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E, quando você lida com a fragilidade da criança, você está lidando com a sua. Eu
tenho filho também. Então a gente sempre é... se coloca na, na posição da própria
mãe, sabe? [...] Eu, eu sou mãe. Eu to dizendo: eu sou mãe. (Enfª Teresa)
Então assim, sempre me dói muito saber, pôxa, podia ser o meu [...]. Então eu acho
que vem muito pelo o emocional mesmo... (Enfª Evita)
Os meus sentimentos... eu fico com dó daquela criança, com pena... eu lembro, eu
fico pensando que poderia ser alguém da minha família, meus sobrinhos, que eu
amo e que poderiam estar doentes. É como se eu fizesse algo ruim para eles e para
mim mesma. Se eu pudesse e não estaria ali. Sinto angústia, pena. É difícil. (Enfª
Anita)
O sentimento de proteção, de cuidado à criança, também é expresso nas falas das
enfermeiras, através dos sentimentos de amor, carinho e respeito. É a fragilidade da criança,
vista como um ser especial, que mobiliza estas emoções.
Eu sinto... primeiro... amor. Eu sinto muito amor. [...] Então, primeiro é o amor que
sinto. A segunda é a necessidade, porque a gente sabe que elas precisam da
medicação. [...]. O terceiro é o respeito, por aquele corpinho pequenininho, por
aquela veinha minúscula... aquele susto. (Enfª Vitoria)
Eu tenho um carinho muito grande por crianças. Eu tenho uma identificação muito
grande com as crianças, coisa que eu nem tenho com idoso. Com criança eu tenho
aquele negócio de pegar, de querer pegar no colo, querer acolher... (Enfª Elisabeth)
Porque a criança precisa de atenção. [...]. E criança... tem... volto a dizer, é uma
pessoinha especial. (Enfª Catarina)
Já que fica, nós temos que atender, nós temos que fazer todo o procedimento. Mas
eu prefiro trabalhar com o adulto porque a criança é muito angelical, dá muita pena
de puncionar, aquele estresse que a criança fica, eu acabo ficando também estressada
[olha para baixo, cerra os lábios]. (Enfª Anita)
É triste ver uma pessoa que nem bem começou a vida, já estar passando por tanto
sofrimento. Isso eu acho que não deixa de atingir a todos. (Enfª Evita)
Esta fragilidade, aliada ao desenvolvimento clínico e tratamento imposto às crianças
com doenças hematológicas, também estimula o aparecimento do sentimento de piedade, que
deve ser transformado em paciência e calma para o atendimento da criança e execução do
procedimento.
Só que infelizmente, para tentar salvá-la e tudo, ela vai ter que estar aqui com a
gente. Infelizmente está todo mundo nisso, inclusive eu. Eu não sei qual é o meu
sentimento na verdade, às vezes é pena, às vezes a gente pega aquela amizade como
se fosse o nosso filho, entendeu? (Enfª Isabel)
O que eu sinto? (pausa) Ai... (pausa longa) Eu sinto assim: eu quero fazer o meu
serviço, mas ao mesmo tempo eu sinto assim: coitadinha da menina, coitadinha da
criança... vou chegar ali, vou furar, ela vai sentir dor, e ela não quer e eu vou ter que
fazer... (Enfª Joana D’Arc)