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Essa afirmação despertou nosso interesse pelo assunto em destaque – dentro do estudo
da Lingüística do Século XX – considerando, segundo Neves (p.16), que “os mais
representativos desenvolvimentos da visão funcionalista da linguagem são comumente
relacionados às concepções da Escola Lingüística de Praga”, designação esta atribuída a um
grupo bastante amplo de pesquisadores, sobretudo europeus, que começou a atuar antes de
1930. “Esses estudiosos, embora possam não ter sido membros diretos da Escola de Praga, se
inspiraram no trabalho de Vilém Mathesius, Nikolai Trubetzkoy, Roman Jakobson e outros
estudiosos baseados em Praga” (WEEDWOOD, 2002, p. 137).
Para esses pesquisadores, a linguagem faculta ao homem reação e referência à realidade
extralingüística. Eles vêem as frases como unidades comunicativas que transmitem
informações, ao mesmo tempo que instituem ligação com a situação de fala e com o próprio
texto lingüístico. Assim, o que se analisa são frases efetivamente realizadas, para cuja
interpretação se atribui especial importância ao contexto, tanto verbal quanto não-verbal.
De acordo com Neves (1997, p. 17), a abordagem da Escola de Praga é caracterizada
como um estruturalismo funcional; é do domínio comum a afirmação das Thèses (1929) do
Círculo Lingüístico de Praga de que a língua é um sistema funcional, no qual aparecem, lado
a lado, o estrutural (sistêmico) e o funcional.
Continua essa autora afirmando que a aplicação dos termos funcionalismo e abordagem
funcional, entretanto, como observa Ivir (1987, p. 471), não se restringe à Escola de Praga;
esses termos são usados em referência a qualquer abordagem ligada aos fins a que as
unidades lingüísticas servem, isto é, ligada às funções dos meios lingüísticos de expressão.
Na verdade, embora o conceito de funcionalismo em lingüística esteja indubitavelmente
ligado à Escola Lingüística de Praga, várias outras abordagens “funcionais” surgiram no
Ocidente e no Oriente, e o funcionalismo tomou, depois, vida própria e independente.
A Escola de Praga apresenta a definição de língua com uma visão funcional, ao afirmar
que a língua é vista como um “sistema de meios apropriados a um fim” (Thèses, 1929; apud
Ilari, 1992, p. 25), e um “sistema de sistemas” (Ilari, 1992, p. 24), já que a cada função
corresponde um subsistema. Diferentemente do que se postula nas concepções estruturalistas
em geral, todos esses subsistemas dizem respeito à mesma unidade, a frase. Distinguem-se
“níveis sintáticos” de organização da frase, abrigando-se nesses níveis a semântica – uma
gramática de casos – e a pragmática – uma gramática da comunicação, definida pela imagem
do interlocutor.
A partir daí, dedicou-se, de acordo, ainda, com Neves (1979, p. 18), atenção especial à
“perspectiva funcional da frase”, ou seja, à organização das palavras nas frases, vista na sua