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O espectador, a partir de seus códigos culturais e sociais, constrói para si um
significado, capturado, muito além do que foi apreendido pelo olhar na fotografia, pois ela
tem o poder de despertar nele emoções, inquietações, trazer à tona memórias, conflitos,
tensões e, entre outros sentimentos, criar um imaginário. O imaginário enuncia, se reporta e
evoca outra coisa não explícita e não presente
, desperta e organiza símbolos através de
representações, sendo que as mesmas sempre podem ter interpretações múltiplas, que é
apreendido pelo olhar e o que foi idealizado no momento de sua produção.
As imagens fotográficas, por sua natureza polissêmica, permitem sempre uma leitura
plural, dependendo de quem as apreciam. Estes, já trazem embutido no espírito, suas
próprias imagens mentais preconcebidas acerca de determinados assuntos (os
referentes). Estas imagens mentais funcionam como filtros: ideológicos, culturais,
morais, étnicos etc. Tais filtros, „todos nós temos‟, sendo que cada receptor,
individualmente, os mencionados componentes interagem entre si, atuando com
maior ou menor intensidade.
As representações orientam as práticas sociais, por meio da relação entre o ausente e a
imagem que lhe faz referência, os seus significados são construídos como em um mosaico de
mentalidades, sentidos e visões de mundo.
A foto é percebida como uma espécie de prova, ao mesmo tempo necessária e
suficiente, que atesta, indubitavelmente, a existência daquilo que mostra.
Com isso, a
fotografia, durante muito tempo, foi considerada testemunha de eventos, recebendo desta
forma uma atribuição de verdade ontológica, pois já havia na imagem uma impressão de que
aquilo que nela fosse retratado tornar-se-ia, no mínimo, uma expressão fiel da realidade
.
A fotografia é interpretada como resultado de um trabalho social de produção de
sentido, pautado sobre códigos convencionalizados culturalmente. É uma
mensagem, que se processa através do tempo, cujas unidades constituintes são
PESAVENTO, SANDRA J. Representações. In: Revista Brasileira de História. São Paulo: ANPUH/
Contexto, vol.15, nº 29, 1995, p.15.
KOSSOY, Boris. Realidades e Ficções na Trama Fotográfica. São Paulo: Ateliê Editorial, 2002, p.44.
DUBOIS, Phillippe. O ato fotográfico e outros ensaios. Campinas, São Paulo: Papirus, 1999, p.25.
Em Dubois, tem-se uma formulação quanto a realidade e a fotografia, considerando que a mesma pode ser
entendida como espelho do real (discurso da mimese e semelhança), como transformação do real (o discurso do
código e da desconstrução) e como traço do real (o discurso do índice e da referência).Ver DUBOIS, Phillippe.
O ato fotográfico e outros ensaios. Campinas, São Paulo: Papirus, 1999.p.26.