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visto através de uma lente cultural. Há uma idealização da imagem corporal
como padrão que deverá ser seguido.
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Assim, denota-se que a imagem é o resultado de uma experiência
vivida e midiatizada. A estética, a cosmética, o perfume, a produção ou, em suma, o
espetáculo proporcionado é o que define os fenômenos e os seres. Deste modo, a
existência e a presença nos grupos sociais justificam-se na medida em que se
valoriza a figura do “eu” coisificado.
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Ademais, os corpos devem também ser dóceis, úteis e disciplinados
para o trabalho, como leciona Foucault, para que assim se justifique a razão do “ser”
humano:
Não é a primeira vez, certamente, que o corpo é objeto de investimentos tão
imperiosos e urgentes; em qualquer sociedade, o corpo está preso no
interior de poderes muito apertados, que lhe impõem limitações, proibições
ou obrigações. Muitas coisas entretanto são novas nessas técnicas. A
escala, em primeiro lugar, do controle: não se trata de cuidar do corpo, em
massa, grosso modo, como se fosse uma unidade indissociável mas de
trabalhá-lo detalhadamente; de exercer sobre ele uma coerção sem folga,
de mantê-lo ao nível mesmo da mecânica — movimentos, gestos atitude,
rapidez: poder infinitesimal sobre o corpo ativo, O objeto, em seguida, do
controle: não, ou não mais, os elementos significativos do comportamento
ou a linguagem do corpo, mas a economia, a eficácia dos movimentos, sua
organização interna; a coação se faz mais sobre as forças que sobre os
sinais; a única cerimônia que realmente importa é a do exercício. A
modalidade enfim: implica numa coerção ininterrupta, constante, que vela
sobre os processos da atividade mais que sobre seu resultado e se exerce
de acordo com uma codificação que esquadrinha ao máximo o tempo, o
espaço, os movimentos. Esses métodos que permitem o controle minucioso
das operações do corpo, que realizam a sujeição constante de suas forças
e lhes impõem uma relação de docilidade-utilidade, são o que podemos
chamar as “disciplinas”.
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Por conseguinte, tendo em vista que, hodiernamente, a imagem vale
mais que o fato, e a aparência passa a dizer o que se quer, e o que se é
42
, numa
sociedade massificada pela transformação do corpo em objeto que ostenta padrões
de beleza pré-estabelecidos, e que ao mesmo tempo seja útil socialmente, as
pessoas com deficiência acabam por ser relegadas à margem da convivência diante
da “inutilidade” de seus corpos.
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FLORENTINO, José; Florentino, Fátima Rejane Ayres. Corpo objeto: um olhar das ciências sociais
sobre o corpo na contemporaneidade. Revista Digital. Buenos Aires - Año 12 - n° 113 - Octubre de
2007. Disponível em <http://www.efdeportes.com/efd113/o-corpo-na-contemporaneidade.htm>
Acesso em 15 jun. 2010.
40
SIBILIA, Paula. O homem pós-orgânico – Corpo, subjetividade e tecnologias digitais. Rio de
Janeiro: Relume-Dumará, 2002. p. 43 passim.
41
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes,1996, 13. ed., p. 117.
42
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo – Comentários sobre a sociedade do espetáculo. Rio
de Janeiro: Contraponto, 1997. p. 13.