imprecisas como honra, “macheza” e/ou coragem moldam caracteres até tornarem-
nos altamente suscetíveis a circunstâncias que poderiam ser resolvidas pelo diálogo
ou, no máximo, pela justiça; longe disso, porém, são “resolvidas” violentamente. Em
outra situação, podemos ter um indivíduo razoavelmente culto, inteligente, instruído
que, não obstante, traz em si uma violência desapiedada, a qual desemboca em
ações brutais e difíceis de se compreender.
Ao buscarmos dizer quem é o homem violento, acabamos por formular muito
mais indagações do que respostas, pois não se fomenta um caráter violento a partir
deste ou daquele episódio, mas sim de um amplo rol de experiências, fatores de
influência, percepções e concepções do indivíduo face ao meio e à cultura, bem
como às suas próprias singularidades como ator, agente e receptor de inúmeras
interações com aquilo e aqueles que o cercam (SOREL, 1993). De outro modo, as
respostas para a identificação do homem violento encontram-se na psicologia, não
podendo ser encampadas, em seus múltiplos desdobramentos pela sociologia
apenas. Quando inseridas em um contexto mais restrito e específico, como soe ser
o caso da atuação policial militar (tema geral da dissertação aqui apresentada),
verificamos, mais uma vez, que a violência não pode se restringir a alguns
indivíduos ou grupos, mas também às corporações.
O senso comum, a mídia e também análises de cunho acadêmico
têm revelado grande consenso ao insistir no caráter violento da
atuação policial, além de enfatizar que essa violência é o estopim
para outros tipos de violência protagonizados pelo cidadão comum,
numa resposta em cadeia, que se converte em uma espécie de
círculo vicioso (PORTO, 2004, p. 132-133).
De modo geral, pode-se dizer, metaforicamente, que uma semente de
violência, quando enfocada pela mídia, faz emergir a idéia, freqüentemente falsa, de
que tudo o mais é resultante de uma mesma matriz, que a violência é a resposta
mais adequada à resolução de problemas ou quaisquer outras situações, mesmo
que passíveis de serem contornadas pelo diálogo.
Essa violência, contida estruturalmente no ethos e na cultura
organizacional dos modelos de polícia em vigor no Brasil (...),
poderia, em certo sentido, ser pensada como expressão da violência
que, enquanto representação social, estrutura e regulamenta
relações sociais. A sociedade se representa como violenta, as
políticas públicas de segurança estão referidas a esse conteúdo do
imaginário social, deixando emergir sentimentos ambíguos e mesmo
contraditórios: por um lado, a exigência, quase obsessiva, de que a