ouviu falar em dança afro considera que ela é melhor dançada pelos negros. Acreditando
nesse argumento, já seria muita gente. Mas, entre os negros, estariam mais aptos a dançá-la
aqueles que fossem candomblecistas. Até para os umbandistas, a dança afro seria difícil, dada
a sua riqueza coreográfica.
Em sociedades direcionadas pela raça, em maior ou menor grau, eu tenho que seguir
certos padrões de convivência interracial. Uma certa liberdade vigiada.Para a dança, o
funk,por mais que se diga que é de origem carioca no meio musical, procura espelhar-se no
binômio rap/hip-hop norte-americano em termos de padrões de sociabilidade, como discuti
com meu amigo norte-americano Tadeuz. Coincide que no meio da música-performance do
negro do gueto americano, revela-se Eminem, branco culturalmente impuro ou white trash,
para criar padrões de sociabilidade “interracial” para o modo de se dançar rap. E ele sendo
fruto de uma inversão social, mas nem tanto, pois, é branco culturalmente impuro. Há uma
troca de mercadorias simbólicas à la Bourdieu na qual o branco sem espaço entre os brancos
dá maior visibilidade à música do gueto, e faz vender mais, e, em troca, o branco white trash
consegue ser popstar explorando valores mais caros a eles do que a vida perfeita da american
way of life. No esforço de destacar-se, ele será mais revoltado, mais agressivo, mais estúpido,
mais homofóbico em suas performances do que os raps “autênticos”.
E os paralelos com o Rio de Janeiro, berço da dança afro, são muitos. Não só a dança
afro, mas, toda a tradição cultural carioca, que foi amalgamada no convívio entre os
diferentes mesmo que de forma desigual, parece destinada a ser transformada em um sítio
arquelógico e programa de quarentões pra cima. A revalorização do samba no bairro da Lapa
é uma reposta positiva, mas, os padrões de sociabilidade norte-americanos estão aí. Os
estranhos invadem territórios demarcados e simulam ou realizam confrontos através da
dança. Os momentos de tranqüilidade não são a convivência pacífica, mas, a trégua.Vai durar
pouco. Logo, uma guerra em favela, um arrastão, e lá nos States, um tiroteio dentro de
escola.A raça é um poderoso instrumento para demarcar territórios.Também a origem
geográfica.
Alheio a todos esses códigos e desinteressado pela sonoridade norte-americana do
funk, aquele que não se intimida com o vaticínio de que é difícil dançar afro, é o turista
estrangeiro. Ele se aventura a dançar uma dança que nem os brasileiros sabem dançar direito.
Sem o peso da responsabilidade, o gringo consegue ter um estado de espírito que vai
influenciar diretamente sua postura corporal.Sem rigidez corporal as pessoas ficam
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