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FELIPE MARANGONI ROBLEDO
EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM LIVRO DE HISTÓRIA DO ENSINO MÉDIO – “HISTÓRIA DO
ENSINO MÉDIO: HISTÓRIA GERAL E DO BRASIL”
Dissertação apresentada à
Universidade Estácio de
Sá como requisito parcial
para a obtenção do grau
de Mestre em Educação
Orientador: Prof. Dr. Victor de Araujo Novicki
Rio de Janeiro
2009
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FELIPE MARANGONI ROBLEDO
EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM LIVRO DE HISTÓRIA DO ENSINO MÉDIO – “HISTÓRIA DO
ENSINO MÉDIO: HISTÓRIA GERAL E DO BRASIL”
Dissertação apresentada à
Universidade Estácio de
Sá como requisito parcial
para a obtenção do grau
de Mestre em Educação
Aprovada em 30 de junho de 2009.
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BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________
Prof. Dr. Victor de Araujo Novicki
Universidade Estácio de Sá
_________________________________________________________
Profª. Drª. Elisangela Bernardo
Universidade Estácio de Sá
_________________________________________________________
Prof. Dr. Celso Sanchez Pereira
Universidade Veiga de Almeida
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
R662
Robledo, Felipe Marangoni
Educação ambiental em livro de história do ensino médio – “História do ensino
médio: história geral e do Brasil” / Felipe Marangoni Robledo. - Rio de Janeiro,
2009.
106 f.
Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estácio de Sá, 2009.
Educação Ambiental em Livro de História do Ensino Médio:
“História para o ensino médio: História Geral e do Brasil”
Resumo
Conferências internacionais, iniciadas na segunda metade do século XX, discutem a relação entre
modelo de desenvolvimento e preservação ambiental na perspectiva da sustentabilidade, atribuindo
papel central à educação ambiental neste processo. No Brasil, a inserção da temática ambiental nos
espaços formal e não-formal de ensino é destacada na seguinte legislação: Política Nacional do Meio
Ambiente (1981), Constituição Federal (1988) e Política Nacional de Educação Ambiental (1999), que
determinam a Educação Ambiental em todos os níveis e modalidades de ensino, de modo transversal e
interdisciplinar, o que foi incorporado pela política educacional, que atribui importância à produção de
material didático. Os pareceres do Programa Nacional do Livro Didático são levados em consideração
para a escolha de livros em escolas do âmbito municipal, estadual e federal, permitindo-se no ensino
privado que a decisão relativa ao material didático caiba ao professor ou ainda à equipe pedagógica.
Esta pesquisa objetiva analisar como a temática ambiental, entendida a partir das relações entre
Homem-sociedade-meio ambiente, é tratada na obra “História para o ensino médio: História geral e do
Brasil”, de Claudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo. Este estudo pauta-se no paradigma da teoria crítica,
que defende uma concepção de sustentabilidade pautada na justiça social; considera a relação homem-
natureza como dialética, pois entende que a questão ambiental envolve as dimensões social, cultural e
econômica; identifica no nosso modo de produção e consumo a raiz da degradação ambiental e da
desigualdade/exclusão social; e entende a educação ambiental em uma perspectiva crítico-
emancipatória, em oposição às propostas comportamentalistas-individualistas, também denominadas
de “adestramento” ambiental”. Esta investigação desenvolveu-se a partir de análise de conteúdo
temática do material didático, precedida de levantamento na internet sobre as instituições que adotam o
livro analisado e de uma revisão bibliográfica sobre a temática ambiental em livros didáticos de
História. Concluímos que a obra analisada, ao destacar como fator de diferenciação entre o Homem e
as demais espécies a compleição física, capacidade de criar ferramentas e de transmissão de
conhecimento pela linguagem, apresenta uma abordagem adequada da concepção de Homem e de suas
relações com a natureza, mediada pelo trabalho. Constatamos três tipos de abordagem da relação
Homem-meio ambiente, duas delas pautadas em uma visão dicotômica, em que a natureza exerce o
domínio sobre o homem ou vice-versa, bem como uma que identifica uma relação dialética. A maioria
dos fatos históricos analisados destaca apenas aspectos político-econômicos, não tratando dos
problemas socioambientais. O material didático não faz menção clara ao debate sobre sustentabilidade
(relação sociedade-meio ambiente) e, em alguns momentos, aborda de forma subjetiva a busca pela
“justiça social”, gerando visões contraditórias que ora propõe uma visão de educação ambiental crítica,
pautada na “matriz discursiva da equidade”, ora defendendo um modelo de desenvolvimento que
valoriza os avanços tecnológicos e, portanto, não questionando o modo de produção e consumo,
aproximando-se assim da “matriz discursiva da eficiência”. Considerando que este livro, por ser
volume único, formará conceitualmente o aluno do ensino médio, sugerimos a inclusão de textos a
respeito da questão ambiental, visando desenvolver uma educação socioambiental efetiva para a
cidadania.
Palavras-chave: Sustentabilidade. Livro didático - História. Ensino Médio. Educação Ambiental.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO..............................................................................................................1
2. LIVRO DIDÁTICO NAS CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS E NA
POLÍTICA EDUCACIONAL BRASILEIRA...........................................................11
2.1. AS CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS.........................................................11
2.2.EDUCAÇÃO AMBIENTAL E LIVRO DIDÁTICO NA POLÍTICA
EDUCACIONAL BRASILEIRA..........................................................................15
3. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, EDUCAÇÃO AMBIENTAL E
MATRIZES TEÓRICAS............................................................................................25
4. LIVRO DIDÁTICO: HISTÓRICO E ANÁLISE.....................................................39
4.1. UM HISTÓRICO DO LIVRO DIDÁTICO...........................................................39
4.2. HISTÓRIA PARA O ENSINO MÉDIO: A ESCOLHA DO LIVRO....................48
4.3. APRESENTANDO O LIVRO ESCOLHIDO........................................................51
4.3.1. O HOMEM E AS DEMAIS ESPÉCIES: DIFERENTES POR QUÊ?.........52
4.3.2.HOMEM E MEIO AMBIENTE: DOMINADOR, DOMINADO OU
RELAÇÃO DIALÉTICA?............................................................................57
4.3.3. RELAÇÃO SOCIEDADE - MEIO AMBIENTE: CAPITALISMO OU
JUSTIÇA SOCIAL, QUAL O CAMINHO PARA UM
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL?.................................................67
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................91
6. BIBLIOGRAFIA..........................................................................................................98
1 – Introdução
Aprendemos na escola que o “Homem é um produto do meio”. Mas quem debate no
cotidiano escolar, que somos ao mesmo tempo agentes e produtores deste meio
socioambiental? Entendemos que esta visão de mundo não é privilegiada no ambiente escolar,
nas relações entre professores e alunos e entre alunos, assim como nos livros didáticos que
servirão de fonte de consulta para discentes e docentes. Neste sentido, alguns autores a
definem como “educação reprodutora” da correlação de forças presentes na sociedade
(MÉSZÁROS, 2005) e “educação não-ambiental” (GRÜN, 1996; BRÜGGER, 1994). Hoje
somos produtores e vítimas da degradação social e ambiental decorrentes de nosso modo de
produzir e consumir.
O século XX é caracterizado por um processo de desenvolvimento industrial e urbano
sem precedentes, que intensificou a destruição dos recursos naturais e o aumento das
desigualdades sociais, favorecendo os países centrais, principalmente após a II Guerra
Mundial, no que Eric Hobsbawn (1998) convencionou chamar de Era de Ouro, do capitalismo
e do socialismo.
Como forma de tentar resolver os problemas relacionados à degradação ambiental
ocorreram a partir da cada de 1970, diversas Conferências Internacionais sobre as relações
entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental, como a de Estocolmo (1972),
Belgrado (1975), Tblisi (1977), Moscou (1987), Rio de Janeiro (1992) , Joahnnesburgo (2002)
e Ahmedabad (2007). Estas conferências recomendavam como meta, o desenvolvimento
sustentável e, como instrumento para alcançá-lo, a Educação Ambiental (EA) (DIAS, 2003).
1
Destas, destacaremos Tbilisi devido à importância que assume para este projeto. Em
1977, acontece em Tbilisi (Geórgia, URSS), realizada pela Organização das Nações Unidas
para Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e pelo Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (PNUMA), a mais importante conferência sobre Educação Ambiental,
denominada Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental – Conferência de
Tbilisi (LAYRARGUES, 1999). Entre as recomendações do seu documento conhecido como
“livro azul” consta que é função da educação criar a consciência socioambiental e uma melhor
compreensão sobre os problemas que afetam o meio ambiente (DIAS, 2003). Sobre os
objetivos da educação ambiental, Tbilisi entende que:
um objetivo fundamental da educação ambiental é lograr que os indivíduos e
a coletividade compreendam a natureza complexa do meio ambiente
natural e do meio ambiente criado pelo homem, resultante da integração de
seus aspectos biológicos, físicos, sociais, econômicos e culturais, e adquiram
os conhecimentos, os valores, os comportamentos e a habilidades
práticas para participar responsável e eficazmente da prevenção e solução
dos problemas ambientais, e da gestão da questão da qualidade do meio
ambiente (UNESCO;1997; p.1, grifos nossos).
O meio ambiente, segundo Tbilisi, é aquele formado por Homem e natureza e suas
articulações, resultante da integração de seus aspectos biológicos, físicos, sociais,
econômicos e culturais” (Ibid), o que exige uma abordagem interdisciplinar, pois percebe que
as questões ambientais referem-se ao todo e não às disciplinas isoladas. Deste ponto
percebemos a recomendação de que é através de uma participação cidadã que encontraremos
formas de prevenir e buscar soluções para os problemas ambientais.
2
Neste sentido, como destaca Novicki (1998, 2007), existem desafios para o
desenvolvimento de uma Educação Ambiental crítica no Brasil, uma vez que o processo
político brasileiro, particularmente na relação Estado-Sociedade, é marcado por uma “cultura
política autoritária”, desde nossa consolidação como país , impedindo a população de
participar das decisões relacionadas às questões sociais e ambientais.
Acreditamos que Educação Ambiental tem então por objetivo promover a percepção de
que existe uma relação dialética entre homem e natureza, ou seja, ao transformar a natureza,
através do trabalho, o homem sofre consequências diretas desta ação, que por sua vez o faz
buscar novos mecanismos de adequação a esta nova realidade e assim sucessivamente,
caracterizando assim a natureza complexa do meio ambiente.
Tbilisi recomenda que a EA deve acontecer de maneira permanente, devendo ser
capaz de interagir com um mundo em intensas transformações, destacando a importância na
“preparação de livros e obras de referência científicas necessárias ao plano de melhorias dos
estudos” (UNESCO; 1997; p. 6).
Nesse sentido, cabe ressaltar a importância de se elaborar materiais didáticos
condizentes com a realidade, local e atual, pois o livro didático adquire função importante de
transformar em texto, de maneira contextualizada, muito dos conceitos discutidos nessas
conferências de forma que a população leiga se insira neste debate. Vale destacar que em
diversos casos, o livro didático acaba por se transformar em instrumento único de busca pelo
conhecimento para os professores (SILVA, 1998).
3
Encontramos em Tbilisi, as noções de cidadania
1
, desenvolvimento sustentável e
educação ambiental, relevantes para este estudo, pois analisá-las nos permite destacar uma
preocupação especial com a participação de todos (cidadania) e a importância da elaboração
de materiais didáticos (inclui-se o livro) como forma de se melhorar a compreensão e adoção
de práticas pela população nas discussões sobre os problemas ambientais.
O documento final da Conferência Intergovernamental de Tbilisi determina,
ainda, que se faz necessária uma articulação entre a realidade e a prática na educação, já que:
para a realização de tais funções, a educação ambiental deveria suscitar uma
vinculação mais estreita entre os processos educativos e a realidade,
estruturando suas atividades em torno dos problemas concretos que se
impõem à comunidade; enfocar a análise de tais problemas, através de uma
perspectiva interdisciplinar e globalizadora, que permita uma compreensão
adequada dos problemas ambientais, (Idem; p. 1).
Assim, os exemplos e exercícios propostos deveriam abordar problemas locais e não
fora da realidade do aluno, como visto em livros didáticos de História do ensino fundamental,
ao abordarem questões sobre a China e Amazônia em detrimento de questões acerca da
realidade do aluno (SOARES, 2005).
Percebemos em Tbilisi a defesa de uma educação ambiental, como aquela capaz de dar
subsídios para que alunos em geral através de uma formação consciente do seu papel no meio-
ambiente sejam capazes de desenvolver estratégias visando à melhoria dos problemas sociais e
ambientais.
1
Entendemos cidadania como envolvendo a conscientização da determinação natural e social da população além
da participação no processo de decisão da formulação e implementação de políticas públicas e práticas sociais
que busquem superar a desigualdade e exclusão social (NOVICKI, 2007).
4
No caso brasileiro, o combate a degradação ambiental sempre enfatizou medidas de
caráter punitivo (multas) em detrimento de uma política voltada para a educação da população,
o que consideramos fundamental.
A Educação Ambiental se insere na política educacional brasileira principalmente a
partir de 1981 com a Política Nacional do Meio Ambiente
2
, na Constituição Federal de 1988,
quando passa a ser incluída no texto constitucional considerando como papel do poder público
“promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública
para a preservação do meio ambiente”. Mais recentemente, ao se inserir o meio ambiente nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) como um tema transversal (MEC/SEF, 1998),
buscou-se evitar que a Educação Ambiental ficasse restrita a uma determinada disciplina,
permeando o conteúdo de todas as matérias e permitindo uma abordagem ampla da temática
ambiental. Em 1999, complementando as questões relativas ao Meio Ambiente foi criada a
Política Nacional de Educação Ambiental e incluído nos PCN de ensino médio a temática
ambiental.
O livro didático assume um papel fundamental na política ambiental brasileira, pois
serve muitas vezes como a ferramenta mais próxima de pais, alunos e professores.
Levantamentos feitos na base de dados da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa
em Educação (ANPED), no Banco de Dados Minerva da Universidade Federal do Rio de
Janeiro e na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a partir
das seguintes palavras-chave: Educação Ambiental, Livro Didático de História, ensino médio,
2
A Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA) foi criada em 1974 pelo então presidente Geisel, com o único objetivo de
cumprir exigências de alguns organismos internacionais que exigiam a existência formal deste tipo de órgão, junto com
relatórios de impacto ambiental; para a aprovação de empréstimos destinados a grandes obras públicas (VIOLA, J. Eduardo)
5
revelaram a não existência de pesquisas (docente/discente) que articulassem estas temáticas
(história no ensino médio, meio ambiente, livro didático).
Com preocupações próximas, encontramos a dissertação de mestrado “Temáticas
ambientais e do trabalho nos livros didáticos de história do segundo segmento do ensino
fundamental do município do Rio de Janeiro” (SOARES, 2005), que buscou analisar as
temáticas ambiental e do trabalho nas duas principais coleções indicadas pelo MEC para
utilização no ensino fundamental e adotadas na rede municipal do Rio de Janeiro. A pesquisa
de Soares (Ibid) encontrou nas coleções
3
analisadas questões como abordar custos ambientais
com guerras e crises políticas sendo remetidas apenas ao professor de ciências, impedindo
uma abordagem da temática pela disciplina de História ou com um enfoque interdisciplinar de
exercícios que relacionam a degradação ambiental ao contexto europeu, asiático ou africano,
diminuindo em muitos casos, a possibilidade de um diálogo com os problemas ambientais no
Brasil, caracterizando-se por uma Educação Ambiental desmobilizadora (LAYRARGUES,
1999). Isto mostra que, em alguns casos, estes materiais didáticos não se adequam às
recomendações propostas em Tbilisi e à política educacional brasileira, como vimos
anteriormente.
Esta dissertação orienta-se pelo paradigma da teoria crítico social (FRIGOTTO, 1997),
crítico dialético (GAMBOA, 1997) ou ainda teoria crítica de acordo com Alves-Mazotti
(2001). Este paradigma está pautado no materialismo histórico dialético (MARX, 1982) pois,
de acordo com Frigotto (1997), a partir de um processo dialético no qual a realidade do
3
“Nova História Crítica” de Mario Furley Schimidt e “História e Vida Integrada” de Cláudio Piletti e Nelson
Pilleti.
6
conhecimento não se na busca deste conhecimento pelo conhecimento, da crítica pela
crítica, mas sim, quando vão em direção a uma “prática que altere e transforme a realidade
anterior no plano do conhecimento e no plano histórico social” (p. 81) e, sendo assim, o
conhecimento se dá na e pela práxis.
Para Gamboa (1997), este paradigma questiona a visão estática da realidade, uma vez
que sua preocupação está em buscar/analisar os conflitos entre interesses público e privado nas
relações sociais e, a partir daí, buscar uma transformação da realidade a que se propõe estudar.
Ainda segundo Gamboa, as propostas nelas contidas (paradigma crítico dialético) se
caracterizam por destacar o dinamismo da práxis transformadora dos homens como agentes
históricos” (Ibidem, p. 97).
Observamos que para isto se faz necessária uma participação ativa dos sujeitos
históricos na organização social e na ação política, pois é a partir destas que as transformações
sociais ocorrem, superando o estado de alienação presente na sociedade capitalista (MARX,
1984; FRIGOTTO, 1997; GAMBOA, 1997, MÉSZÁROS, 2005).
Defendemos uma visão crítica que busque a defesa de um desenvolvimento sustentável
pautado na justiça social (ACSELRAD; LEROY, 1999), em contraposição apenas ao
desenvolvimento tecnológico como forma de se superar os problemas ambientais; que perceba
na nossa forma de produzir e consumir a raiz da desigualdade/exclusão social e da degradação
ambiental (NOVICKI; MACCARIELLO, 2002); que entenda a educação ambiental em uma
perspectiva crítico-transformadora, capaz de se desenvolver como uma educação para a
democracia (BRÜGGER, 1994; LAYRARGUES, 1999; GUIMARÃES, 2000, 2004;
7
SOARES, 2005); e, que aborde a categoria trabalho como condição necessária e geral para que
se estabeleçam as relações sociais e de homem-natureza fundamentais para esta pesquisa.
Entendemos a educação ambiental como uma dimensão da educação e concordamos
com Mészáros (2005), quando afirma que a educação, na gica capitalista, tende a adquirir
um caráter de formação fragmentada, de duas diferentes categorias sociais: o homo sapiens,
relacionado a uma elite formada para dirigir e o homo faber, composta por uma vasta gama da
população que, destituída dos meios de produção, se vê obrigada a vender sua força de
trabalho, caracterizando assim, de acordo com uma visão marxista, a existência de uma
educação para o mercado (SINGER, 1996) ou tecnicista e de uma educação para a cidadania.
Mészáros (2005) enfatiza a necessidade de se formar um ser humano integral, capaz de pensar
e fazer de forma plena e não fragmentada, uma vez que educar é colocar um fim à dicotomia
“sapiens versus faber”, agindo de forma emancipatória na relação entre educação e trabalho
(GRAMSCI, Apud MESZAROS, 2005).
O livro escolhido para a análise foi “História para o ensino dio: História Geral e do
Brasil”. (VICENTINO; DORIGO, 2006) por, apesar de não estar presente na lista de livros
recomendado pelo MEC, possui uma grande aceitação em escolas privadas, como será
comprovado na tabela encontrada no capítulo 4, além de ser o material através do qual após a
conclusão do meu bacharelado e licenciatura em História me orientou nos primeiros anos do
magistério, formando durante um bom tempo minha visão a respeito do que devia servir de
norte para a práxis pedagógica do ensino médio nesta disciplina.
8
A dissertação está estruturada da seguinte forma: no capítulo 2, descrevemos a
trajetória da Educação Ambiental destacando as conferências internacionais, a política
nacional implementada, a utilização de livros didáticos. Neste capítulo procuramos demonstrar
a forma pela qual a temática ambiental se insere no mundo capitalista durante o período da
Guerra-Fria, destacando sua relação com os projetos de educação recomendados
internacionalmente, bem como sua inserção na política educacional brasileira. Chamaremos
atenção para o desenvolvimento da Educação Ambiental nas principais conferências
internacionais na Constituição Federal de 1988, na PNEA, nos Parâmetros Curriculares
Nacionais, Temas Transversais e nos parâmetros curriculares de História buscando destacar a
sua determinação para os livros didáticos.
No capítulo 3, discutiremos o conceito de Desenvolvimento Sustentável, sua relação
com a Educação Ambiental através de matrizes discursivas teóricas: da eficiência, da auto-
suficiência e da equidade (ACSELRAD, 2001). Desenvolvemos também a análise da relação
entre o conceito de desenvolvimento sustentável e a visão de mundo dos seus defensores.
Diferenciaremos um desenvolvimento sustentável pautado em questões técnicas, volta a um
passado idílico ou ainda na procura por uma justiça social. Entendemos que a defesa de cada
uma destas matrizes discursivas será decisiva na elaboração do discurso presente no livro
didático. Buscamos desta maneira embasar os conceitos que serão utilizados no capítulo 4.
No capítulo 4, discutimos a escolha do livro analisado, bem como a importância que o
livro adquire como recurso pedagógico, e analisamos ao longo do capítulo as categorias que
permeam esta dissertação: diferença entre Homem e as demais espécies; relação Homem e
9
meio ambiente (através de conceitos como biocentrico, antropocêntrico e relação dialética) e a
relação sociedade e meio ambiente (a partir da disputa entre modo de produção capitalista x
justiça social) procurando detectar qual matriz teórica se faz presente no livro analisado e qual
a concepção de Educação Ambiental, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável se
fazem presente.
No capítulo 5, buscamos consolidar os argumentos desenvolvidos para responder a
seguinte questão: como a temática ambiental é abordada neste livro didático de História do
ensino médio?
10
2 - Livro didático nas conferências internacionais e na política educacional brasileira.
Neste capítulo pretendemos contribuir para a discussão sobre as conferências
internacionais a respeito da educação ambiental em um nível mundial e nacional, destacando
suas recomendações sobre a utilização dos livros didáticos.
2.1 - As Conferências Internacionais
Em 1972, o Clube de Roma produziu um relatório intitulado “Os Limites do
Crescimento Econômico”, no qual indicava a necessidade de uma redução do consumo frente
às prioridades sociais para a obtenção de um equilíbrio global. Este relatório alcança
repercussão internacional, dando impulso à realização da “Conferência da ONU sobre o
Ambiente Humano”, em Estocolmo no mesmo ano. A esta conferência também conhecida
como “Conferência de Estocolmo” participaram 113 países e tinha por objetivo “estabelecer
uma visão global e princípios comuns que servissem de orientação à humanidade, para a
preservação e melhoria do ambiente humano” (DIAS, 2003, p.79). Desta reunião resultou o
documento “Declaração sobre o ambiente humano” que reconhecia em sua recomendação
96 a urgência do desenvolvimento de programas de Educação Ambiental como fator
primordial para o combate à crise ambiental.
Em 1975, a UNESCO promoveu o encontro Internacional de Educação Ambiental, em
Belgrado, com especialistas de 65 países. Nesta conferência foram formulados princípios
orientadores para o Programa Internacional de Educação Ambiental (PIEA) recomendando
que esta deveria ser continuada, multidisciplinar, integrada às diferenças regionais e voltada
para os interesses nacionais. Deste encontro resultou a Carta de Belgrado “na qual se
11
expressava a necessidade do exercício de uma nova ética global, que proporcionasse a
erradicação da pobreza, da fome, do analfabetismo, da poluição e da dominação e exploração
da raça humana” (DIAS, 2003, p.80).
Dois anos após a Conferência de Belgrado, ocorreu a mais importante conferência
internacional sobre Educação Ambiental “Conferência Intergovernamental de Tbilisi sobre
Educação Ambiental”, na Geórgia, realizada pela UNESCO e pelo Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a partir de seu documento conhecido como o “livro
azul”:
A Educação Ambiental teria como finalidade promover a compreensão da
existência e da importância da interdependência econômica, política, social e
ecológica da sociedade; proporcionar a todas as pessoas a possibilidade de adquirir
conhecimentos, o sentido dos valores, o interesse ativo e as atitudes necessárias
para proteger e melhorar a qualidade ambiental; induzir novas formas de conduta
nos indivíduos, nos grupos sociais e na sociedade em seu conjunto, tornando-a apta
a agir em busca de alternativas de soluções para os seus problemas ambientais,
como forma de elevação da sua qualidade de vida (DIAS, 2003, p.83).
Percebemos nesta recomendação o papel dado à Educação Ambiental no âmbito
educacional, embora, para esta pesquisa, sejam relevantes os aspectos acerca da elaboração de
materiais pedagógicos que discutam sobre a realidade ambiental de um país, região ou
localidade. De acordo com Tbilisi, a Educação Ambiental devia destinar-se a determinados
grupos de todas as faixas etárias e sócio profissionais da população, sendo compostos por:
a) público em geral especializado, composto por jovens e adultos cujos
comportamentos cotidianos influenciam decisivamente na preservação e
melhoria do meio ambiente; b) grupos sociais específicos cujas atividades
profissionais incidam sobre a qualidade do meio; c) cientistas e técnicos cujas
pesquisas e práticas especializadas constituam a base do conhecimento no
qual se fundamentam a educação, a formação [grifo nosso] e a gestão eficaz
relativas ao meio ambiente (UNESCO, 1997 – Recomendação nº 1).
12
Vale salientar nesta recomendação o alcance proposto a Educação Ambiental e
identificamos que na relação entre seus itens a, b e c podemos encontrar o papel
desempenhado pelo professor, na medida em que as discussões fomentadas nos meios
escolares podemos atingir a heterogeneidade que estes grupos assumem. Uma vez que esta
pesquisa relaciona-se com livro didático, e por considerarmos este como um recurso
metodológico de grande uso por professores e alunos, destacamos ainda para este capítulo a
recomendação para:
A elaboração de programas de estudos escolares compatíveis com as
necessidades do meio, a níveis local, regional e mundial; preparação de livros
e obras de referência científicas necessárias ao plano de melhorias dos
estudos; determinação de métodos e meios pedagógicos para fazer popular os
planos de estudo e explicar os projetos ambientais; que se formulem
princípios básicos para preparar modelos de manuais e de materiais de leitura
para sua utilização em todos os veis dos sistemas de educação formal e não
formal (DIAS, 2003, p.77).
Destacamos que o desenvolvimento de materiais educativos diz respeito também à
produção de materiais didáticos, os quais podemos inserir o livro didático que é tema desta
dissertação.
Em 1987, foi realizado o “Congresso Internacional sobre Educação e Formação
Ambiental”, em Moscou, tendo como promotores a UNESCO e o PNUMA com o “objetivo de
analisar as conquistas e dificuldades dos países no desenvolvimento da Educação Ambiental e
estabelecer os elementos para uma estratégia internacional de ação para a década de 90”
(DIAS, 2003, p.86). Ainda no que diz respeito a este congresso foi recomendado a respeito da
Educação Ambiental a necessidade de uma:
13
Concordância de que a educação ambiental deveria, simultaneamente,
preocupar-se com a promoção da conscientização de informações,
desenvolvimento de hábitos e habilidades, promoção de valores,
estabelecimento de critérios e padrões, e orientações para a resolução de
problemas e tomadas de decisões. [...] esta exigência requer uma reorientação
do conjunto do processo educativo [conteúdo, metodologia, organização
institucional, formação de pessoal] (DIAS, 2008, p.4).
Acredito que a respeito do conjunto do processo educativo, no qual se inserem
conteúdo e metodologia, o livro didático exerce um papel relevante, uma vez que, em certas
ocasiões o livro adquire um papel de conjunto único dos saberes escolares.
Em 1992, realizou-se a “Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CNUMAD)”, no Rio de Janeiro, reunindo representantes de 170 países que,
além de corroborarem as decisões de Tbilisi e Moscou, enfatizaram a necessidade de se
“erradicar o analfabetismo ambiental” (DIAS, 2003, p.90). Deste encontro, também conhecido
como Rio-92, originou-se a “Agenda 21”, caracterizada por um programa de ação para o
desenvolvimento sustentável, na qual destacamos:
36.3 (...) O ensino é também fundamental para conferir consciência
ambiental e ética, valores e atitudes, técnicas e comportamentos em
consonância com o desenvolvimento sustentável e que favoreçam a
participação pública efetiva nas tomadas de decisão (CNUMAD, 2001)
promover a educação sobre meio ambiente e desenvolvimento e a
consciência pública... (CNUMAD, 2001).
Percebe-se nestas recomendações a necessidade de uma Educação Ambiental que
busque a formação de cidadãos críticos em relação a sua consciência ambiental corroborando
o que foi proposto por Tbilisi.
14
O encontro mais recente sobre EA aconteceu em Ahmedabad Índia, em 2007,
com o nome de IV Conferência Internacional de Educação Ambiental Educação Ambiental
para um Futuro Sustentável - Parceiros para a Década da Educação para o Desenvolvimento
Sustentável ou ainda, Tbilisi +30 no qual foi novamente recomendado artigo IV, item 2, a
importância na elaboração de:
materiais de divulgação deste tratado e de seus desdobramentos em ações
educativas, sob a forma de textos, cartilhas, cursos, eventos culturais,
programas na mídia, férias de criatividade popular, correio eletrônico e
outros (AHMEDABAD,2008,p.11).
Ao considerarmos o livro didático como material de divulgação onde as
recomendações sobre Educação Ambiental devem ser introduzidas, destacamos seu papel na
aproximação desta Educação Ambiental entre alunos, professores e sociedade em geral.
2.2 – Educação ambiental e livro didático na Política Educacional brasileira.
A adequação brasileira às determinações de Tbilisi, ocorrem no período do Regime
Militar (1964-85). Durante o Governo do General João B. Figueiredo (1979-1985) foi
sancionada a Lei nº 6938/81 que dispunha sobre a Política Nacional de Meio Ambiente
(PNMA). Entre os artigos da PNMA destacamos:
Art.2º (princípios da PNMA):
I- ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando
o meio ambiente como patrimônio público a ser necessariamente assegurado
e protegido, tendo em vista o uso coletivo:
X- educação ambiental em todos os níveis do ensino, inclusive a educação da
comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do
meio ambiente;
Art. 3º - Para os fins previstos nessa Lei, entende-se por:
15
I- meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências, que permite,
abriga e rege a vida em todas as suas formas; (BRASIL, 1981).
Mesmo com a criação da PNMA (BRASIL, 1981), propostas como a Resolução para o
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), em 1984, que tinha por objetivo
estabelecer diretrizes para a Educação Ambiental no país, foram boicotadas não chegando a se
efetivarem (DIAS, 2003, p.85). Em 1987, o Conselho Federal de Educação determinou a
inclusão da Educação Ambiental nos conteúdos trabalhados nas disciplinas de 1º e graus
(atualmente ensino fundamental e médio).
Com a Constituição Federal de 1988 a EA ganha espaço ao se dedicar um capítulo do
documento ao meio ambiente, que considera como papel do poder público “promover a
educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a
preservação do meio ambiente” (BRASIL, 1988 apud: DIAS, 2003, p.419).
Em 1992, durante a “Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento”
o Grupo de Trabalho (GT) para EA realizou um workshop com o intuito de divulgar os
resultados das experiências internacionais e nacionais de EA, com o intuito de se discutirem
currículos e metodologias. Deste workshop resultou a Carta Brasileira para a Educação
Ambiental que recomendava, entre outros, que:
haja uma articulação dos vários programas e iniciativas governamentais em
educação ambiental pelo MEC (...) O MEC, em conjunto com as instituições
de ensino superior (IES), defina as metas para a inserção articulada da
dimensão ambiental nos currículos, a fim de que seja estabelecido o marco
fundamental da implantação da EA no 3º grau (DIAS, 2003, p.489/490).
16
Esta recomendação vem gerando debates sobre a forma que a Educação Ambiental irá
se inserir no Ensino Superior (
grau)
, uma vez que o artigo 10º da Política Nacional de
Educação Ambiental (PNEA), promulgada em 27 de abril de 1999 sob a lei federal 9795,
no seu item I determina que a EA não deve ser implantada como disciplina específica no
currículo do ensino (DIAS, 2003, p.205). Sua inclusão neste capítulo se dá, à medida que os
alunos formados no ensino médio irão preencher as vagas no ensino superior e se formarão a
partir das concepções de meio ambiente e desenvolvimento sustentável apresentadas em aulas
expositivas e recursos pedagógicos (inclui-se o livro didático) obtidas no ensino médio.
Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação LDB n
o
9394/96 deu-
se continuidade a inserção da temática ambiental ao ensino formal. Esta se deu através dos
Parâmetros Curriculares Nacionais através do qual o meio ambiente passou a ser tratado como
Tema Transversal.
Percebemos até aqui que desde a Conferência de Estocolmo, em 1972, reconhece-se
oficialmente a importância de ações educacionais voltadas para as questões ambientais. No
Brasil, a inclusão do tema transversal, meio ambiente, nos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCN) foi à maneira encontrada para inserir a temática ambiental no ensino formal. Desta
maneira procurou-se evitar que a Educação Ambiental ficasse restrita a uma determinada
disciplina, permeando o conteúdo de todas as matérias e permitindo uma abordagem ampla da
temática ambiental:
O texto do PCN reitera que o ensino de educação ambiental deve considerar a
esfera global e local, favorecendo tanto a compreensão dos problemas ambientais
em termos macros (político, econômico, social, cultural) como em termos regionais.
Desse modo, os conteúdos de educação ambiental se integram ao currículo escolar,
a partir de uma relação de transversalidade, de modo a impregnar a prática
educativa, exigindo do professor uma readaptação dos conteúdos abordados na sua
disciplina, o que condiz com as resoluções do Conselho Federal de Educação e de
17
conferências nacionais e internacionais, que reconhecem a educação ambiental
como uma temática a ser inserida no currículo de modo diferenciado, não se
configurando como uma nova disciplina (CASTRO; SPAZZIANI; SANTOS, 2000,
p.168).
Ainda de acordo com o documento (tema transversal meio ambiente), a Educação
Ambiental proposta é àquela que:
Está longe de ser uma atividade tranquilamente aceita e desenvolvida, (...) quando
bem realizada a Educação Ambiental leva a mudanças de comportamento pessoal e
atitudes e valores de cidadania que podem ter importantes consequências sociais
(...) Nessa concepção, a educação ambiental é algo essencialmente oposto ao
adestramento ou à simples transmissão de conhecimentos, de experiências, de
sentimentos e energia (MEC/SEF, 1998, p.182)
Vale destacar que os PCN/Tema Transversal Meio Ambiente comete um equívoco
conceitual ao reconhecer a existência de uma “crise ambiental” (MEC/SEF, 1998, p.169) e não
uma “crise socioambiental”, uma vez que entendemos que homem e meio ambiente
relacionam-se de forma dialética. Percebemos nesta recomendação a necessidade de uma
educação voltada para a formação de cidadãos conscientes dos problemas socioambientais e
de sua responsabilidade pela melhoria e preservação das condições de vida a qual estão
inseridos.
Destacamos, ainda de acordo com o MEC, o objetivo do Tema Transversal Meio
Ambiente:
Objetiva levar o aluno a superar o cartesianismo (dualismo Homem-natureza),
percebendo-se como parte da natureza; a desenvolver uma visão global dos
problemas ambientais, relacionando a preservação da biodiversidade à preservação
da diversidade cultural/sociocultural; a estabelecer uma relação entre os problemas
locais e globais; a efetuar uma abordagem crítica e participativa pela
conscientização da importância de sua participação no processo decisório; a
desenvolver uma postura ética diante do meio ambiente; ao entendimento da
18
importância dos procedimentos de manejo e conservação dos recursos naturais.
Enfim, proporcionar uma educação “para” o meio ambiente (SOARES, 2005, p.52).
Uma vez que entendemos que Homem e meio ambiente se encontram dialeticamente
relacionados, percebemos a necessidade de se desenvolver um diagnóstico sociocultural
ambiental, a partir da análise da realidade local, possibilitando a busca de soluções para
problemas globais, desta forma estabelecendo as relações sugeridas pelo PCN/Tema
Transversal Meio Ambiente.
Ainda sobre o Tema Transversal Meio Ambiente, o MEC propõe três blocos de
conteúdos a serem trabalhados em sala de aula. O primeiro conteúdo “natureza cíclica da
natureza” refere-se ao “ambiente natural”. Este bloco relaciona-se a:
Compreensão da vida nas escalas geológicas de tempo e espaço.
Compreensão da gravidade da extinção de espécies e da alteração irreversível
de ecossistemas. Análise de alterações nos fluxos naturais em situações
concretas. Avaliação das alterações na realidade local a partir do
conhecimento da dinâmica dos ecossistemas mais próximos. Conhecimento
de outras interpretações das transformações na natureza (MEC/SEF,1998).
Percebemos neste bloco o objetivo de através da utilização de temas como o ciclo “da
água, da matéria orgânica, as teias e as cadeias alimentares e outros elementos que se
apresentam na natureza de forma cíclica no espaço e no tempo” (CASTRO;
SPAZZIANI;SANTOS, 2000, p.173-174) propor uma educação “sobre” o meio
ambiente/natureza.
19
O segundo bloco “Sociedade e Meio Ambiente” desenrola-se sobre o “ambiente
construído”, discutindo a relação entre sociedade e meio ambiente. Neste bloco englobam-se
conceitos como o:
Reconhecimento dos tipos de uso e ocupação do solo na localidade.
Compreensão da influência entre os vários espaços. Conhecimento e
valorização do planejamento dos espaços como instrumento de promoção de
melhoria de qualidade de vida. Análise crítica da produção e práticas de
consumo. Valorização da diversidade cultural na busca de alternativas de
relação entre sociedade e natureza (MEC/SEF,1998).
Neste bloco, propõem-se questões a respeito de uma educação “para” o meio ambiente,
preocupando-se em discutir questões como a diversidade cultural, os limites da ação humana
sobre o meio ambiente, as relações entre alunos e comunidade além da interdependência entre
o meio urbano e rural
(CASTRO; SPAZZIANI;SANTOS, 2000, p.174).
O terceiro bloco “Manejo e Conservação Ambiental” leva o aluno a refletir sobre a
possibilidade de desenvolver atitudes para a solução dos problemas gerados pela atuação do
homem sobre a natureza, consequência do desenvolvimento do trabalho destacando a
importância de:
Valorização do manejo sustentável como busca de uma nova relação
sociedade/natureza. Crítica ao uso de técnicas incompatíveis com a
sustentabilidade. Levantamento de construções inadequadas em áreas
urbanas e rurais. Conhecimento dos problemas causados pelas queimadas nos
ecossistemas brasileiros. Conhecimento e valorização de alternativas para a
utilização de recursos naturais. Conhecimento e valorização de técnicas de
saneamento básico. Conhecimento e valorização de práticas que possibilitem
a redução na geração e correta destinação do lixo. Conhecimento de algumas
áreas tombadas como Unidades de Conservação. Reconhecimento das
instâncias do poder público responsáveis pelo gerenciamento das questões
ambientais (MEC/SEF,1998).
Esta terceira recomendação aborda os aspectos positivos e negativos da interferência
do homem sobre o ambiente, apontando suas consequências e buscando discutir formas
20
adequadas para equacionar estes impactos (CASTRO; SPAZZIANI;SANTOS, 2000, p.174-
175). Este bloco tem por objetivo enfocar as relações entre cidadania e meio ambiente, uma
vez que, nos anteriores os alunos passaram a conhecer as leis naturais e as relações entre
natureza e sociedade. A partir destes conhecimentos questiona-se a forma com a qual se
resolveram os “problemas ambientais”, seja através de tecnologia, legislação etc., além de
permitir que se perceba o papel de cada ator social frente às questões ambientais.
Quando analisado as atribuições do ensino médio enquanto etapa de formação, os
objetivos dos PCN para Ensino Médio destacam a necessidade de se contemplarem dois
aspectos na formação:
O primeiro diz respeito às finalidades atribuídas ao ensino médio: o
aprimoramento do educando como ser humano, sua formação ética,
desenvolvimento de sua autonomia intelectual e de seu pensamento crítico,
sua preparação para o mundo do trabalho e o desenvolvimento de
competências para continuar seu aprendizado. (Art. 35).
o segundo aspecto trata da organização curricular a partir dos seguintes
componentes:
- base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e
estabelecimento escolar, por uma parte diversificada que atenda a
especificidades regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e do
próprio aluno (Art. 26);
- planejamento e desenvolvimento orgânico do currículo, superando a
organização por disciplinas estanques;
- integração e articulação dos conhecimentos em processo permanente de
interdisciplinaridade e contextualização;
- proposta pedagógica elaborada e executada pelos estabelecimentos de
ensino, respeitadas as normas comuns e as de seu sistema de ensino;
- participação dos docentes na elaboração da proposta pedagógica do
estabelecimento de ensino. (MEC/PCNEM, 2006).
21
Relacionado especificamente ao ensino de História, os PCN para o ensino médio
(PCNEM) propõem como objetivos:
- O Ensino Médio, enquanto etapa final da Educação Básica deve conter os
elementos indispensáveis ao exercício da cidadania e não apenas no sentido
político de uma cidadania formal, mas também na perspectiva de uma
cidadania social [grifo nosso], extensiva as relações de trabalho, dentre
outras relações sociais.
- Valorizar as produções coletivas, compreendendo que o conhecimento não
se constrói pelo esforço meramente individual e isolado.
- Compreender que as sociedades são produtos das ações de diferentes
sujeitos sociais, sendo constituídas e transformadas em razão da intervenção
de diferentes fatores.
- Compreender que as ações dos sujeitos sociais são realizadas no tempo e
no espaço, criando relações e desdobramentos variados, sem determinismos.
- Apropriar-se de diferentes linguagens e instrumentais de análise e ação
para aplicar na vida social os conhecimentos que construiu de forma
autônoma e cooperativa. (isso significa conceber as ciências humanas
enquanto conhecimento e prática social). (MEC/SEB,2006, p.40).
Aliado ao que foi proposto como blocos de conteúdo acima exposto, percebemos que o
ensino médio enquanto etapa transitória entre o ensino fundamental e superior é responsável
pelo desenvolvimento dos conceitos propostos pelos três blocos, pois ao discutir como função
“compreender que as sociedades são produtos de ações de diferentes sujeitos sociais, sendo
constituídas e transformadas em razão da intervenção de diferentes fatores” (MEC/SEB, 2006)
percebemos a adequação ao segundo e terceiro blocos de conteúdos.
No que diz respeito aos conteúdos a serem trabalhados em história no ensino médio e
sua relação com a temática ambiental, a Secretaria de Estado de Educação (SEE-RJ) indicou
para a segunda série do ensino médio uma interface com a geografia ao se relacionar “a
Revolução Industrial e suas consequências no meio ambiente” (SEE-RJ, 2006, p.62) e com a
biologia ao tratar de “industrialização e meio ambiente” (Ibid, p.62). No que tange a esta
22
interface no ano, sua relação se faz com a química em “industrialização e poluição
industrial” na relação natureza/meio ambiente (p.64) e geografia no:
uso inadequado da terra no Brasil, a desertificação e as alterações climáticas
provocadas pela destruição da vegetação nativa; urbanização na cidade do Rio de
Janeiro: processo de favelização; os conflitos étnicos e políticos, as desigualdades
como fatores de grande deslocamentos populacionais (guerras civis, secas no
Nordeste). (SEE-RJ, 2006, p.65).
Estas interfaces devem ser realizadas ao ministrarem conteúdos que na maioria dos
casos se encontram para alunos e professores nos livros didáticos que servirão de base para
pesquisas, exercícios e planos de aula.
Em 25 de Junho de 2002, a regulamentação da PNEA, através do artigo do Decreto
nº4281, determina que:
Na inclusão da Educação Ambiental em todos os níveis e modalidades de
ensino, recomenda-se como referência os Parâmetros e as Diretrizes
Curriculares Nacionais, observando-se:
I- a integração da educação ambiental às disciplinas de modo transversal,
contínuo e permanente.
II- a adequação dos programas vigentes de formação continuada de
educadores.
VIII- estimular o desenvolvimento de instrumentos e metodologias visando o
acompanhamento e avaliação de projetos de educação ambiental.
Entendemos que nos instrumentos e metodologias, o livro didático se insere de forma a
responder a elaboração de projetos de educação ambiental construídos por professores e
alunos.
o artigo determina que “as atividades vinculadas à política nacional de educação
ambiental devem ser desenvolvidas na educação em geral e na educação escolar.” (DIAS,
2003, p.5), o que remete à elaboração de instrumentos pedagógicos, nos quais se insere o livro
didático para o desenvolvimento de uma Educação Ambiental crítica.
23
Desde 2007, o Ministério da Educação discute uma “Proposta de Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental” onde entre suas recomendações de
diretrizes nacionais relativas a todos os níveis e modalidades de ensino (III.1) destacamos o:
4. Incentivo à pesquisa e à apropriação de instrumentos técnicos e
metodológicos que aprimorem a cidadania ambiental [grifo nosso], com a
participação ativa nas tomadas de decisões, com responsabilidade individual
e coletiva (pública e privada) em relação ao meio ambiente local, regional e
global (MEC, 2007,p.14).
Entendemos que o livro didático insere-se no que pode ser chamado de recurso
metodológico, embora o texto trate por “instrumento”, uma vez que, junto a aula expositiva,
faz parte do desenvolvimento escolar do aluno.
No que diz respeito à produção e avaliação de materiais pedagógicos (III.7)
determina:
1. Observância destas diretrizes de Educação Ambiental nos processos de
produção e de avaliação de materiais didáticos e pedagógicos a
serem
adotados pelos sistemas de ensino;
2. Incentivo a produção regional de materiais pedagógicos em
múltiplas linguagens e suportes tecnológicos e que trabalhem
conteúdos voltados para os biomas e para a realidade local ou regional
dos estabelecimentos de ensino;
3. Incentivo a participação de professores e alunos na produção
regional dos materiais pedagógicos, reconhecendo-os como produtores
de conhecimento a partir da práxis local (MEC, 2007, p.24).
Percebemos nestas recomendações o fortalecimento da necessidade de se organizarem
materiais didáticos fora do eixo das grandes metrópoles como forma de se aproximar e atender
às demandas dos estudantes fora destes eixos (GUIMARÃES, 2004).
24
3.
Desenvolvimento sustentável, Educação Ambiental e matrizes teóricas
Atualmente, o debate a respeito da relação existente entre homem/natureza vem
ganhado espaço em diversas fontes midiáticas. De jornais a propagandas de cursos pré-
vestibulares a questão sobre desenvolvimento sustentável se faz presente como forma de se
discutir o futuro do planeta.
Com os avanços tecnológicos em acelerada escala, não se alterou a geopolítica
como também a utilização desenfreada dos recursos naturais, causando uma intensa crise
socioambiental. Segundo Kishiname (2002) esta crise é absoluta seja em um nível de país, ou
em um nível global. Devido a esta crise ambiental, discute-se hoje a necessidade de um
desenvolvimento sustentável
Este capítulo tem por objetivo contribuir para as discussões a respeito deste
desenvolvimento sustentável, analisando suas diferentes correntes e sua relação com a
Educação Ambiental.
Entre os anos de 1979 e 1980, seminários produzidos pelo Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) desenvolveu-se, em 1987, o Relatório Brundtland
(Nosso Futuro Comum) o qual se definiu o desenvolvimento sustentável como sendo aquele
que “atende as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações
futuras atenderem as suas próprias necessidades” (ACSELRAD; LEROY, 1999, p.17), e sendo
assim, capaz de garantir um crescimento econômico vigoroso, mas também social e
ambientalmente sustentável. Dez anos depois, encontramos esta concepção de
desenvolvimento sustentável presente no documento produzido na Conferência das Nações
25
Amigas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Agenda 21, que enfatizou o papel da
economia como força motriz deste desenvolvimento e indicando a necessidade de um
“ambiente econômico e internacional ao mesmo tempo dinâmico e propício” e de uma
“distribuição ótima da produção mundial, sobre a base das vantagens comparativas”
(ACSELRAD; LEROY, 1999, p.18).
Deve se ressaltar que nestes documentos o objetivo se faz em como reduzir os níveis
de poluição, pobreza e superpopulação sem abalar a forma de produção capitalista. Ainda
segundo Acselrad:
o desenvolvimento sustentável seria um dado objetivo que no entanto não se
conseguiu ainda aprender. (...) será uma construção social? (...) poderá também
compreender diferentes conteúdos e práticas? Isto nos esclarece porque distintas
representações e valores vêm sendo associados à noção de sustentabilidade: são
discursos em disputa pela expressão que se pretende a mais legítima. Pois a
sustentabilidade é uma noção a que se pode recorrer para tornar objetivas
diferentes representações e ideias (ACSELRAD, 2001,p.28).
Segundo Foladori (2001), tanto no Relatório Brundtland como na Agenda 21 :
a preocupação manifesta se em torno de como reduzir os níveis de poluição, de
depredação e de pobreza e de superpopulação, sem tocar na forma social de
produção, ou seja, o capitalismo. (FOLADORI, 2001, p.119).
Novicki e Maccariello (2002) apontam para o fato de que com a afirmação da
Conferência de Tbilisi de que o meio ambiente “abrange os recursos naturais do nosso planeta,
as instituições e os valores socialmente criados historicamente pela ação social do homem e
26
principalmente a tensão existente entre ambos” (p.3), salienta-se a necessidade de incorporar
as dimensões sociais, éticas, políticas, culturais e econômicas no debate em busca de um
desenvolvimento sustentável, no que se refere aos debates dos problemas ambientais.
Devemos destacar que o conceito a respeito de como se alcançar um desenvolvimento
sustentável ainda não encontrou um consenso, uma vez que, existem diversas correntes no
movimento ambientalista a respeito do tema e de que a educação ambiental deverá ser
introduzida na sociedade. Leff (1999) afirma que a falta de homogeneidade nos discursos
sobre desenvolvimento sustentável “expressa estratégias conflitantes que correspondem a
visões e interesses diferenciados. Suas propostas vão desde um neoliberalismo econômico até
a construção de uma nova nacionalidade produtiva” (LEFF, 1999, p.123).
Dentro desta dinâmica do que se entende por desenvolvimento sustentável Acselrad
(1999) identifica a existência de cinco matrizes discursivas a respeito do tema: matriz da
eficiência, da auto-suficiência, da equidade, da escala e da ética
4
. Dentre as cinco vamos
destacar as três primeiras, de extrema importância para o desenvolvimento desta dissertação,
uma vez que buscamos a relação entre homem, meio-ambiente e desenvolvimento sustentável:
A matriz da eficiência pretende combater o desperdício da base material do
desenvolvimento, estendendo a racionalidade econômica ao ‘espaço não-mercantil
planetário’; (...) da equidade, que articula analiticamente princípios de justiça e
ecologia; da auto-suficiência, que prega a desvinculação de economias nacionais e
sociedades tradicionais dos fluxos de mercado mundial como estratégia apropriada
a assegurar a capacidade de auto-regulação comunitária das condições de
reprodução da base material do desenvolvimento (ACSELRAD, 2001, p.27).
4
a matriz da escala “propugna um limite quantitativo ao crescimento econômico e à pressão que ele exerce sobre
os “recursos ambientais”” e a da ética “inscreve a apropriação social do mundo material sobre os valores de bem
e mal, evidenciando as interações da base material do desenvolvimento com as condições de continuidade da vida
do planeta” (ACSELRAD, 2001, p.27)
27
De acordo com Acselrad, a matriz da eficiência ou ainda “tecnicista” defende a ideia
de que o desenvolvimento tecnológico permitirá um desenvolvimento sustentável, na medida
em que possibilitará uma melhor utilização de recursos naturais, através de “tecnologias
limpas” (filtros). Segundo o autor:
Nessa matriz podem abrigar-se desde ‘cornucopianos’ – otimistas tecnológicos, que
acreditam na capacidade de o sistema de preços induzir tecnologias limpas, ou na
ação de uma ‘mão invisível intergerencial’ que garantirá que a máxima satisfação
dos interesses presentes transmitirá um mundo mais produtivo ‘as gerações futuras
– até os partidários do livre comércio como meio de produzir recursos para proteger
o meio ambiente e os que acreditam que a correção das ‘falhas de mercados’ e das
‘distorções’ governamentais do sistema de preços pode assegurar a eficiência global
(ACSELRAD, 2001, p.31).
Defendida por empresários e governos, esta matriz discute a idéia de que o
desenvolvimento tecnológico permitirá um desenvolvimento sustentável, na medida em que
possibilitará uma melhor utilização dos recursos naturais. Segundo Deluiz;Novicki (2004) esta
matriz traz a idéia de um crescimento econômico aliado a uma eficiência compatível com a
lógica do mercado capitalista. De acordo com os autores, nesta abordagem de
Desenvolvimento Sustentável, a relação entre trabalho e meio ambiente subordina-se a lógica
do capital e do livre mercado. Esta concepção pode ser também caracterizada ainda como um
“ambientalismo de livre-mercado” e:
Permite-nos compreender a necessidade do aumento da competição, da maior
mobilidade de capital, dos processos de acumulação e de alocação de capital e de
eficiência, na dinâmica capitalista de geração de valor. Permite-nos compreender,
igualmente, que na concepção de desenvolvimento sustentável centrada na lógica
do capital, o livre mercado é o instrumento da alocação eficiente dos recursos
planetários e, neste sentido, a relação trabalho e meio ambiente está subsumida ‘a
supremacia do capital, com sérias conseqüências para o mundo do trabalho e para
os recursos naturais (DELUIZ; NOVICKI, 2004, p.22).
28
A matriz da eficiência possui suas origens nas idéias de Adam Smith (1985) com o
liberalismo econômico e, mais recentemente, com Hayek (1987) com o neoliberalismo. Para
ambos, o Estado não deve intervir na economia, regulada pela chamada lei de mercado ou lei
da oferta e da procura. Desta forma percebe-se uma relação dialética entre especialização de
trabalho e produtividade, onde a especialização leva a um aumento da produção. Indo mais
além, esta especialização “permite a cada país especializar-se nas mercadorias que pode
produzir à menor custo, e com isso aumenta a riqueza total do mundo” (HUBERMAN, 1977,
p. 154). Assim, dentro desta visão, não existe contradição entre interesses individuais e
interesses gerais sendo a procura pela riqueza a condição sine qua non para o progresso. Seus
defensores perceberam que ao aumentarem a produtividade do trabalho e reduzirem a custo de
produção, isto acarretaria necessariamente em uma ampliação na margem de lucros, este
aumento na margem de lucro se daria pela especialização do trabalho, culminado no que
Adam Smith (1985) chamou de “divisão do trabalho”, entendida como a existência de duas
“categorias” de homens os homo sapiens (donos dos meios de produção) e homo faber (que
destituídos dos meios de produção passam a viver da venda da sua força de trabalho).
A matriz da eficiência caracteriza-se por uma visão de mundo antropocêntrica que
acredita que através do desenvolvimento tecnológico o homem irá “dominar” a natureza e que
esta irá “atendê-lo” fornecendo os recursos para a expansão e manutenção do modo de
produção capitalista, garantindo a manutenção do consumo e do crescimento econômico, sem
alterar o modo de produção capitalista.
No que diz respeito a políticas públicas, Novicki (2007) afirma que:
29
O ambientalismo de mercado generaliza a culpa pela degradação entre “diferentes
espécies de seres humanos” (capitalistas e trabalhadores) e, através da
repressão/autoritarismo e da educação promove a internalização da ideologia
dominante, a aceitação de uma visão de mundo (valores) que naturaliza a sociedade
de classes, dissimulando suas contradições também através de uma concepção
reducionista de meio ambiente (alienação). Neste enfoque, todos (Estado, mercado,
sociedade civil, indivíduos) m a “falsa consciência tranqüila”, pois são a favor da
preservação do meio ambiente, mas “daquele meio ambiente sem gente”, que não
abrange o homem, a desigualdade/exclusão social, a diversidade cultural...
(NOVICKI, 2007, p.142).
Esta “falsa consciência ambiental” irá se refletir nas políticas públicas relacionadas à
temática ambiental.
A segunda matriz utilizada neste capítulo é a da auto-suficiência (ACSELRAD, 2001),
ou “arcadismo-naturalista” (GRUN, 1996) ou ainda “romantismo ingênuo” (LOUREIRO,
2000). Esta matriz defende o retorno a um passado idílico, onde homem e natureza
relacionavam-se de forma harmoniosa, como forma de se chegar a um desenvolvimento
sustentável. Esta concepção tem sua base ideológica na fisiocracia do século XVIII - cujos
expoentes foram François Quesnay na França e Gilbert White na Inglaterra - ao atribuir aos
recursos naturais à verdadeira fonte de riqueza. Para esta matriz discursiva o ideal para um
Desenvolvimento Sustentável:
Como alternativa ao discurso racionalista que dicotomiza sujeito/objeto,
natureza/cultura está surgindo um discurso que valoriza ideais perdidos em algum
passado distante. Existem inúmeras variantes do discurso do retorno a natureza.
Uma dessas variantes valoriza a experiência direta com a natureza por meio de
referências a metáforas inscritas na linguagem do amor romântico. Outra variante
desse discurso promove um verdadeiro retorno ‘a natureza através do
privilegiamento (e glamorização) de ecologias, cosmologias e mitologias
remanescentes dos povos indígenas. A educação ambiental parece alimentar uma
representação bastante idealista das culturas não-ocidentais ou primitivas...Aqui, de
certa forma, existe uma inversão dos motivos cartesianos; a natureza é totalizada e o
homem torna-se, em sua posição de reverência, seu objeto. É claro que toda essa
30
operação (ou inversão) epistemológica é temperada com um simpático romantismo
(GRUN, 1996, p.71/72).
Nesta lógica, o desenvolvimento sustentável está atrelado às “riquezas regeneráveis” e
a obediência das leis naturais. A preocupação se faz em se efetuar um resgate do que foi
perdido pela humanidade com as mudanças trazidas pelo capitalismo, e sendo assim, o
consumo e o lucro estariam fora deste contexto. Busca-se um retorno a fase na qual homem e
natureza conviviam de forma harmoniosa:
Se, por um lado, esta concepção de desenvolvimento sustentável traz consigo
uma crítica ao capitalismo globalizado e desregulamentado e seus impactos
sobre a autonomia decisória dos Estados Nacionais, por outro, ao propor uma
volta ao passado que também se expressa na sacralização das comunidades
tradicionais e dos recursos naturais – esta proposta de desenvolvimento
sustentável realiza uma inversão dos postulados do paradigma mecanicista e ,
desta forma, não ultrapassa os marcos do dualismo cartesiano homem-
natureza (DELUIZ, NOVICKI, 2004, p. 7).
Nesta matriz, o homem adquire um papel passivo em relação à natureza,
caracterizando-se, desta forma, por uma visão biocêntrica no que tange ao dualismo
homem/natureza. Enquanto na matriz da eficiência o homem domina a natureza, na da auto-
suficiência é a natureza que exerce o domínio, porém sem que se questione a ordem vigente,
bastando apenas ao homem se adaptar as possibilidades oferecidas pela natureza.
A terceira matriz, da equidade ou socioambiental busca uma articulação entre os
princípios de justiça e ecologia tendo por princípio a idéia de que as raízes da degradação
ambiental e da desigualdade social são as mesmas (ACSELRAD, 2001, p.27-34) encontradas
ambas no modo de produção capitalista, principalmente quando se inicia o processo de
31
“alienação do trabalho”.
Segundo Marx o conceito de “trabalho alienado” envolve quatro
dimensões principais:
1ª) o homem está alienado da natureza (“estranhamento da coisa”), apesar de
transformá-la cotidianamente através do trabalho e ser ao mesmo tempo,
transformado por ela e pelo trabalho que medeia esta relação, não se dá conta disso.
[...] 2ª) o homem está alienado de si mesmo, de sua própria atividade vital, do
trabalho (“auto-estranhamento”) [...] 3ª) o homem está alienado de seu “ser
genérico”, de seu ser como membro da espécie humana, do gênero humano, não se
dando conta de que pertence a uma totalidade que vive em condições similares à
sua. [...] 4ª) o homem está alienado do homem, dos outros homens e não tem
consciência de seu meio. (NOVICKI, 2007, p.147/149).
Marx defendia a idéia de que o modo de produção era composto por dois principais
elementos: a) as forças produtivas, composta pelas ferramentas, equipamentos, habilidades e
conhecimentos adquiridos pela força de trabalho, recursos naturais e elementos tecnológicos e
as relações de produção caracterizada pelas relações de propriedade ou não propriedade que as
classes estabeleciam com os meios de produção (HUNT, E. K ; SHERMAN, H. J. 2001, p.92).
As contradições entre as forças produtivas e as relações de produção se manifestam através da
luta de classes.
A matriz da equidade busca então uma “sustentabilidade democrática” que teria como
base a apropriação e o uso do meio ambiente em formas sociais sustentáveis. Nesta matriz
busca-se um Desenvolvimento Sustentável a partir do conceito de uma justiça social, trazendo
como proposta uma:
mudança do paradigma hegemônico de desenvolvimento econômico, com
base em princípios de justiça social, superação da desigualdade
socioeconômica e construção democrática ancorada no dinamismo dos atores
32
sociais. Traz a discussão da sustentabilidade para o campo das relações
sociais, analisando as formas sociais de apropriação e uso dos recursos e do
meio ambiente. Compreende que as noções de sustentabilidade e de
desenvolvimento sustentável são construções sociais fruto do embate entre os
vários atores em busca da hegemonia de suas posições” (DELUIZ,
NOVICKI, 2004, p. 8).
Propõem-se uma relação de interdependência entre home/natureza resgatando a visão
global da existência humana, diferente das visões das matrizes da eficiência (antropocêntrica)
e da matriz da auto-suficiência (biocêntrica).
Busca-se, nesta matriz, destacar os aspectos sociais, culturais, políticos, éticos e
econômicos da crise ambiental. Relaciona-se, desta forma, o crescente consumismo dos países
ricos com o aumento da degradação ambiental que vitimiza os mais pobres. Sendo assim:
O conceito de desenvolvimento sustentável tem dimensões ambientais, econômicas,
sociais, políticas e culturais, o que necessariamente traduz várias preocupações:
com o presente e o futuro das pessoas; com a produção e o consumo de bens e
serviços; com as necessidades básicas de subsistência; com os recursos naturais e o
equilíbrio ecossistêmico; com as práticas decisórias e a distribuição de poder e com
os valores pessoais e a cultura. O conceito é abrangente e integral e,
necessariamente, distinto, quando aplicado ‘as diversas formações sociais e
realidades históricas (...) A redução da pobreza, a satisfação das necessidades
básicas e a melhoria da população, o resgate da equidade e o estabelecimento de
uma forma de governo que garanta a participação social nas decisões soa condições
essenciais para que o processe de desenvolvimento seja julgado como sustentável
(JARA, 1998, p.35).
Deste modo, o Desenvolvimento Sustentável seria alcançado quando da mudança do
paradigma hegemônico de desenvolvimento econômico, com a superação das desigualdades
sociais em uma sociedade democrática composta por cidadãos conscientes.
33
Cabe então a Educação Ambiental “formar capacidades para orientar um
desenvolvimento fundado em bases tecnológicas, de equidade social, diversidade cultural e
democracia participativa” (LEFF, 1999, p.122)
Para Layrargues (1999, p.140) “a educação ambiental não é neutra, é ideológica.
Traduz-se em atos políticos, que visam ou a manutenção da correlação de forças na atual
configuração, ou a sua transformação”. A parir desta afirmação podemos identificar duas
diferentes concepções de Educação Ambiental presentes nas matrizes discursivas de
Desenvolvimento Sustentável: a comportamentalista e a crítica socioambiental.
Nas duas primeiras matrizes, eficiência e auto-suficiência, a concepção
comportamentalista de Educação Ambiental privilegia atitudes individuais sem identificar
responsabilidades, caracterizando-se, desta forma, por uma visão acrítica. A principal crítica
que se pode fazer a este tipo de visão se dá pelo fato de não questionar o modo de produção
capitalista, caracterizando-se por uma visão reducionista da problemática ambiental, levando a
alguns momentos a Educação Ambiental a assumir um caráter de “adestramento ambiental”
(BRÜGGER, 1994), no qual mesmo acarretando mudanças comportamentais dos indivíduos
estas não se seguem de uma conscientização do por que das mudanças.
Na matriz da equidade, a concepção crítica de Educação Ambiental leva em
consideração que no cenário político mundial e nacional existem diferentes projetos
antagônicos em disputa, expressando diferentes concepções de mundo, ciência, educação e de
homem (ARROYO, 2000).
34
No caso específico do Brasil, o processo político brasileiro, particularmente a relação
Estado-Sociedade, foi marcado pelo autoritarismo, pois somos fruto de uma “cultura política
autoritária” (NOVICKI,1998,2007) desde nossa formação como país (primeiro por uma
prática de coronelismo, depois pelo populismo, regime militar e nova república) e sendo
assim, alijados como população de participar das decisões relacionadas às questões sociais e
ambientais. Isto se reflete diretamente na educação ambiental proposta ou não dentro do
ambiente escolar. Ainda segundo Novicki (2007, p.159):
Assim entendemos que nossa “cultura política autoritária(NOVICKI, 1998) e seus
reflexos na relação Estado-Sociedade e, conseqüentemente, no grau de organização
e mobilização da sociedade, sinalizam e dão especificidade aos desafios a serem
enfrentados pela educação ambiental, pela sociedade no Brasil, tendo como
perspectiva reordenar as relações entre o público e o privado, no sentido de
estimular a politização dos indivíduos (participação) ou a construção de uma
identidade coletiva (interesse públicos, inclusive os relacionados à temática
socioambiental), em oposição à tendência de priorizar seus interesses individuais e
imediatos (privatização de interesses).
Segundo Mészáros (2005, p.12) a “educação libertadora teria como função transformar
o trabalhador em um agente político, que pensa, que age, e que usa a palavra como arma para
transformar o mundo.” . A educação não pode ser vista apenas como sendo o período no qual
nos encontramos na escola, o aprender está intimamente ligado ao viver, mas:
para tornar esta verdade algo óbvio, como deveria ser, temos de reivindicar uma
educação plena para toda a vida, para que seja possível colocar em perspectiva a sua
parte formal, a fim de instituir, também aí, uma reforma radical (MÉSZÁROS,2005,
p.55).
35
A educação deve ser capaz de romper com a internalização dominante do sistema
capitalista, porém mais do que negar o capitalismo, sua função é buscar soluções capazes de
superar este sistema de forma a criar uma nova estrutura social, e não adaptações que busquem
remover “defeitos específicos” (Mészáros, 2005, p.62).
Somos educados o tempo todo por diferentes formas (televisão, jornal, revistas,
família, escola). Sendo assim, internalizamos as questões discutidas anteriormente, a todo o
momento, enquanto vivos.
A educação ambiental tem então por objetivo promover a percepção de que existe uma
relação dialética entre homem e natureza, na qual ao transformar a natureza, através do
trabalho, o homem sofre conseqüências diretas desta ação, que por sua vez o faz buscar novos
mecanismos de adequação a esta nova realidade e assim sucessivamente, caracterizando assim
a natureza complexa do meio ambiente.
De acordo com Novicki (2007) não basta apenas que se tenha “consciência ambiental”,
é preciso que se mobilize a sociedade para que se realize a transformação da realidade
socioambiental, porém esta mobilização é dificultada graças a reprodução reducionista do
conceito de meio-ambiente, que desconecta a relação dialética homem-natureza e que desta
maneira acaba por criar uma “falsa consciência ambiental”. Concordando com Layrargues
(1999) a educação ambiental não é neutra, mas sim ideológica e deve se traduzir em atos
políticos que busquem manter ou transformar a sociedade.
Para Altvater (apud: NOVICKI, 2007) a falta de participação popular nas questões
ambientais se deve a fatores como a incapacidade das democracias formais de garantirem a
36
integridade pessoal/social e a acesso democrático à riqueza natural, além de o “estilo de vida
ocidental” não poder ser estendido a todos, pois implicaria em um maior consumo dos
recursos naturais.
No que diz respeito a uma Educação Ambiental capaz de permitir um desenvolvimento
de propostas de ações coletivas e organizadas, a Conferência de Tbilisi determinou a
“elaboração de programas de estudos escolares compatíveis com as necessidades do meio, a
níveis local, regional e mundial” (DIAS, 2003, p.17).
Layrargues (1999, p.137) defende a existência de duas estratégias metodológicas na
“resolução dos problemas ambientais locais”, orientadas ou pelo enfoque de uma atividade-
fim ou de um tema-gerador. Para o autor, nas discussões a respeito dos problemas ambientais,
estes devem ser tratados como temas-geradores, uma vez que:
a educação ambiental desenvolvida a partir da resolução de problemas ambientais
orientadas como uma atividade-fim, por maior que seja o aprendizado da
experiência prática e o desenvolvimento de qualidades dinâmicas e ativas, fomenta
a percepção equivocada de que o problema ambiental não está inserido numa cadeia
sistêmica de causa-efeito, e que sua solução encontra-se na órbita da esférica
técnica. (...) O enfoque da resolução de ambientais orientados como atividade-fim
não é suficiente como finalidade, partindo-se do pressuposto de que a mudança de
valores nos educandos poderá ocorrer por conta própria. Não garantias de que
resolvido o problema alvo da ação pedagógica, o elemento causador da degradação
ambiental não venha a se repetir, pois nessa perspectiva não se instala o potencial
de crítica ao status quo (LAYRARGUES, 1999, p.143).
Desta maneira, é através da visão da Educação Ambiental como tema- gerador que se
faz possível uma discussão a respeito dos problemas sociais e a busca de soluções com a
37
participação da coletividade, transformando educador e educando em sujeitos ativos destas
transformações socioambientais.
38
4. Livro didático: Histórico e Análise
Este capítulo tem por objetivo contribuir para a discussão a respeito do por que da
importância do livro didático em sala de aula e ao mesmo tempo fazer uma análise do livro
escolhido para esta dissertação.
Buscamos destacar um breve histórico das políticas educacionais para a utilização do
livro didático bem como a análise de alguns autores a respeito de sua funcionalidade,
destacando aspectos positivos e negativos deste recurso pedagógico.
4.1 – Um breve histórico do Livro Didático
A preocupação com a utilização do livro didático no Brasil, se inicia durante o Estado
Novo, quando através do decreto de lei 1006 de 1938, institui-se a Comissão Nacional do
Livro Didático – CNLD. Por este decreto, regulamentarizou-se os critérios para autorização da
edição dos livros didáticos e as exigências quanto à correção da informação e linguagem
utilizadas nos livros. Em 1945, ampliaram-se as funções da Comissão, que passou a centralizar
a nível federal o poder de legislar sobre o livro didático, a partir do decreto 8460. Segundo
Hofling (2000) com a criação das Comissões Estaduais do Livro Didático, a função de
controle do processo de escolha do livro didático foi descentralizada, saindo do controle do
Estado.
Em 1966, foi criada a Comissão do Livro Técnico e do Livro Didático COLTED
através de um acordo entre MEC e USAID. Por este acordo, a COLTED seria responsável
pela coordenação e execução das atividades relacionadas ao aperfeiçoamento, produção,
39
edição e distribuição do livro didático. Em 1971, a COLTED foi extinta e sua estrutura
funcional transferida para o Instituto Nacional do Livro INL. Desta maneira, desde 1971 o
INL possuía como atribuições: o desenvolvimento de um programa nacional do livro didático,
a definição de diretrizes para a formulação de um programa editorial e de planos de ação do
MEC, além de celebrar contratos, convênios e ajustes com entidades públicas e particulares e
com autores, tradutores e editores, gráficos, distribuidores e livreiros (OLIVEIRA,
GUIMARÃES, BOMÉNY, 1984). Desta forma:
Criou-se, pois, um programa especial de co-edição, o Programa do Livro Didático
(PLID), abrangendo os diferentes níveis de ensino: o Programa do Livro Didático
para o Ensino Fundamental (PLIDEF), Programa do Livro Didático para o Ensino
Médio (PLIDEM), Programa do Livro Didático para o Ensino Superior (PLIDES) e
Programa do Livro Didático para o Ensino Supletivo (PLIDESU) (HOFLING,
2000, p.163).
Em 1984, o MEC deixa de financiar a produção dos livros didáticos pelo sistema de
co-edição, passando a comprar os livros produzidos pelo PLID. Um ano depois, o PLID tem
seus objetivos ampliados, passando a ser conhecido como Programa Nacional do Livro
Didático – PNLD. Sua função passa a ser:
o atendimento de todos os alunos de primeira a oitava série do primeiro grau das
escolas públicas federais, estaduais, territoriais, municipais e comunitárias do país,
com prioridade para os componentes básicos Comunicação e Expressão e
Matemática (HOFLING, 2000, p.164).
Ainda, segundo Hofling (2000), o PNLD pode ser entendido como uma estratégia que
visa um apoio à política educacional implementada pelo Estado, com a perspectiva de suprir
uma demanda que adquire caráter obrigatório na Constituição Federal de 1988, quando esta
40
afirma ser dever do Estado garantir ao educando no nível fundamental programas
suplementares de material didático escolar (BRASIL, 1988).
Desde 1997, o PNLD se encontra relacionado com o Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação FNDE, vinculado ao MEC e que tem por objetivo suprir as
escolas públicas de Ensino Fundamental e atualmente Médio, cadastradas no Censo Escolar
com livros didáticos das principais disciplinas escolares. O PNLD possui como objetivos:
(a) socialização e universalização do ensino, bem como a melhoria de sua
qualidade, por meio da seleção, aquisição e distribuição de livros didáticos para
todos os alunos matriculados nas escolas das redes públicas do ensino fundamental
de todo o País, cadastradas no Censo Escolar; (b) diminuir as desigualdades
educacionais existentes,buscando estabelecer padrão mínimo de qualidade
pedagógica para os livros didáticos utilizados nas diferentes regiões do país; (c)
possibilitar a participação ativa e democrática do professor no processo de seleção
dos livros didáticos, fornecendo subsídios para uma crítica consciente dos títulos a
serem adotados no Programa; e (d) promover a crescente melhoria física e
pedagógica dos livros, garantindo a sua utilização/reutilização por três anos
consecutivos (SOARES, 2005, p.78).
Em 2003, pela resolução 38, institui-se o Programa Nacional do Livro Didático para
o Ensino Médio – PNLEM, levando para o Ensino Médio as determinações do PNLD.
Pelas normas em vigor, o PNLD adquire um caráter centralizador e descentralizador na
escolha dos Livros Didáticos. Centralizador, uma vez que todas as suas ações são
desenvolvidas pelo FNDE, da inscrição a distribuição as escolas. Descentralizador, pois o
FNDE repassa recursos à Secretaria de Educação do Estado, que se responsabiliza por todo o
processo de execução do Programa.
A escolha dos livros didáticos tanto de Ensino Fundamental como de Ensino Médio
segue os mesmos critérios de avaliação pedagógica, recaindo sobre uma equipe de
41
especialistas determinada pelo MEC para cada componente curricular. As análises dos livros
didáticos respeitam os seguintes critérios de execução:
1) Inscrição das editoras [grifo nosso] - O edital que estabelece as regras para a
inscrição do livro didático é publicado no Diário Oficial da União e disponibilizado
no sítio do FNDE na Internet. O edital também determina o prazo para a
apresentação das obras pelas empresas detentoras de direitos autorais. 2)
Triagem/Avaliação - Para analisar se as obras apresentadas se enquadram nas
exigências técnicas e físicas do edital, é realizada uma triagem pelo Instituto de
Pesquisas Tecnológicas do Estado de o Paulo (IPT). Os livros selecionados são
encaminhados à Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC), responsável pela
avaliação pedagógica. A SEB escolhe os especialistas para analisar as obras,
conforme critérios divulgados no edital. Os especialistas elaboram as resenhas dos
livros aprovados, que passam a compor o guia de livros didáticos. 3) Guia do livro
- O FNDE disponibiliza o guia do livro didático em seu sítio na Internet e envia o
mesmo material impresso às escolas cadastradas no censo escolar.4) Escolha - Os
livros didáticos passam por um processo democrático de escolha, com base no guia
do livro didático. Diretores e professores analisam e escolhem as obras que serão
utilizadas.5) Pedido - O professor possui duas alternativas para escolher os livros
didáticos: A primeira alternativa é pela Internet. De posse de senha previamente
enviada pelo FNDE às escolas, os professores fazem a escolha on line em aplicativo
específico para esse fim, disponível na gina do FNDE. A segunda alternativa é
pelo formulário impresso, remetido pelos Correios. Nessa hipótese, o FNDE envia
às escolas cadastradas no censo escolar, junto com o guia do livro didático, um
formulário de escolha que deve ser usado pelos docentes para identificação das
obras desejadas. 6) Aquisição - Após a compilação dos dados dos formulários
impressos e dos pedidos feitos pela Internet, o FNDE inicia o processo de
negociação com as editoras. A aquisição é realizada por inexigibilidade de licitação,
prevista na Lei 8.666/93, tendo em vista que as escolhas dos livros são efetivadas
pelos professores. 7) Produção - Concluída a negociação, o FNDE firma o contrato
e informa os quantitativos e as localidades de entrega para as editoras, que dão
início à produção dos livros, com supervisão dos técnicos do FNDE. 8) Qualidade
física - O FNDE tem parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
Esse instituto é responsável pela coleta de amostras e pelas análises das
características físicas dos livros, de acordo com especificações da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), normas ISO e manuais de procedimentos
de ensaio pré-elaborados. 9) Período de utilização - Cada aluno tem direito a um
exemplar das disciplinas de língua portuguesa, matemática, ciências, história e
geografia que serão estudadas durante o ano letivo. Confeccionado com uma
estrutura física resistente, o livro deve ser reutilizado, por três anos consecutivos,
beneficiando mais de um estudante nos anos subseqüentes, exceção feita à cartilha
de alfabetização e aos livros de série.10) Alternância - Para a manutenção da
uniformidade da alocação de recursos do FNDE com o programa evitando
grandes oscilações a cada ano e em face do prazo de três anos de utilização dos
livros, as compras integrais para alunos de a e de a 8ª série ocorrem em
exercícios alternados. Nos intervalos das compras integrais, são feitas reposições,
42
por extravios ou perdas, e complementações, por acréscimo de matrículas. os
livros da série são adquiridos anualmente. 11) Distribuição - A distribuição dos
livros é feita diretamente pelas editoras às escolas, por meio de um contrato entre o
FNDE e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). Essa etapa do PNLD
conta com o acompanhamento de técnicos do FNDE e das secretarias estaduais de
Educação. 12) Recebimento - Os livros chegam às escolas entre outubro e o início
do ano letivo. Nas zonas rurais, as obras o entregues na sede das prefeituras ou
das secretarias municipais de Educação, que devem entregar os livros às escolas
localizadas nessas áreas. 13) Ampliação - O FNDE ampliou sua área de atuação e
passou a distribuir, além dos livros didáticos para o ensino fundamental, também
para o ensino médio, dicionários de língua portuguesa e obras em braille. O
objetivo dessa ampliação é contribuir para a melhoria da qualidade do ensino, a
construção da cidadania e o desenvolvimento intelectual e cultural dos estudantes
(MEC, 2009)
Após as avaliações feitas, o MEC divulga uma lista com os livros recomendados, que
serão escolhidos pelos professores das escolas municipais, estaduais e federais. Devemos
ressaltar que no caso das escolas privadas, esta escolha não necessariamente respeita a lista
divulgada pelo MEC. Nestes casos, os professores das disciplinas escolhem por critérios
pessoais e ou pedagógicos os livros que serão utilizados na escola. Outro fator importante é
que a maioria dos livros de ensino médio corresponde a volumes únicos. Este fato se deve a
adequação a programas de vestibulares que podem variar de Estado para Estado, devendo
então responder a uma utilização que atenda a todo território nacional. Outro fator que merece
destaque é o de que as editoras não são obrigadas a enviar seus materiais didáticos para
avaliação e daquelas que enviam não é realizada uma lista com os livros reprovados com as
devidas justificativas para o fato.
No ensino médio, a distribuição de livros didáticos iniciado em 2004 atendeu
primeiramente as disciplinas de Português e Matemática atendendo as escolas do Norte e
Nordeste. Em 2006, ocorreu a universalização do programa, atendendo a 7 milhões de alunos
em todo o país, exceto Minas Gerais e Paraná, que desenvolveram programas próprios. Ainda
43
em 2006, incorporou-se a distribuição de conjuntos de livros para professores de língua
espanhola.
Em 2007, incorporou-se a avaliação do material didático os livros de Biologia e no ano
seguinte os de História e Química. Finalmente, em 2008, ocorreu a reposição dos livros de
Português e Matemática e a implementação da escolha dos livros de Geografia e Física, para
utilização em 2009.
A produção dos livros didáticos acabou por se modificar com as exigências para
aprovação, constituindo-se não mais de livros de única autoria, mas sim um resultado de um
processo que envolve dois ou mais autores. Desta forma a produção de um livro didático se
transforma em um processo que busca o atendimento às exigências legais determinadas pelo
PNLD. Sobre o tema, Fonseca (1999, p.204) ressalta que:
o livro didático e a educação formal não estão deslocados do contexto político e
cultural e das relações de dominação, sendo, muitas vezes, instrumentos utilizados
na legitimação de sistemas de poder, além de representativos de universos culturais
específicos (...) Atuam, na verdade, como mediadores entre concepções políticas e
culturais, tornando-se parte importante da engrenagem de manutenção de
determinadas visões de mundo.
O livro didático assume um papel fundamental no processo de aprendizagem, pois
serve, muitas vezes, como a ferramenta mais próxima de pais, alunos e professores.
Segundo Miranda e Luca (2004), contrariando o senso comum, o livro didático é um
produto cultural dotado de alto grau de complexidade e, desta forma, deve ser visto sob a ótica
de permitir múltiplas possibilidades de didatização do saber histórico e práticas de leitura
muito diversas.
44
Para Oliveira, Guimarães e Bomény (1984, p.11) o livro didático assume três
importantes aspectos: o pedagógico, o econômico e o político-ideológico e, sendo assim:
a importância do livro didático não se restringe aos seus aspectos pedagógicos e ‘as
suas possíveis influências na aprendizagem e no desempenho dos alunos. O
‘mercado’ criado em torno do livro didático faz dele importante mercadoria
econômica, cujos custos muito influem na possibilidade de acesso a ele, de
expressivo contingente da população escolarizada. O livro didático também é
importante por seu aspecto político e cultural, na medida em que reproduz e
representa os valores da sociedade em relação ‘a sua visão da ciência, da história,
da interpretação dos fatos e do próprio processo de transmissão do conhecimento.
É necessário destacarmos que a obra não estar presente no guia do livro didático
produzido pelo MEC pode ocasionar problemas financeiros que em alguns casos culminam
com o fechamento de editoras ou fusões de grupos editoriais (MIRANDA, LUCA, 2004,
p.128). De acordo com as autoras:
Cumpre destacar que para o segmento voltado para as compras do setor público
importa menos a orientação metodológica ou a ideologia contida em uma coleção
didática e mais a sua capacidade de vendagem e aceitação no mercado. Nesse
contexto, o livro didático assume claramente sua dimensão de mercadoria, sujeita a
múltiplas interferências em seu processo de produção e vendagem.
Para Choppin (2000), os livros didáticos funcionam para além de ferramentas
metodológicas, adquirindo uma função de suporte de seleção culturais variáveis. A produção
de livros envolve uma relação entre os saberes de referência, autores e editoras, já seu
consumo se mediante a relação entre mercado, projetos escolares, compradores e leitores
finais.
Para Bergman (1990):
refletir sobre a História a partir da preocupação da Didática da História significa
investigar o que é aprendido no ensino da História a tarefa empírica da Didática
45
da História), o que pode ser apreendido (é a tarefa reflexiva da Didática da História)
e o que deveria ser apreendido (é a tarefa normativa da Didática da História).
Podemos afirmar que é possível que se apreenda a existência de diferentes perspectivas
compreensiva a respeito da aprendizagem, assim como os diálogos que podem se estabelecer
entre as ferramentas didáticas utilizadas e os saberes prévios dos alunos.
Brito (2004) afirma que o livro didático é considerado como ferramenta de apoio aos
professores, porém em muitos casos o seu uso se torna freqüente quando os profissionais da
educação se encontram com problemas como a falta de tempo para planejamento das aulas,
falta de capacitação para a realização de outro trabalho em sala (que não seja a utilização do
livro), a própria falta de interesse do professor em procurar outro material. Neste caso o que
era para ser uma ferramenta de apoio acabam se configurando como um dirigente de suas
práticas. Ainda, segundo a autora, aos olhos do educador, o livro didático transmite uma
segurança, uma vez que julga-se como possuindo as “verdades ilustradas e escritas para a
formação do cidadão” (p. 862).
Para Carmagnani (2004), o livro didático atrai a preferência dos professores e alunos
uma vez que:
[...] os livros mais vendidos são os que trazem os roteiros mais detalhados para o
professor, contendo as respostas corretas, material suplementar e sugestão de provas,
tudo feito para “facilitar” o trabalho em sala de aula, ou diminuir “possíveis” falhas.”
(Apud BRITO, p. 862).
46
De acordo com a autora, na esfera escolar o saber esta centrado no livro didático e no
professor.
Para Silva (1998), o livro didático se tornou uma matéria tão cultuada que o professor
perde a capacidade de deslocar sua análise para outra que não seja a que se faz presente no
material didático. Desta maneira, atribui-se ao livro a autoridade suprema no que diz respeito
ao conhecimento em sala de aula.
Para Brito (idem):
Mesmo sabendo das lacunas do LD (Livro Didático) na educação, os professores não
o descartam, pois ele tem uma seqüência lógica a ser seguida e os alunos não ficam
sem essa fonte de referência, e o mais importante: o material facilita o planejamento
das aulas, uma vez que está pronto. A estratégia de aprendizagem na composição do
LD parece tão perfeita e acabada que professor acredita não precisar completá-lo (p.
684).
Sabendo do papel do livro didático no cotidiano escolar, o MEC em seu documento
“Programa Nacional do Livro Didático: histórico e perspectivas”, afirma que o “novo” livro
didático teria uma “função estruturadora do trabalho pedagógicoe deveria “apresentar um
desenvolvimento dos conteúdos curriculares e ser um caderno de atividades para expor,
desenvolver, fixar e, em alguns casos, avaliar o aprendizado”, ou seja, “um material que
condiciona, orienta e organiza a ação docente, determinando a seleção de conteúdos, um modo
de abordagem desses conteúdos, uma forma de progressão, em suma, uma metodologia de
ensino, no sentido amplo da palavra” (BRASIL, 2000, p. 25).
47
Para Lajolo e Zilberman (1999) o livro didático corresponde ao “primo pobre” da
literatura, uma vez que se torna descartável, ora pelo desenvolvimento da ciência ora pelo fato
do estudante avançar nos estudos.
4.2 – História para o Ensino Médio: a escolha do livro
Dentre as dezenove coleções analisadas pelo MEC, a analisada nesta dissertação não se
encontra entre as mesmas. Segue abaixo as coleções aprovadas pelo MEC (2008):
A escrita da História – volume único [grifos nossos]
Renan Garcia Miranda e Flavio de Campos
Brasil – História e sociedade – volume único
Francisco Maria Pires Teixeira
Ciências Humanas e suas tecnologias – volumes 1, 2 e 3
A. Martini, R. S. Del Gaudio, J. B. S. Filho e C. M. J. Anastacia
História – volume único
Divalte Garcia Figueira
História – volume único
Gislane Campos Azevedo Seriacopi e Reinaldo Seriacopi
História – Coleção Vitória-Régia –volume único
Renato Mocellin
História – das cavernas ao terceiro milênio – volumes 1, 2 e 3
Patrícia do Carmo R. Braick e Myriam Becho Mota
História do mundo ocidental – volume único
Lizânias de Souza Lima, Yone de Carvalho e Antonio Pedro
História em Curso – o Brasil e suas relações com o mundo ocidental – volume
único
Marly da Silva Motta, Dora Guimarães M. Rocha e Américo Oscar G. Freire
História Geral e Brasil – volume único
José Geraldo Vinci de Moraes
História Global – Brasil e Geral – volume único
Gilberto Vieira Cotrim
História Moderna e Contemporânea – volume único
Maria Helena V. Senise e Alceu L. Pazzinato
História – trabalho, cultura e poder – volumes 1, 2 e 3
Ediméri S. Vasco, Sergio A. Silva, Adriana de Oliveira e Gabardo Dell’Agostino
História: Uma abordagem integrada – volume único
Eduardo A. B. Ojeda, Nicolina L. Petta e Luciano Emidio Delfini
Nova História crítica – volume único
Mario Furley Schmidt
Nova História integrada – volume único
Luiz E. O. Fernandes e João Paulo M. H. Ferreira
48
Pelos caminhos da História – volumes 1, 2 e 3
Adhemar Martins Marques
Panorama da História – volumes 1, 2 e 3
Silvio A. Pêra, Newton N. Jr. e Elaine Senise Barbosa
Rumos da História – História Geral e do Brasil – volume único
Maria T. D. Moraes e Antonio P. M. Rezende
O livro analisado por esta dissertação não se encontra nesta lista
5
, porém, como dito na
introdução, este material foi de extrema importância na minha formação como docente, além
do fato de que um breve levantamento em sites de pesquisa nos permitiu determinar sua
relativa importância. Abaixo segue uma tabela que tem por finalidade demonstrar esta
importância.
QUADRO DE UTILIZAÇÃO DO LIVRO DIDÁTICO HISTÓRIA PARA O ENSINO MÉDIO: História Geral e do
Brasil ANALISADO EM NÍVEL NACIONAL
UTILIZAÇÕES
TOTAL
INSTITUIÇÕES DE ENSINO E PESQUISA
ENSINO MÉDIO
11
Colégio Dinâmico – Goiânia (
www.colegiodinamico.com.br)
Colégio Lourenço Castanh
o – São Paulo
(www.lourencocastanho.com.br)
Instituto de Educação Integral – Brasília
(www.inei.com.br)
Colégio UNISANTA – Santos (www.colegio.unisanta.br)
Colégio Sete de Setembro – Ceará
(www.c7s.com.br)
Fundação Visconde de Cairú – Bahia
(www.cairu.br)
Curso e Colégio Oficina – Bahia
(www.colegiooficina.com.br)
Colégio Franciscano Santíssima Trindade Rio Grande do Sul
(www.colegiosantissima.com.br)
5
Durante esta pesquisa, entramos em contato com o MEC em Brasília por telefone, o que permitiu descobrirmos
que os livros reprovados não aparecem na lista, e desta maneira, não é possível analisar se o livro analisado foi
reprovado ou se simplesmente a editora não o enviou para análise.
49
Colégio da Imaculada Conceição – Rio de Janeiro
(www.asvpcic.com.br
)
Colégio Notre Dame Rio de Janeiro
(www.ipanema.notredame.org.br)
Colégio Pedro II Unidade Realengo Rio de Janeiro
(www.adcpii.com.br)
ESCOLAS
TÉCNICAS
2
Centro de Educação Federal Tecnológica (CEFET) Rio Grande
do Norte
(www.cefetrn.br)
Centro Tecnológico Universidade Caxias do Sul (CETEC) Rio
Grande do Sul
(www.ucs.br/ucs/cetec/inicial
)
CONTEÚDOS
PROGRAMÁTICOS
VESTIBULAR
3
Universidade do Estado da Bahia (UNEB) -2007
(www.uneb.br)
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru (Fafica)
2007
(www.fafica.com)
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
EDITAL 2008
(www.vestibular.ufrrj.br)
EDITAIS DE
CONCURSOS
PÚBLICOS
1
Edital do concurso público nº009/06 para professor de
educação básica II
6
. (Prefeitura Municipal de Ubatuba)
(www.ubatuba.sp.gov.br)
ARTIGOS
CIENTÍFICOS
2
Alimentação e sociedade na Grécia e Roma Antiga
7
.
(htpp//www.artigocientífico.com.br/uploads/artc_1182778305_32.doc)
Mundo épico Digital: rede de letras
8
(www.estacio.br/rededeletras/numero19/mirante/texto1.asp)
Fonte: www.google.com.br
6
Professor do segundo segmento do ensino fundamental (6º ao 9º anos – atualmente)
7
CUNHA, Josivan de S. in:
htpp//www.artigocientífico.com.br/uploads/artc_1182778305_32.doc.acessado em 20/08/2007
8
SILVA, Fellipe F.C.. Universidade Estácio de Sá (UNESA), 2006 in:
www.estacio.br/rededeletras/numero19/mirante/texto1.asp. acessado em 20/08/2007
50
Hipoteticamente, se levarmos em conta que uma turma média de ensino médio tem por volta
de 30-40 alunos (este quantitativo seria ideal de acordo com o Sindicato de professores do
Estado do Rio de Janeiro) podemos perceber que em caso de uma única turma por escola neste
quadro nos daria um total de 1440 alunos/ano. Multiplicados pelos três anos de ensino médio
este numero subiria para 4320. A este fato devemos acrescentar sua utilização em pelo menos
três editais de Vestibulares (sendo dois de nível federal), um concurso para professores em
nível estadual e pelo menos um artigo científico. Embora pareça um número de pouca
expressão, esses são cálculos originados apenas por informações de domínio público, podendo
supor que sua utilização adquire um número muito maior de alunos que serão formados a
partir da concepção de meio-ambiente e desenvolvimento sustentável presente nesta obra.
4.3 – Apresentando o livro escolhido
Este sub-capítulo tem por objetivo analisar o livro “História para o Ensino Médio:
História Geral e do Brasil” a partir de categorias como: o trabalho como atividade humana, a
relação Homem – Meio ambiente e a relação existente entre a Sociedade e o Meio ambiente.
A coleção analisada divide-se em 5 unidades (A Antiguidade, A Idade Média, A Idade
Moderna, A Construção do Mundo Contemporâneo e O Século XX e o Início do Século XXI),
para além destas unidades, ainda temos como introdutórias “os Bastidores da História” e “A
Pré-História”. O livro se subdivide ainda em 44 capítulos com um texto introdutório antes de
cada unidade e uma introdução a cada capítulo chamado de “para pensar historicamente”. Ao
final de cada capítulo encontramos um esquema resumo no qual o aluno é convidado a
analisá-lo transformando-o em texto. Após estes esquemas são feitas perguntas baseadas em
51
textos de diversos autores. Ao final de cada unidade o aluno encontra uma série de “questões e
teste” englobando concursos de vestibulares e o Enem. Por se tratar de um exemplar para o
professor ao final da coleção os autores adicionam a obra uma “assessoria pedagógica” com
sugestões de como trabalhar os temas propostos em História e em conjunto com outras
disciplinas.
4.3.1 – O Homem e as demais espécies: Diferentes por quê?
Este sub-tópico, tem por objetivo, analisar sobre uma das principais características
humanas, o trabalho.
Para Foladori (2001, p.107) a relação entre o ser humano e o meio ambiente se
através do trabalho: “a essência mesma do ser humano é a transformação da natureza mediante
o trabalho”, nesta mesma perspectiva, Deluiz e Novicki (2004, p.11):
na análise da relação entre educação, trabalho e meio ambiente, assumimos a
categoria trabalho em sua dimensão ontológica, que o concebe como práxis, através
da qual o homem domina a realidade objetiva, modifica o mundo e se modifica a si
mesmo, afirmando-se como indivíduo
De acordo com Vicentino e Dorigo (2006), o Homem se diferencia das demais espécies
inicialmente devido a uma série de vantagens biológicas, tais como as mencionadas na
transcrição a seguir:
Os primeiros hominídeos, primatas que possuíam algumas características humanas,
surgiram na África mais de 4 milhões de anos. Os primeiros, do gênero
Australophitecus, diferenciavam-se de outros primatas pela dentição semelhante à
do homem atual, andar bípede e postura ereta. Uma das espécies era ainda capaz de
criar ferramentas e utilizar instrumentos rudimentares (...) O desenvolvimento do
cérebro favoreceu a capacidade de raciocínio, permitindo-lhe criar ferramentas que
facilitavam suas atividades, como o preparo e consumo de alimentos, e desenvolver
sua criatividade, que, por sua vez, ampliou a cognição e o uso de sua capacidade
cerebral (VICENTINO; DORIGO, 2006, p. 18).
52
Percebemos nesta citação a relação existente entre o Homem e o meio ambiente,
mediada pelo trabalho, à medida que criavam ferramentas, facilitavam suas atividades. Deste
modo:
Diante do aumento populacional na época neolítica, faziam-se necessárias obras
hidráulicas, como a construção de diques e canais, para o cultivo agrícola. Estudos e
pesquisas arqueológicas e históricas apuraram que a organização do trabalho às
margens do Nilo a construção de diques e outras obras, couberam, inicialmente às
coletividades locais e regionais conhecidas como nomos e, mais tarde, foram
articuladas a uma estrutura governamental central mais complexa (VICENTINO;
DORIGO, 2006, p. 31).
Nesse sentido, percebemos que a capacidade do ser humano de inventar ferramentas se
deu através de sua criatividade. É pelo trabalho que o homem modifica a natureza, produzindo
cultura e buscando formas de atender as suas necessidades e de solucionar os problemas que
se mostram presentes para seu desenvolvimento e/ou bem estar. Desta forma, o trabalho
adquire uma característica de elemento “libertador” do Homem em relação à natureza:
No Neolítico, os homens criaram o arco e a flecha e utilizaram largamente o fogo.
Tornaram mais eficientes e sofisticados os instrumentos de pedra polida e
passaram também a utilizar madeiras, tanto para a construção de moradias e canoas
como para a fabricação de instrumentos de defesa (VICENTINO; DORIGO, 2006,
p.20).
Para os autores, destaca-se nesta diferenciação a formação de sociedades complexas
como forma de evolução da espécie humana na qual o surgimento das relações sociais
possibilitou o desenvolvimento da linguagem e da história. Ainda segundo os autores:
O desenvolvimento técnico aplicado na agricultura possibilitou maior produção
agrícola e um conseqüente aumento populacional. Alguns grupos familiares
passaram a exercer domínio sobre outros grupos, gerando sociedades complexas. A
necessidade de garantir a defesa e a produção em áreas relativamente extensas,
habitadas por várias aldeias ou grupos familiares (as tribos), levou a organização
dos Estados (...) Organizações sociais mais complexas, o aparecimento do Estado e
da escrita (surgidos primeiramente, ao que parece, no Oriente Médio, no Egito e na
53
Mesopotâmia) marcaram o início das primeiras civilizações (VICENTINO;
DORIGO, 2006, p.20).
Percebemos neste ponto uma aproximação da ideia defendida por Foladori (2001) de
que o fator primordial para o desenvolvimento da linguagem e da História se dá pelas relações
sociais, consideradas importantíssimas para que as técnicas de fabricação de instrumentos
fossem repassadas as futuras gerações. O desenvolvimento da linguagem tornou-se um
elemento facilitador para a sobrevivência, pois as gerações futuras eram conhecedoras de
ferramentas que facilitavam sua adequação a natureza de acordo com as suas necessidades e
possibilitando ainda sua transformação através do trabalho. O autor destaca que esta evolução
permitiu não a transformação dos aspectos técnicos, mas também a reprodução desta nova
sociedade no que diz respeito às diferenciações em classes sociais.
Como vimos, Vicentino e Dorigo (2006) abordam características para diferenciar o
Homem das diversas espécies como sua compleição física favorável, a importância dada à
produção de ferramentas através do “trabalho criativo”, o desenvolvimento da linguagem que
permitiu a transmissão do conhecimento e a existência do polegar opositor, fundamental nesta
diferenciação com as outras espécies.
Aproximam-se, assim, de Foladori (2001) no que diz
respeito ao fato de que não basta produzir artefatos para ser considerado humano, sendo
necessária a capacidade de acumulação e transmissão tanto das ferramentas quanto do
conhecimento para as gerações posteriores. Segundo Edgar Morin, em um texto presente na
obra analisada:
A Pré-história torna-se, mais e mais, ciência fundamental da hominização. Esta traz
em si o górdio animalidade/humanidade. Efetivamente, o processo de
hominização de 6 milhões de anos permite-nos imaginar a emergência da
humanidade a partir da animalidade. A hominização é uma aventura ao mesmo
54
tempo descontínua aparecimento de novas espécies: hábilis, erectus,
neandertalensis, sapiens, e desaparecimento das precedentes; surgimento da
linguagem e da cultura e contínua, no sentido em que prossegue em um processo
de bipedização, de manualização, de empertigamento do corpo, de cerebralização,
(...) de complexidade social, processo ao longo do qual surge a linguagem
propriamente humana, ao mesmo tempo em que se constitui a cultura: patrimônio
dos saberes, Know-How, crenças, mitos adquiridos e transmissíveis de geração a
geração. Assim, podemos introduzir em nossa reflexão o problema, em parte ainda
enigmático, da hominização, mas, ao menos, sabemos hoje que teve início há
muitos milhões de anos e adquiriu um caráter não apenas anatômico e genético, mas
também psicológico e sociológico, para tornar-se cultural, a partir de um certo
período. A hominização resulta em um novo ponto de partida: o humano.
Tudo isso deve contribuir para a formação de uma consciência humanística e ética
de pertencer à espécie humana, que pode ser completa com a consciência do
caráter matricial da Terra para a vida, e da vida para a humanidade (MORIN apud:
VICENTINO; DORIGO, 2006, p. 25).
Desta maneira, a criação de instrumentos ganha uma dimensão na qual as relações
sociais se mostram intrínseca, pois ainda, segundo Foladori (2001, p.78), a fabricação de
instrumentos “depende das relações sociais, baseadas em uma determinada forma de partilha
dos meios de produção herdada das gerações passadas”. Sendo assim, mais importante do que
a mudança causada pela criação de instrumentos esta a sua consequência nas relações sociais,
o que para o autor tem na relação do ser humano com o meio ambiente, a mediação do
trabalho, que se inter-relaciona com uma atividade sica, com um meio ambiente externo e
com meios de trabalho, que são transmitidos por processos de trabalhos anteriores.
Marx (1982), em “O Capital”, analisou a relação de interdependência entre Homem-
natureza, concluí que ela se de forma dialética, o trabalho adquire um caráter de mediador
da relação. Para Marx, o processo de trabalho é entendido como a força de interação presente
entre o Homem e a natureza, uma vez que, tanto o trabalhador (sujeito) quanto a matéria prima
(objeto) são fornecidos ao trabalho pela natureza e, sendo assim, a relação Homem-natureza
insere-se em um processo histórico. Para o autor:
55
Acima de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a Natureza, um processo
em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo
com a Natureza. (...) Ao atuar, por meio desse movimento, sobre a Natureza externa
a ele e ao modificá-la, ele modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza
(MARX, 1982, p. 149).
Foladori (2001) analisa a ligação entre as mudanças na relação Homem-natureza e
mudanças sociais dividindo as relações ecológicas em três níveis que representariam barreiras
ou desafios a serem superados pelos seres vivos: relação com o meio abiótico; relações com
outras espécies vivas e relações com os congêneres. Segundo o autor, as mudanças nas
relações entre o Homem e o meio ambiente e as mudanças sociais estão inter-relacionadas
quando o Homem busca soluções para este desafio. Deste modo:
A espécie humana, como os outros seres vivos, deve enfrentar a contradição com o
mundo abiótico, com as demais espécies vivas e com os seus semelhantes. A forma
de superar a primeira contradição é por meio do trabalho. Ao produzir, consegue
incorporar às suas necessidades parte do mundo abiótico e os demais seres vivos. A
segunda contradição se supera reproduzindo as outras espécies, ou submetendo-as a
determinadas condições de vida. A forma de superar a terceira contradição é
mediante a associação consciente. Claro que cada uma dessas superações significa
simultaneamente, novas dificuldades e contradições. Assim a produção trouxe
como consequências a depredação e a contaminação, o que hoje em dia se
manifesta na crise ambiental. A reprodução e o controle das espécies são
coadjuvantes na extinção e negação da biodiversidade. E a associação entre os
seres humanos percorreu o caminho conhecido: nas sociedades escravistas, tratou-
os, na prática, como se fossem de outra espécie, nas sociedades despóticas
tributárias e servis, submeteu-os pela força, na sociedade capitalista, submeteu-os
pelo mercado (FOLADORI, 2001, p.64).
No próximo sub-capítulo, iremos iniciar a análise a respeito das relações que este
homem irá estabelecer com o meio ambiente.
56
4.3.2 – Homem e Meio ambiente: Dominador, dominado ou relação dialética
?
Neste sub-capítulo, procuramos a concepção de meio ambiente presente na obra
analisada levando em consideração a existência de visões biocêntricas, antropocêntricas ou
dialéticas sobre a relação entre Homem e meio ambiente.
discutimos no capítulo sobre as matrizes teóricas que existem diferentes formas
desta relação. Uma visão defensora da natureza dominante (biocêntrica), outra na qual o
Homem exerce o papel de dominador (antropocêntrica) e uma terceira na qual se a relação
dialética entre homem e meio ambiente (dialética). A escolha de uma destas visões mostra
como os autores enxergam a participação ou não participação do Homem no meio ambiente.
A relação entre Homem- meio ambiente se mostra presente para Vicentino; Dorigo
(2006) na estrutura do livro chamada de “Bastidores da História” quando associam a contagem
de tempo com a natureza, uma vez que: “(...) várias civilizações estabeleceram uma divisão do
tempo adotando como base o movimento da Terra, do Sol e da Lua. (...) Decidimos que o dia
não começa ao nascer do Sol, mas aproximadamente seis horas depois que ele desaparece no
horizonte”.
Percebemos nesta citação a utilização de um fenômeno natural como o nascer e o por
do sol como fatores que revelam escolhas a respeito de contagem de tempo, desta maneira a
natureza adquire uma função de regulador social, pois ao se determinar dia e noite por
escolhas naturais aleatórias encontramos a adequação a elementos da fisiologia como a visão
(quando é possível enxergar sem auxílio é dia, quando não, é noite) o elemento norteador do
tempo.
57
Mesmo quando o meio ambiente, segundo os autores, aparece como fator de
desvantagem territorial ou climática, esta dificuldade, ao impor um determinado tipo de
atividade econômica, pode favorecer as relações sociais de alguns povos, como os gregos:
A civilização grega concentrou-se no sul da Península Balcânica, nas ilhas do Mar
Egeu e no litoral da Ásia Menor. O relevo montanhoso e o consequente isolamento
das localidades facilitaram a organização de cidades-Estado
9
autônomas,
característica marcante na Grécia Antiga (...).
Vários fatores, como as diversas transformações sociais, o solo pouco fértil e as
dificuldades de aproveitamento agrícola, contribuíram para expansão a comercial e
marítima dos gregos a partir do século VIII a.C. Estabeleceram-se colônias gregas
em diversos pontos da orla do Mar Mediterrâneo, especialmente no sul da Itália, na
região conhecida como Magna Grécia (VICENTINO; DORIGO, 2006, p.46).
Assim, o meio ambiente é útil mesmo ao impor dificuldades ao ser humano, pois como
no caso citado, é exatamente o relevo grego, que segundo os autores, contribuiu para o
desenvolvimento das suas estruturas políticas Cidades-Estados –, atividades econômicas
expansão comercial e marítima – e relações com outros povos – colônias gregas. Neste caso, a
natureza adquire um caráter de incentivo para o desenvolvimento, e não mais um desafio para
o Homem. No caso egípcio, é exatamente pela necessidade da utilização das cheias do Rio
Nilo que se construíram diques (VICENTINO; DORIGO, 2006, p.31). Os autores, ao se
concentrarem exclusivamente na atuação direta do homem sobre a natureza, como elemento
dominante, sem discutir os impactos socioambientais geradas por esta atuação, acabam por
defender uma visão antropocêntrica (na qual o homem domina a natureza, estando “fora” dela)
e uma visão acrítica da relação entre Homem e meio ambiente.
9
A civilização grega se iniciou quando pequenas unidades agrícolas auto-suficientes se formaram (genos), o
crescimento demográfico levou então a uma série de disputas territoriais levando à união de diversos genos
(fratrias) surgindo desta união as tribos. A união das tribos, por sua vez, levou a formação de povoados (demos).
Finalmente, com o advento de novos grupos sociais e a propriedade privada da terra surgem as Cidades-Estados
(pólis) (VICENTINO; DORIGO, 2006).
58
As condições naturais também contribuem para uma organização e um intercâmbio
entre as cidades, o que pode ser visto ao se comparar as Cidades-Estados gregas de Atenas e
Esparta, pois de acordo com os autores:
Esparta situava-se na região da Lacônia, na Península do Peloponeso, numa planície
fértil que era uma exceção no conjunto geográfico grego. Essa planície apresentava-
se isolada das regiões vizinhas por altas montanhas. (...) As condições locais mais
favoráveis de subsistência o estimularam a atividade comercial, fazendo com que
os espartanos não se voltassem imediatamente ‘a colonização.(...) Atenas, situada na
região da Ática, sul da Grécia, tinha no porto de Pireu um centro irradiador para sua
expansão. (...) A escassez de terras férteis e interesses comerciais fizeram com que
os atenienses, assim como os gregos de outras cidades-Estado, se lançassem em
direção ao Mediterrâneo, com o objetivo de fundar colônias comerciais ou de
povoamentos (VICENTINO; DORIGO, 2006, p.49-50).
Durante a Idade Moderna (séculos XV XVIII) mais especificamente no processo de
expansão marítima, as condições climáticas ao impedirem a produção de determinados
produtos consumidos na Europa, de acordo com Vicentino e Dorigo (2006) contribuíram para
o interesse no comércio de especiarias com as Índias e para o modelo adotado na colonização
das Américas, uma vez que o clima definiria a atividade econômica de cada região e serviria
de fator determinante para o desenvolvimento das sociedades industriais.
Mesmo apresentando aspectos naturais como fatores que viriam a dificultar sociedades
a se estabelecerem, como as egípcias, ou desenvolverem-se economicamente, como a América
e Europa, Vicentino e Dorigo (2006) apontam aspectos positivos fornecidos pelos recursos
naturais. Os autores afirmam, por exemplo, a existência de recursos minerais presentes na
59
Inglaterra, como uma das pré-condições para que a Revolução Industrial
10
ocorresse naquele
país:
Completando o quadro, a Inglaterra contava com abundância de ferro e carvão,
matérias-primas fundamentais para a construção e o funcionamento das máquinas e
para a produção de energia.(...) O uso da energia elétrica e do petróleo, graças à
maior potência e eficiência dessas fontes de energia, permitiu a intensificação e
diversificação do desenvolvimento tecnológico (VICENTINO; DORIGO, 2006,
p.287-289) [grifo dos autores].
A relação homem-natureza também é mostrada como forma de status e controle social
em diversas sociedades ao longo da História. Para os autores:
Do ponto de vista social, destacava-se a camada dos patrícios, grandes
proprietários de terras, formando uma aristocracia detentora de privilégios
(VICENTINO; DORIGO, 2006, p.64).
A ideia de Estado e bem público desapareceu com o Império Romano, passando a
terra a ser distribuída entre clero e nobreza, como recompensa por serviços
prestados. A figura do rei tornava-se assim, bastante frágil entre os francos,
submetida ao poder dos proprietários de terra (VICENTINO; DORIGO, 2006, p.93)
[grifo dos autores].
A propriedade dos recursos naturais leva a um caráter de diferenciação social, pois
permite a exploração por parte de uma classe dominante sobre os que não possuem tais
recursos, constituindo-se a propriedade fundiária como um grande fator de diferenciação,
principalmente nas primeiras sociedades formadas historicamente até os nossos dias.
Vicentino e Dorigo (2006) afirmam que “As terras eram consideradas propriedades dos
deuses, cabendo ao homem servi-los com o trabalho agrícola, com a construção de templos
os zigurates [grifo dos autores]” (p.37). Desta maneira, mesmo, os autores, não afirmando
10
Podemos considerar ainda como pré-condições importantes para a Inglaterra ser a pioneira na Revolução
Industrial: Uma burguesia politicamente atuante, uma mão de obra barata e abundante e uma acumulação
primitiva de capital (VICENTINO; DORIGO, 2006).
60
exclusivamente a cultura como determinada pelo meio ambiente, a propriedade de recursos
naturais passa a ser legitimada por fatores de ordem religiosa (cultural).
A análise feita pelos autores no que diz respeito à Idade Média (séculos V ao XV)
enfoca como característica marcante o trabalho, destacando a estreita ligação existente entre o
Homem e a terra. A agricultura é definida como a principal atividade econômica dentro de
uma sociedade quase que exclusivamente rural. As próprias relações sociais e políticas se dão
a partir da relação entre o Homem e a terra:
O sistema feudal era caracterizado por uma organização peculiar quanto à
dominação e subordinação da maior parte da população a um pequeno grupo. A
subordinação da população rural foi imprescindível à ordem que se edificou na
Europa Ocidental durante a Idade Média (...).
Para o conjunto europeu, do ponto de vista econômico, o sistema feudal era
caracterizado por predomínio da produção para consumo local, comércio bastante
reduzido ou até inexistente e ausência ou baixa utilização de moedas. O feudo,
unidade de produção agrária, pertencia a uma camada de senhores feudais, que
poderiam ser membros do alto clero ou nobres guerreiros (...).
Os senhores feudais, por sua vez, ligavam-se entre si, travando relações de
suserania e vassalagem. Tais relações eram estabelecidas quando um nobre
concedia, por exemplo, terras a outro nobre menos poderoso em troca de ajuda em
guerras e outras obrigações, como tributos (VICENTINO; DORIGO, 2006, p. 98-
101) [grifos dos autores].
A natureza (terra) adquire, para esta sociedade medieval, um caráter fundamental na
teia de relações sociais, uma vez que, o feudo pertencia aos senhores feudais, podendo ser
nobres ou ainda membros do alto clero. A terra possuía importante valor mesmo na relação
entre nobres, pois a sua concessão a um nobre de menos posse significava o auxílio em
guerras e o pagamento de tributos ao “doador”.
A partir do século XV, começamos a perceber a transição deste mundo medieval para a
chamada Idade Moderna, formam-se os Estados Nacionais, o poder político se concentra nas
61
mãos de reis (absolutismo) que passam a intervir nas práticas econômicas (mercantilismo),
durante este processo, com a expansão marítima e a chegada ao continente americano, foi
possível o registro das sociedades ameríndias. Desta forma podemos dizer que para os Incas:
A terra era considerada propriedade do imperador, administrada por funcionários
locais (curacas), que, em cada aldeia (ayllu), determinavam a organização do
trabalho, o montante dos impostos destinados ao imperador e a mita, trabalho
compulsório em obras públicas. Estes incluíam obras de irrigação e “terraços”
cultiváveis nas íngremes encostas das montanhas andinas, garantindo a produção de
excedentes agrícolas e, em última análise, a própria sobrevivência do povo inca
(VICENTINO; DORIGO, 2006, p.208).
Os autores, ao tratarem do Renascimento Cultural e Científico destacam as mudanças
de pensamento da transição da Idade Média para a Idade Moderna, chamando atenção para a
passagem de uma visão teocêntrica, na qual Deus é o centro do universo e, portanto explicação
para tudo, para uma visão antropocêntrica, em que o Homem passa a ser o centro do universo.
Nesta visão, o homem adquire o papel de dominador da natureza (antropocentrismo), o que
servirá de base para a matriz discursiva da eficiência (ACSELRAD, 1999). Nesta mudança de
visão o Homem passa a estabelecer uma relação diferente com a natureza daquela determinada
durante a Idade Média (dominada por uma visão teocêntrica), uma vez que:
As expressões artísticas renascentistas, fundadas no estudo do homem e da natureza
e no espírito crítico, desdobram-se no desenvolvimento científico, notadamente nas
áreas da física, astronomia, matemática e biologia. Contrariando as antigas
concepções geocentristas defendidas pela Igreja, ganhou aceitação definitiva na
época a teoria heliocêntrica, ou seja, a ideia de que é o Sol que se encontra no
centro do universo (VICENTINO; DORIGO, 2006, p.170).
O advento da modernidade significou uma mudança paradigmática na
percepção existente entre Homem e natureza, a partir do momento em que o paradigma
organísmico, ou seja, a gica de uma natureza vista como algo vivo e animado, na qual as
espécies “procuram realizar seus fins naturais” (GRUN, 1996, p.27), deu origem a uma visão
62
de natureza mecânica e sem vida, entendida principalmente como fonte de matéria prima
(paradigma mecanicista). Nesta mudança, segundo Grun (1996), a natureza transforma-se em
objeto de estudo, passando por um processo de desantropomorfização
11
. Segundo Foladori
(2001):
com a Idade Moderna (...) a natureza começa a ser concebida como uma
soma mecânica de partes, possível de ser reordenada e explorada de forma
crescente. A natureza se dessacraliza e a ideia de progresso substitui as
antigas concepções cíclicas (FOLADORI, 2001, p.109)
A Revolução Industrial do século XVIII e a revolução dos transportes e
comunicação do último quarto do século XIX, que permitiu a expansão
imperialista, colonização e conquista completa do mundo provocaram um
ponto de inflexão na relação do ser humano com a natureza (FOLADORI,
2001, p.110).
Esta a lógica (mecânica) proveniente de Descartes fez com que a natureza fosse
transformada meramente em um objeto, separando radicalmente sujeito (Homem) e objeto
(Natureza) e desta forma legitimando a metodologia da ciência moderna. Ainda de acordo com
Grun (1996, p.35) “se a razão é autônoma, a natureza não pode sê-lo. Então, a natureza precisa
ser dominada”. Porém para dominar esta natureza se faz necessário que o Homem se situe fora
dela (dualismo Homem-natureza). Esta ideia leva a crer, para o paradigma mecanicista, que a
natureza constituía-se de uma fonte inesgotável de recursos para o desenvolvimento, sendo
subjugada ao poder do Homem. Vale destacar, que na obra analisada: Vicentino; Dorigo
(2006, p.218), Descartes aparece simplesmente como defensor do racionalismo, não sendo
11
A natureza passa por um processo de desantropomorfização na medida em que há na modernidade, a partir de Descartes, uma ruptura entre
o mundo da natureza, realidade objetiva, âmbito das sensações e experiências e o domínio subjetivo das idéias, do pensamento humano. Essa
ruptura, ainda que tenha como interesse precípuo o privilégio da razão, do entendimento humano, frente ao mundo objetivo da natureza
idealismo abre a possibilidade de pensar essa mesma natureza como tendo uma existência autônoma e, portanto, com princípios próprios de
funcionalidade – realismo (DESCARTES, René.Meditações. 1973)
63
citado que a partir deste conceito percebemos uma separação entre Homem e Natureza
configurando-se desta forma na perpetuação de uma concepção reducionista de meio
ambiente. Segundo Grun (1996) a Educação Ambiental é impossível ao desenvolver uma
visão acrítica das questões ambientais, privilegiando ações individuais, sem, no entanto
identificar responsáveis pela degradação ambiental. Brugger (1994) afirma que ao não se
problematizar as questões sociais a educação ambiental assume um caráter de “adestramento
ambiental”, no qual o indivíduo pode até vir a mudar seu comportamento em relação ao meio
ambiente, porém o faz sem uma consciência do porque da necessidade de mudança.
Vicentino; Dorigo (2006) na parte do livro do professor denominada “assessoria
pedagógica” (p.46), afirmam que:
Em sua obra, Enrique Dussel (no livro 1492: O Encobrimento do Outro.
Petrópolis: Vozes, 1993) afirma que Portugal e Espanha foram as primeiras
nações cujas atitudes coletivas de expansão e conquista podem ser
caracterizadas como renascentistas. Por isso introduz-se nesse ponto o estudo
do Renascimento cultural.
O materialismo venceu, sujeitando a arte, que perdeu sua autonomia criativa.
Como manifestação, a arte hoje, de forma geral, não mais busca resolver as
tensões nascidas no espírito humano devido ao capitalismo, uma vez que a
própria obra de arte tem valor de mercado e, muitas vezes, o artista como
prenunciado no Renascimento, apenas controla sua linha de produção
artística.
Um argumento possível quanto à questão é que, caso o artista consiga se
desvincular das pressões materiais do mundo capitalista, provavelmente
estará confinado, longe da realidade, inatingível, e sua arte dificilmente será
compreendida, como é bastante comum hoje em dia.
Podemos perceber, com a primeira citação, que para os autores a gica da mudança
paradigmática da relação entre Homem e Meio ambiente no que diz respeito à cultura, se
inicia por um aspecto de expansão econômica. Para Pádua (1987, p. 16), o próprio
“descobrimento” do Brasil alia estas duas visões: uma renascentista “fascinado com os relatos
64
de viagem e o alargamento dos horizontes” e outro mercantilista “interessado em expandir o
espaço de comércio, estabelecer novos monopólios, explorar novas riquezas e aumentar a
renda dos Estados Nacionais em construção”. Para, além disto, a segunda e terceira citação
são gabaritos da pergunta feita pelos autores na página 172 que diz “Levando em consideração
o posterior desenvolvimento do capitalismo até os dias de hoje, qual teria sido o resultado do
embate entre neoplatonismo e materialismo?”. Como vimos os autores demonstram em sua
resposta, uma visão crítica através da qual o advento do materialismo (identificado com o
modelo capitalista) impôs as sociedades atuais sua visão de mundo, impedindo que qualquer
um que desenvolva uma forma de arte fora do que é defendido pelo sistema hegemônico
capitalista possa prosperar artisticamente. Podemos então afirmar que a própria visão artística
que se pode ter de elementos naturais, devem ser aquela que represente a perpetuação do
modelo de desenvolvimento capitalista.
Como destacado no sub-capítulo anterior, a diferença entre homens e demais espécies
se faz na capacidade humana de superar as dificuldades impostas pelo meio ambiente através
da criação e utilização de ferramentas, e da transmissão de conhecimento para as gerações
futuras. Porém, mesmo este ser humano tão apto a estas superações são definidos como
subjugado à natureza em determinados momentos da sua história, sendo atribuído pelos
autores, ao meio ambiente um papel de destaque no tipo de trabalho, mentalidade, relações
sociais e aspectos religiosos desenvolvidos ao longo da história. As condições ambientais
servem como um dos fatores primordiais para definir o tipo de atividade econômica a ser
desenvolvidas em determinadas regiões, levando a um tipo de trabalho específico e
naturalmente das relações exercidas entre os povos. Devemos destacar que o meio ambiente
65
não é o único fator explicativo para a cultura dos povos, encontrando também elementos como
a religiosidade, formas de trabalho e mesmo relações sociais. Vicentino e Dorigo (2006)
analisam durante sua obra a forma com a qual o clima viria a influenciar nas formações das
primeiras sociedades ainda durante a Idade Antiga (3000 a.C. – século V).
Rocha (2003) destaca a existência de uma linha de pensamento chamada de “escola de
pensamento difusionista” ou “escola americana”, que defende a ideia de que as diversas
culturas humanas são determinadas em alguns momentos pelas línguas faladas, pelo ambiente
que envolve os grupos ou pelos indivíduos que criaram estas culturas. Damos a isso o nome de
“relativismo cultural”, enfatizando os processos de troca e empréstimo cultural. Cabe a esta
escola de pensamento uma ruptura com a absolutização do “eu”, sendo o primeiro movimento:
a perceber a importância de estudar as culturas humanas nos seus particulares. Cada
grupo produzia a partir de suas condições históricas, climáticas, lingüísticas, etc.,
uma determinada cultura que se caracterizava, então, por ser única, específica
(ROCHA, 2003, p.40).
Vicentino e Dorigo (2006) se aproximam desta linha de pensamento ao afirmarem na
seção “Discutindo a História” que:
É preciso considerar que a civilização não é um estágio mais avançado que todos os
povos teriam necessariamente de alcançar, como se fossem pessoas que passam por
fases de crescimento e amadurecimento. Não é possível comparar as transformações
das sociedades humanas com a evolução das espécies ou com o crescimento dos
seres vivos, pois essa atitude abre portas para preconceitos das mais diversas
espécies e racismo.
O que existe são diferentes respostas de distintos grupos humanos aos seus
respectivos meios, resultando em diferentes culturas, que não são classificáveis
como melhores ou piores entre si, como mais ou menos “avançadas”. Aliás, cabe
mesmo perguntar: seriam avançadas ou adiantadas em relação a quê? (VICENTINO;
DORIGO, 2006, p.28)
66
No próximo sub-capítulo procuramos identificar no livro analisado de que forma o
meio ambiente e sua relação com a sociedade ocorre, a partir de um conceito baseado no
desenvolvimento tecnológico matriz da eficiência ou buscando uma justiça social matriz
da equidade (ACSELRAD, 2001).
4.3.3 Relação Sociedade Meio ambiente: Capitalismo ou Justiça social, qual o caminho
para um desenvolvimento sustentável
?
Neste sub-capítulo buscaremos analisar como o livro didático aborda a relação
sociedade e meio ambiente, pois informa a sua noção de desenvolvimento sustentável, e mais
especificamente como a sustentabilidade presente no modelo de desenvolvimento entre o
modo de produção capitalista e um modelo de justiça social.
Retomando as discussões presentes no capítulo referente às matrizes teóricas de meio
ambiente, encontramos o embate entre a visão da “Matriz Discursiva da Eficiência” e a da
“Matriz Discursiva da Equidade” (ACSELRAD, 1999). Para a primeira delas, o
desenvolvimento tecnológico permitirá um desenvolvimento sustentável, enquanto para a
segunda é necessário que se faça uma articulação entre os princípios de justiça e ecologia,
tendo por noção primeira que as raízes da degradação ambiental e da desigualdade social são
as mesmas, ou seja, o modo de produção capitalista.
Podemos considerar que o modo de produção capitalista tem início quando da transição
da Idade Média para a Idade Moderna, o que foi abordado no item anterior. É nesta fase que
67
percebemos o fim da ordem feudal, a privatização da terra, ou seja, sua transformação em
mercadoria, a perda dos meios de produção por parte de uma população carente e a formação
de uma massa de trabalhadores assalariados constituídos apenas de sua força de trabalho. Para
além destes fatores, destacamos um aumento acelerado na produção de bens de consumo. O
binômio desenvolvimento econômico e questão ambiental poderia ser melhor abordada através
da charge encontrada na página 584, publicada na Folha de São Paulo, em 2004, intitulada: “A
onda do crescimento”. Nela, uma família carente, moradora de um barraco distante da cidade,
em meio a lixo, uma paisagem desmatada e pratos vazios, a mulher da família pergunta:
“querido, você tem certeza de que essa coisa chega aqui até a hora do almoço?”.
Fonte: Google.com.br
Desta maneira percebemos que os autores se restringiram a charge e ao comentário de
que esta “retrata as limitações do crescimento econômico daquele ano” (VICENTINO;
68
DORIGO, 2006, p.584) não problematizando as questões relacionadas à degradação ambiental
causada pelo empobrecimento e falta de saneamento básico que a charge permite desenvolver,
buscando um debate a respeito dos modelos de desenvolvimento sustentável (eficiência x
equidade) próprios do modelo de produção capitalista.
Para Foladori (2001), na relação da sociedade humana com o seu ambiente intervém
três elementos-chave: o trabalho (ou atividade humana), os meios de produção (resultado de
trabalhos passados) e a natureza. É na combinação destes fatores que se encontra a chave para
o entendimento dos problemas derivados da velocidade de utilização e dos recursos naturais.
Ainda, segundo o autor, os homens se relacionam de diferentes formas: o reino mineral, outras
espécies e seus semelhantes. Nos dois primeiros casos esta relação se a partir de critérios
técnicos, configurando-se com critérios estabelecidos por limites físicos, enquanto no terceiro
ocorre através de relações sociais que determinam as relações técnicas. Para o autor:
as relações sociais de produção passam a regular o tipo de recurso natural a se
utilizar, o espaço a se ocupar, o ritmo de transformação da natureza e o caráter
renovável ou não dos recursos (...) as relações sociais submetem os limites físicos,
assim como as diferenças entre recursos renováveis, à sua dinâmica (FOLADORI,
2001, p.128-129).
Com a consolidação do capitalismo como sistema econômico inicialmente com a
Revolução Industrial na segunda metade do século XVIII – percebemos um aumento intensivo
na produção de mercadorias através do trabalho assalariado. Nesta fase, o lucro é possibilitado
a partir de um aumento da produtividade do trabalho, principalmente através do
desenvolvimento tecnológico dos meios de produção. Em contrapartida, esta maior
produtividade leva necessariamente a um aumento na necessidade de mercados consumidores
e de recursos naturais, o que por sua vez irá caracterizar uma nova etapa na atuação das
69
sociedades urbano industriais com o meio ambiente. Para Foladori (2001, p.103-104), os
problemas ambientais podem ser reduzidos:
a) depredação dos recursos como é o caso do solo do qual se extraem riquezas
minerais, agrícolas, ou no qual se constrói; ou no caso de outros seres vivos que se
extinguem a ritmos mais elevados que os da própria reprodução natural; ou da
depredação da água subterrânea por sobre utilização; b) poluição por causa de
detritos que não se reciclam naturalmente ao ritmo de sua geração, como é o caso
dos resíduos radioativos, da poluição do ar, dos cursos d’água ou mares e oceanos,
ou a poluição visual nas cidades etc.; por último c) superpopulação e pobreza.
Neste último caso, trata-se da população que não está plenamente incorporada ao
ciclo do capital.
Como dito anteriormente, a necessidade cada vez maior de matérias primas para
atender a formação de novos mercados, leva a um aumento dos problemas ambientais. O meio
ambiente passa a ser ao mesmo tempo, fonte de recursos naturais e depósito de dejetos, tanto
das indústrias como da sociedade que consome cada vez mais. A exploração da natureza
acompanha a exploração da sociedade em geral, uma vez que esta sociedade passa a ser
composta por uma enorme gama de trabalhadores, que destituídos dos meios de produção,
passam a viver da venda de sua força de trabalho. Esta relação caracteriza o crescimento dos
problemas sociais presentes atualmente nas sociedades e que se articulam aos problemas
ambientais nos centros urbanos, como a falta de saneamento básico e a ocupação de áreas com
alta declividade. O meio ambiente e a força de trabalho passam a ser vistos como recursos
necessários para o desenvolvimento do modo de produção capitalista.
Devemos destacar que esta visão de modelo de desenvolvimento baseado em uma
exploração desenfreada dos recursos naturais, prossegue até o século XXI, quando as
conferências internacionais a respeito da utilização dos recursos naturais começam a atentar
para o risco do fim destes. Em 1987, o Relatório Brundtland definia como desenvolvimento
70
sustentável àquele que atende as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade
de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades” (ACSELRAD; LEROY,
1999, p.17), e sendo assim, capaz de garantir um crescimento econômico vigoroso, mas
também social e ambientalmente sustentável.
Vicentino e Dorigo (2006), ao discutirem a evolução do sistema capitalista da primeira
Revolução Industrial (modelo capitalista industrial ou de livre concorrência) ao dias atuais
(modelo neoliberal), dão ênfase apenas a dois aspectos, envolvidos neste processo: o primeiro,
diz respeito aos avanços tecnológicos possibilitados por estas revoluções, e o segundo a partir
da alienação do trabalhador. Para os autores:
Um dos grandes dramas do processo da Revolução Industrial foi a alienação do
trabalhador em relação à sua atividade. Ao contrário do artesão da Antiguidade ou
da Idade Média, o operário moderno perdeu o controle do conjunto da produção.
Passou a ser responsável por apenas uma parte do ciclo produtivo de uma
mercadoria, ignorando os procedimentos técnicos envolvidos.
Além disso, recebendo ‘salário’ em troca da atividade mecânica realizada, o operário
alienava o fruto do seu trabalho ao capitalista, transformando-o em mercadoria
sujeita ao mercado.
Pode-se falar de um ‘embrutecimento’ do trabalhador? Você diria que isso
caracteriza os trabalhos nos dias de hoje? (VICENTINO; DORIGO, 2006, p.286).
Como vimos anteriormente, a relação existente entre o homem e o meio ambiente para
Grun (1996) se através de um dualismo responsável por uma alienação do homem em
relação a natureza (por não se considerar como parte integrante do meio ambiente
caracterizando a visão antropocêntrica). Como visto em Vicente e Dorigo (2006) o advento da
modernidade levou a uma alienação relacionada ao “mundo do trabalho”.
71
Devemos destacar que falta aos autores uma problematização a respeito da alienação
em relação à natureza derivada do modo de produção capitalista. Podemos afirmar que grande
parte desta alienação é derivada, na realidade, de uma “falsa consciência ambiental”
(NOVICKI, 2007), na qual o homem ao não se considerar parte integrante do meio ambiente
não se relaciona com o mesmo de forma crítica. Ao considerarmos a alienação para Marx, esta
se através de quatro dimensões, onde: (a) o homem está alienado da natureza
(“estranhamento da coisa”), ao não se perceber como “humanamente natural ou naturalmente
humano” (MARX, 2004), (b) o homem está alienado de si mesmo ou de sua própria atividade
vital, do trabalho (“auto-estranhamento”), (c) do seu “ser genérico”, como membro da espécie
humana, percebendo-se apenas individualmente e (d) alienado do homem, dos outros homens,
não tendo consciência do seu meio (MARX apud: NOVICKI, 2007, p.147-149).
Vale destacar que na obra analisada não encontramos referências a esta articulação
entre desigualdade/exclusão social e degradação ambiental, seja em texto, exercícios ou
esquemas resumo, pois a relação entre homem e natureza, assim como suas consequências, são
recursos importantes para a acumulação capitalista.
O crescimento acelerado da produção, principalmente pela eclosão da Revolução
Industrial, leva a um entendimento dos recursos naturais como fatores determinantes para o
desenvolvimento tecnológico. Para os autores, “o uso da energia elétrica e do petróleo, graças
à maior potência e eficiência dessas fontes de energia, permitiu a intensificação e
diversificação do desenvolvimento tecnológico” (VICENTINO; DORIGO, 2006, p.289). Os
autores não abordam as relações existentes entre o desenvolvimento tecnológico e o meio
72
ambiente, e, desta maneira, ao não identificar esta correlação, fixando-se apenas nos aspectos
tecnológicos, acabam se aproximando da matriz discursiva da eficiência (ACSELRAD, 1999)
para qual o desenvolvimento tecnológico gerando “tecnologias limpas” levarão a um
desenvolvimento sustentável.
Os autores destacam as transformações ocorridas no meio ambiente pela Revolução
Industrial ao se utilizarem de uma pintura de William Williams de 1777, quando afirmam, na
legenda da imagem, que “no campo além das mudanças socioeconômicas, as transformações
técnicas afetaram a tradicional paisagem rural” (VICENTINO; DORIGO, 2006, p.287). Ainda
no que diz respeito à imagem, afirmam que “As chaminés, por todo o país, eram muito mais
que simples marcas da paisagem: eram símbolos de uma ampla revolução produtiva e social”
(Ibdem). Vicentino e Dorigo (2006) ao se utilizarem desta imagem e desta citação abrem
espaço para que se analise a questão tecnológica (chaminés), cabendo então ao professor
utilizá-la ou não para discutir seus impactos sócio-ambientais. Por outro lado, esta imagem
pode levar a uma visão romanceada, na qual a beleza da natureza é estragada pelo cinza das
chaminés, e desta maneira, se aproximando da matriz discursiva da auto-suficiência
(ACSELRAD, 2001), que defende a necessidade de uma volta ao passado, para uma vida mais
harmoniosa com a natureza. Uma questão que pode ser colocada neste momento advém do
fato de se perceber qual a formação ambiental que este docente possui, podendo atentar para
aspectos apenas positivos da tecnologia (desta forma de adequando a matriz da eficiência) ou
problematizando seus aspectos de degradação ambiental e desigualdade social (atrelando-se a
matriz da equidade), permitindo uma reflexão sobre a subjetividade do professor ou sobre sua
formação continuada.
73
Fonte: Google.com.br
Conforme diria Mauro Guimarães (2004), a formação dos professores que se utilizam
do livro didático, acaba por influenciar nos autores que produzem o material didático,
predominando–se, muitas vezes, uma abordagem conservadora sobre Educação Ambiental.
Para Vicentino e Dorigo (2006), o trabalhador vai aos poucos perdendo o “domínio”
sobre a utilização das matérias-primas, sendo agora controlados pelas necessidades do
74
processo de acumulação capitalista, para isto os autores se utilizam de uma passagem do livro
de Leo Huberman (1979), na qual o autor classifica os sistemas de produção em:
1. Sistema familiar: os membros de uma família produzem artigos para o seu
consumo, e não para a venda. O trabalho não se fazia com o objetivo de atender ao
mercado. Princípio da Idade Média.
2. Sistema de corporações: produção realizada por mestres artesãos independentes,
com dois ou três empregados, para o mercado, pequeno e estável. Os trabalhadores
eram donos tanto da matéria-prima que utilizavam, como das ferramentas com que
trabalhavam. Não vendiam o trabalho, mas o produto do trabalho. Durante toda a
Idade Média.
3. Sistema doméstico: produção realizada em casa para um mercado em
crescimento, pelo mestre artesão com ajudantes, tal como no sistema de
corporações. Com uma diferença importante: os mestres já não eram independentes;
tinham ainda a propriedade dos instrumentos de trabalho, mas dependiam, para a
matéria-prima, de um empreendedor que surgia entre eles e o consumidor.
Passaram a ser simplesmente tarefeiros assalariados. Do século XVI ao XVIII
4. Sistema fabril: produção para um mercado cada vez maior e oscilante, realizada
fora de casa, nos edifícios do empregador e sob uma rigorosa supervisão. Os
trabalhadores perderam completamente sua independência. Não possuem a matéria-
prima, como ocorria no sistema de corporações, nem os instrumentos, tal como no
sistema doméstico. A habilidade deixou de ser tão importante como antes, devido
ao maior uso da máquina. O capital tornou-se mais necessário do que nunca. Do
século XVIII até hoje
(VICENTINO; DORIGO, 2006, p.291).
Foladori (2001) identifica particularidades nas formas sociais de produção, decisivas
na determinação dos materiais utilizados, seu ritmo de utilização e relacionamento com o meio
ambiente. Desta maneira para o autor:
Algumas sociedades de caçadores e coletores parecem não ter necessidades
“ilimitadas” (...) essas sociedades subutilizam seus recursos e sua capacidade de
trabalho (SAHLINS [1971]). Assim, não “avançam”; os recursos da natureza
utilizados são sempre relativamente os mesmos, e é cíclico o seu ritmo de utilização.
Nesse exemplo, não seria a caça ou a coleta, como relações técnicas o que estaria
impedindo o progresso ou limitando as necessidades.
(...) na Antiguidade clássica, o fato de que o trabalho fosse trabalho escravo e,
portanto, desprovido de interesse para o trabalhador fazia com que os meios de
trabalho fossem permanentemente deteriorados; não havia interesse pela inovação
tecnológica, e a sociedade, em seu conjunto, considerava o trabalho degradante, a
75
ponto de os avanços nos conhecimentos pouco se traduzirem em avanços concretos
nas forças produtivas, principalmente na produção de alimentos e mineração,
atividades prioritariamente realizadas por escravos.
(...) a economia mercantil se caracteriza pelo estímulo que a concorrência impõe aos
diferentes produtores, com o conhecido resultado de que as forças produtivas se
desenvolvem mais rapidamente que em qualquer etapa anterior da humanidade.
Assim, essas diferenças na forma social de produção (em nossos exemplos,
sociedades de apropriação coletiva, escravista e mercantil) são determinantes do tipo
de recurso que se utiliza, da velocidade com que se desenvolve a técnica e do
relacionamento com o meio ambiente (FOLADORI, 2001, p.105)
Podemos perceber que, ao mesmo tempo, as sociedades se desenvolvem
tecnologicamente, as suas relações como os recursos naturais tendem a se agravar, uma vez
que o aumento do consumo leva ao aumento da degradação ambiental e da poluição gerada
pelo desenvolvimento deste modelo econômico (FOLADORI, 2001).
Nos exercícios propostos nas ginas 292 e 293, os autores pedem que os alunos
comparem a ideia de “superação da ignorância” em dois textos “escritos em momentos
distintos: o primeiro no auge da Revolução Industrial do século XIX, e o segundo, mais
recente, do final do século XX. Ambos tratam das necessidades e exigências da educação”
(VICENTINO ;DORIGO, 2006, p.292). O primeiro, de 1869, diz que “um povo pode atingir
bem-estar material sem táticas subversivas se ele for cil, trabalhador e se esforçar sempre
para melhorar”, o segundo, de 1995, afirma que: “a missão fundamental da educação consiste
em ajudar cada indivíduo a desenvolver todo seu potencial e a formar-se um ser humano
completo, e não um mero instrumento da economia; a aquisição de conhecimentos e
competências deve ser acompanhada pela educação do caráter, a abertura cultural e o despertar
da responsabilidade social”, permitindo discutir desta maneira a função da educação como
sendo de sujeição (texto 1) ou libertação (texto 2) (MÉSZÁROS, 2005).
76
Para Vicentino e Dorigo (2006), a expansão imperialista do século XIX buscava
expandir mercados consumidores, fornecedores de matérias primas além de absorver a
população excedente da Europa e de investir capitais excedentes, sendo assim:
o neocolonialismo do século XIX necessitava de mercados consumidores de
manufaturados e fornecedores de matérias-primas (ferro, cobre, petróleo, manganês,
trigo, algodão, etc.). Além disso, as potências buscavam, no momento, colônias
para instalar parte de seu excedente populacional e novas áreas de investimentos de
capitais (VICENTINO; DORIGO, 2006, p.356) [grifo dos autores].
Devemos lembrar que como apresentado anteriormente, o desenvolvimento
tecnológico levou a um aumento populacional que por sua vez, gerou um aumento na
necessidade de consumo. A correlação entre estes dois elementos gerou uma necessidade de se
buscar matérias primas e escoar a população excedente da Europa para outros pontos do globo
terrestre, dando início ao processo de neocolonialismo.
Esta expansão por matérias-primas (recursos naturais) e mercado consumidor é
responsável, para os autores, por uma série de conflitos locais e internacionais, levando
inclusive a eclosão da primeira guerra mundial:
A presença inglesa na África desdobrou-se em várias disputas coloniais, tendo sido
a Guerra dos Bôeres (1899
1902) a mais importante. Desde as guerras
napoleônicas, a Inglaterra dominava a Colônia do Cabo (África do Sul),
entrando em atrito com os chamados bôeres, ou africânderes, colonos
holandeses que tinham fundado as repúblicas livres de Orange e Transvaal
[grifos dos autores]
.
Com a descoberta de diamantes e ouro na região de Johanesburgo, no Transvaal, as
lutas se intensificaram, pois a descoberta atraiu estrangeiros, muitos dos quais
súditos britânicos
. Por fim a Inglaterra anexou o Orange e o Transvaal ‘as
colônias de Cabo e Natal, formando em 1910, a União Sul-Africana
(VICENTINO; DORIGO, 2006, p.359).
77
No final do século XIX, o mundo se sujeitava à supremacia econômica de algumas
potências capitalistas européias, sobretudo a Inglaterra. Surgiam, entretanto,
indícios do deslocamento desse centro dinâmico, pois alemães e norte-americanos
sobrepunham-se aos ingleses na produção de ferro e aço, matérias-primas
fundamentais para o desenvolvimento do período (VICENTINO; DORIGO, 2006,
p.383).
Para os autores, no imperialismo e na consequente exploração dos recursos naturais, as
potências capitalistas da época, se apoiavam em três conceitos que se complementam: o
etnocentrismo, o racismo e o darwinismo social. Estes conceitos justificam a dominação dos
povos colonizados, uma vez que “A política imperialista ocultava-se sob uma capa de
altruísmo. Os defensores do neocolonialismo diziam que os europeus levavam melhores
condições de vida para onde se dirigia sua missão civilizatória” (VICENTINO; DORIGO,
2006, p.357). Como forma de caracterizar a importância dos territórios africanos para as
potências européias, os autores se utilizam de charges da época nas quais as tensões européias
eram mostradas durante a partilha afro-asiática (VICENTINO; DORIGO, 2006, p.363). Na
seção “exercícios de História” os autores apropriam-se de um texto do historiador Marc Ferro
para que a partir dele os alunos respondam as questões lançadas na seção “Para pensar
historicamente”:
como foram tratadas pelos europeus essas ‘novas’ populações da Ásia e da África?
Como o Ocidente absorveu o ‘outro’? Como os conquistados foram encarados pela
Europa, eixo do desenvolvimento capitalista e suposto palco do desenvolvimento
dos direitos humanos? (VICENTINO; DORIGO, 2006, p.356).
Na parte do livro denominada “assessoria pedagógica” os autores propõem um trabalho
interdisciplinar entre História e Arte sugerindo:
Fazer uma pesquisa para recolher charges referentes ao imperialismo do século
XIX, tomando livros de história como fontes. Comparar as charges, as legendas, os
autores e o contexto de sua criação (contemporâneas ou não ao imperialismo do
78
século XIX) destacando as linguagens utilizadas (VICENTINO; DORIGO, 2006,
p.78).
Percebemos nesta tarefa, uma tentativa dos autores em seguir o PCN de História ao
propor ao professor um trabalho interdisciplinar, ao mesmo tempo em que busca um link com
a atualidade, ao determinar que as charges possam ser “contemporâneas ou não ao
imperialismo do século XIX” (VICENTINO; DORIGO, 2006, p.78). Porém dentro da coleção
destinada aos alunos, esta questão não se mostra de forma textual, cabendo aos professores
fazer esta ligação passado - presente. O que percebemos é uma maior atenção as questões
relacionadas à política social e de mercado, em detrimento de questões ambientais. Isto fica
claro, por exemplo, ao tratar do colapso da URSS (1986) não aparece nenhuma linha a
respeito do acidente nuclear de Chernobyl (VICENTINO; DORIGO, 2006, p.550).
Quando discutidas as consequências da descolonização do continente africano, os
autores destacam a necessidade de se “Criar uma África integrada e forte é um desafio imenso
para o século XXI, pois se trata de um continente marcado por pobreza, guerras, rivalidades,
disputas territoriais, instabilidade política e epidemias avassaladoras” (VICENTINO;
DORIGO, 2006, p.515). Note que as questões ambientais são deixadas de lado frente às
consequências sociais originadas durante os anos de dominação ao continente.
No que diz respeito ao desenvolvimento de novas tecnologias, Vicentino e Dorigo
(2006, p. 560), atentam para o fato de que a Terceira Revolução Industrial trouxe como
consequência a superação do Estado de Bem-Estar Social, acarretando “as rupturas sociais que
geram extremos de pobreza para a maioria da população e riqueza para um reduzido mero
de pessoas”, que pode ser comprovado, uma vez que, “somente na cidade de Tóquio, no Japão,
79
havia mais telefones do que em todo continente africano”. Este aumento do consumo foi
anteriormente apontado por Foladori (2001). Aproxima-se desta maneira de uma visão crítico-
social, que enxerga neste desenvolvimento capitalista a raiz da desigualdade social, porém não
identificamos nos seus textos aspectos que se relacionem a degradação ambiental e suas
articulações com a questão social, o que pode sinalizar para uma visão dicotomizada entre
homem e natureza, culminado em uma abordagem reducionista da realidade e da Educação
Ambiental (GRUNN, 1996).
As questões relacionadas à sociedade e sua relação com o meio ambiente, são questões
que perpassam por toda a história da humanidade. Desta forma, ao se pensar em um projeto de
nação para o Brasil e sua relação com o modelo de desenvolvimento, Pádua (1987) analisa as
propostas por José Bonifácio de Andrada e Silva no século XIX e Alberto Torres no início do
século XX.
José Bonifácio de Andrada e Silva tinha por projeto uma economia e uma sociedade
que “se desenvolvesse de forma endógena, voltada para suas próprias necessidades e
interesses, tendo como trunfo a possibilidade de usar racionalmente as imensas riquezas
naturais de que dispunha” (PÁDUA, 1987, p.33), ainda, segundo o mesmo, a natureza não era
algo para ser contemplado e preservado em sua pureza original, mas sim um recurso básico a
ser utilizado para o desenvolvimento social e material, irritando-o quando usado de forma
irresponsável, levando a um desperdício causado pela organização da produção e pela
ignorância das leis naturais. Desta maneira Bonifácio defendia um “aumento da riqueza
nacional através do conhecimento científico(PÁDUA, 1987, p.30). Podemos perceber uma
80
defesa a um modelo de uso racional (tecnológico) dos recursos naturais, ao mesmo tempo em
que defende uma justiça social.
Alberto Torres, por sua vez, criticava a destruição da natureza propondo como
remédio a busca de um modelo alternativo e autônomo de desenvolvimento nacional”
(PÁDUA, 1987, p.60). Ainda, segundo ele, a civilização humana se constitui de um produto
do sacrifício da terra, caracterizado por uma sucessão de devastação e esgotamento do solo.
Para Torres, “este fato seria lamentável de um ponto de vista ético se o fosse uma questão
mais desafiadora (e aqui sua atualidade chega a ser espantosa): a finitude dos recursos
naturais” (PÁDUA, 1987, p.51).
Segundo Pádua (1987, p. 19-21), quando de sua crítica ao pensamento político e
ambiental no Brasil escravista “O ato fundador do Brasil, portanto foi um projeto de
exploração predatória da natureza e este estigma está entranhado em seu próprio nome” e
que o próprio desenvolvimento dos ciclos econômicos no Brasil é, em grande parte, a história
de uma sucessão do que hoje chamaríamos de ‘desastres ecológicos’”. Pádua (1987) iria além
ao destacar o pensamento do cronista Ambrósio Fernandes Brandão no que diz respeito à
inexistência de uma política de replantio de “árvores frutíferas” como forma de
reflorestamento causado pelo desmatamento a lavoura açucareira.
Quando analisam a formação do Brasil, os autores destacam a importância da
exploração dos recursos naturais para a fixação do contingente populacional e o alargamento
das fronteiras brasileiras:
81
A extração do pau-brasil atraía também os contrabandistas estrangeiros (...)
Passados 30 anos da chegada de Cabral, diante da progressiva crise do comércio
com o Oriente e das ameaças estrangeiras ao domínio sobre o seu território na
América, Portugal voltou-se para a efetiva colonização dessas terras (VICENTINO;
DORIGO, 2006, p.155).
A pecuária e a extração das drogas do sertão, atividades ditas secundárias,
foram, juntamente com as expedições militares contra invasores estrangeiros e em
busca de metais preciosos e índios, decisivas para a ocupação do interior brasileiro
e a ampliação das fronteiras da colônia (VICENTINO; DORIGO, 2006, p.190)
[grifo dos autores].
Notamos então que a posse do território brasileiro bem como o alargamento de suas
fronteiras relaciona-se diretamente com interesses econômicos metropolitanos, nos quais a
utilização dos recursos naturais se mostrou fundamental neste processo, uma vez que, “diante
da progressiva crise do comércio com o Oriente e das ameaças estrangeiras ao domínio sobre
o seu território na América, Portugal voltou-se para a efetiva colonização dessas terras”
(VICENTINO; DORIGO, 2006, p.155). Ainda, no que diz respeito à economia brasileira,
Vicentino e Dorigo (2006) buscam comparar a produção açucareira do século XVI e a do café
no século XIX. Embora destaquem os aspectos de custo de produção e sua relação com o
desenvolvimento tecnológico brasileiro, em nenhum momento, chamam atenção para os
impactos ambientais destas duas grandes atividades ligadas ao solo.
No que diz respeito à utilização da mão-de-obra durante a formação do Brasil,
podemos destacar a existência de três ciclos. O primeiro relacionado à utilização do trabalho
escravo indígena (primeiros anos do século XVI), o segundo a escravidão africana (séculos
XVI ao fim do XIX) e o terceiro os imigrantes (meados do século XIX e XX), fase da
transição ao modelo capitalista. A relação entre sociedade meio ambiente para os autores,
em relação à mão-de-obra indígena deu-se principalmente na exploração do Pau-Brasil e
82
exploração das drogas do sertão
12
na fase de alargamento das fronteiras o que motivou
conflitos decorrentes da manutenção deste alargamento:
Contudo a principal base econômica para a ocupação da Amazônia foi a coleta de
recursos florestais – as chamadas drogas do sertão, como cacau, baunilha, guaraná
e ervas medicinais e aromáticas administrados pelos jesuítas, que utilizavam o
conhecimento e mão-de-obra indígenas (VICENTINO; DORIGO, 2006, p.192).
Entretanto, quando os portugueses tentaram ocupar a região, encontraram a
resistência dos padres jesuítas espanhóis de Sete Povos das Missões, que, para
defender seus territórios, haviam armado os guaranis, vítimas da ação escravizadora
dos bandeirantes (VICENTINO; DORIGO, 2006, p.194).
Entretanto, quando tratam das questões relacionadas ao início da colonização e as
atividades de alargamento de fronteiras, não chamam atenção para o ônus ambiental causadas
por estas atividades.
Não encontramos no livro discussão a respeito do fato da exploração do pau-brasil
constituir-se de uma atividade predatória, nem o incidente de queimadas para abrir espaços
para a produção açucareira, chamando atenção apenas ao caráter da concorrência holandesa a
produção açucareira como fator para a sua crise. Apenas ao tratar de mineração, os autores
destacam “o esgotamento das jazidas de ouro” (VICENTINO; DORIGO, 2006, p. 199) como
um dos fatores para a crise deste ciclo econômico. Sentimos falta de análises relacionadas aos
danos ambientais causados por diversas outras atividades pertinentes ao desenvolvimento do
Brasil, como a economia cafeeira, responsável pela queimada de diversas áreas do Vale do
Paraíba e Oeste Paulista ou das consequências naturais do desenvolvimento do ciclo da
borracha para a região amazônica.
12
Devemos destacar que o fato que oficialmente no período das drogas do sertão esta mão de obra indígena deve
era caracterizada como um trabalho compulsório (VICENTINO; DORIGO, 2006).
83
Para os autores, as atividades econômicas desenvolvidas no Brasil – da colônia ao final
do segundo reinado (Séculos XV ao XVIII) exigiram um grande contingente de mão-de-
obra, o que por sua vez influenciou a formação social brasileira. Como forma de solucionar
esta questão da mão-de-obra, a política metropolitana e depois imperial se apoiou em um largo
comércio de escravos africanos. Desta forma introduziu-se na sociedade brasileira um novo
elemento, que não era na maioria das vezes visto como ser humano, mas sim como
mercadoria:
De posse dessas condições, Portugal tinha ainda a solução para o problema da mão-
de-obra, podendo dar início a um empreendimento de tão vastas proporções. (...) Os
negros africanos compunham mão-de-obra compulsória e abundante, fundamental
para a implantação da indústria canavieira em um extenso território ((VICENTINO;
DORIGO, 2006, p.156-157).
A mobilidade social não era explicitamente vedada, mas muito pouco provável.
Devido à concentração de terras, de renda e de escravos, era praticamente
impossível que um branco livre e pobre chegasse à condição de senhor de engenho
(VICENTINO; DORIGO, 2006, p.158).
Esta visão baseada em um etnocentrismo, onde o africano ao ser visto como inferior
não sendo considerado como “ser humano”, irá se perpetuar até a abolição da escravidão em
1888 e causará uma série de preconceitos contra a população escrava quando se tornarem
livres até os nossos dias. Os autores, porém, não destacam os aspectos “negativos” causados
pela falta de um projeto de integração do africano na sociedade brasileira, causando entre
outras mazelas um elevado desemprego (uma vez que se preferia a utilização de uma mão de
obra imigrante) e a marginalização social destes. Neste ponto poderiam ser discutidas as
questões relacionadas à desigualdade social causada por esta lógica escravista, que por sua vez
analisada dentro de um panorama como a posterior favelização causada por falta de condições
de moradia, e que por sua vez, causariam uma degradação ambiental das áreas urbanas,
84
aproximando-se desta maneira da “matriz discursiva da equidade” (ACSELRAD, 2001) que
busca articular as questões sociais e ambientais.
Os autores na seção “Para pensar historicamente” destacam a importância da disputa
pelos recursos naturais relacionada aos conflitos internacionais, envolvendo a América
Portuguesa, ao mesmo tempo, que propõe como exercício que os alunos respondam a respeito
da política colonizadora no Brasil. Desta forma, dizem os autores:
Desde o século XVI, as elites políticas e econômicas européias disputaram, em
contínuos confrontos, a exploração das riquezas e dos espaços de exploração
capitalista. Somente diante das ameaças e revoltas populares ou projetos
antielitistas inimigo número um a ser enfrentado é que adiavam suas disputas
internas e os confrontos.
Qual a sua opinião? As elites nacionais (políticas, econômicas, intelectuais,
artísticas) pautam sua atuação tendo como meta a igualdade ou desigualdade de
direitos? As divergências entre os setores sociais nacionais e internacionais mais
poderosos são os resultado da defesa dos interesses envolvidos? (VICENTINO;
DORIGO, 2006, p.187).
Ao trabalharem com a questão da dominação européia sobre os continentes asiáticos e
africanos durante a expansão imperialista, os autores destacam que com o fim deste processo –
durante o período da chamada Guerra Fria a descolonização afro-asiática aliada a interesses
das superpotências de então (EUA e URSS) levaram a formação de novos Estados Nacionais
que, compostos por tribos e etnias rivais, explodiram em uma série de conflitos. Quando
tratam da descolonização de Ruanda, atentam para o fato de que “superdimensionando
heranças coloniais, os graves e sangrentos conflitos produziram milhões de mortos e
refugiados” (VICENTINO; DORIGO, 2006, p.515).
85
De acordo com o proposto nos PCN de História, os autores trazem para a atualidade
discussões relacionadas à utilização da terra nas políticas governamentais dos EUA e do Brasil
em forma de exercícios. Na seção “Questões e Testes” Vicentino e Dorigo (2006) discutem o
acesso a terra através de uma questão do vestibular da Universidade de Campinas (Unicamp
SP):
Tanto nos Estados Unidos como no Brasil, a política rural estava ligada a uma certa
concepção de trabalho. Mas enquanto a Lei Brasileira de 1850 dificultava a
obtenção de terra pelo trabalhador livre, o Homestead Act de 1862, nos Estados
Unidos, doava terra a todos os que desejassem nela se instalar. (Adaptado de Viotti,
Emília da Costa, Da monarquia ‘a república. São Paulo, 1985)
a) Compare as políticas de acesso à terra nos Estados Unidos e no Brasil na segunda
metade do século XIX, mostrando no que diferem.
b) Qual o impacto dessas políticas para o desenvolvimento agrícola e industrial no
Brasil e nos Estados Unidos? (VICENTINO; DORIGO, 2006, p.376).
Vale destacar que nesta questão se faz necessário que o aluno possua um conhecimento
a respeito de duas estruturas básicas relacionadas à posse e distribuição de terras. A primeira
ocorre no Brasil e é chamada de “Lei de Terras”, trabalhada pelos autores como forma do
governo impedir o acesso de trabalhadores a terra e garantir que não se desviassem mão-de-
obra imigrantes para outras atividades que não agro-exportadoras funcionando como “o
cativeiro da terra garantindo a sujeição ao trabalho” (VICENTINO; DORIGO, 2006, p.342) e
a segunda relacionada a expansão norte-americana para o oeste, chamada de Homestead Act
caracterizada por uma possibilidade de aquisição de terras mediante o pagamento simbólico de
uma pequena quantia e a obrigação de que se produzisse na terra comprada. É fundamental
que se destaque que os autores não citam esta política norte-americana no capítulo referente à
86
expansão. Nesta questão debate-se a posse de terra através da implementação de uma
agricultura familiar x latifúndios, servindo de base para a discussão sobre a forma com a qual
estes diferentes modelos de desenvolvimento se relacionam com o meio ambiente.
Quando tratam da economia cafeeira, os autores novamente buscam atender a proposta
do PCN de uma contextualização, pois ao iniciarem o capítulo na seção “para pensar
historicamente” afirmam que “preconceito racial, desvalorização do trabalho manual e
desrespeito aos trabalhadores são apenas alguns traços deixados pela escravidão. Alguns
desses traços são visíveis no seu cotidiano, em suas relações pessoais ou familiares?”
(VICENTINO; DORIGO, 2006, p.335). Mesmo relacionando o ontem e o hoje, ao tratarem da
criação da Lei de Terras determinando que as terras públicas só pudessem ser adquiridas por
compra - a questão fica apenas na relação com o imigrante, não suscitando uma discussão a
respeito de que é na ausência de uma política de reforma agrária que também podemos
encontrar a raiz dos problemas socioambientais contemporâneos. Porém, identificamos no
capítulo relativo ao “Apogeu da República Velha” ao discutir a Revolta de Canudos uma
preocupação em determinar como uma de suas motivações a não existência de um projeto de
reforma agrária no Brasil ao determinar como uma das causas da revolta:
uma estrutura agrária viciada, marcada pela concentração de terras na mão de
poucos e pelo predomínio do latifúndio improdutivo em vastas áreas, somava-se o
total descaso das elites e do governo com uma população sertaneja tão grande
quanto carente
(VICENTINO; DORIGO, 2006, p.410).
Neste ponto podemos encontrar uma aproximação com a matriz discursiva da
equidade, ao estabelecer uma correlação entre degradação ambiental (latifúndios
improdutivos) e desigualdade social (população sertaneja tão grande quanto carente)
87
relacionadas ao modo de produção dominante (uma estrutura agrária viciada, marcada pela
concentração de terras na mão de poucos).
Os recursos naturais aparecem como disponíveis em grande quantidade para a
exploração no Brasil, o que fundamenta a degradação ambiental, por imaginarem uma
inesgotabilidade dos recursos naturais, ideia esta que como já discutida anteriormente se
perpetuou do século XVI ao XX. Ao tratarem do ciclo da borracha, no final do século XIX e
início do XX, os autores destacam como principais fatores para sua expansão o mercado
internacional gerado pelo início da segunda Revolução Industrial e o fato da Bacia Amazônica
ser a maior reserva natural do mundo de seringueira. Os autores destacam a condição de
miséria relacionada à exploração deste recurso natural, uma vez que:
Os trabalhadores responsáveis pela extração nascidos na região ou emigrados
nordestinos fugindo da seca – habitavam cabanas miseráveis nas margens dos rios e
percorriam a cada dia quilômetros em plena mata, a fim de extrair a seiva utilizada
na produção da borracha. Completamente isolados, esses trabalhadores sobreviviam
no limite da subsistência, periodicamente vendendo sua mercadoria para os
seringalistas, proprietários de vastas áreas de floresta de onde se extraía o produto.
Estes, sim, prosperavam, vendendo grandes lotes de borracha para o exterior
(VICENTINO; DORIGO, 2006, p.415).
Ainda sobre a questão da extração da Borracha, os autores chamam atenção para o
caráter econômico na consolidação final do território nacional brasileiro, pois:
a economia da borracha acabou provocando uma séria questão de política externa –
a Questão Acre - , que envolveu o Brasil e Bolívia em 1903, quando trabalhadores
brasileiros, liderados pelo gaucho Plácido de Castro, ocuparam o Acre, território até
então boliviano. Depois de escaramuças com o exército daquele país, brasileiros e
bolivianos assinaram um acordo, o tratado de Petrópolis, segundo o qual o Brasil
anexaria o Acre e, em troca, pagaria uma pesada indenização de 2 milhões de libras
esterlinas para a Bolívia (VICENTINO; DORIGO, 2006, p.415).
Note-se que não faz parte da análise feita pelos autores questões relacionadas à
degradação ambiental presente na exploração desenfreada dos seringais, desta maneira,
88
separam-se as questões sociais das questões ambientais, não buscando assim uma visão
integrada entre homem, trabalho e natureza. Esta separação permite uma interpretação pela
qual o homem não é parte integrante do meio ambiente, caracterizando-se por uma visão
antropocêntrica das questões ambientais.
Seja durante o período militar (1964-1985), seja durante a nova república (1985-dias
atuais), da mesma forma que com o açúcar e com o café, questões como o desenvolvimento do
Pro-alcool
13
e suas consequências para o meio-ambiente não aparecem nem em citações,
fazendo com que estes assuntos só sejam trabalhados pelo professor se for de sua vontade, não
permitindo ao aluno nem mesmo o contato com o tema. Devemos lembrar que, segundo
Guimarães (2004), os livros didáticos são desenvolvidos por autores formados por uma
educação ambiental conservadora. Destaca-se o fato de que, para Brito (2006), o livro didático
se transforma em objeto tão cultuado pelo professor que este perde sua capacidade de deslocar
a análise para outra que não presente no livro.
A questão do petróleo embora apareça em diversos “momentos” (alguns citados
anteriormente nesta dissertação) ou autores enfocam apenas as questões relacionadas à sua
importância econômica, não levando o aluno a discutir em nenhum momento qual o impacto
ambiental que a extração e consumo do petróleo levariam as sociedades atuais e futuras. No
que diz respeito à legislação ambiental brasileira, vimos no primeiro capítulo que a
Constituição Federal de 1988 dedica um capítulo para as questões ambientais, considerando
13
Com a crise do petróleo em 1973, o governo brasileiro, adotou medidas para uma busca de energias
alternativas, destacando-se o programa nuclear Brasil-Alemanha e a utilização da cana-de-açúcar para a produção
de Álcool combustível (FAUSTO, Bóris ,2001).
89
como papel do poder público “promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e
a conscientização pública para a preservação do meio ambiente” (BRASIL, 1988 apud: DIAS,
2003, p.419). Esta coleção não cita quando discutida da aprovação da Constituição de 1988
nada a respeito do tema.
Devemos destacar que expressões caras a esta dissertação como “Desenvolvimento
sustentável” e “Justiça social” não aparecem em nenhum momento desta obra.
No próximo capítulo “considerações finais” buscaremos responder as questões
levantadas por esta dissertação, sobre qual temática ambiental é encontrada nesta coleção
utilizada por professores e alunos.
90
5. Considerações finais
Com esta pesquisa, reconhecemos uma preocupação, por parte da editora e dos autores,
em produzir um material composto de imagens coloridas que tendem a fascinar e seduzir o
leitor. Mesmo não sendo o enfoque desta pesquisa, este esmero na produção gráfica do livro
analisado não deve ser desprezado, uma vez que, atualmente o mercado de produção e venda
de materiais didáticos envolve um volume vultuoso de investimentos e lucros.
Em relação à temática ambiental, Vicentino e Dorigo (2006) partem do princípio de
que as diferenças entre homens e as demais espécies residem na sua compleição física e a
capacidade de construir ferramentas capazes de transformar e adequar à natureza as suas
necessidades. Concordando com Foladori (2001), destacam que é na capacidade de transmitir
conhecimentos, através da linguagem, que podemos encontrar o elemento facilitador para sua
sobrevivência, além de funcionar como elemento responsável para a manutenção e reprodução
das diferentes classes sociais surgidas durante o processo evolutivo. Os autores desenvolvem
uma discussão a respeito das relações sociais, onde as heranças ecológicas se sobrepõem às
genéticas, característica contrária as das demais espécies. Diferentemente do que ocorre com
os homens, para os animais “cada geração deve começar do zero, que os instrumentos ou
meios de produção não são passados de geração a geração não existe ali nem história passada
nem relações sociais” (FOLADORI, 2001). Consideramos importante que o(s) livro(s)
didático(s) enfatize(m) o fato de que o homem se faz “humano”, evitando, desta maneira, o
senso comum que encara a sociedade humana como semelhante à de “formigas e abelhas”, nas
91
quais as ferramentas necessárias para a produção não passam de geração para geração nem se
vinculam a relações sociais.
Vicentino e Dorigo (2006) analisam a relação existente entre homem e meio ambiente
a partir de aspectos econômicos, políticos e sociais, buscando nestas três categorias as formas
responsáveis pela evolução do Homem até os dias atuais.
Para os autores, o meio ambiente, em diversos casos, define a atividade econômica e o
trabalho desempenhado pelo homem, apontando, em diferentes momentos da história a
influência que o meio ambiente exerce sobre as sociedades. Entendemos que o homem e o
meio ambiente são interdependentes ao longo da evolução histórica, e, nesse sentido, se faz
necessário perceber que a relação entre homem e meio ambiente se dá de forma dialética e não
com o domínio da natureza sobre o homem ou o contrário.
Os autores defendem, em determinados momentos, uma abordagem na qual o meio
ambiente determina as atividades econômicas, sociais e políticas para algumas civilizações
(como o caso da Grécia ou ainda da colonização do continente americano). Percebemos nesta
visão um caráter reducionista da relação homem e natureza, buscando explicar o todo (relação
homem-meio ambiente) a partir de uma de suas partes (homem ou meio ambiente).
Na obra analisada, os autores identificam uma dominação do homem em relação à
natureza, como exemplificado no caso dos egípcios. Esta visão caracteriza uma relação
antropocêntrica, fundamentando uma educação ambiental preservacionista e reducionista,
onde homem e meio ambiente estão separados e a preocupação está exclusivamente na
preservação da natureza e, discute que as soluções técnicas serão responsáveis para que se
92
alcance um desenvolvimento sustentável, aproximando-se, desta forma, da matriz da
eficiência (ACSELRAD, 1999).
Com a Revolução Industrial, e, consequentemente, a partir da divisão do trabalho entre
os séculos XVIII e XX , o trabalhador se torna alienado. A alienação do Homem no modo de
produção capitalista envolve quatro aspectos: a alienação do homem do produto de seu
trabalho (objeto ou matéria-prima), alienação de si mesmo (do trabalho como atividade vital),
alienação do seu “ser genérico” (de se sentir parte da espécie humana) e alienação em relação
aos outros homens. Assim, “o conceito de alienação em Marx compreende as manifestações
do ‘estranhamento do homem em relação à natureza e a si mesmo’, de um lado, e as
expressões desse processo na relação entre homem-humanidade e homem e homem, de outro”
(MÉSZÁROS, 1981, p.17). Destacamos que como visto anteriormente, os autores ao discutir
em alienação originada com a Revolução Industrial, concentram essa discussão em meio ao
mundo do trabalho, deixando de lado a alienação do homem em relação à natureza.
Os avanços gerados pela Revolução Industrial, levaram a uma série de conseqüências
sociais, como a concentração da riqueza, o desemprego, a queda na qualidade de vida e o
aumento da exclusão desigualdade social. Essa crise possui reflexos no meio ambiente, por um
lado, através do aumento da produção e consumo (FOLADORI, 2001) e, por outro, pela
ocupação de áreas com baixo valor econômico e de alto interesse ecológico/ambiental etc.,
causando mais degradação socioambiental.
Com o Renascimento cultural, ocorreu uma valorização do indivíduo, que passou a
interferir diretamente no curso do desenvolvimento econômico, e, desta maneira, na sua
93
relação com meio ambiente. Nesta fase, com Descartes e consequentemente a ascensão do
racionalismo, ocorreu à separação entre natureza (vista como objeto) e homem (visto como
sujeito). Desenvolve-se, nesta fase, o paradigma mecanicista, transformando o mundo
medieval em moderno. Esta idéia é percebida em alguns momentos do livro, principalmente
quando da discussão sobre a Revolução Industrial e suas conseqüências. Como visto no
capítulo anterior, Descartes aparece no livro analisado “apenas” como mentor do
racionalismo.
Durante a obra analisada, Vicentino e Dorigo (2006) destacam em diversos momentos
as relações sociais que envolvem a exploração dos recursos naturais (terra), seja na formação
das primeiras civilizações, seja na Idade dia ou ainda nas sociedades Moderna e
Contemporânea, a terra adquire corretamente um caráter de distinção e de dominação social.
Os autores identificam na disputa por recursos naturais um dos fatores que
desencadearam uma série de conflitos imperialistas, tendo por conseqüência a eclosão da I
Guerra Mundial (1914-18). Embora os autores sinalizem para a perda de territórios por parte
das populações afro-asiáticas, durante o processo de imperialismo e mais a frente na
descolonização afro-asiática, não abordam as conseqüências socioambientais desta dominação
e do posterior abandono destas regiões.
Ao tratarem da questão agrária no início da República brasileira, Vicentino e Dorigo
(2006) chamam atenção para a elevada concentração fundiária e a situação de miséria como
causas para a deflagração da guerra de Canudos. Ao fazerem isto, os autores se aproximam da
94
matriz da equidade (ACSELRAD, 1999), que articula as questões social e ambiental,
permitindo, desta forma, que se desenvolva uma visão socioambiental.
Os autores ao discutirem questões atuais descartam as conseqüências socioambientais
de atividades econômicas como o pró-alcool, ou ainda o acidente nuclear de Chernobyl. Este
tipo de reflexão não se fez presente quando os ciclos econômicos (pau-brasil, açúcar,
mineração e café) durante a formação do Brasil.
Como ponto positivo na obra analisada, cabe destacar a tentativa de adequação aos
Parâmetros Curriculares Nacionais na busca da abordagem interdisciplinar e da
contextualização sobre as diferentes políticas de utilização da terra, comparando os casos
brasileiros e norte-americanos. Destacamos que mesmo buscando uma interdisciplinaridade,
esta não atenta para questões socioambientais, permanecendo atrelada a questões político-
econômicas.
Podemos afirmar que os autores oscilam entre as matrizes discursivas da eficiência e
da equidade (e em um breve momento da auto-suficiência), a respeito do desenvolvimento
sustentável. Esta oscilação entre as matrizes não se mostra clara, uma vez que, a própria defesa
destas não se faz de forma transparente, cabendo aos professores a sua identificação. Como
destaca Guimarães (2004), a formação docente dos autores contribui para o discurso presente
no material produzido e acreditamos que esta oscilação deriva de uma não formação ambiental
dos autores, o que tem por conseqüência uma abordagem conservadora da Educação
Ambiental.
95
Embora em determinados momentos possamos perceber uma visão relacionada à
matriz da equidade (ACSELRAD, 1999), em grande parte da obra, o enfoque se na relação
entre homem e natureza baseada na dominação da segunda pelo primeiro, em que a natureza
aparece como dissociada dos seres humanos, impondo necessidades que podem ser
resolvidas a partir do desenvolvimento tecnológico, entendido com única ferramenta para a
“libertação” do homem dos “problemas” gerados pela natureza. Desta forma, pode-se
identificar a concepção de uma educação ambiental acrítica, pautada na matriz da eficiência
(ACSELRAD, 1999), na qual a relação entre trabalho e meio ambiente está subordinada a
lógica do capital e do livre mercado, ou seja, a relação estabelecida entre homem e natureza
adquire um caráter utilitarista e o meio ambiente passa a ser visto com o algo externo ao
homem e que precisa ser dominado.
Preocupa-nos o fato do material analisado não apresentar em toda a sua extensão
expressões como sustentabilidade, desenvolvimento sustentável e justiça social.
Provavelmente, a falta de conhecimento dos autores a respeito das matrizes discursivas
sobre meio ambiente levou a esta miscelânea apresentada durante a obra analisada, alternando
as visões a respeito da relação do homem com a natureza e por conseqüência da sociedade
com o meio ambiente. Desta forma não causa espanto a falta da expressão justiça
socioambiental.
Como visto ao longo desta pesquisa, o livro didático é uma importantíssima ferramenta
na relação ensino-aprendizagem. Em muitos casos, é o único recurso pedagógico disponível
para professores e alunos.
96
Os livros didáticos constituem-se em veículo responsável pela determinação de
conceitos de um público em formação, e desta forma de fácil manipulação. Buscar uma análise
temática do discurso presente nos materiais didáticos significa buscar os conceitos de mundo
que irão formar as novas gerações. São estes conceitos que, ao serem trabalhados de forma
clara e responsável, formarão uma sociedade consciente do seu lugar no mundo e sua relação
com a natureza, buscando, ao se perceber como elemento pertencente ao meio ambiente, uma
melhoria nas condições socioambientais, permitindo a educação ambiental adquirir seu caráter
de crítico-transformador em oposição a um “adestramento ambiental” (BRÜGGER, 1994).
Sugerimos aos autores a inclusão de textos complementares relacionados com questões
ambientais, principalmente no que diz respeito à realidade brasileira, adequando-se desta
maneira ao que é proposto pela política educacional no que se refere ao tema transversal meio
ambiente.
Por fim, este processo que culminou nesta dissertação permitiu que eu pudesse também
desenvolver uma visão crítica a respeito da educação ambiental,\ o que está sendo de enorme
valia para a minha prática docente e cidadã.
97
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