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estilo internacional. O concreto, o aço, o vidro, a cerâmica eram
materiais acessíveis à França, à Índia, ao Brasil e aos países
africanos onde o suíço Corbusier deixou suas marcas
indeléveis. O que dizer das chapas de titânio, das cortinas de
cristal, das fibras de carbono e das ligas leves? Diante da
estupefação que nos causam as maravilhas da tecnologia,
criamos formas desespacializadas, mimetizando um mundo
virtual onde o espaço não mais importa. Nesse processo, o
espaço de nossa experiência, o espaço vivido, é substituído
por alegorias computadorizadas, primas irmãs dos simulacros
do Século XIX. Espero que, como aqueles, estejam
prenunciando uma nova ordem arquitetônica, que dará fim ao
delírio e lugar para um mundo melhor. (2006, p. 129)
Manuel Castells (2006) nos apresenta uma definição de “espaço”
associada ao tempo e à experiência: “espaço é o suporte material de práticas
sociais de tempo compartilhado” (CASTELLS, 2006, p.500). Entretanto,
Castells identifica dois tipos de espaço: os espaços de fluxos (termo usado pelo
autor para definir o espaço das redes digitais) e os espaços de lugares.
Nesses, haveria movimentos de resistência, que se fundamentam em
“interações cotidianas com o ambiente físico delimitado” e que se fortalecem a
partir de “pontes culturais, políticas e físicas entre essas duas formas de
espaço” (CASTELLS, 2006, p.518). Dessa forma, o “onde” (lugar) não pode
mais ser facilmente definido.
Chegamos a um ponto da nossa reflexão em que esses novos
componentes explicitariam a impossibilidade de resolução fechada da equação
dos operadores pragmáticos apresentada no início deste capítulo. Fica claro
que, como consequência de uma abordagem que exclua um esgotamento, se
instala a necessidade de “brechas”, possibilitando experiências e usos do
espaço projetado que não foram programados, mas que permitam atender a
uma “humanidade complexa” (GRILLO, 2007, p.14), com demandas singulares
e, algumas vezes, imprevisíveis.
Trabalhar com a ideia de “complexidade” aplicada ao nosso objeto
de investigação, no nosso entender, abarca também a necessidade de rever o
conceito de “autoria”, visto que a participação e a interpretação dos usuários
completam o “enredo” sugerido. Encontramos em Jacques Derrida a
contraposição à centralidade do autor, uma ideia de margem. Para ele, a