoramento da visão residual, se for o caso, para o uso
eficiente das pistas visuais preservadas. Quando a criança for
29
cega, o treinamento dos sentidos remanescentes é importante
para que a criança consiga compensar a ausência do sentido
visual pelo uso integrado dos demais sentidos.
Nessa faixa etária, a criança já tem as habilidades de
linguagem, o controle dos movimentos e condições de ampliar
seu repertório de ações corporais e de exploração do meio físico
e social, com mais eficiência. O apoio à realização dessas
atividades é importante para estimular, encorajar, motivar o
educando, além de possibilitar a aquisição de conceitos e o
conhecimento da realidade de uma maneira mais proveitosa.
O desenvolvimento de experiências sensório-motoras
integradas, a organização e o controle corporal são meios e
fins para aquisições de habilidades cognitivas e afetivas; a
mobilidade favorece o desejo de aprender.
A criança com deficiência visual tende a realizar poucas
atividades físicas, em função do desestímulo ao movimento e
ao deslocamento. Despertar e encorajar essas possibilidades
de vivência corporal, espacial e temporal faz parte da ação
docente, viabilizando melhor integração sensorial, à medida que
o processo evolutivo vai sendo promovido.
Em todas as situações de intervenções educativas, é
muito importante considerar as finalidades essenciais da
educação, que consistem na formação do cidadão, na melhoria
de sua qualidade de vida, no exercício da independência e da
autonomia crescente e na conquista de sua integração social.
Toda ação educativa deve extrapolar os limites dos procedimentos
didáticos e do processo ensino-aprendizagem de habilidades e
capacidades, e contemplar o ser humano em sua plenitude.
Toda aprendizagem escolar baseada na exploração do
ambiente físico e social, na formação de conceitos apropriados
da realidade vivenciada, precisa ter significado e
contextualização sociocultural historicamente fundamentada.
A família precisa estar envolvida na atividade escolar
desde o planejamento, a intervenção e o processo avaliatório
para favorecer o processo e apoiar a aplicação e o uso das
habilidades e dos conhecimentos adquiridos.
30
O currículo escolar para o atendimento da criança com
múltipla deficiência deve ser o mesmo adotado para as demais
crianças, sendo adequado a suas limitações e capacidades.
As atividades devem ser prioritariamente as mesmas adotadas
para as crianças de sua faixa etária não portadoras de
deficiências e acrescidas dos componentes curriculares
específicos que complementam o trabalho educativo.
Bruno (1997) propõe atividades a serem desenvolvidas
com alunos pré-escolares com deficiência visual, adequadas,
também, para os que têm deficiências associadas.
Para propiciar a formação dos esquemas sensório-
motores, sugere as seguintes atividades, como
na fig. 1:
explorar objetos e experiências do meio físico,
utilizando o sentido tátil-cinestésico, o visual, o olfativo
e o gustativo;
explorar objetos com as mãos, pés, corpo,
descobrindo sua textura e consistência;
identificar e localizar características e detalhes nos
objetos: orifícios, diferenças, sons, textura, formato,
peso, etc.;
usar esquemas motores no manuseio de objetos:
bater, puxar, empurrar, etc.;
Fig. 1. Exploração das carac-
terísticas dos objetos.
31
localizar objetos no espaço, em relação ao
próprio corpo: em cima, atrás, do lado, etc.;
Para favorecer a construção das noções espaciais:
vivenciar diferentes posições no espaço com o
corpo, utilizando objetos: entrar e sair de caixas,
pneus, tubos, etc.;
puxar, arrastar, empurrar objetos diversos, com
diferentes características;
subir em mesas, cadeiras, escada, (etc.),
experimentando diferenças relativas à largura,
altura, profundidade, etc.;
realizar diferentes movimentos corporais que
promovam noções diferenciadas de espaço:
abaixar, subir, pular, etc.;
orientar-se em relação aos colegas: dentro, fora, ao
lado, etc.;
o mesmo, com relação aos colegas: na frente, no
final da fila, ao lado, etc.;
localizar e guardar objetos.
Para favorecer à construção da noção de tempo:
estabelecer horários e locais para que as crianças
percebam uma rotina temporal;
seqüenciar ações, identificando início, meio, fim,
durante, etc.;
ouvir e perceber ritmos e movimentos corporais;
marchar, seguindo sons;
perceber a velocidade dos objetos;
tocar instrumentos em ritmos diferentes;
observar calendário tátil, para atender uma rotina diária;
observar transformações da natureza: plantio de
feijão e milho;
organizar e seqüenciar atividades, vivenciando as
noções de
antes, agora, depois
.
32
Orientação e mobilidade:
explorar o ambiente da sala de aula e as dependências
da escola, tocando com as mãos as portas, janelas,
mobiliários;
explorar os pisos, paredes, banheiros, cozinha,
corredores, áreas externas;
brincar no parque;
caminhar entre os móveis, de uma porta para outra,
da porta para a janela, etc.;
caminhar entre obstáculos;
utilizar pistas: ruídos, odores, corrente de ar, sol, etc.;
verbalizar a proximidade ou distanciamento de
objetos, pessoas, ruídos, etc.;
explorar a posição das janelas, dos móveis, das
portas, a largura dos espaços, por meio da técnica
do
rastreamento
e do
guia vidente
.
Outras atividades:
imitar ações;
realizar atividades de conhecimento, controle e
vivência corporal;
perceber semelhanças e diferenças entre os
objetos;
classificar e seriar objetos;
comparar qualidades de objetos;
acomodar objetos em espaços limitados;
contar objetos, acrescentar, retirar, dividir;
fazer jogos de construção, de memória, de parear,
etc.;
estabelecer semelhanças entre os objetos,
associações, discriminações, relações de causa e
efeito, etc.;
interpretar e expressar sentimentos diversos;
ouvir histórias;
nomear objetos, pessoas, animais, plantas e
ações;
33
descrever cenas, objetos, pessoas, animais, etc.;
gravar e ouvir a própria voz;
brincar de adivinhações, dar recados, evocar fatos,
conversar, etc.;
contar histórias;
planejar uma rotina diária;
planejar atividades;
reviver acontecimentos;
representar objetos, fatos, acontecimentos de
modelagens, papéis, argila, tinta grossa, desenho, etc.;
confeccionar livros de história;
jogos em grupo;
brincar com pneus, caixas, cordas, bolas, sacos de
areia, brincar de rodas;
fazer jogos de mesa;
fazer jogos simbólicos: representar personagens da
família, casinha, brincar de faz-de-conta, médico,
escola, história/teatro (fantoches, bonecos);
realizar atividades de artes e educação física.
A Fig. 2. Ilustra atividade realizada por professores de
educação física que traz excelentes resultados para as crianças
com múltipla deficiência, como é o caso da que está sendo
atendida (deficiência visual associada). Permite uma vivência
Fig. 2. Atividade de hidroestimulação.
34
corporal significativa e a oportunidade de estimular o sentido
tátil-cinestésico, as relações espaciais e temporais, bem como
a autonomia de movimentos. A organização das atividades
propostas pelo professor e o apoio dispensado ao aluno
contribuem de maneira favorável para os bons resultados do
processo de ensino e aprendizagem.
Crianças com deficiência física associada a outra(s)
deficiência(s)
Quando o atendimento educacional orienta-se pelas
competência e habilidades da criança e considera também suas
necessidades especiais, a ênfase da intervenção recai
principalmente sobre as capacidades do aluno, realizando, ainda
a análise funcional e qualificada de suas condições, de modo a
definir as respostas educacionais mais adequadas para sua
formação. A análise funcional focaliza:
as dificuldades que o aluno apresenta na
execução de movimentos corporais ou a ausência
deles;
a permanência ou a transitoriedade das alterações
motoras que apresenta;
a origem das dificuldades motoras – sistema
ósseo, sistema muscular, sistema nervoso ou a
associação dos três sistemas;
o nível individual da disfunção, que pode provocar
maior ou menor limitação motora.
Acontece de algumas crianças com deficiência física
serem portadoras, também, de outras deficiências – intelectuais,
sensoriais ou mentais – associadas. É importante mencionar
que essas dificuldades não são inerentes à deficiência física,
ou seja, nem todas as deficiências físicas estão associadas a
múltiplas deficiências.
Quando comparadas aos colegas da mesma idade, as
crianças com deficiência física ficam em desvantagem, em
decorrência das limitações motoras e de comunicação.
Entretanto, esses aspectos não podem ser confundidos com
35
déficit
cognitivo, ou seja, a deficiência física não implica
deficiência mental, embora possa acontecer.
O que ocasiona esse equívoco é o fato de a criança
muitas vezes não conseguir falar e movimentar-se. Uma
avaliação cuidadosa, entretanto, reduz os erros de diagnóstico.
Quando a deficiência física tem uma origem cerebral, a
exemplo dos traumatismos crânio-encefálicos, da paralisia
cerebral ou de tumores, as limitações podem atingir proporções
maiores, muitas vezes gerando deficiência mental, auditiva ou
visual. As deficiências múltiplas podem ocorrer, portanto, como
resultado de lesões mais extensas.
É muito importante observar se na escola a educação
dos alunos está de acordo com suas potencialidades e se há
respeito às limitações impostas pelas deficiências.
A equipe docente precisa considerar:
a necessidade de apoio requerida pelo aluno, de
modo a facilitar a realização das atividades
escolares;
a melhor forma de adequar o currículo e organizar
os materiais, equipamentos e procedimentos
educacionais para atender ao aluno;
a adaptação do espaço físico de modo a facilitar
o desenvolvimento do aluno, sua comunicação e
o acesso aos materiais que necessita utilizar.
A área de socialização é uma das mais comprometidas
no aluno com deficiências múltiplas e motora associadas, porque
depende de suas condições de desenvolvimento, aprendizagem
e relacionamento com o mundo. É evidente a importância dos
aspectos relacionados ao autoconceito e à auto-estima, que
podem estar alterados em decorrência das dificuldades dos
aluno em realizar as tarefas escolares, em participar e comunicar-
se com os colegas e professores.
Atividades individuais e grupais devem favorecer o
conhecimento das possibilidades e limitações do aluno. As
expectativas otimistas e as atitudes positivas dos professores
e familiares favorecem suas realizações, motivações e
resultados escolares.
36
O professor deve selecionar cuidadosamente as
atividades, o apoio, os recursos técnicos e materiais para
melhorarem as possibilidades de comunicação, mobilidade e
participação desses alunos. As seguintes questões podem
orientar o professor:
necessitam de um sistema de comunicação
alternativo? Qual? De que período o aluno
necessita para desenvolver suas habilidades de
comunicação?
que objetos e conteúdos devem ser priorizados
em sua educação?
que atividades complementares devem ser
providenciadas para o aluno?
O atendimento ao aluno deve ser grupal, podendo ser
individualizado nas situações que requerem:
respeito ao ritmo próprio de aprendizagem;
uso de materiais e equipamentos especializados;
apoio do professor para atividades que envolvam
adaptações curriculares específicas.
Outros cuidados devem ser observados:
utilização do mobiliário adequado;
postura cômoda e que facilite a visão geral do
grupo, a interação e a realização das atividades
escolares;
respeito ao ritmo e a forma de falar de cada
um;
supressão de barreiras arquitetônicas;
apoio dos colegas e dos familiares;
uso de equipamentos e instrumentos para
atividades manipulativas.
A resposta da escola às necessidades educacionais
dos alunos com deficiência física associada a outras
deficiências, portanto, deve considerar a adaptação do contexto
de ensino-aprendizagem às necessidades apresentadas pelo
aluno.
37
Crianças com múltipla deficiência sensoriais (sur-
das-cegas)
Segundo McInnes & Treffry (1981) as crianças surdas-
cegas, em decorrência de suas dificuldades multissensoriais,
podem apresentar dificuldades para comunicar-se de maneira
inteligível e de perceber adequadamente o mundo que a cerca.
Muitas vezes, a origem de sua deficiência indica comprometimentos
de saúde, acarretando atrasos no desenvolvimento e afetando a
aparência, muitas vezes interpretados, equivocadamente, como
sendo decorrentes de deficiência mental ou perturbação emocional.
A criança surda-cega na fase pré-escolar tem razões
que justificam suas dificuldades nas relações espaço-temporais,
que se encontram prejudicadas pela falta das pistas fornecidas
pela visão e audição, resultando em dificuldades ou
impossibilidades de captar informações ambientais.
Nessa fase, de maneira espontânea, as crianças
envolvem-se em atividades de expressiva movimentação e
exploração do mundo físico e social. Privada de dois sentidos
importantes, essas crianças estão sujeitas a dificuldades na
percepção e integração com o ambiente circundante, porque o
conhecimento dos objetos e das pessoas a seu redor requer
proximidade física, que viabilize o contato e o manuseio dos
elementos presentes no ambiente.
A motivação natural para explorar é, portanto, mínima e
deve ser estimulada pelos colegas, familiares, professores e
pessoas que estão envolvidas em seu convívio.
A falta ou insuficiência de visão e audição dificultam o
estabelecimento e a manutenção de relações interpessoais,
principalmente com as demais crianças de sua idade,
requerendo uma intervenção que viabilize e estimule essas
relações.
Conquanto se possa pensar que as dificuldades dessas
crianças sejam semelhantes, há muitas diferenças entre elas,
mesmo quando a perda visual e auditiva sejam do mesmo nível.
Um aspecto importante a considerar é a possibilidade de que
as outras vias sensoriais estejam, ou não, alteradas. É óbvio
38
que uma situação como essa torna a situação da criança muito
mais agravada.
Uma concepção interativa de deficiência chama a
atenção para a necessidade de se considerar os aspectos
ambientais que podem agravar ou atenuar o nível de
comprometimento das crianças. Se as possibilidades de
participação e interação estão presentes, bem como o estímulo
e o encorajamento à ação, essa criança demostra maior
funcionalidade em seu ambiente e melhores expectativas de
desenvolvimento e aprendizagem.
Quanto ao aspecto educacional, os estudiosos
asseguram que desenvolvem estilos de aprendizagem
individuais que as ajudam a compensar sua múltipla deficiência.
Desse modo, crianças surdas-cegas podem alcançar bom nível
de aprendizagem escolar e desenvolvimento de habilidades
adaptativas.
Evidentemente, esses resultados requerem
condições individuais favoráveis e condicionantes ambientais
que viabilizam o seu êxito. O ambiente familiar e educacional
deve ser, portanto, favorável ao desenvolvimento e à
aprendizagem.
As crianças surdas-cegas são considerada mais
comprometidas do que o são na realidade. Mesmo em ambiente
especializado e preparado para seu atendimento educacional,
podem ser confundidas e haver dificuldade de avaliação com
relação às crianças que apresentam deficiência mental ou
autismo.
A educação das crianças com deficiência visual e
auditiva deve considerar os seguintes aspectos, entre outros:
as reduzidas experiências de êxito na relação com
o ambiente físico e social;
as limitações das vias sensoriais, que dão pouco
incremento às iniciativas e à motivação para as
atividades motoras e cognoscitivas, como ocorre
com as demais crianças;
a necessidade de tocar e aproximar-se dos
objetos e das pessoas, que lhe permitam conhecê-
los;
39
as dificuldades para antecipar ações e eventos
ambientais;
a escassez de estímulos e atrativos para motivar
a exploração, a participação, a curiosidade, a
interação, ou seja, o contato com a realidade;
despreparo do ambiente familiar e comunitário
para atuar adequadamente com a criança.
A atuação educacional dos alunos deve considerar suas
potencialidades e limitações, para não ampliar as exigências
ou minimizar os desafios. Em ambos os casos, a criança fica
prejudicada.
Também é importante considerar e aprimorar os
resíduos visuais e auditivos do aluno, quando presentes, além
de estimular os demais sentidos preservados para melhorar a
sua eficiência perceptivo-sensorial.
Atuar de modo a envolver a criança globalmente, é um
princípio que não pode ser negligenciado pelos educadores.
Precisa-se evitar focalizar apenas as áreas de dificuldades ou
aspectos isolados do desenvolvimento e da aprendizagem
infantil, mas destacar suas potencialidades e capacidades como
base para a atuação pedagógica.
Deve observar-se que os programas educacionais
precisam tornar-se compatíveis com as habilidades acadêmicas
e a competência curricular do aluno. Não há sempre a
necessidade de um currículo diferente mas, de sua adequação.
Os procedimentos educacionais devem resguardar as
medidas de acesso ao currículo, ou seja, máquinas Braille,
leitores ópticos, bengalas, material ampliado ou em relevo, entre
outros, para que seja possível a eficiência do processo de ensino
e aprendizagem.
40
O período correspondente à educação infantil é muito
propício para crianças com deficiência, porque as atividades
acadêmicas são mais simples, e o enfoque é maior no índice
sobre o desenvolvimento e a aprendizagem das habilidades
psicomotoras, cognitivas e sócio-afetivas.
De igual modo, incentiva-se a vivência lúdica do
brinquedo, das brincadeiras, dos jogos, do exercícios da fantasia
e da criatividade. Essas experiências educacionais são
apropriadas para todas as crianças dessa faixa etária,
independentemente de serem portadoras, ou não, de
deficiências. O ideal é que as crianças estudem nas escolas
regulares, para terem um convívio desafiador e estimulante, com
uma diversidade de situações e de pessoas.
Espera-se, no entanto, que o ambiente de aprendizagem
seja realmente adequado a suas necessidades e
pontencialidades. Não adianta colocar as crianças juntas, se
ficarem excluídas da participação efetiva em sala de aula. A
escola precisa ser realmente inclusiva, ou seja, possa flexibilizar
o currículo para dar respostas às demandas reais da criança.
Quando as deficiência múltipla comprometem
severamente a criança e as instituições educacionais regulares
não estão estruturadas para seu atendimento, costumam indicar-
se as escolas especializadas, até que seja possível e
recomendável sua integração escolar.
Mesmo quando as crianças estão atendidas em escolas
inclusivas, desenvolvendo um currículo adequado, o apoio
especializado faz-se necessário. Esse apoio é diferenciado e
contingente em relação às condições individuais identificadas
do aluno. Alguns necessitam do apoio por tempo limitado, mas
há educando com múltiplas deficiências que o exige durante toda
a vida.
Um currículo regular adequado pode requerer a
complementação, a priorização ou a redução de conteúdos,
Questões de segregação/integração através dos modelos de atendimento
41
objetivos e sistemas de avaliação, de modo a dar respostas
adequadas às necessidades e potencialidades do aluno com
deficiências.
Com relação às crianças com múltipla deficiência,
predomina o atendimento nas instituições especializadas
públicas ou privadas, sobretudo as filantrópicas. Durante muitos
anos, os educandos com deficiências mais limitadoras nem
tinham acesso a essas instituições, por serem considerados “não
educáveis”.
Felizmente, essa concepção não encontra mais espaço
no âmbito educacional. Todas as pessoas têm perspectivas de
desenvolvimento e aprendizagem.
Os profissionais que defendiam o atendimento dessas
crianças apenas pela área da saúde têm mudado suas
convicções em favor da confiança nos bons resultados
evidenciados pela ação educativa.
As crianças com múltipla deficiência menos agravantes,
podem beneficiar-se do ambiente integrador das escolas
regulares. Existem resistências por parte das escolas, com a
alegação de as crianças estarem despreparadas; no entanto,
os esforços dos educadores e dos legisladores tendem a
superar essas restrições. Espera-se que o novo milênio traga
melhores oportunidades educacionais para esses alunos e
fortaleça as perspectivas inclusivas da escola e da sociedade
como um todo.
42
O atendimento para as crianças com múltipla deficiência,
durante as últimas décadas eram restritos à área de saúde. As
clínicas, os hospitais, os consultórios particulares, (etc.)
prescreviam medicações, tratamentos e orientações que
atendiam às necessidades orgânicas dessa população
específica.
A educação infantil, com oferta escassa na rede pública,
não atendia nem mesmo à demanda das crianças não portadoras
de deficiência. Por outro lado, as escolas particulares, mesmo
com oferta de vagas, não recebiam alunos
diferentes
. Quando
o faziam, cobravam mais caro, exigiam a presença de um auxiliar
ou de familiares na sala de aula, argumentando a necessidade
de apoio para o atendimento da criança.
De certo modo, o aluno não recebia o atendimento
apropriado, pela dificuldade ou pelo grau de desenvolvimento
da escola quanto às formas mais adequadas de acolhimento.
Não raro, as potencialidades da criança eram subestimadas ou
desconhecidas, mesmo porque a múltipla deficiência costuma
apresentar incapacidade ou dar a impressão de maiores
limitações do que as reais possibilidades do educando.
Atualmente, essa situação ainda acontece, embora haja
maior divulgação sobre os avanços educacionais na área. As
perspectivas de melhoria orgânica também foram ampliadas,
em decorrência dos avanços da medicina e dos programas de
saúde.
Instituições
especializadas
públicas ou particulares,
principalmente as filantrópicas, têm-se destacado como
alternativa para os alunos com múltipla deficiência.
Serviços comunitários
43
No âmbito das instituições escolares, o trabalho
interdisciplinar é mais encontrado nas escolas especializadas.
Considerando que as crianças com múltipla deficiência desafiam
mais os profissionais – em face da complexidade de sua
condição e da diversidade que requer seu atendimento – a
equipe interdisciplinar tem sido requisitada.
A despeito do questionamento existente sobre a
necessidade de profissionais da área de saúde ou de áreas
afins na educação de crianças com múltipla deficiência, a
realidade brasileira, historicamente, não abre mão da
contribuição de profissionais de outras formações para dar conta
das especificidades que as condições desses alunos requerem.
As ações interdisciplinares aplicam-se na avaliação e
na intervenção.
Faz-se necessária, muitas vezes, demorada análise de
vários profissionais para identificar-se a avaliação dos alunos
entre as muitas hipóteses de deficiência do tipo: surdez profunda,
autismo, deficiência mental grave, surdez-cegueira, psicose
infantil, entre outras.
Quanto à intervenção, seja no âmbito da própria escola
ou em locais e horários diferentes, é freqüente que as crianças
com múltipla deficiência, principalmente as mais comprometidas,
tenham necessidade de atendimentos em diferentes áreas,
como a da pedagogia, psicologia, fonoaudiologia, fisioterapia,
terapia ocupacional, etc.
A interdisciplinaridade, portanto, tem sua indicação e
deve ser levada em conta a diversidade de condições das
crianças e suas necessidades específicas.
Possibilidades de trabalho interdisciplinar
44
Após a leitura cuidadosa do texto, responda às
seguintes questões, de modo a verificar seu entendimento
acerca do conteúdo do fascículo.
1. Assinalar com (V) as afirmativas verdadeiras e com
(F) as falsas:
a.( ) o desenvolvimento e aprendizagem das crianças
com múltipla deficiência ocorrem segundo os
mesmos princípios e bases biopsicossociais que
regulam o desenvolvimento infantil;
b.( ) o desenvolvimento das crianças é influenciado por
fatores individuais, sociais e ambientais;
c.( ) as deficiências múltiplas guardam muita
similaridade entre si;
d.( ) por melhor que seja o ambiente, as deficiência
múltipla são sempre graves;
e.( ) segundo as últimas teorias, a criança só se
desenvolve porque aprende;
f. ( ) o pensamento atual é de que educação infantil
considera o desenvolvimento da criança e os
valores e o conhecimento culturalmente adquiridos.
2. Complete as lacunas com as palavras selecionadas dentro
dos parênteses:
(
física - flexibilidade – deslocamento – proximidade –
linguagem – movimentos – gestos – inclusivas
)
a. o currículo deve ter ______________ para atender
às necessidades especiais dos alunos, sobretudo dos
que têm múltiplas deficiências;
b. o currículo a ser desenvolvido pela criança com
múltipla deficiência e com deficiência auditiva associada
Verificando sua aprendizagem
45
deve focalizar o domínio da ______________ de sinais
e o uso dos ______________ de apoio na sua
educação;
c. a criança com deficiência visual realiza poucas
atividades físicas, em decorrência do desestímulo aos
_______________ e ao _____________;
d. a criança portadora de múltipla deficiência com
deficiência _____________ associada apresenta, com
freqüência, problemas de socialização, mobilidade e
comunicação;
e. a criança surda-cega tem dificuldades de explorar o
ambiente pela necessidade de ________________ dos
objetos para poder conhecê-los;
f. o ambiente escolar desejável para as crianças com
múltipla deficiência é aquele que favorece o contato da
criança com as demais não portadoras de deficiências,
ou seja, a exemplo das escolas ______________.
46
Agora, verifique se as respostas estão de acordo com os
conteúdos do fascículo:
1ª questão
a. (V);
b. (V);
c. (F);
d. (F);
e. (V);
f. (V).
2ª questão
a. flexibilidade;
b. linguagem – gestos;
c. movimentos – deslocamento;
d. física;
e. proximidade;
f. inclusivas.
Conferindo suas respostas
47
BRUNO, M. G
. O desenvolvimento integral do portador de
deficiência visual: da intervenção precoce à integração
escolar
. São Paulo: NEWSWORK,1993.
GALVÃO, I. Henri Wallon –
uma concepção dialética do
desenvolvimento infantil.
Petrópolis: Vozes, 1995.
GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL. Fundação Educacional do
DF.
Complementação curricular específica para a educação
do portador de deficiência da audição
. Brasília GDF/FEDF,
1992.
_______. Atendimento educacional ao aluno portador de
deficiência da audição. Brasília: GDF/FEDF, 1992.
_______.
Atendimento educacional ao aluno portador de
deficiência da visão.
Brasília: GDF/FEDF, 1994.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Secretaria
de Educação Especial.
Política Nacional de Educação
Especial
. Brasília: MEC, 1994.
________.
Subsídios para a organização e funcionamento de
serviços de educação especial: área de deficiência auditiva.
Brasília: MEC, 1995. Série Diretrizes 6.
________.
Subsídios para a organização e funcionamento de
serviços de educação especial: área de deficiência visual.
Brasília: MEC, 1995. Série Diretrizes 8.
________.
Política Nacional de Educação Infantil.
Brasília:
MEC, 1994.
________.
Referenciais curriculares nacionais para a
educação infantil: documento introdutório – versão
preliminar.
Brasília: MEC, 1997.
Bibliografia
48
NOGUEIRA, M. DE A. M.
Interação professor-ouvinte e pré-
escolares surdos em duas alternativas metodológicas.
Brasília: CORDE, 1997.
PIAGET, J.
O nascimento da inteligência na criança.
Rio de
Janeiro: Zahar, 1975.
VYGOTSKY, L. S.
Pensamento e linguagem.
São Paulo: Martins
Fontes, 1987.________.
Obras completas: fundamentais
de defectologia
. Havana: Editorial Pueblo y Educación,
1995.
49
Nota de agradecimento
Agradecemos a colaboração do Centro de Ensino
Especial de Deficientes Visuais pela cedência das fotos e a
permissão para sua publicação nesse trabalho.
Nosso carinho aos alunos e professores que, por
meio dessas imagens, ajudam a difundir conhecimentos aos
que desejam aprender e atuar com portadores de múltipla
deficiência.
50
51
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL
Fascículo V
A Criança de Sete a Onze Anos
com
Deficiência Múltipla
Conteudista
Erenice Natália Soares de Carvalho
Brasília, 2000
52
53
SUMÁRIO
FASCÍCULO V - A Criança de Sete a Onze Anos com
Deficiência Múltipla
Aspectos de desenvolvimento
Educação escolar
Segregação e integração pelos modelos de
atendimento
Serviços comunitários
Trabalho interdisciplinar
Verificando sua aprendizagem
Conferindo suas respostas
Bibliografia
54
1. Leia os objetivos específicos do fascículo;
2. Estude o texto do fascículo;
3. Teste seus conhecimentos, respondendo às avaliações
propostas;
4. Confira suas respostas com a da chave de correção, no
final do fascículo;
5. Se bem sucedido nas respostas, passe para o fascículo
seguinte;
6. Se não conseguir bons resultados, reestude o texto;
7. Realize novamente a avaliação. Se não conseguir,
consulte o professor aplicador do fascículo.
Informações iniciais
55
1 - Estudar o texto relativo ao fascículo.
2 - Rever o vídeo para tirar dúvidas.
3 - Recorrer ao professor aplicador da unidade, caso a dúvida
persista.
4 - Realizar a avaliação proposta e as atividades sugeridas.
Alternativas de apredizagem
56
Este é o volume 2 – fascículo V Série Atualidades Pedagógicas
5 – Educação Especial.
Tem como objetivo instrumentalizar os professores para
atuar com alunos com de deficiência múltipla.
O fascículo visa a fornecer subsídios para que esses
professores alcancem os seguintes objetivos:
Caracterizar peculiaridades comportamentais dos
alunos com deficiência múltipla na faixa etária de
sete a onze anos;
identificar similaridades do seu comportamento e
desenvolvimento em relação às demais crianças
não-portadoras de deficiências;
caracterizar as necessidades educacionais
especiais dessa população específica;
Objetivos
57
Os estudiosos do desenvolvimento infantil revelam que
as crianças na faixa etária de sete a onze anos passam por
uma grande mudança no desenvolvimento cognitivo e na sua
disposição para aprender, o que as torna
aprendizes vorazes,
além de já ter adquirido habilidades básicas que a capacitam
gradativamente a apropriar-se do saber organizado pela escola.
A perspectiva desenvolvimentista defende, como já foi
abordado em outros momentos, a similaridade básica existente
no desenvolvimento, no comportamento e na aprendizagem de
crianças com deficiências com o existente nas crianças que não
apresentam nenhuma alteração.
Segundo essa abordagem, não há fundamentos para
definir um perfil peculiar de crianças com quaisquer tipos de
deficiências, tomando como base suas condições físicas,
mentais, sensoriais, emocionais, lingüísticas e outras.
O que se pode considerar sobre o desenvolvimento de
crianças de sete a onze anos com deficiência múltipla?
que apresentam uma seqüência similar de
desenvolvimento comum a todas as demais
crianças, bem como uma estrutura similar de
inteligência, reagindo estruturalmente de maneira
aproximada aos estímulos do ambiente físico e
social que as cercam;
que suas dificuldades e necessidades básicas
para apreender os estímulos ambientais e interagir
com o meio podem ter elementos facilitadores e
dificultadores comuns aos de outras crianças da
mesma idade que apresentam os mesmos tipos
e níveis de deficiências;
que condições emocionais satisfatórias e níveis
positivos de autoconceito e auto-estima minimizam
Aspectos de desenvolvimento
58
os efeitos de suas deficiências e melhoram as
expectativas de desenvolvimento e realização;
que a amplitude e a intensidade das deficiências
são fatores que interferem na funcionalidade das
crianças e em seu desempenho;
que os tipos de deficiências que apresentam
definem as formas de lidar com o ambiente físico
e social;
que fatores sociais e culturais favorecem ou
dificultam seu desenvolvimento e aprendizagem;
que as respostas emocionais de suas famílias fren-
te a suas deficiências são muito importantes para
a formação de sua auto-estima, autoconfiança e
autovalorização;
que o acesso ao atendimento educacional, o mais
cedo possível, amplia significativamente seus
horizontes de desenvolvimento e abre-lhes a porta
para a participação na sociedade.
Nessa faixa de idade a criança, de um modo geral,
tende a voltar sua atenção para fora de si mesma e em direção
ao mundo. Dirige-se cada vez mais para a realidade exterior
objetiva, não apenas ao mundo que a cerca, que diz respeito à
proximidade pessoal, mas expandindo-se para coisas distantes
no espaço e no tempo. A natureza dos objetos, seu
funcionamento, finalidades, origem e componentes são
estímulos atraentes, que despertam e mantêm a atenção da
criança em seu desejo natural de conhecer. Ao mesmo tempo,
são desafios interessantes para a criança o como operar, as
habilidades para fazer, os truques, os passos e as regras.
Sua aprendizagem é direcionada para a ação,
precisando, ainda, da experiência direta, enquanto evolui para
as experiências indiretas e vicárias. Os símbolos ainda têm o
sabor de fantasia, mas gradativamente passam a representações
da realidade objetiva. A linguagem é muito exercitada na função
59
de comunicação e bastante explorada pela criança como
instrumento do seu aprendizado e desenvolvimento.
À medida que se aproxima dos doze anos, suas
habilidades psicomotoras e cognitivas lhe dão instrumentos para
maiores e mais complexas abstrações, generalizações e
formações de conceitos. Adquire mais consciência da
objetividade do mundo e passa a usar cada vez mais a
linguagem em sua função social.
Crianças com múltipla deficiência, agindo
diferentemente de sua parte, podem manifestar reduzidas
interações com o ambiente e trocas interpessoais. Tendem a
apresentar baixa motivação para aprender e compartilhar, dando
respostas egocêntricas e de auto-estimulação, como resultado
de suas limitações cognitivas, sensoriais, lingüísticas, motoras,
etc.
Embora tais respostas não sejam generalizadas,
quando presentes podem decorrer da pouca estimulação
ambiental para as crianças, da falta de encorajamento a suas
realizações, da desmotivação que costumam apresentar, entre
outras. Deve-se focalizar que as condições individuais das
crianças
de per si
não são os únicos determinantes de sua
aprendizagem e desenvolvimento, mas o ambiente físico, o
social e o emocional exercem um efeito poderoso que não pode
ser ignorado ou negligenciado.
As crianças com múltipla deficiência podem apresentar
dificuldades variadas:
problemas na comunicação – freqüentes nas que
apresentam deficiência auditiva e motora, isoladas
ou associadas a outras deficiências;
dificuldades de locomoção – freqüentes nos casos
de deficiência motora e visual, isoladas ou
associadas a outras deficiências;
problemas perceptivos e conceituais – freqüentes
nas que apresentam deficiência mental, visual e
60
auditiva, isoladas ou associadas a outras
deficiências;
problemas orgânicos decorrentes de síndromes ou
quadros clínicos mentais, neurológicos, motores
e sensoriais associados, que afetam o funciona-
mento orgânico e a vitalidade da criança.
1
Essas dificuldades, entretanto, não são
típicas
de
crianças com múltipla deficiência. Nem todas apresentam essas
limitações e, quando ocorrem, podem manifestar-se em níveis
variados.
A funcionalidade desses educandos no ambiente em
que vivem depende de muitos fatores, entre eles:
condições individuais ligadas às deficiências;
oportunidade de participação familiar, comunitária
e social;
estimulação ambiental e intervenção educacional,
desde a mais tenra idade;
condições e expectativas socioculturais;
propiciação de apoio adequado a seu desenvol-
vimento, aprendizagem, formação pessoal e par-
ticipação social.
Isso demonstra que a diversidade entre as crianças com
múltipla deficiência é considerável, dependendo de condições
diversas que levam em conta as condições de desenvolvimen-
to, comportamento, aprendizagem, funcionalidade no ambiente
e personalidade, entre outras.
1
Dentre as pessoas com necessidades especiais, as portadoras de deficiência
múltipla, freqüentemente têm mais possibilidades de apresentar problemas orgânicos,
uma vez que suas deficiências associadas podem decorrer de enfermidades que
comprometem as capacidades.
61
As crianças com múltipla deficiência na faixa etária de
sete a onze anos podem receber diversos tipos de atendimento
educacional.
Muitas têm acesso às escolas regulares, onde estudam
nas classes comuns e recebem atendimento especializado, no
horário contrário às aulas, por parte de professores itinerantes,
de salas de apoio ou salas de recursos. Esses atendimentos
visam complementar os conteúdos específicos que não são
trabalhados em sala de aula por não serem necessários aos
demais alunos, mas indispensáveis aos que apresentam
deficiências.
Podem corresponder, também, a metodologias
apropriadas a esses alunos em face de dificuldades que não
possam ser solucionadas no ambiente regular e pelos métodos
convencionalmente utilizados. De um modo geral, os alunos com
múltipla deficiência que estudam nas classes comuns do ensino
regular participam de um ambiente mais estimulante e integrador
e beneficiam-se de adaptações do currículo regular que lhes
oferecem uma perspectiva acadêmica mais promissora.
Nem todas as crianças com múltipla deficiência,
entretanto, têm acesso à escolarização nas classes comuns do
ensino regular. Suas limitações individuais são muitas vezes
associadas às limitações do próprio sistema educacional em
lhes oferecer educação mais integradora. Sabe-se que as
instituições escolares não estão preparadas para educar
crianças que apresentam necessidades muito diferenciadas dos
demais colegas.
Por essa razão, as classes especiais têm sido uma
alternativa para algumas crianças com múltipla deficiência.
Permitem-lhes estudar na escola regular em classe específica
para alunos com necessidades especiais, com professor
especializado e currículo adequado. Há muitas críticas a esse
modelo de atendimento e a seu caráter segregativo, mas tem
Educação escolar e questões de segregação através dos
modelos de atendimento
62
sido muito praticado nas diversas regiões do país. Muitos
defendem sua permanência por considerarem forma parcial de
integração, uma vez que os alunos podem compartilhar, com os
demais colegas, dos passeios, eventos e comemorações, na
entrada e saída dos turnos de aula, nas atividades recreativas,
etc.
Outra possibilidade para o aluno com múltipla
deficiência é a escola especializada. Essa alternativa tem sido
indicada para os alunos que apresentam deficiências mais
acentuadas e que não encontram nas escolas regulares
respostas educacionais adequadas a suas potencialidades,
limitações e necessidades especiais.
Mais uma vez admite-se que não se trata de limitações
restritas ao aluno, mas de condições educacionais estruturadas
para atender a uma clientela homogeneizada, sem abertura para
a diversidade da população escolar. As instituições
especializadas, públicas ou privadas, em sua maioria
filantrópicas, encontram-se organizadas para o atendimento
desses alunos, dispondo de professores e profissionais
especializados, currículos adaptados ou específicos para
atender a suas necessidades, além de métodos, técnicas e
equipamentos destinados a sua educação. Não se pode
desconsiderar seu caráter segregativo e socialmente restritivo,
mas constituem muitas vezes a única alternativa de atendimento
para esses alunos em alguns recantos do país. Infelizmente, há
localidades em que nenhuma possibilidade existe.
A escola especializada pode ser provisoriamente
indicada para o aluno com múltipla deficiência, como pode ser
alternativa para sua educação de maneira perversiva. Muitas
vezes, um aluno que estuda na escola regular recebe
complementação de atendimento na escola especializada,
quando não é possível o atendimento itinerante ou de sala de
recursos.
63
As adaptações curriculares visam adequar o currículo
às necessidades especiais dos alunos. Podem constituir
alterações pouco expressivas ou muito significativas nos
conteúdos, procedimentos didáticos e avaliativos, de modo a
possibilitar o atingimento dos objetivos definidos para cada
etapa educativa.
Essas adaptações curriculares que visam o acesso à
aprendizagem podem incluir, segundo Manjón e col. ( 1997 ):
a criação de ambiente físico e material adequado
às necessidades educacionais do aluno;
a melhoria dos níveis de comunicação com os
adultos e com os colegas;
a adequação dos métodos, técnicas e
procedimentos didático-pedagógicos para a
aprendizagem dos conteúdos curriculares;
a colocação do aluno nos grupos que favorecem
a sua aprendizagem e a sua integração social;
a organização do ambiente da sala de aula e das
atividades de modo acessível a todos os alunos,
inclusive aos que apresentam necessidades
especiais;
a introdução de atividades complementares ou
substitutivas para o aluno alcançar os objetivos dos
demais colegas;
a introdução de atividades complementares ou
substitutivas para o aluno alcançar objetivos
específicos e diferentes dos demais colegas e que
são indispensáveis frente a suas necessidades
especiais;
a supressão de atividades e objetivos
educacionais que não estão ao alcance do aluno
em decorrência de suas limitações ou que
impeçam sua participação ativa no grupo;
Adaptações curriculares
64
a substituição de objetivos e atividades por outros
acessíveis, significativos e básicos para o aluno;
a adaptação do tempo e dos critérios para o
cumprimento dos objetivos, o desenvolvimento dos
conteúdos e a realização do processo avaliatório.
Mesmo com todas essas possibilidades, nem sempre
um currículo regular alterado atende às necessidades do aluno
com deficiência múltipla. Muitas vezes, em decorrência da
gravidade de suas deficiências, alguns requerem um currículo
individual específico.
Além das adaptações, algumas recomendações podem
ser observadas para sua educação:
apoiar o processo de desenvolvimento e aprendi-
zagem da criança, respeitando as particularida-
des de suas etapas evolutivas;
encorajar, estimular e valorizar a criança,
interagindo afetivamente com ela, favorecendo sua
auto-estima e reconhecendo suas conquistas e
realizações;
desafiar a criança a participar, descobrir e criar;
adotar seu próprio desempenho como referência
para avaliações.
Um equívoco freqüente relacionado às crianças com
múltipla deficiência é avaliar suas capacidades pela aparência
e funcionamento. Como muitas não conseguem falar, escrever
e locomover-se ou apresentam um movimento corporal
descoordenado ou flacidez facial, seus familiares, professores
e amigos podem ser levados a imaginar deficiências e limitações
que não possuem. Por outro lado, sua aparência pode ocultar
talentos e capacidades que não estão sendo manifestadas, até
mesmo por falta de apoio e motivação para interagir no ambiente
físico e social.
Uma adequada avaliação da criança é importante para
dar respostas a suas potencialidades e necessidades especiais.
Ao realizar a adequação curricular, os educadores
devem considerar, ainda, a importância de organizar atividades
65
que se aproximem ao máximo do que está sendo proposto para
os demais colegas, uma vez que interessam a todos, a não ser
que não estejam ao alcance, total e parcialmente, do aluno com
deficiências múltiplas.
Convém observar-se que as alterações curriculares não
são necessárias em todos os elementos e áreas curriculares, nem
em todos os momentos da vida escolar do aluno. Algumas,
entretanto, são indispensáveis e devem ser consideradas em sua
escolarização.
Alunos com deficiência auditiva associada a
outra(s) deficiência(s)
Na faixa etária dos sete aos onze anos as crianças estão
ingressando nas séries iniciais do ensino fundamental e
adquirindo as habilidades básicas de leitura e escrita.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN ( 1997 )
enfatizam a importância da aquisição da linguagem discursiva e
escrita alfabética nessa fase, afirmando que “as pessoas
aprendem a gostar de ler quando, de alguma forma, a qualidade
de suas vidas melhora com a leitura.” (p. 36) Para as crianças
surdas ou com baixa audição esse pressuposto tem uma
importância singular, uma vez que suas dificuldades educacionais
mais significativas estão concentradas na comunicação oral e
escrita.
Admite-se que para a criança com deficiência auditiva
as habilidades de leitura e escrita são importantes vias de
acesso aos demais conhecimentos, à aprendizagem e
compreensão dos conteúdos curriculares e à interação com o
mundo físico e social.
Desse modo, adquirir qualidade no uso da linguagem é
um objetivo tão válido para uma criança surda como para as
ouvintes. Por essa razão e segundo as orientações dos PCN,
nas séries iniciais do ensino fundamental deve ser privilegiada “a
reflexão sobre a língua em situação de produção e interpretação,
como caminho para tomar consciência e aprimorar o controle
sobre a própria produção lingüística.” ( p. 30)
66
Não se pode minimizar as dificuldades que uma criança
com deficiência auditiva enfrenta para atingir esse objetivo. Do
mesmo modo, não se podem ignorar os prejuízos que resultariam
de abrir mão em atingi-lo. Deve a escola encontrar caminhos
alternativos e eficientes para apoiar essas crianças na superação
de suas dificuldades, dando-lhes oportunidade de sucesso real e
de conquistas na vida acadêmica, até mesmo quando
apresentam outras deficiências associadas.
Alguns educadores que atuam com alunos portadores
de deficiência auditiva chamam a atenção para a importância
de se desenvolver na criança, desde tenra idade, uma forma
alternativa de linguagem a ser adquirida harmoniosamente com
a linguagem oral.
Argumentam que o desenvolvimento global da criança
tem a ganhar com essa possibilidade de comunicação que
lhe oportuniza canais múltiplos de aquisição de
conhecimentos, exploração do mundo físico e social e
benefícios psicoafetivos inquestionáveis. Essa é a
perspectiva do
bilingüismo
, que vem conquistando adeptos
entre surdos e ouvintes, devendo ser considerada nas
discussões de âmbito educacional para essa população
escolar específica.
A adequação curricular para esse aluno devem incluir:
procedimentos e ações que facilitem a comunica-
ção e a aprendizagem dos conteúdos curriculares;
o uso de recursos materiais, técnicos e
tecnológicos referentes a suas necessidades:
próteses auditivas, treinadores de fala, softwares
específicos, equipamentos sonoros, recursos di-
dático-pedagógicos e adaptações materiais e fí-
sicas específicas;
programas de treinamento auditivo;
programas de treinamento fonoarticulatório e de
fala;
programas de treinamento rítmico;
programas de treinamento multissensorial, etc.
67
Ao considerar as demais deficiências que a criança
possa ter, seu atendimento deve focalizar a questão da
comunicação como ponto central na sua educação.
Nem todas as crianças com múltipla deficiência
aprendem as habilidades e o conhecimento acadêmico relativos
ao ensino fundamental completo. De qualquer modo, cabe aos
sistemas educacionais propiciar-lhes condições para que atinja
o mais alto nível que lhe seja possível. Sua educação pode requerer
o apoio de professores especializados itinerantes ou de salas de
recursos, quando integrados na rede regular de ensino.
Crianças com deficiência visual associada a
outra(s) deficiência(s)
Quando a deficiência múltipla inclue a deficiência visual
– cegueira ou baixa visão – os educadores devem estar atentos
para as dificuldades relacionadas à vivência corporal,
locomoção, percepção e formação de conceitos que essa
criança possa apresentar.
As providências relativas à aquisição das habilidades
de leitura e escrita, próprias dessa faixa etária, requerem a
aprendizagem do sistema braille e o desenvolvimento de
habilidades referentes à linguagem discursiva e à produção e
interpretação de textos, usando os procedimentos adotados
pelos bons leitores e produzindo textos coerentes, coesos e
eficazes (PCN, 1997). Devem desenvolver suas habilidades de
comunicação num ambiente receptivo e estimulante, como
ilustrado na Fig. 3.
A adequação curricular para o aluno com deficiência
múltipla que inclua a deficiência visual deve considerar:
o uso de recursos materiais, técnicos e
tecnológicos necessários a sua educação:
máquina braille, texto ampliado ou em braille,
lupas, bengala longa, reglete, punção, sorobã,
softwares específicos, etc.;
68
procedimentos didáticos que facilitem a
comunicação e a aprendizagem;
adaptação de material em relevo, em tipo
ampliado e transcrição para o braille
programas de orientação e mobilidade;
programas de atividades da vida diária;
programas para a aquisição da simbologia braille
programas para o aprimoramento da eficiência
visual, para os alunos com baixa visão;
programas para o uso do sorobã;
programas de escrita cursiva;
programas de treinamento multissensorial, das
relações espaciais e temporais e de
desenvolvimento do esquema corporal, etc.
Nem todas as crianças com deficiência múltipla que
incluam a deficiência visual conseguem atingir os níveis mais
elevados de ensino acadêmico. Do mesmo modo, devem ter a
oportunidade de atingir o máximo de suas potencialidades e
capacidade global de desenvolvimento.
Sua educação pode requerer o apoio especializado de
professores itinerantes ou de salas de recursos, quando
integrados na rede regular de ensino.
Fig. 3. Aluno com deficiên-
cia mental e visual,
em atividades no
meio líquido.
69
Alunos com deficiência física associada a outra(s)
deficiência(s)
Quando as crianças portadoras de deficiências
múltiplas apresentam deficiência física associada, os
educadores devem estar atentos para suas possibilidades
motoras, de comunicação e de locomoção, bem como suas
habilidades cognitivas e de socialização. Caso a criança não
possa falar ou apresente sérias dificuldades na emissão oral,
sua aprendizagem da leitura dificilmente poderá ser avaliada
pelos meios tradicionais.
A produção escrita, do mesmo modo, fica dificultada
ou inviabilizada se a criança não conseguir coordenar os
movimentos ou executar movimentos de preensão que permitam
manusear o lápis ou executar os traçados.
O desenvolvimento da linguagem discursiva deve ser
estimulado, a despeito das dificuldades de emissão, uma vez
que são possíveis as atividades de escuta e reflexões sobre a
língua. Apesar de não conseguir expressar-se verbalmente ou
não fazê-lo com clareza, o aluno deve ser estimulado a utilizar
a escuta como via de desenvolvimento da linguagem, da
compreensão e da aprendizagem. Por outro lado, as
adaptações motoras precisam ser providenciadas para
possibilitar a aquisição das habilidades de leitura e da escrita
alfabética.
Os educadores defendem que a escrita pode ser uma
forma de expressão dos pensamentos e veículo de comunicação
para esses alunos, sobretudo, de apoio para sua aprendizagem
e avaliação.
A adequação curricular para o aluno com deficiência
múltipla que incluam a deficiência física devem considerar:
adaptações motoras: mesa e cadeira adaptadas,
adaptação de cabeça e queixo, cadeiras de roda,
cintos de segurança para cintura e tórax,
apontadores, etc.;
procedimentos didáticos e adaptações de
materiais: letras e palavras recortados em cartolina
70
ou em blocos, softwares específicos, computador
com adaptador de teclado, etc.;
adaptações nos métodos e técnicas de ensino-
aprendizagem de modo a considerar as
necessidades especiais da criança e o seu ritmo
próprio de desempenho e aprendizagem;
facilitadores de comunicação: sistemas
aumentativos ou alternativos de comunicação
(sistemas de símbolos, auxílios físicos e técnicos,
etc.)
Nem todas as crianças com deficiência múltipla que
incluam a deficiência física conseguem avançar na carreira
acadêmica, em face dos níveis de suas limitações. Devem,
entretanto, ter a oportunidade de atingir o máximo de suas
potencialidades e capacidade de desenvolvimento.
Sua educação pode requerer o apoio especializado de
professores itinerantes ou de salas de recursos, quando
integrados na rede regular de ensino.
Alunos com deficiência mental associada a outras
deficiências
Quando uma criança apresenta deficiência múltipla com
deficiência mental associada, seus problemas principais
costumam decorrer das limitações cognitivas: raciocínio lógico,
compreensão e elaboração de conceitos, associações de idéias,
analogias, classificações e generalizações, etc. Como a maior
parte das atividades acadêmicas requer o uso dessas
habilidades, em crescente complexidade, a progressão escolar
do aluno torna-se difícil ou mesmo inviável, dependendo do nível
de suas deficiências.
A escolarização deve promover uma proposta curricular
que permita a aprendizagem e o desenvolvimento das
capacidades do educando.
Pesquisas científicas demonstram que a escolarização
promove a aquisição de habilidades de processamento de
informações, memorização, classificação e formação de
71
conceitos, entre outras. Desse modo, estimular as
potencialidades das crianças e sua aprendizagem reverte-se
em desenvolvimento e retroalimenta novas aprendizagens.
Na faixa etária de sete a onze anos realiza-se o processo
de alfabetização e as fases iniciais do ensino fundamental. O
currículo do aluno com múltipla deficiência sendo uma delas a
deficiência mental precisa considerar, dentre outros:
o desenvolvimento das habilidades cognitivas e
adaptativas;
a colocação dos alunos em salas e turmas que
favoreçam a realização de atividades em grupo, a
aprendizagem e a socialização;
estimular, encorajar e reforçar a comunicação, a
participação, a iniciativa e o desempenho do aluno;
adaptar metodologias e materiais de ensino;
adaptar o tempo de modo a atender o ritmo próprio
de aprendizagem e realizações do aluno;
complementar, substituir ou eliminar objetivos e
conteúdos.
O processo avaliativo deve considerar critérios,
instrumentos e procedimentos que contemplem as capacidades
e limitações individuais.
Nem todos os alunos com múltipla deficiência associa-
das à deficiência mental conseguem avançar em sua
escolarização, mas devem ter oportunidades de desenvolvimen-
to e aprendizagem compatíveis com seu potencial. Sua educa-
ção pode requerer o apoio especializado de professores
itinerantes ou de salas de recursos, quando integrados na rede
regular de ensino.
Alunos com múltipla deficiência sensorial (surdos-
cegos)
Quando as crianças portadoras de deficiência múltipla
apresentam deficiências sensoriais associadas, os educadores
devem avaliar suas condições motoras, de comunicação e de
72
locomoção, bem como as habilidades cognitivas e de relações
espaciais e temporais. Devido às poucas vivências corporais e
limitações nos sentidos da visão e da audição, essas crianças
costumam ficar enclausuradas em si mesmas e pouco
estimuladas a interagir no meio físico e social.
Se as crianças tiverem a oportunidade de receber
educação infantil, desde o programa de estimulação precoce,
suas condições de desenvolvimento estarão mais favorecidas
e muitas limitações poderão ser evitadas.
Uma grande dificuldade identificada nessas crianças diz
respeito à estruturação do esquema corporal que, se trabalhada
devidamente desde a mais tenra idade, favorece o
desenvolvimento de suas capacidades psicomotoras –
coordenação, relações espaciais, temporais, ritmo, habilidades
sensoriais, uma vez que a adequada vivência corporal é o primeiro
passo para a exploração e o conhecimento da realidade objetiva.
As crianças surdas-cegas podem ser agrupadas como
se segue:
totalmente surdas-cegas;
totalmente surdas e parcialmente cegas;
totalmente cegas e parcialmente surdas;
parcialmente surdas-cegas.
Cada situação configura capacidades e limitações
diferenciadas, bem como necessidades diversas, conquanto
muitos outros fatores possam contribuir para tornar a criança
mais ou menos funcional e participante no ambiente em que vive.
Superar as dificuldades de comunicação por meio de
sistemas comunicativos alternativos ou ampliados é condição
essencial para o desenvolvimento de qualquer currículo escolar
e tarefa essencial da educação desses alunos.
Lidar com a surdez requer buscar formas possíveis de
comunicação oral e de sinais / gestual, além da aprendizagem
da leitura e da escrita ou dos sistemas de símbolos baseados
em elementos representativos (desenhos, gravuras, figuras, etc.).
Com relação à deficiência visual, a aprendizagem do
braille ou a leitura em tipos ampliados são formas de comunicação
indispensáveis.
73
Entender uma criança surda-cega requer que se com-
preenda a diferença de suas necessidades e capacidades com
relação às crianças com deficiências exclusivamente visuais ou
auditivas. Não se trata, também, de tentar “somar” as particula-
ridades de cada condição em separado. As circunstâncias in-
dividuais são diferenciadas e peculiares, além do contexto
ambiental que pode ser favorável ou desfavorável a seu desen-
volvimento e aprendizagem.
Na faixa etária de sete a onze anos comumente dá-se o
processo de alfabetização e o início dos períodos do ensino
fundamental. O currículo do aluno precisa considerar, entre outros:
o incentivo à comunicação e às relações
interpessoais;
o uso de materiais e procedimentos pedagógicos
adequados, comuns ou especiais;
a motivação, a iniciativa e o desejo de interagir no
meio físico e social;
a propiciação de órteses, próteses e
equipamentos especializados;
o desenvolvimento de sistemas alternativos e
ampliados de comunicação de acordo com as
necessidades da criança;
o encorajamento, o estímulo e o reforço às
realizações do aluno;
a propiciação dos diversos sistemas de apoio
necessários;
programas de estimulação multissensorial e
psicomotores;
programas de locomoção, orientação e mobilidade;
programas de aperfeiçoamento da visão e da
audição residuais;
programas de treinamento auditivo e rítmico;
programas de atividades da vida diária.
Muitas crianças surdas-cegas não conseguem atingir
níveis elevados de escolarização, mas têm o direito a receber
todas as oportunidades educacionais que favoreçam seu
desenvolvimento global e sua promoção pessoal.
74
Na faixa etária de sete a onze anos, os serviços de
atendimento destinados às crianças com deficiência múltipla são
basicamente os educacionais, os de saúde e, em menor escala,
os de esporte e lazer.
Seu atendimento educacional é realizado de forma
prioritária nas escolas especializadas, principalmente nos casos
de deficiências mais graves. O atendimento nas classes comuns
do ensino regular ou em classes especiais destinam-se aos
alunos que apresentam deficiências menos agravantes e cujas
limitações lhes permitem acompanhar um currículo regular
adaptado.
Durante muitos anos as crianças com múltipla
deficiência foram consideradas “clientela da área de saúde”.
Considerando que muitas são portadoras de síndromes clínicas
comprometedoras, em face de suas etiologias, os educadores
entendiam, erroneamente, que não tinham possibilidades ou
repertórios que lhes permitissem ingressar com sucesso na vida
escolar.
De um modo geral, as crianças com deficiência múltipla
ainda têm pouco acesso à escolarização nos diversos recantos
do país. As cidades pequenas e menos favorecidas, além das
áreas rurais, são as mais atingidas pela falta de oportunidades
educacionais, principalmente por parte do poder público. As
escolas especializadas filantrópicas têm procurado atender a
essa demanda nas regiões mais distantes do país, mas seu
número não é suficiente para suprir as carências de vagas e
propiciar educação a todos.
O Ministério da Educação, por meio da Secretaria de
Educação Especial, tem desenvolvido uma política de apoio a
essa população específica, incluindo metas no Plano Nacional
de Educação que garantem a expansão de seu atendimento,
de modo a cumprir o preceito constitucional de democratização
do ensino.
Serviços comunitários
75
As instituições especializadas, de um modo geral,
dispõem de equipes interdisciplinares que atendem às crianças
com múltipla deficiência. Entre todos os alunos com
necessidades educacionais especiais, esses alunos constituem
o grupo que mais necessita de atendimentos em diversas áreas,
devido às variadas e mais acentuadas limitações que
apresentam.
Os profissionais comumente envolvidos no atendimento
desses alunos são, de acordo com suas necessidades:
psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas
ocupacionais, pedagogos, professores, assistentes sociais,
médicos, entre outros. Esses profissionais tanto contribuem em
instituições educacionais onde o trabalho interdisciplinar é
possível, como atendem em horário contrário ao da escola, em
clínicas, consultórios, hospitais, serviços especializados, mas
não integrados. Nesses casos, não é possível o trabalho em
equipe.
A interdisciplinaridade no nível das disciplinas escolares
é possível a partir da proposta pedagógica da escola, seja ela
regular ou especializada. Nesse caso, o aluno tem a
oportunidade de dispor de professores de áreas diversas, como
educação física, artística, psicomotricidade, recreação, práticas
agrícolas, entre outras. Em escolas regulares, na faixa de idade
desses alunos, professores de todas essas áreas não são
normalmente disponíveis nas escolas da maior parte do país.
As condições prevalecentes, em âmbito nacional, não
indicam a prática interdisciplinar, clínica ou escolar, porque não
há, na maioria das vezes, nem mesmo profissionais disponíveis
na escola e na comunidade.
Possibilidade de trabalho interdisciplinar
76
Após leitura cuidadosa do texto, responda às seguintes
questões, de modo a verificar seu entendimento do conteúdo
do fascículo:
1. Assinalar com um ( V ) as afirmativas corretas e com ( F ) as falsas:
a. ( ) a perspectiva desenvolvimentista defende a
inexistência de qualquer similaridade entre as crianças
com deficiência e as consideradas “normais”, quanto
a seu desenvolvimento e aprendizagem;
b. ( ) não é possível definir um
perfil típico
próprio das
pessoas com deficiência;
c. ( ) os fatores socioculturais influenciam para favorecer ou
dificultar o desenvolvimento e a aprendizagem das
crianças com múltiplas deficiências;
d. ( ) as condições orgânicas e funcionais das crianças com
múltipla deficiência não influenciam seu funcionamento
no meio físico e social.
2. Assinale com um ( X ) as proposições corretas:
a. ( ) a fase de desenvolvimento da criança de sete a onze
anos caracteriza-se por um desejo incontido de explorar,
descobrir e conhecer o mundo que a cerca;
b. ( ) as crianças com múltipla deficiência devem estudar
sempre em escolas especializadas;
c. ( ) as crianças com múltipla deficiências podem se tornar
ensimesmadas e isoladas, desmotivando-se para
interagir e participar no ambiente;
d. ( ) a participação do professor especializado de apoio é
quase sempre necessário para a educação das
crianças com múltipla deficiência.
Verificando sua aprendizagem
77
2. Preencher as lacunas com as palavras selecionadas nos
parênteses:
As crianças com múltipla deficiência dispõem, para sua
escolarização, de alternativas educacionais nas classes
________________da escola regular, nas
_____________________ e nas escolas ________________. Os
critérios que definem essa decisão referem-se às condições
________________ do aluno e dizem respeito à complexidade de
suas deficiências e a seu _____________________ no meio físico
e social, além das condições do sistema educacional em dar
respostas __________________ a suas necessidades
educacionais especiais.
( adequadas – comuns – individuais – classes
especiais – funcionamento – especializadas ).
3. Assinalar a 2ª coluna de acordo com a 1ª:
( A ) Deficiência múltipla com deficiência visual associada;
( B ) Deficiência múltipla com deficiência auditiva associada;
( C ) Deficiência múltipla com deficiência física associada;
( D ) Deficiência múltipla sensoriais ( surdos-cegos )
a. ( ) suas dificuldades mais expressivas consistem nos
déficits
sensoriais, que lhes dificultam o conhecimento dos
objetos, a locomoção, a comunicação e o domínio do
próprio corpo;
b. ( ) apresentam necessidades especiais na área da leitura
e da escrita, que requerem a aprendizagem da
simbologia braille ou da adaptação de materiais
escritos ampliados;
c. ( ) suas dificuldades mais expressivas situam-se na
dimensão motora, que pode afetar a locomoção, os
movimentos corporais e a comunicação;
78
d. ( ) apresentam necessidades especiais concentradas
principalmente no âmbito da comunicação, requerendo
formas alternativas e ampliadas de linguagem;
e. ( ) pode exigir para o aluno formas ampliadas e alternativas
de comunicação do tipo representativo: sistemas de
símbolos pictóricos, auxílios físicos e técnicos, além de
adaptações motoras.
79
Agora, verifique se suas respostas estão de acordo com
os conteúdos do fascículo:
1ª questão:
a. ( F );
b. ( V );
c. ( V );
d. ( F ).
2ª questão:
a. ( X );
b. ( );
c. ( X );
d. ( X ).
3ª questão:
Observar as seguintes seqüências das palavras:
comuns
– classes especiais – especializadas – individuais –
funcionamento – adequadas.
4ª questão;
a. ( D );
b. ( A );
c. ( C );
d. ( B );
e. ( C ).
Conferindo suas respostas
80
BARRAGA, N.
Disminuidos visuales y aprendizaje – enfoque
evolutivo.
Madri: Gráficas Arca, 1985.
BAUTISTA, R.
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Dinalivro, 1993.
BRAGA, L. W.
Cognição e paralisia cerebral – Piaget e Vygotsky
em questão.
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BRUNO, M. M. G.
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Rio de Janeiro: Zahar,
1978.
GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL. Fundação Educacional
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Orientação Pedagógica nº 14.
Brasília: FEDF, 1994.
________ .
Atendimento educacional ao aluno portador de
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Orientação Pedagógica nº 15. Brasília:
FEDF, 1994.
Bibliografia
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Complementação curricular específica para a
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Brasília: FEDF, 1994.
KIRK, S. A. & GALLAGHER, J. J.
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São Paulo: Martins Fontes, 1987.
MANJÓN, D. G.; GIL, J. R. & GARRIDO, A. A.
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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Secretaria
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Subsídios para organização e funcionamento de
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múltipla.
Brasília, 1995. Série Diretrizes 7.
_______ . Secretaria de Educação Fundamental.
Parâmetros
curriculares nacionais.
Brasília: MEC, 1997. Vol. 1 e 2.
PATTON, J. R.; PAYNE, J. S. & BEIRNE-SMITH, M.
Mental
retardation.
Ohio: Merrill Publishing Company, 1990.
82
83
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL
Fascículo VI
O Adolescente com Deficiência
Múltipla
Conteudista
Erenice Natália Soares de Carvalho
Brasília / 2000
84
85
SUMÁRIO
FASCÍCULO VI - O Adolescente com Deficiência Múltipla
Aspectos de desenvolvimento
Educação para o trabalho
Segregação e integração pelos modelos de
atendimento
Serviços comunitários
Trabalhos interdisciplinar
Verificando sua aprendizagem
Conferindo suas respostas
Bibliografia
86
1. Leia os objetivos específicos do fascículo;
2. Estude o texto do fascículo;
3. Teste seus conhecimentos, respondendo às avaliações
propostas;
4. Confira suas respostas com a da chave de correção, no final
do fascículo;
5. Se for bem sucedido nas respostas, passe para o fascículo
seguinte;
6. Se não conseguir bons resultados, reestude o texto;
7. Realize novamente a avaliação. Se não conseguir, consulte
o professor aplicador do fascículo.
Informações inicias
87
1 - Estudar o texto relativo ao fascículo.
2 - Rever o vídeo para tirar dúvidas.
3 - Recorrer ao professor aplicador da unidade, caso a dúvida
persista.
4 - Realizar a avaliação proposta e as atividades sugeridas.
Alternativas de aprendizagem do professor
88
Este é o volume 2 – fascículo VI Série Atualidades Pedagógicas
5 – Educação Especial.
Tem como objetivo instrumentalizar o professor para
atuar com alunos de múltipla deficiência.
O fascículo visa a fornecer subsídios para que esses
professores alcancem os seguintes objetivos:
identificar questões relativas ao adolescente com
deficiência múltipla;
analisar fatores que interferem na sua segregação
ou integração social;
conhecer as formas de sua inserção e
permanência no mercado de trabalho.
Objetivos
89
A adolescência é uma fase caracterizada por
mudanças físicas e psicossociais importantes para o indivíduo
quanto à formação de sua identidade pessoal e identificação
como membro de seu grupo social. É um período crítico para a
redefinição de atitudes e valores, de sentimentos de autono-
mia e independência, de alterações, de desinteresses e moti-
vações.
Superar os desafios que costumam ocorrer nessa fase
requer dos familiares e educadores a devida compreensão com
o jovem em processo contínuo de definição de si mesmo como
pessoa e como ser social.
Não se pode generalizar os conflitos e as
particularidades da adolescência, nem as suas repercussões a
ponto de traçar um perfil único e característico de todos os
adolescentes. As diferenças individuais também estão
presentes, bem como a influência dos diversos fatores
socioculturais.
Os estudiosos do desenvolvimento reconhecem a
constância de certos padrões comportamentais entre os
adolescentes de diversas culturas, fazendo com que algumas
manifestações sejam consideradas típicas desse período.
Defendem, ainda, a existência de uma similaridade evolutiva
entre esses jovens, sejam eles portadores, ou não, de
deficiências, ou seja:
uma estrutura similar de inteligência;
uma seqüência similar de desenvolvimento;
um padrão de reações similares no processo
de aprendizagem.
Esses pressupostos não são consensuais, mas
defendidos por um grupo de estudiosos e pesquisadores que
Aspectos de desenvolvimento
90
encontram mais convergência do que divergência entre os pa-
drões comportamentais dos indivíduos e de suas respostas às
demandas do ambiente, embora não ignorem as diferenças in-
dividuais, a criatividade e as diferentes motivações, capacida-
des ou limitações existentes nos seres humanos.
O objeto desse trabalho é o adolescente com múltipla
deficiência e aborda o tema dentro do enfoque desenvolvimentista,
considerando os seguintes pressupostos:
a deficiência múltipla caracteriza-se, geralmente,
por etiologias orgânicas que afetam de maneira
diferenciada a saúde e a vitalidade de seus
portadores;
manifestam-se em níveis e amplitudes variadas,
com repercussões no funcionamento da pessoa e
em interação com o ambiente físico e social;
os adolescentes são sujeitos a experimentar as
mesmas manifestações físicas e conflitos
psicossociais dos demais jovens de sua idade,
podendo estar agravados pelas particularidades
de suas deficiências.
As capacidades e limitações dos jovens com múltipla
deficiência são influenciadas por muitos fatores individuais e
sociais, destacando-se entre eles:
as condições físicas, mentais, afetivo-emocionais
e de saúde;
as habilidades adaptativas adquiridas;
a intensidade das demandas ambientais, mais ou
menos desafiadoras;
o apoio familiar e social;
as expectativas pessoais, familiares e
socioculturais;
a assistência à saúde e outros atendimentos
necessários;
o acesso a uma educação adequada;
a qualidade das relações interpessoais na família,
na escola e na comunidade.
91
Algumas dificuldades adicionais podem interferir na vida
dos adolescentes com múltipla deficiência. Do ponto de vista
psicológico, esse é um período de redefinição da imagem
corporal, principalmente em face do crescimento físico e das
mudanças hormonais.
A múltipla deficiência pode interferir na estruturação do
esquema corporal (controle do corpo, vivência corporal e
imagem corporal). As questões estéticas e funcionais
representam elementos importantes na formação do conceito
de si e da auto-aceitação. A participação do outro é importante
nesse processo de elaboração, sejam os membros da família,
os amigos, os professores, os colegas, enfim as pessoas
significativas para os adolescentes.
O que deve ser incentivado nessa fase:
aceitar as deficiências como uma realidade, sem
exagerar seus efeitos ou negar sua existência;
incentivar, encorajar e reforçar a participação da
pessoa na vida familiar e comunitária, ajudando o
adolescente a vivenciar sentimentos de pertencer
a esses grupos sociais de modo a sentir-se
integrado;
contribuir para a superação dos possíveis
sentimentos de inferioridade e de autodesvalorização
que possam ocorrer;
criar situações de participação real e de obter
sucesso e realizações;
oferecer apoio moral, espiritual, material, físico,
profissional e outros necessários;
favorecer a aquisição e o desenvolvimento de
habilidades adaptativas que melhorem o
funcionamento da pessoa no seu ambiente físico
e social;
compreender e respeitar as fases evolutivas da
pessoa com deficiência e seu ritmo próprio de
desenvolvimento;
92
maximizar as potencialidades, as habilidades, a
criatividade, a independência e a iniciativa pessoal;
favorecer o desenvolvimento e as experiências de
aprendizagem;
compreender e manifestar sentimentos de afeto,
amizade e solidariedade;
acreditar nas capacidades e potencialidades da
pessoa com deficiências;
incentivar metas e aspirações.
O que deve ser evitado:
sentimentos de rejeição, de piedade ou
comiseração;
atitudes de superproteção e cuidados excessivos;
infantilizar a pessoa com deficiências e prestar-
lhe apoio exagerado e desnecessário;
confundir limitações com incompetência
generalizada;
superestimar as enfermidades e as indisposições
físicas;
atitudes de desespero, desânimo e descrença;
excessiva expectativa, impaciência e intolerância;
medo de tentar tarefas ou situações novas;
dependência para solucionar problemas;
comparação com o desempenho e as realizações
de outras pessoas;
expor a pessoa com deficiências ao fracasso, a
experiências negativas de vida e a frustrações
desnecessárias;
atribuir sempre o humor, os sentimentos e as
características de personalidade da pessoa a suas
deficiências.
Essas recomendações não são regras, mas aspectos
que podem ser observados, de modo a facilitar a convivência
com as pessoas com deficiência múltipla e melhorar sua
qualidade de vida.
93
As pessoas com múltipla deficiência, mesmo em nossos
dias, têm pouco acesso à educação e, conseqüentemente, a
oportunidades profissionais. Esse fato deve-se ao entendimento
equivocado de que suas deficiências lhes incapacitam para o
trabalho.
Durante anos, ao atingirem a adolescência, os alunos
ingressavam nas oficinas pedagógicas – após o período de
escolarização ou concomitante com ele – com o objetivo de
treinar habilidades e atitudes, de modo a preparem-se para o
mundo do trabalho, como ilustrado na Fig. 4.
A Política Nacional de Educação Especial do MEC
(1994) propõe a seguinte definição para as oficinas
pedagógicas:
“ambiente destinado ao desenvolvimento das
aptidões e habilidades de portadores de
necessidades especiais, através de atividades
laborativas orientadas por professores
capacitados, onde estão disponíveis diferentes
tipos de equipamentos e materiais para o
ensino/aprendizagem, nas diversas áreas do
desempenho profissional.”
(p. 21)
Fig. 4. Alunos em atividades
nas oficinas pedagó-
gicas
Educação para o trabalho
94
As oficinas não caracterizam emprego, embora seja um
ambiente de atividades laborais objetivam o preparo para o
trabalho. Ao ingressar na adolescência, os alunos com múltipla
deficiência, tradicionalmente, são encaminhados para esse
programa, principalmente quando estudam em instituições
especializadas.
Outra alternativa para esses alunos, já relacionada à
iniciação para o trabalho, é o ingresso nos núcleos cooperativos
ou oficinas protegidas (como designadas anteriormente)
definidas por Canziani (1995) como:
“organização voluntária ou não,
sem fins lucrativos, com o objetivo de
desenvolver um programa de habilitação
e reabilitação para adolescentes e
adultos portadores de deficiência,
provendo-os com emprego remunerado,
dentro da própria oficina (com qualidade
competitiva quando apresentar
condições para tal) mediante trabalho de
subcontrato e/ou outro tipo de produção,
visando independência e emancipação
relativas.”
(p. 29)
Os núcleos cooperativos são experiências profissiona-
lizantes e propiciam remuneração para os aprendizes. Não
dispõem, até o momento em nosso país, de uma legislação
trabalhista específica que garanta os direitos de seus
integrantes. Alguns núcleos são organizados para produção:
biscoitos, balas, enfeites de aniversários, utensílios
domésticos, temperos caseiros, sacolas, vassouras, etc.;
outros destinam-se a prestação de serviços de móveis,
separação de pequenas peças para indústrias, montagens de
embalagem, atendimento em casas de chá, etc., enquanto
outros mais dedicam-se à comercialização de produtos: venda
de doces, pães, etc. A Fig. 5 ilustra alunos trabalhando em
núcleos cooperativos.
95
Os núcleos cooperativos e as oficinas pedagógicas são
experiências amplamente adotadas nas instituições
especializadas em nosso país, consistindo ainda nas principais
formas sistemáticas de preparação para o trabalho destinadas
aos adolescentes.
A lei nº 9 394/96 de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional cria novas perspectivas de profissionalização que
trazem benefícios para as pessoas com múltipla deficiência.
Estabelece o acesso à educação profissional por meio de várias
alternativas, podendo realizar-se em estabelecimentos de ensino,
instituições especializadas ou ambiente de trabalho.
As escolas técnicas poderão oferecer cursos
profissionalizantes de formação qualificada e requalificação,
abrindo oportunidades antes não existentes para as pessoas
que não alcançaram níveis mais elevados de escolarização. O
art. 42 preconiza a realização de cursos abertos à comunidade,
possibilitando a matrícula de acordo com a capacidade de
aproveitamento da pessoa e, não com seu nível de
escolaridade.
Desse modo, a qualificação para o trabalho não fica
mais condicionada à progressão escolar e pode realizar-se, no
âmbito educacional. Diversas possibilidades podem ser
pensadas de modo criativo e inovador para atender a todos,
sobretudo aos que apresentam múltiplas deficiências, antes
prejudicadas pela falta de oportunidades de formação e de
acesso ao trabalho.
Fig. 5. Alunos em atividades nos
núcleos cooperativos.
96
Ao atingir a adolescência, o portador de deficiência
múltipla costuma encontrar-se prosseguindo no processo de
escolarização. Devido às limitações que apresentam e às
dificuldades do sistema educacional em descobrir soluções
práticas para sua educação, sua progressão escolar realiza-se
de forma mais lenta, observando-se uma defasagem na relação
idade/série que cresce na proporção dessas dificuldades.
Quando as deficiências são discretas, o aluno pode
acompanhar o ensino regular com adequação curricular,
prosseguir em seus estudos e alcançar níveis elevados de
escolarização, enquanto outros alunos, com deficiências mais
acentuadas, não conseguem prosseguir até ao final do ensino
fundamental ou médio.
Deficiências graves, entretanto, a exemplo de
condições mentais e cognitivas severamente comprometidas,
podem incapacitar ou limitar o aluno em sua escolarização e
nas futuras condições de trabalho e de participação na vida
social. As seguintes situações podem ser encontradas na
educação e na preparação para o trabalho de adolescentes com
múltipla deficiência.
permanência nas oficinas pedagógicas, sem
continuidade no programa acadêmico após
misteriosa avaliação de sua perspectiva;
permanência nas oficinas profissionalizadas/núcleos
cooperativos, com ou sem perspectivas de ingresso
no mundo do trabalho;
ingresso no mundo do trabalho, com ou sem apoio
especializado.
As seguintes situações acadêmicas podem ser
encontradas na educação de adolescentes com múltipla
deficiência:
atendimento nas classes comuns do ensino regular
ou nos programas de educação de jovens e adultos,
Segregação e integração pelos modelos de atendimento
97
com apoio especializado em salas de recursos, salas
de apoio ou com atendimento itinerante, com
perspectivas de continuidade nos estudos;
atendimento em classes especiais, com relativas
perspectivas de progressão acadêmica;
alunos atendidos em escolas especializadas com ou
sem perspectivas de progressão acadêmica.
As situações pedagógicas estão relacionadas às
perspectivas individuais dos alunos e, também, às condições
do sistema educacional em lidar com necessidades especiais
e com a diversidade da população escolar. A eficiência dessa
atuação é singnificativa para o projeto escolar, profissional e
pessoal dos educandos.
98
A escolarização das pessoas com deficiência múltipla
é influenciada por suas condições pessoais e por diversos as-
pectos, entre outros: a proposta pedagógica da escola, o currí-
culo escolar, o apoio familiar e os atendimentos especializados
complementares.
As condições pessoais levam em conta as
potencialidades e habilidades adaptativas do aluno, as
limitações impostas por suas deficiências, seu estado de saúde
e vigor físico, bem como as condições cognitivas, sensoriais,
socioafetivas, emocionais e mentais.
A instituição escolar é a primeira instância de atendimento
a receber o aluno. A elaboração de sua proposta pedagógica
deve admitir a diversidade da população estudantil e adotar uma
forma de organização que crie condições de acesso, permanência
e sucesso para todos os seus integrantes. Segundo Manjón (1997),
as seguintes providências devem ser consideradas pela escola:
elaborar objetivos educacionais levando em conta a
diversidade dos alunos;
definir opções metodológicas e critérios para a
seleção de técnicas e estratégias que os considerem;
definir critérios para a adaptação de atividades
pedagógicos que levem em conta as necessidades
de todos os alunos;
estabelecer critérios de avaliação e técnicas,
procedimentos e estratégias avaliativos que
considerem as diferenças existentes na população
escolar;
incluir critérios e formas de avaliação do contexto
escolar e de seu aprimoramento.
Quando as condições estruturais e organizacionais da
escola são favoráveis ao aluno, o trabalho em sala de aula fica
viabilizado e o ambiente mais receptivo e integrador.
Adaptação curriculares
99
O currículo escolar, por sua vez, deve ter dinamicidade
e flexibilidade suficientes para dar respostas adequadas e
eficazes às necessidades de todos os alunos. A adequação
curricular é proposta pela escola para atender a essa finalidade.
É eficiente quando ajusta o currículo às potencialidades e
necessidades discentes. Podem ser uma medida temporária
ou estender-se pela vida escolar.
A adequação curricular tem como base o currículo
regular e pode ser significativa, quando implica grandes
alterações na prática docente usual ou pouco expressivas,
quando constituem modificações menores no currículo, sendo
facilmente realizadas pelo professor no planejamento normal das
atividades docentes, com ajustes dentro do contexto normal da
sala de aula.
A adequação curricular incide sobre o planejamento e
as ações do professor e definem:
o saber a ser aprendido;
como e quando aprender;
que formas de organização do ensino são mais
eficientes para o processo ensino-aprendizagem;
o quê, como e quando avaliar o aluno.
Deve incluir, ainda:
as providências para propiciar condições físicas,
ambientais e materiais para o aluno na escola;
estabelecimento de melhores níveis de comunicação
e de interação com as pessoas da comunidade
escolar;
adaptações metodológicas e didáticas que
favoreçam o processo ensino-aprendizagem;
a utilização de critérios, procedimentos, técnicas e
instrumentos de avaliação que contemplem as
necessidades especiais dos alunos;
a introdução, a substituição ou eliminação de
atividades que favoreçam a aprendizagem do aluno
e sua participação efetiva na sala de aula;
respeito ao ritmo próprio do aluno para a realização
100
do curso, a execução das atividades, o cumprimento
dos objetivos e dos conteúdos curriculares.
A saúde e o vigor físico, do educando devem ser
considerada no proceso de ensino e aprendizagem. Sabe-se
que enfermidades geradoras de múltiplas e graves deficiências
estão associadas a condições orgânicas debilitadoras
decorrentes de lesões cerebrais, motoras e neurológicas, de
doenças infecciosas e degenerativas; de condições genéticas
que afetam precocemente o desenvolvimento e outras que
afetam, incapacitam ou limitam as condições funcionais das
pessoas. Essa situação, entretanto, não pode ser generalizada.
Muitos educando com deficiência múltipla não apresentam
enfermidades ou condições orgânicas debilitantes.
Do ponto de vista educacional, as ações pedagógicas
são compatíveis com as perspectivas de seu aluno.
As condições mentais e cognitivas também são
importantes na aprendizagem e no comportamento adaptativo
do aluno no ambiente escolar. Os que apresentam quadros
psiquiátricos graves e severos déficits cognitivos costumam
encontrar mais resistência para sua aceitação e com limitações
e obstáculos reativos do sistema escolar.
Por outro lado, existe o crescimento gradual da
demanda acadêmica que requer habilidades cognitivas cada
vez mais complexas. As respostas da escola às condições do
aluno requer, portanto, uma análise que considere tanto a
flexibilidade e a versatilidade do sistema educacional para
admitir e atender às peculiaridades do aluno, como também, as
dificuldades vividas pelo sistema para adaptar o currículo e a
resposta pedagógica da escola a uma diversidade com a qual
não está tradicionalmente familiarizado.
Outra situação a considerar é o atendimento de saúde e
de reabilitação requerido por alguns alunos. Muitos dependem
de tratamentos psiquiátricos, fisioterápicos, ortopédicos e de
outras especialidades. Essas intervenções são, por vezes,
indispensáveis a sua educação, devido às exigências dos
horários e da rotina escolar, sendo importante que essas
101
necessidades dos alunos sejam atendidas para que, ao freqüentar
a escola e ser bem sucedido, o aluno complete sua escolarização.
Além disso, não se pode ignorar a importância do apoio
especializado. Quando os alunos com múltipla deficiência
estudam em classes comuns da escola regular, o apoio de
professores especializados pode ser requerido e deve ser
propiciado na medida das necessidades. Nas classes especiais
ou escolas especializadas é conduzido por profissionais
capacitados para esse trabalho.
A Fig. 6 ilustra uma adolescente com múltipla deficiência
participando de atividades psicopedagógicas, para desenvolver
habilidades psicomotoras básicas.
As condições diversificadas em que se encontram os
adolescentes com múltipla deficiência terminam por definir as
seguinte alternativas para sua escolarização:
utilização do currículo regular adequado;
elaboração de um currículo específico para o aluno,
quando este não apresentar um nível de competência
acadêmica que lhe permita beneficiar-se do currículo
regular adaptado.
As alternativas escolares para os adolescentes com
múltipla deficiência estendem-se, portanto, de possibilidades
mais integradoras – como as classes comuns do ensino regular
Fig.6 Adolescente com múltipla deficiência
em atividade psicomotora.
102
– às classes especiais, que possibilitam parcial integração e,
ainda, às escolas especializadas, criticadas por constituírem um
ambiente socialmente restritivo. O que se espera é que os
sistemas educacionais evoluam para uma condição ideal em
que todos os alunos sejam adequadamente atendidos, tendo
consideradas suas particularidades individuais.
103
Os serviços especializados sistemáticos para
adolescentes com múltipla deficiência, na comunidade, estão
geralmente restritos às áreas da saúde e educação, sejam em
instituições e organizações públicas ou privadas.
Os serviços de saúde são comumente implementados
em clínicas, consultórios, hospitais, postos de saúde ou por meio
de programa de saúde e atendimento domiciliar. Alguns
programas são oferecidos em escolas e instituições
especializadas, em sua maioria filantrópicas.
Os atendimentos educacionais são oferecidos nas
escolas públicas e particulares e levam em conta a competência
acadêmica do aluno, bem como suas condições adaptativas e
de saúde. Esses atendimentos podem ser realizados nas
escolas regulares, nas escolas especializadas, em programas
educacionais desenvolvida em clínicas e hospitais ou por meio
de atendimentos domiciliares.
Considerando a faixa etária da adolescência, alguns se
beneficiam dos programas educacionais regulares ou de jovens
e adultos, com adaptações curriculares, enquanto outros – com
mais limitações – são atendidos em núcleos profissionalizantes
que visam à preparação para o trabalho. Outros, mais
comprometidos pelas deficiências, terminam encaminhados
para núcleos ocupacionais que funcionam em instituições
especializadas, freqüentemente, filantrópicas.
Os programas de lazer e esporte são ofertados
eventualmente por órgãos públicos e pela iniciativa privada.
Alguns desses programas são desportivos e buscam a
satisfação pessoal do adolescente e alguma forma de integração
e participação social, realizando-se na forma de competições e
olimpíadas especiais. A despeito dos ganhos, muitos programas
são criticados por seu caráter segregativo.
As organizações não-governamentais têm-se
mobilizado para buscar alternativas educacionais, de saúde e
Serviços comunitários
104
serviço social para essa população específica, além de melhores
condições legais e sociais para sua participação e melhoria na
qualidade de vida.
Os programas de pais e familiares estão começando a
surgir na comunidade como iniciativa de grupos informais ou
conduzidos por universidades, instituições públicas e
organizações não-governamentais.
Nosso país necessita de programas organizados para
adolescentes com múltiplas deficiências e suas famílias. Os
existentes são, na maioria, incipientes e concentrados nas
grandes cidades.
105
As instituições especializadas costumam dispor de
equipes interdisciplinares que atendem a seus alunos
adolescente com múltipla deficiência. O ambiente institucional
quase sempre é apropriado para a prática interdisciplinar, uma
vez que reúne, no mesmo espaço físico, profissionais de áreas
diversas que se organizam para um trabalho conjunto e
compartilhado.
As equipes interdisciplinares para o atendimento
desses alunos são compostas principalmente por psicólogos,
médicos, fonoaudiólogos, pedagogos, psicopedagogos,
fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, entre outros,
dedicados a avaliar, diagnosticar, atender, fazer orientações e
encaminhamento de alunos, bem como oferecer orientações a
familiares e professores. Fora das instituições especializadas,
o trabalho interdisciplinar torna-se dificultado pela
impossibilidade de reunir profissionais diversos em um mesmo
local e horário, além da pouca disponibilidade de alguns para
essa forma de atuação.
Nas escolas regulares existe uma tentativa de
interdisciplinaridade curricular, entre os diversos elementos
curriculares. Historicamente essa prática tem sido difícil, porque
os professores, sempre sobrecarregados de aulas e com
excesso de alunos, não conseguem reunir-se para planejar
conjuntamente suas atividades e promover o intercâmbio de
idéias e de trabalho.
Tal situação dificulta, não apenas, as adaptações
curriculares e de acesso ao currículo como a tomada de
decisões compartilhadas, que tanto beneficiam o aluno e o
aprimoram para o fazer pedagógico.
Possibilidade de trabalho interdisciplinar
106
Após leitura cuidadosa do texto, responda às seguintes
questões, de modo a verificar seu entendimento sobre o
conteúdo do fascículo:
1. Assinalar com (v) as afirmativas verdadeiras e com (f) as falsas:
a. ( ) a adolescência é uma fase de significativas mudanças
físicas, psicossociais para as pessoas;
b. ( ) o adolescente com deficiência múltipla passa pelas mesmas
transformações que os demais não portadores de deficiências;
c. ( ) algumas pessoas com deficiências múltiplas nunca chegam
à adolescência, mantendo-se crianças por toda a vida;
d. ( ) todas as pessoas com deficiência múltipla têm severas e
profundas limitações no desenvolvimento e na aprendizagem;
e. ( ) os conflitos familiares podem agravar-se quando o
adolescente é portador de múltipla deficiência, em face das
dificuldades da família em lidar com essa realidade;
f. ( ) todos os adolescentes com múltipla deficiência são rejeitados
por suas famílias.
2. Assinalar com um( X ) as afirmativas verdadeiras:
Alguns aspectos favorecem ou desfavorecem o
desenvolvimento dos adolescentes com deficiência múltipla, tais
como:
a. ( ) a oportunidade de receber os atendimentos que
necessitam;
b. ( ) o fato de negar sua deficiência;
c. ( ) a aceitação da deficiência por parte dos familiares e
pessoas significativas para os adolescentes;
d. ( ) o apoio adequado pelo tempo necessário;
Verificando sua aprendizagem
107
e. ( ) a superproteção e os cuidados a qualquer preço.
3. Assinalar com um ( X ) os pressupostos defendidos
pelos estudiosos do desenvolvimento:
a. ( ) as pessoas com múltipla deficiência têm um
comportamento típico, que só elas apresentam;
b. ( ) o processo de aprendizagem das pessoas com
deficiências múltiplas obedecem a uma estruturação que lhes é
peculiar;
c. ( ) os adolescentes com múltipla deficiência apresentam
uma seqüência similar de desenvolvimento com relação aos demais
de sua idade;
d. ( ) as etiologias orgânicas que ocasionam as deficiência
múltipla manifestam-se de formas variadas e afetam diferentemente
a saúde e o vigor físico de seus portadores.
4. Numerar a 2ª coluna de acordo com a 1ª, considerando
as atitudes que as pessoas comumente tomam ao tratar as pessoas
com múltipla deficiência ou a elas se referirem:
(1) tendência a psicologizar a adolescência;
(2) atitude de negar a adolescência;
(3) tendência a ver as deficiência múltipla por
um prisma de incompetência generalizada.
a. ( ) não adianta matricular na escola porque não tem capacidade
para aprender;
b. ( ) não tem interesses e motivações como os de sua idade;
c. ( ) considerar uma eterna criança;
d. ( ) não admitir nenhuma forma de fracasso ou frustração porque
não é capaz de suportar;
e. ( ) considerar sempre o humor e a disposição psicológica do
adolescente como característica própria da deficiência.
108
Agora, verifique se suas respostas correspondem aos conteúdos
constantes no fascículo:
1ª questão:
a. (V);
b. (V);
c. (F);
d. (F);
e. (V);
f. (F).
2ª questão:
a. (X);
b. ( );
c. (X);
d. (X);
e. ( ).
3ª questão:
a. ( );
b. ( );
c. (X);
d. (X).
4ª questão:
a. (3);
b. (2);
c. (2);
d. (3);
e. (1).
Conferindo suas respostas
109
BARRAGA, N.
Disminuidos visuales y aprendizaje – enforque
evolutivo
. Madri: Gráficas Arca, 1985.
BAUTISTA, R.
Necessidades educativas especiais
. Lisboa:
Dinalivro, 1993.
BRAGA, L. W.
Cognição e paralisia cerebral – Piaget e Vygotsky
em questão
. Salvador: SarahLetras, 1995.
BRUNO, M. M. G.
O desenvolvimento integral do portador
deficiência visual
: da intervenção precoce à integração
escolar. São Paulo: NEWSWORK, 1993.
COLL, C.; PALACIOS, J. & MARCHESI, A.
Desenvolvimento
psicológico e educação – necessidades educativas especiais
e aprendizagem escolar
. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL.
Fundação Educacional
do DF. Atendimento educacional ao aluno portador de
deficiências múltiplas
. Orientação pedagógica n.º 14.
Brasília: FEDF, 1994.
________ .
Atendimento educacional ao aluno portador de
deficiências mental
. Orientação Pedagógica n.º 15.
Brasília: FEDF, 1994.
________ .
Processo educacional profissionalizante dos alunos
com necessidade especiais
. Orientação Pedagógica n.º
25. Brasília: FEDF, 1994.
________ .
Atendimento educacional ao aluno portador de
deficiências físicas
. Orientação Pedagógica n.º 21.
Brasília: FEDF, 1994
________ .
Atendimento educacional ao aluno portador de
deficiência da visão
. Orientação Pedagógica n.º 28.
Brasília: FEDF, 1994.
Bibliografia
110
_______
. Atendimento educacional ao aluno portador de
deficiência da audição
. Orientação Pedagógica n.º 17.
Brasília: FEDF, 1992.
_______ .
Conteúdos curriculares para a educação do portador
de múltiplas deficiências
. Brasília: FEDF, 1994.
MANJÓN, D. G.; GIL, J. R. & GARRIDO, A. A.
Adaptaciones
curriculares
– guia para su elaboración. Granada-
Espanha: Alijibe, 1995. Colección: Educación para la
diversidad.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO.
Secretaria
de Educação Especial. Política Nacional de educação
especial
. Brasília: MEC, 1994.
_______ .
Subsídios para organização e funcionamento de
serviços de educação especial – área da deficiência
múltipla
. Brasília: MEC, 1995. Série Diretrizes 7.
_______ .
Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros
curriculares nacionais
. Brasília: MEC, 1997. Vol. 1 e 2.
111
Nota de agradecimento
Agradecemos a colaboração do Centro de Ensino
Especial de Deficientes Visuais de Brasília e do Centro de
Ensino Especial 01 de Taguatinga-DF pela cedência das fotos
e a permissão para a sua publicação nesse trabalho.
Nosso carinho aos alunos, pais e professores que, por
meio dessas imagens, ajudam a difundir conhecimentos aos
que desejam aprender e atuar com educandos portadores de\
múltipla deficiência.
112
113
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL
Fascículo VII
O Adulto com Deficiência
Múltipla
Conteudista
Erenice Natália Soares de Carvalho
Brasília / 2000
114
115
SUMÁRIO
FASCÍCULO VII - O Adulto com Deficiência Múltipla
Aspectos de desenvolvimento
Inserção no Mercado de Trabalho
Constituição de família
Segregação e integração pelos modelos de
atendimento
Verificando sua aprendizagem
Conferindo suas respostas
Bibliografia
116
1. Leia os objetivos específicos do fascículo;
2. Estude o texto dos fascículo;
3. Teste seus conhecimentos, respondendo às avaliações
propostas;
4. Confira suas respostas com a da chave de correção, no final
do fascículo;
5. Se for bem sucedido nas respostas, passe para o fascículo
seguinte;
6. Se não conseguir bons resultados, reestude o texto;
7. Realize novamente a avaliação. Se não conseguir,
aprovação, consulte o professor aplicador do fascículo.
Informações iniciais
117
1 - Estudar o texto relativo ao fascículo.
2 - Rever o vídeo para tirar dúvidas.
3 - Recorrer ao professor aplicador da unidade, caso a dúvida,
persista.
4 - Realizar a avaliação proposta e as atividades sugeridas.
Alternativas de aprendizagem do professor
118
Este é o volume 2 – fascículo VII Série Atualidades
Pedagógicas 5 – Educação Especial.
Tem como objetivo instrumentalizar os professores para
atuar com alunos com múltipla deficiência.
O fascículo visa a fornecer subsídios para que esses
professores alcancem os seguintes objetivos:
Identificar questões relativas aos adultos com
deficiência múltipla;
Analisar fatores que interferem na sua
segregação ou integração social;
Conhecer as formas de sua inserção e permanência
no mundo do trabalho.
Objetivos
119
Segundo Stone & Church ( 1972 ) “o indivíduo é adulto
quando a sociedade diz que ele é.” Considerar uma pessoa
adulta, portanto, requer uma análise dos critérios
socioculturais que regem os parâmetros de referência para
definir essa fase evolutiva, de acordo com parâmetros que
não são os mesmos, entre as diversas sociedades. Esse
trabalho focaliza os referenciais considerados na sociedade
ocidental.
O início da fase adulta pode ser caracterizado pelos
seguintes indicadores, segundo Osório ( 1989 ):
estabelecimento da identidade pessoal e sexual;
possibilidade de firmar relações sociais estáveis;
capacidade de assumir compromissos
profissionais e manter-se economicamente;
autonomia e capacidade de definir um sistema
próprio de valores.
A análise do presente trabalho adota a abordagem
desenvolvimentista, segundo a qual o desenvolvimento, a
aprendizagem e o comportamento das pessoas, sejam elas
portadoras ou não de deficiências, obedecem aos mesmos
princípios e padrões estruturais e funcionais.
As condições individuais são influenciadas por fatores
socioculturais e tornam-se mais potencializadas quando esses
fatores favorecem as capacidades e a funcionalidade das
pessoas no ambiente em que vivem. Tal pressuposto é
absolutamente válido para os portadores de múltipla deficiência.
Para essa população específica, a importância de fatores
externos é significativa porque minimizam os efeitos de suas
limitações e estimulam o desenvolvimento de suas capacidades
e a motivação para integrar-se, projetar-se e conquistar novas
possibilidades na vida.
Os seguintes aspectos, entre outros, são importantes e
devem ser favorecidos:
Aspectos de desenvolvimento
120
a auto-aceitação das limitações e o desejo de
superar-se;
a aceitação por parte da família e da comunidade;
o apoio profissional, familiar e comunitário;
a motivação para desafiar os obstáculos e quebrar
barreiras sociais e culturais;
a disposição para enfrentar as dificuldades
profissionais e de trabalho.
O ponto forte da abordagem desenvolvimentista como
base para a análise das deficiência múltipla é o deslocamento
do foco das deficiências exclusivamente sobre as condições
individuais. Contrapõe um equívoco: a consideração de que os
portadores de múltiplas deficiências são doentes ou incapazes.
Fundamenta a ênfase em sua condição de ser
harmônico, com possibilidades de ajustes e compensações, a
exemplo de todas as demais pessoas.
Essa visão dá suporte, também, para o entendimento
de que as pessoas com múltiplas deficiências podem
funcionar
em ambiente físico e social de maneira diversificada, com maior
ou menor eficiência, uma vez que um ambiente pode ser favorável
ou adverso para vivenciar sentimentos, ações e desafios.
Identidade pessoal
A identidade pessoal concretiza-se na indagação:
quem sou eu
?
A resposta leva em conta toda a experiência vivida pela
pessoa. Suas condições orgânicas, de saúde e vitalidade são
importantes, bem como as possibilidades cognitivas, sensoriais,
motoras e mentais. Outros aspectos estão imbricados: a auto-
imagem, o conceito de si e a auto-estima. Segundo os
estudiosos do comportamento, o sentimento de identidade é
impulsionado pela opinião do
outro.
Se os portadores de múltipla
deficiência forem vistos como incompetentes, sem perspectivas,
dependentes ou incapazes por pessoas que são significativas
– pais, irmãos, professores, amigos – os efeitos dessas opiniões
121
sobre o autoconceito são poderosos, ainda mais quando
emitidas desde a mais tenra idade.
Sentimentos de inferioridade podem instalar-se,
reforçados por experiências de insucessos e desestímulos, que
podem decorrer de baixas expectativas e pouca confiança nas
capacidades das pessoas com múltipla deficiência. No entanto,
opiniões e atitudes positivas têm o efeito criador, construtivo e
estimulador, devendo ser manifestadas e encorajadas.
Identidade sexual
Existe a expectativa de que as pessoas sejam capazes
de definir sua identidade sexual no período de transição da
adolescência, ou seja, que a partir dessa fase possam viver e
sentir-se bem com o exercício pleno de sua sexualidade. Muitos
estudiosos defendem que viver plenamente a sexualidade requer
autoconfiança, disponibilidade para amar, conhecimento do
próprio corpo, aceitação do outro e um sentimento positivo em
relação a seu próprio gênero, além da aptidão para assumir a
maternidade/paternidade de maneira responsável.
As incertezas quanto à imagem corporal e à aceitação
do próprio corpo, bem como os conflitos, insegurança e
ambigüidade na vivência da sexualidade são normais para
todas as pessoas e podem ocorrer de maneira mais ou menos
intensa, de acordo com fatores individuais e socioculturais
como: religião, valores, preconceitos, concepção estética,
traumas psicológicos, normas culturais, concepção de
sexualidade, entre outros. Até que se atinja a
maturidade
sexual
, aqui definida como o pleno exercício da sexualidade,
muito se requer em termos de segurança e maturidade
psicológica.
Ao se pensar na identidade sexual das pessoas com
múltipla deficiência, alguns aspectos precisam ser considerados.
Primeiramente, a visão equivocada de que pessoas com
deficiências são “eternas crianças” ou não sentem desejo sexual
ou ainda sentem de uma maneira “diferente”.
122
Essas concepções são contrárias ao pensamento da
corrente desenvolvimentista, que entende o desenvolvimento
sexual como similar para todas as pessoas, embora a vivência
sexual e o pleno exercício da sexualidade não se concretizem
da mesma forma para todos. A questão é muito complexa para
ser esgotada num texto educativo, mas pode ser aprofundada
nos conhecimentos já avançados de sexologia.
O importante a considerar no presente estudo é que as
pessoas com múltipla deficiência têm sentimentos e comporta-
mentos de natureza sexual e que vivenciam, geralmente, essa
sexualidade como conflitante e ambígua, em decorrência dos
mitos, discriminações, desconhecimento e preconceitos exis-
tentes.
Adotar a identidade sexual como um dos elementos
delimitadores da fase adulta para as pessoas com deficiências
requer atenção para a complexidade existente na própria
concepção de deficiência, para a subjetividade do conceito de
maturidade sexual e para os fatores envolvidos na maturidade.
Desse modo, não é seguro estabelecer limites para definir a
identidade sexual como um demarcador rígido de fase adulta.
São muitas as razões para se indicar a inclusão da educação
sexual nas escolas e apoiar os professores e familiares para que
possam atuar como orientadores eficientes de crianças e jovens.
Estabelecimento de relações sociais estáveis
As habilidades para firmar relações sociais estáveis
dependem da intersubjetividade, ou seja, do desejo compartilhado
pelas pessoas de estar juntas, estabelecer trocas e de ser um
grupo. As questões de identidade pessoal são importantes para
que se firmem relações interpessoais competentes e estáveis.
Por essa razão, construir e alimentar sentimentos positivos de si
mesmo é fundamental para a vida social.
Condições socioculturais interferem nesse contexto que
envolve o autoconceito e as habilidades adaptativas sociais,
bem como a concepção vigente de deficiências e de seus
portadores.
123
Essa análise coloca em evidência que as possibilidades de
estabelecer relações sociais estáveis não dependem exclusivamente
do indivíduo, mas de vários fatores que incluem e extrapolam o
ambiente familiar e comunitário. Esses aspectos precisam ser
considerados quando se pondera sobre
ser
ou
não ser adulto
.
Autonomia econômica
Do mesmo modo, a independência econômica depende
dos fatores individuais, socioculturais, interpessoais, além das
condições do próprio mercado.
Considerar as expectativas das pessoas com múltipla
deficiência ao trabalho, requer um olhar sobre suas limitações e
potencialidades, bem como sobre os elementos externos que lhes
favorecem ou dificultam as oportunidades profissionais. Ser adulto
e ter a capacidade de assumir compromissos profissionais, tendo
como base os critérios de Osório (obra citada), não exclui a aná-
lise dos fatores que extrapolam a realidade individual.
Aquisição de um sistema de valores pessoais
Os estudiosos identificam que a estruturação dos valores
individuais inicia-se na infância pela principal fonte de influência
que é a família e prossegue até a adolescência, quando ocorre
um questionamento e uma redefinição desses valores.
Para que uma pessoa possa estabelecer um padrão
moral autônomo é importante que tenha convivido em um
ambiente favorável a esse desenvolvimento. As fases evolutivas
são as mesmas para quaisquer pessoas, mas não se pode
ignorar que os portadores de múltipla deficiência – como ocorre
nos demais aspectos de seu desenvolvimento – possam ser
privados dos estímulos e das experiências necessárias ao
exercício dessas capacidades. Muitos podem ser os obstáculos
para seu pleno desenvolvimento moral, entre outros:
estar isento, desde a mais tenra idade, de seguir
regras, normas ou restrições externas por ser portador
de deficiência;
124
desconhecer os limites socialmente estabelecidos
para seus pares nas diversas fases evolutivas;
ser objeto de superproteção e de “sacrifícios” por
parte da família e dos amigos;
ser alvo de piedade, zelo excessivo e de atenção
ilimitada;
estar alheio aos sentimentos e expectativas de
cooperação, reciprocidade e solidariedade;
desconhecer e ignorar as regras e normas que
regulam a convivência social;
estar alheio aos valores éticos, sociais e culturais
vigentes;
ignorar os direitos, sentimentos e valores das demais
pessoas;
extrapolar os direitos e ignorar os deveres próprios.
A maior parte dos critérios para que uma pessoa seja
considerada adulta pode deixar um grande número de portadores
de deficiência múltipla em desvantagem. Primeiramente, na
formação da identidade pessoal, destaca-se a importância do
papel do
outro
como elemento de
feedback
e como parceiro de
interação, bem como sua disponibilidade para manter relações
interpessoais.
Em face das dificuldades de vivência prática, de
participação social ativa e das limitações diante dos obstáculos
da vida, as pessoas com múltipla deficiência não exercitam, em
plenitude, uma moral autônoma e uma definição própria de
valores. A família, a igreja e a escola são instâncias sociais
importantes nessa vivência ética e moral, bem como na
sistematização da autonomia e desses valores.
De qualquer modo, constata-se que as pessoas com
deficiência múltipla são muito diferentes entre si, em termos de
condições pessoais e dos diferentes contextos socioculturais a
que são submetidas. Sua educação e as demandas ambientais
são diversas, além de sua funcionalidade no ambiente. Não se
pode, portanto, generalizar nem estabelecer padrões rígidos
sobre nenhum dos aspectos analisados ou dos parâmetros
adotados quanto a
ser
ou
não ser adulto.
125
Há poucos anos atrás não se pensava na preparação
das pessoas com deficiência múltipla para o mercado de
trabalho. A visão equivocada de incompetência generalizada e
de dependência a respeito dessas pessoas na sociedade
durante séculos, impediram os avanços na conquista do
mercado de trabalho.
A própria família, a escola e a comunidade não
vislumbravam oportunidades sistemáticas de preparação para
o trabalho para as pessoas com múltipla deficiência e
alimentavam sua incapacidade produtiva e as posturas de
dependência, indiscriminadamente.
Não obstante a capacidade potencial de muitas pessoas
com múltiplas deficiências para integrar-se ao mundo do trabalho,
a desinformação e o desinteresse por parte dos empregadores
e do próprio setor público têm criado obstáculos para seu
processo de inserção profissional.
As dificuldades maiores para essas pessoas estão
associadas ao desconhecimento e à desvalorização de suas
capacidades, à inexistência ou inadequada capacitação para o
trabalho ou sua colocação em atividades que não correspondam
a suas possibilidades, habilidades e interesses.
Dificilmente uma pessoa com múltipla deficiência
consegue solucionar os problemas de acesso ao trabalho sem
o apoio familiar, de amigos, de profissionais ou de serviços
especializados. Além dos fatores socioculturais muitas vezes
adversos, as condições contextuais mais amplas, como a
legislação local ou federal, as normas das empresas, as políticas
públicas de trabalho, as condições do mercado, etc., são
dificultadores que precisam ser superados.
Por essa razão, alguns programas de preparação,
encaminhamento e acompanhamento do trabalhador nos
empregos estão sendo criados com sucesso em diversos países
por iniciativa particular, sob a liderança ou coordenação de
Inserção no mercado de trabalho
126
organizações não-governamentais e, mais restritamente, do
poder público. Para a eficiência esperada, esses programas
requerem a integração de setores do trabalho, da educação e
da previdência social. Objetivam, primordialmente:
criar programas de capacitação para o trabalho;
obter acesso a empregos;
sensibilizar e conscientizar os setores empresariais,
públicos e privados para abrir oportunidades de
trabalho para portadores de deficiência;
apoiar e estimular o poder legislativo para a
elaboração de leis que viabilizem o acesso ao
trabalho;
oportunizar a educação profissional (atualmente
assegurada na nova Lei de Diretrizes e Bases da
Educação brasileira);
estimular e apoiar o auto-emprego, nas empresas
familiares e outras iniciativas;
oferecer apoio ao empregado e às empresas
empregadoras.
Um movimento que ainda não se consolidou em nosso
país, mas que vem ganhando força em países mais
desenvolvidos nas últimas duas décadas é o de
emprego
apoiado
. O programa viabiliza a oportunidade de trabalho para
adultos com deficiências múltiplas e severas.
O Louisiana State Planning Council on Developmental
Disabilities (1990) conceitua o emprego apoiado como uma
alternativa que combina o trabalho remunerado com o apoio individual,
visando à colocação e à permanência da pessoa no emprego.
Oferece os seguintes esclarecimentos a respeito do
programa:
o emprego deve ser adequado às capacidades e às
preferências do empregado;
a remuneração e os benefícios vigentes são os
mesmos dos demais funcionários;
inclui um profissional integrante de uma entidade de
apoio para orientar o futuro empregado e sua família
na escolha da melhor alternativa de emprego;
127
envolve um especialista em treinamento para o
trabalho (treinador de emprego) para apoiar o
empregado com deficiências no local de trabalho, até
que possa realizar suas atividades profissionais com
independência;
cabe ao treinador de emprego fazer o
acompanhamento, diário ou semanal, para apoiar o
empregado, de acordo com a sua necessidade;
dispensa aprovação em testes de seleção e
treinamentos anteriores;
admite trabalho em tempo integral ou parcial.
O apoio oferecido pelo treinador consiste nas seguintes
ações, entre outras:
ajudar a arranjar e localizar transporte;
favorecer o estabelecimento de relações
interpessoais com os outros colegas de trabalho;
apoiar o desenvolvimento de atitudes e
comportamento adequados no ambiente de trabalho;
ajudar a encontrar novo emprego em caso de
demissão;
ajudar a conseguir aparelhos auxiliares.
As atuais modalidades de emprego apoiado nos países
que adotam o programa são:
Empregos apoiados individualizados
Nessa alternativa o candidato realiza o trabalho sob a
orientação de um treinador membro de uma entidade que apoia
portadores de deficiência. Para viabilizar o emprego, realiza-se
treinamento com o funcionário e mantém-se esquema de apoio
contínuo. As empresas podem ser de qualquer porte.
Experiências bem sucedidas têm sido realizadas em
restaurantes, hotéis, gráficas, creches, supermercados, etc.
Enclaves
Essa alternativa consiste em pequeno número de
pessoas com deficiências (até oito) trabalhando na mesma
128
empresa, geralmente comercial ou industrial, de grande porte.
Essa alternativa é adequada para os portadores de deficiências
severas, pois oferecem apoio intensivo, diário.
Equipes móveis
Consistem em um grupo de até cinco trabalhadores
acompanhados por um treinador de emprego. Destinam-se, sob
contrato, à prestação de serviços a diversas empresas em
atividades como jardinagem, zeladoria, faxina e outros,
deslocando-se de acordo com a solicitação. O programa tem
demonstrado eficiência em áreas rurais.
O emprego apoiado destina-se principalmente às
pessoas que requerem apoio a longo prazo. De um modo geral
inclui os aprendizes oriundos de centros ocupacionais, oficinas
pedagógicas e núcleos cooperativos, entre eles: pessoas com
deficiência múltipla, mental, autismo, deficiências físicas graves,
transtornos mentais crônicos.
As diferenças relativas às capacidades individuais são
compensadas com emprego que combine as condições do
empregado às exigências do trabalho e à variação do tipo e
quantidade de apoio oferecido.
Para que seja possível a criação dos programas de
emprego apoiado no país é necessária a cooperação entre
pessoas, associações e entidades governamentais.
As famílias exercem um papel importante como instância
solicitante e de incentivo aos filhos. Atitudes positivas e orientações
ao membro trabalhador são essenciais para seu sucesso profissional.
As organizações não-governamentais e as instituições
educacionais têm um compromisso de promover o emprego
apoiado no país e ajudar a prover sua manutenção, já que
demonstra ser uma opção apropriada para os adultos com
deficiências, em face das restrições históricas a sua integração
social e profissional.
As experiências brasileiras mais freqüentes ainda são
as oficinas pedagógicas, os núcleos cooperativos ou
congêneres como ilustrados na Fig. 7.
129
Esses programas realizam atividades laborativas
visando à preparação para o trabalho. Podem resultar ou não
no encaminhamento de jovem e adulto para cursos de
capacitação ou para atuação no mundo de trabalho.
As experiências de trabalho apoiado ainda não estão
sistematizados em nosso país. A Fig. 8 demonstra uma situação
de emprego apoiado.
Esse programa oferece experiências assistenciais,
sendo o trabalho acompanhado por profissionais de instituições
públicas e particulares. Cabe ressaltar que essas experiências
carecem de estrutura, organização e sistematização dos
recursos de apoio. Demanda, ainda, legislação que as regulem.
Fig. 7. Grupos de alunos em oficinas de preparação
para o trabalho.
Fig. 2. Aluno trabalhador acompanhado por instituição.
130
A expectativa da sociedade é de que pessoas adultas
constituam família, assumam responsavelmente o cuidado e a
educação de seus filhos e participe de maneira produtiva e
integrada da comunidade em que vive. As expectativas de
consciência social, de reciprocidade e do bem comum são,
também, referências consensuais para o adulto da cultura
ocidental.
Esses parâmetros são válidos para todos os cidadãos
e se aplicam às pessoas com deficiências, ainda mais quando
ingressam no trabalho competitivo e/ou constituem famílias.
De um modo geral, como resposta ao preconceito e
discriminação sobre a sexualidade e autonomia/independência
das pessoas com deficiências, a possibilidade de casamento e
procriação têm sido mínimas e pouco aprovadas pela sociedade
como um todo. As atuais discussões, de conotação ética, apontam
para a responsabilidade dos pais portadores de deficiências
quanto à saúde, segurança e bem-estar dos futuros filhos.
Em princípio, todos os seres humanos têm direito à
felicidade e a uma vida plena, até mesmo no plano afetivo-
emocional e amoroso. O questionamento sobre esses direitos
abre uma polêmica de natureza ética e de cidadania, requerendo
clareza e respeito para evitar cerceamento de qualquer natureza
para as pessoas com necessidades especiais.
Quando se trata de pessoas com múltipla deficiência,
algumas questões precisam ser focalizadas, de modo a
ponderar suas reais possibilidades de viver plenamente os
direitos e deveres de cidadão. Alguns pressupostos são
considerados:
as pessoas com múltipla deficiência podem, ou
não, ter problemas de saúde e vitalidade que lhes
possibilita ter, ou não, uma boa qualidade de vida;
seus níveis de dependência e autonomia são
diversificados e dependem das condições
Constituição de família
131
individuais e das demandas sociais e
comunitárias, bem como dos apoios adequados
que são oferecidos;
doenças que dão origem a muitos tipos de
deficiência múltipla recomendam planejamento
familiar, em face da possibilidade hereditária de
procriar filhos igualmente comprometidos;
os níveis de independência econômica variam e
não dependem exclusivamente de envolvimento
em atividades profissionais ou emprego;
as deficiências associadas que caracterizam as
múltipla deficiência são diferentes e comprometem
as pessoas em níveis que vão de leves a severos.
Essas reflexões são necessárias para que familiares,
orientadores e educadores possam ponderar até que ponto sua
influência é válida para decidir ou definir os padrões de vida
que uma pessoa com múltipla deficiência pode ou deve ter.
Na atualidade discute-se muito a importância da
interdependência na vida social e familiar e de que modo a
sociedade superou a supervalorização da independência e da
autonomia para buscar formas de convivência pautadas na
solidariedade, ajuda mútua, atividades cooperativas,
reciprocidade, trabalhos em equipe, etc. Esses valores que
surgem como uma reação à competição exagerada; à ânsia de
sempre ganhar e nunca perder; de superar todo e qualquer
obstáculo e atingir o sucesso a qualquer custo, levou o homem
moderno a novas reflexões e à redefinição de posturas, valores
e atitudes na vida em sociedade. Todas essas transformações
influenciam a concepção de deficiência e de seus direitos e
possibilidades a uma vida melhor.
132
Há algumas décadas muitas pessoas com múltipla
deficiência estavam condenadas ao isolamento total ou parcial.
As preocupações das famílias eram reservadas a sua saúde e
cuidados pessoais. Estudar, trabalhar e constituir família não
eram expectativas plausíveis, de acordo com as concepções
socioculturais vigentes.
Em termos de educação, quando essa oportunidade foi
facultada a uma minoria dessas pessoas (apenas nas grandes
cidades), os programas eram realizados nas instituições
especializadas, públicas ou privadas, principalmente filantrópicas.
Não havia muita distinção entre os níveis de
funcionamento dos portadores de deficiência, porque a
convicção prevalecente os considerava igualmente
“incapacitados”. Núcleos ocupacionais, onde jovens e adultos
ficavam sem perspectiva de terminalidade, eram os locais onde
se ensinavam habilidades básicas e adaptativas de auto-
cuidado, segurança, vida diária e outras, com vistas em uma
parcial participação familiar e comunitária.
Atualmente, essa é ainda a realidade de muitos jovens
e adultos com múltipla deficiência, principalmente os que
apresentam comprometimentos cognitivos e mentais mais
acentuados (Fig. 9).
Fig. 9. Jovem com múltipla deficiência realizando
atividades típicas de programas ocupacionais.
Segregação e integração pelos modelos de atendimento
133
As possibilidades educacionais desses alunos vêm
tomando novo rumo desde o início da década de 90, pelo menos
nos grandes centros do país. Em primeiro lugar, existe a
preocupação em considerar a diversidade existente entre essa
população específica e a análise de suas possibilidades
acadêmicas. Uma avaliação criteriosa identifica as decisões a
serem tomadas no plano pedagógico.
Adultos com múltipla deficiência que tenham boas
perspectivas acadêmicas, podem estar integrados em classes
comuns do ensino regular ou em programas regulares de
educação de jovens e adultos e receber o apoio especializado
de que necessitam em horário contrário ao das aulas, a exemplo
da situação ilustrada na Fig. 10. Esses atendimentos podem
incluir, entre outras atividades, o ensino de conteúdos não
aprendidos pelos métodos usuais adotados pelos professores
na sala de aula regular, bem como atividades alternativas,
substitutivas ou complementares que o aluno necessite.
Quando se tratar de deficiências um pouco mais
limitantes, as classe especiais ou o atendimento acadêmico em
escolas especializadas têm-se tornado alternativas práticas.
Fig. 10. Aluno com múltipla deficiência pouco
acentuada recebendo atendimento na
sala de recursos.
134
O atendimento do aluno com deficiência múltipla deve
realizar-se preferencialmente na rede regular de ensino como
preconiza a legislação brasileira. Essa é a expectativa para os
anos vindouros, já que muitas experiências concretas dessa
natureza estão sendo desenvolvidas com sucesso.
O movimento de
educação inclusiva
, atualmente
difundido, defende uma escola que possa atender a todos os
alunos, adequando o currículo aos métodos, materiais de ensino-
aprendizagem, enfim, todos os procedimentos pedagógicos para
que seja possível receber uma educação de qualidade no
ambiente integrador da escola regular.
Essa é a expectativa da escola inclusiva, que oferece
respostas adequadas a seu aluno, de acordo com suas
necessidades especiais, sem isolá-lo do convívio com os
demais, não portadores de deficiência.
135
Após leitura cuidadosa do texto, responda às
seguintes questões, de modo a verificar seu entendimento do
conteúdo do fascículo:
1. Assinalar com um ( V ) as proposições verdadeiras e ( F ) as
falsas:
a.( ) segundo Osório ( 1989 ) os requisitos da idade adulta são: a
formação da identidade pessoal e sexual, a capacidade de
estabelecer relações sociais estáveis, a independência e a
autonomia e a capacidade de assumir compromissos
profissionais e manter-se economicamente;
b.( )a perspectiva desenvolvimentista considera todas as
pessoas com múltipla deficiência como eternamente
crianças;
c.( ) a opinião dos outros é importante na formação do autoconceito
da pessoa, seja ela portadora ou não de deficiências;
d.( )a pessoa com múltipla deficiência pode ser considerada adulta,
desde que atenda rigorosamente aos critérios assinalados por
Osório (1989).
2. Assinalar com um ( X ) as proposições verdadeiras:
a.( ) as dificuldades para as pessoas com múltipla deficiência em
arrumar emprego são influenciadas, entre outros fatores, por
preconceitos quanto a sua competência, pela superproteção
da família ou pela falta de oportunidade de capacitação
profissional;
b.( ) as oficinas pedagógicas e as protegidas são programas não
segregativos para pessoas com deficiência múltipla;
c.( ) o emprego apoiado é uma forma eficiente de integração social
por meio do trabalho;
d.( ) o Brasil já sistematizou legalmente o emprego apoiado.
Verificando sua aprendizagem
136
3. Completar as lacunas de acordo com as palavras
selecionadas nos parênteses:
(
educacionais – sucedidas – limitações –
diversificados – familiar – social – satisfatória – pessoal
)
As pessoas com múltiplas deficiências apresentam níveis
_____________ de comprometimentos e de funcionamento no ambiente
físico e ___________ onde vivem.
Podem ser bem __________________ em seus projetos
_____________ e profissionais e suas ___________________ não lhes
tiram a oportunidade de ter uma _____________ qualidade de vida
____________ e comunitária.
137
Agora, verifique se suas respostas estão de acordo com os
conteúdos do fascículo:
1ª questão
a. ( V )
b. ( F )
c. ( V )
d. ( F )
2ª questão
a. ( X )
b. ( )
c. ( X )
d. ( )
3ª questão
Observar a seqüência das palavras nas lacunas:
Diversificados
Social
Sucedidas
Educacionais
Limitações
Satisfatória
Pessoal.
Conferindo suas respostas
138
ASSUNÇÃO, F. B. & SPROVIERI, M. H.
Sexualidade e
deficiência mental.
São Paulo: Moraes, 1987.
______ . Casamento e deficiência mental
.
Mensagem da APAE
.
BRASIL. Ministério do Bem-Estar Social.
Oportunidades de
trabalho para portadores de deficiência: um guia para as
organizações de trabalhadores.
Brasília: CORDE, 1994.
GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL. Fundação Educacional
do DF.
Processo educacional profissionalizante dos
alunos com necessidades especiais.
Orientação
Pedagógica nº 25. Brasília, 1994.
HODAPP, E. Z. & ZIGLER, E.
Understanding mental retardation.
USA-Cambridge University Press, 1993.
LOUISIANA STATE PLANNING COUNCIL ON
DEVELOPMENTAL DISABILITIES.
Emprego apoiado –
uma nova oportunidade de emprego para cidadãos
portadores de deficiências severas.
São Paulo, Mimeo,
1990. Adaptado por Romeu K. Sassaki.
OSÓRIO, L. C.
Adolescente hoje.
Porto Alegre: Artes Médicas,
1989.
SASSAKI, R. K.
Emprego apoiado – um exemplo de inclusão
de pessoas com deficiências severas no mercado de
trabalho. Mimeo,
São Paulo, 1997
SCHROEDER, S.
Etapas y transiciones a través del periodo
de vida para las personas com problemas en el
desarrollo: perspectivas norteamericanas y
latinoamericanas.
Lima-Peru, Mimeo, 1993.
Bibliografia
139
Nota de agradecimento
Agradecemos a colaboração do Centro de Ensino
Especial de Deficientes Visuais de Brasília e do Centro de
Ensino Especial 01 de Taguatinga-DF pela cedência das fotos
e a permissão para sua publicação nesse trabalho.
Nosso carinho aos alunos, pais e professores que, por
meio dessas imagens, ajudam a difundir conhecimentos aos
que desejam aprender e atuar com pessoas com múltipla
deficiência.
140
Produção Editorial da Educação Especial
Com objetivo de expandir a oferta da educação especial no Brasil, bem
como dar estímulo às inovações pedagógicas que venham a contribuir para a melhoria
da qualidade do atendimento, a Secretaria de Educação Especial do MEC, está
divulgando textos e informações para atualizar e orientar a prática pedagógica do
sistema educacional. Para tanto, ela criou uma linha editorial contendo quatro séries:
Institucional, Diretrizes, Atualidades Pedagógicas e Legislação, assim especificadas:
SÉRIE INSTITUCIONAL – destinada à publicação de textos oficiais com
vistas à divulgação de políticas educacionais e demais produções de órgãos gestores
nacionais e internacionais.
SÉRIE DIRETRIZES – visa formar, sugerir e orientar a elaboração de planos
de trabalho a serem implementados nos estados e municípios brasileiros.
SÉRIE ATUALIDADES PEDAGÓGICAS – objetiva a difusão e estímulo às
inovações pedagógicas que se apresentam em muitos estados na área de educação
especial, a fim de promover o intercâmbio de experiências.
SÉRIE LEGISLAÇÃO – pretende disseminar a evolução dos aspectos legais
referentes às pessoas portadoras de necessidades especiais, seus direitos e deveres.
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Especial
Ministério da Educação
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