expresso e reiterado pelos meios de comunicação de massa, na repressão exercida por
eles para a manutenção da ordem.
Dessublimação repressiva foi o termo cunhado por Marcuse (1972, p.38) para
definir essa repressão, que segundo Freud
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, é necessária para a manutenção da vida
em sociedade, em especial, numa sociedade de massas, na qual o indivíduo perde
suas características essenciais. A repressão tal qual explicada pelo médico, fundador
da psicanálise, é aquela que instintivamente germina do indivíduo a fim de que seus
próprios impulsos não se sobreponham aos interesses da sociedade. É o pospor, o
postergar da satisfação do prazer, em nome da convivência. É a sublimação da libido
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.
Enquanto a motivação para a sublimação da libido, de acordo com o
pensamento freudiano, tem no indivíduo sua força e a manutenção da vida em
sociedade seu objetivo, na dessublimação repressiva, apontada por Marcuse (1972),
essa força se encontra no aparato tecnológico, em uma administração externa, e o
objetivo é a conservação da ordem que privilegia o capital, da sociedade de massas.
A sublimação preserva a consciência da renúncia, do pospor da satisfação do
desejo, já a dessublimação apaga qualquer indício de reflexão, é acrílica.
No mundo tecnológico a realidade ultrapassa a cultura. A técnica permitiu ao
homem a realização de feitos antes impensáveis, de atos ‗heróicos‘ antes mistificados,
expressos culturalmente numa fase de desenvolvimento anterior na sociedade. O que
Marcuse discute, não é a submissão ou a incorporação da cultura superior pela cultura
de massa, mas a competência dessa cultura em representar a realidade.
Assim como a integração política se deu na sociedade industrial, Marcuse (1972)
entende que integração cultural foi outro elemento chave para a hegemonia da
sociedade unidimensional. Cultura e política foram recursos utilizados para criar e gerir
padrões de comportamento social, para impor um modo de vida não apenas comum,
mas único no meio social. Se por um lado a política, regida por poucos, estabelecia
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Segundo Herbert Marcuse, (1972, p.38), para Sigmund Freud, a psique humana é comandada por dois instintos
básicos. O primeiro, regido por Eros, é o princípio do Prazer, voltado para a vida e tudo a que pertence a esse campo
semântico. O segundo, regido por Thanatos, é o princípio da Realidade, voltado para o campo semântico morte. A
história da civilização, da vida em sociedade, está marcada pela repressão de Eros, em favor, de Thanatos.
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Segundo Edward C. Whitmont (2002, P.39), para Freud, a libido é a energia psíquica, um estado natural de apetite,
de desejo, exclusivamente, sexual. Jung, que foi discípulo de Freud, amplia esse estado de desejo para além do
sexual, incluindo fome, emoções, entre outras necessidades instintivas humanas.