seus objetos. Esta dispersa multiplicidade de disciplinas é hoje ainda apenas
mantida numa unidade pela organização técnica de universidades e faculdades e
conserva um significado pela fixação das finalidades práticas das
especialidades. Em contraste, o enraizamento das ciências, em seu fundamento
essencial, desapareceu completamente.
Contudo, em todas as ciências nós nos relacionamos, dóceis a seus
propósitos mais autênticos com o próprio ente. Justamente, sob o ponto de vista
das ciências, nenhum domínio possui hegemonia sobre o outro, nem a natureza
sobre a história, nem esta sobre aquela. Nenhum modo de tratamento dos
objetos supera os outros. Conhecimentos matemáticos não são mais rigorosos
que os filológico-históricos. A matemática possui apenas o caráter de ‘exatidão”
e este não coincide com o rigor. Exigir da história exatidão seria chocar-se
contra a idéia do rigor específico das ciências do espírito. A referência ao
mundo, que importa através de todas as ciências enquanto tais, faz com que elas
procurem o próprio ente para, conforme seu conteúdo essencial e seu modo de
ser, transformá-lo em objeto de investigação e determinação fundante. Nas
ciências se realiza — no plano das idéias — uma aproximação daquilo que é
essencial em todas as coisas.
Esta privilegiada referência de mundo ao próprio ente é sustentada e
conduzida por um comportamento da existência humana livremente escolhido.
Também a atividade pré e extracientífica do homem possui um determinado
comportamento para com o ente. A ciência, porém, se caracteriza pelo fato de
dar, de um modo que lhe é próprio, expressa e unicamente, à própria coisa a
primeira e última palavra. Em tão objetiva maneira de perguntar, determinar e
fundar o ente, se realiza uma submissão peculiarmente limitada ao próprio ente,
para que este realmente se manifeste. Este pôr-se a serviço da pesquisa e do
ensino se constitui em fundamento da possibilidade de um comando próprio,
ainda que delimitado, na totalidade da existência humana. A particular
referência ao mundo que caracteriza a ciência e o comportamento do homem
que a rege, os entendemos, evidentemente apenas então plenamente, quando
vemos e compreendemos o que acontece na referência ao mundo, assim
sustentada. O homem — um ente entre outros — “faz ciência”. Neste “fazer”
ocorre nada menos que a irrupção de um ente, chamado homem, na totalidade
do ente, mas de tal maneira que, na e através desta irrupção, se descobre o ente
naquilo que é em seu modo de ser. Esta irrupção reveladora é o que, em
primeiro lugar, colabora, a seu modo, para que o ente chegue a si mesmo.
Estas três dimensões — referência ao mundo, comportamento, irrupção —
trazem, em sua radical unidade, uma clara simplicidade e severidade do ser-aí,
na existência científica. Se quisermos apoderar-nos expressamente da existência
científica, assim esclarecida, então devemos dizer: