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Os serviços de educação do Estado resumem-se em um corpo de
professores primários aglomerados nas cidades ou dispersos pelas vilas e
povoados, quase todos sem prédios, instalações e assistência técnica,
moral ou mesmo administrativa, um corpo de professores secundários
distribuídos por três ou quatro pavilhões de um único instituto secundário, e
três institutos de formação do magistério primário, somente um com
instalações materiais adequadas, mas lamentavelmente transformado numa
confusa e congestionada escola secundária”. [...] “O corpo de alunos reflete
as condições do serviço. Não chega, no ensino primário, a ter estabilidade
nem assiduidade e, no secundário, não chega se quer à aplicação. Para o
observador razoavelmente experimentado cumpre, entretanto, acentuar que
nada disso surpreende, parecendo-lhe, antes, que a situação deveria ser
pior, diante da improvisação dos meios aplicados para atingir os supostos
objetivos educacionais.” [...]. “A escola primária vem-se se reduzindo a uma
escola de alfabetização ineficiente, com perda crescente do prestígio social.
E os ginásios encaminham-se para substituí-la, sendo improvisados, aqui e
ali, com extrema facilidade e perigosa receptividade social. Diante da
falência da escola primária, os ginásios tomam as suas funções, com um
duplo resultado: facilidades de organização, pois são apenas cursos
primários avançados, e altíssima compensação, pois servem para dar
entrada às classes ornamentais do país, compostas do velho binômio de
funcionários e doutores. A situação da Capital com cerca de 10.000 alunos
nas escolas primárias públicas e 5.500 nos dois cursos secundários oficiais,
dá para se perceber o rápido desaparecimento do ensino primário e a
inflação do secundário. Há caso de município, no Interior do Estado, sem
ensino primário digno deste nome, mas com ginásio quase luxuoso. A
ansiedade por ginásios em todo o Estado se, por um lado, demonstra a
sede de educação que, a despeito de tudo marca o nosso desenvolvimento,
por outro, revela pouco sabermos das dificuldades da manutenção de
ensino desse grau”. “Em ensino profissional, comercial, doméstico e
industrial nada mantém a Secretaria, exceto pequena escola primária
superior, fundada há mais de vinte anos, em Cachoeira, que não se
desenvolveu, mas fossilizou-se, tomando o nome de escola profissional”.
Diante dessas constatações como resultados da avaliação do sistema de ensino
(primário e médio) na Bahia, Anísio verifica a necessidade de uma reforma do ensino e
propõe um plano para corrigir a grave situação educacional de então no Estado.
Para melhor compreensão da proposta do referido educador permito-me citar aqui
trechos dos relatórios das atividades anuais no seu período de gestão educacional no
Estado. Por exemplo, o relatório das atividades desenvolvidas em 1948, sob o título:
“Educação, Saúde e Assistência no Estado da Bahia em 1948”. “Relatório apresentado pelo
Snr. Anísio S. Teixeira, Secretário de Educação e Saúde, ao Snr. Governador do Estado”, e
também do relatório de 1950.
No relatório de 1948 o educador fala do plano escolar proposto para a organização
do sistema de educação elementar e médio ou secundário na Bahia e afirma que tal tarefa é
da responsabilidade do Estado. Por conseguinte, trata da necessidade da reforma do ensino
e do plano de trabalho envolvendo os Centros Regionais de Educação; o Plano Educacional
dos Municípios; a Educação Elementar e Secundária na Capital; e as Edificações escolares,