sua família. Por meio dessa peça, Alfredo Mesquita pretendeu revelar as mazelas do tipo de
classe média componente do cenário social da cidade de São Paulo, na década de 1930.
Tomada a decisão de transformar o conto em texto dramático, Mesquita procurou
seguir as regras para enfrentar a tarefa. No lugar da narrativa descrita no conto “A esperança
da família”, na peça entra a ação dramática, com as diversas partes constituintes do conto
agrupando-se na forma de diálogo, vinculando-se assim em uma totalidade.
Alfredo Mesquita escreveu também uma peça intitulada Em família, um drama em três
atos no qual expôs as diferentes reações provocadas pela crise do café nos membros de uma
família arruinada: o pai enérgico mostra-se fraco dentro de casa, abatido pela situação
financeira em que se encontra, e aceita-a, completamente vencido. A peça focaliza o
esbanjamento, os maus hábitos, o excesso de luxo e o amor à fortuna, consequências trazidas
pela facilidade com que o pai, fazendeiro, ganhou dinheiro entre 1920 e 1929, mas também
aponta a má educação dada aos filhos em razão desse enriquecimento fácil, tudo somado à
fraqueza desse patriarca como chefe de família.
No primeiro ato, descreve-se a chegada da família Queiroz, de volta da Europa, em
agosto de 1929. “O ambiente de luxo, de gastos, a futilidade de todos, a mania de gozar a
vida, cada um à sua moda. Viagem inaproveitada, típica daquela época”,
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assim a descreve
Alfredo Mesquita. A personagem do pai não quer ouvir os avisos ainda velados do amigo que
tenta abrir-lhe os olhos, insinuando que a situação não é tão boa como parece. “Resumo: a
família dança sobre um vulcão. Os tipos são delineados. O ato acaba em festa”.
O segundo ato passa-se no ano de 1930, quando a família continua a gastar apesar dos
pedidos do pai, incrivelmente nervoso, e da mãe, que principia a desconfiar de alguma coisa.
O amigo chega para avisar que se deu a catástrofe, isto é, que o fazendeiro está falido. Terá de
entregar o que tem aos credores e “ir morar na única fazenda que lhe resta em anticrise, como
se costuma dizer”. Abatido, o pai, que espera um milagre, ainda não tem coragem de enfrentar
a família. É o amigo que deve dar a má notícia aos seus familiares. Estupor, horror de todos,
revolta de alguns, conforme seus caracteres, estas são as manifestações criadas pelo
dramaturgo para ampliar o jogo de emoções cênico.
No terceiro ato, que se passa em julho de 1930, a catástrofe consuma-se. A família
parte para a fazenda. Cada um enfrenta a situação a seu modo: a mãe, Adelaide Queiroz, e a
filha mais velha, Baby Queiroz, corajosas e sensatas, são um mesmo caráter visto em duas
idades diferentes. Maria Luiza Queiroz, a mais moça, revolta-se contra a situação, recusando-
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Anotações de Alfredo Mesquita. AESP, Arquivo Alfredo Mesquita, pasta 12. As citações seguintes, referentes
a essa peça, são do mesmo documento.