93
próprio sistema, só o podem ser por meio de outro sistema. Quando
isso sucede, se inicia a atividade de constituição, pela qual os vazios
funcionam como um comutador central de interação entre texto e leitor.
Ressaltamos, mais uma vez, a importância do humor presente no texto para a
experiência desenvolvida, uma vez que ele possibilitou uma maior interação entre obra
e leitor e, consequentemente, uma boa comunicação entre ambos, tornando, assim, a
atividade de leitura, prazerosa. Sobre a função do prazer presente no texto literário,
Barthes (1999, p.35) revela a existência de três modos de prazer de ler:
O primeiro modo, o leitor tem, com o texto lido, uma relação feiticista:
sente prazer com as palavras, com certos arranjos de palavras;
desenham-se no texto praias, ilhas em cujo fascínio o sujeito se abisma,
se perde: tratar-se-ia de um tipo de leitura metafórica ou poética; para
desfrutar deste prazer, será necessário uma longa cultura de
linguagem? Não é certo: mesmo a criança muito jovem, no momento do
balbucio, conhece o erotismo da palavra, prática oral e sonora oferecida
a pulsão. De acordo, com o segundo modo oposto ao primeiro, o leitor é
de alguma maneira puxado para frente ao longo do livro, por uma força
que está sempre ou mais ou menos disfarçada, da ordem do suspense:
o livro é abolido pouco a pouco, e é nessa usura, impaciente,
arrebatadora que reside a fruição [...] trata-se do prazer metonímico [...]
Sobre os tipos de leitura, descritos por Barthes, acreditamos que eles não se
desenvolvem de forma separada, pois numa mesma leitura podemos fazer uso de todas
as formas. Na experiência, aqui descrita, pudemos verificar os dois primeiros tipos de
leitura em que os participantes, ora se mostravam envolvidos pela construção das
imagens poéticas, ora curiosos pela descrição de um mundo tão fantástico, como o
proposto em São Saruê.
Daí, porque, a necessidade da realização leitura em voz alta do texto poético,
cuja prática, quando realizada com adequação, possibilita uma melhor fruição da poesia
e um envolvimento maior dos leitores/participantes. Nas reflexões sobre esse assunto
Hélder (2002, p. 32) adverte:
A leitura que não seja minimamente adequada compromete a
apreciação e o reconhecimento do valor da obra. Ler em voz alta é um
modo de acertar a leitura, de adequar a percepção a uma realização