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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO
Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH
Museu de Astronomia e Ciências Afins – MAST/MCT
Programa de Pós Graduação em Museologia e Patrimônio – PPG-PMUS
Mestrado em Museologia e Patrimônio
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A via conceitual aberta por
Zbynek Zbyslav Stránský
Anaildo Bernardo Baraçal
UNIRIO / MAST - RJ, Abril de 2008
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O OBJETO DA MUSEOLOGIA:
A VIA CONCEITUAL ABERTA POR
ZBYNEK ZBYSLAV STRÁNSKÝ
por
Anaildo Bernardo Baraçal
Aluno do Curso de Mestrado em Museologia e Patrimônio
Linha 01 – Museu e Museologia
Dissertação de Mestrado apresentada à
Coordenação do Programa de Pós-Graduação
em Museologia e Patrimônio
Orientador:
Professora Doutora Tereza Cristina Moletta Scheiner
UNIRIO/MAST - RJ, Abril de 2008.
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FOLHA DE APROVAÇÃO
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A via conceitual aberta por
Zbynek Zbyslav Stránský
Dissertação de Mestrado submetida ao corpo docente do Programa de Pós-
graduação em Museologia e Patrimônio, do Centro de Ciências Humanas e
Sociais da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro UNIRIO e
Museu de Astronomia e Ciências Afins MAST/MCT, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Museologia e
Patrimônio.
Aprovada por:
Prof. Dr. ___________________________________________________
TEREZA CRISTINA MOLETTA SCHEINER
Prof. Dr ___________________________________________________
JOSÉ MAURO MATHEUS LOUREIRO
Prof. Dr. _________________________________________________
NÉLIDA GONZÁLEZ DE GOMÉZ
Rio de Janeiro, abril de 2008.
iii
Baraçal, Anaildo Bernardo.
B223 Objeto da Museologia: a via conceitual aberta por Zbynek Zbyslav
Stránský / Anaildo Bernardo Baraçal. - 2008.
124 f.: il., ix; 30cm.
Orientador: Profª. Drª. Tereza Cristina Moletta Scheiner.
Dissertação (Mestrado em Museologia e Patrimônio) Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro/Museu de Astronomia e Ciências
Afins/Programa de Pós-graduação em Museologia e Patrimônio, Rio de
Janeiro, 2008.
Bibliografia: f. 102-108.
1.Museologia. 2. Museologia - Teoria. 3. Stránský, Zbynek Zbyslav. 4.
Metamuseologia. I. Scheiner, Tereza Cristina Moletta. II. Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro. Programa de s-graduação em
Museologia e Patrimônio. III. Museu de Astronomia e Ciências Afins
(Brasil). IV. Título.
CDU – 069.01
iv
AGRADECIMENTOS
Dekuji, obrigado em checo, ou dito em qualquer outro idioma, sempre serei
insuficientemente grato à carinhosa e decisiva participação de Amauri Rodrigues Dias,
Bruna Latini, Jan Dolák, José Mauro Mateus Loureiro, Katerina Kotiková, Mariana
Lamas, Suzanne Nash, Tereza Cristina Scheiner, Vinos Sofka, Zuzana Paternostro e
Zbynek Zbyslav Stránský.
Também agradeço aos obstáculos e tropeços, seres humanos, máquinas, programas
e padronizações, cujos nomes e designações, no entanto, não julgo merecedores de
registro.
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A Arnaldo (in memoriam) e Ana Arcanjo, mestres eternos.
vi
Já si védú svuj zivot a me vede zivot.
[…] A tak pres hory a doly jdu dal a dal.
Já si védú svuj zivot a me vede zivot.”
Eri do Cais e Serginho Meriti
“Deixa a vida me levar, vida leva eu.
[...] e aos trancos e barrancos lá vou eu.
Deixa a vida me levar, vida leva eu.”
Eri do Cais e Serginho Meriti
BARAÇAL, Anaildo Bernardo. O objeto da museologia: a via conceitual aberta por Zbynek
Zbyslav Stránský. 2008. Dissertação (Mestrado) Programa de Pós-Graduação em
Museologia e Patrimônio, UNIRIO/MAST, Rio de Janeiro, 2008. 126p. Orientador: Prof. Dra.
Tereza Cristina Moletta Scheiner
RESUMO
Para a Museologia, como para a sistemática do conhecimento, seja filosófico, seja científico, é
necessário que se defina o objeto a ser estudado. Nesse âmbito, a especificação do objeto na
contribuição do museólogo checo Zbynek Zbyslav Stránský (1926), ocorre em 1965, quando
enuncia que o objeto não é o museu, e que a Museologia se constituía como disciplina
científica. Parte de seu pensamento é contrastada com a do museólogo alemão Klaus
Schreiner e da filósofa eslovaca Anna Gregorová, em 1980, e considerada na exposição O
caminho do museu, de 1971, em que sua teoria se apresenta na linguagem museística. E
atinge-se o cume de seu edifício conceitual na análise do capítulo em que trata da
metamuseologia, em sua obra Archeologie a muzeologie, de 2005. Neste caso, se recorreu ao
diálogo com parcela da obra Le musée virtuel, de Bernard Deloche, de 2001. O recurso a
autores para efeito de contraste, atestando ou refutando considerações de Stránský, propicia e
favorece apoio ou base de questionamento para as proposições teóricas do museólogo checo.
Stránský tem como referencial a Gnoseologia, em que sujeito e objeto são termos
fundamentais. O sujeito cognoscente subjaz ontológica ou onticamente, enquanto que o objeto
carece de definição. A partir desta e de outras considerações filosóficas, Stránský atinge a sua
afirmação da Museologia científica, que instaura a realidade da sua construção enquanto
conhecimento. Além da precisão do objeto, outros critérios de identificação científica são a
metodologia e a terminologia. A riqueza da nomenclatura cunhada por Stránský expressa em
termos na complexidade conceptual e lingüística de seu idioma natal, o checo - proporciona um
debate angular que alimenta o panorama museológico. A questão sobre o objeto da
Museologia, complexa desde 1980, com discussão patrocinada pelo Comitê para a
Museologia do Conselho Internacional de Museus, ICOFOM, ainda persiste. Procurou-se nesta
dissertação não a resposta ou a geração de uma alternativa conceitual. Diz respeito a uma
“arqueologia”, uma busca por fragmentos estimuladores da crítica e da criatividade analítica. A
perspectiva metodológica se pretendeu filosófica, recorrendo-se a uma constante e infinita
inquirição, que não se pode esgotar, quer na capacidade do acadêmico, quer nos limites do
próprio conhecimento. Trata-se de uma nova série de perguntas sobre a natureza da
Museologia na sua relação metafísica com o ser e, assim, distanciada das considerações
fenomenológicas. Desdobra-se, de fato, na discussão em nível da Metamuseologia, enquanto
teoria da Museologia, significando um exercício de contribuição à reflexão teórica do campo.
Palavras-chave: Museu. Museologia. Metamuseologia. Musealidade. Zbynek Stránsky.
ICOFOM.
viii
BARAÇAL, Anaildo Bernardo. The Object of Museology: the conceptual pathway created by
Zbynek Zbyslav Stránský. 2008. Dissertation (Master’s) Graduate Program in Museology and
Heritage, UNIRIO/MAST, Rio de Janeiro, 2008. 126p. Supervisor: Prof. Dr. Sc. Tereza Cristina
Moletta Scheiner.
ABSTRACT
For Museology, as for systematic - either philosophic or scientific - knowledge, it is necessary to
define the object to be studied. In this context, the designation of the object, in the contribution
of the museologist Zbynek Zbyslav Stránský (1926), takes place in 1965, when he proclaims
that the museum is not the object of Museology, and that Museology constitutes a scientific
discipline. Part of Stránský’s ideas can be contrasted with the German museologist Klaus
Schreiner and the Slovak philosopher Anna Gregorová, in 1980, and it was considered in the
exhibition The museum way, in 1971, when his theory is presented in museistic language. And
it reaches its conceptual climax in the analyses of the chapter about metamuseology, in his
work Archeologie a Muzeologie, 2005. In this case, the dialogue was retraced with a fragment
of Bernard Deloche’s work Le musée virtuel, from 2001. The use of other authors that contrast
with those ideas, agreeing or disagreeing with Stránský’s considerations, favored questioning
about the theoretical propositions of the Czech museologist. Stránský’s referential is
Gnoseology, in which the subject and object are fundamental terms. The subject of cognition is
ontologically and ontically submitted, while the object lacks definition. From this and others
philosophical considerations, Stránský reaches his scientific affirmation of Museology, which
establishes the reality of his constructions as knowledge. Besides the object precision, other
criteria of scientific identification are methodology and terminology. The richness of
nomenclature coined by Stránský - expressed in the conceptual and linguistic complexity of his
mother’s language, Czech – permits an angular debate that feeds museological panorama. The
question about the object of Museology, complex since 1980, with discussions supported by the
International Council of Museums Committee for Museology, ICOFOM, still exists. We tried in
this dissertation not to answer or to create a conceptual alternative. It concerns an archeology,
a search for stimulant fragments of criticism and analytical creativity. The methodological
perspective intended to be philosophical, retracing into a constant and infinite inquire which
cannot be extinguished, either in the academic capacity, or in the limits of knowledge itself. It
concerns the formulation of new series of questions on the nature of Museology in its
metaphysics relation with the being, therefore, distanced of phenomenological considerations. It
folds itself, indeed, in the discussion about Metamuseology as the theory of Museology as an
exercise of contribution to the theoretical reflection of the realm.
Keywords: Museum. Museology. Metamuseology. Museality. Zbynek Stránsky. ICOFOM.
ix
SUMÁRIO
Pág.
INTRODUÇÃO 01
Cap. 1
O OBJETO DA MUSEOLOGIA PARA STRÁNSKÝ:
ARGUMENTANDO COM GREGOROVÁ E SCHREINER
EM 1980
17
Cap. 2 EXPONDO A MUSEOLOGIA EM 1971 (ou: ASPECTOS
ARQUEOLÓGICOS DO PENSAMENTO DE STRÁ
NSKÝ)
32
Cap. 3
UM NOVO CAMINHO CONCEITUAL, 1965 - 2005:
EXERCÍCIO CRÍTICO
60
CONSIDERAÇÕES FINAIS
93
REFERÊNCIAS 104
GLOSSÁRIO MÍNIMO (a partir de Stránský) 109
ANEXOS
A. CURSOS E DISCIPLINAS CRIADOS POR
STRÁNS
116
B. ÍNDICE DE STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a
muzeologie. Brno: Masarykova Univerzita, 2005 121
INTRODUÇÃO
Fique claro que o que se irá discutir será apenas pequena parcela do extenso e
complexo pensamento de Stránský. Não se tratará de, e não se deve ver neste
trabalho, um reducionismo da reflexão stranskyana. As escolhas de textos, autores,
referências, conceitos e excertos de concepções do pensamento [noética], tiveram,
certamente, fins interpretativos e, desse modo, representam uma eleição deliberada
de aspectos considerados úteis à discussão. Os dados foram inevitavelmente
recortados do contexto inclusivo, permitindo um distanciamento eventual de uma
expressão em relação a um quadro de referência do autor. Todavia, os conceitos
foram, tanto quanto o conscientemente possível, controlados no uso consentâneo a
sua acepção original. Por isso, nos ocupamos de apresentá-los, se não todos, ao
menos os mais relevantes no pensamento stranskyano, como anexo, para consulta e
confrontação de parte do leitor, como possibilidade e método de aferição sobre alguns
elementos da argumentação que faremos. Outro recurso de controle foi o contraste de
autores outros, atestando ou refutando considerações de Stránský, propiciando-nos e
favorecendo-nos apoio ou base de questionamento para as proposições teóricas do
museólogo checo.
O OBJETO DA MUSEOLOGIA: A VIA CONCEITUAL ABERTA POR STRANS
Pensar a Museologia é, para Scheiner,
[...] um fascinante exercício intelectual, que nos permite uma
aproximação organizada a diferentes sistemas de pensamento, na
tentativa de contribuir para o amadurecimento teórico do campo. Mas
é também um exercício difícil, considerando que a linguagem
museológica ainda não se encontra devidamente estruturada.
1
Ao final da década [de 1990], parece estar clara a necessidade de
aproximar Museologia e Filosofia: ‘Si la museología aspira a
constituirse como una ciencia del hombre, debe fundamentarse en los
principios que le proporciona la filosofía. Requiere por tanto de una
ontología, entendida como reflexión de la esencia de su objeto; de
una epistemología para el conocimiento de lo real en el contexto
museal; de una estética como aproximación a la capacidad creadora
1
SCHEINER, Tereza. Museu e museologia: definições em processo. Rio de Janeiro: Nov. 2005 [inédito].
2
del hombre y de una ética sustentada en el principio máximo de la
libertad
2
Conceber-se a Museologia como ciência requer o estabelecimento de um
objeto de estudo que lhe seja específico. Dentre as definições propostas, a de Zbynek
Zbyslav Stránský se destaca pelo caráter filosófico de uma formulação gnoseológica,
diversa das demais que têm no Museu sua referência.
No meio museológico tem se falado na Museologia, no seu objeto, enquanto
“relação entre homem e a realidade” e em Museu como “fenômeno”. Sendo estas
definições estabelecidas por Stránský a partir de 1965, o “senso comum” museológico,
apesar de constituído em cerca de trinta anos e, portanto, esse tempo ser integrante
de um passado próximo, não associa o conceito ao autor e nem aos seus
pressupostos epistemológicos. Tanto o partido gnoseológico, quanto o referencial
fenomenológico de Stránský não são considerados, ao que se atribuiria a
superficialidade ou vacuidade com que esses termos têm sido empregados. Em
termos hipotéticos, procuraremos observar a Museologia, em determinada linha de
reflexão, como sendo científicamente independente do Museu. “Consideramos a
contribuição de Stránský essencial para a definição dos fundamentos da Teoria
Museológica.”
3
Comecemos pelas apresentações.
Zybnek Zbyslav Stránský, nascido em 1926, tendo formação em música,
formou-se na Universidade Carolina de Praga, pelo Departamento de Filosofia e
História, durante os anos de 1946 a1950. A seguir, Stránský trabalhou no museu da
cidade de Ceský Brod e depois no Museu de Antonín Dvorák, em Praga. Em 1958
teve que sair do museu da região de Praga, em Podebrady, por razões políticas.
Nesse mesmo ano, ingressa na então denominada Universidade de Jan Evangelista
Purkyne, UJEP, na cidade de Brno, para estudar musicologia.
4
2
ICOFOM. ICOFOM LAM. Carta de Coro. Conclusões e Recomendações do VIII Encontro Regional do
ICOFOM LAM. Coro, Venezuela, dezembro de 1999. Apud. SCHEINER, Tereza. Museu e museologia:
definições em processo. Op. Cit.
3
SCHEINER, Tereza. Museu e museologia: definições em processo. Op. Cit. “Pouco compreendidas por
seus pares, as reflexões de Stranski, Sola e Desvallés não receberam a atenção e o respeito devidos. As
questões que propõem são mesmo consideradas, por alguns colegas, como problemas fictícios, criados
por pessoas que gostam de teorizar’ BURCAW, E. Comments, apud SCHEINER, Tereza. In Op. Cit., 21.
4
Convém se abrir um parêntese para apresentar Jan Jelinek. Conterrâneo e contemporâneo de Stránský,
por quem foi assistido, tanto no Museu da Morávia, no qual atua e se torna seu diretor em 1958, quanto
no curso de Museologia, restabelecida a cadeira de museologia na UJEP, a que dirige inicialmente, e por
pouco tempo, cedendo lugar a Stránský. Presidente (Chairman) do Conselho Consultivo do ICOM a partir
de 1965, é presidente geral do ICOM, de 1971 a 1977, deixando o cargo para encabeçar o Comitê para a
3
No ano de 1962, Stránský foi admitido para trabalhar no Museu da Morávia,
com a “incumbência de chefiar” o novo departamento de museologia, como um centro
de metodologia, teoria museológica e centro de documentação.
5
No mesmo ano,
articula-se o restabelecimento da cadeira de museologia da Faculdade de Filosofia da
UJEP, na qual lecionou sem pertencer aos quadros acadêmicos, dados os
impedimentos políticos: de fato, continuava como funcionário do Museu da Morávia.
No ano de 1965, preparou o programa de estudos e depois sua autorização pelo
Ministério da Educação, e abriu o curso de pós-graduação em museologia, do qual foi
a figura central até sua saída por aposentadoria, em 1996. Mas, mesmo depois,
continuou a ensinar nos anos seguintes como professor convidado.
6
O ensino sobre
museus na Universidade Masaryk foi estabelecido por Jaroslav Helfert nos anos 1920.
Stránský criou-lhe um conceito completamente diferente. Graças a sua formação
filosófica e seu conceito metacientífico, ele formou a base teórica da museologia como
uma disciplina científica independente.
7
Sua iniciativa de renovação da Associação dos Museus Checos, em 1968, e
articulação de sua nova concepção de gerenciamento de museus lhe valeram
restrições políticas. Após a segunda guerra mundial, a então Checoslováquia fica sob
influência soviética, e durante alguns meses daquele ano, o país, durante a Primavera
de Praga, buscou liberalizar e humanizar o regime comunista. O movimento foi
sufocadao pela invasão de tropas do Pacto de Varsóvia. Tinha início a época da
Normalização política [1969-1987], vitimando Stránský, exonerado, em 1971, da
direção do departamento de museologia do Museu da Morávia.
Stránský viceja, ao lado de Jan Jelinek, e torna-se atuante colaborador do
ICOFOM, desde 1979. A partir desse organismo, o pensamento de Stránský avança
para além dos antigos países do leste europeu, pelos textos publicados e pelas
conferências, a partir do momento em que foram permitidas pelo Estado
checoslovaco, após a pacífica Revolução de Veludo, de 1989. Então, em 1990 pode
Museologia do Conselho Internacional de Museus ICOFOM, do qual é um dos proponentes, em 1976 e
um dos fundadores com o reconhecimento pelo ICOM no ano seguinte. DELOCHE, Bernard. Le musée
virtuel. Paris: Presses Universitaires de France, 2001. p. 116.
5
DOLÁK, Jan; VAVRIKOVÁ, Jana. Muzeolog Z. Z. Stránský: zivot a dílo. [O museólogo Z. Z. Stránský:
vida e obra]. Brno: Masarykova Univerzita, 2006, p.5.
6
Ibidem, p. 6.
7
Ibidem, loc. cit.
4
se tornar membro regular do ICOM e vir a ser, entre 1993 e 1998, vice-presidente do
ICOFOM.
8
Ativo professor, especialmente da UJEP/Masaryk, quando não afastado da
docência pelo governo comunista
9
, orientou inúmeros trabalhos acadêmicos e criou
diversos programas de ensino em museologia. No ano de 1983, a pedido da
UNESCO, ele elaborou o projeto da Escola Internacional de Museologia de Verão
ISSOM
10
e foi seu diretor até 1998
11
. Nos anos de 1997-1998, elaborou projetos
especiais de ensino da museologia para a nova universidade de M. Bela, na cidade de
Banská Bystrica. Em 1998, baseada em projeto seu, foi criada a cadeira de
ecomuseologia.
12
Com a defesa de sua tese De Museologica, para a titulação de professor
adjunto, em 1993, formaliza-se o reconhecimento checo da museologia. [...] “ele criou
em Brno sua própria escola de ciência, baseado em estudos existentes.“
13
Pensador profícuo, suas realizações que se manifestam em obras especializadas,
criação de projetos, realização de exposições, profere palestras, participa do
estabelecimento de organizações na área museística e de cursos universitários.
Continua produzindo como colaborador editorial do jornal mensal de Munique
Museum Aktuell e formou e esrealizando os portfólios de museólogos em páginas
desse jornal na Internet, além de prosseguir proferindo palestras.
14
“Alguns termos novos de Stránský, [...] agora são usados com freqüência, até
por pessoas que, mais ou menos, objetam as [suas] teorias...” e a [...] ”aplicação
filosófica parece até certa forma com a musealização operada pelos filósofos pós-
modernos.”
15
“Personalidade que ajudou a criar e a desenvolver este campo novo de
estudos [da museologia].” ”[...] trata-se de uma personagem que não se pode omitir.”
16
8
Ibidem, loc. cit.
9
Veio a ser professor regularmente integrante dos quadros universitários apenas desde 1991. DOLÁK,
Jan, VAVRIKOVÁ, Jana. Muzeolog Z. Z. Stránský: zivot a dílo. Op. Cit., p.7.
10
Ibidem, p.6.
11
Ibidem, p.7.
12
Ibidem, loc. cit.
13
Ibidem, loc. cit.
14
Ibidem, p.8.
15
Ibidem, loc. cit.
16
Ibidem, loc. cit.
5
Por serem expressivas e referenciais, transcrevemos algumas alusões ao que
definira em Museologia.
Museologia como a ciência que estuda a relação específica entre Homem
e Realidade’ (Desvallées)
17
, tendo como objeto de estudo a musealidade
18
, é
enunciado, ao que parece, em 1979. No ano seguinte (1980), Stránský acrescenta: "O
termo Museologia, ou teoria de museu (sic), concerne à esfera de atividade de um
conhecimento específico, orientado (sic) para o fenômeno Museu”.
19
E estamos
diante do Museu como fenômeno.
20
E a partir disso, temos os desdobramentos da discussão aberta sobre a
Museologia e seu objeto.
“Museology should not be centered on the institution museum (as defined by
ICOM).”
21
[...] relever le manque de consensus qui affecte à la fois la définition
de la muséologie et la détermination de son objet. [...] depuis trente
ans pour tenter de caractériser la muséologie, le consensus n`est pas
encore réalisé et la confusion la plus grande règne toujours quant à la
défintion de cette discipline assez particulière.
22
Il est sûrement difficile de determiner l`objet d`une discipline que l`on
n`a pas encore parfaitement définie et réciproquement d`ailleurs de
définr une discipline dont on ne connaît pas l’objet – c`est pourquoi, ici
aussi, règnent l`incertitude et le désaccord.
23
JUSTIFCATIVA
O termo Museologia existe por pouco mais de cem anos, mas o início do
tratamento desse campo de conhecimento enquanto estudo sistemático remonta
17
DESVALÉES, André; dir. Terminologia museológica. Poyecto permanente de investigación.
ICOFOM/ICOFOM LAM. [s.l.]: _____, maio 2000, p.5.
18
Outros autores referem-se à Museologia como uma nova disciplina, dirigida ao estudo das relações
específicas entre Homem e Realidade mas sem conseguir desvinculá-la da relação com a cultura
material. É o caso de Gregorová: Museologia é uma nova disciplina, ainda em estagio de construção, e
que tem como sujeito (sic) o estudo das relações específicas entre Homem e Realidade, em todos os
contextos em que esta se haja manifestado concretamente. O objeto de estudo da Museologia é o objeto,
testemunho da natureza e da sociedade. Mesmo Stranski, em 1979, define a musealidade como o valor
documental específico do objeto ICOM, ICOFOM, 1979, apud SCHEINER, Tereza. Museu e
museologia: definições em processo. Op. Cit.
19
MUWOP 1, 1980. Apud. SCHEINER, Tereza. Op. Cit.
20
STRÁNSKÝ, Z. Museologia é a área específica de estudo, fundamentada no estudo do fenômeno
Museu’ ICOM, ICOFOM, 1979. Apud. SCHEINER, Tereza. Op. Cit.
21
Joint Colloquium Methodology of Museology and professional training. [ANNUAL CONFERENCE
OF THE INTERNATIONAL COMMITTEE FOR MUSEOLOGY / ICOFOM (5)]. London [UK]. July/juillet
1983. Coord. Vinos Sofka. Stockholm: ICOM, International Committee for Museology/ICOFOM and
International Committee for the Training of Personnel/ICTOP; Museum of National Antiquities, Stockholm,
Sweden. ICOFOM STUDY SERIES – ISS 1, p. 95, 1983, apud. SCHEINER, Tereza. Op. Cit.
22
DELOCHE, Bernard. Le musée virtuel. Op. Cit., p. 117.
23
Ibidem, p.118.
6
apenas cerca de três décadas. Campo disciplinar instável, seus conceitos e
terminologia não têm validação universal e tal estado reflete uma dispersão nas
abordagens acadêmicas. Nesse sentido, entretanto, o viés de atrelamento da
Museologia ao Museu apenas se interrompe na perspectiva instaurada por Stránský.
Seja pela busca de contribuição teórica, seja pelo exercício de aproximação com o
pensamento museológico conforme a linha estabelecida no leste europeu, ou ainda
pela investigação sobre a independência da Museologia em relação ao Museu, a
Dissertação se justifica por:
- a possibilidade de recuperação de literatura pouco acessível escrita em checo e
de circulação quase restrita àquele Estado.
- a possibilidade de contribuir para a compreensão de pressupostos tornados
referenciais na teoria museológica sem contudo haver clareza de sua
pertinência científica ou afiliação conceitual.
- a disponibilização do material bibliográfico traduzido para o português,
facultando maior acesso pelo mundo lusófono de trabalhos de Stránský e
decorrente abertura a novas possibilidades analíticas aos pesquisadores.
Na Linha de Pesquisa 01 Museu e Museologia, do Programa de Pós
Graduação em Museologia e Patrimônio, PPG-PMUS, UNIRIO/MAST, a que se
vincula a dissertação proposta, destaca-se do ementário: “Abordagem [...] da
Museologia como campo disciplinar, em suas relações com os diferentes campos do
saber. [...] Teoria da Museologia. [...] Terminologia da Museologia. Museologia como
geração do novo: interpretação de realidades.” Assim, esses três tópicos são
observados na Dissertação, que recorta a Museologia como disciplina científica,
através da análise de seu objeto e a consideração de que, em se fundando enquanto
campo científico, instaura a realidade da sua construção enquanto conhecimento.
Vinculando-se ao Projeto de Pesquisa Termos e Conceitos da Museologia, o trabalho
diz respeito, diretamente, à questão de ordem terminológica e conceitual,
aprofundando os estudos sobre um dos objetos de estudo definidos para Museologia.
Dessa linha de pesquisa participa a Profa. Dra.Teresa Cristina Scheiner, orientadora
da Dissertação que ora apresentamos à qualificação.
VIABILIDADE
Tratando-se de reflexão de ordem dedutiva, os meios para realização desta
Dissertação estão definidos pela disponibilidade de textos do principal pensador nela
7
considerado, Zbynek Zbyslav Stránský, e na fundamentação das abordagens teóricas
que enquadrariam a discussão proposta sobre o objeto da Museologia. Ao longo do
Programa de Pós-Graduação e ao término de várias disciplinas, os trabalhos
apresentados versaram sobre tópicos do anteprojeto da Dissertação.
A Profa. Dra. Teresa Cristina Scheiner, ao nos colocar à disposição o contato
com o museólogo Dr. Jan Dolák - responsável pela cátedra de Museologia e
Patrimônio Mundial da UNESCO, Universidade Masaryk, Brno, República Checa
possibilitou o estabelecimento de troca de correspondência eletrônica e entrevista
pessoal, na cdadade do Rio de Janeiro, no dia 30 de setembro de 2007. Nessa
oportunidade, o Dr. Dolák ofertou publicações de e sobre Stránský, quase
integralmente no idioma checo. Com relação à questão idiomática, previamente, um
trabalho de final de disciplina carecera de tradução de texto de consulta, para o que
recorremos a uma colega de trabalho no Museu Nacional de Belas Artes, do Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, do Ministério da Cultura MinC.
Nesse contexto, a eslava Zusana Paternostro indicara a antropóloga checa Katerina
Kotikova, radicada no Rio de Janeiro, para oportunos serviços de tradução. No
momento, os itens bibliográficos necessários ao desenvolvimento da dissertaçao
foram traduzidos e vêm alimentando o trabalho acadêmico, e permitindo a
confrontação com o material anteriormente coligido.
Considerando-se que a vertente filosófica é pouco explorada nas análises
museológicas e que o estudo sistemático e teórico da Museologia , como se disse,
pode remontar a cerca de apenas três décadas, a bibliografia específica e os
interlocutores são escassos. A Drª Scheiner e o Dr. Dolák têm propostos os raros
nomes dos museólogos que, em todo o mundo, se dedicam à consideração filosófica
da Museologia, notadamente na Suécia e na própria República Checa. Assim, pelo
montante do já produzido, pelas providências em andamento, pelos canais abertos
pelos colaboradores e pelos meios disponíveis, a Dissertação tornou-se plenamente
viável.
FUNDAMENTOS TEÓRICOS
Apesar do nosso esforço, somos apenas principiantes quanto ao domínio da filosofia. E
a tarefa deve ser encarada como um exercício de um ferramental intelectual para
autodesenvolvimento e, eventualmente, colaboração para o campo museológico.
8
Cabe, inicialmente, além da definição da abordagem principal a ser observada,
conceituar o aspecto da vertente gnoseológica tomada como referencial.
Gnoseologia
24
, ou gnoseiologia, “é o ramo da filosofia que se preocupa com a validade
do conhecimento em função do sujeito cognoscente, ou seja, daquele que conhece o
objeto. Este (o objeto), por sua vez, é questionado pela ontologia que é o ramo da
filosofia que se preocupa com o ser.” Este ramo se distingue da epistemologia, estudo
do conhecimento relativo ao campo de pesquisa em cada ramo das ciências. Também
difere da metafísica e da ontologia, pois "ambas se preocupam com o ser, porém a
metafísica põe em questão a própria essência e existência do ser. “[...] a ontologia
insere-se na teoria geral do conhecimento ou Ontognoseologia que preocupa-se com
a validade do pensamento e das condições do objeto e sua relação com o sujeito
cognoscente enquanto que a metafísica procura a verdadeira essência e condições de
existência do ser.”
Teoria do Conhecimento em geral, a Gnoseologia se distingue da
Epistemologia por esta tratar do conhecimento na sua acepção científica, “estudo
crítico dos princípios, das hipóteses e dos resultados das diversas ciências, destinado
a determinar sua origem lógica, seu valor e conteúdo.”
25
Supõe-se no pensamento de
Stránský o aspecto de a Museologia lidar com o conhecimento, derivando daí a
oportunidade de considerá-la gnoseologicamente.
“Entendo por um objeto qualquer coisa sobre a qual nós possamos pensar,
isto é, qualquer coisa sobre a qual nós possamos falar”. Esta é a definição sucinta
que Charles Sanders Peirce estabelece para a ampla noção de objeto.
26
(grifo nosso)
Mas, então, subjacente ao objeto encontra-se esse nós que pensa e que fala sobre
algo. Como supor a existência de algo denominável objeto sem se considerar o
sujeito, sua pré-condição existencial: do latim subjectus, substantivo derivado do
24
ENCYCLOPEDIA Tiosam. Disponível em: <http://www.tiosam.com/enciclopedia/?q=gnoseologia>.
Acesso em 20 set.2007. Tradução nossa.
25
MIRANDA, E. Gnoseologia/Epistemologia. Disponível em:
<http://www.pucpr.edu/facultad/emiranda/educacion_430/Presentaciones/Epistemolog%C3ADa.ppt.>.
Acesso em 20 set. 2007. Tradução nossa.
26
O texto de Peirce encontra-se no manuscrito [Reflections on Real and Unreal Objects], MS 966, s/d.[
Arquivo não citado],apud BERGMAN, Mats; PAAVOLA, Sami. The commens dictionary of Peirce’s
terms: Peirce’s terminology in his own words. [S.l.]: [s.n.], 2003. Disponível em:
<http://www.helsinki.fi/science/commens/terms/object.html>. Acesso em: 27 jul. 2007.Tradução nossa.
N.T.: MS significa manuscrito.
9
particípio passado de subicere = colocar sob, de sub = sob + forma combinada de
jacere = lançar, significando colocado sob.
27
Nosso vocabuário terminológico têm incluidas as locuções objeto concreto e
objeto abstrato. Se bem que, para a filosofia ocidental, a distinção entre o concreto e o
abstrato assuma importância fundamental, não há concordância generalizada sobre os
casos paradigmáticos de classificação. meros, enquanto objeto puro da
matemática, são universalmente conhecidos como abstratos. Da mesma forma, os
elementos e o conjunto dos alfabetos, as classes, as proposições, os conceitos, o
conteúdo da criação artística. E tais casos sustentam a base da dicotomia entre
abstração e concretude.
A distinção entre concreto e abstrato, todavia, é recente e, salvo exceções
antecipadoras, teve papel insignificante para a filosofia até o século XX. E embora
lembre a expressão platônica diferenciadora entre mundo sensível e o mundo das
formas (ou idéias), para Platão as formas se supunham causas por excelência
(subjacentes), enquanto que os objetos abstratos são normalmente reconhecidos
como causalmente inertes em todos os sentidos (projetivos de uma subjetividade).
Decorrendo da classificação analítica e diferenciadora da gramática, entre variações
em um mesmo radical de palavra, (vermelho e vermelhidão, p.ex.), porém aqui não há
distinção metafísica. No século XVII, com Locke, essa distinção foi transposta para o
campo das idéias, e exclusivamente dentro desse campo, diferenciando idéias
concretas (por exemplo, tipos e classes de triângulos) e a noção genérica, abstrata (de
todo e qualquer triângulo).
Desde Descartes, todavia, mental e material estabelecem-se em contraponto
ontológico.
Objetividade versus anterioridade
28
de postulados dos matemáticos serviam
para questionar a dualidade dos números, tanto no plano material (propriedades das
coisas materiais) como no ideal (leis aritméticas porém fundadas sobre generalizações
empíricas). E a questão caberia a outros campos.
Um Caminho de Negação, na
definição de Lewis, pelo qual os objetos abstratos são definidos como aqueles que não
27
ONLINE Ethymology Dictionary. Disponível em: <http://www.etymonline.com/>. Acesso em: 27 jul.
2007.
28
Prioricity, no original.
10
apresentam certos elementos das propriedades paradigmáticas das coisas concretas.
Em certas abordagens, os objetos abstratos seriam não-espaciais ou causalmente
ineficazes, ou ambos. Uma entidade abstrata é, nesse sentido, não espacial, ou não-
espaço-temporal, coisa causalmente inerte.
29
METODOLOGIA
Para a realização da proposta, o eixo metodológico parte dos textos de
Stránský, Schreiner e Gregorová, constantes da revista Museological Working
Papers - MuWoP, n.1, de 1980, publicação do Comitê de Museologia do Conselho
Internacional de Museologia ICOFOM, que discutiu a Museologia enquanto ciência
ou trabalho prático no museu. À análise de cada um deles e sua confrontação
somaram-se algumas incursões pela internet visando dar suporte a determinados
conceitos, especialmente os de ordem filosófica, e a informações contextuais sobre os
autores, entre outros. Alguns outros textos, impressos ou digitais, subsidiários,
integram a bibliografia, e refletem a hipertextualidade contemporânea.
Para certos textos de Museologia, recorremos ainda à leitura da tradução,
versão ou original em inglês, confrontando com as comunicações em francês, dada a
constatação da imprecisão ou dificuldade de expressão de determinados conceitos em
idiomas diversos. Essa realidade, assinalada por Vinos Sofka, redator chefe, no
mesmo número do MuWop, é da consciência do meio museológico, impelindo a
elaboração de léxicos, glossários, e outros instrumentos destinados a facilitar
interações e a possibilitar uma teminologia que reflita bases conceituais mais
universais. A leitura bilíngüe exigiu um trabalho superlativo, mormente que a palavra
objeto para os idiomas em si assume sentidos específicos e, por vezes, conflitantes
entre si.
Realizamos uma leitura geral e outra específica dos três autores, nos textos
estudados, leituras estas voltadas para a identidade da formulação do objeto da
museologia em cada um deles. Os autores foram depois cotejados de modo a nos
abastecermos de elementos argumentativos.
29
A partir da última nota, trata-se de resenha baseada em Object. In: STANFORD Encyclopedia of
Philosophy. Stanford: [s.n. 2004?]. Disponível em: <http://plato.stanford.edu/index.html -.>. Acesso em: 27
de jul. 2007. (Tradução nossa).
11
A questão sobre o objeto da Museologia, complexa em 1980, ainda o é para
nós hoje. Procurou-se aqui não a resposta ou a geração de uma alternativa conceitual,
uma propositura de definição de objeto museológico. Trata-se, apenas, de uma
arqueologia, uma busca por fragmentos estimuladores da crítica e da criatividade
analítica, mais uma autoprovocação, em suma.
Foi usado o contraste, método emprestado aos exames radiológicos: injetar ou
fazer ingerir substância que bloqueie raio x ou que emite radiação própria. Com isso
se oferece uma diferenciação ressaltada que permite observarem-se detalhes que se
perdem no todo ou que se deseje observar de nodo mais preciso. Fazer ressaltar com
outros autores de semelhante estatura acadêmica do autor em análise. Esse tipo de
exame foi usado no capítulo de 1980 e no último capítulo, no qual Bernard Deloche
oferece tanto o contraste quanto uma radiação própria. O contraste também expressa
um diálogo entre dois pontos de condições de visualização, dois pontos de vista.
Esses diálogos, pouco platônicos, porém igualmente metodológicos, acionam, se
abrem ao debate.
Em decorrência do objeto da Dissertação e do trabalho que vimos realizando, a
bibliografia recém chegada da República Checa nos deu a satisfação de ler os
originais e não mais as suas interpretações. Essas exegeses feitas por alguns
europeus, por seu lado, fundamentaram trabalhos brasileiros. As traduções têm sido
difíceis pela especificidade do conteúdo e da terminologia e vocabulário no tronco
eslavo que, como outros idiomas, notadamente o alemão, apresentam obstáculos à
imediata transposição para as línguas neo-latinas. Ainda no âmbito lingüístico geral, as
estruturas, vocabulário e expressões correntes, assim como as peculiaridades de cada
um dos idiomas checo e português, deixam-nos inseguros quanto à precisão, mas
não quanto ao sentido. Por exemplo, em checo inexistem os artigos, língua que
recorre às declinações sobre três gêneros. Decorre, na tradução pela tradutora, checa,
a constância das preposições não flexionadas (de, e não das de + as, por exemplo,
enquanto contração flexionada, como a fazemos em português). Por tais
características e a necessidade de operar ajuste da tradução do checo ao português e
do português empregado pela tradutora, acabamos por enveredar na compreensão
dos pressupostos lingüísticos checos para se poder realizar uma revisão da tradução.
12
Segundo a tradutora contratada, valoriza-se, em checo, a exposição de idéias
em longos períodos, sem prejuízo da compreensão. Não sendo o caso na estilística ou
fraseologia média do português, as frases ficaram segmentadas, procurando a
clareza, difícil. Citações relativas a fontes em checo, pela dificuldade de digitação,
dados os acentos particulares àquele idioma, e para facilidade, virão em português.
Houve uma grande dificuldade de tradução da terminologia, vai e vem entre a
tradutora e o autor desta dissertação. Neste processo de tradução consignamos a
fundamental colaboração de Jan Dolák, da orientadora e de Bruna Latini, acadêmica
de museologia, além do próprio Stránský, através da gentil e empenhada participação
de Suzanne e Vinos Sofka. Em decorrência dessas dificuldades, e visando prestar um
serviço, dispusemos um Glossário mínimo com os principais termos, em particular os
constantes na obra do pensador checo. Orgulharam-nos as palavras de Suzanne, em
mensagem eletrônica de 24 de março último, que transcrevemos:
Hello Anaildo,
These terms are head-splitters. Vinos called Stránský to find out what
he meant which was not clear. Often Stránský uses the Czech
language in his own special way. Vinos finally talked with him […].
A glossary is truly a heroic undertaking, but also a very useful one. As
you say, we forge our new terms, and then they may not agree in
different languages. George-Henri Rivière did the same - making new
words, and reviving old ones for new adaptations while keeping their
original meaning.
No caso das referências contidas em Stránský, particularmente no
Archeologie, quando verificadas em outras fontes, mostram-se com incorreções e
incompletas. vezes em que a referência é apenas indicativa do autor, título e ano
de publicação, sem constar na integra da bibliografia. Os apud’s, assim, ficam com a
sua referencialidade prejudicada. Sempre que possível, procedemos a levantamentos
e cruzamentos com o intuito de buscar a completude e precisão. E Stránský, prolífico
na criação de conceitos e termos, tem razão de fazê-lo e cria seguidores. Como nós
que, na sua trilha, colaboramos com alguns, poucos, neologismos. Em verdade, trata-
se de palavras que já dizemos, ou derivações adjetivas de substantivos ou, ao
contrário, substantivações de adjetivos, apenas não dicionarizados. O assinalador de
inexistências e erros gráficos do Word e o serrilhado vermelho abaixo dos “erros” nos
lembram de nossa atitude arbitrária. Conforme observou a orientadora durante os
encontros com seu orientado, o processo de elaboração deste trabalho se
caracterizava pela hipertextualidade, propiciada pela hiperligação (hiperlink) propiciada
pela ferramenta que são a internet e as páginas web.
13
Aproveitamos para agradecer aos professores em cujas disciplinas estivemos
inscritos, em particular as dos museólogos doutores Tereza Cristina Scheiner e José
Mauro Mateus Loureiro. Destacamos também a contribuição de Zuzana Paternostro e
da tradutora Katerina Kotiková e dos colegas Bruna Latini e Amauri Rodrigues Dias e
da acadêmica Mariana Lamas. Relevante ainda a colaboração do museólogo Dr. Jan
Dolák, pelo gentil aporte bibliográfico, pela troca de idéias e pela colocação à
disposição de seus contatos científicos.
A dissertação apresenta a seguinte estrutura:
INTRODUÇÃO
O objeto da museologia, elemento fundamental para a sua caracterização
científica.
CAPÍTULO 1. O OBJETO DA MUSEOLOGIA PARA STRÁNSKÝ:
ARGUMENTANDO COM GREGOROVÁ E SCHREINER
O objeto da museologia, considerado na perspectiva do conhecimento de três
teóricos europeus, dois da então República da Checoslováquia (hoje cidadãos da
República Checa) e um da então República Democrática da Alemanha, no ano de
1980. A abordagem através da Gnoselogia permite observar a relação entre objeto e
sujeito na teoria do conhecimento, colaborando para a análise de um aspecto
científico, o objeto de estudo, e, por extensão, compreender contextos conceituais que
auxiliam a explorar a construção do conhecimento teórico.
CAPÍTULO 2. STRÁNSKÝ EXPONDO A MUSEOLOGIA EM 1971 (OU:
ASPECTOS ARQUEOLÓGICOS DO PENSAMENTO DE STRÁNSKÝ)
Neste item, apresentaremos a exposição O caminho do museu, no Museu da
Morávia, Brno, República Checa, 1971. Trata-se de uma maneira de resgatar a
concepção havida naquele contexto científico e comunicacional, em que o Museu e a
Museologia são objeto de uma exposição, e um ensaio “arqueológico” do pensamento
de Stránský. Abordaremos aspectos teóricos e expográficos desse processo de
comunicação, a originalidade dos elementos significantes em que se expõem idéias e
não necessariamente documentos. Assim, consideraremos a idéia na representação
expográfica, expressando uma vanguarda conceitual e técnica.
14
CAPÍTULO 3. UM NOVO CAMINHO CONCEITUAL, 1965-2005:
EXERCÍCIO CRÍTICO
Apresenta e discute a caracterização científica da Museologia em Stránský,
com ênfase na questão do objeto de estudo. A metamuseologia, em suma, como ele a
concebe, e a abordagem das nuances que cercam o objeto na sua objetividade. E com
Deloche, pretendemos considerar se a Museologia é ciência ou filosofia e a
estabilidade de seu objeto para o museólogo checo. Há Museologia sem Museu?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Retomaremos os principais pontos apresentados ao longo do desenvolvimento
do trabalho dissertativo, procurando articular os elementos capacitadores da
verificação da hipótese de a Museologia, conforme a linha de reflexão aberta por
Stránský, ser científicamente independente do Museu.
REFERÊNCIAS
Pela enunciação das fontes de pesquisa, esperamos ficar patente a pertinência
e a importância dos documentos consultados e o recurso a uma bibliografia expressa
em idioma de pouco conhecimento universal, o checo, e, conseqüentemente, o
ineditismo de alguns dados apresentados em português.
GLOSSÁRIO MÍNIMO (a partir de Stránský)
Apresenta os principais termos disciplinares, conforme STRÁNSKÝ e
DAVALLON- DESVALLÉES.
ANEXOS
A. CURSOS E DISCIPLINAS CRIADAS POR STRÁNSKY
Transcreve a produção de Stránský quanto à atividade de ensino da
museologia que, claramente, expressa a sua visão teórica.
B. ÍNDICE DE STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Brno:
Masarykova Univerzita, 2005.
Permite acompanhar, em síntese e na integridade, o pensamento de Stránský
sobre a museologia em 2005, sua composição, caracetrização, estrutura e
organização.
15
Esperamos estar demonstrando a relevância do trabalho, pelo teor e pelo
esforço de tomar contato direto com o pensamento da escola de Brno. Considerada
importante, em si mesma, a discussão sobre o objeto da Museologia, buscando
retomar o cerne da questão científica da adequada consideração do objeto de estudo
disciplinar, caracterizador e particularizador de um determinado campo de
conhecimento. Supomos ser significativo para a Museologia observá-la enquanto
teoria abstraída de um campo de aplicação a que via-de-regra está associada: o
Museu. Esse distanciamento poderia contribuir para a apreensão da idéia da
Museologia, distinguindo-a da sua “percepção. Tratar-se-ía de uma revalorização do
método dedutivo e da filosofia a propiciar a formulação de novas perguntas sobre a
natureza do pensamento museológico na sua relação metafísica com o ser e, assim,
distanciada das considerações fenomenológicas. Não pretendemos negar o aspecto
perceptivo da Museologia, nem o Museu-sociedade como objeto, mas pensar sobre
uma ontologia da representação do conhecimento: a essencialidade humana de
musealizar a sua consciência de ser, independente do contexto ou da expressão
cultural própria ou representada. O que cogitamos trazer à consideração é a
importância do aspecto ontológico para a discussão no campo, no âmbito do
Programa de pós-graduação em Museologia e Patrimônio. Desta forma, desejamos
contribuir para o caráter precursor do Programa com abordagens pouco usuais no
mundo.
Foram nossos OBJETIVOS:
GERAL:
Estudar o pensamento de Stránský no que se refere à definição de objeto na
Teoria do Conhecimento aplicada à Museologia, visando contribuir para aprofundar as
discussões científicas sobre a Museologia.
ESPECÍFICOS:
. Analisar o conceito objeto de estudo” para a filosofia e ciências humanas e
sociais, de modo a basear a observação de sua definição no âmbito da museologia.
. Proceder à análise da concepção do objeto da Museologia em Stránský, com
o auxílio de outros teóricos coevos, em particular Gregorová e Schreiner, buscando
contribuir para o desenvolvimento da Teoria Museológica.
16
. Aprofundar conhecimentos sobre a produção em Museologia da Europa do
Leste, a partir de Stránský, tendo em vista melhor compreender os pressupostos do
pensamento museológico checo e de setores do Comitê de Museologia do Conselho
Internacional de Museus UNESCO, nos anos 1970, e de determinada linha
epistemológica em Museologia.
17
CAPÍTULO 1
O OBJETO DA MUSEOLOGIA PARA STRÁNSKÝ:
ARGUMENTANDO COM GREGOROVÁ E SCHREINER
Se há trinta ou mesmo vinte anos alguém, em suas colocações ou em
seus escritos, tivesse considerado a museologia como uma ciência,
em muitos teria suscitado um sorriso de compaixão ou de
desconsideração. É evidente que hoje a situação é totalmente
diversa.
30
(Tradução nossa)
A definição, ou melhor, as definições para a palavra “objeto” têm exercido
fascínio em nossa experiência desde os dias da graduação em museologia e
pretendemos seja este o objeto da dissertação do mestrado em curso. Objeto “coisa”,
“objeto“, “foco de interesse”, criação material ou idéia, tais possibilidades
aparentemente opostas, quando consideradas no domínio da museologia, têm estado
implicadas em ambas as polarizações. Distinguir um objeto de museu, museal, como
museográfico
31
daquele qualificado como museológico
32
ocupa espaço na literatura
especializada e, no cotidiano, materializa situações às vezes próximas das de Babel.
Mais do que terminologia, o ponto essencial diz respeito à especificação da substância
da museologia, do que lhe confere existência. Supomos ser, anterior a um
questionamento científico, uma disposição da ordem do pensamento filosófico, meio
de se cogitar sobre aspectos relativos à lógica, dialética, ética, política, axiologia,
epistemologia, estética, ontologia, metafísica...
33
Nossa intenção inicial fora a de proceder a uma revisão dos textos publicados
na revista Museological Working Paper, 1, de 1980, sob os auspícios do Comitê
Internacional para a Museologia - ICOFOM, do Conselho Internacional de Museus
ICOM-UNESCO. A disponibilidade de tempo, a envergadura da proposta analítica e a
30
Texto anônimo, provavelmente de J. Graesser, escrito na Zeitschrift für Museologie und
Antiquitätenkunde, de 1883, apud SCHNEIDER, Evzen. La voie du musée, exposition au musée
Morave, Brno. Museum. V.29, no. 4, 1977. p. 183.
31
Concebido como aquele aplicado na realidade pragmática da existência do instituto social de
preservação de “evidências do homem e do seu ambiente”, conforme a definição do ICOM para Museu.
32
Tomado no sentido gnoseológico, da Teoria do Conhecimento, encarada a museologia como
disciplina científica, sujeita às exigências analíticas da Teoria da Ciência.
33
A valorização, pelo autor deste trabalho de Mestrado, da filosofia como lastro da Museologia pode ser
evidenciada pelo teor da ante-proposta de reformulação curricular do Curso de Museologia da UNIRIO,
elaborada de 8 a 11 de setembro de 2006 e apresentada ao Diretor da Escola de Museologia aos 13 dias
do mesmo mês e ano, para consideração dos pares acadêmicos e corpo discente.
18
constatação, durante breve levantamento bibliográfico sobre o assunto na internet, de
que Peter van Mensch dedica o capítulo 4 de sua tese de doutoramento ao Objeto do
Conhecimento [da museologia]
34
e lá, embora resumida e esquematicamente, revisa
os conceitos de objeto museológico. Pareceu-nos valer a pena investir em uma
observação algo mais profunda, limitando a amostragem.
Desde pelo menos 1981, Josef Benes
35
identifica cinco objetos para a
museologia, subentendendo-se tratarem de objetos afilhados a correntes de
pensamento museológico encontradas pelo autor naquele período:
o museu;
o objeto de museu;
a musealidade;
a disciplina particular que utiliza certos objetos enquanto fontes primárias do
conhecimento científico e que tem seu lugar no museu;
a relação específica homem-realidade.
A estas cinco possibilidades, Benes acrescenta a sua visão do objeto
museológico. Para ele, o conjunto das atividades especializadas para as quais o
sistema museal realiza sua missão social é o objeto da Museologia
36
.
A quinta alternativa explicitada por Benes é a concebida por Zbynek Zbyslav
Stránský, centro de nossas considerações. Embora discutido
37
, considera-se Stránský
um pensador basilar, pela sua produção intelectual publicada, pela atividade docente,
pela atividade museal, pela participação no ICOFOM, pela consideração de seus
pares e, para nós, especialmente pela ancoragem filosófica de suas formulações; e
ainda pela postura ética com relação a postulações de orientação diversa, pela
trajetória de construção e acumulação de suas posições acadêmicas, - por tudo isso,
Stránský deveria encabeçar a lista proposta.
34
MENSCH, Peter van. Towards a methodology of museology (PhD thesis, University of Zagreb,
1992). C. 4. Disponível em:<http://:www.muuseum.ee/en/erialane_areng/museoloogiaalane
_ki/p_van_mensch_ towar /mensch04>. Acesso em: 27 jul. 2007.
35
BENES, Josef. Contribuition à l`éclaircissement du concept de muséologie. Museological Working
Papers [do] ICOFOM. Estocolmo: ICOFOM, n. 2, p. 11, 1981.
36
Ibidem, loc. cit.
37
Algo sobre a trajetória conceitual de Stránský e do papel de suas concrituições intelectuais e a posição
entre os museólogos de diversas linhas pode ser lido em DOLÁK, Jan; VAVRIKOVÁ, Jana. Muzeolog
Z.Z. Stránský. Brno: Masarykova Univerzita, 2006.
19
Klaus Schreiner pareceu-nos crítico e independente, fazendo supor que a sua
inclusão facultaria ver certas questões por outros ângulos, libertando as possibilidades
analíticas. Menos filosófico, suas considerações sobre as experiências de seu tempo
no campo museológico, vividas ou lidas, situam-no em um tempo-espaço específico, à
época diretor de um museu em cidade da então República Democrática da Alemanha,
permitindo-se entrever um momento histórico preciso. Poderíamos dizer: um momento
histórico-ideológico preciso. E, se não perspectivaremos a abordagem ideológica, foi
inevitável identificar os três pensadores escolhidos como integrantes de países do
bloco comunista, de orientação ideológica marxista, nos idos de 1980.
Anna Gregorová, autoclassificada como filósofa, compatriota de Stránský na
então Checoslováquia, detinha credenciais semelhantes às do colega de Brno.
Afirmando-o ou apresentando a originalidade de suas concepções, Gregorová pareceu
ser uma boa escolha para as finalidades deste trabalho.
Tendo a geopolítica se alterado profundamente desde então, com a queda de
estados de esquerda, olhar esses autores é também olhar uma parcela distante da
história, como se observássemos agora, metaforicamente, a luz emanada das estrelas
há milhões de anos. No entanto, não se trata de algo passado”. O conteúdo dos textos
escolhidos desses autores e, sobretudo, seu enquadramento são datados e
circunstanciados e refletem uma realidade espaço-temporal. Esses escritores, dentre
outros do período e mesmo anteriores, continuam sendo referenciais, tornados
clássicos para o trabalho em curso, de um triângulo que se desenha.
Em termos hipotéticos, retomando-se o comentário de Schneider, de 1977,
pelo qual não se pode afirmar ter a museologia se imposto no mundo da ciência e na
consciência social, o problema seria a importância da definição do objeto de estudo
disciplinar, no âmbito museológico, impreciso em 1981, conforme Benes, e, em
especial, poder-se observar do estabelecimento de um objeto para a Museologia
independente da instituição museal.
Os textos dos autores escolhidos, como enunciado, têm origem comum. Tanto
pelo estímulo que os originou quanto pelo meio de difusão em que se encontraram, os
trabalhos procuram responder à questão proposta - A museologia: ciência ou apenas
trabalho prático do museu? O teor dessa pergunta fora estabelecido pelo Conselho de
20
Redação do ICOFOM ao se decidir, em 1979, pela publicação de uma revista,
Museological Working Papers - MuWoP, e, na Assembléia do Comitê, daquele mesmo
ano, como uma das “Provocações Museológicas”. E o primeiro número da revista
trouxe o resultado das colaborações sobre o tema. Independente da forma adotada
para se chegar aos articulistas, uma rápida passagem de olhos pelo Sumário nos faz
conhecer que ali estavam falando: 1 francês, 1 eslovaco
38
, 1 sueco, 1 canadense, 1
britânico, 2 checos, 1 russo, 3 norte-americanos, 1 australiano, 1 alemão (República
Democrática da Alemanha), 1 japonês e 1 sírio.
O próprio mapa-múndi, ali estão os cinco continentes e culturas diversas e
marcantes em suas substâncias. Considerados os conjuntos (antecipando a
provocação seguinte, para o mero seguinte e derradeiro da revista, sobre a teoria
dos sistemas), a Europa se apresenta através de 8 indivíduos, a América do Norte (e
apenas ela), com 4. Do continente asiático, os 2 articulistas representam os extremos
oriente médio (Síria) e o extremo oriente (Japão). Um do novíssimo mundo e ...
tipicamente, nenhum latino-americano.
As indicações acompanhantes dos nomes dos autores os caracterizam
profissionalmente
39
e as suas nacionalidades à época. Na geopolítica de 1980, dos 8
europeus, 3 são checoslovacos e 5 deles integrantes de estruturas em países
comunistas. Do total de 15, assim, havia 1/3 de articulistas relacionados a países
comunistas (sendo 3 checos, enfatize-se), certamente 3 norte-americanos capitalistas,
talvez socialistas europeus e, quem sabe, um ou outro não alinhado
40
. A
representatividade checoslovaca e a de demais Estados então comunistas são
patentes: os checoeslovacos preponderaram nessa fase do ICOFOM.
Nossos escolhidos, portanto, estratos de um mundo outro, estariam
impregnados da importância da história e na superação do indivíduo em prol da
sociedade, do coletivo. História e sociologia, aliados à filosofia (ou antes derivados
dela, em especial na vertente ideológica) fazem valorizar a realidade, particularmente
social, fenomenologicamente experienciável, em sentido diacrônico. Lendo-se esses
textos marcados, palavras como evolução, desenvolvimento, saltam à vista pela
38
Adotamos a nacionalidade atual, alterada para as repúblicas Checa e Eslovaca, antes Unidas. No caso
alemão, assinalamos a origem da ex Alemanha oriental.
39
A ausência de titulação e da formação acadêmica se compreende pela busca de afirmação da
museologia como disciplina científica independente, objeto-tema da revista em que figuravam.
40
Afirmação difícil de se verificar, pois a Síria estava na esfera francesa, devido ao período imperialista, e
o Japão na norte-americana. Os participantes da França, Grã-Bretanha, Suécia e talvez ainda o do
Canadá, poderiam ser socialistas, nada a se admirar.
21
constância. A própria abordagem sobre a ciência contempla a evolução e o
desenvolvimento, avocados como identificadores dos estágios de existência
(sincrônico) mas sobretudo de fases históricas. Sob a atual divisão política do mundo,
repetimos, observar excertos desse momento passado, mas não ultrapassado,
destaca a importância persistente dos agora clássicos, os que lhes existência
atemporal e validade referencial, atestações de uma gnoseologia, dos seus objetos de
conhecimento em relação a si, como seres, ao pensamento e ao valor, ao menos,
histórico para nossa disciplina científica.
Quando se pensa em um bloco, prontamente vem à mente a noção de
unidade, de unanimidade. As diferenças, entretanto, subsistem, inclusive pela
arbitrariedade política, hoje claramente perceptível, do desenho europeu após as
grandes guerras mundiais e, até agora, presenciamos o resultado aos sucessivos
desrespeitos às identidades étnicas. Por esse filão, alemães orientais e checos
necessariamente não têm afinidade e cumplicidade irrestritas. Checos e eslovacos, de
modo similar, conviveram até o limite de suas tolerâncias. E, em particular, enquanto
pensadores, indivíduos têm pensamentos autônomos, observáveis em sua produção.
Indo então em direção ao particular, depois dos contextos estruturais e
conjunturais do sistema dos 15 e o subsistema do trio, começaremos a observar
Stránský a partir do conteúdo expresso em seu texto sem título
41
.
É interessante a recusa declarada de início a recorrer aos seus estudos
anteriormente publicados para responder a questão proposta à discussão, evitando a
repetição dos próprios pontos de vista e conhecimentos, preferindo confrontar idéias,
“com contendores que aceitem o debate, defendendo-se posições e sabendo-se
convencer a partir da propriedade da argumentação”
42
. Suas palavras soam como um
desafio desportivo, uma proposta de jogo que ele logo expressa propondo uma
hipotética formulação lógica, de raciocínio silogístico.
Reflete o autor sobre o equívoco da presença da palavra apenas na formulação
da questão, posto que se possa desejar saber se houve mudanças de eixo, de um
caráter a outro, de ciência a prática e/ou vice-versa. Assim, concluindo pela
41
STRÁNSKÝ, Zbynek Z.[La muséologie: science ou seulement travail pratique du musée?]. La
muséologie: science ou seulement travail pratique du musée? In: ICOFOM. Museological Working
Papers [do] ICOFOM. Estocolmo, n.1, p. 42-44, 1980.
42
STRÁNS, Zbynek Z. [La muséologie: science ou seulement travail pratique du mue?]. In Op. Cit., p. 42.
22
inadequação da formulação proposta, o autor reposiciona o questionamento,
buscando uma reflexão lógica sobre o tema, argumentando:
a. se escolhe-se um termo, supõe-se uma determinada intenção, por responder a
uma parcela ou aspecto da realidade, se subjetiva ou objetiva.
b. Se os termos respondem à realidade, deve-se definir o seu recorte quanto à
totalidade da realidade. Isso se caracterizaria pelos aspectos essenciais, pois
condicionam a própria existência dessa parcela de realidade.
c. Se esta realidade especial existe agora, deve-se saber se existia, se se
desenvolveu. Em caso afirmativo, concebe-se o estado atual como sendo
apenas uma fase.
d. Se o fenômeno observado existe e se desenvolve, condiciona-se histórica e
socialmente, assim cumprindo uma certa missão, com seu sentido próprio.
Conhecer tal sentido permite deduzir o conhecimento do que é, do que seria e
do que deveria ser.
Ao longo de seu escrito analisa cada tópico, pelo que
a. Os termos museologia, museografia, teoria dos museus em comum se
relacionam ao museu e implicam uma reflexão sobre ele, fenômeno
objetivamente existente. Põem em equivalência os termos museologia e teoria
de museus. (grifo nosso)
b. Afirma ser pequena a produção sobre teoria museológica, e o grosso das
obras dedica-se às atividades do museu ou são generalizações e
classificações empíricas. São raros os textos gnoseológicos e o mesmo ocorre
com os programas de ensino de museologia, que repousam sobre uma base
teórica fraca.
c. Se a museologia evoluiu no seio da própria evolução da humanidade, se valida
sua existência e a do museu enquanto parcelas da evolução total.
d. Se a teoria de museu existiu no passado e se desenvolveu, respondeu a certa
necessidade social, o que também vale para as circunstâncias
contemporâneas, dado que o fenômeno museu integra o processo de
formação da cultura humana. Então, se persiste, é porque tem lugar e missão
específica.
Assim se sintetizam suas conclusões:
23
- O termo museologia correlaciona teoria e prática (conhecimento específico
orientado para o fenômeno museu).
- A teoria de museu não atende às necessidades metateóricas (critérios vigentes
da teoria científica).
- É fenômeno histórico. Pode ser observado diacronicamente, constatarem-se
tendências para aprimorar a teoria e de transformá-la em disciplina científica
específica.
- Observando-a à luz da história das ciências (Bernal, Dobrov), encontra-se em
estágio de formação e de especificação. Por isso, é ainda tão empírica e ligada
à prática.
- O pensamento museológico vem evoluindo e se estruturando, demonstrando a
capacidade de vir a se tornar disciplina científica específica.
Segundo o autor, a abordagem intuitiva e empírica foi suficiente até as
mudanças da segunda metade do século XX. A contradição entre o estado crítico dos
museus em relação às exigências do estado da sociedade se resolveria em termos da
prática, mas também, e em especial, pelo conhecimento do aspecto objetivo da
realidade. Trata-se de superar a concepção de museu que liga a atividade do
pensamento museológico aos problemas de organização e de ordem técnica, o que
leva muitos autores a identificar a teoria com a prática de museu. Sintetizam-se
métodos de disciplinas científicas e não se precisam os métodos museológicos
específicos.
Confunde-se o sistema com a estrutura funcional do museu. Sem ser a mera
classificação de conhecimentos adquiridos, o sistema teórico “modela a realidade
conhecida” e “torna-se instrumento para um conhecimento mais profundo”, ”do que se
está distante.”
43
Stránský conclama a se concentrar no objeto dessa teoria ou ciência: “A
questão do objeto é a questão chave.
44
(grifo nosso)
43
Várias expressões fortes de STRÁNSKÝ, Zbynek Z. [La muséologie: science ou seulement travail
pratique du musée?]. La muséologie: science ou seulement travail pratique du musée? In: ICOFOM.
Museological Working Papers [do] ICOFOM. Estocolmo, n.1, p. 44, 1980.
44
STRÁNSKÝ, Zbynek Z. In Op. Cit., p. 44. 1980.
24
Eis os termos implicados na concepção de Stránský: Gnoseologia, história,
sociedade, relação e relacionamentos, sistemas, teoria e prática. Lendo-se outros
textos seus, pode-se dizer que tudo isso lhe tipifica o modo de formular o pensamento.
A surpresa da recusa adquire ao final do que se leu um sabor de frustração: “A
questão do objeto é a questão chave.” Sobre ela, entretanto ficam as perguntas sobre
ser o museu o objeto da disciplina. Museologia ou teoria de museus? O jogo, que
parecia desafio, acaba em uma afirmação aparentemente esvaziada. Se para a
substância de ciência o objeto definido é fundamental, como discutir o tema ciência
trabalho prático sem se ater ao objeto? O autor parece exercer a lógica como
subterfúgio para ocultar a ausência de posição objetiva: premissas não consistentes
para a obtenção de uma conclusão. Falso silogismo?
45
Klaus Schreiner contribuiu com o artigo “Critères pour la place de la
museologie dans le système des sciences”
46
. Diretor de museu em Alt Schwerin,
Alemanha (ex República Democrática da Alemanha), afirma:
O conhecimento o tem parado de se ampliar e a velocidade dessa
ampliação tem aumentado. Com o desenvolvimento histórico, ocorre
diferenciação entre os domínios do conhecimento, a divisão do
trabalho no seio das atividades científicas, e crescente
especialização.
47
Propõe-se a discutir objetivamente os critérios que definem a museologia como
disciplina e seu objeto.
45
Não desejamos parecer arrogantes ao questionar a construção de Stránský. Revelamos uma
insatisfação parcialmente sanada pelas referências externas ao pensador checo, conforme a análise dos
outros dois textos. Ao contrário, nutrimos uma admiração que vem de longa data, desde que, em 1978,
entramos em contato com o artigo sobre a exposição concebida por ele e que fundamentou a exposição
curricular 1979/1, do Curso de Museologia da UNIRIO. (SCHNEIDER, Evzen. La voie du musée,
exposition au musée Morave,Brno. In: Museum. V.29, no. 4, 1977. p. 182-192. A exposição, promovida
por Stránský, e que será objeto do próximo capítulo,contou com o auxílio de Jan Jelinek, Vilem Hank e de
Evzen Schneider; sendo o plano da exposição de Zdenek Lang; parte artísitica por Leo Kapoun.
Comemorou os 10 anos da fundação do Departamento de Museologia (1963, conforme UNIVERSIDADE
de Toronto. Disponível em: <www.utoronto.ca/mouseia/course2/Museum2.pdf.>. Acesso em: 27 jul.
2007.) da Faculdade de Filosofia da Universidade Jan Evangelista Purkyné (atualmente retomou o
nome original de Universidade Masariky), de Brno, e o cinqüentenário da criação naquela Universidade
de uma cadeira para a formação do pessoal de museu (1921, conforme UNIVERSIDADE Masariky.
Disponível em: <http://ois.muni.cz/at_mu/brief_history_of_mu>. Acesso em: 27 jul. 2007.). Teve apoio do
Conselho Internacional de Museus, ICOM. A exposição foi inaugurada em 1971.
46
N.T. Como o autor trabalha muito com o objeto “coisa”, para diferenciar do “objeto científico”, o texto em
francês empregou “objet” para o primeiro caso e “sujet” para o segundo, visando a clareza das idéias
apresentadas.
47
SCHREINER, Klaus. Critères pour la place de la muséologie dans le système des sciences.
Museological Working Papers [do] ICOFOM. Estocolmo, n.1, 1980, p. 39. Desde o início de seu artigo,
aparecem os termos relativos à história e à sociedade.
25
Disciplina científica, ou individual, é um domínio do conhecimento
independente, historicamente em via de desenvolvimento e
sistematizado por um conhecimento de base exata da natureza, da
sociedade e de suas leis; ele é determinado por certas concepções
(em particular leis), afirmações, teorias e hipóteses e difere das
outras disciplinas por seu objeto, seus métodos e suas concepções
específicas.
48
E, conforme o objeto, as disciplinas se integram a um sistema científico
complexo, onde ainda se subdividem (ciências naturais e sociais, p.ex.).
Conceitua-se objeto de estudo de uma disciplina científica como
o conjunto de atributos, estruturas e leis do desenvolvimento de
certos domínios (partes, aspectos, aparências, processos) da
realidade objetiva ou sua imagem em nossa consciência, que são
explorados pela disciplina concernente.
49
Neste quadro, a tarefa da disciplina científica é encontrar e formular as leis
concretas do seu objeto de estudo particular.
muita discussão sobre qual o objeto da museologia.
50
Menciona que
publicações de países socialistas, desde 1974, contêm concepções sobre o objeto da
museologia.
Se Stránský se absteve de conceituações, novas ou, sobretudo, recuperadas,
Schreiner nos presta o serviço de enunciar o que Stránský definira como museu, em
publicação de 1974: instituição documentária que reúne, preserva e comunica os
testemunhos autênticos da realidade concreta.
51
Indo além, continua citando Stránský
quanto a sua definição do objeto: a musealidade, um valor documentário específico
dos objetos concretos e perceptíveis da natureza e da sociedade, o valor da evidência
autêntica da realidade.
52
Cita-o, todavia, para contestá-lo. Outras disciplinas científicas se fundam sobre
os objetos concretos e perceptíveis da natureza e da sociedade e, do ponto de vista
48
Ibid, ibidem.
49
Ibidem, loc. cit.
50
O autor destaca o estudo sobre o assunto realizado por Ilse JAHN, que seria de interesse ter acesso.
51
Difícil resistir a comparar com os parâmetros contemporâneos admitidos nas definições e, por
conseqüência, o caráter restritivo e excludente de certos conceitos do passado (preconiza-se a retirada,
a coleta, perdendo-se o todo, o contexto, o ambiente, o território. Desconsidera-se a realidade virtual,
incipiente; desprezam-se as reproduções e ignora-se a cultura não material).
52
Ainda referente à publicação de 1974. E, a dificuldade persiste, perguntando-se: e a fruição estética, a
memória afetiva, a emoção, o juízo, etc?)
26
gnoseológico, esses objetos não têm valor documentário “de saída”, mas apenas em
conexão com a disciplina especializada relativa.
Os objetos naturais são a base de trabalho das ciências naturais e, para a
história, são os objetos que evidenciam a evolução da sociedade. Assim, não se pode
pretender uma existência intrínseca a ser descoberta para tornar-se objeto específico
da museologia. Citando Wolfgang Herbst, em sua obra Geschichtsmuseum (sic), de
1972, afirma que o museu é o objeto de estudo (grifo nosso), objeto independente,
com suas leis próprias. Nesse caso, objeto que adquire existência própria,
independente de situações históricas, com disciplinas auxiliares que seriam
subordinadas à museologia. Os museus baseiam disciplinas diferentes, mas eles
mesmos não são elementos das disciplinas.
Para o autor, o objeto “é o conjunto dos atributos, estruturas e leis em evolução
que determinam o processo complexo de aquisição, de preservação, de decodificação,
de pesquisa e de exposição de objetos escolhidos, originais da natureza e da
sociedade, enquanto fontes primárias de conhecimento” (que não são fontes
exclusivas à museologia). Donde que o objeto específico é “o processo complexo de
aquisição, de preservação, de decodificação, de pesquisa e de exposição de fontes
primárias do conhecimento.
53
Tais objetos originais, autênticos, ou objetos da
percepção direta sensorial, conforme a mencionada escritora Ilse Jahn, não diferem o
antigo do contemporâneo, o único do múltiplo, o manual e o mecânico, etc. pois os
segundos termos são fontes de processos atuais.
Para efetuar a distinção, Schreiner estabelece que objetos chegados ao museu
se denominam objetos de museu. Testemunhos da evolução social, sob diversos
aspectos (público, privado, p.ex.) refletem necessidades sociais. A natureza transitória
dos objetos faz a sociedade desejar uma preservação, a longo prazo, para pesquisa e
educação como “uma medida e um indicador do desenvolvimento econômico, político,
social e cultural em um certo momento, dentro de uma certa sociedade e sobre um
certo território”
54
ou “para permitir a comparação das etapas do desenvolvimento do
processo histórico da natureza dentro de um tempo futuro, seja para comparar os
53
SCHREINER, Klaus. Critères pour la place de la muséologie dans le système des sciences. Op. Cit., p.
40, 1980. [Traduçao nossa].
54
HERBST, Wolfgang. Zeitschrift für Geschichtswissenschaft, p.12, apud SCHREINER, Klaus.
Critères pour la place de la muséologie dans le système des sciences. Op. Cit., p. 40
27
processos do conhecimento para descobrir se eles são reiteráveis ou testáveis, seja
para suscitar o conhecimento”.
55
Assim, também, se constituem em provas materiais.
A necessidade social de uma preservação durável se exerce sobre objetos
selecionados, sendo, então, que estas fontes primárias, no caso museológico, o
determinadas e determinam o domínio específico de um objeto científico, pois não é
um objeto dado, mas escolhido. (grifo nosso)
Se o objeto for reduzido à natureza de fontes primárias originais, parte das
ciências documentárias, a museologia estaria ao lado de arquivos e bibliotecas. E os
processos complexos (conservação, pesquisa, etc.) ficariam de fora, ainda que
socialmente identificados com os museus.
“É dever da museologia e da pesquisa museológica descobrir e formular os
atributos, estruturas e leis em evolução deste conjunto que é específico dos
museus.”
56
Define então museologia como:
[...] uma disciplina sócio-científica, historicamente crescente, à que
concerne às leis, princípios estruturas e métodos do processo
complexo de aquisição, preservação, decodificação, pesquisa e
exposição de objetos originais móveis escolhidos da natureza e da
sociedade, enquanto fontes primárias do conhecimento, que forma a
base teórica do trabalho de museu e do sistema museal com o
auxílio de uma experiência generalizada e sistematizada.
57
Em confronto com as disciplinas de base ou especializadas empregadas no
museu, a museologia é ciência auxiliar, secundária. Assim, pelas suas ligações
estreitas com as demais disciplinas, é necessário que ela seja cooperativa e integrada.
Para Schreiner, a museologia compreende: a teoria museal; os métodos
museais
58
e a história do sistema de museus.
55
JAHN, Ilse. Neue Museumskunde. Halle, n. 1, p.20, 1960, apud SCHREINER, Klaus. In Op. Cit., p. 40
[Tradução nossa].
56
Ibidem, p. 41.
57
Ibidem, loc. cit. [Grifo nosso].
58
O termo museal parece ser usado por Schreiner como: relativo a museu.
28
Tanto no texto estudado de Stránský quanto no de Schreiner, ao final, o objeto
da museologia é o museu e o objeto de museu desempenha papel fundamental. Seja
musealidade o princípio, sejam as funções desempenhadas pelo museu, o objeto
material centraliza ambos os posicionamentos. Realidade, percepção sensorial,
fenomenologia, em suma, reforçam a materialidade, e a propalada gnoseologia se
presta a ser tomada no sentido de redundar a concepção material do objeto, seja o de
museu, seja o da museologia.
Chega a vez de lermos Gregorová. Ao contrário do então compatriota, refere-
se à sua própria e extensa produção anterior sobre museologia, na qual se baseará, e
se posiciona declaradamente como filósofa. E, novamente, se Stránský optou por
afastar-se de seu passado, Gregorová busca nele a definição do objeto da
museologia, uma disciplina científica em via de formação, “cujo objeto é o estudo da
‘relação específica homem realidade” no meio de todos os contextos nos quais ela
se manifesta concretamente.”
59
Atribui a Stránský a primazia na Checoslováquia da
definição filosófica, estabelecendo o caráter relacional entre sujeito e objeto,
gnoseológico e fenomenológico.
Na consideração da relação muselógica à luz da realidade, identifica 3 grupos
de problemas fundamentais: o museu e a realidade, o museu e a sociedade e os
problemas terminológicos em conexão com a análise das funções do museu. Propõe-
se a uma abordagem analítico-indutiva para atingir, por um método dedutivo, uma
síntese que permita formular logicamente a definição de museu e de museologia.
O museu e a realidade - A relação homem – realidade (H-R) se caracteriza por
aspectos específicos.
a. cronológico tridimensional da realidade ou continuidade da realidade” ou
ainda “o sentido histórico”, manifesto pelo fato que o homem percebe a
continuidade da evolução histórica do que decorre o respeito ao passado, às
tradições (grifo nosso) e sente-se a necessidade de os proteger, etc. Este
aspecto tem os componentes: gnoseológico, psíquico e ético. E a relação
decorre da evolução geral da humanidade, do processo cultural e social da
humanidade, portanto.
59
GREGOROVÁ, Anna. [La muséologie: science ou seulement travail pratique du musée?].
Museological Working Papers [do] ICOFOM. Estocolmo, n.1, p. 19, 1980.
29
b. de estruturação e diferenciação da realidade, expresso pelo fato de ser o
homem consciente da totalidade da realidade, distinguindo a substância em
relação ao fenômeno, a parte em relação ao conjunto, os traços específicos
dos gerais. O aspecto ”genérico da realidade” liga-se ao nível das ciências, dos
conhecimentos, da educação em certo momento. O lado psicológico da relação
H-R pode ter várias raízes. Mas a motivação fundamental aqui é o sentido
histórico, impulsionador de se constituir coleção, expressão de uma atitude
museológica, decorrente de um determinado grau de sua evolução, o homem
tornou-se capaz de conceber e de apreciar os valores da realidade (cultural e
natural), desejando coletar e preservar esses valores.
c. Envolve certo aspecto instucionalizado, no qual aparece a noção de museu.
60
O desenvolvimento dessa relação não parou de se aprofundar e de se precisar
desde então. Ao mesmo tempo, constatamos o desenvolvimento da concepção
das funções do museu e a diferenciação dos tipos de museu.
Entretanto, a questão dos museus e da realidade como objeto de estudo não
se restringe apenas à relação museológica H-R. o dado da realidade escolhida,
objeto museológico e seu contexto, seu valor gnoseológico e seu potencial. Potencial
gnoseológico do objeto do museu está compreendido no seu valor documentário
61
,
sobretudo material, que é ao mesmo tempo o valor museológico. Observar esse valor
desde o grau sensorial até o grau abstrato e de conceito lógico.
O museu e a sociedade - objeto, também, da museologia, o estudo de todas as
relações do museu enquanto instituição com a realidade social, e vice-versa, cria as
condições para que a museologia seja uma ciência interdisciplinar. O fundamento
social do museu engloba três aspectos fundamentais.
a. cultural: a ação dos museus e de suas coleções implica estudos sobre teoria
da documentação e de teoria das informações científicas.
60
Exemplificando: “[...] a relação museológica com a realidade foi demonstrada pela primeira vez por um
fato histórico, descoberto por Leonard Woolley: a princesa Bel-Chalti-Nannar, filha do último rei da
Babilônia, Nebonide, reuniu, no Século VI a .C. , uma coleção que se pode considerar como o mais antigo
museu do mundo, e que foi documentado por um registro de objetos, o que é sem dúvida o mai antigo
guia conhecido de museu.” GREGOROVÁ, Anna. [La muséologie: science ou seulement travail pratique
du musée?]. Museological Working Papers [do] ICOFOM. Estocolmo, n.1, p. 19, 1980.
61
Mais uma referência à conceituação de Stránský.
30
b. Educativo: engloba a ideologia e a concepção e mundo. “Museus são fatores
gerais de cultura e têm impacto ideológico sobre a formação da consciência
social.”
62
c. Efeito sociológico ou sócio-psicológico dos museus: exige estudos sociológicos
e de psicologia social.
Museu, museologia - Problemas de terminologia e de categorias integram
também a museologia geral. A noção inexata, a observação voltada para o ponto de
vista prático, institucional e funcional afastam de se exprimir a substância da coisa.
“Assim, o objeto, por exemplo, da estética não pode ser o edifício ou uma instituição
que colecione e exponha obras artísticas, mas sim a relação específica estética do
homem com a realidade, o museu, igualmente, não pode constituir o objeto da
museologia.
63
(grifo nosso)
Para definir museologia, a autora toma em consideração a relação específica
homem-realidade. Logo:
A museologia é uma ciência que examina a relação específica do
homem com a realidade, e consiste na coleção e na conservação
conscientes e sistemáticas e na utilização científica, cultural e
educativa de objetos inanimados, materiais, móveis (sobretudo
tridimensionais) que documentam o desenvolvimento da natureza e
da sociedade.
64
Destaca o aspecto sintético e interdisciplinar da museologia e ressalta que a
definição de museologia não pode se basear sobre o museu nem sobre os
objetos colecionados. As instituições não são objeto da ciência. (grifos nossos).
As coleções são objeto de outras disciplinas científicas. As pesquisas científicas no
museu não são objeto pois são parte da metodologia e da história da ciência e de
outras disciplinas. A atividade cultural e educativa é realizada também por muitas
outras instituições e objeto de outras disciplinas (história e teoria da cultura, sociologia,
psicologia, etc.). Esse objeto de estudo é tanto um aspecto da existência material do
mundo e de suas relações e fenômenos.
65
62
GREGOROVÁ, Anna. [La muséologie: science ou seulement travail pratique du musée?].
Museological Working Papers [do] ICOFOM. Estocolmo, n.1, 1980, p. 20.
63
Ibidem, loc. cit.
64
GREGOROVÁ, Anna. [La muséologie: science ou seulement travail pratique du musée?].
Museological Working Papers [do] ICOFOM. Estocolmo, n.1, 1980, p. 20.
65
Em relação à definição de museologia, para Gregorová a de museu é: uma instituição que aplica e
realiza a relação específica homem realidade, consistindo na coleção e na conservação conscientes e
31
estão os mesmos conceitos operacionais: gnoseologia, história, sociedade,
evolução (associada a estágios, graduação), desenvolvimento, relação. Explicita a
natureza ideológica nos processos sociais, educacionais em particular, de que
também participa o museu, como formador da consciência social. Menciona ainda as
tradições, prenúncio talvez da incorporação da cultura não material?)
E, para satisfação do autor do presente trabalho, adota um objeto para a
museologia que não o museu. Nisto reside sua total originalidade e independência de
espírito, quer dos teóricos comparados, seja em relação ao próprio ICOM e ICOFOM.
Independência do primeiro por se definir como Conselho Internacional de Museus
(grifo nosso) e do segundo por ser ele afiliado ao primeiro e nele, jovem à época, a voz
majoritária objetivava o museu.
Infelizmente, a disponibilidade atual de dados em bibliografia e em idioma por
nós compreensível nos impede de precisar se houve um ponto em que Stránský, além
de abrir a questão da definição do objeto da Museologia à consideração de ordem
filosófica, o teria liberado do Museu ou se a originalidade dessa abordagem se deve
exclusivamente a Gregorová.
sistemáticas e a utilização científica, cultural e educativa dos objetos inanimados, materiais, móveis
(notadamente tridimensionais) que documentam o desenvolvimento da natureza e da sociedade. As
funções fundamentais do museu ficam desta forma evidenciadas: [a autora entende por função a
orientação, o objetivo da atividade, expressando ao mesmo tempo a missão e a esfera da atividade]: a)
coleta consciente e sistemática dos objetos de museu e formação de coleções; b) conservação e proteção
das coleções; c) utilizão geral das coleções de museu. Esta função pode ser subdividida em c1)
pesquisas científicas; e c2) cultural e educativa.
32
CAPÍTULO 2
STRANSKÝ EXPONDO A MUSEOLOGIA EM 1971
(ou: ASPECTOS ARQUEOLÓGICOS
DO PENSAMENTO DE STRÁNSKÝ)
Muitos certamente serão os que expressarão sua discordância, mas,
ao mesmo tempo, estou certo, como foi o caso da exposição ela
mesma, esta análise suscitará uma reação sadia e purificadora,
afinal. Este foi o nosso objetivo.
66
É por isso que penso que não somente tivemos razão, mas que foi de
fato nosso dever de organizar esta exposição e de nos dirigir assim
ao pessoal dos museus e a toda a sociedade, pois a sociedade
permanecerá sempre como juiz mais sincero e o crítico mais
estimulante de nossos trabalhos.
67
(SCHNEIDER, 1977, p. 191.)
“A política é de natureza conflitual pela simples razão que não política
quando não inimigo, até porque uma idéia pela qual ninguém luta é uma idéia
morta.”
68
O conceito de Julien Freund (1921-1993) superposto às duas citações
anteriores de SCHNEIDER implicam o caráter contraditório na avaliação de idéias,
sabido de antemão, e a justificação de que, informando, os caminhos “políticos”
podem ser aplainados e que, se um conflito de idéias for instaurado no seio de uma
comunidade, uma entidade mais abrangente, com uma visão menos imediata, porque
menos envolvida diretamente com as idéias postuladas a “[...] sociedade [...] juiz
mais sincero e o crítico mais estimulante de nossos trabalhos”, porém menos influente
sobre questões científicas.
De qualquer forma, a concepção de FREUND sobre a vitalidade do ideário,
condição existencial do fato político e sua caracterização o conflito, supõe a
importância para um determinado conjunto de pessoas em um certo momento e
espaço, para quem, onde e quando certas idéias merecem ser discutidas. Algumas
66
Schneider, que estudara história checa e mundial, língua e literatura checas, museologia na Universida
Purkyne, dirigia o Museu da Boêmia do Sul em Ceske Budejovice, desde 1971, era encarregado então
encarregado de conferências no Departamento de museologia da Universide Purkyne, membro do Comitê
checoslovaco para o ICOM, desde 1975, e do Comi internacional do ICOM para a museologia,
ICOFOM, desde a sua criação, a partir de 1977. SCHNEIDER, Evzen. “La voie du musée”, exposition au
musée Morave, Brno.UNESCO. Museum, Paris, v.29, n. 4, p. 191 e contracapa, 1977. (Tradução nossa).
67
Ibidem, p. 191.
68
<http://MALTEZ. Disponível em :<info/biografia/freund.pdf.>. Acesso em: 27 jul. 2007.
33
idéias, se mortas mas [re]apresentadas, quando menos pelo simples deslocamento
contextual original, podem gerar polêmica, pela argüição de sua veracidade,
propriedade, significância, validade, entre outras categorias. Assim, trazer à
consideração, por um assunto em pauta, informar, comunicar, mostrar, enfim,
implicam a incerteza sobre as reações que suscitará. Expor, se expor, é correr um
risco, o risco de ser modificado.”
69
O risco é mais de natureza política, como se pôde
apontar, que de alteração, no tocante a uma exposição concebida e inaugurada em
1971, em um país da então cortina de ferro. E, a despeito da natureza do risco,
Schneider está cônscio dele e disposto a corrê-lo.
Conforme DELOCHE
70
, a museologia propriamente dita
[...] poderia ser definida como a filosofia do campo museal
71
pois
ela busca analisar e compreender esta relação específica do homem
com a realidade que operam as funções do museu (Z.Z. Stránský).
Entretanto, a museologia não pode se abster de se interrogar sobre
os desafios e as modalidades da apresentação, que nunca é uma
operação neutra, na medida que ela comporta sempre um impacto
sobre o público e traz consigo uma concepção das missões do museu
e mesmo do seu estatuto institucional.
A exposição de que se fala, e que será o objeto deste trabalho, é O caminho
do museu (Výstava: Cesta muzeí).
72
Promovida por Zbynek. Z. Stránský, auxiliado
por Jan Jelinek, Vilem Hank e Evzen Schneider, a exposição O Caminho do museu
teve plano de Zdenek Lang, sendo a parte artística realizada por Leo Kapoun.
Comemorou os 10 anos da fundação do Departamento de Museologia,
73
da Faculdade
de Filosofia da Universidade Jan Evangelista Purkyné
74
, de Brno, República Checa, e
o cinqüentenário da criação naquela Universidade de uma cadeira para a formação do
69
BELLAIGUE, Mathilde. Du discours au secret: le langage de l’exposition. S.l: S.e, S.d. Fotocópia. p.
22. Grifo do autor.
70
Texto elaborado com a colaboração de Audrey Casella, Ludovic Guillier et de Céline Rosset, do grupo
do ICOFOM na Universidade Lyon 3. DELOCHE, Bernard. Le multimédia va-t-il faire éclater le musée? (
In: ICOM/ ICOFOM. Museology and presentation: original or virtual? Munique: Museums
Pädagogisches Zentrum, 2002. ICOFOM Sudy Series – ISS 33b, p. 46.
71
Grifo nosso, visando assinalar o papel da filosofia na museologia enquanto sistema de pensamento. O
autor, todavia, tem dificuldade de considerar o museu como o” campo objetivo da museologia, mas um
campo privilegiado de observação para a museologia.
72
O texto de SCHREINER na revista MUSEUM, traduzido do checo para o francês, intitulou a exposição
como “La voie du musée”. A palavra “voie”, em português tem os sentidos de: caminho, percurso, trajeto,
via. O texto emprega o termo “voie” em seu corpo, por várias vezes, em diferentes contextos. Recurso
enfático da idéia em discussão, ocorrendo em menor escala com a palavra labirinto”, preferiu-se na
tradução usarem-se palavras específicas, pelo significado contextual em nosso idioma.
73
SCHNEIDER, Evzen. La voie du musée”, exposition au musée Morave, Brno. Museum, Paris, v.29, n.
4, p. 184, 1977.
74
Atualmente retomou o nome original de Masarykova Univerzita. UNIVERSIDADE MAZARIKY.
Disponível em <http://ois.muni.cz/at_mu/brief_history_of_mu>. Acesso em: 27 jul. 2007.
34
pessoal de museu. Teve apoio do Conselho Internacional de Museus, ICOM
75
. Na
enunciação dessa exposição, na obra de DOLÁK e VAVRIKOVÁ
76
, uma
informação parentética a respeito da relação com o ICOM (urceno pro generální
Konferenci ICOM, zamítnuto jako kosmopolitní akce).
77
Tendo sido o Departamento
criado em 1963
78
, e a criação da cadeira específica datar de 1921
79
, pelas datas
comemoradas e pela relação com a Conferência Geral do ICOM, a exposição foi
inaugurada em 1971, permanecendo aberta pelo menos até 1973, celebrando o
primeiro decênio do Departamento de Museologia.
Realizada no Museu da Morávia, Brno, a teoria museológica e a
documentação nela apresentada resultaram dos trabalhos do Departamento e da
Seção de Museologia do Museu, além de, na medida do possível, resultados obtidos
em outros países.
80
A equipe considerou a crise em que estariam os museus, face às novas
concepções trazidas pela revolução científica e tecnológica àquela época, identificada
em conferências, seminários especializados, em periódicos museológicos. “Há uma
consciência da crise o que implica esperança em solucioná-la”. A exposição O
caminho do museu “seria, portanto, uma pesquisa nesse sentido”.
81
A presença intelectual de Zbynek Stránský nessa exposição e, sobretudo,
nos conceitos nela expressos é fundamental e de grande importância. Infelizmente,
não se pôde localizar, para o momento, escritos do filósofo-museólogo em que
estivessem expressos seus conceitos para Museologia e museu precisamente no
início dos anos 1970. Em uma sua obra de 1980, define Museologia como
[...] uma disciplina científica diferenciada e independente cujo objeto é
a atitude específica do Homem com a realidade, expressa
objetivamente em várias formas de museus através da história, sendo
uma expressão e parte proporcional dos sistemas da memória. A
Museologia tem uma natureza de ciência social, pertencente à esfera
75
SCHNEIDER, Evzen. La voie du musée”, exposition au musée Morave, Brno. Museum, Paris, v.29, n.
4, p. 184, 1977.
76
Apresentada na listagem bibliográfica e de atividades, sob o no. 400. DOLÁK, Jan; VAVRIKOVÁ, Jana.
Muzeolog Z.Z. Stránský. Brno: Masarykova univerzita, 2006. p. 35.
77
9ª. Conferência Geral, realizada em Paris e Grenoble, em 1971, com o tema O museu a serviço do
homem, hoje e amanhã. O papel educacional e cultural do museu.
78
1963, conforme UNIVERSIDADE DE TORONTO. Dispovel em
<www.utoronto.ca/mouseia/course2/Museum2.pdf>. Acesso em: 27 jul. 2007.
79
Em outra fonte, a data referenciada é 1921. Ibidem.
80
SCHNEIDER, Evzen. “La voie du musée”, exposition au musée Morave, Brno. Op. Cit.
81
Ibidem, loc. cit. [Tradução nossa].
35
das disciplinas da memória-documentação científica e contribui
especificamente para a compreensão da sociedade humana.
82
“O objeto da Museologia não pode ser o museu. [...] Concebo, portanto, os
museus, no quadro do sistema museológico, como uma das formas possíveis da
realização da abordagem [aproximação] do homem com a realidade”.
83
Por para fora (a ação de expor, resultado desta ação) e lançado adiante
84
,
conceitos etimológicos das palavras exposição e objeto, guardam em comum o caráter
de objetividade, de realidade e de apreensibilidade perceptiva e, no caso de objeto de
estudo, à razão. Comunicar, também, em tornando comum, enuncia algo aos sentidos;
em certa acepção, expor e comunicar são sinônimos.
Expografia é arte de expor. Proposto em 1993, o termo complementa e se
especifica em relação à abrangência de museografia. Designa a colocação em
exposição [mise em exposition, em francês] e ao que concerne a colocação no
espaço, e o que isto envolve (excluídas as outras atividades museográficas, como a
conservação, a segurança, etc.), quer se situe em um museu ou em um lugar não
museístico). Ela visa à pesquisa de uma linguagem e de uma expressão fiel para
traduzir o programa científico de uma exposição. Nisso, ela se distingue tanto da
decoração, que se utiliza dos elementos expositivos ou de exposição [expots, em
francês] em função de simples critérios estéticos, quanto da cenografia que, exceto
certas aplicações particulares, se serve dos elementos expositivos [expots, em
82
STRÁNSKÝ apud DESVALLËES, André, (Dir). Terminologia museológica: proyecto permanente de
investigación. [s.l.], ICOFOM/ICOFOM LAM, maio 2000, p. 6. No inglês, no original. [Tradução nossa].
Compare-se com os conceitos de Anna Gregorová, em virtude de adotar o mesmo objeto de estudo da
Museologia conforme cunhado por Stránský, a relação específica homem-realidade [grifo nosso], e, se
não integralmente, por identificar-se com o pensamento do cognominado pai da Museologia. “A
Museologia é uma ciência que examina a relação específica do homem com a realidade, e consiste na
coleção e na conservação conscientes e sistemáticas e na utilização científica, cultural e educativa de
objetos inanimados, materiais, móveis (sobretudo tridimensionais) que documentam o desenvolvimento
da natureza e da sociedade”. GREGOROVÁ, Anna. [La muséologie: science ou seulement travail pratique
du musée?]. ICOFOM. La muséologie: science ou seulement travail pratique du musée? Museological
Working Papers - MuWoP/DoTraM, Estocolmo, n.1, p. 20, 1980. Para ela, museu é: “uma instituição que
aplica e realiza a relação específica homem – realidade, consistindo na coleção e na conservação
conscientes e sistemáticas e a utilização científica, cultural e educativa dos objetos inanimados, materiais,
móveis (notadamente tridimensionais) que documentam o desenvolvimento da natureza e da sociedade.
Ibidem, p. 21. No francês, no original. [Tradução nossa].
83
STRÁNSKÝ, apud DESVALLÉES, André, (Dir). Terminologia museológica: Op. Cit.
84
Ibidem, p. 56 e 19, respectivamente. [Grifo do autor].
36
francês] ligados ao programa científico como instrumentos de um espetáculo, sem que
eles sejam necessariamente os sujeitos centrais desse espetáculo”.
85
No modelo matemático do processo de comunicação “[...] é a visão (e
ontologia) que subjaz à teoria da informação de Shannon – Wiener (sic). Nele uma
duvidosa assimetria entre o receptor(que ouve) e o ‘transmissor’ (que fala).
Une-os o ‘canal’, e perturba este canal o ‘ruído’”.
86
Como se verá adiante, a escolha
por este conceito deve-se a ele ter sido amplamente adotado pelos estudos de
comunicação e particularmente na exposição O caminho do museu. Apesar do juízo
de Katz, retenham-se os elementos constitutivos e suas funções: transmissor ou fonte
(que fala), canal (que veicula a mensagem), ruído (a que está sujeito o canal e
potencial perturbador da emissão da mensagem) e receptor (o que ouve).
A título de hipótese, o que se venha a colocar sob consideração se baseia no
fato de que: a exposição museística é veículo eficaz de apresentação visual de
princípios da Museologia à luz da escola checa, seus enunciados, conforme
documentada pelo artigo na revista Museum.
Este capítulo se baseará no artigo da revista Museum sobre a exposição O
caminho do museu, não podendo escapar a uma determinada natureza de resenha,
recorrendo a outras fontes bibliográficas para explicar e aprofundar certos enunciados
do texto impresso no periódico e sobre os dados nele contidos.
87
Pela natureza e propriedades, sabe-se que a linguagem falada e escrita,
lingüística, difere da linguagem não verbal, cabendo se proceder, para o presente
trabalho, quer à leitura lingüística quanto à visual, a partir do conteúdo das ilustrações
fotográficas.
As imagens fotográficas que ilustram o artigo de Schneider são em preto e
branco e não reportam ou retratam a totalidade da exposição. Também esta
parcialidade da fonte se constitue limite à análise.
85
DESVALLÉES, André, (Dir). Terminologia museológica: proyecto permanente de investigación. [s.l.]
ICOFOM/ICOFOM LAM, maio 2000, p. 56.
86
KATZ, Chaim Samuel; DORIA, Francisco Antonio; LIMA, Luiz Costa. Dicionário básico de
comunicação. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1975, p. 91. A fonte elide a contribuição de Weaver ao
modelo.
87
O limite do artigo, enquanto fonte, se expressa por SCHREINER quando escreve: Eu não sei se essa
descrição, complementada por algumas fotografias, permitirá ao leitor fazer uma idéia muito precisa de
nossa exposição”. SCHNEIDER, Evzen. “La voie du musée”, exposition au musée Morave, Brno. Op. Cit.,
, p. 191, 1977 [Tradução nossa].
37
A tradução do conteúdo textual presente nas imagens fotográficas foi realizada
por Zusana Paternostro, servidora do IPHAN e lotada no Museu Nacional de Belas
Artes. Húngara de nascimento, mas versada também no checo, a ela reiteramos o
agradecimento pela graciosa, importante e decisiva colaboração.
O autor fica aqui qualificado e autodefinido como aquele que descreve o
processo, observador externo, que “fala uma linguagem especial: a metalinguagem”, e
a usa como base (fornecedora de sentido) “para a descrição do processo
observado”.
88
ASPECTOS DA MUSEOLOGIA DE STRÁNSKÝ E CHECA
Como enunciado, tais aspectos serão vistos aqui através do conteúdo do artigo
de Schneider sobre a exposição O caminho do museu, tomado no teor de seu texto
lingüístico e no do texto visual das suas ilustrações. E sugerimos que nos lembremos
da classificação das faculdades da mente, para Bacon - memória, razão, invenção,
89
tão expressivamente verificáveis neste trabalho expográfico.
Scheneider apresenta, como justificativa para expor, o caráter de provocação
de discordância com relação ao conteúdo e à forma e à reação que desencadearia,
processo considerado saudável para o autor
90
, dando razão de ser e respondendo a
um dever de realizar a exposição, uma missão. “A exposição não é em nada
tradicional, nem pelo conteúdo, nem pela forma. Seus organizadores tentaram sugerir
o que, em essência, é indemonstrável. Eles se esforçaram a mostrar problemas sem
adoçá-los, mas, ao contrário, com um sólido espírito crítico, dizendo verdades que
nem sempre são agradáveis”.
91
Essa é a imagem que os realizadores têm da
exposição realizada, uma auto-imagem, portanto, de detentores de verdades duras
que precisam ser ditas de maneira crua, independente de o outro concordar com elas
ou se elas os desagradariam. O espírito crítico legitima e autentica a verdade. Poderia
88
KATZ, Chaim Samuel; DORIA, Francisco Antonio; LIMA, Luiz Costa. Dicionário básico de
comunicação. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1975, p.91.
89
BURKE, Peter. Uma história social do conhecimento: de Gutenberg a Diderot. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2003, p. 93.
90
SCHNEIDER, Evzen. “La voie du musée”, exposition au musée Morave, Brno. Op. Cit.
91
Ibid., In Op.Cit., p. 184, 1977. [Tradução e grifo nossos].
38
se atribuir a esses contextos de espírito crítico e de verdade o sentido de poder que
uma exposição, verbal ou museística, tem, acompanhando o raciocínio de Bellaigue
92
o poder que, através dos signos e da interpretação, a exposição constitui enquanto
meio de expressão e de designação.
Esta linguagem [...] torna-se o melhor e o pior das coisas: designação
imperativa, visualização de primeiro grau ou ilusão do sensível,
mentira ou verdade são assuntos de poder e não apenas de
conhecimento. O ajuste é complicado entre as intenções do
comunicador e as expectativas do visitante.
O outro, nesse caso o visitante, o público a que se dirige a exposição, é o
pessoal dos museus. A sociedade como um todo é acrescentada enquanto alvo, “pois
a sociedade permanecerá sempre como juiz mais sincero e o crítico mais estimulante
de nossos trabalhos”.
93
Pode-se pressupor referir-se ao pessoal de museu e de outros
visitantes da sociedade local, regional, nacional, do leste europeu ou européia.
Mas, o que definiria a necessidade de apresentar a teoria museológica em uma
exposição museística?
“Há uma consciência da crise o que implica esperança em solucioná-la”. A
exposição O caminho do museu “seria, portanto, uma pesquisa nesse sentido”.
94
A
crise referida deve-se ao descompasso do museu com as mudanças observadas no
mundo antes do início dos anos 1970: “a concepção tradicional do museu é cada vez
mais posta em cheque, concepção essa baseada em concepções ainda de fins do
século XIX e inícios do XX”, o museu com papel ultrapassado, “do ponto de vista
científico e metodológico” quando observado à luz da revolução científica e técnica” a
que considerava assistir o autor.
95
Crise dos museus satisfazendo unicamente aos
interesses particulares e aos desejos pessoais, preso a técnicas descritivas e a
classificações emprestadas às ciências tradicionais que tenham relacionamento com
os museus”.
96
Percepção da crise patenteada “pela cada vez maior insistência com
92
BELLAIGUE, Mathilde. Du discours au secret: le langage de l’exposition. [s.l.] [s.n.], [19--] Fotocópia.
p. 24.
93
Ibid., In Op. Cit., p. 191, 1977. [Tradução nossa].
94
Ibidem, p. 184. (grifo nosso).
95
SCHNEIDER, Evzen. “La voie du musée”, exposition au musée Morave, Brno. Op. Cit., p. 184
[Tradução nossa].
96
Idem, in loc. cit., p. 191 [Tradução e grifo nossos].
39
que a ela se refere nas conferências e seminários especializados; abordada em
periódicos museológicos e em outras fontes. Há uma consciência da crise”.
97
Soa o tom redentor, de salvação, e, ao mesmo tempo, profético e escatológico:
como somente a Museologia pode permitir regular concretamente a situação atual dos
museus e de ter em vista concretamente o futuro dos museus, é ela, portanto, que
definirá o caminho dos museus hoje [1977] e em 2001: Os museus do século XIX
estão mortos. Vivam os museus do século XXI”.
98
E a teoria apresentada conferiria um
estatuto científico à Museologia que, por sua vez, asseguraria a continuidade
adequada do museu ao seu tempo social, científico e tecnológico. A teoria
museológica e a documentação apresentadas na exposição resultam dos trabalhos do
Departamento [...] e da Seção de Museologia do museu da Morávia, além de, na
medida do possível”, apresentar resultados obtidos em outros países.
99
Os criadores da nova ordem vinham difundi-la ao mundo, missão de caráter a
salvar os museus da sua defasagem. “Este foi o nosso objetivo com esta exposição
quisemos situar o debate no coração do problema e fazer compreender bem que o
desejo que anima a todos que participaram, de uma maneira ou de outra, do
desenvolvimento da Museologia é pesquisar o caminho por onde devem enveredar os
museus, pois é este o único meio de realmente dar um passo adiante”.
100
Teorizar, apresentar a teoria no meio mais próprio de comunicação do museu,
a exposição, implica um aspecto didático, analítico, recorrendo-se à demonstração
como força de argumentação, tentativa de convencimento e de confirmação de uma
tese. E reafirma-se o papel do objeto material no museu, de ser documento da
realidade, provada através do testemunho que o objeto detem, conceito adiante
explicitado pelo articulista.
Aproveitando jubileus comemorativos, realizada pelo curso de Museologia da
Universidade e pela seção de Museologia do museu, a exposição foi chancelada pelo
ICOM.
101
97
Ibidem, p. 184.
98
Ibidem, p. 190 [Grifo nosso].
99
Ibidem, p. 184.
100
Ibidem, p. 191 [Grifo nosso].
101
SCHNEIDER, Evzen. “La voie du musée”, exposition au musée Morave, Brno. In: UNESCO. Museum.
Paris, v.29, n. 4, p. 184, 1977 [Tradução e grifo nossos].
40
E ecoamos a frase:
Se há trinta ou mesmo vinte anos alguém, em suas colocações
ou em seus escritos, tivesse considerado a Museologia como
uma ciência, em muitos teria suscitado um sorriso de
compaixão ou de desconsideração. É evidente que hoje a
situação é totalmente diversa.
102
O teor da sentença publicada em 1883 ainda poderia ser passível de
ocorrência em 1977, pois não se pode “afirmar ter a Museologia se imposto no mundo
da ciência e na consciência social”.
103
“Certamente, temos que fazer progredir a causa dos museus antes de passar a
chama à geração vindoura”.
104
Seguem, resenhados, os principais temas apresentados na exposição,
constantes das páginas 184 a 190:
“Sempre houve museus”
Atua como introdução. A existência da musealidade é verificável através das
riquezas dos templos pré-helênicos, nos thesauros gregos, nos tesouros medievais,
nos gabinetes do renascimento, expressões antecedentes aos museus dos tempos
modernos, e todos são formas diferentes de exprimir a relação entre o homem e a
realidade”.
105
Os museus persistiram, a despeito do ceticismo de J. G. Herder, F. T.
Marinetti e C. Stein que, entre outros, em conjunto com a literatura contemporânea,
questionavam a razão de ser dos museus. Hoje se discutem a razão de ser [que
atualmente designaríamos por missão?] e o futuro dos museus. A exposição nesta
parte marca os anos extremos 0 e 2001, com as datas referenciais: 300, 800, 1789,
1912, 1945. Maquetes de templo grego e de construção japonesa remetem ao museu
nas culturas ocidental e oriental, e as fotografias redundam as expressões museais:
gabinetes de curiosidades, câmara de maravilhas, galeria de arte, tendas. Para o
102
Texto anônimo, provavelmente de J. Graesser, escrito na Zeitschrift für Museologie und
Antiquitätenkunde, de 1883, Apud SCHNEIDER, 1977, p. 183. (Tradução nossa). Em KUNSTBUS,
http://www.kunstbus.nl/jaartal/1878.html, aparece em meio a um texto em holandês a referência à mesma
revista. No entanto, o ano a que parece se relacionar é 1878, antecedendo em cinco anos à ocorrência
mencionada por SCHNEIDER: “Museum In 1878 sluit Nederland zich hierbij aan nadat in 1875 een
bedrag op de rijksbegroting was vrijgemaakt om een aanvang te maken met het afgieten van Hollandse
beeldhouwwerken. 1878 Eerste jaargang Zeitschrift fur allgemeine Museologie und verwandte
Wissenschaften, na een nummer omgedoopt in Zeitschrift fur Museologie und Antiquitatenkunde.
103
SCHNEIDER, op.cit., p. 184.
104
Ibidem, p. 191. (Grifo nosso).
105
Ibidem, p. 184 [Grifo nosso, enfatizando a expressão do objeto da Museologia contida na afirmação].
41
ICOM, há tendências que se delineiam sobre o campo dos museus, que vão da
renovação da natureza do museu em si até uma revolução de sua situação. Expõe-se
a Proclamação do ICOM, destacando a definição das tarefas atuais e futuras dos
museus, e fotografias evidenciam exposições de museus na 2ª. Metade do século XIX
e início do XX.
“A pesquisa de um percurso [voie] no labirinto da realidade”.
106
(Grifo nosso)
O interesse de se preservar objetos da realidade fugidia e constantemente
mutável para os conservar e os expor se justifica se os museus realmente tiverem uma
missão social específica; se, à sua maneira, puderem enriquecer a vida dos homens;
se encontram e podem seguir seu próprio caminho que lhes dê significação, no
presente e no futuro. A proclamação do ICOM é um suporte dos princípios pactuados
e norteadores do que a representação social estabelece como adequado, definindo as
tarefas atuais e futuras dos museus. O ICOM ocupa lugar destacado na exposiçao.
“A evolução dos museus [...] nos propõe um labirinto de questões
provocantes”.
107
“Os museus são mausoléus?”
Muitos crêem que sim, guardando objetos velhos, que perderam a função
original, cemitério e santuário, preservando testemunhos da natureza e da sociedade.
Mas isso basta para justificar preservá-los?
“Os museus são tesouros?”
“Representantes da riqueza, poder e criatividade humana?
“Os museus são gabinetes de curiosidade?”
O que é conhecido e próximo não nos atrai, ao contrário do incomum,
excepcional, original, o geralmente inacessível. Coletar raridades, curiosidades,
objetos extraordinários ainda ocorre no presente. Interessa a um grande número de
visitantes. Mas basta ao museu oferecer prazer e estimular, apresentar “deformações
maneiristas da realidadee ser um tipo de teatro do insólito e do maravilhoso”. (grifo
nosso)
“Os museus são coleções escolares?
106
Ibidem, p. 185 [Grifo nosso].
107
Ibidem, p. 188 [Tradução e grifo nossos].
42
“J. A. Comenius acrescentou um interesse todo particular ao ensino através
do objeto”.
Concretos e perceptíveis, os museus atendem à missão pedagógica, tornada
importante no contexto da revolução científica e tecnológica. Lugar de miragem
[ilusões?], as exposições, naquela altura e para o articulista, apresentam tudo o que se
recomendaria ver, com a ajuda de modelos e de maquetes. Seria uma limitação, pelo
uso de fontes de informação objetiva. Acumulam objetos e criam formas de exposição
para comprovar de modo irrefutável os fatos, e não para ilustrá-los.
“Os museus são depósitos científicos?”
Tais coleções resultam das descobertas científicas, sendo fontes de
conhecimento. Pode resultar um super acúmulo de objetos dado o avanço da ciência
moderna. Se as coleções são fontes primárias de conhecimento e tendo grande valor
científico, porém é necessário fazer crítica, pois necessariamente, nem tudo é um
documento científico.
“Os museus através da história” (p. 189)
“A atividade dos museus não pode ser unicamente um aspecto prático.
Necessita uma concepção teórica que lhe seja própria”. Ao longo da história, essa
teoria esteve atrelada ao desenvolvimento da ciência
108
, da filosofia e do perfil cultural
da sociedade. “A origem de uma teoria relativa aos museus remonta a meados do
século XVI e personalidades como Quiccheberg, Olearius, Major, Neickelius, Lineu,
Klemm, Graesse, Murray, Lichtwark, Treter, Coleman desempenharam um papel não
negligenciável a sua elaboração”. Mas, não, essa teoria não se cristalizou em ramo
independente da ciência, embora tenha contribuído para o desenvolvimento dos
museus e para o lugar que ocupam na sociedade.
“A Museologia se torna uma ciência independente”
Devido às exigências da sociedade moderna, os critérios de normatização
das atividades museísticas sofreram importantes mudanças. É necessária uma base
108
O autor aborda a ocorrência e elevado grau de constituição de coleções a partir do século XVI. À p.
102 observa “a ascensão aparentemente irresistível dos museus nesse período [séc. XVI-XVIII] [...]
explicada não só como indicador da expansão da curiosidade mas como uma tentativa de administrar
uma `crise de conhecimento` que se seguiu à inundação da Europa pelos novos objetos provenientes do
Novo Mundo e de outros lugares [...] objetos que resistiam a se adaptar às categorias tradicionais”. (p.
102) Lembre-se que o museu Ashmolean liga-se à Universidade de Oxford, sendo criado ainda no escopo
da revolução científica do século XVII, o empirismo. BURKE, Peter. Uma história social do
conhecimento: de Gutenberg a Diderot. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003, p. 100 et seq.
43
científica, museológica, não intuitiva, casual, personalista. Exige regras que definam a
abordagem [approche] especificamente museológico da realidade, dada a vocação
social do museu. (grifo nosso). Museólogos contemporâneos ao artigo, como Rivière,
Neustupný, Wittlin, Michaijlovskaja, Cameron, Bauer, e outros pensadores, como
Bazin ou Malinovski, contribuem sobremaneira, conforme o autor, para este processo.
O ICOM e seus comitês especializados trazem seu suporte e sua ajuda prática a essa
evolução. Instituições criadas em diversos países após a Guerra Mundial também
têm papel destacado. Centros de formação em Museologia e museografia têm se
multiplicado e aperfeiçoado.
“O sistema da Museologia”
109
“O mundo é um todo formado de coisas e de mudanças”. Do ponto de vista
muselógico, “[...] um objeto é o documento mais autêntico da realidade, a prova direta
do que une as coisas e as mudanças”.
110
“Um objeto só tem valor documentário para o
homem se ele responde a certas exigências. A Museologia retira os objetos da sua
situação original, pois eles podem satisfazer a necessidade de conhecimento,
educação ou de comparação de valores”. (Grifo nosso). O que interessa à Museologia
é, portanto, e como enunciado, o valor documentário autêntico da realidade que
está contido no produto cultural”. A legenda da ilustração 4 expressa a diferenciação
dos documentos em seu sentido primeiro, apresentando um documento primário, um
secundário e um codificado.
“A seleção museológica” (p. 190)
Diversas disciplinas científicas se interessam pelos objetos enquanto
portadores de informação. Por seu turno, a Museologia os seleciona em função de seu
valor documentário geral. Uma coleção deve ser constituída e concebida como um
modelo documentário da realidade, considerando-se que com frações independentes
não se comprova a realidade completa. Por meio de uma organização estabelecida
nos habilitamos a aproximar e a comprovar o conhecimento das leis da realidade (grifo
nosso). A seleção depende do conjunto de conhecimentos científicos sobre o assunto
em questão, i.e, de uma informação multidisciplinar: a Museologia deve integrar os
conhecimentos adquiridos por diversas disciplinas do ponto de vista do sujeito da
109
Sobre Sistema, rede e a aplicação destes conceitos na Museologia ver STRÁNSKÝ, ZbyneK Z. La
théorie des systèmes et la muséologie. Documents de Travail sur la Muséologie – DoTraM, Estocolmo,
n. 2, p. 72-76, 1981.
110
Sobre a imprescindibilidade do objeto original ver DELOCHE, Bernard. Le multimédia va-t-il faire
éclater le musée? ICOFOM Sudy Series ISS, Munique, n. 33b, p. 46-52, 2002. Nesse texto, analisa o
papel na exposição do objeto original e de seus substitutos.
44
cognição propriamente dito, isto é, do caráter documentário do objeto”. (grifo nosso).
As disciplinas interagentes são: mineralogia, arqueologia, geologia, etc.(sic),
etnografia, antropologia (as duas disciplinas sobre um mesmo suporte), historiografia,
paleontologia, história da arte. A seleção tem por critério a capacidade de
comprovação / documentação de um objeto, sendo que sua medida de comprovação
está vinculada à integração do conhecimento científico com os objetos.
“A tesaurisação museológica”
“Uma peça única não é suficiente para atestar a essência de um fato. Somente
um feixe de provas nascidas da aproximação do conhecimento adquirido com a
realidade nos permite trazer um testemunho autêntico sobre a realidade”. (p. 190) O
conjunto de documentos, as coleções, é algo novo, diferente qualitativamente da
realidade original; o estoque de coleções é um modelo da realidade. [é o museu então
uma metarealidade]. É necessário criar meios artificiais de vida para essa nova
realidade, de modo a preservar o documento autêntico. O thesaurus é um sistema
abstrato e um princípio de classificação, de organização que parte da confluência do
conhecimento com a realidade”. (grifo nosso)
“A comunicação museológica
111
A documentação museal
112
não pode existir isoladamente. O objeto é o meio
específico
113
de comunicação dos museus um documento. Decorre que a exposição
de documentos autênticos é a maneira significativa e diferencial do museu em relação
a outros meios de informação (grifo nosso). “Decorre dessa concepção de Museologia
que o museu é forma institucional que concretiza e verifica a abordagem museológica
da realidade”. (grifo nosso). Um vetor cruzando horizontalmente se finaliza em uma
representação tridimensional do olho (ou do córtex cerebral a fotografia não oferece
condições de afirmação), sinédoque do visitante. A partir da documentação em museu
(o trabalho dos museus, seu acervo, pesquisa e exposição), os vínculos ou
relacionamentos [com a realidade?] são : cultural, educacional, informativo, de
interesse (sic). O texto central no painel de fundo deste setor diz “As necessidades e
complexidade do mundo moderno tornam, mais do nunca, maior a exigência sobre
esse processo de informação. A nossa imprensa escrita, nossos museus, nossos
111
Não teria sido mais apropriado nesse caso designá-la como comunicação museística ou expográfica,
nos termos da publicação do projeto Terminologia Museológica, dirigido por DESVALLÉS, ou à luz do
que Stránský esclarece oportunamente? [Grifo nosso].
112
Grifo nosso destacando o termo empregado no original francês (muséal).
113
E os processos, os lugares, por exemplo?
45
laboratórios científicos, as nossas universidades, bibliotecas e publicações necessitam
satisfazer as exigências desse processo, ou falham em seus propósitos”. Norbert
W[ie]NER).
114
O texto à direita, embora interrompido, permite entrever seu teor: “Por
intermédio da comunidade museológica, a Museologia [...] pode entrar na consciência
do público”.
“A missão da Museologia”
Os museus justificaram sua existência ao longo da história, contribuíram de
forma original para o desenvolvimento da humanidade, e desempenham um papel
insubstituível no processo de civilização (grifo nosso). Acompanharam a evolução da
sociedade e devem continuar a se adaptar. O motor hoje deve ser a Museologia: do
ponto de vista de um mundo científico e tecnológico, somente a ciência é o
instrumento de descoberta das leis da natureza e de abrir novos caminhos [voies]
(grifo nosso). Os princípios fundamentais da Museologia que os museus devem aplicar
são, assim: seleção, tesaurisação (“constituição de coleções [de objetos documentos
autênticos] representativas e seu enriquecimento sistemático”, p. 190) e comunicação.
Apesar das definições e conforme os termos em que são apresentadas na
Introdução, Museologia e Museu ocorrem simbioticamente e o objeto de museu
centraliza as discussões da Museologia. Demonstração disso é o emprego do termo
museológico indistintamente à teoria e ao museu.
115
A realidade é termo constante, leitmotiv a infundir o objeto da Museologia na
concepção dos organizadores da exposição. Em contraposição, o objeto
museográfico, museístico, é visto como o único, abstraído necessariamente do
contexto original para cumprir a função documentária, no interior de uma edificação
nomeada museu. E tal é o coração do sistema da Museologia como referido na
exposição em apreço.
Territórios, sistemas in situ, animais e vegetais em zoológico e em jardins
botânicos, os processos, a exemplo dos científicos, ali não foram considerados
objetos. Objetos, por outra perspectiva, seriam apenas os produtos culturais, não
114
Trata-se de trecho, agora transcrito em inglês. The needs and the complexity of modern life make
greater demands on this process of information than ever before, and our press, our Museums, our
scientific laboratories, our universities, our libraries and textbooks, are obliged to meet the needs of this
process or fail in their purpose”. WIENER, apud BRUCE, Lorne. Public libraries and the information
age. Edição editada da conferência proferida na Kitchener Public Library, 16 out. 1995. Disponível em:
<http:// www.uoguelph.ca/~lbruce/documents/info.html>. Acesso em: 27 jul. 2007.
115
Ver as distinções terminológicas registradas em DESVALLÉES, André (Dir.) Terminologia
museológica: proyecto permanente de investigación. ICOFOM/ICOFOM LAM.S/l: maio 2000.
46
ficando claro de não se falar em natureza considerada uma visão culturalizada e
dominante que o homem tem sobre ela. Afirma-se o conteúdo de informação e de
autenticidade do objeto que, na realidade, trata-se de representação, interpretação. No
interior mesmo da observação de objetos no sentido clássico, justapondo a afirmação
de “a realidade não se comprova somente pelo documento autenticado”, enuncia a
“organização hierárquica da documentação”, dos documentos primários, secundários e
codificados.
116
E o futuro (2001, Vivam os museus do século XXI) é realidade?
Ao enfatizar o caráter do objeto no museu, documentário da realidade e para o
conhecimento da realidade, depreendem-se os referenciais fenomenológicos (a
realidade como um dado) e gnoseológico ou da teoria do conhecimento (a relação
sujeito-objeto na produção de conhecimento). O conhecimento na vertente
fenomenológica é o considerado a partir do que se percebe com os sentidos e
oportunamente tratado racionalmente. O conhecimento afetivo não é considerado, tão
pouco a fruição por prazer que se possa ter em uma estada em um museu: o museu é
de essência cognitiva.
De modo antagônico, a exposição não apresenta objetos clássicos autênticos,
parte da realidade, etc., mas diapositivos, fotografias, modelos, esquemas, palavras,
frases, formas, volumes, maquetes para documentar a argumentação da tese-idéia:
teoria da Museologia. Este aspecto será objeto da seção seguinte. Sem esses objetos,
documentos, então, a exposição não seria real? Seria apenas ficcional? Curioso
antagonismo...
A presença de termos como desenvolvimento, progresso, civilização, conferem
algum contorno positivista ao pensamento explicitado no texto do artigo.
EXPOGRAFANDO CONCEITOS EM BRNO
A análise da expografia, como anteriormente dito, se circunscreve nas
possibilidades oferecidas pelas imagens fotográficas que ilustram o artigo de
116
SCHNEIDER, Evzen. “La voie du musée”, exposition au musée Morave, Brno. Op. Cit., p. 189.
47
Schneider. Em preto e branco, o que inviabiliza qualquer tentativa de análise de
esquema cromático, não cobrem documentalmente a totalidade da exposição. Ao
expor conceitos, as palavras e os numerais incorporam o campo da visualidade
expositiva como valor em si e não suplementar (como etiquetas e textos
complementares, por exemplo), sendo objetos em que se plasmam idéias. As
palavras, ainda, se apresentam como legendas às fotografias de ilustração do texto e
as palavras do texto, por sua vez, se somam às palavras-objeto e às palavras-legenda
como fonte para a interpretação das imagens da exposição constantes do artigo.
Convém relembrar estarem em checo as palavras presentes na exposição e, em
conseqüência, nas reproduções fotográficas.
Recordando os termos platônicos de forma e matéria, a idéia e a aparência
estão intimamente associadas nessa exposição. Idéia das aparências ou aparência
das idéias poderia orientar duas linhas analíticas da expografia ou vetores: qual a
forma (idéia) das matérias (exposição, exposto, comunicado, e as várias linguagens,
recursos, estratégias empregadas) ou qual a matéria (discurso) das idéias (A teoria,
seus conceitos, pressupostos, referenciais). O trabalho tem-se orientado para a
segunda via: o quê e como a exposição opera para argumentar favorável e
eficazmente a formulação teórico-museológica do grupo checo.
Deloche considera que “a Museologia não se pode abster de se interrogar
sobre os desafios e as modalidades da apresentação, que nunca é uma operação
neutra, na medida em que ela comporta sempre um impacto sobre o público e traz
consigo uma concepção das missões do museu e mesmo do seu estatuto
institucional”.
117
E retome-se Bellaigue na sua abordagem sobre o caráter político na
exposição.
118
Ou o que Schneider considera:
A exposição não é em nada tradicional, nem pelo conteúdo, nem pela forma. Seus
organizadores tentaram sugerir o que, em essência, é indemonstrável. Eles se esforçaram a
mostrar problemas sem adoçá-los, mas, ao contrário, com um sólido espírito crítico, dizendo
verdades que nem sempre são agradáveis.
119
117
DELOCHE, Bernard. Le multimédia va-t-il faire éclater le musée? ICOFOM Sudy Series – ISS,
Munique, n. 33b, p. 46, 2002 [Grifo nosso].
118
BELLAIGUE, Du discours au secret: le langage de l’exposition. [s.l.] [s.n.] [19--], p. 24. Fotocópia.
119
SCHNEIDER, Evzen. “La voie du musée”, exposition au musée Morave, Brno. Museum, Paris, v. 29,
n. 4, p. 184, 1977[Grifo nosso].
48
O partido comunicacional da exposição, seu caráter de imposição
120
e
unilateralidade se apóiam em determinados pressupostos da teoria da informação. E o
indicativo se acha exposto na exposição, embora não referenciado por completo.
Mencionou-se a presença na exposição de um texto de Wiener, no segmento
destinado à comunicação museológica. Está ao centro, abaixo dos vínculos
informacionais do objeto em relação à realidade e entre a linha vetorial que, partindo
do objeto ou da exposição (supõe-se que a fotografia está cortada), chega ao olho
(ou córtex cerebral). A posição do texto de Wiener espelha o esquema:
Ruído
Fonte – canal – receptor.
A Wiener
121
e a Claude E. Shannon deve-se o modelo matemático do
processo de comunicação
122
, “a visão (e ontologia) que subjaz à teoria da informação
de Shannon Wiener”.
123
A comunicação é tomada no sentido de ocorrer entre duas
pessoas, em que uma fala e outro escuta, respectivamente fonte e receptor, por um
canal (suporte físico da mensagem, o ar que transmite as ondas sonoras) e os ruídos
exteriores podem prejudicar a perfeita compreensão da mensagem.
124
125
120
Bellaigue observa inicialmente que na definição de museu do ICOM ou em seu Código de Ética, “nada
se encontra sobre o interlocutor ou sobre o diálogo possível”. BELLAIGUE, op. cit., p. 22-23.
121
Wiener, matemático norte-americano, 1894-1964, é filho de um especialista em lingüística eslavônica.
KATZ, Chaim Samuel; DORIA, Francisco Antonio; LIMA, Luiz Costa. Dicionário básico de
comunicação. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1975, p. 431. BYNUM noticia que durante a 2a. Guerra
Mundial, Wiener e colegas desenvolveram o novo ramo de ciências aplicadas dos sistemas de retro-
alimentaçao de informação (science of information feedback systems) que Wiener denominou
“cibernética”. Com grande antevisão, concebeu que essa ciência quando combinada aos computadores
desenvolvidos no esforço de guerra teria enormes implicações sociais e éticas. Finda a guerra, em suas
conferências fala da era da automação [automatic age], também chamada “a segunda revolução
industrial”. BYNUM, Terrell Ward. Wiener’s vision: the impact of the automatic age on our moral lives.
Disponível em: <http://web.comlab.ox.ac.uk/oucl/research/areas/ieg/e-library/bynum.pdf.>. Acesso em: 27
jul. 2007.
122
Esse modelo, proposto por Claude E. Shannon, engenheiro norte-americano, criador da Teoria da
Informação, em 1948, foi “vagamente antecedido” por Wiener. Mas a fonte não cita a participação de
Weaver. KATZ, Chaim Samuel; DORIA, Francisco Antonio; LIMA, Luiz Costa. Dicionário básico de
comunicação. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1975, p. 91.
123
Ibidem, loc.cit.
124
Ibidem, loc. cit.
125
A permanência conceitual desse modelo ou de seus elementos pode ser percebida através da
presença no texto de Bellaigue. “Há o ruído da não-comunicabilidade e o silêncio da
incomunicabilidade: o ruído é aparentado com a avalanche de informações indistinguíveis que perturbam
as mídias e que, sem grande efeito educativo, freqüentemente, ao contrário, é apenas um modo
suplementar de consumo; o silêncio é da ordem da contemplação, da reflexão e do questionamento
(‘museu das questões’, dizia belamente o cineasta Chris Marker falando do Ecomuseu do Creusot)”.
BELLAIGUE, Mathilde. Du discours au secret: le langage de l’exposition. Op. Cit. p. 24. Fotocópia.
49
Para Wiener, um processo de comunicação necessita para se efetivar que a
direção do tempo para a fonte e receptor seja o mesmo. Se, p. ex. o vetor do receptor
estiver voltado para trás no tempo, o que for antecedente lógico na mensagem, para a
fonte, será um conseqüente (virá depois) para o receptor.
126
127
Trata-se da
unidirecionalidade a que referira anteriormente. Porém há, nesse modelo, a nítida
desproporção entre o papel da fonte e o do receptor.
128
O trecho citado menciona os museus como uma das organizações que deve
responder ao volume jamais visto de demanda por informações necessárias ao
complexo mundo moderno: e as palavras, objetos-signo, são chaves bastante eficazes
na decifração objetiva e mais imediata de certos enigmas, especialmente no caso de
exposição analisada.
Recuperando-se, o roteiro temático da exposição foi:
Sempre houve museus (Introdução)
A pesquisa de um trajeto no labirinto da realidade
O museu através da história
A Museologia se torna uma ciência independente
O sistema museológico
A seleção museológica
A tesaurisação museológica
A comunicação museológica
A missão da Museologia
O ACERVO
Em todos os segmentos desse roteiro, os numerais, a expressarem anos,
p.ex., e as palavras, isoladas ou em frases, transcritas ou enunciados próprios, objeto
ou complemento explicativo, o papel desses nossos códigos comunicacionais é
126
WIENER, Norbert. Cybernetics. 2. ed. Massachussets: MIT Press, 1965, p. 34.
127
KATZ, Chaim Samuel; DORIA, Francisco Antonio; LIMA, Luiz Costa. Dicionário básico de
comunicação. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1975, p. 91-92.
128
“[...] uma duvidosa assimetria entre o ‘receptor’ (que ouve) e o transmissor’ (que fala)”.
Ibidem, p. 91.
50
inequívoco. Os números e as palavras de linguagem verbal assumiram a natureza
visual plástica, tridimensionalizada ou destacada sobre um fundo específico,
recortado, em linha reta ou em curva, acompanhando visores de vitrines cilíndricas.
Grandes, médias e pequenas, associadas através de linhas esquemáticas, ou
direcionadas por vetores, em claro sobre escuro ou em escuro sobre fundo claro, em
boa parte dos registros visuais disponíveis elas são o objeto, definem o espaço das
bases, orientam e condicionam o olhar, lugar (estático) e direção (dinâmico, vetor,
remissivo, associativo). Compartilham, em diálogo constante, o espaço expositivo com
as imagens fotográficas. As fotografias monocromáticas (ao que parece) copiam
documentos iconográficos, objetos tridimensionais, inscritas em círculos,
preferencialmente, em hexágonos e, poucas vezes, em quadriláteros, às vezes
reproduzem fotos, outras se apresentam em escala natural em relação ao objeto
representado, recortada, participando de diorama. Estão presentes em diapositivos.
Fotografia: objeto original ou cópia? Fotografia: objeto original e cópia? Fotografia:
documento primário, secundário ou codificado?
O acervo de objetos clássicos se constitui por:
Documentos textuais do ICOM, um copo de vidro (?), documento cartorial,
cartões perfurados (de computador), fita magnética de gravação (sonora ou de
computador?), conjunto de besouros.
Articulando palavras - conceitos teóricos, esquemas ou diagramas elaborados
em hastes que parecem metálicas, essas relações de noções tornadas visuais são
valorizadas pela interposição de esferas (sem sentido funcional discernível).
O sistema do mobiliário expográfico funda-se na figura do hexágono e de sua
projeção volumétrica, no todo ou à metade. Modulando painéis, definindo tetos e
bases, sendo vitrines ou perímetro delimitador das imagens fotográficas ou se
insinuando em piso e parede, apenas rivalizam com as circunferências, nos recortes
vazados de painéis (de onde partem e chegam as extremidades dos esquemas), nas
bocas de vitrines verticais. O cubo surge na vitrine correspondente ao ICOM. Seria o
módulo hexagonal, seriam os hexágonos justapostos uma metáfora da colméia:
articulação, alusão à sociedade humana?
51
Tecnologia, a contemporaneidade: falar sobre computador e mostrar imagens
suas e de elementos a ele associados, fotografias, mobiliário expográfico modular,
projeções de diapositivos, uso de uma linguagem diagramática e esquemática.
Recursos atrativos, como diorama e as maquetes, de templo grego e de construção
japonesa, na Introdução, a reprodução de iconografia da cultura em geral e das
coleções e organizações museísticas em particular tudo foi pensado para que fosse
uma “exposição [...] em nada tradicional, nem pelo conteúdo, nem pela forma”.
129
As setas direcionais unívocas, afirmando os princípios wienerianos, se
apresentam nas composições dos esquemas, horizontal e/ou verticalmente, em aspas
aplicadas, em suportes recortados com sua forma, no desenho do tampo das três
vitrines do segmento final da exposição (ali apontando para dois objetos em pedra
referentes à mineralogia e à ação humana, tendo ao centro a expressão: “Os museus
do século XIX estão mortos. Vivam os museus do século XXI”.
Como exemplo das operações lingüísticas expográficas, examinemos alguns
casos.
Para demonstrar a relação entre Museologia e as disciplinas científicas
pertinentes, vem a palavra Museologia aposta a uma seta, direcionada para a direita,
saindo de um recesso recortado em círculo no painel lateral (de meio hexágono, em
planta). Hastes soltas no espaço, horizontal para a Museologia e verticais, as demais
disciplinas, paralelas entre si, de comprimentos variados, cruzam com a horizontal:
demonstração de como a Museologia deve integrar os conhecimentos adquiridos por
diversas disciplinas, considerados o sujeito da cognição (que racionaliza e organiza o
que se demonstra) e o caráter documentário do objeto (que serve de estudo a várias
disciplinas).
Ao abordar a comunicação museológica, recorrendo ao esquema das palavras
sobre placas e hastes, saindo e chegando em círculos recortados nas laterais, enfatiza
os vínculos de conteúdo do objeto com a realidade, centralizando-os. As imagens
fotográficas, por trás, figuram o interior do museu Guggenheim de Nova Iorque, de
fichas e processadores eletrônicos de dados (computadores, um cientista trabalhando
e um caminhão com exposição. E, ao centro e abaixo, a citação a Wiener relacionando
129
SCHNEIDER, Evzen. “La voie du musée”, exposition au musée Morave, Brno. Museum. Paris: ICOM,
1977, v.29, n. 4, p. 184.
52
informação, museu, demanda social e correspondência de expectativas: ser atual.
Elevada redundância.
Para o grand finale da odisséia museal e museística, nada menos que o futuro
oferecido na Introdução. Sobre o piso e de frente a uma parede, ambos completos
de malha de hexágonos, se oferece a intensidade das vitrines-seta providas de
dispositivos luminosos (luminotécnicos, talvez?), apontando para as imagens de líticos
à parede, ladeando a frase que parafraseia a constatação e a aclamação, da morte e
da continuidade da realeza: “Os museus do século XIX estão mortos. Vivam os
museus do século XXI”. – O futuro tomado como realidade...
Linha de tempo organiza a apresentação de aspectos diacrônicos, maquetes
dão volume espacial e contribuem para o efeito final de movimentação de linhas e
figuras e volumes geométricos, em que os esquemas de argumentação, as fotos,
palavras e números, toda a expografia consubstancia a teoria museológica de Brno:
matéria (discurso) das idéias (a teoria, seus conceitos, pressupostos, referenciais), a
metarealidade da relação homem-realidade através de uma metalinguagem, daquele
que descreve o processo, o observador externo, que a emprega como fornecedora de
sentido para descrever o processo observado.
130
Se “A exposição não é em nada tradicional, nem pelo conteúdo, nem pela
forma. Seus organizadores tentaram sugerir o que, em essência, é indemonstrável
131
,
ao contrário do considerado, a exposição demonstra o que conscientemente deseja e,
enquanto discurso, necessariamente não controla e extravasa elementos igualmente
demonstráveis. Humildade ou pedido antecipado de desculpas?
Parece que o paradoxo expresso de tentar expor o inexponível foi revelado
como é, paradoxal, pela exponibilidade da teoria e que não de objetos vive a
Museologia ou mesmo o museu: o conhecimento em si é um objeto.
130
KATZ, Chaim Samuel; DORIA, Francisco Antonio & LIMA, Luiz Costa. Dicionário básico de
comunicação. 2.ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1975, p. 91.
131
SCHNEIDER, Evzen. La voie du musée”, exposition au musée Morave, Brno. Op. Cit., p. 184, 1977
[Grifo nosso].
53
“Eu não sei se essa descrição, complementada por algumas fotografias,
permitirá ao leitor fazer uma idéia muito precisa de nossa exposição”.
132
CONSIDERAÇÕES
Stránský é a figura axial do pensamento da teoria museológica em Brno,
atuando na Escola de Museologia, na exposição que corporifica em boa parte as suas
idéias, no ICOM. Tratou-se aqui de conhecer mais detidamente o seu pensamento
museológico e uma etapa do seu desenvolvimento até o início dos anos 1970. Não se
está desejando minimizar a importância dos outros pensadores e organizadores da
exposição, mas examinar certas formulações mais de perto: o objeto da Museologia, o
conceito de Museologia, a teoria museológica, enfim, sob um recorte de tempo e
espaço.
Trazendo até aqui a “hipótese” de que “a exposição museística é veículo eficaz
de apresentação visual de princípios da Museologia à luz da escola checa, seus
enunciados, conforme documentada pelo artigo na revista Museum e simultaneamente
132
_________ . Op. Cit., p. 190. Ao final do primeiro semestre de 1979, a turma 1976/1 de estudantes da
Escola de Museologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro UNIRIO inaugurava a
exposição curricular Rotina de pobreza. Entre os alunos integrantes da disciplina encontrava-se o autor
do presente trabalho. Em 1978 ele entrara em contato com o artigo observado ao longo do trabalho que
apresentava posicionamento expográfico compatível com os questionamentos conceituais, todavia
diversos do grupo checo. Desejava-se trabalhar com referenciais teóricos da antropologia urbana, recém
trazidos da Inglaterra pelo casal LEEDS ao programa de pós-graduação em antropologia do museu
Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, entre outras vertentes, como livros
depoimentos de empregada doméstica, estudo sobre a população de conjuntos habitacionais. Mas, em
particular, compreender e discutir como a riqueza no Brasil fundava-se na depauperação dos pobres, em
um círculo vicioso. Buscava-se, por dispositivos hoje denominados interativos, deixar a critério do visitante
a expressão de seu juízo de valor, exercício exposto da democracia (em tempos do fim da ditadura
militar); de representar em três dimensões, visualizar conceitos; romper com o objeto clássico enquanto
única fonte possível de comunicação em museus; usar todas as superfícies, inclusive a do teto e piso, na
enunciação do discurso; discutir como, em um país em que pouco se lê, mesmo em exposições, textos
fossem lidos com o recurso do interativo, do lúdico. Enfim, que o visitante em um dado momento
passasse a ser sujeito da exposição e a turma fosse receptor, que um visitante passasse a ser fonte para
outro visitante, receptor e vice-versa. Tais mudaas e desestabilizações de perspectivas, isto é, de
pontos-de-vista (ontológico, epistemológico, museológico, museístico, político) constituíram-se na
essência a exposição: idéias, pessoas, e não coisas. Por rotina compreendia-se a memória de um
continuum de tempo ainda manifesto, corrente, sincrônico, que do passado avança no presente. Uma
outra percepção do tempo, relativizado, dependente da posição do observador, de suas referências e
referenciais afetivos e cognitivos, com sua emoção e razão. Pela interatividade, o Outro vira o Mesmo; a
virtualidade dos elementos expositicos, de exposição (expots), problemas a serem resolvidos e
actualização, conforme Pierre Lévy, em O que é o virtual? O objeto idéia, a manifestação do
posicionamento político, a liberdade de exercício crítico de expressão. Sobre um piso forrado de paviflex
verde, segmentos retangulares de contact amarelo descreviam um trajeto cíclico e uma seta de saída
(física, da sala de exposição em dependências do museu Histórico Nacional. A pobreza da expografia, em
caixotes rústicos de madeira, de frutas, legumes e verduras, forrações em papel pardo (Kraft), vidros
vazios de produtos industrializados, objetos do cotidiano, a avaliação informal com recortes, colagens,
manifestações escritas. E agora, relembrando todo o desafio e coragem, lendo Bellaigue: expor é
[realmente] correr riscos!
54
entretecendo síntese e argumentos independentes, os parágrafos seguintes
examinarão a eficácia da exposição na apresentação de idéias.
certa desfocalização sobre vários aspectos. Museologia e museu parecem
às vezes sinônimos; o objeto de museu domina a teoria museológica apresentada na
exposição.
São poucas as obras próprias de Stránský a que se tem acesso no Rio de
Janeiro, apenas textos curtos e considerações e referências dele por terceiros. A
certeza, portanto, vacila, particularmente quando discrepâncias são percebidas, porém
sem possibilidade de argüição por intermédio de fontes suficientes. Mesmo sob o risco
de erro, o movimento é para diante.
Se, em 1980, define Museologia como disciplina científica cujo objeto é a
atitude específica do Homem com a realidade
133
e se “O objeto da Museologia não
pode ser o museu. [...] Concebo, portanto, os museus, no quadro do sistema
museológico, como uma das formas possíveis da realização da abordagem [relação]
do homem com a realidade”.
134
Escapa alguma peculiaridade, uma sutileza de
interpretação, talvez, que harmonize o que ele expressa e o que o artigo de Schneider
veiculou. Será que aí estaria a resposta, na visão específica do articulista?
Fala-se incansavelmente de realidade, à qual o objeto da Museologia e o de
museu estão relacionados, pela concepção dos organizadores da exposição. Fala-se
muito, também de objeto, em seu sentido clássico, pela sua capacidade de
documentação e de testemunho da realidade, constituindo a base, se cientificamente
selecionado, do sistema museológico, na acepção do autor. Ora. Se todo o objeto
clássico advém e tem existência na realidade, excetuados os duplos, os simulacros e
os digitais, p. ex, a sua seleção passaria a ser através de uma categoria de valor. E se
deve selecionar pela vinculação a valores da realidade (cultural, educacional,
informativo, de interesse (sic)), todos esses juízos de relacionamento são arbitrários.
Donde, parece que a questão estaria no conceito e definição de realidade: as
realidades das quais nada interessa documentar, outras avaliadas por motivações
políticas que seriam rejeitadas como memoráveis? Ou ainda, certas realidades
133
STRÁNSKÝ apud DESVALLËES, André (Dir.). Terminologia museológica: proyecto permanente de
investigación. ICOFOM/ICOFOM LAM. [s.l.] ___, maio 2000. p. 6. No inglês, no original [Tradução nossa].
134
STRÁNSKÝ (1966; 1987) apud DESVALLËES, André, (Dir.). Op. Cit., p. 6. No francês no original
[Tradução nossa].
55
desagradáveis depreciariam, no futuro, a memória do homem sobre si mesmo, não
merecendo ser perenizadas ou lembradas? A realidade do extermínio promovido pelo
nazismo, a realidade do desmatamento do planeta, a realidade da arte marginal, essas
e outras realidades congêneres não são realidades? Se forem, os objetos ou a noção
de objeto nessa relação mediadora do homem com a realidade (sempre outra,
extracontextual, extratemporal e extraterritorial do sujeito?) deve ser alterada. Essa
realidade documentada, monstruosa e todo-poderosa exige objetos sacrificiais,
aqueles retirados dela para dela falarem ou a enaltecerem no altar dos museus:
objetos materiais, descontextualizados, inanimados e mortos. Nem zoológicos, nem
parques, nem paisagens, nem práticas individuais ou sociais, nem maneiras de
pensar, nem maneiras de sentir.
E, até meados dos anos 1970, estava o museu Nacional de Artes e
Tradições Populares da França, com a revolucionária galeria cultural, de 1975,
concebida por Georges Henri Rivière, como também estavam as experiências de
museu a céu aberto, exploratoriums (o de São Francisco data de 1969), estavam
parques nacionais: nenhuma dessas experiências, as realidades e os objetos com o
que ou de que tratavam mereceram consideração conceitual em Brno? Escapa,
certamente, o conceito de realidade tomada como referencial, e no conceito que serão
encontrados os princípios e critérios que viriam a definir o que compreende por objeto
autêntico, validador, comprovador e, inversa e especularmente, do quê.
A realidade, ou metarealidade, apresentada na exposição não se pode
estranhar, faz um exercício de ficção científica considerada real a realidade que
imagina? O labirinto da realidade supõe o minotauro, fio de Ariadne, para Teseu, e
apenas Teseu.
Qual pode ser o interesse de preservar objetos da realidade mutável para
conservá-los e os expor? Qual Teseu sobreviverá ao minotauro do esquecimento?
Quem será Ariadne? Qual o fio condutor? Ao longo da história, mudam os
labirintos, os minotauros, os teseus, as ariadnes e os fios orientadores. O texto
exemplificou aspectos dessas relações que estabelecem e caracterizam o mito
cretense: museus mausoléus, cemitérios e santuários, procissões, museus tesouros,
museus gabinetes de curiosidade, museus - coleções escolares (didático-
56
pedagógicos), museus-depósitos científicos. E aqueles novos modelos e aqueles que
ainda estão por vir? Labirintos, minotauros, teseus, ariadnes e fios são nós da rede
social, os lugares, os monstros (marginais, incontroláveis, irreverentes), os
ordenadores, os apaixonados e as estratégias de vida e de sobrevida, da saída dos
meandros. Como a sociedade, os nós e as redes se estabelecem de maneiras várias:
não são elas todas realidades? E o que nos faz recordar cada uma das possibilidades
associativas desses conjuntos virtuais não deve, não é passível, não é validável como
preservável? Memória de quem? Memória para quem? (e a contraparte: esquecimento
de quem? Esquecimento para quem?) São lúcidos ao falarem de seleção: escolha,
hierarquização, categorização, exclusão. Não se pode guardar tudo, a menos que tudo
seja guardado nos seus contextos originais pela sociedade, na vida, na(s) realidade(s).
O autenticador é o usuário, aquele que recorre ao fio, o que está ou que concebe o
labirinto, aquele ou aquela que ama, Teseu e Ariadne. Conjunto vivido, conjunto
relatado, conjunto reconstituído, conjunto resgatado, conjunto interpretado: sociologia,
memória, restauração, arqueologia, história e outras ciências (incluindo as físicas e
matemáticas).
Fenomenologia e o princípio da positividade na ciência enfatizam o perceptível
para argumentação da razão. Lembra-nos Einstein que o observador, ou melhor, a
relação observador - evento, em sua posição no espaço participa e define esse
mesmo evento. O evento é positivo, mas deve se considerar a multiplicidade de
feições que assume conforme a posição do sujeito. Sujeito e objeto se definem e se
redefinem infinitamente. E Não seria a realidade a manifestação dessa(s)
relação(ões)? Relação entre homem-realidade ou relação, ou cortes de relações, entre
homem e objetos em realidades por eles estabelecidas? Como pode a teoria do
conhecimento recolocar e procurar responder a essas questões?
A realidade é cognoscível ou, como quer Platão, ela é uma aparência, uma
representação de algo apenas existente em forma, em idéia. De acordo com a idéia, a
atribuimos e identificamos a algo, manifestando o real, a realidade, no mundo das
representações e dos discursos. O labirinto é a perda da idéia de trajeto, a aparência
de saída; minotauro é a idéia da impossibilidade, da inexorabilidade, na aparência da
força inumana; Teseu a idéia do arrojo, na aparência da finitude; Ariadne, a idéia do
afeto, na aparência do estratagema; o fio, a idéia da razão, na aparência do
57
insignificante, do comum. (Deixaram-se de lado reis, arquitetos e culturas, para não
tornar ainda mais complexa a tessitura).
Repita-se que, opostamente às postulações teóricas, a exposição pouco
apresenta objetos clássicos autênticos, parte da realidade, etc, mas diapositivos,
fotografias, modelos, esquemas, palavras, frases, formas, volumes, maquetes para
documentar (ou positivar, fenomenolizar, exponenciar) a argumentação da tese-idéia:
teoria da Museologia. estavam plêiades de signos: lingüísticos, numerais,
imagéticos, magnéticos, perfurados. E eles procediam e sustentavam a argumentação
da teoria que ou os ignorava ou os colocava na terceira categoria, a dos documentos
codificados.
A intensiva alusão ao desenvolvimento, progresso, civilização, os recursos
tecnológicos daquela contemporaneidade (o minotáurico computador - idéia da
impossibilidade humana, da inexorabilidade, na aparência da força inumana, no
labirinto das fitas de registro - perda da idéia de trajeto, a aparência de saída). E na
saída do labirinto, dos trabalhos hercúleos e das peripécias de Ulisses, a Museologia
(ou o museu?) labiríntica, hercúlea e odisséia: mítica, arqué, mito de origem,
explicação nem totêmica, nem tabuística de nossas práticas memoriais, segundo
Freud e Foucault.
“Os museus do século XIX estão mortos. Vivam os museus do século XXI”.
Ou não existiram ou apagaram os do século XX: bom motivo para explicar a
elisão.
Na condição de visitante, de pessoal de museu, aquela teoria foi apresentada e
argumentada com eficácia. A expografia convenceu a razão, a visão, em todas as
suas operações intertextuais, reiterantes e estimulantes. Como observador externo,
em metalinguagem, parcialmente deve-se reconhecer que a surpresa é o melhor
ataque. Sair na frente, tomar e manter a dianteira e legitimar as posições alcançadas
são estratégias bélicas, empresariais e acadêmicas. Nada de novo ou de espúrio,
apenas oportunismo, animado pelo efeito final de movimentação de linhas e figuras e
volumes geométricos que vitalizam as idéias, as tornam reais e a teoria (museológica,
no caso), torna-se realidade para o outro. A expografia materializa o discurso das
58
idéias teóricas, a metarealidade da relação homem-realidade é apresentada em
painéis e vitrines, na linguagem museística por excelência.
O demonstrável tenta sugerir a inessência? Não se controlam discursos.
Considerado o artigo na revista Museum, a Fonte é Schneider; o canal, a
imprensa periódica especializada, de divulgação científica; mensagem de base
científico-museológica; o receptor, o pessoal de museu, pensadores da Museologia,
estudantes de Museologia e de outras disciplinas transversais ao museu, do mundo
todo.
Seja no caso da publicação, seja no da exposição, a orientação é unidirecional.
Espera-se ter ficado patente a eficácia da exposição na apresentação de
idéias, tanto por permitir a compreensão do seu enunciado, notativo, quanto facultar a
leitura do observador externo, das denotações e das questões de lógica implicadas
nos argumentos. E essa eficácia de apresentar idéias em exposições de museu, diga-
se, é cabalmente desconsiderada pela Teoria, preconizadora do papel imprescindível
do objeto-documento autenticado e autenticador, sem o qual a realidade é, no mínimo,
questionável, se não invalidada.
Levando-se em conta o que este capítulo possibilitou, pelas leituras, aberturas
e provocação de reflexão, pôde-se aprofundar o conhecimento sobre a teoria
museológica, verificando-se o conceito de Museologia e a sua sistematização, em
1971, na escola de Museologia de Brno.
Simultaneamente, o desenrolar do estudo permitiu a observação específica do
teor da teoria museológica apresentada na exposição O caminho do museu (que,
como se poderá ver no capítulo 3, permaneceu semelhante em 2005), assim como a
análise expográfica da exposição a partir dos elementos de que se utilizou no
processo de comunicação peculiar a museus.
135
Para os organizadores de O caminho do museu e/ou para seu articulista, a
exposição de documentos autênticos é a maneira significativa e diferencial do museu
135
Mais uma vez, agradecemos o concurso de Zusana Paternostro que, com a tradução realizada dos
conteúdos em checo, ampliou e enriqueceu com possibilidades o universo analítico do capítulo que se
encerra.
59
em relação a outros meios de informação. “Decorre dessa concepção de Museologia
que o museu é forma institucional que concretiza e verifica a abordagem museológica
da realidade”.
136
Paira, ao final, a dúvida se os organizadores consideraram como
sendo museal essa exposição sem objetos documentários, não relacionados profunda
e significativamente com a realidade, com um sujeito no início dos anos 1970
saudando o ano de 2001. Se o juízo for ao da letra, os organizadores fizeram um
texto tridimensional sobre o indemonstrável: o que isso quereria dizer?
136
SCHNEIDER, Evzen. “La voie du musée”, exposition au musée Morave, Brno. Op. Cit., p. 190.
60
CAPÍTULO 3
UM NOVO CAMINHO CONCEITUAL, 1965-2005:
EXERCÍCIO CRÍTICO
Para se buscar compreender as formulações de Stránský, e na impossibilidade
de se inquirir presencialmente o pensador, pode-se recorrer a, pelo menos, três tipos
de fontes. A auto exposição narrativa de suas postulações, através de documentos
impressos; a constituição dos currículos por ele formulados para o ensino da
Museologia (ou a estrutura e conteúdo expresso no índice de sua mais recente obra,
Anexos A e B); e sua alusão em textos de outros pensadores são, portanto, os meios
a que recorremos. Stránský tem sido profícuo em sua produção intelectual, tradutível
em textos publicados em diversos idiomas. Durante este trabalho, consideramos o do
MUWOP, n. 1, de 1980, e, sobretudo neste capítulo, Z. Z. Stránský: zivot a dilo, 2006
(para os currículos) e Archeologie a muzeologie, 2005 (para as formulações
conceituais e índice). Predmet muzeologie, 1965, é o registro histórico da primeira
publicação em que Stránský expressa um balizamento para a teoria da Museologia
quanto a seu objeto. Acompanham a Terminologia Museológica, dirigida por
Desvallées, de 2000, referência suplementar, e Le musée virtuel, de Deloche,
contrastante.
O ponto referencial deste trabalho, o objeto da Museologia, em Stránský,
repita-se, é a relação entre o homem e a realidade, perspectivada a partir da
gnoseologia.
Jirí Zalman, citado por Stránský, opera com o termo metarealidade:
[...] no mesmo momento em que o mundo real é caótico, complicado,
muitas vezes impossível de entender e impossível de saber o que vai
acontecer, o reflexo deste mundo compilado pelas coleções de
museus é organizado, visível e possível de entender.
137
137
Apud STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Brno: Masarykova Univerzita, 2005, p. 113.
61
Apenas como registro, podemos observar dois níveis da relação gnoseológica,
sendo uma no mundo e outra no museu. A esta, entretanto e por isso mesmo,
caracteriza-se como metarealidade. Então, Se considerarmos como objeto a relação
no mundo, e se em decorrência selecionamos sua representação submetida a um
critério de valor, passaríamos a ter como objeto a relação do homem com a
metarealidade, no museu? Stránský parece ter investido nesse aspecto, a considerar a
definição de objeto constante da obra de 2005.
Relembremo-nos, ainda, que o museu, assim, não é o objeto científico, mas
uma expressão dessa relação. Tenha-se em conta, também, que a Museologia é
disciplina científica em fase pré-científica (pelo menos por volta de 1980).
Apresentaremos o assunto tendo por base o capítulo 5 de Archeologie a
muzeologie, que trata da Metamuseologia, observando-se a sucessão das partes
internas desse capítulo, tal como concebida por Stránský. Concomitantemente à
menção ao conteúdo do autor checo, se dialogará com o autor francês, em contraste,
e, quando possível, acrescentando-se comentários, análises, aproximações, etc. do
autor deste trabalho.
O contexto do texto e o metatexto
Metateoria – Metamuseologia – Metarealidade
Destacamos e antecipamos o apontamento de alguns termos não trabalhados
por Stránský, mas que importam para a nossa reflexão.
Por isso não podemos [apenas] ficar contentes com o fato de que o
mundo dos museus existe. É necessário penetrar em suas ligações
internas, perceber os indicadores de desenvolvimento positivos e
negativos. Este é o único caminho para conhecer a verdade, o
ambiente de museus e seu insubstituível papel na cultura e também
no pensamento cultural do Homem e de toda humanidade.
138
(grifos
nossos)
“É esta a tarefa da Museologia”.
139
Para tanto, necessita utilizar métodos
especiais (metodologia), ter linguagem formalizada (terminologia) e elaborar um
138
STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Op. Cit., p. 107. E Stránský amplia o campo, na
página 109: “A este pensamento também pertence a atenção que hoje em dia se presta ao grande
fenômeno da memória, que está identificada como categoria ôntica o apenas no mundo inorgânico,
orgânico, psíquico e social, mas também no espaço”.
139
STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Op. Cit., p.107.
62
sistema teórico adequado (sistema). E partindo dessa tríade, logo após tratar do objeto
de estudo, se terá a estrutura de caracterização científica da Museologia.
140
Se
Stránský preferiu o investimento na vertente científica, Deloche, como veremos,
recorreu à filosófica.
Impregna-se o texto com a veemência das palavras adjetivas: ao mundo dos
museus, a senda da sua verdade e do seu insubstituível papel. Como negar ao museu
a objetividade na Museologia mediante essa sua posição angular? Como dizê-lo
insubstituível se não é indispensável, posto ser histórico e temporal (nasce, se
transforma e pode morrer), não existindo, como tal, desde sempre e para sempre,
necessariamente? Ou a importância do que o determina ontológica ou onticamente? E
qual o pressuposto para a definição da verdade, por qual valor determiná-la?
Uma justificação para se debruçar sobre a Museologia, buscando sua
cientificidade, repousaria na presença longeva da Museologia e a prodigalidade de
suas manifestações. Stránský, entretanto, não revela o parâmetro para determinar a
grandeza da extensão. Situa a consideração da Museologia durante o século XIX
como disciplina, embora relativa a práticas e desejos, conforme um pensamento
tradicional e, no seu dizer, museográfico.
141
Seria esse seu marco zero? De qualquer modo, o repositório resultante permite
a argumentação histórica, mas também expressa o ciclo de vida dos fenômenos.
Então, para Stránský, é se questionar hoje sobre a indispensabilidade do fenômeno, e
cremos que o autor fala de Museu, para a sociedade contemporânea.
142
Seguindo a proposta metodológica de apresentar o contraste, anteriormente
utilizado no capítulo 1, chega a vez de injetarmos o pensamento de Bernard Deloche,
através de sua obra Le musée virtuel.
143
140
Ibidem, loc. cit. Ocorre também em STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Predmet muzeologie. In: Sborník
materiálu prvého muzeologického sympozia. Brno: museu da Morávia, 1965, p. 33.
141
Ibidem, p. 105.
142
Ibidem, loc. cit.
143
DELOCHE, Bernard. Le musée virtuel. Op. Cit.
63
METATEORIA
O âmbito da consideração sobre uma teoria é a sua metateoria. Através dessa
concepção, pensar sobre a Museologia constitui a Metamuseologia, termo
stranskyano. Stránský situa a ocorrência da Metamuseologia em fins do XIX,
ocupando a cena da produção sobre o campo durante todo o século XX. Caracteriza o
pensamento dominante como museográfico
144
, relativo ao primeiro dos níveis,
geralmente empírico-descritivos, do processo de conhecimento. O segundo nível é
teórico-sistemático e o terceiro uma “unidade harmoniosa” de fatores qualitativos e
quantitativos. Concebe a Museologia como estando no primeiro estágio, com
excepcionais incursões no segundo.
145
O vel museográfico se funda no museu
enquanto instituição.
Considerado o âmbito no qual a reflexão sobre o objeto científico se impõe,
seria para além da Museologia em si que se buscaria compreender a relação
gnoseológica. Na Metamuseologia, como proposta por Stránský, residia a
fundamentação filosófica para a elaboração da definição que se discute. Tal como
caracterizada em sua mais recente obra, Archeologie a muzeologie (e que retoma
textos seus a partir de 1965), o termo cunhado por ele, Metamuseologia, “[...] não
significa Museologia em geral, mas uma avaliação filosófico-teórica da Museologia
como uma possível disciplina científica, isto é, a teoria da Museologia”.
146
E Stránský
nos situa conceituando metateoria como a teoria da teoria e estabelecendo que o
pensamento metateórico data do final do século XIX, sendo enfático no XX.
147
Deloche posiciona as discussões metateóricas – metamuseológicas, assim
como sobre a Museologia enquanto e se disciplina científica, no espaço temporal de
por volta do início da década de 1970, destacando o fórum do ICOFOM:
Durant une trentaine d`années, et au moins depuis la fondation du
Comité international de l`ICOM pour la muséologie (ICOFOM), la
question d`un éventuel statut scientifique de la muséologie a occupé
le devant de la scène des débats internationaux.
148
144
STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Op. Cit., p.. 105.
145
Idem, La théorie des systèmes et la muséologie. Museological Working Papers - MuWoP /
Documents de Travail sur la Muséologie – DoTraM, Estocolmo, n. 2, p. 74, 1981.
146
STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Op. Cit., p. 105.
147
Ibidem, loc. cit.
148
DELOCHE, Bernard. Le musée virtuel. Op. Cit., p. 116. ”Por uns trinta anos, e pelo menos desde a
fundaçao do Comitê Internacional do ICOM para a museologia (ICOFOM), a questão de um eventual
estatuto científico da museologia ocupou o primeiro plano dos debates internacionais” [Tradução nossa].
64
A Museologia se apresenta como metadisciplina, isto é, uma disciplina de
destaque, concentrada sobre a instituição Museu ou sobre seus pensadores, e é
completamente nesta perspectiva que alguns reivindicam a ela o estatuto de
ciência.
149
Como metadisciplina não libera nenhum conteúdo de conhecimento, é apenas
uma reflexão sobre uma maneira de produção de conhecimento. Como epistemologia,
trata dos fundamentos da ciência, não sendo uma ciência no segundo grau, ela não é
uma ciência da ciência.
150
Por certo Stránský nos consignou que, embora não fosse o objeto da
Museologia, não se abriria mão do Museu. Note-se, todavia, a exaustiva e capital
presença do museu no espaço que dedicou à Metamuseologia.
151
A ligação, desde o
surgimento, entre o fenômeno dos museus e a tendência de guardar
152
, a
musealização
153
da modernidade pela pós-modernidade, quando a modernidade “vira
museu”
154
ancorariam sua posição. E mais, que a musealizaçao tem papel
insubstituível em nossa existência,
155
musealização sua motivação e base - que
deve ser assunto principalmente da Museologia.
156
Composição lógica, caráter científico
Do ponto de vista dos referenciais filosóficos, o autor checo destaca a
importância da Ontologia, ao lado da noética
157
e da axiologia para a Museologia, e o
relacionamento desta com aqueles referenciais.
158
A considerar a informação do autor,
149
Ibid., p. 125.
150
Ibidem, p. 129.
151
Ver o capítulo 5, de Archeologie a muzeologie e o levantamento de dados constantes do Anexo B.
152
STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Op. Cit., p. 107.
153
O autor refere que o termo musealizaçao (Musealisierung, em alemão) foi inicialmente trabalhado por
ele e por Wilhelm ENENNBACH, no início dos anos 70, junto com a palavra musealidade, como um
processo de adquirir musealidade”. “Pensamentos filosóficos e científicos pós-modernos chegaram
também ao termo musealização, mas sem sua definição de motivação museal”. Foram os casos de Jean-
François Lyotard e Jean Baudrillard (“levar algo ao estado em que não pode mais mudar e que também
não pode mais morrer: as realidades estão sendo congeladas, esterilizadas e protegidas contra o fim ou a
morte”). Cita ainda os nomes de Henry Pierre Jusy e de Hermann Lubbe. STRÁNSKÝ, Zbynek Z.
Archeologie a muzeologie. Op. Cit., p. 113. (Grifo do autor). Para maior aprofundamento da natureza de
musealização, ver outras passagens, às páginas 112 e 113.
154
Umberto ECO, apud STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Op. Cit., p. 107. A
muzealização ou a ultrapassagem, por sua vez, estariam associadas à guarda do desfuncionalizado, do
inessencial?
155
Cf. STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Op.Cit., p. 107.
156
Ibidem
157
Estudo das leis gerais do pensamento.
158
STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Op.Cit., p. 108.
65
a noética e a metodologia das ciências, aprendidas durante sua formação acadêmica,
constituíram, na verdade, os seus parâmetros iniciais.
159
Pela sua análise sincrônica, constata que, no início do século XXI, vivemos
uma crise global (a expectativa sobre os resultados da ciência, sobre o que ainda se
deveria cientificar, o fim do socialismo sem ter cumprido sua promessa, o valor do
dinheiro, a comercialização da cultura, tornada exclusivamente entretenimento, e o
fascínio dos jovens por drogas culturais
160
), associada a uma crise ecológica.
161
[grifo
do autor]. Nesse quadro, confere ao universo da cultura a importância, relativa, da
espiritualidade e do espírito artístico e científico. E o caráter semiótico da cultura: E
por que a cultura é um significado compartilhado, nem podemos ter este contínuo
significado compartilhado. [...] Sem significado, a nossa sociedade será destruída”.
162
Aparece, então, a Semiótica.
Deloche, por seu lado, refere-se ao desenvolvimento paralelo à Museologia da
ciência da informação e a comunicação
163
, disciplinas implícitas na construção de seu
raciocínio.
Quanto à composição lógica da Museologia, Stránský analisa-a mediante os
critérios de reconhecimento da natureza da ciência: domínio cognitivo (focos
cognitivos, o objeto, o campo de estudo), metodologia (métodos especiais),
terminologia (linguagem formalizada) e sistema (sistema teórico).
164
Stránský autoriza o questionamento sobre a cientificidade da Museologia desde
o momento em que deixa aberta a existência de uma efetiva definição do âmbito do
objeto de estudo da Museologia: “Os problemas postos pelo objeto da Museologia
demonstram que nós ainda não temos idéias precisas sobre o que concerne à posição
e função da Museologia enquanto disciplina científica”.
165
159
Ibidem, p. 111.
160
BAUDRILLARD e ECO, apud STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Op.Cit., p. 106.
161
Ibidem, p. 109.
162
Ibidem, p. 107. (Grifo do autor).
163
DELOCHE, Bernard. Le musée virtuel. Paris: Presses Universitaires de France, 2001, p. 125.
164
STRÁNSKÝ, Z. Op. cit., p. 107.
165
STRÁNSKÝ, Zbynek Z. La théorie des systèmes et la muséologie. Museological Working Papers -
MuWoP / Documents de Travail sur la Muséologie – DoTraM, Estocolmo, n. 2, p. 75, 1981.
66
Considerando e argüindo o estatuto da Museologia quanto à natureza de seu
conhecimento, Deloche principia por observá-lo do ponto de vista da ciência,
hipotetizando a Museologia pertencer ao campo das disciplinas científicas.
O objeto de estudo - domínio cognitivo
Para Stránský, como para a ciência, o ponto de partida na teoria da teoria é a
identificação e precisão de um objeto de estudo para a disciplina científica. Segundo
ele, a Museologia não esteve sozinha na problemática de definição do objeto, citando
o exemplo da Arqueologia.
166
A importância da especificação do objeto para a
Museologia o é para si mesma, como identitário, para ela no campo dos museus e
para a sua situação no seio do sistema científico como um todo.
Inicialmente, o objeto era o museu, seu prédio, coleções e equipamentos. Essa
fase de pensamento designa como museográfica, e a qualifica como tendo sido longa
e ainda podendo ser percebida em determinados casos.
167
Como a Museologia não existiria apenas para elaborar conhecimentos
metódicos e técnicos, Stránský avança, do ponto de vista da tese filosófico-
metodológica, “todo saber, por ser adequado ao seu objeto e revelar sua substância
real, deve ser bem desenvolvido no plano teórico e sistematizado sob a forma de uma
teoria”.
168
Em outras palavras, poderíamos recordar a salvação das aparências.
Divisor de águas, para o museólogo checo, portanto, (e para muitos, também)
é a sua concepção, qualificada como científica, divulgada a partir de 1965, com a
redefinição do objeto, e de toda a definição da Museologia enquanto ciência.
169
Durante o simpósio de Museologia organizado pela nova cadeira de
Museologia da universidade de Brno, em 1965, eu assinalei que o
objeto da Museologia como disciplina científica não pode ser o
museu, por que o museu é somente um instrumento para realizar
certo jeito particular de cognição da sociedade.
170
171
166
_________ . Archeologie a muzeologie. Op.Cit., p. 110.
167
Ibid, p. 110-111.
168
Ibid. La théorie des systèmes et la muséologie. Museological Working Papers. Op.Cit.
169
Ibid. Archeologie a muzeologie. Op. Cit., p. 111.
170
STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Op. Cit., p. 111.
171
A questão se lhe apresentou 15 anos [contados retrospectivamente a partir de c.1981, ou seja,
1965] quando formulou o programa do curso de Museologia. Seus principais referenciais, cita nesta fonte,
foram os aspectos gnoseológicos, metodológicos e sistemáticos. Refere-se à exposição O caminho do
museu, considerada no capítulo 2 do corrente trabalho, como também demonstradora da sua percepção
de Museologia, além de constante de outras publicações anteriores a 1981 (1971-1972; 1974).
67
Deloche segue Stránský na percepção de que certamente não seria o museu-
instituição o objeto da Museologia, apesar de observar que a transposição do nome
dessa mesma instituição ao termo que designa a ciência, uma tendência considerável
natural, tem levado a implicar Museologia e estudo de museus, Deloche reporta a
afirmação de Stránský que diz criticar, desde 1965, no primeiro seminário museológico
em Brno, tal naturalidade decorrente dos elementos da construção vocabular, museo-
logia, e de se ter, sob os olhos, a realidade museal tangível.
172
Nesse ambiente, a
expressão enfática é associada ainda ao processo de transferência da coisa museu
– para seu substituto – museo [logia]. Ora, mais uma vez, embora a pretendida
estabilização dos termos para a consumação da Terminologia, o léxico registra outra
acepção, que não a de relativo a museu.
Se, no entanto, assim fosse, a Museologia seria somente “[...] la tentative pour
apporter une réponse rationnelle à la question de la finalité de l`instituition muséale”.
173
(Leia-se: o museu). Pois, [...] la discipline existe, comme sa dénomination même, et
qu’elle est revendiquée par des spécialistes qui estiment la pratiquer; mais reste à
savoir si elle répond bien à une définition unitaire et satisfaisante”.
174
Porém, se a
questão se reduzir ao nome, nome por nome, e se a angulação das discussões
passarem necessariamente pelo museu, museulogia não seria mais adequado?
Quando se considera que o objeto de uma disciplina está no seu nome, se
excluem as iniciativas paramuseais. O museu seria, então, para alguns “[...] une
expression possible mais non nécessaire de quelque chose de plus essentiel qui serait
l`objet véritable de la muséologie”.
175
Convém pontuar a respeito do conceito de
paramuseal, no contexto em que foi empregado, contrariando a sua definição
constante do Glossário do próprio livro.
176
O termo referente museal, ali parece
STRÁNSKÝ, Zbynek Z. La théorie des systèmes et la muséologie. Systématique et systèmes en
muséologie. Museological Working Papers - MuWoP / Documents de Travail sur la Muséologie
DoTraM, Estocolmo, n.2, p. 74, 1981.
172
Deloche refere-se em nota de rodapé que esse conteúdo encontra-se na obra de Stránský Le rapport
de la muséologie et des musées, à p. 2. Todavia, esse título não foi encontrado em sua bibliografia e
nem no levantamento publicado em Jan Dolák ”[...] parce qu’on a sous les yeux la réalité muséale
tangible”. Apud DELOCHE, Bernard. Le musée virtuel. Op. Cit., p. 118.
173
Ibidem, p. 116. (Grifo nosso). ”[...] a tentativa de dar uma resposta racional à questão da finalidade da
instituição museal” (sic). (Tradução nossa).
174
Ibidem, p. 117.
175
DELOCHE, Bernard. Le musée virtuel. Op. Cit., p. 118. [Grifo nosso]. “[...] uma expressão possível,
mas não necessária, de qualquer coisa mais essencial, que seria o verdadeiro objeto da museologia.”
[Tradução nossa].
176
Ibidem, p. 252.
68
significar de museu, reforçado pela idéia de exclusão, com relação a esse mesmo
parâmetro, não museu, mas com atividades que lhe seriam peculiares, porém
realizadas não na instituição museu, o paramuseu. A preposição para se define como:
"proximidade, ao lado de, ao longo de, elemento acessório, subsidiário,
semelhante”.
177
Escolha-se qualquer uma dessas acepções e o resultado conceitual
será parecido. a ameaça da Babel construída pela nomenclatura que se apropria
dos elementos da língua corrente ou de referência (latim, grego), contudo
deliberadamente os distorce, facilitando a balbúrdia. Stránský se queixa da
incompreensão e do uso equivocado de termos criados por ele, citando musealidade
como um dos exemplos.
178
Mas ele não é vítima da própria procura de especificação
do conteúdo de um termo que não tenha linguisticamente uma lógica nocional
genérica?
Argumenta, ainda, Deloche, no campo semântico, que o sufixo logia não está
exclusivamente associado à ciência, a exemplo de parapiscologia ou sofrologia (mais
ou menos correspondo à Yoga para os ocidentais). Se logos for tomado no sentido de
discurso com pretensão racional, não se estabelece, entretanto, sua dimensão
cognitiva.
179
Stránský, examinando o caso de outras disciplinas, pôde afirmar que nenhuma
delas era a disciplina sobre uma instituição, como a pedagogia, não é sobre a escola
ou, no caso da teatrologia, com relação a ser sobre o teatro.
180
Deloche, a este
propósito, cita outros casos. O museu é uma Instituição de mediação de necessidades
sociais, e assim artificial (a escola, o hospital e a prisão).
181
A Museologia, segundo Deloche, pode ser espontaneamente “[...] finie
comme la discipline chargée d´étudier la formation, l´évolution et la diversification de
cette instituition qu´est le musée”.
182
Mas, não disciplinas cujo objeto sejam
177
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. 14 imp. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, [198-].
178
STRÁNSKÝ, Zybnek Z. Archeologie a muzeologie. Op. Cit., p. 114.
179
DELOCHE, Bernard. Op. cit., p. 126.
180
STRÁNSKÝ, op. cit., p. 111.
181
Não sendo o pensamento de Deloche, como tal, a consideração deste trabalho, pelo interesse
registramos a classificação apresentada por ele sobre o grau de uma instituição, a saber: primária, aquela
mediadora de necessidades biológicas naturais (alimentação, casamento, habitação), e secundária, de
mediação de necessidades sociais, portanto artificiais (escola, hospital, prisão). DELOCHE, Bernard. Le
musée virtuel. Paris: Presses Universitaires de France, 2001, p. 125.
182
“definida como a disciplina encarregada de estudar a formação, a evolução e a diversificação dessa
instituição, o museu”. Ibidem, loc. cit. (Grifo nosso).
69
instituições, como escola, hospital ou prisão, mas relativas às suas funções,
paralelamente à pedagogia, a clínica médica e a criminologia. Sendo ciência, seria a
única exceção disciplinar de um objeto instituição, e não a sua função.
183
Retenha-se,
portanto, que se fala aqui de museu, funções da instituição, portanto do museu,
tornado, assim, objeto indireto.
O campo é elemento definidor da disciplina científica. A partir dessa afirmação,
Stránský informa que essa definição é problemática para várias disciplinas, não
apenas o fora para a Museologia. Outras disciplinas, na maioria descritivas, negam a
Museologia como principal disciplina em museus, sem que, pela natureza e objetos
próprios, dêem conta das questões de âmbito museológico. E essa situação de
questionamento e imprecisão científica leva os trabalhadores em museus a se
apoiarem em modismos exteriores no intuito de defenderem e desenvolverem as
instituições a que se ligam. D a importância estratégica da definição do objeto
cognitivo da Museologia.
184
Fase museográfica, para Stránský, é a designação da etapa em que os
próprios equipamentos dos museus eram o objeto do pensamento teórico sobre o
museu. Esse objeto persistiu por muito tempo e ainda hoje é difícil de ser
ultrapassado.
185
Na medida em que o papel científico dos museus declina, ao longo do
século XIX, ascende a missão cultural do museu, como forma de superação da crise
existencial, na expressão de Stránský. Inicialmente, sob inflexão educacional, deu-se a
modernização das exposições e o aspecto da educação tematizou a conferência em
Madrid, de 1934
186
, e marcou a exposição em Paris, de 1937. Ocorria a ênfase na
esfera institucional educacional em consonância com o ambiente social do período,
dando-lhe proeminência.
Apresentado o quadro recortado do que não é para Stránský o objeto da
Museologia, negação essa constante a partir do texto Predmet muzeologie
187
, de
1965, e reiterado por Deloche, quadro esse no qual, entretanto se inscreve e do qual
deriva a formulação conceitual metateórica de Stránský, chega-se ao âmago do
183
Ibidem, loc. cit.
184
STRÁNSKÝ, Zybnek Z. Archeologie a muzeologie. Op. Cit., p. 110.
185
Idem, in Loc. cit., p. 111.
186
Foi-nos impossível identificar esse evento, apesar das tentativas através da internet.
187
STRÁNSKÝ, Zybnek Z. Predmet muzeologie. Brno: Universidade Jan Evangelista Purkine, 1965.
70
primeiro dos três critérios para definição da cientificidade, e o que mais nos interessa
continuar observando: a definição do objeto de estudo.
Stránský avoca sua primazia quanto à instauração de um objeto para a
Museologia que não seja o museu, pois o museu é somente um instrumento para
realizar certo jeito particular de cognição da sociedade”.
188
Situa essa sua nova
definição nos quadros da “nova” cadeira de Museologia da universidade JAP/Masaryk,
Brno, em 1965. Sob os referenciais da noética e da metodologia das ciências
aprendidas durante seus estudos universitários em curso do Departamento de
Filosofia e História, como se disse, examinando o caso de outras disciplinas com
relação a não terem instituições como objeto.
189
Todavia, rememore-se, adverte-nos Stránský, que retirar o museu da posição
de objeto científico não representa a sua exclusão do campo de visão desta disciplina,
e qualifica a dificuldade de esclarecer a particularidade de cognição da realidade do
museu, quer dizer, no caso da cultura de museus.
190
Declara que seu processo de reflexão esteve atento à história dos museus,
concluindo então
[...] que o nascimento do fenômeno [museu] sempre é motivado pela
relação de valores entre Homem e realidade. Esta relação motivou a
seleção de representantes autênticos destes valores e a requisição
de sua conservação, mas também sua apresentação na intenção
desta cognição na missão de criadora de cultura.
191
E após a crítica ao objeto encontrado, retoma-se a abertura e ruptura
conceitual de Stránský. Através de Gregorová sabemos que a Museologia é uma
disciplina científica em via de formação, “cujo objeto [na concepção de Stránský] é o
estudo da ‘relação específica homem – realidade”.
192
Embora compreendendo o museu como conceito, de modo a se poder abarcar
a multiplicidade em um debate unitário, mantém, entretanto, o corrente, mencionando
imediatamente o museu, afirmando que os fenômenos que são o ato de expor, o
188
Idem. Archeologie a muzeologie. Brno: Masarykova Univerzita, 2005, p. 111.
189
Ibidem, loc. cit.
190
Ibidem, loc. cit.
191
Ibidem, loc. cit.
192
GREGOROVÁ, Anna. [La muséologie: science ou seulement travail pratique du musée?].
Museological Working Papers [do] ICOFOM, Estocolmo, n.1, p. 19, 1980.
71
processo de recuperação com fins ideológicos e os esforços para escapar à
sacralização, etc., fenômenos esses que, diga-se, identificáveis com a natureza
museal, requerem uma disciplina capaz de lhes construir uma teoria, a Museologia.
193
Qualifica como meio de liberdade de apreensão do pensador o distanciamento
no processo analítico e também dos debates que o evolvem, pois, apenas assim será
possível identificar o “[...] le projet muséal sous des figures atypiques et inattendues,
parfois même complètement en marge de l`instituition [museu]. [...] par exemple,
identifier um projet muséal dans um CD-Rom ou même dans um site Internet”.
194
Metodologia da Museologia
Como segundo dos critérios de verificação da natureza científica, Stránský nos
apresenta a metodologia própria à Museologia. Conforme ele, a relação museológica
com a realidade requer conhecer a sua motivação.
Esta relação está delimitada pelo caráter da realidade musealizada e
pela importância de seus valores. Disso concluímos que a Museologia
tem que se basear no conhecimento da importância para a cultura e a
memória daquela realidade que está sendo observada. Para isso
precisamos utilizar conhecimentos de numerosas disciplinas científicas
[...] em nível multidisciplinar, por que [...] aquela realidade musealizada
[...] não se trata especialmente de um fenômeno singular.
195
A exemplo de períodos de regimes políticos totalitários, o trabalho do museólogo pode
estar em contradição com os valores populares.
196
Trata-se, portanto, de relação com
a categoria de valores da musealidade.
O essencial [...] é entender e refletir seu [dos representantes do
homem] valor de cultura e de memória, por que isso é decisivo na
hora de selecionar e conservar os possíveis representantes. Isso
requer aplicação de critério de valores que se baseiam na hierarquia
de valores culturais.
197
193
DELOCHE, Bernard. Le musée virtuel. Paris: Presses Universitaires de France, 2001, p. 115-116.
194
Ibidem, p. 116 [grifo nosso]. [...] o projeto museal sob feições atípicas e inesperadas, por vezes
mesmo totalmente à margem da instituição [museu]. [...] por exemplo, se identificar um projeto museal em
um CR-Rom ou até mesmo em um sítio da Internet.” [Tradução nossa].
195
STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Op. Cit., p. 113 [grifo nosso].
196
Ibidem, p. 113-114. Em outro ponto do capítulo desse livro expõe-se uma idéia que pode ser
interpretada como contraditória em relação a essa. “A Museologia primeiramente tem que tomar a
iniciativa, sem pensar se alguém vai gostar ou não. Se ficar na sua esfera, museu-técnica e institucional
tradicional, poderá ocorrer que os museus irão perder seu direito à existência. Também pode acontecer
que a ausência da Museologia científica dará origem a várias ‘Museologias populares’” (p. 108). (aspas do
autor). (Cf. Mayrand ). Se a nova Museologia incorpora ou considera as “Museologias populares”, então,
ela não seria científica, nos termos aqui oponentes e excludentes de Stránský.
197
Ibidem, p. 113.
72
“Esta orientação axiológica condiciona a diferenciação da metodologia
museológica e proporciona para esta disciplina um lugar particular no sistema
científico, cultural e assim em toda a sociedade”.
198
Considere-se o decisivo papel desempenhado pela axiologia, sobre a qual
repousa toda a construção musealidade musealização e, por ser critério, a natureza
científico-metodológica da Museologia. Mas, axiologia não é ramo da filosofia? Os
sistemas de valor podem se transformar em objeto científico?
Terminologia – linguagem formalizada
O museólogo checo não define o que denomina terminologia. Vai diretamente
ao mérito, ao significado, à crítica e ao registro de sua contribuição.
Para além de ser um dos critérios de observação do caráter da cientificidade,
Stránský devota à terminologia grande atenção, atribuindo-lhe muita importância e a
ela se dedica, tanto para o efeito de precisão e especificação vocabular quanto pelos
conceitos que os termos estabelecem e carregam. Como foi enunciado na Introdução
ao corrente trabalho, o idioma checo tem particularidades quanto a refletir um tipo de
estrutura de pensamento, bem como a possibilidade expressiva de nuances. Embora
essa flexibilidade favoreça a criação terminológica, por outro lado dificulta o
estabelecimento de equivalência, com a mesma estabilidade e definição, em idiomas
não-eslavos. nguas de referência para a criação terminológica, latim e grego, e
contemporaneamente se contando com a proverbial universalidade do inglês, não
recorrer a elas no momento em que intenta cunhar termos e conceitos é, no mímino,
comprometer a tradução automática. Por exemplo, o termo muzeinictví, cujo conceito
em si é de difícil observação como tal entre nós, em traduções de títulos de trabalhos
científicos, em inglês e em alemão, respectivamente, figura como Museology ou of
museums e Museologie ou Museumswese. E sabemos que tais termos (Museology, of
museums, Museologie, Museumswese) já dizem anteriormente respeito a outras
naturezas de referências.
Em seu caso, Stránský enuncia ter sido
[...] forçado a fazer não somente o aperfeiçoamento do aparelho
terminológico – na maior parte baseado na língua normal mas
também introduzir novos nomes e suas definições, como a própria
198
Ibidem, p. 114.
73
palavra musealidade, musealização, mas também, por exemplo, uma
palavra completamente nova, como tesaurisação e outras. Lamento,
mas em muitos casos estes termos foram adotados pelos demais,
mas em um sentido de conteúdo muito impreciso.
199
(grifo nosso)
Em sua alegação, a imprecisão de um termo deve ceder lugar a outro preciso,
a terminologia implica definição de regras e caracterização da posição de um termo
com relação aos demais integrantes de uma terminologia.
200
Resulta de um sistema de
conhecimento, neste caso museológico, e necessita também introduzir novos termos.
Outra peculiaridade é a de refletir a situação da disciplina, por exemplo: termos
ambíguos refletem o estágio de desenvolvimento científico, em sua insuficiência
teórica.
201
Essa incerteza de termos, como vimos no exemplo de muzeinictví, é
claramente constatável e explicável. O sistema referencial, pelo visto, é particular, e
não rebatível, seja pela estrutura lingüística, seja, fundamentalmente, pela lógica de
pensamento peculiar a uma cultura.
Stránský está bem consciente dessas dificuldades e as constata. Parece-nos,
todavia, pelas razões já apontadas, que a sua inestimável colaboração se prejudica ao
ser expressa em checo, sem considerar desde o berço a correlação com outros
idiomas de outros troncos lingüísticos. Pelo seu ângulo analítico,
Em minha opinião, a terminologia museológica insuficiente reflete a
ausência de sistema teórico e um entendimento muito impreciso dos
termos principais, que se reflete lamentavelmente também no nível de
muitas publicações do ICOM e da UNESCO, e assim também se
reflete na legislação das diferentes nações.
202
Sistema
Também para a definição de um conhecimento enquanto ciência é preciso se
identificar o conjunto de elementos interrelacionados que interagem no desempenho
de uma função, os componentes que se organizam para configurar essa mesma
ciência.
199
STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Op. Cit., p. 114.
200
Ibidem, loc. cit.
201
Ibid., Ibidem.
202
Ibidem, p. 115. Patenteie-se o autojuízo sobre seu próprio enunciado: “Em minha opinião”... Trata-se
de doxa, portanto.
74
Para o autor, sistema é “um conjunto ordenado de elementos cujas
propriedades e interações visam a um objetivo comum”. Um conjunto não está isolado,
tem um ambiente com o qual se relaciona. Esse conjunto é regido por uma
organização, estrutura e hierarquia. O sistema é dinâmico, tem certo comportamento e
pode ser aberto ou fechado.
203
A distinção entre objetos da realidade natural dos da realidade social efetuada
por S.A. Quiccheberg, em 1565, pode ser considerada como sistemática. A
sistematização fora aprimorada por Lineu no campo das ciências naturais.
204
Assim,
pode-se considerar já remotas as bases das noções que implicam o sistema.
No caso da Museologia, na revisão que nos apresenta Stránský, a primeira
caracterização sistêmica da museologia que cita é a da hoje eslovaca Anna
Gregorová, de 1984, pela qual o sistema da Museologia se compõe de: 1. Teoria e
história da relação dos museus entre Homem e realidade; 2. Teoria do objeto de
coleção; 3. Teoria, metodologia e prática das atividades de museus; 4. Organização,
administração e gerenciamento de museus.
205
Mencionando o pensamento dos
autores alemão e soviético HERBST e LEVYKIN, expresso no compêndio
Museologie. Theoretische Grundlagen und Methodik der Arbeit in Geschichtsmuseen,
de 1988, reporta que a divisão subdisciplinar ali seria: 1. História dos museus
(incluindo história da Museologia); 2. Teoria (incluindo teoria geral da Museologia,
teoria da coleta e da preservação, teoria da formação de acervos de coleções, teoria
da comunicação de museus); 3. Ensino de museus quanto às fontes de conhecimento;
4. Museologia aplicada (incluindo revistas científicas, técnica de museus, organização,
planejamento e gerenciamento) (1988).
206
No museólogo japonês Soichiro Tsuruta, em 1980, o museu é o campo central
da Museologia. Nele se a distinção de: 1. auto-Museologia, que estuda o museu
como um fenômeno particular e observa sua taxonomia, morfologia e função; 2.
Museologia especial, responsável pela observação das relações com outras
203
Idem, La théorie des systèmes et la muséologie. Museological Working Papers - MuWoP /
Documents de Travail sur la Muséologie – DoTraM, Estocolmo, n. 2, p. 72.
204
STRÁNSKÝ, Zybnek Z. Idem, La théorie des systèmes et la muséologie. Op. Cit., p. 73.
205
GREGOROVÁ, 1984 apud STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Brno: Masarykova
Univerzita, 2005, p. 114-115.
206
Ibid., in Op. Cit., p. 115-116. As datas encontradas no autor são aquelas das publicações das obras
em que leu esse conteúdo sobre sistemas, não sendo necessariamente, todavia, as da formulação
dessas análises.
75
disciplinas; 3. a syn-Museologia (sic), como sendo a pesquisa sobre organizações
sociais; 4. a sócio-Museologia , ocupada da pesquisa sobre as relações sociais e 5. a
administração de museus , área da organização e gerência dessas instituições . Em
Peter van Mensch, 1989, a Museologia geral fica no centro do sistema, conectada à
Museologia histórica, à aplicada e à especial. Sobre esta base da disciplina repousa a
Museologia teórica e a historiografia e metodologia da Museologia. A Museologia
aplicada se subdivide em administração, conservação (intregrada pela coleta,
conservação e registro), pesquisa e comunicação (dividida em educação, exposições
e avaliação). Friedrich Waidacher representaria, enfim, uma caracterização e
composiçao fundada na concepção de Stránský, mas alterada, pela qual o que integra
o conhecimento em Museologia é a Museologia geral, coração sistêmico, que contém
a Metamuseologia, a Museologia histórica, a Museologia teórica e a Museologia
prática. Na Museologia teórica estão a seleção, tesaurisação, comunicação e
institucionalização. A Museologia prática toma conta da seleção de objetos,
estabelecimento de acervos, relações públicas, organização e administração. Na
Museologia geral encontram-se os métodos da Museologia (a tecnologia, teoria e
metodologia das disciplinas).
De Gregorová, grande seguidora da concepção relacional do objeto da
Museologia, conforme se pôde comentar em capitulo anterior, até os museólogos de
outros diversos contextos de referência teórica, não é difícil se constatar, mesmo que
em caráter superficial, a presença sempre marcante da instituição museu, em sua
historicidade, funcionalidade, praticidade e fundamentação. Essa presença nos
interessa em particular, pois se esta discutindo qual o objeto que subjaz a toda a
construção analítica que se faz a partir dele, objeto. Ora, nessa constante ocorrência
dos museus na composição sistemática, dificilmente poderia refletir outra natureza que
não fosse a do objeto ser o próprio museu ou, ainda que em menor foco, como o
fenômeno em que se dá e tem razão de ser a manifestação da matéria de um
conhecimento a ser sistematizado.
Considere-se, agora, a visão sistêmica de Stránský.
“Em minha opinião [doxa], o sistema da disciplina se baseia, no campo
cognitivo, em níveis de conhecimento nos quais abordamos o objeto de nossa
intenção de conhecer”.
207
E os níveis são:
207
STRÁNSKÝ, Zybnek Z. Archeologie a muzeologie. Op.Cit., p. 116.
76
- diacrônico, conhecimento do desenvolvimento do objeto,
- sincrônico, posição do objeto de estudo no contexto contemporâneo,
- teórico, conhecimento dos lados essenciais daquela cognição particular da
realidade, porém tem o papel insubstituível em relação com todos os outros
níveis, e
- aplicado, nível misto, do ponto de vista do processo do conhecimento. Está
focado na realização daquele conhecimento particular da realidade, quer dizer,
opera também com os conhecimentos e tecnologias das outras disciplinas.
208
Esses níveis se estruturam no sistema da Museologia nas equivalências:
- Diacrônico / Museologia histórica
- Sincrônico / Museologia contemporânea
- Teórico / Museologia teórica
- Aplicado / Museografia
209
O autor assinala, e repete, que a Metamuseologia, como diz respeito à teoria
da Museologia, está fora, acima, portanto, da Museologia e do sistema. E a
Museologia teórica constitui o coração deste sistema, implicando e sendo influenciada
pelos demais níveis.
210
“Este sistema é capaz, com seus níveis de conhecimento, de entender o
complexo do campo, quer dizer é uma rede, que pega a realidade observada toda.
Assim cumpre a sua missão.“
211
Posição no sistema das disciplinas científicas
Certas visões arraigadas à consideração do museu-instituição contribuem para
a maneira pela qual se percebe externamente a Museologia e a sua conseqüente
condição no sistema de valor do conjunto das ciências.
Na concepção do museólogo de Brno, o objeto da Museologia integra a
natureza, a sociedade, a cultura e a técnica, pelo que tem um caráter interdisciplinar
208
Ibidem, p. 116-117.
209
Ibidem, p. 117
210
Ibidem, loc. cit.
211
Ibidem, loc. cit.
77
embora pertença, especificamente, à área das disciplinas humanísticas, na esfera das
ciências culturais, ou culturologia, da qual participa, assim como da memologia.
212
O acesso global à realidade, holístico. Dispondo-se de conhecimentos, pode se
proceder à avaliação de valores, basilares para a musealidade (enquanto identificação
valorativa a requerer a extração de algo, no universo da musealização). De maneira
semelhante, dá-se o mesmo com a ecologia ou a teoria da memória, por exemplo,
relacionadas a problemas de diferenciação, além da sozologia
213
, monumentalística e
documentarística [ou documentalística?].
214
Não seriam então essas disciplinas que lidam com o estabelecimento de
critérios de distinção – valores parte das Museologias especiais? Neustupný, por volta
de 1950, concebeu Museologia especial como aplicação das disciplinas científicas à
pratica de museus
215
. Stránský prefere o conceito de Museologia concreta, parte da
que trata de casos concretos. E o fato de se usarem conhecimentos de outras
disciplinas no universo da Museologia [cultura museólogica, segundo o autor] não
significa estar sendo criada uma especialidade dentro da Museologia
216
. A observaçao
da musealização da realidade não se opera apenas no âmbito de uma disciplina
aplicada, o que não desmerece essa importância disciplinar, cujos conhecimentos
constituem base “para desenvolver seu próprio processo cognitivo e primeiramente o
processo da avaliação”.
217
O autor posiciona a Museologia como subsistema a se integrar ao sistema
científico.
218
Alteração do objeto?
Nada nos permite afirmar cabalmente que, para Stránský, o objeto da
Museologia é a relação entre Homem e realidade. Nossa incerteza deve-se a não
212
Ibidem, op. cit., p. 117-118. Do ponto de vista da filosofia, os referenciais da Museologia são:
gnoseologia, axiologia, ontologia, noética e ética. Deloche aponta o desenvolvimento paralelo à
Museologia das disciplinas da ciência da informação e da comunicação. (DELOCHE, 2001, p. 125.)
213
Ciência, do final do século XX, da proteção sistemática da biosfera contra os efeitos destrutivos sobre
si pela antroposfera.(“Sozology is defined as the science of the systematic protection of the biosphere
from the desctrutive effects on it from the anthroposphere”.) www.bu.edu/wcp/Papers/Envi/EnviDole.htm
214
Ibidem, loc. cit.
215
NEUSTUPNÝ, apud STRÁNSKÝ. Op. cit., p. 118.
216
Ibidem, loc. cit. Pela fonte citada do autor, o argumento consta de publicações suas em 1968 e 1969.
217
Ibidem, loc. cit.
218
Idem, La théorie des systèmes et la muséologie. Museological Working Papers - MuWoP /
Documents de Travail sur la Muséologie – DoTraM. Op. Cit. p. 75.
78
termos tido, a despeito de nossa vontade, acesso a qualquer documento em que
Stránský expresse direta e claramente esse objeto. Apenas pudemos ler sobre ele e
sua atribuição em referências indiretas. No entanto, vimos em capítulo anterior, que na
contribuição de Gregorová de 1980, ao ICOFOM, MuWoP de no. 1, lemos a imputação
a Stránský de ser o objeto da Museologia a relação específica do homem com a
realidade
219
.Também ela é citada na qualidade de “cinzeladora” da nova abordagem
da Museologia proposta por Stránský, por Davallon e Desvallées, na Terminologia
Museológica
220
. Esses mesmos autores, na mesma obra, transcrevem a definição de
Stránský, contida em obra sua de 1980 [não identificada na bibliografia publicada em
DOLÁK]:
Museologia é uma disciplina científica diferenciada e independente,
cujo objeto é a relação específica entre o Homem e a realidade,
expressa objetivamente em várias formas de museus através da
história, sendo uma expressão e uma parcela proporcional dos
sistemas da memória. Museologia tem a natureza de uma ciência
social, pertence à esfera das disciplinas da memória-documentação e
contribui especificamente para a compreensão da sociedade
humana.
221
Citando Stránský, Klaus Schreiner nos oferece outra definição dele para o
objeto: a musealidade, um valor documentário específico dos objetos concretos e
perceptíveis da natureza e da sociedade, o valor da evidência autêntica da
realidade.
222
Mas vale considerar mais de perto como se nos a configuração do objeto
em Stránský, na sua obra de síntese de 2005. Nela faz constar uma ligeira, mas
significativa, aposição ao núcleo do objeto definido em um momento qualquer entre
1965 e 1980.
É importante perceber que se trata de alguma relação de valores
com a realidade, quer dizer que não é importante o conhecimento
em si desta realidade, mas trata-se da identificação de tais
entidades, que representam os valores culturais, quais seleções,
conservação e utilização influenciam o próprio desenvolvimento da
cultura.
223
219
E que o museu é uma instituição que aplica e realiza a relação específica homem- realidade”.
GREGOROVÁ, Anna. [La muséologie: science ou seulement travail pratique du musée?].
Museological Working Papers [do] ICOFOM, Estocolmo , n.1, p. 20-21,1980.
220
DESVALLÉES, André, dir. Terminologia museológica: proyecto permanente de investigación.
ICOFOM/ICOFOM LAM. [s.l.] ______, maio 2000, p. 6.
221
Ibid., In Op. Cit., p. 5 (Tradução nossa). Em francês, no original.
222
Referente a publicação de 1974 de Stránský. Não identificada
223
STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Op. Cit., p. 113 [Grifo nosso].
79
Ou ainda:
[...] podemos concluir que no centro da intenção cognitiva da
Museologia [o seu objeto] encontra-se o processo de musealização
da realidade. Este processo é motivado pelo valor de musealidade,
de caráter cultural e memorial. Este valor tem importância de criador
da cultura e importância de continuidade para a cultura em geral.
Importa, ainda, para a consciência cultural e o conhecimento dos
indivíduos e também para toda a sociedade e seus representantes
participarem na formação da cultura material. É de igual importância
que o valor destes representantes está conectado com seu acordo
ôntico com o fenômeno, que está representando. Deste acordo
depende também seu valor para a memória e assim também sua
importância e alcance para a replicação (sic) (reprodução?)
224
(grifo
nosso)
E mais: “Prestei atenção à história do fenômeno dos museus e cheguei à
conclusão que o nascimento do fenômeno sempre é motivado pela relação de valores
entre Homem e realidade”.
225
Desta sua compreensão depreendeu o conceito de
musealidade, um valor da cultura e da memória. E pela musealidade se selecionam os
representantes desses valores, conservando-os e integrando-os ao objeto de estudo.
Veja-se também: “Esta metodologia [da Museologia] é condicionada pelo
caráter do campo cognitivo. A explicação científica da relação museológica com a
realidade demanda conhecimento da motivação desta relação”.
226
E objetivamente:
O campo cognitivo da Museologia está definido, assim, conforme
minha opinião, pela musealização da realidade. Quer dizer, pelo que
determina que alguma coisa tem e outra não tem valor para com o
Homem e a sociedade, aquele dito valor museológico, quer dizer
valor de cultura e de memória. Somente com este ponto de vista
podemos avaliar os instrumentos com os quais pode ser realizado o
conhecimento de maneira mais efetiva. E o instrumento mais
importante hoje em dia, no decorrer do desenvolvimento deste
fenômeno, sem dúvida alguma, é o museu.
227
Interessante notar que, para ele, a Museologia “faz parte da formação das
realidades culturais, quer dizer a realidade”, a qual é também seu objeto. ”A
musealização [termo objetual recém incluído aqui] transforma a realidade em
224
BLACKMORE / OVÁ e NOSEK apud STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Brno:
Masarykova Univerzita, 2005, p. 113.
225
STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Op. Cit., p. 111. [Grifo do autor].
226
Ibidem, p. 113[Grifo nosso].
227
Ibid., In Op. Cit. p. 111. [Grifo do autor].
80
metarealidade cultural”.
228
Se estivermos corretos, essas afirmações redundariam em
dizer que a Museologia constrói seu objeto e paralelamente o estuda. Estuda a si
mesma? Cria, e estuda o seu objeto? Por outro lado, ao analisar um objeto, pela
posição da musealização, aqui, que transforma a realidade em outra realidade, a
metarealidade, estaríamos estudando a realidade ou a metarealidade? E a relação
entre o homem e a realidade que seria o objeto? Para o que estaríamos olhando: para
uma relação do homem com a realidade ou do ente musealizador com a
metarealidade? E, como abordaremos mais adiante, que ciência poderia haver se ela
não guarda relação de objetividade com seu objeto, conforme a análise de Bernard
Deloche? “[...] la muséologie [...] ne cesse d´intervenir sur lui [o seu objeto] pour le
modifier, car le musée est toujours à construire et à transformer”.
229
”[...] les modèles
serviront à dire ce que doit être le musée e non pas à expliquer ce quíl est”.
230
Deloche patenteia o abalroamento
231
com o objeto que também ele es tentando
ultrapassar, em proveito de outro: o museu. Leia-se em Deloche, ainda: ...O museu
persiste no universo de referência...
“A definição da musealidade como campo da Museologia”, “musealização, que
é o campo próprio da Museologia. Este pensamento da Museologia com [sobre?] a
realidade”, “musealização da realidade, que é o objeto da intenção cognitiva da
disciplina“
232
. Nestas frases, considerada a terminologia, temos os objetos
musealidade e musealizaçao. Sendo a musealidade diferente de musealizaçao, que
nos permitem dizer a especificação terminológica [vide anexo - Glossário] e a
copresença desses termos na disciplina Musealidade, musealização, musealium [da
museália?], do 2º. Turno (Criação de acervos e coleções em museus), da International
Summer School of Museology (Escola Internacional de Verão de Museologia),
228
Ibidem, p. 117.
229
DELOCHE, Bernard. Le musée virtuel. Paris: Presses Universitaires de France, 2001, p. 129. (Grifo
nosso). “[...] a museologia [...] não para de intervir sobre ele [o seu objeto] para o modificar, pois o museu
está sempre se construindo e se modificando.” [Grifo nosso e tradução nossa].
230
Ibidem, p. 128. [Grifo nosso]. “[...] os modelos servirão para dizer o que deve ser o museu e não para
explicar o que ele é”. [Grifo nosso e Tradução nossa].
231
Acidente em que os veículos colidem lateral ou transversalmente, estando os mesmos trafegando
pela mesma via, podendo ser no mesmo sentido ou em sentidos contrários”. No Glossário do
Departamento de Trânsito do Estado do Rio de Janeiro.
http://www.detran.rs.gov.br/estatisticas/Anuario2005PDF/8_GLOSSARIO.pdf. em 13/03/2008. O recurso a
esta ordem vocabular, aqui, decorre da expressão metafórica de Deloche, do automóvel, visando criar
uma imagem para o papel da Museologia. É necessário um carro, se ter carteira de habilitação, saber-se
aonde vai. Não é o conhecimento geográfico ou do mecânico do carro que decidirão sobre o destino da
viagem, mas é bom se ter noções para a eventualidade de problemas no deslocamento. Assim, a
Museologia seria a vontade do motorista; o museal, a viagem; os valores, o local de destino; a ciência
documentária, a geografia, a museografia os conhecimentos práticos do mecânico, p. 144-144.
232
STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Op. Cit., p. 117 e 118.
81
UNESCO, do programa vigente de 1986-1996
233
, ou bem o objeto seria o estudo da
musealidade ou o da musealização, porque esta é “um processo de adquirir
musealidade”.
234
Dá-nos a sensação de instabilidade sobre a precisão do campo, ou
melhor, se considera um campo tal que os objetos identificados não o especificam. E
mais, musealização seria então, ela mesma a relação entre o homem e o objeto?
Adquirida a musealidade, este valor representante da relação primeira, ambas não
seriam objetos metareais? E, insistimos, subjazendo aspectos relacionais com um
ente musealizador? Não se trataria apenas da instabilidade de objetivação para o
campo, mas também da fugidia determinação do plano, físico-fenomenológico /
metafísico-axiológico? Objeto ou objeto do objeto?
Espécie de clímax, ou anticlímax, figura-se o objeto estabelecido como
musealização da realidade. A relação de valores prenunciava o deslocamento para a
axiologia, para como os valores são atribuídos e instrumentalizados, sobretudo através
do museu: expressão de valor no museu, grosso modo seria de fato o objeto? Parece-
nos que a resposta é afirmativa. E nossa conclusão se apóia em aspectos posteriores,
como a constância dos termos ligados a valor e a enunciação reiterada da própria
axiologia. Note-se se tratar do valor reconhecido pelo museólogo e não
necessariamente aquele atribuído pelo indivíduo (ôntico) ou sociedade. Tão pouco se
presencia o mérito do valor símbolo e/ou material e muito menos a consideração
desse valor em sentido metafísico, ontológico.
Poderá se argüir sobre a instabilidade ou sobre a capacidade de articulação
dos termos componentes de um objeto definido, ou dos diversos enunciados de
definição de objeto. Imprecisão ou desejo de fazer caber tudo, tentativa de resposta a
dar conta do fenomenal, salvar as aparências?
235
Mas, ainda que residualmente, não afetaria atomicamente a composição do
todo, sobretudo quando se fala em sistema, próprio e de inserção? Permanecem as
relações expressas por metodologia, terminologia e sistema em si?
233
DOLÁK, Jan ; VAVRIKOVÁ, Jana. Muzeolog Z.Z. Stránský: zivot a dilo. Brno: Masarykova Univerzita,
2005, p. 45.
234
STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Op. Cit., p.112.
235
RUSSEL, Bertrand. História do pensamento ocidental: a aventura das idéias dos pré-socráticos a
Wittegenstein. 3. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. P. 108. Ao considerar Sócrates, apresenta e comenta
a noção de que a explicação deve poder ser apreciável conforme os fatos.
82
Um objeto para uma Ciência?
Aqui a reflexão de Bernard Deloche
236
passará a ser intensamente requerida.
Recordemo-nos que, quanto à composição lógica da Museologia, Stránský a
analisa mediante os critérios de reconhecimento da ciência: seu domínio cognitivo
(objeto), metodologia, terminologia e sistema.
Quando Deloche começa a analisar a questão do estatuto da Museologia pelo
prisma da filosofia, ele recorre livremente às orientações de Deleuze e Guattari em
Qu`est-ce que La philosophie? “Pour élaborer son ouvrage, le philosophe determine
précisément des champs générateurs de problèmes auxquels répondront des
concepts”.
237
Traduzem-se por três operações complementares: 1- definir campos, 2-
formular problemas e 3- elaborar conceitos de solução. Livremente, também,
aproximamos essa tríade metodológica dos critérios de Stránský, sendo que três deles
podem, assim, ser superpostos, como veremos a seguir.
1. Definir campos de especificidade inquirindo-nos sobre a possibilidade de se
definir um campo museal, projetamos um rebatimento, facilmente perceptível,
ao critério do campo cognitivo, do objeto em si, também o primeiro tópico em
Stránský.
2. Formular problemas o campo gera o problema dos valores comprometidos,
sendo que alguém posto em outro campo não colocará o mesmo problema.
um campo museal: qual tipo de problemas ele irá determinar? Stránský, sob o
critério da Metodologia, reflete a respeito dos valores também, associados, no
seu caso, à musealidade. Explicitamente, o aspecto axiológico consta nos
procedimentos de observação de ambos os autores.
3. Elaborar conceitos como soluções a problemas um conceito de museu?
238
[e se continua a escolher o museu como referência exemplar] Se a resposta for
afirmativa, a qual problema ele responde e dentro de qual campo? Propomos
aproximar esta operação ao critério, em Stránský, da terminologia, encarada
enquanto conceituação, pensamento do conceito, gênese, estabelecimento,
histórico de ocorrência e uso, relacionamento entre um conceito e outro(s)
afim(ns) ou interagente(s) ou tangente(s).
239
236
DELOCHE, Bernard, Le musée virtuel. Op. Cit.
237
“Para realizar seu trabalho, o filósofo determina, com precisão, os campos geradores de problemas,
aos quais responderão conceitos”. DELEUZE; GUATARI, p. 21, apud DELOCHE, Bernard, Le musée
virtuel. Paris: Presses Universitaires de France, 2001, p. 119. (Tradução nossa).
238
STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Op. Cit., p. 120.
239
Ibidem, p, 119-120.
83
No olhar direto, Deloche oferece, ele também, critérios identificadores das
ciências humanas, igualmente em número de três: método de modelização,
fecundidade (dimensão gnoseológica, segundo Stránský) e a objetividade.
240
Trata-se,
neste ponto, de uma reproposição de Deloche dos critérios àqueles propostos por
Stránský (e cita também Klaus Schreiner, no que pode ser visto no capítulo
anterior).
241
a) Modelização - A Museologia não enuncia nenhuma lei, não leis (mesmo que
estatísticas) sobre o nascimento, desenvolvimento e a degenerescência dos
museus.
242
“[...] il y ait pas aujourd´hui de modèle qui puisse servir à expliquer la
relation muséale de l´homme avec la réalité”.
243
Conclui que se esses modelos o
existem é porque a Museologia é a teorização de uma instituição.
244
Para ele, a
Museologia modeliza, sim, porém de modo ilustrativo ou normativo, e não explicativo,
transcrevemos novamente: “[...] les modèles serviront à dire ce que doit être le musée
e non pas à expliquer ce qu’il est”.
245
Note-se a ênfase sobre o dever ser e o ser. E
repetimos a anotação de que o dever ser e o ser são relativos a museu e não a outro
objeto.
b) fecundidade (dimensão gnoseológica) - Como metadisciplina, a Museologia não
gera e não libera nenhum conteúdo de conhecimento, é apenas uma reflexão sobre
uma maneira de produção de conhecimento. Como epistemologia, trata dos
fundamentos da ciência, não sendo uma ciência no segundo grau, ela não é uma
ciência da ciência.
c) objetividade - A Museologia não é objetiva, pois não observa o seu “[...] objet dans
sa phénomenalité à partir d´un disposif experimental réfléchi -, au contraire elle ne
cesse d´intervenir sur lui pour le modifier”.
246
“[...] le musée n´est pas pour la
240
DELOCHE, Bernard, Le musée virtuel. Op. Cit., p. 126.
241
Ibidem, loc. cit.
242
Ibidem, p. 127.
243
Ibidem, p. 128. ”[...] não modelo hoje que possa servir para explicar a relação museal do homem
com a realidade”[Tradução nossa].
244
Ibidem, loc. cit.
245
DELOCHE, Bernard, Le musée virtuel. Op. Cit., p. 128 [Grifo do autor].
246
Ibidem, p. 129. “objeto na sua fenomenalidade a partir de um dispositivo experimental reflexivo - ao
contrário, não pára de intervir sobre ele para o modificar” [Tradução nossa].
84
muséologie um pnénomène a comprendre ou à expliquer, mais une instituition ou em
ensemble d´outils à définir et à corriger”.
247
248
Se a Museologia não preenche esses três requisitos, talvez esteja na fase pré-
científica, conforme pensa Stránský.
249
Deloche vê que a ciência da informação e a comunicação, por exemplo,
elaboram modelos da relação museal homem – realidade. Mas não vê qual conteúdo a
Museologia poderia trazer sobre essa relação, ”[...] car ce n´est pas elle qui nous
permettra pas de mieux connaître la réalité naturelle ou culturelle”.
250
A questão
constante seria de ordem axiológica: “[...] l´instituition du musée réalise-t-elle
convenablement la spécificité de la relation muséale de l´homme avec la réalité?”
251
Objeto definido, metodologia, terminologia e sistema, à exceção do primeiro, os
demais critérios de consideração à cientificidade, em Stránský, podem ser
relacionados com o meio, a comunicação científica e o relacionamento no ambiente
científico, exteriores ou suplementares ao cerne da ciência em si: não se define ou se
estabelece o conhecer, mas como processar, demonstrar e legitimar o conhecido.
Em termos de anterioridade, metafísica, o objeto de estudo definido e a necessária
inferência do ser (ontológica) atendem à premissa gnoseológica da relação do ser [o
homem] com o objeto [metacientífico], enquanto que a posterioridade, do sico
[physis], o objeto [considerado] na relação com o homem observador, preenchem
procedimentos de natureza outra, da experiência do ser [ôntica] e científica [no caso
que tratamos, podendo ser outras, como existencial, por exemplo]
247
Ibidem, p. 129-130. O museu para a Museologia não é um fenômeno a se compreender ou a se
explicar, mas uma instituição ou um conjunto de instrumentos a se definir e a corrigir “.
248
Aponte-se o fato de o texto referir-se ainda a museu, a instituição e a ferramentas, possivelmente para
exercício das suas funções. Sob este ponto de vista de Deloche, a análise feita sobre a presença do
termo museu no capítulo 5 de Stránský, 2005, bem como a constância de referências a museu e suas
funções e especialidades, história, etc. nos cursos, através das respectivas disciplinas, concebidos por
Stránský: tudo isso serviria de reforço para a argumentação da prevalência desse objeto e o papel que
ocupa na discussão geral [Grifo nosso].
249
DELOCHE, Bernard, Le musée virtuel. Op. Cit., p. 130. STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a
muzeologie. Op. Cit., p. 74. Níveis do processo de conhecimento. No inicial, é geralmente empírico-
descritivo; no 2
o
., é teórico-sistemático e no 3
o
. é uma unidade harmoniosa de fatores qualitativos e
quantitativos. Quanto ao tempo, o 1º. é o mais longo.Concebe a Museologia como estando no 1
o
. estágio,
com exceções de incursões no 2
o
. Mas ela não existe apenas para elaborar conhecimentos metódicos e
técnicos. Pela tese filosófico-metodológica, “todo saber, por ser adequado a seu objeto e revelar sua
substância real, deve ser bem desenvolvido no plano teórico e sistematizado sob a forma de uma teoria”.
STRÁNSKÝ, Zbynek Z. La théorie des systèmes et la muséologie. Museological Working Papers -
MuWoP / Documents de Travail sur la Muséologie – DoTraM, Estocolmo, n. 2, p. 74, 1981.
250 [...], pois não é ele que nos permitirá melhor conhecer a realidade natural e cultural”. DELOCHE,
Bernard. Le musée virtuel. Op. Cit., p. 130.
251
Ibidem, p. 130. “[...] a instituição museu realizaria convenientemente a especificidade da relação
museal do homem com a realidade?” [Tradução nossa].
85
Na busca de aproximação ou de equivalências, não percebemos superposição
do critério sistema, em Stránský, nas operações a que recorre Deloche. Mais adiante
em sua formulação, Deloche conclui sobre o duplo caráter da Museologia pelos
prismas dos seus princípios e dos seus meios. Para ele, o campo da Museologia é o
museal (em vez da musealidade stranskyana) e os objetivos seriam os valores.
Quanto aos meios, Deloche nos apresenta a ciência da documentação visual e a
museografia. O binômio museal ciência da documentação visual e o outro par sendo
integrado por valores museografia resultam, respectivamente, na teoria e prática.
252
Exercitamos o raciocínio partindo da assunção da possibilidade de se encarar como
sistema da Museologia os elementos ciência da documentação visual (teoria) e
museografia (prática). Reapresentando, o sistema em Stránský é formado pelos níveis
diacrônico / Museologia histórica, sincrônico / Museologia contemporânea, teórico /
Museologia teórica e aplicado/ museografia. Saltam aos olhos as repetições de teoria
e prática (aplicação) em ambos os sistemas, e Deloche não se ocupa dos aspectos
histórico-científicos e posicionais. Mas distinguem-se os autores pelo teor teórico que
para um é a teoria da Museologia e para outro seria a ciência da documentação visual
(isto porque Deloche, não concebendo a Museologia enquanto ciência, mas ramo
filosófico, deixa à documentação cumprir o papel científico).
Tenha-se em conta, ainda, que modelização, fecundidade e objetividade, ou a
explicação, produção e independência, tudo em relação ao objeto, podem ser
encaradas como resultados do processo de produção de conhecimento, isto é, do
conhecimento já produzido, no âmbito da teoria.
A presença do VALOR
Chamou-nos a atenção a marcada constância do termo valor e correlatos
(avaliar, por exemplo), de seu conceito (axiologia) e a maneira associativa pela qual se
nos manifesta.
[...] o nascimento do fenômeno [museu] sempre é motivado pela
relação de valores entre Homem e realidade. Esta relação motivou a
seleção de representantes autênticos destes valores e a requisição
252
DELOCHE, Bernard. Le musée virtuel. Op. Cit., p. 138-144. Esses dados conclusivos derivaram da
base afirmada pelo autor de o museal, isto é, o objeto da Museologia ter caráter dual, patrimonial e
documentação visual (do que decorreria a separação/proteção e o conhecimento/mostra), conforme
apresentado às páginas122 e 123.
86
de sua conservação, mas também sua apresentação na intenção
desta cognição na missão de criadora de cultura.
253
“Assim cheguei à definição do termo musealidade, popularmente entendido
como um valor da cultura e memória”.
254
E, “conforme minha opinião”
O campo cognitivo da Museologia está definido [...] pela
musealização da realidade. Quer dizer, pelo que determina que
alguma coisa tem e outra não tem valor para com o Homem e a
sociedade, aquele dito valor museológico, quer dizer valor de cultura
e memória. Somente com este ponto de vista podemos avaliar os
instrumentos com os quais pode ser realizado o conhecimento da
maneira mais efetiva.
255
Em suma, para Stránský, em 2005, a motivação do museu é a relação de
valores entre o homem e a realidade, e esta relação, por seu turno, motiva a seleção
de seus representantes. Esses representantes contêm a musealidade, um valor da
cultura e da memória. Donde a musealização da realidade, a determinação de um
valor, e que o instrumento mais importante nesse processo é o museu.
Chamamos atenção para o substantivo valor ligado ao clássico objeto da
Museologia em Stránský: a relação entre o homem e a realidade. Trata-se agora de
uma avaliação sobre a relação homem-realidade e não a relação em si ou qualquer
ocorrência dessa relação. Ocorre também em valor dos representantes, cabendo o
mesmo reparo a respeito de não se tratar de qualquer representante, mais um julgado
representante. Em musealidade temos ainda ser ela um valor da cultura e da memória.
E, por fim, a musealização é a culminação do percurso valorativo, pelo qual o que tem
valor para o homem e a sociedade, e sublinhe-se homem, isto é, o valor museológico
ou da cultura e memória se patenteia através de um fenômeno, como, sobretudo, o
museu.
253
STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Op. Cit., p. 111 [Grifo nosso]. Observe-se a
presença da autenticidade.
254
Ibidem, loc. cit. [Grifo do autor].
255
Ibidem, loc. cit. Ocupado com a terminologia, um dos critérios de apreciação da cientificidade, Stránský
sente a necessidade de esclarecer os conceitos através de termos específicos a cada situação
enunciada. Assim, a expressão de museus ou a palavra museístico [muzejní] refere-se aos assuntos do
fenômeno museu e o que o circunda e museal identifica [...] aquela relação de avaliação particular da
realidade. [...] dentro de um museu é museal o que representa os valores museais: que são os objetos
de coleções. Ao contrário, a vitrine de museus é um instrumento para apresentação de algo museal, mas
ela própria é equipamento de museus. [...] seus conteúdos se entrelaçam de forma que, do ponto de vista
geral dos valores, o termo museal ultrapassa o termo ‘de museus’, mas do ponto de vista do fenômeno de
museus em geral, a parte museal é só uma parte dele. O problema é com a palavra que podia cobrir
estes dois lados”. STRÁNSKÝ, op. cit., p. 111-112.
87
Stránský sempre assinalou o papel da axiologia para a Museologia.
256
No
entanto, na obra analisada de 2005, a alteração de perspectiva do objeto, seja qual for
a acepção escolhida, se dá pela presença do valor em sua definição.
Tratando de valores com relação à realidade, não importa o conhecimento da
realidade em si, mas se estudar a identidade da representação (os representantes) de
valores culturais,
257
a musealidade. a musealizaçao enquanto processo é motivado
pelo valor de musealidade, constantes naqueles representantes cujo valor “é
conectado com seu acordo ôntico
258
com o fenômeno, que está representando”.
259
“[...] o nascimento do fenômeno [do museu] sempre é motivado pela relação de
valores entre Homem e realidade”.
260
Em outras palavras do autor, a “[...]
musealização da realidade. Quer dizer, pelo que determina que alguma coisa tem e
outra não tem valor para com o Homem e a sociedade, aquele dito valor museológico,
quer dizer valor de cultura e de memória. Somente com este ponto de vista podemos
avaliar os instrumentos com os quais pode ser realizado o conhecimento de maneira
mais efetiva”.
261
Na metodologia da Museologia, conforme compreendida por Stránský, o valor
também domina o texto, ali destacado e, neste âmbito, fundamental.
256
Ibidem, p. 108.
257
STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Op. Cit., p. 114.
258
“O filósofo alemão Heidegger propõe distinguir duas palavras: ôntico e ontológico. Ôntico se refere à
estrutura e à essência própria de um ente, aquilo que ele é em si mesmo, sua identidade, sua diferença
em face de outros entes, suas relações com outros entes. Ontológico se refere ao estudo filosófico dos
entes, à investigação dos conceitos que nos permitam conhecer e determinar pelo pensamento em que
consistem as modalidades ônticas, quais os métodos adequados para o estudo de cada uma delas, quais
as categorias que se aplicam a cada uma delas. Em resumo: ôntico diz respeito aos entes em sua
existência própria; ontológico diz respeito aos entes tomados como objetos de conhecimento. Como
existem diferentes esferas ou regiões ônticas, existirão ontologias regionais que se ocupam com cada
uma delas. Em nossa experiência cotidiana, distinguimos espontaneamente cinco grandes estruturas
ônticas: 1. os entes materiais naturais que chamamos de coisas reais (frutas, árvores, pedras, rios,
estrelas, areia, o Sol, a Lua, metais, etc.); 2. os entes materiais artificiais a que também chamamos de
coisas reais (nossa casa, mesas, cadeiras, automóveis, telefone, computador, lâmpadas, chuveiro,
roupas, calçados, pratos, talheres, etc.); 3. os entes ideais, isto é, aqueles que não são coisas materiais,
mas idéias gerais, concebidas pelo pensamento lógico, matemático, científico, filosófico e aos quais
damos o nome de idealidades (igualdade, diferença, número, raiz quadrada, círculo, conjunto, classe,
função, variável, freqüência, animal, vegetal, mineral, físico, psíquico, matéria, energia, etc.); 4. os entes
que podem ser valorizados positiva ou negativamente e aos quais damos o nome de valores (beleza,
feiúra, vício, virtude, raro, comum, bom, mau, justo, injusto, difícil, fácil, possível, impossível, verdadeiro,
falso, desejável, indesejável, etc.); 5. os entes que pertencem a uma realidade diferente daquela a que
pertencem as coisas, as idealidades e os valores e aos quais damos o nome de metafísicos (a divindade
ou o absoluto; a identidade e a alteridade; o mundo como unidade, a relação e diferenciação de todos os
entes ou de todas as estruturas ônticas, etc.)”. CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática,
2000. Disponível em: <HTTP://br.geocities.com/ncrost02/convite_a_filosofia_30.htm>. Acesso em: 20 fev.
2008. (Grifo do autor).
259
STRÁNSKÝ, op. cit., p.113.
260
Ibidem, p. 111 [Grifo do autor].
261
Ibidem, loc. cit. [Grifo do autor].
88
A relação museológica com a realidade requer conhecer a sua motivação e
Esta relação está delimitada pelo caráter da realidade musealizada e
pela importância de seus valores. Disso concluímos que a Museologia
tem que se basear no conhecimento da importância para a cultura e a
memória daquela realidade que está sendo observada.
262
Por força de argumentação repetimos que, na visão de Stránský, o trabalho do
museólogo pode se contrapor aos valores populares
263
, e implica ser trabalho relativo
aos valores da musealidade.
264
A axiologia “[...] condiciona a diferenciação da metodologia museológica”.
265
Considere-se então, o decisivo papel desempenhado pela axiologia, sobre a qual
repousa toda a construção musealidade musealização e, por ser critério, a natureza
científico-metodológica da Museologia. Repetimos a pergunta: a axiologia não é ramo
da filosofia? Os sistemas de valor podem se transformar em objeto científico?
E finalizamos, enfatizando:
É importante perceber que [...] se trata de alguma relação de valores
com a realidade, quer dizer que não é importante o conhecimento em
si desta realidade, mas trata-se da identificação de tais entidades,
que representam os valores culturais, quais as seleções, conservação
e utilização influenciam o próprio desenvolvimento da cultura.
266
O Objeto não é a coisa em si, mas a representação do valor.
Por outra linha de raciocínio, propomos nos deter sobre o aspecto ontológico,
do ser.
A musealizaçao enquanto processo é motivada pelo valor de musealidade,
constante naqueles representantes cujo valor é conectado com seu acordo ôntico
267
com o fenômeno, que está representando”.
268
[...] “o nascimento do fenômeno [do
museu] sempre é motivado pela relação de valores entre Homem e realidade”.
269
262
STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Op. Cit., p. 113.
263
Ibidem, p. 113-114. Sobre o aspecto contraditório, ver nota 196.
264
Ibidem, p. 113.
265
Ibidem, p. 114.
266
Ibidem, p. 113 [Grifo nosso].
267
A esse respeito, ver nota 254.
268
Ibidem, loc. cit.
269
Ibidem, p. 111 [Grifo do autor].
89
Trazemos novamente à consideração o fato, para Stránský, de que a
musealizaçao transforma a realidade em metarealidade cultural.
270
Esse objeto pré-
existente e a existir transformado, se caracterizaria como objeto observado mas
orientado para ser alterado pelo observador-cientista. Em uma primeira circunstância,
o objeto se afigura na consideraçao ôntica, da experiência própria dos entes. Na
segunda, o objeto metarealizado desloca e supõe um sujeito observador e [re]criador
do objeto, não mais de dimensão ôntica por não ser da experiência ôntica, mas de um
metasujeito demiurgo de realidades.
Repetimos a pergunta que nos fizéramos: a Museologia estudaria a si mesma?
E se assim o fizesse, estudaria um objeto que seria objeto de sua criação? Estudaria a
realidade ou a metarealidade? Como ficaria a relação gnoseológica a se explicitar, de
qual pressuposto sujeito e de qual pressuposto objeto se estaria tratando? Estaria
focalizando a relação do homem com a realidade ou do ente muzealizador, o
demiurgo, com a metarealidade que criaria? E, enfeixando a argumentação, e a
sintetizando, retransmitimos as considerações de Deloche: “[...] la muséologie [...] ne
cesse d´intervenir sur lui [seu objeto] pour le modifier, car le musée est toujours à
construire et à transformer”.
271
[...] les modèles serviront à dire ce que doit être le
musée e non pas à expliquer ce quíl est”.
272
Stránský, por vezes, parece equiparar o conceito de cultura de museus à
condição de sinônimo de Museologia, como quando afirma que “Os problemas
terminológicos da cultura de museus, quer dizer da Museologia [...].”
273
E nisso se
contém a manifestação da própria instabilidade terminológica.
As inquietações do autor checo abrangem desde aspectos relativos à
necessidade de produção de conhecimento como tal, autônomo, como a sua
justificação pragmática, e como modo de qualificar o trabalho em museu. Porque o
museu é o palco da musealizão, o lócus da metarealidade, consideração do
representante do valor relacional homem-realidade, objeto museológico. Julga
importante resgatar a ciência dos museus, no escopo da cultura de museus.
274
E a
270
Ibidem, p. 117.
271
DELOCHE, Bernard. Le musée virtuel. Paris : Presses Universitaires de France, 2001, p. 129. (Grifo
nosso).
272
STRÁNSKÝ, op. cit., p. 128 [Grifo do autor].
273
Ibidem, p. 113.
274
De novo, um termo valendo por outro, a Museologia. Ibidem, p. 108.
90
cientificidade, se não afastaria, pelo menos se contrabalançaria aos amadores e
semiprofissionais na gerência dos museus ou em seu trabalho, carentes de
qualificação.
275
E apresenta a advertência:
Se algumas pessoas que trabalham em museus não entenderam
ainda ou não podem entender e ficam pensando que podem
continuar a cultivar em museus “somente o seu” [museu?] ou que
museu e galeria somente devem ver o lado dos altos números
[índices?] de visitantes conectados com a receita e assim mostrar sua
auto-sustentabilidade econômica, isso significa, que é mais
importante gerenciar efetivamente a instituição do que manter o nível
científico, isso é assunto deles, mas também responsabilidade
deles.
276
Dentre os eventuais paradoxos que se possa indiciar encontramos o do caráter
excludente ou antinômico da iniciativa popular em Museologia. Porém, se uma
“Museologia popular” não puder ser pressuposta na fundamentação museológica,
como então se poderá conceber a nova Museologia? Seria a nova Museologia apenas
uma nova forma unívoca de relacionamento museal, no interior de uma comunidade
restrita e apenas existente e expressiva para essa mesma comunidade?
A Museologia primeiramente tem que tomar iniciativa, sem pensar se
alguém vai gostar ou o. Se ficar na sua esfera museu-técnica e
institucional tradicional, poderá acontecer que os museus irão perder
seu direito de existência. Também pode acontecer que a ausência de
Museologia científica dará origem a várias “Museologias populares
277
Seguindo o teor da expressão anteriormente transcrita, poderíamos vir a refletir
se a nova Museologia incorpora ou considera as “Museologias populares”. Em caso
afirmativo, logo, ela não seria científica, nos termos oponentes e excludentes de
Stránský. Todavia, em momento posterior de sua obra, o museólogo de Brno expõe
sobre o divórcio entre o cientista e a ordem dos valores populares, a exemplo de
tomadas de decisão em circustâncias de arbítrio de poder totalitário.
O museólogo tem que conhecer bem estes valores culturais e tem
que preferir e favorecer com plena consciência e responsabilidade
certos valores que ele acha que refletem os interesses do homem e
também de toda a sociedade, não somente para conservar seus
representantes, mas também para utilizar estes representantes de
modo pleno, em nome do desenvolvimento da cultura e
fortalecimento da consciência cultural da sociedade. Este tipo de
275
STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Op. Cit., p. 108.
276
Ibidem, loc. cit.
277
MAYRAND apud STRÁNSKÝ, Zybnek Z. Archeologie a muzeologie. Op. Cit., p. 108.
91
trabalho pode estar em rios casos em contradição com os valores
populares, como foi particularmente nas épocas de regimes
totalitários.
278
Pode ficar parecendo que o trabalho de musealização, baseado na análise
científica dos valores, deveria considerar igualmente os ditos valores populares,
enquanto axiologia. Mas pensados fora do universo dos agentes populares. Se esses
agentes por eles próprios estabelecessem suas musealizações, isto é, na escolha dos
seus próprios representantes culturais, exerceriam, na qualidade de sujeito, uma
Museologia popular, mas não científica. Por oposição, a Museologia científica seria a
que metodologicamente analisasse os valores de representação, inclusive dos valores
populares, como objeto.
Novo jogo ôntico e gnoseológico: quem é sujeito e quem é objeto. Quem é o
homem e qual a realidade? Trata-se de um homem, cientista, que estuda o outro,
estudado, popular, inconsciente da sua experiência ôntica, e assim tornado objeto? Ou
trata-se do sujeito popular cônscio de seus valores, submetidos como objetos? Para
qualquer uma das questões, Deloche, também angulando pela musealizaçao, não
qual conteúdo a Museologia poderia trazer sobre a relação homem-realidade, ”[...] car
ce n´est pas elle qui nous permettra pas de mieux connaître la réalité naturelle ou
culturelle”.
279
A questão constante é de ordem axiológica: “[...] l´instituition du musée
réalise-t-elle convenablement la spécificité de la relation muséale de l´homme avec la
réalité?”
280
Perguntar-se. PENSAR E/OU CONHECER?
Sobre o que se pensar? (o que se pensa?),
Como isso se posiciona em relação ao ser? (o que é?),
Como se pensa? (qual o modo de se conhecer, ou por qual modo se
conhece?),
Como se constitui o pensável (como se manifesta?) e
Como se apresenta? (como parece ser?)
278
STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Op. Cit., p.107-108.
279
“[...], pois não é ela que nos permitirá melhor conhecer a realidade natural e cultural”. DELOCHE,
Bernard. Le musée virtuel. Op. Cit., p. 130.
280
Ibidem, p. 130. “[...] a instituição museu realizaria convenientemente a especificidade da relação
museal do homem com a realidade?”
92
Qual o tipo, a ordem e a qual universo se relacionam as perguntas que são
feitas? Stránský, Deloche, eu. Certamente, em conformidade com cada sistema
referencial se obtêm possibilidades de respostas diferentes.
93
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Seja pela definição epistemológica quanto gnosológica, objeto em si, em ação
ou em representaçao, objeto esse que é um sujeito que pensa, reflete, a priori
enquanto ser, e que observa a subjetividade e objetividade das suas relações com a
realidade, dada e construída, no e sobre o Mesmo foucaulteano ou o Outro
heideggereano, mesmo que esse Outro seja o Mesmo em termos da relação
gnoseológica sujeito-objeto, em dasein.
Relembramos a redefinição epistêmica proposta por FOUCAULT, ressaltando o
papel da consciência do inconsciente que se “nos confins exteriores do objeto e do
sujeito” e o “questionamento recíproco” que ligam sujeito e objeto.
281
Para Laraia, o objeto da Antropologia, ciência social, são “[...] todos os tipos de
ação humana, que dependem de aprendizado e que estão correlacionados com o
pertencimento a uma dada sociedade”.
282
Buscando objetivamente estudar os
sistemas e estruturas sociais, os processos políticos e econômicos, as interações de
grupos ou indivíduos diferentes, gerando conhecimentos passíveis de verificação ou
sendo conjunto de disciplinas compartilham “um hipotético fato ou fenômeno social”,
através da conduta ou ação humana.
283
O objeto das Ciências Humanas, para Foucault, é o modo de ser do homem,
284
“o homem [...] em sua positividade (ser que vive, trabalha, fala) e o que permite a esse
mesmo ser saber (ou buscar saber) o que é a vida, em que consistem a essência do
trabalho e suas leis, e de que modo ele pode falar”.
285
281
FOUCAULT, Michel. A palavra e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. 3. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1985, p. 389.
282
LARAIA, Roque de Barros. Cultura brasileira, uma abordagem antropológica. Sociedade e estado.
Brasília, v. 8, n.1/2, p. 35, jan.-dez. 1993.
283
FUNDAÇAO GETÚLIO VARGAS, FUNDAÇÃO DE ASSISTÊNCIA AO ESTUDANTE/MEC. Dicionário
de ciências sociais. 2. ed. Rio de Janeiro, 1987, v.1, p. 184.
284
FOUCAULT, op. cit., p. 362.
285
Ibidem, p. 370.
94
O objeto, seja nas Cências Sociais ou nas Humanas, é o mesmo: o homem.
Em umas, a ação humana, em outras a representação e os dicursos do homem. Mas
os discursos não seriam atos? E atos, não seriam discursos? A visão epistêmica é que
parece mutável, seja para enquadramento em taxonomias e classificações ou
organizações de pensamento, sejam dentro dos próprios campos ou grupamentos
científicos, onde se perspectivam facetas de um mesmo objeto.
O sujeito, enquanto cientista ou filósofo, com sua visão epistêmica ou
dogmático-científica, será responsável pelo nome que se dará ao campo em que se
inscreverá seu conhecimento, responsável que é pela configuração epistemológica de
que empregnará seu objeto. Em Foucault, exemplifica-se a cambiância do termo
representação, indo de conteúdo visual em As meninas, de Velásques, à finalidade
dos estudos de Psicologia, Sociologia e do Estudo de literaturas e mitos. Ou mesmo a
impossibilidade do filósofo, como a relativa a sintetizar estudo das literaturas e dos
mitos a análise de narrativas, por exemplo, considerando a ampliação do objeto
linguagens às não verbais. São tais as questões que, como o surgimento de uma nova
epistême no século XIX, na Europa, pressupõem os condicionamentos do tempo
espaço epistêmico em que se colocam ou nos quais se colocam os cientistas e
filósofos, ou, ainda, como eles analisam o conhecimento tal como o percebem.
Pelo Dicionário de ciências sociais, essas ciências se encontram em duas
tendências, uma que privilegia a mensuração, a quantificação, a estatística, e de outro
lado, a valorização da interpretação, um lugar para a crônica, o ensaio.
286
Foucault, de
certo modo, ao categorizar as ciências matemáticas e físicas pela sua espistême,
estrutura e linguagem formal, o que as diferencia das demais ciências que adotam
parcialmente ou têm o projeto de atingirem a formalização, poderia justificar a
polarização.
287
Todavia, Foucault as Ciências Humanas escapando à polaridade,
pois, por natureza, se criaram e transitariam nos interstícios das três dimensões do
seu triedro epistemológico, constituindo uma quarta dimensão epistêmica. Psicologia,
Sociologia e Estudo de literaturas e mitos, que estudam a representação, tendo
referências com a Biologia, Economia e Ciências da Linguagem, que estudam os fatos
em si. Ao procederem a estudos, Psicologia, Sociologia e Estudo de literaturas e mitos
fazem cortes sincrônicos no objeto (modo de ser do homem, representação) e a
286
FUNDAÇAO GETÚLIO VARGAS, FUNDAÇÃO DE ASSISTÊNCIA AO ESTUDANTE/MEC. Dicionário
de ciências sociais. Op. Cit., p. 184.
287
FOUCAULT, Michel. A palavra e as coisas: Op. Cit., p. 364.
95
História delas seria independente e elas em relação à História. Mas na interpenetração
de Psicanálise e Etnologia é que as Ciências Humanas, desde a publicação de Tótem
e tabu, constituem-se um campo comum, um discurso transitando entre ambas, “a
articulação da história dos indivíduos com o inconsciente das culturas e da
historicidade destas com o inconsciente dos indivíduos”.
288
E a Museologia, seria Ciência Social ou Humana? Ou seria, ainda, reflexão
filosófica? Estuda a ação do homem, a representação ou tem outro objeto? Qual seu
sujeito, cientista ou filósofo? Qual seu projeto com relação à formalização ou à
interpretação? Relaciona-se ao triedro Biologia-Economia-Ciências da Linguagem? Ao
se estender o conceito de linguagem, a Museologia compartilharia o campo dos
discursos, por analisar a relação homem-objeto, que se através de atos (de fala),
representados pelo que se estudou deles. Conforme o objeto da Museologia, por
essas premissas, essa disciplina poderia vir a ser analisada enquanto uma expressão
da macro-representação, macro-dimensional (positiva e fenomenologicamente) ou,
eventualmente, observada no plano da metafísica. Para efeito de aproximação,
considerem-se os aspectos de que a Museologia, operaria com a representação do
sujeito-indivíduo (região psicológica), com a representação em sociedade, ou grupos
(de cuja sociedade ou grupos o museu, campo privilegiado da Museologia, é um órgão
região sociológica) e, particularmente, representação do estudo das literaturas e dos
mitos, da “análise dos todas as manifestações orais e de todos os documentos
escritos, em suma, a análise dos vestígios verbais
289
que uma cultura ou um indivíduo
podem deixar de si mesmos”. (região das leis e formas de uma linguagem).
290
288
FOUCAULT, Michel. Op. Cit., p. 396.
289
Já desde a enunciação das constituintes do triedro epistemológico, Foucault não pôde reduzir as
ciências da linguagem a apenas uma (lingüística e filologia) disciplina, em contraste com a inteireza da
biologia e da economia. Desdobra-se esta impossibilidade quando explicita as ciências humanas, falando
em estudo das literaturas e dos mitos, em comparação com a precisão de psicologia e sociologia. Seria
simplesmente o estudo da representação que, nos anos 1960 ainda não englobara as linguagens visuais
e artificiais, cibernéticas? Foucault abre As palavras e as coisas com o breve As Meninas, em que
observa a representação nessa pintura de Velásques. Mais adiante, na p. 371, Foucault precisa e
patenteia que a representação é uma dimensão subjetivante e que as três ciências humanas, ou conjunto
de discursos (p. 361), são representações específicas e constitutivas da representação geral. A
representação visual está considerada. Foucault apenas não toma a linguagem visual, ou outras
recorrentes a outros sentidos, como linguagem. As linguagens totêmicas, proxêmicas, gestuais, cênicas,
musicais, táteis, olfativas, gustativas (estas distinguem os seres pelo tipo de alimentação, pela natureza
do alimento – onívoros, carnívoros, p. ex., e por tipo de preparo, de ingredientes, de condimentos,
expressivos de culturas, de escolas, movimentos, religiões e as associações inter, multi ou pluri sensoriais
como cor e textura, participantes da visão, tato e paladar, p. ex.).
290
FOUCAULT, Michel. A palavra e as coisas: Op. Cit., p. 373.
96
Apresentamos nas páginas anteriores elementos informativos e analíticos
versando sobre a definição de objeto, sendo o da Museologia o que constituiu
particular interesse, demandando-se a natureza da Museologia. Uma visão filosófica,
tanto quanto possível, permitiu explorar as bases da construção do conhecimento na
teoria museológica.
Os três textos selecionados da revista Documents de Travail sur la Museologie
- MuWoP, n. 1, revelaram-se boa amostragem, pelo conteúdo considerado
isoladamente e pelas relações implicadas e explicitadas entre si, em pelo menos dois
casos: Schreiner e Gregorová quanto a Stranský. Do ponto de vista gnoseológico,
aqueles que aplicaram a gnoseologia em suas observações, se transformaram em
objeto através do seu conhecimento validado (ou não) por outros sujeitos
cognoscentes. Stránský, mesmo até pela sua abstenção perante sua produção
anterior, foi objeto dos dois outros.
Desde 1980, as alterações políticas têm sido significativas e esses autores, ao
final, se inscreveram no âmbito da contribuição ao plano geral do pensamento. Pode-
se considerar aquele um momento sócio-político específico e entrever o viés
ideológico ali contido.
Em termos metodológicos, superadas as dificuldades idiomáticas e semânticas
- sendo a infixidez da universalização do objeto (que pode até ser mais que um) um
elemento que impõe dificuldades de variadas ordens, proceder a uma arqueologia foi
estimulante para o exercício da crítica, da criatividade analítica, da aproximação e
maior clareza da análise gnoseológica, além de ser autoprovocação.
Esperamos poder se estabelecer a compreensão, retomando-se o comentário
de Schneider, da imprecisão quanto à estabilização conceitual científica da
Museologia em 1980 e, em seu rastro, a da objetividade independente da Museologia
ao objeto Museu, instituição ou fenômeno.
Quanto a isso, e apesar disso, não é ocioso repetir algumas das conceituações
de Gregorová, recordando a filiação da filósofa ao penasamento de Stránský.
”[...] o museu [...] não pode constituir o objeto da Museologia”.
97
“[...] a definição de Museologia não pode se basear sobre o museu nem sobre
os objetos colecionados”.
“As instituições não são objeto da ciência”.
“As coleções são objeto de outras disciplinas científicas”.
“As pesquisas científicas no museu não são objeto, pois são parte da
metodologia e da história da ciência e de outras disciplinas”.
“A atividade cultural e educativa é realizada também por muitas outras
instituições e objeto de outras disciplinas (história e teoria da cultura, sociologia,
psicologia, etc.”
291
Esperamos ter se verificado a validade do conhecimento em função dos três
sujeitos cognoscentes exemplificados quanto ao objeto da Museologia, no capítulo 1,
ter se permitido ao leitor conhecer parcela do pensamento dos três autores escolhidos,
ter sondado a teoria museológica em um espaço-tempo crucial, além de ter permitido
pessoalmente melhor compreender as implicações da complexidade do problema: o
objeto da Museologia.
Stránský, ao refletir sobre a Museologia, conclui que
[...] atualmente a Museologia não responde à concepção de ciência e
à teoria de sistemas. Entretanto, o vida que a abordagem
museológica da realidade exige aplicação da teoria dos sistemas
importante para delimitar e determinar a existência da Museologia
como ciência, o que já se manifesta em alguns ensaios.
292
Reitera o autor checo a necessidade da base gnoseológica e metodológico,
adequada quer à pratica, quer ao sistema da ciência. E sobre essa base se imporá
nas escolas superiores como matéria específica de ensino e diminuirá o conceito de
ter caráter exclusivamente artístico.
291
GREGOROVÁ, Anna. [La muséologie: science ou seulement travail pratique du musée?]. ICOFOM. La
muséologie: science ou seulement travail pratique du musée? Museological Working Papers
MuWoP/DoTraM, n.1, Estocolmo, 1980, passim.
292
STRÁNSKÝ, Zbynek Z. La théorie des systèmes et la muséologie. Documents de Travail sur la
Muséologie – DoTraM, Estocolmo, n. 2, p. 72, 1981.
98
Stránský, o pai da Museologia, atuante na área museística e museal, grande e
fecundo teórico, cobrindo o período de 1965 a 2005 (este último marco representado
pela sua obra Archeologie a muzeologie), teve neste trabalho os marcos
intermediários da exposição O caminho do museu, de 1971, e sua primeira
publicação no âmbito do ICOFOM, em 1980. Seu papel é preponderante para a
discussão do objeto da Museologia, do conceito de Museologia, da teoria
museológica, enfim da Metamuseologia, que estabeleceu. Soube oportunamente
apresentar também suas teses através da comunicação em museu, na linguagem
museística especialíssima, em que se constitui a exposição. Em O caminho do
Museu, é patente o grau de eficácia da exposição museística como veículo de
apresentação visual de princípios da Museologia, à luz da escola checa. Mas,
retenhamos ter havido superposição conceitual entre Museologia e museu, em que o
objeto museístico elemento de exposiçao ou expositivo [expot] - reina na teoria
museológica, conforme apresentada na exposição.
Apesar da carência de fontes nos idiomas ocidentais e de as raras versões em
português serem derivadas de traduções em inglês ou francês, e de termos tido
acesso a pequena parcela dos textos em checo, ainda que inseguros das afirmações
pela limitação dos meios, persistimos no movimento adiante.
E se em 1980 define Museologia como disciplina científica cujo objeto é a
atitude específica do Homem com a realidade
293
, e se “O objeto da Museologia não
pode ser o museu. [...] Concebo, portanto os museus, no quadro do sistema
museológico, como uma das formas possíveis da realização da abordagem
[aproximação] do homem com a realidade”
294
, ainda parece instável o objeto e o
caráter científico da Museologia, seja em se tomando Stránský de per se, seja na
consideração da contra argumentação e da proposta filosófica de Deloche.
Fala-se incansavelmente, em 1971, de realidade, que nas formulações
posteriores será somada à presença do valor, à qual o objeto da Museologia e o de
museu estão relacionados. Como dissemos, a realidade, ou metarealidade,
apresentada na exposição e nos museus não se pode estranhar fazerem um exercício
293
STRÁNSKÝ, 1980, p. 39, apud DESVALLÉES, André (Dir.). Terminologia museológica: proyecto
permanente de investigación. ICOFOM/ICOFOM LAM. [s.l.] ______, maio 2000, p. 6 [Tradução nossa].
294
STRÁNSKÝ, 1966, p. 288/289; STRÁNSKÝ, 1987, p. 294/295, apud DESVALLÉES, André, dir.
Terminologia museológica. Op. Cit., p. 6 [Tradução nossa].
99
de ficção científica, considerando-se real a realidade que se imagina. O labirinto da
realidade através de um fio de Ariadne, que seu autenticador é um Outro, teseu,
usuário, que percorre o fio, não a realidade, não o labirinto.
Buscou Stránský na Gnoseologia e no aspecto fenomenológico, além de no
princípio da positividade na ciência, enfatizar o perceptível para argumentação da
razão. Relembramos Einstein, pelo qual o observador, ou melhor, a relação em que o
observador, em sua posição no espaço, participa e define o evento, e nele o evento é
positivo, mas dependente dessa mesma posição do sujeito: sujeito e objeto se definem
e se redefinem em combinações infindas.
Levando-se em conta que o trabalho possibilitou, pelas leituras, aberturas e
provocação de reflexão, esperamos ter se podido aprofundar o conhecimento sobre a
teoria museológica, verificando-se o conceito de Museologia e a sua sistematização,
no início dos anos 1970, na escola de Museologia de Brno, ao mesmo tempo que
examinar comparativamente ao que Stránský nos apresenta na estrutura do sumário
do seu livro de 2005 (ANEXO B): o cotejo de suas considerações expressa no roteiro
da exibição O caminho do museu com as partes constitutivas do seu último livro.
Simultaneamente, o desenrolar do estudo permitiu a observação específica do
teor da teoria museológica apresentada nessa exposição, assim como a análise
expográfica da mostra, a partir dos elementos de que se utilizou no processo de
comunicação peculiar a museus. Mais uma vez, agradece-se o concurso de Zusana
Paternostro que, com a tradução realizada dos conteúdos em checo, ampliou e
enriqueceu com possibilidades o universo analítico das considerações que se
encerram.
A imprecisão de que falam Stránský e Schreiner em 1980 fica reiterada então,
e patente, por volta de 2005: Stránský e sua postulação da filiação e pertinência
científica da Museologia, e Deloche advogando a filosofia, como a Museologia sendo
um seu ramo. Ora, o fato de os autores estarem ambos construindo teorias sobre a
Museologia, sob parâmetros diferentes para a análise do conhecimento, supõe-se o
âmbito da metateoria. Parece, então, que se pode falar com tranqüilidade da
Metamuseologia, enquanto se teoriza sobre a teoria, teoria esta que seria a
Museologia em si. No entanto, se a Metateoria tem objeto definido, a Museologia tem
100
o seu objeto discutido. E não apenas o objeto. Também a natureza do conhecimento,
se científico ou filosófico. Depreende-se haver uma Metamuseologia que pensa sobre
a Museologia, que não teria paradoxalmente uma teoria, ou sem uma concordância
teórica mais ou menos universal sobre a natureza da Museologia. Acrescente-se que
muitos concebem a Museologia como reflexão sobre a prática da operação da
instituição Museu. Uma Metateoria de uma não teoria? Talvez a indicação seja de que
o objeto habitual ou pontualmente relacionado não o seja de fato, mas um vício de
origem que, apesar de argüido, não é de todo abandonado. uma tendência
conciliatória ao se dizer que o museu não é o objeto da Museologia, porém ele ocupa
o maior volume das discussões ditas museológicas. Ou a teoria deve assumir
definitiva e definidamente o objeto museu, instituição ou idéia, ou se procurar um
objeto que, embora eventualmente também se observe em museu, não lhe seja
exclusivo. E mais, que esse objeto seja passível de análise teórica, de formulação
teórica e que sobre ele se possa abstrair. A necessidade de o objeto estar diretamente
relacionado com a possibilidade de sua sujeição à construção cognitiva parece clara.
O que ainda nos faltaria seria talvez a busca da percepção daquilo que faz com que o
ser e, noutro plano, o ente, e o sujeito indivíduo, e o sujeito social manifestem sob a
forma de musealidade museália ou de museal- ciência da documentação. A
axiologia, necessidade humana de perpetuar para além da sua verdade finita de
temporalidade, que na inexistência ontológica do tempo permanecer para além é
apenas representação, daí a memória. Mas memoriar implica escolha e representação
e, especialmente, a definição de sua natureza sob a aparência. Platão viu assim a
idéia, recuperada por anamnese (memória diacrônica) e a verdade como
desvelamento e descoberta, aletheia, o não esquecer, que para ele tratava-se de
um movimento de recuperação do preexistente ao ente. Essa metafísica do
conhecimento e da verdade, a par da do ser, deslocaria a observação, fosse da
musealidade, fosse do museal, do campo da empiria, projetando o objeto da
Museologia no espaço da natureza do ser, outra natureza em relação à realidade, a
metarealidade na anterioridade e seridade (na qualidade de ser), e não na
posterioridade e entidade.
Assim, se Museologia é termo consagrado, mas circula em torno de museu,
talvez melhor seria chamá-la de museulogia, liberando o termo Museologia para a
consideração filosófica sobre a poieses, sobre a consideração da humanidade,
representada pelo Olimpo grego e o mouseion, e pela instauração civilizatória e
101
memorial de Museu, personagem contemporânea de Orfeu. Relação órfica, das
musas, da criação e da transmissão (recriação, metareal), são esses elementos ou
categorias expressivas do Homem, não de sua relação com a realidade, mas a
natureza, ou um dos aspectos que lhe definem como homem. A relação com a
realidade é factual e, sobretudo, considerável enquanto fenômeno positivo.
Persistindo-se nessa linha analítica, podemos tentar radiografar, teoriar e interpretar
as manifestações, exclusivamente, ingressando no debate dos fundamentos
ontológicos e ônticos.
Mas não podemos negar que inclusive nossas colocações se fundam sobre
valores: hipótese, suposição colocar sob. E seguimos olhando o universo buscando
os objetos. E esperamos que se cairmos no buraco, a criada ouça o próprio riso.
Perguntas e perguntas. Quantas mais são feitas, tantas mais proliferam.
102
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GLOSSÁRIO MÍNIMO
(a partir de Stránský) *
CULTURA DE MUSEU [MUSEUM CULTURE] porção de uma cultura, desenvolvida
a partir da musealização da realidade [representada]. (STRÁNSKÝ, 2005, p. 256).
ECOMUSEOLOGIA (não consta do glossário de Stránský) - S.f. – Adaptação da
museologia às necessidades específicas dos ecomuseus. O neologismo foi
antecipado, em 1971, por Jean-Pierre Gestin, então conservador (e diretor) dos
ecomuseus do Parque Natural Regional da Armórica, antes até que Hugues de Varine
tivesse inventado a palavra ecomuseu. (DESVALLËES, 2000, p. 11. Grifos dos
autores).
MUSEAL ou MUSEALÍSTICO [MUZEÁLNÍ; museum (como adjetivo), museal (não
usado na linguagem corrente no inglês); muséal] - algo que representa um valor
cultural e de memória de uma musealidade. (STRÁNSKÝ, 2005, p. 256)
295
Adj. Que tem relação com o museu. Por derivação semântica, tem-se a tendência a
substituir impropriamente museal por museográfico ou por museológico.
(DESVALLËES, 2000, p. 48. Grifos dos autores)
- campo problemático do mostrar, remetendo à função documentária intuitiva.
(DELOCHE, 2001, p. 252)
MUSEÁLIA [MUZEÁLIE; musealia] - objeto autêntico que foi selecionado e é um
representante do valor cultural do museu, normalmente designado como objeto de
museu. (STRÁNSKÝ, 2005, p. 256)
* traduzido do checo, via inglês, por Jan Dolák, Suzanne e Vinos Sofka, com colaborações de Z.Z.
Stránský, Katerina Kotiková, Bruna Latini, Tereza Cristina Moletta Scheiner e de Anaildo Bernardo
Baraçal, e do francês por este último. Incluíram-se, aqui, termos não arrolados por Stránský.
295
Acho que devemos [...] utilizar a palavra de museu [museístico - muzejní] quando vamos tratar
assuntos do fenômeno museus e tudo que esta em volta, e a outra palavra, museal muzeální], devemos
utilizar para identificar aquela relação de avaliação particular da realidade. [...] dentro de um museu é
museal só o que representa os valores museais: [...] os objetos de coleções. Ao contrário, a vitrine de
museu é um instrumento para apresentação de algo museal, mas ela própria é equipamento de museu.
Ambos os termos não existem isoladamente. Eles têm uma relação direta: seus conteúdos se entrelaçam
de forma que, do ponto de vista geral de valores, o termo museal ultrapassa o termo “de museu”
[museístico], mas do ponto de vista do fenômeno do museu em geral, a parte museal é uma fração
dele.“ STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Brno: Masarykova Univerzita, 2005. p. 111-
112. (grifos do autor). Entre colchetes, após o termo: em caixa alta, termo em checo; em caixa baixa, em
inglês e francês, conforme o caso, e, eventualmente, em alemão.
110
MUSEALIDADE [MUZEALITÝ; museality] Em termos correntes, entendida como
um valor da cultura e memória. (STRÁNSKÝ, 2005, p. 111)
(Nota: embora o termo não integre o Glossário da obra Archeologie a muzeologie,
esta definição consta do corpo do texto.) Muzeologické sesity, n. 7, 1979. Apud
STRÁNSKÝ, 2005, p. 112. Nota: Termo trabalhado por Stránský em conjunto com
Wilhelm ENENNBACH, assim como o termo musealização (Musealisierung, em
alemão) (Grifo do autor). (STRÁNSKÝ, 2005, p. 111)
- valor de museu (Trad. Suzanne e Vinos Sofka).
- S.f. Termo proposto pelo museólogo checo Zbynek STRÁNSKÝ para designar a
qualidade da coisa musealizada, a partir do momento em que seu valor museal exige
extrai-la de seu contexto de origem. A musealidade pode ser autêntica (unívoca),
potencial (latente) ou futura (prospectiva). Como a musealidade necessita da
separação dos elementos de seu contexto de origem, de existência ou de descoberta,
é necessário documentar esse contexto ao qual eles possam ser restituídos. Sem a
documentação de acompanhamento, a coisa selecionada não pode se tornar uma
museália” (STRANSKI (sic), 1995:44). Correl. – musealização. (DESVALLËES, 2000,
p.55. Grifos dos autores). Ver Separação.
MUSEALÍSTICO (não consta do glossário de Stránský) o mesmo que museal
(Tereza Cristina Moletta Scheiner e Anaildo Bernardo Baraçal, através do italiano). Ver
Museal.
MUSEALIZAÇÃO [MUZEALIZACE; musealization] - valorização da realidade [e não
da sua relação com o homem?], através de representantes autênticos que atestam a
importância cultural e de memória dessa mesma realidade. (STRÁNSKÝ, 2005, p.
256)
-um processo de adquirir musealidade (STRÁNSKÝ, 2005, p.112)
(Nota: Termo trabalhado por Stránský em conjunto com Wilhelm ENENNBACH, assim
como o termo musealidade. (STRÁNSKÝ, 2005, p.112)
- S.f. Operação orientada para extrair uma (ou mais) coisa(s) verdadeira(s) de
seu(s) meio(s) natural(is) ou cultural(is) de origem e a lhe(s) dar um estatuto museal [e
não museológico]. É a constatação desta mudança de natureza que conduziu Zbynek
STRÁNSKÝ, em 1970, ao propor denominar museália [em francês, muséalie] os
objetos de museus. A musealização começa por uma etapa de separação ou de
111
suspensão. Correl. musealidade. (DESVALLËES, 2000, p. 54-55. Grifo dos
autores)
- Identificação de características distintas de realidades/fatos, considerando a
significação cultural e de memória de seus representantes autênticos. (trad. Suzanne e
Vinos Sofka)
MUSEALIZAR, MUSEIFICAR [muséaliser, muséifier] (não consta do glossário de
Stránský) Extrair fisicamente ou singularizar juridicamente uma coisa verdadeira ou
um conjunto de coisas verdadeiras de seu (s) meio (s) de origem por um ato físico ou
por uma decisão administrativa que lhe (s) deu um estatuto patrimonial. É geralmente
em um sentido pejorativo que se diz museificar. (DESVALLËES, 2000, p.54. Grifos dos
autores)
MUSEÍSTICO [MUZEJNÍ] - tudo o que está relacionado a museu e suas atividades.
(STRÁNSKÝ, 2005, p. 256).
MUSEOGRAFIA [MUZEOGRAFIE, museography] - inicialmente, designação de um
período histórico do desenvolvimento do pensamento museológico; atualmente outro
termo para museologia aplicada. (STRÁNSKÝ, 2005, p. 256). (ver museografia em
DESVALLÉES, 2000.)
MUSEOLOGIA [MUZEOLOGIE, museology]- um ramo científico que trata da
musealização da factualidade (realidade). (STRÁNSKÝ, 2005, p. 256). [factualidade -
realidade = skutcností]
- S.f. - etimologicamente, é “o estudo do museu” – e não a sua prática (que se remete
à museografia). Mas o termo, confirmado neste sentido no curso dos anos 1950, e seu
derivado museológico sobretudo na sua tradução literal inglesa (museology e seu
derivado museological) têm tido duas aplicações:
A primeira e a mais difundida é uma tendência a se aplicar, muito
amplamente, a tudo aquilo que toca o museu (em francês
concorrendo com o termo muséal), e mais particularmente nos países
anglófonos (concorrendo com museum business) e da mesma
maneira, por contaminação, nos países latino-americanos. É assim
que, onde não existe a profissão específica reconhecida, como os
conservadores, na França, os termos “museologia” e “museologista”
se aplicam a toda a profissão museal, e em particular aos consultores
que têm por tarefa estabelecer um projeto de museu ou de realizar
uma exposição.
Para a segunda aplicação, que traduz o primeiro sentido (etimológico)
de “estudos do museu”, o inglês prefere a expressão museum
studies, particularmente na Grã-Bretanha, onde o termo museology é
até hoje ainda muito pouco empregado. E é indispensável assinalar
112
que, de modo geral, se o termo foi cada vez mais utilizado pelo
mundo a partir dos anos cinqüenta, na medida em que cresceu o
interesse pelo museu, ele continua a ser pouco usado pelos que
vivem o museu “no quotidiano” e que o uso do termo permanece
confinado aos que observam o museu do exterior. Para esses
últimos, que tendem a fazê-lo se não um verdadeiro domínio
científico, pelo menos uma disciplina integral e isolada, ela se divide
em museologia histórica (a evolução da museologia é inseparável de
uma (sic)), em museologia social e em museologia teórica. Ela se
desenvolve hoje em dia na direção de uma abordagem
comunicacional e informacional da atividade museal.
[metamuseologia estaria acima ou anteriormente, mais geral.
Derivados: museológico (museological); museólogo (museologist).
Correlatos: museu (museum); museografia (museography); nova
museologia (new museology); museal (museal); musealizar (to
musealize); museificar, pejorativo; musealidade (museality, museum
quality); musealização (musealization; museum attribution);
musealium, museália, objeto de museu (museum object, museum
quality attributed object); realidade (reality).
A museologia se constitui na conjunção das necessidades técnicas
ligadas à via prática dos museus e de uma reflexão sobre o papel do
museu. A princípio confundido com a museografia, o termo
progressivamente se limitou, ao menos nas línguas latinas, até
apenas cobrir a vertente teórica do museu, enquanto que o termo
museografia tendia a somente designar a prática. (DESVALLËES,
2000, p. 2. Grifos dos autores).
- disciplina filosófica encarregada de elaborar a teoria do museal e de comandar as
práticas museográficas. (DELOCHE, 2001, p. 254).
MUSEOLÓGICO [MUZEOLOGICKÝ, museological] (não consta do glossário de
Stránský) - Adj. Que trata da [relativo à] museologia e não trata do museu, ou da
museografia. Uma extensão abusiva de sentido tende a confundi-lo com
museográfico e, por vezes, até mesmo com museal. (DAVALLON e DESVALLËES p.
10. In: ICOFOM, 2000).
- Relativo à museologia. (trad. Suzanne e Vinos Sofka).
MUSEOLOGISTA [MUZEJNÍK, museum worker / museum personnel] - uma
designação, não de todo apropriada, de um trabalhador, empregado em um museu.
(STRÁNSKÝ, 2005, p. 256). (possível equivalência).
MUSEÓLOGO [MUZEOLOG, museologist] uma pessoa que trata da museologia
como um objeto de interesse científico. STRÁNSKÝ ( 2005, p. 256).
“MUSEUTIVIDADE” OU “MUSEULOGOTIVIDADE” [MUZEJNICTVÍ; museum
affairs (matters, concerns)] - Assuntos de museus (negócios, problemas,
113
preocupações) Designação da esfera profissional relacionada com a realização das
atividades de museu. (Procurou-se seguir a sufixação das palavras em checo e
transpo-las ao português).
Museus e departamentos dedicados à teoria que estão envolvidos com a
museologia. Designação de uma esfera profissional engajada com a realização dos
relevantes serviços do museu, que lida com museus. (STRÁNSKÝ, 2005, p. 256).
- Museology, em inglês, e Museumswese, em alemão [traduções de títulos em
documentos na rede mundial de computadores]
MUSEU [MUZEUM] - uma forma histórica de instituição que assegura a musealização
da factualidade (realidade = skutcností). (STRÁNSKÝ, 2005, p. 256).
- figura institucional possível de “mostrar”. (DELOCHE, Le musée virtuel, p. 254).
- S.m. O termo museu pode designar tanto a instituição museal como o
estabelecimento onde funciona esta instituição. A forma do museu variou ao longo dos
anos, mais que seu conteúdo. O início do museu público na França, sob a Convenção,
não apenas viu nascerem os museus nacionais para as Belas Artes, para a História
natural, para as técnicas (Artes e Ofícios), para a história (os Monumentos Franceses),
mas, a exemplo do antigo modelo, com funções diversificadas, o qual se referia a
mesma instituição [p.48] encarregada de várias missões. Com efeito, se o primeiro,
que devia então conservar e permitir aprender, se denominou então “museum’, antes
de se chamar ‘museu’, o segundo recebeu de pronto o título definitivo de “museum” e
era então um lugar de pesquisa e de ensino, o terceiro, por sua parte, se chamou
“conservatório”, e era um lugar de ensino e de formação técnica, e o quarto, que
oferecia por sua vez, um espaço coberto e um espaço ao ar livre, se propunha a
utilizar os elementos de exposição (expostos) para iniciação à história. Desde então,
outras variantes se acrescentaram, desde o jardim zoológico ou o museu a céu aberto
até o ecomuseu, o que tem permitido, notadamente a G. H. RIVIERE, distinguir os
museus cobertos dos museus abertos. (DESVALLËES, 2000, p. 47 - 48. Grifos dos
autores)
NOVA MUSEOLOGIA (não consta do glossário de Stránský) - S.f. - Movimento
nascido na França em 1980 e, no plano internacional, em 1984, sobre as bases,
notadamente, da plataforma museológica contida na Declaração de Santiago do Chile,
de 1972. Acentua a vocação social do museu e o seu caráter interdisciplinar, ao
mesmo tempo em que acentua seus modos de expressão e de comunicação
renovados. Seu interesse vai, sobretudo em direção aos novos tipos de museus que
114
não suportam mais o jugo das tradições, tais como os ecomuseus, os centros de
cultura científica e técnica ou os centros de arte contemporânea. (DESVALLËES,
2000, p. 10)
OBJETO DE MUSEU [MUSEUM OBJEKT, museum object] um objeto identificado
como um representante da musealidade. (STRÁNSKÝ, 2005, p. 256).
REALIDADE (não consta do glossário de Stránský) [skutností - (baixo latim:
realitas). Equival. Inglês: reality; fr.: réalité; it.: realta; espanhol: realidad; alemão:
Realität, Wirklichkeit.]
S.f. - O que verdadeiramente existe, constituído de coisas verdadeiras, as quais se
podem ver, se tocar e ou se escutar e ou se sentir, diferente das que existem
igualmente, mas não são fisicamente perceptíveis.
Correlações – idéia, coisa, coisa verdadeira, substituto. (DESVALLËES, 2000, p. 11)
SEPARAÇÃO (não consta do glossário de Stránský) S.f. Primeira etapa da
operação de musealização, pela qual as coisas verdadeiras são separadas do seu
meio de origem e que adquirem o estatuto de objetos de museu ou de
musealidades. Ali, quando André MALRAUX enunciava que o museu separava a obra
do mundo, certos filósofos, como Jean-Louis DÉOTTE, qualificam, com justeza, como
suspensão a operação de musealização (pode-se falar também de arrachement”). E,
deste fato, DÉOTTE denomina suspensos os objetos de museus. Mas, em se tratando
do mundo da exposição, cujos elementos de exposição (expôts, em francês) não
passaram necessariamente pela etapa da musealização, a mudança de contexto se
faz em apenas uma etapa. Ë porque, desde que Jean DAVALLON evoca o ato de
separação, ele se aplica diretamente no objeto, que passa do mundo do cotidiano ao
da exposição: o conceptor-realizador escolheu, selecionou, reteve, extraiu o objeto.
[...] Ele retirará o objeto do mundo; ele o despojará de seus acéscimos mundanos.
Donde o estatuto fundamentalmente ambíguo, senão paradoxal, do objeto de
exposição: é o objeto real que não está mais no real.” (Apud DAVALLON, 1986, p.
244) Correl. musealidade. (DESVALLËES, 2000, p.55. Grifos dos autores). Ver
Musealidade.
REFERÊNCIAS
DESVALLÉES, André dir. Terminologia museológica: proyecto permanente de investigación.
Maio 2000.
115
DELOCHE, Bernard. Le musée virtuel. Paris: Presses Universitaires de France, 2001.
STRÁNSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a muzeologie. Brno: Masarykova Univerzita, 2005.
116
ANEXO A
CURSOS E DISCIPLINAS CRIADAS POR STRÁNSKÝ*
In DOLÁK, Jan; VAVRÍKOVÁ, Jana. Muzeolog Z. Z. Stránský: zivot a dilo [O
museólogo Z. Z. Stránský: vida e obra]. Brno: Masarykova Univerzita, 2006.
PROGRAMAS DE ENSINO
Cadeira de Museologia da Faculdade de Filosofia da UJEP / Universidade de
Masaryk
1. 1965/66 – 1996 pós-graduação em museologia (posteriormente especialização)
Introdução à museologia
História geral dos museus
História da museologia e seus representantes
Museologia histórica
Museologia social
Museologia teórica
Introdução à museografia
Métodos e técnicas modernas de trabalho dos museus
Exposições em museus
[4/9 matérias, declaradamente sobre museu]
[Total: 44%]
2. 1993-1996 estudos diários de bacharelado e mestrado de Museologia
Introdução à museologia
Bibliografia da museologia
*Entre colchete, figura a análise do conteúdo na relação Museu/Museologia, na tentativa de explicitar a
impregnação da Teoria da Museologia pelo Museu.
117
Informações e documentação
Teoria da seleção
Teoria da teaurisação (criação de coleções e acervos) função
Introdução à museografia
Teoria da comunicação
Exposições em museus
Métodos e técnicas de criação de exposições
Fundamentos da museologia
Museus no mundo contemporâneo
[8/11, 3 com enunciados de “museu” e “museografia” e 5 disciplinas relativas a
funções museísticas]
[Total: 72%]
3. 1986-1996 UNESCO International Summer School of Museology (Escola
Internacional de Verão de Museologia)
1º turno: Introdução à museologia
Introdução aos estudos
Museologia como ciência
Missão da museologia
História geral do fenômeno Museu
Representantes da museologia
Introdução à museologia histórica
Introdução à museologia social
Museologia teórica
Introdução à museografia
Crise da sociedade e importância dos museus
Museus para o novo século
[4/11 com enunciados de “museu” e “museografia” – 36%]
118
2º turno: Criação de acervos e coleções em museus
Introdução ao turno especial
Coleciono, logo existo.
Colecionar na ontogênese da psíquê pessoal
Teoria de seleção no sistema da museologia
Musealidade, musealização, musealium [da museália?]
Sistematização de acervos e coleções (tesaurus)
Proteção de acervos (e coleções)
Missão de colecionamento
[7/11 disciplinas, todas ligadas à museália, sendo 3 mais ligadas a questões funcionais
do museu – 63%]
3º turno: Comunicação de museus
Introdução ao turno especial
Explosão de informações e teoria da comunicação
Teoria da apresentação no sistema da museologia
Métodos de criação de exposições em museus
Métodos de análise de formas de exposições em museus
Técnicas para exposições
Métodos e técnicas de pesquisa de efeitos de formas de exposições de museus
Crítica de exposições de museus
[4/8 , metade das disciplinas, portanto, objetivamente ligadas a museus – 50%]
Cadeira de Ecomuseologia da Faculdade de Ciências Naturais da Universidade
de M. Belo, Banská Bystrica
1. 1997-2002 estudos diários e estudos externos de bacharelado e mestrado de
ecomuseologia
119
1º ano de estudos
Museologia geral
Museografia geral
Museus no mundo atual
Tipologia de museus
diretamente voltadas a museus – 75%]
2º ano de estudos
Museologia teórica – seleção
Colecionamento
Musealização da cultura
Arquitetura de museus
[100%]
3º ano de estudos
Museologia teórica: tesaurisação (criação de acervos e coleções)
Tesaurisação (idem) da cultura
, metade voltada para uma função de museu – 50%]
4º ano de estudos
Museologia teórica: apresentação
Museologia atual
Mediação da cultura
Exposições em museus
Regime da conservação
[2/5 referem-se a museu e a função – 40%]
120
5º ano de estudos
Problemas da herança natural e cultural
Futuro da cultura de museus
Pesquisa museológica
[1/3 explicita o teor “museu” – 33%]
[Total: 12/18 = 66%]
[Total geral: 24/38= 63%]
121
ANEXO B
Índice de STRANSKÝ, Zbynek Z. Archeologie a
muzeologie. [Arqueologia e Museologia]. Brno:
Masarykova Univerzita, 2005.*
Índice
Prefácio
INTRODUÇÃO
1.0 A COMUNIDADE (Spolecenství)
Tesouros
Relíquias
Antiguidades
Objetos de Museus [este tópico coroa as ocorrências anteriores, ponto
culminante, todas como representantes da sociedade]
2.0 A ALIENAÇÃO (DISTANCIAMENTO) (Odcizování)
Separação
Prestação de serviços
Reprovação da museologia (Rejeição à museologia?)
Herança legitimada
3.0 O FENÔMENO DO MUSEU
Ancoragem em línguas (Etimologia de vocabulário museológico)
Especialidades em coleções (Criação de coleções)
O mundo sui generis
*Entre parêntese, figuram vocábulos em checo ou sinonímia em português, dada a imprecisão na
tradução do termo original; entre colchete, a análise do conteúdo, na relação Museu/Museologia, também
na tentativa de explicitar a impregnação da Teoria da Museologia pelo Museu.
122
4.0 O OBJETIVO DA MUSEOLOGIA (Intenção para)
Descrição
Tactica conclavium
Museografia
Prémuseologia
Museologia
Neomuseologia
5.0 A METAMUSEOLOGIA
Contexto filosófico- científico
Composição lógica
Domínio cognitivo
Metodologia
Terminologia
Sistema
Posição no sistema das ciências
6.0 O SISTEMA DA MUSEOLOGIA
NIVEIS
[Teórico / Museologia teórica
Aplicado / Museografia
Diacrônico / Museologia histórica
Sincrônico / Museologia contemporânea ( p. 116/117)]
Museologia teórica
[todas três subunidades- 3/3]
Subteoria da seleção
Subteoria da tesaurisação (criação de acervos e coleções)
Subteoria da apresentação
Museologia aplicada / Museografia toda (as seis subunidades) 6/6
123
Institucionalização de museus
Ambiente dos museus
Comunicação de museus
Preservação em museus
Exposições em museus
Relação entre museus e público
Museologia histórica [0/3]
Autoctonia
Periodização
Gênese
Museologia contemporânea [toda (as três subunidades) 3/3]
Musealização contemporânea
Política cultural de museus
Futuro da cultura de museus
[Total: integralmente 2/4 níveis (e o primeiro também, teórico, se considerado o teor
das partes12/15]
7.0 A CONFRONTAÇÃO
Mundo pós-moderno
Domínios da cognição
Herança natural e cultural
Arqueologia de monumentos
8.0 A COOPERAÇÃO
Interdisciplinaridade
Museus arqueológicos
Qualificação
Estudos arqueológicos e museológicos
Programas de estudos
124
Bibliografia
Livros
Periódicos
Vocabulários e enciclopédias
Monografias, estudos e artigos
Glossário
Resumo
Summary
Zusammenfassung
Anexo de imagens
[CONCLUSÃO: dos 8 capítulos do desenvolvimento do livro, 6 contêm ou aludem
estruturalmente ou são integralmente relativos a museus e/ou a suas funções.Dos dois
outros, o sétimo capítulo trata da Confrontação da Museologia com questões e
campos na contemporaneidade, tais como pós-modernidade, campo cognitivo, o
patrimônio e a arqueologia: a inserção da museologia hoje e suas relações estreitas
com a arqueologia e a patrimonologia. O outro, o capítulo 5, trata da metamuseologia.
Como vimos anteriormente, no capítulo 5, emprega o termo museologia cerca de 113
vezes, museus aparecem cerca de 84 vezes e museal ocorre por volta de 42.
Somados museu e museal, totalizam-se 126 referências à instituição, número,
portanto, superior ao que teria por base para discutir-se metamuseologia, ou seja, a
teoria da museologia, esta em si.]
[No capítulo 5, emprega cerca de 113 vezes o termo Museologia, 82 vezes museu e
42 vezes museal (sem contar outros vocábulos, como musealidade, por exemplo,
ainda presentes no texto). Somando-se Museu e museal, o resultado de 126 supera
ao do uso de Museologia.]
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