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coletivo, um outro sistema de pagamento deveria ser adotado, o que ainda não ocorreu, (2) a
CONAB recebe qualquer tipo de frutas, legumes e verduras. Não se preocupa com a
variabilidade, o que resulta em comodismo por parte dos acampados em produzir diferentes
tipos de alimentos e, consequentemente, em dinamizar a produção através do trabalho
coletivo. Desta maneira, os alimentos “da época” ou perenes acabam sendo cultivos na
maioria dos lotes, como ocorre com a mandioca, mamão e quiabo.
O INCRA, juntamente com o MST, está definindo a área para cada família de 2
hectares para produção individual, onde se localizará também a casa, e 1,14 hectares para
produção coletiva, que se localizará longe da casa, na região central do acampamento, todas
as famílias reunidas. A maioria dos entrevistados não concorda com o modo de produção no
coletivo, e sim a comercialização ser unificada, como demonstram as falas a seguir:
É o seguinte, eu tô falando aqui por mim, não tô falando em nome do MST não, porque o MST
se fosse falar teria que falar um coletivo já. O que eu penso assim, eu penso que o coletivo
funciona só que na parte da agroindústria. [...] Suponhamos que eu plante mandioca e os outros
também, aí a gente faz um coletivo de agroindústria de mandioca, uma farinheira no caso. Aí
quando a gente tiver com essa mandioca pronta, seria agendado um dia pra eu fazer minha
farinha, aí outro pra fazer sua farinha. Eu acho que coletivo funciona mais nesse sentido. Em
vez de você plantar a roça junto, você planta e cuida com a sua família. [...] Tem diversidade
de pensamento... pra fazer uma cooperação pra plantar tudo junto tem que ter muita afinidade.
Então é mais provável que dê certo a agricultura familiar mesmo, porque daí você não precisa
ficar anotando hora, entendeu, quem trabalhou mais, quem trabalhou menos... A venda
também pode ser feita no coletivo [...], que providencia as coisas jurídicas, código de barra, pra
ficar um produto acabadinho, bonito (Geraldo).
No coletivo tem que saber ser bem trabalhado, bem conversado e ter uma afinidade muito forte
pra ele funcionar. Eu acredito no coletivo, pois através do coletivo a gente conquista as coisa
dentro do Movimento Social. Já pra trabalhar na roça, junto, no coletivo, já não vai dar certo,
não dá. Eu acho assim, que cada um faz sua parte do mesmo nível, vamo supor, vai plantar só
milho na área coletiva, cada um planta o seu na área coletiva, mas cada um cuida do seu, mas
ser só milho pra na hora de vender você ter um... uma quantidade grande pra vender no
atacado, então é melhor a venda (Paulinho).
O acampado Paulinho defende que a produção seja feita no modo individual, mas na
área coletiva. A definição da área coletiva longe da casa do produtor dificultou o trabalho,
pois há necessidade de transportar as ferramentas, os sacos de sementes, o adubo, a água para
beber, entre outros. A maioria dos acampados não possui meio de transporte e são idosos. Os
acampados concordam com o que acampado Humberto definiu como “sistema de parcerias”:
Eu sou favorável ao sistema de parcerias. Companheirismo. Frete, cotação de preço, compra e
venda. Isso daí é o básico porque eu sei se eu for comprar um ou uma sacaria pra guardar o
milho, eu vou pagar no preço individual, mas se eu pegar em dez e for comprar, o preço é
outro. Aí sim eu sou a favor do coletivo, mas não é um coletivo com contrato fixo, mas sim na
parceria. [...] Tem coisas que até dá pra comprar coletivamente, mas tem outras coisa que não.
Hoje eu tô de bom humor, amanhã eu posso não estar.