(...) bom, eu tenho um medinho de ser mãe, assim, acho que não tô
preparada. Você tem que querer, isso é básico. Daí você tem que
encontrar um cara que queira ser pai, né? Porque criar filho só, não é
comigo não. Aliás, acho que pai e mãe se completam na criação de
um filho, na formação de uma criança, acho que não é a toa que se
precisa de um homem e uma mulher para fazer uma criança (...) uma
criança precisa dos dois, de um pai e de uma mãe (...) a
maternidade, eu acho, começa daí, dessa preocupação com relação
ao bem estar da criança, de como vai poder recebê-la no mundo e o
que pode lhe proporcionar. Acho, também, que a mulher... ou melhor,
as mulheres, têm todo o direito de não querer ter filho, não acho que
a maternidade seja uma obrigação não, eu mesma já pensei em não
ter, aliás não tenho certeza se quero ter, depende, vai depender da
minha vida, vai depender se eu achar que posso, se tiver com um
cara que queira, que eu ame, enfim... dessas coisas... (...) vai
depender do desenrolar dos acontecimentos... assim... às vezes eu
acho que eu quero, às vezes acho que não, minhas amigas, boa
parte já tem filhos (...) as pessoas perguntam: ‘já casou?’ ‘Quando é
que vai ser mamãe?’ mas, tem que ter uma estrutura... é uma
pressão... (Maria Clara, 28 anos).
O que vemos aqui é uma mulher que questiona a identidade feminina
ligada ao desejo de ser mãe. Seu discurso anuncia a maternidade como uma
decisão da mulher, e aponta para uma outra forma de construção identitária.
Segundo Silva (2000a) o conceito de performatividade, desenvolvido pela
teórica Judith Butler, nos ajuda a entender a produção de identidade através da
linguagem:
Remeter a identidade e a diferença aos processos discursivos
que as produzem pode significar, entretanto, outra vez,
simplesmente fixá-las, se nos limitarmos a compreender a
representação de uma forma puramente descritiva (...) O
conceito de performatividade desloca a ênfase na identidade
como descrição, como aquilo que é (...) para a idéia de “tornar-
se”, para uma concepção da identidade como movimento e
transformação (...) a linguagem não se limita a proposições que
simplesmente descrevem uma ação, uma situação ou um
estado de coisas. Assim, se nos pedirem para dar um exemplo
de uma proposição típica, provavelmente nos sairíamos com
algo que simplesmente ‘descreve’ uma situação. Mas a
linguagem tem pelo menos uma outra categoria de proposições
que não se ajustam a essa definição: são aquelas proposições
que não se limitam a descrever um estado de coisas, mas que
fazem com que alguma coisa aconteça. Ao serem pronunciadas,