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C’est comme si la visibilité qui anime le monde sensible émigrait,
non pas hors de tout corps, mais dans un autre corps moins lourd,
plus transparent, comme si elle changeait de chair, abandonnant
celle du corps pour celle du langage, et affranchie par là, mais non
delivrée, de toute condition. [...] Il nous foudra suivre de plus près ce
passage du monde muet au monde parlant. [...] Quand la vision
silencieuse tombe dans la parole et quand, en retour, la parole,
ouvrant un champ du nommable et du dicible, s’y inscrit, à sa place,
selon sa verité, bref, quand elle métamorphose les structures du
monde visible et se fait regard de l’ esprit, intuitus mentis, c’est
toujours en vertu du même phénomène fondamental de réversibilité
qui soutient et la perception muette et la parole, et qui se manifeste
par une existence presque charnelle de l’idée comme par une
sublimation de la chair. (MERLEAU-PONTY, 1964, p.200-203)
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O momento instaurador de significações proporciona a passagem da
percepção à expressão, transmutando a visualidade em pensar, o visível tornado
invisível, ou a visão que percebe o mundo em linguagem. A filosofia caminha da
sensibilização à criação de conceito.
A idéia de um conhecimento absoluto, claro e transparente, tal como
queriam as concepções clássicas, é ilusão, assim como a totalidade do saber
fechada no conceito. A reflexão não é totalizante, porque, se ela não tem
consciência de si mesma, não pode ter um esclarecimento pleno dos objetos. As
filosofias reflexivas erram por crer que podem “aprender sem sobras” o seu
objeto. Por isso, Merleau-Ponty propõe a atitude reflexiva, que reflita sobre si
mesma na reflexão: “a reflexão só é verdadeiramente reflexão se não se arrebata
para fora de si mesma, se se conhece como reflexão-sobre-um-irrefletido e, por
conseguinte, como uma mudança de estrutura de nossa existência” (2006, p.97).
E o caminho para o verdadeiro saber passa pelo fato de que nos
instalamos no mundo com nosso corpo e nossa história: “a vida pessoal, a
expressão, o conhecimento e a história avançam obliquamente, e não em linha
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“É como se a visibilidade que anima o mundo sensível emigrasse, não para fora do corpo, mas
para outro corpo menos pesado, mais transparente, como se mudasse de carne, abandonando a
do corpo pela da linguagem, e assim se libertasse, embora sem emancipar-se inteiramente de
toda condição. [...] Ser-nos-á preciso acompanhar mais de perto esta passagem do mundo mudo
ao mundo falante. [...] Quando a visão silenciosa cai na fala e quando, por sua vez, a palavra
abrindo um campo nomeável e dizível, nele se inscreve, em lugar seu, segundo sua verdade, em
suma, quando metamorfoseia as estruturas do mundo visível e se torna olhar do espírito, intuitus
mentis, é sempre mercê do mesmo fenômeno fundamental de reversibilidade, que sustenta a
percepção muda e a fala, e se manifesta tanto através de uma existência quase carnal da idéia
quanto por uma sublimação da carne.” (MERLEAU-PONTY, 1984, p. 147-149).