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Algumas questões abordadas anteriormente, e outras que vamos trabalhar nas análises nos
dão subsídios para entendermos o processo que vamos tratar agora - a autoria-. Inicialmente, para
Foulcault (2007, p. 26), o autor não é entendido como “indivíduo falante, que pronunciou ou
escreveu um texto”, mas como “o princípio do agrupamento do discurso, como unidade e origem
de suas significações, como foco de sua coerência”.
Contudo, Orlandi (2004) faz um deslocamento dessa noção de autor dizendo que a
função autor, ou seja, “esta função do sujeito” se realiza “toda vez que o produtor da linguagem
se representa na origem, produzindo um texto com unidade, coerência e progressão, não
contradição e fim” (p. 69).
O autor, portanto, é aquele que responde pelo que diz ou escreve, pois acredita mesmo
estar na origem do que diz, porém é afetado pela responsabilidade social e é tocado
particularmente pela história. Neste ponto entramos em outra questão importante para a função-
autor, pois, conforme Orlandi (2004), “o lugar do autor é determinado pelo lugar da
interpretação” (p. 75).
A teoria do Discurso considera a incompletude da linguagem, ou seja, o dizer, o texto, o
discurso, nunca se fecha, pois, conforme Orlandi (2004), “o sentido está sempre em curso.../...
não há um sistema de signos só, mas muitos. Porque há muitos modos de significar e a matéria
significante tem plasticidade, é plural” (p. 11-12), o que leva à relação existente entre a
incompletude da linguagem e a interpretação. Para nós é de fundamental importância a
consideração da autora de que se os sentidos nunca se fecham, não poderá haver uma única
interpretação, nem mais certa ou mais verdadeira. Há a possibilidade da interpretação ser várias.
Nisso, porém, importa a idéia de fechamento do sentido, ou seja, a interpretação dependerá da
ideologia, da formação discursiva e das condições de produção do discurso, que darão a
impressão (necessária) do sentido ser único e verdadeiro. A autoria por sua vez, se constituirá de
acordo com a interpretação (dentre muitas) “definida” pelo sujeito em seu texto (Orlandi, idem.)
O autor se constitui pela repetição, pelo equívoco e pelos deslocamentos, uma vez que o
que produz tem que ser entendido, tem que ser interpretável. A repetição (paráfrases) sempre
ocorrerá, pois como já foi falado, o discurso é sempre produto do interdiscurso, do já-dito, do
repetível. Para um autor a repetição acontece numa materialidade onde ele se inscreve, onde ele
se mostra, deixando claro sua formação discursiva e/ou seus deslocamentos de sentido, atribuindo
sentidos em condições específicas de produção, inscrevendo assim, seu dizer na história.