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A construção da Avenida Hercílio Luz, a Avenida Adolpho Konder e da Ponte
Hercílio Luz, ocupou a área oeste da cidade, tornando esse espaço novamente
valorizado. Com a construção dessas grandes obras, essa área se torna a porta de
entrada da cidade. Todo visitante que chegasse na cidade, passava
obrigatoriamente por lá.
Antes mesmo da construção dessas obras, quando elas ainda estavam no
projeto, havia uma preocupação em remodelar esse espaço. Se fazia necessário
remover os elementos indesejados para outro local, para criar uma boa impressão a
quem chegasse. A presença da necrópole se torna incômoda, não apenas pelo
perigo dos miasmas, mas também pelo impacto visual que causa no visitante. Em
1887, o Presidente da Província Francisco José da Rocha comenta em relatório a
situação do cemitério, inclusive que a construção neste local, tenha sido um erro.
Impõe-se as sérias cogitações a remoção do cemitério do local em que se
acha que é o ponto mais pitoresco da cidade, e seria o mais saudável talvez
– por sua situação e elevação. Ao aspecto lúgubre que imprime a Capital,
sendo a primeira parte dela que se apresenta ao viajante, ou vinha do norte
ou do sul, acrescente o inconveniente de estar colocado de modo que o
nordeste e o sudeste, ventos que mais constantemente reinam passam pelo
alto do cemitério para difundir-se nessa cidade, o mesmo sucedendo
quando o vento norte, e o sul fraco não deixará de prejudicar a parte da
cidade onde há as mais aprazíveis chácaras. Esta remoção exige trabalhos
e despesas de certa ordem, mas é indispensável e urgente. A colocação
desse cemitério foi um erro deplorável.
A associação do cemitério a lembrança da morte, e portanto, a sentimentos
negativos, também foi um dos argumentos usados para a transferência. Além dos
miasmas, era preciso também retirar do centro urbano a imagem do cemitério e tudo
que ele evocava. Virgílio Várzea sobre a necrópole diz que:
O cemitério era e ainda é hoje a única impressão desagradável que
recebem os que visitam o Desterro, especialmente quando entram pelo
norte, pois o primeiro porto a se avistar daí é justamente esse alto de
outeiro, em cuja base uma fita de mar se interpõe separando a Ilha da terra
firme. Os antigos, fazendo uso desse lugar, tão bonito pela sua vista e
paisagem, a necrópole da capital, não previram o ar fúnebre e sinistro que
lhe iam dar, e o que é pior, ignoravam os graves perigos a que expunham a
cidade, com os miasmas que sobre ela se espalhariam de certo, durante o
verão, quadra em que sopram seguidamente os ventos do quadrante norte,
onde está este local.
ROCHA, Francisco José da. Relatório do Presidente da Província, 1887.
VÁRZEA, Virgílio. Santa Catarina: a Ilha. Florianópolis: Lunardeli, 1985, p. 31. A primeira edição
de sua obra data de 1900, apud. COSTA, 2002, op.cit., p. 70.