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desenhou no corpo, na alma e no coração do povo, muitas vezes, à revelia das elites, das
instituições e até mesmo do Estado.
É verdade que a deterioração dos laços sociais no Brasil nas últimas duas décadas
decorrentes de políticas econômicas que não favoreceram o crescimento trouxe uma nuvem
ameaçadora ao padrão tolerante da cultura nacional.
(65)
Crimes hediondos, massacres e linchamentos crisparam o país e fizeram do
cotidiano, sobretudo nas grandes cidades, uma experiência próxima da guerra de todos
contra todos.
Por isso, inicio este mandato com a firme decisão de colocar o governo federal em
parceria com os Estados a serviço de uma política de segurança pública muito mais
vigorosa e eficiente. Uma política que, combinada com ações de saúde, educação, entre
outras, seja capaz de prevenir a violência, reprimir a criminalidade e restabelecer a
segurança dos cidadãos e cidadãs.
Se conseguirmos voltar a andar em paz em nossas ruas e praças, daremos um
extraordinário impulso ao projeto nacional de construir, neste rincão da América, um
bastião mundial da tolerância, do pluralismo democrático e do convívio respeitoso com a
diferença.
O Brasil pode dar muito a si mesmo e ao mundo. Por isso devemos exigir muito de
nós mesmos. Devemos exigir até mais do que pensamos, porque ainda não nos
expressamos por inteiro na nossa história, porque ainda não cumprimos a grande missão
planetária que nos espera.
O Brasil, nesta nova empreitada histórica, social, cultural e econômica, terá de
contar, sobretudo, consigo mesmo; terá de pensar com a sua cabeça; andar com as suas
próprias pernas; ouvir o que diz o seu coração. E todos vamos ter de aprender a amar com
intensidade ainda maior o nosso País, amar a nossa bandeira, amar a nossa luta, amar o
nosso povo.
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Cada um de nós, brasileiros, sabe que o que fizemos até hoje não foi pouco, mas sabe
também que podemos fazer muito mais. Quando olho a minha própria vida de retirante
nordestino, de menino que vendia amendoim e laranja no cais de Santos, que se tornou
torneiro mecânico e líder sindical, que um dia fundou o Partido dos Trabalhadores e
acreditou no que estava fazendo, que agora assume o posto de supremo mandatário da
nação, vejo e sei, com toda a clareza e com toda a convicção, que nós podemos muito mais.
E, para isso, basta acreditar em nós mesmos, em nossa força, em nossa capacidade de
criar e em nossa disposição para fazer.
Estamos começando hoje um novo capítulo na história do Brasil, não como nação
submissa, abrindo mão de sua soberania, não como nação injusta, assistindo passivamente
ao sofrimento dos mais pobres, mas como nação altiva, nobre, afirmando-se corajosamente
no mundo como nação de todos, sem distinção de classe, etnia, sexo e crença.
Este é um país que pode dar, e vai dar, um verdadeiro salto de qualidade. Este é o
país do novo milênio, pela sua potência agrícola, pela sua estrutura urbana e industrial, por
sua fantástica biodiversidade, por sua riqueza cultural, por seu amor à natureza, pela sua
criatividade, por sua competência intelectual e científica, por seu calor humano, pelo seu
amor ao novo e à invenção, mas sobretudo pelos dons e poderes do seu povo.
O que nós estamos vivendo hoje neste momento, meus companheiros e minhas
companheiras, meus irmãos e minhas irmãs de todo o Brasil, pode ser resumido em poucas
palavras: hoje é o dia do reencontro do Brasil consigo mesmo.
(75)
Agradeço a Deus por chegar até aonde cheguei. Sou agora o servidor público número
um do meu país.