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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO
DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA
DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL
ANÁLISE DA ADAPTAÇÃO FAMILIAR E ESTRATÉGIAS ESTABELECIDAS
PARA CONSTRUÇÃO DE VÍNCULOS AFETIVOS NA ADOÇÃO TARDIA
Katia Cristina Bandeira Dugnani
São Carlos
2009
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO
DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA
DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL
ANÁLISE DA ADAPTAÇÃO FAMILIAR E ESTRATÉGIAS ESTABELECIDAS
PARA CONSTRUÇÃO DE VÍNCULOS AFETIVOS NA ADOÇÃO TARDIA
Katia Cristina Bandeira Dugnani
Dissertação submetida ao Programa de Pós-
Graduação em Educação Especial da
Universidade Federal de São Carlos, como parte
dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre
em Educação Especial.
Orientadora: Profa. Dra. Susi Lippi Marques
Oliveira
Apoio CNPq
São Carlos
2009
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Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da
Biblioteca Comunitária da UFSCar
D866aa
Dugnani, Katia Cristina Bandeira.
Análise da adaptação familiar e estratégias estabelecidas
para construção de vínculos afetivos na adoção tardia /
Katia Cristina Bandeira Dugnani. -- São Carlos : UFSCar,
2009.
207 f.
Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal de São
Carlos, 2009.
1. Adoção. 2. Relações familiares. 3. Afetividade. 4.
Institucionalização. 5. Desenvolvimento infantil. I. Título.
CDD: 371.9 (20
a
)
~~...~~
Banca Examinadora da Dissertação de Kátia Cristina Bandeira Dugnani
Profa. Ora. Susi Lippi Marques Oliveira
(UFSCar)
~~Al'~f'~~
Prota. Ora. Maria da Piedade Resende da Costa
(UFSCar)
ASS.~y{;(~ J
Prota. Ora. Elizabeth Joan Barham
(UFSCar) .
Ass.
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------
Prot. Or. Manoel Antônio dos Santos
(USP/Ribeirão Preto)
ASS'-f~
Ao Senhor ofereço esta vitória!
Esperei com paciência no Senhor,
e Ele se inclinou para mim,
pôs os meus pés sobre rochas firmes
e firmou os meus passos.
À minha filha Giovana que,
apesar da pouca idade,
soube compreender
a minha ausência
em alguns momentos
desta trajetória.
Ao Evandro, meu marido,
pelo apoio e suporte emocional,
maravilhoso pai que é e
por saber como ninguém
amenizar a minha ausência.
Esse trabalho não seria possível
sem a ajuda de vocês.
Amo vocês!
Aos meus pais
Maria de Lourdes e Francisco Bandeira
Por me ensinarem a sempre confiar e nunca desistir
Aos meus irmãos, Karin e Francisco
Pelo companheirismo e incentivo
Dedico este trabalho a todos os que dele fizeram parte!
AGRADECIMENTOS
À Profa. Dra. Susi Lippi Marques Oliveira
Pela dedicação, orientação e incentivo no decorrer deste trabalho
Obrigada por me conduzir nesta trajetória
Ao Dr. João Galhardo Júnior
Juiz da Vara da Infância e Juventude da Comarca de São Carlos
Que possibilitou a realização do trabalho
Aos funcionários do Setor Técnico da Comarca de São Carlos
Pela valiosa contribuição e auxílio prestado na execução deste trabalho
À Profa. Dra. Lídia Weber
Pela participação especial na análise de conteúdo e aferição do instrumento (formulário de
pesquisa) utilizado neste estudo
Ao Grupo de Apoio a Adoção de São Carlos (GAASC)
Em especial à Presidente Beatriz Tolentino,
pelo companheirismo na caminhada e
supervisão em Ludoterapia no Albergue Infantil de São Carlos
Aos professores que compuseram a banca do exame de qualificação
Prof. Dr. Manoel Antonio dos Santos,
Profa. Dra. Maria da Piedade Resende da Costa
Profa. Dra. Elizabeth Joan Barham
Obrigada pela prestimosa contribuição
A todos os professores, colegas e funcionários do PPGEEs
que direta ou indiretamente colaboraram com o meu trabalho
Em especial à Profa. Dra. Sylvia Panico, por ter me apresentado ao Moodle e me conduzido
passo a passo ao caminho apaixonante do ensino virtual (EAD).
À você minha gratidão!
A todas as famílias que fizeram parte deste estudo
Obrigada por terem aderido ao estudo e compartilharem momentos tão especiais de suas
vidas
Ao CNPq
Pela bolsa de Mestrado concedida
“My grandfather once told me that there are two kinds of people: those who work
and those who take the credit. He told me to try to be in the first group; there was less
competition there”.
Indira Gandhi
RESUMO
Analisando-se os fatores de risco ao desenvolvimento infantil à luz da realidade de um
país limitado em recursos econômicos como o Brasil, torna-se comum a observação de casos
de desamparo aos menos favorecidos. No âmbito das interações afetivas parentais e
diminuição dos riscos para o desenvolvimento saudável, a reconstrução destes laços afetivos
para inúmeras crianças no país ocorre através da adoção. A literatura evidencia que a adoção
tardia (crianças acima de 2 anos) é a ação mais difícil de ser concretizada, pois possivelmente
maiores tenham sido os desencontros vividos pela criança devido à ausência de pais que
estejam dispostos a doarem-se as suas reais necessidades. Desta maneira, o objetivo do estudo
foi identificar as dificuldades e facilidades dos pais no processo de construção de vínculos
afetivos, apontando as estratégias utilizadas na prática da adoção tardia, englobando suas
expectativas e motivações. Como recurso técnico foi utilizado um instrumento (formulário),
composto por questões abertas e fechadas, visando à caracterização dos participantes,
abordando a adoção e o estabelecimento de vínculos afetivos. Após a aferição do mesmo
(através da análise semântica, análise de conteúdo e aplicação para adequação) com 23
colaboradores no total, o instrumento tornou-se apto para a aplicação na amostra selecionada.
A coleta de dados foi realizada com 19 pais que efetuaram adoção tardia, inscritos na
Comarca de São Carlos-SP. Para isso foram divididos em grupos de acordo com a idade das
crianças no momento da adoção, grupo G1 (crianças adotadas com 2 anos); grupo G2
(crianças adotadas entre 3 e 6 anos de idade) e grupo G3 (crianças adotadas entre 7 e 10 anos
de idade). Os resultados evidenciaram o perfil dos adotantes tardios, que em sua maioria
apresentou um elevado nível de amadurecimento, de escolaridade e nível sócio-econômico
acima da média nacional. A principal motivação encontrada para a adoção tardia foi a idade
dos adotantes, sendo definida como ato de educar e acolher uma criança. Os maiores receios e
temores dos pais não foram quanto à história pregressa de vida das crianças, mas as
dificuldades perante a educação de seus filhos. A preocupação voltou-se, principalmente, para
comportamentos e atitudes inadequadas diante da disciplina escolar, apontamento este que
não difere das dificuldades sinalizadas por alguns pais de famílias biológico-adotivas ao
referirem à educação de seus filhos. Diante destas dificuldades as principais estratégias
estabelecidas pelos pais foram a promoção e interação social, incentivo e valorização da
produção e uso de restrições físicas. As estratégias positivas como, por exemplo,
manifestações de amor e carinho no processo de acompanhamento da educação de seus filhos
e a contribuição e apoio das redes familiares foram apontadas. Apreende-se que a presente
investigação poderá viabilizar práticas no âmbito preventivo e os conhecimentos gerados
possibilitarão a elaboração de diretrizes para um programa de orientação na prática da adoção
tardia.
PALAVRAS-CHAVE: adoção tardia, vínculos afetivos, dinâmica familiar,
institucionalização, desenvolvimento infantil.
ANALYSIS OF THE FAMILIAR ADAPTATION AND STRATEGIES
ESTABLISHED FOR CONSTRUCTION
OF AFFECTIVE ATTACHMENTS IN THE LATE ADOPTION
ABSTRACT
Analyzing the risk factors to the infantile development in light of the reality of a country
limited in economic resources as Brazil, the observation of abandonment cases of less favored
children has become common. In the scope of the parental affective interactions and reduction
of the risks for a healthful development, the reconstruction of these affective bonds for
innumerable children around the country occurs through the adoption. Specialized literature
shows that the late adoption (children above 2 years old) is the most difficult action to be
materialized because of the absence of their parents and the lack of care for their real needs.
In this way, the objective of this study was to identify to the difficulties and easinesses of the
parents in the construction process of affective bonds by pointing out the strategies used in the
late adoption considering their expectations and motivations. As a technical resource, it was
used an instrument (form), composed of open and closed questions, aiming to characterize the
participants. After its gauging (through the semantics and content analysis and application for
suitability) with 23 collaborators, the instrument became apt for application in a selected
sample. The data acquisition was carried out with 19 enrolled parents who accomplished late
adoption in the district of São Carlos-SP. For this purpose, they were divided into groups
according with the age of the children at the adoption: group G1 (children adopted with 2
years); group G2 (children adopted between 3 and 6 years of age); and group G3 (children
adopted between 7 and 10 years of age). The results have evidenced the late adopters’ profile,
which, in their majority, presented a high level of maturity and education. Besides, the late
adopters are above of the national average socio-economic level. The main motivation found
for the late adoption was the age of the children adopted, being defined as the act of educate
and take care of a child. The major fear of the parents is not related with the former history of
the children’s life, but with their education. Their concerns turned mainly to inadequate
behaviors and attitudes in terms of school discipline, which does not differ from the
difficulties pointed out by some parents of the biological-adoptive families, when relating to
the education of their children. Given these difficulties, the main strategies established by the
parents were the promotion and social interaction, incentive and valorization of production
and use of physical restrictions. The positive strategies as the manifestation of love and
affection in the education and the support of familiar networks were also pointed out. Thus, it
is possible to presume that the present investigation will make viable preventive practices and
the knowledge acquired will make possible the elaboration of a directive program for the late
adoption.
Key words: late adoption, affective attachments, familiar dynamics, institutionalization,
infantile development.
LISTA DEFIGURAS
Figura 1. Família de origem dos casais e adoção efetivada (N=19).........................................66
Figura 2. Devolução da criança durante o período de guarda (N=2) .......................................68
Figura 3. O processo de inscrição no Fórum e o tempo de espera (N= 18) .............................72
Figura 4. Disponibilidade para realizar uma adoção tardia (N=19).......................................73
Figura 5. Revelação da adoção (N=19)....................................................................................76
Figura 6. Detalhes sobre a história de vida (N=19)..................................................................80
Figura 7. Abrigamento, maus tratos físicos e abuso sexual (N=12).........................................81
Figura 8. Impacto do conhecimento dos detalhes de vida da criança no processo de adoção
(N=12) ......................................................................................................................................83
Figura 9. Não conhecer os detalhes de vida da criança (N=7).................................................84
Figura 10. Receios demonstrados pelos pais (N=19)...............................................................86
Figura 11. Receios apontados pelos pais perante à adoção (N=9)...........................................87
Figura 12. Receios apresentados pelos pais e mães .................................................................87
Figura 13. Doenças apresentadas até o momento (N=19)........................................................93
Figura 14. Utilização de algum medicamento (N=19).............................................................95
Figura 15. Presença de filhos biológicos................................................................................105
Figura 16. Freqüência e distribuição dos filhos da amostra (N=28) ......................................109
Figura 17. Recursos auxiliares utilizados pelos pais na construção de vínculos afetivos .....116
Figura 18. Período de adaptação e suporte técnico ................................................................118
Figura 19. Alternativas encontradas para os cuidados das crianças ......................................120
Figura 20. Dificuldade da criança adotiva no ambiente escolar relatada pelos pais ...........125
Figura 21. Recursos e suportes técnicos atuais recebidos pelos pais na época da entrevista.127
Figura 22. O comportamento dos pais sobre a história da criança.........................................128
Figura 23. Manifestação da criança em relação a não pertencer a família que o (a) adotou..130
Figura 24. Respostas dos pais a freqüência ao GAASC ........................................................134
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Caracterização da amostra de juízes para análise de conteúdo do instrumento
(N=10) ......................................................................................................................................48
Quadro 2. Caracterização da amostra de juízes para análise semântica do instrumento (N=11)
..................................................................................................................................................49
Quadro 3. Caracterização da amostra dos colaboradores na adequação do instrumento (N=2)
..................................................................................................................................................50
Quadro 4. Caracterização geral dos participantes (N= 19).......................................................56
Quadro 5. Divisão em grupos conforme a idade da adoção da criança (N=19).......................58
Quadro 6. Duração das entrevistas realizada com os pais (N=19)...........................................61
Quadro 7. Conceituando a adoção (N= 19)..............................................................................67
Quadro 8. Causas ou motivos que levaram os pais devolverem a criança (N= 6)...................69
Quadro 9. O caminho percorrido e as expectativas para a adoção de um filho........................70
Quadro 10. Motivações manifestas para efetuar uma adoção tardia (N= 9)............................74
Quadro 11. Motivação para a mudança na faixa etária para a adoção (N= 10)........................75
Quadro 12. Estratégias para a revelação da adoção (N=16).....................................................77
Quadro 13. Informações adicionais fornecidas pelos pais referentes ao período anterior à
adoção (N=9)...........................................................................................................................82
Quadro 14. Indiferenças perante os detalhes no processo de adoção (N=4)............................85
Quadro 15. Dificuldades expostas pelos pais perante a falta de detalhes no processo de adoção
(N=3) ........................................................................................................................................86
Quadro 16. Adaptação da criança e condição da saúde física (N=19).....................................90
Quadro 17. Necessidade de medicação no período de adaptação (N= 19)...............................91
Quadro 18. Identificação das doenças e medicações no período de adaptação (N=7).............92
Quadro 19. Descrição das doenças identificadas nos filhos adotivos até o momento (N=8)...93
Quadro 20. Adaptação e dificuldades no âmbito escolar (N= 18) ...........................................96
Quadro 21. Adaptação e dificuldades no âmbito educacional geral.........................................97
Quadro 22. Adaptação e dificuldades envolvendo relacionamento familiar............................98
Quadro 23. Estratégias facilitadoras para o estabelecimento de vínculos de vida.................104
Quadro 24. Identificação de aspectos facilitadores na adaptação entre filhos
biológicos e adotivos..............................................................................................................106
Quadro 25. Identificação das dificuldades vivenciadas na adaptação familiar......................106
Quadro 26. Diferenças no tratamento entre filhos biológicos e adotivos..............................108
Quadro 27. Adaptação e convivência entre os filhos adotivos (N= 6)...................................109
Quadro 28. Comportamento da criança no período da adaptação (N=18).............................111
Quadro 29. Reação dos pais perante os comportamentos da criança no período de
adaptação (N= 17) ..................................................................................................................113
Quadro 30. Adaptação familiar: lidando com a palavra “Não” (N=18).................................115
Quadro 31. Outros recursos auxiliares utilizados pelos pais na construção de vínculos afetivos
(N= 9) .....................................................................................................................................117
Quadro 32. Recursos e suportes técnicos auxiliares (N=12).................................................118
Quadro 33. Motivos identificados para a ausência de recursos auxiliares (N=5) ..................120
Quadro 34. Alternativas encontradas para os cuidados da criança (N=15)............................121
Quadro 35. Estratégias atuais facilitadoras na educação de meu filho (a) (N=17) ................122
Quadro 36. Manifestações atuais das crianças identificadas pelos pais como sendo
dificultadoras na educação do(a) filho(a) (N=18) ..................................................................123
Quadro 37. Especialidades procuradas pelos pais atualmente (N=9).....................................127
Quadro 38. Outras maneiras de vivenciar a história de vida do(a) meu(a) filho(a) (N=11) ..128
Quadro 39. A criança idealizada e a criança recebida pelos pais do grupo G1 (N= 6)..........131
Quadro 40. A criança idealizada e a criança recebida pelos pais do grupo G2 (N= 8)..........132
Quadro 41. A criança idealizada e a criança recebida pelos pais do grupo G3 (N= 4) 133
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO...................................................................................................................... 14
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................................16
1.1. Família........................................................................................................................16
1.2. Família e seus múltiplos aspectos no processo de desenvolvimento e
estabelecimento de vínculos ..............................................................................................19
1.3. A criança no sistema familiar .....................................................................................23
1.4. Crianças institucionalizadas........................................................................................25
1.5. Adoção tardia..............................................................................................................31
1.6. Educação especial.......................................................................................................39
2. JUSTIFICATIVA ....................................................................................................................44
3. OBJETIVO DO ESTUDO .....................................................................................................45
3.1. Objetivo geral .............................................................................................................45
3.2. Objetivos específicos..................................................................................................45
4. MÉTODO.................................................................................................................................47
4.1. PARTE A: CONSTRUÇÃO E AFERIÇÃO DO INSTRUMENTO .........................47
4.1.1. Participantes......................................................................................................47
4.1.2. Considerações Éticas ........................................................................................50
4.1.3. Local .................................................................................................................50
4.1.3.1. Análise Teórica....................................................................................50
4.1.3.1. a. Análise de Conteúdo.................................................................50
4.1.3.1. b. Análise Semântica ....................................................................51
4.1.3.2. Adequação do instrumento e aplicação piloto....................................51
4.1.4. Material.............................................................................................................51
4.1.4.1. Instrumento Preliminar........................................................................51
4.1.4.2. Instrumento Versão Final ....................................................................52
4.1.5. Procedimentos para a construção e aferição do Instrumento.............................52
4.1.5.1. Análise de Conteúdo............................................................................52
4.1.5.2. Análise Semântica ...............................................................................53
4.1.5.3. Adequação do Instrumento e aplicação piloto......................................54
4.2. PARTE B: COLETA E ANÁLISE DE DADOS .......................................................55
4.2.1. Participantes......................................................................................................55
4.2.2. Local.................................................................................................................59
4.2.3. Material.............................................................................................................59
4.2.4. Instrumento.......................................................................................................59
4.2.5. Procedimentos ..................................................................................................59
4.2.5.1. Coleta de dados...................................................................................59
4.2.5.2. Análise das respostas .........................................................................61
5. RESULTADOS........................................................................................................................64
5.1. Adoção e dinâmica familiar (itens de 6 a 15).............................................................66
5.2. Características da criança adotada (itens de 16 a 20) .................................................80
5.3. Adaptação e estabelecimento de vínculos afetivos (itens de 21 a 36)........................89
5.4. Relacionamento atual (itens 37 a 45)........................................................................122
6. DISCUSSÃO .........................................................................................................................138
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................159
APÊNDICES..............................................................................................................................174
APÊNDICE A. Instrumento Versão Preliminar.........................................................................175
APÊNDICE B. Instrumento (formulário de pesquisa) Versão Final..........................................183
APÊNDICE C. Protocolo de análise de registro .......................................................................196
APÊNDICE D. Protocolo de Análise de Conteúdo....................................................................198
ANEXOS.....................................................................................................................................200
ANEXO A. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)...........................................201
ANEXO B. Comitê de Ética .......................................................................................................203
ANEXO C. Autorização do Juiz da Vara da Infância e Juventude – São Carlos .......................205
14
“Ninguém educa ninguém.
ninguém se educa sozinho.
os homens se educam
em comunhão.”
Paulo Freire
O meu interesse pela temática não é tão recente. Formada e habilitada ao magistério
em 1991, deparei-me com situações envolvendo a criança e seu contexto familiar que sempre
me instigaram e fizeram refletir sobre a promoção da educação em diversos contextos
familiares. Fui incentivada a discutir sobre os caminhos da educação, principalmente através
de minha mãe e muitos educadores em minha família, os quais me convenceram de que esta
seria minha trajetória.
Como educadora infantil pude formular algumas hipóteses que me acompanharam até
o presente momento, entre elas de que a efetiva interação e suporte oferecidos à criança em
tenra idade conseqüentemente contribuiriam para resultados positivos posteriores.
Não foi incomum encontrar neste caminho crianças que possuíam rios atributos,
entre eles melhores condições sociais, residência fixa, pais, irmãos, mas que lhes faltavam um
aconchego maior. Assim como crianças que por diversas razões teriam todos os requisitos
para uma exclusão social, mas modificaram o rumo de suas histórias.
Buscando dar continuidade aos meus estudos e respostas às minhas inquietações sobre
a educação de crianças e relações familiares, atuei como voluntária em diversos programas de
proteção e assistência básica à criança e suas famílias, com o intuito de promover melhores
condições de vida. O voluntariado é uma prática reconhecida para o exercício de uma
profissão e cidadania. Hoje, após minha formação em Psicologia pela FMU São Paulo, em
2004, entre outros trabalhos, como voluntária do GAASC (Grupo de Apoio a Adoção de São
Carlos).
Minha meta era ingressar no Programa de s-Graduação em Educação Especial, meu
maior incentivo esteve sempre guardado dentro de minha própria experiência familiar. Estou
me referindo a experiência de vida de meus avós em relação ao meu tio, a experiência de vida
de pais que souberam acolher e educar um filho mesmo sendo uma pessoa com necessidades
especiais, pais que souberam se doar às suas reais necessidades e souberam promover
APRESENTAÇÃO
15
condições especiais de vida em uma época em que a inclusão social o era abordada em
nosso país.
Ao adentrar na Universidade Federal de São Carlos tinha a plena convicção sobre o
caminho a percorrer, mesmo sabendo o quão difícil este apresentava ser. A certeza sobre o
êxito na inserção da criança adotiva em família substituta e o convencimento sobre a dinâmica
familiar como promotora de desenvolvimento me fizeram reunir argumentos para o
levantamento de outra hipótese. Como ocorre a construção de vínculos familiares e quais são
as motivações e dificuldades da paternidade adotiva?
Sendo apontada pela literatura como a mais difícil de ser concretizada, a adoção tardia
foi desta forma evidenciada. Portanto, como Mestranda de um Programa de Educação
Especial e buscando verificar as estratégias das famílias que realizaram adoções tardias, pude
me convencer de que investigações sobre as práticas parentais e o manejo de técnicas sobre a
relação pais e filhos necessitam ser pesquisadas, assim como muito a apreender sobre a
temática e o verdadeiro sentido da adoção.
E o que é a adoção senão, o acolhimento e educação de uma criança? Alguns dizem
que pai é aquele que cria, outros afirmam que pai é aquele que cuida. No entanto, quem
seriam os pais? Um pai biológico ou um pai adotivo? Concordo com Maldonado (1995),
quando afirma que “todos somos pais adotivos, mesmo gerando filhos”. No entanto, o
verdadeiro pai é aquele que adota o seu filho, o filho real, que difere em menor ou maior grau
dos sonhos e desejos, seja ele biológico, adotivo, ou uma pessoa com necessidades especiais.
Verão 2008.
16
1.1. Família
A família é um sistema complexo, constituído por vários subsistemas que se
relacionam mutuamente, tornando-se assim, um campo difícil de ser estudado (CERVENY,
2002; DESSEN; BRAZ, 2005a). No entanto, é merecedora de uma atenção especial, levando-
se em conta aspectos históricos e culturais identificados em sua formação social (NEDER,
1998).
Um dos pioneiros dessa temática foi Ariès (1981) estudando a família em seu contexto
e o de maneira isolada. Casey (1992) relata que Frederich Lê Play, em 1871, foi o primeiro
a se preocupar com a organização do lar e o seu formato, limites econômicos e culturais. Os
estudiosos de Lê Play iniciaram uma rica investigação sobre a estrutura familiar, a qual vigora
até o momento, sendo essa uma criação, conceito humano e não um objeto material.
A importância e contribuição da família enquanto sistema busca a compreensão das
experiências das crianças como extensão do relacionamento entre os pais e os irmãos
(MINUCHIN, 1985) e a transmissão desses significados (FARIAS, 2007; KREPPNER, 2000)
e funções ao longo da história.
O estudo histórico sobre famílias no Brasil é recente, sendo, de acordo com Neder
(1998), complexo e pouco realizado, priorizando os laços consangüíneos (FONSECA, 2002;
MALDONADO, 1995). Definir cientificamente a terminologia família, principalmente nos
tempos s-modernidade, é uma tarefa árdua, visto que, atualmente, ela se encontra
diferenciada do modelo familiar tradicional que vigorou por longos anos (DESSEN; BRAZ,
2005a). Os seus relacionamentos difusos tornam cada vez mais difíceis a sua definição
(SARTI, 2005).
No modelo tradicional, um grupo familiar era composto por pai, e e filhos que
surgiam dessa união, sendo que a todos os membros eram atribuídos papéis definidos. Ao pai,
o papel de provedor do sustento familiar e à mãe, a provedora dos cuidados domésticos. No
entanto, mudanças no cenário cio-potico-cultural provocaram alterações na estrutura das
famílias, contribuindo para o surgimento de novos arranjos familiares, sendo esses
indispensáveis ao se referir à análise da família (DESSEN; BRAZ, 2005a; FRANCO, 2004;
MALDONADO, 1995). Outras constituições familiares, de acordo com Dessen e Braz,
(2005a), vêm surgindo nos países do Ocidente. As autoras ainda afirmam que a poligamia é
1. INTRODUÇÃO
17
um exemplo de estrutura familiar onde os homens constituem uma nova família, mantendo
esposa e filhos de um casamento anterior. Não se pode negar tal prática no Brasil.
Pode-se entender a família a partir de concepções que se modificam conforme a
sociedade e época, alterando modelos, podendo existir diferentes tipos familiares em uma
mesma época resultantes do pensamento de um grupo (FARIAS, 2007). Devido às diversas
composições familiares existentes, Dessen e Lewis (1998) apontam para a necessidade de se
ter ciência sobre essa premissa, não sendo possível utilizar todas as variações de família em
um único projeto. No entanto, é primordial conhecer o tipo de família com o qual se
trabalhará (DESSEN; SILVA, 2004).
De acordo com Sawaia (2005), uma pesquisa realizada pela UNICEF, em 2002, com
uma parcela representativa da população jovem brasileira, indicou que 90% desses percebem
a família como a mais importante das instituições, sendo que 70% afirmam que a convivência
familiar traz alegrias. Compreender a família, enquanto sistema exige uma alteração de
programas que são destinados a atender às famílias durante todo o ciclo vital (VICENTE,
1998).
Levar em consideração os papéis e assumí-los no âmbito familiar é também
importante uma vez que o aumento de mulheres no mercado de trabalho tem contribuído para
mudanças no funcionamento do lar principalmente em função desta sobrecarga e que, de
acordo com Arriagada (2000) este funcionamento familiar, em especial das latino-americanas,
acarreta um não compartilhamento de tarefas entre homens e mulheres.
A dinâmica familiar contemporânea, portanto, é resultante de transformações sociais,
econômicas e poticas ocorridas a partir do século XVIII, com o surgimento das indústrias,
gerando um impacto nas relações entre os membros da família (DESSEN; BRAZ, 2005a;
FONSECA, 2002). Essas relações estabelecidas entre pais e filhos influenciam a vida
conjugal e, conseqüentemente, acabam interferindo no próprio desenvolvimento das crianças
(DESSEN; BRAZ, 2005b).
Em nosso país a importância da família enquanto organização social encontra-se
retratada no Brasil através da Constituição e do estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
que preconiza:
É dever da família e da comunidade, da sociedade em geral e do poder
público, assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, à liberdade
e a convivência familiar e comuniria (BRASIL, 1990. art.4).
18
No trabalho de proteção integral à criança e ao adolescente
1
, a família exerce um papel
importante e se um afastamento da criança a sua família, a reintegração deve ser realizada
no menor espaço de tempo para que o se diminua ou favoreça a ruptura dos vínculos
afetivos.
A família é essencial na vida de toda pessoa podendo atuar como fator de proteção
(LINHARES, 2004; SIGOLO, 2004), na medida em que produz um envolvimento
externalizando-o através do afeto, regras claras e responsividade (WEBER, 2007). Patterson
(2002), ainda considera que estes fatores protetores contribuem para resultados competentes
na adaptação familiar, que resultam do próprio indivíduo, da unidade familiar ou dos
múltiplos contextos da comunidade.
Na literatura uma gama de investigações relacionadas ao impacto de diferentes
formas de convívio familiar e não se pode negar o efeito avassalador que a mesma apresenta
diante de situações adversas expondo os seus integrantes aos fatores de risco (BELSKY,
1984; HAUGAARD, 1998; LINHARES, 2004; PATTERSON, 2002; SAPIENZA;
PEDROMÔNICO, 2005; SIGOLO, 2004). Para Weber (2007), a ausência de regras ou a não
definição das mesmas e a negligência, configuram-se como riscos ao desenvolvimento
infantil. Patterson (2002) aponta para as várias maneiras apresentadas pelo indivíduo para a
superação das adversidades em diversos momentos de sua trajetória, em decorrência também
da resiliência. A adaptação é o resultado mais relevante do modelo FAAR - família ajustada e
respostas adaptadas de Patterson 1988, retratado em (2002), porque emerge de uma crise e
uma exposição ao risco.
Berthoud (2002) versa sobre a importância de programas de intervenção que atuem
nas famílias enfatizando o período de adaptação que vai desde o nascimento até as demais
trajetórias pela qual a criança percorre. Para Arriagada (2000), esses programas devem ser
abrangentes a ponto de incluir tanto os novos arranjos familiares quanto as práticas familiares,
nos dizeres de Dessen e Silva (2004), não apenas a criança, mas principalmente toda a
família; quanto maior o número de familiares envolvidos maior a eficácia dos mesmos. Ainda,
as autoras sugerem uma alteração na nomenclatura dos programas de intervenção passando a
configurar como programas de educação familiar.
Resultados positivos de programas de intervenção foram apontados por Juffer,
Bakermans-Kranenburg e van IJvzendoorn (2005), que identificaram em 130 famílias
1
De acordo com o Estatuto da criança e do Adolescente (ECA) a infância compreende a idade de até 11 anos
incompleto e a adolescência de 12 anos aos 18 anos, podendo aplicar-se até os 21 anos (em caso específico na
lei).
19
adotivas a diminuição de comportamentos desorganizados das crianças, cujas mães receberam
o apoio interventivo.
Dessen e Silva (2004) apontaram os principais conceitos tricos e práticos que estão
relacionados aos programas de intervenção que atuam principalmente no desenvolvimento de
crianças de risco, como é o caso do programa de estimulação precoce desenvolvido pela
secretaria do Estado de Educação do Distrito Federal, que atendem crianças de 0 a 4 anos em
situação de risco ou apresentem algum tipo de deficiência.
Ao referir-se sobre as redes de apoio social influenciando o funcionamento parental,
Belsky (1984) e Kreppner (2000) ressaltaram a importância de se prevalecer um bom
relacionamento marital, baseando-se nos resultados de Crnic et al em 1983. Este último
acompanhou um grupo de mães adolescentes que receberam o apoio da família e de um grupo
de mães de neonatos prematuros que receberam apoio de seus companheiros. Observaram a
satisfação do segundo grupo diante desta atitude positiva de interação, concluindo que esses
resultados forneceram indícios relevantes nesta relão. A implementação destes programas
interventivos e preventivos deve considerar as interações das crianças com o seu meio
ambiente, influenciando-se direta e indiretamente prevenindo ou diminuindo seqüelas no
desenvolvimento resultando em mudanças (DUNST, 2005; FORMIGA; PEDRAZZANI,
2004).
Com grande importância e contribuindo para o acolhimento da criança e adolescentes,
surgem neste cenário as famílias de apoio, que possibilitam o vivenciar da dinâmica de vida
em sociedade (FRANCO, 2001).
1.2. Família e seus múltiplos aspectos no processo de desenvolvimento e
estabelecimento de vínculos
Atualmente, a família é retratada dentro de um contexto complexo, sendo esse
o promotor do desenvolvimento primário, da sobrevincia e da socialização da criança,
além de ser um espaço de transmissão da cultura, significado social e conhecimento comum
agregado ao longo das gerações” (DESSEN; BRAZ, 2005a, p.128).
Dentro de uma perspectiva cio-ecológica o desenvolvimento decorre da interação do
ser humano com o ambiente imediato em que este vive, resultando em relações de contextos
mais amplos que se interagem (BRONFENBRENNER, 1996).
Para a compreensão do desenvolvimento entre os diferentes membros no grupo
familiar, devem ser levados em consideração outros fatores, como a influência da escola, a
20
história de vida de cada um (BERRY; BARTH; NEDELL, 1996, DESSEN; BRAZ, 2005a;
GROTEVANT et al., 2006), assim como os recursos psicológicos dos pais, as características
das crianças e os fatores de estresse e apoio oferecidos às famílias (BESLKY, 1984).
As interações estabelecidas entre os membros da família constituem unidades isoladas
de análises, portanto, é necessário descrever o processo de adaptação familiar e como os
diferentes membros influenciam e são influenciados (DESSEN; BRAZ, 2005a).
É no ambiente familiar, portanto, que essas primeiras interações acontecem e quanto
mais eficazes forem esses primeiros cuidados, maior a atuação da família como mecanismo de
proteção diante de situações adversas, promovendo um ambiente satisfatório aos membros do
grupo (DESSEN; BRAZ 2005a; SIGOLO, 2004), permitindo assim, um desenvolvimento
saudável, mantendo vínculos afetivos (BRAZELTON, 1988; BERTHOUD, 1997; KASSOW;
DUNST, 2004; KLAUS e KENNEL, 1993).
Essas interações são necessárias ao desenvolvimento infantil, pois “ao nascer, o ser
humano não dispõe de repertório suficiente para sobreviver sem a participação de um outro
significativo, que supra sua inabilidade para subsistir à sua falta de autonomia(VICENTE,
1998, p.49), mesmo sendo dotadas fisicamente e capazes de aprender, de se vincular,
necessitam de outras pessoas que as auxiliem, pois estão indefesas (ORTIZ; FUENTES;
LOPEZ, 2004).
Essa relação positiva entre cuidador-criança, promovendo uma segurança do apego no
primeiro ano de vida, resulta em uma menor reincincia de problemas sócio-emocionais e
cognitivos nos anos pré-escolares (ZAMBERLAN, 2002).
Estudos durante os dois primeiros anos de vida acompanhados desde o nascimento
com o objetivo de investigar as relações existentes entre mãe e filhos, foram realizados em
1957 por Spitz (2000), retratando a função do afeto influenciando na reciprocidade entre e
e filho, ao qual denominou de diálogo, ação-reação-ação. A presença da mãe age diretamente
como um estímulo para as respostas do bebê desencadeando em outra ação. Também buscou
identificar como as diferenças culturais e de personalidade afetam a criança no decorrer do
primeiro ano.
A partir destes estudos identificando a relação e qualidade da interação entre mãe e
criança na primeira infância, que o status de principal cuidador foi adquirido. No entanto
igualmente os pais começaram a desempenhar este papel de cuidador da criança
(KREPPNER, 2000).
A importância da relação mãe-bebê para a estrutura psíquica da criança, nos primeiros
anos, vem se tornando alvo de novas discussões, pois, de acordo com Nogueira e Costa
21
(2005), a separação e privação materna nos primeiros anos de vida têm sido comparadas a
uma queimadura profunda.
Alguns pais acreditam que o vínculo com o bebê se inicia com o nascimento e de
maneira intensiva, no entanto, o vínculo com o bebê é instintivo, mas não instantâneo e
automático, pois necessita ser construído e depende da relação de apego estabelecida entre
pais e filhos (BRAZELTON, 1988; KLAUS; KENNEL, 1993).
O vínculo foi definido por Bowlby como “a capacidade do indivíduo em buscar
proximidade e contato com uma figura específica” (BOWLBY, 1990, p.198). No entanto,
para manter essa proximidade desejada, o indivíduo utiliza-se de comportamentos de apego,
sendo esses, comportamentos que proporcionem a proximidade com um outro diferenciado.
Os indicadores do apego são acariciar, beijar, aconchegar, tocar (BOWLBY, 1990; KLAUS;
KENNEL, 1993).
O estabelecimento do vínculo afetivo tem a função de proteção e segurança
(BOWLBY, 2001), desenvolvimento (ainda no ventre de sua e) e sobrevivência, após seu
nascimento (KLAUS; KENNEL, 1993).
No início, a e interage com o filho de maneira contínua nos seus primeiros anos de
vida, visto que é com ela que a criaa normalmente estabelece a primeira ligação
(BOWLBY, 2001). Contudo, os cuidados que a mãe oferece à criança devem também ser
complementados por outras figuras. As figuras de apego são aquelas que dispensam cuidados
maternos à criança, não necessariamente sendo oferecidos pela mãe biológica, mas pela
pessoa que desempenha essa função (BOWLBY, 2002).
O comportamento do apego será dirigido para aquela pessoa que propiciar cuidados,
sendo capaz de interagir socialmente com a criança. Uma vez estabelecido o vínculo, o
comportamento do apego tende a se manter por muito tempo e vai se modificando de acordo
com o desenvolvimento global da criança (BERTHOUD, 1997).
A privação de interações pode acontecer de forma parcial, quando a criança não recebe
a atenção e carinho por parte de seus pais biológicos ou substitutos, mesmo que morando
juntos, ou de forma total, quando a criança é isolada do contato com seus pais biológicos, seja
por abandono, neglincia, maus tratos ou entregue aos cuidados de uma instituição
(BOWLBY, 2002).
A importância de um vínculo inicial saudável da criança com sua mãe e os possíveis
efeitos dessa privação foram discutidos e analisados por Bowlby (2002). Os resultados desses
estudos apontaram os perigos da privação e as vantagens dos cuidados dispensados à criança,
identificando que um adulto estabelecerá vínculos futuros saudáveis, em toda e qualquer
22
idade, se for capaz de experimentar relações de apego iniciais. Quanto mais longa for essa
privação, maior será o déficit no desenvolvimento (BOWLBY, 2002).
Revisando a literatura nos últimos 10 anos, Zavaschi et al (2002), encontraram uma
significativa associão entre trauma por perdas na infância e depressão na vida adulta.
Dentre as vivências traumáticas na infância estão as perdas de vínculos afetivos (devido à
morte dos pais ou substitutos) e privação de um ou ambos os pais (por abandono ou
separações).
“A teoria do apego sugere que há uma forte relação causal entre as experiências de um
indivíduo com seus pais e sua capacidade posterior de estabelecer vínculos afetivos.”
(BOWLBY, 2001 p. 178). As primeiras experiências influenciam a capacidade futura para
encontrar ou não uma base segura e a competência em iniciar e manter uma relação. Portanto,
o padrão familiar inicial que se estabelece durante a infância é o que tende a persistir, sendo
esse importante ao desenvolvimento da personalidade, resultando em um funcionamento
saudável ou o (BOWLBY, 2001).
Embora seja mais evidente e estudado durante os primeiros anos, o comportamento do
apego acompanha os seres humanos por toda a vida (BOWLBY, 2001). No decorrer da
existência do indivíduo, os padrões de comportamento vão se modificando e novos
relacionamentos e figuras de apego vão surgindo (BERTHOUD, 1997).
Dessen e Braz (2005b), afirmam que educar um filho envolve sistemas de valores e
crenças dos genitores que, por sua vez, exercem inflncias em seus atos, facilitando ou
dificultando alcançar objetivos que foram traçados para seus filhos.
Portanto, ao estudar a dinâmica familiar, Dessen e Braz (2005a) ressaltam que a
preocupação deve ser direcionada para além da díade mãe-filho e pai-filho, buscando
características que apontem a dinâmica familiar e o seu funcionamento em si. Essa dinâmica
deve voltar-se às peculiaridades dentro da família, tendo como foco os padrões do
relacionamento entre os indivíduos e o grupo familiar e sua inserção no contexto histórico.
Weber (2003) ressalta que entre os resultados de suas pesquisas com famílias adotivas
buscando verificar os motivos adequados ou inadequados no exercício da paternidade adotiva,
evidenciou-se que não correlação entre a motivão dos adotantes e o sucesso da adoção.
Estes dados comprovaram de forma geral, que a construção de vínculos afetivos pode ser tão
evidente na dinâmica familiar deixando para um segundo plano a possível inadequação
presente no casal adotante, possibilitando assim o reconstruir de uma história.
23
1.3. A criança no sistema familiar
Por ser a criança um integrante e estar inserida no ambiente familiar e por essa relação
influenciar o seu desenvolvimento é necessário compreender como ocorre essa interconexão e
como a família pode facilitar ou promover esse desenvolvimento.
O estudo do desenvolvimento humano busca compreender como ocorrem as mudanças
físicas, cognitivas e psico-sociais sofridas pelas crianças desde o seu nascimento e a seqüência
dessas mudanças. O nascimento constitui a primeira mudança bio-socio-comportamental que
a criança vivencia (COLE; COLE, 2004) e ainda, consiste para Brazelton (1994) o primeiro
momento crítico vivenciado por ela. Aos sete meses de gestação o pai e a mãe estão sonhando
com o bebê e imaginando como será. Nesse contexto, Brazelton (1988), Klaus e Kennel
(1993) afirmam ser o nascimento de um filho, um momento desafiador, considerando a
oportunidade que os pais possuem de tornar-se uma família, buscando assim, o crescimento
pessoal.
Brazelton (1994) desenvolveu o mapa das fases iniciais do desenvolvimento infantil
com base em sua experiência profissional com cerca de vinte e cinco mil crianças atendidas
em sua prática de pediatria em Cambridge (MA-EUA). O mapa do desenvolvimento
comportamental e emocional proposto baseia-se nos conceitos de períodos críticos que o autor
aperfeiçoou ao longo do tempo por meio de pesquisas no Children’s Hospital de Boston e em
outras partes do mundo. Estes momentos críticos são universais e previsíveis, sendo, portanto
balizadores para programas avaliativos e preventivos.
De acordo com Schettini (2006), o crescimento integrado da criança depende da
interação entre as suas condições inatas e o adequado ambiente familiar, visto que o
nascimento de uma criança sadia não traz garantia de que a mesma se desenvolverá
satisfatoriamente. Sem o afeto dos pais, ou seus substitutos, o ser humano permanece em uma
espécie de concha psíquica, caracterizando um estado de isolamento emocional muito
semelhante ao autismo. Desta maneira, uma elevação nos escores de afeto desorganizado
(JUFFER; BAKERMANS-KRANENBURG; VAN IJZENDOORN, 2005).
A ciência do desenvolvimento humano, no momento atual, refere-se a um conjunto de
estudos interdisciplinares sobre os fenômenos que ocorrem no decorrer da trajetória humana
(ASPESI; DESSEN; CHAGAS, 2005). As mudanças ocorridas no indivíduo, referentes aos
estágios e trajetória de vida, certamente assumirão características diferenciadas, se analisadas
sob diferentes contextos, produzindo diferentes respostas e conseqüências específicas para
indivíduo e sociedade.
24
Devido à complexidade que envolve as relações familiares, Aspesi, Dessen e Chagas
(2005), apontam que o desenvolvimento humano poderá ser compreendido, se a atenção
estiver voltada para as diferentes relações entre os membros da família inseridas em sua
cultura.
Avaliando os ajustes acadêmicos e psicológicos de um grupo de 130 crianças (65
meninos e 65 meninas) com idade entre 6 e 12 anos (média de 8 anos e 7 meses de idade),
Brodzinsky e Brodzinsky (1992) tiveram como objetivo investigar entre os vários arranjos
familiares (5 ao total, considerando a ordem e a presença de filhos biológicos e adotivos) o
papel da estrutura familiar no ajuste cio familiar e o impacto causado por eles. As famílias
em questão eram de classe média e o tempo de convivência entre as crianças era de 3 dias a 3
anos, sendo que todas tiveram a noção de seu processo de adoção entre os 2 e 4 anos de idade.
As crianças inaptas mentalmente ou emocionalmente foram excluídas do estudo. Todas essas
crianças tinham experimentado um forte rompimento familiar ou separação dos pais, divórcio
ou morte.
Todas as crianças em questão eram americanas, com exceção de 4 crianças (1 oriental,
1 africana e 3 hispânica), residiam em casas de famílias com a mesma etnia. Os cinco grupos
compostos foram: a) filho único (N= 19), b) criaas com irmãos adotivos mais novos (N=
31), c) crianças com irmãos adotivos mais velhos (N=27), d) crianças com irmãos biológicos
mais novos (N= 29), e e) crianças com irmãos biológicos mais velhos (27). Apesar de haver
especulações a respeito da temática sobre a importância da família e os diferentes arranjos
para o subseqüente ajuste da criança adotiva, não foram encontrados dados consistentes que
ressaltassem esse impacto.
Esse recrutamento dos pais foi realizado de maneira voluntária permitindo ter uma
representação de uma ampla área geográfica. Ainda para este estudo, os ajustes foram
medidos por meio de quatro diferentes escalas, sendo realizados com três diferentes
avaliadores (pais, professores e crianças). As avaliações maternas foram realizadas através do
Child Behavior Checklist (CBC), por meio de uma listagem, verificando o comportamento da
criança e através da Adoption Adjustment Scale (AAS) o ajuste da adoção. As avaliações dos
professores foram realizadas através da Hahnemann Elementary School Behavior Rating
Scale (HESB), verificando o comportamento das crianças na escola e através da Adoption
Belief Scale (ABS), verificando a opinião das criaas sobre a adoção.
Os resultados não indicaram nenhuma diferença entre as várias estruturas, em várias
adoções, regiões demográficas, saúde, diversas estruturas familiares, idade e sexo da criança.
No entanto, no que se refere à idade em que as crianças foram adotadas houve diferenças. As
25
crianças com irmãos biológicos mais velhos foram adotadas mais tarde (média de 6 anos) do
que as crianças com irmãos mais novos (média de 2 anos). Os filhos únicos foram adotados
com 5 anos de idade. Os resultados apontaram para apenas uma única diferença aumentando o
risco de comportamento, para os filhos únicos e para as crianças que foram adotadas
primeiramente. A análise do estudo sugere que as crianças adotadas e colocadas na família e a
presença de filhos biológicos na família adotiva tenham relativamente pouca inflncia no
ajuste de crianças adotadas e de seus pais, ao menos nas situações em que envolvam a
colocação da adoção tardia e nas famílias compostas dos pais e das crianças não compatíveis
em etnia.
Ao relatar a influência dos irmãos no desenvolvimento de crianças e adolescentes,
Pinquart e Silbereisen (2005), fizeram uma revisão das principais teorias que explicam o
desenvolvimento da família e das crianças, destacando entre elas: a) a teoria sistêmica de Lerd
e Ford, onde o desenvolvimento é proporcionado em um contexto multidimensional sendo
que o comportamento dos pais e irmãos no desenvolvimento de uma criança é influenciado
pela criança e pelo contexto biopsicossocial. De acordo com a estrutura genética, o
desenvolvimento humano é resultado da interação entre genes e o meio ambiente tendo como
representante Scarr, que evidencia que genes e ambientes normais promovem
desenvolvimento típico da espécie. No entanto, não se pode negar a influência dos pais
exercendo influência sobre o comportamento dos filhos e não apenas fatores genéticos
(MACCOBY, 2000).
Considerando o impacto das inflncias dos iros no desenvolvimento da criança, as
teorias têm focado principalmente as estruturas familiares como o número de iros e a
ordem do nascimento, no entanto para Pinquart e Silbereisen (2005) é necessário muito mais
do que esta prática para poder avaliar como se a dinâmica familiar com a chegada de um
irmão.
1.4 - Crianças institucionalizadas
Uma criança, exposta aos riscos enquanto pequena, possivelmente terá aumentada a
possibilidade de desenvolver problemas futuros. No entanto, cada fator de risco envolve
mecanismos de risco, que poderão ou não desencadear efeitos negativos. A exposição a
determinados fatores configuram em possibilidades de reações adversas ao desenvolvimento
(LINHARES, 2004), ocasionando nos indivíduos condições adaptativas ou expondo-o a
situações de risco maior (REPPOLD et al., 2002).
26
Fatores de risco são condições ou variáveis que estão associadas a uma alta
probabilidade de ocorrência de resultados negativos ou indesejáveis
(REPPOLD et al., 2002, p. 11).
Pesquisas apontam que podem ser identificados diferentes tipos de risco. Como é o
caso de bebês prematuros e das crianças que vivem em condições de pobreza extrema,
(KEOGH, 2000; SAPIENZA; PEDROMÔNICO, 2005).
Nestes casos, o impacto das condições familiares, sociais e econômicas produz alguns
resultados negativos, principalmente, se forem comparadas às vantagens que uma criança com
maiores condições financeira apresenta em relação a crianças mais pobres. Essas apresentam
chances menores de obter êxito educacional, costumam ter trabalho menos rendoso quando
adulto e, por fim, apresentam mais problemas de comportamento (KEOGH, 2000).
A realidade brasileira, muitas vezes, oferece restritas oportunidades ao indivíduo,
impedindo o seu pleno desenvolvimento, sendo o mesmo pouco atendido em suas
necessidades básicas. Sabe-se também, que alterações seriam necessárias para promover
transformações na sociedade que resultassem em novas poticas blicas de saúde e
educação, associadas ao efetivo cumprimento da lei (CARVALHO; GOMIDE, 2005).
De acordo com Pedromônico (2004), que discutiu as causas psicossociais que possam
estar ligadas ao retardo mental (sem etiologia conhecida), afirmando ter no Brasil, problemas
de ordem econômica e social que repercutem no desenvolvimento humano, apontando dados
estatísticos da renda percápita. Atualmente, de acordo com a referida autora, cerca de, 27% da
população vive com renda inferior a 2 salários nimos, 24,9% dos indivíduos tem
escolaridade inferior a 4 anos de estudo.
Muitas famílias estão expostas a situações adversas, não sendo possível a criança e
adolescente serem criados em sua família biológica, neste caso a lei assegura, de acordo com
o Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 19) que eles possam ser inseridos em uma família
substituta desde que esgotadas as possibilidades de permanecerem na família de origem (art.
92). O processo da inserção de uma criança em um novo lar inicia-se com a adoção e em caso
de espera são encaminhadas para abrigos.
O Levantamento Nacional de abrigos para Crianças e Adolescentes, realizado pelo
Instituto de Pesquisa Ecomica Aplicada (IPEA) e promovido pela Secretaria Nacional dos
Direitos Humanos (SNDH), por meio do Conselho Nacional de Direitos da criança e do
Adolescente (CONANDA), buscou um panorama dos serviços prestados dos abrigos
beneficiados com recursos financeiros do Governo Federal, Rede de Serviços de Ação
27
Continuada (Rede SAC), com o intuito de gerar resultados para novas ações de poticas
públicas no país (IPEA, 2003). As diretrizes convergem para que as instituições busquem
oferecer um acolhimento que seja o mais semelhante possível ao familiar (IPEA, 2003;
FRANCO, 2004)
Desta maneira, compuseram a pesquisa detalhada acima, 626 instituições em todo o
Território Nacional, destas, 589 ofereciam programa de apoio a crianças e adolescentes em
situação de risco pessoal ou social sendo que do total destes, aproximadamente metade, situa-
se na região sudeste (49%), região sul (20,7%) e nordeste (19%). Comparando-se esses
resultados com os encontrados em Schettini (2007), que buscou identificar na representação
Nacional as dificuldades dos pais no processo educativo de seus filhos, pode-se observar que
para os seus resultados, a região Nordeste obteve maior índice de adoções precoces (36%),
seguida da região sudeste (29,5%), região sul (21%), centro-oeste (7,5%) e norte (6%). Em
relação à distribuição das adoções tardias o maior índice foi encontrado na região sul e
sudeste (32,5%), nordeste (19%), centro-oeste (11%) e norte (5%).
A maior parte dos abrigos beneficiados encontra-se no Estado de São Paulo (34,1%).
De maneira geral, são abrigos não governamentais (65%), mais da metade (58.6%) foram
criados a partir de 1990, anos da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA). Apenas 12,6% apresentam instalações adaptadas para as pessoas com necessidades
especiais.
Os abrigos pesquisados atendem aproximadamente 20 mil crianças na maioria (58,5%)
são meninos, afro-descendentes (63,6%) entre 7 e 15 anos de idade (61,3%). O tempo de
permanência no abrigo variou de 7 meses a 5 anos, sendo o índice mais significativo de 2 a 5
anos de idade (32,9%), mesmo diante do estabelecimento do abrigo como medida de proteção
excepcional e provisória.
Há o incentivo de convivência dos abrigados com seus familiares (68,6% destes
abrigos promoveram visitas das crianças aos lares e 43,1% permitem visitas dos familiares às
instituições). Ainda, quando se fala em preservação de vínculos, a indicação de preservar
os irmãos em regime de abrigamento conjunto, sendo que a separação pode agravar a
sensação do abandono e rompimento de nculos o que seria um reviver do afastamento.
Pode-se perceber que 66,4% priorizaram a permanência de irmão e 53% realizaram o
agrupamento vertical que consiste em uma diferença de até 10 anos entre os irmãos, desta
maneira os que se adéquam a essa faixa permanecem juntos.
28
Como apontado anteriormente no levantamento sobre os abrigos (IPEA, 2003), a
maior parte dos beneficiados estão em São Paulo, desta maneira é mister apontar alguns dados
de estudos realizados, o que elucidaria com maior precisão a situação dos abrigos.
Os resultados que serão evidenciados é de um estudo coordenado pelo Núcleo da
Criança e do Adolescente (NAC/PUC SP) e pela Associação de Assistentes Sociais do
Tribunal de Justiça de São Paulo (AASPTJ-SP) com o apoio da Secretaria Municipal de
Assistência Social de São Paulo (SAS) e Fundação Orsa
2
(realizado no período de 2002-
2003). Este estudo verificou o índice de 190 abrigos na cidade de São Paulo e visitou 185
abrigos, com o total de 4847 crianças vivendo neste espaço (OLIVEIRA, 2004). A
expectativa quanto ao retorno da criança à sua família foi de 73%, sendo que o principal
entrave foi gerado pela condição financeira das famílias. Neste cenário institucional, que é
realidade de muitas crianças e adolescentes no país, muitos questionamentos ainda persistem,
pois conforme os resultados do IPEA (IPEA, 2003) a maioria (86,7%) dessas crianças tinham
famílias, sendo que 58,2% mantinham vínculos familiares.
Dados do levantamento nacional (IPEA, 2003) sobre os motivos para o abrigamento
indicaram que: em 24,2% pobreza e em 18,9 % o abandono, 11,7% violência doméstica,
11,4% depenncia química e especificamente na pesquisa do Estado de São Paulo - SP
22,3% abandono e negligencia e 18,8% problemas relacionados à saúde, situação financeira
precária, falta de trabalho e moradia da população; violência doméstica (10,3%) uso de drogas
e álcool por parte dos familiares (9,8%).
No entanto, para Melo (2007), as respostas a estas indagações não são tão simplistas
de serem avaliadas, visto que as razões do abrigamento são realizadas por inúmeras
motivações, sendo apontada por Guará (2005) a pobreza como a principal delas, mas o que
o se justifica por tal ação. Ainda, referente a esta situação, os recursos das famílias são
deficitários e deveriam proporcionar condições de mudanças no ambiente familiar tornando-o
procio ao acolhimento e retorno da criança ao lar.
2
A Fundação Orsa atua na área de Educação com projetos que visam o fortalecimento de políticas públicas
destinadas tanto a crianças e adolescentes, quanto à capacitação de profissionais do ramo. Por intermédio de
atividades educativas nos campos da arte, esporte e cultura e lançando mão da gestão compartilhada de Centros
de Educação Infantil (CEI), a Fundação gera parcerias com prefeituras, iniciativa privada, ONGs e com as
próprias comunidades. Disponível em: http://www.fundacaoorsa.org.br/web/pt/atuacao/educacao/index.htm
29
Diante do exposto, o que vemos são crianças e adolescentes que não encontraram na
família biológica um ambiente acolhedor. São vítimas, muitas vezes, do desamor e do
desrespeito, frutos de relacionamentos não estáveis, agressivos e violentos. Restam-lhes
poucas condições de sobreviverem com suas famílias biológicas, sendo retirados das mesmas,
por falta de cuidados e, dessa maneira, acolhidos em instituições.
Weber (1995, 1998) ressaltou os resultados de seus estudos anteriores sobre a criança
abandonada (Weber; Gagno, 1995; Weber; Kossobudzki, 1996) a existência de milhares delas
institucionalizadas apesar de não serem abandonadas “de direito (os pais ainda detém o
Pátrio Poder), estão sim abandonadas “de fato”, pois foram esquecidas por suas famílias
biológicas.
Ao dar vozes às crianças residentes em instituições de Curitiba, Weber (1995) em seus
estudos anteriores (Weber; Gagno, 1995), evidenciou que estas crianças não possuíam
vínculos com seus pais no nimo um ano. A maioria delas, institucionalizada mais de
3 anos e cerca de 70% nunca receberam a visita de seus pais.
Crianças institucionalizadas apresentam em sua história de vida as marcas do
abandono, da negligência ou maus tratos vividos anteriormente ao abrigamento (MOTTA,
2001; WEBER, 1995). Abandono este não somente vivido pelos pais, mas referente ao estado
e a sociedade em geral (WEBER, 1995). As conseqüências dessas marcas, causadas pela
dificuldade dos pais em manterem uma relão segura com os seus filhos, foram apontadas
nos estudos de Ammerman et al (1986). Entre essas conseqüências estão os transtornos de
comportamento, psicopatologias, disfunções cognitivas, funcionamento intelectual reduzido,
déficits nas habilidades sócio-emocionais e dificuldades no comportamento social.
Assim sendo, as condições impostas pela institucionalização, associadas a sua história
de vida (mau trato, abuso físico, negligência ou abandono) podem, no geral, propiciar-lhes
uma dificuldade para integrar e regular seus afetos e comportamentos, na medida em que seus
pais falharam em promover relações seguras e confiáveis (BARNETT, 1997; GROTEVANT
et al., 2006; KIRBY; HARDESTY, 1998; ZAVASCHI et al., 2002), vivenciando situações
complexas que implicam em riscos à integridade física ou psíquica (PAIVA, 2004).
Com o intuito de investigar a incidência de distúrbios psiquiátricos decorrentes da
institucionalização, Abreu (2001) realizou uma avalião psiquiátrica em 63 crianças e jovens
com idade entre 11 e 17 anos, moradores em orfanatos (instituições que abrigam menores no
interior do Estado de São Paulo) e comparou os resultados obtidos com um grupo de crianças
em igual número, que viviam com suas famílias. A autora constatou que 49% das crianças
moradoras em instituições apresentaram algum tipo de transtorno psiquiátrico, sendo que
30
14,3% das crianças que viviam com a família apresentaram algum transtorno. Em ambos os
grupos, a depressão foi o transtorno psiquiátrico que obteve maior freqüência (28,6% no
primeiro grupo e 8% no segundo grupo)
.
A deficiência (retardo) mental leve foi encontrada
em 11% das crianças institucionalizadas, contra 6,3% das que viviam com suas famílias. Com
menor freqüência foram detectadas, apenas entre as crianças moradoras dos orfanatos, a
hiperatividade (4,8%) e a ansiedade (3,2%).
Os resultados dos estudos de Abreu (2001) afirmam que as crianças moradoras em
orfanatos têm seis vezes mais chances de desenvolver transtornos psiqutricos do que as
crianças que vivem com suas famílias.
Frente ao exposto, pode-se entender que os riscos seriam minimizados se o ambiente
institucional fosse apropriado para acolher as crianças, proporcionando-lhes condições
satisfatórias ao seu desenvolvimento. Dessa forma, é importante ressaltar que algumas
pesquisas apontam para a necessidade de capacitação e formação dos profissionais que atuam
dentro das instituições, nas quais possam ser atendidas as especificidades de cada criança.
Crianças que tiveram uma vida difícil podem apresentar muitas dificuldades
de adaptação e de aproveitamento na escola e precisam de apoio para superá-
las. O reforço na aprendizagem e o apoio pedagógico são importantes, mas
insuficientes, para o sucesso acadêmico das crianças. Elas precisam de
educadores que as tornem confiantes, que visitem seus professores,
mostrando-se interessados nelas. Precisam de experiências de aprendizagem
além da escola, de oportunidade para desenvolver talentos esportivos e
musicais que forjam competências facilitadoras de novas aprendizagens
(GUARÁ, 2007, p. 5).
O abrigo para Arola (2000) não é um contexto escolar e, portanto, as relações devem
ser estabelecidas tanto com a família como a escola, sendo que a família não deve ser afastada
da escola. Nem sempre os abrigos têm dado a devida importância ao ensino fundamental não
exigindo com rigor o acompanhamento das crianças. “Os processos educativos são um
conjunto de influencias que moldam o desenvolvimento dos seres humanos” (AROLA, 2000,
p. 111).
Costa (2006), em seu estudo descreveu a situação de abrigamento através da
perspectiva da criança. Ao entrevistar crianças e seus cuidadores mais próximos, o autor
destacou que aquelas se referem ao abrigo como uma situação permeada pela violência,
seguida pela perda das figuras de referência. Spina (2001) aponta para uma falha da
instituição, visto que não aborda a história de vida anterior da criança de forma mais ampla.
Apropiar-se de sua história é um direito que toda criança e adolescente tem
.
31
Na infância, tecem-se os fios da identidade, a memória das coisas, das
oportunidades abertas ou fechadas, que conformam o que somos e o que
podemos ser num campo simbólico de boas lembranças e também de
esquecimentos (GUARA, 2007, p. 4)
Deve-se ter em mente que não é possível apagar a história de vida anterior da criança,
devendo dar a ela oportunidade de expressar seus sentimentos de perda e dor (WEBER, 1999)
valorizando e incentivando a manutenção de vínculos familiares, mesmo porque elas
evidenciam o desejo de retornarem a sua família de origem (OLIVEIRA, 2001).
Alexandre e Vieira (2004) realizaram um estudo, cujo objetivo foi identificar a relação
de apego entre crianças institucionalizadas que vivem em situação de abrigo. Contaram com a
participação de 14 crianças de ambos os sexos, com idade entre 3 e 9 anos. Seus estudos
evidenciaram que as crianças abrigadas sentem forte desejo em manter vínculos com sua mãe
ou familiares, sonhando com o dia em que voltarão para tirá-las do abrigo, desejando
ardentemente serem amadas e acolhidas em casa pela mesma. Na falta da presença
significativa de um adulto, as crianças institucionalizadas acabam formando relações de apego
umas com as outras, principalmente entre os irmãos.
Toda criança tem o direito de conviver e se desenvolver no seio de sua família e,
assim, também determina o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990). Mas nem
sempre isso é possível e o que acaba se tornando realidade é o aumento de crianças
institucionalizadas à espera de uma família que substitua o amor e os laços afetivos que foram
rompidos, ou até mesmo nem sequer construídos.
1.5. Adoção tardia
Antes mesmo que a adoção tardia terminologia utilizada para definir crianças que
foram adotadas depois dos 2 anos de idade (CAMARGO, 2005; EBRAHIM, 1999;
VARGAS, 1998, 2006; WEBER 2001) - seja evidenciada, tornam-se necessárias algumas
considerações norteadoras desta prática e de todos os fatores envolvidos, desde as relações
afetivas da criança em seu convívio biológico, passando pela situação de abandono (sendo
esta efetivada espontaneamente pelos pais, ou por meio da decisão judicial) e
institucionalização até a colocação da criança em família substituta, rumo à adoção.
Na maioria dos casos de adoção uma situação de abandono, separação ou
interrupção de algum vínculo (PAIVA, 2004). Nesse sentido, necessidade de se verificar o
percurso da criança adotiva, visto que em grande maioria foramtimas de maus-tratos,
32
abandonos, abusos ou rejeição familiar.
Os pais que embarcam na espera da adoção trazem consigo uma gama de sentimentos.
Receiam não conseguir educar os filhos, não ser compreendidos por eles e o estabelecer
laços afetivos (MALDONADO, 1995; WEBER, 1997, 2001), temendo o aprender a amar.
Essas crenças e temores acabam colaborando para que os casais adotem crianças recém-
nascidas, motivados pelo desejo de evitar possíveis frustrações e fracassos (CAMARGO,
2006; DIAS, 2006; HAMAD, 2002).
Refletir sobre suas motivações, riscos, desejos, medos, tomando ciência de seus
limites e suas reais expectativas é uma preparação necessária a todos os pais que se preparam
para ter um filho, seja ele biológico ou adotivo (WEBER, 2003). Ainda no dizer da autora, os
pais devem estar preparados para não sofrerem com a não semelhança física de um filho
adotivo porque os filhos representam a perpetuação da espécie e em nosso país cultua-se o
valor supremo da cultura dos laços de sangue, a fisionomia, buscando até mesmo entre os
genitores e seus filhos semelhanças que não existem.
A adoção implica em um investimento do casal, que deseja em conjunto a
concretização deste projeto. São pais e mães que esperam uma criança que nunca será carne
de sua carne, mas filho do seu desejo e exercerão assim a função paterna que não é sinônimo
de pais e mães biológicos, mas sim aqueles que ocupam um papel importante na vida da
criança (HAMAD, 2002).
Para isto, os pais também devem se despir de toda forma preconceituosa em agir. De
acordo com Weber (2003) o preconceito é uma concepção que por ser formada
antecipadamente, não apresenta fundamentação e reflexão, onde reina a inexistência e
concordância dos fatos. Ainda segundo a autora, a sociedade cria preconceitos na tentativa de
excluir o diferente tentando dessa maneira garantir a sua normalidade. Na realidade o
preconceito seja ele de maneira consciente ou o, surge em decorrência do medo, do
diferente e aquilo que não é igual a nós, não refletindo a nossa imagem conforme gostaríamos
(encontrar no outro a própria identidade).
No entanto, de acordo com Weber (1997), raras são as pessoas que se preparam para
conceber um filho biológico. Comenta-se sobre a necessidade de preparar as famílias para
assumirem a paternidade adotiva e nada se relata sobre a necessidade de preparar as famílias
para a concepção de um filho biológico, sendo que esta também deveria ser realizada evitando
tantos abandonos. Ainda no que se refere à preparação para o recebimento de um filho,
Hamad (2002) aponta que diferenças na maneira como os pais (homem e mulher) acolhem
seus filhos, seja este adotivo ou biológico.
33
Nos dizeres de Maldonado (1995), ao citar Bernard This, afirma:
Todos somos pais adotivos. Mesmo gerando filhos, precisamos
adotar a criança real que nasce, que é diferente – em maior ou menor
grau - do filho dos sonhos e dos desejos: por seu lado, os filhos
mesmo os biológicos precisam adotar os pais reais, que também
são diferentes dos pais dos sonhos e desejos. Dessa forma, qualquer
que seja a composição familiar, estamos falando de um processo de
adoção amorosa que pode acontecer, deixar de acontecer, voltar a
acontecer ou jamais acontecer. Essa adoção depende da
possibilidade de aceitar que, nas pessoas que se encontram, laços
a serem cuidados, embora nem se saiba de onde venham. Mas há um
propósito inscrito em sua existência. Cabe a nós cuidar de tudo da
melhor maneira possível, passo importante para a evolução de todos
(MALDONADO, 1995, p. 100).
A adoção de acordo com Vargas (1998, 2006) apresenta características especiais, por
ser mais difícil de se concretizar. preconceito no que se refere à adoção tardia, à adoção
de crianças com necessidades especiais ou graves problemas de saúde e a adoção multirracial.
Quanto mais tardia a adoção, mais vivas serão as lembraas do passado e mais enraizadas na
sua memória as ilusões, sonhos, desejos e frustrações dos anos de abandono (ANDREI,
2001).
Um dos obstáculos que impedem a concretização de adoções de crianças com maior
idade são os mitos, crenças e expectativas negativas associadas à prática da adoção tardia
(VITAL, 2005). Camargo (2005) apresenta os resultados de Almeida (2003), onde 76,19%
desejavam crianças brancas; 72,36% que a idade da criança fosse inferior a 2 anos; 61,90%
o tinham interesse em criança portadora do rus da Aids e 50,79% optaram por menina.
Esses dados locais, de acordo com Camargo (2006), correspondem aos nacionais. Esses
números ajudam a caracterizar o perfil das crianças "não adotáveis" no contexto social
brasileiro, crianças com idade superior a 2 anos, mulatas ou negras, que por não serem
adotadas no país de origem, acabam encontrando um lar estrangeiro através da adoção
internacional (WEBER, 2001).
Pesquisas nacionais de Maldonado (1995), Vargas (1998), Beffa e Pocay (1999) e
Weber (1999, 2001) apontam a preferência brasileira na adoção de crianças recém-nascidas,
com cor de pele igual a da família adotante e de preferência do sexo feminino (CASEIRO,
2007; CASSIN, 2000; PAIVA, 2004; SCHETTINI, 1998; SCHETTINI, 2007; VITAL, 2005;
WEBER, 2001), pois as mulheres são vistas como mais ceis, apresentando melhor
adaptação aos novos ambientes. De acordo com Hamad (2002) os postulantes a adoção
desejam uma menina, pois é mais fácil a criação, em relação aos meninos. A menina entra em
34
menos rivalidade com o pai, deixando assim transparecer através de um desejo e uma escolha
consciente, a revelação de uma verdade inconsciente. Essas pesquisas também ressaltam o
receio quanto à realização de adoções tardias, embasadas no temor que muitos pais
apresentam perante as atitudes das crianças.
Esses sentimentos atribuídos às crianças, conforme ressalta Costa (2005), relacionam-
se também às representações de maternidade e paternidade que valorizam o vínculo com o
filho biológico. Os pais acreditam que uma criança maior já tenha um caráter formado
enquanto que um bebê ou uma criança pequena representa a possibilidade de inserção de sua
própria imagem de pai, ou seja, de inserir nesta a sua própria história (HAMAD, 2002).
Conforme pode ser encontrado em seus relatos (ANDREI, 1999), a adoção tardia e a
adoção precoce são fontes de realização familiar, sendo que em ambos os casos é necessário
ter indistintamente um coração aberto e as mãos estendidas. A grande diferea entre os dois
tipos de adoção é que na adoção precoce prevalece o coração e na adoção tardia prevalecem
os braços abertos, protetores e firmes.
O número de pesquisas no âmbito nacional apesar de ter aumentado, ainda está
vagaroso para a supremacia que o assunto merece, sendo necessário dar créditos às pesquisas
como conhecimento produzido tornando mais evidente os aspectos que necessitam de uma
ação preventiva (WEBER, 2003).
No entanto, devido ao reduzido índice de estudos no âmbito nacional sobre a prática
da adoção tardia, o que desperta o interesse e a necessidade de novas pesquisas, faz-se
necessário evidenciar os estudos realizados, em âmbito nacional, sobre a adoção tardia.
O estudo de Vargas (1998) pode ser considerado o pioneiro no campo de adoções
tardias, revelando algumas igualdades em todos os processos de adoção. As crianças adotivas
apresentaram, logo após a fase de adoção, um comportamento regressivo (voltando a estágios
anteriores à sua idade de desenvolvimento global) e agressivo (que surge geralmente logo
após a fase de encantamento mútuo); um acelerado ritmo de desenvolvimento, se comparado
com padrões considerados normais, e um esforço significativo para se identificar com os
novos padrões de comportamento familiar, passando a imitá-los. Os resultados de seus
estudos apontaram também, para o enfrentamento do preconceito social vivido pelos
adotantes, devido à prática da adoção e pelo fato de a criança em questão ser “grande”.
Ebrahim (1999) realizou um estudo comparativo com casais que efetuaram adoção
tardia e casais que adotaram bebês, para verificar semelhanças e diferenças entre os grupos.
Os resultados indicaram que os adotantes de crianças mais velhas apresentam um nível sócio-
econômico superior e maior freqüência de filhos biológicos. Utilizando instrumentos de
35
avaliação da personalidade, verificou-se que os adotantes de crianças com maior idade
mostraram maior maturidade e estabilidade, sendo também mais altruístas do que casais que
realizaram adoções convencionais ou de recém-nascidos.
Ao investigar os sentidos relacionados à maternidade e paternidade no contexto da
adoção tardia, Costa (2005) entrevistou quatro casais que ela acompanhou durante um ano.
Evidenciou o significado do tornar-se pai e mãe por via da adoção. Seu foco de atenção recaiu
sobre um casal que realizou uma adoção tardia de um grupo de irmãos, seguida quase que
simultaneamente pela gravidez e nascimento de um filho biológico. Também esse casal foi o
foco, por ser o único que pode acompanhar a colocação das crianças, ainda no período de
convivência. A autora aponta que há dois momentos distintos nessa prática. O primeiro
momento é marcado pela relação com uma criança imaginária e o segundo momento com a
chegada concreta da criança, ocupando o lugar de filho. Ela ressalta que qualquer senso de
maternidade e paternidade é produzido dentro de um contexto relacional amplo, desta forma,
são as interações entre o casal e a criança que evidenciam processos dialógicos de construção
da maternidade e paternidade, ou seja, tornar-se pai e mãe.
Especialmente na adoção tardia é de fundamental importância que seja efetuada a
preparação e acompanhamento da dinâmica familiar. Vargas (1998) afirma ser necessário um
trabalho de preparação das famílias para que elas possam adequar a imagem idealizada de
família à verdadeira família possível. A dificuldade ou o da
criança estabelecer novos vínculos estaria, basicamente, relacionada com a possibilidade de
expressão e atendimento, pelos pais adotivos, de suas necessidades emocionais mais
primitivas, ou seja, de ser gestada novamente, de se mostrar indefesa, de requerer atenção, de
renegar essa atenção. Enfim, de refazer todo o caminho para a construção de seu novo eu, a
partir dos novos modelos parentais.
Costa (2005) também relata ser necessária uma rede social de apoio, um espaço onde
os pais adotivos possam falar de suas dificuldades em tornar-se pai e mãe, na qual possa ser
realizado um acompanhamento aos pais durante o processo da adoção. Ressalta, ainda, a
necessidade de novos estudos que investiguem a construção da maternidade e paternidade em
adoções tardias, a fim de que a nova cultura da adoção comporte um novo projeto familiar,
atribuindo novos sentidos ao papel de pai e mãe.
Focando-se na questão da cultura da adoção ao serem analisadas as adoções nacionais
como as adoções internacionais que foram realizadas pelo Juizado de Infância e Juventude de
Curitiba, Weber (1998) retratou que a maioria das pessoas foi motivada pelo desejo em
adotar, visto que não conseguiram ter filhos biológicos, ou do próprio sangue, conforme a
36
autora. Esteve em evidência dessa maneira a adoção clássica em detrimento da adoção
moderna. A adoção clássica consiste em encontrar filhos para quem não pode tê-los
biologicamente e na adoção moderna cultua-se a necessidade de encontrar pais para as
crianças abandonadas.
A cultura da adoção caminhará à medida que estudos sejam realizados com os atores
desse processo, assim como os profissionais que atuam nessa área. Nessa perspectiva, Viana
(2000) realizou estudo entre os que atuam no Fórum (psicólogos e assistentes sociais), com o
intuito de verificar quais os motivos alegados pelos pais, para a devolução da criança.
Os resultados de Viana (2000) indicaram que a motivação que levou esses pais a
devolverem a criança, ainda no estágio de convivência ou na adoção efetivada, deu-se em
função dos comportamentos de rebeldia e desobediência da criança, impossibilitando a
formação de vínculos afetivos. Entretanto, na perspectiva dos profissionais, o insucesso desse
processo decorreu em razão do despreparo por parte dos adotantes.
Viana (2000) aponta também para a relevância de fornecer auxílio aos casais durante o
processo da adoção, para que possam estar preparados em efetuar as adoções e minimizar as
chances de ocorrer uma devolução. As causas que levam os pais a devolverem as crianças,
seja no período de guarda, no período de convincia ou na adoção efetivada, necessitam ser
estudadas para que se tenha uma compreensão a respeito dessas devoluções.
Com a finalidade de estudar o processo da devolução de crianças, buscando identificar
como os atores ou envolvidos nesse processo (equipe técnica, juízes, abrigo, conselho tutelar)
descrevem o caminho da ruptura de vínculos, Spina (2001) evidenciou a fragilidade dos
envolvidos e suas angústias em lidar com o que não deu certo, ou seja, a devolução de
crianças. Contudo, seus estudos apontaram a necessidade dos profissionais estarem atentos em
ouvir o discurso desestruturado dos participantes desse processo (ex-adotantes e adotados).
Na verdade, os pais adotivos devem estar preparados quanto aos receios e também a
certa hostilidade por parte da criança, podendo até demonstrar sentimentos contrários aos que
sente, justamente por medo de ser abandonada novamente, evitando dessa forma um apego.
Os pais adotivos devem ser orientados quanto às possíveis reações dessas crianças, para que
tais atitudes o sejam consideradas como rejeição e acabem decidindo, antecipadamente,
pela devolução (ANDREI, 2001).
Em seu estudo sobre paternidade e maternidade adotiva, Costa (2005), ressaltou a
morosidade do processo de adoção ao se referir à destituição do poder familiar. Afirma ser
necessário atentar-se para a tensão com que os pais adotivos enfrentam esse período de guarda
proviria, denominando-o como um “período de limbo, frágil, em que se negociam e se
37
constroem vínculos de maternidade, paternidade e filiação, onde todos os envolvidos sabem
da possibilidade da devolução” (COSTA, 2005, p. 177).
Existem crianças que passam a vida toda na instituição à espera de uma adoção, sendo
esse um processo mais doloroso, e temem uma nova frustração. Ao receber carinho e atenção,
elas se afastam e reagem com indiferença, sendo inicialmente difícil estabelecer vínculos com
os pais adotivos. Para que ocorra a identificação da criança com sua mãe adotiva, ela
necessita, primeiramente, elaborar o luto da perda de sua mãe biológica (ANZIEU, 2000). No
entanto, para Weber (2003), os resultados de seus estudos têm mostrado que o luto pode não
existir porque em muitos casos, não houve uma vinculação, visto que uma criança
abandonada ainda bebê nunca se ligou afetivamente à sua mãe biológica. Para Hamad (2002),
luto diante de uma perda e na medida em que esta ocorre à adoção pode ser contada,
como qualquer história para a criança em uma relação normal com seus pais.
No âmbito do contexto nacional, além de poucas pesquisas existentes sobre adoção, a
maioria das publicações descreve quadros clínicos e psiquiátricos, associando adoção a
problemas e fracassos (WEBER, 1996; 2000). Apesar do avanço científico, carência de
produção de conhecimento sobre o tema, especificamente na adoção tardia, podendo ser esse
um possível reflexo do preconceito que a sociedade mantém sobre o assunto (VARGAS,
1998).
Frente ao número reduzido de pesquisas dentro dessa temática no Brasil, apreende-se
que a maior parte dos estudos são oriundos dos EUA. Os autores americanos, em grande
parte, estabelecem comparações entre grupo de criaas adotadas e grupo de crianças o
adotadas, estudando o adotante e não aquele que é adotado (EBRAHIM, 1999). Exemplo
dessas análises pode ser encontrada em Brodzinsky et al (1984); Haugaard (1998); Moore e
Fombonne, (1999), que realizaram estudos comparativos entre pessoas adotivas e não
adotivas, sendo que os resultados apontaram para maior incidência de pessoas com
necessidades de atendimento psicológico, tendo elevado o risco para problemas de
comportamento.
Ainda neste cenário, de acordo com Mariano e Ferreira-Rosseti (2008), alguns atores
como as crianças adotivas, os pais adotivos e a equipe de profissionais são os mais estudados
em detrimento aos estudos que buscam verificar a motivação dos pais biológicos na entrega
de um filho para a adoção
Beffa e Pocay (1999), profissionais do Judiciário na área da Infância e Juventude,
inquietas com o abandono que suscita a adoção tardia, realizaram pesquisa analisando os
processos de pedidos de adoção na Comarca de Ourinhos SP entre os anos de 1990 e 1996,
38
constatando que o número de crianças adotadas tardiamente foi bastante significativo. Ao
entrevistar pais e mães que realizaram essas adoções puderam constatar que as crianças
passaram a ocupar um espaço dentro da dinâmica familiar tornando possível o
estabelecimento de novos vínculos.
A adoção tardia provoca dentro de nossa cultura os maiores impactos, pois ela é nítida
no sentido de que não o que esconder tudo é exposto (VARGAS, 1998, pag. 35). As
diferenças são óbvias (SCHETTINI, 2007), visto que a criança já sabe sobre a sua trajetória
de vida e tem consciência de sua identidade adotiva.
Vargas (1998) aponta os resultados de estudos Franceses como (Grance, 1990;
Montel-Girod, 1992; Robert, 1989; Teffaine, 1987), Ebrahim (1999) apontado os estudos de
(Anderson, 1992; Tizard; Hadges, 1978) e Dias, Silva e Fonseca (2008) os quais salientam a
possibilidade de adoções bem sucedidas não havendo para estes autores, ligação entre
problemas de comportamento e a idade da criança. Em todos os estudos acima citados, os pais
receberam orientação técnica adequada, podendo desta forma, superar as adversidades.
Buscando identificar as dificuldades percebidas por pais adotivos no processo
educativo de seus filhos por adoção, Schettini (2007) comparou os resultados em famílias
adotivas 51% (onde a prole formada exclusivamente por filhos adotivos) e famílias biológico-
adotivas 49% (a prole formada por filhos biológicos e adotivos). Chegou-se a um número de
309 crianças (258 adoções precoces
3
e 51 adoções tardias
4
), cujos processos educativos
serviram de base para seu estudo, sendo uma distribuição homogênea entre o sexo feminino e
masculino e uma boa representatividade em todas as faixas etárias.
As famílias adotivas foram responsáveis por 89% adoções de crianças menores e 11%
adoções tardias e nas famílias biológico-adotivas por 78% das adoções de crianças menores e
22% de adoções de crianças acima de 2 anos de idade, verificando desta maneira um maior
número de adoções precoces nas famílias exclusivamente adotivas.
De acordo com Freire (2001), a nova cultura da adoção baseia-se na procura de uma
família para a criança e não em uma criança que atenda às necessidades e desejos da família.
Essa nova cultura busca incentivar adoções tardias (VARGAS, 1998) de grupos de irmãos, de
crianças com necessidades especiais, portadoras de HIV e também de adoções inter-raciais
(FREIRE, 2001). Uma nova cultura de adoção que contemple as necessidades especiais
demanda um desenvolvimento em nossa sociedade, embora a caminhada tenha sido
iniciada, há um caminho longo ainda a trilhar (MOTTA, 2006).
3
Vargas (1998), Weber (1998) Adoção precoce ( criança adotada ainda bebês – antes dos 2 anos de idade).
4
Vargas (1998), Weber (1998) Adoção tardia (adoções de crianças acima de 2 anos de idade).
39
1.6. Educação Especial
A complexidade do processo da adoção e de todos os fatores envolvidos, desde a
concretização do abandono (sendo essa efetivada espontaneamente pelos pais, ou através da
decisão judicial) até a colocação da criança em família substituta, insere a necessidade de
pesquisas sobre adoção dentro dos campos de prevenção primária e secundária.
Enquanto prevenção primária, a família substituta pode atuar como promotora do
desenvolvimento buscando oferecer recursos à criança, visto que, por ter sido em alguns casos
privada de um ambiente acolhedor, possa encontrar no novo ambiente familiar o apoio
necessário. Por esses motivos, a criança, não obrigatoriamente, apresentará condições de
excepcionalidade, mas precisará de cuidados especiais, para ser afetivamente acolhida nesse
novo ambiente de convívio. Caso a criança não encontre esse acolhimento, não conseguirá
evoluir em seu processo de desenvolvimento.
Sabe-se que a vinculação inicial ocorrida entre mãe-criança, nos primeiros anos de
vida, é um fator primário para o estabelecimento de vínculos afetivos, sendo, portanto, a base
do apego (BOWLBY, 2001; ZAMBERLAN, 2002). No entanto, quando uma criança é
colocada para a adoção e, principalmente, quando se encontra em idade avançada, de se
considerar que a mesma tenha vivenciado um padrão de relacionamento inicial com seus
genitores, que em sua maioria, não tenha sido satisfatório.
Tal fato pode ser confirmado pela própria decisão judicial em optar pela destituição do
poder familiar, protegendo-a em uma instituição, ou casa abrigo, para posterior acolhimento
em um lar. Pereira e Costa (2005) apontam que entre os escassos trabalhos que enfatizam a
adoção de crianças maiores e adolescentes, grande parte prioriza o período de adaptação na
família e o perfil dos adotantes, sendo dada pouca atenção à destituição familiar e ao
cadastramento dessas crianças para a adoção.
No caso de demora na aprovação do processo de destituição, a criança permanece
muito tempo em situação ilegal. Isso se deve ao fato de que os pais, mesmos sem as mínimas
condições para oferecer um suporte, continuam brigando na justiça pela guarda de seus filhos.
Tal situação não é muito incomum e pode ser comprovada com a leitura dos autos dos
processos.
Do ponto de vista legal estão exercendo os seus direitos. Em alguns casos, a condição
sócio-econômica é o fator impeditivo, o qual poderia ser contornado por meio de poticas
públicas e assistência governamental; em outros casos, o fator impeditivo é a falta de
40
conscientização sobre o impacto e dificuldades que seriam impostas às crianças em longos
períodos de abrigamento. Nessas situações os pais deveriam receber orientação e suporte.
Em revisão de literatura, buscando identificar os diferentes problemas de
comportamento e deficiências mentais das crianças adotivas inseridas no ambiente familiar,
Fensbo (2004), evidencia que tem diminuído o número de crianças abandonadas em países
europeus e nos EUA. Essas estatísticas foram conseguidas devido a um eficaz controle da taxa
da natalidade, legalização do aborto, melhores condições econômicas, proporcionando
aceitações das gestantes perante seus filhos e, também, devido a um elevado índice de
adoções de crianças com necessidades especiais. Os mesmos dados, ainda não podem ser
encontrados na realidade em nosso país.
Frente às informações apresentadas e pensando-se na prevenção primária, verifica-se
que o objetivo da intervenção seria o de reduzir a incidência de determinada condição de
excepcionalidade por meio de identificação, remoção ou redução dos efeitos de fatores de
risco que produzem tais condições. No caso da adoção, os fatores de risco configuram-se
como estressores e podem dificultar a integração da criança adotiva em seu novo lar. Uma
crise pode ocorrer devido a uma falta de recursos no âmbito familiar, ou durante as transições
ao longo da vida, onde não são respeitadas as sucessivas mudanças que ocorrem nas crianças
durante o seu período de adaptação (GROZA; RYAN, 2002).
As intervenções são realizadas por programas educativos sobre saúde e
desenvolvimento humano, serviços para crianças adotivas e lares substitutos e também
programas educativos para crianças que apresentem risco psicossocial (NUNES, 1995).
Ao estudar crianças que foram adotadas nos EUA e crianças adotadas vindas da
Romênia, Groza e Ryan (2002) compararam o comportamento das crianças adotadas
nacionalmente e crianças que foram adotadas da Romênia. Eles concluíram que, em sua
maioria, as crianças apresentaram uma história de vida negativa anteriormente à adoção,
passando por abusos e, por isso, vivendo em instituições. A maioria das crianças adotivas, no
entanto, desconhecia a sua história de vida pré-natal, o que possivelmente poderia afetar a
saúde, o desenvolvimento e funcionamento psicológico destas.
Em todos esses casos, a condição de excepcionalidade não está manifesta, mas se
assim estiver, deve-se se instaurar a prevenção secundária, cujo objetivo, então, é o de reduzir
sua duração ou severidade. Exemplos de ações preventivas secundárias são os centros de
tratamento e educação de crianças pequenas e de alto risco comprovado (KRYNSKI, 1983). A
prevenção da excepcionalidade é discutida na literatura científica e nos planos
governamentais como uma das metas da Saúde e da Educação Especial. De acordo com a
41
Potica Nacional de Prevenção das Deficiências, apresentada pela CORDE em 1992, a
prevenção se constitui em “um ato ou efeito de evitação”. Implica em ações antecipadas,
destinadas a impedir a ocorrência de fatos ou femenos prejudiciais à vida e à saúde e, no
caso da ocorrência desses fatos e fenômenos, evitar a progressão de seus efeitos”
(BRASIL/CORDE, 1992, p.7).
A família que adota uma criança acredita e traz como expectativas que esta será
eternamente grata por ter sido acolhida e recebida num lar. No entanto, essa não é a realidade
que os pais enfrentam, e estes precisam lidar com as dificuldades da criança adotada. Essas
dificuldades, de acordo com Groza e Ryan (2002), estão relacionadas aos processos do
desenvolvimento normal e cabe à família integrar a criaa dentro do sistema familiar,
contando para isso com sistemas de apoio dos diversos serviços da comunidade, no sistema e
subsistema familiar. Ainda quanto aos riscos para a evolução de uma criança adotiva, Hamad
(2002), aponta que permeia um desejo dos pais em criarem a criança à sua imagem, induzindo
uma vontade de apagar a história de vida da criança. Dessa maneira, acreditam que “nada de
sua pré-história de sujeito é digno de sua história de filho inscrito em sua nova filiação”
(HAMAD, 2002, p, 53), insistindo por perpetuar a existência de um passado como uma tábua
rasa.
Nunes (1995) ressalta que o conceito de prevenção deve estar associado aos fatores de
riscos, sendo que estes envolvem a noção de probabilidade. Dessa maneira, crianças que
apresentam determinados atributos biológicos ou efeitos de determinadas variáveis ambientais
têm maior probabilidade de apresentar distúrbios ou atrasos em seu desenvolvimento, quando
comparadas com outras crianças que não sofreram os efeitos dessas variáveis
No âmbito da Educação Especial o foco de interesse, em particular, volta-se para os
riscos iminentes ao desenvolvimento infantil, decorrentes da negligência e do abandono por
parte dos pais, da institucionalização e do processo da adoção, justificando, assim, a
necessidade de estudos e intervenções visando alternativas para uma prática satisfatória, no
sentido de prevenir deficiências no desenvolvimento global da criança.
De acordo com Fergusson, Linskey e Horwood (1995), Rutter (1998) e Nickman et al
(2005), crianças adotadas ainda bes têm maiores probabilidades de apresentarem resultados
satisfatórios no desenvolvimento cognitivo, educacional, emocional, social e mental.
Revisando a literatura, no período de 1974 à 2003, Fensbo (2004) encontrou 24
estudos, entre eles, Verhulst e Versluis-Den Bieman (1995), que evidenciaram uma
associação entre a idade da criança e os problemas psicossociais, apontando que quanto mais
42
nova a criança for colocada para a adoção, menor é o risco de ter vivenciado traumas
psicológicos antes da mesma.
Como o processo da adoção pode ser lento, devido à destituição do poder familiar, a
criança permanece institucionalizada. Esse crescente prolongamento do período de
institucionalização diminui as possibilidades, tanto de inserção da criança em um novo lar
quanto de retornar a sua família de origem (PEREIRA; COSTA, 2005). Essa falta de
perspectivas em ser acolhida em um lar oferece poucas condições à criança de se vincular às
pessoas, recusando o contato físico e afetivo.
Weber (1995) identificou os possíveis prejuízos na formação da identidade entre as
crianças institucionalizadas e que mais de um ano não mantinham uma vinculação com
seus pais biológicos, sendo abandonados por estes. O desamparo vivido por estas crianças faz
com que tenham uma visão negativa perante a sua família de origem, apontando que preferem
viver nos internatos a ter que voltar ao convívio familiar, mas cultuam internamente o desejo
de serem adotados por uma família substituta. Percebe-se dessa maneira a dificuldade que
apresentam perante o planejamento de seu futuro, mantendo uma visão pessimista perante os
relacionamentos afetivos, comprovando-se que 50% desejam casar e ter filhos, refletindo
dessa maneira o quanto se sentem abandonados.
De acordo com Kossobudzki (1999) quando uma criança perde a sua família ou passa
grande parte de sua vida em uma instituição sem o aconchego familiar, o seu desenvolvimento
emocional torna-se prejudicado e quanto mais tempo passa, mais difícil torna-se a sua
recuperação.
Crianças que se encontram em abrigamento, aguardando retorno ao seu lar de origem
ou processo de adoção, são timas de situações estressantes como violência física e psíquica,
variadas privações, abuso sexual, somadas às condições de terem sido tiradas de suas famílias
biológicas. Todas essas características, sem dúvida, provocam cicatrizes emocionais
extremamente profundas (NOGUEIRA; COSTA, 2005).
Devido a esses fatores, muitos pais que aguardam na fila de espera para adoção
receiam em fazê-lo quando a criança se encontra em idade avançada, pois temem a história de
vida anterior (SCHETTINI, 2004), e é devido a essa premissa que a maioria das crianças que
são encontradas nos abrigos tem idade superior a 7 anos e fazem parte do perfil de crianças
consideradas não adotáveis (WEBER, 1999).
O procedimento da adoção ocorre quando decretada a perda do poder familiar
(GRANATO, 2005). Enquanto aguardam a finalização do processo e a decisão em favor ou
o da adoção, as crianças crescem. Essa espera pode levar anos, ficando cada vez mais
43
longínquo o sonho dessas crianças de ganhar um novo lar e de sair definitivamente das
instituições, encontrando uma família que queira adotá-las.
Por isso, é necessário trabalhar arduamente para entender as variáveis neste processo e
procurar compreender melhor a dinâmica familiar, as questões jurídicas, preconceitos,
abandono, para possibilitar uma atuação preventiva, promovendo a proteção das crianças e as
famílias envolvidas na adoção. Cada caso é único, a prevenção é fundamental, mas é
necessário também que haja um trabalho de acompanhamento a essas famílias (DIAS, 2006;
WEBER, 2003).
Os serviços de adoção dos juizados, em sua maioria, não apresentam serviços de
preparação, suporte técnico ou apoio aos adotantes, fazendo com que o país atingisse assim a
adoção moderna. No entanto, são os grupos da sociedade civil que trabalham nesta empreitada
(WEBER, 1998).
De acordo com Pizeta e Santos (2002), deve haver um preparo para exercer as funções
paternas e maternas, mobilizando dessa maneira o desejo de cuidar permeado pelas
expectativas e fantasias do cuidador. Vargas (1998), Weber (2001), Levinzon (2004) e
Schettini (2007) apontam que pessoas cujas adoções foram motivadas pela comprovação de
esterilidade precisam elaborar lutos e perdas para poder gerar psicologicamente seus filhos
adotivos. É difícil falar de filhos sem levar em conta o lugar que estes ocupam na fantasia dos
pais (HAMAD, 2002).
Muitas vezes os adultos fazem das crianças o repositório de sua imaginação
e expectativas, mas não se dando conta de suas conseqüências futuras de
suas fantasias. Os filhos carregam sobre si o peso da esperança dos pais, para
depois arrastar também o fardo de suas frustrações (SCHETINNI, 1998,
p.30).
De acordo com Cassin (2000), a ansiedade causada pela nova vinculação e
insegurança dos pretendentes à adoção decorrem de um histórico de perdas e expectativas em
relação à condição adotiva, visto que em contexto social ter um filho é determinação macro e
um dispositivo micro social.
44
Com base na literatura destacada pode-se concluir que um vínculo seguro resulta em
uma criança saudável e que os efeitos do abandono somados a umnculo insatisfatório
podem causar déficits no desenvolvimento.
Como o processo da adoção pode ser lento, devido à destituição do poder familiar, a
criança permanece por muito tempo (às vezes, por anos), institucionalizada ou em casa de
famílias substitutas (estágio de convivência). Enquanto aguardam a finalização do processo e
a decisão em favor ou não da adoção, as crianças crescem. Esta espera pode levar anos,
ficando cada vez mais longínquo o sonho destas criaas ganharem um novo lar e
abandonarem por definitivo as instituições, encontrando uma família que queira adotá-las.
Na construção de uma cultura de adoção, a fim de que o receio possa ser atenuado
evitando, principalmente, a devolução de crianças à instituição, a equipe de profissionais que
atua nos fóruns juntamente com os grupos de apoio à adoção merecem atenção especial, pois
podem intervir no processo por meio de orientações e acompanhamentos. Um fator
preponderante para esses profissionais e para os atuantes nos grupos de apoio é o acesso às
informações científicas sobre as principais dificuldades, dúvidas e temores dos pais que
almejam a adoção, principalmente, sobre a adoção tardia e, também, os motivos que levam os
pais a devolverem crianças.
Faz-se necessário estudar o processo de adoção tardia, provendo orientações e
acompanhamento específico para a nova família, evitando assim possíveis devoluções de
crianças e incentivando as adoções tardias, trabalhando desta forma de maneira preventiva.
Pretende-se com os dados deste estudo gerar conhecimentos necessários para planejamentos
de intervenções educativas dos pretendentes à adoção (incentivo à adoção tardia) e das
famílias que já adotaram.
A ausência de informações e a lacuna de descrição de estudos sobre aspectos da
inserção da criança adotiva numa família, apontadas pela literatura, configuram-se como um
problema para pesquisas nesta área. São necessários estudos que descrevam de forma mais
precisa a questão identificada.
Quais as expectativas e motivações dos pais e as estratégias geradas para
solucionar os problemas decorrentes da adoção tardia, adaptação da criança e
no estabelecimento de vínculos afetivos?
2. JUSTIFICATIVA
45
A presente investigação trata-se de uma pesquisa quanti-qualitativa fundamentada em
um estudo exploratório e descritivo, tendo utilizado como recurso técnico os pressupostos da
análise de conteúdo para tratamento dos dados (MINAYO, 2006).
Para que o problema de pesquisa levantado neste estudo fosse respondido, o trabalho
foi delineado contendo duas partes (A e B), que serão descritas nos objetivos específicos.
3.1. OBJETIVO GERAL:
O objetivo deste estudo foi identificar as dificuldades e facilidades dos pais no
processo de construção de vínculos afetivos, apontando as estratégias utilizadas por eles na
prática da adoção tardia, englobando concepções sobre a adoção, suas expectativas e
motivações.
3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
PARTE A: Construção e aferição do instrumento
Elaboração do instrumento (formulário) para a entrevista
Aferição do instrumento (análise teórica)
Adequação do instrumento
PARTE B: Coleta e análise de dados
Caracterizar o perfil dos pais adotivos da amostra, verificando se relação
entre as variáveis: características da família adotante X concepção de adoção
(relacionadas à adoção tardia);
Identificar se a idade da criança e sua história de vida conduzem a experiências
similares na adaptação e no estabelecimento de vínculos afetivos;
3. OBJETIVO DO ESTUDO
46
Elencar categorias de estratégias facilitadoras para estabelecimento de vínculos
afetivos tendo como foco a amostra estudada e faixa etária;
Verificar os recursos e suportes técnicos auxiliares utilizados no processo de
construção de vínculos (grupo de apoio ou acompanhamento profissional);
Fazer um levantamento das causas ou motivos que levaram casais a
devolverem ao Estado crianças adotadas tardiamente (casos ocorrenciais).
47
4.1. PARTE A: CONSTRUÇÃO E AFERIÇÃO DO INSTRUMENTO
A construção do instrumento (formulário) foi baseada em leituras de textos e
pesquisas realizadas anteriormente na área da adoção tardia (EBRAHIM, 1999; MORELLI,
2005; VARGAS, 1998; VIANA, 2000; WEBER, 2001). Após a elaboração do mesmo, foi
realizada a aferão do instrumento a fim de que pudesse ser utilizado na parte B do presente
estudo. Desta maneira foi realizada: a) uma análise trica dos itens do instrumento, que
consiste em uma análise de conteúdo e análise semântica (PASQUALI, 1996; 2003); e b)
aplicação em amostra similar a do estudo, para a adequação do mesmo (formulário).
4.1.1. PARTICIPANTES
Na etapa (A) realizada para a aferição do instrumento (formulário), a amostra foi
composta por 23 colaboradores, no total, que foram divididos de acordo com a finalidade ao
qual foram selecionados:
a) Análise Teórica (análise de conteúdo e análise semântica)
a.1) Análise de Conteúdo
Para a análise de conteúdo, foram consultados 10 juízes peritos na área de
conhecimento: 5 psilogos, 3 assistentes sociais e 2 professoras doutoras pesquisadoras na
área da adoção.
4. MÉTODO
48
Quadro 1. Caracterização da amostra de juízes para análise de conteúdo do instrumento
(N=10)
Identificação Profissão Área de Atuação Tempo
Atuação
P1
P2
P3
P4
P5
P6
P7
P8
P9
P10
Psilogo
Psilogo
Psilogo
Psilogo
Psilogo
Assistente Social
Assistente Social
Assistente Social
Profa. Dra.
Profa. Dra.
Psilogo Judiciário
Psilogo Judiciário
Psilogo Judiciário
Psilogo Judiciário
Psilogo Clínico
Assistente Social
Judiciário
Assistente Social
Judiciário
Assistente Social
Judiciário
Adoção
Adoção
20 anos
9 anos
1 ano
2 meses
27 anos
8 anos
8 anos
1 ano
**
**
** Ambas são professoras doutoras em Psicologia na área de adoção.
49
a.2) Análise Semântica
A amostra para a realização da análise semântica foi composta por 11 colaboradores,
isto é, casais que passaram pelo processo de adoção.
Quadro 2. Caracterização da amostra de juízes para análise semântica do instrumento
(N=11)
Pais Idade
(anos)
Grau de
instrução
Estado
Civil
Tempo de
união
(anos)
Nº. de
Filhos
Renda
familiar
(salários
mínimos)
Mãe 1
Pai 1
50
48
E. F. II
Superior
Casados 24 2 Mais de 10
Mãe 2
Pai 2
49
57
E. F. I
E. F. II
Casados 10 1 Até 6
Mãe 3
Pai 3
48
50
Superior
Superior
Casados 22 1 Mais de 10
Mãe 4
Pai 4
60
52
Superior
E. F. I
Casados 17 1 Mais de 10
Mãe 5 50 Superior Divorciada - 2 Até 6
Mãe 6 42 Superior Solteira - 1 Até 6
Mãe 7 54 Superior Casada 25
3
Mais de 10
Legenda: E.F.II (Ensino Fundamental II); E.F. I (Ensino Fundamental I)
b) Adequação do instrumento e aplicação piloto
5
Finalizada a análise teórica, a etapa seguinte foi realizada a fim de verificar a
adequação do instrumento (formulário), aplicando-o em duas mães que realizaram adoção
tardia, cujas características assemelham-se à amostra selecionada para o estudo. Assim sendo,
uma mãe que já possuía filhos biológicos e outra mãe que não possuía filhos biológicos.
5
A realização de um estudo-piloto com um pequeno número de participantes é capaz de revelar se os
participantes compreendem as instruções, permitindo assim ao pesquisador, familiarizar-se com seu papel e
padronizar os procedimentos (COZBY, 2003).
50
Quadro 3. Caracterização da amostra dos colaboradores na adequação do instrumento (N=2)
Pais Idade
(anos)
Grau de
Instrução
Estado
Civil
Tempo de
União
(anos)
Nº. de
filhos
Renda
Familiar
(salários
mínimos)
M1 56 Superior Casada 25 6
Mais de 10
M2 40 Superior Casada 15 1
Mais de 10
4.1.2. CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
A identidade dos colaboradores do estudo foi mantida em sigilo, ou seja, seus nomes
foram omitidos, apesar de se fazer necessária a descrão de alguns aspectos do seu perfil
sócio-demográfico (idade, renda familiar, área de atuação, tempo de serviço entre outros).
Todos os participantes que aderiram ao estudo foram orientados quanto aos objetivos da
pesquisa e informados sobre o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE –
(ANEXO A). Após o aceite em participar do estudo assinaram o termo. A pesquisa seguiu
todas as exigências de condutas éticas para pesquisas com seres humanos constantes na
resolução 196/96 do Ministério da Saúde.
A coleta de dados iniciou após:
Submissão e aprovação da pesquisa pelo Comide ética da UFSCar - parecer
n. 224/2006 (ANEXO B).
Contato com o Dr. João Baptista Galhardo nior (Juiz da Vara da Infância e
Juventude da Comarca de São Carlos–SP), para fornecer informações sobre o
projeto e procedimentos utilizados e solicitar autorização para
desenvolvimento do estudo - autorização concedida- (ANEXO C).
Apresentação do documento de aprovação da pesquisa do Comitê de Ética da
UFSCar ao Juiz para que o estudo pudesse ser iniciado.
4.1.3. LOCAL
4.1.3.1. Análise Teórica
4.1.3.1.a. Análise de Conteúdo
51
Conforme salientado anteriormente, os juízes selecionados para esta análise foram os
profissionais (psicólogos e assistentes sociais) do Setor Técnico da Comarca de São Carlos.
Para a análise com a Psicóloga clínica, a pesquisadora entrou em contato com a mesma em
seu local de trabalho. A análise realizada com as 2 professoras doutoras em Psicologia
ocorreu através de contatos por correio eletrônico (e-mail), após o aceite referente ao mesmo,
por não residirem na cidade onde foi realizado o presente estudo.
4.1.3.1.b. Análise Semântica
Os casais selecionados para serem os colaboradores nesta etapa do estudo foram
consultados anteriormente pela pesquisadora que, respeitando a disponibilidade dos mesmos,
agendou horários individualizados. A realização das entrevistas ocorreu nas residências dos
mesmos.
4.1.3.2. Adequação do instrumento e aplicação piloto
Para a adequação do instrumento, as duas colaboradoras foram consultadas
anteriormente e após agendamento prévio a pesquisadora realizou as entrevistas na residência
das mesmas, também na cidade de São Carlos.
4.1.4. MATERIAL
Para a concretização do presente estudo e cumprimento dos objetivos estabelecidos
anteriormente, um instrumento (formulário) foi construído.
4.1.4.1. INSTRUMENTO PRELIMINAR
O instrumento preliminar (APÊNDICE A), composto por 44 queses abertas e
fechadas, está subdividido em:
a) 9 questões visando à caracterização dos participantes: (dados do casal, ambiente
familiar, dados sócio-econômicos-culturais);
b) 31 questões para obter informações sobre o processo de adoção tardia e
estabelecimento de nculos afetivos: (dados sobre a adoção e dinâmica familiar;
características da criança adotada; adaptação e estabelecimento de vínculos afetivos);
52
c) 4 questões visando entender os motivos para a devolução de uma criança
(respondido somente por casais que realizaram a devolução).
4.1.4.2. INSTRUMENTO VERSÃO FINAL
As a aferição do instrumento, realizada através da metodologia descrita
anteriormente, o mesmo sofreu algumas modificações sendo reestruturado, sendo intitulado
como versão final (APÊNDICE B), contendo 45 questões abertas e fechadas visando
identificar:
a) Caracterização dos participantes (5 questões - ambiente familiar);
b) Adoção tardia e estabelecimento de vínculos afetivos (40 questões - dados sobre a
adoção e dinâmica família; características da criança adotada; adaptação da criança e
estabelecimento de vínculos afetivos; relacionamento atual).
4.1.5. PROCEDIMENTOS PARA A CONSTRUÇÃO E AFERIÇÃO DO
INSTRUMENTO
A construção deste instrumento, conforme salientado anteriormente foi baseado em
leituras e pesquisas sobre a adoção. Após esta etapa ele foi aperfeiçoado e submetido à análise
de parâmetros psicotricos (PASQUALI, 1996; 2003). Foi realizada a Análise Teórica
(conteúdo e semântica) dos mesmos e também uma aplicação em uma amostra mais
abrangente visando à aplicabilidade futura deste por outros pesquisadores em estudos na área
temática.
Com um instrumento desta natureza e atendendo às exigências psicométricas foi
possível a obtenção de dados válidos. A descrição em etapas do mesmo faz-se necessária
devido aos diferentes procedimentos utilizados em cada uma delas.
Cabe salientar que todos os juízes foram esclarecidos quanto ao objetivo da pesquisa e
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO A).
4.1.5.1. ANÁLISE DE CONTEÚDO
A análise de conteúdo teve como objetivo avaliar a pertinência e relevância dos itens.
Os juízes, peritos na área, trabalham diretamente com a populão (Assistentes Sociais,
Psilogos, Pesquisadores na temática).
53
Inicialmente houve o contato com os profissionais do Fórum da Comarca de São
Carlos, para a explicação da proposta de análise e verificação dos juízes (peritos na área) à
participação na pesquisa. As ter esclarecido os objetivos da mesma, a pesquisadora
apresentou o instrumento - versão preliminar e entregou para cada um dos juízes, um Kit
contendo: a) instrumento versão preliminar; b) instruções específicas para a análise de
conteúdo e os objetivos do estudo; c) uma folha resposta com a listagem dos itens e
associações com fatores investigados indicados no objetivo do estudo.
As considerações feitas por cada juiz foram organizadas, tabuladas e analisadas tendo
sido feitas, posteriormente, as alterações necessárias no instrumento.
4.1.5.2. ANÁLISE SEMÂNTICA
A análise semântica consiste em verificar a clareza de entendimento de cada item
constante no instrumento pela amostra estudada e deve ser realizada com indivíduos
pertencentes à população em questão (PASQUALI, 1996; 2003). Desta forma, o instrumento
(formulário)- versão preliminar (APÊNDICE A) foi aplicado e avaliado com a finalidade de
averiguar se algum item necessitava ser reestruturado ou revisto para propiciar melhor
entendimento ou clareza por parte dos colaboradores.
Nesta análise semântica, a pesquisadora entrevistou pessoalmente os 11 juízes, que
responderam prontamente tecendo comentários e fornecendo sugestões para o mesmo. Houve
uma criteriosa seleção destes colaboradores sendo considerada a caracterização amostral do
estudo para que se pudesse realizar a análise semântica do instrumento. Desta maneira
procurou-se uma amostra semelhante a dos casais do estudo com mesmo nível de
escolaridade, idade e renda familiar.
Inicialmente a entrevista estava programada para ser respondida com os casais, mas
pode-se perceber que em quase totalidade as mães é que ficavam encarregadas de darem
respostas e muitos pais se recusavam em dar suas opiniões e delegavam esta tarefa as mães.
Diante deste posicionamento, optou-se por dividir as entrevistas em pais e mães, a fim de que
pudesse ter uma opinião mais fidedigna e individualizada da amostra.
De maneira geral, a aplicação do instrumento não apresentou dificuldades de
entendimento ou compreensão dos itens por parte dos colaboradores (juízes). Contudo,
somente algumas questões finais, por sugestão, foram alteradas deixando de ser um pico
único (pico III: Devolão), passando a ser incorporada aos demais itens.
Coincidentemente esta consideração também foi apontada na análise de conteúdo.
54
4.1.5.3. ADEQUAÇÃO DO INSTRUMENTO E APLICAÇÃO PILOTO
As ajustes necessários do instrumento oriundos da análise teórica, levando a uma
reestruturação dos itens inicialmente propostos, algumas modificações foram necessárias para
o bom andamento do estudo. Convém ressaltar que uma última análise do conteúdo foi
encaminhada a uma Profa. Dra. em Psicologia, especialista na área.
Com esta aferição e a certeza de que o instrumento poderia ser utilizado, passou-se
para a etapa final que consistiu em uma aplicação para a testagem do instrumento, verificação
do tempo e treino com o gravador visto que as entrevistas também seriam gravadas. Essas
entrevistas foram gravadas e transcritas para verificar a necessidade de possíveis ajustes.
Para esta etapa o mesmo foi aplicado em duas (2) mães que foram selecionadas de
acordo com o perfil da amostra - realizaram adoções tardias, portanto casais que adotaram
crianças acima de dois anos de idade. Tinha-se como intuito entrevistar também os pais, mas
os mesmos optaram por não participarem devido ao acúmulo de serviços.
O número reduzido de pais nesta etapa tende a refletir a limitação de adotantes tardios.
Estes casais foram previamente selecionados através do grupo de apoio a adoção de São
Carlos, no qual a pesquisadora atua voluntariamente.
As todas essas fases o instrumento intitulado como versão final (APÊNDICE B)
passou a ser utilizado pela pesquisadora para a coleta de dados da parte B desta investigação.
55
4.2. PARTE B: COLETA E ANÁLISE DE DADOS
4.2.1. PARTICIPANTES
Participaram desta fase do estudo 10 famílias (10 mães e 09 pais) que efetuaram a
adoção tardia, inscritos no Fórum de São Carlos-SP. Eles foram selecionados a partir dos
registros de adoção de acordo com os seguintes critérios:
Casais inscritos no Fórum de São Carlos e moradores nesta cidade.
Casais que adotaram crianças com idade superior a 2 anos;
A caracterização da amostra selecionada para o estudo está descrita no Quadro 4.
56
Quadro 4. Caracterização geral dos participantes (N= 19)
PAIS IDADE
(ANOS)
GRAU DE
INSTRUÇÀO
SITUAÇÃO NO
MERCADO DE
TRABALHO
ESTADO
CIVIL
TEMPO DE
UNIÃO
(ANOS)
Nº.
DE
FILHOS
RENDA
FAMILIAR
(SALÁRIOS
MÍNIMOS)
CONTRIBUIÇÃO
PARA RENDA
(PESSOAS)
M1
P1
50
53
E.M
Superior
Do Lar
Autônomo
Casados
16
3 Até 10 1
M2
P2
55
42
Superior
Superior
Aposentada
Empregado
Casados 18 3 Mais de 10 2
M3
P3
48
47
E.M
Superior
Aposentada
Autônomo
Casados 17 2 Mais de 10 2
M4
P4
44
38
E.F.I
Superior I
Autônoma
Empregado em
Empresa
Casados
14
1 Até 6
2
M5
P5
43
43
Superior I
Superior I
Autônoma
Autônomo
Casados 8 2 Mais de 10 2
M6
50 Superior Empregada em
Empresa
Divorciada __ 6 Mais de 10 1
M7
P7
42
47
E.F II
E.M
Autônoma
Autônomo
Casados 24 4 Até 6 5
M8
P8
49
51
E.F I
E.F I
Aposentada
Autônomo
Casados 30 4 Até 6 1
M9
P9
56
51
E.F II
E.M
Do Lar
Empregado em
Empresa
Casados 12 1 Até 6 1
M10
P10
49
55
Superior I
E.F I
Autônoma
Autônomo
Casados 28 2 Até 10 2
Legenda: E.F.I (Ensino Fundamental I); E.F.II (Ensino Fundamental II); E.M (Ensino Médio); S.I (Superior Incompleto)
57
Para atender ao objetivo do estudo, os casais foram divididos em três grupos,
denominados G1, G2 e G3 previamente organizados de acordo com a idade em que as
crianças foram adotadas e a indicação da presença de filhos biológicos para a realização das
análises.
O G1 foi composto por 3 casais que realizaram adoção de crianças com 2 anos de
idade, sendo eles: G1(M1, P1, M2, P2, M3, P3), o G2 formado por 5 famílias G2(M4, P4,
M5, P5, M6, M7, P7, M8, P8) que adotaram crianças com a idade entre 3 e 6 anos e o G3
representado por 2 casais G3(M9, P9, M10, P10) que adotaram crianças na faixa etária de 7 a
10 anos.
A divisão dos grupos (G1, G2 e G3) e distribuição das crianças em fuão da faixa
etária em que foram adotadas está identificada no Quadro 5.
58
Quadro 5. Divisão em grupos conforme a idade da adoção da criança (N=19)
Filhos que o moram junto com os pais Grupos Pais Filhos que
moram com
os pais
Idade na
adoção
(anos)
Idade na data
da entrevista
(anos)
Escolaridade
Idade Escolaridade Observações
M1 P1
F1a1
F1a2
F1a3
2a 3m
1a 3m
0 m
9
7
10
E.F I
E.F I
E.F I
(afilhada)
M2 P2 F2b1
F2a1
F2a2
-
2a 6m
2a 6 m
13
9
9
E.F II
E.F I
E.F I
G1
M3 P3
F3a1
F3a2
2 a 6 m
-
8
5
E.F I
E.F I
M4 P4
F4a1 3 8
E.F I
M5 P5
F5a1
F5a2
3
1 a 6 m
9
4
E. II
E.F I
M6 F6a1
F6a2
F6a3
F6a4
0 m
4a 1m
10a 6m
2
16
11
11
10
E.M
E.F I
E.F II
E.F I
F6b1- 25 anos
F6b2- 20 anos
Superior
Superior I*
*Cursando o nível
superior
M7 P7 F7b1
F7b2
F7b3
F7a1
-
-
-
4 a 2m
24
20
17
11
Superior
Superior I*
E.M
E.F II
* Cursando o nível
superior
G2
M8 P8
F8a1 5a 5m 11 E.F II
F8b1- 29 anos
F8b2- 27 anos
F8b3- 25 anos
E.M
E.F II
E.F II
Casado
Casado
Casado
M9 P9
F9a1 7 a
12 E.F II
G3
M10 P10 F10b1
F10a1
-
9 a
25
14
Superior
E.F II
Legenda:
E.F I
(Ensino Fundamental I);
E.F II
(Ensino Fundamental II);
E.M
(Ensino Médio);
S.I
(Superior Incompleto);
Fa
(filho adotivo);
Fb
(filho biológico)
59
4.2.2. LOCAL
Foram agendadas entrevistas nas residências dos casais, respeitando sua
disponibilidade de horário.
4.2.3. MATERIAL
Durante a coleta de dados, a pesquisadora utilizou como material: papel, caneta e
gravador digital de voz (DVR-1920) para o registro das verbalizações dos colaboradores.
4.2.4. INSTRUMENTO
O instrumento utilizado para a entrevista encontra-se no (APÊNDICE B) e conforme
explicado anteriormente, seu processo de elaboração foi devidamente descrito na Parte A.
4.2.5. PROCEDIMENTOS
4.2.5.1. COLETA DE DADOS
A coleta de dados foi realizada em primeiro momento analisando o livro de registros
de inscrições no processo de adoções do Fórum de São Carlos - SP - com o objetivo de
identificar entre os casais inscritos, quais realizaram a adoção tardia. Constaram 119
inscrições no período entre 1995 até 2003.
Realizado o levantamento das inscrições, aplicou-se em seguida o critério de inclusão
de participantes, através de um protocolo de análise de registro, criado para este fim
(APÊNDICE C) para levantamento dos possíveis colaboradores da pesquisa, identificando
assim o número de casais inscritos no Fórum de São Carlos-SP, que realizaram adoção tardia.
Os mesmos passaram a ser identificados por digos, ganhando uma numeração a fim de que
a identidade fosse preservada, visto que as informações são sigilosas.
Este protocolo de coleta desenvolvido foi baseado em pesquisas anteriores sobre
adoção (AZEVEDO, 2003; CASEIRO, 2007; OLIVEIRA, 2001; MORELLI, 2005; VITAL,
2005).
Apesar do critério de seleção ter sido a adoção acima de 2 anos, optou-se por
considerar a idade da criança no período em que a família obteve sua guarda. Esta é uma
60
variável importante de ser analisada, pois em muitos casos, o casal tinha a adoção definitiva
da criança quando esta já estava com idade superior a dois anos, sendo que a mesma estava
inserida no ambiente familiar substituto por algum tempo.
As a seleção e caracterização dos 28 pais, possíveis colaboradores da pesquisa,
informações sobre o objetivo do trabalho juntamente com uma listagem dos possíveis
colaboradores foram entregues pela pesquisadora ao Setor Técnico do rum, que
prontamente estabeleceu um contato inicial com os mesmos a fim de verificar o interesse
destes em participar do estudo. Esta etapa foi de grande valia e empenho da parte do Setor
Técnico do Fórum que buscou contatos com todos os pais, sendo entre os 4 casais (8 pais) que
o compuseram a amostra, apenas 2 casais não foram encontrados, mas acredita-se que
tenham mudado de município. Outros 2 casais, não participaram da entrevista, devido a
mudança de endereço e um casal respondeu que não participava de nenhum cadastro de
adoção (apesar de constar a efetivação da adoção). Desta forma, acredita-se que esta tenha
sido a única recusa na participação do estudo.
Perante o aceite e concordância dos 19 participantes (9 casais e 01 mãe) na proposta
do estudo, a pesquisadora entrou em contato para fornecer maiores detalhes sobre o estudo
conferindo os horários e datas em que poderiam ser realizadas as entrevistas. Nesta etapa, as
entrevistas foram agendadas de maneira que cada pai pudesse realizar a entrevista
individualmente. Conciliar os horários não foi uma tarefa cil, mas foi possível a realização
de todas dentro do prazo previsto inicialmente, respeitando a adequação de horários dos
participantes, sendo algumas agendadas para os sábados, domingos e feriados.
As entrevistas individuais foram realizadas no período de novembro de 2007 a maio
de 2008, com duração média de 57 minutos.
61
Quadro 6. Duração das entrevistas realizada com os pais (N=19)
Grupos Pais Duração da
entrevista
Média dos
pais
Média das
mães
M1
P1
1:13:24
44:51
M2
P2
50:06
1:46:43
G1
M3
P3
42:49
1:04:47
1:12:07
55:26
M4
P4
1:12:24
23:00
M5
P5
47:55
52:54
M6 2:41:51
M7
P7
56:19
34:59
G2
M8
P8
26:03
26:41
34:23
1:12:54
M9
P9
1:08:03
31:51
G3
M10
P10
1:16:01
20:00
25:55
1:12:02
Duração média, por sexo
00:45: 05 01:07:29
Duração média geral
00:56:52
4.2.5.2. ANÁLISE DAS RESPOSTAS
A fim de representar o tratamento dos dados da presente pesquisa, foi realizada uma
análise de conteúdo visando compreender a coerência, valores e processos históricos
presentes na representação interna deste grupo através de seus atores (amostra selecionada).
A metodologia qualitativa traz a tona processos sociais ainda pouco conhecidos, permitindo
criar novos conceitos e categorias durante a investigação (MINAYO, 2006).
62
A análise de Conteúdo, como técnica de tratamento de dados, possui a
mesma lógica das metodologias quantitativas, uma vez que busca
interpretação cifrada do material de caráter qualitativo (MINAYO, 2006,
p.304).
Dessa maneira, a interpretação permitiu ultrapassar do senso comum e do subjetivismo
para uma análise crítica, realizando em um primeiro momento uma leitura das falas,
alcançando posteriormente um nível mais profundo articulando o texto em si com o
contexto social e variáveis psicossociais. Esta análise de acordo com os teóricos deve ser
objetiva e sistemática, trabalhando com regras estabelecidas anteriormente, permitindo a
qualquer investigador replicá-las obtendo assim os mesmos resultados e integrando o
conteúdo nas categorias escolhidas (MINAYO, 2006).
Dentre as diversas modalidades de Análise de Conteúdo, escolheu-se para a descrição
dos resultados do presente, a análise temática. Esta foi realizada através de um protocolo de
registro criado para este fim (APÊNDICE D). De acordo com Minayo (2006), a noção de
tema está ligada a um determinado assunto. A análise temática divide-se em três etapas: a)
pré-análise; b) exploração do material e c) tratamento e interpretação dos resultados.
Fazer uma análise temática consiste em descobrir os núcleos de sentido que
compõem uma comunicação, cuja presença ou freqüência signifiquem
alguma coisa para o objeto analítico visado. Para uma análise de
significados, a presença de determinados temas denota estruturas de
relevância, valores de referência e modelos de comportamento presentes ou
subjacentes no discurso. (MINAYO, 2006 p. 316)
Após a coleta dos dados, as 19 entrevistas foram transcritas na íntegra totalizando 18
horas e 41 segundos de gravação, para maior compreensão dos dados oriundos das
entrevistas, devido à riqueza de detalhes e quantidade de informações obtidas.
Nesta fase de pré-análise houve a leitura flutuante e exaustiva do material advindo das
entrevistas, formulando hipóteses e determinando palavras-chave ou frases que orientaram a
análise. Na etapa seguinte, onde se realizou a exploração do material, os dados foram
agrupados em tabelas e as respostas emitidas nas entrevistas foram submetidas a uma análise
de conteúdo. O agrupamento quantitativo destas respostas propiciou o estabelecimento de
categorias de respostas.
Para Minayo (2006) a categorização é um processo que consiste na redução de um
texto em palavras ou expressões significativas. “Categorias são expressões ou palavras
63
significativas em função das quais o conteúdo de uma fala será organizado” (MINAYO,
2006 p.317).
Finalizando este procedimento, após o levantamento das categorias respeitando-se a
divisão dos grupos pela faixa etária dos adotados (G1, G2 e G3) para que pudessem ser
analisadas com melhor precisão, iniciou-se o tratamento dos dados realizando a
interpretação dos resultados (brutos) obtidos.
A fim de permitir uma maior compreensão dos dados oriundos das entrevistas optou-
se em respeitar a divisão em temas determinados a priori na construção do instrumento:
(adoção e dinâmica familiar; características da criança; adaptação e estabelecimento de
vínculos e relacionamento atual).
Com base nessa análise de dados coletados, foi apresentada uma categorização dessas
informações de modo que pudessem ser representadas qualitativamente e quantitativamente.
64
Para uma melhor compreensão e apresentação dos resultados deste estudo, a
categorização dos temas propostos pela amostra foi descrita, obedecendo à numeração
seqüencial dos itens do referido instrumento (formulário de pesquisa).
Conforme salientado anteriormente, o instrumento utilizado na versão final foi
composto por duas partes: a) caracterização dos participantes
6
e b) adoção tardia e
estabelecimento de vínculos afetivos. A análise dos dados a seguir, refere-se à segunda parte
do instrumento.
Optou-se por descrever os resultados obedecendo a mesma ordem das questões do
referido formulário de pesquisa, para que comparações entre os grupos G1 (crianças adotadas
com 2 anos); G2 (entre 3 e 6 anos de idade) e G3 (entre 7 e 10 anos de idade) previamente
estabelecidos pudessem ser efetuadas em função dos fatores investigados, assim como
evidenciar as diferenças relevantes entre as opiniões dos pais e das mães, visto que pretendeu-
se levantar se haviam divergências entre elas.
O primeiro bloco dos resultados refere-se aos conteúdos da adoção e a dinâmica
familiar”, onde foi possível investigar questões sobre a família extensa e a concepção de
adoção, revelação e o caminho trilhado entre as expectativas e motivações perante uma
adoção até a efetivação de uma adoção tardia.
Seguindo as alises, o segundo bloco fez referência às “características das crianças
adotadas”, procurando desta maneira, identificar o nível de conhecimento sobre a história de
vida dessas crianças e o quanto esta variável interfere nos resultados, ou seja, a vinculação
efetiva na adoção tardia. Aliado ao conhecimento ou não desta trajetória procurou-se conhecer
os receios apontados inicialmente pelos pais adotivos verificando se houve diferença entre a
dinâmica paterna e materna.
As primeiras experiências, ainda no período de adaptação, também foram descritas e
detalhadas dentro do terceiro bloco do referido formulário. Este tópico intitulado como,
“adaptação e estabelecimento de vínculos afetivos”, a fim de que fossem realizadas
comparações entre as condições de saúde sica e administração de medicação específica entre
6
A caracterização dos participantes (parte A do referido instrumento) encontra-se descrito no Quadro 4, na
página 56.
5. RESULTADOS
65
as diferentes faixas etárias, almejando identificar quais foram as estratégias iniciais
apresentadas. Ainda neste período de adaptação primou-se por identificar dentro das
diferentes áreas como escola, saúde, educação geral e relacionamento pessoal e familiar quais
foram as dificuldades e facilidades apresentadas nos diferentes grupos etárias. A presença de
filhos biológicos e adotivos antes da adoção em questão, também foi identificada com o
intuito de elucidar os comportamentos típicos de cada faixa etária e se estes foram
influenciados pela presença ou não de irmãos na família. Finalizando, no período inicial de
adaptação, as análises também focaram as suscetíveis reações que os pais apresentaram diante
dos comportamentos de seus filhos e a administração de atitudes reforçadoras para a
manutenção de vínculos afetivos. Em complementação e com o intuito de tecer comparações,
foi verificado quais os recursos disponíveis, com os quais os pais adotivos puderam contar ou
que procuraram durante este período.
A fim de obter informações referentes ao “relacionamento atual” estabelecido,
identificou-se também as estratégias facilitadoras e dificultadoras que permearam cada
história de adoção, buscando dados sobre as expectativas dos pais perante os comportamentos
de seus filhos, as dificuldades encontradas na educação atual, na escola e os suportes e
recursos disponíveis atualmente.
As análises destes dados permitiram a obtenção de dados objetivos, os quais geraram
identificadores de como as famílias buscaram construir vínculos, quais foram os recursos
utilizados por eles no gerenciamento de conflitos e sobretudo as reações deles sinalizando
entre elas os motivos que impediram ou dificultaram esta vinculação.
66
5.1. ADOÇÃO E DINÂMICA FAMILIAR (itens 6 a 15)
6. Família de origem e adoção realizada
Na Figura 1, pode-se observar que a maioria dos pais que responderam a pesquisa
(58%), não teve em sua família de origem nenhuma experiência prévia com adoção.
Família de origem e adoção realizada
58%
42%
SIM
NÃO
8
Figura 1. Família de origem dos casais e adoção efetivada (N=19)
Entre os 42% dos pais que apresentaram na sua família de origem adoções realizadas,
destacam-se as mães G1(M1, M3); G2(M6, M8) e G3(M9) e os pais G1 (P2); G2(P5, P8).
Assim, apenas três famílias não tiveram contato prévio ou experiência com a adoção (M4 e
P4; M7 e P7; e M10 e P10). Ao serem indagados sobre o grau de parentesco dos familiares foi
indicado: a) quatro participantes responderam que seus tios foram adotados; b) 1 participante
mencionou ter 2 sobrinhos adotados; c) 1 participante informou ter primas de 2º. e 3º. grau; d)
1 participante relatou que o pai foi adotado; e d) 1 participante tem um irmão adotivo. Ao
falar em seu tio, um participante relatou:
“Foi na década de 70, uma adoção tardia com 15 anos.
Ele era um menino de rua, fazia carreta em feira e minha avó adotou.
Ele era negro e bem escuro mesmo. Na época havia alguns conflitos,
um preconceito pelo fato dele ser negro, mas foi superado. Ele ficou
até ele falecer com 20 e poucos anos com câncer. Ele tinha a
doença quando foi adotado.” (G2P5)
Ao mencionar a adoção de seu pai, uma participante afirmou:
67
O meu pai era adotado. Ele falava sempre que ele era
adotado, que a mãe dele morreu e deixou ele muito novinho na
família que criou. Eu acho uma coisa muito bonita eu sempre
admirei.”(G2M8)
7. Conceituando a adoção
O Quadro 7 demonstra que foram apresentadas 8 categorias para definir a adoção.
Entre os adotantes tardios, 9 pais disseram que adoção é o ato de educar e acolher uma
criança, apresentando o grupo G1 o maior índice nesta categoria.
Quadro 7. Conceituando a adoção (N= 19)
Categorias Mães Pais f G1
G2 G3
a) educar e acolher uma
criança
M1, M2, M3
M8, M9
P1, P3, P8,
P10
9
5 2 2
b) é ter um filho M4, M6, M9,
M10
P2, P3, P5,
P7
8
2 4 2
c) ação social M8, M9 P3, P4, P8,
P9
6
1 3 2
d) realização de um
sonho
M1, M2,
M7, M8
P2
5
3 2 0
e) formar uma família M5 P1, P2, P3
4
3 1 0
f) mudança na vida do
casal
M1, M3 P1
3
3 0 0
g) não é fácil responder M2, M4, M6 -
3
1 2 0
h) desejo de ser pai - P3, P9
2
1 0 1
Total de pais 10 9 -
- - -
Total de respostas 21 19 40
19 14 7
A segunda categoria que apresentou maior índice (8 pais), afirmaram que adotar é ter
um filho. Também nesta categoria a identificação de uma mãe do grupo G2 que relatou o
poder engravidar.
A categoria com menor representatividade sinalizou que adotar é realizar o desejo de
serem pais. O que pode ser inferido nesta análise um grau de maturidade entre os pais
adotivos tardios desta amostragem, fundamentando-se na necessidade da criança, conforme
está repercutido no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
68
8. Devolução da criança
Na Figura 2, pode ser observado que em sua maioria (89,5%), os pais não tiveram uma
experiência de devolução da criança a ser adotada, mas 10,5%, ou seja, um casal vivenciou
esta situação sendo obrigados a devolver a criança.
Processo de guarda que acabou em
devolução
10,5%
89,5%
SIM
NÃO
Figura 2. Devolução da criança durante o período de
guarda (N= 2)
Dos 6 pais G1(M1, P1); G2(M8, P8) e G3(M10, P10) que relataram ter passado por
um processo que acabou em devolução, pôde-se perceber que na realidade apenas 1 casal
G3(M10 e P10) efetivamente estava em período da guarda quando esta ação foi realizada.
Os demais casais G1(M1 e P1); G2(M8 e P8), estavam de posse de uma criança, esta
que lhes foram confiadas pelas mães biológicas, pois não conseguiam mais cuidar de seus
filhos. No entanto, os referidos casais, cientes da necessidade de legalizar a adoção não
puderam dar continuidade ao processo. Conforme comprovado pela fala do casal do grupo
G2(M8 e P8):
“Depois de três dias que eu fiquei com ele pra cuidar.
Passado o tempo o rum soube que eu estava com essa criança e
fomos legalizar a situação, mas o juiz falou que eu não podia ficar
com ele.” (G2M8)
“Voltou porque não tinha feito nenhuma documentação,
foi uma dificuldade na época. Foi pego sem ordem judicial.” (G2P8)
69
O tempo de permanência foi relatado pelos pais que passaram pelo processo de
devolução, como um período muito curto de 2 a 5 meses. Os motivos apontados para a
devolução da criança encontram-se destacados no Quadro 8, a seguir.
Quadro 8. Causas ou motivos que levaram os pais devolverem a criança (N= 6)
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) era uma adoção ilegal, a brasileira. M1, M8 P1, P8
4
2 2 0
b) se rebelou M10 -
1
0 0 1
c) ela é muito revoltada - P10
1
0 0 1
Total de pais 3 3 -
- - -
Total de respostas 3 3 6
2 2 2
Ao relatar sobre quais os motivos que impediram a realização da adoção, o casal do
grupo G3(M10 e P10) afirmou ser devido às características de rebeldia da criança em questão.
Apesar de ser um caso único, não sendo possível generalizações, pode-se inferir que uma
tendência a haver incompatibilidade no período da adaptação da criança ao novo lar, devido
principalmente às características das mesmas, conforme foi expresso pela fala do casal:
“Se rebelou bastante a ponto de levantar a mão para mim,
eu chamei o Conselho Tutelar e ela foi levada. Enveredou por
caminhos e amizades não certas, queria liberdade de rua porque ela
foi criada pedindo esmola na rua.” (G3M10)
“Ela é muito revoltada pelo que passou no abrigo e maus
tratos dos pais.” (G3P10)
9. O caminho percorrido e as expectativas para a adoção de um filho
No Quadro 9, foi descrito o percurso que os pais realizaram durante o processo da
adoção de seus filhos e as expectativas apontadas pelos mesmos. Em sua maioria, este
percurso iniciou no Fórum, com a inscrição dos casais pretendentes a adoção, sendo
inicialmente a prefencia por meninas para três famílias e de recém-nascidas de até 2 anos de
idade para cinco famílias.
70
Quadro 9. O caminho percorrido e as expectativas para a adoção de um filho
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
Caminho percorrido (N= 19)
a) inscrição no Fórum M1, M2, M3,
M4, M5, M6,
M7, M8, M9,
M10
P1, P3, P7,
P10
14
5 6 3
b) esperamos muito
tempo
M2, M6, M7 P1,P2, P3,
P8, P9
8
4 3 1
c) não esperamos muito
tempo
M1, M4, M5 P5, P7
5
1 4 0
d) processo foi difícil,
quase desisti
M7, M9 P2, P4, P9
5
1 2 2
e) não sabia que a
inscrição era necessária
M1, M4, M8 P8
4
1 3 0
Total de pais 10 9 -
- - -
Total de respostas 21 14 36
12 18 6
Expectativas (N= 16)
a) preferência por bebê M2, M3, M5,
M6, M7
P3, P5
7
3 4 0
b) preferência por menina M2, M3, M7 P2, P3, P7
6
4 2 0
c) o tempo longo gera
ansiedade
M6 P1, P2, P3,
P9
5
3 1 1
d) não escolhi idade, cor
de pele ou cor dos olhos
M1, M3, M10 P1
4
3 0 1
e) queria criança de pele
clara
M2, M7 P1, P2
4
3 1 0
f) encantei com a criança M5, M7, M9,
M10
-
4
0 2 2
g) no início assustei M4 P1, P2
3
2 1 0
h) não queria criança
deficiente
M2, M7 -
2
1 1 0
i) aceitei sem conhecer M3, M8 -
2
1 1 0
j) queria saber se eram
saudáveis
M2 P2
2
2 0 0
k) preferência por menino - P4
1
0 1 0
Total de pais 10 6 -
- - -
Total de respostas 24 16 40
22 14 4
71
Entre os 19 pais, apreendeu-se que 14 deles mencionaram que a inscrição no rum
foi o início do processo de adoção. Esta categoria foi seguida por todos os demais (5
participantes), visto que a inscrição no rum foi um dos critérios utilizados para o presente
estudo, mas durante a entrevista não foi mencionada pelos mesmos.
outras categorias que mesmo sendo representadas de maneira menos evidente
também foram decisivas no momento da adoção. A categoria seguinte de maior freqüência foi
relativa ao tempo de espera, onde 8 pais relataram ter esperado muito tempo entre a
habilitação da inscrição no rum até a inserção da criança no âmbito familiar. Entre estes,
(4) pais se encontram no grupo G1, onde a faixa etária reduzida demonstra ser o dificultador
para uma adoção.
Referindo-se ainda ao tempo de espera, 5 pais (4 pais do G2), afirmaram não terem
esperado muito tempo. Porém uma mãe, apesar de não ter relatado demora no tempo, explicou
que:
“O tempo de espera foi mais ou menos 1 ano, é quase uma
gestação. No início achava que era dar o nome e esperar.”
(G2M4)
A categoria de menor freqüência encontrada foi quanto ao desconhecimento sobre a
necessidade da inscrição no Fórum, sendo identificada por 4 pais, composto pela sua maioria
por pais do grupo G2. Dentre estes, dois pais relataram ter passado aorum com o intuito de
legalizar a adoção, foi quando tomaram ciência da necessidade da inscrão.
Entre as expectativas apontadas pelos pais e que também podem ser vistas no Quadro
9, destaca-se a preferência pela idade da(s) criança(s). Sete pais evidenciaram uma preferência
por bebês. O grupo G2, obteve a maior incidência nesta categoria, representada por 3 mães do
grupo G2 e 2 mães do grupo G1, ou seja, a expectativa de uma adoção por um bebê foi
manifestada por três mães que já possuíam filhos biológicos.
A segunda categoria mais evidenciada, com 6 pais, referiu-se à preferência pela
adoção de uma menina. Nesta categoria foi possível perceber que a mesma ficou representada
por 4 pais do grupo G1, constituída por um casal com filho biológico e outro casal que não
possuía filhos biológicos. Na categoria de menor freqüência está à prefencia por menino (1
pai).
Os pais do grupo G2(P5, P8) e um pai do grupo G3(P10), não responderam à questão.
Ainda no que se refere às expectativas dos pais, destacam-se as considerações a espera
do filho, conforme pode ser visto no relato de alguns pais:
72
“Você olha e pensa que não vai amar. Eu sinto até
remorso hoje.” (G1M1)
“Existe uma ansiedade enquanto você espera. Fiquei
imaginando como será: branca, negra? Não tem como saber. É um
susto, você pensa será que é isso mesmo que eu quero? É uma
responsabilidade grande, financeiramente e fisicamente.” (G1P1)
“Me chamaram para eu escolher entre dois irmãos e eu
disse não ia fazer isso. Falei para meu marido, fique sabendo se eu
for eu trarei os dois irmãos. Eu tinha preferência por um bebê, mas
eu me envolvi por essa situação e me apaixonei. Eu falei, ele vai dar
certo. Vai dar trabalho, mas vai dar certo.” (G2M6)
10. O processo de inscrição no Fórum
Na Figura 3, foram dispostas as informações relativas ao processo de inscrição no
Fórum, identificando o ano em que a inscrição foi realizada.
0 1 2 3 4 5
4 anos após a
inscrição
1 ano após a
inscrição
2 a 3 anos após a
inscrão
o lembro
Inscrição no Fórum
MÃES
PAIS
Figura 3. O processo de inscrão no Fórum e o tempo de espera (N= 18)
Entre as freqüências pode-se verificar que: a) três mães G1(M1); G2(M8) e G3(M9) e
cinco pais G1(P1, P2); G2(P8) e G3(P9, P10) não lembraram o ano de inscrição; b) quatro
es G1(M3); G2(M5, M7, M8) e um pai G1(P3) responderam que a adoção foi realizada
entre 2 e 3 anos após a inscrição; c) três mães G2(M4, M6) e G3(M10) um pai G2(P4)
73
afirmaram que a adoção foi realizada após 1 ano de inscrição; d) 1 mãe G1(M2) informou que
o tempo de espera entre a data da inscrão e da adoção foi de 4 anos. O G2P5 não respondeu.
De acordo com esses dados sobre o tempo de espera e as informações sobre o caminho
percorrido (Quadro 9) pôde-se observar o limiar de tolerância ao tempo (ou real conhecimento
sobre a demanda de um processo de adoção de cada respondente). A G2M5 apontou que a
adoção não demorou muito tempo, sendo realizada em 2 ou 3 anos. A G2M6 evidenciou que
houve demora no processo sendo a adoção realizada para esta, no prazo de 1 ano. Ambas as
es pertencem ao grupo G2.
11. Disponibilidade para realizar uma adoção tardia
Na Figura 4, pode ser observado que em 47,4% houve a intenção, no momento da
inscrição, de realizar uma adoção tardia.
No ato da inscrição pensava em
adoção tardia
52,6%
47,4%
SIM
NÃO
Figura 4. Disponibilidade para realizar uma adoção
tardia (N= 19)
12. Motivações para uma adoção tardia
No Quadro 10, referente às motivações dos pais para a realização de uma adoção
tardia, pode-se observar que entre os 9 pais que optaram por adoção tardia no ato da inscrão,
representados entre os grupos: G1(M1, P1), G2(M4, P4, M8, P8), G3(P9, M10, P10), 4 deles
responderam que a motivação foi em decorrência da idade, sendo o maior índice no grupo G3.
74
Quadro 10. Motivações manifestas para efetuar uma adoção tardia (N= 9)
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) devido a minha idade M1, M4,
M10
P9
4
1 1 2
b) queríamos adotar uma
criança
M4, M8 P8
3
0 3 0
c) devido à idade da criança M10 P4, P10
3
0 1 2
d) queríamos um casal de
irmãos
M1 P1
2
2 0 0
e) praticidade (não sei cuidar de
criança pequena)
M4 -
1
0 1 0
Total de pais 4 5 -
- - -
Total de respostas 8 5 13
3 6 4
A segunda categoria formada descrita no Quadro 10, composta pela maioria dos pais
do grupo G2, diz respeito a querer adotar uma criança.
A idade da criança também foi uma categoria formada pelos pais do grupo G3, o que
pode ser destacada como uma preocupação dos pais pela adoção da criança, que devido à
idade avançada apresenta maiores dificuldades. A menor categoria que se formou, apontou
para o fato de não saber cuidar de uma criança pequena, representada por uma mãe do grupo
G2.
13. Motivações e alterações perante a idade da criança
A mudança de opinião em relação à idade da criança, e opção pela realização de uma
adoção tardia, transcorreu em um período muito prolongado de conversas e reflexões,
resultando em um acordo entre o casal.
A motivação para a mudança de faixa etária pode ser observada no Quadro 11, onde
encontra-se a categorização da motivação dos pais que mesmo não optando por uma adoção
tardia logo de imediato, efetivaram-na.
Os representantes desta categoria são 10 pais: G1(M2, P2, M3, P3); G2(M5, P5, M6,
M7, P7) e G3(M9). Essas análises puderam evidenciar entre outras, que nem sempre o desejo
de um pai representa a motivação de um casal, como foi exposto pelo casal G3(M9 e P9), o
que pode identificar as diferentes expectativas entre os parceiros, em relação à idade
pretendida da criança.
75
Quadro 11. Motivação para a mudança na faixa etária para a adoção (N= 10)
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) amadurecimento M3 P2, P3
3
3 0 0
b) conhecer a criança M5 P2, P7
3
1 2 0
c) querer adotar M7 P2, P5
3
1 2 0
d) não queria ter filho
único
M2 P2
2
2 0 0
e) nossa idade M9 -
1
0 0 1
f) a idade da criança - P2
1
1 0 0
g) fazer algo pelo social M6 -
1
0 1 0
Total de pais 6 4 -
- - -
Total de respostas 6 8 14
8 5 1
Destacam-se como principais categorias formadas para a motivação de uma adoção
tardia: a) o amadurecimento dos pais, principalmente em relação aos pais do grupo G1; b) o
fato destes conhecerem a criança a ser adotada e c) querer adotar uma criança, representados
em sua maioria pelos pais do grupo G2.
Estas motivações contribuíram para que a adoção de uma criança com idade maior de
dois anos fosse possível, mesmo não sendo inicialmente, no momento da inscrição do Fórum,
a idade desejada pelos pretendentes.
A menor freqüência encontrada (1 pai) presente em três categorizações estão os
motivos relacionados: e) à idade dos adotantes; f) a idade da criança; e g) a possibilidade de se
fazer algo pelo social.
Também presente entre as categorias esteve a manifestação de um forte desejo em
adotar uma criança, representado nesta fala.
“Eu queria tanto adotar e não queria perder por causa da
idade.” (G2M7)
“Pensei em um casal de irmãos, porque se a gente morre
eles tem companhia.”(G1M1)
76
14. Idade da guarda e adoção
As idades das crianças no período da guarda
7
e o na efetivação da adoção foram
identificadas pelos pais. No entanto, o presente trabalho pautou-se e considerou as datas
constantes no registro da adoção enquanto documento oficial. Para maiores informações a
respeito das datas de adoção, consulte o Quadro 5 (página 58).
15. Revelação da adoção
Na Figura 5, encontra-se a manifestação dos pais em referência à revelação aos filhos
sobre seu processo de adoção. A maioria dos pais (16 pais) afirmou que seus filhos sabiam
sobre a sua história de adoção. No entanto, pequena porcentagem (3 pais) afirmou que seus
filhos não sabiam no início.
Revelação da adoção
84%
16%
Sabiam
Não Sabiam
Figura 5. Revelação da adoção (N=19)
Quando foi pedido aos pais que informassem a idade e a maneira como que essa
informão foi efetuada, houve uma incongruência com os dados, podendo perceber que dos
16 pais (84%) enquadrados nesta categoria, 12 destes pais G1(M3, P3); G2(M4, P4, M5, P5,
M6, M7, P7, P8, M10, P10), relataram que seus filhos receberam a informação desde o
7
A guarda é concedida a abrigos, famílias guardiãs e candidatos a pais adotivos durante o estágio de
convivência, etapa que precede a adoção. A guarda é uma medida que visa proteger crianças e adolescentes que
não podem ficar com seus pais, provisoriamente ou em definitivo. É a posse legal que os cuidadores adquirem a
partir da convivência com as crianças/adolescentes. A guarda confere responsabilidade de assistência material,
afetiva e educacional. O guardião pode renunciar ao exercício da guarda sem impedimento legal (AMB, 2008).
77
momento em que chegaram ao novo lar (fator que não poderia ter sido diferente devido à
idade da criança).
Entretanto entre os quatro pais restantes, ainda foi possível destacar: a presença de 3
pais G1(M1, P1, M2) que relataram que seus filhos ficaram sabendo de sua filiação adotiva
entre 3 e 4 anos de idade; e um pai G1(P2), que ressaltou que as filhas (F2a1 e F2a2) ficaram
sabendo de sua filiação adotiva, assim que começaram a falar de forma progressiva (que não
foi imediatamente após a adoção).
O restante da amostra (16%) 3 pais G2(M8) e G3(M9, P9) afirmaram que seus filhos
o sabiam desde o início sobre a adoção. Trata-se de duas crianças que na época tinham
respectivamente: F8a1 (3 anos e 1 mês) e F9a1 (5 anos de idade), o que evidencia que eram
crianças que já poderiam entender a verdade se ela tivesse sido revelada.
O motivo alegado por estes pais pôde ser retratado através do relato de uma mãe.
“Quando ele veio ele não sabia, porque quando chegamos
a Assistente Social
8
que entregou ele pra gente, falou essa aqui é a
mamãe e esse aqui é o papai.” (G2M8)
Assim, ninguém escondeu este fato dos filhos adotivos intencionalmente, respeitando
o nível de compreensão das crianças e problemas introduzidos no contexto por outros.
Observando o Quadro 12, pôde-se identificar as categorias formadas sobre as
estratégias “como e por quem” utilizadas pelos pais no momento da revelação da adoção.
Quadro 12. Estratégias para a revelação da adoção (N=16)
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) por nós mesmos M3, M9 P1, P2,
P4, P7,
P9
7
3 1 2
b) por eles mesmos M1, M5,
M6
P3, P5,
P8
6
2 4 0
c) por mim mesma M2, M4,
M7
-
3
1 2 0
Total de pais 8 8 -
- - -
Total de respostas 8 8 16 6 5 2
8
Convém nesse momento ressaltar que apesar das inscrições terem sido realizadas na Comarca de São Carlos,
diversos profissionais da área jurídica compuseram esse cenário, visto que alguns processos transcorreram em
outras Comarcas, não tendo como pretensão a identificação quanto aos mesmos.
78
Os pais G2(M8) e G3(M10, P10), não responderam à questão. Observa-se que os pais
G3(M9, P9), também relataram que seu filho (F9a1) não sabia sobre a adoção, e por isso
foram eles que explicaram sobre o processo adotivo da criança em questão.
Ainda no que se refere à revelação da adoção foi perguntado aos (10 pais) G1(P1, M2,
P2, M3); G2(M4, P4, M7, P7) e G3(M9, P9), como realizaram este procedimento com seus
filhos, visto que foram eles os responsáveis pela revelação. As estratégias estão descritas a
seguir:
“Contamos que nasceram em outra casa e foram
adotados. Minha esposa ficava em casa e ela é quem contava mais.”
(G1P1)
“Naturalmente.” (G1M2)
“Tentávamos falar com freqüência até que foram
crescendo e fomos conversando mais seriamente com elas.” (G1P2
“Nós conversávamos e também na hora de dormir, assim
fomos montando uma historinha pra eles.” (G1M3)
“Só eu comento com ele porque meu marido nem toca no
assunto. Ele sempre soube que é filho do coração, mas ele queria ter
nascido de minha barriga.” (G2M4)
“Eu sempre contei tudo, não tenho nada a esconder.”
(G2M7)
“Falamos que é adotiva e explicamos que a pegamos de
seus pais abandonaram. Pra entender que também não arrancamos
de ninguém.” (G2P7)
Os pais G2(P4), G3(M9, P9), não conseguiram apontar nenhuma estratégia, mesmo
tendo informado que comentavam sobre a adoção com seus filhos.
Apesar de fazer referência que seus filhos sempre souberam por eles mesmos, uma
e apontou uma estratégia utilizada em sua casa, que aprendeu com uma psicóloga.
79
“Aqui em casa usamos o termo adoção no vocabulário.
Então em casa, é uma casa que adotamos muitas coisas. Hoje s
vamos adotar um jeito novo de comer. Hoje s vamos adotar um
jeito novo de brincar com a raquete. Então adoção foi uma palavra
que a gente usou muito e que era parte do nosso vocabulário.”
(G2M6)
80
5.2 CARACTERÍSTICAS DA CRIANÇA ADOTADA (itens 16 a 20)
16. Detalhes sobre a história de vida da criança
A Figura 6 demonstra que 10 pais conheceram detalhes sobre a história de vida de
seus filhos, antes de realizarem a adoção, 7 pais afirmaram o ter recebido detalhes sobre a
mesma e 2 pais apontaram ter recebido algumas informações.
Detalhes da história de vida
52%
37%
11%
Sim Não Mais ou menos
Figura 6. Detalhes sobre a história de vida (N=19)
Os detalhes do conhecimento da história de vida apontam também para a forma como
cada pai identificou essa situação, pois, apenas os casais G2(M8 e P8); G3(M9 e P9) e
G3(M10 e P10) compartilharam a mesma opinião. O restante dos casais, ou seja, 6 casais
visualizaram a situação cada qual a sua maneira, isto é, peculiar de perceber os fatos, não
havendo assim uniformidade em suas respostas.
O pai G1P1, afirma não ter recebido nenhum histórico e nenhuma informação sobre a
história de vida da criança. A G1M1 relata que as informações recebidas foram que as
crianças estavam muito doentes, já não recebiam cuidados de seus pais, sendo que o suposto
pai usava drogas. Acredita que os pais sejam falecidos, devido à precária situação de saúde.
A mãe G2M6, afirma saber de muitos episódios de abandono, entre eles, que o menino
quase foi adotado por outra família e depois de tentativas para que o mesmo ficasse com a
avó, pois a mãe tinha problema de álcool e drogas, apenas isso.
81
17. O abrigamento e maus tratos antes da adoção
A Figura 7 evidencia que dos pais que conheceram os detalhes da história de vida de
seus filhos (52% dos pais) ou parte dela (11% dos pais) anteriormente ao período de adoção,
ou seja, 12 pais ao todo, afirmaram que as crianças passaram por algum tipo de instituição que
abriga crianças, seja esta um orfanato, albergue ou um abrigo.
9
0 2 4 6 8 10 12
Passou por
abrigo/albergue
Foi vítima de
maus tratos
sicos
Foi vítima de
abusos sexuais
Sim Não
Não tivemos conhecimento Não respondeu
Figura 7. Abrigamento, maus tratos físicos e abuso sexual (N=12)
Desses pais, a maioria (7 pais) também afirmou que seus filhos sofreram maus tratos
antes da adoção. São eles: G1(M1); G2(P5, P7) e G3(M9, P9, M10, P10). Ainda sobre os
maus tratos, 5 pais relataram que seus filhos não sofreram nenhum dano relativo aos maus
tratos físicos. Estes foram: G1(M2, P3); G2(M4, P4, M7).
A mãe G3M10, ao relembrar fatos deste tempo de maus tratos, aponta que soube pelo
relato da irbiológica, que sua filha quando pequena chorava muito e, para acalmá-la, a
e biológica misturava pinga no leite e dava para ela na mamadeira.
Uma mãe mesmo não reconhecendo detalhes da vida antes da adoção relatou, ao
relembrar os maus tratos que seu filho sofreu, que o mesmo foi muito agredido. Esse fato
pode ser confirmado em sua fala.
9
Cabe aqui salientar que esta amostra sobre o abrigamento em instituições foi relatada em outros momentos
por todos os pais, ou seja, 100% das crianças adotadas pelos pais do presente estudo tiveram uma passagem por
uma instituição.
82
“Eu demorei um pouco pra perceber, mesmo vendo, eu
achei que ele tinha caído.”. (G2M6)
Pode-se ainda observar na Figura 7, que as informações referentes ao abuso sexual,
apresentaram quatro tipos de categorias de respostas, sendo estas representadas da seguinte
maneira: a) sim G3(M9); b) o sofreram abuso sexual G2(M4, P4, P5, P7); c) o tivemos
conhecimento ou informações sobre o mesmo G1(M1, M2, P3) e G3 P9, M10, P10) e d) não
respondeu a questão G2(M7).
A e G1M1 acredita que seu filho deva ter sofrido bastante, porque tinha muito
medo sendo que em alguns momentos era pavor.
Outras informações foram fornecidas pelos pais, a respeito da vida anterior da criança
ao momento da adoção. Dos 12 pais que responderam a esta questão, 9 deles forneceram
detalhes extras. Foram eles G1(M1, M2, P3); G2(P5, M7, P7) e G3 (M9, P9, M10), conforme
pode ser observado no Quadro 13.
Quadro 13. Informações adicionais fornecidas pelos pais referentes ao período anterior
à adoção (N=9)
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) falta de cuidados M1, M2,
M7, M10
P3, P5,
P7, P9
8
3 3 2
b) não recebia visita dos pais
biológicos
M1, M2,
M9
P3, P9
5
3 0 2
c) os pais biológicos usavam
álcool e drogas
M1, M2,
M10
P9
4
2 0 2
d) passava fome M1, M2 P5, P9
4
2 1 1
e) pedia esmola na rua M7 P7
2
0 2 0
f) estava doente M10 P9
2
0 0 2
g) apanhava M10
- 1
0 0 1
h) vínculo afetivo com a mãe
M2
- 1
1 0 0
Total de pais 5 4 -
- - -
Total de respostas 16 11 27
11 6 10
Partindo-se destes dados, pôde-se formar 8 categorias, sendo a falta de cuidados a
categoria que apresentou maior incidência (8 pais), tendo sido evidenciada nos três grupos
etários analisados (G1, G2 e G3). No Quadro 13, de-se visualizar que a segunda categoria
que se formou foi referente ao o recebimento de visitas dos pais biológicos enquanto seus
83
filhos permaneceram abrigados. Ainda 5 pais afirmaram que as crianças, enquanto estavam na
instituição, não recebiam a visita de seus pais biológicos.
A menor incidência encontrada entre as categorias foi a de 1 mãe que afirmou que a
criança em questão apanhava, e de outra mãe que apontou que a criança tinha um vínculo
afetivo com a mãe biológica, mesmo enquanto estava na instituição. Em sua opinião tal ação
o foi satisfatória.
18. Conhecer os detalhes de vida
A figura 8 indica que para 67% (8 pais), ter conhecimento sobre os detalhes de vida da
criança foi um aspecto indiferente ao processo de adoção de seus filhos, que não mudou em
nada o propósito da adoção, sendo que para 33% dos pais, ou seja, 4 pais evidenciaram que o
conhecimento tenha favorecido a realização da adoção.
Detalhes de vida da criança
33%
67%
Favoreceu a adoção
Foi indiferente
Figura 8. Impacto do conhecimento dos detalhes de vida da
criança no processo de adoção (N=12)
Entre os 4 pais que ressaltaram que conhecer os detalhes da história de vida da criança
favoreceu o processo de adoção encontram-se os pais dos três grupos G1(M1); G2(P5) e o
casal do G3(M10 e P10), tendo este último afirmado que:
Conhecer os detalhes favoreceu mais rápido ainda.”
(G3M10)
“Isso não é vida para ninguém, ainda mais para uma
criança. Ela sofreu muito.” (G3P10)
84
Entre os pais que ressaltaram que conhecer os detalhes da história de vida da criança
foi um fator indiferente ao processo de adoção estão os pais: G1(M2, P3); G2 (M4, P4, M7,
P7) e G3(M9, P9).
Em relação à indiferença destes detalhes, a mãe G2M4 ressaltou:
Se fosse filho de rei ou de mendigo não teria diferença
alguma.”
Os pais deste grupo também ressaltaram o motivo de tal indiferea, que para eles
reside em:
Queríamos num primeiro momento a adoção (filhos) e
após obter informações para melhorar a vida deles.” (G1P3)
“Depois que vimos ela (a criança), pensamos dali para
frente.” (G2P7)
“Nós íamos levar ela (a criança) do mesmo jeito.” (G3P9)
Apenas 1 pai (G2P4) apesar de ter relatado que os detalhes foram indiferentes a
efetivação da adoção afirmou querer esquecer essa história.
19. Não conhecer os detalhes
A Figura 9 expõe aspectos referentes ao não conhecimento dos detalhes de vida da
criança, que em 57% foi indiferente ao processo da adoção.
Não conhecer os detalhes de vida da criança
43%
57%
Dificultou a adoção
Foi indiferente
Figura 9. o conhecer os detalhes de vida da criança (N=7)
85
Entre os 7 pais que compuseram esta amostra, estão os 4 pais que apontaram que este
fator foi indiferente. Foram eles: G1(P2, M3); G2(M8, P8), sendo que a referida questão teve
o propósito de uma investigação mais amiúde sobre a necessidade deste conhecimento.
No Quadro 14, a seguir, foram representadas as categorias referentes aos motivos que
ressaltam a indiferença perante os detalhes no processo da adoção.
Quadro 14. Indiferenças perante os detalhes no processo de adoção (N=4)
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
Conhecemos os detalhes
posteriormente
M3 P2, P8
3
2 1 0
Orientação da psiloga M8 -
1
0 1 0
Total de pais 2 2 -
- - -
Total de respostas 2 2 4
2 2 0
A fala de uma mãe representa esta atitude de indiferença perante os detalhes
“A psicóloga falou todas as coisas que podia acontecer,
então a gente foi sabendo o que poderia acontecer.” (G2M8)
O restante da amostra, ou seja, 43% (3 pais) afirmaram que não conhecer os detalhes
de vida dificultou a realização da adoção, entre esses pais estão: G1(P1); G2 (M5, M6).
Também neste caso a questão teve o propósito de uma investigação mais detalhada a fim de
obter a real necessidade, elencando as categorias referentes às dificuldades encontradas
perante a falta de detalhes no processo de adoção, destacados no Quadro 15, a seguir.
86
Quadro 15. Dificuldades expostas pelos pais perante a falta de detalhes no processo de
adoção (N= 3)
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) poderia ter descoberto suas
necessidades mais rapidamente
M5, M6 P1
3
1 2 0
b) em caso de doença não
histórico
- P1
1
1 0 0
Total de pais 2 1 -
- - -
Total de respostas 2 2 4
2 2 0
20. Receios identificados pelos pais frente à adoção
A Figura 10 indica que da amostra do presente estudo, 13 pais tiveram algum receio,
sendo o principal deles a contaminação pelo rus HIV. Do restante, 3 pais não apresentaram
nenhum receio.
Receios perante a adão
68%
32%
SIM
NÃO
Figura 10. Receios demonstrados pelos pais (N=19)
A representação dos 13 pais que manifestaram algum tipo de receio perante a adoção
está destacada na Figura 11. Os maiores índices foram: a) doenças sexualmente transmissíveis
(HIV), G1(M1, P1, P2, M3); G2(P5, M7, M8, P8), b) à saúde física, G1(M1, M2, P1);
G2(M6, P4, P5), c) ao uso de bebidas e drogas por parte dos pais biológicos G1(M1, M3, P1),
G2(P7) e G3(P9) e d) ao ambiente familiar de origem da criança G1(P1) e G3(P9).
87
Receios apontados pelos pais
0 1 2 3 4 5 6 7 8
HIV
Saúde Física
Uso de bebidas pelos pais
Uso de drogas pelos pais
Ambiente Familiar
Número de pais
Figura 11. Receios apontados pelos pais perante a adoção (N=9)
A fim de efetuar uma melhor descrição destes índices, foram realizadas análises
individuais entre os pais e as mães. Com base nesses dados pode-se observar na Figura 12,
que os pais apresentam índices mais elevados de receios do que as mães, apenas igualando-se
na categoria de resposta referente à saúde sica, onde ambos (pais e mães) apresentaram
igualdade.
Receios apresentados pelos pais e mães
0
1
2
3
4
5
HIV Saúde
física
Bebidas Drogas Ambiente
familiar
Número de pais
PAIS
ES
Figura 12. Receios apresentados pelos pais e mães
88
A preocupação dos pais no que tange à saúde física pode ser representada através da
fala de três deles.
Pedi que fosse uma criança saudável.” (G2M6)
“Não queria uma criança deficiente mental porque não
tenho condições de cuidar.” (G2M7)
Entre eles, destacam-se as doenças sexualmente transmissíveis, em especial a
preocupação com o rus HIV, sendo que esta preocupação é mais evidenciada entre os pais
(4 pais) do que entre as mães (3 mães). Ainda assim, parece existir certa contradição em
relação a este aspecto entre os próprios casais como é o caso do casal G1(M1 e P1) que
afirmou:
“Eu tinha muita preocupação e fizemos teste de HIV.”
(G1M1)
“Tinha preocupação com doenças sexualmente
transmissíveis AIDS, mas nunca fizemos nenhum teste, nenhum
exame.” (G1P1)
de-se observar ainda que as mães, além de apresentarem índices mais baixos de
receios, tiveram um índice zero referente ao ambiente familiar, sendo este um fator que
preocupou mais os pais. Esta ausência de preocupação pode ser evidenciada através da fala de
duas mães.
Informações eu tinha, e também as crianças não estão
para adoção à toa, algum motivo tinha, mas é uma coisa que tem que
entender e lidar com a informação.” (G2M6)
“Tinha muito medo das drogas e álcool, mas conversando
com os médicos, me disseram que depende da alimentação e de como
a gente cuida. A gente tem que cuidar porque se não tivesse problema
não estaria aqui.” (G1M3)
89
5.3. ADAPTAÇÃO E ESTABELECIMENTOS DE VÍNCULOS AFETIVOS
(itens 21 a 36)
21. Adaptação da criança e condição da saúde física
No Quadro 16, referente às condições da saúde física da criança no período de
adaptação familiar
10
, podem ser observadas as respostas de 19 pais. O índice mais elevado
encontrou-se na categoria: estavam bem fisicamente”, sendo esta constituída em sua maioria
pelos pais representantes do grupo G1. Nas duas categorias seguintes formadas, houve uma
composição de 6 pais em cada uma delas. Os descritores estão relacionados com: “chegou
fraco” e “ muitos vermes”.
Com as demais categorias formadas, 15 ao todo, pode-se perceber que os pais, em sua
maioria, apresentaram dificuldades com a criança referente à saúde sica, evidenciando a
necessidade de cuidados específicos e individualizados em função das suas necessidades
Outro fator preponderante está relacionado com a idade em que a criança chegou à família
substituta. Os pais do grupo G1 (crianças de 2 anos) foram aqueles que relataram as boas
condições de saúde de seus filhos. Os pais do grupo G2 (3 a 6 anos) e grupo G3 (7 a 10 anos)
foram os que relataram as maiores dificuldades em relação à saúde física.
Surgiram três categorias referentes a doenças respiratórias como asma, rinite alérgica e
pneumonia, também sendo estas categorias mais freqüentes entre os grupos de pais formados
por crianças com idade maior, grupo G2 e grupo G3.
10
Adaptação familiar é a terminologia usada para referenciar o período de adaptação (estágio de convivência)
entre a criança e a família substituta em questão. Nesta sessão de resultados intitulado 5.3. fez-se menção ao
estabelecimento de vínculos (dificuldades e facilidades) referentes a este período..
90
Quadro 16. Adaptação da criança e condição de saúde sica (N=19)
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) saudável fisicamente M1, M2, M3,
M4
P1, P2, P3
7
6 1 0
b) chegou fraco M5, M8, M10 P4, P7, P8
6
0 5 1
c) com muitos vermes M1, M5, M6,
M7, M8,
P7
6
1 5 0
d) anemia M5, M8, M10 P8
4
0 3 1
e) maus tratos e marcas
pelo corpo
M1, M5, M6,
M9
-
4
1 2 1
f) cabeça infestada de
piolho
M5, M9, M10 P5
4
0 2 2
g) condição clínica
melhor do que o (a)
irmão (a)
M1, M3 P1, P3
4
4 0 0
h) muito pequeno para a
idade
M5, M10 P10
3
0 1 2
i) bastante doente M5, P4, P5
3
0 3 0
j) asma M1, M7 P7
3
1 2 0
k) rinite alérgica M9 P9
2
0 0 2
l) dificuldade com a
comida
M10 P7
2
0 1 1
m) infecção de ouvido M6 -
1
0 1 0
n) pneumonia - P5
1
0 1 0
o) agitada M10 -
1
0 0 1
Total de pais 10 9 -
- - -
Total de respostas 33 18 51
13 27 11
91
22. Administração de medicamentos específicos
Conforme pode ser observado no Quadro 17, apesar de existirem igualdade na
categoria referente a não necessidade de medicação específica, entre os pais e as mães, estas
respostas representam a unanimidade de três casais. São eles: G1(M2 e P2; M3 e P3) e
G3(M9 e P9).
Na categoria referente à necessidade de medicação específica pôde-se observar a
unanimidade entre 2 casais, sendo eles: G2(M7 e P7; M8 e P8). Desta maneira, ressalta-se que
entre os casais: G1(M1 e P1); G2(M5 e P5); G3(M10 e P10) houve uma divergência de
opiniões nas respostas.
Sendo assim, 5 casais apresentaram igualdade de opiniões no que se refere ao período
de adaptação da criança e necessidade de medicação específica; 3 casais apresentaram
discordância referente a este período e a mãe G2M6 ressaltou que o houve necessidade de
medicação específica neste período.
Quadro 17. Necessidade de medicação no período de adaptação (N= 19)
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
Sim M1, M7, M8,
M10
P5, P7, P8
7
1 5 1
Não M2, M3, M4,
M5, M6, M9
P1, P2, P3,
P4, P9,
P10
12
5 4 3
Total de pais 10 9 -
- - -
Total de respostas 10 9 19
6 9 4
Para especificar o tipo de medicação utilizada, encontram-se descritas no quadro 18,
quais foram as doenças existentes durante o período de adaptação, sendo estas identificadas
por 7 pais da amostra.
92
Q
uadro 18. Identificação das doenças e medicações no período de adaptação (N=7)
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) vermes M7, M8 P7
3
0 3 0
b) anemia M8, M10 P8
3
0 2 1
c) asma M1, M7 P7
3
1 2 0
d) resfriado crônico,
piolhos e dor
- P5
1
0 1 0
Total de pais 4 3 -
- - -
Total de respostas 6 4 10
1 8 1
Ainda foi possível observar que os casais do grupo G2(M7 e P7; M8 e P8)
apresentaram uniformidade perante as categorias emitidas. A criança F8a1 do casal G2(M8 e
P8), apresentou durante o período de adaptação um quadro de anemia aliado ao de vermes
necessitando de cuidados duplicados.
Surgiram três categorias referentes a doenças respiratórias como asma, rinite alérgica e
pneumonia, sendo estas categorias freqüente, entre os grupos de pais G2 e G3 (formados por
crianças com idade maior).
23. Doenças diagnosticadas até o momento
Na Figura 13, está representado o número de pais que lidaram com as doenças em seus
filhos entre o período de adaptação até o momento presente. As respostas estão diferenciadas
entre os pais e as mães para melhor identificação das mesmas. Desta maneira, evidencia-se
que entre as respostas afirmativas estão 6 mães G1(M1); G2(M4, M7, M8); G3(M9, M10) e 4
pais (G2(P4, P5, P7, P8) e entre as respostas negativas estão 4 es G1(M2, M3); G2(M5,
M6); e 5 pais (G1(P1, P2, P3); G3(P9, P10).
Os resultados apontam que os 10 pais não identificaram nenhuma alteração desde o
período de adaptação até o presente momento em relão à saúde da criança.
93
0 2 4 6 8 10
Número de pais
Não
Sim
Figura 13. Doenças apresentadas até o momento (N=19)
No Quadro 19, pode ser identificado de que maneira os pais descreveram as doenças
de seus filhos até o presente momento. Com base neste quadro pode-se verificar também que
entre as categorias surgidas representam a maioria dos pais cujos filhos tiveram alguma
doença durante o período de adaptação, ou seja, ao chegarem em casa. A exceção é referente
às es do grupo G2(M4) e do grupo G3(M9), que relataram uma condição saudável das
crianças, ao chegarem em casa e que após este período apresentaram condição clínica
diferente, doenças respiratórias, como asma e rinite alérgica.
Quadro 19. Descrição das doenças identificadas nos filhos adotivos até o
momento (N=8)
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) asma M1, M4, M7
M8, M10
P7
6
1 4 1
b) doenças comuns
(catapora e sarampo)
M1 P4
2
1 1 0
c) gripe forte - P4
1
0 1 0
d) rinite alérgica M9 -
1
0 0 1
Total de pais 6 2 -
- - -
Total de respostas 7 3 12
4 6 2
94
Os pais do grupo G1(M1); G2(P7, M8) e G3(M10) afirmaram que mesmo as crianças
estando bem até o momento, realizaram todos os exames necessários, assim como a vacinação
e consulta ao pediatra, apresentando as crianças, bom estado de saúde. As mães do grupo
G2(M4, M7) e G3(M9), no entanto, ressaltaram que as respectivas crianças: F4a1, F7a1 e
F9a1 apresentam alterações de saúde de acordo com a mudança do tempo, configurando
assim na opinião delas, um quadro alérgico.
Ainda observa-se no Quadro 19, que o casal do grupo G2(M4 e P4) identificou
diferentes olhares perante a saúde do filho F4a1. Esta descrição refere-se ao período posterior
à adaptação, visto que o casal o emitiu nenhuma resposta no quadro anterior (Quadro 18). A
fala da mãe representa esta afirmativa.
“O F4a1 não fica doente. O ano passado que atacou a
crise de asma. Fiz um bom tratamento e passou, este ano ainda o
deu não, mas ele é bem forte.” (G2M4)
De acordo com o relato da mãe do grupo G3(M10), seu filho (F10a1) necessitou de
tratamento:
“Faço um tratamento agora porque o médico tem medo
que perca a vista e ele quer saber se é hereditário ou não.” (G3M10)
Os pais do grupo G2 (P5, P8) não responderam à questão.
24. Toma algum medicamento?
Na Figura 14, observa-se que dos 4 pais que afirmaram que seus filhos tomam algum
tipo de medicamento estão o G1(M2); G2(M7, P5) e G3(P9).
Referente ao tipo de medicação oferecida às crianças, os pais do grupo G2(P5) e do
grupo G3(P9) destacaram que a medicação comum é utilizada quando necessária e em caso de
apresentarem alguma gripe. A mãe G2M7 oferece medicação ao F7a1 quando está com a
asma e bronquite atacada. Entre os procedimentos estão a inalação realizada em casa e
aplicação de “Aerolim”. A e G1M2 o forneceu nenhum detalhe sobre o tipo de
medicação e para qual finalidade, apenas destacando a afirmativa.
95
0
1
2
3
4
5
6
7
8
S
i
m
N
ã
o
Número de pais
Pais Mães
Figura 14. Utilização de algum medicamento (N=19)
25. Adaptação e dificuldades encontradas:
25a. No âmbito escolar
No Quadro 20, apresentam-se as dificuldades escolares enfrentadas pelos filhos no
período de adaptação familiar. Com relação a elas, surgiram 8 categorias sendo a de maior
incidência (9 pais) a categoria informativa de que a criança: a) não estava na escola. Esta
categoria apresentou maior índice entre o grupo G2, ou seja, crianças que foram adotadas
entre 3 a 6 anos, sendo o segundo índice desta categoria identificada entre o grupo G1,
crianças que foram adotadas com 2 anos.
A segunda categoria representada com maior freqüência foi: b) não queria ir para
escola, manifestada na fala de 5 pais. Esta dificuldade apontada também é mais evidenciada
entre os grupos G2 (crianças adotadas entre 3 e 6 anos) e grupo G3 (adoção de criaas com 7
e 10 anos).
Desta maneira verifica-se que dos 18 pais que responderam a esta questão, 9 pais
apontaram que o fato de não estarem na escola foi uma dificuldade sendo delegada a estes a
responsabilidade pela inserção da criança dentro do âmbito escolar, e 5 pais afirmaram que
o querer ir para a escola foi uma dificuldade
Todas as categorias estabelecidas relacionadas com dificuldades comportamentais
foram identificadas pelos pais dos grupos G2 e G3, mas com maior incidência entre o grupo
96
G3 (crianças maiores). Em sua maioria, as dificuldades foram vivenciadas pelas crianças e
pais dos grupos G2 e G3.
O participante G1P2 não emitiu respostas para esta questão.
Quadro 20. Adaptação e dificuldades no âmbito escolar (N= 18)
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) não estava na escola M1, M3,
M4, M7, M8
P1, P3,P4,
P8
9
4 5 0
b) não queria ir pra
escola
M5, M6, M9 P5, P10
5
0 3 2
c) todas possíveis M6, M9,
M10
P9
4
0 1 3
d) comportamentos
inadequados
M6, M9 P7, P9
4
0 2 2
e) dificuldades em
conversar com outras
crianças
M5, M6 P9
3
0 2 1
f) roubava as coisas
dos outros
M5, M9 P9
3
0 1 2
g) não sabia falar uma
palavra
M2, M6 -
2
1 1 0
h) preconceito M6 -
1
0 1 0
Total de pais 10 8 -
- - -
Total de respostas 20 11 31
5 16 10
25b. Na saúde
As dificuldades encontradas pelos pais no período de adaptação referentes à saúde,
o foram diferentes das apresentadas e categorizadas no Quadro anterior (18).
25c. No âmbito educacional geral
O Quadro 21 exibe as dificuldades encontradas na educação das crianças no período
de adaptação. Entre as 15 categorias de respostas fornecidas pelos participantes, aquela que
apresentou maior incidência (5 pais), foi a de não saber falar nem escrever. O fator mais
relevante é que das 5 respostas emitidas, 3 são as do grupo G2 e G3, o que evidencia que
com maior idade as crianças não apresentavam determinados comportamentos necessários a
uma boa educação.
97
Quadro 21. Adaptação e dificuldades no âmbito educacional geral
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) não sabia falar
nem escrever
M1, M2, M6,
M10
P9
5
2 1 2
b) sem limites M2, M3, M6 P3
4
3 1 0
c) trouxe vícios do
albergue
M9, M10 P4, P5
4
0 2 2
d) geniosa M3 P3, P9
3
2 0 1
e) não podia ver a
porta aberta
M1, M3 P3
3
3 0 0
f) chorava muito M1, M3 -
2
2 0 0
g) arteira M1 P1
2
2 0 0
h) assustada M1, M3 -
2
2 0 0
i) quieta e contida M5, M6 -
2
0 2 0
j) fazia xixi na cama M9 P9
2
0 0 2
k) não tinha noção de
família
- P3
1
1 0 0
l) falta de
organização
- P5
1
0 1 0
m) as dificuldades
foram no início
- P10
1
0 0 1
n) não gostaria de
falar
- P8
1
0 1 0
o) não houve
dificuldades
M7 -
1
0 1 0
Total de pais 8 7 -
- - -
Total de respostas 21 13 34
17 9 8
As dificuldades referentes à falta de limites foram identificadas pelos pais pertencentes
ao grupo G1 (crianças adotadas com 2 anos). Os pais pertencentes aos grupos G2 e G3,
apontaram a categoria: “trouxeram vícios do albergue”, o que pode evidenciar que com o
passar da idade, as crianças abrigadas adquirem alguns comportamentos que foram percebidos
como vícios.
As características das crianças como: geniosa, arteira, chorona, assustada foram
apresentadas pelos pais do grupo G1, revelando que estas, por terem menor idade, não
demonstram através destes comportamentos o suportar a inserção em novo ambiente
familiar, gerando dificuldades adaptativas.
98
O comportamento da criança F9a1, de fazer xixi na cama, refere-se ao grupo G3, ou
seja, crianças que foram adotadas entre 7 a 10 anos de idade. Os pais G1(P2); G2(M4, M8,
P7) não emitiram nenhuma resposta a esta questão.
25d. No relacionamento pessoal e familiar
No Quadro 22, pode ser observado que no que se refere às dificuldades no
relacionamento familiar, no período de adaptação, 10 dos 15 pais que responderam a esta
questão, o apresentaram nenhuma dificuldade estabelecida no âmbito familiar. No entanto,
foram apontadas dificuldades em índices menores, com a figura paterna (relatado por 2 mães
e 1 pai, sendo principalmente na relação pai e filha), com a figura materna (relatado por 1
e) e também com o F7b3 (filho caçula).
Quadro 22. Adaptação e dificuldades envolvendo relacionamento familiar
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) não tivemos
dificuldades
M1, M4,
M7, M8, M9
P1, P5, P8,
P9, P10
10
2 5 3
b) rebeldia comigo M10 P3
2
1 0 1
c) com meu cônjuge M5, M6 -
2
0 2 0
d) com meu filho caçula M7 -
1
0 1 0
e) foi necessário um
tempo
- P1
1
1 0 0
Total de pais 8 7 -
- - -
Total de respostas 9 7 16
4 8 4
26. Estratégias facilitadoras dos pais perante as dificuldades encontradas:
26a. No âmbito escolar
Perante as dificuldades escolares encontradas no período de adaptação ressaltadas na
questão anterior, surgiram 8 categorias.
Para cada tipo de dificuldade representada pelas crianças, serão destacadas as
estratégias usadas pelos pais de maior representação e transcritas as falas dos pais.
99
b) Não queria ir para escola
A professora pedia para eu não me atrasar porque se
chegasse um pai e eu ainda não tivesse chegado, ela entrava em
pânico.” (G2M5)
“Eu falava que ela precisava estudar, tenho que ensinar
ela a estuda.” (G2M9)
c) Todas possíveis
“Apanhou de cinta nas pernas e falei: Você vai apanhar
porque não pode fazer isso para professora.” (G3M9)
d) Comportamentos inadequados no trato com outras pessoas, na escola
“Eu falava que precisava respeitar os coleguinhas.
(G3M9)
“Sei que não tem dificuldades com a aprendizagem, só não
gosta de fazer as coisas. Agora estamos elogiando as coisas que ela
faz.” (G2M5)
e) Dificuldades em conversar com outras crianças
“A professora este ano trata ela super bem, pede para ser
a ajudante do dia. Agora está começando a melhorar.” (G2M5)
“Eu tinha que ficar em cima e ensinar. Tenho que trazer
as crianças para brincar aqui em casa e ficar em cima.” (G3M9)
f) Roubava as coisas dos outros
Apanhou, sofreu repreensões para não roubar mais e
acredito que tenha melhorado, acho que entendeu o recado.”.
(G2P5).
100
“Eu quase morri, daí levamos em uma psicóloga porque a
professora pediu. E eu falava se você trouxer para casa alguma coisa
que não é seu, vai apanhar. É contra lei e a polícia pega quem traz as
coisas dos outros.” (G3M9)
g) Não sabia falar uma palavra
“A irmã adotiva mais velha, pegou como tarefa ensiná-lo
a falar. Ela ficava quase 1 hora ensinando a falar. Usava uns
cartõezinhos com figura ficava falando e corrigindo - técnica de
sentir a voz.” (G2M6)
“Coloquei na escola.” (G2M5)
26b. Na saúde
Perante as dificuldades encontradas na saúde durante o período de adaptação
ressaltadas na questão anterior, surgiram 5 categorias. Destacam-se às seguintes estratégias
que estão aqui identificadas através das falas dos pais para maior representação das mesmas.
b) Fraco fisicamente
“Batia feijão, coava e dava o caldo para comer.”
(G3M10)
“Dava leite ninho com sustagem.” (G2M6)
c) Doença respiratória
“Tiveram um ano de acompanhamento bem intenso.”
(G2M6)
d) Asma
“Acompanhamento médico devido à asma.” (G1M1)
101
26c. Na educação geral
Perante as dificuldades encontradas na educação durante o período de adaptação
ressaltadas na questão anterior, surgiram 15 categorias. Destacam-se às seguintes estratégias
que estão aqui identificadas através das falas dos pais para maior representação das mesmas.
a) não sabia falar nem escrever
“Tinha que ensinar que aqui eram usadas outras palavras,
devido ao regionalismo.” (G3M9 e G3P9)
“Tinha que conversar e ir explicando, falando.(G2M6,
G3M10)
b) sem limites
“Se falava alto me ouviam, mas se berravam paravam. Às
vezes tirava o chinelo e dava umas chineladas no bumbum.” (G1M2)
“Conversava muito.” (G1M3)
“Tinha que explicar e conversar muito com eles porque
não tinham limite para comer e o faziam até vomitar. Isso era um
problema porque chegavam a pegar comida do lixo.” (G2M6)
“Como saia na rua e abraçava todo mundo, fui tirando
isso dele e falando que não podia abraçar e beijar todo mundo que
encontrasse na rua. Tem que ver, se estou conversando com a pessoa
é porque conheço.” (G2M4)
c) trouxe vícios do albergue
“Aprendeu muita coisa que eu não sabia, se masturbava e
eu já peguei ela fazendo isso aqui. Me uma tremedeira e uma
revolta tão grande.” (G3M9)
102
e) não podia ver a porta aberta
“No início ficamos muito assustados e não podia deixar a
porta aberta.” (G1M1 e G1P3)
g) arteira
“Larguei tudo o que fazia para ficar com eles.”
(G1M1)
i) quieta e contida
“Como não conversava com a gente e não queria comer
nada, chegamos a convidar as crianças da vizinhança e fizemos uma
festinha e tinha pizza, guaraná coisa que toda criança gosta e ela
dizia que não gostava de nada não queria nada, foi uma neura porque
vivíamos ligados nos 220.” (G2M5)
j) fazia xixi na cama
“Eu levei no médico e ele deu um remédio para ela tomar
e ensinou um exercício de cortar o xixi para enrijecer os músculos.”
(G3M9)
k) não tinha noção de família
“Fizemos um trabalho de convivência primeiramente
conosco e depois fomos apresentando todos em casa, os avós, os tios
irmãos, para que fossem pegando raízes.” (G1P3)
l) falta de organização
“A gente pega no pé sempre conversando e se dedicando.”
(G2P7)
103
m) as dificuldades foram no início
“Eu brinco muito com ela, gosto dela.” (G3P10)
26d. No relacionamento pessoal e familiar
As dificuldades enfrentadas dentro do ambiente familiar, mais especificamente
voltadas para o relacionamento interpessoal apresentaram estratégias para as três categorias de
dificuldades:
a) não tivemos dificuldades
“Acabamos visitando mais os parentes e amigos porque
todos queriam conhecê-los e assim ficaram acostumados com a casa
sempre cheia.” (G1M1)
“Conversávamos muito sobre as dificuldades.” (G1M1,
G1P1, G2M6)
b) rebeldia comigo
“Devido à falta de afinidade num primeiro momento, fui
contornando e tentando reverter a situação e fui dizendo sempre, o
papai te amo muito.” (G1P3)
“Venho trabalhando e dizendo que precisa perdoar a sua
mãe biológica, porque ela tem dificuldade comigo e com toda mulher.
Tem hora que fico perdida e falo ai meu Deus pra que lado eu vou.”
(G3M10).
e) precisamos de um tempo para adaptação
“Demorou uns 4 ou 5 meses para ir pondo as coisas no
lugar. Sofremos por um tempo, minha esposa mais do que eu.”
(G1P1)
104
27. Estratégias facilitadoras para estabelecimento de vínculos de vida
No Quadro 23, encontram-se distribuídas, em 13 categorias de respostas quanto às
estratégias utilizadas pelos pais para o estabelecimento de vínculo de vida e que, portanto,
foram consideradas por estes como facilitadoras.
Quadro 23. Estratégias facilitadoras para o estabelecimento de vínculos de vida
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) carinho M1, M7, M8,
M9
P9
5
1 2 2
b) dedicação M5, M7, M9 P7, P9
5
0 3 2
c) amor M1, M9,
M10
P8
4
1 1 2
d) atenção M1, M9,
M10
P9
4
1 0 3
e) adaptar-se a nós M4, M5 P5, P7
4
0 4 0
f) colo M1, M7,
M10
P10
4
1 1 2
g) paciência M5 P1, P8
3
1 2 0
h) muita conversa M1, M8 P1
3
2 1 0
i) características da
criança
M10 P10
2
0 0 2
j) escola M2, M6 -
2
1 1 0
k) apoio dos amigos M6 -
1
0 1 0
l) condição financeira M6 -
1
0 1 0
m) querer a adoção M7 -
1
0 1 0
Total de pais 9 6 -
- - -
Total de respostas 27 12 39
8 18 13
O maior índice que pôde ser encontrado foi a categoria: a) carinho, sendo esta
freqüentemente encontrada entre os pais que realizaram uma adoção de crianças maiores (G2
e G3) evidenciando assim uma maior necessidade de afeto. Para as criaas que se encontram
nesta faixa etária (G2 e G3) também foram indicadas categorias: b) dedicação; c) amor; d)
atenção; e) paciência, que segundo os pais, há necessidade de doação em nível maior.
De acordo com estes dados, o grupo G2 ressaltou que uma condição que favoreceu o
vínculo entre pais e filhos foi a facilidade da criança adaptar-se à nova família. Ocorrência
semelhante não foi encontrada entre os demais grupos. Ainda, de acordo com observações
105
feitas pelos casais, percebe-se que fatores contingentes como ser carinhosa, meiga, educada,
contribuíram para a adaptação da nova família.
Observa-se também que a estratégia de pegar no colo foi um comportamento
encontrado em todos os grupos, o que representa um acolhimento. Nos dizeres da mãe do
grupo G1(M1), ao ser pega no colo, sua filha “... ficava tranqüila, molinha e dormia”. Para a
e do grupo G3(M10), o colo era necessário ... eu sentava na sala e ela tinha que ficar
deitada em meu colo até dormir por um bom tempo, assim se acalmava e dormia”. O
abraçar em seu colo também foi uma estratégia utilizada pela mãe do grupo G2(M5), que
afirmou “... sempre abraçando e pegando-a no colo.”
Evidenciou-se, também como estratégia em potencial e facilitadora para o
estabelecimento de vínculos, o papel relevante que a escola apresentou neste processo.
Entre as estratégias identificadas de-se ressaltar as apresentadas no grupo G2, que
foram: k) apoio dos amigos; l) condição financeira; m) querer adoção, que foram consideradas
facilitadoras neste processo para este grupo constituído por duas mães que tem filhos
biológicos e que adotaram crianças com idade de 4 anos, o que demonstrou ser nesta fase o
apoio financeiro e de amigos tão necessário quanto ao desejo para o sucesso e realização
efetiva da adoção.
28. Núcleo familiar constituído por filhos adotivos e biológicos
Observando a Figura 15, pode-se verificar a porcentagem de pais que apresentam
filhos biológicos. Entre os pais (9) que apresentam este perfil, estão: G1(M2, P2); G2(M6,
M7, P7, M8, P8) e G3(M10, P10).
Presença de filhos biológicos
47%
53%
SIM
NÃO
Figura 15. Presença de filhos biológicos
106
É importante ressaltar que há 2 pais em cada um dos grupos G1 e G3 e 5 pais do grupo
G2.
Por este aspecto (possuir filhos biológicos) ser representada por uma considerável
amostra é necessário verificar como ocorreu a adaptação destas crianças (filhos biológicos e
filhos adotivos) identificando, portanto, as facilidades no processo de adaptação familiar,
descritas respectivamente no quadro 24.
Quadro 24. Identificação de aspectos facilitadores na adaptação entre filhos
biológicos e adotivos
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) fácil adaptação
entre eles
M6, M10 P7, P8, P10
5
0 3 2
b) ajuda do filho
mais velho
M2, M6 -
2
1 1 0
c) decisão familiar
conjunta
- P2
1
1 0 0
d) desejo realizado M2
1
1 0 0
Total de pais 3 4 -
- - -
Total de respostas 5 4 9
3 4 2
A categoria de maior incidência e, conseqüentemente, representada pela cil
adaptação foi identificada entre os grupos G2 e G3, demonstrando que apesar de ser um
desejo realizado, ter sido uma decisão em conjunto e contar com a ajuda do filho mais velho,
o pareceu tão fácil a adaptação entre os filhos do grupo G1.
Observando o Quadro 25, pode-se verificar as dificuldades no processo de adaptação
familiar.
Quadro 25. Identificação das dificuldades vivenciadas na adaptação familiar
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) não houve
nenhuma dificuldade
M8 P7, P8
3
0 3 0
b) ciúmes M2, M6, M7
3
1 2 0
c) foi tudo difícil P2
1
1 0 0
Total de pais 4 3 -
- - -
Total de respostas 4 3 7
1 5 0
107
Entre as dificuldades apresentadas, o grupo G1 destacou a categoria ciúmes como o
principal fator desfavorecedor da adaptação entre os filhos biológicos e adotivos. A mesma
variável não foi exclusiva para o grupo G1, sendo encontrada também no grupo G2. Pode-se
inferir que a categoria ciúmes foi a principal variável no estágio de adaptação entre os filhos.
Cabe ressaltar diante da análise da variável ciúmes que ela não foi identificada
como fator dificultador entre os filhos do grupo G3, o que provavelmente deu-se em
decorrência da diferença de idade entre os filhos biológicos e adotivos (11 anos), diminuindo
a probabilidade desta ocorrência.
No entanto, o que apresenta unanimidade entre os pais que formaram esta categoria foi
a perda da condição de filho único ou caçula. A mudança na sua posição familiar, ou seja,
passar a ser o filho (a) mais velho (a), foi crucial para emissão deste comportamento. Tal fato
pode ser observado conforme representado através da fala dos pais:
“Minha filha mais velha (F2b1) falava que eu não dava
bola pra ela.” (G1M2)
“Meu filho (F6b1) que até então era o caçula (entre os
homens) passou a ser o filho mais velho. Ele perdeu o lugar de filho
único, e ele não queria perder esse lugar. A maior dificuldade é que o
F6b1 e o F6a3 têm algumas coisas em comum e temia que ele
ocupasse o seu lugar.” (G2M6)
Depois de uns 4 anos pra cá, quando fazia uns 3 anos que
ela (F7a1) estava aqui começamos a perceber que a caçula tinha
ciúmes dela. Ele morre de ciúmes dela porque era o caçula..
(G2M7)
Para maiores detalhes sobre a idade dos filhos biológicos e adotivos, consultar quadro
5, na página 58 deste estudo.
As possibilidades da existência de diferenças no tratamento entre o filho biológico e o
adotivo também foram analisadas. Foram formadas três categorias de respostas que podem ser
observadas no Quadro 26.
108
Quadro 26. Diferenças no tratamento entre filhos biológicos e adotivos
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) não houve
diferenças
M6, M7, M8,
M10
P7, P10
6
0 4 2
b) as características
das crianças
- P2, P8
2
1 1 0
c) de minha parte M2
- 1
1 0 0
Total de pais 5 4
Total de respostas 5 4 9
2 5 2
O maior índice encontrado foi a inexistência destas diferenças, sendo verbalizada
pelos participantes dos grupos G2 e G3. A segunda maior incidência, encontrada entre os
grupos G1 e G2, referiu-se às características da própria criança, representada através da fala
destes pais.
“A gente busca não criar diferenças, mas tivemos
dificuldades por causa da falta de limites. Estas dificuldades geraram
uma diferença de atitudes em relação a elas. O tratamento é
diferenciado em função das características delas. Somos muito mais
rigorosos com elas do que com a filha biológica porque são pessoas
muito diferentes.” (G1P2)
“O que existe é um procedimento diferente, a ão dele
(F8a1) é outra e diferente das meninas (F8b1, F8b2, F8b3), porque
ele é mais agitado e arteiro do que elas.” (G2P8)
29. Núcleo familiar exclusivamente constituído por filhos adotivos
O núcleo familiar constituído exclusivamente de filhos adotivos foi formado por 5
famílias. Entre esses (10 pais) estão: G1(M1, P1, M3, P3); G2(M4, P4, M5, P5); G3(M9, P9).
No entanto, a fim de identificar a adaptação e convivência entre as crianças em casa,
foi necessário destacar entre os pais sem filhos biológicos (10 pais), que 2 casais (G1(M1,
P1 e M3, P3) que adotaram um casal de irmãos; 1 casal (G2(M5, P5) que adotou duas
crianças, o sendo iros biológicos; e 2 casais (G2(M4, P4), G3(M9, P9) que adotaram
uma única criança, a qual assumiu o papel de filho único, até o presente momento.
109
Observando a figura 16, pode-se verificar a freqüência e distribuição dos filhos da
referida amostra.
Freqüência e distribuição dos filhos da amostra
11
10
7
0 2 4 6 8 10
Adoções tardias
Filhos biológicos
Adoções precoces
mero de filhos
Figura 16. Freqüência e distribuição dos filhos da amostra (N=28)
No Quadro 27, pode-se verificar as categorias relativas à adaptação e convincia entre
os filhos adotivos que, formaram-se entre os grupos G1 e G2. Os pais G2(M4, P4) e G3(M9, P9)
o participaram desta elaboração de categorias por terem a constituição familiar composta por
um único filho.
Quadro 27. Adaptação e convivência entre os filhos adotivos (N= 6)
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) sempre tem atrito
entre eles
M1, M3, M5 P1, P3, P5
6
4 2 0
b) não houve
dificuldades
M3 P1, P3, P5
4
3 1 0
Total de pais 3 3 -
- - -
Total de respostas 4 6 10
7 3 0
Os pais foram indagados sobre a maneira como educariam seus filhos se estes fossem
biológicos. Tal questionamento serviu para identificar se existiria alguma diferença na
educação. Os 5 pais responderam que não diferenças entre filhos biológicos e adotivos,
conforme a fala dos seguintes pais.
110
“O que eu poderia era ter melhorado meu modo de ser,
porque tinha hora que eu tava muito cansada e chorava e dizia pelo
amor de Deus. Hoje eu não faria isso, mas é questão de experiência.
Algumas coisas eu melhoraria, mas o carinho e o amor que eu dei,
eles receberam.” (G1M1)
“Não tenho filhos naturais, mas creio que não, acho que
seria da mesma forma.” (G1P1, G2P5)
“A gente trata muito bem, mas tem que ter limites. Não
tem complacência porque é filho adotivo não e vou deixar fazer tudo
o que quer.” (G1M3 e G1P3)
“Não, no dia a dia, você nem lembra que são adotivos.
Você lembra quando comenta.” (G2P5)
Apenas a G2M5 não respondeu a este questionamento.
30. Comportamentos da criança no período da adaptação
O Quadro 28 refere-se aos comportamentos emitidos pela criança durante o período de
adaptação da mesma ao ambiente familiar.
111
Quadro 28. Comportamento da criança no período da adaptação (N=18)
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) vontade de mamar
no peito
M4, M5, M9,
M10
P5, P9
6
0 3 3
b) fazer xixi na cama M4, P2, P3, P4,
P9
5
2 2 1
c) usar mamadeira M4, M5, M9,
M10
P5
5
0 3 2
d) querer colo M1, M6, M9,
M10
P10
5
1 1 3
e) gritava muito M1, M4, M6 P1
4
2 2 0
f) falta de limites M2, M7 P2
3
2 1 0
g) passou a chupar
chupeta
M1, M9 -
2
1 0 1
h) passou a chupar o
dedo
M8 P7
2
0 2 0
i) pedia um iro (a) M9 P10
2
0 0 2
j) agressividade M1 -
1
1 0 0
k) engatinhava M3 -
1
1 0 0
l) limpava tudo do
chão
M7 -
1
0 1 0
m) jeito de menina
de rua
- P7
1
0 1 0
Total de pais 10 8
Total de respostas 23 13 36
7 15 12
Um índice maior de respostas (6 pais) foi indicado para a categoria: a) vontade de
mamar no peito. De acordo com a descrição desta categoria pôde observar que ela foi
expressiva nos grupos G2 e G3, ou seja, grupos com crianças de faixa etária maior. A segunda
categoria de maior índice, com 5 pais em cada uma delas foi: b) fazer xixi na cama; c) usar
mamadeira. Estas categorias são de certa forma esperadas perante as crianças do grupo G1
(crianças adotadas com 2 anos) por estas serem pequenas, mas de acordo com as falas dos
pais, esta intercorrência perdura até os dias atuais, conforme pode ser observado.
Até o ano passado fazia xixi na calça. Fica muito
entretido e não vai no banheiro.” (G2M4)
“Fazia xixi na calça. Usou fralda até o mês passado.”
(G2P4)
112
“Até hoje a F2a1 faz xixi na cama. Algumas noites ainda
acontece, mas antes era todo dia. Demoraram pra tirar a fralda.
Tiraram a fralda com 5 ou 6 anos”. (G1M2)
Outra categoria foi relacionada ao comportamento da criança pedir o colo de um
adulto principalmente para que consiga dormir. Essas ações podem ser observadas na
exposição de alguns pais.
Tinha que pegar ela no colo e abraçar para dormir. Para
eu poder sair, eu tirava a mãozinha dela e punha uma bonequinha
pra ela ficar segurando. Depois disso foi muito tranqüilo.” (G1M1)
“Ficava com eles no quarto até dormir, pegava no colo,
fazia massagem nos pés. Usei muito essas coisas.” (G2M6).
As demais categorias encontradas foram: e) gritava muito; f) falta de limites. Os gritos
foram identificados por alguns pais como gritos fora do comum e de acordo com a G2M4, os
mesmos eram em decorrência de sonhos.
“Ele acordava de noite gritando às vezes e eu ia até o
quarto e ele falava pra mim, mãe porque você me abandonou naquele
abrigo?"
Ainda pode-se observar diante do Quadro 28, que as categorias: e) gritava muito e f)
falta de limites, foram mais encontradas entre os grupos G1 e G2. O índice predominante
encontrado no grupo G3 foi a categoria: d) “querer colo”, pode-se perceber desta maneira a
necessidade de acolhimento que as crianças de maior idade também requerem.
As categorias surgidas e, portanto, com menor incincia foram: j) agressividade; k)
engatinhava; l) limpava tudo do chão; m) jeito de menina de rua, todas com uma freqüência
de um pai em cada categoria.
Nenhuma dessas 4 categorias foi encontrada no grupo G3.
31. Reação dos pais perante os comportamentos na adaptação
O Quadro 29, identifica a reação dos pais no lidar com alguns comportamentos iniciais
de seus filhos, descritos na questão anterior. Assim, diante do comportamento inicial de
“vontade de mamar no peito”, a reação dos pais foi a de explicar que no seio não havia leite
por isso não poderiam mamar.
113
Quadro 29. Reação dos pais perante os comportamentos da criança no período de
adaptação (N= 17)
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) expliquei que não
tinha leite
M4, M5, M9,
M10
P5, P9
6
0 3 3
b) muita conversa M7, M8 P4, P7, P8
5
0 5 0
c) ficava brava M1, M2, M6 -
3
2 1 0
d) mantivemos a
fralda
M3 P2
2
2 0 0
e) brincava muito
com ele (a)
- P10
1
0 0 1
f) tinha medo de
perdê-la
M1 -
1
1 0 0
Total de pais 10 7 -
- - -
Total de respostas 11 7 18
5 9 4
Reitera-se que esta categoria foi composta por pais representantes dos grupos G2 e
G3. No enfrentamento desta situação, percebem-se difereas nas tentativas de resolução por
parte dos pais. Isto pôde ser constatado pelas explicações dadas por eles à criança:
Eu falei que aqui (peito), não tinha leite, se eu
arrumasse uma vaca, porque ela tem leite. E ela dava risada!!
Comprei uma mamadeira pra ela e expliquei que ela era grande para
mamar mamadeira e chupar chupeta. Eu explicava que Deus não
tinha dado filho pra mim, expliquei que da minha barriga não nascia
nenê.” (G3M9)
“Eu ficava triste chateado, mas a gente não podia ficar
brava. Era uma coisa que fazia tão inocente e não tinha a intenção.”
(G3P9)
“Eu falava pra ele que tinha mamadeira. Ele mamou na
mãe dele até 1 ano. A lembrança que ele tinha da mãe é a de mamar.”
(G2M4)
“Ela pedia pra eu comprar mamadeira, mas estava
com 12 anos. Eu fui cortando porque a psicóloga mesmo é que falou.
Eu punha um pouquinho de leite na mamadeira, levava pra ela e ela
dava umas chupadinhas e ficava quietinha e dormia tranqüila. Ela
sente muita falta da mamadeira.” (G3M10)
114
“Ela inventou tanta história de que queria mamar no
peito que um dia eu deixei. Eu falei pra ela que era ruim e não saia
leite. Ela experimentou e nunca mais quis.” (G2M5)
“A minha esposa acabou mostrando como é que
amamentava. Ela não quis não me recordo ao certo. Mas ela tinha
essa falta, isso era um capítulo da vida dela de traz que ficou
faltando” (G2P5)
A categoria formada por; b) muita conversa foi utilizada por (5 pais, todos
pertencentes ao grupo G2), o que ressalta nesta análise é o maior índice de pais nesta
categoria, o que mostra o quanto eles também estão preocupados com a educação de seus
filhos. No entanto apesar de relatar que conversam muito com seus filhos nenhum destes pais
soube exemplificar um episódio que pudesse ser utilizado como estratégias, o que pode
denotar uma ausência de modelos desta prática na adoção tardia.
Diante de comportamentos da criança de inserir o dedo na boca (mesmo que durante o
dia); de uma criança com mania de limpeza e diante da criança fazer xixi na cama. A fim de
ilustrar as diferentes estratégias apontadas por estes, as falas também serão expostas a seguir:
A gente fala pra ele não chupar o dedo, mas é uma
coisa que não tem jeito. Quando ele dorme, já põem o dedo na boca.”
(G2M8)
“Corrigia falava pra ele tirar o dedo da boca. Ele atendia
na hora era só sair de perto ele já punha o dedão na boca.” (G2P8)
“Eu falava que não precisava ficar limpar o chão. Falava
que se fizer bagunça pode arrumar, limpar. Mas eu tenho empregada
que limpa.” (G2M7)
“Nós pegamos firme mesmo com ela, e a mudança foi
rapidinha.” (G2P7)
“A noite é difícil porque ele não acorda pra fazer xixi.
Agora ele tá conseguindo.” (G2P4)
Nas demais categorias, pode ser observado que o medo de perder a criança foi
apresentado por uma mãe do grupo G1, assim como também foi evidenciada a opção em
115
manter a fralda diante de fazer xixi na cama, denotando assim características bem próximas
das encontradas em bebês.
A categoria apresentada com o menor índice de freqüência e por apenas um único pai
foi a de um pai do grupo G3 que afirmou ter brincado sempre com sua filha.
32. Adaptação familiar: lidando com a palavra “NÃO”
No Quadro 30, pode ser observada as atitudes das crianças, durante a adaptação
familiar, e como as mesmas reagiam quando recebiam um não. Das 6 categorias formadas,
que apresentou maior índice foi: a) fica bravo (a), sendo a mesma percebida nos grupos G2 e
G3, mas com ênfase entre o grupo G1.
Quadro 30. Adaptação familiar: lidando com a palavra “Não” (N=18)
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) fica bravo (a) M1, M8, M9 P1, P9, P10
6
2 1 3
b) faz bico (emburra) M5, M10 P1, P5, P10
5
1 2 2
c) jogar-se no chão
(birra)
M1, M3, M8 P8
4
2 2 0
d) ignoravam M2 P2, P7
3
2 1 0
e) normal M4, M7 P4
3
0 3 0
f) ficava triste M6, M10 -
2
0 1 1
Total de pais 10 8 -
- - -
Total de respostas 13 10 23
7 10 6
A segunda categoria de maior destaque formada foi: b) faz bico ou emburra mais
presente entre os grupos G2 e G3. a terceira categoria de maior freqüência mais fortemente
presente entre os grupos G1 e G2, esteve a ação de jogar-se no chão fazendo birra, o que
demonstra uma atitude mais infantilizada por parte das crianças do grupo G2
A capacidade de entristecer perante uma palavra negativa esteve mais presente nos
grupos G2 e G3, evidenciando uma capacidade maior de elaboração dos sentimentos.
116
33. Recursos auxiliares utilizados na construção de vínculos afetivos
Na Figura 17, observa-se que o maior índice de respostas esteve presente de maneira
uniforme nas categorias: a) ajuda familiar e b) utilização de histórias infantis.
0 1 2 3 4 5 6 7
Ajuda familiar
Histórias infantis
Filmes infantis
Nenhum recurso
Figura 17. Recursos auxiliares utilizados pelos pais na construção
de vínculos afetivos
Entre os pais que afirmaram ter recebido ajuda e apoio familiar encontra-se três mães
G1(M1, M2) e G2(M5) e quatro pais G1(P1); G2(P7, P8) e G3(P10). Ao especificar a ajuda
recebida alguns pais informaram que:
“A minha irmã me ajudou mais em casa porque eu queria
ter mais contato com eles, não queria uma babá.” (G1M1)
“Meu pai e minha mãe que são nossos vizinhos.” (G2M5)
O uso de histórias infantis como recurso, foi indicado pelas mães G1(M2, M3);
G2(M6) e pelo pais do grupo G1(P1, P3); G2(P5, P7), onde há um relato.
“Gosto muito de contar histórias, uso dedoches, fantoches.
É um recurso que eu utilizo.” (G2M6)
“O importante é que tivemos a orientação de sempre
contar a verdade. Através de historinha, conversando e escutando,
contar as coisas em forma de historinha.” (G1P3)
117
A categoria: c) filmes infantis, também foi evidenciada pelos pais. Um número
bastante reduzido de pais não utilizou nenhum recurso.
Além destas categorias formadas, 11 pais afirmaram que utilizaram outros recursos
durante o período de adaptação da criança à nova família. Entre estes, destacaram-se 5
categorias que estão descritos no Quadro 31.
Quadro 31. Outros recursos
auxiliares utilizados pelos pais na construção de vínculos
afetivos (N= 9)
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) trabalhos artesanais
(brinquedos)
M1, M6, M7 -
3
1 2 0
b) aconchego físico M2, M8 P9
3
1 1 1
c) palavras carinhosas M2, M6 -
2
1 1 0
d) disciplinas e regras M6 P2
2
1 1 0
e) um pouco de tudo M10 P7
2
0 1 1
Total de pais 6 3 -
- - -
Total de respostas 9 3 12
4 6 2
Conforme pode ser observado no Quadro 31, entre as categorias e com uma freqüência
bastante distribuída estão os trabalhos artesanais (brinquedos) que apresenta maior índice
principalmente no grupo G2. Assim como o aconchego sico presente em todos os grupos
(G1, G2 e G3), ressaltando que em todas as fases do desenvolvimento há necessidade de
acolhimento. Ao definir esta terminologia, os pais ressaltaram:
“Aconchego físico é abraçar, beijar pegar no
colo.”(G1M2)
“A gente dava muito carinho pra ele, conversava
bastante.” (G2M8)
Com relação aos demais recursos auxiliares utilizados na construção de vínculos de
vida, ganham ênfase, c) palavras carinhosas; d) disciplinas e regras, também presentes entre
os grupos G1 e G2. Diante destes recursos destaca-se a fala dos pais:
“Temos regras e elas são claras e precisam ser seguidas.
Elas tinham pai e mãe e precisavam nos consultar. Agora elas têm
uma referência.” (G1P2)
118
34. Recursos e suportes técnicos auxiliares
Na Figura 18, observa-se que a maioria dos pais utilizou algum recurso ou suporte
técnico durante o período de adaptação, sendo que apenas uma pequena porcentagem de pais
o se beneficiou de tal procedimento.
Uso de recursos no período de adaptação
e suporte técnico
26%
74%
SIM
NÃO
Figura 18. Período de adaptação e suporte técnico
Com o intuito de verificar quais foram esses recursos e por quem foram utilizados,
encontram-se descrito no Quadro 32.
Quadro 32. Recursos e suportes técnicos auxiliares (N=12)
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) psilogo M3, M6, M9,
M10
P3, P4, P9
7
2 2 3
b) pediatra M1, M3, M6,
M9
P5, P7, P9
7
2 3 2
c) professores e
pedagogos
M6, M8 -
2
0 2 0
d) fonoaudiólogo M2 -
1
1 0 0
e) otorrino M6 -
1
0 1 0
f) GAASC
11
- P9
1
0 0 1
g) APAE
12
M10 -
1
0 0 1
h) UFSCar
13
M10 -
1
0 0 1
Total de pais 7 5 -
- - -
Total de respostas
14 7 21
5 8 8
11
Grupo de apoio à adoção de São Carlos
12
Associação de pais e amigos dos excepcionais
13
Universidade Federal de São Carlos
119
Apreende-se que duas categorias apresentaram maior incidência: a procura pelo
profissional psicólogo e pediatra, estando ambos presentes, em todos os grupos de faixa etária
(G1, G2 e G3).
“Médico pra tirar nossas dúvidas de doenças pré-
existentes. Agora fono e psicólogo não achamos que houve
necessidade.” (G2M5)
“Só a psicóloga do Fórum mesmo.” (G2P4)
A categoria formada por professores e pedagogos foi destacada no grupo G2. A
procura pelo profissional da fonoaudiologia esteve presente entre o grupo G1.
“Eu inicialmente procurei uma fono, e ela me falou que
tinha quase certeza que ela tinha um transtorno do processamento
auditivo. O transtorno do processamento é o seguinte, a mãe, ao
embalar a criança, pegar no colo, cantar, de ter carinho não da
mãe, mas da família toda, o cérebro desenvolve uma seleção de sons.
Então ela sabe quando tem um carro passando na rua, ou rádio
ligado ou quando a mãe ta falando perto dela, então ela seleciona
quando quiser ouvir a mãe e o carro e o rádio fica em segundo plano.
Eu nem sabia que isso existia e a gente faz essa seleção, nesse
período de 2 anos, quando ocorre a maturação do cérebro.” (G1M2)
A menor incidência manifestada entre as categorias, observou-se que foi devido à
procura por uma instituição de apoio (GAASC, APAE e UFSCar) todas presentes no grupo
G3. Na totalidade os índices mais elevados foram percebidos entre os grupos de pais G2 e G3.
35. Motivos identificados para a ausência de recursos auxiliares
Conforme pode ser observado no Quadro 33, dos 5 pais que não procuraram recurso, a
resposta foi unânime quanto à motivação. Todos acharam não ser este um recurso necessário.
Entre os depoimentos dos pais podem ser destacadas as falas:
“Achávamos que tinha condições de cuidar devido a
minha idade e também porque nunca deram problema.” (G1P1)
“Falta de conhecimento mesmo, e realmente foi uma
questão de trabalhar o disciplinar mesmo.” (G1P2)
120
“No começo naquela fase difícil eu até achei que seria
necessário, procurei uma psicóloga, mas depois as coisas começaram
a se encaixar.” (G2M5)
“Não teve necessidade.” (G2M7)
Quadro 33. Motivos identificados para a ausência de recursos auxiliares (N=5)
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) acreditava que não
era necessário
M4, M5, M7 P1, P2
5
2 3 0
Total de pais 3 2 -
- - -
Total de respostas 3 2 5
2 3 0
36. Alternativas encontradas para os cuidados das crianças
Na Figura 19, verifica-se que a categoria de maior índice foi a ajuda concedida por
uma profissional que trabalha na casa como empregada. Entre esses pais destacaram-se
G1(M3,P3); G2(M6,M7,P7). A categoria seguinte de maior incidência foi a ajuda proveniente
da escola (destacada como um grande apoio), pelos seguintes pais G1(P2); G2(M6,M7).
5
3
2
15
0 5 10 15
Outros
Empregada
Escola
Babá
Figura 19. Alternativas encontradas para os cuidados
das crianças
Outras alternativas também foram relatadas por 9 mães G1(M1,M2); G2(M4,
M5,M6,M7,M8) e G3(M9,M10) e por 6 pais G1(P1,P2); G2(P4,P5,2P7) e G3(P9) que pode
ser analisada observando o Quadro 34.
121
Quadro 34. Alternativas encontradas para os cuidados da criança (N=15)
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) entre nós mesmos M4, M5, M8,
M9
P4, P5, P7,
P9
7
0 6 2
b) eu mesma M1, M7, M10 -
3
1 1 1
c) uma pessoa para
cuidar no início
M9 P2, P9
3
1 0 2
d) meu cônjuge M6 P1, P4
3
1 2 0
e) minha mãe M2 -
1
1 0 0
f) minha filha M2 -
1
1 0 0
Total de pais 9 6 -
- - -
Total de respostas 11 8 19
5 9 5
Entre as soluções encontradas para os cuidados dispensados à criança quando chegou
no novo lar podem ser ilustradas pelas falas:
A minha esposa foi quem ficou bastante com eles. Acho
também que toda a ajuda é necessária porque é difícil no começo. E o
eu pode ajudar são pessoas eu passaram por essa experiência ou
que trabalham com isso.. (G1P1)
eu e ele. Eu ficava em casa, voltei a trabalhar esse
ano. Cuidei dele (F4a1) sozinho mesmo. Estava afastada mas acabou
e voltei a trabalhar.” (G2M4)
“Entre nós mesmos e talvez isso tornou-se uma
aproximação mais afetiva, pois não houve nenhum tipo de
interferência na educação. Com exceção dos avós maternos que são
nossos vizinhos que amam muito eles.”(G2P5)
“Entre nós mesmos. A gente faz tudo o que pode.” (G2P5
e G2P7)
122
5.4. RELACIONAMENTO ATUAL (itens 37 a 45)
37. Estratégias para a educação de seu (a) filho (a)
No Quadro 35, pode ser observado as estratégias atuais que são facilitadoras no
processo de educação de seus (as) filhos (as).
Quadro 35. Estratégias atuais facilitadoras na educação de meu filho (a) (N=17)
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) o bom comportamento M1, M7,
M9, M10
P2
5
2 1 2
b) superamos todas as dificuldades
do começo
M3, M4,
M5
P3, P5
5
2 3 0
c) a ajuda da escola M2, M5 P1, P5
4
2 2 0
d) extremamente inteligente M6 P7
2
0 2 0
e) bom coração M8 P9
2
0 1 1
f) interessado pelo esporte M2 P8
2
1 1 0
g) mantém bom relacionamento
afetivo comigo
M2, M4 -
2
1 1 0
h) minha esposa - P1
1
1 0 0
i) muita conversa com eles - P1
1
1 0 0
j) aspecto Financeiro M3 -
1
1 0 0
Total de pais 10 7 -
- - -
Total de respostas 15 10 25 11 11 3
A maior freqüência encontrada foi referente às categorias que ressaltaram o bom
comportamento apresentado pelos filhos (as), tem ocorrência nos três grupos (G1, G2 e G3).
Pode-se inferir que tal categoria poderia possivelmente ser em decorrência da superação de
todas as dificuldades existentes no início, no entanto, apesar da categoria manter uma
freqüência igual a anterior ela foi respondida por outros pais.
O segundo maior índice de categoria formada foi a ajuda promovida pela escola, que
não foi evidenciada pelos pais que constituem o grupo G3.
Ainda no que se referiu às características das próprias crianças, 4 categorias foram
formadas, cada qual apresentando um índice de 2 pais em cada uma delas. Entre as
características formadas, estão: d) extremamente inteligente, e) bom coração, f) interessado
pelo esporte e g) mantendo um bom relacionamento com suas mães.
123
O aspecto financeiro foi evidenciado pela fala de uma mãe, mesmo referindo-se a
outro filho adotivo.
“Não que você precisa ter muito recurso, mas
o F3b2, por exemplo, precisou de um recurso maior e os
profissionais que ele precisa são caros. Então não seria
em qualquer lar que ele fosse que ele teria esse recurso
todo.” (G1M3)
No Quadro 36, observa-se as manifestações comportamentais das crianças, no
momento atual, que foram apontadas pelos pais como dificultadoras. Entre as 9 categorias
formadas, especial destaque foi dado às dificuldades de concentração, experimentada
principalmente em maior índice entre os dois grupos G1 e G2.
Quadro 36. Manifestações atuais das crianças identificadas pelos pais como sendo
dificultadoras na educação do (a) filho (a) (N=18)
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) falta de concentração M2, M5, M10 P2, P3, P5,
P7
7
3 3 1
b) sem disciplina
escolar
M4, M9, M10 P2, P8, P9,
P10
7
1 2 4
c) teimosia M1, P1, P4
3
2 1 0
d) dificuldade na
educação
M3 P1, P5
3
2 1 0
e) requer muita atenção M2, M6, M10 -
3
1 1 1
f) falta de organização M10 P7
2
0 1 1
g) questionadora - P1
1
1 0 0
h) dificuldade no
aprendizado
- P2
1
1 0 0
i) gênio forte M7 -
1
0 1 0
Total de pais 9 9 -
- - -
Total de respostas 13 15 28
11 10 7
A segunda maior categoria formada foi a dificuldade relacionada ao comportamento
indisciplinar que as crianças apresentam na escola, representado pelos três grupos de pais (G1,
G2 e G3), sendo o maior índice encontrado entre o grupo G3.
124
As características das crianças como: c) teimosia; d) dificuldades na educação; e)
requer muita atenção; todas representadas por 3 pais, apresentando maior índice entre os pais
do grupo G1, o que pode evidenciar uma característica comum à pouca idade das crianças.
Entre os pais que formaram a categoria teimosia, disseram que:
“Quando quer fazer, faz, mesmo que você fale
que não. Gosta um pouco de mandar. Quando quer pintar
a carteira, a roupa, pinta, mesmo que a professora está
falando que não. Isso me preocupa, quando vai mudar
isso? Por isso eu precisando de um psicólogo. Eu
sempre pergunto pra escola o que ela es
fazendo.”(G1M1)
“É turrão e meio teimoso. Quando quer fazer
teimosia eu me seguro pra não bater. Eu tento tirar ele do
ambiente, levar pra casa. Falo não e vou cortando,”
(G2P4)
Entre os pais que formaram a categoria dificuldade na educação, a preocupação reside
em não saber se estão realizando da maneira correta e sentem dúvidas se estão conseguindo
aplicar a educação conforme receberam, esta afirmativa pode ser evidenciada pela fala de uma
e.
“A gente nunca sabe se indo do lado certo
ou do lado errado. Eu por exemplo, fui criada com muita
dificuldade então nunca tive nada do que eu queria, então
tudo o que eu consegui é com muito valor.” (G1M3)
“Não é a mesma educação que a gente
pensava em passar, porque veja bem, você pensa em
passar uma educação, mas a reação às vezes não é aquela
bem que voesperava. Eles estão em escola particular e
você esperava que eles se esforçassem ao máximo pra
aproveitar essa situação, no entanto você percebe que eles
têm primeiro um lado ainda criança e não querem assumir
uma responsabilidade, e segundo eles têm até um lado
preguiçoso. Que tem preguiça de se esforçar de ler e de
estudar. Preguiça mental ou física, não sei, e preferem
assistir uma TV, ao invés de ler um livro.” (G1P1)
125
38. O ambiente escolar e a criança adotiva
Na Figura 20, pode ser observado o índice de pais que relataram dificuldades dos
filhos no ambiente escolar, sendo que a maioria (63%) afirmou que os seus filhos não
enfrentaram dificuldades no ambiente escolar por serem crianças adotivas.
Enfrentando dificuldades no ambiente
escolar por ser adotivo
63%
26%
11%
Algumas vezes Sim Não
Figura 20.
Dificuldade da criança adotiva no ambiente escolar relatada
pelos pais
No entanto, é importante ressaltar que 37% dos pais afirmaram que seus filhos sofrem
ou já sofreram dificuldades na escola devido à adoção, conforme pode ser evidenciado pelo
relato de um deles.
“Uma se fecha e nem me conta. A outra fala
tudo e chora. Mas está aprendendo a enfrentar sem se
afetar.” (G1M2)
“Além de ter o agravante dela ser adotiva, ela
ainda pegava as coisas das crianças. E as crianças
ficavam sabendo, deu um monte de confusão. Então eu não
sei se ela tem mais problemas por ser adotiva ou por esses
comportamentos. Agora que ela ta na outra série ela não
comentou mais, não falou com ninguém.” (G2M5)
126
“Já teve criança esse ano mesmo que falou:
“Ah menina se era da favela. Na cabeça das crianças,
porque é adotada morava na favela. Eu falei pra ela,
não bola, você não é feliz, não tem mãe, pai, casa tudo,
deixa eles que falam, não bola, o que importa é o que
você é o que você é. Ela mesmo fala:”Ah!! Deixa eles né,
mãe.” (G2M7)
“Acho que sim, porque ele fala pra mim que
os meninos chamam de adotivo, fica falando que ele é
adotado. Ele fala que não aceita, que não gosta ele acha
que isso não é certo ficar falando pra ele na escola. Olha
pra mim ser bem sincera eu fico revoltada com quem fala
isso pra ele, porque eu acho que ele não precisa ouvir
isso. Tem hora que eu falo pra ele deixa pra lá, deixa que
eles falam, pra deixar ele mais calmo, né. Mas ele fala que
vai bater nos meninos e ele bateu na escola, foi
chamado daí eu fui lá, porque ele bateu.” (G2M8)
“Eu acredito que sim, porque outras crianças
que não são adotivas na escola e que talvez saibam
principalmente por ser uma cidade pequena, mas eu não
acredito, mas sofre descriminação sim.Ela comenta nas
entrelinhas, não diretamente. Quando comenta-se que é
adotiva, percebe-se que ela franze a testa um pouco.
(G2P5)
“Ela fala que sim. Ela fala que enquanto as
pessoas não sabem que ela é adotada, elas tratam ela de
um jeito, depois trata ela de outro. Ela tem também a
dificuldade da visão, ela sempre veio com esse negócio de
apelido. Fiquei brava porque vazou que ela era adotada,
andaram espalhando. Ela não sabe lidar com os
problemas, ela fala o problema é meu. Ela apronta demais
e é coisa pesada, até suspensão, ela não colabora.”
(G3M10)
“Ela sofreu de mais, e se eu tiver uma
oportunidade de dar carinho eu ajudo, eu falo que ela vai
melhorar nos estudos. Ela sente o mesmo que eu sinto no
passado, é muita discriminação na escola, em toda escola
tem. Ela não gosta que fala que é adotiva.” (G3P10)
127
39. Recursos e suportes técnicos atuais
Na Figura 21, verifica-se que a parte dos pais não possuem, atualmente, nenhum tipo
de auxílio ou acompanhamento técnico.
Uso de recursos e suportes técnicos na época
da entrevista
53%
47%
SIM NÃO
Figura 21. Recursos e suportes técnicos usados pelos pais na época
da entrevista
Ainda, no que se refere aos recursos e suportes técnicos observa-se no Quadro 37, a
freqüência e a especialidade técnica utilizada atualmente. As categorias formadas que
obtiveram maior índice foram para: a) psilogo; b) pediatra e c) fonoaudiólogo.
Quadro 37. Especialidades procuradas pelos pais atualmente (N=9)
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) psilogo M3, M6 P2, P3, P10
5
3 1 1
b) pediatra M1, M3 P4, P10
4
2 1 1
c) fonoaudiólogo M10 P2, P3
3
2 0 1
d) oftalmologista M10 -
1
0 0 1
e) professoras - P3
1
1 0 0
f) dentista M2 -
1
1 0 0
Total de pais 5 4 -
- - -
Total de respostas 7 8 15
9 2 4
40. O comportamento dos pais em relação à história da criança
Na Figura 22, destaca-se a maneira como os pais vivenciam atualmente a vida
pregressa dos seus filhos. A categoria de maior índice foi: a) falar com muita naturalidade.
128
0 1 2 3 4
o sei como
lidar
Procura não
comentar
Falo com
naturalidade
Figura 22. O comportamento dos pais sobre a história da criança
O Quadro 38 descreve as 4 categorias de respostas formadas que configuraram outras
maneiras de vivenciar a história pregressa dos filhos. A maior freqüência encontrada entre as
outras maneiras de vivenciar a história está: a) não lembro que é adotivo, por vários motivos:
o lembram mais porque houve a incorporação do fato, ou porque de acordo com os pais
(G3M9 e G2P4) é tanta tristeza que preferem esquecer esta hisria permeada de sofrimento.
Com o mesmo índice, e compondo a segunda categoria encontra-se: b) sofreram maus tratos
na primeira infância.
Quadro 38. Outras maneiras de vivenciar a história de vida do (a) meu (a) filho (a)
(N=11)
Categorias Mães Pais f G1 G2 G3
a) não lembro que é
adotivo
M1, M9 P1, P4
4
2 1 1
b) sofreram maus
tratos na primeira
infância
M6 P1, P2, P5
4
2 2 0
c) agora é outra
história
M8 P7, P8
3
0 3 0
d) tenho muita dó M4 -
1
0 1 0
Total de pais 5 6 -
- - -
Total de respostas
5 7 12
4 7 1
129
Estes relatos perante esta vivência podem ser verificados através das falas dos pais,
conforme descrito a seguir:
“Sofreu mais, foi a que apresentou mais
problema, uma certa dificuldade não de relacionamento,
mas com a gente mesmo, demorar a adaptação. Sofreu
mais, acredito que por lembrar mais das coisas, por causa
da idade dela. Não sei se apanhou ou não, mas sei que
passava fome. Então eu acho que ela lembra disso. Por ela
ter muito medo.” (G1M1)
“O período em que elas ficaram no albergue
foi realmente um período mais tranqüilo, menos
traumático em função dos cuidados do período em que
tiveram com a família (pra mim isso ficou claro, porque
elas iam ficavam um tempo com a família, mãe e pai, até
que havia outra denúncia de maus tratos ou de falta de
tratos), a intervenção, a retirada albergue. Daí passava
1 mês, 2 meses, a família se reerguia e então voltava
ficava mais um período e depois retirava de novo porque
estava ocorrendo algum problema. Então você imagina,
você retirada da sua mãe várias vezes e pra criança isso é
um impacto enorme porque não tem a compreensão do
que está acontecendo (a mãe bem ou mal, se ta bem de
saúde ou se não está), é a voz da experiência é o cheiro. E
acho que isso foi algo que dificultou bastante essa questão
da relação afetiva e da disciplina.” (G1P2)
“Tenho muita da mãe dele. Tem hora que
eu me pego pensando nela. No dia do aniversário dele, no
dia das mães, pra ela foi uma escolha muito difícil. Eu
acho que ela sofreu e sofre muito. Ela tinha muito amor
por ele. Ela tinha tudo pra ter abortado ela ficou grávida e
ficou doente, fez tratamento pra poder segurar o neném.
Ela foi uma mãe muito boa pra ele. Ela não teve condições
de ficar com ele. Não foi o caso de dizer ela abandonou,
não foi isso, foi a condição financeira que não deu pra
continuar, porque amor o faltou não da parte dela.”
(G2M4)
“São muitas marcas, mas estão lidando
com a vida.” (G2M6)
“É tudo muito normal. Esse ano que ela
começou falar, porque fala muito na televisão e mostra
criança que foi jogada no lixo. Então ela comenta, porque
130
aquela fez isso comigo (porque ela acha que foi jogada
também).” (G2M7)
“Ela era uma menina de rua mesmo, hoje ela
é outra pessoa. te falei que o que ela tem é fase mesmo,
que estamos mudando. Ela mudou completamente é outra
pessoa, desde o jeito de falar, de respeitar.” (G2P7)
“Lembrança de uma vida sofrida como se
fosse um pequeno campo de concentração vamos falar
assim, que são os abrigos hoje. Mesmo com todos os
desenhos de Mônica, Mikey nas paredes aquilo tem cheiro
de um lugar ruim. O Estado pouco faz por isso, as ONGs
pouco se interessam por isso. Existe talvez um pouco de
brilho nestes locais, por conta de alguns pais que
adotaram e sabem da onde tiraram essas crianças, não
querem pras” que ficaram o que tiveram para os
seus.”(G2P5)
41. Não pertencer a esta família
Na Figura 23 pode ser observada se a criança já relatou a seus pais, em algum
momento desta trajetória, que o pertencem a esta família.
Não pertenço a esta família
11%
89%
SIM
NÃO
Figura 23.
Manifestação da criança em relação a não pertencer a
família que o (a) adotou
A maioria (89%) dos pais informaram que seus filhos o fizeram tal afirmativa. No
entanto, 11%, ou seja, os pais (G2P2 e G2M6) relataram que seus filhos manifestaram esta
131
fala. Diante deste pequeno índice de pais, pôde-se destacar a reação de ambos, conforme
destacado a seguir:
“Sim, muitas vezes, reagi de muitas
maneiras também. Momentos diferentes, em coisas
diferentes. O F6a2 e eu, temos uma relação de muito
amor, muita tranqüilidade, de paixão, mas tem hora que
ele pensa na outra mãe. Será que algum dia eu vou ver,
conhecer?Ele tem medo de alguém tirar ele.” (G2M6)
“Que eu me lembro, acho que uma vez elas
disseram alguma coisa durante uma briga (relacionaram
esse termo), mas eu considero um ponto fora da curva, não
é algo que elas considerem viável.” (G1P2)
42. A criança idealizada e a criança real
No Quadro 39, pode ser identificada a maneira como os pais do G1 representaram
através de suas falas, a criança que desejam ou esperavam e as expectativas perante a criança
recebida.
Quadro 39. A criança idealizada e a criança recebida pelos pais do grupo G1 (N= 6)
Filho idealizado Filho real Pais
Imaginei que viria maria chiquinha,
com o cabelinho liso, ou
encaracolado formando cachinhos
nas pontas (M1)
Tinha o cabelo bem crespo, bem carapinha.
Pensava que judiação, não vai ter cabelo
liso. Hoje o cabelo é lindo, todo
encaracolado
M1
Vão ser filhos obedientes Mas não são, porque é até normal da
criança querer conquistar o espaço dela e de
testar também pra ver até onde ela pode ir.
P1
- Foi muito diferente porque eu não esperava
por duas crianças. É mais complexo e
estressante porque as questões psicológicas
pesam muito.
M2
Idealizamos, baseada na imagem
anterior que era da F2b1, a filha
mais velha.
Foi uma surpresa muito grande porque nós
havíamos solicitado ao Fórum, uma menina
e vieram 2 meninos (tinham características
de crianças muito ativas, características de
meninos, 2 capetinhas, mal comportados).
No começo não atendeu às expectativas.
P2
Eu fazia uma imagem de uma outra
criança, uma criança mais parda.
Eu acho que até mais, eles são tão lindos,
que eu falo que se fossem meus não seriam
tão bonitos como eles são.
M3
Nós não tínhamos nenhuma imagem
de como nós gostaamos que fosse.
Deus foi tão bondoso com a gente e hoje se
nós pudéssemos escolher ou dizer como que
nós nos gostaríamos não teríamos condição,
do jeito que eles são.
P3
132
No Quadro 40, pode ser identificada a maneira como os pais do G2 representaram suas
expectativas.
Quadro 40. A criança idealizada e a criança recebida pelos pais do grupo G2 (N= 8)
Filho idealizado Filho real Pais
Na realidade eu queria um menino Do jeitinho que eu queria veio.
Inteligente, bonito. Ele é tudo de bom
eu acho, tirando os lado ruim.
M4
- Correspondeu sim, era a imagem que
eu tinha. Dificuldade eu sabia que ia
ter.
P4
- - -
Não tinha um traço um perfil pra
adotar
Nós contentamos e estamos felizes,
satisfeitos com as que vieram
P5
Queria um bebê e menor possível Eu me encantei com ele, mas não
corresponde até hoje a nenhuma das
minhas expectativas. É sempre uma
surpresa, sempre. E é uma beleza de
surpresa, muito positiva.
M6
Queria uma menina Oh!! Sim, ela veio igual
(características sicas) com o que eu
sonhei
M7
Não tinha uma idéia Mas era o que eu imaginava mesmo P7
Que seja uma pessoa importante,
admirada
Ele é muito desligado, desatento em
todas as áreas, mas essa é uma fase e
vai passar.
M8
Desejava um menino Não corresponde 100% mas venho
trabalhando pra isso. O
comportamento desagrada. Não que a
gente perde o amor, mas tem essa
dificuldade.
P8
No Quadro 41, pode ser identificada a maneira como os pais do G3 relataram suas
impressões sobre a criança idealizada e recebida.
133
Quadro 41. A criança idealizada e a criança recebida pelos pais do grupo G3 (N= 4)
Filho idealizado Filho real Pais
Queria da minha cor porque se fosse
muito diferente daria problema na
escola
Superou minhas expectativas, ela
tinha um cabelão queimado hoje é
lindo.
M9
Não pensava que tinha que ser do
jeito que eu queria
Ela era muito quietinha mas hoje é só
pai, mãe.
P9
Fiz inscrição e montei um quarto.
Esperava um menino
A única coisa que não corresponde é
eu saber se essa bagunça nos estudos
é arte dela ou alguma deficiência
genética.
M10
- A única decepção que eu tenho é no
estudo.
P10
43. Grupo de apoio à adoção
A Figura 24 refere-se à presença e freqüência dos pais no grupo de apoio à adoção da
cidade de São Carlos (GAASC). A maioria dos pais afirmou não ter freqüentado em nenhum
momento o local. Entre os 4 pais que afirmaram freqüentar o grupo de apoio estão os pais
G1(M3, P3); G3(M9, P9). O restante dos pais G1(M1, P1, M2, P2) e G2(M6) relatou que
foram ao grupo algumas vezes, no entanto no momento atual não mais freqüentam o grupo.
Os motivos para a não permancia pode ser verificado de acordo com a fala de alguns pais:
“Começamos, mas depois paramos, tínhamos
compromisso à noite. Eu não gostava de deixar com
qualquer pessoa, sem ser com a minha família. E eu
pensava quem quer filho precisa cuidar, então eu ficava
mais em casa.” (G1M1)
“Quando as crianças chegaram a nossa vida
virou completamente de ponta cabeça, então nós paramos
com inúmeras atividades e não foi possível freqüentar
outras coisas, atividades ficaram prejudicadas” (G1P2).
134
0
2
4
6
8
10
12
o Algumas
vezes
Sim
mero de pais
Figura 24. Respostas dos pais: freqüência ao GAASC
44. Recursos oferecidos pelo GAASC
Entre os pais que relataram ter freqüentado o GAASC (9 pais), encontram-se 4 pais
que informaram não ter recebido nenhuma informação ou recurso deste grupo, pois além de
participarem logo no início da formação do mesmo, eles compareceram às reuniões poucas
vezes. Ainda segundo o relato de um casal:
“Hoje as coisas mudaram com o grupo de
apoio à adoção. Na minha época não tinha, eu passei a
participar, mas eu tinha as meninas. Quando eu entrei
estava bem no início ainda, bem cru, sabe. Hoje está
diferente.” (G1M2)
“Em algum momento a gente viu que poderia
expor elas mais que necessário, elas são adotivas, as
minhas também são. Então como estava naquela fase
muito difícil de comportamento a gente achou um
componente desnecessário naquele momento de expor de
ter que trabalhar também esse aspecto de exposição, de
ver que ta lá.” (G1P2).
Dentre as respostas pôde ser notado que 2 pais fizeram parte da fundação deste grupo
e deixaram aqui seu depoimento:
“Tanto no começo, em dividir a ansiedade de
todos que estavam ali, como depois. Nós criamos, fizemos
parte da fundação. Foi muito importante essa união, pois
135
teve momentos em que nós nos reuníamos sem termos o
grupo ainda, e trocava idéias e vinham pessoas e trocava
informações e falava que em tal cidade tinha crianças e
falava olha tem uma criança em tal cidade se alguém
quiser ir lá e tal. E você via que com uma pessoa dava
certo, tinha adotado. Então esse convívio foi muito bom. E
passou a ser reconhecido. Num primeiro momento era
um grupo contra as regras do Fórum (vamos dizer assim).
Num segundo momento e nisso o Dr João foi muito feliz,
até pela competência dele, em tentar abrir, em tentar
sempre estar do nosso lado e querer conversar e atender,
então o grupo ficou um parceiro das regras do Fórum.
Hoje ele respeita o grupo ele incentivou a criação do
grupo, você vai e ele tenta dar todo o apoio. Nós
tivemos um encontro aqui ele foi e trouxe as pessoas.
Precisaria ter talvez um reconhecimento maior dos
participantes, porque eu conheço muita gente que está no
aguardo e que não participa ou por vergonha de saber que
é adotivo ou não outros pegaram a criança e nunca
mais apareceu (consegui o que queria e agora vocês que
toquem aí). Acho que deveria ter uma participação de
todos, os que estão aguardando e os que já adotaram. Eu
vejo que não tem, fica uma reunião pra poucas pessoas.
Poderia fazer muito mais coisas e acaba fazendo por falta
da participação do grupo todo.” (G1P3)
“Essa troca de experiência que a gente tem lá.
Os profissionais que estão sempre nos orienta, e mesmo
a troca de experiência, que é o que mais vale, que fala o
que um passou, o que está passando e assim vai, eu
acho muito importante.” (G1M3)
45. Enquanto mãe adotiva, preciso dizer que...
Compacto de falas:
Se eu fosse mais jovem eu adotaria mais uma
criança, meu marido é legal e muito colaborador. O que
importa é a harmonia que se estabelece em casa e assim
poder enxergar as pessoas da maneira como elas são. Está
sendo bastante difícil ainda, essa foi a parte mais difícil, e
eu sabia que ia ser difícil, porém esteve muito mais. Eu
pergunto pra mim mesma, cuidar de um filho adotivo não
e a mesma coisa que cuidar de um filho biológico? O que
pudemos proporcionar a essas crianças que nós adotamos
foi uma melhor qualidade de vida sim, com muito carinho
e amor. Então agora eu lhe digo não houve um
136
complemento, da mesma forma que nós pudemos dar o
amor eles trouxeram também para nós (Mães do grupo
G1)
preconceito com a adoção? Meu filho está
aqui pra provar que não. Ter medo se meu filho se perder
no caminho das drogas? Não!!Isso não preocupa, mesmo
porque sou brava o suficiente. Procuro sempre incentivar
as pessoas, conversamos muito e sempre tratamos as
coisas aqui em casa com muita naturalidade. Afinal, aqui
em casa somos uma família que adotamos muitas coisas,
jeito novos de se fazer as coisas. Queria muito, mas muito
mesmo que as pessoas desejassem adota e olhassem como
algo possível. Este caminho tem altos e baixos sim, mas
estas crianças irão se tornar filhos, que não é uma coisa
fácil, mas traz uma força e alegria muito grande. A
visibilidade da minha adoção é muito grande, eu sou uma
mãe adotiva, eu adotei uma criança e eu não escondo. Tem
muita criança abandonada, e se eu tivesse uma condição
melhor eu teria mais, porque é de mim. Mas eu acho que
se todo mundo fizesse um pouquinho não teria mais tanta
criança jogada por aí.um detalhe apenas, a burocracia
que é uma coisa que não facilita. Você precisa estar
pronto pra no fim agüentar as conseqüências que vier,
coragem porque nem tudo é mil maravilha e terá hora que
você terá que dar mais do que você tem, porque se for pra
pegar e depois querer que seja do nosso jeito, assim não
dá. Estamos aqui para ensiná-los e não para querer que
sejam igual a nós. (Mães do G2)
É uma benção de Deus, ter uma criança em
casa é a alegria da casa, na sua ausência fica um vazio,
fica faltando alguma coisa aqui em casa e descubro o
que é. Fui filha única e sempre falei pros meus pais
arrumar um irmão pra mim, mas eles não queriam então
cresci com essa coisa de ter um irmão ou irmã, nem que
fosse adotado, mas eles não aceitavam esse negócio de
adoção. Quando eu casei meu esposo que sempre soube de
meu sonho ajudou a realizá-lo. (Mães do G3)
137
45. Enquanto pai adotivo preciso dizer que ...
Compactação das falas
O que é adoção? Adoção não é fácil, porém é
a convivência e uma troca entre as pessoas, você dá, mas
recebe. Generosidade? Não! É um crescimento espiritual..
Quando uma concepção que a mulher engravida, você
começa a cultivar o vínculo e tem 9 meses para se
acostumar com ela. Na adoção, esse período de gestação
não existe, porque um dia você não tem ninguém e no
outro dia você tem uma pessoa na sua casa. Mas tendo
uma criança recém nascida ou criança com 2 anos, você
vai conviver com outra pessoa, você vai ter que criar
vínculos. Então se não é generosidade, é amor a primeira
vista? Também não! Mas é quase isso. Não é aquela coisa
assim de no primeiro contato os dois se apaixonam.
Também não é assim. Mas o que é então a adoção? É a
afetividade construída. É a mudança da tua vida, uma
procura pelo teu bem estar físico para poder trabalhar
mais e direcionar e futuro de seus filhos. Se você está a fim
de adotar e não consegue construir essa relação de
afetividade, muito cuidado, você terá problemas ou até
retorno porque a relação da afetividade neste caso, não
conseguiu ser estabelecida. (Pais G1)
É muito bom adotar um filho uma criança. A
vida da gente é normal e não nem pra falar que é
adotiva(o), chega se achando dono de casa é normal e
eu quero que seja assim também. O mesmo cuidado e
atenção que tivemos com nossas filhas tivemos com ele
também.(Pais G2)
Estou muito feliz, feliz demais, tenho a
agradecer à Deus, ao grupo de apoio à adoção e a todas
as pessoas, amigos e familiares que me apoiaram.
posso dizer que a felicidade minha é enorme. Não troco
meu filho por nada.(Pais do G3)
138
Conforme retratado na metodologia deste trabalho, o presente estudo teve entre outros
objetivos, a construção de um instrumento para que pudesse ser aplicada nos casais que
realizaram adoções tardias, e assim, identificar as suas dificuldades e facilidades no processo
de adaptação familiar, construção de vínculos afetivos, suas expectativas e motivações no
decorrer da adoção. Por tanto, foi realizada uma análise psicométrica no referido instrumento
tornando-o apto a ser aplicado na população alvo. Em função dos dados coletados foi possível
apreender os objetivos específicos pelo qual se propôs no estudo destacados a seguir.
A partir da análise das respostas dos pais que aderiram ao estudo, podê-se traçar o
perfil das famílias através das características e dinâmica familiar em função da idade,
presença de filhos biológicos e freqüência de adoções realizadas na família extensa.
O perfil dos pais adotantes foi caracterizado em função da idade média dos pais
adotivos, da idade média de cada grupo de faixa etária e a idade média de pais e mães de
forma individualizada, a fim de evidenciar se as dificuldades ou facilidades poderiam ser
decorrentes de uma inter-relão entre estas variáveis.
Desta maneira, foi possível observar que a média de idade dos casais adotivos que
compuseram a amostra foi de 48 anos (menor idade 38 anos e maior idade 55 anos), sendo
que a idade dos filhos adotados variou entre 4 e 14 anos (com a maioria entre 9 e 11 anos). A
idade média encontrada entre mães adotivas foi 48,6 meses e 47,4 meses para os pais
adotivos. A idade dos adotantes é convergente com a literatura no que tange à adoção tardia.
Os índices etários encontrados nos estudos de Morelli (2005), o qual evidencia esta
característica na elevação de idade entre os pais. As análises de Schettini (2007), tamm
apontaram para um índice de idade entre 41 a 50 anos (46%) em ambas as categorias de
famílias (pais exclusivamente adotivos e pais biológico-adotivos).
Nas divies entre os grupos G1, G2 e G3, somando-se a idade de todos os pais nos
referidos grupos, obteve-se que a maior média encontrada foi com o grupo G3 (52,8 meses) e
a menor média para o grupo G2 (45,2 meses). O grupo G1, apresentou dia de 49,2 meses.
Com base nestes resultados apreende-se que o nível de amadurecimento entre os pais adotivos
tardios permeia o processo. Adotar é acima de tudo a conseqüência de uma disponibilidade
6. DISCUSSÃO
139
psíquica e madura que permite ao casal o acolhimento de uma criança, e não somente uma
seqüência lógica (HAMAD, 2002).
O nível de escolaridade e, conseqüentemente, o nível sócio-econômico, encontrados
na amostra
14
apresenta-se acima da média nacional (IBGE, 2007), que é de 5 salários
mínimos
15
.
De acordo com Schettini (2007), em sua amostra constituída por 162 es adotivas e
83 pais adotivos, 70% tem renda familiar acima de 15 salários nimos. Estes dados se
aproximam aos encontrados em Weber (2003), quando a autora retratou o desejo e as
expectativas de pessoas cadastradas para uma adoção em Curitiba, evidenciando que os
inscritos possuíam renda mensal acima da população em geral.
No que se refere à renda financeira seja esta de maneira individualizada ou a renda
familiar, foi constatado o índice mais elevado entre os pais do grupo G1. O grupo G2
apresentou índice menor de renda familiar, ou seja, até 6 salários mínimos. A média
encontrada para o número de pessoas que contribuem com a renda foi aproximadamente 2
pessoas.
Quanto ao vel de escolaridade os pais dos grupos G1 e G2 possuíam o grau mais
elevado de escolaridade, sugerindo a presença de um maior grau instrucional entre os pais
adotantes mais jovens desta referida amostra.
No tocante ao nível de escolaridade, com a análise dos dados foi possível identificar
que a escolaridade dos pais adotivos foi mais elevada (nível superior), o que foi corroborado
na literatura pelos dados encontrados por Schettini (2007), onde em sua amostra 70% dos pais
apresentaram nível superior de escolaridade. Na divisão por faixa etária da criança adotada a
representação do nível de escolaridade
16
foi maior para o grupo G1 [superior, (4) e ensino
dio, (2)]. Seguindo do grupo G2, [superior incompleto, (3), ensino fundamental I, (3),
superior, ensino médio e ensino fundamental II, (2 pais em cada uma destas categorias)]. O
grupo G3 [superior incompleto, (1), ensino médio, ensino fundamental I e ensino fundamental
14
De acordo com a lei no. 11.488 de 28 de junho de 2007 (DOU 29.06.07) que dispõe sobre o salário mínimo a
partir de 1º. de abril de 2007, revogando a lei 11321 de 07 de julho de 2006, o valor do salário mínimo nesta
época era de R$ 380,00. O salário mínimo no momento da entrevista estava equiparado à US$ 176,74. Mesmo
realizado em meses diferentes, observou-se esse valor de referência (US$2,15).
15
De acordo com relatório sobre a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) realizado em
18/09/2007, o rendimento médio dos domicílios é de 5 salários mínimos R$1796,00 (US$ 835,34).
16
De acordo com a Lei Federal 9394/96- Lei de diretrizes e bases da educação o Ensino Fundamental em 8
anos. No referido projeto baseou-se na Lei 1274/06, 11114/05 , 10172/01 que passou a incluir o Ensino
Fundamental de 9 anos, dividindo em Ensino Fundamental I que ( 1 ao 5 ano) e Ensino Fundamental II ( 6 ao 9
ano).
140
II, (1 pai representando cada categoria)].
Apesar de não ter sido proposto um índice comparativo entre famílias adotivas e
famílias biológico-adotivas, como foi o objetivo de Schettini (2007), esta análise também
pôde ser realizada no presente estudo, visto que os dados apontaram semelhanças de
freqüências. Houve 5 composições familiares exclusivamente de filhos adotivos e 5 famílias
biológico-adotivas. Convém ressaltar ainda, de acordo com Pinquart e Silbereisen (2005), a
notória importância sobre a investigação referente à interação dos irmãos para o
desenvolvimento e ajustamento familiar, assim como retratado por Kreppner (2000), citando
estudos de Erel e Burman (1995), onde salienta a influência da qualidade do relacionamento
marital, o qual interfere diretamente no relacionamento das crianças com seus pais. Dentro
desta perspectiva, pode-se apoiar na afirmativa de que a adoção pode ser vista como um
processo em que as variáveis individuais e familiares, bem como, os resultados dessa
interação influenciam-se mutuamente (LEVY-SHIFF, 2001).
Desta maneira, no presente estudo, tornaram-se possíveis comparações entre as
mesmas, evidenciando não existir diferenças na educação de ambos os filhos (biológicos e
adotivos), sendo os comportamentos investigados na pesquisa e retratados pelos pais, como
comportamentos típicos e independentes da adoção.
Cabe ressaltar que para a realização deste estudo foi avaliado as dificuldades e
facilidades, motivações e expectativas dos pais, em relação ao filho cuja adoção foi tardia,
(idade acima de 2 anos). No entanto, foi criado um banco de dados, com informações
referentes aos demais filhos adotivos, pois percebeu-se que foi muito difícil para os pais,
principalmente das famílias exclusivamente adotivas, falar de apenas uma única adoção que
no caso seria a tardia.
Ao retratar a totalidade dos filhos das 10 famílias envolvidas neste estudo (28 filhos na
amostra total), foi possível verificar que 39% (11) foram adoções tardias, 36% (10) filhos
biológicos e 25% (7) os demais tipos de adoções (recém-nascidos). O índice nas famílias
adotivas é de aproximadamente 2 filhos por família (1,8), e nas famílias biológico-adotivas é
aproximadamente 4 filhos por família (3,4). No entanto, esta é a somatória da amostra total de
filhos.
A presença de filhos biológicos entre os participantes do estudo foi significativa
(47%), sendo as famílias exclusivamente adotivas (53%) diferenciando-se muito pouco dos
resultados encontrados em Morelli (2005). Ainda pode-se considerar que a amostra do
presente estudo foi selecionada entre todas as inscrições efetivadas na Comarca de São Carlos
SP, sendo que neste total, o índice foi de que 57% das pessoas possuíam filhos biológicos
141
em relação a 43% das pessoas não possuem filhos biológicos (DUGNANI; MARQUES,
2007).
Na representação da amostra total de adoções tardias realizadas pelas 10 famílias, os
dados evidenciaram que 73% (8) são do sexo feminino e 27% (3) são do sexo masculino.
Esses dados corroboraram com os de Weber (2003) prevalecendo à adoção de crianças do
sexo feminino, assim como, os estudos de Paiva (2004), Schettini (1998), Weber (2001) e
Cassin (2000) e diferenciando aos resultados encontrados em Ebrahim (1999). Neste último as
adoções tardias realizadas, mesmo com uma diferença limitada, houve preferência pelo sexo
masculino (51%) em detrimento ao sexo feminino (49%).
Ainda referente à preferência do sexo na adoção efetivada, destacou-se que entre o
grupo G1 ocorreu somente adoções de meninas (4). No grupo G2, a maior incidência na
adoção de meninos (3) do que meninas (2) e, finalmente, no grupo G3 prevaleceu o sexo
feminino (2).
Das diferentes composições familiares encontrou-se 2 adoções de iros
consangüíneos (1 casal de irmãos e meas) e 5 adoções únicas. Do total das adoções únicas,
2 adoções foram realizadas nas famílias exclusivamente adotivas, e 3 foram realizadas nas
famílias biológico-adotivas. O maior índice apresentado na adoção de uma única criança nas
famílias biológico-adotivas tende a se igualar aos índices de Schettini (2007) que verificou a
maior freqüência (72%) nestas famílias constatando uma tendência nas famílias biológico-
adotivas a adotarem uma única criança.
A idade média e o nível de escolaridade das crianças encontrado na atualidade, no
presente estudo, foi de 9 anos, estando representada pelos grupos, da seguinte maneira: grupo
G1 (9 anos e ensino fundamental I), grupo G2(10 anos e ensino fundamental II) e grupo G3
(13 anos e ensino fundamental II).
Quanto à idade das crianças no momento da adoção, evidenciou-se que a média foi 4
anos e 2 meses, ficando a divisão dos grupos composta da seguinte maneira: G1 (2 anos e 5
meses), G2 (4 anos) e G3 (8 anos). Os resultados de Beffa e Pocay (1999), divergem do
presente estudo, pois a idade média das crianças adotadas tardiamente foi de 9 anos de idade,
observando também a presença de crianças adotadas com idade acima de 12 anos, portanto
adolescentes, que já possuíam convivência familiar com os adotantes.
Weber (2003) apontou que 78% das pessoas cadastradas não possuíam filhos
biológicos, e 45,24% dos pretendentes a adotantes já tinham filhos adotivos, o que representa
uma parcela bastante alta. A autora afirma que o alto índice de pessoas habilitadas que
possuem filhos adotivos revela uma tendência para o sucesso das adoções (WEBER, 2003).
142
Essa afirmação é consistente, mas deve ser vista com parcimônia que no presente estudo,
apenas 1 família (9%) já possuía filhos adotivos e em 91% as adoções tardias foram às
primeiras adoções realizadas e com sucesso.
No que se refere ao estado civil, Schettini (2007), apontou em seus dados uma grande
maioria de pessoas casadas oficialmente, da mesma forma Cassin (2000) encontrou elevado
índice entre os casados (86,8%). Assim, os resultados obtidos nesta investigação são
convergentes com os da literatura.
Entre a amostra (19 pais), percebeu-se que quase metade (47,4%) demonstrou desde o
momento da inscrição no Fórum, o desejo em realizar uma adoção tardia, motivados
primeiramente em decorrência da idade dos adotantes seguido pelo desejo em querer uma
criança. Em Santos e Raspantini (2003), que verificaram a construção do processo de
parentalidade no casal adotivo, observou-se que a motivação de ambos casais cujas adoções
foram tardias e especificadas na amostra, foi em decorrência da infertilidade. Em Schettini
(2007), a impossibilidade biológica foi a motivão indicada pelas famílias adotivas (93%) e
entre as famílias biológico-adotivas (36%) foram devidos aos motivos altruístas e a caridade e
(23%) a impossibilidade biológica. Na literatura o altruísmo, (EBRAHIM, 1999; DIAS;
SILVA; FONSECA, 2008), seguido pelo desejo de realização e companhia para os pais são os
motivos norteadores da adoção tardia.
Foi possível apreender através da fala dos pais (maior incidência encontrada entre o
grupo G2) da amostra, a preferência pela adoção de meninas e bebês, principalmente dos
casais que não optaram de imediato pela adoção tardia.
Estes dados tendem a se igualarem aos encontrados por Ebrahim (1999), que verificou
em amostras de adoções tardias e adoções de bebês, a preferência por adotantes de bebês do
sexo feminino. Os resultados de Beffa e Pocay (1999), apontaram que de 74,5% do total de
crianças adotadas correspondiam as idades entre 0 à 11 meses e os 25,5% correspondiam às
adoções tardias. Os resultados de Cassin (2000), oriundos de análises de dados de pessoas
cadastradas na Comarca de Ribeirão Preto, evidenciam a prevalência da preferência por
recém-nascidos.
De modo geral, esses dados também condizem com as afirmações de Hamad (2002),
que as meninas loiras de olhos azuis são as mais procuradas (crianças novas com estilo
europeu). Esta preferência acaba privando uma parcela de crianças da possibilidade de ser
adotada, pois não se encaixam no perfil desejado da maioria (AMBRÓSIO et al., 2006;
BEFFA; POCAY, 1999; CASSIN, 2000; HAMAD, 2002; PAIVA, 2004).
O número de adoções realizadas na família de origem dos pais adotantes pode ser
143
considerado como elevado, uma vez que em 42% da amostra estudada são oriundas de
famílias que vivenciaram um processo de adoção, prevalecendo, em sua maioria, um
parentesco de grau dos participantes desta amostra estudada em referência ao adotante. É
possível evidenciar o quão próximo é o tema adoção para esta amostra, sendo este um fator
potencial para a adoção. Algumas pesquisas destacam índice semelhante pelo fato de haver
adoções nas gerações anteriores, de acordo com as autoras isto parece indicar que a realização
de uma adoção na família pode desmistificar os medos e os preconceitos que ainda existem
em relação à temática, servindo para abrir caminhos para que outras adoções se concretizem
(DIAS, 2006; WEBER, 2003).
Na percepção da maioria dos colaboradores do estudo, a adoção consiste em educar e
acolher uma criança, conseqüentemente, é ter um filho, é uma ão social. Os resultados de
Camargo (2005) evidenciaram a concepção de adoção devido à infertilidade e o desejo de
terem filhos.
Na adaptação das crianças com filhos biológicos, foi possível perceber principalmente
entre os grupos G2 e G3 o relato de uma cil adaptação, ajuda do filho mais velho e decisão
familiar (conjunta e um desejo realizado). No entanto, o grupo G1 não manifestou facilidade
na adaptação, embora tivessem apresentado as mesmas condições familiares dos grupos G2 e
G3. A dificuldade apresentada nesta etapa foi o ciúmes. (G1 e G2) disputa pela atenção e
afeto dos pais devido à idade (crianças menores) e por parte do outro filho (biológico) em
função da perda da condição de filho único.
A diferença ressaltada pelos pais entre seus filhos biológicos e adotivos reside nas
características peculiares das crianças adotivas como: falta de limites e maior agitação.
Portanto, na adaptação de filhos adotivos a observância, por parte dos pais, de sempre
haver atritos entre eles, mesmo entre àqueles que são irmãos consaníneos (adoção de
irmãos).
A análise dos dados ofereceu informações a respeito da história de vida das crianças,
sendo possível identificar as experiências comuns e específicas entre os diferentes grupos
(faixa etária). É necessário ressaltar conforme já exposto neste trabalho, o grupo G1 (adoções
realizadas com 2 anos de idade), grupo G2 (adoções realizadas entre 3 e 6 anos de idade) e
grupo G3 (adoções realizadas entre 7 e 10 anos de idade).
Foi constatado que metade dos pais adotivos (52%) tiveram informações em detalhes
sobre a história de vida das crianças ou grande parte dela (11%). Para estes pais (N=8) os
aspectos ou detalhes sobre a história pregressa da criança foram irrelevantes na efetivação do
processo de adoção, ou seja, não foram condicionais na tomada ou alteração de alguma
144
decisão prévia. Esta indiferença na tomada de decisão foi mais elevada no grupo G2. No
entanto, o restante da amostra, 33% (4 pais) evidenciou que o conhecimento sobre esses
detalhes favoreceu a realização da adoção, em especial no grupo G3.
Entre os pais que apontaram conhecer a história de vida das crianças, foram unânimes
em informar que seus filhos passaram por instituições de abrigamento, não sendo possível
identificar o tempo em que permaneceram na instituição, pois na maioria dos casos esta
informão temporal não foi fornecida. Baseando-se na literatura, pode-se afirmar que
necessidade de oferecer a criança e aos pais adotivos informações sobre a sua história de vida,
origem, bem como as razoes pelas quais foram levadas à adoção (HOWE, SHEMMINGS,
FEAST, 2001).
Ainda, no que se refere às informações da vida das crianças, a maioria da amostra (7
pais) afirmou que seus filhos sofreram maus tratos antes da adoção, sendo a ocorrência maior
entre o grupo G3. Focando a questão dos maus tratos, 5 pais do G2 relataram que seus filhos
o sofreram nenhum dano corporal (maus tratos físicos). Houve um caso relatado pela mãe
do grupo G3 sobre a ocorrência de abuso sexual em período anterior à adoção.
Entre as informações adicionais, o que prevaleceu foi a falta de cuidados que as
crianças sofreram anteriormente à efetivação da adoção. Tal indicação foi, principalmente,
destacada pelos pais dos grupos G1 e G2, sendo apontada esta carência de cuidados em
decorrência do tratamento recebido nos próprios abrigos ou pelos próprios pais biológicos.
Esta afirmativa perante a falta de cuidados dos pais com seus filhos biológicos e o impacto
causado no desenvolvimento da criança nos remete aos dizeres de Weber (1997) quando
enfatiza a necessidade de uma preparação também para os pais biológicos. Medidas como esta
reduziriam impacto negativo gerado na infância, por tais ações.
As informações recebidas principalmente sobre a falta de cuidados dos pais
biológicos, relatada pelos pais dos três grupos (G1, G2 e G3), estava fortemente associada à
falta de vinculação afetiva e visitas enquanto seus filhos permaneceram em algum tipo de
instituição. Ainda foi enfatizada a precária situação de saúde dos pais biológicos, sendo que
alguns destes faziam uso de drogas (álcool e outros tipos de drogas) e as crianças não
recebiam os cuidados necessários por parte deles. Casos em que as crianças passavam fome
estavam doentes, pediam esmola na rua e apanhavam. Estes resultados corroboram com os
encontrados em Oliveira (2001), onde constatou que o abrigamento das crianças decorreu
primeiramente pela não capacidade dos pais em acolherem seus filhos, devido ao alcoolismo.
Pode-se apurar pelo relato dos pais da referida amostra (fato apontado entre o grupo
G1 e semelhante ocorrido entre o grupo G2), a existência de uma genitora que permaneceu
145
vinculada aos seus filhos, visitando-os na instituição. Para a mãe adotiva, este procedimento
colaborou para que as crianças demorassem em aceitar a adoção, pois a mãe biológica
prometia voltar para cuidar de sua prole. Nesta situação o fator preponderante refere-se à
necessidade de orientação voltada às atitudes dos genitores, que se sentem despreparados para
a entrega de um filho ou aceitação pela perda do poder familiar (MOTTA, 2006). A
orientação sobre esta entrega diminuiria o impacto causado durante a infância, possibilitando
o desenvolvimento.
As famílias que tem seus filhos institucionalizados visitam seus filhos com freqüência
inicialmente, mas com o decorrer do tempo, um distanciamento vai se tornando realidade,
decorrentes da ausência de um trabalho que fortaleça esses vínculos. Para Beffa e Pocay
(1999), essas ações decorrem da própria condição da institucionalização, das condições
financeiras e acima de tudo porque se tem a idéia de que os filhos estão bem cuidados ou
ainda partem para outros relacionamentos perdendo desta maneira os laços afetivos com a
criança que ficou na instituição.
De acordo com as verbalizações dos pais que não receberam informações sobre a
história da criança, equivalente a 7 pais (37%), a maioria (4 pais) foi indiferente,
principalmente entre os grupos G1 e G2, visto que no primeiro caso estes vieram a conhecer
os detalhes posteriormente à adoção e no que tange ao grupo G2, uma mãe afirmou que
recebeu informações de profissionais do serviço técnico jurídico, o que fez com que fosse
possível a compreensão de muitos entraves. A falta de detalhes dificultou o processo de
adaptação com a criança adotada principalmente entre o G2 (3 pais) visto que em alguns
casos, informações simples e nem tanto sigilosas fariam diferença neste processo, pois neste
caso poderiam ter descoberto as necessidades das crianças muito antes.
Essa ausência de detalhes poderia ser amenizada se os atores envolvidos nessa história
pudessem ao menos ter informações a respeito dos costumes básicos como o uso ou não de
chupetas, mamadeiras, alergias perante algum alimento, usos e costumes. Tais ações levam à
reflexão sobre o conceito de vida em uma instituição, sobre a despersonalização, falta de
identidade e ausência de expectativas nas crianças que ali convivem. Aqui necessidade de
se fazer uma observação, pois o intuito de trazer a tona os dados, são para que eles possam se
tornar investigativos e analisados, visto que, o presente estudo propõe-se a elencar essas
dificuldades.
Desta forma, conforme evidenciado através da literatura, atrás de cada história de uma
criança, há um hisrico familiar também marcado pela violência e sofrimento em decorrência
da pobreza (GUARÁ, 2007), mas que não necessariamente precisa ser escondido, a fim de
146
evitar possíveis frustrações.
Os pais que por proteção acabam escondendo da sociedade a identidade adotiva de
seus filhos, também estão agindo de maneira preconceituosa. As crianças querem conhecer
sua história, conhecer suas raízes, para assim construir sua própria identidade. Os dados
mostram que a maioria dos pais não se sente à vontade para falar sobre o processo de adoção
de seus filhos (WEBER, 2003). A primeira regra ética de uma família adotiva é a verdade. A
família e vizinhos mais próximos devem ser informados. Para Hamad, 2002, não uma
revelação, pois esta o tem razão de ser, visto que existe neste processo uma hisria que é
construída, vivida e contada em seu dia a dia.
A revelação da adoção encontrada em 100% da amostra no presente estudo é outra
característica evidente entre os adotantes tardios, visto que a própria idade da criança é um
fator facilitador para esta prática. Esta também foi uma variável encontrada por Schettini
(2007), que verificou o percentual entre as famílias adotivas (98%) tinham conhecimento
sobre sua condição adotiva e entre as famílias biológico-adotivas (91%) apresentavam o
mesmo.
No entanto, ainda percebeu-se na amostra deste presente estudo, uma relativa
dificuldade perante a revelação, pois 84% dos pais afirmaram que seus filhos sabiam desde o
início e 16% da amostra apontou que foram apresentados como os respectivos pais das
crianças que no momento estavam com idade entre 3 e 5 aos de idade. Evidencia-se desta
maneira que apesar de ser um reduzido número de crianças, ainda houve situações onde a
verdade foi negada ou ainda fantasiada, pois pelas circunstâncias essas crianças acreditavam
que teriam encontrado os seus pais biológicos, quando na verdade não eram. Concorda-se
com Hamad (2002), quando afirma que o silêncio continua a dar a adoção um caráter
excepcional e problemático.
Assim como é notório a importância da revelação de sua condição adotiva, o
acolhimento às reais necessidades da criança também se faz necessário. No entanto,
informações sobre a saúde física e receios dos pais durante o período de adaptação das
crianças, também puderam ser evidenciadas no presente estudo.
Quanto à saúde física das crianças, principalmente as do grupo G1 estavam bem
fisicamente ao chegarem à casa de seus pais adotivos. Os pais dos grupos G2 (3 a 6 anos) e
grupo G3 (7 a 10 anos) foram os que relataram as maiores dificuldades em relação à saúde
física. Em sua maioria, portanto, os pais relataram dificuldades específicas com suas crianças,
sinalizando a necessidade de cuidados especializados e individualizados. No grupo G2, a
maioria das crianças apresentou saúde física fraca desencadeando problemas que requereram
147
a administração de medicação específica, sendo que também apresentaram contaminação por
vermes.
As mais freqüentes doenças encontradas foram referentes a doenças respiratórias como
asma, rinite alérgica e pneumonia, também sendo estas categorias mais freqüentes entre os
grupos de pais formados por criaas com idade maior (G2 e G3).
Os maiores receios gerados antes da efetivação da adoção foram destacados pelos
grupos G1 e G2, principalmente, com relação a: a) saúde sica, b) HIV, c) uso de drogas e
álcool pelos pais. Dentre os participantes, 9 pais tiveram algum receio perante a adoção, 7
pais não apresentaram nenhum receio e 3 pais tiveram no início algum receio, sendo que a
principal preocupação era referente à contaminação pelo rus HIV.
Baseado na literatura científica, a preocupação é pertinente uma vez que alguns
estudos como, por exemplo, o de Brazelton (1994), que aponta para os perigos que o álcool,
os narcóticos e as infecções representam ao feto, podendo ocasionar uma série de problemas.
Como conseqüência, pode levar a um decréscimo nos números de células cerebrais e lesões
entre as conexões do cérebro, além de atraso cognitivo e comportamento regressivo apontado
por Simmel (2007), em revisão dos estudos de Kopeka-Frye e Streissguth 1997 e Phelps
(1995). A cocaína e o crack, por sua vez, aumentam a pressão arterial obstruindo pequenos
vasos capilares lesando o tecido cerebral que estão em fase de desenvolvimento.
Ao longo do período do processo de adaptação ao ambiente familiar, redes sociais
foram elencadas pelos pais e pontuadas as estratégias utilizadas para resoluções de conflitos.
Posto isto, as principais dificuldades que surgiram ocorreram na escola, na educação geral, na
saúde e no relacionamento pessoal e familiar.
No âmbito escolar, no período de adaptação, o impacto que a metade dos pais sentiu
foi que seus filhos não haviam freqüentado escola. Índice maior encontrado pelos pais do
grupo G2 (crianças adotadas entre 3 e 6 anos), seguido de relato de pais do grupo G3 que
afirmaram que seus filhos não queriam ir para escola. Em ambos os casos, não freqüentar e
o desejar estar na mesma foi uma dificuldade manifestada entre os grupos G2 e G3. Esses
resultados apontam uma certa divergência em relação aos da pesquisa realizada pelo IPEA
(IPEA, 2003), onde foi detectado, entre 20 mil crianças abrigadas em todo o território
nacional, que a maioria das crianças estavam inseridas no sistema escolar e 67% destas com
idade entre 0 a 6 anos estavam em creches e 97% com idade de 7 a 18 anos freqüentavam a
escola.
As estratégias verbalizadas pelos pais do grupo G2 para o enfrentamento das
dificuldades no âmbito escolar (“não queria ir para a escola”) foi destacado: 1. Transmitir
148
segurança - evitar situações que remetam ao abandono e 2. Acompanhamento escolar dos pais
(ajudar e ensinar).
Desta maneira, os pais agem como facilitadores deste processo educacional, na medida
em que transmitem segurança aos seus filhos. Concorda-se com Sigolo (2004) e Dessen e
Silva (2004), quando ressaltam a importância da família para o desenvolvimento infantil
atuando como mecanismo de proteção perante as adversidades. Os pais ao realizem o
acompanhamento escolar de seus filhos, promovendo auxílio, estão reconhecendo as suas
reais necessidades atuando de maneira preventiva. Linhares (2004) evidencia que quanto mais
precocemente houver a identificação dos fatores que interfiram no desenvolvimento, na
aprendizagem acadêmica, na aprendizagem social, mais eficiente serão os cuidados oferecidos
às crianças, favorecendo a neutralização dos possíveis riscos.
Demais estratégias foram apresentadas pelos pais dos grupos G2 e G3, indistintamente
diante das dificuldades: “comportamentos inadequados; dificuldade em conversar com outras
crianças e “roubar” as coisas dos outros”. No caso, apoiaram-se: a) Promoção de interação
social; b) Incentivo e valorização de produção e c) Uso de restriçãosica.
Percebe-se que as estratégias apontadas em sua maioria pelos pais do grupo G3
referem-se ao comportamento inadequado” de seus filhos. A educação dos filhos é
influenciada pelos valores e crenças de seus pais que exercem influência sobre a maneira de
agir de seus filhos (WEBER, 2003; DESSEN e BRAZ, 2005b, CAMARGO, 2005). Muitas
vezes a exigência dos pais pode estar além do que a criança pode proporcionar pelo menos
naquele período ou momento da vida.
Ao mencionar estratégias de restrição sica diante de atitudes de roubo, percebe-se o
quanto os pais adotivos temem que a criança apresente atitudes “inadequadas” em decorrência
da sua história de vida, ou provocadas pelos exemplos de seus pais biológicos, ou até mesmo
pela convivência ou pela passagem em abrigos. No entanto, Brazelton (1994) afirma que entre
3 e 4 anos de idade a criança começa a “roubar” por acreditar que tudo lhe pertença, até que
alguém lhe prove o contrário. Também há o desejo de se apropriar do objeto alheio, pois este
lhe trará a garantia de sentir-se semelhante à pessoa, buscando, desta forma, uma identificação
com os pais, irmãos e demais pessoas. Esta atitude é característica da idade pré-escolar, onde
ainda não há o sentimento de culpa que surgirá em decorrência da decepção dos adultos.
Portanto, na verdade é um comportamento esperado no processo de desenvolvimento de
qualquer criança.
Brazelton (1994) ainda ressalta que, em sua maioria, o roubo aparece pela primeira
vez por volta dos 4 ou 5 anos de idade, fruto de uma prática exploratória e aquisitiva que a
149
criança apresenta, mas que é vista pelos pais como maldade. Os pais neste momento, por sua
vez, precisam ajudar a criança a entender os reais motivos desta ação, a retirada de algo que
o lhe pertence, sem fazer acusações ou provocar sentimentos de culpa, agindo de maneira
preventiva, estabelecendo normas simples de compartilhamento e, principalmente,
promovendo a ajuda na devolução do objeto ao seu dono.
As dificuldades apresentadas na saúde foram em decorrência das condições sicas,
fraqueza com que as crianças chegaram ao novo ambiente familiar. Pode-se ainda perceber
que as crianças do grupo G1 foram as que chegaram mais saudáveis. Entre as estratégias
adotadas pelos pais do grupo G2 e G3 podem ser descritas: a alimentação reforçada devido ao
déficit nutricional e assistência médica.
No tocante à alimentação, percebeu-se que os pais puderam atender às necessidades do
filho, mas o que ocorre muitas vezes, de acordo com o relato dos pais da amostra, uma
lacuna sobre o histórico da saúde da criança. Os diversos estudos na literatura apontam para a
necessidade em se verificar as variáveis do contexto familiar e da interação entre os pais e
seus filhos. Linhares (2004) aponta que mesmo antes do nascimento, a criança pode estar
exposta a diversos fatores que atuam como potenciais de risco ao seu desenvolvimento.
Contudo, nada impede que os diversos recursos, entre eles a resiliência, bem como fatores
protetores externos que possam contribuir para favorecer a adaptação da criança ao ambiente.
Na saúde das crianças, conforme apontado, as doenças respiratórias prevaleceram
principalmente no grupo G2. Brazelton (1994) acredita que haja uma predisposição genética
reforçada pelos alérgenos ambientais e não decorrente de problemas psicológicos ou
dificuldades apresentadas pela criança no ambiente familiar. No entanto, depois de
manifestada a doença a criança pode demonstrar efetivamente a sua ansiedade em relação aos
pais. Da mesma maneira, pode vir a tirar proveito da situação para manipular seus cuidadores
através da rebeldia ou tentativa de chamarem a atenção.
As dificuldades na educação geral foram apontadas pelos grupos G2 e G3 e referiam-
se a “não saber falar nem escrever” e “trouxeram vícios do albergue”. O grupo G1 indicou
como dificuldade a “falta de limites” (geniosa, arteira, comportamentos inadequados das
crianças). As estratégias utilizadas concentraram em: a) Adaptação regional e
acompanhamento familiar (G3); b) Comportamento do ensino de regras de convívio,
acompanhamento intensivo da família (G1, G2 e G3); c) Inserção progressiva (G1) e d)
Diálogo educativo (G2).
De acordo com a apresentação das estratégias dos pais, foi possível perceber o
envolvimento dos três grupos (G1, G2, G3), sendo a maior incidência de estratégias voltadas
150
para a adequação do comportamento alicerçada no ensino de regras e atuação da família
enquanto promotora da integração da criança às redes sociais. Os dados convergem
parcialmente com os encontrados por Sigolo (2004) quando ela identificou as estratégias das
es referentes ao modelo educativo de seus filhos em famílias de crianças com atraso no
desenvolvimento. Em sua maioria, as estratégias reveladas neste estudo de 2004 foram: a)
utilização de explicações e diálogos e b) uso de restrição sica, punição verbal e física e
ameaças, para a correção de atitudes inadequadas.
De acordo com análise realizada na presente investigação, pode-se verificar que os
pais, assim como apontado pela literatura, usaram diálogo e explicações, mas também foi
possível encontrar estratégias que apontaram para práticas educativas estimuladas pela
palmatória, esta em decorrência principalmente de resultados tidos pelos pais como
insatisfatórios no âmbito escolar devido a comportamentos inadequados de seus filhos.
No entanto, as crianças necessitam da determinação de limites e vão empenhar-se ao
máximo para forçar que os pais os estabelam (BRAZELTON, 1994). De acordo com Miall
(1996), os pais adotivos tendem a exigir um perfeccionismo dos seus filhos, principalmente
no âmbito escolar, mantendo desta forma altas expectativas sobre a sua realização.
Contudo, deve-se levar em consideração o tempo em que as crianças ficam na
instituição. Fato este, também, apontado como um fator dificultador, pois as crianças que ali
permaneceram, muitas delas não foram educadas ou alfabetizadas.
No relacionamento familiar, a maioria dos pais não identificou nenhuma dificuldade e
levantaram duas estratégias que poderão ser adotadas e favorecer o convívio: 1) Interação e
ampliação da rede social e 2) Exposição das dificuldades. Quanto à rebeldia expressada pela
criança a estratégia aplicada pelos pais dos grupos G1 e G3 foi voltada a expressão do amor e
superação do abandono e dar um tempo para a adaptação. Entretanto, a tolerância por parte
dos cuidadores passa a ser um ingrediente importante no estabelecimento dos
relacionamentos.
Entre os fatores favorecedores e que pode ser destacado como estratégias que
contribuíram para a adaptação das crianças às suas famílias, que foram apresentadas pelos
pais do grupo G2 e G3 estão acima de tudo o carinho, dedicação, amor, atenção, paciência,
que segundo os pais, necessidade de doação em nível maior. Todas essas características
convergem para a capacidade de acolhimento dos pais atuando como mecanismos protetores,
e que para Levy-Shiff (2001), funcionando para o ajustamento da criança adotiva. Ainda
segundo o autor, o menor envolvimento familiar e experiências negativas sozinhas não
contribuem para o desajustamento, este deve vir acompanhado de estratégias de coping que
151
produzem adaptações menos satisfatórias. Estas são adaptações às demandas adversas.
Conforme Dell'Aglio (2002), coping
17
refere-se a um conjunto de esforços cognitivos,
comportamentais e emocionais utilizados pelos indivíduos para adaptar-se as demandas
internas ou externas que surgem decorrentes de situações adversas.
Concorda-se com Kossobudzki (1996), quando afirma que até mesmo os adultos
sentem necessidade de serem acolhidos, aconchegados e de pertencerem a uma família. Entre
o grupo G2, foi ressaltada que uma condição favorecedora para a vinculação entre pais e
filhos seria a própria capacidade da criança em adaptar-se à nova família. Ocorrência
semelhante não foi encontrada entre os outros grupos. Os demais fatores favorecedores:
pegar no colo” (ressaltada por todos os grupos), a importância do “papel relevante da
escola”, “apoio dos amigos e condição financeira” (apresentada pelo G2).
Diante de alguns comportamentos específicos das crianças que ocorreram no momento
da adaptação, a vontade de mamar no peito foi um comportamento identificado pelos pais dos
grupos G1 e G2. De acordo com Brazelton (1994), o leite materno é perfeito para o bebê,
possuindo anticorpos que aumentam a imunidade do bebê, diminuindo os riscos de infecção
além de proporcionar uma íntima comunicação entre mãe e filho. Os benefícios da
amamentação, além de promoverem interação e estreitamento de vínculos afetivos, produzem
resultados positivos ao desenvolvimento cognitivo, linguagem, motor e cio-emocional.
(GARCIA-MONTRONE, 1996).
A criança adotiva vive um estado de regressão psíquica, retornando a um estado
imaginário. Desta forma, cada criança apresenta uma fase de regressão e evolução do
desenvolvimento variando de acordo com as suas necessidades e como as mesmas são
vivenciadas pelos pais. Estes precisam ser capazes de suportar os ataques das crianças que não
são atribuídos a eles, mas sim às figuras primárias do abandono (VARGAS, 1998; 2001;
2006).
Ainda conforme ressaltado pela autora acima mencionada, as crianças apresentam
necessidades que se assemelham aos bebês como tomar mamadeira, dormir no colo de um
adulto, ser banhado pelo mesmo. Esta etapa, mesmo que gere angústia nos pais adotivos,
precisa ser vivenciada como um enamoramento entre adotante e adotivo, pois assim a
criança retomará seu processo de construção de identidade, ou seja, a partir de um novo
modelo de família.
17
O termo coping que o é traduzido devido a inexistência, em português, de uma palavra que expresse o seu
real significado, relaciona-se a “lidar com”, “ enfrentar” ou “adaptar-se a”.
152
No entanto, não houve como identificar pelo histórico da criança através da fala dos
pais, se elas se apropriaram desta fonte de alimentação. Contudo, mostrou-se recorrente a
vontade das crianças pelo aleitamento materno. As estratégias surgidas para esta situação
foram: a) explicação da ausência de leite (fornecida pelos pais do grupo G2 e G3) e b) oferta
do leite, por algumas mães através de amigas lactantes.
Outro comportamento apresentado pelas crianças em especial do grupo G1 e G2, mas
em alguns casos perduram até o momento foi o de fazer xixi na cama. Para Brazelton (1994)
um mito de que por volta dos 5 ou 6 anos, as criaas deixam de fazer xixi na cama. Se
após essa idade, o problema persistir a ponto de provocar interferência na imagem de si
mesma e no relacionamento com as outras pessoas, então, é o momento de buscar uma
intervenção profissional.
Diante dos comportamentos iniciais de adaptação da criança à nova família, três
estratégias foram apontadas, cada qual por um determinado grupo (faixa etária), o que requer
uma observação. Através da fala de uma mãe do grupo G1, percebeu-se que a preocupação
diante do comportamento de choro excessivo da criança foi quanto ao receio de perder a
criança. Esse receio de que a mãe biológica ressurgirá e levará o filho de volta, faz parte da
fantasia negativa dos pais (FRAA, 2001).
Retratado pelo grupo G2, pode-se perceber a reação dos pais diante dos
comportamentos de rebeldia de seus filhos, apontando para a interação entre eles com muita
conversa. Desta forma, conforme o relato dos pais deste grupo demonstrou ser nesta fase (3 a
7 anos) uma etapa em que a criança acata as ordens e regras. Apresentado pelo grupo G3
como maior índice, a brincadeira com seus filhos. Para Emmel (2004), o adulto apresenta o
papel de mediador das relações entre a criança e os espaços de interação, entre eles o
brinquedo e gradativamente as crianças vão desenvolvendo capacidades de tomar decisões de
construir regras, cooperar, ser solidário, produzindo ões de cuidado consigo e com os outros
também. O adulto fornece auxílio à criança e esta passa a copiá-lo.
Na fase atual, as estratégias apontadas como facilitadoras foram as que ressaltaram o
bom comportamento de seus filhos, o que possivelmente surgiu em decorrência da superação
de todas as dificuldades iniciais identificadas pelos grupos G1, G2 e G3. A escola também foi
apontada como colaboradora neste processo, não sendo destacada desta forma pelos pais
do grupo G3.
Evidenciada através da fala dos pais dos grupos G1 e G2, as crianças apresentaram
atitudes que demonstraram falta de concentração nas atividades escolares, exigindo dos pais a
utilização de estratégias como o incentivo e valorização de produção, visto que as crianças
153
citadas necessitavam de muita atenção. Entre o grupo G3, os comportamentos como a falta de
disciplina escolar foram os apontados com maior freqüência. Os pais apresentaram ressalvas
perante a eficácia da educação apresentada. Para Biasoli-Alves (2005), estas dúvidas
decorrem da incerteza perante a educação que gostariam de reproduzir, ou seja, a mesma que
receberam.
Pode ser observado que na maioria das estratégias apresentadas pelos pais, tanto no
que se refere ao período de adaptação da criança ao novo contexto familiar, como ao período
atual, que os comportamentos adequados de seus filhos foram os favorecedores para a
manutenção de vínculos em detrimento da falta de limites e rebeldia. Estes foram
apresentados como aspectos que dificultaram. De qualquer forma, o comportamento das
crianças foi sobressaltado acima de tudo ou elogiando-se pelo bom desempenho ou
apontando-o como o principal aspecto dificultador dos pais. Disciplinar significa ensinar e
o castigar (BRAZELTON, 1994). De acordo com Vargas (2001), a criança adotada
tardiamente tem na maioria dos casos um atraso na escolaridade decorrente das mudanças de
ambiente e cultura, mas principalmente quando suas aquisições anteriores (a sua bagagem
cultural) não forem consideradas, dificultando o processo de aprendizagem.
Apesar de o se ter como objetivo identificar os estilos e práticas parentais não se
pode negar a influência destas em alguns estudos que evidenciam a necessidade de uma
prática satisfatória. De acordo com Weber et al (2006), Weber (2007), as práticas parentais
vislumbradas através das estratégias que os pais utilizam para disciplinar indica a
continuidade em 91,7% dos estilos parentais através das gerações. Apesar de transmitirem os
aspectos negativos, os resultados apontaram também para variáveis positivas como o afeto e
maior comunicação entre mãe e filhos. Desta forma, no caso da adoção tardia deve-se pensar
em formas em que ocorra uma preparação dos pais no sentido de orientá-los quanto às
práticas parentais, sendo que estaria viabilizando a prevenção como maneira de promoção do
desenvolvimento.
Caso esta preparação não seja efetiva, ela poderá contribuir para uma perpetuação de
modelos parentais que o busquem o bem estar e desenvolvimento adequado. Bird, Peterson,
e Miller (2002), investigando o modelo de 99 pais adotivos a fim de identificar quais os
fatores aumentariam o estresse emocional entre os mesmos, concluíram que a adoção de
crianças maiores, as múltiplas adoções e o pouco suporte/apoio oferecido aos pais
contribuíram para os altos índices de estresse entre eles.
154
O abuso e a negligência para com as crianças são reconhecidos por Barnett (1997)
como um dos eventos mais graves que contribuem para o enfraquecimento do
desenvolvimento psicológico saudável.
A maioria dos adotantes (67%) que passou pelo processo de selão de candidatos à
adoção manifestou-se sobre o processo de adoção, expôs a necessidade de uma preparação
psicológica durante todo o processo de adoção e s-adoção para sentirem-se seguros diante
da educação de seus filhos.
No período de adaptação pode-se perceber que dentre os recursos que os pais adotivos
puderam contar foram em primeira instância a ajuda familiar (mantida pelos grupos G1 e G2
principalmente). Da mesma maneira, encontra-se na literatura dados que corroboram com a
importância do apoio de familiares e amigos, sendo este fator decisivo para o êxito no
processo da adoção (EBRAHIM, 1999; WEBER, 2001). Nas famílias adotivas ou biológicas
a necessidade de um período de aprendizagem e adaptação para o exercício da
paternidade/maternidade, visto que ninguém nasce sabendo ser pai e mãe, de forma que todos
precisam aprender (WEBER, 2003).
Ainda no tocante à interação, destaca-se também o papel das avós, que vem sendo
apontado pela literatura como figura importante na relação familiar, haja vista a permanência
das mulheres no mercado de trabalho. O lugar que as avós ocupam é estratégico uma vez que
elas apóiam seus filhos (as) e inscrevem, por assim dizer, a criança na cadeia das gerações
(HAMAD, 2002).
As histórias infantis foram recursos também utilizados pelos pais para serem
trabalhadas as questões da adoção em maior freqüência pelo grupo G1, mas também
identificada no grupo G2. As histórias infantis permitem à criança se adentrar ao mundo
gico da fantasia e através dela construir recursos para a atuação. Vargas (1998) salienta a
identificação das crianças adotivas com a história do super-homem, que abandonado pelos
pais biológicos que queriam protegê-lo de uma catástrofe enviam a Terra onde o mesmo é
adotado por um casal estéril.
Outros desenhos como de Walt Disney contam histórias de personagens que perdem
seus pais e passam a viver com figuras bem diferentes, retratando desta forma a rede de apoio
e cuidados necessários para o seu desenvolvimento. Estas histórias muitas vezes trazem
estampada a sua própria história de vida, ou condição de filiação adotiva, como Rei Leão,
Timão (rato) e Pumba (porco selvagem) (VARGAS, 2001) e outras como em Pinóquio,
Tarzan, A mansão Foster e os amigos imaginários.
Na história do Pinóquio, Gepeto seu criador estava se sentindo chateado por estar
155
sozinho e quis muito dividir sua vida com alguém e romper com a solidão, dando vida a sua
carpintaria. Esta história, para Hamad (2002), é a história perfeita de uma criança desejada.
Ainda histórias e livros infantis que podem ser utilizados para a revelação desta condição
de filhos adotivos, momento decisivo para as crianças e temeroso para muitos pais. Os filmes
infantis também foram descritos como recursos apresentados pelos grupos G1, G2 e G3.
Dentre outros recursos que foram apontados pelos pais, encontram-se entre o grupo
G2, os trabalhos artesanais; o aconchego físico entre os grupos G1, G2 e G3; e as palavras
carinhosas, disciplinas e regras apontadas, sobretudo pelos grupos G1 e G2.
O suporte técnico foi recebido por 74% dos pais adotivos e em 28% não se utilizaram
destes recursos, nem mesmo no período de adaptação, por acreditarem que não era necessário.
Entre os profissionais requisitados foram 63% psicólogos entre o grupo G3 e pediatra entre o
grupo G2, visto que as crianças pertencentes a esta faixa etária foram as que apresentaram as
maiores dificuldades de saúde. Os demais recursos apresentados concentraram-se na presença
colaboradora de empregada e a escola.
Em relação aos cuidados com a criança, constatou-se uma tendência a estes serem
predominados efetuados por figuras femininas, pois quando não estavam sob o cuidado das
es, estavam sob o cuidado das avós, empregadas e babás.
No momento atual, 53% dos pais da amostra do presente estudo não utilizaram
nenhum recurso técnico (ajuda de um profissional) sendo que quase metade da amostra (47%)
em especial ao grupo G1, fez menção à ajuda técnica fornecida por psilogos e pediatra.
Quanto à participação no GAASC, a maioria (10 pais) não participa, sendo que 4 pais
freqüentam o grupo e 5 pais freqüentaram algumas vezes. Este índice difere dos encontrados
em Schettini (2007), onde 66% freqüentavam os Grupos de apoio a adoção (GEADs) e 34%
o freqüentavam. Dentre as famílias que freqüentavam o grupo, a maior freqüência foi
obtida entre as famílias biológico-adotivas.
Weber (2000) salienta que a colaboração dos serviços do Judiciário é necessária, o que
nem sempre é fácil. Portanto, esse trabalho precisa ser interdisciplinar e acima de tudo uma
busca efetiva de dados para que todas as colaborações sejam pautadas em estudos científicos,
fornecendo auxílio aos profissionais que atuam neste processo.
Destaca-se neste âmbito a importância de se atuar no preparo dos postulantes a
adoção. Schettini (2007) evidenciou que 73% dos pais em sua amostra o tiveram preparo
para a adoção. A quantidade de informações sobre o processo anterior à adoção pode
beneficiar as famílias, pais e filhos, assim como oferecer ajuda especializada, evitando
problemas de ajustamento e adaptação (HERSOV, 1990; NICKMAN et al, 2005).
156
Ao se dirigir aos postulantes à adoção, Hamad (2002) ressalta a singularidade de cada
um, não devendo referir-se ao casal, como um conjunto que anula as difereas existentes
entre eles no discurso racional onde há o prevalecimento de uma opinião em detrimento de
outra. de se considerar sempre as duas pessoas, mas que apesar de desejarem um projeto
em comum, a adoção, são únicos.
O preparo e acompanhamento destes casais são fundamentais uma vez que eles
exprimem os seus desejos que devem ser levados em consideração pelos profissionais da área.
Freqüentemente tem idéia pronta quanto ao sexo, cor de pele que desejam adotar, mas em
algumas vezes afirmam não ter preferência estando assim prontos para adotar uma criança
seja de qual etnia, sexo ou idade for. Essa escolha ou mesmo essa o escolha revela
características mais íntimas de uma pessoa (HAMAD, 2002).
Conforme foi explicado pelo Setor Técnico, a fim de manter o cadastro atualizado,
uma revisão é efetuada a cada dois anos. Desta maneira, os casais que ainda permanecem na
fila são chamados para uma nova entrevista, com o intuito de identificar se permanece o
desejo pela adoção ou se até mesmo mudanças no perfil da criança a ser adotada. É nesta
fase onde muitos casais, por permanecerem tempos na fila de espera passam a alterar a idade e
características sicas da criança pretendida, fruto também da maturidade diante do processo.
Ainda havenecessidade de pesquisas que apontem com clareza o perfil de adotantes
e adotados, devido principalmente a fatores decorrentes das ainda realizadas adoções “à
brasileira” (WEBER, 2003). Como este tipo de adoção é feita de maneira ilegal, envolvendo
uma falsificação ideológica, os pais mantém um controle sobre a situação, visto que a eles é
conhecido o paradeiro dos pais adotivos (FONSECA, 2002). A maioria das adoções
realizadas “à brasileira” são adoções de bebês recém-nascidos com características
semelhantes ao do adotante (WEBER, 2003).
Entre os resultados de Schettini (2007), concluiu-se que 70% realizaram adoções
através da habilitação oficial no Juizado da Infância e 30% brasileira). Observou-se que
entre as famílias exclusivamente adotivas 66% realizaram a adoção através do juizado e 34%
fizeram adoção à brasileira; entre as famílias biológico-adotivas encontrou-se um índice de
74% para adoções oficiais e 26% adoções à brasileira. Portanto, as famílias exclusivamente
adotivas tiveram uma tenncia maior a realizar adoções à brasileira.
No presente estudo estes índices também foram correlatos sendo que a maioria dos
pais adotantes tardios realizou a adoção através da inscrição no Juizado da Infância. Em
complemento, outros estudos apontam a possibilidade de se constatar que as pessoas com
renda familiar mais alta procuraram em maior número as adoções através dos juizados, sendo
157
que as adoções à brasileira ocorreram entre as pessoas de baixa renda (WEBER, 2003;
WEBER; CORNÉLIO, 1995).
Em 68,4% dos pais da amostra do presente estudo, não houve uma experiência de
devolução da criança a ser adotada, mas 31,6% vivenciaram esta situação, sendo obrigados a
devolverem a criança. No entanto, os referidos casais, cientes da necessidade de legalizar a
adoção, não puderam dar continuidade ao processo. Entre estes, os pais (M1, M8 e P8),
informaram que não sabiam que a inscrão era necessária.
Apesar dos resultados não apontarem para estatísticas que evidenciem a devolução de
crianças, estudos apontam para a associação entre esta variável e as características das
crianças. Dentre os fatores que contribuem para o rompimento da adoção estão: a) sexo da
criança, b) idade, c) vínculo afetivo, d) grupo de irmãos e e) necessidades especiais
(COAKLEY; BERRICK, 2008). Os autores ainda incluem as necessidades emocionais,
cognitivas e comportamentais, sendo que as pesquisas por eles citadas apontam para a
inclusão entre as necessidades especiais, o histórico de abuso e a exposição desde o período
gestacional ao abuso de substâncias.
As conclusões sobre as implicações práticas e poticas referentes ao rompimento na
adoção, de acordo com Coakley e Berrick (2008) podem ser generalizadas para outros países,
na medida em que sejam verificadas as características associadas ao rompimento na adoção.
Concordamos com os autores quando apontam para a necessidade de novos estudos que
resultam desta maneira, na redução de rompimentos na adoção favorecendo a colocação de
crianças em famílias adotivas melhor preparadas e apoiadas.
Sumariando, os pais do presente estudo, representados por 5 famílias biológico-
adotivas (presença significativa de filhos biológicos em 47% da amostra) e 5 famílias
exclusivamente adotivas, apresentaram fácil adaptação entre filhos biológicos e adotivos. A
presença de filhos adotivos anteriormente à adoção tardia, foco deste estudo, foi um fator não
predominante na amostra. Portanto, a maioria das adoções analisadas foram as primeiras
efetuadas pelos casais, mas todas com êxito.
Os resultados apontaram que o conhecimento sobre a história de vida pregressa da
criança, anteriormente ao processo de adoção, foi indiferente para a decisão do ato da adoção,
o que possivelmente, seja em decorrência de vivencias através da família extensa. Em 42% da
amostra havia casos de adoção (na maioria parentesco de primeiro grau) bem sucedidas, o que
foi comprovado pela literatura como um facilitador.
As principais dificuldades retratadas pelos pais perante a educação dos filhos,
principalmente no âmbito escolar, evidenciaram comportamentos e atitudes inadequadas
158
diante da disciplina escolar. Tal indicador em nada difere das dificuldades apontadas por
alguns pais de famílias biológico-adotivas perante a educação de seus filhos.
Diante destas dificuldades, as principais estratégias implantadas foram: a promoção e
interação social, incentivo e valorização de produção e uso de restrições sicas. Desta
maneira, é necessário ressaltar que os pais apresentaram estratégias positivas como, o amor o
carinho na educação de seus filhos, fruto este do possível amadurecimento e estabilidade
emocional dos casais participantes. A contribuição e apoio das redes familiares, assim como
do suporte técnico, foram apontados como facilitadores do processo da adoção.
Concluindo, ressalta-se a importância de novas pesquisas no sentido de ampliar a
utilização dos resultados obtidos neste estudo, a fim de compor diretrizes para um programa
preventivo. Desta maneira, poder-se-a contribuir para com a construção de uma nova cultura
da adoção e efetivação da adoção tardia. Neste sentido, torna-se promissora a desmistificação
da adoção e viabiliza a ampliação da rede de apoio em favor das adoções tardias nas famílias
brasileiras.
159
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VARGAS, M. M. Adoção Tardia: da família sonhada à família possível. São Paulo: Casa do
Psilogo, 1998.
172
VERHULST, F. C; VERSLUIS-DEN BIEMAN, H.J.M. Development course of problem
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Psychiatry, v. 34, n. 2, fev.1995.
VIANA, A. B. Relato de profissionais a respeito dos motivos que levam à devolução de
crianças colocadas em família substituta. São Carlos: UFSCar/ Departamento de
Psicologia, 2000. 57 p. Trabalho de Conclusão de Curso.
VICENTE, C. M. O direito à convivência familiar e comunitária: uma potica de manutenção
do vínculo. In: KALOUSTIAN, S. M. (Org). Família brasileira, a base de tudo. 3. ed. São
Paulo: Cortez, UNICEF, 1998. p. 47-59.
VITAL, M. L. N. V.
Análise de processos de adoção internacional e nacional:
caracterização e considerações sobre o contexto social e legal. São Carlos:
UFSCar/Departamento de Psicologia, 2005. Trabalho de Conclusão de Curso.
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______________. Aspectos psicológicos da adoção. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2003.
______________. Pais e filhos por adoção no Brasil: características, expectativas e
sentimentos. Curitiba: Juruá, 2001.
______________. A pesquisa sobre adoção no Brasil uma necessidade. Revista Psicologia
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______________. Laços de ternura: pesquisas e histórias de adoção. 2. ed. Curitiba: Juruá,
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______________. 1998. O filho universal: um estudo comparativo de adoções nacionais e
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______________. Critérios de seleção de pais adotivos: em discussão. Interação, Curitiba, v.
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http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/psicologia/article/view/7638/5446>. Acesso em: 23
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173
______________. Da institucionalização a adoção: um caminho possível? Revista
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WEBER, L. N. D; CORNÉLIO, S. A. Filhos adotivos: amores ou dissabores? Revista de
Ciências Humanas, v. 4, p. 119-164, 1996.
WEBER, L. N. D; SELIG, G. A; BERNARDI, M. G; SALVADOR, A. P. V. Continuidade
dos estilos parentais através das gerações: transmissão intergeracional de estilos parentais.
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ZAMBERLAN, M. A.T. Interação mãe-criança: enfoques teóricos e implicações decorrentes
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ZAVASCHI, M. L. S.; SATLER, F.; POESTER, D.; VARGAS,C. F.;PIAZENSKI,R.;
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em: <http://www.scielo.br/pdf/rbp/v24n4/12728.pdf>. Acesso em: 06 set. 2005.
174
APÊNDICES
175
APÊNDICE - A
INSTRUMENTO VERSÃO PRELIMINAR
DUGNANI, K. C. B.; MARQUES, S. L. (2007)
Formulário de Pesquisa (versão preliminar)
176
FORMULÁRIO DE PESQUISA
IDENTIFICAÇÃO
Nome do participante: ____________________________ Idade: ____________
Data: _______________________
Local:_______________________
I- CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES
Dados do Casal
1)Estado civil: _________________ Tempo de união: ______________
Ambiente Familiar
2)Número de pessoas que moram no domicílio:
3)Lista de moradores do domicílio:
Nome
Parentesco Sexo Idade Escolaridade
4)Você tem outros filhos?
Complete a tabela a seguir:
N. de filhos adotivos
N. de filhos biológicos
Idade do(s) filho(s)
Idade do(s) filho(s)
Sexo
Sexo
DUGNANI, K. C. B.; MARQUES, S. L. (2007)
Formulário de Pesquisa (versão preliminar)
177
Dados sócio-econômico-culturais
5) Renda familiar total mensal:
( ) Até um salário nimo (R$ 380,00)
( ) Até 3 salários nimos ( R$1140,00)
( ) Até 6 salários nimos (R$ 2280,00)
( ) Até 10 salários nimos (R$ 3800,00)
( ) Mais de 10 salários nimos
6) Número de pessoas (do domicílio) que contribuem para renda
familiar:__________________________________________________________
7) Qual a sua escolaridade
( ) Ensino Fundamental ( 1 à 4 série)
( ) Ensino Fundamental ( 5 à 8 série)
( ) Ensino Médio ( 1 ao 3 colegial)
( ) Superior Incompleto
( ) Superior Completo. Qual Curso? ________________________________
8) Qual a profissão exercida atualmente? _________________________________
9) Na sua família, há outra adoção realizada?______________________________
I- ADOÇÃO TARDIA E ESTABELECIMENTO DE VÍNCULOS
AFETIVOS
Dados sobre a adoção e dinâmica familiar
10) Na sua opinião, o que é adoção?
____________________________________________________________________
___________________________________________________________________
11) Descreva como ocorreu o processo de adoção de seu filho(a).
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
DUGNANI, K. C. B.; MARQUES, S. L. (2007)
Formulário de Pesquisa (versão preliminar)
178
12) Quando realizou a inscrição no Fórum pensava em uma adoção tardia?
( ) SimSeguir para a questão 13
( ) Não – Seguir para a questão 14
13) O que motivou a adotar uma criança com idade igual ou superior a (2) anos?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
14) O que fez mudar de opinião em relação à idade da criança?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
Características da criança adotada
15) Voconheceu detalhes sobre a história de vida (anterior a adoção) da
criança?
( ) Sim – Responder as questões 16 e 17
( ) o – Segue para a questão 18
16) Ela tem irmãos biológicos ou tinha quando foi colocada para adoção?
____________________________________________________________________
17) Conhecer os detalhes da vida da criança favoreceu ou dificultou a realização da
adoção. Por quê? __________________________________________________
18) Não conhecer os detalhes da vida da criança favoreceu ou dificultou a realização
da adoção. Por quê?___________________________________________________
19) Houve em algum momento, receio quanto à história de origem
(genética) da criança?
( ) Sim ( ) Não
Por quê?_________________________________________________________
DUGNANI, K. C. B.; MARQUES, S. L. (2007)
Formulário de Pesquisa (versão preliminar)
179
20) Quantos anos tinha a criança quando você recebeu a sua guarda?_____________
Quantos anos a criança tinha quando foi adotada? ________________________
Ela sabe que é adotiva? _____________________________________________
21) Qual era a condição física e de saúde da criança, ao chegar em sua casa?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
22) Até o momento a criança teve alguma doença?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
23) Ela toma algum medicamento?
( ) Sim ( ) o
Se disse sim: Qual(ais) medicamento(s) toma e para que serve?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
Adaptação da criança e estabelecimento de vínculos afetivos
24) Como foi o período de adaptação da criança à nova família?
Benefícios:
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
Dificuldades:
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
25) Se houve dificuldades, como os familiares lidaram com as mesmas?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
DUGNANI, K. C. B.; MARQUES, S. L. (2007)
Formulário de Pesquisa (versão preliminar)
180
26) Se tiver filhos biológicos:
Quais foram as dificuldades enfrentadas para adaptação e convivência das crianças?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
Existe alguma diferença no tratamento do filho biológico e do adotivo por algum
motivo? Existe alguma dificuldade na educação do filho biológico ou do adotivo?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
27) Se tiver apenas filhos adotivos:
Quais foram as dificuldades enfrentadas para adaptação e convivência das crianças?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Você acredita que educaria de forma diferente em algum aspecto o seu filho se ele
fosse biológico. Qual seria a diferença?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
28) Que comportamentos a criança apresentou inicialmente?
Obs: Caso os pais tenham dificuldade em responder apontar exemplos Falar como
bebê, chupar o dedo, querer o colo de um adulto, vontade de mamar no peito
materno, fazer xixi e cocô na calça.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
29) Se a criança apresentou algum destes comportamentos: Como você reagiu?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
30) Perante um “não”, como a criança reagia?
Obs: Caso os pais tenham dificuldade em responder apontar exemplos jogar-se no
chão; atirar objetos; chorar; xingar..
DUGNANI, K. C. B.; MARQUES, S. L. (2007)
Formulário de Pesquisa (versão preliminar)
181
31) Qual(is) recurso(s) utilizado durante o período de adaptação da criança?
( ) Utilização de histórias infantis
( ) Não utilizei nenhum recurso
( ) Ajuda de familiares
( ) Outros. Quais?_____________________________________
32) Durante o processo de adaptação com a criaa, procurou ou teve ajuda de
algum profissional?
( ) Sim ( ) o
33) Atualmente, tem a ajuda de algum profissional?
( ) Sim Qual especialidade?_____________________________________
( ) Não
34) Atualmente, apresenta alguma dificuldade em relação ao comportamento de
seu filho? Quais? ___________________________________________________
35) Seu(a) filho(a) enfrentou ou enfrenta dificuldades no ambiente escolar, por ser
adotivo?
( ) Sim ( ) Não
36) Se você disse sim: Como você reagiu ou reage?
___________________________________________________________________
37)Qual a sua maior dificuldade em relação a educação de seu(a) filho(a)?
____________________________________________________________________
38) Quais as facilidades encontradas em relação a educação de seu(a) filho(a)?
____________________________________________________________________
39) Freqüenta o grupo de apoio a adoção da cidade de São Carlos (GAASC)?
( ) Sim ( ) o
DUGNANI, K. C. B.; MARQUES, S. L. (2007)
Formulário de Pesquisa (versão preliminar)
182
40) Você sente que recebe alguma orientação deste local?
__________________________________________________________________
III- DEVOLUÇÃO : ( este será respondido somente por casais que
realizaram a devolução)
41) Quais foram os motivos que contribuíram para a devolão da criança, durante o
processo da adoção?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
42) Qual foi o período que a criança permaneceu com você?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
43) Em sua opinião, o que teria contribuído para que a criança permanecesse em sua
casa?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
44) Após esse período, você procurou informações sobre a criança?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
Obrigada pela participação!
* A construção deste instrumento foi baseada em leitura de livros e pesquisas
anteriores sobre adoção Vargas (1998); Ebrahim (1999); Weber( 2001); Viana (2000).
183
APÊNDICE - B
INSTRUMENTO (FORMULÁRIO DE PESQUISA)
VERSÃO FINAL
DUGNANI, K. C. B.; MARQUES, S. L. (2007).
Formulário de Pesquisa – Versão Final
184
INSTRUMENTO – FORMULÁRIO DE PESQUISA
IDENTIFICAÇÃO
Nome do participante: Idade:
Data: Local:
Duração da entrevista:
I- CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES
AMBIENTE FAMILIAR
1) Estado Civil: ________________ Tempo de união: ______________
2) Identifique as pessoas que moram em seu domicílio:
a) Nome: _________________________________________________________
_________________________________________________________________
b) Parentesco: ____________________ c) Idade: ________________________
Escolaridade : ( ) Ensino Fundamental I ( ) Completo ( ) Incompleto
( ) Ensino Fundamental II ( ) Completo ( ) Incompleto
( ) Ensino Médio ( ) Completo ( ) Incompleto
( ) Superior Incompleto
( ) Superior Completo. Qual Curso?
Profissão:
Trabalho Atual: Renda:
DUGNANI, K. C. B.; MARQUES, S. L. (2007).
Formulário de Pesquisa – Versão Final
185
a) Nome: _________________________________________________________
_________________________________________________________________
b) Parentesco: ____________________ c) Idade: ________________________
Escolaridade : ( ) Ensino Fundamental I ( ) Completo ( ) Incompleto
( ) Ensino Fundamental II ( ) Completo ( ) Incompleto
( ) Ensino Médio ( ) Completo ( ) Incompleto
( ) Superior Incompleto
( ) Superior Completo. Qual Curso?
Profissão:
Trabalho Atual: Renda:
a) Nome: _________________________________________________________
_________________________________________________________________
b) Parentesco: ____________________ c) Idade: ________________________
Escolaridade : ( ) Ensino Fundamental I ( ) Completo ( ) Incompleto
( ) Ensino Fundamental II ( ) Completo ( ) Incompleto
( ) Ensino Médio ( ) Completo ( ) Incompleto
( ) Superior Incompleto
( ) Superior Completo. Qual Curso?
Profissão:
Trabalho Atual: Renda:
DUGNANI, K. C. B.; MARQUES, S. L. (2007).
Formulário de Pesquisa – Versão Final
186
a) Nome: _________________________________________________________
_________________________________________________________________
b) Parentesco: ____________________ c) Idade: ________________________
Escolaridade : ( ) Ensino Fundamental I ( ) Completo ( ) Incompleto
( ) Ensino Fundamental II ( ) Completo ( ) Incompleto
( ) Ensino Médio ( ) Completo ( ) Incompleto
( ) Superior Incompleto
( ) Superior Completo. Qual Curso?
Profissão:
Trabalho Atual: Renda:
a) Nome: _________________________________________________________
_________________________________________________________________
b) Parentesco: ____________________ c) Idade: ________________________
Escolaridade : ( ) Ensino Fundamental I ( ) Completo ( ) Incompleto
( ) Ensino Fundamental II ( ) Completo ( ) Incompleto
( ) Ensino Médio ( ) Completo ( ) Incompleto
( ) Superior Incompleto
( ) Superior Completo. Qual Curso?
Profissão:
Trabalho Atual: Renda:
DUGNANI, K. C. B.; MARQUES, S. L. (2007).
Formulário de Pesquisa – Versão Final
187
a) Nome: _________________________________________________________
_________________________________________________________________
b) Parentesco: ____________________ c) Idade: ________________________
Escolaridade : ( ) Ensino Fundamental I ( ) Completo ( ) Incompleto
( ) Ensino Fundamental II ( ) Completo ( ) Incompleto
( ) Ensino Médio ( ) Completo ( ) Incompleto
( ) Superior Incompleto
( ) Superior Completo. Qual Curso?
Profissão:
Trabalho Atual: Renda:
3) Você tem outros filhos que não moram com você?
Nome: ________________________ Idade: _______ ( ) Adotivo ( ) Biológico
Escolaridade: ___________________________ Mora com: ________________
Nome: ________________________ Idade: _______ ( ) Adotivo ( ) Biológico
Escolaridade: ___________________________ Mora com: ________________
Nome: ________________________ Idade: ________ ( ) Adotivo ( ) Biológico
Escolaridade: ___________________________ Mora com: ________________
4)Número de pessoas (do domicílio) que contribuem para renda
familiar:__________________________________________________________
5) Renda familiar total mensal:
( ) Até um salário nimo (R$ 380,00)
( ) Até 3 salários nimos ( R$1140,00)
( ) Até 6 salários nimos (R$ 2280,00)
( ) Até 10 salários nimos (R$ 3800,00)
( ) Mais de 10 salários nimos (+ DE 3800,00)
DUGNANI, K. C. B.; MARQUES, S. L. (2007).
Formulário de Pesquisa – Versão Final
188
II - ADOÇÃO TARDIA E ESTABELECIMENTO DE VÍNCULOS AFETIVOS
DADOS SOBRE A ADOÇÃO E DINÂMICA FAMILIAR
6) Na sua família de origem, há outra adoção realizada.
( ) Sim ( ) Não ( ) Desconheço
Se sim: Qual o grau de Parentesco? ______________________________________
___________________________________________________________________
7) Em sua opinião, o que é adoção?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
8) Vopassou por um processo de guarda que acabou em devolução. Qual foi o
período que a criança permaneceu com você?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Se disse sim: O que teria contribuído para que a criança não permanecesse em sua
casa?
____________________________________________________________________
9) Como ocorreu o processo de adoção de seu(a) filho(a)? Que expectativas você
tinha em relação a essa criança?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
10) Quando realizou a inscrição no Fórum? ___________________________
11) No ato da inscrição no Fórum, pensava na adoção de uma criança com idade igual
ou superior a dois anos?
( ) SimSeguir para a questão 12
( ) Não – Seguir para a questão 13
DUGNANI, K. C. B.; MARQUES, S. L. (2007).
Formulário de Pesquisa – Versão Final
189
12) O que motivou a adotar uma criança com esta idade?
____________________________________________________________________
__________________________________________________________________
13) Se não pensava em adoção tardia, o que fez mudar de opinião em relação à idade
da criança?
____________________________________________________________________
__________________________________________________________________
14) Que idade seu(a) filho(a) tinha quando:
Você recebeu a sua guarda? ________________________________________
Ocorreu a adoção? ________________________________________________
15) Seu(a) filho(a) sabe que é adotivo? Em que idade recebeu esta informão?
Como?Quem?
____________________________________________________________________
__________________________________________________________________
DUGNANI, K. C. B.; MARQUES, S. L. (2007).
Formulário de Pesquisa – Versão Final
190
CARACTERÍSTICAS DA CRIANÇA ADOTADA
16) Você conheceu detalhes sobre a história de vida ( anterior a adoção) da criança?
( ) Sim – Segue para a questão 17 e 18
( ) o – Segue para a questão 19
17) A criança antes de ser adotada:
Passou por Abrigo/ Albergue ( ) Sim ( ) Não
Foi vítima de maus-tratos físicos ( ) Sim ( ) Não
Foi vítima de abusos sexuais ( ) Sim ( ) Não
Outras Informações: ____________________________________________
18) Conhecer os detalhes da vida da criança favoreceu ou dificultou a realização da
adoção. Por quê? _____________________________________________________
___________________________________________________________________
19) Não conhecer os detalhes da vida da criança dificultou a realização da adoção.
Por quê?___________________________________________________________
___________________________________________________________________
20) Antes da adoção, em algum momento você apresentou receio quanto:
( ) à saúde física da criança
( ) ao uso de bebidas por parte dos pais biológicos durante a gestação
( ) ao uso de drogas por parte dos pais biológicos durante a gestação
( ) ao ambiente familiar biológico
( ) Outros fatores _________________________________________
DUGNANI, K. C. B.; MARQUES, S. L. (2007).
Formulário de Pesquisa – Versão Final
191
ADAPTAÇÃO DA CRIANÇA E ESTABELECIMENTO DE VÍNCULOS
AFETIVOS
21) Qual era a condição física (saúde) da criança, ao chegar em sua casa?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
22) A criança precisou fazer uso de algum medicamento específico?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
23)Até o momento, a criança apresentou alguma doença?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
24) Ela toma algum medicamento?
( ) Sim ( ) o
Se disse sim: Qual(ais) medicamento(s) toma e para que serve(m)?
___________________________________________________________________
25) No peodo de adaptação (guarda) da criança à sua família, quais foram as
dificuldades encontradas?
Na escola: __________________________________________________________
___________________________________________________________________
Na saúde: __________________________________________________________
___________________________________________________________________
Na educação:________________________________________________________
___________________________________________________________________
No relacionamento com alguém da família:________________________________
___________________________________________________________________
DUGNANI, K. C. B.; MARQUES, S. L. (2007).
Formulário de Pesquisa – Versão Final
192
26) Se houve dificuldades, como os familiares lidaram com as mesmas?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
27) Quais foram os fatores que contribuíram para a adaptação de seu filho, à sua
família? ___________________________________________________________
__________________________________________________________________
28) Se tiver filhos biológicos:
Como ocorreu a adaptação e convivência entre as crianças em casa?
Facilidades: _________________________________________________________
___________________________________________________________________
Dificuldades: ________________________________________________________
___________________________________________________________________
Existe alguma diferea no tratamento do filho biológico e do adotivo por algum
motivo? Existe alguma dificuldade na educação do filho biológico ou do adotivo?
____________________________________________________________________
29) Se tiver apenas filhos adotivos:
Como ocorreu a adaptação e convivência entre as crianças em casa?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Você acredita que educaria de forma diferente em algum aspecto o seu filho se ele
fosse biológico. Qual seria a diferença? _________________________________
_________________________________________________________________
30) Que comportamentos a criança apresentou inicialmente?
Obs: Caso os pais tenham dificuldade em responder, apontar exemplos falar como
bebê, chupar o dedo, querer o colo de um adulto, vontade de mamar no peito
materno, fazer xixi e cocô na calça. ______________________________________
___________________________________________________________________
DUGNANI, K. C. B.; MARQUES, S. L. (2007).
Formulário de Pesquisa – Versão Final
193
31) Se a criança apresentou algum destes comportamentos: Como você reagiu?
____________________________________________________________________
__________________________________________________________________
32) Perante um “não”, como a criança reagia?
Obs: Caso os pais tenham dificuldade em responder apontar exemplos jogar-se no
chão; atirar objetos; chorar; xingar.
____________________________________________________________________
__________________________________________________________________
33) Qual(is) do(s) seguintes recurso(s) foram utilizados durante o período de
adaptação da criança?
( ) Utilização de histórias infantis
( ) Utilização de filmes infantis
( ) Não utilizei nenhum recurso
( ) Ajuda de familiares
( ) Outros. Quais?________________________________________________
34) Durante o processo de adaptação com a criança, procurou ou teve ajuda de algum
profissional?
( ) Sim Qual?___________________________________
( ) Não
35) Se não procurou ou não teve ajuda, quais foram os motivos?
___________________________________________________________________
36) Qual a alternativa encontrada para ajudar nos cuidados com a(s) criança (s)
( ) Babá ( ) Empregada ( ) Escola ( ) Outros _______
DUGNANI, K. C. B.; MARQUES, S. L. (2007).
Formulário de Pesquisa – Versão Final
194
RELACIONAMENTO ATUAL
37) Em relação à educação de seu(a) filho(a) hoje, qual são as:
Facilidades:
___________________________________________________________________
Dificuldades:
___________________________________________________________________
38) Seu(a) filho(a) enfrenta dificuldades no ambiente escolar, por ser adotivo?
( ) Sim ( ) Não
Se você disse sim: Como seu (a) filho (a) reage? E você?
___________________________________________________________________
39) Sua família tem a ajuda de algum profissional?
( ) Sim Qual especialidade?______________________________________
( ) Não
40) Como você vivencia, atualmente, a história de vida anterior de seu(a) filho(a)?
( ) Procuro não comentar sobre a vida anterior.
( ) Não sei como lidar com a situação.
( ) Falo com muita naturalidade.
( ) Outros: ________________________________________________________
41) Seu(a) filho(a) já te disse que não pertence a sua família?
( ) o
( ) Sim. Como você reagiu? ___________________________________________
42) Quando você fez a inscrição, você tinha uma imagem (idéia) de como seria o seu
filho. Hoje, essa imagem (idéia) se confirma, ou você sente que seu filho não
correspondeu as suas expectativas?
DUGNANI, K. C. B.; MARQUES, S. L. (2007).
Formulário de Pesquisa – Versão Final
195
43) Freqüenta o grupo de apoio à adoção da cidade de São Carlos (GAASC)?
( ) Sim ( ) o
44) Você sente que recebe alguma orientação deste local?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
45) Deseja fazer comentários sobre alguma questão?
_________________________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
Obrigada pela participação!!
196
APÊNDICE - C
PROTOCOLO ANÁLISE DE REGISTRO
DUGNANI, K. C. B; MARQUES, S. L. (2007)
Protocolo de registro baseado em pesquisas anteriores sobre adoção (OLIVEIRA, 2001;
AZEVEDO, 2003; MORELLI, 2005; VITAL, 2005; CASEIRO, 2007).
197
PROTOCOLO DE ANÁLISE DE REGISTRO
ADOTANTE MASCULINO:
Idade:
Cor:
Profissão:
Grau de Instrução:
Estado civil:
Religião:
Renda mensal:
ADOTANTE FEMININO:
Idade:
Cor:
Profissão:
Grau de Instrução:
Estado civil:
Religião:
Renda mensal:
DADOS DO CASAL:
Número de filhos biológicos: __________ Número de filhos adotivos: ___________
Tempo de união: _____________ anos
DADOS SOBRE O PROCESSO DE ADOÇÃO:
Data da habilitação: Data da adoção:
Características desejadas da criança a ser adotada:
1.Aceitam irmãos? ( ) sim ( ) não ( ) quantos? ( ) somente gêmeos
2. Sexo: ( ) feminino ( ) masculino ( ) indiferente
3.Cor: ( ) branca ( ) negra ( ) parda ( ) amarela ( ) indiferente
4. Faixa etária desejada:
5. Dise-se a receber a criança com:
( ) problemas sicos o tratáveis ( ) problemas físicos tratáveis leves
( ) problemas mentais o tratáveis ( ) problemas mentais tratáveis leves
( ) problemas mentais tratáveis graves ( ) problemas sicos tratáveis graves
( ) problemas psicológicos graves ( ) problemas psicológicos leves
( ) pais viciados em álcool ( ) pais aidéticos
198
APÊNDICE – D
PROTOCOLO PARA ANÁLISE DE CONTEÚDO
199
200
ANEXOS
201
ANEXO - A
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
202
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Estudo: “Fatores promotores de estabelecimento de vínculos
afetivos na prática da adoção tardia e retomada do
desenvolvimento da criança: prevenção e probabilidade”.
Este estudo tem por objetivo identificar as dificuldades e
facilidades dos pais no processo de construção de vínculos afetivos,
apontando as estragias utilizadas por eles na prática da adoção tardia,
englobando suas expectativas e motivações.
Pretende-se com a análise dos resultados investigar como as
famílias buscam construir vínculos e quais os motivos que impedem
esta vinculação culminando muitas vezes na devolução de criaas às
instituições.
Os benefícios advindos desta forma de pesquisa consistem em
auxiliar o corpo técnico judiciário do Fórum de o Carlos fornecendo-
lhe uma análise objetiva sobre a temática estudada, am de uma melhor
compreeno dos casos de adoção tardia. Os resultados desta pesquisa
poderão servir como fonte de informação para subsidiar programas de
orientação de casais interessados na adoção e grupos especializados de
apoio à adoção.
Quanto aos riscos, este projeto não expõe os participantes a
nenhuma situação prejudicial à sua integridade física e psíquica, sendo
os casais previamente selecionados (contatados pelos funcionários do
corpo técnico do Fórum) e aderiram ao estudo, concordando em
participar voluntariamente do mesmo.
1) Eu, abaixo assinado, concordei voluntariamente em
participar do estudo acima.
2) Recebi informações detalhadas sobre a natureza e objetivo
do estudo e sobre as solicitações que me serão feitas.
3) Concordo em ser cooperativo nos procedimentos envolvidos.
4) Tenho conhecimento de que sou livre para desistir do estudo
a qualquer momento, sem necessidade de justificar a minha decio.
Caso isso ocorra, comprometo-me a avisar os pesquisadores o mais
pido possível.
5) Tenho conhecimento de que minha participação é sigilosa,
isto é, que meu nome não será divulgado em qualquer publicação,
relatório ou comunicação científica referente aos resultados da
pesquisa. Além disso, eu o restringirei o uso dos resultados obtidos,
desde que eu não seja identificado como sujeito do estudo.
6) Tenho ciência de que não receberei nenhum crédito ou bônus
por participar do referido estudo.
Nome: _____________________________________________
Assinatura: ____________________________ Data: _______
Confirmo ter explicado a natureza, objetivo desse estudo ao
voluntário acima.
Coloco-me à disposição para outros esclarecimentos que se
fizerem necessários
_______________________ _________________________
Profa. Dra. Susi Lippi Marques Oliveira Katia Cristina Bandeira Dugnani
Contato: (16) 3351-8361/3335-8485 Contato: (16) 3501-4846
Rodovia Washington Luis, Km 235;
Monjolinho – São Carlos
203
ANEXO – B
COMITÊ DE ÉTICA
204
205
ANEXO – C
AUTORIZAÇÃO DO JUIZ DA VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DA
COMARCA DE SÃO CARLOS
206
207
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