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realidade permanente e em aceleração constante. Porque não havia
nada mais a salvar do capitalismo e só o socialismo respondia ao
radicalismo nacional e democrático da maioria.
157
Para Moniz Bandeira, a declaração de Castro tinha ainda, em meio aos
confrontos, o intuito maior de “constranger a URSS a defendê-la (Cuba) contra a
invasão em curso, organizada pelos EUA”
158
. De fato, no dia 18, a URSS publicou
nota condenando a invasão e afirmando estar pronta, “no caso de não cessar a
intervenção, a dar toda a ajuda necessária à República de Cuba”
159
.
Os exilados contaram com o suporte técnico da CIA e, depois de prepararem
cerca de 1.400 homens em regiões da América Central (principalmente na
Guatemala), puderam desembarcar no litoral sul de Cuba, na região da Baía dos
Porcos, a 17 de abril de 1961
160
. Aparentando não valorizar muito o fator surpresa,
e objetivando, provavelmente, resultados adesistas com a propaganda, a invasão já
havia sido anunciada pelos exilados cubanos desde o início daquele mês
161
.
Mesmo antes, no dia 30 de março, um ofício confidencial do encarregado brasileiro
de negócios em Havana, Carlos Jacyntho de Barros, endereçado a Afonso Arinos
de Melo Franco, já alegava saber dos preparativos da invasão e afirmava ser
inconcebível que o governo cubano não o soubesse
162
. Os exilados encontraram,
então, tropas cubanas organizadas que, cerca de dez horas depois do
desembarque, já haviam dominado a situação, aprisionado vários contra-
revolucionários e afundado dois navios que conduziram os invasores até a Ilha
163
.
157
FERNANDES, Florestan. op. cit., 2007. p. 35.
158
MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. op. cit., 1998. p. 296.
159
Segundo o A Tarde, a nota foi lida pelos locutores da Rádio de Moscou no dia 18. Além disso, a
posição também foi expressa por Nikita Kruschev, então primeiro-ministro da URSS, em carta a
John F. Kennedy. PROGRIDE a invasão de Cuba. A Tarde, Salvador, 18 de abr. 1961, p. 1.
160
Vale ressaltar que, num primeiro momento, o presidente John F. Kennedy, em meio à invasão,
negou qualquer participação do governo estadunidense e da CIA no processo, tendo que,
posteriormente, reconhecer sua responsabilidade no fiasco. Moniz Bandeira faz uma análise muito
bem documentada do papel dos gabinetes oficiais dos EUA na invasão. MONIZ BANDEIRA, Luiz
Alberto. op. cit., 1998. p. 253-294.
161
No dia 9 de abril, o “líder anti-castrista” José Miró Cardona reuniu a imprensa em Nova York para
anunciar que uma invasão, cuja data não poderia obviamente revelar, estava sendo preparada e
convocava o povo cubano para apoiá-lo. CONTRA-REVOLUCIONÁRIOS cubanos intensificam
preparativos para invasão iminente da ilha. A Tarde, Salvador, 10 de abr. 1961, p. 2.
162
Ofício nº 51/600, confidencial, Carlos Jacyntho de Barros, encarregado de Negócios, ao
chanceler Afonso Arinos de Melo Franco, Havana, 30 de mar. 1961. apud MONIZ BANDEIRA, Luiz
Alberto. op. cit., 1998. p. 273.
163
A luta, no entanto, durou no total cerca de setenta e duas horas. MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto.
op. cit., 1998.