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ELAM DE ALMEIDA PIMENTEL
SÃO LONGUINHO EM FREGUESIA: A DINÁMICA DE UMA DEVOÇAO
Universidade Federal de Juiz de Fora
Instituto de Ciências Humanas
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião
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SÃO LONGUINHO EM FREGUESIA: A DINÁMICA DE UMA DEVOÇAO
Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação
em Ciência da Religião como requisito parcial à
obtenção do título de doutor em Ciência da Religião
por Elam de Almeida Pimentel.
Orientador: Prof. Dr. Volney J. Berkenbrock
JUIZ DE FORA
2008
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TERMO DE APROVAÇÃO
ELAM DE ALMEIDA PIMENTEL
São Longuinho em Freguesia: A dinâmica de uma devoção
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da
Universidade Federal de Juiz de Fora como requisito parcial à obtenção do título de
doutor em Ciência da Religião.
Aprovada em 12 de dezembro de 2008 pela banca examinadora
constituída por:
_______________________________________________________
Orientador: Prof. Dr. Volney Berkenbrock
Universidade Federal de Juiz de Fora
_______________________________________________________
Profª Dra. Fátima Regina Gomes Tavares
Universidade Federal de Juiz de Fora
_______________________________________________________
Prof. Dr. Faustino Teixeira
Universidade Federal de Juiz de Fora
_______________________________________________________
Prof. Dr. Francisco Moras
Instituto Teológico Franciscano. Petrópolis
________________________________________________________
Prof. Dr. Celso Pinto Carias
Pontifícia Universidade Católica. Rio de Janeiro
Ao Prof. Dr. Volney J. Berkenbrock
“No fundo, são misturas. Misturam-se as almas nas coisas; misturam-se as coisas
nas almas. Misturam-se as vidas, e é assim que as pessoas e as coisas misturadas
saem. Cada qual de sua esfera e se misturam: o que é precisamente o contrato e a
troca” (Marcel Mauss – Ensaio sobre a dádiva).
“... Aquilo que me ensinaram a ver como um ‘folguedo’, eu descobri que podia ser
uma ‘devoção’. Assim, resolvi investigar não tanto aquilo que aparecia como folclore,
mas o que estava por debaixo, como ritual, como religião, como formas coletivas e
populares de trocas entre os homens, ou entre os homens e a divindade” (Carlos
Rodrigues Brandão – Sacerdotes de Vida).
AGRADECIMENTOS
Meu desejo, no momento, é agradecer a todos os que colaboraram desde os
primeiros passos para a elaboração do projeto para a seleção do doutorado até a
concretização da tese. Assim, agradeço a todos os que me ajudaram e se fizeram
presentes em muitos momentos.
Aos professores do Programa de Pós-graduação em Ciência da Religião da
UFJF, com os quais aprendi muito mais do que teorias.
Aos professores Fátima Regina Gomes Tavares e Faustino Teixeira pelas
observações e contribuições feitas na qualificação da pesquisa.
Ao professor Marcelo Ayres Camurça, sempre presente em minha trajetória
desde que entrei no Programa ainda como ouvinte.
À Joelma Duarte, amiga de todas as horas.
À Lucilene Santos Lima Vieira pela dedicação e paciência nas muitas
correções, revisão e digitação da tese.
Ao padre Geraldo Magela Lázaro pelo total apoio à pesquisa em Freguesia.
Aos moradores de Freguesia, em especial a D. Luíza, Ângela, Carlos, D.
Lourdes, companheiros constantes durante minhas estadias em Freguesia.
À amiga de muitos anos Ângela Maria Menezes Granato pela ajuda e apoio
nas entrevistas e idas a Freguesia.
Aos devotos de São Longuinho, o agradecimento na certeza de que, sem
eles, a pesquisa não existiria.
À minha família, que, embora prejudicada durante as muitas viagens a
Freguesia, manteve disposição de fornecer o apoio necessário e a ela dedico minha
gratidão:
Ao Marcos pelo apoio e incentivo ao doutorado.
Ao Marquinhos, Fernanda, Rafaela pelo amor, carinho e alegria, ajudando-me
e acreditando em mim.
Ao Yan por participar de todos os momentos de minha vida.
Ao Davi, nosso querido bebê.
Um agradecimento especial ao Volney J. Berkenbrock, mestre e orientador,
presente em todos os momentos, desde que ingressei no Programa de Pós-
graduação de Ciência da Religião.
Agradeço o apoio emocional e o estímulo a mim dedicados, bem como por
acreditar e me amparar em todas as fases. Agradeço também o incentivo ao
doutorado. As suas orientações me fizeram lembrar as palavras de Cora Coralina:
“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.
RESUMO
Trata-se do estudo da dinâmica da devoção a São Longuinho em Freguesia, Bairro
de Guararema-SP, onde está localizada a Igreja de Nossa Senhora da Escada, que
possui uma imagem de São Longuinho em seu altar principal. Nesta igreja, o
número de visitantes e devotos à procura da imagem de São Longuinho aumentou
depois do roubo do oratório do santo em 2001, ocasião em que houve muita
divulgação do fato, da imagem e da cidade de Guararema, onde, atualmente, há
uma irradiação desta devoção. A composição e recomposição de tal devoção
ocorrem num processo dinâmico em que se encontram presentes a conservação de
costumes e a criatividade inventiva, influenciada pela mídia, internet, turismo e
mercado religioso. O foco desta tese são os atores e fatores da devoção a São
Longuinho na localidade, que dialogam e se interinfluenciam na dinamicidade da
devoção. A pesquisa mostra também como uma comunidade se apropria do santo e
o produz, tratando-o com cuidados familiares.
Palavras-chave: Devoção. São Longuinho. Processo dinâmico. Atores e fatores.
Il s´agit d´une étude de la dynamiqe de la dévotion à São Longuinho à Freguesia,
quartier de la ville de Guararema - SP, où se trouve l´Eglise de Nossa Senhora da
Escada, possedant une image de São Longuinho dans son autel principal. Dans
cette église, le nombre de visiteurs et dévots s´est accru après le vol de l´oratoire de
ce Saint en 2001. On a beaucoup annoncé ce fait, bien comme l´image et la ville de
Guararema, d´où rayonne aujourd´hui cette dévotion. La composition et la
décomposition d´une telle dévotion font objet d´un procès dynamique où se trouvent
présentes la conservation des coûtumes et la créativité, influencées par les médias
et par l´internet, le tourisme et le marché réligieux.
Le focus de cette thèse est sur les acteurs et les facteurs de la dévotion à São
Longuinho dans la localité mentionée, qui dialoguent et s´influencent réciproquement
avec la dynamicité de la dévotion. La recherche demonstre aussi comment une
certaine communauté s´aproprie d´un Saint et le produit, en le traitant avec des soins
familiaux.
Mots-clés: dévotion. São Longuinho. Procès dynamique. Acteurs et facteurs
SUMÁRIO
A CONSTRUÇÃO DE UMA SAGA ..........................................................................12
INTRODUÇÃO ..........................................................................................................16
PARTE I – A CONSTRUÇÃO DO OBJETO ............................................................ 22
1 O PROCESSO DA PESQUISA ............................................................................. 23
1.1 Tema e objetivos ............................................................................................. 23
1.2 Características gerais da pesquisa e do trabalho de campo .......................26
1.2.1 Pesquisa qualitativa......................................................................................... 28
1.2.2 Técnicas .......................................................................................................... 30
1.2.3 Observações sobre o campo de pesquisa....................................................,. 36
2 A CONSTRUÇÃO DA DEVOÇÃO AOS SANTOS NO CATOLICISMO POPULAR-
DEVOCIONAL ......................................................................................................... 43
2.1 O catolicismo no período colonial ................................................................. 43
2.2 Catolicismo popular ........................................................................................ 47
2.3 Conceituando catolicismo popular- devocional ............................................ 48
2.4 Características do catolicismo popular-devocional..................................... 52
2.5 Devoção aos santos no catolicismo popular devocional ............................ 56
2.5.1 Cultura ............................................................................................................ 58
2.5.2 O imaginário do catolicismo devocional ......................................................... 60
2.5.3 A devoção aos santos no imaginário do catolicismo devocional ................... 63
2.5.4 Relação devocional: a relação entre os devotos e o santo ........................... 65
2.5.5 Santos em Construção .................................................................................. 68
3 A DEVOÇÃO A SÃO LONGUINHO ................................................................... 72
3.1 Aspectos históricos da devoção a São Longuinho ..................................... 72
3.1.1 Longinus e o Novo Testamento ....................................................................... 72
3.1.2 Longinus no Martirológio Romano ................................................................... 74
3.1.3 Hagiografia de São Longuinho ........................................................................ 75
3.1.4 Lendas a respeito de São Longuinho .............................................................. 78
3.1.5 Imagem de São Longuinho em Roma ............................................................. 83
3.1.6 Imagem de Longinus no Cruxifixo de São Damião ........................................ 84
3.2 A presença da devoção a São Longuinho no Brasil .................................... 85
3.2.1 Locais com imagens de São Longuinho em Igrejas ........................................ 87
3.2.2 As Imagens de São Longuinho ..................................................................... 89
3.2.3 As imagens de São Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada ...... 94
SÍNTESE .................................................................................................................. 96
PARTE II – A TRAJETÓRIA DE SÃO LONGUINHO EM FREGUESIA: DA GAVETA
AO ALTAR ............................................................................................................... 98
4 CONSTEXTUALIZANDO A IGREJA DE NOSSA SENHORA DA ESCADA ...... 99
4.1 Histórico da Igreja de Nossa Senhora da Escada .........................................99
4.2 Configuração da Igreja de Nossa Senhora da Escada em 2007 ................106
4.3 A devoção a São Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada ..... 109
4.3.1 São Longuinho é uma tradição em Freguesia .............................................. 111
4.3.2 A tradição oral na devoção a São Longuinho ............................................. 112
5 DA DESCOBERTA DO SANTO À CONQUISTA DO ALTAR ......................... 116
5.1 A trajetória até o altar .................................................................................... 117
5.2 Culto à imagem achada de São Longuinho ..... ......................................... 119
5.2.1 Rituais ........................................................................................................... 119
5.2.2 Votos, milagres e promessas ..................................................................... 124
6 SÃO LONGUINHO SE APROPRIA DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA
ESCADA ............................................................................................................... 129
6.1 .Composição do santo .................................................................................. 129
6.1.1 A imagem achada de São Longuinho ......................................................... 130
6.1.2 São Longuinho e seus pertences ................................................................. 133
6.1.3 Cartaz ........................................................................................................... 135
6.2 Atribuições do santo...................................................................................... 135
SÍNTESE ...............................................................................................................138
PARTE III – A DINÂMICA DA DEVOÇÃO EM FREGUESIA ................................ 139
7. A REDE SOCIAL DA DEVOÇÃO ..................................................................... 140
7.1 O homem como ator social de uma devoção .............................................. 140
7.2 Atores da devoção a São Longuinho ........................................................... 142
7.2.1 Zeladora ........................................................................................................ 143
7.2.2 Pessoa que “achou” a imagem ...................................................................... 146
7.2.3 Clero .............................................................................................................. 147
7.2.3.1 Padre Roberto ............................................................................................ 148
7.2.3.2 Padre Geraldo ............................................................................................ 151
7.2.3.3 Frei Alamiro ................................................................................................ 154
7.2.3.4 Bispo ........................................................................................................... 155
7.2.4 Pessoa que divulgou a devoção a São Longuinho através da internet ........ 157
7.2.5 Pastoral ......................................................................................................... 159
7.2.6 Poder Público ................................................................................................ 161
7.2.7 Imagem achada e devotos: atores principais da devoção ........................... 162
7.3 Interação entre os atores da devoção ......................................................... 166
7.4 Fatores da devoção a São Longuinho em Freguesia ................................. 167
7.4.1 Orações a São Longuinho ............................................................................. 171
7.4.2 Pedidos a São Longuinho e Agradecimentos ............................................... 172
7.5 Tensões ........................................................................................................... 178
8. A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA E DA PERSONALIDADE DE SÃO
LONGUINHO EM FREGUESIA ............................................................................. 181
8.1 Especialidades ............................................................................................... 181
A) Temática Saúde ................................................................................................ 181
B) Temática da Proteção Familiar ......................................................................... 182
C) Temática Pedido de Emprego ........................................................................... 184
D) Temática de Relacionamentos Amorosos ......................................................... 185
E) Temática de Objetos Perdidos ........................................................................... 187
F) Temática Relacionada a Vícios ....................................................... ...................189
8. 2 Memória .......................................................................................................... 190
8.3 Personalidade ................................................................................................. 195
9. A REDE DO IMAGINÁRIO DA DEVOÇÃO ..................................................... 210
9.1 A saga .............................................................................................................. 211
9.2 O trágico .......................................................................................................... 213
9.3 A psicologia do santo .................................................................................... 216
9.4 O poder do santo ............................................................................................ 217
9.5 São Longuinho determinador do destino .................................................... 219
9.6 São Longuinho como espírito encarnado .................................................... 220
SÍNTESE ................................................................................................................ 222
10. CONCLUSÃO ................................................................................................. 229
11. REFERÊNCIAS ............................................................................................... 233
ANEXOS ................................................................................................................ 244
1- Longinus no crucifixo de São Damião .......................................................... 245
2- Fotos do início do processo de restauração da Igreja de Nossa Senhora da
Escada.................................................................................................................... 246
3- Projeto da restauração da Igreja de Nossa Senhora da Escada ................. 256
4- Entrevistas ........................................................................................................ 286
I – Com o clero: 1- Padre Geraldo ....................................................................... 286
2- Padre Roberto ................................................................... 290
3- Padre Adalberto ................................................................ 291
4- Padre João Rosa .............................................................. 292
5- Bispo da Diocese Mogi das Cruzes ................................ 293
II – Entrevista com a pessoa que encontrou a imagem .................................... 295
III – Entrevista com a zeladora – D. Luíza .......................................................... 298
IV – Entrevista com algumas pessoas da pastoral .......................................... 302
V – Entrevista com pessoas influentes na comunidade .................................. 309
VI – Pousadas e Hotéis próximos a Freguesia .................................................. 321
VII – Guias de excursões ..................................................................................... 326
VIII – Entrevistas com devotos ........................................................................... 327
5- Bilhetes colocados por devotos junto à imagem do santo .......................... 362
6- Transcrição das folhas fixadas nas paredes próximas ao altar principal da
Igreja de Nossa Senhora da Escada – Guararema – SP ................................... 389
7- Alguns agradecimentos por graças alcançadas ........................................... 394
8- Programações das festas em louvor a São Longuinho na Igreja de Nossa
Senhora da Escada .............................................................................................. 395
9- Oração e Santinho de São Longuinho ........................................................... 396
10- Fotos ............................................................................................................... 397
11- Cronologia de Freguesia da Escada .............................................................456
12
A CONSTRUÇÃO DE UMA SAGA
“Lá pelo ano de 1955, Miranda, um pedreiro e vidraceiro, mexendo no
entulho de um armário muito antigo, tipo cômoda, localizado no fundo da sacristia da
Igreja Nossa Senhora da Escada, no Bairro de Freguesia (Guararema, SP),
encontrou os restos de uma imagem. Junto com Miranda, estava seu ajudante
Vicente. Ninguém sabia há quanto tempo não se mexia naquele armário, mas a
Igreja é muito antiga, sua construção data de 1652 e estava meio abandonada.
Vicente e Miranda riram e fizeram chacota, pois era uma imagem muito engraçada.
E deixaram-na por ali.
Na noite seguinte, porém, Miranda não conseguiu dormir. A imagem do
santo lhe apareceu a noite inteira, franzindo a testa e apertando os olhos. No dia
seguinte, encontrando seu ajudante Vicente, contou-lhe o ocorrido e este,
espantado, contou que lhe acontecera o mesmo: o santo também tinha lhe
aparecido a noite inteira, franzindo a testa e apertando os olhos, por isso, também
não conseguiu dormir. Cheios de temor, os dois resolveram voltar à sacristia e
consertar a imagem.
A zeladora da igreja, dona Luíza, ao ver a imagem, a colocou no
fundão da sacristia. No início, ninguém sabia que santo era aquele. Os moradores
de Freguesia começaram a pedir ao santo que encontrasse coisas perdidas por eles
e, na hora, o santo achava. Dona Luíza disse que só podia ser São Longuinho...
São Longuinho ficava no fundão e, aos poucos, dona Luíza foi
trazendo-o para dentro, porque muitos devotos começaram a visitar o santo, o que
deixou o padre que atuava em Freguesia naquela época muito chateado. O padre
não gostava do santo, mas as pessoas iam à igreja, lá ao fundão rezar para São
Longuinho e fazer pedidos. Nessa época, não eram pessoas só da comunidade não,
já vinha gente de Jacareí, das redondezas para fazer pedidos para o santo. O padre
não entendia e não gostava do santo, dizendo que a imagem parecia mais um
boneco, que não era uma imagem de santo igual às da Igreja. Mas dona Luíza
falava com ele que era São Longuinho sim e, às vezes, eles até discutiam...
Esta imagem não tem as pernas; o corpo e a cabeça são de madeira e
o rosto é de argila. Ela está sempre vestida com roupas tipo bata, doações de fiéis.
Ela tem roupas para uso diário, para os finais de semana e também para as
ocasiões especiais como as festas de Nossa Senhora da Escada, de São
13
Longuinho, Natal, Páscoa... A imagem nunca fica sem vestimenta... E o padre não
aceitava e criticava a imagem, falando que nunca viu santo com anéis, cordões e
não a deixava ficar na Igreja.
Um dia, devotos vieram de Jacareí para rezar um terço e, no local onde
o santo estava, havia muitos pombos e estes sujavam a imagem e até algumas
pessoas que estavam rezando. Dona Luíza, então, resolveu enfrentar o padre e
trouxe o santo para dentro da igreja. Ela foi chegando com a imagem aos poucos...
Ela foi chegando, chegando... até que colocou a imagem no altar central, em um
oratório muito bonito.
As pessoas de Freguesia e arredores continuaram com seus pedidos
para o santo e, sendo atendidas, faziam propaganda dele, elogiavam-no e, assim,
outras pessoas iam ao oratório de São Longuinho atrás de graças.
O tempo foi passando e São Longuinho foi ficando muito conhecido,
até roubaram o oratório dele em 2001. A zeladora deu entrevista na rádio local, no
programa da Ana Maria Braga, na ‘TV Globo’ e outras pessoas ficaram sabendo da
existência de uma imagem de São Longuinho em Freguesia e para lá iam à procura
das graças do santo. Aí veio outro padre para Freguesia e este gostou do santo; o
outro continuou morando por aqui e falando mal do São Longuinho, mas, quase na
hora de morrer, falou que foi ele que levou a imagem para o altar, mas não foi não,
foi dona Luíza, a zeladora, há anos. Faleceu, no entanto, reconciliado com a
devoção ao santo.
São Longuinho cresceu tanto que hoje até merece reportagem. Sempre
vem TV, rádio à Freguesia para entrevistar a dona Luíza, o Sr. Vicente, pessoa que
encontrou a imagem e tiram muitas fotos do santo.
A devoção a ele aumentou muito; muitos devotos vêm de fora, de
outras cidades, estados e até de outros países. Ônibus de excursão chegam a
qualquer hora em Freguesia e dona Luíza atende todos com muito carinho, pois ela
gosta de todos que gostam de São Longuinho. Ela cuida do santo todos os dias, só
ela troca a roupa dele senão ele fica envergonhado.
Em Freguesia, todos rezam para ele todos os dias. Alguns vêm à igreja
só para cumprimentar o santo, ele faz parte da vida das pessoas. Ele fica nervoso
quando acontece alguma coisa errada por lá. A imagem muda de expressão quando
ela não gosta de alguém ou de alguma coisa. Ela já fez caretas para uma
14
professora, fez a luz do oratório piscar, as luzes da igreja apagaram até que
chamaram dona Luíza e ela conversou com ele até acalmá-lo.
Ele ficou tão conhecido e importante que a prefeitura e a Secretaria de
Cultura resolveram que era necessária uma reforma na igreja, uma restauração,
porque muitas pessoas estavam indo ali, pulavam perante o oratório de São
Longuinho e eles ficaram com medo de a igreja não agüentar, ela é muito velha, é
de 1652. Assim, houve uma missa em janeiro de 2006 para o início das obras de
restauração e até o vice-governador de São Paulo esteve presente e muitas
autoridades da região. Ela foi celebrada pelo bispo antigo, o atual não compareceu,
e pelo padre Geraldo, que saiu de Freguesia. Ele saiu para um curso nos Estados
Unidos e, quando retornou para o Brasil, foi designado para outra paróquia. O povo
ficou muito triste, ele é um padre muito amigo e gostava muito de São Longuinho.
Durante a missa, algumas pessoas pediram para não tirar São Longuinho do altar.
As obras começaram, mas ficaram muito tempo paradas porque a
verba acabou. O comércio em volta da igreja é que está crescendo muito; já há
lanchonete e um restaurante na mesma rua, outros também próximos, abriu-se uma
casa para comércio de imagens de São Longuinho. Estas imagens são semelhantes
às imagens do santo do oratório e à que um político da região já tinha
comercializado na festa de São Longuinho de 2005; ninguém sabe direito o que
aconteceu com elas mais tarde.
No primeiro semestre de 2006, fecharam a Igreja e ninguém pôde
entrar, nem dona Luíza pôde cuidar do santo e da igreja. Pediram-lhe as chaves que
tinha em seu poder e colocaram segurança 24 horas na igreja. As chaves foram
passadas para a Secretária de Cultura de Guararema. As pessoas chegavam de
longe e ficavam revoltadas ao saber que só poderiam ver São Longuinho aos
domingos, quando a imagem era colocada na praça, em frente à Igreja. Alguns iam
embora e não deixavam os presentes que haviam trazido para o santo, outros
procuravam pelo padre atual e reclamavam, outros já procuravam o prefeito e a
Secretária de Cultura, e nada foi feito, voltavam sem poder ver o santo.
Em Freguesia, os moradores sofreram sem São Longuinho, com o
fechamento da Igreja, pois acabou o dinheiro para a reforma da igreja e não sabiam
quando iam poder dar continuidade às obras e, assim, poder voltar a conviver
diariamente com o santo.
15
... Mas nada os desanimou, prepararam a festa de Nossa Senhora da
Escada, que foi realizada do lado de fora da igreja, na praça, e, assim, Freguesia
pôde receber os devotos e amigos não só de São Longuinho como também da santa
padroeira. Prepararam também a festa de São Longuinho de 2007, realizada em 20
e 21 de março. Seria feita do lado de fora da Igreja somente, pois a Igreja
continuava fechada. Mas a comunidade conseguiu, com muito empenho, abrir a
Igreja nos dias da festa. “São Longuinho ajudou!”.
E a festa foi uma emoção, uma emoção só. Muitas pessoas chegando
a Freguesia, de ônibus, de carro de passeio, de táxi, todas querendo ver São
Longuinho e reclamando que a situação não podia continuar como estava, que São
Longuinho não podia ficar trancado na Igreja. D. Luíza ouvia as reclamações e pedia
que todos rezassem, que São Longuinho iria resolver o problema. E não é que, num
belo dia, as obras recomeçaram na Igreja! O teto já foi todo reformado e a Igreja
voltou a ser aberta para os visitantes e devotos de São Longuinho, para a alegria de
todos. A partir de abril de 2007, o padre celebra missa em Freguesia três vezes por
mês; até março de 2007, o padre ia a Freguesia apenas na segunda sexta-feira do
mês. Os devotos pediram, a comunidade pediu e conseguiram.
A Festa de Nossa Senhora da Escada de 2007 foi uma beleza. Como o
povo brasileiro tem fé! Por lá passaram umas cinco mil pessoas entre sábado e
domingo. Gente fazendo o percurso da entrada da Igreja até o oratório de São
Longuinho de joelhos, rezando, chorando, agradecendo a graça alcançada ou
pedindo ao santo alguma coisa. Várias autoridades presentes em Freguesia
participaram da missa e do almoço. E houve uma ótima notícia: estava chegando
mais verba, a obra da Igreja vai ter continuação... São Longuinho ajudou a chegar o
dinheiro. A Prefeitura está ajudando muito. O pátio em frente à Igreja está sendo
arrumado, tem quadra esportiva, colocaram cascalho, arrumaram plantas... E ainda
ficou melhor para a Festa de São Longuinho em 2008. São Longuinho merece.”
E é a dinâmica religiosa em torno de São Longuinho, do fundo da
gaveta à devoção crescente dos fiéis, que é o objeto desta pesquisa.
16
1 INTRODUÇÃO
Os santos sempre estiveram presentes em minha vida. Ainda criança,
residindo junto com minha avó, fui vivenciando muitas imagens de santo, ouvindo as
histórias por ela contadas sobre os santos, como era a vida deles e como se pedia
ajuda aos mesmos. Com a morte de minha avó, passei a cuidar de suas imagens,
que, com o passar dos anos, foram sendo levadas por parentes.
Durante meu período escolar, desde o jardim até a quinta série
primária, minhas professoras eram católicas e devotas de Nossa Senhora, com
medalhinhas sendo distribuídas entre nós, alunas, e tomando conhecimento de
graças alcançadas através da imagem de Nossa Senhora por ex-alunos de uma de
minhas professoras (da 1ª a 4ª séries primárias tive a mesma professora e ela
levava algumas ex-alunas para dar depoimento em sala de aula sobre graças
alcançadas por estarem usando a medalhinha dada pela mestra). Algumas vezes,
íamos a sua casa, próxima à escola, a convite dela, e lá ela rezava conosco e,
juntas, colocávamos flores em seu oratório.
Freqüentava as missas na Capela de São Vicente de Paula, onde, no
catecismo, as freiras também contavam muitas histórias sobre os santos. E, com o
passar do tempo, ingressando na Universidade Federal de Juiz de Fora, optei pelo
curso de Serviço Social. Continuei com minha devoção aos santos, mas, aos
poucos, esta foi sendo deixada de lado em prol da “ciência”.
Casando-me, algumas vezes, fomos à Aparecida – SP e estas
ocasiões eram especiais para mim. Deslumbrava-me presenciar a fé dos romeiros, a
sala dos milagres, os ex-votos...
Findo o período de atividade laborativa como assistente social e “bem
desligada” da devoção aos santos, as indagações começaram sobre o que fazer
após tantos anos trabalhando fora.
Ao tomar conhecimento de um curso de extensão em Ciência da
Religião, resolvi fazê-lo e, entusiasmada com ele, parti para assistir a algumas aulas
como ouvinte e, assim, decidi dar continuidade aos estudos, fazendo a
especialização e o mestrado em Ciência da Religião na UFJF. Constatei que a
religiosidade popular estava em alta. O mundo da devoção aos santos que vivenciei
na infância passou a fazer parte do meu mundo de pesquisa. Constatei também que
alguns padres estão mais flexíveis às manifestações religiosas do povo, organizando
17
cultos a santos ainda não canonizados. Constatei que a devoção e o culto aos
santos estão presentes em nosso cotidiano: ruas, estabelecimentos comerciais,
bairros, cidades, pessoas ostentam nomes de santos. Deparamo-nos também com
pessoas que fazem novenas, orações, cultuam imagens de santos como uma
maneira de sentirem-se protegidas.
Concluí que, talvez, nunca devoção aos santos tenha estado tão em
evidência como nos dias atuais. Falar de devoção é falar dos desafios que
representa a vida cotidiana e da possibilidade de amenizar as dificuldades da vida e,
por outro lado, estimular os potenciais criativos das pessoas como também a
convivência entre grupos sociais.
Falar de devoção é falar de uma relação dialética entre o sujeito
(devotos, atores da devoção) e o objeto da devoção (santo, imagem), pois o homem,
como ser social e sujeito, faz, vive, cria, transforma. Assim, a devoção é feita e
refeita, consumida e transformada.
No mestrado, ao escolher o tema para elaborar a dissertação,
mencionei que gostaria de trabalhar com santos, sendo sugerido um paralelo entre
um santo oficial da Igreja Católica e um santo popular, tendo sido escolhidos Santo
Antônio e São Longuinho.
Em torno de São Longuinho, existe muita devoção criada através do
imaginário popular. Constatei que muitas pessoas recorrem a São Longuinho
quando perdem algo, quando necessitam de alguma graça. No Brasil, embora se
fale em São Longuinho, não encontrei estudos específicos sobre esta devoção.
Na internet, muitos sites divulgam São Longuinho, fazendo referência
ao santo para achar objetos perdidos e, geralmente, a promessa é paga com três
pulinhos e/ou gritinhos. Esses sites apenas divulgam a devoção, sem maiores
detalhes sobre as circunstâncias em que o santo foi invocado, os pedidos feitos, etc.
Através da internet, tomei conhecimento da existência de uma devoção a São
Longuinho em Guararema, cidade do interior paulista e para lá me dirigi em busca
de maiores conhecimentos sobre a devoção lá existente.
Constatei que tinha material suficiente para desenvolver um estudo
sobre a devoção popular a São Longuinho. E, assim, a dissertação de mestrado “Um
Estudo sobre a devoção a São Longuinho” foi o resultado de uma pesquisa feita na
Igreja de Nossa Senhora da Escada, em Guararema, no Bairro Freguesia da
18
Escada. Essa igreja possui uma imagem de São Longuinho, que é motivo da
irradiação da devoção em toda a região.
O número de visitantes e devotos à procura da imagem de São
Longuinho na igreja aumentou depois do roubo do oratório do santo em 2001,
ocasião em que houve muita divulgação do fato, da imagem e da cidade de
Guararema. O estudo apresentou uma pesquisa realizada no período de julho de
2003 a março de 2004, nessa igreja, tendo como enfoque a devoção dos fiéis, suas
práticas e relações com o santo. Os dados levantados permitiram verificar qual a
importância de São Longuinho na vida de seus devotos, assim como que a relação
dos devotos com o santo implica a relação entre as próprias pessoas.
No doutorado, a opção pelo tema em questão – São Longuinho em
Freguesia, a dinâmica de uma devoção – teve como foco estudar a dinâmica da
devoção a São Longuinho em Freguesia a partir da interação entre os diferentes
agentes (atores) que trabalham em prol da devoção na localidade, isto é, como a
devoção se manifesta, como seus atores se articulam em prol dela, como eles
interpretam a devoção, conferem-lhe significados e lhes infundem emoção a partir
de uma determinada experiência religiosa.
Trata-se de um estudo cujo ponto de partida foi a pesquisa que
fundamentou a dissertação de mestrado já referida anteriormente e que foi
apresentada em março de 2005 na UFJF. Ela enfocou a devoção a São Longuinho
em Freguesia, as práticas devocionais e as relações do santo com seus devotos e
destes com o santo, apresentando a descrição geral da devoção a São Longuinho lá
existente. A intenção agora foi fazer uma análise de maior abrangência da devoção,
estudando toda a sua dinâmica, os sentidos e interesses presentes nela, bem como
identificar e analisar os atores, fatores, interesses que se articulam em torno da
vitalidade da devoção a São Longuinho, na Igreja de Nossa Senhora da Escada, isto
é, analisar a construção da devoção existente nessa igreja de Guararema.
Os capítulos da presente tese se dividem em três partes. A 1ª parte – A
construção do objeto – é descritiva, apresentando o referencial teórico para a
pesquisa, sendo composta de três capítulos. No 1º Capítulo – O processo da
pesquisa, procuro justificar a escolha do tema e os objetivos da pesquisa de campo,
bem como especifico o referencial metodológico utilizado para embasar a pesquisa:
a abordagem socioantropológica e uma metodologia qualitativa. Menciono também
19
os princípios norteadores da pesquisa, as técnicas utilizadas e todos os
procedimentos nela adotados.
No 2º Capítulo – A construção da devoção aos santos no catolicismo
popular devocional –, a intenção é apresentar dados que configurem o surgimento
de uma devoção como também a presença de atores e fatores decisivos para tal
surgimento. Para isso, parti do conceito do catolicismo popular devocional,
abordando as características do referido catolicismo e a construção de devoção aos
santos no catolicismo popular devocional e o imaginário deste catolicismo.
O 3º Capítulo – A devoção a São Longuinho – apresenta aspectos da
devoção a São Longuinho no Brasil. É um capítulo descritivo, com um breve estudo
sobre os elementos da história da devoção em nosso país, do folclore a respeito de
São Longuinho – três pulinhos e/ou três gritinhos – e a descrição das imagens do
santo.
Portanto, para a construção do objeto do estudo, partiu-se do princípio
de que não há atividade crítica, não há coleta de dados sem teoria, mas uma teoria
científica é também uma construção do real. Partiu-se de referenciais já existentes
em busca de uma melhor compreensão do objeto estudado, através da observação
de uma realidade concreta vivenciada no trabalho de campo.
A 2ª parte da tese – A trajetória de São Longuinho em Freguesia: da
gaveta ao Altar – é também descritiva. O objetivo é dar uma idéia geral da devoção
a São Longuinho em Freguesia, a trajetória do santo desde o seu descobrimento na
gaveta, na sacristia, até o altar principal da Igreja de Nossa Senhora da Escada,
assim como apresentar o que o devoto pede, para que invoca o santo, como
também suas práticas perante a imagem, mostrando a capacidade ou “áreas de
controle” de São Longuinho em Freguesia.
Esta parte é constituída pelos capítulos 4, 5 e 6. O capítulo 4 –
Contextualizando a Igreja de Nossa Senhora da Escada – contém o histórico da
igreja, uma breve configuração atual da Igreja, mencionando o surgimento da
devoção, a imagem de São Longuinho, motivo da devoção, os visitantes e devotos
que vão a Freguesia em busca da imagem de São Longuinho, bem como apresenta
os aspectos que caracterizam a devoção como uma tradição oral.
O capítulo 5 – Da descoberta do santo à conquista do altar – aborda a
história da imagem de São Longuinho que foi encontrada em um armário e a
trajetória desta imagem até chegar ao altar principal da Igreja de Nossa Senhora da
20
Escada. Descreve também o culto a esta imagem achada, apresentando os rituais e
práticas dos devotos perante o oratório do santo, os votos feitos a São Longuinho,
citando algumas promessas e também milagres que, segundo a comunidade, foram
feitos por São Longuinho.
O capítulo 6 – São Longuinho se apropria da Igreja de Nossa Senhora
da Escada – trata de aspectos que permitem observar como São Longuinho foi se
construindo em Freguesia por meio dos cartazes colocados na Igreja, as roupas do
santo, os demais pertences da imagem e alguns depoimentos de moradores de
Freguesia sobre o santo.
A 3ª parte da tese – A Dinâmica da devoção a São Longuinho em
Freguesia – procura identificar as motivações e interesses dos atores da devoção,
isto é, das pessoas que trabalham para garantir a continuidade da devoção em
Freguesia; é a dinâmica que move e promove a devoção. Esta 3ª parte é composta
dos capítulos 7, 8 e 9. No capítulo 7 – A Rede Social da Devoção –, fala-se dos
representantes do santo, identificando atores e fatores da devoção e as relações
entres estes.
No capítulo 8, aborda-se a construção da memória e da personalidade
de São Longuinho, que, em Freguesia, é construído de forma diferente da parte
histórica apresentada no primeiro capítulo desta tese, sobre o soldado Longinus,
uma vez que a devoção que se construiu em Freguesia e já existe há um bom tempo
foi se propagando, e o santo ganhou uma “personalidade”. As formas próprias do
culto a São Longuinho e histórias contadas sobre ele são construídas a partir da
influência da zeladora que exerce certa liderança em Freguesia.
No capítulo 9 – A Rede do Imaginário da Devoção, a intenção é
analisar como está sendo construído o imaginário da devoção pelos atores dessa
devoção. Através das histórias contadas pela zeladora, todos são levados a
respeitar São Longuinho, assim como os objetos dele e a agradecer ao santo, tendo
assim São Longuinho um “controle social” em Freguesia.
Em Freguesia, a devoção a São Longuinho passou por vários
processos, foi sendo construída e reconstruída não como um fato isolado, mas como
um produto histórico projetado para o futuro. A devoção a São Longuinho que, na
década de 1950, já existia em Freguesia se transformou em um “fenômeno religioso”
em 2001, após a divulgação do roubo do oratório de São Longuinho.
21
A partir de 2006, ela está num processo de mudanças contínuas com
seus atores interagindo e trabalhando em prol da permanência e da divulgação da
devoção a São Longuinho em Freguesia, tendo em vista que lá todos estão
envolvidos pelos valores do sagrado e, assim, nos lembramos de Mircea Eliade
(1999, p.17) quando ele afirma que o homem toma conhecimento do sagrado porque
este se manifesta, se mostra como algo absolutamente diferente do profano: “Algo
de sagrado que se nos revela” em Freguesia.
22
PARTE 1 - A CONSTRUÇÃO DO OBJETO
“Uma teoria científica nunca é o reflexo do
real e sim uma construção do real.”
(LAPLANTINE, 2005, p. 146).
“Saber pensar é um ir-e-vir do todo para as
partes, das partes para o todo.” (LIBÂNIO,
2001, p. 48)
23
1 O PROCESSO DA PESQUISA
1.1 Tema e Objetivo
O catolicismo encontra-se hoje inserido em um espaço cultural plural e
complexo, marcado pelo processo de secularização e de modernização. Este
processo fez com que a religião deixasse, em parte, a esfera pública, coletiva, para
tornar-se algo individual, gerando um pluralismo religioso que, por sua vez, rompe
com o monopólio dos bens de salvação, criando certa competição entre diversos
grupos religiosos, o que, segundo Berger (1985, p. 51), é próximo de “uma situação
de mercado”.
Assim, o país foi se transformando numa sociedade com uma cultura
cada vez mais plural, a qual se secularizou e com isso “uma série de áreas do
mundo vital das pessoas se secularizam, e sobretudo o Estado, que, além disso,
torna-se neutro e implementa a liberdade de cultos” (PIERUCCI, 2004, p. 19). Com
isso, as sociedades ocidentais atuais mudaram sua relação com as religiões. Não
sendo mais questão de herança familiar ou de tradição, mas de “opção pessoal”
(PRANDI, 1999, p. 4), a escolha religiosa é condicionada e motivada por inúmeros
fatores, desde a busca por respostas existenciais até soluções para necessidades
da vida cotidiana.
Novaes (2004, p. 31) salienta que “as pessoas buscam mais o sentido
da vida e esse é um caminho natural para a religiosidade” e acrescenta os
elementos de auto-ajuda e de soluções para os problemas cotidianos como critérios
de escolha. Nesta grande oferta de crenças e de grupos religiosos, “vale o que
melhor responda às necessidades pessoais dos fiéis” (ISTO É, 2003). Neste
processo de secularização em que ocorreu a queda da hegemonia do catolicismo,
houve também uma fragmentação quanto à procura por santos.
A devoção aos santos está presente atualmente com numerosos ritos e
santos invocados para atender necessidades, no entanto mantendo os fiéis um
relacionamento íntimo com seus santos. Está nítido que o catolicismo devocional,
baseado no culto dos santos, no qual o devoto pode dirigir-se diretamente ao santo,
sem necessidade de uma mediação sacerdotal, continua sendo uma expressão
religiosa muito ativa no Brasil contemporâneo, em que a constatação da vitalidade
24
de festas de santo, romarias, procissões e também o surgimento de novos cultos
(aparições da Virgem, grupos de oração, etc.) demonstra a continuidade à tradição,
mas com novas formas, conteúdo e significados das práticas religiosas, sendo a
devoção popular, portanto, um processo dinâmico e criativo.
Assim há uma continuidade de formas tradicionais de catolicismo,
porém com significados diferentes sendo incorporados a essas práticas já
consagradas, as quais estariam assumindo novos papéis na vida contemporânea.
“O contrário também pode acontecer: novas formas cultuais, com novos conteúdos
discursivos podem ser aproximadas a partir de padrões de significados antigos”
(MENEZES, 2004, p. 24). Novas formas de devoção têm surgido ou mesmo formas
tradicionais têm se transformado e estão em processo de reflexão. A pesquisa
mostra que Freguesia é um lugar onde existe uma devoção a São Longuinho, como
também mostra que está ocorrendo uma reinvenção da devoção a partir do roubo do
oratório do santo em 2001.
Práticas constitutivas do catolicismo popular tradicional estão
presentes no culto a São Longuinho em Freguesia e, apesar de haver uma
continuidade à tradição, novos contextos discursivos estão presentes, novos papéis
estão sendo elaborados, com interesses diversificados.
A Igreja de Nossa Senhora da Escada é um “local católico”, marcado
pela dinâmica do campo religioso, com ações eclesiásticas, interesses de pessoas
responsáveis pelas políticas e práticas pastorais, mas também é um lugar
privilegiado de acesso ao sagrado. É também um patrimônio histórico, estando
assim sujeito a formulação de “políticas culturais” (de patrimônio, de revitalização
cultural da cidade de Guararema etc.). Também está no horizonte das políticas do
turismo local (pousadas, hotéis, restaurantes). Tudo isso, bem como o grande
número de devotos e curiosos à procura da imagem de São Longuinho depois do
roubo do oratório em 2001, trouxe outros sentidos e interesses à configuração da
devoção a São Longuinho em Freguesia.
Nota-se, em Freguesia, todo um dinamismo em torno da devoção a
São Longuinho. Há novos modos de se mostrar a presença do Santo em Freguesia
(por exemplo, internet, pousadas), novos fatores que merecem reflexões sobre tal
dinâmica.
Refletindo sobre esta reinvenção da devoção de Guararema,
levantaram-se alguns questionamentos sobre a devoção em si: Que fatores são
25
decisivos para que haja um aumento da devoção? Quem são os atores da devoção,
as pessoas que fazem com que as outras se apeguem ao santo? Quais as
motivações que existem na devoção a São Longuinho? Quais as condições
propícias que geraram a atual devoção?
A partir destas indagações, acreditou-se válido pesquisar como se
constroem, se organizam e se representam os sistemas de significações de uma
devoção. Julgou-se que tais questões não devem ser presumidas e sim
investigadas. São questões relacionadas às pessoas que residem em um bairro
pertencente a uma cidade do Estado de São Paulo e não a pessoas isoladas em
uma ilha. Portanto, participam do atual processo de urbanização e industrialização,
assim como do mercado de trabalho de um sistema capitalista. Têm acesso aos
meios de comunicação, rádio, TV, internet e recebem assim um conjunto de
informações que dependem das redes de comunicação e sociabilidade que se
manifestam nas experiências cotidianas.
São pessoas que passaram a construir um projeto próprio em torno de
uma devoção antiga na localidade e se tornaram atores desta devoção numa
sociedade em transformação, mas houve ali também uma construção do santo,
fazendo de São Longuinho uma personalidade própria, e isso é também um dos
fatores da dinâmica da devoção na localidade.
A relevância do tema pesquisado reside no fato de buscar novas
formas de enquadre da questão da devoção e seu significado na época
contemporânea, mostrando a permanência do catolicismo popular, o fato de o
sagrado constituir a referência ampla da construção de uma visão de mundo e da
prática da devoção aos santos, na qual as rezas, a devoção pessoal, a promessa
estão presentes.
O catolicismo popular está vivo, é dinâmico e criativo, e novas formas
são inventadas ou reinventadas a partir de formas antigas. Se por um lado,
tradicionalmente, as devoções e práticas do catolicismo popular nasceram mais num
ambiente rural, onde estava a maior parte da população, hoje, com o processo de
urbanização, o catolicismo popular encontrou novas formas de reinventar-se neste
novo contexto. Assim, o catolicismo popular permanece ativo, reinventando-se
através da interação e do diálogo com o catolicismo institucional. Justifica-se assim
a escolha do tema pesquisado, por se tratar de um estudo de relevância no contexto
do pluralismo religioso dos dias atuais: a dinâmica de uma devoção. A dinâmica que
26
liga pessoas, fatores, coisas e um santo numa devoção que está em pleno processo
de construção.
Quanto ao objetivo geral do trabalho, a intenção foi analisar a dinâmica
da devoção a São Longuinho em Freguesia, tendo em vista a construção e a
reconstrução de tal devoção na localidade. Para tal, tomei como objetivos
específicos identificar os atores e fatores decisivos para a irradiação do culto a São
Longuinho em Freguesia, identificando também os conflitos e tensões e as
estratégias em torno da devoção a São Longuinho. Analisar como está sendo
construída a memória do Santo em Freguesia, a trajetória da imagem: da gaveta ao
altar e também as relações de poder na dinâmica da devoção.
O objetivo geral, estudar a dinâmica da devoção a São Longuinho em
Freguesia permitiu que se fizesse uma análise da devoção sob o ângulo
motivacional, identificando motivação e interesses dos atores da devoção, pessoas
que trabalham para garantir a continuidade da devoção em Freguesia. Permitiu uma
análise das redes de apoio que sustentam a devoção ao santo em Freguesia, isto é,
as interações e tensões que se estabelecem em torno da devoção.
Ao verificar que tipo de pessoas se agregam em torno da devoção, as
relações sociais que as cercam, as formas de sociabilidade, os processos
envolvidos na comercialização de imagens do santo e na construção de sua
memória, alcançamos o objetivo proposto nesta pesquisa, permitindo uma análise
sobre as motivações existentes na devoção, sobre as condições propícias que a
geraram e estão presentes em tal devoção.
Analisar a devoção a partir da interação entre os diferentes atores
sociais que nela se cruzam não significou fazer uma análise da devoção pela ótica
dos sacerdotes, devotos, zeladora e sim a partir do encontro de todos eles, na
articulação deles em torno da vitalidade da devoção. Há, assim, uma “dinâmica” ao
redor da devoção, uma dinâmica que liga pessoas, coisas e São Longuinho.
1.2 Características Gerais da pesquisa e do trabalho de campo
Ao se intervir em determinada realidade, deve-se valer de um conjunto
de princípios de ação, métodos e técnicas. Os princípios não são normas rígidas,
mas sim orientações derivadas da experiência de conhecimentos e especialmente
27
de valores. Portanto, estão os princípios em constante dinamismo, orientando uma
ação em uma determinada realidade em determinado momento histórico.
São princípios norteadores desta pesquisa:
- respeito aos valores, padrões e pautas culturais dos entrevistados, e
devotos em geral.
- estabelecimento consciente de um relacionamento com os
entrevistados, com as pessoas da comunidade, da pastoral, representantes da Igreja
e devotos.
- reconhecimento de tensões, situações hostis, oferecendo aos
entrevistados o ensejo de se expressar.
A situação concreta de Guararema – SP foi o ponto de partida da
pesquisa e, através de uma abordagem socioantropológica, pode-se obter mais
clareza da complexidade do fenômeno estudado, uma vez que foi mencionado por
diferentes pontos de vista. Por meio dessa abordagem, esteve presente também a
realidade da alteridade, a tentativa de compreensão do outro.
Interpretar o que se estudou, sob o ponto de vista das pessoas
envolvidas, requereu estudo, análise objetiva e subjetiva dos dados, revisão de
conceitos e definições de modo a conhecer o mundo interno e externo das pessoas.
Isso exigiu aproximação, investigação, observação atenta, abstenção de
julgamentos prévios. Conhecer a complexidade de fenômenos culturais, os símbolos
(culturais ou religiosos) e suas relações, dentro de um complexo sistema de
significados, foi indispensável para compreender os sistemas de conhecimento e o
comportamento das pessoas.
Através de abordagem socioantropológica, tem-se uma aproximação
sucessiva da realidade que nunca se esgota, permitindo uma combinação entre
teoria e dados pesquisados. Justifica-se assim a escolha da abordagem
socioantropológica nesta pesquisa, uma vez que se entende que pesquisa “é uma
prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente
inacabado e permanente” (MINAYO, 1996, p. 23).
Quanto à escolha por uma metodologia qualitativa, partiu-se do
pressuposto de que o mundo se torna real para nós quando tomamos parte nele.
Esta realidade social não representa um todo unitário, mas uma multiplicidade de
processos sociais que atuam simultaneamente em temporalidades diferenciadas,
28
compondo uma totalidade. Assim, muitas informações não podem ser quantificadas
e precisam ser interpretadas, de forma mais ampla.
A abordagem qualitativa, segundo Minayo (1996, p. 22) “é uma forma
de aprofundar-se no mundo dos significados das ações e relações humanas, um
lado não perceptível e não captável em equações, médias e estatísticas”.
A abordagem qualitativa se afirma no campo da subjetividade e do
simbolismo, permitindo uma aproximação fundamental entre o sujeito e objeto da
pesquisa.
Segundo Minayo e Sanches (1993, p. 244), “ela se volve com empatia
aos motivos, às intenções, aos projetos dos atores, a partir dos quais as ações, as
estruturas e as relações tornam-se significativas”.
Weber (apud MINAYO, 1993, p. 244) também expressa que “o
elemento essencial na interpretação da ação é o dimensionamento do significado
subjetivo daqueles que dela participam”. Assim, tanto pesquisador quanto
entrevistados são agentes da pesquisa, atuando o pesquisador em nível dos
significados e das estruturas, entendendo estas últimas como ações humanas
objetivadas e, logo, portadoras de significado. Justifica-se a escolha por tal
metodologia, uma vez que a pesquisa trabalhou com valores, crenças,
representações, hábitos, atitudes e opiniões, e, para uma melhor fundamentação, a
seguir, breves considerações sobre a pesquisa qualitativa foram desenvolvidas.
1.2.1 Pesquisa qualitativa
É um modelo todo próprio de investigação científica, que enfatiza as
especificidades de um fenômeno em termos de suas origens e de sua razão de ser e
oferece uma perspectiva mais ampla para exploração do tema proposto, e que
consegue ampliar as perspectivas para o estudo do tema proposto.
Bognani e Birklen (apud BENETTI, 2004, p. 40-41) apresentam cinco
características básicas que configuram a metodologia qualitativa:
- A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta
de dados e o pesquisador como seu principal instrumento. Supõe o
contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a
situação que está sendo investigada, via de regra através do trabalho
intensivo de campo.
- Os dados coletados são predominantemente decisivos. [...] O
pesquisador deve atentar para o maior número possível de
elementos presentes na situação estudada, pois um aspecto
29
supostamente trivial pode ser essencial para a melhor compreensão
do que está sendo estudado.
- A preocupação com o processo é maior do que com o produto. O
interesse do pesquisador, ao estudar um determinado problema, é
verificar como ele se manifesta nas atividades, nos procedimentos e
nos intervalos cotidianos.
- O “significado” que as pessoas dão às coisas e à sua vida são
focos de atenção especial para o pesquisador. Há a tentativa de
capturar a “perspectiva dos participantes”, isto é, a maneira como os
informantes encaram as questões que estão sendo focalizadas.
- A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo. Os
pesquisadores não se preocupam em buscar evidências que
comprovem hipóteses definidas antes do início dos estudos.
A pesquisa qualitativa permite explorar novas áreas de conhecimento e
adquirir novas perspectivas sobre os fenômenos pesquisados. A tradição
antropológica da pesquisa qualitativa fez com que esta seja conhecida como
investigação etnográfica. “Às vezes, usam-se indiscriminadamente ambas as
expressões para referir-se a uma mesma atividade” (SPRADLEY, 2004, p. 42).
A etnografia originou-se da antropologia social, como um método de
pesquisa utilizado pelos antropólogos na descrição dos padrões culturais da
sociedade primitiva. É a descrição de uma cultura a partir da visão de mundo do
nativo desta cultura, é uma estratégia teórico-metodológica para descobrir os
símbolos de uma cultura e compreender suas realidades dentro de um complexo
sistema de significados (LENINGER, apud BENETTI, 2004, p. 43).
Leninger (apud Benetti, 2004, p. 43) considera que:
como este método de pesquisa se centra nas pessoas, permite que
estas compartilhem suas idéias de maneira natural e espontânea
com o pesquisador. O pesquisador se capacita para comunicar-se e
aceitar as pessoas de diferentes estilos de vida, crenças religiosas e
valores culturais. Como contrapartida, o pesquisador deve ser
sensitivo e respeitar as idéias das pessoas e interpretá-las no seu
contexto cultural. Assim, a postura do pesquisador deve ser de
aprendiz, onde o papel de professor é exercido pelo nativo que
domina o conhecimento da cultura estudada.
A etnografia pode ser então definida como um processo sistemático de
observar, detalhar, descrever, documentar e analisar o estilo de vida ou os padrões
específicos de uma cultura, para aprender seu modo de viver em seu ambiente
natural. A pesquisa etnográfica não se limita à identificação de conhecimentos, mas
30
busca a compreensão dos valores, atitudes e comportamentos de um grupo em
estudo, como eles concebem tais valores, atitudes e comportamentos.
O interesse é entender os significados que as ações e os eventos têm
para as pessoas, e que são usados para organizar e interpretar suas experiências.
Com a opção por tal metodologia, procurei respeitar as idéias das
pessoas, interpretando-as no seu contexto cultural. Fez-se necessário descobrir a
compreensão do significado das ações e eventos para os entrevistados, os
participantes. Assim, o método etnográfico proporcionou suporte para interpretar os
sistemas de conhecimentos e significados dos informantes da pesquisa sobre São
Longuinho em Freguesia: A dinâmica do surgimento de uma devoção.
1.2.2 Técnicas
Quanto às técnicas empregadas na pesquisa, decidi que, se meu
interesse primordial era entender os significados que as ações e os eventos têm
para os entrevistados, elas deveriam facilitar o contato com estes em situações
naturais e que precisaria ser sensível à linguagem e às concepções dos informantes
em sua vida cotidiana. Assim, a observação participante, a entrevista, a história de
vida, a análise de documentos foram adequados para a pesquisa em andamento,
embora se saiba que existem muitas outras técnicas de pesquisa. Cito aqui apenas
as que utilizei para a pesquisa. .
A) Observação participante:
A observação participante, segundo Argilaga (1997, p. 73), “consiste
em um processo caracterizado, por parte do investigador, como uma forma
consciente e sistemática de compartilhar, em tudo que permitam as circunstâncias,
as atividades de vida, e, em ocasiões, os interesses e afetos de um grupo de
pessoas”.
Ainda segundo Argilaga (1997, p. 73), a observação participante se
caracteriza “pela existência de um conhecimento prévio entre o observador e o
observado, e uma ‘permissividade no intercâmbio’ estabelecido, o qual dá lugar a
uma iniciativa por parte de cada um em sua inter-relação com outro”. O pesquisador
tem o propósito de se engajar na situação, observando as pessoas, as atividades e
os aspectos físicos. É importante o pesquisador observar o local onde aconteceram
os eventos estudados em seus atos, relações e significados.
31
A observação participante é assim chamada porque parte do princípio
de que o pesquisador tem sempre um grau de interação com a situação estudada,
afetando-a e sendo afetado. Ele obtém os dados por meio de sua inserção e
participação na vida cotidiana do grupo ou organização que estuda. Mantém uma
conversação com todos ou alguns participantes, nas situações com que se deparam
normalmente, com a finalidade de descobrir interpretações que eles têm sobre os
acontecimentos observados.
Leninger (apud BOHES, 2001, p. 54) descreve quatro fases para a
observação participante, que permitem ao pesquisador sistematizar e explicitar a
observação participante:
1ª Fase: nesta fase, o pesquisador obtém uma visão ampla da
situação do ambiente, das atividades, dos atores, da análise de
documentos e outros, permitindo, assim, levantamento de dados
descritivos da cultura. Esta observação sem participação possibilita
que as pessoas tenham tempo para observar o pesquisador a certa
distância, acostumando-se com sua presença.
2ª Fase: nesta fase, a observação continua, porém, gradativamente,
com o pesquisador iniciando a participação dentro do contexto. O
pesquisador começa, então, a interagir com as pessoas, observando
as respostas.
3ª Fase: o pesquisador torna-se participante ativo, sendo que a
observação pode diminuir, uma vez que a participação ocupa grande
parte do tempo. No entanto, é importante manter a observação. Na
pesquisa qualitativa, a participação ocorre em vários graus, sendo
relevante para sentir, experenciar e aprender pelo envolvimento
completo nas atividades.
4ª Fase: na última fase do processo de observação participante, o
pesquisador faz um exercício “olhando para trás”, realizando um
balanço do que ocorreu. Faz uma reflexão sobre o inventário dos
dados, avaliando também, até que ponto existe influência da
participação do pesquisador refletida nestes dados. Então,
reconfirmam-se os dados em gradativa saída do campo.
Através da observação participante, o pesquisador observa as
atividades das pessoas, as características físicas da situação social e a satisfação
de participar do contexto cultural. A participação permite experimentar, diretamente,
atividades para obter a sensação de quais eventos são semelhantes e para registrar
as próprias percepções, por isso, os etnógrafos não fazem simplesmente
observações, eles também participam, afirma Spradley (1980, p. 5).
De acordo com o mencionado antes, o pesquisador se envolve nas
atividades e observa todos os aspectos da situação com o propósito de registrar e
analisar os dados, o que o diferencia de um observador comum. O pesquisador deve
32
também se colocar na condição de um aprendiz e perguntar na condição de um
estranho. É necessário ainda que o pesquisador respeite as idéias das pessoas e
interprete-as no seu contexto cultural.
Em Freguesia, procurei, a princípio, alicerçar-me previamente para a
observação participante, seguindo o que Spradey (1980) sugere como um período
de preparação, um período de pré-observação, onde se realizam observações
gerais por meio de visitas ao cenário de estudo, com o objetivo de descrever as
principais características.
Desse modo, procurei vivenciar o cotidiano de Freguesia, procurando,
na medida do possível, não interferir no ritmo de trabalho da equipe da pastoral e do
voluntariado.
A observação participante serviu para captar o sentido de ocorrências
e gestos específicos dos devotos e pessoas que trabalham na Igreja perante a
devoção a São Longuinho.
Relacionei-me com os moradores de Freguesia, adquirindo a confiança
deles, participando dos rituais, das festas, chegando a ser referência para responder
sobre a devoção existente lá, sendo indicada pelo padre e por pessoas da
comunidade para alguma entrevista ou informação sobre São Longuinho.
B) A Entrevista:
A entrevista pode ser definida como um “processo de interação social
entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a obtenção
de informações por parte do outro, o entrevistado” (HAGUETTE, 1995, p. 86). As
informações são obtidas através de um roteiro de entrevista constando de uma lista
de tópicos previamente definidos.
O processo de interação entre entrevistador e entrevistado contém
quatro componentes que devem ser explicitados, enfatizando suas vantagens,
desvantagens e limitações: o entrevistador, o entrevistado, a situação da entrevista,
o instrumento de captação de dados ou roteiro da entrevista. Nenhum dos
elementos tem sentido separado da totalidade, estando um relacionado com o outro.
A entrevista, instrumento de coleta de dados, está submetida ao
método científico, assim a busca de objetividade deve estar presente, ou seja, “a
tentativa de captação do real, sem contaminações indesejáveis, nem da parte do
33
pesquisador nem de fatores externos que possam modificar aquele real original
(HAGUETTE, 1995, p. 87).
Tem-se consciência de que a objetividade é um ideal inatingível, mas
que, mesmo assim, o pesquisador deve tentar uma aproximação. O entrevistado ou
o informante está transmitindo sentimentos ou atitudes relacionados com o passado.
A partir da observação participante, informantes-chaves foram
selecionados para a realização das entrevistas: a pessoa que encontrou a imagem,
a zeladora da Igreja, devotos, visitantes, pessoas influentes na Igreja e na
comunidade. Para chegar a estas pessoas, primeiro entrevistei o padre de
Guararema, padre Geraldo e este indicou pessoas que para ele eram essenciais na
devoção a São Longuinho em Freguesia. Estas, ao serem entrevistadas, indicaram
outras pessoas que também foram por nós entrevistadas e, assim, foi se
desenvolvendo o processo das entrevistas, quando observamos que as pessoas
indicadas passavam a ser elas mesmas.
Não se teve a pretensão de considerar estas entrevistas como
resultado de uma pesquisa de campo e sim como um testemunho direto da
experiência religiosa em Freguesia e um melhor conhecimento da devoção a São
Longuinho.
As informações obtidas foram utilizadas na coleta de informações,
registro e análise da devoção. Realizadas as questões descritivas, passei para as
questões estruturais, com o objetivo de compreender o que as pessoas sabiam
sobre a devoção, como a descreviam, os diferentes significados a respeito da
mesma, o que ajudou no entendimento de que os símbolos e significados se
relacionam entre si.
Um roteiro foi elaborado para a efetivação das entrevistas, entretanto
as questões foram emergindo e sendo estruturadas conforme as respostas dos
entrevistados e estas entrevistas estão relatadas no Anexo.
C) A História Oral
De um modo geral pode-se dizer que
tudo que é “oral”, gravado e preservado pode ser considerado
história oral. Assim, os discursos, as conversas telefônicas ou
qualquer outro tipo de comunicação humana que pode ser gravada,
transcrita e preservada como fonte primária para uso futuro está
dentro do rótulo da história oral (HAGUETTE, 1995, p. 92).
34
A utilização da história oral como técnica de coleta de dados é muito
ampla, mas o importante é procurar o relevante e significativo para a compreensão
do objeto pesquisado.
A história oral trabalha com a memória como fator dinâmico na
interação entre passado e presente, fugindo ao aspecto estático do documento
escrito que permanece o mesmo através do tempo. Moss (apud HAGUETTE, 1995,
p. 93-94) enfatiza que:
a memória não é simplesmente um reservatório passivo de dados,
cujo conteúdo pode ser esvaziado e escrutinizado à vontade. Ela
está empenhada e integrada com o presente – com atitudes,
perspectivas e compreensões que mudam continuamente –,
trabalhando e retrabalhando os dados da experiência em novas
reformulações, opiniões e, talvez, até novas criações. O que é
capturado pela história oral é raramente um estudo exaustivo de
todos os dados relevantes, mas, ao contrário, um segmento da
experiência humana – a interação do entrevistador com o
entrevistado – no contexto de um passado relembrado, de um
presente dinâmico e de um futuro desconhecido e aberto.
Do exposto, conclui-se que a história oral é uma técnica de coleta de
dados baseada no depoimento oral, gravado, obtido através da interação entre o
pesquisador e o entrevistado, ator social ou testemunha de acontecimentos
relevantes para a compreensão de determinado fenômeno social a ser pesquisado.
Segundo Queiroz (1993, p. 272), na história oral, “o comando é do
pesquisador, embora ele procure não intervir durante a narração, o que se quer é
captar, através de seus comportamentos, o que passa no interior das coletividades
de que participa”.
Assim o pesquisador é guiado por interesse próprio para melhor
estudar o objeto de sua pesquisa e o narrador, por sua vez, quer transmitir sua
experiência, quer, através dos seus relatos sobre o passado, perpetuar suas
tradições, crenças e valores. Daí a importância do emprego da história de vida como
técnica de coleta de dados, pois Mauss (apud QUEIROZ, 1993, p. 279-280), já no
ano de 1920, fazia referência que “todo fenômeno social é total; o indivíduo é
também o fenômeno social; assim aspectos importantes de sua sociedade e de seu
grupo, comportamentos e técnicas, valores e ideologias podem ser apanhados
através de sua história”.
Durante a entrada no campo e durante todos os momentos presente
em Freguesia, procurei registrar as informações e impressões. Atenção especial foi
35
dada aos eventos (festas) que ocorreram durante todo o período da pesquisa. Estes
registros foram realizados em um caderno de anotações, no qual foram também
anotados os registros das falas, as histórias contadas pelos entrevistados sobre São
Longuinho. Todas as entrevistas realizadas, após serem preenchidas nos
formulários próprios, eram também transcritas neste caderno de anotações, que, aos
poucos, foi se transformando no Diário de Campo. Este contém tudo o que
aconteceu desde julho/2003 até março de 2008, data de encerramento da pesquisa
em Freguesia: frases soltas, comportamentos curiosos, acontecimentos que, mesmo
não tendo sentido para nós, em determinado momento, foram transcritos no diário.
Isso se deu com base em DaMatta (1987, p. 188), quando diz que
muito do que vivemos em uma pesquisa, sobretudo no seu início,
não tem sentido social para nós. Daí a necessidade do diário de
campo que pode atuar como uma memória social, gravando aquilo
que de outro modo estaríamos fadados a esquecer pelo fato de não
ter, naquele momento, nenhum sentido.
As conversas com o padre, a zeladora da igreja, os devotos, pessoas
da comunidade e da pastoral refletem o cotidiano da devoção a São Longuinho na
Igreja de Nossa Senhora da Escada.
A intenção, a princípio, foi deixar o entrevistado à vontade para falar
sobre a devoção, de modo que ele mesmo fizesse referência ao santo e sua
devoção, embora tivéssemos um roteiro para guiar as entrevistas.
A maior parte dos entrevistados não permitiu gravação com receio de,
mais tarde, ser criticada, tendo em vista o fato de a zeladora, após dar entrevista a
um programa de televisão, ter sido criticada e repreendida porque “falou que o padre
não gostava de São Longuinho”. Todos os entrevistados, pessoas da comunidade,
da pastoral, padre diziam que a zeladora era a melhor pessoa para responder às
questões. Quanto aos devotos, estes não só permitiam a gravação como também
queriam ser fotografados, agradeciam pela oportunidade de falar do santo de sua
devoção.
D) Análise de Documentos
36
Considera-se como documento qualquer registro escrito que possa ser
usado como fonte de informação. Regulamentos, atas de reunião, livros de
freqüência, relatórios, arquivos, etc. podem dizer muito sobre os princípios e normas
que regem o comportamento de um grupo e sobre as relações que se estabelecem
entre diferentes grupos. Cartas, diários pessoais, jornais, revistas muito contribuem
em um processo para reconstituição de situações passadas.
Ao utilizar esta técnica, o pesquisador precisa obter informações sobre
eles: por quem foram criados, quais os procedimentos e/ ou fontes utilizados para a
elaboração dos mesmos, com que propósitos foram criados?
Na presente pesquisa, os documentos analisados foram o livro de
Tombo da Igreja de Nossa Senhora da Escada, onde se encontram os relatos de
atas, e o livro de registro dos visitantes da Igreja. A referida igreja não tem outros
registros e a única documentação utilizada pela pastoral, pessoas da comunidade,
alunos das escolas de Guararema para pesquisa é a cópia da dissertação “Um
estudo sobre a devoção a São Longuinho” entregue ao padre e à comunidade em
março de 2005. Esta dissertação foi também usada para o estudo da atual
restauração da Igreja pela Prefeitura e demais órgãos.
1.2.3 Observações sobre o campo da pesquisa
Bourdieu (2004, p. 18) cita que se deve “ser capaz de apreender a
pesquisa como uma atividade racional e não como uma espécie de busca mística de
que se fala com ênfase para se sentir confiante”.
Relata que uma exposição sobre uma pesquisa é, com efeito, o
contrário de um show, de uma exibição na qual se procura ser visto e mostrar o que
se vale. Com base em Bourdieu (2004), procurei, neste estudo, apresentar todo o
processo da pesquisa com os ensaios e possíveis erros e os impasses etnográficos
encontrados durante o trabalho de campo, refletindo sobre estas dificuldades e
procurando apresentar os dados que foram significativos para a pesquisa. Segundo
Bourdieu (2004), é na reflexão sobre os obstáculos e sobre os caminhos percorridos
para superá-los que o trabalho científico pode avançar (BOURDIEU, 2004, p. 18-20).
Este estudo teve como cenário a Igreja de Nossa Senhora da Escada
em Freguesia da Escada, Guararema, local onde foi realizada a pesquisa. Chegar à
Escada, bairro pertencente a Guararema, foi tranqüilo, as pessoas rapidamente
37
passavam a se introduzir e a nos introduzir na pesquisa, ao saber que o assunto era
"São Longuinho".
Ao retornar para um segundo contato, o padre da Igreja de Nossa
Senhora da Escada, algumas pessoas da comunidade, da pastoral e a zeladora da
Igreja me receberam calorosamente, o mesmo acontecendo das outras vezes em
que voltei a Freguesia, o que me estimulou e motivou no desenvolvimento da
pesquisa.
O material colhido em entrevistas com o clero, a zeladora, agentes da
pastoral, devotos e moradores foi revelando a existência do culto a São Longuinho.
A pesquisa teve início com uma entrevista com padre Geraldo, pároco de
Guararema nessa época, ocasião em que ele indicou pessoas chaves a serem
entrevistadas, pessoas envolvidas com a "devoção a São Longuinho". O clima de
confiança que se estabeleceu em minha relação com os informantes, com os
devotos, deu-se devido ao fato de o padre ter apoiado a pesquisa, pedindo a
cooperação de todos "para falarem tudo o que soubessem sobre São Longuinho".
(sic)
A pesquisa iniciou-se em julho de 2003 e, em todas as vezes em que
compareci ao local, notei um interesse grande nas pessoas diretamente ligadas à
Igreja em participar, em falar sobre São Longuinho, embora muitos não tivessem
permitido gravação. A zeladora da Igreja, na primeira vez que estive em Freguesia,
em 2003, permaneceu comigo por um período de quatro horas dentro da Igreja, sem
almoço, o que nos causou preocupação, tendo em vista o fato de ela já estar com
uma idade avançada, oitenta anos, mas, para surpresa nossa, ela estava feliz e
agradecida pelo meu interesse pela Igreja e pelo "seu santo", pela atenção que eu
estava dedicando a ele. Segundo ela, éramos bem-vindos à Igreja: "não está
incomodando, fique o tempo que quiser e volte quando precisar. Vou ajudar, a
senhora está fazendo justiça a São Longuinho que, durante muito tempo, ficou
escondido"
1
. A impressão que tive era de que as pessoas me sentiam do lado delas
e, ao mesmo tempo, precisando delas.
Desde minha entrada no campo desta pesquisa, em 2003, e em todos
os momentos de presença no cenário do estudo, até março de 2008, procurei
1
D. Luíza Lemes de Almeida, 85 anos, zeladora da Igreja há 36 anos (Anexo 4 – Entrevista III).
38
registrar as observações e impressões, realizando uma observação focalizada no
cenário do estudo e nas possíveis pessoas envolvidas na devoção.
Dediquei atenção especial aos eventos que ocorreram durante as
Festas da Padroeira e de São Longuinho, com o propósito de verificar o que se
passava com os devotos perante o oratório do santo.
Os registros das observações foram feitos em um Diário de Campo.
Registrei sentenças relacionadas a eventos experienciados por meio da observação
participante, tomando o cuidado para que contivessem o mínimo de interpretação
possível. Primeiramente, tomei nota de dados característicos do cenário do estudo,
planta física, arrumação da Igreja, pessoas presentes no local.
Antes de iniciar as entrevistas, fiz perguntas gerais relacionadas à
idade, ao estado civil, à escolaridade, à profissão ou à ocupação, à religião, ao
endereço. Procurei não discutir os conceitos ou significados expressos pelos
informantes, bem como não demonstrar também surpresa com o relato deles ou
desaprovação e sim interesse em cada um.
Foi estabelecida gradativamente uma observação participante, em que
os contatos foram crescendo em Freguesia e fui me tornando conhecida, marcando
presença em todas as programações da Igreja de N. Sra. da Escada desde o ano de
2003, quando iniciei a pesquisa, até março de 2008, quando encerrei o trabalho de
campo.
Minha presença em campo teve como característica manter uma
interação com os moradores de Freguesia, com os devotos, com todas as pessoas
que queriam participar da pesquisa, falar sobre São Longuinho.
Desse modo, as pessoas envolvidas com a devoção foram se tornando
conhecidas, amigas, foram se descobrindo, construindo-se na própria trajetória da
pesquisa.
Em março de 2005, logo após a defesa da dissertação de mestrado,
retornamos a Freguesia para a Festa de São Longuinho, levando cópia da pesquisa,
pois havíamos prometido ao padre (Geraldo) que entregaríamos um exemplar para a
Igreja. E surpreendeu-nos uma discussão na comunidade sobre quem guardaria a
cópia (denominada pelas pessoas de “Livro de São Longuinho”). A intenção era
deixar com o padre, mas D. Lourdes, pessoa influente na comunidade, decidiu
preparar um cerimonial para que a dissertação fosse entregue na missa campal. E aí
se levantaram questões: quem receberia a cópia no palco? O padre? A pastoral? D.
39
Luíza? E a discussão “ferveu” até que ficou decidido pela maioria que os que
contribuíram de alguma forma para a pesquisa seriam chamados ao palco e a cópia
ficaria guardada na Igreja. E, após a missa, padre Geraldo nos chamou ao palco,
agradeceu a realização da pesquisa feita sobre São Longuinho, a qual “resultou
neste livro, único que a comunidade tem” (sic) e pediu-nos que fizéssemos uma
síntese da dissertação para os presentes.
Em novembro de 2005, Festa de Nossa Senhora da Escada, ao chegar
a Freguesia, já dando continuidade à pesquisa, tendo em vista a tese de doutorado,
nos deparamos com a preocupação de várias pessoas quanto ao aumento do
número de visitantes em Freguesia, à procura da imagem de São Longuinho. Padre
Geraldo relatou que a devoção aumentou muito e ele ficava sozinho para resolver
tudo, enfrentar os críticos, pois diziam que ele estava deixando São Longuinho
tomar o lugar de Nossa Senhora da Escada. Solicitou-nos que contatássemos o
bispo, pois já havia dito a ele sobre a pesquisa, sobre o fato de a dissertação ser
única fonte escrita sobre São Longuinho e disse que nosso testemunho seria
importante para que o bispo visse como a devoção era crescente.
Em janeiro de 2006, recebemos convite da comunidade e também do
padre para a missa de início da restauração da Igreja Nossa Senhora da Escada, a
ser realizada em 28 de janeiro de 2006. O padre comentou sobre a importância de
nossa ida, uma vez que o vice-governador de São Paulo se comprometeu a realizar
uma reunião na qual se discutiria a verba para a restauração da igreja, além de
publicar a dissertação de mestrado. Ressaltou que isso seria muito bom para
Freguesia.
Fomos para Guararema e a missa da restauração atraiu muitas
pessoas a Freguesia: o vice-governador, prefeitos de várias localidades de São
Paulo, o prefeito de Guararema, vereadores, deputados, o bispo que atuou durante
muitos anos na Diocese. A comunidade sentiu a ausência do atual bispo. Muitos
discursos foram feitos, a cerimônia demorou, pois alguns políticos pediram a palavra
e, embora seus discursos tenham sido políticos, a fé em São Longuinho estava
presente. Após a cerimônia, padre Geraldo cobrou do vice-governador a publicação
da dissertação e fez-nos um agradecimento.
Percebi que tinha me tornado objeto da própria pesquisa. Fui
entrevistada, fotografada e procurada por “políticos” que queriam ser entrevistados
por mim para participar do “segundo livro”, pois padre Geraldo disse que eu iria fazer
40
outro. O padre e algumas pessoas da comunidade solicitaram-me também uma
“novena” a São Longuinho
2
e foram atendidos. Também participei de uma entrevista,
junto com meu orientador, à Revista Superinteressante
3
, falando sobre o São
Longuinho de Freguesia.
Em março de 2006, retornamos a Freguesia para a Festa de São
Longuinho e padre Geraldo já não estava por lá; foi para os Estados Unidos para um
curso de Inglês. E, na semana seguinte à Festa, a Igreja de Nossa Senhora de
Escada foi fechada para o início das obras de restauração. E, a partir daí, muita
coisa foi mudando em Freguesia.
A comunidade se sentiu traída com a ida do padre para o exterior, uns
acharam que ele não deveria abandonar Freguesia “logo no período das obras da
igreja, em plena restauração”; outros julgavam que ele “foi mandado para lá para o
poder público poder ficar à vontade, decidir sozinho”. São Longuinho foi, segundo
alguns moradores, trancafiado e seus devotos não podiam comparecer no oratório
do santo. E foi, neste contexto, recebendo grande quantidade de informações, que,
por vezes, nos envolveram e nos sufocaram entre o “saber científico” e o “saber do
senso comum”, que iniciamos a segunda fase da pesquisa na Igreja de Nossa
Senhora da Escada, tendo em vista a tese de doutorado e já com bastante
entrosamento em Freguesia.
Através da observação participante, fomos estabelecendo,
gradativamente, novos contatos em Guararema, procurando observar os atores da
devoção, que são as pessoas que fazem parte do cenário de estudo (devotos,
moradores de Freguesia, visitantes, pessoas da pastoral, pessoas influentes na
Igreja e na comunidade).
Essas pessoas participaram da pesquisa, de alguma forma, por meio
da observação participante ou de indicações dos entrevistados. Algumas
participaram com maior intensidade como os interlocutores do estudo (padre,
pessoa que encontrou a imagem, zeladora da Igreja, coordenação da pastoral).
Para selecionar os interlocutores (pessoas a serem entrevistadas),
contactamos os informantes-chaves para que eles indicassem pessoas que
2
PIMENTEL, Elam de Almeida. São Longuinho. Santo das coisas perdidas. Novena e Ladainha. Editora Vozes:
Petrópolis, 2007.
3
Revista das Religiões/Santos e Beatos. Revista Superinteressante. Editora Abril, São Paulo, 2005. São
Longuinho, p. 79
41
deveriam participar da entrevista e, à medida que as entrevistas foram sendo
realizadas, essas pessoas indicavam outras a serem entrevistadas.
A autoridade religiosa mencionou a presença da pesquisadora no local,
dando continuidade ao estudo sobre São Longuinho, e esclareceu que esta poderia
ser procurada por aqueles que quisessem colaborar na pesquisa sobre o santo.
Para os entrevistados, foram elaborados roteiros semi-estruturados, em
que a intenção, a princípio, foi deixar os entrevistados à vontade para falar sobre a
devoção existente em Freguesia, de modo que eles mesmos fizessem referência ao
santo e a sua devoção, embora a entrevista fosse guiada por tal roteiro.
Todas as festas foram fotografadas como também vários devotos
perante o oratório do santo, pois acredito que a fotografia não é apenas um exercício
de “mostrar como é”, mas de “desvelar e fixar uma face visível, impregnada e
ordenadamente dada a ser vista, de algum cenário onde algo acontece, do momento
em que este algo acontecer um gesto ou um feixe deles, um súbito olhar, um par de
mãos que seguram um objeto” (BRANDÃO, 2004, p. 27).
Devido à importância da fotografia nesta pesquisa, que permite ver
uma interação entre devotos e o santo e as mudanças ocorridas na restauração da
Igreja é que elas estão inclusas no anexo, permitindo um momento de descobertas,
de interação de um fenômeno cultural. O vínculo com o cenário de estudo não se
desfaz mesmo quando estamos fora de lá, pois foi mantido contato telefônico com
as pessoas-chaves da comunidade.
Neste breve registro de nosso percurso em campo, pode-se ver que a
pesquisa foi realizada em um processo lento; foram três anos e meio de idas e
vindas ao campo para permitir que a pesquisa fosse se construindo em compasso
próprio. Embora existisse a preocupação com objetivos e linhas norteadoras, o
projeto de pesquisa construiu-se na própria trajetória da pesquisa, nas muitas idas
em Freguesia, ocasião em que vivenciávamos toda a experiência religiosa da
devoção lá existente.
Houve também a preocupação em estabelecer um diálogo com o
catolicismo de devoção, uma tentativa de retomar um tema clássico – Devoção aos
Santos –, e formulá-lo em novos termos, assinalando, assim, uma das
transformações por que passa a religião no Brasil, situando devoção no contexto do
atual pluralismo religioso.
42
As reflexões desenvolvidas na tese foram influenciadas por Carlos
Rodrigues Brandão, Carlos Alberto Steil, Pedro R. de Oliveira, Renata Menezes,
autores que apresentam em seus textos sobre Catolicismo Popular abordagens que
permitem uma melhor reflexão sobre o surgimento de fatores propícios à devoção
4
.
Justifica-se tal escolha pelo fato de esses autores acentuarem a religiosidade do
povo, mostrando a racionalidade dos rituais, crenças, discursos de pessoas que
definem seu lugar no mundo a partir dos recursos que o catolicismo coloca através
de uma tradição.
A pesquisa também foi influenciada pela concepção de Eliade (1992, p.
17) sobre o sagrado, a saber:
O homem toma conhecimento do sagrado porque este se manifesta,
se mostra como algo absolutamente diferente do profano. A fim de
indicarmos o ato da manifestação do sagrado, propusemos o termo
hierofania. [...] A partir da mais elementar hierofania – por exemplo, a
manifestação do sagrado num objeto qualquer, uma pedra ou uma
árvore – e até a hierofania suprema, que é, para um cristão, a
encarnação de Deus em Jesus Cristo (ELIADE, 1992, p. 17).
Para Eliade, a hierofania “revela” algo que já não é profano, e sim
sagrado. Ele nos faz ver que a manifestação do sagrado em um objeto qualquer,
para aqueles a quem este objeto se revela sagrado, transmuda a sua realidade
numa realidade sobrenatural.
É o que acontece com o campo e o enfoque do estudo desta tese, que
podem ser mais bem entendidos a partir da devoção aos santos no catolicismo. E
isso será agora apresentado.
4
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Os Deuses do Povo. São Paulo: Brasiliense, 1980
______ Sacerdotes de vida. Rituais religiosos do catolicismo popular em São Paulo e Rio de Janeiro. Petrópolis.
Vozes, 1981.
______ Memória do Sagrado. Estudos de religião e ritual. São Paulo: Paulinos, 1985.
MENEZES, Renata C. A dinâmica do sagrado: rituais, sociabilidade e santidade num convento do Rio de
Janeiro: Relume Duemará. Núcleo de Antropologia. UFRJ, 2004.
OLIVEIRA, Pedro A. R. de. Religião e dominação de classe: gênese, estrutura e função do Catolicismo
organizado no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1986.
______ Expressões Religiosas Populares e Liturgia. Revista Eclesiástica Brasileira (REB). 49, nº 172, 1988.
STEIL, Carlos Alberto. O Sertão das Romarias. Petrópolis: Vozes, 1996.
43
2 A CONSTRUÇÃO DA DEVOÇÃO AOS SANTOS NO CATOLICISMO POPULAR-
DEVOCIONAL
O estudo do catolicismo popular brasileiro está ligado ao catolicismo
como um todo. Sem a história da formação e do desenvolvimento do catolicismo
popular, não se pode entender este tipo de catolicismo sintetizado pela expressão
“pouco padre e muito santo”, de pouca missa e muita reza, de caráter lúdico e
festivo, que tem um padrão carnavalesco nas celebrações, segundo alguns autores
que pesquisaram sobre este assunto.
Viu-se assim a necessidade de apresentar breves reflexões sobre o
catolicismo implantado no Brasil através da colonização, pois foi nesse catolicismo
como religião oficial que surgiu o catolicismo popular brasileiro. Torna-se necessário
então apresentar o quadro geral da religião oficial, o modelo de Igreja que dominou
no período colonial, como foi sua implantação e também apresentar as influências
portuguesas, indígenas e africanas que afetaram o catolicismo no Brasil.
2.1 O catolicismo no período colonial
Um entendimento geral do mundo religioso dos conquistadores
(portugueses) é necessário por ter sido a religião deles (cristianismo ocidental) que
foi trazida e imposta no Brasil no período colonial.
Os portugueses, na condição de conquistadores, ao chegarem ao
Brasil, trouxeram sua cultura e sua religião. Os reis de Portugal se consideravam
católicos e assumiram como obrigação defender e expandir a fé católica, a qual foi
implantada no Brasil.
Hoornaert (1992, p. 24) cita que D. João III, “rei de Portugal”, escreveu
ao primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Souza: “A principal causa que me
levou a povoar o Brasil foi que a gente do Brasil se convertesse a nossa fé católica”.
Os reis portugueses encaravam as navegações para a América como
cruzadas. As viagens e descobertas das frotas portuguesas sempre foram
realizadas tendo como pano de fundo o espírito medieval do “orbs christianus”.
Segundo essa mentalidade medieval, uniam-se intimamente interesses políticos e
religiosos, sendo que os inimigos da pátria eram considerados inimigos da fé e vice-
versa. Os portugueses colonizadores aderiram à mentalidade de seus reis e se
44
posicionaram contra os inimigos da fé católica. Os religiosos que vieram para o
Brasil nessa época, foram criativos no desenvolvimento de métodos catequéticos
para a conversão dos índios, mas transportavam para o Brasil as características de
seu universo religioso.
A evangelização colonial não aconteceu como resultado do diálogo
religioso e sim pela conquista, pela derrota dos colonizados. Segundo Espin (2000,
p. 190),
era evidente que o Deus dos cristãos era o único Deus verdadeiro, e,
portanto, eles eram abençoados por Deus com vitórias sobre os
inimigos da verdadeira religião. Em estilo medieval típico, a religião
era invocada para legitimar as vantagens dos vencedores.
Novamente citando Espin (2000, p. 105):
O fundamento original apresentado às populações nativas (e mais
tarde, aos escravos africanos) para sua conquista e derrota tenha
sido, precisamente, que o Deus cristão os enviara até eles. Muitos
dos missionários argumentavam que o cristianismo demonstrara sua
superioridade sobre as religiões nativas no fato de ter sido dada aos
conquistadores a vitória sobre os índios e africanos: era evidente,
afirmavam, que o Deus cristão demonstrava ter um poder muito
maior que todas as divindades nativas. A conseqüência dessa linha
de raciocínio ficou clara para os povos conquistados – tinham de se
submeter ao novo Deus e aceitar o poder e a vontade divinos, do
jeito como os missionários e as autoridades coloniais os
expressavam.
A evangelização tinha, portanto, como pressuposto, a sujeição dos
indígenas, sendo a fé cristã uma imposição, estabelecida oficialmente no Brasil
mediante o regime de Padroado
5
, uma vez que os reis de Portugal julgaram
vantajoso manter a população colonizada coesa através da fé. Dessa união de
interesses políticos e religiosos, surgiu no Brasil um tipo de Igreja designada como
cristandade e, segundo Azzi (1978, p. 45), são três as características principais
deste modelo de Igreja:
- íntima união entre Igreja e Estado, constituindo o catolicismo a
religião oficial;
- defesa do território contra os inimigos da fé, através do espírito de
cruzada ou guerra santa;
- manutenção interna da ortodoxia religiosa, mediante o tribunal da
Inquisição.
5
Padroado: significa que tanto os poderes políticos como os religiosos eram concedidos ao rei, ficando a religião
incorporada ao Estado e sua prática obrigatória.
45
Havia uma preocupação muito grande em manter a fé dentro do
território brasileiro. Esta era considerada como elemento importante para a
manutenção do poder político. Assim, Igreja e Estado caminhavam juntos.
A cristandade se fundamentava na religião, as leis da Igreja eram
oficialmente reconhecidas pelo Estado e tinham que ser obedecidas. Qualquer
indiferença para com a religião oficial podia ser motivo de denúncia perante o Santo
Ofício, que convidava as pessoas a declararem espontaneamente suas culpas, sob
formas de confissões, ou incutia na população a obrigação de denunciar os que não
seguiam os ritos estabelecidos pela fé oficial. Era então impossível viver integrado
no Brasil sem seguir ou respeitar a religião católica, radicalizando assim o problema
da fé:
de um lado situava-se a religião católica, a religião do Deus
verdadeiro, a religião certa. Do outro lado, ficavam as demais
religiões, impregnadas de falsidade e orientadas pelo demônio. Essa
era a mentalidade dominante entre os detentores do poder
eclesiástico (AZZI, 1987, p. 24).
Nesse modelo de Igreja, a predominância era dada aos aspectos
jurídico-administrativos, ficando a religião católica incorporada ao Estado e sendo as
práticas religiosas determinadas através de leis. Segundo Lustosa (1978, p. 24), a
Igreja representou na época um:
Organismo a serviço da política oficial, legitimando as pretensões e o
comportamento do Estado neste período: regalista, na política
eclesiástica, mercantilista na economia instrumentalizada pelo
absolutismo, monopolizador sempre vigilante, sobretudo quanto
pudesse estorvar ou prejudicar a sua expansão colonial, sobretudo
atento à defesa e à salvaguarda dos valores da cultura portuguesa e
cristã, imposta aos indígenas.
Com semelhantes perspectivas, o catolicismo no Brasil operou de
acordo com a matriz portuguesa e a religião católica foi uma das formas poderosas
na sustentação do desenvolvimento do sistema colonial.
Este catolicismo implantado pela intervenção direta do Estado,
possibilitando a vinda de missionários para converter os índios e fundar escolas,
criar dioceses, paróquias, foi também implantado através da migração, segundo
Oliveira (1985, p. 113):
Portugueses – bem como espanhóis no século XVII – se
estabelecem no Brasil em busca de fortuna no comércio, na
administração, na agricultura, na mineração. Esse processo
migratório, que conhece períodos de maior e de menor intensidade,
46
introduz no Brasil o catolicismo popular português. Religião do
Estado e dos colonos, o catolicismo se introduz no Brasil, com a
chegada dos primeiros portugueses, como o atesta o fato de terem
os acidentes geográficos, os rios, as vilas e cidades o nome de
santos. Aliás, o Brasil recebe o nome de “Terra de Santa Cruz” e,
logo após o desembarque dos primeiros portugueses, uma missa é
celebrada no território recém-conquistado. Os símbolos religiosos
exprimem, ao mesmo tempo, a ocupação do território pelos
portugueses e a gratidão dos marinheiros e colonos aos santos que
os protegeram durante a travessia do oceano.
Assim, paralelamente ao catolicismo oficial imposto, os portugueses
trouxeram também um catolicismo mais íntimo, mais impregnado de sentimento
religioso, o catolicismo de devoção.
Segundo Azzi (1987, p. 52), “as autoridades eclesiásticas do Brasil
colonial, como as da cristandade medieval, não foram hostis a essa forma de religião
popular, desde que se cumprissem as obrigações oficiais do culto: primeiro a
obrigação, depois a devoção”.
Esse espírito devocional tem suas raízes na própria Idade Média; foi
elaborado como uma forma de resistência à imposição do catolicismo romano oficial.
Mediante o culto dos santos, as populações lusitanas da Idade Média podiam
“continuar expressando o sentimento religioso numa forma mais adequada à sua
cultura e tradição” (AZZI, 1987, p. 52).
Esse catolicismo assimilava elementos de outras crenças religiosas e
Azzi (1987, p. 52) justifica assim o sincretismo religioso:
Segundo a mentalidade popular, existiam elementos de bondade nas
diversas religiões, através das quais se podia expressar o sentimento
de dependência do mundo sobrenatural. Os colonos portugueses
aceitavam tranqüilamente a influência religiosa do ambiente em que
viviam, negando-se na prática a enfatizar a radical oposição
apregoada pela hierarquia católica: de um lado, Deus, sua fé católica
e, do outro, a presença dos demônios nas outras religiões.
Os indígenas, os africanos e judeus portugueses eram obrigados à
prática dos ritos católicos, seguindo em público os ritos do Santo Ofício, e, às
escondidas, continuavam a manter suas crenças originais em lugares afastados.
Em 1536, por ocasião da organização da Inquisição em Portugal, sob o
reinado de Dom João III, muitos “cristãos novos” (descendentes de judeus, assim
chamados em oposição aos “cristãos velhos”, que descendiam de antigas famílias
católicas) emigraram para a América, para a Ásia e a África, tentando fugir dos
rigores da inquisição. Diante deste clima de medo criado pela Inquisição, visitações,
47
denúncias, deportações, repressões, conflitos, os brasileiros reagiram criando um
catolicismo ostensivo, praticado em lugares públicos, com invocações ortodoxas a
Deus, a Nosso Senhor, aos santos. Todos tinham de ser muito católicos para
garantir sua posição na sociedade e não se tornarem suspeitos de heresia.
Um exemplo a respeito é o da preservação dos cultos africanos no
Brasil, já que estes cultos sobreviveram à repressão: os funcionários tratavam os
cultos afro-brasileiros como danças e músicas profanas, informando aos delegados
e visitadores do Santo Ofício que se tratava de folclore como os fados, dança típica
em Portugal, enquanto os africanos continuavam a adorar seus orixás sob
invocações e imagens católicas. Os brasileiros no período colonial não eram tão
católicos, mas o catolicismo, que nasceu e desenvolveu-se sob a proteção e
dependência do padroado português, tinha que ficar firmemente estabelecido no
Brasil-Colônia, e, segundo Azzi (1987, p. 50), “este catolicismo pode ser qualificado
como tradicional, por ser o primeiro a surgir efetivamente”.
Entre a religião oficial imposta e esses cultos que sobreviveram às
escondidas, foi surgindo um catolicismo que se expressava em formas religiosas de
tradição judaica, indígena, africana e também em raízes medievais, o que é bem
exemplificado por Azzi (1987, p. 53) quando ele diz que:
Entre a religião oficial dominante e esses cultos que sobrevivem nos
subterrâneos da vida social, à revelia da Inquisição, existe um
espaço intermediário ocupado pela religião de grande parte da
população, o catolicismo do povo. Ao mesmo tempo em que se
enquadra dentro da religião oficial, e tira dela inspiração para
diversos enfoques, o catolicismo popular, além de suas raízes
medievais, com freqüência, se expressa em formas religiosas de
tradição judaica, indígena e africana.
É sobre este catolicismo que, a seguir, apresentam-se algumas
considerações.
2.2 Catolicismo popular
“Toda religião ajuda no desenvolvimento da versão popular de si
mesma, na medida em que tenha um núcleo normativo bem definido de crenças e
48
liturgia” (ESPIN, 2000, p. 179). Segundo Espin (2000), grupos de “virtuosi religiosi”
6
(ORTIZ, 1980) parecem ter se desenvolvido na maioria das religiões e, assim,
assumem a responsabilidade de definir o que é e o que não é normativo dentro das
religiões.
Entretanto Espin (2000) diz que muitos fiéis não têm ou não podem ter
acesso ao treinamento exigido para serem virtuosi, nem aos argumentos
doutrinários propostos por estes últimos e, por isso, o papel da maioria é seguir a
produção simbólica e as decisões doutrinais dos especialistas. Assim, os fiéis
podem criar caminhos alternativos para evitar o poder definidor exclusivo dos
virtuosi. Esses caminhos podem levar à formação do que se poderia chamar versão
“popular” da religião, paralela à “pretensa norma doutrinal e litúrgica oficial
estabelecida e contestada por especialistas, mas, de algum modo, ainda ligada à
versão normativa da religião” (ESPIN, 2000, p. 179).
Para Espin (2000), os virtuosi são os teólogos e o clero (especialmente
bispos e papas). É função deles definir e estabelecer os limites do que é ou não é
aceitável e normativo na Igreja.
Muitas pessoas ou não aceitam tais decisões ou fazem uma releitura
das doutrinas e ritos da religião “oficial”, dando-lhe ênfases diferentes. Surgem
assim caminhos paralelos na história do catolicismo que tentam aproximar a religião
da necessidade e circunstâncias do povo. Segundo Espin (2000, p. 220), o
catolicismo popular: “proclama-se autenticamente católico, mas reinterpreta as
normas estabelecidas pelos virtuosi”.
Assim, para Espin (2000, p. 181), o catolicismo popular é o “universo
religioso que as pessoas criaram a fim de trazer para mais perto de si o que
interpretavam como fundamental e também outros elementos essenciais do
catolicismo normativo”.
2.3 Conceituando catolicismo popular devocional
O catolicismo popular surgiu efetivamente dentro do contexto do
catolicismo tradicional, um catolicismo em que estão presentes as festas de santo,
6
Virtuosi religiosi: expressão de Max Weber, utilizada por Ortiz.(1980, 71)
49
as bênçãos, as promessas, as rezas, as novenas, as irmandades, as ordens
terceiras, as romarias, os ex-votos.
Este catolicismo característico da sociedade e da cultura brasileira,
também conhecido como catolicismo tradicional luso-brasileiro
7
, foi gerado no
período colonial, permanecendo nos três primeiros séculos.
O período colonial, segundo Lustosa (1978, p. 41),
Foi a matriz em que o catolicismo, trazido no bojo da cultura
dominante, formar-se-ia e consolidar-se-ia, quer em sua estrutura
organizacional, quer na sua vida interna e em sua força
evangelizadora, através de uma série de contradições, nem todas
superadas e muitas delas sobrevivendo ainda até o século XX.
Este catolicismo popular tradicional ou luso-brasileiro teria passado, a
partir do século XIX, por várias transformações referentes às “mudanças internas à
Igreja Católica” e também por mudanças mais amplas na sociedade brasileira,
provocadas pelo processo de modernização, ligadas à industrialização, à
urbanização e à migração. Este processo de modernização afetou o campo
religioso, levando o catolicismo à perda do monopólio de “religião dos brasileiros” e
conseqüentemente à pluralização do campo religioso.
O quadro do catolicismo luso-brasileiro foi de um catolicismo assentado
sobre organizações e lideranças leigas e devoções. Com o processo de
romanização, houve uma mudança da relação da instituição oficial com as
associações religiosas (confrarias e irmandades). Alguns centros de devoção e
romaria foram entregues às ordens religiosas européias e o culto aos santos,
substituídos por devoções trazidas de fora.
Para Teixeira (2005, p. 16), o processo da romanização marcou no
Brasil a “instauração de um catolicismo universalista, caracterizado pelo maior
controle sobre os leigos e suas associações e de adequação do catolicismo
brasileiro de diretrizes centralizadoras de Roma. Teixeira concorda com Oliveira
(1988, p. 12) quando ele diz que “o processo de romanização foi forte bastante para
combater o catolicismo popular, mas não o suficiente para implantar a forma romana
na grande massa dos católicos”. Azzi (1987) menciona também a condenação por
parte do episcopado das práticas do culto popular tradicional considerando-as como
“superstições”, “ignorância”.
7
Terminologia empregada por Azzi (1979)
50
Para Teixeira (2005, p. 18), embora não se negue o impacto da
romanização sobre o catolicismo em sua forma tradicional, vê-se também que “as
concepções basilares do catolicismo popular tradicional, como o culto aos santos e a
crença nos milagres, permanecem novas”. Ocorre também neste catolicismo “uma
incorporação original do traço da romanização, o que evidencia o aspecto dinâmico
e criativo de tal catolicismo.
Essas transformações deixaram em segundo plano as formas
tradicionais de devoção popular que, segundo Menezes (2004, p. 22), não “teriam
extinguido totalmente, permanecendo ainda ‘núcleos ou bolsões de resistência’”
junto das classes populares, que preservariam as práticas consideradas tradicionais.
Acontece, porém, que novos elementos e maneiras de cultuar os
santos foram sendo elaborados e incorporados, promovendo, segundo Oliveira
(2005, p. 1), uma “reedição das devoções”, das relações entre santos e devotos,
bem como nas maneiras de cultuá-los. Como afirma Menezes (2004, p. 25-26),
existe um
jogo de continuidades e mudanças entre formas, conteúdos e
significados de práticas cultuais, os quais podem combinar de
maneira diferente a cada caso. Assim, pode haver uma continuidade
com formas tradicionais de catolicismo, mas com significados
diferentes sendo incorporados a práticas já consagradas, as quais
estariam assumindo novos papéis na vida contemporânea. O
contrário também pode acontecer: novas práticas cultuais, com
novos conteúdos discursivos podem ser apropriados a partir de
padrões de significados antigos. E, enfim, coisas originais podem
estar sendo geradas.
O culto aos santos é um elemento central na fé dos brasileiros, desde o
início da implantação do catolicismo, e este catolicismo, apesar das transformações
sofridas, sempre manteve presente a devoção aos santos.
Atualmente, os santos estão em moda, suas imagens estão presentes
em camisas, jóias, bolsas, acessórios em geral. Isso mostra a visibilidade social dos
santos e permite que se afirme que os santos viraram fashion
8
.
Neste catolicismo popular – devocional, com ênfase para a área da
devoção, com o culto aos santos, romaria aos santuários de devoção e o
cumprimento de promessas, encontra-se também a influência da religião oficial ao
lado de um domínio próprio de uma comunidade. A presença do padre é importante,
8
Expressão usada por Renata Menezes, em entrevista à revista “Época”, maio/2005.
51
é desejada, mas a mediação hierárquica não tem o peso que tem na religiosidade
oficial.
A partir do exposto, emprega-se neste estudo a expressão catolicismo
popular devocional no sentido do catolicismo do devoto que cultua o santo de sua
devoção. É o catolicismo caracterizado pela intensa participação do leigo e da
maioria da população.
Neste catolicismo cujo núcleo de devoção é o santo, encontram-se
devoções e santificações a muitas entidades não canonizadas e essa constatação é
significativa, indicando a importância e abrangência deste fenômeno sociocultural.
Este estudo, na tentativa de definir e classificar os santos populares,
baseou-se na classificação do antropólogo Roberto Benjamin (2003, p. 3) que
aplicou no Brasil a tipologia de Coluccio (1994, p. 201), que realizou, na Argentina,
vários estudos descrevendo a origem e as formas populares das devoções.
Segundo a tipologia de Coluccio (1994, p. 201), aplicada por Benjamin,
é possível propor duas categorias de “santos” não canônicos:
a primeira, a dos iluminados, grupo constituído por pessoas que, na
sua vida terrena, dedicaram-se às atividades de caridade e foram
consideradas virtuosas; algumas delas teriam chegado a participar
de acontecimentos extraordinários considerados milagrosos; após a
morte, tiveram a sua intercessão invocada para auxiliar na resolução
de problemas de natureza variada, gerando cultos populares; em
alguns casos, a hierarquia da Igreja Católica vem tentando se
apropriar dessas devoções e dos locais de cultos populares para
iniciar os processos de reconhecimento canônico da santidade; a
segunda é formada por pessoas vítimas de morte violenta ou injusta.
Dele fazem parte três grupos: o primeiro, constituído pelos anjos, isto
é, crianças que faleceram ainda na primeira infância, vítimas de
abandono ou de outras formas de desatendimento; um outro grupo é
constituído de vítimas inocentes, adolescentes e adultos
espancados, estuprados e assassinados; nesta categoria, é elevado
o número de mulheres; finalmente aparecem as pessoas de “vida
errada” – bandidos e prostitutas, cujos devotos acreditam que
tiveram oportunidade de arrepender-se e obter perdão dos pecados
“in-extremis”.
Esses cultos, para Benjamin (2003), parecem indicar um processo de
identificação psicológica entre a vida de opressão e violência dos fiéis com a lenda
que se forma em relação às histórias de vida dos “santos” populares. Tal
identificação, pela proximidade, se torna mais ocorrente do que com os santos
reconhecidos oficialmente, cujas lendas remontam, em alguns casos, aos primeiros
tempos do cristianismo.
52
Com base na tipologia apresentada, pode-se dizer que muitas
devoções são construídas e que a adesão ao catolicismo popular devocional é
decidida por uma comunidade local e não por uma “pertença” religiosa, tendo
sempre presente o encontro do devoto com o santo. Este encontro pode ser mais
bem compreendido através das palavras do cientista da religião, Mensching (1959,
p. 15), citado por Suess (1979, p. 127), quando ele descreve a religião “como
encontro vivencial com o santo e resposta pela ação do homem a determinado
santo”.
“Encontro com o santo” e “resposta do homem”é o que ele designa
como os elementos estruturais formais em todas as relações para com o santo,
podendo ser que, conforme a perspectiva histórica, se trate do “encontro com o
santo” do santo, do sagrado, ou dos santos.
Para Suess (1979, p. 128), a este encontro, à palavra do santo segue a
“resposta” do homem interpelado pelo santo.
Na maioria das vezes, o homem impelido por um estado concreto de
aflições, inicia o diálogo com o santo. De lá já recebe uma “resposta”
à qual segue a sua nova “resposta”. Esta “nova resposta” do homem
pode consistir em prestações de culto, de magia, de reparação, em
prestações éticas ou artísticas. Logo, resulta a seguinte seqüência de
diálogo no encontro com o santo: palavra – resposta – nova
resposta. A nova resposta deve ser concebida de modo bidirecional.
Refere-se à resposta já recebida, mas cada vez consiste uma nova
“palavra que faz esperar uma nova resposta”.
Este “encontro com o santo” é uma das principais características do
catolicismo popular devocional, e são as características deste catolicismo de
devoção aos santos que serão abordadas no item que se segue.
2.4 Características do catolicismo popular devocional aos santos
Azzi (1976, p. 95) caracteriza catolicismo popular a partir de cinco
pressupostos principais: “é luso-brasileiro, leigo, medieval, social e familiar”.
É luso-brasileiro porque as instituições religiosas portuguesas foram
transportadas para o Brasil
9
, trouxeram elementos oficiais e populares que foram
ganhando contornos brasileiros com a evolução histórica.
9
Através das atividades das ordens, como os jesuítas – atuando com o espírito reformador – e dos leigos –
atuando nas irmandades (QUIOSSA, 2006, p. 37)
53
É leiga no que se refere às práticas cotidianas, com a introdução das
devoções, construção dos oratórios e ermidas e incentivando a fundação de
irmandades para o culto aos santos.
É medieval ao refletir uma religiosidade nascida na Idade Média e
tradicionalmente vivida em Portugal. Azzi (1976) relata que três aspectos da
influência medieval estão presentes no Brasil colonial: as romarias, as bruxarias e as
blasfêmias
10
.
É social, pois o catolicismo era apoiado na vida da sociedade, fazendo
a religião parte da vida cultural do povo. É familiar porque cada família tinha seu
oratório com seu santo protetor e, às vezes, até uma capela, havendo a prática da
devoção em família.
As características históricas citadas (luso-brasileiro, leigo, medieval,
familiar, social) expressam uma religiosidade espontânea e direta com o sagrado,
visualizando um mundo e um tempo que ultrapassam a relação entre o homem e o
sagrado. Isto é justificado por Passos (2002, p. 184) quando ele fala que a
integração entre o social e o sobrenatural tem suas raízes no passado histórico, em
que tudo se guiava pela religião. As diversas instituições, família, leis, política, eram
legitimadas pelo religioso, mais especificamente pelo catolicismo.
Isso deixou marcas na cultura brasileira e atualmente persistem ainda,
principalmente na zona rural, onde o paternalismo e o clientelismo estão presentes
nas relações sociais e políticas.
A cultura brasileira foi formada pelo vínculo entre colonização e
evangelização e, por meio dos símbolos, gestos e representações, a religiosidade foi
se misturando com a experiência de vida da população e, assim, sentimentos como
alegria, esperança, anseios, dor eram, e são hoje ainda, amenizados por intermédio
das festas, novenas, cantos e santos que vão compondo o catolicismo. O
catolicismo popular devocional torna-se assim um elemento consolidador da vida:
“Deus sabe o que faz”, “Deus nos ajuda”.
10
Romaria está sempre veiculada à promessa, à fé em um santo particular que se quer homenagear, indo ao seu
santuário para pedir ou para agradecer a graça alcançada. As bruxarias também fizeram parte da mentalidade
popular no período colonial. Segundo tal mentalidade, as mulheres bruxas possuíam forças e poderes
extraordinários por intervenção do demônio. As blasfêmias eram formas de protesto indireto contra a falta de
liberdade para uma plena expressão de fé popular, dirigida contra Deus e contra os santos (AZZI, 1978, p. 54, 55
e 57).
54
O catolicismo popular devocional é um sistema religioso que se
apresenta como uma experiência que permeia a vida e a cultura (STEIL, 2001, p.
21). Desse modo, esta modalidade de catolicismo é impregnada no cotidiano de
seus praticantes, que procuram dar sentido à existência, buscando entender e
explicar os diversos problemas.
Passos (2002, p. 181) diz que o catolicismo popular é uma forma de
exprimir os sentimentos e as emoções. “Torna presente o ausente no cotidiano da
vida”. (PASSOS, 2002, p. 181). Assim, o catolicismo popular devocional é o meio
que os devotos utilizam para conquistar seu espaço, organizar e recriá-lo. É a
maneira de fazer valer seus valores, seus desejos e utopias, isto é, fazer valer sua
história de vida.
M. Certeau (1994, p. 55) afirma que “de uma forma disseminada
através da lista do dia-a-dia, se constatava a permanência de uma consciência
política no sentido global, um sentimento de injustiça, a convicção de que a situação
presente era intolerável, enfim, uma paciência, uma reserva na ação”.
Nesse tipo de catolicismo, reforça-se o espírito comunitário.
Predominam em suas manifestações o motivo da comunidade e a participação de
todos. O motivo pode ser a memória, o louvor de um santo ou também “um mistério
de Jesus Cristo, num ambiente de partilha, alegria e gratuidade” (PASSOS, 2002, p.
185). Brincadeiras, comidas típicas, fogueiras e quermesses compõem esse cenário.
Sabe-se que as religiões recebem influências sociais e culturais e,
assim, a consciência humana molda “modos de pensar e representar” (PASSOS,
2002, p. 178). Mitos, fantasias, crendices, medos vão surgindo.
Steil (2002, p. 29) diz que,
quando comparamos os mitos e lendas em torno dos santuários
brasileiros, nos damos conta de que há um padrão de signos,
símbolos e narrativas que se repete, apontando para uma estrutura
comum que ordena a cultura brasileira. Em outras palavras, esses
mitos e lendas não devem nos prender na singularidade do episódio
narrado, mas sim nos conduzir, como guia, por caminhos que nos
levem a uma melhor compreensão da tradição que subjaz à nossa
cultura.
As narrativas míticas, as lendas populares são recursos importantes
dos quais os grupos sociais se utilizam para guardar a memória do passado e
prescrever comportamentos nos cultos de sua devoção.
55
Outra característica do catolicismo popular devocional é o “elo pessoal”
(DAMATTA, 2000, p. 114) existente na comunicação entre os devotos e os santos,
os protetores e os padroeiros. A relação pode ter formas diferenciadas, mas a sua
lógica estrutural é a mesma. É uma relação pessoal, fundida na simpatia, na
lealdade e principalmente na fé. É uma comunicação que permite aos devotos falar
e ser ouvido pelos santos, e ter uma resposta de Deus, pois, segundo Damatta
(2000, p. 116), “que é o milagre senão uma resposta dos deuses a uma súplica
desesperada do homem”. É a prova de um ciclo de troca que envolve pessoas e
entidades sobrenaturais em forma de desejos, motivações, sentimentos.
Para Damatta (2000, p. 116), essa “pessoalidade” existente entre o
devoto e a entidade é singular, pois parece produzir no plano religioso “a mesma
ênfase que produz nas relações pessoais que dão um sentido profundo no mundo
social”.
Este referido catolicismo se exprime também através do sacrifício e da
penitência, em que o enfrentamento da dor, do cansaço não diminui a alegria, o
prazer do devoto ao participar de uma romaria, ao subir escadas pagando
promessas, ao viajar a pé em busca de um encontro com o sagrado.
Exprime também o catolicismo popular devocional a representação de
Deus como única divindade onipotente, que governa o mundo conforme os seus
desígnios, estando o culto aos santos revestido de uma obrigação moral, obrigação
de gratidão dos homens para com seus protetores celestes (OLIVEIRA, 1985, p.
120).
É um tipo de catolicismo em que, mesmo quando o santo não é
reconhecido oficialmente pela Igreja Católica, o clero pode assumir a devoção de um
santuário e incentivar seu culto, conforme o culto a padre Cícero, mencionado por
Steil (2001, p. 34).
Outra característica do catolicismo popular devocional, segundo
Oliveira (1985, p. 114), é o domínio prático de culto por todos os fiéis, em conjunto
ou individualmente, independentemente de qualificação institucional, isto é, os
santos estão ao alcance de qualquer fiel sem que intervenha alguma mediação
institucional entre eles.
Em síntese, pode-se dizer que o catolicismo popular devocional atua
nos níveis histórico, eclesial, devocional, milagreiro, psicológico, econômico e
político. Nele, o leigo é presença ativa, dinamizando as rezas, as festas, as
56
devoções. É marcado também por uma fidelidade ao passado. Através do seu
aspecto afetivo e festivo, permite que seus praticantes interpretem, criem e recriem
sua cultura, dando-lhe um significado.
O catolicismo popular devocional é o que Brandão (1992, p. 8) diz ser a
agência religiosa de oferta pura e simples de bens de salvação entre a fé e a magia
e também é um sistema cultural comunitário, pois pode fundamentar a legitimidade
da ação religiosa na eficácia simbólica produzida por um grupo comunitário.
Ao escrever as características do catolicismo popular devocional, não
se teve a intenção de apresentar uma análise parcial dos aspectos apresentados,
pois o objetivo foi refletir para se definir qual o enfoque deste catolicismo seria
adotado no presente estudo e o escolhido foi “a devoção aos santos” que será
apresentado no item que se segue.
2.5 Devoção aos santos no catolicismo popular devocional
Durkheim (1989, p. 79) apresenta a religião como algo eminentemente
social e, ao mesmo tempo, com função social, ou seja, como forma de organizar o
mundo. As representações religiosas teriam essa função primordial de classificar a
realidade e estabelecer regras e funções de convivência. Não se trata de uma
abstração ou de uma imaginação individual que projeta o ser humano na dimensão
do absoluto, mas de um modo de ver e de se comportar dentro da sociedade.
Na medida em que a religião se organiza, ela se mostra socialmente
“com regras e funções definidas, com objetos e templos públicos”, segundo Passos
(2006, p. 15). O mesmo ocorre com suas ofertas simbólicas: elas se mostram com
finalidades claras e mediante um conjunto de meios destinados a realizá-las
ritualmente. Ainda que todos os sistemas religiosos conservem uma reserva interna
de mistura, acessível mediante uma experiência direta do fiel e, de certa forma,
irredutível à comunicação e explicação, eles se solidificam porque se organizam em
suas diversas dimensões e se definem com uma determinada identidade. Isso é o
que ocorre com a devoção aos santos no catolicismo popular devocional. Este tipo
de devoção se fundamenta sobre um conjunto de representações e práticas pelos
devotos, segundo Oliveira (1985, p. 122), “uma coletividade presta o culto (individual
ou coletivo) aos seus santos, estando revestido de uma obrigação moral”.
57
Essas representações e práticas por meio das quais um sentido
religioso é dado ao mundo e à vida são resultados, segundo Oliveira (1985, p. 123),
de “um trabalho de produção e de reprodução de significações religiosas que não se
faz num vazio, guiado apenas pelo imaginário popular, mas dentro das condições
sociológicas determinadas e determinantes”.
Assim, as representações religiosas devem ser encaradas como o
meio através do qual a experiência concreta de um grupo humano é representada
como uma experiência dotada de sentido, porque corresponde à realidade da vida
cotidiana, na qual o grupo está inserido e depende de um protetor sobrenatural para
enfrentar as dificuldades da vida, exercendo um domínio simbólico sobre o seu
mundo.
As representações religiosas são, então, produtos do imaginário
humano, mas contêm aspectos da realidade justamente porque correspondem às
experiências da vida cotidiana.
A experiência vivida é, assim, a base objetiva sobre a qual o imaginário
popular constrói o conjunto de representações e práticas do culto aos santos. Desse
modo, estas representações religiosas constituem a base de ações coletivas,
indispensáveis para os seres humanos encontrarem um sentido para a sua
existência, uma vez que não dominam suas condições materiais e sociais.
Suess (1979, p. 56) diz que
santos e devoções são invocados como poderes do outro mundo,
para reajustarem uma situação que desandou. Não se trata da
espiritualidade ou do exemplo dos santos [...] aqui tampouco têm
qualquer papel obrigações éticas e rituais [...]. Por adaptação,
resignação, aceitação da “vontade de Deus” e da “sorte de cada dia”,
o homem encontra as fórmulas para o seu equilíbrio psicológico.
As representações religiosas são, desse modo, essenciais para dar um
sentido ao mundo e assim, segundo Oliveira (1985, p. 127), elas “devem ser
preservadas de toda profanação, pois, se a crença no poder dos santos se
enfraquece, é todo o sistema de domínio simbólico sobre o mundo que se esfacela,
tornando insuportável a existência humana”.
Os santos ocupam, então, um lugar de destaque na vida de seus
devotos penetrando em todos os setores de suas vidas, protegendo-os diante das
incertezas, dos problemas.
58
Os santos penetram na vida dos que o veneram, misturando-se com
seus problemas, suas necessidades mais urgentes, nos negócios, na
vida familiar, nos casamentos, nos amores. E tudo isso, sem
cerimônia, sem precisar de apresentação, de intermediário. Tudo se
passa entre o santo e seu devoto. Uma certa intimidade até, sem
implicar desrespeito, mas intimidade que chega até mesmo à
imposição de certas punições, como santo de cabeça para baixo,
santo fora de sua capela, santo voltado para as paredes (ROLIM,
1976, p. 159).
Viu-se, então, que aspectos da vida cotidiana estão implícitos nas
representações e práticas religiosas, exprimindo a criatividade do espírito humano
para representar a sua própria realidade, traduzindo, através dessas representações
religiosas, aspectos da cultura onde o homem se insere.
Assim, a representação do mundo como uma criação divina e a
representação dos santos como intercessores poderosos correspondem a
realidades da vida cotidiana dos devotos, o que implica dizer que a devoção aos
santos está condicionada à cultura dos devotos. Sendo assim, breves reflexões
sobre cultura serão apresentadas a seguir.
2.5.1 Cultura
Entende-se por cultura o conjunto de regras que orienta e dá
significado às práticas e à visão de mundo de um determinado grupo. É a forma que
um determinado grupo estabelece para classificar as causas e atribuir-lhes um
significado.
11
Assim, cada grupo pode atribuir um significado diferente a um mesmo
objeto ou fenômeno. Geertz (1989, p. 26) apresenta cultura como a “teia de
significados que o homem teceu, a partir da qual ele olha o mundo e se encontra
preso”.
O ser humano age em relação às coisas de acordo com os significados
que elas têm para ele. Assim a interpretação simbólica ocorre de acordo com os
diferentes intérpretes e as diferentes situações.
Segundo Charon (1999, p. 188), “a maioria dos seres humanos não
avalia a importância dos símbolos para que somos. Os seres humanos usam
11
Significado é o efeito direto realmente produzido ao intérprete pelo signo, sendo signo tudo aquilo que
representa ou está no lugar de outra coisa.
59
símbolos quando se comunicam. A socialização depende de símbolos e deles
dependem também a cooperação, o pensamento e a resolução dos problemas”.
Assim, a cada símbolo, dentro de uma cultura ou de culturas diferentes,
é atribuído um significado comum. Ao atribuírem o mesmo significado a um símbolo,
os homens partilham informações, estabelecem relações e transmitem seus
elementos culturais.
O ser humano, com sua propensão para criar símbolos, transforma
inconscientemente objetos ou formas em símbolos e tenta explicar seus significados.
Estes objetos ou formas podem ser representativos de algo que não é palpável,
como define Chauí (1995, p. 294), “símbolo é alguma coisa que se apresenta no
lugar de outra e presentifica algo que está ausente. As formas simbólicas produzem
novos sentidos, não se limitam às definições conceituais, mas caracterizam-se em
formas culturalmente definidas e manifestam a potencialidade criadora do homem”.
Para Charon (1999, p. 188), os símbolos surgem “tanto para
representar quanto para interpretar a realidade, dando-lhe sentido pela presença do
homem no mundo”. O símbolo é o que evoca, representa ou substitui algo abstrato
ou ausente. Sempre que o homem precisa ou quer comunicar algo, faz uso de
palavras, gestos, símbolos, expressões faciais, corporais e outras.
Os significados e as interpretações adquiridas na vida social pelos
seres humanos são frutos de um processo cumulativo que reflete o conhecimento e
as experiências adquiridas por gerações passadas.
Considerando que o ser humano sofre influências, é instável, dinâmico,
possui conhecimentos e que cada nova informação vai sendo agregada neste
sistema de conhecimentos, define-se o ser humano como um “ator social”, pois atua
nos diversos cenários dos sistemas sociais e interpreta seus símbolos, mesmo não
interferindo neles.
Para Geertz (1989, p. 33), “os símbolos emprestam valor e dão o teor
das relações sociais e sentido às regras e normas que encadeiam o indivíduo à sua
sociedade, sendo as lentes através das quais ele tem uma visão do mundo que o
cerca”.
Para Luker (1997, p. 179), os símbolos
não são apenas sinais de uma comunidade de cultura, eles próprios
agem como formadores da comunidade, sobretudo no âmbito
religioso e político. Quando o homem religioso interpreta
60
conscientemente o elemento sensível, atribuindo à imagem um
sentido que a ultrapasse, então ela se torna um símbolo.
Após a realização de breves reflexões sobre cultura, significado,
símbolos, pode-se dizer que devoções, imagens, novenas, festas dos padroeiros
fazem parte dos sistemas simbólicos religiosos, que são sistemas culturalmente
determinados, isto é, estão relacionados à cultura dos praticantes (devotos) e que,
às vezes, se diferem dos elementos eclesiásticos oficiais. Desse modo, a devoção
aos santos, para Oliveira (1983, p. 911), “trata-se de um culto onde a liberdade
expressiva dos devotos não fica limitada ao código da liturgia oficial, assumindo, por
isso, os traços próprios à cultura de cada grupo ou classe social”.
O conceito de cultura adotado neste item não esgota outros e, como o
foco da tese não é discutir tal questão, optei por não estender mais o assunto.
2.5.2 O imaginário do catolicismo devocional
Segundo Ruiz (1997, p. 17),
O imaginário é construído pelas representações que as pessoas ou
os grupos sociais fazem da realidade. As representações não são a
realidade, porém, esta só pode ser alcançada através das
representações construídas. Desta forma, a representação se torna,
para a pessoa e o grupo, tão real como a própria realidade.
Na verdade, a representação, para a pessoa e o grupo, é mais real que
a própria realidade, pois é através da representação que se tem acesso à realidade.
A representação reconstrói no imaginário a realidade, esta se faz presente como
representação na pessoa, juntamente com componentes subjetivos de percepção:
sentimentos, afetividade, idéias, mentalidades, crenças, etc. “O conjunto das
representações construídas pela subjetividade da pessoa e do grupo é o que
constitui o imaginário” (RUIZ, 1997, p. XX).
O imaginário se expressa sempre de forma simbólica e a expressão da
realidade está indissoluvelmente unida ao simbólico. Toda formação social e
histórica é uma construção simbólica no imaginário das pessoas.
Ao se falar no imaginário do catolicismo popular no Brasil, deve-se
pensar no processo de implantação desse catolicismo. O catolicismo popular é um
61
fato histórico, porém reconstruiu-se no imaginário a significação histórica que ele
teve. O regime do padroado estabelecia uma tutela do Estado sobre a Igreja; esta
obtinha benefícios econômicos e exercia influência política dentro do Estado, o que
justificava esta situação.
Um dos vários direitos que o padroado outorgava ao rei era a indicação
de bispos, apesar de que estes vinham a ser aprovados expressamente pelo Papa.
Na luta de interesses, cada um idealizava o perfil de bispo que servia ao seu projeto.
“Era comum o conflito entre o Estado e o papado na luta pela designação de um
determinado bispo. A organização da estrutura clerical no Brasil Colônia era difícil
devido à grande extensão territorial de cada diocese e também à falta de clero para
atingir o povo” (AZZI, apud RUIZ, 1997, p. 28).
Esta falta de presença da estrutura clerical a nível popular, unida à
forte religiosidade do povo, tornou possível construir no Brasil Colônia um imaginário
social e religioso a partir da influência dos leigos.
O protagonismo autônomo popular dos leigos foi construindo no
imaginário formas próprias da religiosidade, formas autônomas de
culto e cultura. Em muitos casos, construíram lideranças e formas
organizativas originais, independentes das oficialmente existentes
(HOOENAERT, 1994, p. 29).
É significativa a presença e o protagonismo alcançado pelos leigos na
direção do culto e na criação de determinadas formas organizativas de religiosidade
popular, dentro do próprio espaço institucional que a Igreja oferecia. “A grande
diferença entre o catolicismo popular no Brasil e o catolicismo europeu é a
adaptação cultural a que foram submetidos os diversos símbolos importados das
tradições européias” (AZZI, apud RUIZ, 1997, p. 29). Os símbolos continuaram os
mesmos, porém, em muitos casos, foram modificadas suas significações.
Em outros casos, incorporam-se símbolos originários das culturas ou
costumes indígenas e negros: surgia o sincretismo, construindo um imaginário social
próprio que motivou o agir dos diversos grupos sociais. A força deste
imaginário e a
prática autônoma dos leigos são características sociais que não surgem
espontaneamente. Elas pertencem às estruturas que foram permanecendo, ao longo
do
tempo, em diversos grupos sociais no Brasil, especialmente nas classes
populares, através da religiosidade popular, de suas manifestações e formas de
organização.
62
Os movimentos sociais urbanos estiveram marcados mais diretamente
pelo imaginário construído a partir dos europeus. Seu imaginário social tinha um
caráter mais secularizado e politizado, com um discurso mais racionalizado nos seus
objetivos e estratégias. Construíram um imaginário social fundamentado num projeto
de reivindicações e até num modelo de estado, sociedade e economia.
O imaginário do movimento social do campo enraíza-se nas
resistências indígenas e negras ao processo de denominação sofrida com a
presença e atuação européia na América Latina. Quilombos e reduções,
candomblés e catimbós, libertos e fugitivos criaram, recriaram e inventaram um
imaginário concretizado em formas de resistência e luta frente aos diversos tipos de
opressão.
Ruiz (1997, p. 31) cita que “Canudos, Juazeiro, Contestado e outros
movimentos sociais de campo no Brasil fazem parte de um imaginário, de um
discurso e prática mais amplos que estes próprios movimentos”. O mesmo autor
destaca várias características destes movimentos:
1) existe profunda síntese entre as aspirações sociais e o imaginário
religioso. O social e o religioso não são imaginários separados; o
religioso é a matriz interpretativa de toda a realidade.
2) a síntese entre o imaginário religioso e a problemática social se
faz de forma paradoxal. De um lado, o imaginário social encara a
realidade com fanatismo que leva a sua aceitação. A aceitação
da realidade social e histórica, por sua vez, é motivada pelo
imaginário que confia na atuação de forças externas à história –
Deus, a providência, o pecado gerando atitudes de resistência
que permitem às pessoas aceitar, sofrer ou superar suas
dificuldades. O paradoxo se alarga quando o imaginário sobre as
perspectivas de futuro (nova sociedade, melhoria de vida, etc.) é
projetado para um horizonte messiânico que parece irreal. Este
imaginário, porém, constrói um futuro messiânico que serve como
forma de conscientização para questionar a situação presente. A
representação de futuro messiânico permite construir um novo
imaginário que estigmatiza determinadas forças sociais
dominantes: coronéis, governo, autoridades locais, ricos, etc.,
como as causas do mal atual, e também reagir, motivados por
ele, com novas atitudes e estratégias de resistência e luta.
Procura-se, através do imaginário, uma saída concreta ou
messiânica para a situação de opressão e sofrimento.
3) a liderança criadora do imaginário dos movimentos sociais é
assumida por leigos. Quando assumida, porém, por um padre ou
religioso, ocorre em confronto com a instituição. Os leigos são
criadores de representações, símbolos e significações; são eles
que assumem o protagonismo principal nestes movimentos
sociais, continuando a tradição do catolicismo popular.
63
A importância do imaginário para a compreensão da sociedade foi
enfatizada como também o fato de que a influência dessa realidade social e
econômica é fundamental no imaginário social. Dependendo de cada caso
específico, é a realidade econômica e social o fator que mais influencia na
construção do imaginário, porém não o determina. Isto significa que existe uma
autonomia individual e social que permite modificar e transformar o imaginário como
condição de possibilidade para transformar a própria realidade.
A realidade social somente se transforma se, previamente ou
dialeticamente, há uma transformação do imaginário que a constrói como algo novo
e diferente. Assim, cada sociedade é construída na sua totalidade a partir de um
imaginário social próprio. Este, por sua vez, é cheio de formas simbólicas que têm
sentido e significado próprio dentro da teia de significações que cada grupo social
constrói em interação dialética com a realidade social-histórica que o constitui.
2.5.3 A devoção aos santos no imaginário do catolicismo devocional
Os diversos símbolos que constituem um imaginário estão interligados
entre si, formando redes simbólicas. No imaginário do catolicismo popular
tradicional, o símbolo Deus apresentava sentidos e significados decorrentes do
modelo da Igreja da Neocristandade e das relações de dominação baseadas no
autoritarismo e paternalismo. Segundo Benedetti (1983, p. 52), neste imaginário,
“Deus tinha o sentido e a significação da autoridade que deve ser obedecida,
perante a qual temos que desenvolver uma atitude de obediência e aceitação”.
Diante da significação de Deus como autoridade e poder, reforçava-se o imaginário
social da obediência à autoridade socialmente constituída.
Outras significações para Deus foram: Deus justiceiro e moralista que
constantemente vigiava os atos humanos e castigava quando necessário; Deus
fatalista, “que já determinou a seqüência de cada vida e da história, e perante o qual
só cabe uma atitude de resignação e aceitação do previamente estabelecido”
(ELIADE, apud RUIZ, 1997, p. 105).
No imaginário do catolicismo devocional, “Jesus” é um símbolo que
tem um significado “religioso” e não um significado social, histórico ou político. O
sentido da divindade de Jesus é enfatizado na tentativa de esconder as condições
64
sociais, econômicas e políticas da época. A transcendência divina de Jesus anula a
dimensão histórico-social de suas mensagens, atitudes, posicionamentos sociais:
“Jesus é o Filho de Deus que veio para nos redimir do pecado original e dos
pecados pessoais. Sua morte na cruz é o preço que Jesus pagou pelos nossos
pecados a Deus Pai” (ELIADE, apud RUIZ, 1997, p. 31).
Maria, outro símbolo fundador do imaginário do catolicismo popular
tradicional, mostra um sentido e significado de mulher obediente, que aceitava com
paciência as dificuldades da vida. É um referencial que veicula a maternidade como
máxima aspiração que a natureza e Deus destinam para a mulher, não tendo tal
símbolo nenhuma significação social ou política.
A Cruz, no imaginário da religiosidade popular, significa aceitação do
próprio sofrimento. Assim como Jesus tinha um destino traçado por Deus, que
passava pelo sofrimento da Cruz, cada ser humano tem um destino marcado por
Deus: “O verdadeiro cristão é aquele que sabe aceitar resignadamente, sem críticas
nem revoltas, seu próprio sofrimento, ou sua cruz, por ter sido dada por Deus”
(OLIVEIRA, apud RUIZ, 1983, p. 118).
A Cruz é vista também com a significação de fatalismo: “Deus dá a
cada pessoa a cruz que ela merece”. Sendo assim, a Cruz é um símbolo que conduz
a uma aceitação passiva da realidade.
As representações e práticas religiosas desenvolvidas pelo imaginário
popular a partir dos símbolos religiosos foram introduzidas no Brasil pelos
missionários e colonos portugueses. O Brasil recebeu o nome de Terra de Santa
Cruz, uma missa foi celebrada logo após seu “descobrimento” e os rios, vilas e
cidades brasileiras receberam o nome de Santos.
A representação de Deus como única divindade onipotente, que
governa o mundo conforme seus desígnios, é central no catolicismo popular. Os
desígnios divinos estão fora do alcance dos homens e os santos, que estão perto de
Deus, podem influenciá-lo para que seja misericordioso com os homens, graças aos
méritos que adquiriram durante sua vida ou no momento de sua morte. Assim como
Jesus sofreu, aceitando com resignação as provações que Deus lhe mandou,
também os santos sofreram com suas provações e se conformaram com o destino
por Deus traçado.
Segundo Brandão (1980), os santos foram pessoas: São Benedito foi
um escravo ou um empregado que tomava conta dos escravos; São Pedro foi um
65
pescador ingênuo; São Sebastião foi soldado; São Gonçalo foi violeiro e folgazão.
Todos os santos um dia foram humanos, possuem uma biografia que faz a sua
identidade sagrada e um repertório de narrativas de prodígios que lhes atribui o
poder sagrado acreditado. Ainda com Brandão (1980, p. 181), “Jesus, Nossa
Senhora e todos os santos tornam terrena a sociedade celeste para onde foram,
redefinidos para sempre, mas sem perderem a imagem e os atributos terrenos”.
Os santos são representações fundamentais do catolicismo popular.
Segundo Oliveira (apud RUIZ, 1997, p. 113), são “concebidos como seres pessoais
e espirituais, dotados de poderes sobrenaturais, eles são tidos como capazes de
exercer influência sobre o curso da vida e da natureza”.
A natureza é uma realidade misteriosa e superior à força humana. O
homem tenta submeter a natureza com a ajuda de poderes sobrenaturais, tidos
como capazes de agir sobre os elementos naturais. Esses poderes são exercidos
pelos santos, que suprem simbolicamente o que falta ao homem para dominar a
natureza. A intervenção dos santos permite ao homem um domínio simbólico sobre
a natureza, funcionando como um motor indispensável aos seres humanos.
Os santos da Igreja Católica também são construídos simbolicamente
em torno de pessoas concretas. Segundo Ruiz (1997, p. 122),
muitos existiram como defensores da instituição, outros como
opositores no imaginário institucional da época, tendo sido
perseguidos pela instituição, como Santa Tereza de Jesus, São
Francisco de Assis, dentre outros, ou os mortos na defesa da
integridade do imaginário institucional, como Joana D’Arc. Todos
construídos segundo um imaginário para reforçar a dimensão
institucional.
Ruiz (1997) cita ainda São Roque, São Jorge, que são algumas
pessoas (símbolos) que fazem parte da construção do imaginário, uma vez que não
existiram historicamente. A importância do símbolo é a representação do imaginário
que ele veicula, sendo os santos, portanto, representações fundamentais do
catolicismo popular.
2.5.4 Relação devocional: a relação entre os devotos e o santo
Uma vez que a devoção aos santos está intrinsecamente relacionada à
cultura de seus devotos, pode-se dizer que tal devoção varia de região para região,
como também pode ser variada a maneira de as pessoas serem devotas de um
66
determinado santo. Em uma mesma localidade, podem ser diferentes os motivos
das homenagens e promessas, e os santos podem ser homenageados com
novenas, ladainhas, festas, danças e mesmo com oferecimento de bebidas
alcoólicas para o santo.
12
Um mesmo santo pode ser reverenciado em diferentes imagens,
correspondendo a uma devoção localizada: Bom Jesus da Lapa, Bom Jesus de
Pirapora, Bom Jesus dos Navegantes. Um mesmo santo pode, portanto, ser
recortado de maneiras diversas, isto é, os devotos podem perceber, qualificar,
representar socialmente um santo. Na medida em que este santo é capaz de influir
em comportamento e crenças dos devotos, ele vai sendo incorporado à tradição.
Segundo Menezes (2005, p. 163), é como “se formasse um repertório de atributos
ou um fundo de representações possível de ser combinado de diferentes formas”.
Novamente citando Menezes (2005, p. 168), “é a plasticidade da figura
do santo, isto é, sua capacidade de passar por transformações, de suportar
projeções e absorver significados, de transformar-se e adequar-se a demandas
variadas, tanto no tempo como em formas locais de apropriação, que garante sua
permanência como um mediador significativo em contextos históricos distintos”.
Os devotos, ao reverenciarem um determinado santo, vêem nele
expressões de mensagens evangélicas: atitude caridosa, martírio, doação pessoal,
mas, no entanto, segundo Oliveira (1983, p. 911), à medida que “o culto se ritualiza
historicamente, tal ligação entre a pessoa do santo e os valores evangélicos que ela
encarnava vai sendo obscurecida pela sua função protetora”. Para ele, existem duas
modalidades básicas de relações entre os santos e os devotos: relação devocional e
relação contratual.
A relação devocional é a relação de aliança entre o santo e o devoto e
se inicia no nascimento de uma pessoa, quando consagrada a um padrinho celestial,
criando entre ambos um compromisso: o dever lealdade em troca de proteção.
Estabelecida esta aliança através do batismo, voto, tradição familiar, ela não é mais
rompida. O devoto, a partir desta aliança com o santo, deve prestar um culto a ele
regularmente, expressando sua devoção de acordo com as particularidades de cada
santo: um terço para Nossa Senhora; pão para Santo Antônio; velas para as almas;
esmola para os cegos, para devotos de Santa Luzia. O santo deve proteger seu
12
Quando criança, ouvi pessoas mais velhas dizerem que alguns santos gostavam de bebidas.Para São Benedito,
alguns fiéis, tempos atrás, ofertavam um copinho de cachaça
67
devoto nesta vida e facilitar o acesso à vida eterna, pois, uma vez estabelecida esta
aliança, ela não se rompe mais.
A relação contratual está associada às promessas. Um contrato
explícito é feito entre o devoto e o santo para obtenção de uma graça. Esta relação
tem um caráter protetor, pois o santo é solicitado nos momentos de perigo,
geralmente, de acordo com suas especialidades: Santa Bárbara, invocada diante de
tempestades; na hora do parto, chama-se por Nossa Senhora do Parto; nas viagens,
reza-se para São Cristóvão; São Lázaro, invoca-se para curar doença da pele;
Santo Expedito invoca-se para causas urgentes e outras.
Nos momentos de crise, os fiéis fazem seus pedidos aos santos,
oferecendo-lhes algum sacrifício como contrapartida ao favor recebido. Estabelece-
se, dessa forma, um sistema de trocas de bens simbólicos, geralmente narrados
como graças alcançadas, envolvendo os fiéis e os santos numa mesma comunidade
lingüística e de sentidos.
Oliveira (1985, p. 79) cita que, após a graça ser alcançada, o
reconhecimento do devoto pode se dar através de uma “reza” em sua casa, do
pedido de celebração de uma missa, da oferta de flores ou velas à imagem do santo
ou da participação do devoto em uma romaria. Mas também o devoto pode cumprir
sua parte através da realização de uma novena, antes que o santo cumpra a dele. O
contrato termina assim que o santo e seu devoto cumprirem suas obrigações. Esta
modalidade difere da relação de aliança que é uma devoção permanente. Pode ser
que, ao fazer uma promessa e ter sucesso com a graça alcançada, o devoto comece
a ver tal santo como um protetor permanente.
Ambas as alianças, de devoção e contratual, têm como característica
principal o relacionamento direto e pessoal do devoto com o santo; pois, ao se
sentirem desprotegidos, os devotos procuram por seus santos.
Nas relações dos devotos com os santos, nos rituais, está
simbolicamente expresso todo o sistema cultural dos devotos. E, a partir daí, podem
surgir as devoções a santos não canonizados, citados por Brandão (1980, p. 207)
como os “Santos do Povo”
13
; a relação entre estes santos e seus devotos segue
caminhos semelhantes ao estabelecido com os santos oficiais da Igreja Católica.
13
Denominação usada por Brandão para designar os santos reconhecidos pela crença e devoção do povo, sem
reconhecimento por parte da Igreja Católica, embora, em alguns casos, seja grande a participação de religiosos
no culto.
68
Lopes (2003, p. 7) diz que
[...] os segmentos populares de devotos, em todas as épocas, nunca
aceitaram passivamente a definição das devoções. Muitos dos
santos canonizados pela Igreja e figurados na imagética religiosa
nem chegaram a ser cultuados ou difundidos amplamente, enquanto
outros se tornaram cultuados e aceitos institucionalmente a partir de
um movimento iniciado na experiência popular.
Para Oliveira (1983, p. 919), o culto aos santos não canonizados não
representa um culto paralelo ao oficial e tampouco um culto contestador, antagônico
ou substitutivo do oficial; trata-se de um culto em que a liberdade expressiva dos
devotos não fica limitada ao código da liturgia oficial, assumindo assim os traços
próprios à cultura de cada grupo ou classe social.
Segundo Steil (19996, p. 36), a popularidade dos santos não
canonizados parece ter sua origem no poder de realizar milagres atribuídos a esses
santos como também na própria dinâmica da participação dos devotos na
construção do santo e este é o assunto a ser abordado no item que se segue.
2.5.5 Santos em construção
Apresenta-se uma reflexão sobre o foco irradiador das devoções, isto
é, os elementos que podem justificar a razão e origem de uma devoção em torno de
um santo, uma personagem que pode perfeitamente nem ter existido historicamente
e que, mesmo assim, em torno dela, muitas construções foram feitas.
Steil (2001, p. 546) menciona que a experiência humana do sagrado é
“vivida pelos videntes e devotos como algo que os ajuda não apenas a situar-se em
meio a crises sociais e políticas, mas também a transcender os limites das soluções
inseridas neste mundo”. Assim, o discurso dos devotos a respeito do santo de sua
devoção é de acordo com o contexto social, onde os atos e significados religiosos
são parte integrante do todo que conhecemos como realidade.
Delooz (1985, p. 189-216), citado por Menezes (2005, p. 165), lembra
que a santidade é uma identidade atribuída a uma pessoa, o santo. Este é assim
69
remodelado a partir das representações sociais feitas a seu respeito pelos grupos
que o consideram enquanto tal.
Há várias maneiras de se estabelecer, de se iniciar uma devoção. A
relação com o santo pode se iniciar a partir dos laços herdados, ou obtidos
“naturalmente” através de uma graça concedida pelo santo – o milagre. Este é
fundamental na relação de uma devoção, pois é, a partir do provável milagre, que a
santidade tende a se construir e se difundir.
Menezes (2005, p. 155) relata que “as narrativas dos milagres de um
santo permitem perceber os poderes que a ele são socialmente atribuídos e as
áreas da vida humana onde sua atuação se concentra”. Assim o milagre atesta a
eficácia e o poder de um santo, estando, portanto, a devoção associada a seu poder
de realização.
Outra maneira de se relacionar com o santo se dá por meio de um
processo de identificação do devoto com o santo. Isso ocorre quando o devoto
identifica características comuns entre ele e o santo. Menezes (2005, p. 236) cita
que “é a partir do que o devoto é, ou do que ele gostaria de ser, ou do que o santo
foi, ou do tipo de característica que até hoje lhe é atribuída que se restaura uma
relação de devoção”.
Menezes (2005, p. 238) diz também que “a relação de devoção envolve
o pragmatismo, isto é, o atendimento dos pedidos que se quer alcançar, mas
também um processo de identificação dos devotos com os santos”.
Isso significa que o devoto pode ligar elementos da vida do santo e
elementos de sua própria vida: alguns atributos do santo, que o devoto assume
como valores positivos, aspectos da biografia do santo que o devoto associa à sua
própria vida. Podem também aqui estar presentes as características como a data e o
local de nascimento do devoto, o fato de alguém da família ter sido ligado ao santo.
Menezes (2005) cita que, por um desses aspectos ou pela combinação
de dois ou mais deles, pode-se iniciar uma relação de devoção no sentido de haver
entre o santo e o devoto elementos de identidade que servem de base para o
estabelecimento de vínculos.
As razões para uma devoção passam, portanto, por elementos
variados como as virtudes da vida do santo, as resignações perante o sofrimento,
sua caridade, os laços familiares do devoto (herdeiro da fé de uma tradição familiar),
70
as graças alcançadas por intermédio do santo. Outro fator que poderá também
justificar a origem de uma devoção é a morte trágica, o assassinato de um santo.
A relação de devoção entre o devoto e o santo pode ter origens
variadas, mas a fé do devoto, a atitude de confiança dele em relação ao sagrado
está sempre presente. O termo “sagrado significa tudo aquilo – pessoa, objeto,
tempo, lugar, coisa – que nos permite ter a experiência do divino e vivenciar a fé”
(LIBÂNIO, 2004, P. 23). A fé do devoto é, portanto, uma convivência, uma relação,
e, assim, a fé surge tanto para se iniciar uma relação com o santo, como também o
resultado da relação, do pedido alcançado.
A partir do exposto até aqui, vê-se que podem perfeitamente existir
várias razões para o surgimento de devoções, muitas construções surgem e são o
que Coluccio (1994) apresenta como “canonizações populares”
14
.
Freitas (2000, p. 198) também justifica as devoções popularizadas ao
fazer referência à participação de devoto na construção do santo, apresentando que
“[...] o santo em construção talvez seja mais promissor para o interesse dos devotos
do que um santo pronto. Ou um pezinho no secular torna mais humano, mais
próximo, como também mais vulnerável e aberto a negociações”.
Os santos em construção para Freitas (2000) são santos incompletos:
muitos dos seus fiéis os vêem como seus próximos não somente porque sofreram
nesse mundo, mas porque sofrem mesmo agora; eles não são os “puros”. Esses
fiéis tomam para si um sentido para completá-los.
Nenhum devoto nega o passado de um santo construído, não nega que
seu comportamento não era exatamente o modo de se comportar de um santo
quando estava vivo, mas isso pouco interfere na crença em seu poder de realizar
milagres.
Para Fernandes (1994, p. 200), o que conta realmente para os devotos
são os feitos pelos quais se manifestam a força da santidade e suas realizações
concretas. “A presença sensível da santidade coloca em segundo plano o valor de
sua história”. Histórias de origens remotas ajudam a compor a figura, mas são
intercambiáveis e não modificam o principal.
14
Termo apresentado por Coluccio para denominar as santificações promovidas pelo povo na Argentina, sem o
reconhecimento da Igreja.
71
Em síntese, os elementos citados que justificam a razão e origem de
uma devoção foram: o poder de realizar milagres; os poderes socialmente atribuídos
ao santo; a identificação do devoto com o santo; o atendimento pelo santo dos
pedidos feitos pelos devotos; as virtudes da vida do santo; as resignações do santo
perante algum sofrimento; as caridades feitas pelo santo; os laços familiares do
devoto; a morte trágica ou o assassinato do santo; a dinâmica da participação do
devoto na construção do santo.
Com todo o exposto até então, pode-se concluir este capítulo dizendo
que a participação do devoto na construção do santo justifica a existência de
devoções não oficiais independente de sua importância para a Igreja institucional,
que, talvez, não seja tão central. Estas devoções populares são os elementos
estruturais do catolicismo popular devocional. E, entre estas devoções populares,
encontra-se a devoção a São Longuinho.
72
3 A DEVOÇÃO A SÃO LONGUINHO
“São Longuinho, São Longuinho, me ajude a achar ... que dou três
pulinhos.”
No Catolicismo popular–devocional, alguns santos são venerados
independentemente de serem ou não canonizados pela Igreja ou de terem uma
história de vida piedosa. Entre esses santos encontra-se São Longuinho.
Em torno de São Longuinho, existe muita devoção criada através do
imaginário popular. Constata-se que muitas pessoas recorrem a São Longuinho
quando perdem algo, quando necessitam de alguma graça.
3.1 Aspectos históricos da devoção a São Longuinho
O soldado Longinus é pretensamente mencionado nos Evangelhos de
Mateus, Marcos, Lucas, João, estando também presente no Martirológio Romano.
Na hagiografia cristã de São Longuinho e em algumas lendas a respeito dele, alguns
autores fazem referência ao santo como o soldado presente na crucificação de
Jesus, relacionando São Longuinho com Longinus, soldado romano.
3.1.1. Longinus e o Novo Testamento
O nome Longuinho deriva de Longinus, nome comum aos mártires dos
primeiros séculos do cristianismo. A palavra “Longinus” é derivada do grego lonkhe,
que quer dizer lança.
Segundo algumas lendas, Longinus teria vivido no primeiro século, foi
contemporâneo de Jesus, e teria sido o soldado que, na crucificação de Jesus, o
reconheceu como filho de Deus. Como soldado, ele tinha suas obrigações militares,
participou de acontecimentos marcantes (crucificação) e recebeu ordens para
perfurar Jesus com uma lança. Após tal ato, arrepende-se, reconhece Jesus como
filho de Deus e torna-se um exemplo de paz e dedicação à pobreza, pregando a
palavra de Jesus com um desprendimento absoluto pelas coisas terrenas.
73
Longinus torna-se uma figura popular no qual provavelmente mesclam-
se tradições e lendas com as citações referentes ao oficial romano mencionado no
Novo Testamento por Mateus, Marcos, Lucas e João, que, a seguir, transcrevem-se.
Mateus
O oficial e os soldados que estavam com ele guardando Jesus, ao
notarem o terremoto e tudo o que havia acontecido, ficaram com
muito medo e disseram: De fato, ele é mesmo o Filho de Deus! (Mt
27, 54)
Marcos
"O oficial do Exército, que estava bem na frente da cruz, viu como
Jesus havia expirado, e disse: De fato, esse homem era mesmo
Filho de Deus!" (Mc 15,39)
Lucas
"O oficial do exército viu o que tinha acontecido e glorificou a Deus,
dizendo: De fato! Esse homem era justo." (Lc 23,47)
João
"(…), mas um soldado lhe atravessou o lado com uma lança, e
imediatamente saiu sangue e água." (Jo 19,34)
Nas citações do Novo Testamento, os evangelistas fazem referência ao
oficial romano do exército que, na crucificação de Jesus, reconheceu Cristo como
filho de Deus, mas nenhum deles citou o nome de Longinus como sendo o do oficial
romano. Não se pretende utilizar os textos citados nos Evangelhos para provar ou
refutar qualquer idéia, justificando ou não uma questão. Os Evangelhos são
considerados instrumentos de orientação espiritual, mas verifica-se que há
diferentes formas e métodos de abordagens do texto bíblico.
74
3.1.2 Longinus no Martirológio Romano
15
Etimologicamente, martirológio quer dizer resenha de testemunhas. Em
sentido restrito, chama-se mártir quem derramou seu sangue pela causa de Jesus,
diferenciando-se de confessor, que designa quem se tornou testemunha de Jesus,
pela prática heróica de virtudes cristãs, até o fim de vida.
Historicamente, martirológio era um fichário ou catálogo que continha o
nome daqueles que, com sangue, abonaram o testemunho de sua fé em Jesus
Cristo.
Os primeiros martirológios constituíam uma espécie de calendário
litúrgico, cujos dados eram retirados das Atas dos Mártires. A partir do século V,
passou a incluir também os santos que não eram mártires, indicando o dia da morte,
o dia do sepultamento, e o da trasladação. Designava também todas as festas do
ano litúrgico. É difícil manter atualizado o Martirológio Romano por ocorrer sempre
canonizações e beatificações. O Martirológio Romano registra cinco santos com o
nome de Longinus, todos mártires, que, a seguir, apresentam-se.
Em 15 de março:
Em Cesaréia da Capadócia, a paixão de São Longino, o soldado
que, segundo a tradição, abriu o lado do Senhor com uma lança.
Em 24 de abril:
Em Nicomédia, os santos mártires Eusébio, Neão, Leôncio, Longino
e outros quatro companheiros, que sofreram duros tormentos, antes
de serem mortos à espada, na perseguição de Dioclesiano.
Em 2 de maio:
No mesmo dia, São Vindemial, bispo e mártir, com os santos bispos
Eugenio e
Longino, combateu contra os Arianos, mediante sua
doutrina e milagres. Então, por ordem de Humérico, rei dos
Vândalos, foi vexado com muitos tormentos, e finalmente degolado.
15
MARTIROLÓGIO Romano: Editado por ordem do Papa Gregório XIII. Terceira Edição Vaticana. Calcada
na primeira edição típica de 1922. Aprovada por Bento XV, 1948.
75
Em 24 de junho:
Em Sátala, na Armênia, os sete irmãos mártires Orêncio, Heros,
Farnácio, Firmino, Firmo, Ciríaco e
Longino. Eram soldados que o
imperador Maximiano expulsara do exército, por serem cristãos. Ele
mandou separá-los, uns dos outros e desviá-los para lugares
diferentes, onde adormeceram no Senhor, consumidos de dores e
tribulações.
Em 21 de julho:
Com ele padeceram outros três soldados, que eram Alexandre,
Feliciano,
Longino.
Dos cinco mártires de nome Longinus citados, o do primeiro São
Longino, "o soldado que, segundo a tradição, abriu o lado do Senhor com uma
lança", é o originário do nome São Longuinho na devoção popular e é comemorado
em 15 de março.
3.1.3 Hagiografia de São Longuinho
Hagiografia é uma palavra derivada do grego. Hagio significa santo e
graphein é equivalente a escrever. É parte da história que se preocupa em estudar e
pesquisar a vida e as lendas criadas em torno dos santos.
Segundo Pontes (2002, p. 9-10), a "hagiografia pode ser crítica e
acrítica. A crítica aparece no início do século XX, por um grupo de jesuítas belgas,
denominados bolandistas, com a finalidade de eliminar toda a parte lendária e
historicamente falsa da vida dos santos católicos, que a hagiografia acrítica sempre
incentivou".
Segundo Pontes, a hagiografia crítica concluiu que alguns santos,
mesmo de grande devoção popular, não tiveram existência na história, sendo figuras
lendárias, como São Cristóvão, Santa Filomena, São Jorge. O Papa João XXIII, sob
a influência deste tipo de hagiografia mandou retirar em 1960, do "Breviário", relatos
da vida dos santos que foram tidos como inverídicos, mas a tradição popular
continuou mantendo suas crenças e devoções.
76
Entre essas devoções populares encontra-se a de São Longuinho, que
não depende da comprovação histórica de dados para comprovar sua santidade
para os seus devotos. É um santo que tem sua história e graças divulgadas através
dos depoimentos espontâneos de seus devotos.
Na hagiografia de São Longuinho, autores como Megale, Jacopo
Varazze, João Batista Lehmann, Buther apresentam-no como
Longino, soldado
romano presente na crucificação de Jesus.
Segundo Megale (2003, p. 149), "Longuinho é uma versão vulgar do
nome Longino, registrado no Martirológio Romano. Foi um santo do primeiro século,
contemporâneo de Jesus".
No Livro de Ouro dos Santos, Megale (2003, p. 149) o apresenta
como:
O soldado romano que perfurou o lado de Cristo com a lança e que,
ao presenciar os estranhos acontecimentos ocorridos no momento
de sua morte, como o tremor da terra seguido de trevas em pleno
dia, as pedras que se quebraram sozinhas, o véu do templo que se
rasgou de alto a baixo, os mortos que se ressuscitaram, reconheceu
que Cristo era na verdade o Filho de Deus.
Ainda segundo relatado no Livro de Ouro dos Santos, após o suplício
no Calvário, para que os corpos não ficassem na cruz no dia de sábado, os judeus
pediram a Pilatos que lhes quebrassem as pernas e que fossem tirados dali. Vendo,
porém, que Jesus já estava morto, um dos soldados lhe abriu o peito com uma lança
e imediatamente saiu sangue e água. Conta a tradição que a água respingou nos
olhos desse soldado curando-o de uma grave doença da vista.
O soldado romano converteu-se ao cristianismo, deixou o exército, a
casa e transformou-se em monge, indo pregar o cristianismo na Capadócia e em
Cesaréia, onde no ano de 58, aproximadamente, sofreu o martírio. Este soldado
chama-se Cássio, e, depois de convertido, foi batizado com o nome de Longino.
Quando pregava o Cristianismo, destruiu, na presença do oficial que o perseguia,
imagens de ídolos com um machado e das imagens saíram espíritos malígnos que
cegaram seu perseguidor. Longino avisou que ele só seria curado se aderisse à
nova religião. Longino orou fervorosamente e o homem recuperou a vista e se
converteu ao Cristianismo.
77
A Legenda Áurea, famoso livro que relata Vidas de Santos, ao se
referir a São Longuinho, apresenta-o como Longino, um dos centuriões que vigiava
a cruz do Senhor por ordem de Pilatos, sendo ele quem perfurou Jesus com a lança
e que, vendo as mudanças repentinas ocorridas no tempo, a escuridão e o tremor da
terra, arrependeu-se e passou a acreditar em Jesus. Segundo relatado no
mencionado livro:
Dizem que isso se deveu ao fato de algumas gotas de sangue de
Cristo terem escorrido pela lança e caído em seus olhos, até então
turvados por doença ou por velhice, e que imediatamente passaram
a ver com nitidez. Renunciou ele a condição de militar e, instruído
pelos apóstolos, passou 28 anos de vida monástica em Cesaréia da
Capadócia, convertendo muita gente à fé por sua palavra e seus
exemplos (VARAZZE, 2003, p. 296).
O padre João Batista Lehmann, no livro Na Luz Perpétua, menciona
que existem vários santos com o nome de Longino. Um deles foi Cássio, o soldado
romano que abriu o coração de Cristo no Calvário e depois de convertido, foi
batizado com o nome de Longino. "Suas relíquias estão em Mântua. É padroeiro dos
ferreiros e sua intercessão é invocada contra moléstia dos olhos. Há também uma
benção especial de São Longino para fazer parar hemorragias provocadas por
ferimentos” (LEHMANN, 2002, p. 110).
A lança com a qual atravessou o peito de Jesus encontra-se
atualmente no Vaticano, segundo o padre João Batista Lehmann. Ela estava em
Constantinopla, guardada na Igreja de Santa Sofia e foi enviada ao Papa Inocêncio
VIII (1484-1492) pelo sultão Bayazed. O dia festejado: 15 de março.
Lehmann cita outro São Longino, Bispo, martirizado na Numídia (norte
da África), vítima da fúria do rei dos vândalos, Humérico, no ano de 489, e seu dia é
05 de maio. Um terceiro São Longino, ainda segundo Lehmann, foi martirizado junto
com São Ciríaco e Santo Esmagardo no dia 08 de agosto. O administrador imperial,
Maximiano, obrigou os cristãos a trabalhar na construção das termas dioclesianas, e
estes foram ajudados pelo diácono Ciríaco, e os seus companheiros Longino e
Esmagardo. Maximiano mandou prendê-los, e eles, no cárcere, realizaram várias
conversões, tendo sido, por isso, decapitados. Seus corpos foram enterrados perto
do lugar da execução e, em 08 de agosto de 303, transladados para Óstia. Ainda
citando Lehmann, São Ciríaco é um dos santos invocados na França contra as
78
doenças dos olhos e ataques do demônio. "Talvez Longino, seu companheiro, tenha
recebido, por associação, o poder de encontrar objetos perdidos".
Outro Longino ainda citado no livro Na Luz Perpétua é um monge que
viveu no século V, num mosteiro próximo a Belém, na Palestina.
3.1.4 Lendas a Respeito de São Longuinho
Lenda é uma narrativa popular inspirada em fatos históricos
transformados pela imaginação ou pela tradição. Segundo Megale (2000, p. 50),
seus heróis são sempre homens ou mulheres consagrados na
história de um país, de uma cidade, ou nas diversas religiões. As
lendas estão sempre ligadas ao tempo ou ao espaço e geralmente se
referem a fatos reais, em torno dos quais a fantasia cria uma série de
coisas irreais e até mesmo inverossímeis.
Megale (2000) cita, como exemplo, Carlos Magno, um personagem
histórico, em torno do qual se criaram acontecimentos que jamais ocorreram e que
assim se tornou conhecido por um lado fantasioso, que é a lenda. Figuras de
cangaceiros, de beatos e heróis vivem cercadas de um mundo imaginativo: Antônio
Conselheiro, Padre Cícero. A história do Negrinho do Pastoreio, que embora ele
nunca tenha existido, é considerada como uma lenda, pois versa sobre um fato
histórico, a escravidão. O diabo também é grande personagem de lendas por
simbolizar a luta entre o bem e o mal e, nas histórias populares, o demônio é sempre
derrotado.
Acerca de São Longuinho, encontram-se lendas que provavelmente
foram se aglomerando em torno dos fatos da existência pessoal do soldado
Longinus. Apresentam-se duas relatadas por Buther no livro A Vida dos Santos e
que são bem semelhantes ao relato de Jacopo Varazze na Legenda Áurea. Walter
Wangerin, no Livro de Deus, apresenta Longino não como o centurião que feriu
Jesus com uma lança e sim como aquele que lhe deu algo para beber atendendo
um pedido de Jesus antes de morrer.
79
A) Lenda relatada por Buther
São Longuinho foi o centurião que, por ordem de Pilatos, esteve de
pé com outros soldados junto à cruz de Cristo; e assim, ao
transpassar com uma lança o coração de Cristo, viu os portentos que
se seguiram, viu o sol escurecendo, presenciou o tremor de terra,
acreditou em Cristo. Todavia, o fato que o influenciou mais, segundo
alguns, foi que, mesmo com a vista fraca pela idade ou por doença,
Longino imediatamente passou a ver claro, assim que o sangue do
Senhor, escorrendo-lhe pela lança, tocou-lhe os olhos.
Com efeito, Longino renunciou à vida militar e, depois de instruir-se
com os apóstolos, foi viver monasticamente em Cesaréia, na
Capadócia, onde, por suas palavras e exemplo, ganhou muitas
almas para Cristo. Levado a julgamento, Longino recusou-se a
oferecer sacrifício, e, por isso, o governador mandou que todos os
seus dentes fossem arrancados e sua língua decepada. Mesmo
assim, Longino não perdeu a fala. Apanhando um machado, quebrou
em pedaços os ídolos, e gritou: "Agora, veremos se eles são
deuses". Nisso, uma legião de demônios saiu dos ídolos e entrou no
governador e seus assessores que, falando palavras confusas e
uivando, tombaram aos pés de Longino. Longino então perguntou-
lhes: "Por que foram os senhores habitar nos ídolos?" Os demônios
responderam: "Onde não se escuta o nome de Cristo nem se faz o
sinal-da-sua-cruz, aí está a nossa habitação".
Nesse meio tempo, o governador prosseguiu vociferando, só que
agora cego. Longino então lhe disse: "Fica sabendo que só ficarás
curado quando me condenares à morte. Mas, assim que, por ordem
tua, eu tiver entregue minha vida, rezarei por ti e para ti alcançarei a
saúde do corpo e da alma". Imediatamente, pois, o governador
ordenou que Longino fosse decapitado. Ora, tão logo isso foi
executado o governador atirou-se no chão ao lado do corpo,
expressando com lágrimas o seu arrependimento. Todavia, nesse
mesmo instante, recobrou seu perfeito juízo, juntamente com a vista,
de modo que findou sua vida praticando todo tipo de boas obras.
(…) Existem várias e diferentes histórias sobre Longino circulando e
dando origem a diferentes festas em diferentes datas. A mais notável
dessas lendas é a de Mântua, pois garante que Longino foi a essa
cidade pouco depois da morte de Cristo, e aí tendo pregado o
Evangelho durante alguns anos, sofreu o martírio. Dizem também
que Longino trouxe consigo um pouco do preciosíssimo sangue
derramado na cruz, uma relíquia que ainda está conservada em
Mântua, juntamente com o corpo dele (BUTHER, 1984, p. 181).
B) Lenda relatada na Legenda Áurea
Longino, um dos centuriões que vigiavam a cruz do Senhor, por
ordem de Pilatos, foi quem perfurou o flanco do Senhor com a lança,
mas, vendo os prodígios que então aconteceram – o sol ficou escuro
e a terra tremeu –, passou a acreditar em Cristo. Dizem que isso se
deveu ao fato de algumas gotas do sangue de Cristo terem escorrido
80
pela lança e caído em seus olhos, até então turvados por doença ou
por velhice, e que imediatamente passaram a ver com nitidez.
Tendo renunciado então à condição militar e sido instruído pelos
apóstolos, ele passou 28 anos de vida monástica em Cesaréia da
Capadócia, converteu muita gente à fé por sua palavra e seus
exemplos. Aprisionado, recusou-se a sacrificar e o governador
mandou arrancar todos os seus dentes, e cortar-lhe a língua, mas,
mesmo assim, Longino não perdeu o uso da palavra, e, pegando um
machado, quebrou todos os ídolos enquanto dizia: "Veremos se são
deuses". Demônios saíram dos ídolos e entraram no governador e
em todos os seus companheiros, que, loucos e latindo,
prosternaram-se aos pés de Longino. Este perguntou aos demônios:
"Por que vocês moram dentro dos ídolos?" Eles responderam:
"Nossa habitação é onde não se fala o nome de Cristo nem se faz
seu sinal".
Dirigindo-se ao governador, enlouquecido e cego, Longino disse:
"Fique sabendo que você só poderá se curar depois de ter me
matado. Logo que eu receber a morte de sua mão, rezarei e
conseguirei para você a saúde do corpo e da alma". No mesmo
instante, o governador mandou que lhe cortassem a cabeça, depois
do que, foi até seu corpo, prosternou-se em lágrimas e fez
penitencia. Imediatamente, recuperou a vista e a saúde e, até o fim
da vida, praticou boas obras (VARAZZE, 2003, p. 296).
C) Outra versão sobre o soldado Longino apresentada por Walter Wangerin, no
Livro de Deus (A Bíblia Romanceada)
O centurião, o mesmo que supervisionou a execução de três homens
próximo a Jerusalém, na sexta-feira da semana da Páscoa,
aposenta-se logo depois. Seus 20 anos de serviço chegam ao final.
Podia ter continuado nas legiões, claro, buscando promoções. Mas
seu espírito não suportava mais o compromisso com a vida militar.
Nem com Roma, na verdade.
Sentia-se, de fato, livre de todas as emaranhadas demandas em que
vivera em sua vida.
Seu nome era Longino.
Contava frequentemente esta história, de como o homem na cruz
central morrera rapidamente, quase como ato de vontade, escolha
que pudesse fazer.
Jesus de Nazaré, o rei dos judeus: houve depois uma tempestade
primaveril, a mais terrível que Longino já presenciara; e então, como
se o mundo emergisse das trevas, Jesus pediu algo para beber e ele,
Longino, tendo previsto o pedido, já vinha com um pouco de vinho
diluído numa esponja. Alçou a esponja até Jesus, que bebeu e
depois lançou ao romano um sorriso de gratidão tão generoso e
impressionantemente pessoal que Longino perdeu o fôlego. "Ser
conhecido dele!", pensou consigo. "Mas como é que esse homem
pode me conhecer?".
Mas então o homem disse algo como: "Está tudo terminado". E sua
cabeça pendeu para a frente, e morreu. Como se decidisse morrer.
Como se o último suspiro não fosse mais difícil que o primeiro tinha
sido. Como fizesse daquele momento notável um presente àquele
que lhe dera algo de beber. A Longino: "Veja aqui. Isto é para você".
81
Portanto, Longino disse: "Sem dúvida, este era o Filho de Deus". E,
embora o tivesse dito espontaneamente, jamais renegou as próximas
palavras. Creu nelas.
Também não estava só. Algumas mulheres assistiam à morte do
homem desde o início. Permaneceram ali mesmo sob a tempestade.
E, no instante em que morreu, elas souberam que era a morte, e se
aproximaram. Fitavam o corpo com olhos mais que afetuosos.
Olhavam-no com anseio tão profundo e indizível que nem
conseguiam chorar.
E, apesar mesmo da dor do anseio, Longino desejava que algo em
sua vida também pudesse significar tudo aquilo para si.
Mais tarde, no mesmo dia, viu novamente aquela expressão de
anseio insondável. Desta vez, nos olhos de um homem. Homem de
alguma riqueza e autoridade.
Cerca de cinco da tarde, Pilatos convocou Longino e perguntou se
Jesus de Nazaré realmente já estava morto.
– "Já", respondeu-lhe o centurião.
– "Mas quê? Em menos de meio dia? Todos os outros levam dias
para morrer.
– "É incomum, mas eu mesmo o vi morrer. Está morto."
– "Suponho que você buscou as provas da morte dele…"
– "Bem, não o teria feito, mas os judeus queriam descer todos os três
da cruz antes do final da tarde. Por causa do sabá.
– "Sei, sei" – falou Pilatos – "Há um sujeito aqui que quer o corpo de
Jesus Nazareno. Membro do Sinédrio deles. José. Quer enterrá-lo
em seu sepulcro. Então você tem certeza de que ele está morto?"
– "Meu senhor, tivemos de quebrar as pernas dos criminosos para
apressar sua morte. Mas Jesus já estava morto. Um soldado
provou-o perfurando-lhe o lado com uma lança. O sangue que
escorreu veio misturado com água."
Pôncio Pilatos, a mão gorducha, fez um gesto despedindo o
centurião.
– "Nunca vou entender esse povo. Nunca. Vá dizer ao tal José que
tem minha permissão. Ele está esperando sob as sombras do portão.
Vá."
Foi nos olhos de José de Arimatéia que Longino viu o anseio pela
segunda vez. Portanto, decidiu acompanhar o judeu.
Voltaram juntos ao lugar chamado GóIgota.
José – homem bem arrumado e ricamente vestido – ajoelhou-se no
chão e desenrolou um tecido de linho. Era uma fazenda cara,
finamente tecida, alva. Depois apoiou
uma escada na parte de trás
da cruz de Jesus. Pegou uma corda e um pé-de-cabra, subiu pela
escada e postou-se atrás do corpo, que ainda pendia dos próprios
braços, afastado do poste. José enlaçou a corda em torno do peito
do morto. Depois, puxando as extremidades por baixo das axilas e
sobre a trave, jogou as duas pontas ao centurião.
Com arrancos súbitos e violentos do pé-de-cabra, José tirou o cravo
do pulso esquerdo de Jesus. O corpo oscilou para a frente,
pendurado só pelo direito. Longino puxou mais forte a corda,
erguendo um pouco o corpo de Jesus. José passou então ao cravo
da direita. O prego rangeu na madeira, e Jesus caiu bruscamente à
frente, preso somente pelo laço. Longino sentiu o peso nas duas
pontas da corda.
– "Segure firme", murmurou José. – "Segure o corpo aí".
82
Desceu da escada correndo e colocou-se debaixo do cadáver inerte,
sob o rosto e a chuva negra dos cabelos do morto. Apoiou o
pé-de-cabra no cravo que furava os tornozelos de Jesus. Longino viu
que o homem chorava quando arrancou o cravo.
Ao abrir os braços para recolher o corpo, lançou um olhar ao
centurião e sussurrou:
– "Agora.
Longino soltou a corda e Jesus veio abaixo nos braços de José, um
nos joelhos dobrados, outro em torno dos ombros. A cabeça caiu
sobre o braço esquerdo do judeu rico. A boca se abriu bem diante do
olhar do membro do Sinédrio, e então novamente Longino viu aquele
anseio sagrado nos olhos do homem.
José de Arimatéia segurava todo o tesouro que tinha neste mundo –
neste mundo e no próximo também.
Pousou seu Senhor sobre o sudário branco. Enrolou o linho em tomo
do corpo.
E lá vinham novamente as mulheres. Ajoelharam-se com flores em
torno do terno trabalho de José, que envolvia o cadáver com a
mortalha. Cada uma delas fez questão de tocar a testa larga e
exangue do morto, antes que também ela fosse envolvida pelo
tecido. Depois ainda observaram os dois homens carregando o
cadáver – José pelos ombros, Longino pelos pés – até o túmulo do
homem rico, sepultura talhada na rocha ao lado de outros jazigos
judeus.
José ajoelhou-se e entrou na sepultura de costas. Longino,
ajoelhando-se também, entrou de frente. Ergueram o corpo até uma
baixa saliência escavada, na rocha, à direita. Saíram e rolaram uma
pedra arredondada sobre um sulco que fora talhado bem à entrada
do jazigo, até que a pesada rocha cobrisse totalmente a porta.
Então terminaram.
Jesus de Nazaré estava enterrado.
Caía a noite. Chegava o sabá.
Mas Longino não o guardava. Não era judeu. Também já não era o
romano que fora outrora. Os acontecimentos daquele dia
inauguraram para ele um tempo de intensa confusão.
Nos dias seguintes, ele fez duas coisas:
Deixou de vez o exército, sem buscar recompensa alguma na saída,
nem uma boa casa no campo onde pudesse aproveitar a
aposentadoria, nem homenagens derradeiras. No que tocava aos
superiores hierárquicos, Longino desaparecera da face da terra.
E então vasculhava Jerusalém, buscando uma criancinha cujas mãos
haviam sido desfiguradas por queimaduras seis meses antes,
menina que quase morreu por conta de um golpe que recebera na
cabeça. A menininha não tinha pais. Sua avó era já idosa e viúva.
Tinha um tio – mas Longino não tinha como saber se ele se sentia na
obrigação de cuidar dela.
Portanto, o romano resolveu que, se a menina estivesse
abandonada, ele mesmo cuidaria dela, como fora sua própria filha.
Pois era ele o homem responsável pelas tribulações e ferimentos
sofridos pela criança.
Se, por outro lado, seu tio a amasse e estivesse afinal cuidando dela,
então Longino ofereceria sua ajuda, como irmão de Barrabás,
segundo tio dessa sobrinha. E, se nem isso fosse possível, então se
ofereceria como servo dos dois (WANGERIN, 1998, p. 760-764).
83
3.1.5 Imagem de São Longuinho em Roma
Neste contexto, deve-se também mencionar que um importante dado
sobre São Longuinho é a imagem que se encontra em Roma na Basílica de São
Pedro. Esta imagem ocupa um dos quatro nichos redondos, na Basílica de São
Pedro, onde foram colocadas estátuas de mais de cinco metros de altura. Datam do
século XVII e se referem à Paixão de Cristo. Uma é a de Santa Verônica,
confeccionada por Francesco Mocchi, outra, da mãe do Imperador Constantino,
Santa Helena, feita por Andréa Bolgi. Em outro nicho, encontra-se a imagem do
apóstolo Santo André, feita por François Duquesnoy.
A estátua de São Longuinho foi esculpida de 1638 a 1639 por Gian
Lorenzo Bernini, que foi um artista barroco (nascido em Nápoles, em 7 de dezembro
de 1598 e falecido em Roma, 28 de novembro de 1680) que trabalhou
principalmente em Roma, distinguindo-se como escultor e arquiteto, tendo sido
também pintor, desenhista, cenógrafo, criador de espetáculos de pirotecnia. Esculpiu
muitas obras de arte, tendo sido o “mais influente de todos os grandes mestres do
Barroco em Roma”, segundo dados
http://pt.wikipedia.org/iki, processados em
12/04/2007.
A estátua foi confeccionada na época do Papa Urbano VIII, pontífice
admirador da arte e que considerava Bernini o artista ideal para realizar o seu
projeto urbanístico e arquitetônico. Este projeto consistia em representar a Igreja
Católica através de obras com caracteres persuasivos, comunicativos e celebrativos.
A sintonia artística entre o Papa Urbano VIII e Bernini pode ser
observada na Basílica de São Pedro, representando o renascimento da Igreja e sua
revitalização moral e espiritual.
Era desejo do Papa que o altar da Basílica de São Pedro fosse coberto
por um baldaquino. Este baldaquino, construído entre 1624 e 1633, é feito em
bronze e está apoiado em uma base de mármore, de onde quatro colunas
espiraladas terminam em um capital com volutas apoiadas no dorso de um delfim,
culminando com um globo e uma cruz. Inspirou-se no baldaquino usado nas
cerimônias da quaresma. A área em volta do baldaquino formada pelas quatro
colunas que sustentam a cúpula, contém os quatro nichos já citados, dos quais um
contém estátua de São Longuinho.
84
Esta obra, segundo Bernini, permite ver a plenitude do estilo barroco,
tratando-se de uma obra comovedora, buscando despertar a devoção
(
http://www.telecable.es/persinales/angel1/escbar/bernini/ongino.htm). Nela, Longino
mostra-se consternado ao descobrir que Jesus era realmente o Filho de Deus. A
figura abre seus braços violentamente, criando, em um de seus braços, um eixo que
é cerrado pela lança e que demonstra assim um diagrama de forças trapezoidais. O
rosto mostra grande expressividade talvez de “descobrimento”, de arrependimento e
as pregas das roupas da estátua se encontram enroladas de maneira arbitrária,
como se tivessem atingidas por um sopro divino, ocultando a anatomia da figura e
criando um jogo de claro e escuro.
A estátua de São Longuinho da Basílica de São Pedro, retrata bem
uma das características de Bernini: representar as características humanas,
imobilizando um momento da vida.
É uma representação de São Longuinho como soldado romano. É uma
imagem em estilo erudito semelhante ao das imagens clássicas da Igreja Católica.
3.1.6 Imagem de Longinus no Crucifixo de São Damião
O Crucifixo de São Damião tem sua origem no século XII e foi pintado
por um artista desconhecido da Úmbria, região da Itália. Foi pintado num pano
colado sobre madeira (nogueira) e a pintura é de estilo romântico, com influência
oriental, mede dois metros e dez centímetros de altura e um metro e trinta
centímetros de largura e tem 12 centímetros de espessura.
É possível que o crucifixo tenha sido pintado para ser posto na Igreja
de São Damião. Naquele tempo, nas pequenas igrejas, o Santíssimo não era
conservado, isto é, a Eucaristia não era guardada, mas consumida no dia. Por isso,
supõe-se que o crucifixo tenha sido pendurado no abside sobre o altar da capela, no
centro da Igreja.
Provavelmente, o Crucifixo permaneceu na Igreja de São Damião até
que as Irmãs Clarissas, em 1527, o levaram para a nova Basílica de Santa Clara.
Guardaram-no no interior do coro monástico por diversos séculos. No ano de 1938,
o artista plástico Rosário Alliano restaurou o Crucifixo. Em 1957
(http:/franciscodeassis.no.sapo.pt/bizantino.htm acesso em 13/04/2007), foi
mostrado ao público pela primeira vez, na Semana Santa. Desde 1958, ele está
85
sobre o altar, ao lado da capela do Santíssimo, na Basílica de Santa Clara, protegida
por vidro.
Através deste Crucifixo de São Damião, Francisco de Assis teve uma
inspiração “decisiva” para a sua vida, segundo Frei Vitório Mazzuco
(
http://www.franciscanos.org.br/carisma/simbolos/crucifixo.php acesso em
13/04/2007).
O jovem Francisco encontrava-se numa crise espiritual, cheio de
dúvidas e de trevas. Conduzido pelo Espírito, entra na igrejinha de
São Damião, onde se prostra, suplica, diante do crucifixo, tocado de
modo extraordinário pela graça divina, encontra-se totalmente
transformado. É então que a imagem de Cristo Crucificado lhe fala:
“Francisco, vai e repara minha casa que está em ruína”.
Francisco fica cheio de admiração e “quase perde os sentidos diante
destas palavras”. Mas logo se dispõe a cumprir esse “mandato“ e se entrega todo à
obra, reconstruindo a igrejinha. Depois, pede a um sacerdote, dando-lhe dinheiro,
que providencie óleo e lamparina para que a imagem do Crucifixo não fique privada
de luz, mas que se destaque. A partir de então, nunca se esqueceu de cuidar
daquela igrejinha e daquela imagem.
Neste crucifixo, além da figura central de Cristo, que está ereto sobre a
cruz, e não pendurado nela, e com os olhos abertos, encontram-se também outras
figuras que o circundam e estão todas voltadas para Ele, representando estas
figuras, todos aqueles que participaram da Paixão de Cristo. Entre estas figuras,
encontra-se uma com a designação “Longinus”. Longinus é uma das figuras
menores e está localizada aos pés de Maria e João e com o olhar voltado para
Cristo.
Apesar de não terem sido encontrados mais dados sobre esta figura,
ela é significativa para esta pesquisa, demonstrando um registro histórico sobre o
soldado Longinus (Anexo nº 1).
3.2 A presença da devoção a São Longuinho no Brasil
São Longuinho é cultuado desde a Idade Média, pois livros antigos,
como a Legenda Áurea, citam lendas a respeito dele naquela época. Estes livros,
escritos em um século em que reinava no Ocidente grande entusiasmo pela vida
religiosa, refletem a importância dada ao culto aos mártires dos primeiros séculos, e
86
muitos destes mártires passaram a ser celebrados pela devoção popular e pela
liturgia.
Nota-se que São Longuinho, santo muito falado e invocado pelo povo,
não tem uma biografia especifica que conste referência à sua morte e martírio, os
dados são quase sempre populares e o relacionam ao centurião romano que estava
presente na crucificação de Jesus.
Seguindo o calendário romano, São Longuinho, no Brasil, é
comemorado no dia 15 de março. Segundo a devoção popular, é um santo que
ajuda a achar objetos perdidos, quando se promete a ele, imediatamente após o
achado, três pulinhos e/ou três gritinhos.
A devoção já é bastante antiga no Brasil, tanto assim, que Cascudo
(1962), em sua obra, já faz referência a São Longuinho, salientando que trata-se de
“um santo do devocionário popular, especialmente no Nordeste do Brasil, onde as
crianças do sertão lhe prometem três gritos, na maioria dos casos, se o objeto
perdido for encontrado". As crianças, quando perdem alguma coisa, são instruídas a
fazer uma promessa a São Longuinho, nos seguintes termos:
Meu São Longuinho, se eu achar o que perdi, dou três saltos, três
gritos, três assobios. Achado o objeto perdido, a promessa é
imediatamente paga com estridência (CASCUDO, 1962).
Conhecido também como Longino, segundo Megale (2002, p. 110),
é representado com uma roupa rústica, com capuz cobrindo a
cabeça, tendo uma sacola no ombro, a tiracolo. Com a mão
esquerda, segura um bastão e, com a direita, um lampião, como se
estivesse iluminando o caminho para encontrar alguma coisa.
Na religiosidade popular brasileira, São Longuinho é conhecido como o
santo dos três pulinhos, e as inúmeras histórias contadas a respeito sempre o citam
como o santo que é invocado para achar "coisas perdidas".
A religiosidade popular sempre tende a aumentar as coisas, "quem
conta um conto aumenta um ponto" e, assim, deve-se ter presente a distinção entre
santos com existência histórica comprovada e santos construídos. Os primeiros são
pessoas concretas, das quais se conhece a vida, a história e, por isso, são
apresentados como modelos aos devotos. Os santos construídos, por sua biografia
87
pouco conhecida, são facilmente, na maioria das vezes, produzidos pela imaginação
popular, que neles projeta seus anseios e preocupações. Estes santos são
admirados pelo poder que se julga terem de intercessão e de realização de milagre.
O elemento lendário tende a cobrir as lacunas históricas e "até acontece que, à
hagiografia do santo, se mistura a 'biografia do povo', com seus sonhos e
esperanças, seu modo de pensar, suas alegrias e aflições" (MEGALE, 2002, p. 110).
A partir do momento que isso acontece, os santos são uma criação da piedade
popular, nem sempre coerente com os dados objetivos da história.
Quanto a São Longuinho, como já referido, a parte histórica (a
realidade) é constituída pelo relato dos quatro evangelistas e a presença dele no
Martirológio Romano e a parte construída (o mito) é formada pela devoção popular
que se baseia na promessa de se darem três pulinhos ao se encontrarem objetos
perdidos. As duas partes, com o passar do tempo, foram se cruzando, se
interpenetrando, se completando, e, no Brasil, São Longuinho está sendo
mencionado até mesmo em “novelas de TV”, existindo imagens do santo que
diferem da imagem do histórico de Roma.
3.2.1 Locais com imagens de São Longuinho em Igrejas
No Brasil, até 2007, as únicas igrejas com imagens de São Longuinho
são Igreja Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas de Campos – MG e Igreja de
Nossa Senhora da Escada, em Guararema – SP.
a) Igreja de Bom Jesus de Matozinhos
A Igreja de Bom Jesus de Matozinhos está situada na cidade histórica
de Congonhas, conhecida pelas obras de Antônio Francisco Lisboa, O aleijadinho.
A construção da Igreja de Bom Jesus de Matozinhos iniciou-se em
1757, por iniciativa do português Feliciano Mendes, que, acometido de grave
moléstia e impossibilitado de prosseguir no trabalho de mineração, recorreu ao
Senhor Bom Jesus de Matozinhos, prometendo pôr-se para o resto da vida a seu
serviço se recuperasse a saúde. Atendido, inicia a construção da igreja, inspirando-
se no Santuário do Bom Jesus de Matozinhos, em Portugal. Hoje essa igreja é
conhecida como Basílica do Senhor Bom Jesus de Matozinhos.
88
Segundo dados,
a partir de 1758, os melhores artistas do grupo mineiro da época
trabalharam no Santuário. A capela-mor, obra de Francisco Lima,
com talha de Antunes da Costa, foi concluída em 1779. Os altares
laterais foram entalhados por Jerônimo Félix Teixeira, dourados e
pintados por João de Carvalho e Bernardo Pires da Silva. Em 1779-
80, João Nepomuceno Correia e Castro pintou o forro; de sua autoria
também são os quadros da capela-mor. Os dois anjos do altar
principal são de Francisco Vieira Servas. Em 1819, as pinturas da
capela-mor foram retiradas por Manuel da Costa Ataíde
(obtidos na
Monografia nº 283/Congonhas, 1965)
.
Em 1796, Antônio Francisco Lisboa – O Aleijadinho – inicia o trabalho
em Congonhas. Foi contratado para esculpir os “Passos da Via Sacra” (São 66
esculturas em madeira cedro) e os doze projetos em pedra-sabão. Além dessas
obras de Aleijadinho, que fizeram do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos a “mais
alta expressão do Barroco mineiro”, mais três obras chamam a atenção dos turistas
em Congonhas: 1) O Cristo, uma das obras-primas de Aleijadinho; 2) O Frontispício
da Igreja Basílica que projeta uma ilusão de ótica (quando se cerram os olhos,
forma-se o rosto de Cristo no frontispício da porta da Basílica; 3) A imagem de
São Longuinho no interior da Basílica
16
.
(
http://www.santamuseu.com.br/enfoco.asp?id=10657 acesso em 14/04/2007).
Esta imagem de São Longuinho está localizada no altar-mor da
Basílica de Bom Jesus de Matosinhos, representando São Longuinho como um
soldado romano. Segundo informações, não existe uma devoção específica a São
Longuinho em Congonhas. Não se tem notícia de que devotos vão a Congonhas à
procura de São Longuinho, provavelmente nem sabem da existência da imagem na
localidade. A devoção dá-se em torno de Bom Jesus de Matosinhos. As pessoas
ficam sabendo da imagem de São Longuinho por intermédio do guia, no interior da
Igreja. Este, ao ser entrevistado, informou que não há dados específicos sobre o
santo. Ele diz que a imagem é de São Longuinho, porque está escrito aos pés dela,
e sempre esteve localizada lá, mas não se encontrou nenhum registro a respeito. Na
Igreja, informaram que é uma imagem de São Longuinho, feita por Aleijadinho.
16
Livro Congonhas – MG/Patrimônio Cultural da Humanidade
89
b) Igreja de Nossa Senhora da Escada
A Igreja de Nossa Senhora da Escada está situada no Bairro Freguesia
da Escada, na cidade de Guararema – SP. Esta igreja, até março de 2007 (início
das obras de restauração da igreja), tinha um oratório com imagem de São
Longuinho em seu altar principal, motivo de devoção na localidade. Algumas
imagens de São Longuinho, diferentes desta do oratório também ficavam localizadas
em uma mesa, no altar principal para serem comercializadas.
Como esta imagem do oratório é motivo de irradiação da devoção a
São Longuinho em Guararema, local que recebe atualmente romeiros à procura da
Igreja de Nossa Senhora da Escada para visitar, fazer pedidos ou agradecer a São
Longuinho, foi desenvolvido um capítulo referente a essa imagem e à Igreja onde
está localizada na segunda parte desta tese.
Diante do exposto até aqui sobre a devoção a São Longuinho, pode-se
ver que a devoção ao santo é popular e antiga e, ao mesmo tempo, atual, sendo
Guararema o novo lugar da irradiação da devoção, e que há diferenças entre as
imagens de São Longuinho encontradas nas Igrejas e nenhuma delas é a imagem
popular que se encontra no comércio para venda.
3.2.2 As Imagens de São Longuinho
Durante o desenvolver da pesquisa, tomou-se conhecimento de três
tipos de imagens referentes a São Longuinho: como soldado, como monge ou
franciscano e em forma de pessoa. Representando um soldado romano, um
centurião, as imagens de Roma, de Congonhas e uma das imagens encontradas na
Igreja de Nossa Senhora da Escada, para comercialização. Como monge ou
franciscano, as imagens encontradas no comércio para venda e na internet e, em
forma de pessoa, a imagem do oratório da Igreja de Nossa Senhora da Escada,
motivo da devoção na localidade.
Esses três tipos de imagens se desdobram em seis imagens que
abaixo se descrevem:
90
1. Imagem localizada no Vaticano, em Roma, representada por um
soldado romano.
2. Imagem localizada no Santuário de Bom Jesus de Matozinhos, em
Congonhas – MG, também representando um soldado romano.
Detalhe
91
3. Imagem de São Longuinho representando um soldado romano, em
Guararema – SP.
4. Imagem de São Longuinho como monge, encontrada no comércio e
também apresentada na internet, no site http://www.google.com.br
92
5. Imagem de São Longuinho, motivo da devoção em Guararema,
localizada no altar-mor da Igreja Nossa Senhora da Escada
6. Imagem de São Longuinho semelhante à do oratório, feita
recentemente e colocada à venda na II Festa de São Longuinho no ano de 2004
Vê-se que essas imagens representam São Longuinho de três formas:
como soldado, como monge, em forma de pessoa comum. Existe uma
interdependência entre essas imagens, sendo São Longuinho representado como
soldado romano pela imagem do Vaticano, pela imagem do santuário de Bom Jesus
do Matozinhos, em Congonhas – MG, e pela imagem de Guararema - SP,
comercializada na Igreja de Nossa Senhora da Escada. As imagens que
representam São Longuinho como monge ou franciscano são encontradas em
diversos locais comerciais e na internet também para venda.
93
A imagem do oratório, localizado no altar principal da Igreja de Nossa
Senhora da Escada, em Guararema, apresenta um estilo mais popular,
representando uma pessoa, diferentemente do estilo das outras imagens. A imagem
do Vaticano tem um estilo mais erudito, semelhante ao das imagens clássicas da
Igreja Católica, já a imagem em Congonhas foi confeccionada no estilo barroco.
Como essas duas últimas imagens citadas não são, até o momento, motivo de uma
devoção significativa, de um culto específico, não se deteve em maiores detalhes a
respeito delas.
Na internet, os sites a respeito de São Longuinho mostram a expansão
da devoção no Brasil. A internet permite que os devotos de São Longuinho
transmitam sua fé para outras pessoas ou grupos com culturas e mentalidades
diferentes.
Muitos sites divulgam São Longuinho fazendo referência ao santo para
achar objetos perdidos e, geralmente, a promessa é paga com três pulinhos e/ou
três gritinhos. O santo é invocado também para proteção, saúde, amor, questões
financeiras, conjugais, enfim para soluções de problemas do dia-a-dia. O santo é
solicitado em diversas áreas, talvez porque seus devotos queiram se sentir mais
seguros em todos os momentos difíceis. Nos pedidos e agradecimentos, está
presente também uma ligação permanente do devoto com o santo, pois, ao
agradecer uma graça, o fiel solicita outra.
Encontram-se muitos sites repetidos a respeito de São Longuinho na
internet. Muitos, ao lançarem os sites, estão querendo divulgar o santo e agradecer-
lhe graças, como também estão intencionados a dar um alerta aos seus
semelhantes no sentido de transmitir uma vida melhor.
São Longuinho, nos sites, está presente na busca da relação das
pessoas com Deus, não nos moldes tradicionais, mas de uma maneira nova, a partir
da realidade histórica que se vive. Busca-se consolo em qualquer devoção, mesmo
na virtual, em que o importante nesta nova experiência religiosa é a revalorização da
dimensão sagrada que existe em todo ser humano.
A seguir, apresentar-se-ão imagens de São Longuinho encontradas na
Igreja de Nossa Senhora da Escada.
94
3.2.3 As imagens de São Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada
Na Igreja Nossa Senhora da Escada, até março de 2007, encontram-se
três tipos de imagens referentes a São Longuinho. No oratório localizado no altar-
mor, conforme já mencionado, ficava a imagem “achada”, cultuada pelos moradores
e motivo da presença constante de visitantes, excursionistas, de curiosos, de
devotos, enfim, motivo da devoção em Freguesia.
Localizadas em uma mesa, também no altar principal, observam-se as
imagens de São Longuinho como soldado romano. Estas imagens, segundo
informações de pessoas que zelam pela Igreja, foram feitas com a autorização do
padre, uma vez que São Longuinho era um soldado e “a imagem existente do santo
no Vaticano é referente a um soldado romano”. Esta era a imagem vendida na Igreja
com a autorização do padre. As pessoas que compareciam à Igreja, devotos,
curiosos, começaram a solicitar uma imagem de São Longuinho para comprar, para
levar para casa e assim surgiu a idéia de ser colocada à venda uma imagem de São
95
Longuinho como “soldado”, uma vez que assim é a imagem do Vaticano – “São
Longuinho como Guarda”.
Próxima à imagem do oratório, algumas vezes é encontrada uma
pequena imagem que consta ser de São Longuinho como monge ou franciscano,
que é trazida à Igreja por devotos em cumprimento de promessas. Esta imagem,
que contém a inscrição do vocábulo “profeta” gravada nela, em Freguesia, é vendida
em uma lojinha próxima à Igreja.
Em 2004, na Festa de São Longuinho, réplicas da imagem do oratório
foram colocadas à venda após terem sido benzidas pelo padre. A confecção dessas
imagens foi encomendada por um “político de Guararema”
17
, o qual afirmou que, há
tempos, ele aguardava autorização do clero para fabricar tal imagem (Anexo nº 4,
Entrevista V 3).
Ao ser entrevistado, ele relatou que pretendia comercializar a imagem
na Festa de São Longuinho de 2004, o que se concretizou. Segundo ele, houve
autorização do bispo para que a imagem fosse vendida, mas antes deveria ser
“benta”.
Na referida festa, em março de 2004, as peças chegaram a Freguesia
pouco antes de a procissão sair da Igreja. Membros da comunidade e da pastoral
esperavam ansiosos pela chegada das imagens. Ao chegarem, foram embaladas
uma a uma em sacos plásticos e levadas para o local onde seriam “bentas”. Em
seguida, ficaram expostas na barraca de venda de artigos religiosos e pôde-se
observar que muitos se aproximavam para conhecê-la e poucos a adquiriram. A
procura se dava pela imagem de São Longuinho conhecida como frade, monge ou
franciscano, que não era comercializada no local. A loja próxima da Igreja, que
comercializava tal imagem, estava fechada, mas a imagem podia ser encontrada
numa barraca ambulante, montada em rua próxima à Igreja, mas fora do local
apropriado para o comércio da Festa de São Longuinho.
Apesar de existirem três tipos de imagens de São Longuinho, a
devoção existente lá se dá em torno da imagem do oratório, a imagem “achada”. A
esta imagem “achada” e a sua trajetória em Freguesia foi dedicada a segunda parte
desta pesquisa.
17
João Augusto Figueredo da Silva (Assessor da Secretaria de Cultura de Guararema / candidato a vereador em
2004).
96
SÍNTESE
Nesta primeira parte – A Construção do objeto –, abordou-se o
referencial teórico para o suporte do estudo, que foi constituído por três capítulos.
No primeiro capítulo – O processo da pesquisa –, justificou-se a
escolha do tema pesquisado e dos objetivos da pesquisa, mostrando a intenção de
se fazer uma análise da devoção a São Longuinho em Freguesia, estudando a
dinâmica, sentidos e interesses que compõem tal devoção, enfim, estudando a
construção e reconstrução da devoção existente na Igreja de Nossa Senhora da
Escada, em Guararema, no Bairro Freguesia da Escada.
Apresentaram-se também as características gerais da pesquisa e
trabalho de campo, em que se mencionou que o referencial metodológico que
embasou a pesquisa foi a abordagem socioantropológica, a metodologia qualitativa,
utilizando-se das técnicas: observação participante, entrevista, história oral, análise
de documentos.
A pesquisa teve por base a concepção de Eliade (1992, p. 17) sobre o
sagrado, pois, para ele, o homem só toma conhecimento do sagrado porque este se
mostra totalmente diferente do profano e a esta manifestação do sagrado ele
denomina Hierofania. A concepção de religião adotada foi a da religião como
construção cultural, baseada em Geertz (1987, p. 104-105).
Apresentaram-se, em seguida, os autores cujos textos sobre religião,
catolicismo popular e devoção permitiram uma reflexão sobre o surgimento e fatores
propícios à devoção. Finalizando, no item observações sobre o campo da pesquisa,
foi feita uma tentativa de se apresentar todo o processo da pesquisa com os ensaios
e possíveis erros cometidos e também com os impasses etnográficos ocorridos
durante a realização do trabalho de campo.
No segundo capítulo – A Construção da devoção –, o objetivo foi de
levantar aspectos da dinâmica da participação do devoto na construção do santo.
Abordaram-se algumas considerações sobre o catolicismo brasileiro, situando aí o
catolicismo popular, e conceituando-o como catolicismo popular devocional, o
catolicismo do devoto que cultua o santo de sua devoção, caracterizado pela intensa
participação do leigo e cujo núcleo central da devoção é o santo. Apresentaram-se,
em seguida, algumas características desse catolicismo popular devocional, com
97
reflexões sobre cultura, relações devocionais entre o santo e o devoto e abordando
a questão “Santos em Construção”.
O terceiro capítulo – A devoção a São Longuinho – foi também
descritivo, o qual mostrou os aspectos da devoção a São Longuinho em geral e
especialmente no Brasil, onde é conhecido como o santo dos três pulinhos ou três
gritinhos. Abordaram-se os aspectos históricos da devoção a São Longuinho, que é
uma devoção popular e antiga, cujo nome é Longinus, que, com o passar dos anos,
se transformou em Longuinho. Este teria sido um soldado romano que esteve
presente na crucificação de Jesus, reconheceu Jesus como “Filho de Deus”, sendo
também identificado como o soldado que perfurou Jesus com uma lança,
provavelmente pelo fato de o nome dele significar “lança”.
Mencionou-se, ainda, neste item, a presença do nome Longinus no
Novo Testamento, no Martirológio Romano, apresentando a hagiografia de São
Longuinho segundo alguns autores, ressaltando que a presença de uma imagem de
São Longinus em Roma, datada de 1639, também é um dado histórico importante.
Em seguida, elementos da história da devoção no Brasil foram
apresentados, mostrando a devoção existente em Guararema, cidade do interior
paulista que tem uma imagem de São Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da
Escada, no Bairro Freguesia. Citaram-se também as três imagens de São
Longuinho, das quais se tomou conhecimento durante a realização do estudo, com a
explicitação de que a pesquisa refere-se à imagem do oratório da Igreja de Nossa
Senhora da Escada, pois esta é o motivo da irradiação de uma devoção no local e
região, e é da trajetória dessa imagem, encontrada em um armário e levada para o
altar, que trata a segunda parte desta tese.
98
PARTE II – A TRAJETÓRIA DE SÃO LONGUINHO EM FREGUESIA: DA GAVETA
AO ALTAR
“Santo que o povo cria e festeja, está nos
lugares que o povo escolhe. Os centros
de romaria, quero dizer, o lugar do
santuário, principalmente a casa ou o
local de ex-votos, tornaram-se lugares
santos para o povo, lugares dele, onde se
sentem à vontade, porque o povo os faz
como focos irradiadores do poder
sagrado” (ROLIM, 1978, p. 83).
99
4 CONTEXTUALIZANDO A IGREJA DE NOSSA SENHORA DA ESCADA
A Igreja de Nossa Senhora da Escada está localizada em Guararema,
cidade que se encontra a 70km de São Paulo. Guararema é uma palavra que em
tupi-guarani significa pau fedido, árvore que fica às margens do rio Paraíba e tem
um cheiro parecido com o de alho, conhecida como árvore do pau d'alho. Devido à
grande quantidade dessa árvore na região, a cidade recebeu o nome de Guararema.
Tem uma população de, aproximadamente, 22.000 habitantes concentrados numa
área de 282 km
2
.
A Igreja de Nossa Senhora da Escada está situada no bairro Freguesia
da Escada a 3,5km do centro da cidade, bairro onde começou o povoamento de
Guararema. O passado deste povoamento, no que tange aos primeiros séculos de
colonização, é obscuro por falta de documentos e mesmo por divergências de
autores quanto às origens do aldeamento em suas interpretações. Leite (1945, p.
231-232) relata que, de concreto, "sabe-se apenas que já existia o aldeamento no
século XVII".
Uma vez que a imagem de São Longuinho está localizada na Igreja de
Nossa Senhora da Escada e não se têm dados específicos a respeito do surgimento
de tal imagem nesta igreja, viu-se a importância de se apresentar um breve histórico
do local onde se encontra a Igreja de Nossa Senhora da Escada, que possui a
imagem de São Longuinho no altar.
4.1 Histórico da Igreja de Nossa Senhora da Escada
A aldeia de Nossa Senhora da Escada, segundo Kempf (1959), tem
seu princípio ligado ao nome de Gaspar Cardoso, capitão-mor de Mogi das Cruzes.
Ele trouxe do sertão grande número de índios capturados, outros aliciados e, assim,
o aldeamento surgiu em meados do século XVII. A aldeia, situada na margem do rio
Paraíba, passou a pertencer ao rol das aldeias do Padroado de grão-mestre da
Ordem de Cristo, que estava unido à Coroa. Eram chamadas de aldeias do Real
Padroado ou d'el-Rei.
100
Segundo Kempf (1959, p. 14), o nome de Escada está ligado à Igreja:
(…) tomou o nome de seu templo – humilde construção de pau-a-
pique fora levantada 'em algum tempo', sob a invocação de Nossa
Senhora da Escada, na linguagem popular, ou Nossa Senhora da
Apresentação, terminologia eclesiástica.
No histórico fixado em uma pilastra dentro da Igreja, consta que o
aldeamento da Escada foi entregue para os jesuítas em 1625 e que, em 1652, os
padres jesuítas ergueram a capela. Não consta do histórico referência a nenhuma
fonte documental e, segundo moradores, ele foi retirado da internet. Estes dados
coincidem com os relatos quanto à origem da cidade de Guararema apresentados em
uma revista publicada por ocasião dos cem anos da cidade:
(…) e o povoado foi surgindo, provavelmente com a presença dos
jesuítas que, junto com os índios e colonos, construíram, em 1652,
uma igrejinha, erguida em uma colina à beira do rio Paraíba – Igreja
Nossa Senhora da Escada
18
.
A explicação para o nome "Escada" é variada: atribuem-no à existência
no local de uma escada tosca no barranco do rio. Segundo moradores da Freguesia
da Escada, os índios aldeados eram submetidos à catequese e tinham dificuldades
em compreender o papel da Virgem Maria na religião. Os missionários usavam,
portanto, de uma imagem concreta – a Escada: Nossa Senhora era a medianeira, a
intercessora entre o homem e Deus. A Escada era o símbolo tangível da
possibilidade de o homem se redimir de suas culpas e subir purificado ao céu. Esta
idéia teria sido conservada e repetida pelos índios e, com o passar dos anos,
deturpações foram ocorrendo nas transmissões, de geração para geração.
Em 1860, dois séculos depois, o jornalista e viajante Augusto Emílio
Zaluar, de passagem pela Escada, escutou tradição semelhante. "O nome do lugar
provinha de velha superstição dos Índios, pois eles costumavam colocar uma
escada ao pé das sepulturas para assim facilitarem a subida das almas dos índios
mortos" (ZALUAR, 1983, p. 8).
18
REVISTA em Edição Especial Comemorativa do Centenário da Cidade de Guararema. São Paulo. Editada
pela Prefeitura Municipal de Guararema, 1998, p. 8.
101
Governava a aldeia um administrador secular nomeado pelos
governadores. Os índios ficavam sob o comando do capitão-mor e do sargento-mor,
oficiais escolhidos entre os homens da aldeia, e esta era distrito de Mogi das
Cruzes. Escada era da alçada do ouvidor-geral da comarca de São Paulo. Assim, a
aldeia estava subordinada ao governador que, com patente de capitão-general,
administrava a capitania. Desse modo, muitos mandavam na aldeia da Escada.
A assistência religiosa era precária e quase não havia a presença de
sacerdotes, uma vez que estes estavam com muito serviço e também não falavam a
língua dos índios. Os religiosos franciscanos e os carmelitas, que tinham convento
em Mogi das Cruzes, administravam sacramentos e rezavam missas
esporadicamente. Kempf (1959, p. 15), ao discordar de autores que acreditam na
possibilidade de os jesuítas terem trabalhado na Escada, justifica:
Quem afirma terem os jesuítas trabalhado nela, confunde-a com a
aldeia de Nossa Senhora da Escada de Barueri, que, por algum
tempo, foi socorrida pelos padres da Companhia.
Em 1691, o rei Dom Pedro II proibiu a administração civil das missões
e conseqüentemente as aldeias foram entregues às Ordens Religiosas. Na aldeia da
Escada, nessa época, o número de índios era reduzido e nenhuma ordem religiosa
assumiu a administração.
Em 1721, pertenciam à aldeia da Escada apenas 61 índios. Resolveu-
se suprimir a aldeia, por ter menos de 100 casais de índios (que era o mínimo
estipulado pelo alvará de 1700), e mandar os índios da Escada para a aldeia de São
Miguel, que era a mais próxima. A Câmara de Mogi das Cruzes reagiu, convocou os
índios e foram a São Miguel, forçando a entrega dos índios e alfaias da Escada que
para lá foram levados.
Após 1721, a aldeia da Escada foi se repovoando, mas a assistência
religiosa continuava sem solução; embora as ordens religiosas ajudassem na
medida do possível. Kempf (1959) cita a presença de Frei Francisco de Assis,
franciscano, e Frei Ângelo da Encarnação, dos carmelitas descalços, dando
assistência esporadicamente em Escada.
A igreja ficava a maior parte do tempo somente em poder dos índios e
não continha os parâmetros exigidos pelo bispo e, por este motivo, por ocasião da
chegada do visitador diocesano, quase foi fechada e derrubada. Na época, o
102
administrador da aldeia, Sebastião de Siqueira Caldeira, conseguiu demover esta
medida drástica e um edital foi feito para que, dentro de um ano, todos os
ornamentos necessários estivessem prontos e que os índios cooperassem, se
necessário, até mesmo tirar esmolas no distrito de Mogi das Cruzes.
Os índios e o seu administrador, Sebastião de S. Caldeira, não
mediram esforços e tudo indica que chegaram a construir nova capela, dado o
estado precário da anterior, terminando em fins de 1732. Segundo Kempf (1959),
Sebastião Caldeira levantou nova igreja e a evidência dessa afirmação reside no
fato de a atual construção não ser de parede de mão e sim de pilão. O relato de
Sebastião Caldeira sobre o que se executou na Escada era: "Tenho reedificado a
igreja, a minha custa, por servir a Nossa Senhora e a sua Majestade. Estava já para
cair no chão, por ser feita de parede de mão, em algum tempo" (KEMPF, 1959, p.
16).
Os representantes das aldeias solicitavam padres de Ordens
Religiosas de preferência carmelitas, do Convento de Mogi das Cruzes. A aldeia de
Nossa Senhora da Escada recebeu os franciscanos apelidados de Capuchos em
agosto de 1734. Estes encontraram uma "aldeia desmazelada e mal criada",
segundo Frei Walter, enfrentando vários atritos com os índios.
Em 1739, o governo passou definitivamente a administração das
aldeias para os franciscanos. Durante, 70 anos, a Aldeia de Nossa Senhora da
Escada ficou sob os cuidados da Província Franciscana da Imaculada Conceição,
tendo a administração temporal até 1758 e assistência religiosa até 1804.
Nos livros de batizados, tanto de Mogi das Cruzes como de Escada,
constam os nomes de 38 franciscanos que trabalharam na missão à
margem do Paraíba, entre brasileiros e portugueses. (KEMPF, 1959,
p. 15)
Na Escada, por um período maior de tempo (apesar de a Ordem de
São Francisco transferir com muita freqüência seus missionários), trabalharam Frei
Diogo dos Anjos Parnaíba, Frei Francisco dos Remédios e Frei Francisco do Amparo
de Jesus Maria.
O Museu da Cúria Metropolitana em São Paulo guarda, provenientes
da época dos franciscanos na Aldeia da Escada, uma Custódia-Cibório de prata
lavrada, um cálice, três coroas e três resplendores, em prata e no estilo barroco.
103
Desta época dos franciscanos, também se encontra atualmente, na Igreja, um altar
que ostenta, no retábulo, as armas da Ordem de São Francisco. A imagem do santo
deste altar (São Francisco) foi roubada em 1996. Os franciscanos construíram para
moradia, um convento pequeno ao lado da igreja, ou melhor, anexado nela e, em
1767, ele foi restaurado.
No ato da entrega definitiva da aldeia aos religiosos, os índios
assinaram um termo comprometendo-se a trabalhar para o padre superior três dias
por semana. Esse trabalho consistia em fazer roças para o sustento dos
missionários, conservação da estrada real que passava pela aldeia, arranjar água e
lenha, fornecer uma índia para cozinhar e um rapaz para ajudar na missa. A
indústria caseira nessa época, em Escada, era a fabricação de artefatos de barro.
Os índios eram sempre requisitados para o serviço real: minerar em Minas Gerais,
servir de remadores no porto de Santos, fazer roças para o abastecimento das
tropas, abrir e consertar estradas. Trabalhavam também como carregadores.
Era nas costas dos índios que vinha todo o material bélico de Santos
a São Paulo. Transportavam os quintos das casas de fundição para o
Rio de Janeiro. Acompanhavam os governadores nas viagens: os
índios de São Miguel e Escada acompanhavam Dom Pedro de
Almeida Portugal na viagem às Minas Gerais, ocasião em que
pescadores acharam no Paraíba a imagem de Nossa Senhora da
Conceição Aparecida. Do dinheiro ganho pelos índios, uma parte ia
para a Igreja (KEMPF, 1959, p. 30).
Pela Aldeia da Escada passava a estrada real que ligava São Paulo ao
vale do Paraíba, de onde se ia para o Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em Escada,
iniciava também a navegação até Pindamonhangaba. Era preocupação dos
franciscanos evitar a ida dos índios para o sertão, evitar a prostituição, como
também evitar a convivência dos índios com os escravos africanos: "corria-se o risco
de transformar as aldeias em quilombos de negros fugidos" (KEMPF, 1959, p. 31).
Além disso, em caso de união de índios e africanos, os descendentes seriam
reduzidos à escravidão.
Em 1758, o Marquês de Pombal designou autoridades civis para
administração das aldeias, separando assim o poder eclesiástico do poder secular.
Com isto, os índios julgaram não ter mais obrigação de prestar serviços aos
franciscanos.
104
Em 1766, a Escada tinha 56 índios e 67 índias, estando nove índios
em Mogi das Cruzes, tendo em vista o fato de a distância até Mogi das Cruzes ser
apenas de cinco léguas. Já, em 1798, contava a referida aldeia com 196 índios. O
censo de 1802 relata 210 índios, dos quais 61 estavam ausentes. Os livros de
batismo e de óbitos, começados em 1756, permitem dizer que foi, em torno de 200
índios a população da Aldeia da Escada desde o seu repovoamento.
Em 1803 houve a dissolução do aldeamento, ocasião em que os índios
foram equiparados aos demais cidadãos, e Escada passou a ser freguesia do
município de Mogi das Cruzes em 1846. Há alguns relatos dizendo que, ao serem
equiparados, os índios passaram a viver em extrema pobreza. Em dezembro de
1813, passaram pela Freguesia da Escada os alemães Von Spix e Von Martius, que
conversaram com um padre da roça, que dirigia a missão dos índios, o qual referiu
que, a partir do momento em que os índios foram equiparados, adquirindo direitos
iguais aos demais habitantes, eles se retiraram em grande número para o interior
das matas. Nessa época, apenas sessenta paroquianos índios viviam em Escada.
Observaram também os alemães que os índios falavam uma língua que parecia uma
mistura de diversos idiomas e que mostravam sinais de decadência física e moral.
Em 1822, Saint-Hilaire (1953, p. 6), importante botânico francês, esteve
em Escada, vindo do Rio de Janeiro, e encontrou um cenário nada agradável:
A três léguas de Jacareí, passamos pela Paróquia Nossa Senhora da
Escada, outra aldeia de índios. Existem tão poucos hoje que não
percebi um único nem na cidade nem nos arredores. Este povoado
conserva, entretanto, o nome da Aldeia. Está assente numa colina
sobre o Paraíba e é pouco importante. A maioria das casas cerca
uma grande praça e pode-se avaliar o quanto é pobre pelo fato de
que inutilmente pedi aguardente de cana em várias vendas. Existem,
no entanto, poucos lugares onde este gênero seja tão vulgar e de
vendagem tão baixa (SAINT-HILAIRE, 1953, p. 6).
A população, nessa época, sofria as conseqüências da pobreza; suas
casas eram precariamente construídas e a saúde deteriorada pela má nutrição e
falta de cuidados com a higiene:
O rancho em que pousamos na Freguesia de Nossa Senhora da
Escada é um pobre casebre onde absolutamente não existe móvel
de espécie alguma. Não vejo maior mobiliário em todas as casas à
beira do caminho. Diz-se que os habitantes de Jacareí que moram
105
nas vizinhanças dos brejos não gozam de boa saúde. Têm
igualmente ar enfermiço e tez baça (SAINT-HILAIRE, 1953, p. 7).
Em 1845, há certo crescimento, "chegando Escada a ser o segundo
distrito de Mogi das Cruzes" (SAIA, 1965, p. 24). Foi elevada à Freguesia do
município de Mogi das Cruzes pela Lei nº 19, de fevereiro de 1846. Seu status de
freguesia era tão precário quanto seu povoamento; quatro anos depois, a lei que a
elevava à freguesia foi revogada e só foi restabelecida pela Lei nº 1, de 28 de
fevereiro de 1872. Nesse mesmo ano, alterações ocorreram na região com a
introdução da Ferrovia Pedro II. A estrada real que ligava São Paulo ao Rio de
Janeiro, sempre passou por ali, mas a Freguesia da Escada nunca teve importância
comercial, pois "a produção agropastoril da região ia para os portos do litoral norte
através do sistema de caminhos vicinais, atravessando novas freguesias, depois
cidades"
19
.
Em 1875, Laurinda de Souza Leite fez uma doação a sua escrava
Maria Florência de um quinhão de terra situada às margens do rio Paraíba, em lugar
plano, distante 3,5 km do Arraial da Escada, pouco acima da foz do ribeirão. Maria
Florência construiu, com recursos próprios e ajuda de algumas pessoas, uma
capelinha dedicada a São Benedito, seu santo de devoção. A imagem do santo,
segundo alguns moradores, veio da Escada. Alguns moradores foram aos poucos se
estabelecendo em torno da capela, formando um vilarejo, Guararema.
A Ferrovia implantou uma estação no bairro de Guararema que
cresceu, deixando para trás a Freguesia da Escada. Em 1889, a população de
Guararema requer o título de Freguesia, uma vez que Escada não suscitava
nenhum tipo de interesse. Consta do requerimento:
A lavoura alli é insignificante, o commercio nullo, tendo desmerecido
ainda mais depois da abertura da estrada de ferro da Companhia de
São Paulo e Rio de Janeiro, creando a estação no lugar determinado
Guararema (MEC, p. 9).
E assim houve a transferência da sede da Freguesia da Escada para
Guararema. Em 1890, faleceu Frei José de Santa Bárbara Bittencourt, muito querido
19
Igreja e residência anexa da antiga aldeia de Nossa Senhora da Escada. MEC. Fundação Nacional Pró-
Memória. Folhas datilografadas, arquivo da 9ª DR do o IPHAN, documento nº MTSP 39.1-40 (folha IV). São
Paulo, [1---?], p. 8.
106
pelos moradores da Escada, e foi enterrado na Igreja de Nossa Senhora da Escada,
a sua lápide, localizada dentro da referida Igreja, ainda hoje recebe flores.
Atualmente, a antiga aldeia, depois freguesia, novamente aldeia e
ainda mais uma vez freguesia, é oficialmente um bairro do município de Guararema
– bairro da Escada – embora seja conhecido como Freguesia da Escada.
4.2 Configuração da Igreja de Nossa Senhora da Escada em 2007
A Igreja sofreu várias alterações desde a sua construção.
Tendo sido implantada uma torre de campanário, um convento, para
adequá-la ao programa franciscano. Houve restaurações nos anos
de 1945, 1947 e 1957. A inauguração solene ocorreu em 06 de abril
de 1958, com a presença de D. Paulo Rolim Lourenço, Bispo Auxiliar
e Vigário do Arcebispo de São Paulo, nesta época
20
A Igreja traz no frontispício a data de 1652. O feitio dos algarismos,
segundo Frei Walter, prova terem sido colocados em época posterior a sua
construção em 1732.
Em frente à Igreja, tem uma praça, no estilo de um terreno, lembrando
mesmo um espaço indígena utilizado para atividades da aldeia. Em 1732, como já
foi abordado, a "primeira edificação era de taipa de mão (ou pau-a-pique) e após
demolida foi construída de taipa de pilão, com as paredes espessas" (COSTA, 1941,
p. 13).
20
CONVITE ao povo. Folheto Informativo da Comunidade Local. Off-set, arquivo da 9ª DR do IPHAN,
documento nº HTSP 39-1/01. Folhas mimeografadas, [18--?], p. 10.
107
A Igreja da Escada tem aberturas apenas na fachada frontal: três
janelas do coro, alinhadas, ou seja, no mesmo tamanho, e o óculo, orifício circular
na parte central do frontão reto. A residência anexa (conventinho) apresenta
características que mostram que foi adicionada posteriormente. Existe também um
púlpito no interior da Igreja e o acesso a ele é por uma escada localizada no
corredor lateral, onde se encontra a sacristia. Desde 2003, esta escada e todo o
andar de cima estão interditados.
Na capela-mor da Escada, o altar principal abriga a imagem de Nossa
Senhora da Escada, com um metro e trinta centímetros, representando a Virgem de
pé, a segurar num dos braços o Menino Jesus e, com a mão direita, uma escada. No
mesmo nivelamento do altar-mor, à direita de quem entra na Igreja, encontra-se um
oratório só com a imagem de São Longuinho. À esquerda, uma mesa com imagens
de São Longuinho, de Nossa Senhora da Escada para serem vendidas. Nesta mesa,
estão também as imagens de Nossa Senhora Aparecida, Jesus coroado na sua
Paixão, Rosa Mística e, na parede próxima ao oratório de São Longuinho, está
fixado o cartaz ofertado por uma devota em agradecimento por graça alcançada.
Os altares laterais abrigam as imagens de São Benedito e Santa
Terezinha. Esta Santa foi colocada no lugar da imagem de São Francisco, roubada
em 1996. Este é o altar que apresenta maior trabalho ornamental, e pessoas ligadas
à Igreja explicam que isso se deu "porque os padres franciscanos mandaram
confeccionar para o seu protetor". Na parte de cima deste altar tem a "insígnia" de
São Francisco.
O piso do pavimento térreo é de lajotas de barro cozido. No pavimento
superior (coro, casa paroquial e mezanino), o piso é de assoalho de madeira, sem
108
tratamento. Alguns trechos são mais antigos, outros já foram substituídos, segundo
informação de algumas pessoas da comunidade. Entre os altares de São Francisco
de Assis e de São Benedito, no chão, em frente a um aparador utilizado nas
ocasiões de missa (uma vez ao mês), encontra-se uma lápide com a inscrição da
data de morte do Frei José de Santa Bárbara Bittencourt (1890), vigário muito
querido pelos moradores da extinta aldeia de Nossa Senhora da Escada (segundo
informações de pessoas ligadas à Igreja).
As Paredes são revestidas de argamassa de cal sobre taipa de pilão.
Em alguns pontos, onde provavelmente existiam buracos nas paredes, estes foram
completados com argamassa de cimento e tijolos, segundo relato de pessoas da
comunidade.
Existe também uma pia batismal de pedra, localizada à esquerda de
quem entra na Igreja. Em torno da Igreja, há casas amplas, espaçosas, um visual
simples e bonito. Há dois bares, uma mercearia pequena, uma Igreja da Assembléia
de Deus.
A Freguesia da Escada é formada por caseiros da região. Em seu
depoimento, uma moradora
21
afirma:
Guararema hoje é uma cidade de renda muito elevada, corre muito
dinheiro por aqui. A Freguesia da Escada é formada por caseiros da
região. Aqui estão localizados muitos sítios e os caseiros freqüentam
a Igreja. Residem em casas amplas, espaçosas. Fazem festas,
comemorações nos sítios, com o consentimento dos proprietários.
Segundo esse depoimento, em torno da Igreja, ficam os sítios, e os
caseiros destes sítios formam a comunidade da Igreja Nossa Senhora da Escada.
São pessoas simples, que moram na região há muitos anos. Estão localizadas
também, no bairro, duas fábricas de chocolate e chinelos, existindo também
produção de flores (a cidade de Guararema é muito florida). Próximo à Freguesia da
Escada, localiza-se a Pousada Vale do Sonho e o Grand Hotel, responsáveis pelas
excursões que saem de São Paulo rumo a Guararema.
Este era o panorama do bairro e da Igreja Nossa Senhora da Escada
em julho de 2003, ocasião em que foi iniciada a pesquisa para o trabalho “Um
21
NAQUEDO, Lourdes dos Santos. Professora/diretora aposentada, moradora antiga da Frequesia (Anexo 4.V
Entrevista nº 1).
109
estudo sobre a devoção a São Longuinho”, uma vez que, neste local, estava em
desenvolvimento uma devoção popular a São Longuinho, para aonde um número
significativo de devotos e curiosos se dirige em busca da imagem do santo.
Em janeiro de 2006, iniciou-se nova restauração da Igreja (a última foi
em 1957). A missa de lançamento do projeto de restauração foi realizada em 28 de
janeiro de 2006 na própria Igreja, com representantes da Mitra Diocesana de Mogi
das Cruzes, Paróquia local, Poder Público e sociedade civil e comunidade (Vide
fotos Anexo 2).
Além da restauração da Igreja e do convento, serão criados espaços
para um café com acesso a internet, sala de audiovisual, espaço para o
desenvolvimento de atividades culturais, festas, eventos e um centro de exposições
no subsolo da capela, com a construção de elevadores e acesso para pessoas
portadoras de necessidades especiais (vide projeto restauração – Anexo n° 3).
Em fevereiro, deu-se início às obras para a restauração da Igreja com
previsão de término em dois anos. Durante a obra, por questões de segurança,
decidiu-se que o altar-mor permaneceria interditado, sendo o acesso permitido aos
fiéis e turistas apenas na parte de entrada da Igreja, onde ficam os bancos. No
desenvolver da reforma do telhado, a verba liberada não foi suficiente,
interromperam-se as obras e a Igreja permaneceu fechada totalmente.
Em 02/10/2006, foram retomadas as obras de restauração após
recursos obtidos pela Prefeitura de Guararema junto à Petrobrás e Sabesp.
Com a conclusão da troca do telhado, a Igreja foi aberta ao público em
18/10/2006, tendo em vista a Festa em louvor a Nossa Senhora da Escada. Em
2007, as obras de restauração foram novamente paradas, mas a Igreja não está
interditada, recebendo devotos e turistas normalmente nos fins de semana, em
busca da imagem de São Longuinho e é dessa devoção que trata o item a seguir.
4.3 A devoção a São Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada
A Igreja de Nossa Senhora da Escada é visitada por fiéis e turistas de
várias partes do Brasil e até do exterior em busca da imagem de São Longuinho. É
grande o número de ônibus de excursão que chega à Freguesia para ver São
Longuinho e solicitar "graças", ou pagar promessas. Os devotos chegam a qualquer
hora do dia, procuram por Dona Luíza, que abre a Igreja para os devotos a qualquer
110
hora, com imensa satisfação. Ela, que nasceu em 1923 e cuida da igreja desde
1968, relata que, desde os três anos de idade, escuta falar em São Longuinho na
Freguesia.
Encontram-se registros de que a Igreja recebe pessoas vindas de
muitas localidades, mesmo do estrangeiro. Segundo relato de Dona Luíza, os ônibus
que trazem os visitantes não têm hora e nem data para chegar. Muitos devotos
ficam sabendo de São Longuinho através da Pousada Vale do Sonho, que faz
divulgação da Igreja em São Paulo (capital). Algumas dessas pessoas retornam
depois para pagar promessa. Os ônibus permanecem parados na frente da Igreja
por um período de 25 a 30 minutos. Segundo os guias entrevistados, as pessoas
geralmente vão a Guararema para lazer, ocasião em que ficam sabendo de São
Longuinho e logo fazem referência a ele como "o santo dos três pulinhos".
Os ônibus que chegaram durante nossa permanência em Escada nos
permitiram observar que estes devotos eram pessoas da faixa etária de 45 a 75
anos, havia poucos jovens (considerando a faixa de 18 a 20 anos). Nestes ônibus,
algumas crianças acompanhavam os pais ou avós.
Os momentos de maior fluxo de pessoas em Freguesia são as festas
da Igreja: Festa de Nossa Senhora da Escada e Festa de São Longuinho.
Geralmente, os ônibus trazem pessoas de localidades vizinhas, do interior paulista e
da capital. As pessoas chegam de ônibus (excursão), carro particular e também
ônibus de linha. Os devotos geralmente viajam em pequenos grupos, formados por
pessoas conhecidas, vizinhos e parentes, estendendo-se, assim, para o espaço
sagrado as relações que já existem em seu cotidiano.
Com base nos registros do livro da Igreja de Nossa Senhora da
Escada, a contar de janeiro de 2003, apresenta-se, a seguir, a procedência dos
visitantes e devotos. Os livros anteriores foram encaminhados para a Cúria
Metropolitana e não se tem notícias deles, segundo Dona Luíza.
Procedência:
África do Sul
Alemanha
Araruama / RJ
Arujá / SP
Itaquaquecetuba / SP
Jacareí / SP
Japão
Lorena / SP
Santo Amaro / SP
São Vicente / SP
Estados Unidos
Ferraz de Vasconcelos / SP
111
Assis / SP
Barra Mansa / RJ
Belém / PA
Brasília / DF
Caçapava / SP
Campos / RJ
Campos do Jordão / SP
Caracas
C. Dutra / SP
Diadema / SP
Embu / SP
Guaratatuba / SP
Guaratuba / PR
Guarulhos / SP
Itália
Itaquara / BA
Itava / SP
Mogi das Cruzes / SP
Niterói / SP
Osasco / SP
Peru
Ribeirão Preto / SP
São Bernardo do Campo / SP
São Caetano do Sul / SP
São José dos Campos / SP
São José do Alegrete / MG
São Camilo / PR
São Lourenço / MG
São Tomé / RN
Santa Branca / SP
São Paulo / SP
Santos / SP
Santo André / SP
Santa Isabel / SP
Franca / SP
Franco da Rocha / RJ
Goiânia / GO
Guararema / SP
Guaratinguetá / SP
Pirapora / MG
Poá / SP
Pouso Alegre / MG
Pilar do Sul / SP
Paraibuna / SP
Rio de Janeiro / RJ
Ribeirão Pires / SP
Sorocaba / SP
Suzano / SP
Taubaté / SP
Vila Suíça / SP
Venezuela
Quanto ao registro de localidades estrangeiras, encontram-se, até esta
data, 29 assinaturas, do que se deduz que são pessoas que, estando no Brasil,
comparecem à Freguesia da Escada apenas para conhecimento do local, com
pessoas amigas, conhecidas, entre outras. A procura pela imagem de São
Longuinho em Freguesia da Escada é grande, e essa devoção na qual as pessoas
estão envolvidas pelos valores do sagrado é antiga na cidade.
4.3.1 São Longuinho é uma tradição em Freguesia
Depoimentos comprovam que existe devoção a São Longuinho há
anos em Freguesia. Mas houve uma maior manifestação de tal devoção a partir da
divulgação em torno do oratório de São Longuinho, roubado em 2001. Por esta
ocasião, a porta da Igreja foi arrombada e encontraram a imagem do santo no chão.
O roubo do oratório foi noticiado pela rádio local e jornal. Dona Luíza chegou a ser
entrevistada por Ana Maria Braga, no Programa "Mais Você", da TV Globo. A partir
112
daí, aumentou o número de pessoas de outras localidades que, ao tomarem
conhecimento de que existia uma imagem de São Longuinho em Guararema, vieram
à procura do santo. Os depoimentos abaixo citam o aumento da devoção na
localidade após o roubo do oratório em 2001:
Os devotos de outros locais aumentaram depois do roubo do
oratório. Eles chegam, procuram por mim para abrir a Igreja para
eles, pulam e rezam em frente a São Longuinho. Alguns dão muitos
pulinhos e não só três (Anexo 4 – Entrevista III).
A devoção mesmo começou após o roubo do oratório. Houve muita
divulgação pelo rádio, pela televisão (Anexo 4 – Entrevista IV - 1).
A divulgação com o roubo do oratório foi grande, e os fiéis e os
curiosos começaram a procurar Guararema. Saiu matéria sobre o
roubo no Jornal de Mogi: "Diário de Mogi", na TV Globo… (Anexo 4 –
Entrevista V - 3).
Alguns depoimentos podem comprovar a existência da devoção na
comunidade há anos, tais como:
Moro há trinta anos na região e dava o catecismo na Igreja e
enquanto dava aulas de catecismo, presenciei fila de pessoas em
frente à imagem de São Longuinho, que, nesta ocasião, ficava no
oratório roubado, em um local onde hoje é a sacristia (Anexo 4 –
Entrevista V - 1).
Sempre houve tradição em torno de São Longuinho na região. Em
1975, ia muito à Freguesia e já havia esta tradição. Sempre aparecia
pessoas procurando a ajuda do santo quando perdia alguma coisa
(Anexo 4 – Entrevista V -1).
A devoção a São Longuinho é da comunidade, sempre existiu, mas
não existe nada oficial. A imagem foi colocada dentro da igreja por
Luíza (Anexo 4 – Entrevista I.2).
22
Com base nos depoimentos apresentados, deduz-se que São
Longuinho é uma tradição em Freguesia há anos. É uma devoção que faz parte da
memória dos moradores, os quais foram reconstituindo o que era conhecido e aceito
por todos, repassando de geração para geração.
4.3.2 A tradição oral na devoção a São Longuinho
O ser humano não pode viver sem comunicação, é um ser que fala.
Através da linguagem, o homem comunica aos outros seus conhecimentos, suas
22
Padre Roberto, é assim que o sacerdote Athur Nathalie Veleysem que atuou em Guararema e faleceu em 2003
é reconhecido na comunidade.
113
experiências, seus sentimentos e idéias. A palavra é assim muito importante na vida
humana, apesar de não ser o único meio de comunicação, pois o homem pode se
comunicar através da linguagem não verbal, ou seja, por meio de gestos, sinais,
tambores, pinturas, etc. Pelo ato de se comunicar, o homem expressa aos seus
semelhantes o que conheceu e experimentou. Como é um ser essencialmente
social, sempre viveu em grupos sociais: família, clã, tribo, aldeia, cidade, estado.
Hoje, pelos meios de comunicação social - televisão, rádio, imprensa, internet -, mais
rapidamente entra em contato com os acontecimentos que ocorrem em qualquer
parte do mundo.
É por intermédio da palavra que o ser humano se situa no tempo,
lembrando o que ocorreu no passado e antecipando o futuro pelo pensamento. A
palavra toma sentido pelo diálogo. Segundo Aranha (2000, p. 6):
Nem mesmo o ermitão pode ser considerado verdadeiramente
solitário, pois nele a ausência do outro é apenas camuflada e sua
escolha de se afastar faz permanecer a cada momento, em cada ato
seu, a negação e, portanto, a consciência e a lembrança da
sociedade rejeitada. Seus valores, mesmo colocados contra os da
sociedade, se situam também a partir dela. A recusa de se
comunicar é ainda um modo de comunicação.
Para a autora, “a linguagem é um sistema simbólico e o homem é
capaz de criar símbolos, isto é, signos arbitrários em relação ao objeto que
representam e por isso mesmo, convencionais, ou seja, dependentes de aceitação
social” (ARANHA, 2000, p. 28). A linguagem é, portanto, um sistema de
representações aceitas por um grupo social, que possibilita a comunicação entre os
integrantes desse mesmo grupo. “Histórias são contadas, numa narrativa de tempos
e sentidos” (PASSOS, 2002, p. 9). A consciência humana molda modos de pensar e
de representar, nascendo assim as narrativas que (re) criam sonhos e geram
histórias.
Nas histórias que recolhemos em Freguesia, a linguagem oral está
presente em todas. Este “saber oral” é um tipo de saber que, segundo Brandão
(1980, p. 165),
114
vive de reconstituir entre as bocas e os ouvidos o que já é conhecido
de todos. Que vive de recriar, na memória de cada tipo de agente, o
repertório de crenças e dos ritos que fogem da prisão da leitura de
todos, logo de um tipo secular de controle erudito sobre a memória
coletiva do popular.
Todos os entrevistados citam que a pessoa mais indicada para falar
sobre São Longuinho é Dona Luíza, que cuida da igreja e da imagem do santo
desde 1968. Ao ser entrevistada e mesmo quando por outras vezes comparecemos
à Freguesia, contou uma série de histórias e casos de milagres de São Longuinho
que fazem parte do repertório da tradição oral. Os casos que hoje ela conta para os
moradores e visitantes de Freguesia foram também contados por sua mãe, avó e
outros parentes já falecidos. Mas, a zeladora afirma também em seus relatos que
São Longuinho está na Bíblia Sagrada, que foi ele que espetou Jesus com uma
lança a pedido dos bandidos. Ao mencionar a Bíblia, processa-se em seus relatos
uma interação entre a oralidade e a escrita. Segundo Steil (1996, p. 46), “isto
acontece quando o livro, no caso específico a Bíblia, é utilizado como fundamento
legítimo para a devoção existir”.
Dona Luíza guarda boa parte da memória do sagrado em Freguesia.
Ela ocupa e é reconhecida por ocupar um posto na preservação da memória de São
Longuinho em Freguesia, sendo indispensável à guarda da cultura religiosa popular
local, o que se pode constatar nos relatos abaixo:
Ela, Dona Luíza, é quem sabe tudo de São Longuinho aqui em
Freguesia (Anexo 4.I – Entrevista nº2).
Procure a Dona Luíza, ela é amiga do santo (Anexo 4.IV Entrevista
nº 1).
Ela possui o poder atribuído pelos moradores locais. Usa e inculca os
seus tipos próprios de saber religioso. Algumas vezes, presenciamos Dona Luíza ser
chamada para acalmar São Longuinho, ocasião em que ela “conversou” com a
imagem, fez carinhos, enquanto, em volta dela e da imagem, moradores, com muito
respeito, escutavam, mostrando estar impressionadíssimos com o fato.
Dona Luíza faz o que Brandão (1980, p. 153) chama de uma
“autonomia relativa da lógica e da prática da religião popular”. Ela faz e preserva a
moldura e as redes sociais de transmissão de seu próprio saber. Conquista na
115
prática, e sob os olhos atentos da comunidade, dos devotos, a eficiência de seu
desempenho, garantindo o direito de transitar a seu modo com o santo e transmitir
seus conhecimentos a respeito dele e até mesmo de exorcizar os espíritos do mal
que queiram prejudicar “seu santo”.
Dona Luíza guarda um conhecimento elevado do sagrado, mas
procura transmiti-lo delegando poderes para pessoas que se relacionam bem com
ela. Após alguns contatos conosco, chamou-nos para pedir que falássemos para um
grupo de excursão sobre São Longuinho: “Agora a senhora já pode falar sobre São
Longuinho como a Ângela também”
23
.
Em Freguesia, a tradição oral está presente na devoção que se
transmitiu de geração para geração e, atualmente, através de alguns moradores e
devotos fervorosos, está havendo uma mobilização em torno da memória desta
tradição, buscando lembranças, assumindo formas de saber, misturando idéias,
buscando enfim formas de preservação e manifestação de práticas baseadas na
tradição oral.
23
Ângela, coordenadora da pastoral, pessoa que se relaciona muito bem com D. Luíza.
116
5 DA DESCOBERTA DO SANTO À CONQUISTA DO ALTAR
O aparecimento da imagem de São Longuinho na Igreja é contado por
Dona Luíza (anexo 4, Entrevista III). Relata que Miranda, um vidraceiro e pedreiro,
hoje falecido, e seu ajudante Antônio Matias, acharam a imagem toda quebrada em
um armário do tipo cômoda nos fundos da Igreja, local onde havia muitos entulhos e
do qual há muito tempo não se fazia uma arrumação. Segundo ela, Miranda caçoou
do santo e, naquele dia, à noite, não conseguiu dormir. Ficou acordado, vendo uma
imagem do santo franzindo a testa para ele, apertando os olhos para ele. No dia
seguinte, conversando com Antônio Matias, Miranda soube que este também não
havia conseguido dormir pelo mesmo motivo. Então, ambos decidiram consertar a
imagem de São Longuinho.
O depoimento de Antônio Matias é semelhante ao de Dona Luíza:
Era ajudante de marceneiro. Trabalhava com Miranda quando
encontramos a imagem no fundão, dentro de um armário. Ela estava
quebrada, os dedinhos partidos e já sem as pernas. Miranda falou:
'deixa isso aí, que coisa feia' e mandou colocar a imagem junto com
as coisas que iriam para o lixo. Eu falei: 'e se for algum santo?'.
Miranda respondeu: 'feio assim?' E começamos a rir, rir… Naquela
noite, não conseguimos dormir. Miranda via o santo fazendo careta,
apertando os olhos como se o chamasse. Cedinho me chamou e me
contou que ficou acordado e ficou sabendo que eu também não
dormi pelo mesmo motivo. Miranda falou: 'Vamos consertar o santo'.
E assim fizemos
24
.
Esta imagem achada não possui as pernas. O corpo e a cabeça são
de madeira e o rosto é de argila. Os braços estão abertos, segurando uma ponta de
lança na mão esquerda (perfurando a mão da imagem). A mão direita da imagem
apresenta detalhes que se assemelham a cicatrizes. Segundo a tradição, é a mão
da penitência, por isso os machucados. Os braços são articulados, permitindo que a
imagem possa ser vestida ritualmente para as celebrações religiosas.
A imagem fica em um oratório, enfeitada com fitas coloridas no
pescoço, terço, anéis nos dedos, presentes que os fiéis trazem para ela. Vasos e
jarras com flores ornamentam seu oratório.
24
Antônio Matias Vicente, 75 anos. Pessoa que achou a imagem de São Longuinho, junto com Miranda
(Morador de Freguesia já falecido) (Anexo 4-II).
117
5.1 A trajetória até o altar
Após a imagem ser restaurada, ela foi colocada em um oratório e este
foi posto no cômodo dos fundos, onde ficava o armário no qual a imagem foi achada.
Aos poucos, os moradores de Freguesia passaram a visitar a imagem, indo rezar
perante o oratório da imagem. Alguns, mais esquecidos, não se lembravam de onde
deixavam alguns objetos, pertences pessoais e, perante a imagem, rezavam e
pediam que os ajudasse a encontrá-los. Logo em seguida, achavam-nos e dona
Luíza dizia que a imagem só podia ser de São Longuinho, pois ele é que encontrava
objetos perdidos.
São Longuinho e Freguesia tornaram-se conhecidos nos arredores, e
pessoas passaram a procurar o santo a fim de lhe fazerem pedidos e, com o passar
do tempo, moradores de cidades vizinhas de Guararema começaram a aparecer
para visitar a imagem, rezar um terço. O número de visitantes foi crescendo e a
zeladora da Igreja tentou levar a imagem mais para dentro da Igreja e foi impedida
pelo então pároco, padre Roberto, falecido em 2003.
Na primeira vez que estivemos na Igreja, percebemos a presença de
uma situação delicada, algo incomodava as pessoas ao falar em determinados
acontecimentos referentes a São Longuinho.
A zeladora permaneceu conosco, juntamente com coordenadores da
pastoral, por um período de quatro horas na Igreja, sem almoço, o que causou certa
preocupação, tendo em vista o fato de ela já estar com uma idade avançada, oitenta
anos na ocasião (2003), mas, ela estava feliz e agradecida pelo interesse pelo “seu
santo”, pela atenção que estava sendo dedicada a São Longuinho. Segundo ela, a
pesquisadora era bem-vinda à Igreja: “não está incomodando, fique o tempo que
quiser e volte quando precisar. Vou ajudar. A senhora está fazendo justiça a São
118
Longuinho, que, durante muito tempo, ficou escondido. Ele já tinha falado comigo
que a senhora vinha”.
Assim, desde o início da pesquisa, embora a acolhida tenha sido
calorosa e as pessoas tenham fornecido informações sobre o santo, percebeu-se
certo receio nelas em aprofundar o assunto, todos, inclusive o padre
25
, dizendo que
a melhor pessoa para responder era a zeladora que “há anos cuida de São
Longuinho”.
À medida que os moradores de Freguesia se acostumaram com a
nossa presença, passaram a relatar episódios, e, através deles, foi possível
identificar algumas tensões que existiam na comunidade a respeito da passagem da
imagem de São Longuinho para o altar principal da Igreja.
A comunidade se posicionou de duas maneiras: grande parte
concordava com a imagem do santo no altar, e a outra parte dos moradores, embora
torcesse para a ida do santo para o interior da Igreja, preferiu manifestar-se ao
contrário. Segundo alguns moradores, nessa ocasião da ida ou não do santo para o
altar, não se procurava discutir posições ou propostas, tudo se enquadrava em estar
do lado de uma ou de outra liderança que queria ou não a imagem no interior da
Igreja.
Dona Luíza relata que a imagem foi colocada no altar por ela. Até
então, a imagem ficava na sacristia porque havia resistência por parte de algumas
pessoas quanto à ida da imagem para o interior da Igreja. Ela relata que foi levando
a imagem, aos poucos, para dentro da Igreja, até colocá-la no altar-mor, com o
consentimento da comunidade.
Na ocasião citada, o pároco (padre Roberto) não queria a imagem no
altar, mas a comunidade enfrentou o posicionamento do padre e a imagem
permaneceu no altar. Padre Roberto aposentou-se em 2001 e a imagem estava no
altar. Faleceu em novembro de 2003 já tendo aceitado melhor São Longuinho, pois,
ao ser entrevistado na Festa de São Longuinho de 2003 (março), pediu para ser
fotografado, dizendo que o sucesso do santo deveu-se, em parte, ao fato de ele ter
deixado a imagem na Igreja, uma vez que, como padre, poderia tê-la retirado e a
comunidade teria que acatar tal decisão.
25
Padre Geraldo Magela Lázaro, pároco em Guararema de 2002 a março de 2006, muito atuante e querido pelos
moradores de Freguesia.
119
Em 2002, outro pároco assumiu Freguesia (padre Geraldo) e não se
indispôs com a comunidade, não questionou o fato de o santo estar no altar e, a
partir de março de 2006, outro padre foi indicado para Freguesia (padre Adalberto) e
este também não se indispôs com a comunidade sobre a imagem de São Longuinho
no altar-mor. E, em 2006, a comunidade contou, pela primeira vez, com a presença
do padre na procissão da Festa de São Longuinho. Nos anos anteriores, o padre só
comparecia à missa campal.
E assim São Longuinho continua atuante e dominante em Freguesia.
Ele é o santo mais forte, mais conhecido e procurado pelos devotos e visitantes em
Guararema. A Igreja é de Nossa Senhora da Escada, a paróquia no centro de
Guararema é de Nossa Senhora da Escada e São Benedito, mas as pessoas vão à
Guararema por São Longuinho. Levam presentes, doações em dinheiro e jóias e,
mesmo com a Igreja fechada para obras da restauração, as visitas a São Longuinho
continuam e as ofertas só podem ser entregues diretamente ao santo em sua
morada, ou seja, no seu oratório.
5.2 Culto à imagem achada de São Longuinho
A devoção a São Longuinho pode ser vista através da descrição dos
rituais, dos votos, das promessas à imagem achada e de alguns milagres creditados
a São Longuinho pelos devotos e moradores de Freguesia.
5.2.1 Rituais
Os rituais perante o oratório de São Longuinho se apresentam de
diferentes formas, conforme tivemos oportunidade de observar muitas vezes durante
nossa permanência na Igreja. Dificilmente uma pessoa vai visitar a Igreja sem parar
no oratório do santo. Nos dias de festa (Festa da Padroeira, Natal, São Longuinho),
forma-se uma longa fila de devotos à procura do santo.
Diante da imagem, rezam, geralmente de uma forma espontânea,
numa conversa pessoal e franca. Depositam fotografias, dinheiro, bilhetes com
pedidos ou agradecimentos, cartas, flores. Os fiéis beijam a imagem, passam a mão
nela, rezam de olhos fechados. Escrevem um bilhetinho e o colocam na mão dela.
Outros o colocam em uma cestinha que fica ao lado. Poucos colocam dinheiro.
120
Alguns, mais curiosos levantam a veste do santo. Outros beijam a barra da veste,
colocam fitas no pescoço da imagem. Tem também os que ofertam sacolas
contendo alimentos não perecíveis. Observamos também a entrega de sacos de
balas, bijuterias, jóias, chupetas para São Longuinho, além de flores, muitas flores e
vasos de flores.
Além da entrega dos "presentes", há os que dão os três pulinhos ou
mais perante a imagem e, em escala bem menor, existem os que dão três gritinhos.
Nas Festas da Padroeira (Nossa Senhora da Escada), a fila é sempre
grande para o oratório de São Longuinho. Quase todos na fila levam flores nas
mãos. No altar da Padroeira, como nos outros dois altares, de Santa Terezinha e
São Benedito, uma pessoa ou outra reza. Os devotos estavam na Festa de Nossa
Senhora da Escada, mas a "intenção era conhecer ou visitar São Longuinho",
segundo Dona Luíza. Eles ficavam uns minutos (quatro mais ou menos) perante a
imagem, saíam do oratório, passavam pelo altar de Nossa Senhora da Escada e
alguns também aí rezavam. Ao serem entrevistados, alguns fiéis relataram que
escutaram falar de São Longuinho nos ônibus da romaria; outros, que não o
conhecem e que vieram pela Nossa Senhora da Escada, mas que estão na fila
porque ouviram falar que o santo é bom e atende tudo. E ainda, outros entrevistados
afirmaram que "é o santo das coisas impossíveis".
Uma irmã de Caridade que rezava junto ao oratório de São Longuinho
em 2004 (2ª Festa em louvor a São Longuinho) não permitiu ser entrevistada. Disse
ter muita fé, uma fé muito grande, mas que a maioria dos padres não concorda com
isso, como também que freiras já a questionaram sobre esta fé.
O padre que atuou em freguesia durante muitos anos se aproximou da
pesquisadora na referida festa e, muito triste, disse: "o povo vai todo para o oratório
de São Longuinho e não para Nossa Senhora da Escada. A festa é dela. Está vendo
o que está acontecendo aqui? Pura superstição"
26
Essas diferentes maneiras de os devotos se relacionarem com São
Longuinho em Freguesia, ou melhor, esses rituais perante a imagem são as práticas
religiosas em que o próprio devoto faz seu culto, independente da presença do
sacerdote. A característica principal neste ritual é a relação direta dos devotos com
26
Padre Roberto (Anexo 4 – Entrevista I - 2).
121
São Longuinho, tratado como uma pessoa amiga, mas, ao mesmo tempo, com
poder e que pode responder às necessidades daqueles que o procuram.
Os devotos que fazem seus rituais independentemente da presença de
padres também participam das práticas religiosas oficiais de Freguesia. Entre essas
celebrações, destacam-se os Sermões e a Bênção da Águas, realizados nas missas
durante o período das Festas de São Longuinho, realizadas no mês de março, como
também as procissões e o culto à imagem do oratório.
Durante as Festas de São Longuinho, quatro missas são realizadas: a
da abertura da festa, sempre em uma sexta-feira; a de sábado, às 18 horas e as de
domingo, sendo que uma é campal, realizada logo após a procissão em louvor a
São Longuinho (11h) e, às 16 horas, a missa de encerramento.
Nas missas de abertura das festas, observou-se que a maioria dos
participantes é moradora de Freguesia. Na missa de sábado, alguns moradores de
outros bairros de Guararema estão presentes e, nas de domingo, a presença de
pessoas das cidadezinhas próximas era grande. Algumas pessoas de São Paulo
(capital) também marcam presença. Nem todas as pessoas que compareceram
nesse dia em frente ao oratório de São Longuinho aguardavam a missa. Para os
moradores de Freguesia, especialmente os mais ligados às atividades litúrgicas da
igreja ou que têm alguma representação política na cidade, a participação nas
missas e nas procissões é fundamental. É válido mencionar que os políticos do local
procuram ter uma proximidade maior com o santo.
Nas missas, os celebrantes estimulam a devoção local. No início da
missa de abertura da Festa de São Longuinho, em 2003, o padre fez uma pausa
para que cada participante fizesse seus “pedidos” mentalmente a São Longuinho,
bem como apresentasse agradecimentos a Deus e a São Longuinho. Solicitou que
as pessoas pensassem no pedido e também em São Longuinho e em todos os
mártires, pedindo a intercessão.
No Sermão, após interpretar o evangelho, o sacerdote associa-o com
São Longuinho, com os mártires do cristianismo de modo geral. Lembra o passado
do santo e menciona que São Longuinho merece ser lembrado pela sua conversão
ao cristianismo, abordando basicamente temas da doutrina católica, fazendo
referências a São Longuinho de um modo genérico.
Na missa de abertura das festas, há sempre a bênção do mastro com a
estampa de São Longuinho. Nas missas de sábado, há a Bênção das Águas, na
122
qual o celebrante, vindo do altar em direção à porta principal, aspergia os fiéis com
água. Retornava da porta ao altar pelo outro lado, procurando aspergir a água os
demais participantes. As pessoas se aproximavam para serem atingidas pela água
benta. Na bênção da missa campal, nos domingos das Festas, objetos eram
suspensos para serem “bentos”: fotos, chaves, peças de roupas. Objetos comprados
na barraquinha de artigos religiosos (tanto na Festa da Padroeira quanto na de São
Longuinho) eram erguidos para serem bentos, apesar do aviso dado pelos
vendedores de que já haviam sido bentos.
Algumas pessoas, logo após terem sido atingidas pela água aspergida,
faziam o sinal da cruz ou colocavam a mão (molhada pela água benta) na cabeça e
na nuca. Refletindo sobre a bênção, vê-se que, na palavra do celebrante, está o
pedido de intercessão ao santo no sentido de se obter algo. Há uma interação entre
o padre e os presentes na Igreja através da palavra do celebrante, do gesto do
padre, da água aspergida e dos movimentos dos devotos, que são feitos no sentido
de alcançar a água benta, do sinal da cruz. Cada sacerdote tem seu estilo e dá uma
ênfase diferente a cada bênção. Em todas as missas, os celebrantes enfatizaram o
caráter mediador de São Longuinho: “Rogai por nós, glorioso São Longuinho.
Agradecemos a Deus e a São Longuinho”.
Frei Alamiro
27
, em sua celebração, se apegou às citações dos quatro
evangelistas: Mateus, Marcos, Lucas, João, das quais consta que um centurião
romano, após ferir Jesus com uma lança, arrependeu-se e o reconheceu como “o
filho de Deus”. – “Este é o filho de Deus”, palavras várias vezes repetidas pelo frade
possivelmente para que o público presente fixasse o que consta nos evangelhos,
levando-os a conhecer a provável história de São Longuinho por intermédio dos
quatro evangelistas. Segundo o frei, faz-se uma tentativa de purificação do culto que
está crescendo em Freguesia, procurando-se “evitar as lendas e superstições”.
Relatou que São Longuinho ajudou a matar Cristo, cumprindo ordens e que o nome
de São Longuinho era Longinus, o soldado que cometeu a barbaridade de espetar
Jesus e que, se arrependendo, reconheceu Jesus como o filho de Deus. Mencionou
também que o que se sabe da história de São Longuinho é isto, o resto é lenda, que
ninguém pode provar acontecimentos de dois mil anos atrás.
27
Frei José Alamiro Andrade Silva, franciscano que até 2005 participava das festas em Freguesia,
principalmente da Festa de Cristo Rei.
123
Nas celebrações oficiais da Igreja, a transmissão da doutrina cristã
para os devotos se faz presente com os celebrantes dando respostas às indagações
que os fiéis fazem sobre a vida de São Longuinho, com respaldo do seu
conhecimento doutrinário, transmitindo oralmente explicações sobre temas do
catolicismo de um modo geral.
A procissão e a festa de São Longuinho em si permitiram captar as
reais necessidades das pessoas ali presentes, como elas se expressaram diante do
andor do santo, da imagem de São Longuinho. A procissão, uma prática tradicional
no catolicismo popular, permitiu uma análise dos devotos presentes, notando-se a
emoção de alguns que choravam silenciosamente, tentando uma aproximação com
o andor de São Longuinho e os que conseguiram chegar perto seguravam as fitas,
beijavam o santo, se ofereciam para carregar o andor.
A procissão na Festa de São Longuinho até 2005 não teve a presença
de sacerdote e este era um fato que a diferenciava da procissão da Festa da
Padroeira em que dois padres estavam presentes: um trazendo a imagem na
procissão de barcos, e ou outro, acompanhando a procissão que veio da Igreja com
o andor de São Benedito para encontrar com a Padroeira. A comunidade se
queixava da ausência de padres na procissão de São Longuinho e em 2006, padre
Adalberto comandou a procissão da Festa de São Longuinho.
As procissões saíram da Igreja pelas ruas principais. Muitos fotógrafos,
jornalistas e a rádio local acompanharam todas as procissões, fotografando o andor
de São Longuinho com a imagem do oratório. Crianças vestidas de anjos e de
soldados com a bandeira do Brasil acompanhavam as procissões junto ao andor de
São Longuinho.
Os organizadores da festa estavam sempre preocupados se haveria
público ou não para acompanhar as procissões devido a algumas tensões políticas
ocorridas entre pessoas de partidos políticos opostos. Quando as procissões se
aproximavam do local da missa campal, havia mais fiéis uma vez que muitos
passaram a acompanhar as procissões durante o percurso por algumas ruas do
bairro e, assim, pode-se dizer que as procissões foram ricas de significados para a
equipe organizadora das Festas de São Longuinho.
124
5.2.2 Votos, milagres e promessas
O voto é a promessa feita ao santo. O devoto promete oferecer algo ao
santo em troca de uma graça e ao recebê-la, se vê na obrigação de pagar o voto
feito. Este pagamento ao santo resulta na confecção dos ex-votos. Assim os ex-
votos são o testemunho público das graças alcançadas e das promessas cumpridas;
são os elementos materiais ofertados ao santo: fotografias das pessoas beneficiadas
pelo santo, modelagem das partes do corpo afetadas pela doença e, mais tarde,
curadas. É um símbolo de oferecimento pessoal e direto aos santos.
O milagre acontece quando um pedido é realizado, antes ou depois da
execução da promessa. Segundo Brandão (1980, p. 131),
Todos acreditam em milagres, pelo menos os que aconteceram no
Antigo Testamento, nos tempos de Cristo e nos Atos dos Apóstolos.
Ele é o aviso mais visível e o mais acreditado entre os poderes do
sobrenatural.
O milagre é um acontecimento de plena prova do poder absoluto e
da vontade soberana de Deus. É um tipo de ocorrência
extraordinária, por meio da qual a divindade quebra o curso da
ordem natural das coisas, em nome de seu amor por um fiel, ou por
um grupo deles, com o uso do poder total de sua palavra.
Para um conhecimento das promessas e milagres referentes a São
Longuinho, solicitamos a autorização do sacerdote para ter acesso aos bilhetes
colocados por devotos no oratório do santo. Foram analisados 260 bilhetes no
período de julho de 2003 a março de 2004. Estes bilhetes, contendo pedidos e/ou
agradecimentos a São Longuinho, eram recolhidos pela zeladora ou pela
Coordenação da pastoral e guardados em um cesto para que se procedesse a sua
análise com o consentimento do pároco (padre Geraldo), o qual, durante uma das
missas da Festa da Padroeira, mencionou a pesquisa a São Longuinho, solicitando
a participação dos fiéis e explicando sobre a análise de tais bilhetes.
A leitura desse material mostrou uma relação muito próxima e pessoal
do devoto com São Longuinho. Os pedidos feitos são relativos a situações
concretas, referentes a crises que estão enfrentando, doenças, desemprego, falta de
dinheiro, pedidos de aposentadoria, para parar de fumar, bom parto, união da
família, solicitação de marido para a filha, pagamento de dívidas, alcoolismo,
proteção, pedidos contra males físicos e espirituais, bem como para se obter,
prosperidade, harmonia, juízo para os filhos, justiça social, afastamento dos filhos
125
das más companhias, casa própria, casamentos, conclusão de mestrado, paz
pessoal, nascimento de cabelo, conservação de namoro ou casamento, livramento
da maconha, crise de depressão, pelo filho desaparecido, avó desaparecida,
aprovação no vestibular etc. (Anexo 5).
Constatou-se uma diversificação nos pedidos feitos a São Longuinho;
este não é invocado somente no caso de perda de objetos. A ajuda pedida ao santo
dá-se para todos os acontecimentos em que existem elementos de incerteza e que
escapem do controle do humano. Para obter a ajuda de São Longuinho, os devotos
estabelecem uma relação, que, segundo Zaluar (1983, p. 88), é de "reciprocidade,
isto é, uma relação em que há uma série de prestações e contraprestações
socialmente estipuladas". A promessa ao santo mostra, ao mesmo tempo, o pedido
feito, a dívida a saldar e a efetivação do pagamento, especialmente, quando se trata
de ex-votos, ou promessas. Em vários bilhetes analisados, é mencionada, além de
pedidos, a forma de pagamento estabelecida.
Os relatos de curas e milagres são fundamentais para o
desenvolvimento do culto a São Longuinho e compõem um repertório extenso,
englobando os relatos de milagres referentes à experiência pessoal do devoto, ou de
pessoas de sua intimidade (parentes, amigos, vizinhos) como também os que
pertencem à tradição partilhada por toda a comunidade.
Os relatos das "curas", dos "milagres referentes à experiência pessoal,
apesar da subjetividade individual, expressam também uma estrutura comum a
outros relatos e asseguram uma seqüência narrativa mais ou menos previsível.
Apresentam-se a seguir, alguns relatos retirados dos depoimentos dos devotos
(Anexo 4.VIII) e dos bilhetes colocados à imagem (anexo 5):
Pedi para minha amiga xxx passar no concurso. Ela passou no
concurso, fez outro concurso e passou também. Ela respondeu
perguntas que não tinha conhecimento e acertou.
Pedi para minha filha passar no vestibular e para minha
aposentadoria. Há muitos anos, pedi para passar em um concurso
para professora e consegui. Tinha questões que nunca tinha visto e
mesmo assim fui classificada. Agora peço por minha filha e São
Longuinho vai ajudá-la.
Tenho uma prima que mora no Rio de Janeiro. Ela é devota de São
Longuinho. Vem sempre a Freguesia marcar promessa: ela passou
em um concurso.
126
Vim aqui fazer uma promessa para São Longuinho. Meus filhos estão
nervosos, discutindo muito. Vou pedir por minha família. Se
conseguir esta graça, virei aqui, no oratório e darei três pulinhos.
Pedi para acalmar meu neto de sete anos, que é uma pessoa muito
agitada, nervosa, chora muito, briga muito. Pedi a São Longuinho
para ele ser menos agitado, brigar menos. Consegui e vim pagar a
promessa.
Em vários tipos de promessa, percebe-se a tentativa de controlar
acontecimentos cujo rumo não se pode prever. Em alguns pedidos, o elemento sorte
estava evidente: achar objetos esquecidos, ganhar na loto, não ser atingido por
doenças:
"São Longuinho"
Joguinho da Mega Sena
04-10-16-19-27-28
01 - 04 - 19 - 22 - 35 - 36
03 - 04 - 19 - 27 - 50 – 52
Em nome de Deus maior, São Longuinho ajude-nos a realizar um
sonho para poder pagar todas as nossas dívidas, mudar de vida e
poder ajudar nossos irmãos.
São Longuinho, faça com que eu ache minha chave e a do carro que
eu dou três pulinhos.
Meu São Longuinho, fazei com que o meu pai ache um lugar para
morar e faz com que eu ache as multas. Senhor, fazei com que eu
ache as multas. Fazei com que a xxx passe no vestibular. São
Longuinho, saúde para xxx.
Ajude meu filho xxx a achar a vaga do emprego que ele perdeu.
São Longuinho, venho pedir para que meu exame de útero não seja
nada…
Peço a São Longuinho, para tirar meu problema de próstata, joelho
direito e esquerdo desde já agradeço e também não ter problema de
rim.
A intercessão de São Longuinho está sendo desejada também para a
manutenção permanente de vínculos familiares e matrimoniais e também para se
obter um bom casamento, conforme mostram os "pedidos" abaixo:
São Longuinho, estou aqui neste dia, 27/11, lhe visitando e
aproveitando para lhe pedir a minha união com a pessoa que eu amo
127
de verdade, faça com que nossos corações se unam para sempre e
não se separe nunca mais.
Peço a Senhor Longuinho, para meu marido voltar para casa.
São Longuinho, ajude minhas duas filhas a encontrar um bom partido
e bom marido que as amem e respeitem.
São Longuinho, agradeço e peço que conserve este namoro do
Nelson até o casamento e no casamento volto aqui e dou 1000
pulinhos em casa antes de vir.
São Longuinho, peço que seja tudo restaurado na minha vida
familiar, sentimental e financeira, que seja tudo achado com sua
benção.
São Longuinho, peço a você que… abra o caminho do meu amor
também. O amor meu é meio complicado, preconceituoso, porque
sou infeliz até hoje porque o meu amor que sinto é o do mesmo sexo
que o meu, sofro tanto, porque as vezes me interesso por pessoa
errada. É difícil descobrir hoje em dia quem realmente é como eu sou
às vezes parece ser quando a gente vê não é nada daquilo. Por isso
Salonguinho, mostre quem realmente é igual eu faça as pessoas que
são iguais a mim a se aproximar de mim.
Com base nos pedidos e agradecimentos relatados nos bilhetes
analisados, percebe-se que, na maioria dos casos, as pessoas solicitam ao santo
uma solução para sair de uma situação aflitiva, embaraçosa. Pedem-se coisas
normais da vida ao santo, tais como: moradia, saúde, emprego, salário digno,
harmonia na família, ajuda para encontrar coisas perdidas, casamento, superação
de situações difíceis. Enfim, pede-se a São Longuinho o milagre para uma vida
normal, digna de todo ser humano.
Ressalta-se que o pedir e o agradecer encontrados nos bilhetes
emergiram também nas entrevistas e informações prestadas por devotos e visitantes
de Freguesia.
Vê-se que em Freguesia a trajetória da descoberta da imagem do
santo e sua ida ao altar não foi só uma questão de importância no ganho de espaço
físico. Houve também importância no plano religioso/espiritual. O lugar (Freguesia)
se tornou “sagrado” para moradores e devotos. Isso porque lá se consagrou uma
hierofania, isto é, o espaço foi ritualmente construído e o sagrado se manifestou.
Estar em Freguesia, estar diante da imagem de São Longuinho é muito
importante para os devotos e esse encontro envolvendo o toque e o olhar na
imagem modifica o estado de espírito das pessoas que vão a Freguesia em busca
128
do santo, para fazer-lhe pedidos e agradecer-lhe graças alcançadas. A trajetória da
imagem de São Longuinho da sacristia para o altar foi para a comunidade e devotos
do santo de suma importância no plano religioso/espiritual.
129
6 SÃO LONGUINHO SE APROPRIA DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DA
ESCADA
São Longuinho se tornou, em Freguesia, mais conhecido que a
padroeira do local, Nossa Senhora da Escada. A maneira como o santo foi sendo
construído pelos moradores, as diversas formas de comunicação entre os devotos e
São Longuinho e também os atributos do Santo justificam tal afirmativa.
6.1 Composição do santo
Um fato em Freguesia que chama a atenção é que Nossa Senhora da
Escada, a Padroeira do local, apesar de ter sua “festa própria”
28
, sua comemoração,
não é tão conhecida como São Longuinho pelos visitantes que comparecem à sua
Igreja em Freguesia. Estes visitantes, devotos e curiosos de várias localidades
comparecem no local para fazer seus pedidos e/ou agradecimentos a São
Longuinho. Estas pessoas se dirigem ao oratório de São Longuinho e ali rezam. Nas
várias vezes em que estivemos na Igreja para proceder à pesquisa, com exceção do
dia da Festa da Padroeira, constatamos que não se deu a permanência de pessoas
diante da imagem da Santa Padroeira. Algumas pessoas perguntam o nome da
santa do altar principal, outras identificam a Igreja da Freguesia como a Igreja de
São Longuinho. Em alguns dos bilhetes colocados no oratório de São Longuinho
com pedidos, os devotos mencionaram a igreja como Igreja de Nossa Senhora da
Escada e de São Longuinho.
Eu, xxx, vim a Igreja de Nossa Senhora da Escada e São Longuinho
cumprir a minha promessa muito feliz por ter alcançado a graça de
São Longuinho, estou muito feliz. Obrigada São Longuinho. xxx. São
Paulo, 07/11/2003 (Anexo nº 5. Bilhete nº 94).
São Longuinho!
É a Segunda vez que venho à sua Igreja. E lhe peço intercessão
junto ao nosso Pai Nosso Senhor Jesus, para que alcance estas
graças: um bom emprego para meu marido xxx e também para milha
filha xxx, eles precisam encontrar uma boa colocação.
Peço-lhe também auxílio para encontrar uma forma de saldar minhas
dívidas no banco. Para meu cunhado conseguir encontrar a cura
28
Festa comemorada no mês de novembro
130
para seus males físicos. E que encontre a melhor forma de resolver
estas mudanças no meu emprego. Desde já vos agradeço. Peço
ainda para eliminar dos meus pensamentos as palavras da minha
filha xxx (Anexo nº2. Bilhete nº97).
Sob a ótica de moradores mais antigos de Freguesia, Nossa Senhora
da Escada é a padroeira e São Longuinho é o protetor. A devoção lá existente dá-se
em torno da imagem de São Longuinho “achada” por moradores, e sobre essa
imagem apresentam-se algumas considerações a seguir.
6.1.1 A imagem achada de São Longuinho
Esta imagem está dentro das características de uma imagem popular,
considerando como características de imagens populares os dados apresentados
por Etzel (1979, p. 68-70):
- estas imagens geralmente são feitas por santeiros populares,
artistas que confeccionaram as peças por intuição, sem nenhum
aprendizado, ao contrário do santeiro erudito;
- estas imagens geralmente são únicas, esculpidas uma a uma no
barro ou na madeira, podendo ser parecidas, mas não idênticas;
- o anonimato está presente nas imagens populares. O santeiro
geralmente vivia no interior, talvez a alguns quilômetros de
povoações, entre conhecidos, compadres e parentes. Suas imagens
não ficavam expostas em prateleiras, sendo feitas para uso próprio
ou de conhecidos;
- não existe nem época, nem estilo nas imagens populares. Não há
qualquer obediência às regras e às proporções requeridas pela arte
erudita.
Não se tem, até o presente momento, conhecimento de outra imagem
semelhante a esta, portanto ela é única, com exceção da imagem recente
confeccionada como cópia dela. Não se sabe como a imagem de São Longuinho
apareceu na igreja e quem é o seu autor, portanto, a característica do anonimato
está presente.
O corpo e a cabeça são de madeira e o rosto é de argila, lembrando,
portanto, as peças da época da Colônia e do Império já citadas. A imagem não tem
as pernas, as mãos são grandes e, no rosto da imagem, não existe semelhança
entre as duas sobrancelhas. Conclui-se, então, que a imagem “achada” possui outra
característica referente a uma imagem popular – não há obediência às regras e às
131
proporções requeridas em uma imagem erudita. É uma imagem original em que o
barro está presente. Provavelmente quebraram-se as pernas da imagem que foi
encontrada toda destroçada (Anexo 4 – Entrevista III). É uma imagem de “roca”
29
.
Não se podem apresentar conclusões a respeito da origem da imagem
popular do São Longuinho da Freguesia, contudo levantaram-se algumas hipóteses
com base em todo o material pesquisado e nas entrevistas realizadas.
Hipóteses:
1ª hipótese: A imagem poderia ter sido feita pelos índios, pois
Freguesia foi aldeamento indígena.
Justificativa: Esta imagem poderia ter origem indígena, pois, como se
viu anteriormente, Etzel cita que: “com o evoluir da catequese, os índios foram
induzidos a criar suas próprias imagens, o que foi feito pelos jesuítas” (ETZEL, 1979,
p. 35).
Nos dados históricos da Igreja Nossa Senhora da Escada, explicitados
no item 4.1, apresentaram-se dados publicados em uma revista editada pela
Prefeitura de Guararema, que diz: “o povoado foi surgindo, provavelmente com a
presença dos jesuítas que, junto com os índios e colonos, construíram, em 1652,
uma igrejinha, erguida em uma colina à beira do rio Paraíba – Nossa Senhora da
Escada”
30
.
Outra justificativa para tal hipótese baseia-se em Etzel (1979, p. 82):
o barro foi tradicional no Brasil dos primeiros séculos, pois o índio
soube utilizá-lo na confecção de seus utensílios domésticos. Nossos
primeiros artistas sacros tiveram neste barro de manipulação usual, o
material ideal para se lançarem nas tentativas de esculpir imagens,
pois ele permitiu ensaios e até cópias com as facilidades que a
madeira não teria proporcionado. Acresce que o preparo e a queima
do barro eram de domínio do índio e seus descendentes.
A Igreja Nossa Senhora da Escada passou por restaurações em 1945,
1947 e 1957. Segundo depoimento de Vicente Antônio Matias Nogueira, quando ele
e Miranda (falecido) encontraram a imagem, ela estava junto com muitos pertences
da Igreja, num cômodo onde se achavam móveis, outras imagens de santos,
29
São imagens articuladas para que os devotos possam vesti-las
30
REVISTA, 1998, op. cit., p. 8
132
bancos, enfim num local onde estavam objetos da Igreja guardados para que a
Igreja fosse restaurada. Não soube informar a data exata. Disse que, na época, era
“meninote”, tinha menos de 16 anos, não sabe ao certo. Considerando que, em
2007, ele estava com 78 anos, pode-se inferir que, provavelmente a imagem foi
encontrada em torno de 1954 a 1957. Relata que a imagem estava com as pernas
quebradas, os dedos partidos: “Eu era ajudante de marceneiro. Trabalhava com o
Miranda (falecido). Encontramos ela lá no fundão, dentro de um armário, sem as
pernas, com os dedinhos partidos.” (Anexo 4 – entrevista II)
Pode-se dizer que a imagem inteira tenha sido feita de barro como o
rosto é, mas, ao ser encontrada e estando com a cabeça, o corpo e as pernas
destroçadas, algumas peças da imagem foram reconstituídas em madeira. Dona
Luíza, em seu depoimento, diz: “Miranda encontrou São Longuinho todo quebrado”
(Anexo 4 – Entrevista III).
Esta imagem “achada” poderia ser então da época da construção da
Igreja ainda, tendo sido uma obra artística dos índios, feita em barro e que
permaneceu esquecida por muitos anos.
2ª hipótese: A imagem poderia ter sido feita pelo Santeiro Pituba.
Justificativa: Hipótese apresentada por Jurandir Ferraz de Campos,
historiador, residente em Mogi das Cruzes, cidade próxima a Guararema, citado por
alguns entrevistados como “a pessoa que conhece a história da imagem” (Anexo 4 –
1e; Anexo 4 – Entrevista V - 3).
Para ele a imagem está na Igreja desde a época de Pituba (apelido de
Benedito Amaro de Oliveira), que foi um santeiro e que, segundo o historiador, viveu
no bairro Freguesia (1870). Morou também em Santa Isabel, próximo a Mogi das
Cruzes e Guararema. Para ele, Pituba é o santeiro que fez a imagem de São
Longuinho:
[...] é provável que a imagem de São Longuinho seja da autoria de
Pituba. Vejo muita semelhança entre esta imagem e as demais
(Anexo 4.V – Entrevista 2).
A imagem não foi achada, ela estava guardada junto com outros
pertences da Igreja. Ficou esquecida como outras coisas também
ficaram. A Igreja passou por um longo período em reformas, tudo
encaixotado, até ser restaurada ... a imagem estava no fundo de um
133
armário como outras coisas também estavam. (Anexo V – Entrevista
2)
Etzel (1979, p. 69) cita Dito Pituba como um dos santeiros populares
que viveram em Santa Isabel – SP, apresentando uma imagem de Nossa Senhora
do Rosário feita por Pituba, em barro e a cabeça de madeira: “provavelmente
quebrou-se a de barro e o santeiro substituiu por uma de madeira”. Apresenta
também “oratório feito por Dito Pituba, datado do século XIX em Santa Isabel – SP”
(ETZEL, 1979, p. 55), semelhante ao oratório de São Longuinho que foi roubado e
que se pode conhecer apenas por fotografia em preto e branco.
Outro depoimento que justifica esta hipótese é o de João Augusto
Figueiredo da Silva. Para ele a imagem foi feita por Pituba:
A Igreja passou por reformas, ocasião em que as imagens e as
peças que estavam no altar foram guardadas. Após a reforma, as
imagens e outros objetos voltaram para os lugares. Provavelmente
esqueceram dessa imagem e ela continuou guardada até ser
encontrada. Tudo indica que foi feita por um santeiro, que residia
próximo à Freguesia, o Pituba. O rosto dela é de argila e o corpo e a
cabeça de madeira. Ela é semelhante às imagens de Pituba. (Anexo
4.V – Entrevista 3).
As duas hipóteses e suas justificativas não têm, por enquanto, como
serem comprovadas ou rejeitadas. Conforme já mencionado, não existe nenhuma
documentação sobre a imagem na Igreja ou mesmo a respeito dos dados históricos
de Freguesia e sua Igreja. Os autores estudados divergem em alguns pontos,
conforme citado no item referente ao Histórico da Igreja de Nossa Senhora da
Escada nesta tese. Entretanto, tal questão sobre a origem da imagem do oratório
não é questionada pelos devotos de São Longuinho em Freguesia, uma vez que as
relações desses devotos com o santo é que justificam toda a devoção lá existente.
6.1.2 São Longuinho e seus pertences
Na sacristia da Igreja de Nossa Senhora da Escada, encontra-se um
armário trancado à chave, onde ficam as roupas de São Longuinho. Estas são bem
cuidadas pela zeladora, que as guarda em cabides. São vestes com detalhes em
rendas, outras bordadas, com um acabamento bem-feito. A imagem possui roupas
134
para uso diário, isto é, as que são colocadas nele durante a semana, independente
de se ter missa ou outra qualquer comemoração, ou mesmo se a Igreja estiver
fechada.
A imagem nunca fica sem vestimenta. Por ocasião de festas especiais,
como a da Padroeira, a Festa de São Longuinho, a roupa colocada na imagem
possui muito brilho, pois o santo assim gosta, segundo Dona Luíza: “São Longuinho
gosta de muito brilho, não aceita outra roupa nestas ocasiões” (Anexo 4 – Entrevista
III).
Na primeira vez em que estivemos em Freguesia, a imagem estava
com uma veste bem comprida, com babados, muita renda na barra, manga e gola e
a blusa com detalhes também em renda. Fita branca no pescoço com um crucifixo
dourado. Para os dias de festas, a imagem possui uma veste mais curta, estilo bata
indiana, com bordados em pedrarias, com muito brilho. No pescoço, é colocado um
terço com pedras brilhosas.
Na Festa de São Longuinho em 2004, estava com uma veste
semelhante à descrita para as ocasiões especiais, porém mais curta. Em 2005, a
veste era branca, também com muito bordado em paetês. Já em 2006, outra
vestimenta nova, também branca, doação de uma devota e, em 2007, nova veste foi
doada. Em 2008, houve nova doação de vestimenta.
Todas as roupas de São Longuinho são doadas por fiéis, como
pagamento de graças alcançadas. Dona Luíza relata que, desde que encontraram a
imagem, ela sempre recebeu roupas, assim tem sempre uma roupa nova.
As pessoas que a encontraram foram as primeiras a mandar
confeccionar uma roupa para o “santo” e, desde então, ele nunca ficou “pelado”
Conta D. Luíza que, certa vez, uma devota de São Caetano trouxe uma roupa para
São Longuinho, camisola que havia sido de sua filha, a qual, naquela ocasião,
estava com 50 anos. A zeladora vestiu a imagem e pediu que a senhora lhe
deixasse um número de telefone para contato, dizendo que “se São Longuinho
gostar, eu deixo ele com a roupa. E, se não gostar, eu telefono” para devolvê-la. Ela
não telefonou porque “o santo ficou muito satisfeito” com o presente.
Junto com as roupas de São Longuinho, também são guardadas as
bijuterias e jóias provenientes de doações de devotos ao santo.
135
6.1.3 Cartaz
Ao lado do oratório do santo, um cartaz está fixado na parede,
mencionando uma graça alcançada por uma pessoa da comunidade (ver anexo 6 -
C). Este cartaz foi levado até ao oratório de São Longuinho pela pessoa que
alcançou a graça em maio de 2006, durante uma missa. Essa pessoa, sob
orientação do pároco, entrou na Igreja durante o Ofertório, carregando este cartaz,
fato que provocou muita emoção para essa devota e para toda a comunidade.
Segundo algumas pessoas da comunidade, foi a melhor maneira
encontrada pelo padre para que aquela devota agradecesse ao santo, pois, se
publicasse em jornal, nem todos da comunidade tomariam conhecimento do
“milagre”.
Em 2006, novos cartazes foram colocados na parede lateral ao
oratório, informando das graças alcançadas. Nos livros de registro da Igreja,
encontram-se também anotados agradecimentos a São Longuinho e algumas folhas
são colocadas por devotos dentro de tal livro, agradecendo e/ou relatando graças
alcançadas (Anexo 7).
6.2 Atribuições do santo
Para se definirem os atributos de São Longuinho, viu-se a necessidade
de pesquisar qual a visão que os moradores da Freguesia e os devotos que lá
comparecem têm sobre o santo, ou melhor, quem é São Longuinho para essas
pessoas. Qual a visão que estas pessoas têm sobre São Longuinho? Quais as
qualidades do santo mencionadas por seus devotos?
Tentou-se responder a tais questões a partir das informações obtidas
nas entrevistas feitas com os moradores de Freguesia e os devotos, bem como por
meio da análise dos bilhetes deixados no oratório do santo, e das informações
prestadas por visitantes e moradores. As pessoas, ao responderem as perguntas
sobre São Longuinho, apresentaram exemplos de intervenção do santo na vida
delas ou de parentes, amigos ou conhecidos. Referiram como iniciou a devoção,
mencionando relatos que escutaram de pessoas mais velhas, devotas do santo.
136
Alguns entrevistados apresentaram São Longuinho a partir de elementos
relacionados à idéia de santo de um modo geral:
Por ser São Longuinho muito bom. Ele atende tudo que é pedido
com fé, se a pessoa acreditar nele vai conseguir tudo (Anexo 4 –
Entrevista III).
Alguns entrevistados mencionam São Longuinho como um santo com
capacidade para lidar com diferentes situações, principalmente em momentos de
aflição:
É um santo muito bom ... Sempre que se precisar de dinheiro, curar
doença, achar coisas perdidas, para qualquer coisa, é só rezar para
ele com fé (Anexo VIII - Devoto nº 5).
Alguns citam São Longuinho como um soldado romano e justificam os
atos dele tendo em vista o fato de que cumpria ordens.
São Longuinho vem do latim Longinus, soldado romano que na
crucificação fincou a lança em Jesus. Se converteu, se arrependeu.
Ele era um soldado, um guerreiro (Devoto na II Festa de S.
Longuinho).
Se converteu, se arrependeu. Ele era um soldado, um guerreiro e
obedecia ordens (Devoto na II Festa de S. Longuinho).
São Longuinho também é apontado como aquele com quem podem
contar em qualquer situação difícil, conforme demonstram as expressões “santo das
causas impossíveis”, “santo das situações difíceis”.
Outros entrevistados consideram São Longuinho um franciscano, com
base na crença de ele haver feito votos de pobreza, conforme mencionado:
Com o convento dos franciscanos ao lado da Igreja, os frades
cuidavam da Igreja, dos santos ... Dizem também que após a
conversão, São Longuinho fez votos de pobreza e virou franciscano
(Anexo 4.IV – Entrevista 1).
137
Uma entrevistada mencionou ser São Longuinho um santo espírita.
Houve também quem o relacionasse com São Francisco, uma maneira talvez de
mencionar a importância dele no panteão de santos católicos:
São Francisco é considerado um santo popular, um santo amigo e
São Longuinho é visto assim. Por isso, a imagem de São Longuinho
franciscano (Anexo 4.IV – Entrevista 1).
Na breve análise feita para se saber a visão dos devotos sobre São
Longuinho, encontra-se a existência de múltiplas competências e atributos. São
Longuinho é um santo guerreiro, um soldado que, após sua conversão ao
cristianismo, fez votos de pobreza, tornando-se um monge ou franciscano. É um
santo popular, amigo de seus devotos, protetor dos necessitados. Recorre-se a ele
para achar coisas perdidas, sendo acionado nas situações difíceis, nos pedidos de
coisas impossíveis, enfim, invocado em qualquer situação. Tornou-se uma pessoa
boa após sua conversão, passando por muito sofrimento, tornando-se um mártir. Fé,
confiança, amizade, bondade estão presentes nos depoimentos no que tange à
relação entre o devoto e o santo. A questão da tradição oral também está presente
em vários relatos, pois alguns dizem conhecer São Longuinho desde criancinha
através da mãe ou da avó.
Em síntese, pode-se dizer que São Longuinho, em Freguesia, é visto
como um soldado romano que, presente na crucificação de Jesus, fincou-lhe uma
lança no peito, converteu-se, fez votos de pobreza e a partir daí, começou a ajudar
os necessitados. É um santo muito bom, que atende tudo que é pedido com fé. É o
santo, invocado nas situações difíceis e sempre presente na vida dos moradores,
que comemoram com ele as alegrias e compartilham as tristezas. E a força de São
Longuinho é tanta que, aos poucos, tornou-se a figura central da Igreja de Nossa
Senhora da Escada.
138
SÍNTESE
Nesta segunda parte – A trajetória de São Longuinho em Freguesia: da
gaveta ao altar –, abordamos desde o “descobrimento” da imagem por moradores de
Freguesia em um armário localizado em uma cômoda que estava desativada nos
fundos da Igreja até a chegada desta imagem no altar-mor da Igreja, próximo à
imagem da Padroeira, Nossa Senhora da Escada. Foi composta pelos capítulos 4, 5
e 6, sendo mencionada no capítulo 4 a história da Igreja, a configuração atual da
Igreja, que está em processo de restauração e também a devoção a São Longuinho.
Devoção esta que é tradição em Freguesia, sendo transmitida oralmente pelos
moradores e devotos de São Longuinho na localidade.
O capítulo 5, além de mencionar a descoberta da imagem e sua
trajetória até o altar, descreveu também o culto à imagem achada, apresentando os
rituais dos devotos perante esta imagem, as promessas e relatos de milagres
atribuídos ao santo, enfim, as práticas devocionais a São Longuinho em Freguesia.
Por fim, no capítulo 6, apresentamos como São Longuinho foi sendo
composto em Freguesia, descrevendo-se as características da imagem achada, as
roupas e pertences do santo, os cartazes colocados próximo ao oratório e os
depoimentos de alguns devotos. Apresentamos também os atributos de São
Longuinho em Freguesia. A intenção neste capítulo foi mostrar como São Longuinho
se apropriou da Igreja de Nossa Senhora da Escada, demonstrando a força do
Santo da Freguesia.
Houve na localidade um processo de “empoderamento” de São
Longuinho, que vai da descoberta da imagem até São Longuinho tornar-se a figura
central da Igreja de Nossa Senhora da Escada e de Freguesia.
Nessa trajetória, muitos elementos estão implicados e vão formando
um movimento com uma dinâmica própria, a qual será o tema abordado na próxima
parte do estudo.
139
PARTE III – A DINÂMICA DA DEVOÇÃO EM FREGUESIA
“[...] Muito antes das infra-estruturas e das
superestruturas, na base de toda sociedade, encontra-se
a potência, dynamis, a movimentação, que, contendo
todas as formas e estruturas, não se confunde com
nenhuma”. (MOTTA, 1993, p. 15)
140
7 A REDE SOCIAL DA DEVOÇÃO
A realidade é um todo único, corrente, em que objetos e fenômenos
dependem uns dos outros, se condicionando mutuamente. Não é algo acabado e
sim um processo que está em constante mutação, onde o desenvolvimento e as
renovações são incessantes, através de contradições internas, onde os fenômenos
acompanham a própria realidade. E esta realidade vai se transformando sempre, ela
é um produto das pessoas que nela convivem, isto é, dos atores sociais.
É o homem como ator social quem produz as estruturas de uma
determinada realidade, embora ele também fique condicionado em sua produção por
pertencer a determinado grupo social.
Não é possível se falar em devoção sem considerar a realidade social
como um conjunto na complexidade de todas as relações e inter-relações grupais,
isto é, considerar a dinâmica histórica e dialética da devoção como um produto dos
atores sociais. E isso nos leva a pensar no homem como ator social, como produto
de uma devoção.
7.1 O homem como ator social de uma devoção
O homem pode ser definido como “ser-no-mundo com os outros”,
porque os homens, o mundo, influenciam toda a existência do ser humano. O
homem não vive e não pode viver isolado de sua realidade na qual constantemente
imprime a sua marca, o seu modo de ser. Isso porque ele sempre exerce sobre o
mundo uma prática transformadora, ao mesmo tempo que sofre seus efeitos,
transformando-se. O homem só transforma a realidade na medida em que participa
dela junto com os outros homens. Desse modo, a vida humana é convivência: se o
homem, na própria base de sua existência, é para os outros, que são os seus
semelhantes, e se, unicamente para eles é o que é, então a sua definição é de uma
participação e comunicação necessárias para os outros.
Para Horkeimer e Adorno (1973, p. 47), o homem
relaciona-se com os outros antes de se referir explicitamente ao eu; é
um momento de relações em que vive, antes de poder chegar,
finalmente, à autodeterminação. Pode-se dizer então que o homem,
no âmbito das condições sociais em que vive e antes de ter
141
consciência de si, deve sempre representar determinados papéis
como semelhante de outrem. Em conseqüência desses papéis e em
relação com os seus semelhantes, o homem é o que é, sempre se
relacionando com os outros. Assim, as relações do homem são para
ele algo extrínseco nas relações que se determinam a seu próprio
respeito, de acordo com o seu papel social naquele momento. Assim,
o homem só se define em sua correlação vital com outras pessoas, o
que constitui precisamente o seu caráter social. A sua vida adquire
sentido nessa correlação, em condições sociais específicas entre ele
e a sociedade.
A partir do exposto, acredita-se que as pessoas só participam na
medida em que interagem umas com as outras, se relacionando mutuamente, da
mesma forma que a participação decresce se lhes obstaculizam o relacionamento.
Ao se pensar em devoção, acredita-se que as interações sociais
constituem o processo básico que impulsiona a participação das pessoas envolvidas
com a devoção – os atores da devoção. Neste processo, se encontram modalidades
de relações sociais, como acomodação, conflito, competição, etc... e que vão se
desenvolvendo através dos contatos individuais, grupais, intergrupais. A este
conjunto de relações sociais entre os membros de uma devoção – rede de
interações – vão surgindo ações correspondentes a funções e responsabilidades
diversificadas, que se podem denominar “papel social”.
Entende-se por “papel social” o comportamento de uma pessoa numa
determinada posição, dependendo de uma interação entre suas próprias
expectativas apreendidas e as pressões que lhe são impostas por outros que,
possivelmente, também têm diferentes expectativas e dependem do poder que estes
outros têm sobre ela. Mais especificamente, uma relação dialética, em que uma
interação estará mudando constantemente, à medida que as relações de poder
mudam.
Através do papel social, o ator social participa e interage com outros. A
rede de interação de uma devoção apresenta-se então como o conjunto de relações
sociais recíprocas entre seus membros enquanto desempenham papéis sociais
distintos.
A partir do homem como um ator social, interagindo com seus
semelhantes, incorporando e fazendo cultura, descobrindo-se e dando um sentido
às coisas do seu mundo (sua realidade), é que passamos a refletir no item seguinte
sobre os atores da devoção a São Longuinho em Freguesia.
142
7.2 Atores da devoção a São Longuinho
Em Freguesia, determinadas pessoas, moradoras do bairro ou pessoas
com certa posição social em Guararema foram transformadas, realmente, em
personagens de destaque na devoção a São Longuinho.
Estas pessoas se tornaram os atores da devoção a São Longuinho,
constituindo um grupo que trabalha pelo reconhecimento da devoção na localidade.
Consideramos como grupo a situação básica, aquela em que vivemos, uma vez que
todo ser humano está presente num grupo de parentesco, de vizinhança, étnico, de
trabalho, cuja representação interna conserva-o unido para o mundo.
Kisnerman (1987, p. 54) define grupo como
uma estrutura móvel – portanto um estruturar-se de membros
implicados numa missão e numa concernência, sendo que a primeira
é a ligação que existe entre os integrantes e a segunda, a
capacidade de os membros se concentrarem na tarefa, que, por sua
vez, define uma área socioemocional e uma área instrumental. A
ligação se estabelece mediante a interação que se efetua ao redor
dos significados explícitos, compartilhados, que, por sua vez, envolve
reciprocidade, complementação e comunicação.
Um grupo está sempre inserido em uma instituição ou faz parte de uma
comunidade. Pode ser espontâneo, ou seja, aqueles constituídos sem intervenção
de um profissional para coordená-los, sejam ou não institucionais.
Em Freguesia, a devoção a São Longuinho foi constituída por um
grupo espontâneo, informal, uma vez que a devoção foi surgindo como resultado
das interações das pessoas que encontraram a imagem, da zeladora, que a
identificou como sendo São Longuinho, e de moradores, unindo esforços para
propagar a fé em São Longuinho. Este grupo foi sendo composto por uma estrutura
que emergiu da interação desses atores sociais e assim a interação psicossocial
está na base da devoção a São Longuinho em Freguesia. O relacionamento que foi,
aos poucos, sendo estabelecido entre estes membros, atores da devoção, e os
devotos de São Longuinho determinou um movimento e uma força, uma dinâmica
que projetou a devoção na localidade.
Com base nas entrevistas por nós realizadas e nas observações no
campo, definimos como atores da devoção a São Longuinho em Freguesia:
- a zeladora da Igreja, D. Luíza;
143
- uma das pessoas que encontraram a imagem: Vicente;
- um político de Guararema, responsável pela divulgação da devoção na
Internet, João Figueiredo;
- O clero: padre Roberto, padre Geraldo, frei Alamiro, padre Adalberto –
Bispo;
- os atuais coordenadores da pastoral: Ângela/Carlos;
- Poder Público;
- A imagem achada e seus devotos.
7.2.1 A Zeladora
Luíza Lemes de Almeida, nascida em 1923, zeladora da Igreja desde
os 45 anos de idade, cuida diariamente da Igreja e da imagem de São Longuinho,
desde a década de 50.
Foi criada em Freguesia, em um ambiente familiar católico e, desde os
3 anos de idade, escutava histórias sobre São Longuinho e assim iniciou sua
devoção ao santo.
“Desde criança..., desde 3 anos de idade, escuto falar de São
Longuinho, mas não lembro de tudo. Minha mãe, minha avó tinha
muito para contar... Sempre gostei de São Longuinho e tenho fé,
muita fé.”
Freguesia da Escada começou como um local indígena, uma aldeia
que foi sendo construída por índios capturados, outros aliciados e, assim foi sendo
constituída e entregue em 1625 aos Jesuítas, que, junto com os índios, ergueram a
capela em 1652. Em 1789, a administração ficou sob a responsabilidade dos
franciscanos.
Em 1758, o Marquês de Pombal designou autoridades civis para a
administração das aldeias, separando assim o poder eclesiástico do poder secular.
Em 1803, houve a dissolução do aldeamento, sendo os índios equiparados aos
demais cidadãos. Em 1875, com a doação do terreno de Laurinda de Souza Leite,
sendo construída uma Capelinha dedicada a São Benedito, moradores foram se
fixando em torno desta capela. Formou-se o vilarejo de Guararema.
Freguesia da Escada nunca teve importância comercial e foi ficando
esquecida e, com o passar dos anos, sítios foram sendo construídos em Freguesia,
moradores foram se instalando e a vida religiosa se propagando no centro de
144
Guararema. Mas a Igrejinha continuava em Freguesia, sendo cuidada por
moradores e, entre esses moradores, os antepassados de D. Luíza. Esta relata que
sua avó, sua mãe também foram zeladoras da Igreja. Assim, Freguesia continuou
com sua vida religiosa sem padre, com seus puxadores de terços, rezadores
populares, beatas se encarregando de cuidar da Igreja. Eram leigos reconhecidos
pela comunidade como “mediadores legítimos de serviços religiosos”
31
e de
comunicação eficaz entre os fiéis e sua padroeira, Nossa Senhora da Escada.
Em Freguesia, esses leigos, representantes do catolicismo na
comunidade, marcavam um sistema de prática religiosa predominantemente
devocional e familiar, em que a presença de padre era esporádica.
Em julho de 2003, quando iniciamos a pesquisa em Freguesia, ao
entrevistar o padre e moradores por ele recomendados, tomamos conhecimento de
que a zeladora era reconhecida por todos na comunidade como uma autoridade no
culto a São Longuinho. Ela conhece todos os moradores da comunidade e é
conhecida por todos, os quais a consideram uma representante de Freguesia e
“amiga” de São Longuinho, sendo também considerada a defensora de São
Longuinho em Freguesia.
D. Luíza reside em casa própria, localizada ao lado da casa de sua
filha Helena, esposa de Vicente, a pessoa que encontrou a imagem de São
Longuinho.
Sendo criada em família católica, foi com grande fervor religioso que
assumiu a Igreja e, mais tarde, São Longuinho. Sempre participou das atividades da
Igreja e empenhou-se numa luta comunitária em prol de a imagem de São
Longuinho achada ir para o altar. Ocupa uma posição de prestígio e reconhecimento
no bairro.
“...D. Luíza é quem sabe tudo de São Longuinho em Freguesia”
(Padre Geraldo, entrevista de julho/2003).
“...Procure a D. Luíza, ela é amiga do santo” (Casal Ângela/Carlos,
entrevista de julho/2003).
“...D. Luíza é uma pessoa muito respeitada e estimada na
comunidade e todos a obedecem, sabem que ela não mente...”
Ela sentiu-se no dever de não se submeter às ordens do padre Roberto
que, segundo ela, não gostava de São Longuinho e não queria o santo no altar.
31
terminologia usada por Brandão (1980, p. 56)
145
Houve em Freguesia uma tomada progressiva de espaço de poder conquistado pela
zeladora, que foi, aos poucos, mantendo contatos pessoais com devotos,
comunidades vizinhas, sempre interessada na divulgação dos milagres de São
Longuinho.
D. Luíza, nas várias ocasiões em que conversamos ou a
entrevistamos, contou uma série de histórias e casos de milagres de São Longuinho
que fazem parte do repertório da tradição oral. Os casos que ela conta e reconta
para os moradores e visitantes de Freguesia foram contados por sua mãe, avó e
outros parentes já falecidos.
D. Luíza entende, conversa e interpreta para a comunidade da
Freguesia, visitantes e devotos do santo o que São Longuinho está querendo,
sentindo. A importância dela está ligada a uma intimidade com São Longuinho e ela
cultiva isso, conforme pode ser observado nas falas abaixo:
A imagem do santo muda de expressão quando ele não gosta de
alguém ou de alguma coisa. Ele faz careta para XXX. (D. Luíza conta
que, uma vez, ela estava vestindo o santo, chegou uma professora e
ficou conversando com ela. De repente, a professora gritou e disse
que São Longuinho estava fazendo careta para ela, e D. Luíza,
olhando para a imagem, concordou. Segundo a zeladora, ele fez
careta porque estava pelado, e ele estava acostumado a ficar pelado
só com ela que cuida dele há muitos anos). Anexo 4 – Entrevista III.
As pessoas perdiam objetos e eu mandei rezar para São Longuinho
e, logo em seguida, achavam o que tinham perdido. (Anexo 4 –
Entrevista III).
Um dia, resolvi enfrentar o padre (que não gostava do santo) e trouxe
o santo para dentro da Igreja. (Anexo 4 – Entrevista III).
Procure a D. Luíza, ela é amiga do santo (Anexo 4 – Entrevista IV.1).
Batizaram a imagem de São Longuinho (ao perguntar: quem?
Respondiam: “D. Luíza” (Anexo 4 – Entrevista IV.1).
É fé e também medo do santo (Anexo 4 – Entrevista 5.4).
D. Luíza diz ser de São Longuinho. Ela é uma pessoa muito
respeitada e estimada na comunidade e todos a obedecem, sabem
que ela não mente (Anexo 4 – Entrevista 5.4).
A imagem muda de expressão e ocorreu um fato que vamos contar
para você... estavam arrumando a igreja nos preparativos para a
festa de São Longuinho e, do lado de fora, havia discussão se ia ter
festa ou não. Se esta teria público devido às discussões e conflitos
ocorridos na comunidade (desentendimento entre o coordenador da
146
pastoral e padre Geraldo com padre Roberto, e também conflito
perante a possibilidade de o coordenador se candidatar por partido
político contrário ao atual). Barulhos aconteceram na Igreja, a
lâmpada próxima ao oratório de São Longuinho começou a piscar e a
expressão do santo realmente mudou, ele estava muito bravo.
Tiveram que chamar D. Luíza e, depois de muito tempo, a situação
melhorou. D. Luíza conseguiu realmente acalmar o santo (Anexo 4 –
Entrevista 5.4).
Tudo o que sei foi contado por D. Luíza (Anexo 4 – Entrevista 6).
7.2.2 Pessoa que “achou” a imagem
Vicente Antonio Matias Nogueira, nascido em 1928, em Jacareí,
atualmente com 79 anos, morador em Freguesia desde 1947, ou seja, há 64 anos. É
casado com Helena, filha de D. Luíza, a zeladora da igreja, residindo em casa
própria, ao lado da sogra.
Vicente tem uma situação econômica razoável, segundo ele. Possui
automóvel, tem duas casas na praia. Os filhos estudaram e têm qualificação
profissional. Desfruta, enfim, de uma posição econômica boa e de destaque em
Freguesia.
Segundo ele, a imagem achada por ele e Miranda foi identificada como
sendo de São Longuinho por sua sogra, D. Luíza:
“A imagem ficou no fundão, o padre não deixava a imagem vir para a
igreja. No início, ninguém sabia quem era. Começaram a pedir ao
santo quando perdiam alguma coisa e, na hora, o santo achava. D.
Luíza disse que só podia ser São Longuinho”.
Vicente é devoto de São Longuinho desde a época da descoberta da
imagem, reza muito para ele.
“Estou sempre com ele na igreja. Venho à igreja todos os dias dar
uma olhada em São Longuinho, cumprimentar ele. Só não venho
quando estou doente ou um caso sério para resolver. Quando não
venho, fico esquisito, parece que está faltando alguma coisa”.
Ele relata que já fez muitas promessas para o santo e que quase tudo
que tem o santo é que deu:
“Quase tudo que tenho ele me deu.”
147
Vicente fica muito emocionado sempre que fala do santo e é motivo de
orgulho para ele ter achado a imagem, pois, em uma das ocasiões em que estava
sendo entrevistado e alguém o chamou ele falou:
“Não atrapalhe que estou fazendo reportagem. Agora não posso ser
atrapalhado. Eu que achei o santo”.
Vicente é uma testemunha viva do “achamento” da imagem e de todos
os acontecimentos relacionados com São Longuinho em Freguesia.
Costumeiramente, vai à praça da igreja e, sempre que a igreja está aberta, fica
próximo ao oratório de São Longuinho com os visitantes que vão a Freguesia em
busca do santo. Reconta as histórias sobre São Longuinho contadas por D. Luíza e
constantemente é entrevistado e fotografado.
Relata que houve um período em que se sentiu culpado por ter rido do
santo, quando ele e Miranda, ao acharem a imagem, riram dela, considerando-a
muito feia. Ressalta que já pediu desculpas a São Longuinho algumas vezes por
esta falha e que tem certeza de que São Longuinho o desculpou. Salienta: “Ele é um
santo muito bom”. Vicente criou uma lenda em torno da história que viveu, o
“achamento” da imagem e divulga, assim, a devoção a São Longuinho.
7.2.3 Clero
A cronologia da presença do clero em Freguesia, desde o achamento
da imagem, pode ser dividida em três momentos:
a) O período da presença do padre Roberto, que foi sacerdote por 26 anos em
Guararema e, ao aposentar-se, permaneceu em Freguesia até sua morte em
2005.
b) O período do padre Geraldo Magela Lázaro, que atuou na comunidade de
2001 a março de 2006.
c) O período do padre Adalberto, que atua na comunidade desde 2006.
Quanto ao período anterior ao do padre Roberto em Freguesia, quase
não se obtiveram informações a respeito. A única pessoa que apresentou dados
148
referentes a essa época foi o padre João Rosa, que atuou em Freguesia no período
de 01/01/58 a 17/07/69, um período de 11 anos, e relatou em seu depoimento que,
durante sua permanência em Freguesia, nunca tomou conhecimento da imagem de
São Longuinho:
“Já tentei recordar várias vezes sobre a presença desta imagem na
Igreja de Nossa Senhora da Escada na época em que lá atuava e
não me lembro da existência dela. Não me lembro da presença de
pessoas indo por São Longuinho em Freguesia. Em 06/04/58,
Freguesia não tinha eletricidade ainda. Foi inaugurada a luz, consta
da ata, no livro de registro da Igreja (Livro de Tombos). Já reli estas
atas, e nenhuma cita São Longuinho, nem a chegada de pessoas à
procura da imagem” (Anexo 4, Entrevista I – 4).
7.2.3.1 Padre Roberto
O sacerdote holandês, cujo nome civil era Athur Nathalie Veleyrem,
que atuou por 26 anos em Freguesia, era reconhecido por todos os moradores como
padre Roberto e faleceu em 2005.
Em julho de 2003, quando entrevistado pela primeira vez, padre
Roberto fez referência à devoção a São Longuinho como algo da comunidade.
“A devoção a São Longuinho é da comunidade. Não existe nada
oficial. A imagem foi colocada na Igreja por Luíza” (Anexo 4 –
Entrevista I -2).
Para padre Roberto, tudo a respeito de São Longuinho de Freguesia
era folclore, histórias contadas pela comunidade. Para ele, o historiador professor
Jurandir (Anexo V -3) sabe das informações corretas sobre a imagem.
“[...] O santeiro que passou por essa região fez uma imagem a sua
maneira, como uma devoção. Esta foi encontrada no cafundó e
restaurada pelas pessoas da comunidade. E daí surgiram os boatos.
Em Roma, tem uma imagem grande de São Longuinho soldado. Esta
imagem está de acordo com a historia do soldado que se converteu.
É aceitável, apesar de não podermos dizer se São Longuinho
realmente existiu. Não vivemos naquela época”.
Para esse padre que atuou em Freguesia durante muitos anos, era
muito triste ver a devoção a São Longuinho crescer tanto em Freguesia e, durante a
festa de Nossa Senhora da Escada em 2004, se aproximou da pesquisadora e
disse: “o povo vai todo para o oratório de São Longuinho e não para Nossa Senhora
da Escada. A festa é dela. Está vendo o que está acontecendo aqui? Pura
superstição.”
149
Padre Roberto, sob o ponto de vista de pessoas da comunidade, era
uma pessoa de temperamento difícil de lidar. Na primeira vez que estivemos em
Freguesia, não aceitou ser entrevistado pessoalmente e somente por telefone.
Padre Geraldo solicitou sua presença na Igreja para conversar conosco e ele se
recusou.
Mais tarde, ao entrevistar outras pessoas, tomamos conhecimento que
padre Roberto sempre trabalhou muito, e a comunidade, muitas vezes, não
reconheceu isso:
“...ele chegava atrasado ou em cima da hora para celebrar missa,
muitas vezes suado, sujo, despenteado e isso incomodava as
pessoas da comunidade.”
“... ele construiu muitas igrejas na redondeza e ele punha a mão na
massa mesmo.” (Entrevista de D. Lourdes – Anexo V – Entrevista 1)
Em 17/11/2003, por ocasião da missa de inauguração da festa de
Nossa Senhora da Escada, nos disse que gostou de saber que tínhamos
entrevistado o historiador Jurandir, de saber que havia, por nossa parte, disposição
em ouvir pessoas de conhecimento científico.
Ao dizermos que nossa intenção era ouvir todos que tivessem uma
história para contar sobre São Longuinho e quisessem contá-la, enfim, que todos
poderiam participar das entrevistas, que ouviríamos diversas pessoas, relutou um
pouco, mas, no final, concordou que teríamos que escutar as várias versões da
comunidade sobre São Longuinho. Fez referência ao fato de, naquele momento,
estarmos com D. Lourdes, falando que isso, para ele, é muito importante, por gostar
muito dela:
“Você está bem recomendada, uma vez que está com Lourdes,
apesar dela ser amiga também do Grand Hotel. Este e a Pousada
Vale do Sonho estão manipulando a devoção na Freguesia” (Anexo 4
– Entrevista I -2).
Presenciamos padre Roberto participar ativamente da arrumação da
festa de Nossa Senhora da Escada de 2003 e solicitou que nós nos uníssemos a ele
e Jurandir para acabar com a superstição em Freguesia.
“Junte-se a mim e a Jurandir, por favor. Irmã de caridade com São
Longuinho... não agüento...” (fazendo referência a uma irmã de
caridade que estava na fila do oratório por ser devota de São
Longuinho).
150
Conversamos novamente sobre a pesquisa, sobre a nossa presença
em Freguesia, assim como sobre a necessidade de neutralidade nas desavenças e,
segundo D. Lourdes, ele “amoleceu” ao conversar conosco e, no dia seguinte (um
sábado), solicitou ser fotografado:
“Coloca no seu ‘livro’ que eu que tirei ele do ‘cafundó’”. (Referindo-se
a São Longuinho). (Anexo 4 – Entrevista I -2)
Escolheu o local e a posição para a foto, dentro da igreja, tendo, no
fundo, a imagem de Nossa Senhora da Escada.
“A senhora tem certeza de que saiu bem. Tire mais uma. Depois
resolvem publicar seu trabalho e ele fica sem minha foto, não que
faça questão, mas eu tirei ele do ‘cafundó’”.
Padre Roberto estava muito comunicativo, referindo-se a São
Longuinho de maneira diferente de sua fala em julho de 2003, quando foi
entrevistado por nós pela primeira vez. Referindo-se à imagem de São Longuinho,
ele afirmou:
[...] foi encontrada no cafundó e restaurada pelas pessoas da
comunidade. E daí começaram os boatos.
Solicitava aos devotos que se posicionavam próximos a ele que se
afastassem para pudesse ser fotografado tendo, ao fundo, a imagem de Nossa
Senhora da Escada. Ele dava as coordenadas para a foto e dizia que, se São
Longuinho nessa ocasião estava com este sucesso todo, era graças a ele, que
permitiu a imagem no altar. Uma vez que, como autoridade da Igreja, ele poderia ter
proibido sua permanência no altar. Mas D. Luíza o refutou: “Padre mentiroso, nunca
gostou de São Longuinho, agora anda atrás da senhora e quer ser fotografado”.
Padre Roberto justificou para nós que a devoção a São Longuinho
cresceu tanto em Freguesia que não tinha como ser contra. Necessitava de orientar
os devotos do santo nas leis do Evangelho. E, segundo moradores de Freguesia,
padre Roberto não mais “implicou” com São Longuinho.
O padre, que não queria a imagem de São Longuinho no altar, se
reconciliou com o santo. Faleceu em 2005 e, no seu enterro, o caixão foi levado de
carro até Freguesia, onde a comunidade se despediu dele, colocando a imagem de
Nossa Senhora da Escada e a de São Longuinho do lado de fora da igreja, e muitos
151
moradores choraram ao ver o cortejo. E, assim, padre Roberto, que não queria a
imagem de São Longuinho no altar, morreu reconciliado com o santo e com a
comunidade.
7.2.3.2 Padre Geraldo
Geraldo Magela Lázaro, pároco de Guararema, atuou em Freguesia de
2000 a março de 2005. Foi a primeira pessoa por nós procurada em Guararema ao
dar início à pesquisa sobre São Longuinho, ainda no mestrado, em julho de 2003.
Segundo moradores, padre Geraldo, além de muito atuante, estimulou
e permitiu a participação da comunidade: “ele permitiu São Longuinho no altar”. Em
entrevista em julho de 2003, relatou que “a devoção a São Longuinho é algo popular
mesmo. Algo que surgiu em Freguesia e foi sendo passado entre os moradores”.
Referiu também: “Não proíbo a comunidade de se expressar de tal maneira. No
calendário oficial católico, não existem tais programações, mas não proíbo. Deixo a
comunidade à vontade”.
Padre Geraldo relatou que comparecia em Freguesia somente uma vez
no mês (na segunda sexta-feira), ou quando necessitava dar atendimento a doentes.
Referiu que as comunidades funcionam independentes de padres e que, em
Freguesia, D. Luíza é uma moradora antiga e capacitada para fornecer informações
sobre São Longuinho e a comunidade.
Padre Geraldo foi o responsável pela fabricação da imagem de São
Longuinho como soldado romano. As pessoas que compareciam à igreja, devotos,
curiosos, começaram a solicitar uma imagem de São Longuinho para comprar, para
levar para casa e assim surgiu a idéia de ser colocada à venda uma imagem de São
Longuinho como soldado, uma vez que assim é a imagem do Vaticano.
Padre Geraldo teve um papel importante na devoção a São Longuinho.
Foi quem orientou a comunidade de Freguesia e o grupo da pastoral na consecução
de todas as atividades, enxergando a necessidade de interpretar todas as mudanças
que estavam ocorrendo em Freguesia após o roubo do oratório, formando grupos de
estudo para pesquisar mais sobre o santo, viajando para a Itália em busca de
conhecimento sobre São Longuinho, tendo em vista que, no Vaticano, há uma
imagem de São Longuinho. Permitiu que o grupo passasse por uma nova situação,
levando a comunidade a um processo de mudança.
152
As relações entre padre Geraldo e Freguesia foram cordiais o bastante
para permitir desempenhos marcados pelo respeito mútuo, com apoio ao padre, sem
conflitos com as iniciativas da zeladora da Igreja em relação à devoção a São
Longuinho.
Permitiu nossa presença em Freguesia, dava entrevistas sobre São
Longuinho. Procurou levar as pessoas empenhadas na devoção a São Longuinho a
participarem das decisões a serem tomadas e a se responsabilizarem pelos
resultados de suas ações. Mas sempre se mantendo do lado da comunidade.
Procurou criar, com os membros da devoção, um conjunto de
significados (ou sinais, símbolos e signos, valores e normas) para dar direção à
propagação da devoção. Procurou uma interarticulação de papéis que se
associavam e eram assumidos pelos membros.
Padre Geraldo conseguiu estabelecer um diálogo entre os membros da
pastoral e os moradores de Freguesia, devotos de São Longuinho. Estabeleceu
solidariedade intergrupal, procurando estruturar a comunidade em prol da devoção a
São Longuinho.
Em novembro de 2005, padre Geraldo comentou que a situação em
Freguesia estava preocupante (referindo-se à devoção a São Longuinho). Disse
que, como aumentou muito a procura pela imagem do santo, estava sendo cobrado
por superiores por causa da devoção a São Longuinho e que não pretendia se
indispor com a comunidade, com os devotos do santo. Solicitou nossa colaboração
para falar com os bispos (o atual e o antigo) sobre a devoção a São Longuinho, o
aumento da procura pelo santo, bem como sobre o que presenciamos em
Freguesia.
Com padre Geraldo ocorre em Freguesia uma “virada” na posição da
instituição (Igreja) no que tange à devoção a São Longuinho. A devoção, vista pelo
padre anterior, padre Roberto, como da comunidade, na primeira entrevista com
padre Geraldo, em julho de 2003, também foi referida como algo da comunidade.
A devoção é da comunidade; é crença da população de lá, do povo
mesmo. Não tenho nada contra, mas tem colegas que não apóiam
(Anexo 4 – Entrevista I)
Mas com o passar dos meses, em Freguesia, padre Geraldo foi vendo
o crescimento da devoção e achou importante valorizá-la:
153
É importante valorizar a devoção popular, a religiosidade popular.
São Longuinho é reconhecido pela Igreja Católica. Tem uma imagem
muito grande dele na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Ele é
reconhecido sim pela sua conversão [...] (Anexo 4 – Entrevista I - 1).
Padre Geraldo relatou que, quando assumiu a direção, muitas coisas
foram passadas para ele pelos moradores, a respeito de São Longuinho. Mas,
oficialmente, não havia nada escrito. O padre chegou mesmo a ir a Roma para ver a
imagem de São Longuinho e estudar sobre o santo, mas pouco encontrou.
Com o roubo do oratório, a procura em Freguesia por São Longuinho
aumentou e o padre viu a necessidade de organizar o culto ao santo:
[...] estamos nos reunindo, eu a pastoral, estudando, procurando um
caminho para lidar com essa grande procura por São Longuinho em
Freguesia.
Aceito o que é dito a respeito da imagem de São Longuinho, não
questiono a comunidade. A imagem fala, a imagem ouve, não
questiono a pessoa [...].
[...] Com o roubo do oratório, se pensou em organizar melhor essa
devoção. A I Festa de São Longuinho, em 2003, teve um grande
público, tudo muito bonito, mas faltou organização. A de 2004 foi
melhor planejada e as seguintes acredito que serão melhores ainda
[...] (Anexo IV – Entrevista I).
Ao chegar a Freguesia, padre Geraldo foi bem aceito pela comunidade,
conforme explicitam depoimentos: “Padre Geraldo [...] concorda com a gente, não
proíbe o santo no altar, conversa com a gente, permite festa [...]”. E, estando sempre
do lado da comunidade, permitiu que os moradores expressassem sua fé em São
Longuinho, e, após o roubo do oratório, quando aumentou a procura pelo santo, o
padre viu a necessidade de organizar o culto, comemorar o dia do santo (Festas de
São Longuinho) e preparar os jovens para participar da devoção. Assim, a devoção
a São Longuinho, com a chegada de padre Geraldo, foi, aos poucos, sendo
encampada pela Igreja e, a partir de 2006, início das obras de restauração da Igreja
de Nossa Senhora da Escada, a devoção deixou de ser “algo” da comunidade
apenas.
154
7.2.3.3 Frei Alamiro
Frei Alamiro Andrade Silva é um franciscano que comparecia sempre
em Freguesia para a vigília de “Cristo Rei”. Muito querido pela comunidade local,
amigo pessoal de D. Lourdes, se hospedava nessas ocasiões no seu sítio e também
é um ator da devoção em Freguesia.
Foi celebrante de uma das missas da Festa de São Longuinho de 2004
e, logo no início da missa perguntou aos participantes: “Que festa estamos
celebrando hoje? E o hino de São Longuinho? Como, no Santuário de São
Longuinho, não sabem cantar o hino dele? O que está acontecendo aqui? Alguma
coisa está errada?”
Em outro trecho de sua fala, Frei Almairo apresentou aos participantes
a imagem de São Longuinho como monge e disse: “esta imagem representa São
Longuinho – ele se converteu ao cristianismo tornando-se monge – monge e não
franciscano. A lança é de monge. Os franciscanos vieram bem mais tarde”.
Para a pregação do Evangelho, Frei Alamiro preparou o relato dos
quatro evangelistas que mencionam o soldado Longinus e solicitou que quatro
pessoas da comunidade lessem as passagens: Mt (27, 54), Mc (15, 39); Lc (23, 47);
Jo (19, 34). Após estas leituras, o franciscano inicia o sermão do qual, a seguir,
transcreve-se um trecho.
São Longuinho ajudou a matar Cristo. Ele cumpriu ordens e enfiou a
lança no corpo de Jesus. Longinus era o nome dele. Ele, soldado,
cometeu uma barbaridade e logo arrependeu e reconheceu Jesus
como filho de Deus. O que sabemos, é isto. O resto é lenda. Quem
pode provar fatos que aconteceram dois mil anos atrás? Ninguém
tem prova de nada. A festa de São Longuinho é no dia 15 de março.
Frei Alamiro solicitou à comunidade, após a missa da Festa de São
Longuinho de 2004, uma oração do santo para rezar e a comunidade não tinha. Isso
o preocupou.
Após a missa, o frei falou-nos da importância de o padre responsável
naquele momento por Freguesia (padre Geraldo) se organizar, elaborando oração,
hino a São Longuinho, novena. Relatou que uma pessoa (João Figueiredo) havia lhe
entregado uma oração a São Longuinho, no entanto tal oração nada tinha a ver com
155
a história de São Longuinho. Ressaltou ainda, nesta ocasião, a importância da
purificação do culto a São Longuinho, para evitar lendas e superstições.
Frei Alamiro, por desejar que houvesse organização, regularização do
culto a São Longuinho, pode ser considerado como um “agente acolhedor” da
instituição ao culto, mas a partir de critérios definidos pelo “padre”.
Muito querido pela comunidade, frei Alamiro, após a missa, incentivava
os moradores de Freguesia a falarem sobre os “milagres” de São Longuinho e a
“cobrarem” da pesquisadora um livro sobre o santo. Seu propósito de purificar o
culto era organizá-lo segundo critérios definidos pelo padre, tornando a devoção a
São Longuinho mais consciente, mais ilustrada (com orações, livros, novenas...).
Tornando o culto mais organizado (pela Igreja), o padre (Geraldo) daria fundamentos
racionais às crenças e tradições da comunidade de Freguesia em relação a São
Longuinho.
Frei Alamiro, um dos atores da devoção a São Longuinho em
Freguesia, desde novembro de 2004, não comparece a Freguesia. Foi transferido
para São Paulo e, em 2007, para Vitória – ES.
7.2.3.4 Bispo
Dom Airton José dos Santos assumiu a Cúria Metropolitana de Mogi
das Cruzes no ano de 2004. Para ele, a devoção existe no contexto da Igreja
Católica desde o período colonial. A devoção a São Longuinho é grande no leste
europeu.
Ao referir-se à devoção a São Longuinho em Freguesia, comenta que
“Devoção aos santos não é fim, é meio. Devem-se usar técnicas, não
se rejeita, não se despreza. Sentimento religioso é sentimento
humano. Para expressar a fé, eu preciso do sentimento religioso. Por
isso que eu falo que o padre tem que usar as técnicas adequadas
para trabalhar com a devoção sem rejeitá-la; o padre tem que ser
atuante.” (Anexo 4 – Entrevista I -5)
Para ele, existe uma diferença entre fé e devoção. Fé é um sentimento
passado por outros e devoção é algo muito pessoal:
“Fé não pertence ao meu íntimo. É um sentimento passado. Devoção
é pessoal – a devoção é minha.”
156
Conforme seu depoimento, a devoção é subjetiva, é uma experiência
religiosa e, segundo ele, na época atual, de instabilidade econômica, tudo está
confuso, as pessoas estão em busca do sagrado e assim as devoções aumentam.
“Existe um ofuscamento da história (uma miopia). Nesta época de
instabilidade econômica, tudo está confuso; o sagrado não é
sagrado, o profano se torna sagrado. A sensibilidade desperta e as
pessoas começam a buscar o sagrado, as devoções aumentam.”
Dom Airtom ressalta que a propagação das devoções dá-se de modo
popular, pois os devotos sentem necessidade de propagar sua devoção. Ele cita a
necessidade de se entrevistar padre João Rosa, que atuou há anos em Freguesia e
nunca viu a imagem de São Longuinho e nem pessoas indo lá em busca do santo.
Ao ser perguntado sobre qual a posição da diocese frente à devoção a
São Longuinho, disse que
“a fé é progressiva. A devoção conduz à fé. A devoção nem sempre
tem raízes históricas, é realização pessoal, mistura com misticismo,
com folclore. A Igreja precisa perceber a dimensão da fé por trás
disso (da devoção de São Longuinho); ver o que traz de elementos
para a evangelização.” (Anexo nº 4 – Entrevista I - 5)
Continuando, Dom Airtom disse que a Igreja tenta dar fundamento
cristão a uma devoção, respeitando a cultura dos devotos.
“São Paulo se aproveitou da religiosidade popular para a
evangelização; evangelizar colocando o elemento cristão,
purificando. Assim deve-se trabalhar a devoção em Freguesia, tendo
em vista Jesus; não ofuscar isso...”
Ao falar sobre a devoção a São Longuinho, o bispo usou a linguagem
da institucionalização, mencionando a importância do enquadramento da devoção
na religião oficial: a irracionalidade da devoção à racionalidade da fé. Seria um
enquadramento do catolicismo popular devocional aos cânones oficiais da Igreja –
um catolicismo mais racional, mais “católico”. Ao falar que o padre tem que ser
atuante, usar as técnicas adequadas para trabalhar com a devoção, sem rejeitá-la,
recusa a existência de algo que escape ao controle eclesiástico, à ordem
estabelecida pela Igreja.
7.2.4 Pessoa que divulgou a devoção a São Longuinho em Freguesia através da
internet
157
João Augusto Figueiredo da Silva, no início da pesquisa, em 2003, era
assessor da Secretaria de Cultura de Guararema e, em 2004, foi candidato a
vereador.
Na Festa de São Longuinho, em março de 2004, ele confeccionou
imagens de São Longuinho semelhantes à imagem achada e estas imagens, após
serem bentas por padre Geraldo, foram comercializadas na barraca de artigos
religiosos. Segundo Figueiredo, há tempos, ele aguardava autorização do clero para
fabricar estas imagens, o que se concretizou em 2004, quando houve autorização do
bispo para que as imagens fossem vendidas, mas antes deveriam ser bentas.
“Coloquei na internet que Guararema é o único local que tem a
imagem de São Longuinho no altar (isso para ver se alguém ia se
manifestar ao contrário, mas isso não ocorreu)”.
“Já tenho matrizes prontas para fabricar a imagem do altar no
tamanho médio e pequeno, mas estou aguardando a decisão do
padre Geraldo. Este pediu um prazo e solicitou que eu fizesse um
estudo científico, procurando maiores informações sobre o santo.
Padre Geraldo esteve em Roma, trouxe material de lá e também está
pesquisando sobre São Longuinho” (Entrevista de julho/2003 –
Anexo 4 – Entrevista V - 3).
Na referida festa de 2004, as peças chegaram a Freguesia pouco antes
de a procissão sair da Igreja. Membros da comunidade e da pastoral esperavam
ansiosos pela chegada da imagem. Ao chegarem, foram embaladas uma a uma em
sacos plásticos e levadas para o local onde seriam “bentas”. Pôde-se observar que
muitos se aproximavam para conhecê-la e poucos a adquiriram. A procura se dava
pela imagem de São Longuinho conhecida como frade, monge ou franciscano, que
não era comercializada no local. A loja próxima da igreja, que comercializava tal
imagem estava fechada, mas a imagem podia ser encontrada numa barraca
ambulante, montada em rua próxima à Igreja, mas fora do local apropriado para o
comércio da Festa de São Longuinho.
Estas imagens mais tarde desapareceram da Igreja e o sumiço foi
motivo de controvérsias, uns diziam que apareceram quebradas, outros que
“desintegraram” (por serem de gesso) (sic).
Segundo Figueiredo, ele foi “obrigado” a recolher as imagens porque
pessoas da comunidade não as aceitaram e o padre preferiu evitar problemas com
tais pessoas (As imagens estavam sendo quebradas).
158
Tomamos conhecimento de tais fatos em 09/03/2006, Festa de São
Longuinho, quando, após sairmos de uma reunião com o Prefeito de Guararema,
encontramos Figueiredo nas proximidades da Prefeitura, nos aguardando e
relatando, além da história mencionada sobre as “suas imagens”, que ele foi
afastado do seu cargo por motivos políticos e chegando mesmo a ser solicitado que
não fosse à Igreja. Relatou estar muito “chateado com o padre e o bispo que são
omissos, sabem o que está acontecendo em Freguesia e não fazem nada”. (sic)
Figueiredo foi citado algumas vezes pelos entrevistados como a
pessoa que divulgou a devoção a São Longuinho, colocando foto da imagem achada
na internet. O histórico fixado inicialmente em uma parede lateral da Igreja sobre
Guararema e sobre São Longuinho foi escrito por ele. (Anexo 6 - A).
Ao tomarmos conhecimento de tais escritos em julho de 2003,
procuramos saber quem era a pessoa que havia escrito, e a resposta a nossa
indagação é que não tinham conhecimento, que havia sido retirado da internet.
Pesquisamos muito em torno do autor de tais escritos – João Augusto da Silva, até
que, em 2006, chegamos à conclusão de que poderia ser Figueiredo, uma vez que
ele mencionou que trabalhou muito por Freguesia, divulgou a devoção na internet...
etc. Ao comentarmos com Padre Geraldo, este se mostrou surpreso com nossa
suposição, mas concordou que poderia ser ele, o que foi confirmado por Figueiredo
mais tarde, com muita revolta, pois, segundo ele, muitos na comunidade, na
pastoral, sabiam que os escritos eram de sua autoria.
Uma das pessoas entrevistadas que solicitou que, em hipótese
nenhuma, fosse citado seu nome mencionou que João Figueiredo (como ele é
conhecido) é uma pessoa de relacionamento difícil, mas foi muito injustiçado.
“Ele trabalha, faz as coisas e desagrada a muitos por acharem que
ele está querendo tomar a frente: foi ele que deu o primeiro passo
para a restauração da Igreja, trabalha muito, tendo em vista o
crescimento da cidade, das festas da Igreja, mas resolveram boicotá-
lo e não deixaram ele assumir nada. Ele, chateado, sumiu do ‘mapa’.
Não foi à festa de Nossa Senhora da Escada, à missa da abertura da
festa”.
Uma das representantes da firma responsável pela restauração da
Igreja (FORMARTE) também mencionou em entrevista (Anexo V – Entrevista 9) que
João Figueiredo, pessoa da comunidade e assessor da Secretaria de
Cultura de Guararema, entrou no Ministério da Cultura para aprovar
o projeto de restauração da Igreja, apesar de não ter apresentado um
159
desenho, um projeto adequado. Mas foi o primeiro passo para a
restauração da Igreja.
João Figueiredo é um devoto de São Longuinho; segundo alguns
depoimentos, é uma pessoa que trabalhou muito na divulgação da devoção ao santo
e também de Guararema, cidade turística.
Relata Figueiredo, em novembro de 2003, que a imagem de São
Longuinho é marketing para a cidade. Declarou, ainda, haver encontrado santinho
de São Longuinho com a mesma imagem de Guararema, referindo-se a Matozinhos
(Congonhas/MG). Ele disse a padre Geraldo na ocasião: “eles estão perdendo
terreno”.
Figueiredo referiu que divulgou na internet que Guararema é o único
local em que há a imagem de São Longuinho no altar, esperando que alguém se
manifestasse contradizendo-o, o que não ocorreu.
Para ele, São Longuinho é uma devoção popular, uma devoção que
cresceu muito em Freguesia e ajudou também Guararema a se tornar mais
conhecida.
7.2.5 Pastoral
32
A pastoral é formada por pessoas que trabalham sob a orientação do
pároco, tendo em vista cultivar sua ligação com a Igreja, auxiliando em vários grupos
que prestam assistência à comunidade de Guararema.
Algumas vezes, Padre Geraldo afirmou que a pastoral de Freguesia é
muito atuante. Carlos e Ângela, casal atuante, vivem em Freguesia e trabalham
divulgando a devoção a Nossa Senhora da Escada e a São Longuinho.
Em julho de 2003, quando, pela primeira vez, tivemos contato com
eles, percebemos que Ângela era uma pessoa muito tímida, falava pouco e estava
começando a ser preparada por D. Luíza para responder perguntas sobre São
Longuinho. Hoje, ela e o marido trabalham em várias frentes, um casal coordenador
que muito trabalha pela paróquia, como também se destaca em propagar a devoção
a São Longuinho. Foram citados em várias entrevistas (informantes-chaves) como
pessoas que divulgam São Longuinho, sendo, portanto, considerados atores da
32
Usaremos a palavra pastoral nesta tese para identificar o grupo que realiza as atividades religiosas na
comunidade. Sabemos que a palavra pastoral tem um significado mais amplo, mas empregamos tal palavra como
a comunidade de Freguesia a usa, ou seja, para identificar o grupo de pessoas que trabalha com a igreja.
160
devoção. Trabalham, sem cessar, antes, durante e depois das festas, sendo bem
relacionados com os devotos e moradores de Freguesia.
Em 2004, Jorge Alberto, coordenador da pastoral de Fé e Cidadania e
coordenador da Festa de São Longuinho em 2005 (junto com Carlos, Padre Geraldo
e Gonzaga), expressa, ao ser entrevistado, que o objetivo da pastoral é a criação do
“Santuário de São Longuinho”. Este projeto foi montado em quatro etapas: 1ª
Divulgar São Longuinho e a Igreja de Nossa Senhora da Escada; 2ª Popularizar São
Longuinho (conscientizando a comunidade para confecção de artigos religiosos com
a imagem do santo); 3ª Propagar a devoção em nível nacional (TV Bandeirantes,
Globo); 4ª Criar o Santuário (Anexo 4 – Entrevista IV -3)
A pastoral, sob a coordenação do padre Geraldo, promoveu grupos de
estudo sobre São Longuinho, uma vez que a procura pelo santo havia aumentado
muito. Ângela e Carlos comentaram sobre a quantidade de ônibus que chegavam a
Freguesia em prol do santo e que este se tornou mais conhecido que Nossa
Senhora da Escada (Anexo 4 – Entrevista IV – 1).
Messias comentou que padre Geraldo formou estes grupos de estudos
(Anexo 4 – Entrevista IV - 2) para proceder à reflexão sobre o que está acontecendo
em Freguesia com o aumento de pessoas para lá se dirigindo à procura de São
Longuinho e não de Nossa Senhora da Escada. Relata que todos estão
preocupados: “bispo, padre, pastoral... a Igreja é um patrimônio histórico e não pode
mudar de nome, já pensamos em criar um anexo para São Longuinho, mas muitos
na comunidade não concordaram em tirar o santo do altar” (Entrevista Anexo 4 –
Entrevista IV -2).
Estes grupos de estudo, orientados por padre Geraldo, se reuniram
semanalmente para ler a dissertação de mestrado “Um Estudo sobre São
Longuinho”. Em seguida, “estudaram” a parte da dissertação referente a São
Longuinho: aspectos históricos da devoção, a presença da devoção no Brasil, São
Longuinho na internet. Estudaram também o histórico da Igreja de Nossa Senhora
da Escada. Os grupos estavam indo muito bem, todos motivados para os encontros,
até a transferência do padre, quando as reuniões de estudo cessaram.
7.2.6 Poder Público
Em janeiro de 2006, fomos surpreendidos com o telefonema de Ângela
com o convite para a abertura da restauração da Igreja Nossa Senhora da Escada, a
161
ser realizada em 28 de janeiro do mesmo ano, pois, em novembro ainda não se
falava em restauração.
Dias depois, padre Geraldo também telefonou convidando e dizendo da
importância de nossa presença no evento, uma vez que o vice-governador de São
Paulo havia se comprometido com ele em uma reunião com o prefeito de
Guararema a “fazer da dissertação de mestrado um livro” e que isso era muito
importante para Guararema que não tinha dados sobre Freguesia e São Longuinho.
Na missa de restauração da igreja, celebrada por Dom Paulo
Mascarenhas Roxo, havia várias autoridades políticas presentes, vice-governador de
São Paulo, prefeitos de cidades vizinhas, vereadores e outras.
Em discurso, o prefeito de Mogi das Cruzes disse:
“Esta Igreja marca o início da história de Guararema. Uma Igreja
muito bonita, uma santa linda, mas não podemos esquecer São
Longuinho. Vou contar uma coisa para vocês que ainda não contei
para ninguém: O prefeito de Guararema ao receber a notícia da
verba para restauração da Igreja estava junto comigo na sala do
Planalto do vice-governador e imediatamente deu três pulinhos,
dizendo: ‘Graças a Deus, São Longuinho’. Como esquecer São
Longuinho?”
O vice-governador em discurso também fez referência a São
Longuinho:
“Estou aqui como brasileiro, como cidadão. Vamos trabalhar juntos.
São Longuinho hoje está esquecido lá no cantinho. Vamos ser
cidadãos. Vamos reconhecer nossa história, não vamos esquecer
daquele que traz tantas pessoas em Guararema. Vamos trabalhar
juntos pela restauração da Igreja!”
O poder público, mais uma vez, está presente como um dos atores da
devoção quando a secretária de Turismo de Guararema declara que a divulgação da
devoção a São Longuinho em Freguesia está sendo feita “por distribuição de
cartazes e também pela assessoria de imprensa da Prefeitura de Guararema e da
FORMARTE” (Anexo 4 – Entrevista V – 7).
O prefeito de Guararema afirma em entrevista (Anexo 4 – Entrevista V
– 6) que “a devoção ainda não está sendo divulgada. Primeiro, estamos cuidando da
infra-estrutura, melhorando as instituições da igreja, do município. É necessário ver
os hospitais em bom funcionamento, organizar tudo, para depois divulgar e explorar
o turismo religioso...”
162
O prefeito, ao nos receber para a entrevista, foi imediatamente falando
a respeito da necessidade de publicação da dissertação do mestrado: “interessa
para o município. Eu e padre Geraldo achamos que está fazendo falta um livro sobre
São Longuinho, algo que justifique cientificamente a devoção.”
O vereador Alcídios, presidente da Câmara de Guararema (Anexo 4 –
Entrevista V – 8), outro ator da devoção que, desde criança, escuta a mãe e
familiares falando em São Longuinho, nos três pulinhos e que também passou para
seus filhos sua fé no santo, declara que, “antes, São Longuinho era só de Freguesia,
agora é de toda a Guararema. Todos falam e conhecem o São Longuinho que
sempre foi de Freguesia.”
Estas pessoas citadas, em Freguesia, transformaram-se ritualmente
em personagens de destaque no plano religioso. Só se tornaram atores da devoção
em Freguesia a partir do momento que se dedicaram a tornar conhecida a imagem
“achada”, trabalhando, portanto, na construção do sagrado em Freguesia.
Em Freguesia, há atores na devoção a São Longuinho, mas, se não
houvesse a dinâmica da devoção entre devotos e a imagem achada, a ação desses
atores não criaria um movimento.
Consideramos então a imagem achada e seus devotos como os atores
principais da devoção a São Longuinho na localidade e é desses atores que o item
seguinte trata.
7.2.7 Imagem achada e devotos: atores principais da devoção
Benke (2001, p. 46) afirma que as imagens expressam, formam e
documentam diferentes visões do sobrenatural em diferentes períodos e culturas. A
palavra imagem possui diversos significados, conforme Holanda (1994), e entre eles:
“representação plástica da Divindade, de um santo, etc.”; “estampa, geralmente
pequena, que representa um assunto ou motivo religioso”; “aquilo que evoca
determinada coisa, por ter com ela semelhança ou relação simbólica”;
“representação exata ou analógica de um ser, de uma coisa, cópia.”
Tendo em vista tais conceituações, vê-se que imagem e representação
são palavras que podem ser consideradas sinônimos de um ou vários fenômenos
semelhantes. E, ao se considerar imagem e representação como sinônimos, é
163
importante lembrar a citação de Aumont (1995, p.120): “A imagem [...] atua no duplo
registro (‘dupla realidade’) de uma presença e de uma ausência.”
Nesta duplicidade característica da imagem, está inserida a capacidade
de imaginar coisas distintas dos objetos existentes, como também, segundo Lopes
(2007, p. 2) “uma necessidade de visualização determinada pela presença de
objetos, pela apreensão de suas propriedades ou pela ausência de sua
manifestação”.
Jean Pierre Vernant (citado por DEBRAY, 1994, p. 23) diz que, no
desenvolvimento geral da aplicação do termo imagem, sua finalidade é “tornar-se
visível e, nesse processo, representar algo”.
Deleuze (1988) apresenta a idéia de que o objeto (leia-se imagem) que
se repete não muda, “mas muda alguma coisa no espírito que o contempla”. Esta
afirmativa justifica-se quando Lopes (2007, p. 9) refere que “as imagens religiosas
são ativas, depositárias de sociabilidade e, por isso, mediadoras com as esferas do
sagrado”.
Em Freguesia, alguns entrevistados, ao serem indagados sobre o que
a imagem de São Longuinho passava para eles, responderam:
“Passa muita fé. A devoção aqui está aumentando cada dia mais”.
“São Longuinho é tão bonitinho e o padre falou que ele é feio... Ele
resolve tudo para nós, basta ter fé, muita fé”.
“Passa fé, muita fé em Deus”.
“É muita emoção poder falar com ‘ele’ (São Longuinho), olhar para
ele...”
“Nunca vi um São Longuinho igual a este da igreja, mas o que
importa é a fé e a minha já está em São Longuinho”.
Através da imagem achada, os devotos explicitam um pertencimento,
um reconhecimento, um registro de fé. Através da exteriorização da fé, a imagem do
oratório fornece visibilidade a uma identidade religiosa que se desenvolve em uma
relação entre o devoto e a divindade medida pela imagem.
É, diante da referida imagem, que os devotos realizam suas
manifestações de devoção a São Longuinho e é, com base nela, que, algumas
vezes, afirmavam que o santo queria falar. Como o oratório fica no altar principal, e
há certa distância em relação aos bancos em que os fiéis se encontram assentados,
geralmente estes pedem licença para ir até o oratório para “conversar” com São
Longuinho. Lá, acariciam a imagem, beijam-lhe a veste, ajoelham-se, choram,
164
colocam flores ou pequenos bilhetes com pedidos ou agradecimentos, também
colocam fitas. Pode-se concluir que a imagem não apenas “revela” ou “representa” o
santo: ela o presentifica, pois, como afirma Menezes (2004, p. 11),
Em seu ensaio sobre a origem histórica do culto aos santos na
antiguidade tardia, Brown lembra que o tema, na verdade, remete à
questão do contato entre o céu e a terra, e ao papel que os seres
humanos mortos (santos, no caso) possam ter nesse contato.
Menciona ainda a ambigüidade constitutiva da figura do santo, que,
mesmo já tendo garantido sua entrada no reino dos céus, manifesta
sua presença na terra, seja em sua sepultura ou em suas relíquias
corporais ou de contato. Christian e Turner & Turner, dedicando-se
ao estudo do culto aos santos em episódios posteriores da história
do catolicismo, analisam a manifestação dessa presença em
imagens e aparições. Tais objetos – sepulturas, relíquias, imagens e
eventos, como aparições, “presentificam” os santos e viabilizam uma
comunicação entre o céu e a terra, pois seriam simultaneamente um
testemunho e um meio concreto de intervenção do divino na vida
humana.
Para Steil (2001, p. 23),
a imagem de um santo não é apenas uma representação que invoca
alguém que esteve entre os vivos, mas é um sacramento: algo que
torna presentes num mundo visível, de forma eficaz e real,
personagens que transitam entre os vivos e os mortos.
Significa que há uma relação entre a imagem e o santo que se torna
uma única e mesma coisa. A imagem é considerada como corpo do santo, criando
uma cosmologia em que as fronteiras entre a vida e a morte são continuamente
ultrapassadas sem necessariamente a mediação de agentes especializados.
A presentificação do santo na imagem de São Longuinho pode ser
ilustrada com a relação de D. Luíza, que, ao cuidar da imagem, enquanto lhe troca
as vestes, conversa com a imagem e lhe faz carinho, pede licença ao santo e
desculpa-se de alguma falha, bem como cumprimenta o santo ao entrar na igreja.
Com todas as referências acima, vê-se que o sagrado é reconhecido,
ou representado na imagem do oratório na Igreja de Nossa Senhora da Escada, e
que tal imagem representa para os devotos algo que a transcende. É, através dessa
representação da imagem, que, cada dia mais, devotos se dirigem a Freguesia em
busca das graças de São Longuinho. Estes devotos, diante da imagem, vão se
exprimindo em palavras, gestos, ações individuais ou coletivas, em práticas de
165
devoção. Estas são as diferentes maneiras que os devotos encontram para se
relacionarem com São Longuinho.
Uma das formas por eles encontradas de se relacionar está presente
na própria imagem de São Longuinho, sob a qual fitas, terços, bilhetes com pedidos
e/ou agradecimentos, dinheiro, flores, vasos, chupetas, balas, quadros, fotografias,
sacolas com alimentos são colocados no oratório do santo.
Essa doação, essa dádiva dos devotos para com o santo, faz parte do
estabelecimento de relações entre o devoto e o santo e vice-versa. Mauss (1950, p.
147, citado por GODBOUT, 1999, p. 19) escreveu que: “as trocas e os contratos são
feitos sob formas de presentes teoricamente voluntários, mas na realidade
compulsoriamente dados e retribuídos”.
Para Godbout (1999, p. 54), a dádiva não se baseia na dualidade, mas
na continuidade, nos vínculos, na filiação. Para Mauss (1950), dar, receber, retribuir
são apenas três momentos de uma mesma e única realidade: a troca. A dádiva
coloca os devotos no estado de dívida, que caracteriza todo vínculo com o santo.
Trata-se de vínculos que podem vir a se tornar incondicionais: pode-se pedir
qualquer coisa para São Longuinho (Bilhetes – Anexo 5), envolvendo a dádiva numa
cadeia circular sem fim.
Mesmo que a dádiva seja uma forma de retribuir, uma vez que nada
obriga o devoto a retribuir, pode-se afirmar, nesse sentido, que a dádiva é gratuita. É
uma “obrigação livre”, segundo Mauss (1966, p. 265): “dar livremente e
obrigatoriamente”, de “forma ao mesmo tempo desinteressada e obrigatória”
(MAUSS, 1966, p.194).
Na dádiva, tudo está no gesto, nas palavras, nas ações perante a
imagem; é a intenção que se destaca, pois a dádiva não procura igualdade ou
equivalência. Segundo Golbout (1999, p. 206):
A procura da igualdade só pode ser legítima nas relações
burocráticas abstratas. Nas relações pessoais, é um insulto e tende a
negar o vínculo. A igualdade introduz a rivalidade que a dádiva, ao
contrário, elimina tornando os parceiros alternadamente “superiores e
inferiores”.
A devoção se torna assim uma doação para o devoto que está sempre
divulgando, trabalhando em prol do reconhecimento do “seu“ santo, da sua devoção,
divulgando o mesmo.
166
7.3 Interação entre os atores da devoção
Em Freguesia, os atores da devoção a São Longuinho se cruzam, se
articulam em torno da devoção. A interação dos atores pode ser percebida a partir
do encontro de todos eles nas situações concretas em que se articulam, tendo em
vista a devoção local.
Esses agentes da devoção, em interação, se organizam em práticas
articuladas para receber os visitantes nas festas em Freguesia (Festa de Nossa
Senhora da Escada, Festa de São Longuinho) e também nas visitas diárias que o
santo recebe (devotos, excursionistas...).
Há uma disposição do clero e dos demais atores da devoção em
transmitir informações da devoção a São Longuinho, apresentando também
informações sobre aspectos da doutrina católica, sempre lembrando a “conversão”
do soldado Longinius e mostrando como a “conversão” é importante para a Igreja.
Em Freguesia, a zeladora consegue mobilizar doações, ajudas,
ocorrendo, assim, uma circulação de bens e serviços que vão muito além da
possibilidade de seus moradores. São doados os ingredientes utilizados nos
almoços das festas, os folhetos e impressos a serem distribuídos na Igreja e nas
barraquinhas, como também as roupas do santo, os santinhos.
33
As doações estão presentes também em forma de dinheiro ou outros
bens (jóias, quadros, bijuterias). Não existe na Igreja de Nossa Senhora da Escada
um espaço como uma sala de milagres, sala de ex-votos, locais esses que
estimulam as doações e, assim, às vezes, o devoto que quer dar alguma “ajuda” ao
santo, fica perguntando às pessoas que, naquele momento, estão na igreja a quem
deve entregar a sua oferta. Outros, mais apressados, colocam-na no oratório do
santo. Nos bilhetes analisados por ocasião da pesquisa de campo, chegamos a
encontrar cédulas de cem reais enroladas neles, como forma de agradecimento ao
santo, e constatamos que o padre e a zeladora não tinham conhecimento desse
fato.
Em Freguesia, ajuda-se também doando serviços: montar
barraquinhas, preparar os almoços, limpar ou ornamentar a igreja, cuidar dos
33
Santinhos: são folhetos que medem cerca de 7cm x 11cm, nos quais, no anverso, apresenta-se a reprodução da
imagem de um santo e, no verso, uma oração a este santo. Alguns possuem também procedimentos como
instruindo as pessoas a rezar tantas vezes ao dia, durante certo período.
167
andores dos santos, do oratório, limpar os banheiros, servir café, almoço, receber as
autoridades, receber os devotos.
A ajuda ocupa uma posição de destaque nas relações estabelecidas
em Freguesia e é uma forma básica de as pessoas e atores da devoção se
articularem, se inteirarem em prol da devoção a São Longuinho.
Um acordo parece se estabelecer entre o clero e os devotos no que
tange ao culto a São Longuinho, o primeiro garante a tolerância de certas práticas.
Tudo o que se desenvolve perante a imagem achada é do conhecimento do padre e
este deixa os devotos à vontade para que se realizem suas próprias práticas
devocionais. O mesmo acontece durante as celebrações religiosas, os devotos ficam
livres para colocarem suas intenções ou pedidos: “Que Deus os abençoe e que São
Longuinho atenda aos pedidos que vocês fizeram”.
Freguesia é um local que envolve todos em torno da Igreja de Nossa
Senhora da Escada, espaço religioso onde se configura uma sociabilidade entre
todos os atores, tendo em vista a permanência e propagação da devoção a São
Longuinho.
7.4 Fatores da devoção a São Longuinho em Freguesia
Freguesia da Escada teve início com um aldeamento indígena, e, com
a chegada dos Jesuítas, estes e os índios foram construindo a sua capela. Com a
passar dos anos, os Jesuítas foram expulsos de toda a Capitania e, em 1734, com a
vinda dos franciscanos, ergueu-se um alojamento, que passou a funcionar como
convento.
Em 1875, com a construção de uma capela para São Benedito a 3,5km
de Escada, em local plano, moradores foram se estabelecendo ao redor, formando
um vilarejo – Guararema.
Guararema foi crescendo e Escada foi se tornando freguesia, aldeia,
freguesia e hoje é um bairro de Guararema – Bairro da Escada – conhecida como
Freguesia da Escada.
Seus antigos moradores sabem que moram em Guararema, estão em
Guararema, mas também se sentem fora de Guararema, moram em Freguesia.
Estão na cidade e são da cidade, mas também estão fora da cidade e são de fora da
cidade. Assim foram se descobrindo e produzindo sua identidade própria.
168
Enfatizaram-se nas entrevistas as constantes mudanças ocorridas na
região, valorizando-se sempre o crescimento de Guararema, que se tornou uma
cidade turística enquanto Freguesia foi sendo “esquecida”.
No centro de Guararema, quando os moradores foram entrevistados,
no primeiro dia da pesquisa sobre São Longuinho, ressaltaram que São Longuinho é
da Freguesia, como se Freguesia não fosse um Bairro de Guararema. Assim, em
Guararema, no centro, Nossa Senhora da Escada e São Benedito são
reverenciados e São Longuinho é o santo da Freguesia e bairros adjacentes.
Lembramos aqui de Macedo (1983, p. 183) quando ela ressalta que “a
comunidade envolve um estar dentro, ser um grupo e este pertencimento é
acompanhado pelo de exclusão. Nós e eles. Os iguais e os diferentes”.
Em Freguesia, os moradores têm por referência a tradição em São
Longuinho, pois, desde crianças, escutam falar no santo. A devoção é sobre a
imagem achada, a imagem do oratório, a qual sempre foi visitada por devotos e
curiosos, que, estando em Guararema, tomavam conhecimento de São Longuinho e
iam à Igreja de Nossa Senhora da Escada em busca da proteção do santo.
Em 2001, o oratório de São Longuinho foi roubado. A zeladora
encontrou a porta da igreja arrombada e a imagem do santo caída no chão e notou a
ausência do oratório. Pessoas da comunidade relataram que “grande foi o
desespero de D. Luíza quando viu São Longuinho caído”, que “ela chorava com a
imagem nas mãos” e que indagava o porquê de cometerem tal ato com “São
Longuinho, tão bonzinho com todos”.
O roubo passou a fazer parte do cotidiano de Freguesia, uma vez que
os moradores não se conformavam de o santo ter ficado sem sua “morada” e
também de ter sido colocado no chão. O roubo foi notificado à polícia e às
autoridades, mas, até 2008, não se descobriu o autor de tal ato.
Nesta época, houve muita divulgação do fato em jornais, rádios, TV e
assim outras pessoas tomaram conhecimento da existência de uma imagem do
santo no local e a Igreja começou a receber visitantes de localidades diversas.
O roubo do oratório é então um dos fatores da devoção, pois, a partir
dele, a tradição vigente em Freguesia até então se transformou em um “fenômeno
religioso” ampliado.
A busca por esse “fenômeno”, pelo sagrado foi crescendo e foi sendo
divulgada a presença do sagrado em Freguesia através dos “milagres”, nas histórias
169
contadas por moradores e devotos do santo. E, a partir do roubo, Guararema torna-
se conhecida como a cidade que tem uma imagem de São Longuinho e esta
imagem, ator principal da devoção na região, torna-se também um dos fatores da
devoção. Outro fator da devoção a São Longuinho em Freguesia foi a divulgação
pela internet da existência de uma imagem do santo em Guararema.
Vive-se em um ambiente de mudanças rápidas. No campo das
imagens e da comunicação, presenciamos redes de satélites servindo á transmissão
de dados e imagens por televisões e computadores. A televisão está presente em
todas as residências, em casebres, favelas e mesmo em locais isolados, permitindo
que populações rurais tenham acesso a reportagens, notícias, que participam de um
mundo cultural distinto do seu. As rotinas diárias atualmente podem ser alteradas
em função das programações da televisão. Também estão presos à rede televisiva
os candidatos às eleições e os grandes produtos de consumo a serem lançados.
Segundo Beozzo (1997, p. 6),
Nem mesmo as igrejas, espaços de encontro e comunicação,
poderiam escapar deste novo contexto cultural. Se a escrita
simbolizada no livro era a marca registrada das grandes religiões
como judaísmo e o hinduísmo, budismo, cristianismo e islamismo,
hoje já se podem detectar transformações. Se o protestantismo
chegou ao nosso país, por intermédio de distribuidores de bíblias e
os primeiros crentes eram também chamados popularmente de
“Bíblias”, já na década de 50, Moisés e o êxodo tinham sua imagem
fixada para superprodução “Os dez mandamentos”, de Cecil B. Mille.
Hoje, nascem igrejas e novos movimentos religiosos, cujos cultos,
missas, mensagens e pregações chegam às pessoas pela telinha da
TV e são “formatadas” dentro do estrito horário dos minutos alugados
nos satélites e comandados pelo “toque dos oito segundos” para a
entrada em rede de emissoras locais coligadas.
No desenvolvimento da história, observam-se avanços na capacidade
humana de se comunicar como resultado de grandes inovações da escrita, do
telégrafo, do satélite. A internet também tem um papel central nessa aceleração e no
meio de comunicação. O aumento explosivo na capacidade e na necessidade de se
comunicar via internet faz parte do desenvolvimento humano atualmente. A internet
está facilitando imensamente a troca de informações, possibilidades de colaboração
entre as pessoas, independente de localização física. Ela está afetando a interação
humana, permitindo até mesmo a divulgação das devoções de muitas pessoas,
facilitando a comunicação de devotos e, neste estudo em especial, dos devotos de
170
São Longuinho. A internet permite que esses devotos transmitam sua fé para outras
pessoas ou grupos com culturas e mentalidades diferentes.
Na internet, muitos sites divulgam São Longuinho, fazendo referência
ao santo para achar objetos perdidos e, geralmente, a promessa é paga com três
pulinhos e/ou três gritinhos. No site Yahoo, encontram-se 737 páginas que fazem
referência a São Longuinho e 1.280 sites no Google
34
. Extraídas destes sites, citam-
se algumas observações sobre São Longuinho: "São Longuinho é o santo das
coisas perdidas"
35
; "São Longuinho é um soldado medieval que perdeu as pernas
em uma batalha, por isso ele gosta de ver as pessoas pulando"
36
;
São Longuinho, em Portugal se especializou em achar maridos. As
moças casadeiras dão 3 voltas à estátua de São Longuinho e não
podem abrir a boca enquanto circundam a estátua
37
.
O soldado que usou a lança não é nomeado no Evangelho. Mas
conforme o Evangelho de Nicodemos, antes chamado Atos de
Pôncio Pilatos, ele era um centurião meio cego, chamado
Longuinho
38
.
São Longuinho – Padroeiro dos Tarólogos (Eremita) o qual se
ajoelhou depois e teve a sua visão miraculosamente restaurada.
Logo em seguida, ele abandonou o exército romano e passou a levar
uma vida de oração, tendo sido torturado pela sua fé e se tornado
santo
39
.
Quando a gente perde um objeto, a gente dá um nó cego num
pedaço de palha e o coloca debaixo de uma pedra: - São Longuinho,
você vai ficar por aqui e só vai ser solto, quando eu encontrar o que
perdi
40
.
34
Pesquisa realizada em 24/05/2003 nos sites: < http://br.yahoo.com/ >, <http://br.cade.yahoo.com/ >,
<http://www.google.com/intl/pt/>.
35
WERNECK, Humberto. De Portugal à Espanha: os monges glutões. Revista Próxima Viagem.
Disponível em: <www2.uol.com.Br/proximaviagem/viagens/fátima_compostela
_039/monges_paraíso.shtml>. Acesso em 23 maio 2004, p. 4.
36
MALLON, Luciana do Rocio. São Longuinho. Disponível em:
<http.//www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.phtml%3Fcod%3D1102%26cat%3Dinfanto_Junvenil+s
ão+longuinho&ht=pt-BR&lr=lang_pt>. Acesso em: 23 maio 2004, p. 2.
37
WERNECK, Humberto, op. cit., p. 4
38
PAISLEY, Ian; SCHULTZE, Mary. A Religião das Relíquias. Disponível em:
www.cacp.org.br/reliquias.htm>. Acessado em: 23 maio 2004, p. 2.
39
PITA, Flávio Pedro dos S. São Longuinho – Padroeiro dos Tarólogos (O Eremita). Disponível em:
<http://www.uol.com.br/bemzen/ultnot/esoterismo/ult1337u12.htm>. Acesso em: 14 abril 2003, p. 2.
40
ARRUDA, Wanderlino. A devoção do povão. Disponível em:
<http://www.wanderlino.com.br/elosclube/croni/0006.htm>. Acesso em: 23 maio 2004, p. 2.
171
7.4.1 Orações a São Longuinho
Encontramos nos sites duas orações a São Longuinho. Ambas
mostram que o santo é invocado para proteção, saúde, amor, questões financeiras,
conjugais, enfim para soluções de problemas do dia-a-dia.
Em uma das orações encontradas em um site holístico, percebe-se
também a preocupação com a "salvação" eterna.
Oração nº1
Glorioso São Longuinho! Abençoai o Nosso lar. Fazei com que
encontremos as soluções para problemas de saúde, de amor,
financeiros, conjugais, espirituais e materiais [...] Que a vossa infinita
graça faça com que tenhamos sempre a paz, a disposição que
necessitamos em nosso dia sempre. Amém!
41
Oração nº 2
Glorioso São Longuinho, a ti suplicamos, cheios de confiança em sua
intercessão. Sentimo-nos atraídos a ti por uma especial devoção, e
sabemos que nossas súplicas serão ouvidas por Deus Nosso
Senhor, se tu, tão amado por ele, nos fizer representar. Sua
Caridade, reflexo admirável, inclina-te a socorrer toda miséria, a
consolar todo sofrimento, suprir toda necessidade em proveito de
nossas almas, a assegurar cada vez mais nossa eterna salvação,
com prática de boas obras e imitação de suas virtudes!
42
A preocupação em garantir segurança diante das dificuldades diárias e
também a necessidade da presença de São Longuinho em todos os momentos da
vida de seus devotos estão presentes nas orações acima. Isso nos leva a perceber
que todos os acontecimentos da vida dos fiéis tendem a ser encarados como
intervenção dos santos.
41
Loc. Cit
42
SÃO Longuinho. Disponível em: <www.ositedossantos.hpg.ig.com.br/são_longuinho.html> Acesso
em: 14 abril, 2003, p. 1.
172
7.4.2 Pedidos a São Longuinho e Agradecimentos
43
Os pedidos referem-se à proteção do santo para todos os momentos
difíceis da vida, cura de doenças específicas, defesa de partes do corpo, procura de
um grande amor, busca de objetos perdidos, reconciliação familiar, paz, emprego
etc.
Abaixo, apresentam-se alguns pedidos e agradecimentos encontrados
nos sites
44
:
Meu glorioso São Longuinho, ajude a minha filha K. encontrar sua
bolsa com os documentos que foi roubada. Desde já agradeço.
Amém.
Reconciliação com C e que ele não saia de casa, não vá morar com
a mãe e não volte para a casa da irmã.
São Longuinho, peço ajuda ao senhor para resolver meus problemas
financeiros, ajude-me senhor interceda por mim junto a Deus Pai,
para que eu consiga alcançar esta graça que o senhor já sabe qual
é, obrigada São Longuinho.
São Longuinho, venho pedir ao Senhor que na minha casa sempre
esteja habitada por Deus, anjos e santos para termos equilíbrio e
esperança, ajude-nos.
São Longuinho, por favor eu lhe emploro ajuda, fazei com que meu
marido consiga um emprego, pois ele se encontra desempregado há
três anos, abra o caminho dele para que possa ter uma nova vida,
para podermos constituir uma família feliz.
São Longuinho, peço ao Sr. Ajuda para que o Junior seja curado da
depressão que se apossou dele, que ele encontre a cura, harmonia e
tranquilidade para podermos viver bem.
Meu São Longuinho ajuda eu encontrar o amor da minha vida. Desde
já agradeço. Amém.
43
SÃO Longuinho, 2003, op. cit., p. 1.
44
XIDIEH, Osvaldo Elias. Contos Populares da Paixão de Cristo: Longuinho, o soldado cego.
Disponível em: <http.www.jangadabrasil.com.br/pesquisa/suminano2.htm>. Acesso em: 23 maio
2004, p. 1.
173
Meu São Longuinho fazei que o meu dia seja maravilhoso, e que eu
consiga a resposta par que eu estou lhe pedindo. Amém.
São Longuinho venho lhe pedir que me ajude a resolver a minha vida
amorosa o mais rápido possível.
Meu glorioso São Longuinho, venho pedir que me ajude a largar o
vício de fumar, estou precisando urgente. Desde já agradeço.
Estou pedindo uma boa viagem amanhã para Valinhos, e que o
resultado da partida esteja de acordo com a vontade do Sr. Jesus, e
que todos os jogadores estejam calmos e equilibrados e com
bastante harmonia.
Meu glorioso São Longuinho, venho pedir que me ajude a encontrar
o grande amor da minha vida.
Venho agradecer o que me atendeu, e pedir que eu consiga
encontrar a paz interior que tanto busco. Quero encontrar a
felicidade no meu lado amoroso. Amém.
São longuinho quero agradecer por tudo o que já me ajudaste a
encontrar, só que ainda falta uma coisa muito importante, talvez a
principal em minha vida: a PAZ, ando perturbada espiritualmente e
preciso de sua ajuda para achar essa tão sonhada paz, preciso
encontrar forças para viver, motivações para continuar o percorrer do
meu caminho, são longuinho conto com a sua ajuda agora e sempre
(...)
São Longuinho, obrigada por tudo, proteja meus filhos, meu marido,
meus cães, me ajude a resolver meus problemas financeiros, rezarei
um Pai Nosso. Amém.
São Longuinho, obrigada por tudo, proteja meus filhos, meu marido,
meus cães e me dê coragem para pedir a casa. Rezarei um pai
Nosso. Obrigada. Amém.
Meu São Longuinho, sou devota, ajude-me a achar aquele objeto de
estimação, tudo que lhe pedi até hoje tudo foi encontrado, conto com
sua ajuda, meu santo (…) e lhe agradeço por isso (…).
Vê-se que o santo é solicitado em diversas áreas, talvez porque seus
devotos queiram se sentir mais seguros em todos os momentos difíceis. Nos
pedidos e agradecimentos, está presente também uma ligação permanente do
174
devoto com o santo, pois, ao agradecer uma graça, o fiel solicita outra. E o fato de
ter sido divulgada em site a existência da imagem de São Longuinho em Guararema
fez com que devotos para lá se dirigissem em busca do santo.
Em todas as épocas, os seres humanos sempre buscaram o sagrado,
adorando-o, festejando-o, solicitando algo, agradecendo.
Abumansur (2003, p. 76) relata que
já nos relatos bíblicos, observa-se que a religião com suas
exigências e interditos, favorecem o comércio em torno dos
santuários. Em Jerusalém, por exemplo, esse comércio era
administrado pelos próprios sacerdotes do templo que auferiam lucro
significativo com a venda de animais para os peregrinos que vinham
de longe para oferecer sacrifício.
Na Idade Média, a procura por relíquias de santos era grande e em
algumas cidades interferiam mesmo na movimentação da economia local.
No século XX, surgiram vários santuários com grande movimentação
de romarias, peregrinações. Segundo Silveira (2003, p. 69), “a busca atual da
transcendência, do sagrado, mediatizada pela mídia/mercado por meio do
marketing/consumo, cria e anima fluxos intensos de deslocamentos de pessoas.”
Segundo esse autor, as mudanças substanciais emergiram na esfera da
religiosidade contemporânea, sendo emprestado a ela um caráter lúdico.
Assim, espaços, eventos e lugares passam a ser incluídos como
atrações turísticas e o produto turístico religioso pode ser vendido a diferentes
grupos sociais de diversas localidades. E assim as romarias são programadas por
agências de viagens a locais sagrados. O turismo é movimento; é movimentação de
pessoas, que se distanciam de seu meio, do local onde vivem e saem do seu
cotidiano; turismo é, portanto, um fenômeno que envolve “gente” e turismo religioso
é um fenômeno que se volta para o sagrado, para o “Transcendente” e, neste
sentido, é usado também aliado ao lazer e consumo nas festas de santo. A dinâmica
das romarias às festas de São Longuinho, com a preocupação dos devotos em se
prepararem para participar delas e também de quem as organiza e de quem as
recebe no local de destino, mostra o processo de interação social presente nessas
romarias, nesse turismo religioso.
175
Para Steil (2003, p. 19), assim como a festa não começa com a
chegada dos convidados, mas com os preparativos, assim também a peregrinação
não começa com a partida, mas com seu anúncio.
Em Freguesia, as romarias são esperadas no dia da padroeira e no de
São Longuinho. Estas são programadas e a aproximação de tais datas gera
expectativa na comunidade quanto ao número de pessoas que comparecerão, se
gostarão da comida, da festa... Outras acontecem de modo espontâneo, quando
pessoas sentem que é hora de fazer um pedido ao santo ou agradecer-lhe por uma
graça alcançada.
O público é formado principalmente por mulheres, mas, na ocasião das
festas do santo, a presença masculina é significativa. Abrange várias faixas etárias,
com presença de jovens, crianças, imperando a faixa de mais ou menos 50 anos. A
maioria dos motivos que as pessoas entrevistadas apresentaram para estar na
Igreja de Nossa Senhora da Escada estava relacionada a São Longuinho: visita o
santo, pedir ou agradecer o alcance de uma graça, como também por fé, por ser o
dia do santo (nos dias da Festa de São Longuinho). Essas romarias, também
conhecidas em Freguesia como excursões, são organizadas por pessoas de
comunidades vizinhas, até mesmo da cidade de São Paulo (capital), chegam a
Freguesia bem cedinho e ficam até o entardecer.
Lembramos aqui de Vilhena (2003, p. 23) quando ele diz que
Estas romarias são de caráter laico-sagrado, despojadas de
preconceitos, especulações e dogmas teológicos, desmancham,
descontraem e, a seu modo, reconstroem ritos, símbolos, cânticos,
formas de sociabilidade e solidariedade. Para delas participar, não se
pede filiação, freqüência, participação ou adesão exclusiva àquela
religião. Mais do que a filiação religiosa, é importante a filiação ao
santo da devoção. É o santo protetor, com sua festa ou lugar, aquele
que congrega e agrega. Seus devotos promovem o encontro da
tradição com a espontaneidade, do moderno com o arcaico, da
festança com a solenidade, do foguetório com as lágrimas.
Em Freguesia, inúmeras vezes, presenciamos pessoas chorando aos
pés do oratório de São Longuinho, tentando passar a mão na imagem, beijando as
fitas do oratório; tudo referente ao santo “é sagrado” para os romeiros. Eles se
dirigem às barraquinhas de artigos religiosos em busca de “recordações” do santo
para levar para casa. E muitos tiram foto ao lado do oratório de São Longuinho,
176
deixando transparecer que a foto é uma prova autêntica de que estiveram em
Freguesia com o santo.
Para Sanchis (1983, p. 39), romaria seria “uma peregrinação popular a
um lugar tornado sagrado pela presença especial de um santo”. Para Steil (2003,
p.34), quando se tem como referência uma excursão religiosa que viaja de ônibus ou
mesmo em grupo, a palavra empregada é romaria. Os locais de peregrinação não só
estão geralmente sob o controle da instituição católica, tendo até sido muitos deles
incentivados pelo próprio clero. Mesmo ultrapassando as intenções iniciais de seus
agentes institucionais, esses eventos dificilmente se manteriam sem o investimento
eclesiástico e/ou de mediadores político-administrativos que lhes dão suporte e lhes
imprimem determinadas características que os definem como tal.
Do ponto de vista dos políticos e administradores de Guararema,
observa-se um esforço para transformar os eventos religiosos em eventos turísticos
(Anexo V – Entrevistas 4, 7, 8) impulsionado também por ser a cidade de
Guararema uma cidade turística. No entanto, segundo o prefeito da região, o turismo
exige uma infra-estrutura adequada e a cidade está sendo preparada para, no
futuro, receber os “romeiros” de São Longuinho.
Em Freguesia, a devoção, o consumo e o lazer fazem parte de uma
mesma e única realidade. Lá, nos dias das festas, a praça em frente à igreja é
tomada por barraquinhas, que vendem toda espécie de mercadorias: roupas, CDs,
aparelhos eletrônicos, artigos religiosos, comestíveis, flores, brinquedos. É válido
lembrar que, até 2005, as barraquinhas comercializavam apenas comestíveis e
artigos religiosos.
Para os devotos, tais barraquinhas fazem parte da Festa de São
Longuinho. O prefeito, secretário de Cultura, políticos, donos de pousadas e hotéis
consideram-nas essenciais na acolhida dos devotos, das pessoas que comparecem
às Festas em Freguesia. Segundo o prefeito, Guararema não tem uma infra-
estrutura de serviço suficiente para atender as pessoas que comparecem às festas.
Em Freguesia, percebemos que, a partir da Festa de São Longuinho
em 2006, uma clara “divisão de tarefas na organização da devoção a São
Longuinho. A princípio, a comunidade e a pastoral se encarregavam de tudo que
dizia respeito à acolhida dos devotos, das excursões. A partir de 2006, os aspectos
“profanos” das festas estão a cargo da prefeitura, da GETUR, ficando a igreja
responsável exclusivamente pela gestão da espiritualidade.
177
O entrecruzamento da religião e do turismo, por meio do consumo, do
lazer, tem gerado aspectos harmônicos. O visitante, o devoto é um dos elementos
na construção da identidade local; os projetos para Freguesia, para o santuário de
São Longuinho nascem da continuidade do ir-e-vir dos devotos e, assim, a trajetória
desses vai sendo construída como uma imbricação de práticas materiais e locais,
produtores de comportamento, gestos e consumo.
Em Freguesia, a composição da devoção realizada por seus atores
mostra uma complexa rede de interações entre mídia (TV, rádio), organismos
governamentais (ministérios da Cultura, Turismo e Comércio), fundações privadas,
clero e devotos.
Religião e turismo se encontram, se completam em Freguesia. Há uma
relação entre consumo e fé, tornada possível porque, para os devotos, tudo faz parte
da festa do santo. Lá, os locais de consumo multiplicam-se em cada festa... Dentro
da própria ritualidade católica (missa sendo celebrada na praça, com a presença de
sacerdote), encontram-se pessoas na fila, mantendo seu lugar para o “almoço”, que
é servido logo após a missa, ao lado das barraquinhas, da quadra para esportes –
inaugurada em 2008. Assistir à missa em Freguesia é lazer, diversão, mas é
principalmente devoção a São Longuinho que está presente no altar, bem próximo
de seus visitantes.
A procissão de São Longuinho no domingo, nas festas do santo é outro
fator da devoção. São Longuinho sai da igreja e vai ao encontro das pessoas em
seu andor, todo enfeitado. Até 2005, nas procissões de São Longuinho, não se
encontrava padre presente. A partir de 2006, o padre (Adalberto) participou de toda
a procissão e a imagem saiu da igreja cercada por seguranças, com “cordão de
isolamento”, e era nítido o desejo dos devotos de se aproximar do santo, tocar a
imagem, o andor. O acompanhamento da procissão em 2006 e 2007 superou em
número de pessoas a procissão de Nossa Senhora da Escada, que chegou a
Freguesia de barco e sem “seguranças”.
Para os moradores, não é o aspecto turístico que sobressai. As festas
em Freguesia, as excursões para o oratório de São Longuinho aumentam a
economia do comércio, abrindo possibilidades de ganhos, mas, em Freguesia, os
moradores, devotos de São Longuinho, não negam os princípios centrais da
devoção ao santo. Os atores da devoção fazem com eficiência o marketing da
178
imagem do santo, porém estão presentes os vínculos da lealdade a São Longuinho.
A imagem não é usada para comerciais simplesmente.
Sintetizando, os fatores da devoção a São Longuinho – o roubo do
oratório, o fato de Guararema ser considerada uma cidade turística, a restauração
da igreja, a incrementação do comércio na praça da igreja, a organização do culto, a
procissão do santo – foram sendo encadeados tendo em vista a devoção a São
Longuinho.
7.5 Tensões
Os atores de uma devoção criam o conjunto de significados (ou sinais,
símbolos e signos, valores e normas) que dão direção para tal devoção. Isso
concretiza como uma interarticulação de papéis que se associam e que são
assumidos.
Assim nenhum grupo devocional está em equilíbrio constante;
ansiedade e conflitos estão sempre presentes, como também os impulsos de
dependência e os de ser independentes. Existe assim uma relação dialética, visto
que, através das contradições, das aparições, geram uma nova situação: a dos
atores voltados para o projeto da devoção como um todo. O conflito surge da
ambivalência entre o poder e a dependência.
A devoção a São Longuinho em Freguesia, após o roubo do oratório,
passa a ser vista como uma estrutura dinâmica, inserida numa comunidade maior
(Guararema). Até o roubo, a zeladora, com o repertório religioso de sua própria
cultura, recriou ali o sistema popular de crença e rituais a São Longuinho.
Padre Roberto, pároco morador em Freguesia, atuante na região,
estatuiu a realidade jurídica do “sistema religioso popular” (termo utilizado por
BRANDÃO, 1980, p. 97), à medida que, ao polarizar o catolicismo vivido no lugar,
definiu a existência de “dois sistemas opostos de agentes, trabalho e usuários do
sagrado, dos quais apenas o seu era legítimo e devia ser, portanto, o único”.
Houve, segundo alguns entrevistados, momentos em que padre e
zeladora não ocultavam o estado de alerta em que se encontravam, cada um
defendendo “seu santo” (São Longuinho) e “sua santa” (Nossa Senhora da Escada),
reivindicando direitos de controle sobre as duas imagens. O padre, tentando resolver
a questão, proclamava a ilegalidade, o risco da idolatria, o folclore da comunidade, a
179
superstição..., proclamava a ilegalidade de São Longuinho, que é uma ameaça a
Nossa Senhora da Escada e para a unidade da igreja que já tem uma padroeira.
D. Luíza e seus seguidores resistem à pressão, evitando o confronto
pessoal com o padre, no qual, por certo, perderia. Não enfrentam o padre
abertamente, mas, aos poucos, a imagem vai sendo levada para dentro da Igreja. D.
Luíza e aliados agem com muito cuidado, não respondendo às provocações de que
o “santo é feio”, até que a zeladora quebra o que até então existia em Freguesia:
total obediência ao padre, e coloca o santo no oratório, no altar-mor, próximo à
padroeira da igreja.
Ocorre, nesse momento, um desdobramento do poder religioso em
Freguesia, pois, com a imagem no altar, o padre disse que São Longuinho é santo
para “Luíza e seus aliados”, e que, para ele, só interessava Nossa Senhora da
Escada e assim houve uma transferência de uma parte do poder religioso para a
zeladora. Esta passagem é justificada por Brandão (1980, p.100):
Do ponto de vista interno, esses são os modos de a Igreja recriar
espaços sociais para a incorporação da variedade e das divergências
efetivas de interesses religiosos dos seus afiliados, militantes ou
nominais, todos sempre confessionalmente católicos, mas
socialmente antagônicos, em muitos casos, como: senhores e
escravos, fazendeiros e colonos, usineiros e trabalhadores volantes,
donos de indústria e operários, intelectuais católicos francamente
conservadores e progressistas.
A conquista de a zeladora levar o santo para o altar não foi fácil, mas,
se padre Roberto não retirou a imagem do altar, ele abriu espaços legais para a
devoção a São Longuinho em Freguesia, o que, segundo Brandão (1980, p. 100),
são “artifícios de respostas da Igreja dominante às ameaças de concorrência
religiosa”.
A partir desse momento, em Freguesia, a devoção a São Longuinho,
apesar de ainda receber críticas de padre Roberto, foi se desenvolvendo e a
comunidade lutando para tornar consagrada, legítima e aceita como sacralizada.
E assim, durante anos, os atores das relações de conflito na devoção a
São Longuinho foram o padre versus zeladora, especialista popular de São
Longuinho em Freguesia. Esta é a situação que se estendeu até quando ocorreu o
roubo da imagem de São Longuinho em 2001 e houve muita divulgação através da
imprensa, TV e mesmo na internet. E Guararema torna-se conhecida como a cidade
180
que possui uma imagem de São Longuinho no altar e, a partir daí, todos em
Freguesia se uniram em prol de São Longuinho.
As tensões depois disso não são mais a favor ou contra São
Longuinho, mas pelo controle da influência sobre a devoção em seus diversos
desdobramentos: político, turístico pastoral etc.
181
8 A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA E DA PERSONALIDADE DE SÃO
LONGUINHO EM FREGUESIA
Em Freguesia, São Longuinho foi sendo constituído diferente da parte
histórica apresentada no primeiro capítulo deste estudo sobre o soldado Longinus.
O mundo religioso de Freguesia era dominado pela zeladora, que criou
práticas e definiu formas próprias do culto a São Longuinho para a comunidade. Lá,
através da combinação da memória de São Longuinho e do repertório religioso de
sua própria cultura, D. Luíza recriou o sistema popular de crenças e rituais. Em
Freguesia, foi criado um processo paralelo à devoção, que foi a formação de uma
memória e de uma personalidade para o santo. Não só a devoção cresceu, o santo
também foi se formatando, e a memória e a personalidade do santo podem ser
observadas nos itens que se seguem.
8.1 Especialidades
Em Freguesia, São Longuinho não é invocado só para achar objetos
perdidos. Outras temáticas surgiram durante a análise dos 259 bilhetes: saúde,
proteção familiar, pedido de emprego, relacionamentos amorosos, libertação de
vícios, que pode ser constatado nos bilhetes abaixo:
A) Temática Saúde
A temática que mais emergiu dos bilhetes foi a saúde. Dos 259
bilhetes, 73 faziam referências a pedidos de saúde, estes se enquadram na visão de
São Longuinho como protetor de um modo geral. A maioria dos devotos pedia saúde
total para si mesmos, para familiares ou para amigos. Poucos fizeram referência a
uma situação de doença específica. Citam-se, abaixo, alguns pedidos relacionados
a essa temática:
São Longuinho, Dá saúde a todos meus filhos e netos (Anexo nº 5.
Bilhete nº 5).
Lhe peço, me dê saúde de corpo e da perna (Anexo nº 5. Bilhete nº
6).
182
Eu pesso pela minha saúde e pela paz no mundo e pela saúde de
minha família e eu pesso que minha filha ame o xxx (Anexo nº 5.
Bilhete nº 8).
São Longuinho, xxx e xxx que tenham filho com saúde e saudável
(Anexo nº 5. Bilhete nº 13).
São Longuinho que eu fique curada da tosse (Anexo nº 5. Bilhete nº
14).
São Longuinho peço a proteção para toda a família, paz, saúde,
harmonia (Anexo nº 5. Bilhete nº 54).
São Longuinho, que xxx tenha paz, saúde (Anexo nº 5. Bilhete nº
59).
São Longuinho e Nossa Senhora da Escada. Vou deixar meu pedido
de cura para xxx, de depressão, eu, dor na coluna (Anexo nº 5.
Bilhete nº 81).
Com base nas citações acima, ressalta-se que os pedidos referentes a
esta temática voltaram-se para restauração da saúde (algumas vezes para cura de
alguma doença específica) ou para a sua manutenção, no sentido de proteção do
santo para evitar doenças. O atributo de São Longuinho é que ele é um santo
protetor da saúde familiar.
B) Temática da Proteção Familiar
Encontraram-se, na temática da proteção familiar, 35 pedidos a São
Longuinho, os quais giraram em torno de paz na família, pedido de ajuda para todos
os familiares e também para estabelecimento ou manutenção da união e harmonia
na família. Apresentam-se, a seguir, alguns pedidos que permitem uma visão desta
temática de proteção:
Peço a São Longuinho que ajude e proteja minha família (Anexo nº
5. Bilhete nº 72).
Peço proteção a Nossa Senhora da Escada e São Longuinho para
toda a minha família (Anexo nº 5 Bilhete nº 74).
183
São Longuinho, peço proteção para minha casa e toda a minha
família (Anexo nº 5. Bilhete nº 124).
São Longuinho, peço que ajude todos os meus familiares (Anexo nº
5. Bilhete nº 157).
São Longuinho, proteção, saúde para minha família e que todos
tenham serviço (Anexo nº 5. Bilhete nº 171).
Pedido de proteção a São Longuinho para meus filhos (Anexo nº 5.
Bilhete nº 176).
São Longuinho. Peço benção para mim e minha família (Anexo nº 5
Bilhete nº 209).
São Longuinho ... que de hoje em diante eu tenha paz e minha
família também (Anexo nº 5. Bilhete nº 210).
São Longuinho, traga a paz e a união para minha família (Anexo nº
5. Bilhete nº 230).
Venho pedir que me ajude São Pequenino a minha família (Anexo nº
5. Bilhete nº 19).
Peço proteção a meus filhos, todos os netos e noras e genros (Anexo
nº 5. Bilhete nº 27).
São Longuinho, abençoe a minha família, proteja sempre meus filhos
(Anexo nº 5. Bilhete nº 32).
São Longuinho, peço a proteção para toda família, paz, saúde,
harmonia (Anexo nº 5. Bilhete nº 54).
Nos pedidos, ao invocar São Longuinho para questões relacionadas à
saúde e à proteção da família, percebe-se que os devotos fazem tal invocação de
um modo geral, considerando o santo como um protetor da família. É importante
lembrar que há moradores que vão diariamente à igreja “conversar” com São
Longuinho, contar-lhe seus problemas e alegrias, pedir-lhe proteção. São Longuinho
é considerado um santo da família, um protetor da família e da Freguesia de modo
geral.
184
C) Temática Pedido de Emprego
Em relação à questão de emprego, encontraram-se 31 pedidos de
devotos ao santo para que lhes arrumasse um emprego, ou para os filhos e o
cônjuge, ou para que os mantivesse o emprego que já têm. Citam-se, abaixo, alguns
bilhetes com os pedidos referentes a esta temática:
São Longuinho ... me dê um bom emprego! (Anexo nº 5. Bilhete nº
129).
Eu, xxx agradeço a São Longuinho a saúde da minha filha, o
emprego de xxx, a bondade de xxx e peço a vós e todos os santos
emprego para eles todos. (Anexo nº 5. Bilhete nº 130).
Senhor Longuinho, me dê uma solução para minha vida. Faça com
que eu consiga um bom dinheiro para por nos negócios. (Anexo nº 5.
Bilhete nº 131).
São Longuinho Eu preciso um bom emprego, fixo, quero pagar minha
aposentadoria, ajudar o pai e outras pessoas que tanto me ajudaram
me ajude me ajude me ajude. Obrigado Senhor. (Anexo nº 5. Bilhete
nº 132).
Eu, xxx, peço a São Longuinho, que ajude a mim e ao meu patrão
que consigamos sair desse sufoco em relação as dívidas a qual
temos que pagar, saindo dessas dívidas, que amenize o meu lado
em relação ao Banco. Desde já agradeço. Obrigada. (Anexo nº 5.
Bilhete nº 139).
Peço ao Senhor São Longuinho por Deus, peço uma grande ajuda
para que meu irmão arrume um emprego e meu marido se
aposentar. Agradeço de coração. Levarei seu nome a todos que te
amar. (Anexo nº 5. Bilhete nº 156).
São Longuinho Pedido para arrumar serviço e passar nos exames de
escola ... Pedido de mãe. (Anexo nº 5. Bilhete nº 172).
São Longuinho, peço-lhe que ajude-me a pagar minhas dívidas com
urgência, que eu passe no concurso público, que arrume um bom
marido que me ame e a meus filhos. (Anexo nº 5. Bilhete nº 182).
São Longuinho. Peço a vós para arranjar trabalhado para o xxx que
tanto precisa de servisso. Soldado, me ajude. Meu santo. Obrigado.
Amém. (Anexo nº 5. Bilhete nº 208).
185
Eu peço que me ajuda que eu consiga arrumar um emprego prometo
trazer 100 reais quando eu receber de meu 1º salário que me ajuda
que o ... arruma para mim ou a xxx me chame de volta. E segura o
xxx no emprego dele até que ele aposente. Obrigado. Trarei 100
para você como promessa. (Anexo nº 5).
Nessa temática, São Longuinho muitas vezes, é invocado em uma
situação determinada: desemprego. Situação em que as pessoas estão em
desespero, em aflição, por isso se dá a invocação ao santo nessas horas difíceis: a
necessidade ou a perda do emprego, as dívidas. Sendo assim, os devotos invocam
o santo para que ele haja nestas horas de desespero, dando-lhes a solução para os
problemas. Destaca-se a expressão “Soldado, me ajude”, citada em um dos bilhetes,
como um pedido de socorro em determinado momento de aflição. Também
relacionadas a esta temática aparecem as expressões “protetor dos necessitados”,
“santo das situações difíceis”, “das coisas impossíveis”.
D) Temática de Relacionamentos Amorosos
Quanto à temática de relacionamentos amorosos, encontraram-se 19
bilhetes. Incluídos nesses os pedidos de casamento para os filhos, para o próprio
solicitante, bem como para a solução de problemas afetivos, para a conquista de um
amor.
São Longuinho peço amor, paz, saúde. (Anexo nº 5. Bilhete nº 35).
São Longuinho ajude minhas 2 filhas a encontrar um bom partido e
bom marido que as amem e respeitam. (Anexo nº 5. Bilhete nº 87).
São Longuinho que meu marido volte para mim. Que ele fique mais
calmo. Abrande seu coração. (Anexo nº 5. Bilhete nº 93).
São Longuinho Eu tenho fé, venho até vós, para que meu ajude a
encontrar brevemente o meu marido. Eu peço para encontrar um
marido que seja amoroso, companheiro, amigo, amante, de bom
caráter e que tenha uma vida estável e equilibrada. Eu vim da minha
cidade até a sua imagem, deixar esta carta com o meu pedido e
prometo que quando realizar este pedido, voltarei até aqui para
agradecer e deixar uma colaboração para a igreja onde sua imagem
está guardada. Com a minha fé, o meu respeito e a minha gratidão.
(Anexo nº2. Bilhete nº101).
186
Para São Longuinho ... Quero ter um companheiro que divida comigo
minhas dores, minhas alegrias e tudo aquilo que eu tiver que passar,
mas tem que ser uma pessoa sincera (para sempre). (Anexo nº 5.
Bilhete nº 104).
São Longuinho me ajude com a sua lembrança a achar alguém
especial na minha vida. (Anexo nº 5. Bilhete nº 124).
Espero São Longuinho um bom esposo para minha filha. (Anexo nº
5. Bilhete nº 136).
São Longuinho eu vos peço um bom casamento para mim e saúde
para mim e para minha família. Amém. (Anexo nº 5. Bilhete nº 180).
São Longuinho, peço que ajude-me a pagar minhas dívidas com
urgência, que eu passe no concurso público, que
arrume um bom
marido que me ame e a meus filhos. (Anexo nº 5. Bilhete nº 184).
São Longuinho faça com que apareça uma pessoa boa para mim.
(Anexo nº 5. Bilhete nº 223).
São Longuinho, peço casamento para minha filha (Anexo nº 5.
Bilhete nº 138).
São Longuinho, Una esses dois corações que estão separados sem
razão. (Anexo nº 5. Bilhete nº 239).
São Longuinho, estou aqui neste dia 27/11, lhe visitando e
aproveitando para lhe pedir união com a pessoa que amo de
verdade, faça com que nossos corações se unam para sempre e não
se separe nunca mais. (Anexo nº 5. Bilhete nº 240).
Solonguinho peço a você que abra os caminhos do meu emprego
que é transporte escolar e abra o caminho de meu amor também. O
meu amor é meio complicado preconceituoso, porque sou infeliz até
hoje porque o meu amor que sinto é do mesmo sexo que eu, sofro
tanto porque as vezes me interesso por pessoa errada é difícil hoje
em dia a gente descobrir quem realmente é como eu sou às vezes
parece ser quando a gente vê não é nada daquilo. Por isso
Solonguinho me mostre quem é igual eu falei as pessoas que são
iguais a mim se aproximar de mim. Tenho certeza que depois desta
conseguirei encontrar uma pessoa que me ame de verdade, espero
ser realizada. O mais rápido possível porque não está dando mais
para ficar só. Desde já agradeço... obrigada. (Anexo nº 5. Bilhete nº
245).
187
Nota-se nesses pedidos acima que estas pessoas acreditam na
capacidade de São Longuinho para interceder nos relacionamentos afetivos,
proporcionando o atendimento ao que o devoto solicitou, seja para que o devoto
possa estabelecer uma relação amorosa com um novo amor, ou para que a relação
existente seja mantida. Aparece novamente a visão de São Longuinho como
protetor, como intercessor.
E) Temática de Objetos Perdidos
Embora São Longuinho seja conhecido como o santo cuja
especialidade é encontrar objetos perdidos, no levantamento feito nos bilhetes
colocados por devotos no oratório do santo, o número de pedidos referentes a essa
temática não foi tão significativo (14 pedidos apenas) quanto o das demais temáticas
analisadas até aqui.
Nessa temática, estão incluídas solicitações não só para se encontrar
coisas materiais, mas também se invoca o santo no sentido de se encontrar
caminhos para a solução de problemas.
São Longuinho, ache e ajude a aparecer comprador para o que estou
vendendo, terreno e comércio. (Anexo nº 5. Bilhete nº 24).
São Longuinho, por favor, mostrar o caminho certo para a
negociação da casa. E mostrar a médica o melhor a fazer no parto
da xxx e da xxx. Grata. (Anexo nº 5. Bilhete nº 30).
São Longuinho eu peço a minha casa própria. (Anexo nº 5. Bilhete nº
31).
São Longuinho ... encontre a minha aliança. (Anexo nº 5. Bilhete nº
211).
São Longuinho. Peço para achar uma pessoa para comprar minhas
terras. (Anexo nº 5. Bilhete nº 61).
Para São Longuinho. Gostaria de ser atendida pois meus pedidos
são simples e talvez possíveis.
1º) Gostaria que o Senhor achasse minha carta no dia do sorteio,
queria ter uma casa só minha, e isso não é egoísmo não, é um
grande sonho que sempre tive e vou ter sempre.
188
2º) Agradecimento. Obrigada por ter encontrado o carro do meu
sobrinho. (Anexo nº 5. Bilhete nº 104).
São Longuinho, joguinho da mega sena
04 – 10 – 16 – 19 – 27 – 28
01 – 04 – 19 – 22 – 35 – 36
03 – 04 – 19 – 27 – 50 – 52
Em nome de Deus maior ajude-nos a realizar um sonho de pagar
todas nossas dívidas, mudar de vida e poder ajudar nossos irmãos.
(Anexo nº 5. Bilhete nº 128).
Graças ao poderoso São Longuinho, achar um bom fígado para o
meu irmão xxx. (Anexo nº 5. Bilhete nº 144).
São Longuinho fasa com que eu ache a chave da minha casa e do
carro que eu dou 3 pulinhos. (Anexo nº 5. Bilhete nº 173).
Meu São Longuinho. Fazei com que o meu pai ache um lugar para
morar e faz com que eu ache as multas. Senhor, fazei com que eu
ache as multas. (Anexo nº2. Bilhete nº183).
São Longuinho, peço para achar meus documentos. (Anexo nº 5.
Bilhete nº 186).
São Longuinho, peço para encontrar a minha aliança. (Anexo nº 5.
Bilhete nº 187).
São Longuinho peço-lhe que do meu coração ajudar o meu irmão xxx
achar a caminhonete dele pois ele ainda não achou. Obrigada São
Longuinho por esta graça que o senhor já me concedeu. Beijos.
(Anexo nº 5. Bilhete nº 198).
São Longuinho. Ajude o meu filho a achar a vaga do emprego dele
que ele perdeu. (Anexo nº 5. Bilhete nº 215).
Espera-se de São Longuinho, além de que encontre objetos perdidos,
que encontre, por exemplo, pessoas para a realização de negócios, uma
determinada carta entre muitas em um sorteio, até mesmo um órgão para um
transplante. Portanto, nessa temática, São Longuinho é invocado para “trabalhar”
para seus devotos, procurando, investigando, como expressa o bilhete nº 104: “o
senhor vai ter que me ajudar em uma investigação sobre o meu genro, que ele se
revele perante minha filha se for verdade”.
189
F) Temática relacionada a vícios
São Longuinho também é invocado para problemas relacionados a
drogas e álcool. Encontraram-se nesta temática 14 pedidos. Nos bilhetes (anexo 5),
pede-se ajuda para largar o vício da bebida alcoólica e das drogas em geral. Pede-
se também proteção para os filhos, principalmente afastando-os do caminho das
drogas e das más companhias. Enfim, nessa temática, pede-se que São Longuinho
esteja sempre atento, protegendo e mantendo a harmonia da família.
São Longuinho, xxx esquecer bebida para parar de brigar. Cura dor.
(Anexo nº 5. Bilhete nº 21).
São Longuinho, peço graça para a vida de xxx que cure do vício e
arrume emprego. (Anexo nº 5. Bilhete nº 23).
São Longuinho afaste o vício da bebida de meu genro xxx, meu filho
xxx. (Anexo nº 5. Bilhete nº 34).
São Longuinho Peço proteção para minha família. Que minha filha
largue o álcool e a droga. (Anexo nº 5. Bilhete nº 90).
São Longuinho. Que minha filha não largue os estudos e afaste ela
das más companhias. (Anexo nº 5. Bilhete nº 91).
São Longuinho paz e harmonia. Minhas filhas estão brigando muito.
Tire a mais nova das noitadas. (Anexo nº 5. Bilhete nº 92).
São Longuinho por favor não me deixe ir para o caminho das drogas.
(Anexo nº 5. Bilhete nº 112).
São Longuinho por favor eu suplico, faça com que meu filho largue o
álcool e a bebida. Amém. (Anexo nº 5. Bilhete nº 113).
São Longuinho faça com que meu filho xxx pare de fumar. (Anexo nº
5. Bilhete nº 133).
Peço pro meu filho xxx deixar da bebida pás na casa dele pás para
família. (Anexo nº 5. Bilhete nº 146).
190
São Longuinho obrigado pela cura da bebida de xxx. Cura dos vários
amigos errados. Juízo e amadurecimento, esclarecimento espiritual.
Formatura. (Anexo nº 5. Bilhete nº 177).
Meu São Longuinho peço uma graça para meu filho largar a
maconha. (Anexo nº 5. Bilhete nº 217).
São Longuinho peço graça para a vida de xxx que cure do vício e
arrume emprego. (Anexo nº 5. Bilhete nº 237).
São Longuinho não me deixe ir para o caminho das drogas. Me
ajude. (Anexo nº 5. Bilhete nº 260).
Baseando nas citações apresentadas acima, São Longuinho é
invocado nesta temática como um santo protetor, um guardião para afastar os filhos
das drogas, do álcool e das más companhias.
Viu-se, assim, que São Longuinho é invocado em qualquer situação
aflitiva, em todas as situações rotineiras. D. Luíza, sempre que se refere a São
Longuinho com as pessoas que comparecem à Igreja em busca da imagem do
santo, diz que ele é invocado para tudo: “é um santo muito bom, resolve tudo, basta
pedir com fé”. Assim São Longuinho é proclamado em Freguesia como o santo que
atende todos os pedidos e não só para “achar objetos perdidos”. São Longuinho
resolve tudo e torna tudo possível e legítimo.
8.2 Memória
Como já mencionado, D. Luíza foi quem denominou a “imagem
achada” como São Longuinho e esta imagem passou a centralizar a religiosidade
dos moradores em Freguesia, ficando o local associado à imagem.
Sua fidelidade e veneração ao santo, aos poucos, foi sendo remetida à
comunidade, inferindo nas relações dos moradores entre si, o que é justificado por
Zaluar (1983, p. 95) quando diz: “o estudo dos santos pode ser um meio para se
inferirem as redes de solidariedades locais e a maneira pela qual as pessoas
recortavam seu universo social”.
Em Freguesia, de fato, a devoção a São Longuinho remete às relações
dos moradores entre si. À D. Luíza é atribuído “carisma”, isto é, poder simbólico
advindo das pessoas que moram no local, por seu comportamento exemplar em
191
termos de uma moral específica, sempre trabalhando para a Igreja, principalmente
para o seu santo.
Em Freguesia, uma comunidade constituiu um sistema religioso e D.
Luíza definiu as rotinas da produção e do acesso ao sagrado. Transformou mitos,
lendas e crenças populares incutindo estes em seus seguidores. Ela é a pessoa que
sempre representa a comunidade, respondendo sobre São Longuinho junto a
autoridades civis (prefeito, Secretária de Cultura...), emissoras de TV, rádio,
pesquisas, devotos e curiosos.
Desde o passado, a Igreja Católica concentra os ritos da igreja nas
mãos do padre, mas é concedido aos fiéis se reunirem por conta própria, para
executarem suas práticas devocionais. Brandão (1980, p. 201) menciona que,
durante os períodos de conquista e monopólio católico, os emissários
da Igreja consideravam-se os detentores exclusivos dos direitos de
produção local de bens e serviços de salvação. Eles sempre
entenderam como práticas suplementares e subalternas aquelas que
estendiam aos leigos. Em escala nacional, os sacerdotes católicos
definem-se como os mediadores do sagrado...
Em Freguesia, como vimos, aparentemente, a fase de conflito da
comunidade com o padre, por não aceitar o culto a São Longuinho, foi somente na
época do padre Roberto, quando D. Luíza colocou a imagem no altar e, com isso,
houve o que Brandão (1980, p. 100) chama de “quebras estruturais e da
transferência do poder religioso do padre para o leigo.” E, assim, D. Luíza ficou por
anos “defendendo São Longuinho que, até hoje, está no altar e tornou-se conhecida
como a “amiga do santo”.
Com a aposentadoria de padre Roberto, o padre que assumiu a Igreja,
padre Geraldo, não se indispôs com a comunidade, conforme já relatado por ele:
A devoção a São Longuinho é algo popular mesmo. Algo que surgiu
na Freguesia e foi passando entre os moradores. Não proíbo a
comunidade de se expressar de tal maneira. No calendário oficial
católico, não constam tais programações, mas não proíbo. Deixo a
comunidade à vontade (Anexo 4 – Entrevista I.1).
E assim D. Luíza, com o apoio de padre Geraldo e da comunidade,
continuou gerenciando São Longuinho e o apresentando às pessoas que
compareciam à Igreja em excursão para conhecer o santo: “na hora de crucificarem
192
Jesus, os bandidos falaram: vamos mandar Longuinho porque ele não enxerga
mesmo e ele foi e espetou a lança e jorrou sangue e ele se arrependeu muito...”
(Anexo 4 – III).
“Longuinho ficou conhecido como o soldado romano que, na
crucificação, lançou Jesus e Jesus disse: ‘Vou te perdoar; faça
sempre tudo de bom’, e São Longuinho obedeceu. Era muito
obediente, tanto que obedeceu aos bandidos...” (D. Luíza – Anexo 4.
III).
E ela descreve para as pessoas das excursões, para os devotos que
vão à Igreja os rituais perante a imagem. Menciona os três pulinhos e que muitos
dão mais, muito mais... “Teve uma ocasião que um time inteiro compareceu em
Freguesia e todos os jogadores pularam, pularam. Foram mais de cinco mil pulos”.
E D. Luíza continua, contando que
um casal de namorados foi à Igreja de Nossa Senhora da Escada e
deram mil pulinhos perante a imagem. Eles perderam algo (não
mencionaram o pedido de muito valor). Acharam no portão da casa
antes das 6 horas da manhã. À noite, tinham rezado para São
Longuinho e fizeram tal promessa.
Um domingo à tarde, um senhor foi a Freguesia à procura de D. Luíza,
pois queria pular para São Longuinho. Na sexta-feira anterior, tinha
ido em Ubatuba, na praia e lá derrubou documentos na beira do mar
e as ondas levaram. Desesperou-se e todos da família, seguindo os
conselhos da mãe, rezaram para São Longuinho... Sábado, pela
manhã, ele encontrou os documentos na praia.
E assim, com seus casos sobre São Longuinho, D. Luíza vai
recebendo os devotos, os visitantes na Igreja de Nossa Senhora da Escada e é
sempre lembrada como a pessoa que sabe tudo sobre São Longuinho: “Ela é quem
sabe e ensina tudo sobre São Longuinho”; frase dita por quase todos os
informantes-chaves durante a pesquisa. Ela conta e reconta seus casos, já
conhecidos de todos em Freguesia e assim vai sendo construída a memória do
santo em Freguesia.
Lá, todos têm um ou dois casos para contar, que abrangem desde o
fato de o santo ajudar a encontrar algo perdido até incríveis fatos de cura e mesmo
de doenças que se julgam terem sido colocadas pelo santo nas pessoas que se
193
"engraçam com ele", ou seja, associa-se o sofrimento, a doença à idéia de castigo
enviado por São Longuinho. O sofrimento, a morte, questões inerentes ao ser
humano são vistas por alguns como uma provação para aqueles que praticaram
más ações com o santo. A morte de uma mulher que roubou a jóia do santo na
primeira festa dele ilustra como a idéia de castigo merecido foi legitimada ("ela
devolveu a jóia, mas já era tarde").
Zaluar (1983, p. 85) corrobora essa questão do castigo quando diz
"que o castigo pode ser referente ao não seguimento das obrigações com o santo ao
rompimento de equilíbrio nas relações de reciprocidade entre o santo e o indivíduo".
Alguns relatos mencionam também casos em que pessoas cometem falta contra o
santo (falta de respeito, deboche, quebra de promessas) e, logo em seguida,
adoecem, pois "São Longuinho pune a quem lhe falta com o respeito".
Algumas histórias referentes a São Longuinho, contadas por pessoas
do bairro, recolhidas pela pesquisadora, estão abaixo apresentadas.
Relato nº1:
Dona Luíza conta que uma vez ela estava vestindo o santo (hoje ele
tem várias roupas), chegou uma professora e ficou conversando com
ela. De repente, a professora gritou e disse que São Longuinho
estava fazendo "careta" para ela. Dona Luíza, ao olhar, concordou
que estava mesmo. Segundo Dona Luíza, ele fez careta porque
estava pelado e o "santo" estava acostumado a ficar pelado só com
ela, D. Luíza que cuida dele há 36 anos (Anexo 4.III).
Relato nº 2:
Dizem que a imagem de São Longuinho muda de expressão quando
ele não gosta de alguém ou de algumas coisa. Citaram o caso da
professora para quem ele fez careta. Dona Luíza fala que São
Longuinho está muito satisfeito com o estudo feito sobre ele, que o
santo está "iluminado" porque vai ser feito justiça a ele que, durante
muito tempo, ficou no armário, escondido no fundão da Igreja. O
santo está satisfeito com a pesquisadora, simpatizou com ela. Falou
com ela (D. Luíza) para abrir os caminhos para a pesquisadora e
assim ela guardou todos os "bilhetes" para estudo. “Há muito tempo,
Longuinho não fica tão satisfeito. Olha para ele, observa como ele
olha para a senhora” (Anexo 4 – Informante nº3 - Dissertação de
Mestrado “Um estudo sobre a devoção a São Longuinho”).
194
Relato nº 3:
Moradores da comunidade contam que, na I Festa de São
Longuinho, uma pessoa que residia na Freguesia, "roubou o santo",
retirando jóia da imagem. Grande foi a indignação entre os presentes
e, mais tarde, a jóia foi devolvida; a pessoa mandou de volta para o
santo. “Mas já era tarde, São Longuinho não perdoou. Ela adoeceu,
foi piorando (câncer) e agora, próximo à II Festa de São Longuinho,
veio a morrer. Ela não durou para a Festa. Com São Longuinho não
se brinca” (Moradores de Freguesia).
Relato nº 4:
Coisas estranhas estão acontecendo em Freguesia. Temos receio de
falar e acharem que somos loucas. A imagem muda mesmo de
expressão, coisas terríveis estão acontecendo: um grupo estava
arrumando a Igreja e, do lado de fora, discussão se deveria ter ou
não a Festa de São Longuinho. Surgiram problemas recentes entre
pessoas influentes em Guararema, e talvez não fosse ter a festa de
São Longuinho. De repente, a luz próxima à imagem piscou algumas
vezes de maneira diferente, barulhos estranhos aconteceram e a
imagem sofreu alterações, parecendo muito brava. Tiveram que
chamar Dona Luíza para acalmar o santo (Anexo 4.V – Entrevista 4).
Relato nº 5:
Um casal de Mogi, na Festa de São Longuinho, relatou ter visto a
imagem querendo falar. Várias vezes trocaram de lugar dentro da
Igreja, se aproximaram do "andor" do santo (que, por causa da
procissão, não estava no oratório e sim no andor para ser levado à
procissão), e, emocionados, relataram que a imagem estava
tentando falar com eles. Dona Luíza também foi chamada e
"acalmou São Longuinho" (Anexo 10 – Figura 30).
Relato nº 6:
Uma senhora de São Caetano trouxe um vestido para São
Longuinho, vestido que foi do batizado da filha que hoje está com
cinqüenta anos. Vesti São Longuinho e falei: "deixa seu telefone que,
se o santo gostar, eu deixo ele com a roupa. Caso contrário, eu
devolvo. E não telefonei porque o santo ficou satisfeito (Anexo 4.III).
Outro aspecto que se destaca na construção da memória de São
Longuinho em Freguesia é o cartaz que, por sugestão do padre Geraldo, foi
colocado na parede no lado do oratório do santo.
195
Este cartaz (Anexo 6. C), conforme já mencionado no segundo
capítulo, relata a doença de uma senhora da comunidade que, segundo um médico,
não tinha cura. E assim, familiares e amigos fizeram um pedido a São Longuinho
para interceder junto a Deus na cura, e o “santo atendeu”.
E, por sugestão do padre, uma missa foi celebrada em ação de graça,
ocasião em que a devota entrou na Igreja carregando o cartaz e o levou até o
oratório de São Longuinho, com muita emoção dela e de toda a família.
Desse modo, tal sacerdote também teve uma participação ativa na
construção do santo, pois, segundo alguns, a princípio, os familiares iriam colocar o
agradecimento ao santo em um jornal de Guararema. Padre Geraldo disse que
poucas pessoas lêem jornal e, assim, poucos saberiam do “milagre”. Em uma
cerimônia na Igreja, com o cartaz fixado ao lado do oratório, muitos tomariam
conhecimento do milagre e do santo. E assim foi feito, e o cartaz continua fixado na
parede ao lado do oratório e sendo mencionado e apresentado por D. Luíza a seus
seguidores.
8.3 Personalidade
A personalidade de São Longuinho foi sendo construída em torno das
roupas da imagem, da linguagem e do comportamento do santo mencionados pelos
moradores de Freguesia, bem como através da sua história, contada pelos
moradores, e das festas em sua homenagem. São Longuinho é uma autoridade, tem
seguranças, e estes itens que ajudaram a construir a personalidade dele em
Freguesia são mencionados a seguir.
Na ocasião em que Vicente e Miranda encontraram a imagem, D. Luíza
sugeriu que uma roupa fosse feita para a imagem, e o santo não ficou mais “pelado”,
há sempre alguém doando uma roupa para ele.
Relata D. Luíza que uma senhora de São Caetano trouxe uma veste
para São Longuinho, que tinha sido do batizado de sua filha, hoje com 50 anos. D.
Luíza vestiu o santo e disse: “deixa seu telefone que, se São Longuinho gostar, eu
deixo ele com a veste”. E ela telefonou porque o santo ficou “satisfeito” (Anexo 4 –
Entrevista III).
E assim, o santo de Freguesia, nos relatos de D. Luíza, demonstra
satisfação, fica emburrado quando não gosta de algo ou de alguém, faz caretas, tem
196
vergonha de ser trocado por outra pessoa que não seja D. Luíza. Segundo ela, São
Longuinho ficou iluminado com nossa presença na Igreja, com o estudo a respeito
dele, pois isso foi fazer justiça a São Longuinho, que, durante muito tempo, ficou no
armário escondido.
Segundo D. Luíza, o santo de Freguesia estava alegre, pois se
“simpatizou” comigo e pediu que ela abrisse os caminhos para mim, “guardar” seus
bilhetes... “Há muito tempo ‘Longuinho’ não fica tão satisfeito. Olha para ele, observa
como ele olha para a senhora”. E assim D. Luíza vai apresentando a todos a
personalidade de São Longuinho.
Outro fato que contribuiu também para a construção de São Longuinho
em Freguesia foi a cura de uma doença de um morador muito querido da
comunidade: João. Ele adoeceu, teve que ser operado (tumor na cabeça), esteve,
segundo alguns depoimentos, “desenganado pelos médicos”, e a esposa dele, D.
Luíza e pessoas da comunidade pediram sua cura a São Longuinho e mais um
milagre ocorreu em Freguesia. João deixou o “cabelo crescer e se propôs a
trabalhar pela Igreja” (promessas dele), tornando-se uma pessoa muito ativa nas
festas da Igreja, tendo sua história comentada entre os milagres de São Longuinho
por D. Luíza e seguidores.
Dele partiu a idéia de se fazer uma festa em louvor ao santo, tendo
surgido, em 2003, a I Festa em louvor a São Longuinho. Esta foi organizada pela
comunidade, com rezas de terço, exposição do santo em seu oratório no meio da
Igreja e, pela primeira vez, São Longuinho saiu da Igreja em procissão e, apesar da
pouca divulgação, o número de visitantes em Freguesia foi grande.
A II Festa de São Longuinho, em 2004, iniciou-se com a encenação de
“Soldados de Cristo”: crianças entrando na Igreja pela porta principal, com a
Bandeira do Brasil e fazendo coreografia até o altar onde se realizou a missa. Em
seguida, entrou D. Luíza, carregando nas mãos suspensas a imagem de São
Longuinho como soldado romano e a colocou no altar. A seguir, padre Geraldo e a
ministra da Eucaristia entraram na Igreja.
O andor com a imagem de São Longuinho, já preparado para a
procissão, ficou no chão do altar principal. Nos preparativos da Igreja para a festa, a
equipe responsável teve receio de colocar o andor no altar ou mais próximo do local
onde seria celebrada a missa e ser repreendida.
197
Agradecemos a Deus e a São Longuinho. Vamos pensar no pedido
que precisamos: fazem o pedido a São Longuinho, silenciosamente.
A exemplo de outros mártires que também sofreram como São
Longuinho, pensemos em todos eles e peçamos sua intercessão
junto a Deus (Padre Geraldo/Missa de abertura da II Festa de São
Longuinho, em 2005).
No sermão, após comentar a leitura da bíblia, referente à passagem
em que José foi traído por seus irmãos e também comentando sobre a fala de Jesus
com os fariseus, o sacerdote relaciona tais fatos com São Longuinho.
(…) E São Longuinho vem deste contexto, pois era contemporâneo
de Jesus e, na "Paixão de Cristo", reconheceu que "este é o filho de
Deus". E, a partir daí, sofreu e foi perseguido como todos os
mártires.
De nada adiantou quererem acabar com os cristãos. E o resultado é
que 2000 anos depois estamos aqui reunidos falando de Deus.
Podem matar um cristão aqui, um ali, mas, como disse Gamaliel, nos
Atos dos Apóstolos, o que prevalece é a vontade de Deus. Assim
como São Longuinho, muitos morreram, mas o que pertence a Deus
não é qualquer um que vai destruir. Vamos agradecer de modo
especial a São Longuinho que deu seu testemunho na Cruz: "Este é
o filho de Deus" (Padre Geraldo/Missa de abertura da II Festa de São
Longuinho, em 2005).
No término da missa, Dona Luíza e duas pessoas (devotos, moradores
em Freguesia) entram pelo meio da Igreja carregando o mastro com a estampa de
São Longuinho (semelhante à imagem do oratório) que, após o padre benzê-lo, foi
erguido no cruzeiro da praça, anunciando o início das comemorações da Festa de
São Longuinho.
No sábado da II Festa de São Longuinho, na praça da igreja, bem cedo
(oito horas), iniciou-se a montagem de barraquinhas para venda de imagens, terços,
ímãs de geladeira, camisetas com estampas de São Longuinho e também de Nossa
Senhora da Escada, bem como para venda de comestíveis, refrigerantes e água.
Não é permitido venda de bebidas alcoólicas naquele local.
Tomamos conhecimento, nesta ocasião, de que os donos do comércio
local (um bar, uma vendinha) não permitem que se "comercializem comestíveis que
fazem parte de seu comércio". É feito um trato entre a comissão organizadora da
festa e eles; a loja que vende imagens de santos, numa rua próxima à Igreja, nestes
198
dias também fica fechada. Assim, o comércio fica incorporado dentro do circuito
religioso da Igreja.
Enquanto os homens montam as barracas, um grupo de mulheres
prepara o almoço para o dia seguinte: descascam mandioca, batata, escolhem feijão
e arroz, lavam as panelas, separam os copos etc. Mulheres mais jovens enfeitam a
igreja, os altares, com exceção do andor de São Longuinho, que fica sob os
cuidados de Dona Luíza, respeitada por todos por ser quem cuida de São Longuinho
há muitos anos.
Na Igreja, já enfeitada e programada para a missa das dezoito horas,
devotos comparecem pagando promessas e poucos esperam a realização da missa.
Esta foi celebrada por Frei José Alamiro Andrade Silva, franciscano, que, há alguns
anos, participa da Festa de Cristo Rei em Freguesia e trechos de sua fala já foram
citados anteriormente.
No domingo de São Longuinho (a festa propriamente dita), os foguetes
começaram bem cedo, anunciando São Longuinho. A expectativa era grande quanto
ao número de ônibus e de fiéis que compareceriam à festa. A tensão era visível
entre os organizadores do evento, com receio de que o público não se fizesse
presente à festa devido a conflitos ocorridos recentemente na comunidade.
Segundo depoimentos, a primeira festa de São Longuinho foi muito
concorrida, a praça da Igreja ficou lotada, calcula-se que foi em torno de seis mil o
número de pessoas que passaram por lá, estando presente um número grande de
ônibus de excursão. A festa da padroeira também foi concorrida, mas, segundo os
moradores, "a de São Longuinho teve bem mais pessoas e ônibus de excursão".
Na II Festa de São Longuinho, vieram apenas dois ônibus de excursão,
ambos de Poá, interior paulista. Muitos devotos compareceram; na Igreja, havia
constantemente pessoas rezando e pagando promessas. Foram feitas orações
dentro da Igreja, formou-se a procissão, tendo à frente crianças vestidas de
soldados, uma delas carregava a Bandeira do Brasil. Junto ao andor de São
Longuinho, meninas e moças vestidas com roupa branca, segurando as fitas
colocadas na imagem do santo.
A procissão saiu da Igreja percorrendo as ruas do bairro, com os
andores de São Longuinho e de Nossa Senhora Aparecida. Duas mulheres
puxavam o terço. Um grande número de pessoas filmava e retratava o evento. A
199
procissão não contou com presença do clero, outra diferença em relação à Festa da
Padroeira, na qual estavam presentes padre Roberto e padre Geraldo. Após
percorrer as ruas principais, a procissão retornou à praça em frente à Igreja para a
missa campal. No palanque, o altar foi montado: os andores de São Longuinho e de
Nossa Senhora Aparecida ficaram na frente do palco. Na mesa preparada para
Eucaristia, a presença da imagem de São Longuinho semelhante à do andor, que,
nesta ocasião, após ser "benzida", foi colocada à venda.
Observando a II Festa de São Longuinho e participando dela,
lembramos Brandão (1978, p. 49) quando ele fez a seguinte referência: "a festa
instaura uma transformação não só na rotina da vida da sociedade local, como na
própria vida de seus participantes".
Tivemos oportunidade de observar, no dia da abertura da festa, que algumas
pessoas abdicaram do almoço em prol dos preparativos para o evento. Os donos do
comércio do bairro entraram em acordo com a comissão da festa sobre a venda de
comestíveis nas barraquinhas, evitando confusões e atropelos. Assim, por ocasião
da festa, as diferenças são postas de lado, há um acordo mútuo, no qual o respeito
é recíproco.
A III Festa de São Longuinho em 2005 contou com a presença de
padre Geraldo, e muitos devotos passaram por Freguesia para louvar São
Longuinho. Na procissão, que antecedeu a missa campal, mais um ano a
comunidade não contou com a presença de sacerdote, o que foi motivo de tristeza
para muitos.
A organização da festa ficou a cargo de Ângela, Carlos, padre Geraldo,
e D. Luíza era sempre consultada, orientava quanto aos procedimentos para a
procissão, etc. Enfim, ela gerenciou a III Festa de São Longuinho junto com padre
Geraldo. E as pessoas que compareceram queriam conversar com ela, ouvi-la falar
sobre São Longuinho. D. Luíza e sr. Vicente foram fotografados, entrevistados,
como também padre Geraldo. Eram nítidas nesta III Festa de São Longuinho as
instâncias de união entre o padre, a zeladora e a comunidade.
No sermão, durante a missa campal, o padre enalteceu São Longuinho
e nos chamou ao palco dizendo para a platéia sobre o estudo por nós realizado
sobre São Longuinho, conforme já relatado. E mencionou também que, se São
Longuinho é tema de uma dissertação, de uma pesquisa, é porque realmente
200
merece e, assim, “vamos fazer nossos pedidos a São Longuinho, que perfurou
Cristo, mas se arrependeu, se converteu”.
Fernandes (1982, p. 66) diz que “os significados e as relações efetivas
implicados pela diferença entre padres e romeiros também variam e não devem ser
pensados em termos estáticos”. Há situações de coexistência pacífica e, em
Freguesia, presenciamos estas situações entre o padre, a comunidade e os devotos
de São Longuinho.
Em janeiro de 2006, houve uma grande festa em Freguesia: a missa
que marcou a restauração da Igreja e, nas palavras do celebrante, Dom Paulo
Mascarenhas Roxo e nas de padre Geraldo Lázaro e autoridades presentes, estava
explícito o significado de São Longuinho para todos, de como o santo é importante
em Freguesia graças à construção de sua memória e personalidade. Alguns trechos
dos discursos da referida missa confirmam:
Que Nossa Senhora da Escada nos dê a responsabilidade, o amor, a
bondade e a fé! Que São Longuinho fale por todos nós! (Bispo Dom
Paulo Mascarenhas Roxo)
[...] O prefeito de Guararema, ao receber a notícia da verba para a
restauração da Igreja de Nossa Senhora da Escada, estava comigo
na sala do Planalto, do vice-governador, e, imediatamente, deu três
pulinhos, dizendo: “graças a Deus, São Longuinho... (Prefeito de
Mogi das Cruzes).
[...] Estamos aqui fazendo história e isso é obrigação. Um povo que
perde a sua história perde a sua identidade. Tudo o que é Brasil é
nosso. Estou aqui como brasileiro, como cidadão. Vamos trabalhar
juntos. São Longuinho está esquecido lá no cantinho, vamos ser
cidadãos. Vamos reconhecer nossa história, não vamos esquecer
daquele que traz tantas pessoas em Guararema [...] (Vice-
governador de São Paulo, Cláudio Lembo).
Quero apresentar uma pessoa que veio de longe, de muito longe, de
Minas Gerais, da minha cidade, Juiz de Fora, e que fez uma
pesquisa de mestrado inédita que está nos ajudando muito na
restauração da Igreja agora. Esta pessoa deve ter recebido uma
“iluminação” de São Longuinho, algo mostrou a ela a necessidade de
continuar a pesquisa e hoje ela está fazendo o doutorado sobre São
Longuinho. Chamamos aqui, a ....... para que ela entregue ao vice-
governador uma cópia de sua dissertação para que ele cumpra a
promessa a nós feita em uma reunião de que iria imprimir a
dissertação, transformando ela em um livro sobre São Longuinho.
São Longuinho merece! Ou não merece? (Padre Geraldo Lázaro).
201
E assim também, nos discursos de vereadores e prefeitos de
localidades vizinhas, São Longuinho era lembrado e lhe faziam agradecimentos em
plena Festa de Restauração da Igreja de Nossa Senhora da Escada, padroeira da
cidade.
Essas festas do santo de Freguesia podem ser vistas como o modo de
os moradores expressarem a sua crença, a sua devoção a São Longuinho.
Traduzem simbolicamente a fé deles no santo de sua devoção, que, depois de
muitas discussões, chegou e permaneceu no altar. Essas festas traduzem uma
dimensão da vida, promovendo o sentimento de união entre todos que venceram
uma batalha e puderam louvar São Longuinho.
Os programas oficiais das festas de São Longuinho separam a parte
religiosa da parte profana. O padre, até 2005, participava dos rituais realizados
dentro da Igreja: missas, bênção das águas, bênção dos mastros. Não participava
da procissão. A programação popular ocorreu na praça em frente à Igreja. Leilões e
bingos estavam inseridos na programação religiosa, embora também ligados à
esfera do profano. A música sempre foi um dos pontos-chaves das festas. Tocava-
se sempre música alegre, em consonância com as paradas de sucesso das rádios.
À noite, o forró reuniu muitos jovens.
A procissão foi o ponto alto das festividades. As pessoas se
comoveram. A devota, carregando o andor com a imagem de São Longuinho,
emocionou-se; estava pagando uma promessa, porque havia conseguido solucionar
um problema difícil. Participava a seu modo de um mundo transcendente: "Estou
com São Longuinho, não acredito". Ressalta-se DaMatta (1997, p. 65) quando ele
compara os ritos religiosos brasileiros em homenagem aos santos com a parada
militar e o desfile carnavalesco. A procissão permite que todos os devotos caminhem
com o santo.
O clero teve controle sobre as festas. Era nítida a preocupação da
pastoral, da zeladora, de todos os organizadores para que os preparativos fossem
do agrado do padre e que a localização do andor do santo não gerasse discussão.
Presenciou-se a tristeza dos organizadores por não terem atendido o padre com a
oração solicitada em uma das festas.
As Festas de São Longuinho aproximaram e reaproximaram as
pessoas; acentuadas pelo sistema de mutirão, as pessoas tinham que conversar,
participar, organizar. O caráter religioso e o secular estiveram bem estreitos nas
202
Festas de São Longuinho, conforme expressou padre Geraldo: "A Festa é do Povo".
E este foi um dos fundamentos das festas de São Longuinho em Freguesia. A
realização delas permitiu ao povo exprimir sua maneira de viver, sua história de vida,
sua existência, procurando explicações e soluções para seus problemas através das
promessas. "Na festa, religião, mística e magia interpenetram-se", segundo Passos
(2002, p. 182). As festas foram uma forma de os moradores e devotos
compactuarem com o sagrado.
As festas de São Longuinho apontaram para algo maior, para a
compreensão do sagrado, o que pode ser sintetizado e ilustrado com as palavras de
Berkenbrock (2002, p. 212).
[...] festa é o encontro, o encontro é a festa
[…] festa é o encontro entre humano e divino
[…] é toda existência que é reposta em festa, por um instante, em
harmonia. A festa é o encontro do humano com o sagrado. É uma
grande costura, que conserta a história… É perdão, reconciliação.
Festa… é religião.
Refletindo sobre as festas de São Longuinho em Freguesia,
concluímos que estas também apresentaram dados que demonstram a participação
dos atores da devoção na construção do santo de Freguesia.
Após a missa da restauração da Igreja, a devoção a São Longuinho
passou por reformulações. Padre Geraldo foi enviado para realização de um curso
de aperfeiçoamento de inglês nos Estados Unidos, e D. Luíza não tinha mais em seu
controle as chaves da Igreja. Relata, mais tarde, que esteve adoentada e que “eles”
não queriam que ela falasse conosco, com receio de que ela expusesse o que
estava acontecendo por lá, que ela foi afastada de “seu santo” e esse foi o motivo de
sua doença.
Sua filha Helena, que assumiu seu lugar junto com Ângela perante os
devotos para responderem sobre São Longuinho, diz que a mãe “adoeceu por ter
sido afastada da Igreja e do seu santo”. Ângela mencionou que as pessoas das
excursões não querem ouvi-las (ela e as pessoas que recebem os visitantes).
Querem as explicações de D. Luíza, pois “ela é quem sabe do santo, é quem cuida
dele”. Relata que houve um dia que tiveram mesmo que chamar D. Luíza, porque o
coordenador da excursão exigiu: “Viemos para ver São Longuinho e ouvi-la”. D.
203
Luíza voltou a atender na Igreja a partir de março de 2006 e, na IV Festa de São
Longuinho, em 2006, a dinâmica da festa estava bem diferente das anteriores.
Havia participação das crianças, estas, ao saírem da escola, se
dirigiam para a Igreja ainda com uniformes, mochilas... e, entrando na Igreja,
perguntavam o que era para fazer: colavam bandeirinhas,faziam crachás, lavavam
copos, talheres...
D. Luíza não estava na Igreja para receber os devotos e sua ausência
também foi notada por nós na abertura da festa, sexta-feira. Não houve, como nas
festas anteriores, a entrada de D. Luíza carregando a imagem de São Longuinho
como soldado e nem houve a entrada do mastro com a estampa de São Longuinho
e a encenação dos soldados de Cristo pelas crianças.
Também diferenciada dos anos anteriores foi a decoração da Igreja.
Uma floricultura de São Paulo preparava a Igreja: arranjos nos altares, nos andores,
o que, nos anos anteriores, era feito pela comunidade.
No sábado, D. Luíza e Cleide, uma jovem que ajuda D. Luíza nos
afazeres da Igreja e é a única pessoa que pode estar presente quando D. Luíza
troca a imagem, chegaram com uma nova roupa para São Longuinho. E, de repente,
Cleide e Luíza começaram a gesticular, a falar, se alteraram e, ao nos aproximar, a
moça disse que São Longuinho estava com vergonha, que toda vez é isso na hora
de trocar a roupa dele. D. Luíza, muito compenetrada, passava a mão na imagem,
se desculpava e dizia: “licença, São Longuinho”, vou ser muito rápida...”.
Ao perceber nossa presença e de alguns que se aproximavam, pediu-
nos que nos afastássemos, justificando que o santo só fica sem roupa na presença
dela e de sua ajudante. Mais tarde, D. Luíza nos explicou da mudança de cor da
imagem, da alteração de sua fisionomia... e as crianças escutaram D. Luíza com
respeito e carinho.
Outra novidade na IV Festa de São Longuinho, em 2006, foi a
presença de segurança junto à imagem. Durante todo o período de preparativos da
imagem, da Igreja, alguém ficava na igreja “vigiando” e recolhendo os donativos.
Houve muita reclamação quanto a santinhos de São Longuinho que
nunca ficavam na Igreja. As pessoas não se limitavam a pegar um ou dois e sim
retiravam muitos e, assim, tornava-se impossível ter santinhos em todos os
momentos e chegou uma hora em que realmente acabaram. Quanto às imagens,
204
era comercializada a de São Longuinho como soldado, só que este ano, além das
de gesso, tinha também em resina.
Notamos que, no domingo da festa, havia um número bem menor de
pessoas em relação aos anos anteriores. Na esquina, do lado da Igreja, uma
Choperia foi inaugurada, sob o protesto da Secretária de Turismo de Guararema,
que almejava o tombamento da casa; a arquitetura da casa, que era semelhante à
da Igreja, foi totalmente alterada.
Outra novidade foi uma loja montada exclusivamente para a Festa de
São Longuinho, em uma garagem de uma das casas da praça, com venda de
artesanato, de imagens religiosas, sendo que uma dessas imagens era semelhante
às do oratório (imagens feitas a pedido de João Figueiredo e que desapareceram da
Igreja). Mais tarde, tomamos conhecimento pelo próprio Figueiredo de que tal
imagem foi confeccionada por um artista da região e, segundo ele, foi copiada de
uma foto tirada de suas imagens.
Outra inovação foi a barraca de informações: dez jovens, rapazes e
moças, fizeram um treinamento com padre Geraldo para prestar informações
corretas ao público, atender adequadamente as pessoas, informar sobre São
Longuinho, com o fornecimento de folheto explicativo sobre o santo aos
interessados. Esses jovens estavam uniformizados.
Havia também uma barraca do GETUR (Grupo de Empreendedores de
Turismo de Guararema) com fotos das pousadas, dos restaurantes e distribuição de
folders. Todos que trabalhavam em prol da festa estavam uniformizados e com
aparelhos walkie-talkie ou celulares. A divisão de tarefas foi respeitada: um não se
intrometia, nem respondia informações para as quais não tivesse sido designado.
Havia ambulância para atendimento médico, se necessário, e muitos policiais.
Pela primeira vez, Freguesia contou com a presença de um padre na
procissão de São Longuinho (padre Adalberto) que participou, acompanhando-a e
rezando por toda a caminhada. Também seis seguranças acompanhavam a imagem
o tempo todo e esta vinha em cordão de isolamento. Na missa campal, padre
Adalberto mencionou São Longuinho só no início da fala: “Na devoção a São
Longuinho, a Nossa Senhora, aparece o sinal de Deus...”; já na missa de abertura,
Dom Paulo
45
mencionou São Longuinho mais vezes:
45
Bispo Dom Paulo Mascarenhas Roxo – Diocese de Mogi das Cruzes, da qual Guararema faz parte. Dom Paulo
foi bispo atuante até 2004, quando Dom Airton José dos Santos assumiu a Diocese de Mogi das Cruzes. Foi a
205
“São Longuinho, santo popular intercedei por nós. Peçamos a São
Longuinho (nossos pedidos, falamos com ele)”.
“Vamos pedir a Nossa Senhora da Escada e a São Longuinho, que
estão no céu, que ajudem nas nossas orações, nos nossos pedidos.”
“Vamos fazer a oração a São Longuinho”.
“São Longuinho abriu com a lança o coração de Jesus...
Aquele coração que Longuinho abriu
Foi o coração do Filho e Ele está aqui...”
“[...] Jesus prometeu paz. Peça a São Longuinho. Com certeza São
Longuinho vai ouvir com mais atenção aqueles que fizeram o
propósito de amar mais. São Longuinho penetrou no coração do
Senhor. Vamos pedir que nos dê um coração semelhante ao de
Jesus: de bondade, de amor.”
“São Longuinho, por favor, peça a Jesus por nós. Que nós saibamos
amar. Assim seja. Amém. Viva São Longuinho!”
Nesta festa, percebia-se a diminuição do poder de controle de D.
Luíza: chegou com um grupo de dez pessoas para o almoço (na sacristia, era
servido o almoço para quem estava trabalhando na festa e autoridades presentes...)
e D. Luíza foi barrada por um dos seguranças. Argumentou que estava
acompanhada do pessoal que doou o frango no ano passado e este ano também
(500kg de frango), mas não foi permitida a entrada dela e de seus acompanhantes
sem o vale a ser adquirido para o almoço. E, segundo o segurança, mesmo ao
adquirir tal vale, as pessoas teriam que ficar na fila.
D. Luíza, muito nervosa, nos disse: “não falei que aqui está tudo
mudado, eles estão controlando tudo, passando por cima de todos. Que cara eu
tenho para dizer para eles, que doam tanta coisa para São Longuinho, que não vão
almoçar?”
D. Luíza, ao ser entrevistada no dia anterior, relatou estar gostando da
restauração da Igreja, disse que estava precisando mesmo, mas, “quando o
patrimônio mete o nariz, muita coisa muda: não pode isso, não pode aquilo... Padre
Geraldo só falava: “vai com calma, D. Luíza, o patrimônio mandou, o patrimônio
falou...”.
primeira vez que Freguesia contou com a presença do bispo em uma de suas festas. Dom Paulo também celebrou
a missa do início das obras de restauração da igreja em janeiro de 2008.
206
Vai pro inferno o patrimônio. Eu estou proibida até de lavar a Igreja.
Ela está com cheiro e não posso fazer nada. Sabe de uma coisa,
muita coisa mudou em Freguesia com a restauração. Pronto, falei.
Pediram para eu não falar, mas não minto, não gosto de mentira...
Ele deu ordens, deu ordens e agora se mandou e deixou tudo por
conta do patrimônio... e foi cuidar da vida dele, bem longe daqui, não
precisa mais daqui”.
Por este depoimento de D. Luíza, vê-se que as relações em Freguesia,
após o início da restauração, sofreram modificações. Os depoimentos abaixo
também ilustram as mudanças ocorridas.
1) João Figueiredo comenta que a IV Festa de São Longuinho “não
tem ninguém em relação ao ano passado”, quando ele divulgou, chamou a BAND,
criou a galinhada, mandou anunciar a festa na rádio. Este ano, a divulgação foi feita
pelo GETUR, atingindo apenas as pessoas de poder aquisitivo mais alto. “A
mudança é tanta que pintaram a imagem de São Longuinho. Olha que absurdo!” E o
padre, calado, calado: “Fica quieto, Figueiredo, não tumultua”. E Figueiredo
continua: “Perdi meu emprego, o prefeito mandou eu ficar fora de Freguesia... Eles
não estão interessados em São Longuinho, na devoção...”
2) “[...] falta empenho da Diocese, da paróquia para propagar mais a
devoção a São Longuinho. A paróquia deveria ter uma participação maior, pois a
maior festa do município é São Longuinho”.
3) “[...] fui proibido de conversar com você, de dar entrevista. Isto aqui
está uma zona só e é briga de grandes e não posso me meter [...]”.
4) [...] “ingratidão de Rita”, carne de pescoço, que tomou as chaves da
Igreja das mãos de D. Luíza e falou que, a partir daquele dia, as chaves ficariam
com o poder público e as entregou à segurança da Igreja”.
Comentaram que nunca viram D. Luíza tão decepcionada, com os
olhos marejados de lágrimas e sem reação. Relataram ainda que, de vez em
quando, D. Luíza pede ao segurança para deixá-la limpar as chaves da Igreja, uma
vez que, quando estavam em seu poder, elas brilhavam de tão limpas. O segurança,
após consultar a secretária de Cultura, entregou as chaves para D. Luíza e
combinou o horário para recolhê-las novamente.
5) Relataram que um senhor, devoto de São Longuinho, veio a
Freguesia e, muito revoltado por não poder ver o santo, ameaçou procurar “gente
famosa” em Freguesia para assim “eles” abrirem a Igreja. A confusão foi tanta que
207
uma comissão foi junto com este senhor até o padre e este deu autorização para
fazer a “gruta com madeirite para São Longuinho, na praça, e assim os devotos do
santo poderiam visitá-lo.
Assim foi feito e São Longuinho foi colocado nela, mas a secretária de
cultura reagiu, mandou retirar a imagem e o padre, segundo depoimentos, “tirou o
corpo fora”, dizendo que não sabia de nada. O segurança da Igreja foi ameaçado de
ser demitido e, por isso, Carlos e Ângela assumiram a responsabilidade de tal ato
para que o rapaz não perdesse o emprego. O casal foi chamado para uma reunião
com a secretária e esta falou que eles estavam comprando briga com “Graúdos”,
com gente de poder e que iriam arcar com as conseqüências, até mesmo com
possibilidade de Carlos perder o emprego. Segundo este depoimento, o padre atual
não os ajudou: “se fosse padre Geraldo, a situação não estaria assim, ele assumia
tudo o que falava e ficava sempre do nosso lado”.
6) Vicente, a pessoa que encontrou a imagem de São Longuinho,
adoeceu, chegando mesmo a ser internado. Ele estava na praça de Freguesia
quando policiais chegaram e recolheram a imagem de São Longuinho, que estava
no local improvisado pela comunidade (um galpão com madeirite fechando as
laterais). Os policiais recolheram a imagem, colocaram-na na Igreja e proibiram a
comunidade de fazer isso novamente. Retiraram todo o madeirite, e as pessoas que
estavam na praça choraram e “seu Vicente passou mal, chegando em casa
apavorado, dizendo: “prenderam São Longuinho, levaram ele para a prisão” (quando
ele viu os policiais levando a imagem, acreditou que estavam levando o santo para a
delegacia).
7) Outras pessoas, após promessa nossa de que não citaríamos o
nome delas em hipótese alguma, informaram os dados que se seguem:
“Tiraram o padre Geraldo porque ele enfrentou o prefeito, o bispo (que nunca
aparece em Freguesia) e os poderosos da cidade. Muitos ficaram com ciúmes, com
inveja de São Longuinho em relação a Nossa Senhora da Escada.
. Falaram que a comunidade tinha que pensar no que Freguesia estava se
transformando – um santuário – sem ter condições para tal.
. Padre Geraldo se colocou do lado do povo, dizendo que, se o povo preferia São
Longuinho, assim seria.
. “Engambelaram” o padre Geraldo, mandaram ele para os Estados Unidos (seu
sonho de muitos anos) e espalharam que o dinheiro acabou “não se sabe como”,
208
dando a entender para nós que o padre Geraldo usou o dinheiro para cair fora, mas
ninguém acredita nisso”.
. Ao voltar dos Estados Unidos, padre Geraldo foi mandado para Mogi, sem opção, e
o padre atual “faz tudo que eles querem”.
. Agora, em Freguesia, só a secretária de Cultura pode dar entrevista, antes a D.
Luíza é quem dava.
. O roubo foi grande, o dinheiro sumiu, um acusa o outro e não se pode falar, temos
que fingir que estamos acreditando.
. O segurança da Igreja recebeu “ordens” para não responder a nenhuma pergunta
de qualquer pessoa sobre São Longuinho, inclusive da senhora.
. Estamos vendo Freguesia morrer e não podemos fazer nada.
. Freguesia é uma mentira só. São Longuinho é o santo dos mentirosos. Estão todos
mentindo, cada hora inventam uma história; estão se perdendo em meio a tantas
mentiras sobre a invenção do santo e, para encobrir uma mentira, criam outra”
(esposa de um proprietário de pousada de Freguesia, que cita ser o marido o mais
mentiroso de todos, pois sabe de tudo e dá corda para eles, para São Longuinho,
pois está ganhando dinheiro com isso).
. “Nossa Senhora da Escada já teve sua força, hoje é São Longuinho que tem”.
. O turismo fica com o GETUR e a parte religiosa, com a Igreja. Uma comissão foi
feita no GERTUR para apoiar as festas de São Longuinho.
. “Figueiredo deu o primeiro passo para a restauração. Trabalha muito tendo em
vista o crescimento da cidade, das festas da Igreja, mas resolveram boicotá-lo e não
deixam ele assumir nada”.
. “Na comunidade, existe o grupo de Nossa Senhora da Escada e o grupo de São
Longuinho. Já recebi e-mail de uma pessoa da comunidade falando que não
concorda com São Longuinho naquele altar, naquela localização, junto a Nossa
Senhora da Escada. A Igreja é de Nossa Senhora da Escada, assim deverá ter uma
centralização maior de luz em cima da imagem”.
O padre Geraldo nos informou que tomaria posse em 10/09/2006, em
Mogi das Cruzes. Relatou sua desilusão por estar sendo retirado de Freguesia,
quando a comunidade mais precisa dele, mas, como fez votos de obediência, não
pode se rebelar contra a decisão do bispo. Está desiludido com tudo, pois, ao voltar
dos Estados Unidos foi “pego de surpresa”, levou um “grande susto” e sua vida, de
repente, ficou de pernas para o ar; segundo ele, até o carro lhe foi tirado.
209
Segundo D. Lourdes, pessoa influente na comunidade,
“Freguesia não vai parar. Está sendo investido muito em Guararema,
com restaurantes, lanchonetes, praças próximos a Freguesia.
Guararema está sendo arrumada para depois incrementar a devoção
a São Longuinho... Coitado do padre Geraldo, foi crucificado e não
merecia isso. Sempre esteve do lado da comunidade [...]”.
Pelos depoimentos apresentados, vê-se que as relações em Freguesia
mudaram com a restauração da Igreja, passando a devoção a São Longuinho a ser
apropriada pelos “de fora” de Freguesia, através de interesses políticos,
econômicos, com sinais de “domesticação” do santo, de purificação da devoção;
enfim, de mudanças de regras para o exercício do controle da devoção em
Freguesia.
Na festa de São Longuinho, em 2008 (VI Festa), pudemos observar
como o controle da devoção a São Longuinho ainda é motivo de disputa nos
diferentes níveis. O santo tornou-se “autoridade” em Freguesia: o número de
seguranças em torno da imagem é grande, há presença de carros policiais
acompanhando a procissão, o cordão de isolamento na procissão permite que
apenas os que carregam o andor com a imagem fiquem próximos do santo. Ao se
tornar “autoridade”, São Longuinho deixou de pertencer apenas aos devotos e
moradores de Freguesia, que propagavam sua devoção.
A preocupação, o controle sobre esta “autoridade” passa a outro
âmbito, além da comunidade: prefeitura, rede turística, cultural, eclesial, surgindo
tensões entre estes níveis. Mas lá ainda predomina o mesmo espírito comunitário,
ocorrendo um engajamento religioso e social da comunidade, devota de São
Longuinho, segundo o qual, através da participação, todos lutaram por São
Longuinho e este “conseguiu que a Igreja fosse aberta aos fins de semana”.
São Longuinho tem um controle em Freguesia, a ordem social em
Freguesia foi transgredida por ele, pois ele se apoderou da Igreja de Nossa Senhora
da Escada e lá é um exemplo permanente e vivo de “uma construção social de uma
realidade”, pois, segundo Berger e Luckmann (2003), “a religião desempenha papel
decisivo, e este mundo construído por lenda e por mito faz parte de uma
representação do real que traduz uma atitude de resistência”. E desse imaginário em
Freguesia, da memória do sistema religioso de lá que trata o capítulo que se segue.
210
9 A REDE DO IMAGINÁRIO DA DEVOÇÃO
Todas as pessoas, muito antes de pensarem conscientemente, já
imaginavam. Assim, o primeiro contato com o mundo é embalado pela imaginação.
Para Ruiz (2003, p. 30),
Os sons que escutamos, o corpo que tocamos e os cheiros que
sentimos vão confeccionando no recém-nascido sua primeira
experiência do mundo. Poucos dias depois, o mundo aparece como
imagem visual, imagens que nos resultam próximas ou distantes,
conhecidas ou temidas, mas que invadem a experiência existencial e
vão confeccionando um sentido de mundo, um mundo para nós. Por
meio das imagens significativas do mundo, vamos tecendo nossa
identidade: somos a imagem do mundo, que de modo criativo,
refletimos em nossa interioridade e projetamos em nossa práxis.
A partir do exposto, justifica-se que, sendo o ser humano de natureza
“criativa”, às vezes, não se submete a uma ordem natural preestabelecida e vive a
natureza. Assim, atua de modo criativo no sentido que dá às coisas e à sua ação no
mundo. Segundo Ruiz (2003, p. 14), “nos mundanizamos ao recriar o mundo como
algo nosso, e o mundo adquire nossas feições na medida em que não permanece
como algo determinado por uma racionalidade natural”.
O mundo assim se humaniza através da prática com que o sentimento
humano impregna cada elemento ao constituí-lo com um sentido não natural, mas
simbólico. É nesse sentido que reside a dimensão criadora do ser humano, pois, ao
interpretar o mundo, produz uma criação significativa. Desse modo, toda
apresentação, tudo que por ele é olhado é imediatamente transformado numa
representação de sentido por ele dado. Qualquer conhecimento do mundo implica
uma construção de sentido, transformando elementos ou objetos comuns em objetos
carregados de significado cultural, dando assim um sentido para tudo que está ao
seu redor. Desse modo, todo sentido é uma construção simbólica, é uma forma de
simbolizar a realidade.
O conjunto das representações construídas pela subjetividade das
pessoas e do grupo é que constitui o imaginário. Este se manifesta sempre de forma
simbólica. O imaginário é assim constituído pelas representações que as pessoas ou
grupos sociais fazem da realidade. As representações não são a realidade, porém
esta só pode ser alcançada através das representações construídas.
211
Desta forma, a representação se torna, para a pessoa e o grupo, tão
real como a própria realidade. Provavelmente não exista, pois, uma dissociação
entre realidade e representação. A realidade está presente na representação de
forma dinâmica, com sentimentos, afetividade, idéias, crenças... Daí a importância
do imaginário para a compreensão da devoção a São Longuinho.
Para melhor refletir sobre o imaginário na dinâmica da devoção a São
Longuinho em Freguesia, citamos a seguir alguns elementos desse imaginário.
9.1 A Saga
A história de São Longuinho desde que a imagem foi achada até o
encerramento da pesquisa no campo, em março de 2008, apresenta dados de
“saga” de história heróica. São Longuinho vivia escondido no fundo de um armário
porque o padre não gostava do santo. Aos poucos, a zeladora, “amiga” do santo,
levou a imagem para dentro da igreja, enfrentando o padre.
As narrativas são contadas de improviso por D. Luíza e seus
seguidores, colocando São Longuinho sempre como herói, apresentando um
imaginário de prodígios sobre o santo:
“[...] os moradores de Freguesia começaram a pedir ao santo
que encontrasse coisas perdidas por eles e, na hora, o santo
achava”.
“[...] As pessoas de Freguesia continuavam com seus pedidos
para o santo e, sendo atendidos, faziam propaganda dele,
elogiavam-no e, assim, outras pessoas iam ao oratório de São
Longuinho atrás de graças”.
“[...] São Longuinho foi ficando muito conhecido, até roubaram
o oratório dele em 2001”.
“[...] Veio outro padre para Freguesia e gostou do santo”.
“[...] São Longuinho merece até reportagem. Sempre vem TV,
rádio a Freguesia para entrevistar D. Luíza, o Sr. Vicente, a
pessoa que encontrou a imagem e tiram muitas fotos do santo”.
“[...] muitos devotos vêm de fora, de outras cidades, estados e
até de outros países [...]”.
212
“Em Freguesia, todos rezam para ele todos os dias. Alguns
vêm à igreja só para cumprimentar o santo, ele faz parte da
vida das pessoas [...]”.
Acompanhados de inúmeros casos de prodígios acontecidos em
Freguesia, D. Luíza e demais moradores vão construindo a saga do santo, fazendo
a remontagem da ordem dos acontecimentos e reforçando a certeza dos milagres de
São Longuinho.
Ao lado da história contada sobre o achamento da imagem, o conserto
dela, a ida da imagem para o altar, após tensões entre a zeladora e o padre, surgem
também em Freguesia “lendas paralelas”, histórias que são contadas como
subproduto da saga principal, que dá início a esta tese:
“Na hora de crucificarem Jesus, os bandidos falaram: vamos mandar
Longuinho porque ele não enxerga mesmo, e ele foi, espetou a lança
e jorrou sangue” (Anexo 4.1, julho/2003).
“São Longuinho, conhecido como o soldado romano que, na
crucificação, lançou Jesus. Jesus disse: vou te perdoar, faça sempre
tudo de bom” (Trecho da fala de D. Luíza para devotos na Igreja de
Nossa Senhora da Escada).
“Com o convento dos franciscanos ao lado da igreja, os frades
cuidavam da igreja, dos santos [...]. Dizem também que, após a
conversão, São Longuinho fez votos de pobreza e virou franciscano
[...]. Teve lepra e perdeu as pernas. Outros dizem que São
Longuinho perdeu as pernas em batalha, era um soldado” (Anexo 4.
IV.1).
“História bonita a de São Longuinho. Acho as coisas porque perdeu
as pernas. Dá o pulo porque ele não pode andar, porque não tem as
pernas” (Anexo 4. VIII – Devoto nº 8).
“Dizem que São Longuinho perdeu as pernas: é o momento da
conversão. Ele não perdeu as pernas, ele estava ajoelhado no
momento da conversão”.
“São Longuinho era um soldado romano que, na crucificação, fincou
a lança em Jesus; Se converteu, se arrependeu” (Anexo 4. IV.2).
“São Longuinho é o protetor dos franciscanos. Professor Jurandir
acha que tem muita lógica: os franciscanos eram os zeladores da
igreja, isto por muitos anos e, conseqüentemente, deveria haver uma
grande ligação deles com São Longuinho”.
213
Nas lendas em torno de São Longuinho, notamos que há uma
estrutura que ordena a devoção em Freguesia, a qual surgiu no contato de uma
cultura oral, conforme já mencionado. A saga e as lendas são recursos importantes
para que a comunidade guarde a memória da devoção, a memória dos feitos de São
Longuinho em Freguesia, assim como também introduzir os jovens na devoção
local.
9.2 O trágico
No capítulo 2 desta tese, abordando o item santos em construção,
vimos que um fator que pode justificar a origem de uma devoção é o aspecto trágico
que pode existir na vida do santo.
Em Freguesia, há toda uma história “trágica” que forma um imaginário
interessante ao redor de São Longuinho em relação à imagem achada. Alguns
elementos desta tragicidade são apresentados a seguir.
a)
A imagem quebrada
Na década de 1950, Miranda (pedreiro) e Vicente, seu ajudante,
encontraram a imagem de São Longuinho em um armário tipo cômoda, localizado
no fundo da sacristia da Igreja de Nossa Senhora da Escada.
“Miranda achou São Longuinho todo quebrado [...]”.
b)
A imagem mutilada
“Eu era ajudante de marceneiro. Trabalhava com o Miranda.
Encontramos ela lá no fundão, dentro de um armário, sem as pernas,
com os dedinhos partidos” (Anexo 4. II)
Vicente, em novembro de 2006, ao ser perguntado em entrevista como
encontrou a imagem, disse: “despedaçada em um depósito atrás da igreja, que
começou a ser restaurada no dia seguinte [...]” (Anexo 4. II).
214
c)
A imagem esquecida por muito tempo dentro da gaveta
“A imagem está na igreja desde a época de Pituba. A imagem
não foi achada, ela estava guardada junto com os outros
pertences da igreja. Ficou esquecida como outras coisas
também ficaram [...] a imagem estava no fundo de um armário
como outras coisas também estavam [...]” (Anexo 4.V –
Entrevista nº 2).
“A igreja passou por reformas, ocasião em que as imagens e
as peças que estavam no altar foram guardadas. Após a
reforma, as imagens e os outros objetos voltaram para os
lugares. Provavelmente, esqueceram dessa imagem e ele
continuou guardada até que foi encontrada [...]” (Anexo 4. V –
Entrevista nº3).
“São Longuinho vivia escondido em um armário, num lugar
escuro. Miranda e Vicente encontraram São Longuinho [...]”
(Anexo 4.III).
d)
A imagem desprezada
“São Longuinho vivia escondido no fundão de um armário, num lugar
escuro, porque um padre não gostava do santo [...]” (Anexo 4. III).
“As pessoas vieram de Jacareí para rezar um terço e, no local onde o
santo ficava, tinha muitos pombos e estes sujavam a imagem [...]”
(Anexo 4.III).
“Miranda falou: ‘Deixa isso aí, que coisa feia!’ [...] E jogamos nas
caixas que iam para o lixo. Eu falei: ‘e se for algum santo?’ Miranda
respondeu: ‘feio desse jeito!’” (Anexo 4. II).
e) A imagem feia
“Padre Roberto não queria São Longuinho na igreja. Não reconhecia
o santo, falava que era uma imagem feia [...]” (D. Luíza, em
23/07/2003).
“D. Luíza chegou a dizer ao padre que, se o santo era feio, era
porque tinha gente que não tinha espelho e não se olhava [...]”
(Entrevista dos coordenadores da pastoral em 23/072003).
“Encontramos ela lá no fundão, dentro de um armário, sem as
pernas, com os dedinhos partidos. Miranda falou: ‘deixa isso aí, que
coisa feia [...]’” (Anexo 4. II).
215
f)
A imagem da qual se caçoou
“Eu falei: ‘E se for algum santo?’ Miranda respondeu: ‘feio desse
jeito!’. Começamos a rir” (Anexo 4. II).
Miranda e Vicente, ao julgarem a imagem feia, resolveram jogá-la no
lixo e riram porque não acreditavam que pudesse se tratar de um santo, tão feia a
imagem lhes pareceu.
Na saga apresentada, vimos também que Vicente e Miranda riram e
fizeram chacota, pois era uma imagem diferente.
g)
A imagem rejeitada pelo padre
“A imagem ficava no fundão, o padre não deixava ela ir para a
igreja”. (Anexo 4. II).
“O padre não entendendo e não gostando do santo, dizendo que a
imagem parecia um boneco” (Anexo 4. II).
“O padre não aceitava, criticava a imagem, falando que nunca viu
santo com anéis, cordões e não a deixava ficar na igreja” (Dados
retirados da saga da devoção).
h)
A imagem da qual foi roubado o oratório
“Em 2001, roubaram o oratório de São Longuinho, depois que
arrombaram a porta da igreja [...]” (Anexo 4. III).
“[...] Deixaram São Longuinho caído no chão. E D. Luíza se
emociona ao falar do roubo do oratório. Moradores de Freguesia
achavam, na ocasião, que ela ia adoecer. Tamanho foi seu
sofrimento, ao ver São Longuinho no chão. Apanhou a imagem e,
abraçada a ela, chorou muito. E as pessoas na igreja choravam com
ela”.
A imagem achada no fundo de um armário, quebrada, mutilada,
esquecida por muito tempo dentro da gaveta, que foi desprezada pelo padre na
época, considerada uma imagem feia, engraçada, que sofreu gozações e que ainda
teve sua “morada” roubada (oratório), tendo sido jogada ao chão, contém os
elementos trágicos necessários para se formar um imaginário de tragicidade em
torno de São Longuinho.
216
9.3 A Psicologia do santo
São Longuinho em Freguesia é considerado pela comunidade/devotos
um sujeito com uma identidade própria, construído pelo imaginário dos moradores.
No imaginário da comunidade, aos poucos, foi sendo construída uma imagem
psicológica de São Longuinho: ele tem comportamento, se irrita, não gosta de uma
coisa, mas gosta de outras, tem um guarda-roupa próprio, anéis, bijuterias, terços,
etc. Os depoimentos a seguir justificam a construção deste imaginário.
“Uma senhora de São Caetano trouxe um vestido para São
Longuinho, vestido que foi do batizado da filha, que hoje está com 50
anos. D. Luíza vestiu o santo e falou para a senhora: ‘deixa seu
telefone que, se o santo gostar, eu deixo ele com o vestido.’ E ela
telefonou porque o santo ficou satisfeito”.
“A imagem do santo muda de expressão quando ele não gosta de
alguém ou de alguma coisa. Ele faz careta para XXX” (D. Luíza conta
que, uma vez, ela estava vestindo o santo, chegou uma professora e
ficou conversando com ela. De repente, a professora gritou e disse
que São Longuinho estava fazendo careta para ela, e D. Luíza,
olhando para a imagem, concordou. Segundo a zeladora, ele fez
careta porque estava pelado, e ele estava acostumado a ficar pelado
só com ela que cuida dele há muitos anos).
“D. Luíza, ao se aproximar da imagem, sempre pede licença: ‘Dá
licença São Longuinho [...]’”
D. Luíza relatou, na primeira vez em que fomos a Freguesia, que o
santo muda de expressão quando não gosta de alguma coisa. E disse que o santo
estava iluminado e que, com o estudo sobre ele, estava fazendo-se justiça a São
Longuinho, que, durante muito tempo, ficou no armário, escondido no “fundão” da
Igreja. Referiu D. Luíza, nesta ocasião, estar muito satisfeita, pois, o santo
“simpatizou” comigo. São Longuinho pediu que ela abrisse os caminhos para mim e,
por isso, ela guardou os bilhetes com as graças alcançadas e pedidos feitos a São
Longuinho para mim. “Ele me avisou que a senhora vinha. Olha para ele, observa
como ele olha para a senhora.”
“[...] Mas muita coisa está acontecendo em Freguesia. Temos receio
de falar e acharem que somos loucos. A imagem muda de expressão
e ocorreu um fato: [...] estavam arrumando a Igreja nos preparativos
para a Festa de São Longuinho e, do lado de fora, havia discussão
se ia ter a festa ou não. Se esta teria público devido às discussões e
217
conflitos ocorridos na comunidade (desentendimento do coordenador
da pastoral e padre Geraldo com padre Roberto e, também, conflito
perante a possibilidade de o coordenador da pastoral se candidatar a
partido político contrário ao atual. A discussão estava grande do lado
de fora da Igreja. De repente, barulhos acontecem na Igreja, a
lâmpada próxima ao oratório de São Longuinho começou a piscar e a
expressão do santo realmente mudou, ele estava muito bravo.
Tiveram que chamar D. Luíza e, depois de muito tempo, a situação
melhorou, D. Luíza conseguiu acalmar o santo.”
Outro ponto que justifica o imaginário construindo a psicologia de São
Longuinho são os pertences do santo: roupas, cordões, anéis. A imagem tem várias
peças de roupas, as quais são doadas por devotos, mas D. Luíza só fica com as que
o “santo gosta”, as outras não vão para o guarda-roupa dele. O guarda-roupa é
trancado com cadeado e só D. Luíza tem acesso às chaves, bem como aos
pertences de São Longuinho.
9.4 O poder do santo
Outro elemento do imaginário são as idéias de poder de São
Longuinho que aparecem na devoção ao santo: poder de realização, poder de
milagres, poder de castigar, de liberar verbas.
Abaixo, alguns trechos de entrevistas mostram elementos que
constroem este imaginário de poder:
“São Longuinho cresceu tanto que hoje merece reportagem. Sempre
vem TV, rádio a Freguesia para entrevistar a Dona Luíza, o Sr.
Vicente, pessoa que encontrou a imagem, e tiram muitas fotos do
santo”.
“A devoção a ele aumentou muito; muitos devotos vêm de fora, de
outras cidades, estados e até de outros países. Ônibus de excursão
chegam a qualquer hora a Freguesia”.
“Em Freguesia, todos rezam para ele todos os dias. Alguns vêm à
igreja só para cumprimentar o santo [...]”.
“Ele ficou tão conhecido e importante que a prefeitura e a Secretaria
de Cultura resolveram que era necessária uma reforma na igreja,
uma restauração [...]”.
“[...] Mas a comunidade conseguiu, com muito empenho, abrir a
igreja nos dias da festa. São Longuinho ajudou”.
218
“[...] e reclamando que a situação não podia continuar como estava,
que São Longuinho não podia ficar trancado na igreja, D. Luíza ouvia
as reclamações e pedia que todos rezassem que São Longuinho iria
resolver o problema. E não é que, num belo dia, as obras
recomeçaram na igreja! O teto foi todo reformado e a igreja voltou a
ser aberta para os visitantes e devotos de São Longuinho para a
alegria de todos”.
“Gente fazendo o percurso da entrada até o oratório de São
Longuinho de joelhos, rezando, chorando, agradecendo a graça
alcançada ou pedindo ao santo alguma coisa. Várias autoridades
presentes em Freguesia participaram da missa e do almoço. E houve
uma ótima notícia: estava chegando mais verba, a obra da igreja vai
ter continuação [...] São Longuinho ajudou a chegar o dinheiro [...]”
“Antes, São Longuinho era só da Freguesia, agora, é de toda a
Guararema. Todos falam e conhecem o São Longuinho que sempre
foi de Freguesia” (Vereador Alcides).
Em Freguesia, atribuíram-se causas sobrenaturais para as doenças em
geral. Um exemplo disso, segundo a comunidade, é o que aconteceu com a pessoa
que roubou o anel de São Longuinho e que, depois, ficou doente; a responsabilidade
sobre o aparecimento da doença foi atribuída pelos moradores de Freguesia ao
santo.
“Ela adoeceu, foi piorando (câncer) e, agora, próximo a II Festa de
São Longuinho, veio a morrer. Ela não durou para festa. Com São
Longuinho, não se brinca”.
Várias pessoas disseram ter medo do santo e que fazem promessas,
acreditam em São Longuinho, mas procuram pagar logo as promessas relativas às
graças alcançadas com receio de o santo cobrar com algum castigo, caso demorem
a cumprir as promessas. Algumas pessoas acreditam que o não seguimento das
obrigações com o santo também leva a pessoa a ser castigada. Ressalta-se aqui
Zaluar (1988, p. 85), quando diz:
Que, no catolicismo popular, a ênfase era dada às sansões de auto-
sustentação do sistema. O castigo podia ser referente ao não
rompimento de equilíbrio nas relações de reciprocidade entre o santo
e os indivíduos. O infortúnio de alguém era sempre remetido a uma
falta contra o santo no passado: falta de respeito, esquecimento ou
quebra de promessas ou, pior ainda, omissão ou escárnio pelas
coisas do santo.
219
A idéia de que a divindade pune os homens culpados é antiga. Muitos
exemplos podem ser encontrados no Antigo Testamento e ao longo da história do
Cristianismo. Com base nesse relato, pode-se afirmar que o castigo foi enviado pelo
santo e legitimado pelos moradores. Alguns devotos assumem para si a culpa
quando não conseguem o atendimento do pedido feito a São Longuinho, alegando
que não souberam pedir, ou, ainda, justificam o fato considerando que o santo não
atendeu por saber o que é melhor para eles. A preocupação dos devotos em
Freguesia é em honrar São Longuinho e não quebrar a promessa a ele feita.
9.5 São Longuinho determinador do destino
São Longuinho é, em Freguesia, o “determinador do destino”. Há um
imaginário que é ele que determina para aonde as coisas vão e para aonde não
devem ir. Os pedidos e graças alcançadas (Anexo 5) permitem observar estes
elementos exemplificados abaixo:
“Pedi para minha amiga passar no concurso. Ela passou no
concurso, fez outro concurso e passou também...”
“Pedi para minha filha passar no vestibular e pela minha
aposentadoria. Há muitos anos, pedi para passar em um concurso
para professora e consegui. Tinha questões que nunca tinha visto e
mesmo assim foi classificada...”
“Meu São Longuinho, fazei com que meu pai ache um lugar para
morar...”
“São Longuinho. Por favor mostrar o caminho certo para a
negociação da casa. E mostrar a médica o melhor a fazer no parto
da XXX e da XXX.”
“São Longa, São Longuinho agradeço a vós por tudo que peço e sou
atendida. Peço para meus filhos que tudo dê certo [...]”
“São Longuinho, ajude-me a ser promovido.”
“São Longuinho, gostaria que o senhor achasse minha carta no dia
do sorteio [...]”.
“Em nome de Deus maior, ajude-nos a realizar um sonho de pagar
todas nossas dívidas, mudar de vida e poder ajudar nossos irmãos”.
220
Percebe-se, em Freguesia, um imaginário sobre o santo sendo o
controlador de acontecimentos cujo rumo não se pode prever.
9.6 São Longuinho como espírito encarnado
Este é outro viés do imaginário a São Longuinho que está surgindo na
devoção em Freguesia.
Deram-se vários relatos em Freguesia, nos quais as pessoas disseram
ter escutado vozes, que a imagem tentou falar e mudou de expressão. Um casal de
devotos, na II Festa de São Longuinho, deu depoimento semelhante, dizendo que a
imagem tentou falar. Alguns moradores não se aproximam da igreja à noite por
medo. O local é escuro e alguns afirmaram ter escutado “barulhos estranhos”,
movimentos lá dentro da igreja.
Alguns entrevistados disseram ser São Longuinho um santo espírita
pelos fatos acima expostos. Uma pessoa que também não quis ser identificada
definiu São Longuinho como sendo um espírito que teve sucessivas encarnações na
Terra e, portanto, um espírito de luz. Afirmou que ele viveu na época de Jesus e na
época dos franciscanos em Freguesia também. Os coordenadores da pastoral já
ouviram falar também que São Longuinho é um santo espírita (sic).
Todos os elementos que compõem este imaginário podem estar
relacionados à menção do padre: “[...] imagem feia, coisa de gente espírita” e
também ao fato de haver um túmulo dentro da igreja (Frei José de Santa Bárbara
Bittencourt) e, atrás dela, um cemitério indígena.
Dizem que o local onde, antigamente, funcionava o convento dos
franciscanos é visitado à noite pelo santo, que sai do oratório, e, às vezes, também
pelo frei. “São Longuinho cuida da igreja até a noite; fica perambulando, tomando
conta mesmo”.
Restringimo-nos a citar apenas estes fatos, sem maiores
aprofundamentos, por se tratar de um assunto que exigiria um estudo mais
aprofundado e que, no momento, fugiria aos objetivos da tese.
A rede do imaginário da devoção a São Longuinho em Freguesia foi
sendo constituída pelas histórias e lendas contadas sobre o santo e pela imagem
esquecida na gaveta, que foi encontrada quebrada, mutilada, e considerada feia,
221
sobre a qual se caçoou, tendo sido rejeitada pelo padre e ainda teve sua “morada”
roubada.
Os moradores construíram também um imaginário psicológico para
São Longuinho, apresentando o comportamento do santo, seus gostos, suas
preferências, seu guarda-roupa, seu poder de realizações de milagres, de castigos,
de liberar verbas, de determinar o destino e também construíram, no imaginário, São
Longuinho como um espírito encarnado.
222
SÍNTESE
Nesta terceira parte – A dinâmica da devoção em Freguesia -,
abordamos a dinâmica que move e promove a devoção. O capítulo 7 apresentou os
atores e fatores da devoção e as tensões entre eles. O capítulo 8 – A construção da
memória e da personalidade de São Longuinho – mostrou como, em Freguesia, o
santo foi sendo constituído diferente da parte histórica apresentada no primeiro
capítulo deste estudo sobre o soldado Longinus. Paralela à devoção, foi sendo
formada em Freguesia uma memória e uma personalidade para o santo. Estas
foram construídas a partir da influência da zeladora, que é respeitada na
comunidade, exercendo liderança lá.
O capítulo 9 apresentou a importância do imaginário na dinâmica da
devoção a São Longuinho em Freguesia e este imaginário foi constituído através
dos elementos: a saga da construção do santo, as lendas criadas em torno dele, a
imagem achada, a psicologia do santo, o poder do santo, o santo como
determinador do futuro e como espírito encarnado.
Em Freguesia, a devoção a São Longuinho é exemplo de como se
forma, se cria, se recria uma devoção, reafirmando um sentido. Os moradores e os
devotos tiveram grande participação na construção do santo, propagando os
milagres, criando e contando as histórias de São Longuinho.
Em Freguesia, a ênfase da devoção é a imagem de oratório, achada na
igreja por moradores. A referência é a tradição, a devoção sempre existiu na
localidade, os moradores desde criança escutam falar em São Longuinho.
Freguesia sempre recebeu visitantes à procura de São Longuinho.
Devotos e curiosos, estando em Guararema, tomavam conhecimento de São
Longuinho e iam à igreja de Nossa Senhora da Escada em busca da proteção do
santo. A partir do roubo do oratório de São Longuinho, a tradição vigente em
Freguesia até então se transformou em um “fenômeno religioso”. O roubo muito
divulgado pelas rádios locais, jornais, merecendo destaque em um programa da TV
Globo, levou as pessoas a tomar conhecimento da imagem de São Longuinho em
Freguesia, e a ida dos devotos e curiosos para Guararema aumentou muito. A
procura pelo santo da Freguesia foi tamanha que alguns moradores, políticos,
pessoas da pastoral sentiram necessidade de estudar alguma estratégia para definir
o culto. O pároco atuante em Freguesia nesta época sentiu necessidade de
223
“organizar” o que já existia em Freguesia e que aumentou consideravelmente após o
roubo.
Em Freguesia, a devoção a São Longuinho fazia parte de uma área de
domínio da própria comunidade. D. Luíza organizava e exercia a autoridade no culto
ao santo, administrava a capela, promovia festas ao santo, organizava as “rezas”.
Ela e seus seguidores propagavam a devoção a São Longuinho, cuidando da capela
e da imagem. Existia, lá, um catolicismo familiar e social, pois é através da família
que se transmitem as orações, pedidos e, assim, vai se passando esta devoção aos
filhos e netos. A conservação dos laços familiares e comunitários oferece o
fundamento para a permanência do catolicismo como visão de mundo.
Encontra-se também entre os moradores e devotos da Freguesia a
idéia do santo como fundamento das regras de convivência em Freguesia: “São
Longuinho gosta, São Longuinho não gosta [...]”. Esta fala é uma representação
típica do catolicismo popular devocional, no qual o santo é uma referência constante,
estabelecendo os parâmetros de ordem, de convivência. A vontade do santo é a
referência para se pensar a ordem social, mesmo quando esta é questionável.
Permanece assim em Freguesia o fato de o sagrado constituir a referência ampla da
construção de uma visão de mundo e também a prática da devoção ao santo, em
que as rezas, as promessas, as procissões dão-se no estilo dos elementos do
catolicismo popular devocional, apresentado no capítulo 2 desta tese.
O oratório destacado no altar principal é um dos elementos para a
prática da devoção. Os rituais aprendidos através da tradição oral, presentes na
tradição a São Longuinho, e também as formas, segundo os devotos, de “agradar”
ao santo expressam toda uma devoção de acordo com a cultura dos devotos.
Há em Freguesia uma continuidade das práticas do catolicismo popular
tradicional de acordo com a abordagem feita e apresentada no capítulo 2, quando
Oliveira (1985) diz que, nas relações dos devotos com o santo, que, muitas vezes,
não são rompidas, havendo veneração à imagem, com expressão da devoção
através de presentes, fitas, cuidados especiais com os objetos do santo, não
rompendo mais a relação e não necessitando do sacerdote para se relacionar com o
santo. O devoto vai diariamente à igreja para conversar, cumprimentar o santo ou
fazer algum pedido ou agradecimento. Assim está presente o culto individual, em
que ocorre uma relação direta e pessoal do devoto com São Longuinho (Anexo 4 –
Entrevista II).
224
O culto coletivo também faz parte da devoção, havendo uma divisão de
funções e papéis religiosos: papel da zeladora guardiã da imagem, decoração da
igreja, puxador de terço, etc. Há em Freguesia a conservação dos laços familiares e
comunitários, que oferecem o fundamento para a permanência do catolicismo como
visão de mundo. Pode-se procurar no caráter protetor, às vezes mágico, dessas
práticas o sentido de permanência do catolicismo. É um tipo de religiosidade em que
a atuação do devoto é fundamentalmente centrada no indivíduo e no santo. Além da
solidariedade nos momentos de trabalho, a comunidade cultiva as práticas de
caridade e assistência nos momentos de dificuldade.
Este sentido de continuidade faz parte de uma memória; a memória
coletiva, para que se torne histórica, precisa ter uma continuidade. Assim, o passado
é fundamental para se compreender o presente, pois existe uma ligação muito forte
entre passado e presente.
A partir da divulgação do roubo do oratório, com o aumento do número
de visitantes, pessoas de outras localidades comparecendo a Freguesia com
interesses diversificados, seja devoção, curiosidade, seja lazer, ocorreu uma
modernização na estrutura social e política da região. Pousadas e hotéis próximos a
Freguesia começam a se organizar e excursões são programadas a partir da
divulgação da imagem do oratório. Em São Paulo (capital), agências de turismo
fazem referências ao santo de Guararema e excursões são programadas, tendo em
vista a imagem do oratório da igreja de Nossa Senhora da Escada.
O culto passou assim a ser incrementado pelo turismo, com pousadas
e hotéis próximos a Freguesia divulgando a devoção existente. Encontramos
santinhos de São Longuinho divulgando a devoção, mas com endereço de uma das
pousadas.
Os mitos fundadores da devoção são recriados nas histórias contadas
e recontadas por D. Luíza e por pessoas que com ela aprenderam a falar de São
Longuinho. O sacerdote enaltece a devoção através de sua fala nas liturgias,
reorientando a fé da comunidade, procurando dar uma ressignificação para o culto.
Procuram manter em Freguesia os rituais e orações da tradição popular,
reafirmando o caráter protetor e intercessor de São Longuinho. Buscam entrar em
contato com a tradição através do mito, mas também da razão.
A imagem tem várias vestes, troca de roupa constantemente, tem um
guarda-roupa, “gosta de brilho”, o turismo foi incrementado, mas a imagem não é
225
usada para fins comerciais. A devoção está presente em toda a comunidade,
mesmo entre políticos e comerciantes.
A imagem tem controle sobre a comunidade, interferindo nas relações
sociais dos moradores. Isso está de acordo com as considerações apresentadas
sobre o imaginário do catolicismo popular, quando se referiu que o imaginário é
constituído por representações que as pessoas ou grupos sociais fazem da
realidade e que estas representações são mais reais que a própria realidade,
contendo nessas representações construídas os sentimentos, afetividades,
mentalidade, etc.
Ao se falar na devoção da Freguesia, nota-se que o imaginário social e
religioso foi construído a partir da influência de Dona Luíza, que foi construindo
formas próprias do culto e cultura dentro do espaço institucional eclesiástico.
Relaciona-se também a devoção da Freguesia com Steil (1996),
quando ele diz que um santo não canonizado parece ter sua origem no poder de
realizar milagres atribuídos a esses santos como também na própria dinâmica da
participação dos devotos e peregrinos na construção do santo. Os devotos difundem
a devoção contando os milagres realizados por São Longuinho, passando a devoção
para os mais novos, dando-lhe nova configuração e forma.
Assim, em Freguesia, a partir do roubo do oratório, a reinvenção da
devoção foi iniciada, baseada na tradição que sempre existiu em torno de São
Longuinho. Eventos mais antigos, como a procissão, os fogos, as barraquinhas de
bolinhos de chuva, sanduíche de pernil fatiado na hora, “café dos anjinhos”
46
,
encenação de soldados de Cristo, são confrontados com agências de turismo, redes
de hotelaria, políticos. Situações novas que assumem a referência de situações
passadas, estabelecendo o passado da tradição que sempre existiu em torno de
São Longuinho em Freguesia através da repetição quase obrigatória. Ao serem
perguntados sobre São Longuinho, todos mandam falar com Dona Luíza, “ela é que
sabe tudo de São Longuinho”.
Em Freguesia, um evento foi escolhido para ser o fundamento da
devoção, no caso, a imagem do oratório achada por pessoas da comunidade nos
46
Café dos Anjinhos é tradição da comunidade. Antes da procissão, D. Luíza oferece café com biscoitos para os
anjinhos que vão participar das procissões, tanto na festa da padroeira quanto na de São Longuinho.
226
fundo da igreja. A partir dessa escolha, a coesão e a legitimação da devoção por
moradores, sacerdote, bispo, devotos.
A devoção a São Longuinho em Freguesia foi muito espalhada através
da internet, quando da divulgação da imagem do santo em Guararema em sites, o
que estimulou o turismo na devoção.
Apesar dos pontos destacados (internet, turismo, moda), a devoção
antiga está presente em Freguesia. Ela foi se transformando com a grande procura
pelo santo na localidade, sem, contudo, deixar de afirmar uma continuidade com a
história de Freguesia e sua igreja, em que os gestos e práticas dos devotos ao lado
de suas tristezas, alegrias, esperanças e participação nas coisas e eventos do santo
confirmam o significado da fé em São Longuinho em Freguesia.
As perspectivas devocionais dos atores da devoção se diferem em
alguns pontos, mas pode-se dizer que, em Freguesia, as práticas devocionais se
complementam: a missa envolve emocionalmente os participantes; a encenação dos
soldados de Cristo, lembrando que São Longuinho foi um soldado; a permissão para
que os fiéis se manifestem frente à imagem; o estímulo para que os fiéis façam seus
pedidos a São Longuinho. Os devotos não ficam sem os ritos oficiais que
complementam suas práticas devocionais.
Viu-se que a devoção ao santo pode ser motivada por herança familiar,
por se acompanhar alguém no cumprimento de uma promessa e, ao se fazer um
pedido e ser atendido, passa-se a ser devoto do santo. Assim, quem traz alguém à
igreja da Freguesia já está, de algum modo, vinculado ao santo e está introduzindo
esta pessoa na devoção da Freguesia. Observou-se também que ir à Festa de São
Longuinho como pagamento de promessa é uma alegria para os devotos e não uma
penitência. Alguns dos entrevistados sentem falta de um local específico para
colocar os objetos da promessa (sala de ex-votos), como uma devota que pintou um
quadro para São Longuinho e chorava porque não “sabiam onde colocar o objeto da
promessa dela” (Anexo 10 – Figura 15).
No culto a São Longuinho, verificou-se que os devotos acreditam que
as obrigações para com o santo, as promessas e os compromissos assumidos não
podem deixar de ser cumpridos, pois as pessoas que o fizerem poderão ser
castigadas. Algumas pessoas assumem o papel de ensinar, falar sobre o santo, de
corrigir algo que tenha sido mencionado sobre o santo, com o que não concordam.
227
Dona Luíza, por exemplo, pode ser considerada o que, na literatura de
culto aos santos, é citado como “especialista do sagrado”. É reconhecida pela
comunidade como a amiga de São Longuinho e é considerada também pelos padres
como a pessoa mais indicada na comunidade para falar sobre São Longuinho.
Alguns solicitam a ela que peça a São Longuinho algo em nome deles, uma vez que
consideram a relação dela com o santo muito intensa. O padre Geraldo valorizava
muito a devoção, a religiosidade popular: “São Longuinho é reconhecido pela Igreja
católica sim, pela sua conversão”. O sacerdote procurava ressaltar as práticas dos
devotos, fazendo uma “liturgia mais popular, valorizando aquilo que está dentro do
povo”. Estas práticas populares em Freguesia são estimuladas pela tradição oral e
estes rituais servem para dar um sentido de continuidade à devoção da Freguesia.
A partir do exposto, vê-se que, em Freguesia, o imaginário da devoção
foi construído através das histórias contadas por D. Luíza e que, a partir dessas,
todos são levados a respeitar São Longuinho, assim como também os objetos do
santo.São motivados também a agradecer ao santo, tendo São Longuinho um
“controle social” em Freguesia.
A partir da missa para início das obras de restauração da igreja, São
Longuinho tornou-se um personagem público, com segurança 24 horas, cordão de
isolamento. A devoção já não é objeto de negociação entre moradores, devotos e
santo. O sentido da devoção passa a ser negociado pelos atores em relação ao
provável santuário de São Longuinho. Passa a existir certo consenso em Freguesia.
As histórias são parte da dinâmica da devoção, e negociações estabelecidas após a
restauração da igreja reinventam a tradição existente há anos em Freguesia,
inserindo-as na continuidade histórica.
Sendo a devoção reconhecida e legitimada pela Igreja e poder público,
torna-se necessário que se criem e se desenvolvam novas redes de convenções e
rituais religiosos. São Longuinho, santo imaginário, torna-se uma figura
representativa de Freguesia e a hagiografia do santo procura inserir o santo, o
personagem, numa narrativa bíblica, mas, mantendo a ligação do santo com o lugar
– Freguesia. São Longuinho é assim incorporado à ortodoxia católica.
“[...] São Longuinho é reconhecido pela Igreja Católica. Tem uma
imagem muito grande dele na Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Ele é reconhecido sim pela Igreja Católica, por sua conversão. Era
um centurião romano, comandava cem soldados, chefe de um
228
destacamento. O centurião era uma pessoa ponderada, tinha
elementos a mais que os outros soldados que eram mais rudes e
brutos. O centurião tinha uma visão ampla, era respeitado pela
sociedade da época de Cristo” (Anexo 4.1, julho de 2004).
229
10 CONCLUSÃO
A tese apresentada foi resultado de uma pesquisa de quatro anos e
oito meses em Freguesia, Guararema, local onde nos inserimos procurando
observar, participar, ficando do “lado de dentro” de uma devoção a São Longuinho.
Lá, participamos de uma investigação sobre uma experiência religiosa, interagindo
com os moradores, com os devotos e atores da devoção.
Pesquisando a devoção a São Longuinho existente na Igreja de Nossa
Senhora da Escada, fomos descobrindo diferenças existentes entre as forma de
construir, de viver e de proclamar a devoção a São Longuinho entre os devotos,
comunidade, sacerdotes, enfim, entre os atores da devoção, como estes vivem e
proclamam e defendem “sua devoção”.
Nestes anos de pesquisa, Freguesia passou por várias mudanças. A
Igreja está sofrendo modificações, muita coisa aconteceu por lá, como também no
mundo e com os atores da devoção. Esta é a dinâmica da devoção... mudanças
incessantes... e, conseqüentemente, mudanças em Freguesia, mudanças na
devoção, uma vez que devoção não existe isoladamente, sem a participação de
seus atores, de seus devotos, de Guararema em si. Todos em Freguesia estão
ligados, dependendo uns dos outros e se condicionando reciprocamente. A devoção
exige uma relação necessária, essencial entre todos, um entrelaçamento infinito de
nexos e interações. Ela não pode ser considerada isolada, fora das condições, dos
acontecimentos que a cercam.
Todo fenômeno tem elementos positivos e negativos, elementos que
desaparecem ou que se desenvolvem, conversão de mudanças quantitativas em
qualitativas. Isso significa que, como a realidade social está em constantes
mudanças, o sentido dessa mudança é o novo, o qual contém em seu
desenvolvimento as potencialidades que estavam contidas no velho e isso pode ser
visto na devoção a São Longuinho.
Freguesia, com a descoberta da imagem de São Longuinho, passa a
ser marcada pela religiosidade ao santo achado, e todas as atividades lá adquirem
sentido em função do santo. Pode-se falar em uma imanência do sagrado, marcada
não somente pela rotina diária da devoção a São Longuinho, como também pela
abertura da comunidade em relação ao sobrenatural.
230
Na Igreja de Nossa Senhora da Escada, existem imagens de São
Benedito, São Francisco de Assis, Santa Terezinha, da padroeira, Nossa Senhora
da Escada, mas, à frente, está São Longuinho, sem que isso signifique a omissão do
reconhecimento de Deus, de Jesus, de Nossa Senhora, todos estes invocados
formalmente. Para Eliade (1996), “esses Deuses distanciam-se, dando lugar a
entidades mais próximas das pessoas, que as perseguem ou as ajudam, de maneira
mais direta e mais constante”.
A devoção a São Longuinho teve como evento fundador a imagem
achada por moradores e identificada por Dona Luíza como São Longuinho. A partir
do roubo do oratório em 2001, que foi divulgado pela mídia, Guararema tornou-se
conhecida pela presença de uma imagem do santo, aumentando excessivamente o
número de devotos e curiosos à procura de São Longuinho. A Igreja, “cobrada” a se
manifestar sobre os acontecimentos religiosos em Freguesia, se abriu para uma
maior participação na devoção, coordenando as festividades da II Festa de São
Longuinho, em 2004, na qual três sacerdotes celebraram missas, solicitaram
orações do santo, permitiram a imagem de São Longuinho no altar campal... o que,
segundo os moradores, não ocorreu na I Festa de São Longuinho, realizada em
2003.
Partindo de um fato negativo (o roubo do oratório), que entrou na
mídia, deu-se um grande efeito devocional, surgindo, a partir daí, pesquisa sobre
São Longuinho, dissertação de mestrado sobre o santo. Em 2007, um
documentário
47
foi feito sobre São Longuinho de Guararema. Foi também assunto
de uma reportagem na Revista Superinteressante, surgindo também novena e
ladainha de São Longuinho, publicadas em 2007. Assim, a tradição existente em
Freguesia foi mesclada com novos elementos e o culto ao santo está sendo
redefinido atualmente com a participação de novos atores.
Através da transferência de parte do poder do padre para a zeladora,
houve a oportunidade para recriar espaços sociais para São Longuinho. Tal ato é
justificado por Brandão (1980, p. 100) como “artifícios da Igreja dominante às
ameaças da concorrência religiosa”.
47
Documentário sobre São Longuinho feito por Wismar Rabelo, um homem que, ao aposentar-se, resolveu se
dedicar a filmar assuntos de seu interesse e, entre eles, está a devoção popular. Ao tomar conhecimento da Festa
de São Longuinho em Freguesia, compareceu e fez este documentário. Ele reside em São Paulo e nunca atuou na
área de documentário.
231
Mais tarde, houve também em Freguesia uma tomada progressiva do
espaço de poder conquistado pela Igreja sobre o sistema religioso popular (São
Longuinho), mas com concessões dos agentes do culto a São Longuinho. Esta fase
se deu quando padre Geraldo e frei Alamiro passam a atuar em Freguesia e lutam,
junto com a comunidade, para legitimar São Longuinho.
O intercruzamento dos atores que, paulatinamente, foram se
construindo como sujeitos, como agentes na devoção, na prática, criou
determinações estruturais que foram sendo vividas, reproduzidas e transformadas
em Freguesia no culto a São Longuinho.
Na devoção, o elemento afetivo desempenha o papel central. A pessoa
ou um grupo se envolvem e se sentem comprometidos por tal ato, dando sentido a
essa prática simbólica. Esses atores são agentes que produzem, reproduzem e
transformam o sistema religioso, mas não atuam de maneira totalmente autônoma,
sendo condicionados por seu vínculo grupal, comunitário, por sua posição de classe,
enfim por tudo que viveram e vivem.
Com o início das obras da restauração da Igreja de Nossa Senhora da
Escada, o poder público quer assumir a devoção, e autoridades civis, aliadas a
grupos e empresas de turismo e prefeitura local, procuram privilegiar os rituais
profanos e centrar a devoção nos momentos próprios para atrair o turismo (como as
festas em Freguesia), mas a comunidade continua trabalhando no sentido de
preservar São Longuinho e receber com carinho seus devotos a qualquer dia e hora.
A devoção hoje reúne todos: comunidade, devotos, atores da devoção,
pessoas do poder público, pessoas influentes em Guararema, proprietários das
pousadas e hotéis, guias de turismo, isso já justificado anteriormente quando
falamos dos modos nucleares de relação em uma devoção popular.
À proporção que o processo de burocratização da restauração da
Igreja está avançando, a devoção está deixando de ter um caráter essencialmente
sagrado, surgindo redes informáticas de comunicação, de segurança 24 horas, de
comércio de objetos religiosos, enfim de sinais de contornos arcaicos e novos ao
mesmo tempo na devoção. Para Maffesoli (2007, p. 31), essa é uma “polissemia
estrutural, cujos mitos, contos e lendas falam à vontade. Pois, se existe uma coisa
de que todos somos responsáveis, é a decodificação revivescência de um grupo
imaginário social novo e, sob muitos aspectos, antigo”.
232
E isso é a dinâmica da devoção: uma estrutura estável e dinâmica.
Segundo Maffesoli (2007, p. 62), “é metáfora ideal de uma vida social que alia os
contrários, as continuidades e descontinuidades, a ordem e a desordem, a
efervescência e a banalidade”. Ao levar em conta todos esses aspectos, a devoção
é um estar junto. E assim vão se alcançando as proezas de São Longuinho, do que
ele gosta, do que ele não gosta, e tudo serve de exemplo para a vida de Freguesia.
Não são resultados de contos e lendas antigos, mas estes encontram atualização na
comunidade, entre moradores de Freguesia, devotos de São Longuinho. O santo,
assim, é parte de Freguesia, e Freguesia é parte de São Longuinho; um só existe
em relação ao outro. Ambos são causa e efeito do sentimento de pertencer.
Freguesia estabelece vínculos; as pessoas vão para conhecer a
imagem e querem voltar lá para agradecer ao santo, para fazer novos pedidos, e o
que chama mais atenção: para verem D. Luíza e conversarem com ela, pessoa que
é o fundamento para o estar junto em Freguesia, para estar com São Longuinho.
Em Freguesia, todos estão envolvidos. Tudo é dependente e
interdependente na devoção a são Longuinho. Este garante no presente a presença
de um passado e, nesta pesquisa sobre a devoção a São Longuinho em Freguesia,
procuramos não julgar, isto é, procuramos não fazer avaliações pelos parâmetros de
representações modernas. Limitamo-nos a apresentar a dinâmica da devoção,
lembrando-nos de Hieráclito, frag. 93: “Eu não revelo, nem encubro, mas, pelo
contrário, faço ver”.
233
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ANEXOS
245
ANEXO 1 - Crucifixo de São Damião
Nesta cruz de São Damião, uma das figuras é designada como Longinus, localizada aos pés de Maria e João,
com o olhar voltado para Cristo.
246
ANEXO 2 - Fotos do início do processo de restauração da Igreja de Nossa
Senhora da Escada-janeiro/2006
Bispo Dom Airton José dos Santos, Padre Geraldo Lázaro, o Prefeito de Guararema, André Luiz
do Prado, e a arquiteta Vanessa Kamil em reunião para a restauração da igreja.
247
Reunião no gabinete do vice-governador, Cláudio Lembo, para a entrega do cheque para o início
das obras de restauração da igreja.
248
O vice-governador de São Paulo (2006) e prefeitos da região.
Praça da Igreja de Nossa Senhora da Escada
249
Padre Geraldo Magela Lázaro e o bispo Dom Paulo Mascarenhas Roxo celebrando a missa de
início das obras da restauração da igreja.
Dom Paulo Mascarenhas Roxo
250
O vice-governador de São Paulo, Cláudio Lembo, o Prefeito de Guararema-SP e o Prefeito de
Mogi das Cruzes.
A arquiteta Vanessa Kamil, responsável pelo projeto de restauração da igreja.
251
Carlos, coordenador da pastoral em Freguesia, documentando toda a cerimônia.
Um dos prefeitos da região discursando.
252
Missa da restauração da igreja. Pessoas da comunidade de Freguesia da Escada e convidados.
Missa da restauração da igreja. Pessoas da comunidade de Freguesia da Escada.
253
Jornalistas presentes.
André Luiz de Prado, Prefeito de Guararema – SP e padre Geraldo Magela Lázaro no ofertório.
254
O prefeito discursando após a missa.
Após a missa para início das obras de restauração, a igreja foi “interditada”.
255
Segurança 24 horas na Igreja de Nossa Senhora da Escada.
256
ANEXO 3 - Projeto Restauração da Igreja de Nossa Senhora da Escada
PRONAC Nº 99.4873
Realização: Prefeitura Municipal de Guararema
Mitra Diocesana de Mogi das Cruzes
Patrocínio: Sabesp
Governo do Estado de São Paulo
Projetos: RBR
CONDEPHAAT
IPHAN
FORMARTE gerenciamento
Arquiteta responsável: Vanessa Krami - CREA: 5060853320
Arquitetos colaboradores: Marina Ferreira
Raoni Nakamura
257
_______________________________________________________sumário
introdução
3
localização
4
o município de Guararema
5
breve histórico
6
base teórica
7
diagnóstico da igreja
8
recomendações gerais para a obra de restauro
14
recomendações técnicas para a obra de restauro 16
novas intervenções – convento/pátio interno
28
bibliografia
30
equipe técnica
31
258
____________________________________________________introdução
Em meados do século XVII, no topo de uma colina circundada por
montanhas, à margem esquerda do Rio Paraíba, surgiu um aldeamento
de índios fundado por Brás Cardoso, Capitão-mor de Mogi das Cruzes,
ocupação que mais tarde transformou-se no arraial da Escada.
Remanescente da arquitetura religiosa dos jesuítas, a Igreja de Nossa
Senhora da Escada, construída em taipa de pilão e pau-a-pique, hoje
apresenta muitas patologias provenientes da falta de manutenção, das
infiltrações da cobertura e da presença de insetos xilófagos.
259
___________________________________________________localização
A cidade de Guararema está localizada às margens do Rio Paraíba do Sul, entre
Mogi das Cruzes e Santa Bárbara, a 68 quilômetros da capital.
A Igreja de Nossa Senhora da Escada localiza-se na praça principal do Bairro da
Freguesia da Escada.
260
o município de Guararema
O Município de Guararema inicia sua história em 1611, quando Brás
Cardoso, procedente de uma sesmaria de Mogi das Cruzes, funda o
aldeamento da Escada às margens do imponente Rio Paraíba do Sul. Em
1652, é construída pelos índios, sob a orientação dos jesuítas, a primeira
capela do arraial. A partir daí, a localidade torna-se ponto de referência
para os viajantes, no trajeto São Paulo/Rio de Janeiro. Já em 1732,
chegam os missionários capuchinhos. Devido à má conservação da
capela, eles resolvem construir um novo templo e, ao seu lado, um
convento.
Em 1875, D. Laurinda de Souza Leite doa para sua ex-escrava Maria
Florência um quinhão de terra situado à margem esquerda do Rio Paraíba
do Sul, pouco acima da foz do Ribeirão Guararema. Levada por
sentimentos religiosos, Maria Florência decide construir uma capela para
São Benedito, seu santo de devoção. No ano seguinte, entra em
funcionamento o trecho da Estrada de Ferro Central do Brasil. A
inauguração é um dos principais fatos históricos que impulsionaram o
surgimento da “Pérola do Vale”, pois novos moradores começaram a se
estabelecer ao redor da pequena capela e da estação de trem. Com
isso, por decisão das autoridades do governo republicano, a sede do
Distrito de Paz é transferida da Freguesia da Escada para Guararema no
ano de 1890. Era o passo decisivo para que o Distrito, elevado à município
em 1898, iniciasse seu crescimento econômico.
261
_ breve histórico
A Igreja de Nossa Senhora da Escada foi erigida em 1652 pelos jesuítas no
centro de um primitivo aldeamento às margens do Rio Paraíba, chamado
de Freguesia da Escada, no atual município de Guararema. Devido a
freqüentes disputas realizadas entre as ordens religiosas que trabalhavam
pela catequização dos índios locais e os proprietários de terras que os
aprisionavam para o trabalho escravo, jesuítas, franciscanos e
capuchinhos ocuparam a edificação ao longo de sua história.
A sucessão de tais conflitos provocou a decadência da aldeia que é
abandonada em 1804, tornando-se uma freguesia anexada à São Miguel.
Após seu tombamento pelo SPHAN – Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, em 25 de janeiro de 1941
1
, sofreu reparos e reformas
em 1945, 1947 e 1957.
O partido arquitetônico da Aldeia da Escada denota a concepção
jesuítica: igreja em taipa de pilão e pau-a-pique de estilo barroco, possui
planta retangular com telhado de duas águas, com um corpo de
residência à lateral direita, ambos se abrem para o largo ou terreiro onde
se localiza um cruzeiro. Internamente possui uma nave generosamente
dimensionada para abrigar os fiéis, um coro em mezanino sobre a entrada
principal, poucas aberturas e um altar-mor que introduz o repertório
escultórico caipira. Representa um padrão de assentamento arquitetônico
e jesuítico dos primeiros séculos de colonização no Brasil.
Seu interior possui a única imagem no Brasil de São Longuinho, conhecido
popularmente como o Santo dos achados, e em seu centro, está
enterrado o frei José de Santa Bárbara de Bittencourt, que faleceu em 29
de setembro de 1890.
Igreja de grande importância tanto para a história de nosso Estado quanto
para a comunidade local, somente uma vez por mês abre suas portas aos
fiéis, pois no atual estado de conservação pode provocar acidentes de
grandes dimensões.
1
Registrado no Livro de Belas Artes. Vol. 1, folha 050, inscrição 292, data 25/01/1941.
Registrado no Livro Histórico. Vol. 1, Folha 025, Inscrição 150, data 25/01/1941.
262
__________________________________________________base teórica
A intervenção proposta no Projeto de Restauro da Igreja Nossa Senhora
da Escada e da Residência anexa, é fruto de uma avaliação crítica, que
surgiu de um atento levantamento do seu estado de conservação, de
uma pesquisa histórica, baseados na teoria que define o projeto de
restauro como "momento metodológico do reconhecimento da obra de
arte, visando a sua transmissão ao futuro". (Cesare Brandi)
Bergeon, do Instituto Francês de Obras de Arte do Museu do Louvre, define
que o ato da conservação-restauração é o de transmitir às gerações
futuras um patrimônio que é ao mesmo tempo matéria e mensagem,
documento histórico e criação artística:
"Um bem cultural carrega ao mesmo tempo a sua história e a sua estética
e a sua restauração não é nem um simples reparo de rotina nem uma
renovação: trata-se de um ato crítico, resultado de um compromisso entre
o rigor histórico sem nada acrescentar de "novo" e a exigência estética
que incide sobre todas as traições do tempo, danos e acidentes que
perturbaram a sua leitura".
Alguns trechos retirados das Normas de Quito, reforçam a necessidade da
revitalização do entorno da igreja:
“Valorizar um bem histórico ou artístico equivale a habilitá-lo com as
condições objetivas e ambientais que, sem desvirtuar sua natureza,
ressaltem suas características e permitam seu ótimo aproveitamento.”
“... a área de implantação de uma construção de especial interesse
torna-se comprometida por causa da vizinhança imediata ao
monumento, o que equivale a dizer que, de certa maneira, passará a ser
parte dele quando for valorizado. As normas protecionistas e os planos de
revalorização têm que estender-se, portanto, a todo o âmbito do
monumento.”
“Do ponto de vista exclusivamente turístico, os monumentos são parte do
equipamento de que se dispõe para operar essa indústria numa região
determinada, mas na medida em que o monumento possa servir ao uso a
que se lhe destina já não dependerá apenas de seu valor intrínseco, quer
dizer, da sua significação ou interesse arqueológico, histórico ou artístico,
mas também das circunstâncias adjetivas que concorram para ele e
facilitem sua adequada utilização. Daí que as obras de restauração nem
sempre sejam suficientes, por si só, para que um monumento possa ser
explorado e passe a fazer parte do equipamento turístico de uma região.
Podem ser necessárias outras obras de infra-estrutura, tais como um
263
caminho que facilite o acesso ao monumento ou um albergue que aloje
os visitantes ao término de uma jornada de viagem.”
264
_________________________________diagnóstico da igreja
_cobertura
Telhado A - correspondente à área da Nave Central e Altar-mor;
Telhado B - correspondente à área da Sacristia;
Telhado C - correspondente ao Convento e à área do corredor lateral de
acesso ao altar.
telhado A - Nave central e Altar-mor.
telhado B - Sacristia.
telhado C - Convento e corredor lateral.
0201
03
faces 01 e 02.
faces 01, 02 e 03.
faces 01, 02 e 03.
01
02
01
02
03
Telhado A
Telhado assentado sobre caibro armado, composto por frechais, tesouras,
terças, ripas e cachorros de madeira onde se apóiam telhas coloniais
cerâmicas. Seus beirais laterais apresentam revestimento de tábuas de
madeira pintada sobre os cachorros.
As telhas apresentam boas condições mecânicas e encontram-se, em
alguns pontos, desalinhadas favorecendo a infiltração das águas pluviais e
a entrada de aves e insetos. Tal dano é provocado pelo escorregamento
das mesmas que não se travam nas ripas e não recebem manutenção
periódica. Toda infiltração colabora ainda com a deterioração dos únicos
forros da Igreja localizados na Nave Central e Altar-mor.
As ripas apresentarem-se desalinhadas em relação ao travamento das
telhas. Em alguns pontos encontramos a presença de insetos xilófagos,
fungos manchadores e emboloradores.
As tesouras parecem originais, apresentam alturas diferenciadas que
acarretam em uma oscilação do nivelamento da cumeeira. Apresentam
ainda um desalinhamento das peças sobre os frechais causado pela
movimentação das paredes que sofrem atualmente com a trepidação
causada pelo tráfego de automóveis pesados. Essa movimentação das
paredes decorre também da remoção de um muro de arrimo contínuo,
instalado na lateral esquerda da igreja, durante as obras de restauro na
265
década de 1950. Uma estrutura de concreto armado, instalada dentro
das paredes de taipa, substitui o antigo muro de arrimo e provavelmente
não suporta toda a carga gerada pela movimentação das paredes que,
em conseqüência, desalinham todo o telhado. Essa movimentação das
paredes obrigou, em 1999, a instalação de uma cinta metálica sobre dois
tirantes, ligando-os novamente aos frechais que abandonaram sua
posição original.
CINTA DE FERRO CHATO Nº 02
TIRANTE
DESLOCAMENTO DO TIRANTE
PRÓTESE
CINTA DE FERRO CHATO Nº 02
TIRANTE
DESLOCAMENTO DO TIRANTE
COMPLEMENTO DE MADEIRA
TÁBUA
PRÓTESE
5 cm
FRECHAL
EXTERNO
FRECHAL
INTERNO
DETALHE 01
DETALHE 02
CORTE
MOVIMENTAÇÃO
DAS PAREDES
266
Telhado B
Composto por frechais, tesouras, terças, caibros, ripas e cachorros de
madeira onde se apóiam telhas coloniais cerâmicas. Seus beirais
apresentam revestimento de tábuas de madeira pintada sobre os
cachorros.
As telhas apresentam boas condições mecânicas que encontram-se, em
alguns pontos, desalinhadas favorecendo a infiltração de água das
chuvas e a entrada de aves e insetos. Tal dano é provocado pelo
escorregamento das mesmas que não travam-se nas ripas, também
instaladas em número excessivo e desnecessário, aumentando a carga
sobre as paredes. Pontos de infiltração colaboram ainda com manchas
por escorrimento, presentes na parede da Sacristia, atrás do Altar-mor.
Tesouras, caibros, frechais e ripas apresentam boas condições estruturais.
Telhado C
Composto por frechais, tesouras, terças, caibros, ripas e cachorros de
madeira onde se apóiam telhas coloniais cerâmicas. Seus beirais
apresentam revestimento de tábuas de madeira pintada sobre os
cachorros.
As telhas apresentam boas condições mecânicas que encontram-se, em
alguns pontos, desalinhadas favorecendo a infiltração de água das
chuvas e a entrada de aves e insetos. Um grande acúmulo de pombos e
seus detritos colaboram com a deterioração do madeiramento do
telhado, do assoalho e das argamassas de revestimento das paredes e.
Um grande número de ripas, também instaladas excessivamente
sobrecarrega o telhado e as paredes desnecessariamente. Algumas
peças do madeiramento, como ripas e trechos do frechal apresentam
apodrecimento causado por fungos e as mãos francesas de travamento
entre as tesouras apresentam trechos comprometidos pela infestação de
insetos xilófagos e fissuras.
_paramentos
A fachada externa em argamassa apresenta problemas decorrentes da
umidade ascendente e intempéries, como bolhas e desagregamento.
A argamassa das paredes da nave central encontra-se completamente
destacadas de seu suporte, devido à umidade ascendente.
267
_pisos
Os pisos em cerâmica presentes na nave central e corredor lateral não
são originais e encontram-se bastante deteriorados. Os pisos da sala atrás
do altar, da cozinha e da casa do zelador são de tijolo, mesmo piso que
foi encontrado embaixo do armário da sacristia. De acordo com o
levantamento fotográfico realizado pelo SPHAN na década de 40,
podemos observar que o piso de tijolos predominava onde hoje
encontramos os pisos cerâmicos.
O piso de madeira presente no altar está com problemas em sua estrutura,
principalmente em seus degraus. O assoalho encontra-se em boas
condições e provavelmente é original.
_coro
Suas vigas de sustentação aparentemente não possuem nenhum
problema estrutural, mas deve ser verificada a sua estabilidade, pois os
coros dessa época possuíam apoios. As pranchas de madeira crua que
compõem o assoalho, pregadas sobre as vigas de sustentação,
apresentam peças soltas (mal pregadas) e desalinhadas; Apresentam
frestas entre as pranchas.
_guarda corpo
CORO
Composto pela sucessão de peças recortadas em tábuas de madeira,
pintadas, que simulam uma balaustrada; Apresenta adequadas
condições estruturais não havendo pontos comprometidos pelo ataque
de insetos xilófagos.
ESCADA DE ACESSO AO CORO
Composto pela sucessão de peças recortadas em tábuas de madeira
crua, apresentam desenho mais simplificado do que as do Coro;
Apresenta adequadas condições estruturais não havendo pontos
comprometidos pelo ataque de insetos xilófagos.
MEZANINO DE ACESSO AO CONVENTO
Composto pela sucessão de peças recortadas em tábuas de madeira
crua também apresentam desenho simples; Apresenta adequadas
condições estruturais não apresentando pontos comprometidos pelo
ataque de insetos xilófagos.
ALTAR
268
Apresentam desenho idêntico aos das peças do coro, instaladas porém
de maneira diferente, intercalando seus sentidos, ora para cima, ora para
baixo; Apresentam boas condições estruturais e acabamento em tinta
azul; A peça equivalente ao corrimão apresenta pichações e rabiscos;
Não apresenta ataques visíveis de insetos xilófagos ou de problemas
estruturais.
_esquadrias
As esquadrias em madeira encontram-se infestadas por insetos xilófagos,
com repinturas realizadas com tinta à base de cal e suas ferragens, de
grande valor artístico, encontram-se escondidas por detrás de muitas
camadas de tinta.
_forros
ALTAR-MÓR
características: Forros em abóbada de berço acompanhando os arcos do
retábulo e do arco cruzeiro, formados por tábuas de madeira sem pintura.
diagnóstico: Encontra-se muito degradado, devido ao ataque de insetos
xilófagos e a umidade proveniente da cobertura. Algumas réguas estão
cedendo.
FORRO DA NAVE CENTRAL
características: Forro com forma que acompanha o caibro armado do
telhado.
diagnóstico: Encontra-se muito degradado, devido ao ataque de insetos
xilófagos e a umidade proveniente da cobertura. Algumas réguas estão
cedendo.
_altares
Observando atentamente os retábulos laterais, podemos identificar a
pintura original e a última, realizada provavelmente no início do século XX.
Todos os altares apresentam manchas, craquelês, deposito superficial e
desagregamento.
O altar de Santa Terezinha apresenta ataque de cupins de madeira seca
e brocas.
_sinos
269
Dois dos sinos que faziam parte da torre sineira encontram-se atualmente
no mezanino do convento, amarrados em uma viga de madeira. O
terceiro sino encontra-se guardado no depósito. Todos apresentam
depósito superficial e pontos de oxidação.
_instabilidade estrutural
Outra ameaça que paira sobre a Igreja é a movimentação das paredes
de taipa que a projetam em direção a fachada oeste (rua lateral). É
conhecido o projeto de restauro que removeu, ainda nos anos 50, um
contraforte de tijolos que segurava toda a lateral da Igreja. Uma
contenção em concreto armado foi introduzida dentro das paredes de
taipa, formando pilares e vigas de travamento que aparentemente não
são suficientes para suportar toda a carga gerada pela movimentação
das paredes. Tal movimentação prejudica ainda a cobertura que,
desalinhada, provoca infiltrações, além de não desempenhar
adequadamente sua função de travamento das paredes. Para tanto
deverá ser executada uma proposta de contenção e reversão deste
problema, através de cálculos estruturais que apontarão o grau e risco
dessa movimentação, e indicarão melhor solução para a eliminação do
problema e manutenção do bem cultural.
___ recomendações gerais para a obra de restauro
_serviços preliminares
Execução de instalações provisórias, podendo ser no interior da
edificação, para a guarda de ferramentas, estoque de material e para os
funcionários locados na obra, conforme proposta a ser apresentada pela
empresa. Todos os funcionários deverão ser registrados, cadastrados e
uniformizados.
Todo material inaproveitável, proveniente das demolições, deverá ser
retirado do local constantemente durante todo o curso da obra. A obra
deverá ser mantida limpa durante toda sua execução até seu término.
Toda e qualquer alteração de materiais que eventualmente se faça
necessária, deverá ser previamente aprovada por escrito pela fiscalização
dos órgãos competentes, mediante apresentação de amostra do
material/proposta alternativa.
Deverão ser realizados acompanhamento fotográfico e relatórios
elucidativos das etapas principais na execução dos serviços, mostrando o
estado original, o processo empregado e o resultado final.
270
_mobilização de mão de obra
Todos os funcionários deverão se apresentar uniformizados, com crachá
de identificão. Os serviços espeficos de restauro serão executados por
operários com experiência comprovada nas atividades respectivas. Os
funcionários da empresa contratada apresentar-se-ão com equipamentos
de segurança adequados a cada tipo de serviço.
_preparação do canteiro de obra
A localização do canteiro deverá ser definida em proposta da empresa
executora. Deverá possuir sanitários e demais instalações próprias para uso
exclusivo dos funcionários.
_montagem de andaimes
Montagem de estrutura de andaimes metálicos com escada tubular,
apara-lixo e passarelas em madeira de boa qualidade, isenta de nós a
cada 2m. de altura, em toda a extensão dos andaimes, possibilitando
acesso fácil e seguro aos operários e fiscalização a todas as áreas de
trabalho. Colocação de tela de náilon em toda a extensão do andaime.
Os andaimes e todo o aparato de proteção deverão ser mantidos em
perfeitas condições até o término da obra.
_identificação e proteção dos elementos históricos e artísticos
Toda e qualquer remoção ou substituição de qualquer parte do edifício
deve ser precedida da verificação da possibilidade de recuperação da
peça original, devendo-se proceder a substituições apenas em casos
estritamente necessários ou quando a permanência da referida peça
prejudique a integridade da imagem do conjunto.
Deve-se providenciar desde o princípio e durante todo o transcorrer da
obra a proteção de todos os elementos passíveis de danificação durante
a execução dos serviços, tais como esquadrias externas, ornamentos,
altares, pisos e demais peças.
271
recomendações técnicas para a obra de restauro
_serviços preliminares
PROCEDIMENTOS GERAIS DE RECUPERAÇÃO ESTRUTURAL
A maior ameaça à solidez da construção é a umidade. Essa pode chegar
de baixo, ou seja, do solo umidade ascendente: a água tende a subir
por ação capilar – infiltrando-se nos materiais porosos. Ao se constatar
manchas ou descoloramento nas partes baixas das paredes externas
precisa-se intervir nas partes estruturais que estão embaixo do solo com
uma barreira química com produto definido após testes in loco.
PROSPECÇÃO ESTRATIGRÁFICA
A empresa contratada deverá proceder à prospecção estratigráfica das
paredes, ornatos, altares, guarda-corpo do coro, guarda-corpo do altar,
guarda-corpo do convento e esquadrias, para identificação das
camadas cromáticas existentes, deixando o testemunho dessa
prospecção que deverá conter a ordem de camadas desde o material
de suporte até a pintura atual. A numeração deve ser iniciada a partir do
“0” (zero), correspondente ao material de base, o suporte. A partir deste,
seguem as camadas (1, 2, 3...n). As prospecções devem ser protegidas
superficialmente através da aplicação de resina paralóide. A localização
e a quantidade das prospecções será definida pelo restaurador
contratado.
Os vestígios serão fotografados e sua localização será demarcada em
planta.
Todos os pisos do pavimento térreo da igreja e do edifício anexo serão
prospectados para verificação da existência de algum piso anterior.
PESQUISA ARQUEOLÓGICA
Será verificada a existência de antigas estruturas na igreja e em seu
entorno, através de outros vestígios de ocupação.
PERCUSSÃO
Percussão de toda a superfície com martelo de borracha, para determinar
os trechos que apresentam desplacamento ou desagregação.
_cobertura
A preservação das coberturas é uma forma de resgatar as características
originais dos pdios.
Os telhados tradicionais são constituídos por tesouras em madeira e telhas
de barro.
MADEIRAMENTO DA COBERTURA
272
Preliminarmente faz-se necessária a elaboração de um cálculo estrutural
visando avaliar a necessidade de execução de novos reforços na
estrutura, diminuindo cargas desnecessárias sobre as paredes, como as
apontadas pelo excesso de ripas sobre o telhado, visando assim cessar a
movimentação das paredes. Os reforços deverão ser realizados através
da instalação de cintas ou chapas metálicas – conforme a localização e o
tipo da peça – e parafusadas nos trechos de resistência comprovada. A
iniciativa visa evitar a substituição de peças originais bem como das
demais peças atualmente utilizadas. É necessária também a avaliação de
amostras de todas as madeiras utilizadas na edificação, indicando assim o
tipo mais adequado para a execução de novas peças e/ou próteses,
com madeira de similaridade de veios, densidade e qualidade, seca e
isenta de nós. Os pequenos orifícios serão preenchidos com pó de
madeira e resina epóxi.
Após a substituição de peças comprometidas e a execução de reforços
sobre as parcialmente danificadas, todo o madeiramento deverá ser
tratado contra fungos e nova infestação de insetos xilófagos conforme
normas técnicas de cura e prevenção, melhor detalhadas a seguir. Um
novo ripamento tratado deverá ser instalado conforme posicionamento
adequado, garantindo a fixação das telhas.
DEMOLIÇÃO
Retirada completa das telhas, por partes, com imediata colocação de
cobertura provisória em lona plástica leve, resistente, fixada de maneira a
proteger plenamente a área destelhada contra chuva e vento (ilhoses
para fixação a cada 50 cm). A amarração será com corda de nylon de
1/2” e as lonas serão sobrepostas no mínimo 1m sobre os trechos de
telhados adjacentes.
TELHAS
As telhas deverão ser analisadas em laboratório para avaliação de suas
condições quanto à absorção de água, mudança de peso, dilatação e
resistência mecânica a fim de reaproveitá-las ou não no entelhamento. Se
aprovadas, passarão por limpeza com jato de água de pressão
controlada, seguida de imersão em produto hidrofugante. Se necessário
novas pas com condições idênticas serão adquiridas já que todo o
entelhamento, substituído há seis anos, deve ser encontrado no comercio
local.
A telha a ser empregada será do tipo colonial, com inclinação já
determinada pelas tesouras existentes. A cumeeira será fixada com
argamassa de cimento e areia. As outras telhas serão amarradas nas ripas
por meio de fio metálico galvanizado e os beirais serão devidamente
emboçados com argamassa de cimento e areia.
273
Serão instaladas calhas em todo perímetro dos telhados, para impedir a
que as águas pluviais molhem muito as paredes de taipa, prevenindo
assim a sua deterioração.
SUBCOBERTURA
Sobre o telhado A é indicada a instalação de uma manta sob a
cobertura, salvaguardando o forro em caso de novas infiltrações.
Será ainda desenvolvido um projeto para proteção da Igreja e seu acervo
contra descargas atmosféricas que não prejudique sua integridade
estética
ATAQUES DE INSETOS
De acordo com inspeção realizada em 04 de novembro de 2005, o imóvel
apresenta os seguintes tipos de infestação de insetos xilófagos, presentes
nas estruturas de cobertura e demais elementos de madeira:
Cupins de Madeira Seca – Insetos que ao se estabelecerem dentro das
peças alimentam-se da madeira, construindo galerias que comprometem
as propriedades mecânicas da madeira, oferecendo riscos.
Identificados principalmente:
nas vigas de sustentação do madeiramento do telhado do
Convento;
nas portas, janelas e batentes do Convento, Coro e demais salas do
andar térreo;
nos forros da Nave Central e Altar-mor;
no altar lateral direito.
Brocas de Madeira – Pequenos besouros cujas larvas alimentam-se da
madeira. Na fase adulta emergem para a reprodução, retornando aos
orifícios já formados para pôr novos ovos, o que mantém a infestação da
peça.
Identificados principalmente:
no madeiramento de sustentação do mezanino do Convento;
no corredor de acesso ao Convento (térreo);
no altar lateral direito.
INTERVENÇÃO PROPOSTA
O tratamento proposto consiste na aplicação de deltametrina em forma
de concentrado emocionável - inseticida a base de isoparafina, de baixo
odor, aprovado pelo Ministério da Saúde.
Pulverização nas vigas de sustentação do madeiramento do
telhado do Convento;
274
Pulverização em todas as próteses e peças novas de madeira;
Aplicação nas interfaces das portas, janelas, batentes e alvenarias
do Convento, Coro e demais salas do andar térreo;
Pulverização nos forros da Nave Central e Altar-mor;
Pulverização no altar lateral direito;
Pulverização no madeiramento de sustentação do mezanino, coro,
corredor principal e altar lateral direito;
Injeção de solução inseticida, em pequenos furos feitos sobre o
assoalho do altar, a fim de atingir e tratar o contra piso.
Todos os procedimentos serão realizados dentro de rigores técnicos e de
segurança, por equipe especializada e renomada, garantindo a
qualidade do serviço, a segurança dos técnicos e da comunidade.
PROTEÇÃO CONTRA A PRESENÇA DE POMBOS
Os pombos além de transmitirem doenças como Criptococose,
Histoplasmose, Ornitose, Salmonelose e Dermatites, deteriora o patrimônio
histórico, pois o seu excremento muito ácido acaba corroendo
ornamentos, madeiras e revestimentos.
Devido à presença de muitos pombos na Igreja de Nossa Senhora da
Escada, instalaremos telas e fios de nylon em locais estratégicos para que
os pombos acabem migrando para outros locais. È importante salientar
que deverá haver uma manutenção periódica para eficácia dos sistemas
instalados.
MEDIDAS PARA MANUTENÇÃO
O principal cuidado para a conservação do telhado é o de proteger a
estrutura de qualquer forma de umidade, ao mesmo tempo permitir
arejamento, evitando a infestação de cupim e mofo.
Freqüentes inspeções do estado do madeiramento permitem evitar
grandes danos, podendo recorrer a uma rápida intervenção. Para
facilitarmos a manutenção da cobertura, será construído um alçapão de
acesso à cobertura da nave central no forro.
_paramentos
O reboco é a pele da fachada e qualquer alteração indica um problema
ligado à umidade tanto descendente quanto ascendente, infiltrações, ou
má qualidade da massa utilizada.
Antes de se iniciar qualquer serviço de recuperação devem ser eliminadas
as causas dos danos.
275
Serão feitas análises da argamassa em laboratório, para investigação dos
problemas existentes, além da umidade descendente e ascendente, que
acarretam em desprendimento e desagregação do material.
DEMOLIÇÃO DOS REVESTIMENTOS INTERNOS E EXTERNOS
Os revestimentos presentes na igreja e no edifício anexo são da década
de 50. Durante o restauro toda a edificação teve a sua argamassa de
revestimento retirada para a colocação de colunas e vigas de concreto.
Por conta deste acontecimento, concluímos que, por encontrar-se com
diversos problemas como bolhas e desagregação, toda a argamassa do
edifício será retirada e nova argamassa, compatível com construções em
taipa, será aplicada.
_pisos
ALTAR
O piso de madeira existente no altar será restaurado da seguinte forma:
Execução de prospecções no piso;
Prospecção arqueológica;
Limpeza a seco com escovas e aspirador de pó;
Retirada das tábuas dos degraus, para inspeção da estrutura;
Retirada de amostra para análise em laboratório;
Aplicação de produto preservante;
Troca de madeiramento, quando necessário, e próteses,
executadas com peças de madeira com similaridade de veios,
densidade e qualidade, seca e isenta de nós.
NAVE
O piso cerâmico existente na nave será restaurado da seguinte forma:
Execução de prospecções;
Colocação de nova pavimentação em granito bruto.
CORREDOR DO CONVENTO
O piso cerâmico existente no corredor será restaurado da seguinte forma:
Execução de prospecções;
Colocação de nova pavimentação em granito bruto.
DEPÓSITO
O piso de tijolos existente no depósito será restaurado da seguinte forma:
Execução de prospecções;
Limpeza a seco com escovas e aspirador de pó;
Retirada de elementos estranhos e argamassas diferenciadas;
Limpeza com água e sabão neutro;
Aplicação de resina.
276
COZINHA/CASA DO ZELADOR
O piso de tijolos existente será restaurado da seguinte forma:
Execução de prospecções;
Limpeza a seco com escovas e aspirador de pó;
Retirada de elementos estranhos e argamassas diferenciadas;
Limpeza com água e sabão neutro;
Aplicação de resina.
ÁREA PARA RECEPÇÃO DE CASAMENTOS E OFICINAS
Prospecção arqueológica;
Retirada da vegetação;
Restauro do poço;
Colocação de piso pré-moldado de concreto – material que
favorece a permeabilidade do solo, é reversível e antiderrapante.
MEZANINO CONVENTO
O piso de madeira existente no mezanino do convento será restaurado da
seguinte forma:
Execução de prospecções;
Limpeza a seco com escovas e aspirador de pó;
Retirada de amostra para análise em laboratório;
Aplicação de produto preservante;
Troca de madeiramento, quando necessário, e próteses,
executadas com peças de madeira com similaridade de veios,
densidade e qualidade, seca e isenta de nós.
CONVENTO – PAVIMENTO SUPERIOR
Execução de prospecções;
Limpeza a seco com escovas e aspirador de pó;
Retirada de amostra para análise em laboratório;
Aplicação de produto preservante;
Troca de madeiramento, quando necessário, e próteses,
executadas com peças de madeira com similaridade de veios,
densidade e qualidade, seca e isenta de nós.
CORO
Avaliação estrutural da viga de sustentação;
Execução de prospecções;
Limpeza a seco com escovas e aspirador de pó;
Retirada de amostra para análise em laboratório;
Aplicação de produto preservante;
Troca de madeiramento, quando necessário, e próteses,
executadas com peças de madeira com similaridade de veios,
densidade e qualidade, seca e isenta de nós.
CALÇADAS LATERAIS
277
Execução de prospecções;
Retirada de vegetação e limpeza a seco;
Retirada da argamassa diferenciada;
Colocação das pedras que estão soltas com argamassa de
cimento e areia.
_guarda-corpo
CORO
Execução de prospecções;
Limpeza a seco com escovas e aspirador de pó;
Retirada de amostra para análise em laboratório;
Aplicação de produto preservante;
Troca de madeiramento, quando necessário, e próteses,
executadas com peças de madeira com similaridade de veios,
densidade e qualidade, seca e isenta de nós.
Todas as peças serão inspecionadas para avaliar o travamento das
mesmas em seus orifícios de encaixe (macho-fêmea).
ESCADA DE ACESSO AO CORO
Execução de prospecções;
Limpeza a seco com escovas e aspirador de pó;
Retirada de amostra para análise em laboratório;
Aplicação de produto preservante;
Troca de madeiramento, quando necessário, e próteses,
executadas com peças de madeira com similaridade de veios,
densidade e qualidade, seca e isenta de nós.
Todas as peças serão inspecionadas para avaliar o travamento das
mesmas em seus orifícios de encaixe (macho-fêmea).
MEZANINO DE ACESSO AO CORO
Execução de prospecções;
Limpeza a seco com escovas e aspirador de pó;
Retirada de amostra para análise em laboratório;
Aplicação de produto preservante;
Troca de madeiramento, quando necessário, e próteses,
executadas com peças de madeira com similaridade de veios,
densidade e qualidade, seca e isenta de nós.
Todas as peças serão inspecionadas para avaliar o travamento das
mesmas em seus orifícios de encaixe (macho-fêmea).
278
ALTAR
Execução de prospecções;
Limpeza a seco com escovas e aspirador de pó;
Retirada de amostra para análise em laboratório;
Aplicação de produto preservante;
Troca de madeiramento, quando necessário, e próteses,
executadas com peças de madeira com similaridade de veios,
densidade e qualidade, seca e isenta de nós.
Todas as peças serão inspecionadas para avaliar o travamento das
mesmas em seus orifícios de encaixe (macho-fêmea).
_escadas
ALTAR
Limpeza a seco com escovas e aspirador de pó;
Retirada das tábuas dos degraus, para inspeção da estrutura;
Retirada de amostra para análise em laboratório;
Aplicação de produto preservante;
Troca de madeiramento, quando necessário, e próteses,
executadas com peças de madeira com similaridade de veios,
densidade e qualidade, seca e isenta de nós.
MEZANINO CONVENTO
Limpeza a seco com escovas e aspirador de pó;
Retirada de amostra para análise em laboratório;
Aplicação de produto preservante;
Troca de madeiramento, quando necessário, e próteses,
executadas com peças de madeira com similaridade de veios,
densidade e qualidade, seca e isenta de nós.
ACESSO AO CORO
Limpeza a seco com escovas e aspirador de pó;
Retirada de amostra para análise em laboratório;
Aplicação de produto preservante;
Troca de madeiramento, quando necessário, e próteses,
executadas com peças de madeira com similaridade de veios,
densidade e qualidade, seca e isenta de nós.
ACESSO AO PÚLPITO
Limpeza a seco com escovas e aspirador de pó;
Retirada de amostra para análise em laboratório;
Aplicação de produto preservante;
279
Troca de madeiramento, quando necessário, e próteses,
executadas com peças de madeira com similaridade de veios,
densidade e qualidade, seca e isenta de nós.
_esquadrias
A intervenção proposta tem como objetivo a recuperação da leitura das
portas e a manutenção de sua integridade física. Para chegarmos ao
nosso objetivo, a intervenção será composta de algumas fases:
Prospecção;
Catalogação de todas as portas e janelas através de fichas
individuais com numeração, desenhos dimensionados, fotografias,
diagnóstico, mapeamento e procedimentos a serem utilizados na
peça;
Retirar, enumerar e catalogar as ferragens de cada peça;
Limpeza mecânica com trincha e aspirador de pó;
Aplicação de produto preservante contra insetos xilófagos;
Remoção de pregos e outros elementos estranhos afixados nas
portas;
Recomposição de elementos faltantes através de próteses e peças
de entalhe, em madeiras de densidade similar e curadas;
Remoção de toda a pintura das ferragens, com produto químico ou
soprador térmico;
Remoção parcial das repinturas, com produto químico ou soprador
térmico;
Aplicação de tinta estabelecida através da prospecção;
As ferragens danificadas serão recuperadas e, caso não seja
possível, serão reconstruídas segundo o desenho das existentes, com
material diferenciado e inscrição nas peças com a data do restauro.
** Será deixada uma janela no batente de uma das portas, para
demonstrar as c amadas de repintura.
_forros altar-mor e nave
A metodologia dependerá do estado de conservação das peças,
diagnóstico que será complementado somente após uma inspeção
mais detalhada:
FORROS EM BOM ESTADO DE CONSERVAÇÃO
Limpeza mecânica por meio de trincha e aspirador de pó;
Aplicação de produto preservante contra insetos xilófagos;
Remoção de elementos estranhos, que não desenvolvam função
de estabilidade das peças do conjunto, como pregos;
Remoção de elementos metálicos oxidados;
280
Consolidação com próteses em madeira com inscrição da data do
restauro, curadas e de densidade similar;
Aplicação de camada protetora.
FORRO EM ESTADO PRECÁRIO DE CONSERVAÇÃO
Limpeza mecânica por meio de trincha e aspirador de pó;
Aplicação de produto preservante contra insetos xilófagos;
Remoção de elementos estranhos, que não desenvolvam função
de estabilidade das peças do conjunto, como pregos.
Remoção de elementos metálicos oxidados:
Algumas partes do forro serão desmontadas cuidadosamente, suas
peças serão cadastradas e o estado de conservação e o tipo de
madeira de cada uma das peças será analisado;
As peças de madeira em boas condições serão limpas e tratadas.
Naquelas pouco degradadas serão feitas obturações nas partes
danificadas, através de enxertos e com madeira de similaridade de
veios, densidade e qualidade, seca e isenta de nós injeções de
resina e pó de madeira. As muito degradadas, por ataque de
insetos xilófagos ou fungos, serão substituídas por madeira com
similaridade de veios, densidade e qualidade, seca e com mesmas
dimensões, tratadas com produto preservante e com inscrição da
data do restauro, para que fiquem distinguíveis como nos aconselha
a Carta de Veneza "Os elementos destinados a substituir as partes
faltantes devem integrar-se harmonicamente ao conjunto,
distinguindo-se, todavia, das partes originais, a fim de que a
restauração não falsifique o documento de arte e de história".
A estrutura que sustenta o forro será analisada e reforçada se
necessário, para receber novamente o forro de madeira;
Aplicação de camada protetora.
_altares
Prospecções;
Limpeza mecânica a seco, com escovas de cerdas macias,
espátulas odontológicas, bisturis e aspiradores de pó;
Aplicação de produto preservante contra insetos xilófagos;
Remoção de elementos metálicos oxidados e de todos os
elementos estranhos que não desenvolvam função de estabilidade
das peças do conjunto;
Consolidação estrutural dos altares e execução de próteses com
madeiras de densidade similar e curadas (trabalho estabilizado);
Recomposição de elementos faltantes com próteses e peças de
entalhe, com madeiras de densidade similar e curadas (trabalho
estabilizado);
281
Remoção das camadas pictóricas posteriores, definidas por
prospecção, após análises em conjunto com os órgão de
preservação, por meios mecânicos e/ou químicos;
Restauração da pintura com recursos de abstração cromática
(tracejado);
Aplicação de camada protetiva com Damar e Palaroide.
_bens móveis
IMAGENS
Prospecções;
Limpeza mecânica a seco, com escovas de cerdas macias,
espátulas odontológicas, bisturis e aspiradores de pó;
Aplicação de produto preservante contra insetos xilófagos;
Remoção das camadas pictóricas posteriores, definidas por
prospecção, após análises em conjunto com os órgão de
preservação, por meios mecânicos e/ou químicos;
Restauração da pintura com recursos de abstração cromática
(tracejado);
Aplicação de camada protetiva com Damar e Palaroide.
BANCOS
Prospecções;
Limpeza mecânica a seco, com escovas de cerdas macias,
espátulas odontológicas, bisturis e aspiradores de pó;
Aplicação de produto preservante contra insetos xilófagos;
Remoção das camadas pictóricas posteriores, definidas por
prospecção, após análises em conjunto com os órgão de
preservação, por meios mecânicos e/ou químicos;
Restauração da pintura com recursos de abstração cromática
(tracejado);
Aplicação de camada protetiva com Damar e Palaroide.
_castiçal elétrico
Para conservação e segurança da igreja, serão instalados dois castiçais
elétricos com cofre para os fiéis.
_sinos
Limpeza a seco com escova de cerdas macias;
Remoção de todo traço de corrosão, sujeiras, escamações e
oleosidade;
Análise das camadas existentes, para determinação de alguns
dados, como: a pintura que foi utilizada como fundo para proteção;
282
o tipo de pintura, quantas camadas foram usadas; as cores originais;
e se o acabamento da superfície era brilhante ou mate;
Oxidação - limpeza com método abrasivo seco. Após a limpeza por
método abrasivo, as superfícies receberão uma camada primária
protetora;
Pintura com uma primeira camada antioxidante à base de óxido de
ferro, óxido de zinco ou fosfato de zinco em resinas à base de
poliésteres, camadas intermediárias e de acabamento com tintas à
base de poliésteres.
_gradil – área para recepções e oficinas
Todo o gradil presente no limite do terreno da igreja será retirado e novo
painel reforçado com aço, pintado com camada protetora de poliéster
será colocado em outra posição. Em sua base serão plantadas
trepadeiras, para criar uma divisória agradável, não interferindo muito na
visualização da igreja.
_pintura dos paramentos
Depois de realizadas as prospecções estratigráficas, definiremos as cores a
serem utilizadas na fachada.
Será utilizada pintura à base de cal em todas as paredes internas e
externas.
_luminotécnica
Será elaborado um projeto de valorização do monumento, através de
iluminação por projetores embutidos para solo.
_sistemas de segurança
Ao longo de sua história, a secular Igreja de Nossa Senhora da Escada de
Guararema sofreu, por algumas manifestações de descaso, o saque de
parte de seu acervo, como o da importante imagem de São Francisco de
Assis.
Quase cinqüenta anos depois de sua restauração, a Igreja ainda
apresenta vulnerabilidade não só quanto a sua segurança patrimonial,
mas também quanto a incêndios e demais ameaças.
Um projeto de segurança deverá ser realizado, contemplando sensores de
arrombamento nas portas e janelas, a instalação de novas fechaduras e
travas, a instalação de alarme sonoro e gerador de energia, bem como
sistema de segurança contra descargas atmosféricas e incêndio
(Extintores de incêndio). Garantiremos sua segurança também através da
283
substituição da rede elétrica, com novo e adequado sistema de
iluminação, e a remoção da rede hidráulica, prejudicialmente embutida
nas paredes de taipa de pilão. É preciso ainda prever a instalação de um
sistema sonoro, permitindo a adequada realização de festas e demais
cerimônias religiosas tanto em seu interior como em sua praça e área para
recepções e oficinas.
Com a reconversão do antigo Convento em loja, café e sala audiovisual
serão necessárias as atualizações citadas acima bem como a instalação
de uma rede de telefonia e de ar condicionado.
284
__________________novas intervenções –_convento/pátio interno
PAVIMENTO TÉRREO
acessibilidade
Na circulação lateral da igreja, além da rampa metálica móvel a ser
colocada logo na entrada, será instalado um elevador hidráulico com
capacidade para duas pessoas. Este elevador, assim como a escada já
existente, servirão de acesso ao pavimento superior. Entre o elevador e o
piso superior, será construída uma passarela em estrutura metálica e vidro.
sacristia e sala de apoio
A sacristia será ampliada, devido ao deslocamento de uma parede em
direção à circulação. Onde hoje existe um depósito, anexo à sacristia,
será construído um banheiro, com parede hidráulica independente,
dando ao ambiente um uso mais significativo, como um quarto/escritório
que poderá ser usado pelo padre.
loja e café
No primeiro pavimento do edifício, do convento, onde localizam-se a
cozinha e a casa do zelador, será feito um café, com todas as instalações
necessárias. O local terá usos diversos, como ponto de venda de produtos
comercializados pela igreja (santinhos, terços, etc.) e ainda como suporte
para “Buffets” contratados em dias de casamentos e festas em geral.
área de convivência
Com a demolição do banheiro e da pequena área de serviço localizados
hoje nos fundos da igreja, propomos a utilização deste grande espaço,
como um local de eventos, casamentos e festas além oficinas que serão
oferecidas à comunidade.
A grama será substituída por blocos intertravados de concreto e será
implantada uma cobertura tencionada na área do pátio.
Utilizaremos uma faixa maior do terreno que será fechada com uma cerca
viva na lateral e um muro com floreiras na frente do terreno.
Sanitários, área de apoio às oficinas e cozinha
Independentes da estrutura da igreja serão construídos sanitários, fraldário,
tanques, pias e uma cozinha em edificações independentes, no limite dos
fundos do terreno, para utilização nas recepções, oficinas e festas
populares.
285
PAVIMENTO SUPERIOR
sala audiovisual
No pavimento superior do antigo convento, ficará a sala audiovisual: um
espaço reservado para exposições de variados artistas, mostras de
cinema, palestras e encontros da comunidade.
Será colocada uma subcobertura em madeira tratada e pintada, e as
tesouras da cobertura ficarão à vista.
Como a sala é composta por várias aberturas, foi proposta a instalação
de cortinas black-out, para fechamento das janelas quando necessário.
286
ANEXO 4 - ENTREVISTAS
As conversas com o padre, zeladora da igreja, devotos, pessoas da
comunidade, da pastoral refletem o cotidiano da devoção a São Longuinho na
Igreja Nossa Senhora da Escada. Não se teve a pretensão de apresentar tais
entrevistas como resultado de uma pesquisa de campo e sim como um
testemunho direto da experiência dos devotos e um melhor conhecimento da
devoção ao santo.
A intenção a princípio foi deixar o entrevistado à vontade para falar
sobre a devoção, de modo que eles mesmos fizessem referência sobre o santo e
sua devoção, embora tivéssemos um roteiro para guiar as entrevistas.
A maior parte dos entrevistados não permitiu gravação com receio
de, mais tarde, ser criticada, referindo-se ao fato de a zeladora, após dar
entrevista a um programa de televisão, ter sido criticada e repreendida porque
“falou que o padre não gostava de São Longuinho”. Todos os entrevistados,
pessoas da comunidade, pastoral, o padre atual diziam que a zeladora é a melhor
pessoa para responder às questões. Quanto aos devotos, estes não só permitiam
a gravação como também queriam ser fotografados, agradeciam pela
oportunidade de falar do Santo de sua devoção.
I - Entrevistas com o clero
1 – Padre Geraldo Magela Lázaro (pároco de Guararema no início da pesquisa)
Data: julho de 2003 (início da pesquisa)
1) Como vê a devoção a São Longuinho?
“Existe no Vaticano uma imagem grande de São Longuinho, com o
escrito Longinus. Deve ter histórias sobre o santo na Biblioteca do Vaticano.
Estou atuando na comunidade há três anos apenas. O casal da pastoral (Carlos e
Ângela), Dona Luíza, a zeladora e o padre Roberto, que atuou 24 anos no bairro,
têm condições de participar mais do que eu. Dona Luíza é quem sabe tudo de
São Longuinho em Freguesia”.
“A devoção a São Longuinho é algo popular mesmo. Algo que surgiu
na Freguesia e foi passando entre os moradores. Não proíbo a comunidade de se
287
expressar de tal maneira. No calendário oficial católico não consta tais
programações, mas não proíbo. Deixo a comunidade à vontade.”
2) Como surgiu tal devoção na Freguesia?
Quando assumi a direção muitas coisas foram passadas para mim pelos
moradores, à respeito de São Longuinho. Mas, oficialmente não tem nada escrito.
Prefiro que converse com pessoas da comunidade que vivem lá a mais tempo.
3) As devoções existentes são crenças particulares ou a Igreja apóia?
A devoção é da comunidade; é crença da população de lá, do povo
mesmo. Não tenho nada contra, mas têm colegas que não apóiam.
4) Já existe algum estudo a respeito de São Longuinho?
Oficialmente não existe estudo sobre São Longuinho. De vez em quando,
surge alguém se informando e depois não dá mais notícias.
5) Quem é o franciscano citado por uma moradora que está fazendo um estudo
sobre São Longuinho?
Não tenho conhecimento de nenhum franciscano fazendo estudo sobre
São Longuinho.
6) Na Festa da Padroeira, em novembro, aparecem devotos de São Longuinho?
Como eles se comportam perante a imagem?
A Festa da Padroeira é muito bonita, com participação do clero. Acredito
que devotos de São Longuinho apareçam, mas quanto ao comportamento deles
perante a imagem, é melhor se informar lá, pois vou muito pouco lá. As
comunidades funcionam independentes do padre.
7) Pessoas de outras crenças vão à Igreja procurando por São Longuinho?
Não tenho conhecimento, quase não vou à Freguesia. Melhor ver com
Dona Luíza, pessoa antiga lá.
8) Existe registro sobre o convento que existiu na comunidade ao lado da Igreja?
Quem poderá responder é Cícera (secretária da Cúria Metropolitana Mogi
das Cruzes).
Observação:
“Segundo padre Geraldo, a imagem de São Longuinho
Soldado é baseada na do Vaticano. A imagem de São Longuinho mística (monge)
é provável que seja a imagem popular, depois da sua conversão ao Cristianismo.”
Data: Julho de 2004
288
Obs.: Nesta data, foi feita uma segunda entrevista com o padre Geraldo,
ocasião em que ele esteve em Juiz de Fora e, em conversa com a pesquisadora,
mencionou fatos que estavam acontecendo em Freguesia e que demonstravam o
crescimento da devoção a São Longuinho lá existente.
1) Como o senhor vê o surgimento e o crescimento da devoção a São Longuinho
atualmente?
A devoção a São Longuinho é antiga. Em criança já ouvia minha mãe falar
em São Longuinho e três pulinhos. Em Freguesia a devoção parece existir há
muitos anos, mas com moderação, mais tranqüila. Com o roubo do oratório, se
pensou em organizar melhor essa devoção. A primeira Festa de São Longuinho,
em 2003, teve um grande público, tudo muito bonito, mas faltou organização. A de
2004 foi melhor planejada e as seguintes acredito que serão melhores ainda.
O oratório atual foi feito baseado em fotografias do oratório antigo. A
imagem foi feita por um santeiro que há muitos anos morou nas mediações. Acho
muito importante a religiosidade popular, aceitar a fé da comunidade em São
Longuinho.
2) Por que as pessoas procuram São Longuinho?
Por dois motivos: alguém que necessita de algum milagre ou alguém que
alcançou algum. A maioria é por fé. Outros ouvem falar, pedem ao santo e viram
devotos.
3) Gostaria de falar mais alguma coisa sobre São Longuinho?
É importante valorizar a devoção popular, a religiosidade popular. São
Longuinho é reconhecido pela Igreja Católica. Tem uma imagem muito grande
dele na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Ele é reconhecido sim pela sua
conversão. Era um centurião, comandava cem soldados, chefe de um
destacamento. O centurião era uma pessoa mais ponderada, tinha elementos a
mais que os outros soldados que eram mais rudes e brutos. O centurião tinha
uma visão ampla, era respeitado pela sociedade da época de Cristo.
A imagem de São Longuinho colocada à venda na II Festa de São
Longuinho teve realmente autorização do bispo. Não sei dizer se teve aceitação
ou não da comunidade. Tenho uma imagem dessas na Matriz.
Aceito o que é dito a respeito da imagem de São Longuinho, não questiono
a comunidade. A imagem fala, a imagem ouve, não questiono a pessoa, digo
289
apenas que é uma questão individual... Agora, se pedirem para falar em
microfone durante a missa, dando um testemunho nesse sentido, não concordo.
Para isso, teria que ter maiores dados científicos.
Data: novembro de 2005 (Festa de Nossa Senhora da Escada)
1) Como vê atualmente a devoção a São Longuinho em Freguesia?
A situação é preocupante (fazendo referência à devoção a São Longuinho).
Aumentou muito a procura dos devotos, peregrinos e eu sou sozinho para
assumir tudo. Não vou me indispor com a comunidade, com o que eles pensam.
Gostaria de um contato seu com o bispo, o atual e o antigo, para saber o que eles
pensam sobre a devoção, pela grande procura por São Longuinho e falar para
eles o que nós, você e eu, presenciamos em Freguesia. Eu mesmo posso
agendar uma entrevista.
2) Por que pessoas procuram por São Longuinho?
Pela fé, para agradecer, para pedir e assim a devoção vai se ampliando.
3) O que contribuiu para o aumento da procura por São Longuinho?
A devoção de cada pessoa que aqui vem e depois volta trazendo mais
pessoas com ela para conhecer a imagem do santo, para pagar promessa.
4) Quais as pessoas mais envolvidas em propagar a devoção a São Longuinho
em Freguesia?
O próprio povo. As pessoas mesmo são quem fazem a divulgação de São
Longuinho.
5) Estas pessoas são devotas de São Longuinho?
Sim.
6) Outras pessoas, fora do bairro Freguesia, também propagam a devoção?
Sim.
7) Como a devoção a São Longuinho está sendo vista pela Diocese? O que as
pessoas ligadas diretamente à Igreja pensam sobre a devoção a São Longuinho?
O bispo atual deixa que os padres tenham autonomia a respeito. D. Paulo
fez uma oração a São Longuinho e eu fiz uma oração a Nossa Senhora da
Escada.
8) Quais as pessoas, na sua opinião, deveriam ser entrevistadas para participar
desta pesquisa?
290
Os bispos, o atual e o antigo, D. Luíza, Sr. Vicente, D. Lourdes, João,
Cecília.
9) Gostaria de falar mais sobre a devoção a São Longuinho em Freguesia?
Falar de devoção popular é complicado. Cresce muito. A imagem de São
Longuinho foi achada na cômoda aqui atrás (fazendo referência a uma cômoda
localizada nos fundos da sacristia). D. Luíza trouxe a imagem para o altar e a
devoção cresce cada dia mais. Estamos nos reunindo, eu e a pastoral,
estudando, procurando um caminho para lidar com essa grande procura por São
Longuinho aqui em Freguesia. Estou me sentindo muito sozinho para resolver
tudo, pensar tudo. Tem hora que me dá vontade de largar tudo (sic).
2 – Padre Roberto (entrevista por telefone) – atuou na comunidade por 26 anos
Data: Julho de 2003
1) Como vê a devoção a São Longuinho?
A devoção a São Longuinho é da comunidade. Não existe nada oficial. A
imagem foi colocada na Igreja por Luíza.
2) Como surgiu tal devoção na Freguesia?
Quem conhece a história da imagem é Jurandir historiador e Secretário de
Cultura de Mogi das Cruzes. Segundo ele, no fim do século passado, passou pela
Freguesia um santeiro e provavelmente fez tal imagem (1870).
3) As devoções existentes são crenças particulares ou a Igreja apóia?
Na ocasião do roubo do oratório de São Longuinho, eu morava na
comunidade. O povo contava a história do soldado Longuinho, rezava e dava 3
pulinhos. Não tenho mais nada a dizer, por isso, preferi falar por telefone. O
importante para a pesquisa é o professor Jurandir, o resto são coisas da
comunidade. Tudo é folclore.
Data: Novembro de 2003 – Contato com o padre Roberto na Festa da Padroeira.
“Acredito na quarta parte do que as pessoas da comunidade falam sobre
São Longuinho. Professor Jurandir, este sim, sabe das informações corretas. O
santeiro que passou por essa região fez uma imagem à sua maneira, como uma
devoção. Esta foi encontrada no cafundó e restaurada pelas pessoas da
comunidade. E daí começaram os boatos. Em Roma, tem uma imagem grande,
291
de São Longuinho soldado. Esta imagem está de acordo com a história do
soldado que se converteu. É aceitável, apesar de não podermos dizer se São
Longuinho realmente existiu. Não vivemos naquela época”.
3 – Padre Adalberto (pároco de Guararema desde março/2005)
Nome: Adalberto Soares da Silva
Idade: 32 anos
Endereço: Guararema
Escolaridade: Superior (Filosofia e Teologia)
Ocupação: Padre em Guararema desde abril de 2006
Data: março de 2006
1) Como vê atualmente a devoção a São Longuinho em Freguesia?
Crescendo cada dia mais. Só o fato de irem à Igreja de São Longuinho já é
alguma coisa para os devotos, para as pessoas que vêm a Guararema em busca
do santo.
2) Por que as pessoas procuram por São Longuinho?
Por tudo. Por doenças, por problemas familiares, finanças. Estão até
deixando pertences para São Longuinho.
3) O que contribuiu para o aumento da procura por São Longuinho? Quais os
episódios, os acontecimentos que levam a esta procura?
Uma “sede de Deus”, uma busca constante. A fé em São Longuinho tem
que ser peneirada. Não é ele quem faz, é Deus. São Longuinho é um passo.
4) Quais as pessoas mais envolvidas em propagar a devoção a São Longuinho
em Freguesia?
D. Luíza e Sr. Vicente.
5) Estas pessoas são devotas de São Longuinho?
Sim.
6) Outras pessoas, fora do bairro Freguesia, também propagam a devoção?
Acredito que, atualmente, toda a população de Guararema.
7) Como a devoção a São Longuinho está sendo vista pela Diocese? O que as
pessoas ligadas diretamente à Igreja pensam sobre a devoção a São Longuinho?
É um forte apelo popular.
292
8) Quais as pessoas, na sua opinião, deveriam ser entrevistadas para participar
desta pesquisa?
As pessoas da comunidade, principalmente D. Luíza e Sr. Vicente.
9) Gostaria de falar mais sobre a devoção a São Longuinho em Freguesia?
São Longuinho é simples. É uma realidade que foge de um estudo maior.
Uma geração inteira cresceu vivendo esta realidade e assim foi multiplicando isso,
passando a devoção a São Longuinho para outra geração.
São Longuinho é muito especial. É “sinal de Deus” na vida das pessoas.
Atualmente a Igreja está fechada; está interditada desde 14 de abril. Celebro
missa em Freguesia no terceiro sábado do mês, cujo altar é montado em um
palco, na praça (ao lado do banheiro). A restauração da Igreja vai permitir o
surgimento de um santuário. São Longuinho é um forte apelo popular.
4 – Padre João Rosa
Nome: João Rosa (atuou em Freguesia de 1958 a 1969)
Idade: 75 anos
Endereço: Paróquia de São José Operário Mogilar - Mogi das Cruzes – SP Fone:
4790-3061
Profissão ou ocupação: padre
Religião: Católica
1) Como vê atualmente a devoção a São Longuinho em Freguesia?
Atuei em Freguesia no período de 01/01/58 a 17/07/69, um período de 11
anos. Nesta Igreja, não tomei conhecimento da imagem de São Longuinho. Só há
três ou quatro anos, tomei conhecimento do aparecimento de tal imagem.
2) Por que as pessoas procuram por São Longuinho?
São Longinus tem uma vida tecida de lendas. Esteve presente no Calvário
de Cristo, perfurou o lado de Jesus com uma lança, se converteu... Com
facilidade, se aumenta uma devoção.
3) O que contribuiu para o aumento da procura por São Longuinho? Quais os
episódios, os acontecimentos que levam a esta procura?
A mídia faz muita coisa. Tem muito interesse por trás... A TV diária
divulgou o roubo do oratório, a Festa de São Longuinho. No período em que atuei
em Freguesia, não vi a imagem de São Longuinho no oratório...
293
4) Quais as pessoas mais envolvidas em propagar a devoção a São Longuinho
em Freguesia?
D. Luíza incrementa a devoção.
9) Gostaria de falar mais sobre a devoção a São Longuinho em Freguesia?
Já tentei recordar várias vezes sobre a presença desta imagem na Igreja
de Nossa Senhora da Escada na época em que lá atuava e não me lembro da
existência dela... Não me lembro da procura de pessoas por São Longuinho em
Freguesia. Em 06/04/58, Freguesia não tinha eletricidade ainda. Foi inaugurada a
luz, consta de ata, no livro de registro da Igreja (Tombo). Já reli estas atas e em
nenhuma está São Longuinho, a chegada de pessoas à procura da imagem.
(Buscou o livro de Tombos e, juntos, lemos as anotações e não encontramos
nada a respeito da presença da imagem de São Longuinho na Igreja de Nossa
Senhora da Escada).
Obs.: Entrevistamos o padre João Rosa a pedido do Bispo Dom Airton.
5 – Bispo da Diocese Mogi das Cruzes
Nome: Dom Airton José dos Santos
1) Período que assumiu a Diocese de Mogi das Cruzes.
Ano de 2004.
2) Qual o significado de São Longuinho? Por que ele é importante?
A devoção existe no contexto da Igreja Católica, vem do período colonial:
devoção portuguesa, espanhola. O leste europeu tem a devoção a São
Longuinho. Existe uma diferença entre fé e devoção.
Fé – não pertence ao meu íntimo. É um patrimônio passado. Fé é passado.
Devoção – é pessoal: a minha devoção é minha. Citou o exemplo do pai, devoto
de São Judas Tadeu, que nunca obrigou os filhos a serem devotos de seu santo,
a o acompanharem na sua devoção..., mas os obrigava a irem à missa aos
domingos.
A devoção é subjetiva (é a minha experiência religiosa). Se exarceba a
minha experiência religiosa, a devoção ocupa o lugar da fé. A minha devoção eu
posso ter, a minha fé não posso radicalizar e nem colocar em nível subjetivo.
3) Como o senhor vê o desenvolvimento da devoção em Freguesia?
294
Devoção aos santos não é fim, é meio. Devem-se usar técnicas – não se
rejeita, não se despreza. Sentimento religioso é sentimento humano. Para
expressar a fé, eu preciso do sentimento religioso. Por isso que eu falo que o
padre tem que usar as técnicas adquiridas para trabalhar com a devoção sem
rejeitar. O padre tem que ser atuante.
4) O que contribui para o aumento da devoção por São Longuinho em Freguesia?
Existe um ofuscamento da história (uma miopia). Nesta época de
instabilidade econômica, tudo está confuso, o sagrado não é sagrado, o profano
se torna sagrado. A sensibilidade desperta e as pessoas começam a buscar o
sagrado, as devoções aumentam.
5) Quais as pessoas mais envolvidas em propagar e em apoiar a devoção a São
Longuinho?
A propagação é de modo popular, os devotos propagam sua devoção. É
importante você conversar com o padre João, de 78 anos, que atuou muitos anos
em Freguesia e hoje reside em Mogi.
6) Qual a posição da Diocese frente à devoção a São Longuinho?
A fé é progressiva. A devoção conduz à fé. A devoção nem sempre tem
raízes históricas, é realização pessoal. Mistura misticismo, folclore. A Igreja
precisa perceber a dimensão da fé por trás disso (da devoção a São Longuinho) –
o que traz elementos para a evangelização.
Obs.: - um centurião poderia ser cego e aleijado?
- devoção conduz à fé e motivação cristã.
- pessoa humana não tem santidade. Santos são considerados depois que
morrem.
Devoção popular: a Igreja tenta dar fundamento cristão. Respeito pela
cultura... São Paulo (apóstolo) se aproveitou da
religiosidade popular para evangelizar.
Evangelizar colocando o elemento cristão, purificando.
Deve-se trabalhar a devoção em Freguesia, tendo em
vista Jesus. Não ofuscar isto.
295
II - Entrevista com a pessoa que encontrou a Imagem
Data: julho/2003
Nome: Vicente Antonio Matias Nogueira
1) Como encontrou a imagem de São Longuinho?
Eu era ajudante de marceneiro. Trabalhava com o Miranda (falecido).
Encontramos ela lá no fundão, dentro de um armário, sem as pernas, com os
dedinhos partidos. Miranda falou: “deixa isso aí, que coisa feia..” E jogamos nas
caixas que iam para o lixo. Eu falei: e se for algum santo. Miranda respondeu:
“feio deste jeito”. Começamos a rir. Naquela noite não dormimos nada e Miranda
via o santo fazendo careta para ele, apertando os olhinhos como se o chamasse.
Cedinho ele me chamou e contou que ficou a noite toda acordado, e eu também
falei que não tinha dormido: o santo também fez careta e apertou os olhinhos (Sr.
Vicente mostrou como o santo fez).
Miranda falou: “Vamos consertar a imagem” e assim fizemos.
2) E como vocês chegaram à conclusão de que a imagem era de São Longuinho?
A imagem ficou no fundão, o padre não deixava ela vir para a Igreja . No
início, ninguém sabia quem era. Começaram a pedir ao santo quando perdiam
alguma coisa e na hora o santo achava. Dona Luíza disse que só podia ser São
Longuinho.
3) E como o santo veio parar na Igreja?
Ele ficava no fundão, aos poucos minha sogra veio trazendo ele para
dentro; o padre brigava muito, não queria. Do fundão ele veio para o cômodo da
escada, as pessoas iam lá para rezar e pedir ao santo. Nesta época já vinha
gente de Jacareí, das redondezas para fazer pedidos para São Longuinho. O
padre não entendendo e não gostando do santo. Um dia, minha sogra pôs ele
dentro da Igreja, e aos poucos, ele foi chegando, chegando, até que veio para o
altar. E hoje merece até reportagem.
4) O senhor é devoto dele?
Muito. Rezo todo dia pra ele. Estou sempre com ele na Igreja. Venho à
Igreja todos os dias dar uma olhada em São Longuinho, cumprimentar ele. Só não
venho quando estou doente ou um caso bem sério para resolver. Quando não
venho, fico esquisito, parece que está faltando alguma coisa.
5) Tem imagem dele em casa?
296
retratos.
6) São Longuinho é invocado em quais situações?
Sempre que se precisar de dinheiro, doenças, achar coisas perdidas, para
qualquer coisa, é só rezar com fé.
7) Pode dizer quais promessas já fez?
Muitas. Quase tudo que tenho ele me deu.
8) Como pagou as promessas?
Três pulinhos e rezando muito.
9) O que pessoas ligadas diretamente à Igreja pensam sobre a devoção a São
Longuinho?
Só padre Geraldo aceita, o outro nem pensar. Fica muito bravo.
10) Gostaria de falar mais alguma coisa a respeito de São Longuinho?
É um santo muito bom.
Observação:
Sr. Vicente estava muito emocionado de ser entrevistado.
Quando alguém se aproximou ele pediu: “Não atrapalhe que estou fazendo
reportagem. Agora não posso ser atrapalhado. Eu que achei o santo”.
Data: novembro/2006
1) Como encontrou a imagem?
Despedaçada em um depósito atrás da igreja, que começou a ser
restaurada no dia seguinte, por um marceneiro.
2) Como (quando) começou a ida de devotos de outras localidades a Freguesia?
Devagar, com o passar dos anos, foi crescendo a romaria aqui para
reverenciar o santo.
3) Como a imagem foi para o altar principal?
Colocada na Igreja pela zeladora que teve que enfrentar a resistência do
padre que não considerava São Longuinho santo.
4) Como vocês chegaram à conclusão de que era uma imagem de São
Longuinho?
Reconhecemos porque já conhecíamos a história.
5) O que as pessoas ligadas diretamente à Igreja pensam sobre a devoção a São
Longuinho em Freguesia?
Somente o padre mostrou resistência no início.
297
6) O que, no momento, está contribuindo para o aumento da procura por São
Longuinho em Freguesia?
Os milagres realizados por ele, que são transmitidos de boca em boca.
7) Quais as pessoas que deveriam participar desta pesquisa?
A zeladora da igreja porque tem mais contato com a população.
8) Qual a sua relação (devoção) com São Longuinho?
Tenho muita fé. Consegui graça. Ele deu uma mãozinha na minha cirurgia.
9) O que mudou na sua devoção até hoje?
O fato das pessoas virem até aqui pagar promessas reforça a sua fé.
10) Como o senhor vê toda esta mudança em torno da devoção?
A quantidade de pessoas aumentou muito.
11) Gostaria de falar mais alguma coisa sobre a devoção a São Longuinho em
Freguesia?
O marceneiro relatou que sonhou com a imagem e que, por isso, iria
restaurá-la. Uma pessoa deu mil pulinhos em frente à imagem. As promessas são
sempre pagas desta forma. A Igreja recebe muitos turistas, porque é a mais
antiga da cidade considerada histórica (1652). O guia fala com os turistas sobre o
santo. Muitos que vêm aqui não conhecem a imagem. No dia da festa do santo,
há muitos ônibus de excursão.
298
III – Entrevista com a zeladora – D. Luíza
Data: julho/2003 (Início da pesquisa)
Nome: Luíza Lemos de Almeida
Idade: 83 anos
Endereço: Freguesia da Escada – Guararema – SP
Estado Civil: viúva
Escolaridade: Primário incompleto
Profissão ou ocupação: zeladora da Igreja de Nossa Senhora da Escada há 28
anos
Religião: Católica
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
Desde criança. Tenho 80 anos e, desde os 3 anos de idade, escuto falar de
São Longuinho, mas não lembro de tudo. Minha mãe, minha avó tinham muito
para contar... Sempre gostei de Longuinho e tenho fé, muita fé.
2) Como encontrou a imagem?
São Longuinho vivia escondido no fundão de um armário, num lugar
escuro, porque um padre não gostava do santo (não citou o nome do padre). As
pessoas vieram de Jacareí para rezar um terço e, no local onde o santo ficava (na
atual sacristia), tinha muitos pombos e estes sujavam a imagem e, às vezes, até
as pessoas. Nesta ocasião, o santo já não estava no armário. Um dia, resolvi
enfrentar o padre e trouxe o santo para dentro da Igreja.
Miranda achou São Longuinho todo quebrado, caçoou do santo e não
conseguiu dormir. No dia seguinte, falou para os pedreiros que não ia trabalhar e
sim consertar São Longuinho. Teve ajuda de Antônio Matias (meu genro) e eles
foram à casa de Dona Nena Palácio, minha vizinha, e pediram para fazer um
vestido para o santo. Ele nunca mais ficou pelado, tem sempre alguém dando
uma vestimenta para ele.
3) Como (quando) começou a ida de devotos de outras localidades?
Há sete anos atrás, roubaram São Francisco de Assis. Em 2001, roubaram
o oratório de São Longuinho. Deixaram ele caído no chão. Arrombaram a porta da
Igreja. (Dona Luíza se emociona ao falar do santo caído no chão).
299
Os devotos aumentaram depois do roubo do oratório. Eles chegam à
Freguesia, procuram por mim, pulam e rezam perante a imagem. Alguns dão
muitos pulinhos e não três.
4) Qual o comportamento deles perante a imagem?
São vários: rezam, pulam, ofertam flores, jóias, bijuterias.
5) Quais as pessoas da comunidade que já alcançaram graças e poderiam
participar da pesquisa?
São muitas, mas não vou citar nomes.
6) As excursões à Igreja são programadas por quem?
Acho que a Pousada (referindo-se à Pousada Vale do Sonho). Não sei
responder, é complicado.
7) Qual a motivação, o objetivo, que leva a senhora a cuidar da imagem, das
roupas da capela, receber os devotos a qualquer hora?
Fé e devoção. Muita fé em São Longuinho.
8) A senhora que tem uma grande experiência como líder dessa comunidade,
quais as motivações principais que levam as pessoas a comparecerem à Igreja,
fazer e pagar promessas?
Por ser São Longuinho muito bom. Ele atende tudo que é pedido com fé;
se a pessoa acreditar nele, vai conseguir tudo.
9) A Igreja (o padre) apóia tal devoção?
Padre Geraldo sim, o outro não.
10) Como surgiu a imagem de São Longuinho franciscano?
São Longuinho não é franciscano. Esta imagem foi inventada por algumas
pessoas, tanto que elas trazem imagem e deixam elas na Igreja, ao ver que são
diferentes da imagem do Oratório, que é a verdadeira. Padre Geraldo mandou
fazer a imagem de São Longuinho como guarda e o santo gostou...
11) Gostaria de falar alguma coisa mais a respeito de São Longuinho?
“Na hora de crucificar Jesus, os bandidos falaram: Vamos mandar
Longuinho porque ele não enxerga mesmo, e ele foi, espetou a lança e jorrou o
sangue” (Relato de Dona Luíza para dois grupos de excursão vindos de São
Paulo em 23/07/2003).
“A imagem do santo muda de expressão quando ele não gosta de alguém
ou de alguma coisa. Ele fez careta para xxx”. (Dona Luíza conta que, uma vez,
300
ela estava vestindo o santo, chegou uma professora e ficou conversando com ela.
De repente, a professora gritou e disse que São Longuinho estava fazendo careta
para ela, e Dona Luíza, olhando para a imagem, concordou. Segundo a zeladora,
ele fez careta porque estava pelado, e ele estava acostumado a ficar pelado só
com ela que cuida dele há 36 anos. Hoje ela está com 80 anos).
Data: março de 2006/ Festa de São Longuinho
1) Como se tornou devota de São Longuinho?
Desde criança. Desde os 3 anos de idade escuto falar de São Longuinho,
mas não lembro de tudo. Minha mãe, minha avó falavam muito nele. Tenho muita
fé em São Longuinho.
2) Como foi encontrada a imagem?
São Longuinho vivia escondido em um armário, num lugar escuro. Miranda
e Vicente encontraram São Longuinho quebrado, caçoaram do santo e não
conseguiram dormir. No dia seguinte, resolveram consertar a imagem do santo.
3) Como se reconheceu que a imagem era de São Longuinho?
As pessoas perdiam objetos e eu mandei rezar para São Longuinho e, logo
em seguida, achavam o que tinham perdido.
4) Como São Longuinho foi para o altar?
São Longuinho vivia escondido na sacristia ou nos fundos da Igreja. As
pessoas vieram de Jacareí para rezar um terço e, no local onde o santo ficava (na
atual sacristia), tinha muitos pombos e estes sujavam a imagem. Um dia, resolvi
enfrentar o padre (que não gostava do santo) e trouxe o santo para dentro da
Igreja.
5) Como (quando) começou a ida de devotos de outras localidades para
Guararema?
Sempre vieram em Freguesia à procura de São Longuinho. Mas, em 2001,
roubaram o oratório de São Longuinho, depois que arrombaram a porta da Igreja.
Os devotos aumentaram depois do roubo do oratório. Eles procuram por mim, que
abro a Igreja para eles.
6) Quais as pessoas mais envolvidas atualmente com São Longuinho?
Cleide e a mãe Luíza e eu. Conto realmente com elas. Os outros aí querem
aparecer.
301
7) Estas pessoas ajudam a propagar tal devoção?
Eu tenho fé em São Longuinho e propago a devoção.
8) Pessoas que não residem em Freguesia apóiam e divulgam também a
devoção?
Não sei.
9) A Igreja vai ser restaurada em breve. Como será este processo? A senhora
está gostando?
Estou gostando. A Igreja estava precisando mesmo, mas, quando o
patrimônio mete o nariz, muita coisa muda: não pode isso, não pode aquilo... O
padre aí fala para eu ter calma, que o patrimônio mandou, o patrimônio falou...
Não posso mais lavar a Igreja, está proibido (uma vez por mês, ela, índia Luíza e
Cleide lavavam a Igreja toda, jogando água e esfregando). Agora é só varrer e,
assim mesmo, de leve. A Igreja está com cheiro, e eu não posso fazer nada...
estou proibida.
10) O que, no momento, está contribuindo para o aumento da procura por São
Longuinho em Freguesia? Quais os episódios, acontecimentos...
A fé mesmo dos devotos. Nossa Senhora tem em toda igreja. São
Longuinho não. Por isso a procura tão grande por ele.
11) Quais as pessoas que deveriam ser entrevistadas para participar desta
pesquisa?
(Não respondeu).
12) Qual a sua relação com São Longuinho?
Há 15 dias, fui entrevistada pela TV Cultura de São Paulo. Cada vez mais,
os ônibus chegam em Freguesia à procura de São Longuinho, que agora tem
segurança 24 horas. E todos procuram por mim, que tenho muita fé em São
Longuinho.
13) Do começo até hoje, mudou algo na sua devoção? O quê?
Mudou para melhor. Tudo que peço eu alcanço, pois peço com fé.
14) Gostaria de falar mais alguma coisa sobre a devoção a São Longuinho em
Freguesia?
Durante a reunião da restauração, a minha vista doeu, não estava
enxergando e saí. Fiquei nervosa porque o pessoal do patrimônio quer fazer tudo
do jeito deles. O padre só sabe falar que o patrimônio falou, “tem que ser assim
302
porque o pessoal do patrimônio disse...” sabe de uma coisa, muita coisa está
mudada aqui. Pronto. Falei. Ele pediu para eu não falar, mas eu não minto, não
gosto de mentiras. Ele deu ordens e agora se mandou e deixou tudo por conta do
patrimônio... e foi cuidar da vida dele, bem longe daqui, não precisa mais daqui.
IV – Entrevistas com algumas pessoas da Pastoral
1 – Coordenadores da Pastoral
Nome: Ângela
Estado Civil: Casada
Escolaridade: 1º grau completo
Profissão ou ocupação: doméstica
Religião: católica
Nome: Carlos
Idade: 39 anos
Endereço: Rua Brasília Freire 751 – Freguesia da Escada – Guararema – SP
Estado Civil: Casado
Escolaridade: 1º grau completo
Profissão ou ocupação: montador industrial
Religião: católica
Data: julho/2003
1) Muitas pessoas comparecem à Igreja de Nossa Senhora da Escada devido a
São Longuinho?
Sim.
2) Como se comportam perante a imagem?
Três pulinhos, algumas dão três gritinhos. Também rezam.
3) Na sua opinião, quais as principais motivações que levam as pessoas a
comparecerem à igreja, fazer e pagar promessas?
Acreditam em São Longuinho não só para objetos perdidos, mas em
qualquer situação difícil, por isso fazem promessas.
4) Como surgiu tal devoção na Freguesia?
Começou depois do roubo do oratório. Houve muita divulgação do roubo e
da cidade.
5) A Igreja (o padre) apóia tal devoção?
303
Têm receio de responder. Estão na comunidade só há três anos e as
pessoas contam as histórias de maneira diferente. Preferem que Dona Luíza
responda do jeito dela. “Procure a Dona Luíza, ela é amiga do santo”.
6) Gostaria de falar mais alguma coisa a respeito de São Longuinho?
A festa de São Longuinho é no dia 15 de março. Em 2003, foi a primeira
vez que a comunidade organizou uma festa para ele, com o apoio do padre
Geraldo. Seis mil pessoas, mais ou menos, compareceram, enchendo a praça e a
igreja. As pessoas vinham em fila até onde o santo estava, rezavam, davam
pulinhos, alguns davam gritinhos. Estávamos rezando o terço e as pessoas
pulando e dando gritinhos. O santo saiu na procissão. Na festa, venderam
camisetas (cem), fitinhas, medalhinhas, santinhos, cordões. Vendemos muito.
Acreditam que só católicos comparecem à Igreja por causa de São
Longuinho. Solicitam São Longuinho não só para objetos perdidos. Em qualquer
situação difícil, fazem promessa para ele. Com o convento dos franciscanos ao
lado da Igreja, os frades cuidavam da Igreja, dos santos... Dizem também que,
após a conversão, São Longuinho fez votos de pobreza e virou franciscano...
Teve lepra e ficou sem as pernas. Outros dizem que perdeu as pernas em
batalha, era um soldado.
Ouviram falar que São Longuinho é um santo espírita.
Planos dos coordenadores para a segunda festa de São Longuinho:
Adquiriram geladeira, freezer, dez panelas grandes; está prevista, na área dos
fundos da capela, a construção de uma grande cozinha, seis banheiros, tudo
cercado com alambrado por causa dos roubos, drogas, prostituição. Está prevista
também uma livraria, em um local onde era o convento e, abrindo uma parede,
ficará interligado à área da Igreja. Nesta livraria, uma secretária venderá imagens,
pulseiras, cordões, camisetas referentes a São Longuinho e Nossa Senhora da
Escada. Relatam que trabalham muito e a comunidade participa pouco. A Igreja
está em reformas.
Data: novembro de 2006
1) O que gostaria de falar sobre a devoção a São Longuinho em Freguesia?
Quais as pessoas mais envolvidas atualmente com São Longuinho?
D. Luíza.
304
Como a devoção está sendo divulgada?
Televisão, rádio, internet.
Como se decidiu que esta imagem era São Longuinho?
Batizaram a imagem de São Longuinho.
Quais os acontecimentos mais marcantes para o crescimento da devoção
em Freguesia?
A criação da primeira Festa de São Longuinho e, atualmente, a Igreja
aberta diariamente.
Quem deve ser entrevistado para participar da pesquisa?
João, Jorge, José Lopes.
Quais as pessoas que atualmente mais apóiam e divulgam a devoção a
São Longuinho?
D. Luiza.
Por que o santo é importante?
A fé das pessoas em relação a São Longuinho.
Como se desenvolveu a devoção aqui? O que foi mais importante?
A devoção é uma grande fé das pessoas com São Longuinho. Os ônibus
continuam chegando em Freguesia. Trezentas pessoas passam por aqui
aos domingos. Isso aqui (fala de Carlos) vai virar um santuário de São
Longuinho mais tarde.
João, morador da comunidade, ficou em coma 40 dias. Angélica e a mulher
dele entraram na Igreja de joelhos, rezando o terço: “Através da nossa fé,
conseguimos muita coisa. Ele é um intercessor que leva nossos pedidos a
Deus e, através dele, recebemos a graça (sic – fala de Ângela).
Relataram que padre Geraldo foi a Roma buscar a oração do santo. Jorge
foi quem “inventou” (sic) a Festa de São Longuinho. Ele fumava muito e
pediu a São Longuinho para ajudá-lo a largar o cigarro. Parou de fumar,
ficou mais disposto. A primeira Festa de São Longuinho foi em 2001.
Relataram também o fato de a moto de Carlos ter desaparecido e, após
sugestão do padre Geraldo, rezou e pediu para São Longuinho, e logo a
moto foi encontrada.
São Longuinho foi um soldado romano e, mais tarde, franciscano.
305
Relatam que uma pessoa caiu na Igreja, de joelhos e falou: “as minhas
enfermidades ficaram todas aqui”. A devoção é assim, uma grande fé das
pessoas com o santo.
As telhas da Igreja foram feitas nas coxas dos escravos. D. Pedro II
começou a se hospedar aqui, com pena dos escravos. Estamos divulgando
São Longuinho em Lambari (cidade onde moram os familiares do casal).
2 – Messias
Nome: Messias Arruda Marcondes
Idade: 41 anos
Endereço, telefone: Rua Casimiro de Abreu 72 – Itapema – Guararema. Fone:
4693-5756
Estado Civil: Casado
Escolaridade: -
Profissão ou ocupação: Analista de qualidade
Religião: Católica
Data: 11/11/2005 (Festa de Nossa Senhora da Escada)
1) O que gostaria de falar sobre a devoção a São Longuinho em Freguesia?
Quais as pessoas mais envolvidas atualmente com São Longuinho?
D. Luíza.
Como a devoção está sendo divulgada?
Panfleto, rádio, site da paróquia falando sobre São Longuinho.
Como se decidiu que esta imagem era São Longuinho?
Quais os acontecimentos mais marcantes para o crescimento da devoção
em Freguesia?
Festa de São Longuinho – presença de três mil pessoas em média.
Quem deve ser entrevistado para participar da pesquisa?
D. Margarida e José Lopes.
Quais as pessoas que atualmente mais apóiam e divulgam a devoção a
São Longuinho?
GETUR (turismo)
Por que o santo é importante?
Fé.
Qual a sua relação com o santo?
306
Uma grande devoção em relação a São Longuinho.
Como se desenvolveu a devoção aqui? O que foi mais importante?
A devoção a São Longuinho cresceu muito, não só em Guararema, mas no
Brasil todo.
A Igreja apóia a devoção, mas não veste a camisa.
Observação: Relata que, até janeiro ou fevereiro, um documento será elaborado
sobre a imagem de São Longuinho. Está trabalhando em uma pesquisa em
relação à imagem do santo. Acredita que tal imagem tenha sido feita por alguém
em devoção a São Longuinho e que essa pessoa a tenha trazido para Freguesia.
Informa que o padre está fazendo um grupo de estudos para refletir sobre o que
está acontecendo com o aumento do número de pessoas em busca de São
Longuinho. Refere que as pessoas estão indo à Freguesia por São Longuinho e
não por Nossa Senhora da Escada.
Todos estão preocupados. A Igreja é um patrimônio histórico e não pode
mudar de nome. Já se pensou em criar um anexo para São Longuinho, mas
muitos não concordam em tirar o santo do altar. Disse que precisam de dados
científicos e assim estão estudando muito. Relata que padre Geraldo tem muito
material sobre São Longuinho.
3 – Jorge Alberto
Nome: Jorge Alberto Ferreira Santos
Estado Civil: casado
Escolaridade: Superior (engenheiro mecânico)
Profissão ou ocupação: microempresário
Religião: Católica – Pastoral da Fé e da Cidadania
Data: 10/03/2006
1) O que gostaria de falar sobre a devoção a São Longuinho em Freguesia?
A Festa de São Longuinho está maior que a Festa de Nossa Senhora da
Escada. A devoção está sendo divulgada pelos fiéis mesmo. Eles vêm em
Freguesia mostrar a sua devoção a São Longuinho. Deve-se trabalhar em
torno da devoção e fé. A devoção está começando. Falta empenho da
Diocese, da paróquia para propagar mais a devoção a São Longuinho. A
307
paróquia deveria ter uma participação maior, pois a maior festa do
município é a de São Longuinho.
Quais as pessoas mais envolvidas atualmente com São Longuinho?
Os devotos.
Como a devoção está sendo divulgada?
Pelos fiéis mesmo. Eles vêm a Freguesia mostrar a sua devoção a São
Longuinho.
Como se decidiu que esta imagem era São Longuinho?
Quais os acontecimentos mais marcantes para o crescimento da devoção
em Freguesia?
É a devoção mesmo, a fé das pessoas que alcançaram graças e divulgam.
Quem deve ser entrevistado para participar da pesquisa?
Carlos, Ângela, Gonzaga, Larissa.
Quais as pessoas que atualmente mais apóiam e divulgam a devoção a
São Longuinho?
Os fiéis.
Por que o santo é importante?
O país está carente, precisando de devoção.
Qual a sua relação com o santo?
Como se desenvolveu a devoção aqui? O que foi mais importante?
Toda a comunidade e parte dos trabalhos realizados trabalham em cima da
fé. Mas a comunidade nunca parou para pensar como vai ficar a vida da
comunidade com o santuário de São Longuinho aqui.
No início, o trabalho da pastoral era motivar a comunidade para a
“Festa de São Longuinho”. A paróquia dá a sustentação, mas é a
comunidade que tem a iniciativa maior.
Em Freguesia, tem a devoção a Nossa Senhora da Escada e a
devoção a São Longuinho e, atualmente, a Festa maior é a de São
Longuinho. Estou, há seis anos, em Guararema e participei quatro anos
das festas de São Longuinho. Na primeira festa, a própria comunidade
elaborou todas as coisas a serem colocadas à venda na festa (houve
realmente um trabalho da comunidade). Hoje, isso não acontece. A Festa
de São Longuinho é uma festa religiosa e não pode ser tomada por grupos
308
de pessoas com outros objetivos. O importante em uma festa dessa é o
trabalho da comunidade, fazendo as imagens, os demais artigos religiosos,
pois, assim, estão trabalhando, desenvolvendo-se.
O objetivo não pode ser simplesmente arrecadação, isto porque é
uma festa popular, com pessoas de baixo poder aquisitivo. No Brasil, a
população é muito pobre e é necessário ter muitos santuários para a
pessoa poder demonstrar sua fé. O santuário reforça que o que é mais
ingênuo necessita de uma fé, de uma religião para suportar a aridez da
vida dele (sic).
A intenção é separar a parte religiosa da parte econômica:
1) Igreja, a parte religiosa, devoção, fé (quanto mais pobre mais fé, mais
devoção e necessidade de praticar).
2) GETUR, a parte econômica, apenas contribuir sem interferir nas
decisões.
Observação: Em 2005, Jorge foi coordenador da terceira Festa de São
Longuinho, junto com Carlos, padre Geraldo e Gonzaga. Na ocasião, nos
procurou e falou que o objetivo era a criação do santuário de São
Longuinho em Freguesia. Para isso, foi estudado que seria feito em quatro
etapas:
1) Divulgar São Longuinho e a Igreja Nossa Senhora da Escada
(Conscientizar a comunidade para criar artigos religiosos).
2) Popularizar a Festa (colocar em TV, rádio local).
3) Nível nacional – divulgar através da BAND, foto.
4) Projeto de santuário – manter a Igreja aberta diariamente;
– segurança na imagem;
– presença dos religiosos junto à imagem de
São Longuinho.
309
V – Entrevistas com pessoas influentes na comunidade
1- Nome: Lourdes dos Santos Naquedo
Idade: 73 anos
Endereço, telefone: Freguesia da Escada
Estado Civil: viúva
Escolaridade: Superior (pedagoga e Estudos Sociais)
Profissão ou ocupação: professora/diretora (aposentada)
Religião: Católica
Data: julho/2003
1) Muitas pessoas comparecem à Igreja de Nossa Senhora da Escada devido a
São Longuinho?
Sim. Por Nossa Senhora, pela Igreja antiga tombada e, por isso,
Guararema é uma cidade cativante, acolhedora com suas três igrejas: Nossa
Senhora da Ajuda, dos Remédios e Nossa Senhora da Escada. Guararema
começou na Freguesia da Escada. Muitas vezes, as pessoas vêm direto por São
Longuinho. Tomam conhecimento no local das excursões.
2) Como se comportam perante a imagem?
Eu dava catecismo na Igreja. Via as pessoas trazendo flores, dando os três
pulinhos, rezando. Ele também recebe jóias, bijuterias, roupas, relógios. Ouvi falar
que iam fazer uma rifa ou bingo com os presentes. Vi pessoas vindo de táxi das
redondezas (Brasília também).
3) Na sua opinião, quais as principais motivações que levam as pessoas a
comparecerem à igreja, fazer e pagar promessas?
Ele é o protetor das coisas perdidas. É só ter fé que se consegue tudo.
4) Como você descreveria a relação do devoto com o santo?
É uma relação muito bonita. Eles visitam o santo, trazem presentes para
ele. Nota-se muita emoção no devoto. Eles realmente gostam de São Longuinho.
5) Como surgiu tal devoção na Freguesia?
É muito antiga. Em Roma, tem a devoção e, aqui na Freguesia, os antigos
foram passando para os mais novos.
6) A Igreja apóia tal devoção?
Muito. Padre Roberto retirou o santo da sacristia e trouxe o santo para a
Igreja.
310
7) Os ônibus que trazem devotos de outras comunidades à Freguesia são
programados por quem?
Por agência do local de origem.
8) O que a imagem de São Longuinho passa a você? E a devoção que existe na
Freguesia e está crescendo?
Passa muita fé. A devoção aqui está aumentando cada dia mais. Padre
Geraldo organizou as comunidades, todas têm seus coordenadores.
9) Como surgiu a imagem de São Longuinho franciscano?
São Francisco é considerado um santo popular, um santo amigo, e São
Longuinho é visto assim.
10) Gostaria de falar mais alguma coisa a respeito de São Longuinho?
“Sim, Guararema é uma cidade cativante, acolhedora e possui três igrejas:
Nossa Senhora da Ajuda, Nossa Senhora dos Remédios e Nossa Senhora da
Escada. Guararema começou na Freguesia da escada.
São Longuinho que continue a devoção a ele. Ele está numa igreja de
muita importância, cuja comunidade tem muita fé, muita devoção. A comunidade
da Freguesia é formada por gente boa, gente humilde. Padre Roberto tem muito
respeito por essa comunidade. Freguesia é ‘a casa da mãe’. Sempre acolhe mais
um. Um passa a fé para o outro. Freguesia é o berço de Guararema”.
Data: 11/03/2006
1) Como a imagem de São Longuinho foi posta no altar?
Padre Roberto encontrou a imagem em uma sala fechada e, mais tarde,
ela foi para o oratório.
2) Como São Longuinho era reverenciado antes da descoberta da imagem?
A imagem foi feita por um santeiro da região que, com certeza, era devoto
de São Longuinho.
3) Como se decidiu que a imagem achada era de São Longuinho?
Acredita que padre Roberto assim identificou, pois ele ficou 24 anos aqui
em Freguesia.
4) Quais as pessoas mais envolvidas atualmente com São Longuinho?
Os devotos.
5) Como a devoção a São Longuinho está sendo propagada?
311
Através da Festa que é muito divulgada.
6) Quais as pessoas que deveriam ser entrevistadas para participar da pesquisa?
Cecília.
7) Significado de São Longuinho. Por que ele é importante?
Ele é muito conhecido pela causa das coisas perdidas. Acredito que,
atualmente, pela propagação da festa a ele, as pessoas vêm até aqui para
conhecê-lo.
8) Qual a sua relação com São Longuinho?
Fé em São Longuinho e muito respeito. Amo a história dele.
9) Como vê o desenvolvimento da devoção aqui?
Pela devoção mesmo. Um devoto passando para o outro a sua devoção. O
furto do oratório foi pela devoção mesmo, pelo crescimento da devoção e não o
contrário, que a devoção cresceu a partir do roubo.
10) O que fez com que a devoção crescesse?
A fé.
11) Gostaria de falar mais alguma coisa sobre a devoção a São Longuinho em
Freguesia?
A imagem de São Longuinho foi esculpida diferente, de acordo com a fé do
santeiro. A restauração foi uma “bênção”. Há muitos anos, estamos esperando
uma reforma oficial. Esta é uma Igreja que deve ser preservada. Faz parte de um
acervo de outras igrejas também tombadas.
2 - Jurandir Ferraz de Campos (Historiador, Secretário Municipal da Cultura e
Meio Ambiente de Mogi das Cruzes)
Data: julho/2003
1) Muitas pessoas comparecem à Igreja de Nossa Senhora da Escada devido a
São Longuinho?
Sempre houve tradição em torno de São Longuinho na região. Em 75, 76,
ia muito à Freguesia e já havia esta tradição. A divulgação com o roubo do
oratório foi grande e os fiéis e curiosos começaram a procurar Guararema. Para
os intelectuais, era mais em torno de brincadeira. “Vamos rezar para São
Longuinho e dar três pulinhos”; para o povo, era fé mesmo, vinha de dentro.
2) Como surgiu a imagem na Freguesia?
312
A imagem está na igreja desde a época de Pituba. A imagem não foi
achada, ela estava guardada junto com outros pertences da igreja. Ficou
esquecida como outras coisas também ficaram. A Igreja passou por um longo
período até ser restaurada e tudo o contado pela população é folclore: a imagem
estava no fundo de um armário como outras coisas também estavam e ainda
estão...
3) Na sua opinião, quais as principais motivações que levam as pessoas a
comparecerem à Igreja, fazer e pagar promessas?
Sempre houve tradição em torno de São Longuinho, sempre apareciam
pessoas das redondezas procurando ajuda do santo quando se perdia alguma
coisa. “Não temos explicações, mas, pedindo alguma coisa com fé, alcançamos”.
4) Pessoas de outras crenças vão à Igreja procurando por São Longuinho?
Acho que São Longuinho é um santo de tradição católica.
5) O que sabe sobre a imagem de São Longuinho franciscano?
Acho que tem muita lógica a imagem de São Longuinho franciscano. Os
franciscanos eram os zeladores da Igreja e, conseqüentemente, deveria haver
uma grande ligação com o santo. Este é um ponto que acho muito provável.
6) Esteve presente à festa de São Longuinho em 2003?
Não. Pretendo, se possível, estar presente na próxima. Dizem que a festa
foi um sucesso. A comunidade está trabalhando para divulgação e o comércio já
está presente. Atualmente, não tenho muito tempo; tenho muita vontade de
examinar a imagem e estudá-la.
7) Tem conhecidos que rezam para São Longuinho?
Tenho, mas dão os pulinhos com muita gozação. Não dá para perceber se
é devoção ou brincadeira.
8) São Longuinho é invocado em quais situações?
Os pedidos feitos são para encontrar objetos perdidos. Com a graça
alcançada, Três pulinhos são dados.
9) Gostaria de falar mais alguma coisa sobre São Longuinho?
São Longuinho vem do latim Longinus, soldado romano que, na
crucificação, fincou a lança em Jesus. Se converteu, se arrependeu. Ele era um
soldado, um guerreiro, e a imagem como franciscano vem dos esotéricos, do
povo, do folclore.
313
3 - João Augusto Figueiredo da Silva (Ex-assessor da Secretária de Cultura de
Guararema) – pessoa que fabricou imagens de São Longuinho semelhantes à do
oratório.
Data: 16/11/2003
Depoimento: São Longuinho é uma devoção popular. Alguém trouxe esta
imagem à Igreja, talvez pagando uma promessa e lá ela ficou. A Igreja passou por
reformas, ocasião em que as imagens e as peças que estavam no altar foram
guardadas. Após a reforma, as imagens e os outros objetos voltaram para os
lugares. Provavelmente, esqueceram dessa imagem e ela continuou guardada até
que foi encontrada. Tudo indica que foi feita por um santeiro que residia próximo a
Freguesia, o Pituba. O rosto dela é de argila, o corpo e a cabeça de madeira. Ela
é muito semelhante às imagens de Pituba. O São Longuinho franciscano é o
santo após a conversão.
Coloquei na internet que Guararema é o único local que tem a imagem de
São Longuinho no altar (isso para ver se alguém ia se manifestar ao contrário,
mas isso não ocorreu).
Já tenho pronto matrizes para fabricar a imagem do altar no tamanho
médio e pequeno, mas estou aguardando a decisão do padre Geraldo. Este pediu
um prazo e solicitou que se fizesse um estudo científico, procurando maiores
informações sobre o santo. Padre Geraldo esteve em Roma, trouxe material de lá
e também está pesquisando sobre São Longuinho.
Obs.: Relata Figueiredo que esta imagem é marketing para a cidade. Há
pouco tempo, encontrou santinho de São Longuinho com esta imagem de
Guararema, mas referindo-se a Matosinhos. Ele falou para Padre Geraldo que
“eles estão perdendo terreno”. Pretende comercializar a imagem na Festa de São
Longuinho de 2004 (vender a imagem).
Para ele, São Longuinho foi feito por Pituba, como pagamento de
promessa, como retrato de um devoto, e esta imagem veio se tornar motivo de
devoção na Freguesia.
4 – Professora
Data: 12/03/2004
314
Depoimento:
Muitas pessoas comparecem na Igreja para ver São Longuinho. Perante a
imagem, rezam e pulam. É fé e também “medo” do santo. A devoção aumentou
depois do roubo. Tenho muito receio de falar porque moro aqui, a situação está
muito delicada por aqui.
A imagem foi trazida para dentro da Igreja e não se sabe de onde que veio
esta imagem. Muitas coisas estão acontecendo sem explicações.
“Qual a origem desta imagem?” Dona Luíza diz ser de São Longuinho. Ela
é uma pessoa muito respeitada e estimada na comunidade e todos a obedecem,
sabem que ela não mente. Mas muita coisa está acontecendo por aqui. Temos
receio de falar e achar que somos loucos. A imagem muda de expressão e
ocorreu um fato que vamos contar para você (Chamou Ângela, coordenadora da
pastoral, a neta da índia Luíza e contaram): “estavam arrumando a Igreja nos
preparativos para a festa de São Longuinho e, do lado de fora, havia discussão se
ia ter a festa ou não. Se esta teria público devido às discussões e conflitos
ocorridos na comunidade (desentendimento do coordenador da pastoral e padre
Geraldo com o padre Roberto, e também conflito perante a possibilidade de o
coordenador se candidatar a partido político contrário ao atual). Barulhos
aconteceram na Igreja, a lâmpada próxima ao oratório de São Longuinho
começou a piscar e a expressão do santo realmente mudou, ele estava muito
bravo. Tiveram que chamar Dona Luíza e, depois de muito tempo, a situação
melhorou, “Dona Luíza conseguiu realmente acalmar o santo”.
5 – Nome: Larissa Lemos da Silva de Andrade
Estado Civil: Solteira
Escolaridade: Artes Plásticas
Profissão ou ocupação: estudante
Religião: Católica
Data: 11/03/2006
1) Como a imagem de São Longuinho foi posta no altar?
315
Por D. Luíza. São Longuinho ficava no gavetão e o padre Roberto não
queria ele na Igreja. D. Luíza enfrentou o padre e trouxe a imagem para a Igreja.
2) Como São Longuinho era reverenciado antes da descoberta da imagem?
A mãe sempre falou em São Longuinho, o santo das coisas perdidas. De
uns tempos para cá, São Longuinho é solicitado para tudo.
3) Como se decidiu que a imagem achada era de São Longuinho?
D. Luíza falou que era São Longuinho. As pessoas pediam e eram
atendidas quando perdiam algo.
4) Quais as pessoas mais envolvidas atualmente com São Longuinho?
D. Luíza, a sobrinha do Anísio (Calçadão de Guararema).
5) Como a devoção a São Longuinho está sendo propagada?
O GETUR está ajudando na divulgação. Aos domingos, umas trezentas
pessoas passam pela Igreja, pelo oratório de São Longuinho. Cada vez o número
é maior e estas pessoas levam santinhos e distribuem para outros que, mais
tarde, também vêm em Freguesia.
6) Quais as pessoas que deveriam ser entrevistadas para participar da pesquisa?
Ângela, Carlos, D. Luíza, Angélica.
7) Significado de São Longuinho. Por que ele é importante?
Jesus é importante, é fundamental na vida da gente. São Longuinho é
intermediário na terra.
8) Qual a sua relação com São Longuinho?
São Longuinho é uma tradição. Os mais velhos sempre falaram nele aqui
em Freguesia. Eu não tenho muita afinidade com ele.
9) Como vê o desenvolvimento da devoção aqui?
Aumentou muito devido aos próprios devotos e ao GETUR.
10) O que fez com que a devoção crescesse?
Os devotos e o GETUR.
11) Gostaria de falar mais alguma coisa sobre a devoção a São Longuinho em
Freguesia?
Há cinco anos, estou trabalhando na Igreja e observo que, na Festa de
Nossa Senhora da Escada, o pessoal vem para visitar São Longuinho. A devoção
a São Longuinho é mais dos turistas e a devoção a Nossa Senhora da Escada é
mais da comunidade.
316
A restauração “foi um sonho”, a melhor coisa que aconteceu não só para a
cidade, mas para São Paulo. Em 1940, já tinha um projeto; padre Roberto lutou
pela restauração e não conseguiu.
6 – Prefeito
Nome: André Luís do Prado
Estado Civil: Casado
Escolaridade: Superior completo (Ciência da Computação)
Profissão ou ocupação: prefeito
Religião: Católica
Data: 09/03/2006
1) Quais as pessoas mais envolvidas atualmente com São Longuinho?
D. Luíza, Helena, Vicente.
2) Como a devoção está sendo divulgada?
No momento, não está sendo divulgada; nada está sendo feito neste
sentido. Primeiro pensamos na necessidade de uma infra-estrutura, organizar
tudo, arrumar para depois pensar em divulgação. É necessário organizar os
hospitais também para prestar um atendimento adequado se necessário.
3) Quais os acontecimentos mais marcantes para o crescimento da devoção em
Freguesia?
A própria comunidade percebeu que São Longuinho está com tudo.
Pessoas de lá fazem referência ao santo e seus milagres e, cada vez mais,
Freguesia recebe devotos, pessoas em busca do santo e de sua ajuda.
4) O que sabe sobre a imagem de São Longuinho do oratório?
Tudo o que sei foi contado por D. Luíza (repetiu a história contada por D.
Luíza).
5) Qual o significado de São Longuinho para a comunidade?
Fé.
6) Quando iniciou o processo de restauração da Igreja?
A prefeitura montou um plano em 2003. Na época, era vice-prefeito. Em
2005, a restauração foi viabilizada e eu prefeito.
7) Como a comunidade está reagindo à restauração?
317
Muito bem. A estrutura da Igreja estava perigosa para receber as
pessoas... A restauração é muito importante para todos. Estamos zelando pelo
patrimônio do município.
8) Quais as pessoas mais envolvidas no processo da restauração da Igreja de
Nossa Senhora da Escada?
Eu, o padre Geraldo, vereador Alcides, a Rita, o vice-prefeito de Mogi das
Cruzes, Marcos Bertolo.
9) Gostaria de falar mais alguma coisa?
De 92 para cá, minha vida já mudou; fui vereador por dois mandatos,
presidente da Câmara, vice-prefeito de Guararema, secretário de Saúde. Fui
tomando conhecimento neste período da devoção a São Longuinho em
Freguesia. As festas do santo foram crescendo, muitas pessoas comparecendo à
cidade, e percebemos a necessidade de melhorar a infra-estrutura da cidade, da
Igreja para receber melhor as pessoas. O turismo religioso deve ser explorado,
mas com a cidade e a Igreja preparadas para receber tanta gente.
7 – Diretora de Cultura
Nome: Rita de Cássia Masmann Pereira
Estado Civil: Casada
Escolaridade: Superior completo (História)
Profissão ou ocupação: diretora de cultura
Religião: Ecumênica
Data: 09/03/2006
1) Quais os acontecimentos mais marcantes para o crescimento da devoção a
São Longuinho em Freguesia?
Com o roubo do oratório, houve maior divulgação na mídia. Em criança,
ouvia falar em São Longuinho. Nos últimos cinco anos, a procura por São
Longuinho aumentou muito. A prefeitura também tomou conhecimento da
existência do número de visitantes à imagem da Freguesia. Freguesia passou a
preservar a memória de São Longuinho.
2) Como a imagem de São Longuinho foi posta no altar?
318
As histórias são contadas pela comunidade de Freguesia. Houve uma certa
pressão por parte de padre Roberto em relação à imagem no altar. Com a
chegada do padre Geraldo, a imagem foi posta no altar.
3) Quais as pessoas mais envolvidas atualmente com São Longuinho?
São as pessoas da comunidade: D. Luíza é a mais representativa, Carlos,
Ângela e Luíza (índia).
4) Como está sendo feita a divulgação da devoção a São Longuinho em
Freguesia?
Com distribuição de cartazes. A assessora de imprensa da prefeitura e da
Formate também está fazendo a divulgação.
5) Quem deveria ser entrevistado para participar da pesquisa?
Larissa, D. Luíza, Carlos. A comissão de preservação do patrimônio
histórico: Sidney Leal e o Laerte (presidente).
6) Quanto à restauração, como a comunidade está reagindo?
A restauração está de acordo com a vontade da comunidade, que
participou das reuniões. A Prefeitura se engajou na restauração em 2005, o
prefeito e a Secretaria de Cultura apoiando muito.
7) Gostaria de falar mais alguma coisa?
A devoção a São Longuinho é uma sabedoria popular. Tudo está na
memória das pessoas. São Longuinho atrai pessoas de outros países. Os meios
de comunicação procuram por São Longuinho. As pessoas colocam no seu dia-a-
dia a história do santo. Os pedidos feitos por outros e as graças alcançadas são
divulgadas, e as pessoas vão lembrando no seu dia-a-dia.
8 – Vereador
Nome: Aloísio Mariano Martins
Estado Civil: casado
Escolaridade: ensino fundamental
Profissão ou ocupação: vereador (segundo mandato). Faz parte da comissão da
Câmara Municipal e acompanha a restauração da Igreja de Nossa Senhora da
Escada.
Religião: Católica
Data: 09/03/2006
1) Como a imagem de São Longuinho foi posta no altar?
319
Por D. Luíza.
2) Como São Longuinho era reverenciado antes da descoberta da imagem?
Sempre São Longuinho foi conhecido pelos mais antigos.
3) Como se decidiu que a imagem achada era de São Longuinho?
Dizem que foi D. Luíza que falou.
4) Quais as pessoas mais envolvidas atualmente com São Longuinho?
O prefeito, a Rita, o vice-prefeito de Mogi.
5) Como a devoção a São Longuinho está sendo propagada?
Antes São Longuinho era só da Freguesia, agora é de toda a Guararema.
Todos falam e conhecem São Longuinho que sempre foi de Freguesia.
6) Quais as pessoas que deveriam ser entrevistadas para participar da pesquisa?
D. Luíza e as que eu já falei: prefeito, Rita, vice-prefeito de Mogi.
7) Significado de São Longuinho. Por que ele é importante?
Fé.
8) Qual a sua relação com São Longuinho?
Minha mãe sempre falou em São Longuinho e passou para a gente os três
pulinhos.
9) Como vê o desenvolvimento da devoção aqui?
Para uns, é folclore; para outros, é fé. Desde criança, escuto minha mãe e
familiares falarem em São Longuinho, três pulinhos e foi passando para os filhos
e assim também passamos para os nossos filhos.
10) O que fez com que a devoção crescesse?
A fé.
11) Gostaria de falar mais alguma coisa sobre a devoção a São Longuinho em
Freguesia?
Quanto à restauração da Igreja, já havia um pedido anterior, feito por João
Figueiredo, mas só foi viabilizada em 2005, com o prefeito André. A comunidade
está bem esclarecida quanto à necessidade da restauração. Tudo está sendo
registrado em ata para ter um acompanhamento correto.
9 – Arquiteta
Nome: Vanessa Kramel
Estado Civil: solteira
320
Escolaridade: Arquitetura com especialização em Restauração
Profissão ou ocupação: Coordenadora dos projetos da RBR
Religião: Kardecista
Data: 09/03/2006
Formate – Empresa que preserva o patrimônio histórico, gerencia os projetos,
capta recursos.
RBR – restauração e arquitetura.
1) Como iniciou o processo de restauração da Igreja de Nossa Senhora da
Escada?
João Figueiredo, pessoa da comunidade, assessor da Secretaria da
Cultura, entrou no Ministério da Cultura com formulário para aprovar o projeto de
restauração da Igreja, só que não foi apresentado um desenho, um projeto
específico e assim não foi possível aprovação. Mas foi o primeiro passo para a
restauração, que foi incrementada em 2005.
2) Quais as pessoas mais envolvidas atualmente com a restauração?
A Rita, o padre Geraldo.
3) Como a restauração está sendo aceita pela comunidade?
Nem todos concordam. Na comunidade, existe o grupo de Nossa Senhora
da Escada e o grupo de São Longuinho (relata que recebeu e-mail de uma
pessoa da comunidade falando que não concorda com São Longuinho na
localização onde está hoje).
4) Quais as pessoas mais envolvidas com a devoção?
Luíza, Larissa, Vicente.
5) Como a devoção está sendo propagada?
Pelos próprios devotos, que, quando têm seus pedidos atendidos,
comentam com outras pessoas.
6) Quais os acontecimentos mais marcantes para o crescimento da devoção?
O fato das pessoas pedirem a São Longuinho e, ao serem atendidas, pagar
promessas, ofertar presentes... O fato de retornarem à Igreja e divulgar que foram
atendidos por São Longuinho.
7) Por que São Longuinho é importante para a comunidade?
Fé.
8) Quem deveria ser entrevistado para a pesquisa?
321
Rita, Larissa, D. Brasilina.
9) Quer falar mais alguma coisa?
São Longuinho entrou na Igreja na década de 40. Durante minha
permanência na Igreja, vi gente da Itália indo ver São Longuinho (um parente
morador de Guararema que levou).
Quanto à restauração, pretende-se melhorar a praça: acesso para
deficiente físico, piso moderno, banheiros. Utilizar melhor os espaços perdidos
dentro da Igreja: a sacristia terá uma salinha para administração, com sanitário,
sala para reuniões.
A Igreja é de Nossa Senhora da Escada e assim a imagem dela deveria ter
uma centralização maior de luz, chama mais a atenção para a imagem. São
Longuinho ficará na Igreja, mas em outra localização. São Longuinho é importante
pela fé das pessoas nele (relata que, desde criança, “acredita” em São
Longuinho. Quando viu a imagem na Igreja, não acreditou que era São
Longuinho, achava que não existia imagem, que era apenas uma crença popular).
Hoje, carrega santinhos na bolsa e distribui (imagens de São Longuinho como
monge).
VI - Pousadas e hotéis próximos a Freguesia
1- Nome: Maria Cecília Mendonça Meira
Endereço: Pousada Hípica Campestre Sapucaia
Estado Civil: casada
Escolaridade: Pedagogia – pós-graduação em Administração Hoteleira
Profissão ou ocupação: Proprietária de pousada
Religião: Católica
Data: 09/03/2006
1) Como tomou conhecimento da existência de uma imagem de São Longuinho
em Guararema?
Tomei conhecimento da existência de uma imagem de São Longuinho em
Guararema há vinte anos.
2) Já conhecia São Longuinho antes?
322
Quando criança, escutava minha avó e minha mãe falar em São Longuinho
e nos três pulinhos.
3) Como São Longuinho é visto por seus hóspedes?
Como o santo dos três pulinhos.
4) Os hóspedes vêm a Freguesia à procura do santo ou tomam conhecimento da
existência da imagem quando chegam a Freguesia?
Muitos vêm a Freguesia à procura da imagem de São Longuinho, fazem
perguntas e querem visitar a Igreja.
5) Quais os motivos que levam as pessoas a cuidarem do santo, divulgarem a
devoção?
Fé.
6) Quais os acontecimentos mais marcantes para o crescimento da devoção a
São Longuinho em Freguesia?
Sempre existiu a devoção. Com o roubo do oratório do santo, muitos
tomaram conhecimento da existência da imagem de Guararema, mas já existia
tradição em Freguesia.
7) Quais as pessoas que mais trabalham em prol da devoção a São Longuinho
em Freguesia?
O GETUR (grupo de empreendedores do turismo de Guararema) e o padre
Geraldo.
8) Quem deveria ser entrevistado para participar da pesquisa?
O pessoal da comunidade, da Igreja: D. Luíza, Ângela, Carlos e também o
João Figueiredo, tanto pela Igreja como pelo GETUR, Ricardo da Pousada Vale
do Sonho.
9) Gostaria de falar mais sobre a devoção a São Longuinho em Freguesia?
Há vinte anos, moro em Guararema. A Igreja de Nossa Senhora da Escada
já tinha a imagem de São Longuinho, mas ela ficava no altar mais à frente, não
onde está localizada hoje.
“Nossa Senhora da Escada já teve sua força, hoje é São Longuinho”.
Observações: Contou-nos um acontecimento ocorrido com ela e conhecidos, que,
por ocasião do sumiço de uma mula (em uma cavalgada), prometeram três
pulinhos a São Longuinho e, logo em seguida, a mula apareceu e a promessa foi
paga imediatamente.
323
Relata que, a partir de 2007, na Festa de São Longuinho, a parte turística
ficará com o GETUR e a parte religiosa ficará com a Igreja.
Ela é membro do GETUR (donos de pousadas, restaurantes, hotéis),
composto de 20 a 30 membros. Foi formada uma comissão no GETUR para
apóias a Festa de São Longuinho. Relata também que a divulgação da devoção
nunca é feita antes da Festa e sim no dia e depois da Festa: jornais, TV...
Na Festa de São Longuinho, em 2005, foi a primeira vez que o GETUR
assumiu – a comunidade teve dificuldade em aceitar o grupo a princípio. Este ano
mesmo não convidaram os membros do GETUR para reunião. A intenção quando
a restauração terminar é o GETUR assumir toda a parte turística e o turismo
religioso. A intenção é ajudar na Festa de São Longuinho para que os devotos
que comparecerem não irem embora de Guararema falando mal da cidade.
2 - Nome: Ricardo Luís de Magalhães Silva
Endereço: Pousada Vale do Sonho
Estado Civil: casado
Escolaridade: 2º grau
Profissão ou ocupação: Proprietário de pousada
Religião: Católica
Data: 11/03/2006
1) Como tomou conhecimento da existência de uma imagem de São Longuinho
em Guararema?
Há 12 anos, quando montou sua pousada, já se falava em São Longuinho
em Freguesia.
2) Já conhecia São Longuinho antes?
Sim.
3) Como São Longuinho é visto por seus hóspedes?
Pelo lado da fé.
4) Os hóspedes vêm a Freguesia à procura do santo ou tomam conhecimento da
existência da imagem quando chegam a Freguesia?
Tomam conhecimento quando chegam na pousada. Os grupos da terceira
idade, às vezes, já chegam aqui perguntando por São Longuinho ou já vêm em
excursão programada por São Paulo com outro objetivo.
324
5) Quais os motivos que levam as pessoas a cuidarem do santo, divulgarem a
devoção?
A fé.
6) Quais os acontecimentos mais marcantes para o crescimento da devoção a
São Longuinho em Freguesia?
O GETUR.
7) Quais as pessoas que mais trabalham em prol da devoção a São Longuinho
em Freguesia?
Luíza, João Augusto Figueiredo, Carlos.
8) Quem deveria ser entrevistado para participar da pesquisa?
Waldir Stelino (proprietário de um restaurante e morador em Freguesia).
Ana (ex-esposa do Dado, do Restaurante do Bangalê).
9) Gostaria de falar mais sobre a devoção a São Longuinho em Freguesia?
Há 12 anos, quando vim para cá, já se falava em São Longuinho. Agora
está havendo uma divulgação maior. As famílias que aqui estão hospedadas,
quando visitam Freguesia, passam raiva. Voltam à pousada reclamando do
abandono da Igreja. A falta de banheiros... O GETUR vai procurar dar maior
segurança aos turistas.
Observações: Relata que se envolveu mais a partir da festa de 2005, embora
sempre tenha dado prendas; leva grupos para a Igreja. Este ano, está bem mais
envolvido, pois o GETUR está envolvido também. Vai ter na festa um stand
divulgando as pousadas, restaurantes, hotéis...
- “É preciso explorar o lado religioso”.
- Em sua pousada, um evento anual da FANTUR se realiza (formadores de
opiniões: 40 jornalistas).
- Seu assessor de imprensa divulgou a Festa de São Longuinho de 2006 em dez
jornais, entre eles:
1. Gazeta da Zona Norte
HTTP://www.gazetazn.com.br
2. O Diário de Barretos
www.odiariodebarretos.com.br – 07/03
3. Em Jundiaí
www.jj.com.br – 07/03
325
4. O Jornal da Cidade de São Paulo
www.jornaldacidade.com.br – 05/03
5. Jornal de Porto Alegre
www.consumidores.com.br – 14/02
6. Jornal da Moca
www.jornalrepublicadamooca.com.br – 14/02
7. Hatelier news
www.hoteliernews – fevereiro/2006
8. Jornal de Mogi Turismo
3 - Nome: Cláudio Luiz Eugênio (Caco)
Endereço: Pousada Pintado na Brasa
Estado Civil: solteiro
Escolaridade: 1º grau Incompleto
Profissão ou ocupação: Guia de excursão
Religião: Católica
Data: 10/03/2006
1) Como tomou conhecimento da existência de uma imagem de São Longuinho
em Guararema?
Na TV.
2) Já conhecia São Longuinho antes?
Sim. Minha avó, minha mãe falavam nele e nos três pulinhos, quando se
perdia alguma coisa.
3) Como São Longuinho é visto por seus hóspedes?
Sabem que é a primeira Igreja do Brasil que tem uma imagem de São
Longuinho católica.
4) Os hóspedes vêm a Freguesia à procura do santo ou tomam conhecimento da
existência da imagem quando chegam a Freguesia?
Já sabem que Freguesia tem a imagem de São Longuinho em São Paulo.
5) Quais os motivos que levam as pessoas a cuidarem do santo, divulgarem a
devoção?
A fé.
326
6) Quais os acontecimentos mais marcantes para o crescimento da devoção a
São Longuinho em Freguesia?
Nas pousadas, falarem de São Longuinho, santo muito bom.
7) Quais as pessoas que mais trabalham em prol da devoção a São Longuinho
em Freguesia?
D. Luíza.
8) Quem deveria ser entrevistado para participar da pesquisa?
Não sabe.
9) Gostaria de falar mais sobre a devoção a São Longuinho em Freguesia?
É o santo dos objetos perdidos que deve ser agradecido com três pulinhos.
Obs.: Chegou com um grupo de 30 pessoas e permaneceu com o grupo 30
minutos na Igreja.
VII - Guias de excursão
Depoimento nº1:
Data: 24/07/2003
As pessoas vêm para Guararema à procura de lazer... A pousada faz a
divulgação através de São Paulo (capital). Acredito que a maioria das pessoas
fica sabendo de São Longuinho através da agência em São Paulo. Ao chegar a
Freguesia, as pessoas fazem promessas ao santo e retornam depois para pagar
tais promessas. Todas as pessoas, ao saberem que tem São Longuinho na Igreja,
fazem referência a ele como o santo dos três pulinhos.
Observação: Solicitamos um tempo para conversar com o grupo, o que não
foi possível. O guia mencionou que eles têm um horário a seguir, que ainda iam
para Guararema em visitas a outras igrejas e também para compras. O grupo
permaneceu de 20 a 25 minutos na Igreja.
Explicações do guia para o grupo: Explica que a árvore da praça em
frente à igreja é uma figueira, no que é criticado por uma das mulheres do grupo
que afirma não ser figueira. O guia diz que isso é sempre motivo de críticas – a
327
árvore dá uns frutinhos pequeninos que parecem figos, e assim ela ficou
conhecida na Freguesia por esse nome. Uma pessoa diz que ele se saiu muito
bem e o grupo ri. O guia, continuando, diz que uma lenda fala que quem der cinco
voltas em torno dessa árvore arranja casamento: “já aconteceu que, uma semana
depois do pedido, a moça sem namorado arranjou um e este logo assumiu
compromisso com ela”. Três mulheres dão as cinco voltas. Na Igreja, o guia
explica sobre São Longuinho, lê a oração e estimula o grupo a dar três pulinhos.
Depoimento nº2:
Data: 24/07/2003
As pessoas vêm a Guararema por lazer: geralmente são pessoas do grupo
da terceira idade, que aproveitam as promoções. A pousada, através dele, traz
dois ônibus por dia. A Igreja está sendo muito visitada ultimamente, não só por
ser muito bonita, mas também por ser a única do Brasil que tem uma imagem de
São Longuinho no altar. Os devotos, perante a imagem, rezam e dão três
pulinhos.
O guia lê em voz alta a oração de São Longuinho e, no final, ao dizer
amém, estimula o grupo a dar os três pulinhos.
Observação: Os guias disseram não terem condições de responder às
outras questões; disseram não terem conhecimento a respeito nem da devoção,
nem de São Longuinho para responder. A pessoa mais indicada é Dona Luíza.
“Ela sabe de tudo sobre São Longuinho por aqui”.
VIII – Entrevistas com Devotos
:
Devoto nº1:
Local de origem: Jacareí
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
Desde criança rezo para São Longuinho.
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja Nossa Senhora da Escada?
328
Recentemente. Não acredito que, morando tão perto, não sabia do santo
da Freguesia.
3) Tem imagem dele na sua casa?
Não.
4) Reza e/ou pede para ele constantemente?
Sim.
5) Tem conhecidos que também invocam o santo?
Sim e também familiares.
6) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
Em qualquer situação.
7) Compareceu na festa dele aqui na Igreja (15 de março)?
Não fiquei sabendo.
8) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
Para sair minha aposentadoria e minha filha passar no vestibular.
9) Como pagou tais promessas?
Estas eu fiz agora. Minha filha faz o vestibular amanhã.
10) Consegue tudo que pede ao santo?
Sim, tudo.
11) Já conversou com padres, irmãs de caridade, pessoas ligadas diretamente a
Igreja sobre São Longuinho?
Não.
Obs.: A devota chorava muito diante do oratório de São Longuinho junto
com a filha, que também chorava. Trouxe um quadro pintado por ela para o santo.
Comenta que, desde criança, é devota de São Longuinho, como também seus
familiares. Tudo que pede sempre alcança e dá três pulinhos. Não tem passado
bem; a filha iria fazer o vestibular no dia seguinte em São José dos Campos.
Estava tão deprimida que resolveu pintar um quadro e dá-lo de presente para
alguém que gostasse muito e, assim, trouxe para São Longuinho, que sempre a
acompanhou em todos os momentos difíceis. Por isso está tão emocionada ao
ofertar o quadro para ele e também ser entrevistada – “é muita emoção poder
falar sobre ele, ser entrevistada”. É professora, está se aposentando e só falta
uma assinatura para concluir a aposentadoria. Conta com São Longuinho para
329
isso e para o vestibular da filha. Dará três pulinhos e também sua filha quando
passar no vestibular dará três pulinhos.
Atitude do devoto perante a imagem: Dá três pulinhos, ajoelha e reza.
Devoto nº2:
Local de origem: São Paulo
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
Tenho uma prima que é devota de São Longuinho (Maria Lúcia). Ela mora
no Rio de Janeiro e vem sempre a Freguesia pagar promessa: passou em um
concurso.
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja Nossa Senhora da Escada?
Estava com a televisão ligada e ouvi dizer que em Guararema tinha uma
imagem de São Longuinho. Falei: “São Longuinho, Marilu está estudando tanto,
faz ela passar no concurso” (Segundo a devota, parece que ela recebeu um
recado, normalmente ela não liga a televisão no horário em que ouviu falar em
São Longuinho: “estava passando, liguei a TV e ouvi a ‘mensagem’”).
Maria Cecília relata que, ao fazer o pedido a São Longuinho, pediu
desculpas ao santo: “Desculpe, São Longuinho, eu nunca rezo para o Senhor, só
para Santo Antônio. Atenda ao meu pedido e ficarei sua devota”.
3) Tem imagem dele em sua casa?
Não.
4) Reza e/ou pede para ele constantemente?
Agora rezarei.
5) Tem conhecidos que também invocam o santo?
Ainda não constatei.
6) Compareceu na festa dele aqui na Igreja (15 de março)?
Não.
7) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
Pedi para minha amiga passar no concurso.
8) Como pagou tais promessas?
Trouxe velas, dinheiro.
330
9) Já conversou com padres, irmãs de caridade, pessoas ligadas diretamente a
Igreja sobre São Longuinho?
Não.
10) Gostaria de falar mais alguma coisa a respeito de São Longuinho?
Minha amiga Mariluce passou no concurso, fez outro concurso e passou
também; ela respondeu perguntas que não tinha conhecimento e acertou.
Obs.: Atitude do devoto perante a imagem: Acende velas, dá três pulinhos.
Escreveu bilhete agradecendo a graça alcançada e deu dinheiro. Ficou bastante
tempo na Igreja com a amiga que foi junto pagar a promessa. Fizeram novos
pedidos. Maria Cecília disse que, quando retornar para pagar as novas
promessas, trará orações de São Longuinho para distribuir como pagamento da
promessa. Copiou a oração a São Longuinho que está fixada na pilastra próxima
ao altar.
Devoto nº 3:
Local de origem: São Paulo
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
Minha amiga Cecília fez uma promessa para eu passar em um concurso e
eu passei em dois.
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja Nossa Senhora da Escada?
Através dela (amiga).
3) Tem imagem dele em casa?
Não.
4) Reza e/ou pede para ele constantemente?
Agora rezarei sempre.
5) Tem conhecidos que também invocam o santo?
Não sei.
6) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
Com fé, pode-se pedir tudo que conseguiremos.
7) Compareceu na festa dele aqui na Igreja (15 de março)?
Não.
331
8) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
Agora é que farei.
9) Como pagou tais promessas?
Voltarei aqui e trarei orações, velas, etc.
10) Gostaria de falar mais alguma coisa a respeito de São Longuinho?
Rezarei sempre para ele.
Obs.: Atitude do devoto perante a imagem: Acende velas. Faz doação em
dinheiro e deposita bilhetes agradecimento de com novos pedidos.
Devoto nº 4:
Local de Origem: São Paulo
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
Através da minha amiga Darci.
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja Nossa Senhora da Escada?
Com ela.
3) Tem imagem dele em sua casa?
Não.
4) Reza e/ou pede para ele constantemente?
Não.
5) Tem conhecidos que também invocam o santo?
Sim, agora fiquei sabendo que muitos rezam para São Longuinho.
6) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
Para achar coisas perdidas.
7) Compareceu na festa dele aqui na Igreja (15 de março)?
Não.
8) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
É a primeira vez que vou fazer uma promessa para ele. Vou pedir para
minha família. Meus filhos estão discutindo muito. Se conseguir esta graça, virei
aqui dar três pulinhos para ele.
9) Consegue tudo que pede ao santo?
Pretendo.
332
10) Já conversou com padres, irmãs de caridade, pessoas ligadas diretamente a
Igreja sobre São Longuinho?
Não.
Obs.: Atitude da devota perante a imagem: Deu três pulinhos, ajoelhou,
rezou. Ficou bastante tempo na Igreja.
Devoto nº 5:
Local de origem: São Paulo
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
Desde criança, rezo para São Longuinho e consigo tudo que peço.
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada?
Este ano.
3) Tem imagem dele em sua casa?
Não.
4) Reza e/ou pede para ele constantemente?
Sim.
5) Tem conhecidos que também invocam o santo?
Sim.
6) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
Quando se perde alguma coisa. Mas também pode pedir saúde, proteção,
o que quiser. É só ter fé.
7) Compareceu na festa dele aqui na Igreja (15 de março)?
Não.
8) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
Pedi para acalmar meu neto de 7 anos, que é uma criança muito agitada,
pula muito, machuca, chegou a cortar o rosto. Pedi a São Longuinho para ele ser
menos agitado e consegui. Vim pagar promessa por isso.
9) Como pagou tal promessa?
Três pulinhos.
10) Consegue tudo que pede ao santo?
Sim.
333
11) Já conversou com padres, irmãs de caridade, pessoas ligadas diretamente a
Igreja sobre São Longuinho? O que eles pensam sobre a devoção a São
Longuinho?
Sim. Acham que é crença do povo.
Obs.: Atitude do devoto perante a imagem: Três pulinhos. Ajoelhou e
rezou. Ficou bastante tempo na Igreja.
Devoto nº 6: entrevistada durante a festa de São Longuinho, no sábado, 7
Local de origem: São Paulo (capital)
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
Quando perdi um caderno de anotações.
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada?
Por uma amiga.
3) Tem imagem dele em sua casa?
Sim (franciscano).
4) Reza e/ou pede para ele constantemente?
Sim.
5) Tem conhecidos que também invocam o santo?
Sim.
6) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
Coisas perdidas, saúde, amor.
Obs.: Relato da devota – “Desde criança, escuto falar em São Longuinho
e três pulinhos”. Um dia, perdeu um caderno de anotações de sua loja, onde tinha
todas as anotações básicas: dívidas, créditos, nome e endereço dos clientes...
Entrou em desespero e, após procurar muito, pediu e rezou para São Longuinho.
Não terminou a oração e colocando a mão na mesa, encontrou, no fundo, atrás
de uma gaveta, o que procurava.. Deu os três pulinhos e se emocionou,
chegando a chorar.
Ficou sabendo da existência de São Longuinho na Freguesia, mas, como a
Igreja está sempre fechada, somente hoje conheceu a Igreja e a imagem. Tem a
imagem de São Longuinho franciscano em casa e divulga muito sua fé e devoção.
334
Vários conhecidos seus rezam para São Longuinho. Só tinha conhecimento da
imagem de São Longuinho franciscano.
Devoto nº 7: entrevistada no sábado (festa de São Longuinho)
Local de origem: Mogi das Cruzes
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
Desde criança.
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada?
Fiquei sabendo pela rádio local. Falaram que a Igreja fica sempre fechada,
por isso ainda não tinha vindo visitar o santo. Agora virei sempre.
3) Tem imagem dele em casa?
Sim, São Longuinho franciscano.
4) Reza constantemente para ele?
Sim.
5) Tem conhecidos que também invocam o santo?
Muitos.
6) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
Em todas as situações, geralmente para achar alguma coisa, saúde, peço
tudo para ele.
7) Compareceu na festa dele aqui na Igreja em 2003?
É a 1ª vez que venho a Freguesia.
8) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
Para ter saúde e proteção familiar.
9) Como pagou tais promessas?
Velas e oração.
10) Consegue tudo que pede ao santo?
Tudo.
11) Já conversou com o padre, irmãs de caridade, pessoas ligadas diretamente a
Igreja sobre São Longuinho?
335
Não.
Obs.: Relatos - Acende velas de sete dias constantemente para São
Longuinho. Terminando uma vela, acende outra em seguida. Tem imagem em
casa de São Longuinho franciscano e, desde criança, pede tudo para ele, não só
para achar alguma coisa como também saúde. Divulga muito o santo para sua
família e conhecidos. É a primeira vez que vem a Freguesia, pois a Igreja está
sempre fechada. “Não se pode visitar o santo quando a gente quer”. Ficou
sabendo da festa pela rádio local. Saiu cedo de casa, de ônibus de linha, porque
tinha certeza de que a Igreja estaria aberta. “Nunca vi um São Longuinho igual a
este da Igreja, mas o que importa é a fé” e sua fé está em São Longuinho. Reza e
agradece a ele todas as noites.
Atitude da devota perante a imagem: Velas e reza.
Devoto nº 8:
Estado Civil: solteira
Escolaridade: quinta série do ensino fundamental
Profissão ou ocupação: Doméstica
Religião: Católica
Data: Festa de Nossa Senhora da Escada – novembro de 2005
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
Há dois anos, quando meu genro foi preso.
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada?
Há dois anos.
3) Possui imagem de São Longuinho em casa?
Não.
4) Reza e/ou pede para ele constantemente?
De dois anos para cá, rezo e peço para São Longuinho todos os dias.
5) Possui conhecidos que também invocam o santo?
Minha mãe.
6) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
Em todas as situações, é só ter fé, muita fé.
7) Compareceu em alguma festa dele aqui na Igreja?
336
Não.
8) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
Pedido de emprego para meu genro, ex-presidiário, pedido de dinheiro
para comprar comida e fui atendida logo após o pedido.
9) Como pagou tal promessa?
Entrando de joelhos aqui na Igreja dele.
10) Consegue tudo que pede ao santo?
Sim.
11) Já conversou com padres, irmãs de caridade, pessoas ligadas diretamente à
Igreja sobre São Longuinho? O que eles pensam sobre a devoção a São
Longuinho?
Não.
12) O que é mais importante na devoção?
A fé.
Devoto nº 9
Estado Civil: viúva
Escolaridade: Primário completo
Profissão ou ocupação: doméstica
Religião: Católica
Data: Festa de Nossa Senhora da Escada – novembro de 2005
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
Tenho fé e peço quando perco alguma coisa e alcanço.
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada?
Através de minha sobrinha.
3) Possui imagem de São Longuinho em sua casa?
Não. Vou comprar hoje.
4) Reza e/ou pede para ele constantemente?
Sim.
5) Possui conhecidos que também invocam o santo?
Sim.
6) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
337
Peço para emprego, para tudo. Pedi para uma vizinha e ela arrumou
emprego.
7) Compareceu em alguma festa dele aqui na Igreja?
Não.
8) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
Já pedi dinheiro, emprego, saúde, tudo.
9) Como pagou tal promessa?
Três pulinhos, três gritos.
10) Consegue tudo que pede ao santo?
Sim.
11) Já conversou com padres, irmãs de caridade, pessoas ligadas diretamente à
Igreja sobre São Longuinho? O que eles pensam sobre a devoção a São
Longuinho?
Não.
12) O que é mais importante na devoção?
A fé da gente.
Devoto nº 10
Estado Civil: casada
Escolaridade: Primário completo
Profissão ou ocupação: aposentada (costureira)
Religião: Católica
Data: Festa de Nossa Senhora da Escada – novembro de 2005
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
Desde jovem. Morei 27 anos em Mogi. Sempre rezei para São Longuinho e
Nossa Senhora da Escada são meus protetores. Faz 22 anos que moro em
Guararema.
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada?
Sempre existiu a imagem na Igreja.
3) Possui imagem de São Longuinho em sua casa?
Só em santinho.
4) Como é esta imagem? (características)
338
Igual à do oratório.
5) Reza e/ou pede para ele constantemente?
Sim.
6) Possui conhecidos que também invocam o santo?
Sim.
7) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
Para qualquer coisa ele atende. É só ter fé.
8) Compareceu em alguma festa dele aqui na Igreja?
Sim, em todas.
9) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
Muitas. Peço, consigo, pago e peço novamente.
10) Como pagou tal promessa?
Novena, oração, ajuda material.
11) Consegue tudo que pede ao santo?
Sim.
12) Já conversou com padres, irmãs de caridade, pessoas ligadas diretamente à
Igreja sobre São Longuinho? O que eles pensam sobre a devoção a São
Longuinho?
Sim. Uns aceitam São Longuinho, outros não.
13) O que é mais importante na devoção?
É a fé.
Se o devoto for morador de Freguesia:
14) Como a imagem de São Longuinho foi parar no altar?
Quem achou foi D. Luíza.
15) Como São Longuinho era referenciado antes da descoberta da imagem?
Muito antes.
16) Como se decidiu que a imagem achada era de São Longuinho?
Ela sempre existiu aqui como São Longuinho. Desde a criação da Igreja.
17) Como a devoção a São Longuinho está sendo propagada?
Rádio, TV.
18) Qual o significado de São Longuinho? (Por que ele é importante?)
339
Fé. Era um soldado. Era um sofredor. A gente tendo fé, acontece. A gente
pede a São Longuinho e Deus atende. São Longuinho não é Deus.
19) Qual a sua relação com São Longuinho?
Respeito, amizade.
20) Como vê o desenvolvimento da devoção aqui?
Cada dia cresce mais. Os romeiros vêm de todas as cidades por aqui.
21) O que fez com que a devoção crescesse?
O roubo do oratório.
22) Quais as pessoas mais envolvidas atualmente com São Longuinho?
Luíza e Sr. Vicente.
23) Quais as pessoas que devem ser entrevistadas para participar da pesquisa?
D. Luíza e Sr. Vicente.
24) Gostaria de falar mais alguma coisa sobre a devoção a São Longuinho em
Freguesia?
É muito antigo, muito conhecido.
Obs.: D. Nena, costureira aposentada, foi quem fez as primeiras roupas de São
Longuinho.
Devoto nº 11
Estado Civil: divorciada
Escolaridade: Primeiro grau
Profissão ou ocupação: diarista
Religião: Católica
Data: Festa de Nossa Senhora da Escada – novembro de 2005
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
Há muitos anos – relata que, há 15 anos, estava desesperada com o
sumiço de seu cachorro. Resolveu pedir ao santo e, à noite, ele apareceu. A partir
daí, passou a devota. Agradece com oração, vela e com os três pulinhos.
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada?
Há três anos em excursão na festa de São Longuinho.
3) Possui imagem de São Longuinho em sua casa?
Não.
340
4) Como é esta imagem? (características)
-
5) Reza e/ou pede para ele constantemente?
Só quando perco algo.
6) Possui conhecidos que também invocam o santo?
Bastante.
7) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
Para pedir coisas, doença.
8) Compareceu em alguma festa dele aqui na Igreja?
Compareceu à festa de São Longuinho este ano.
9) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
Promessa achar animal de estimação.
10) Como pagou tal promessa?
-
11) Consegue tudo que pede ao santo?
Sim.
12) Já conversou com padres, irmãs de caridade, pessoas ligadas diretamente à
Igreja sobre São Longuinho? O que eles pensam sobre a devoção a São
Longuinho?
Não.
13) O que é mais importante na devoção?
Fé.
A cunhada convidou para fazer uma excursão (à Festa de São Longuinho)
e ela veio a Freguesia. Nesta excursão, conheceu a imagem de São Longuinho.
Devoto nº 12
Estado Civil: casada
Escolaridade: Primeiro grau
Profissão ou ocupação: aposentada
Religião: Católica
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
A mãe recorria ao santo quando perdia algum objeto.
341
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada?
Ficou sabendo na excursão.
3) Possui imagem de São Longuinho em sua casa?
Não.
4) Como é esta imagem? (características)
-
5) Reza e/ou pede para ele constantemente?
Invoco porque a tradição marcou.
6) Possui conhecidos que também invocam o santo?
Não.
7) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
Em todas, para tudo.
8) Compareceu em alguma festa dele aqui na Igreja?
Não.
9) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
-
10) Como pagou tal promessa?
-
11) Consegue tudo que pede ao santo?
Sempre recebe graças.
12) Já conversou com padres, irmãs de caridade, pessoas ligadas diretamente à
Igreja sobre São Longuinho? O que eles pensam sobre a devoção a São
Longuinho?
Não.
13) O que é mais importante na devoção?
-
Obs.: A mãe passou a imagem de um menino e os pulinhos devem ser dados
porque o menino acha engraçado.
Devoto nº 13
Estado Civil: casada
342
Escolaridade: Superior
Profissão ou ocupação: Química
Religião: Católica
Data: Festa de Nossa Senhora da Escada – novembro de 2005
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
Há três anos, quando vim morar na cidade.
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada?
-
3) Possui imagem de São Longuinho em sua casa?
Não.
4) Como é esta imagem? (características)
-
5) Reza e/ou pede para ele constantemente?
Rezo diariamente para agradecer. Faz parte de minha oração diária.
6) Possui conhecidos que também invocam o santo?
Não muitas.
7) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
Para tudo, as pessoas recorrem a São Longuinho e são atendidas.
8) Compareceu em alguma festa dele aqui na Igreja?
Participo das festas.
9) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
Nunca fiz.
10) Como pagou tal promessa?
-
11) Consegue tudo que pede ao santo?
Sempre sou atendida.
12) Já conversou com padres, irmãs de caridade, pessoas ligadas diretamente à
Igreja sobre São Longuinho? O que eles pensam sobre a devoção a São
Longuinho?
Não.
13) O que é mais importante na devoção?
343
Fé.
Se o devoto for morador de Freguesia:
14) Como a imagem de São Longuinho foi parar no altar?
Não sei.
15) Como São Longuinho era referenciado antes da descoberta da imagem?
Não sei.
16) Como se decidiu que a imagem achada era de São Longuinho?
Não sei.
17) Como a devoção a São Longuinho está sendo propagada?
Pela população local.
18) Qual o significado de São Longuinho? (Por que ele é importante?)
É um santo que poucas pessoas conhecem e por isso despertou sua
devoção.
19) Qual a sua relação com São Longuinho?
-
20) Como vê o desenvolvimento da devoção aqui?
Cada ano que passa é maior.
21) O que fez com que a devoção crescesse?
-
22) Quais as pessoas mais envolvidas atualmente com São Longuinho?
-
23) Quais as pessoas que devem ser entrevistadas para participar da pesquisa?
-
24) Gostaria de falar mais alguma coisa sobre a devoção a São Longuinho em
Freguesia?
-
Obs.: A devoção manifestada pela população influenciou na sua devoção. Os
eventos que demonstram sua importância reforçaram sua fé. Marido, também
devoto, já era morador em Guararema.
A devoção na região é muito forte, é tudo organizado pela população. É a
própria população que está divulgando a imagem.
Devoto nº 14
344
Estado Civil: viúva
Escolaridade: Primeiro grau
Profissão ou ocupação: dona de casa
Religião: Católica
Data: Festa de Nossa Senhora da Escada – novembro de 2005
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
Por ouvir falar, comecei a invocar quando perdia algo e ensinar aos outros
também.
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada?
Através de excursão próxima daqui e fiquei sabendo através do guia.
3) Possui imagem de São Longuinho em sua casa?
Possuo imagem em papel, mas não sei precisar características.
4) Como é esta imagem? (características)
-
5) Reza e/ou pede para ele constantemente?
Não. Rezo só quando perco alguma coisa.
6) Possui conhecidos que também invocam o santo?
Conheço muitos devotos. Todos do ônibus, cerca de 70 pessoas.
7) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
-
8) Compareceu em alguma festa dele aqui na Igreja?
Sim.
9) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
Não.
10) Como pagou tal promessa?
-
11) Consegue tudo que pede ao santo?
Não todos.
12) Já conversou com padres, irmãs de caridade, pessoas ligadas diretamente à
Igreja sobre São Longuinho? O que eles pensam sobre a devoção a São
Longuinho?
345
Não.
13) O que é mais importante na devoção?
Fé.
Devoto nº 15
Estado Civil: casada
Escolaridade: cursa pedagogia
Profissão ou ocupação: aux. administrativa
Religião: Católica
Data: Festa de Nossa Senhora da Escada – novembro de 2005
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
Desde criança.
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada?
Internet.
3) Possui imagem de São Longuinho em sua casa?
Não.
4) Como é esta imagem? (características)
-
5) Reza e/ou pede para ele constantemente?
Sim.
6) Possui conhecidos que também invocam o santo?
Sim, bastante.
7) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
Pedir proteção ao sair de casa e quando perde algo.
8) Compareceu em alguma festa dele aqui na Igreja?
-
9) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
Só na situação de perder algum objeto.
10) Como pagou tal promessa?
Conforme a tradição.
11) Consegue tudo que pede ao santo?
346
Sim.
12) Já conversou com padres, irmãs de caridade, pessoas ligadas diretamente à
Igreja sobre São Longuinho? O que eles pensam sobre a devoção a São
Longuinho?
Não.
13) O que é mais importante na devoção?
Fé.
Obs.: Viu pela primeira vez em Parati a imagem com pernas e segurando um
cajado. Veio para conhecer, não especificamente para pagar promessa.
Devoto nº 16
Estado Civil: casada
Escolaridade: Ensino médio
Profissão ou ocupação: dona de casa
Religião: Católica
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
Desde criança, através de familiares. Minha mãe já visitou a Igreja. Tomei
conhecimento da imagem através dela.
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada?
-
3) Possui imagem de São Longuinho em sua casa?
Sim.
4) Como é esta imagem? (características)
Com a lanterna, com pernas.
5) Reza e/ou pede para ele constantemente?
Sim.
6) Possui conhecidos que também invocam o santo?
Sim. Família, amigos.
7) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
Quando perde algo.
8) Compareceu em alguma festa dele aqui na Igreja?
347
Não.
9) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
-
10) Como pagou tal promessa?
Conforme a tradição.
11) Consegue tudo que pede ao santo?
Sim.
12) Já conversou com padres, irmãs de caridade, pessoas ligadas diretamente à
Igreja sobre São Longuinho? O que eles pensam sobre a devoção a São
Longuinho?
Não.
13) O que é mais importante na devoção?
Fé.
Devoto nº 17
Estado Civil: casado
Escolaridade: ensino médio
Profissão ou ocupação: -
Religião: Católica
Data: Festa de Nossa Senhora da Escada – novembro de 2005
Depoimento: “Entendo que a invocação do santo não é somente para recuperar
objetos, mas também para apontar caminhos. Acho que o santo é mais humilde,
porque as pessoas invocam ele para conseguir coisas simples da vida. É mais
próximo das pessoas. Acredito muito porque sempre fui atendido. Quando solicitei
apontar o melhor caminho a seguir, fui atendido. Pago religiosamente a
promessa, ou seja, dou os três pulinhos, porque isso é o ritual que identifica o
santo”.
Devoto nº 18
Estado Civil: casada
Escolaridade: superior completo
Profissão ou ocupação: engenheira mecânica
Religião: Católica
348
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
Fiquei devota por influência de uma tia. Desde criança, ouço falar sobre o
santo.
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada?
Através de uma tia. Minha tia achava que era Santo Onofre – apelido de
São Longuinho. Soube pela televisão da existência da imagem.
3) Possui imagem de São Longuinho em sua casa?
Não, mas gostaria de adquirir.
4) Como é esta imagem? (características)
-
5) Reza e/ou pede para ele constantemente?
Periodicamente, sempre pedindo algo que perdi.
6) Possui conhecidos que também invocam o santo?
Pessoas mais idosas da família.
7) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
Invocado em situação de perda.
8) Compareceu em alguma festa dele aqui na Igreja?
Não.
9) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
Sempre para encontrar algo.
10) Como pagou tal promessa?
Doação em dinheiro e a visita ao santo.
11) Consegue tudo que pede ao santo?
Sim.
12) Já conversou com padres, irmãs de caridade, pessoas ligadas diretamente à
Igreja sobre São Longuinho? O que eles pensam sobre a devoção a São
Longuinho?
Na Igreja, não se comenta. Já fiz parte de grupo na Igreja quando jovem.
Muitos acham que é superstição.
13) O que é mais importante na devoção?
Acreditar, ter fé que vai conseguir.
349
Obs.: Não é muito devota, apesar de a família ser muito religiosa. Esta é a
primeira promessa que veio pagar. Ficou sensibilizada de saber da existência da
imagem. Já havia procurado em várias igrejas. Até a sogra pediu a imagem do
santo, porque precisava ver para crer.
“História bonita. Acha as coisas porque perdeu as pernas. Dá o pulo
porque ele não pode pular, porque não tem pernas”.
Devoto nº 19
Estado Civil: separada
Escolaridade: Primário incompleto
Profissão ou ocupação: aposentada INSS (cozinheira)
Religião: Católica
Data: 4ª Festa de São Longuinho – março de 2006
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
Conheço o santo desde criança e o invoco nos casos de objetos perdidos.
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada?
Excursão religiosa.
3) Possui imagem de São Longuinho em sua casa?
Não.
4) Como é esta imagem? (características)
-
5) Reza e/ou pede para ele constantemente?
Sim.
6) Possui conhecidos que também invocam o santo?
Sim.
7) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
Saúde, paz, objetos perdidos.
8) Compareceu em alguma festa dele aqui na Igreja?
Quase todo o ano.
9) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
Não.
350
10) Como pagou tal promessa?
-
11) Consegue tudo que pede ao santo?
Sim.
12) Já conversou com padres, irmãs de caridade, pessoas ligadas diretamente à
Igreja sobre São Longuinho? O que eles pensam sobre a devoção a São
Longuinho?
Não.
13) O que é mais importante na devoção?
Fé.
Devoto nº 20
Estado Civil: desquitada
Escolaridade: Primário incompleto
Profissão ou ocupação: aposentada (comerciária)
Religião: Católica
Data: 4ª Festa de São Longuinho – março de 2006
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
A minha devoção começou há cinco anos e, a partir do ano passado,
passei a pedir por objetos perdidos, sendo sempre atendida.
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada?
Através de uma amiga que faz excursões religiosas.
3) Possui imagem de São Longuinho em sua casa?
Não.
4) Como é esta imagem? (características)
-
5) Reza e/ou pede para ele constantemente?
Sim.
6) Possui conhecidos que também invocam o santo?
Sim.
7) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
351
Quando perde objetos.
8) Compareceu em alguma festa dele aqui na Igreja?
Sim.
9) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
rezo.
10) Como pagou tal promessa?
Dando um anel para ele.
11) Consegue tudo que pede ao santo?
Sim.
12) Já conversou com padres, irmãs de caridade, pessoas ligadas diretamente à
Igreja sobre São Longuinho? O que eles pensam sobre a devoção a São
Longuinho?
Não.
13) O que é mais importante na devoção?
Fé.
Obs.: Relata ter conhecido a história através de TV de Mogi das Cruzes. Diz ter
sido bem divulgado o fato de ser a única imagem de São Longuinho no Brasil.
Devoto nº 21
Estado Civil: viúva
Escolaridade: não freqüentou escola
Profissão ou ocupação: dona de casa
Religião: Católica
Data: 4ª Festa de São Longuinho – março de 2006
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
Conheci São Longuinho há oito anos, quando me mudei para Mogi. Há
muitas excursões saindo de Mogi.
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada?
Quando passei a residir em Mogi.
3) Possui imagem de São Longuinho em sua casa?
Não.
4) Como é esta imagem? (características)
352
-
5) Reza e/ou pede para ele constantemente?
Sim.
6) Possui conhecidos que também invocam o santo?
Sim.
7) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
Perda de objetos, problemas de saúde.
8) Compareceu em alguma festa dele aqui na Igreja?
Sim.
9) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
Rezo, mas não faço promessas.
10) Como pagou tal promessa?
-
11) Consegue tudo que pede ao santo?
Sim.
12) Já conversou com padres, irmãs de caridade, pessoas ligadas diretamente à
Igreja sobre São Longuinho? O que eles pensam sobre a devoção a São
Longuinho?
Não.
13) O que é mais importante na devoção?
-
Devoto nº 22
Estado Civil: casada
Escolaridade: Primário incompleto
Profissão ou ocupação: aposentada
Religião: Católica
Data: 4ª Festa de São Longuinho – março de 2006
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
A devoção advém de escutar sobre ele dos meus familiares. Sou devota há
mais ou menos 20 anos.
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada?
353
Ouvi dizer lá em Mogi da Cruzes que esta igreja possui a imagem e venho
todos os anos.
3) Possui imagem de São Longuinho em sua casa?
Não.
4) Como é esta imagem? (características)
-
5) Reza e/ou pede para ele constantemente?
Todos os dias.
6) Possui conhecidos que também invocam o santo?
Muitos amigos.
7) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
Todos os tipos de problemas. Não sabia até pouco tempo da característica
dele achar objetos.
8) Compareceu em alguma festa dele aqui na Igreja?
É a primeira vez.
9) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
-
10) Como pagou tal promessa?
-
11) Consegue tudo que pede ao santo?
-
12) Já conversou com padres, irmãs de caridade, pessoas ligadas diretamente à
Igreja sobre São Longuinho? O que eles pensam sobre a devoção a São
Longuinho?
Não.
13) O que é mais importante na devoção?
A fé.
Devoto nº 23
Estado Civil: solteira
Escolaridade: Primário incompleto
Profissão ou ocupação: aposentada
354
Religião: Católica
Data: 4ª Festa de São Longuinho – março de 2006
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
Quando li sobre a história de São Longuinho (que ele espetou lança em
Jesus), passei a ser devota.
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada?
Li recentemente no jornal. É a primeira vez que vim a esta igreja.
3) Possui imagem de São Longuinho em sua casa?
Não.
4) Como é esta imagem? (características)
-
5) Reza e/ou pede para ele constantemente?
Sim.
6) Possui conhecidos que também invocam o santo?
Muitos.
7) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
Sempre pedi quando perdia alguma coisa e sempre fui ajudada por ele.
8) Compareceu em alguma festa dele aqui na Igreja?
É a primeira vez.
9) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
Sempre pedi para achar alguma coisa e dava três pulinhos.
10) Como pagou tal promessa?
-
11) Consegue tudo que pede ao santo?
Sim.
12) Já conversou com padres, irmãs de caridade, pessoas ligadas diretamente à
Igreja sobre São Longuinho? O que eles pensam sobre a devoção a São
Longuinho?
Não.
13) O que é mais importante na devoção?
Rezar, pedir e agradecer.
355
Devoto nº 24
Estado Civil: separada
Escolaridade: Primário completo
Profissão ou ocupação: dona de casa
Religião: Católica
Data: 4ª Festa de São Longuinho – março de 2006
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
De repente já sabia através da tradição oral que ajudava a achar as coisas.
No ano passado, na festa do santo, minha filha montou uma barraca, mas não
conseguia vender nada. Eu entrei na igreja e pedi ao santo para ajudar minha
filha. Quando saí da igreja, havia uma fila na barraca da minha filha. Dei três
pulinhos de agradecimento. Peço agora constantemente a São Longuinho para
ajudar no meu comércio.
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada?
Vim conhecer a Igreja e então descobri a imagem do santo que tanto amo
(sic).
3) Possui imagem de São Longuinho em sua casa?
Sim.
4) Como é esta imagem? (características)
Corcunda, com uma bengala e vestido com um manto e tem um lampião.
5) Reza e/ou pede para ele constantemente?
Sim.
6) Possui conhecidos que também invocam o santo?
Poucos, mas na brincadeira, não acreditando ser santo.
7) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
Peço a cura de enfermidade, tomar conta da minha casa e quando perco
objetos, para arrumar serviço.
8) Compareceu em alguma festa dele aqui na Igreja?
A segunda vez.
9) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
356
Já relatado na resposta 1 e em relação aos objetos.
10) Como pagou tal promessa?
Três pulinhos, três gritinhos.
11) Consegue tudo que pede ao santo?
Sim.
12) Já conversou com padres, irmãs de caridade, pessoas ligadas diretamente à
Igreja sobre São Longuinho? O que eles pensam sobre a devoção a São
Longuinho?
Não.
13) O que é mais importante na devoção?
A fé.
Devoto nº 25
Estado Civil: separada
Escolaridade: superior
Profissão ou ocupação: supervisora educacional
Religião: Católica
Data: 4ª Festa de São Longuinho – março de 2006
Depoimento: Recente, após assistir reportagem na TV. Já conhecia o santo, mas
achava ser folclórico. Sabendo da existência da imagem, passei a acreditar na
sua condição de santo e vim hoje, pela primeira vez, conhecer a imagem e fazer o
pedido.
Passei a rezar após a reportagem e invoco para melhorar minha saúde.
Tenho artrose e peço como graça não precisar operar. O médico atestou estar
estacionado meu problema de saúde.
Devoto nº 26
Estado Civil: viúva
Escolaridade: superior
Profissão ou ocupação: dona de casa
Religião: Católica
Data: 4ª Festa de São Longuinho – março de 2006
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
357
A minha devoção começou com a perda de uma jóia de minha filha. Pedi a
São Longuinho e, no dia seguinte, foi encontrada a jóia.
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada?
Conheci a imagem em uma fábrica de imagens religiosas em São Paulo. A
imagem é um santo vestido de roupa marrom com uma lanterna. Fiquei sabendo
da existência da imagem nesta Igreja há três anos através de uma reportagem na
televisão com D. Luíza.
3) Possui imagem de São Longuinho em sua casa?
Sim.
4) Como é esta imagem? (características)
Vestida de padre.
5) Reza e/ou pede para ele constantemente?
Sempre.
6) Possui conhecidos que também invocam o santo?
Muitos.
7) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
Quando perde as coisas.
8) Compareceu em alguma festa dele aqui na Igreja?
Terceiro ano que venho à festa.
9) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
Para achar coisas.
10) Como pagou tal promessa?
Pulinhos, gritinhos e vela. Já mandou rezar uma missa como
agradecimento.
11) Consegue tudo que pede ao santo?
Sim.
12) Já conversou com padres, irmãs de caridade, pessoas ligadas diretamente à
Igreja sobre São Longuinho? O que eles pensam sobre a devoção a São
Longuinho?
Tenho um primo que é padre e dá risadas quando eu falo sobre o santo.
Diz que é a fé que me faz achar as coisas.
358
13) O que é mais importante na devoção?
A fé.
Devoto nº 27
Estado Civil: casada
Escolaridade: Ensino Médio
Profissão ou ocupação: secretária
Religião: Católica
Data: 5ª Festa de São Longuinho – 2007
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
Fiquei devota por graça recebida (ter achado objeto perdido). Vim
agradecer a graça o ano passado na Igreja.
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada?
Na televisão.
3) Possui imagem de São Longuinho em sua casa?
Não.
4) Como é esta imagem? (características)
-
5) Reza e/ou pede para ele constantemente?
Sim.
6) Possui conhecidos que também invocam o santo?
Sim.
7) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
Sempre invoco quando perco algum objeto.
8) Compareceu em alguma festa dele aqui na Igreja?
Primeira vez.
9) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
-
10) Como pagou tal promessa?
Vindo à Igreja, gritinhos e pulinhos.
11) Consegue tudo que pede ao santo?
359
Sim. Em outubro do ano passado (2006) recebi nova graça e, como
promessa, retornei à Igreja.
12) Já conversou com padres, irmãs de caridade, pessoas ligadas diretamente à
Igreja sobre São Longuinho? O que eles pensam sobre a devoção a São
Longuinho?
Não.
13) O que é mais importante na devoção?
Pagar a promessa.
Devoto nº 28
Estado Civil: solteira
Escolaridade: superior (Geografia)
Profissão ou ocupação: secretária
Religião: Católica
Data: 5ª Festa de São Longuinho – 2007
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
Eu achava que era folclore. Uma amiga me deu um santinho, li e passei a
acreditar. Fiquei sabendo que ele não era só para coisas perdidas e, assim,
passei a rezar diariamente. Consegui uma graça especial recentemente.
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada?
Primeira vez, através de amiga.
3) Possui imagem de São Longuinho em sua casa?
Sim.
4) Como é esta imagem? (características)
Monge.
5) Reza e/ou pede para ele constantemente?
Sim.
6) Possui conhecidos que também invocam o santo?
Sim.
7) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
Para coisas que perdeu, o sossego, a tranqüilidade, para tudo.
360
8) Compareceu em alguma festa dele aqui na Igreja?
Não sabia que tinha festa.
9) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
Não fiz promessa. Rezava e pedia ajuda em entraves na situação familiar
(entrave na casa de campo por ocasião de falecimento do pai. Resolver muito
rápido).
10) Como pagou tal promessa?
Não.
11) Consegue tudo que pede ao santo?
Sim.
12) Já conversou com padres, irmãs de caridade, pessoas ligadas diretamente à
Igreja sobre São Longuinho? O que eles pensam sobre a devoção a São
Longuinho?
Não.
13) O que é mais importante na devoção?
Fé, muita fé.
14) Como vê o desenvolvimento da devoção aqui?
Achava que a Igreja era de São Longuinho. Tudo está sendo novidade
hoje, não sabia nem da festa. Devoção dá muita energia. Passa a contar com ela.
Uma devoção sem foco não é tão energética. É um resgate em nossas vidas.
Devoto nº 29
Estado Civil: casada
Escolaridade: Primário incompleto
Profissão ou ocupação: aposentada
Religião: Católica
Data: Festa de São Longuinho –2008
1) Como começou sua devoção a São Longuinho?
Conheço São Longuinho desde março, mas achava que não era santo. A
partir da reportagem, resolvi pedir a ele uma graça: sair minha aposentadoria e
retornar a andar. Fui atendida de imediato. Consegui também um emprego para
meu genro.
361
2) Como e quando tomou conhecimento da existência da imagem de São
Longuinho na Igreja de Nossa Senhora da Escada?
Através de uma revista.
3) Possui imagem de São Longuinho em sua casa?
Estou levando uma hoje.
4) Como é esta imagem? (características)
-
5) Reza e/ou pede para ele constantemente?
Sim.
6) Possui conhecidos que também invocam o santo?
Estou divulgando as graças do santo (jornal).
7) São Longuinho é invocado em quais situações? Quais os pedidos que
geralmente são feitos?
Primeiro pede a Deus tudo que precisar e, depois, ao santo.
8) Compareceu em alguma festa dele aqui na Igreja?
Ainda não.
9) Pode dizer qual ou quais promessas já fez?
Relatado na pergunta um.
10) Como pagou tal promessa?
Gritinhos e vindo à Igreja com um amigo.
11) Consegue tudo que pede ao santo?
Sim.
12) Já conversou com padres, irmãs de caridade, pessoas ligadas diretamente à
Igreja sobre São Longuinho? O que eles pensam sobre a devoção a São
Longuinho?
Não.
13) O que é mais importante na devoção?
Fé, amor, confiança, perseverança.
362
ANEXO 5 – BILHETES COLOCADOS POR DEVOTOS JUNTO À IMAGEM DO SANTO
Obs.: Os bilhetes foram transcritos com todos os erros de grafia, conforme foram
escritos pelos devotos. Optamos por substituir os nomes das pessoas por “xxx”
para não as expor em sua devoção pessoal. Estes bilhetes foram recolhidos do
oratório de São Longuinho, com autorização do padre, pela zeladora ou pela
coordenação da pastoral e guardados em um cesto para serem analisados.
Foram analisados 259 bilhetes no período de julho de 2003 a março de 2004.
1) São Longuinho me ajude a arrumar emprego xxx
2) Peço para São Loquio para ajudar os meus gero sai aquilo prosso dele ajuda
minha nora me que bem e ajudar todos nos batentes juízo para o meu neto
3) Retrato de criança
4) Som Longuinho Em nome de Deus abençoa a minha perna Cura a minha
perna
5) São Longuinho Daí saude a todos meus filhos e netos. Amém e meu esposo. E
arruma um novo trabalho ao meu filho xxx
6) Eu xxx agradece e lhe peço que me de saúde do corpo e da perna Obrigada.
Aumente a minha fé.
7) São Longuinho lê pesso a benção para que me ajudes a eu aromar um julho de
Lues i me ajudes nos meus negócios. muito overigada. muito overigada.
8) São Longuinho eu pesso pela minha saúde e pela Paz do mundo e pela Saúde
de minha família e eu pesso que minha filha ame o xxx. oCrigada meu São
Longuinho
9) Peco paz pela minha família
363
10) São Longuinho. Piedade. xxx
11) Meu São Longuinho venho aqui porque o senhor a de me ajudar que a família
de xxx e xxx, xxx e xxx ame muito – Peço muita paz para minha família – ajude o
xxx a arrumar emprego e ajude a resolver os meus problemas e de apartamento
também.
12) São Longuinho xxx e xxx que tenham filho com saúde e saudável
13) Meu São Longuinho peço para faze o milagre que eu fique curada da tosse e
os olhos e o ouvido.
14) São Longuinho
Peço para fazer o milagre de meu genro arrumar serviço e saúde para os
netos paz para a família eu venho aqui na sua igreja todos os anos Rezem
para o Senhor.
15) Missa em ação de graças pela graça recebida. xxx
16) Missa por intenção de xxx que está desaparecido xxx
17) Meu São Longuinho peço para me fazer o milagre que eu fique curado da
tosse e dos olhos e ouvidos peço para fazer o milagre de arrumar serviço para o
xxx meu genro e saúde para os meus netos e filha e para mim. Eu venho na sua
festa todos os anos assistir a festa e rezar para o meu são Longuinho. obrigada
senhor.
18) Venho pedir que me ajude São Pequenino a minha família me de a paz
19) São Longuinho ouve o meu pedido olha pela minha filha a saúde dela que vós
olhe por ela. xxx
364
20) xxx esquecer bebida para parar de brigar cura dor.
21) Senhor Jesus tende piedade. Xxx Peço oração ele é deficiente físico não
anda ele tem 14 anos
22) Peço graça para a vida de xxx que cure do vício e arrume emprego
23) Ache e ajude a aparecer Comprador para o que estou vendendo terreno e
comércio.
24) São Longuinho Peço lembrar os nomes de : xxx e xxx (já falecido) em sua
próxima missa. Grato xxx, xxx
25) Pelos falecimento xxx, xxx, xxx, xxx, xxx
26) Peço proteção a meus filhos, todos e netos e nora e genros. Missa para todos
os meus antecedentes.
27) Peço ao querido São Longuinho o serviço de meu filho xxx e que vos
conserve por muito tempo. Muito obrigado
28) São Longuinho Nós te pedimos para que rogue pelo xxx para que seus
cabelos cresçam Vó xxx, Tia xxx, Tio xxx
29) São Longuinho Por favor mostrar o caminho certo para a negociação da casa.
E mostrar a Médica o melhor a fazer no parto da xxx e da xxx . Grata. xxx
30) Senhor eu peço a minha casa própria para isso tenho que receber na caixa –
pela minha saúde
31) São Longuinho Abençoe a minha família proteja sempre meus filhos que a xxx
e a xxx, conseguir um emprego melhor.
365
32) São Longa São Longuinho agradeço a vós por tudo que peço sou atendida.
Peço para meus filhos que tudo de certo e relação ao seu serviço e que o xxx que
está longe que de tudo certo e que volte para xxx.
33) São Longuinho Afaste o vício da bebida de meu genro xxx, xxx, meu filho Ass:
xxx
34) São Longuinho peço amor, paz, saúde.
35) xxx – 9anos São Longuinho – Cure xxx
36) Peço documentos xxx
37) xxx que xxx pede pela saúde problemas, pede paz , emprego, aposentadoria
de marido e saúde. Juízo para xxx e compreensão.
38) peço pela saúde de todos minha família obrigada espero que seja atendida.
39) São Longuinho cura meu filho xxx, Obrigada. Amém.
40) São Longuinho, para mim saúde para o xxx (caminho e vitória) para a
Empresa – solução encontra a minha aliança
41) Peço a xxx.
42) Saúde para meu marido e para mim
43) Pela saúde de xxx e xxx. Pelas almas xxx e xxx.
44) N.S. eu te peço em nome de Jesus que realize o sonho de meus filhos uma
casa, e abençoe o coração de xxx e saúde a meu esposo e para mim e paz nessa
guerra. Obrigada, N.S. serei grata enquanto viver.
366
45) Peço que o exame de xxx 5ª feira no Inca seja fácil e no cateterismo Dou 200
pulos.
46) São Longuinho
Muito obrigada pela graça atendida. Até 21 outubro de 2003 me ajude a
encontrar as oportunidades para adquirir meu carro, Uno ano 2001 bom
estado. Trarei pessoas para conhecer a igreja Muito obrigado Desejo no mês
de julho/03 vender todos os produtos da Hokan que tenho nas mãos. Trarei
10% do lucro.
47) São Longuinho eu peço que seja tudo restaurado na minha vida familiar,
sentimental e financeira, que seja tudo achado em sua benção.
48) São Longuinho peço que consigamos vender o prédio de Tatuapé logo antes
do xxx não poder mais assinar.
49) Peço oração para todos os desempregados. xxx, xxx, xxx.
50) São Longuinho em nome de Deus eu vos peço a cura da minha filha xxx.
Muito obrigada.
51) Peço saúde agradeço a Deus as lindas bênçãos que tenho recebido N.S. da
Escada cure minha perna paz para o mundo, acabe com a violência.
52) Pedido de oração xxx, xxx, xxx, xxx, xxx, xxx, xxx,
53) São Longuinho peço a proteção para toda a família, paz, saúde, harmonia.
Que se resolva o caso do xxx da melhor maneira
54) Peço para interceder com Jesus Cristo pela recuperação de xxx.
367
55) São Longuinho vos peço: Abra meus caminhos , no trabalho, para que eu
possa progredir e eu darei muitos pulinhos.
Meu nome: xxx
Endereço: S.C.Sul – SP.
Vos peço também, saúde para meus pais, sobrinhos, irmãos, amigos,
vizinhos, para todos meus parentes e cunhados. Amém – 11/11/2002
56} Ajude meu neto me dar o dinheiro logo Obrigada
57) S.L. Eu peço para você dar graça para xxx
58) São Longuinho Que xxx tenha paz, saúde.
59) xxx, xxx, xxx, xxx, xxx, xxx, abrir seus caminhos, compreensão,
responsabilidade de amor, atenção, paz.
60) São Longuinho
Peço sua intercessão pela mudança da xxx da água para o vinho. Peço para
aparecer uma pessoa para comprar a minha terra.
61) São Longuinho Ajude-me a ser promovido. Serei grato a ti pelo resto de minha
vida.
62) São Longuinho
Câncer – xxx
Diabético – xxx
Operada da vesícula dia 11/07/03 xxx
63) São Longuinho faça com que meus filhos façam as pazes e traga a união a
todos.
64) São Longuinho xxx pede para a cura de xxxio. Que o xxx arrume um emprego
e fique lá até aposentar. Obrigada, São Longuinho.
368
65) São Longuinho
66) São Longuinho
ajudar meus irmãos xxx para as dividas dele e ter de vota o que ele perdeu
não precisa tudo a a pás para xxx saúde para a xxx e o xxx a pais para todos.
67) Meu São Longuinho
Peço ao senhor para minha filha xxx voltar para minha casa ela e meu marido
xxx
68) No dia de São Longuinho
Me ajoelhei e rezei pedindo ao santo que intercedesse a Jesus pelos meus
pedidos. No prazo de pelo menos de 2 meses fui atendida. Sendo que um
deles me mostrou em sonho e no outro dia tive a confirmação. Agradeço a ti
São Longuinho a Deus e Jesus Maria por tudo. Amém.
69) Cabelo ofertado
70) São Longuinho peço para xxx.
71) Peço a São Longuinho que ajude e proteja minha família.
72) Obrigada Nossa Senhora da Escada que ajudou o meu filho no serviço e a
São Longuinho. Obrigada Meu Deus.
73) Peço proteção a N.S.da Escada e a São Longuinho para toda a minha família
e para a prima ficar curada e saúde para todos nós. xxx – xxx – xxx
Caminhos abertos
74) São Longuinho e N. Senhora interceda com seu filho pela cirurgia de minha
mãe em 28/11. Corra tudo bem. Amém. Prometo que ela manda celebrar missa.
75) Derrame graças sobre mim. Amém.
369
76) Por favor mude a cabeça do xxx e ajude a xxx.
77) Peço a N. S. Escada encarecidamente que me acalme o coração e me ajude
que tudo dê certo. Eu prometo nunca mais incorrer nesse fato. Agradeço desde já
sua ajuda.
78) Saúde, juízo para xxx. Trabalho, paz, armonia.
79) xxx
Pedido para melhorar toda família.
80) São Longuinho e N. S. Escada
Vou deixar meu pedido de cura para xxx, de depressão, eu xxx, dor coluna, e
para xxx em emprego melhor. Obrigada.
81) São Longuinho, dar paz para minha família eu lhe agradeço do fundo do
coração.
82) Querido São Longuinho desculpe tudo mais. Creio em vós. Ajude meu neto
xxx a entrar na faculdade. Muito obrigada. Saúde para todos.
83) São Longuinho diante de Vossa Imagem peço uma graça que eu possa ser
concebida de que minhas pernas volte caso seja alcançada esta graça diante de ti
darei 200 pulos em agradecimento pela graça alcançada. Assim seja S.
Longuinho.
84) Agradeço do fundo de meu coração e alma. Peço também São Longuinho
pelas minhas mãos tirando delas as dormências.
85) São Longuinho
Em nome de Jesus eu te também por escrita.
370
Fazei com que as minhas irmãs frequentem a minha casa, me telefonem por
favor. O nome delas xxx xxx xxx xxx Obrigada.
86) São Longuinho
Ajude minhas duas filhas xxx e xxx a encontrar um bom partido e bom marido
que as amem e respeitem. Ajude também elas encontrarem-se nas carreiras
que escolherem. Agradeço desde já.
87) São Longuinho
Saúde marido xxx. Agradeço a Deus educar o meu filho. Arrumar o meu filho
da rua. Fazer uma boa prova dia 24, clarear as idéias.
88) São Longuinho
Peço a libertação de xxx. Prometo voltar aqui com ele para lhe agradecer. São
Longuinho intercedei pór nós junto ao Pai. Amém
89) São Longuinho
Peço proteção para minha família.
Que minha filha largue a droga e o álcool.
90) São Longuinho
Que minha filha não largue os estudos e afaste ela das más companhias.
91) São Longuinho
Paz e harmonia. Minhas filhas estão brigando muito. Tire a mais nova das
noitadas.
92) São Longuinho
Que meu marido volte para mim. Que ele fique mais calmo. Abrande seu
coração.
93) Eu, xxx Moda vim a Igreja de N.S.Escada e São Longuinho cumprir a minha
promessa muito feliz por ter alcançado a graça de São Longuinho, estou muito
feliz. Obrigada São Longuinho xxx São Paulo dia 07/11/2003.
371
94) São Longuinho, São Longuinho, São Longuinho, vós que não enxerga mas
que tudo vê, olhe pela minha família xxx, xxx, xxx, xxx, xxx, xxx que nos temos
muita saúde, paz, harmonia nos nossos trabalhos com muitas e muitas vendas e
muitas freguesias. Obrigada, obrigada, obrigada.
95) xxx
Peço que o senhor me ajude a conquistar uma vaga na Faculdade. Sim eu sei
que isso não significa uma coisa mais importante. Mas peço esta graça, pois
terei a resposta amanhã e outras que farei. Quero ser uma boa bióloga para
que eu possa ajudar os animais em geral e a natureza.
Proteja a minha família. Mãe, xxx(cachorro), tia(xxx) e todos que o amam.
Proteja esse mundo dando bastante amor no coração de cada um e assim
encontramos mais união e amor.
Sei que através de nosso pai Deus ele estará nos guiando, protegendo de
qualquer mal que alguém fará. Obrigada.
96) São Longuinho!
É a 2ª vez que venho à sua igreja. E lhe peço intercessão junto ao nosso Pai
Nosso Senhor Jesus, para que alcance estas graças: Um bom emprego para
meu marido xxx e também para minha filha xxx, eles precisam encontrar uma
boa colocação.
Peço-lhe também auxílio para encontrar uma forma de saldar minhas dívidas
no banco. Para meu cunhado conseguir encontrar a cura para seus males
físicos. E que encontre a melhor forma de resolver estas mudanças no meu
emprego. Desde já vos agradeço. Peço ainda para eliminar os meus
pensamentos e palavras da minha filha xxx xxx
97) Missa de ação de graças a São Longuinho.
98) São Longuinho e Santo Expedito que intercedam pelo Senhor Jesus que meu
filho consiga um emprego digno para ele sustentar sua família com dignidade, é
um apelo de uma mãe em desespero. Obrigada, Senhor.
372
99) São Longuinho pesso pela aposentadoria do meu marido e pela saúde dele e
parar de bébé.
100) S.Paulo
Oh! São Longuinho,
Eu tenho fé, venho até vós, para que me ajude a encontrar brevemente o meu
marido. Eu peço para encontrar um marido que seja amoroso, companheiro,
amigo, amante, de bom caráter e que tenha uma vida estável e equilibrada. Eu
vim da minha cidade até a sua imagem, deixar esta carta com o meu pedido e
prometo que quando realizar este pedido, voltarei até aqui para agradecer e
deixar uma colaboração para a igreja onde sua imagem está guardada. Com
a minha fé, o meu respeito e a minha gratidão. xxx.
101) Meu São Longuinho, São Longuinho, São Longuinho. Vós que não
enxergas, mas tudo vê, vos peço saúde para mim e minha filha, que nos dê
abertura de caminho, que esta depilação venha cada vez mais clientes, que lote
todos os dias de 3ª a sábado, que elas venham tantas, que eu não dê conta de
tanto trabalho. Peço que a minha filha xxx passe neste concurso do Banco do
Brasil que ela vai prestar no dia 02 de junho, domingo.
102) São Longuinho
Agradeço por toda ajuda que o pai tem me dado. Estou muito indecisa, pelo
que fazer, o emprego apesar de gostar ainda me sinto inferior, gostaria de ser
mãe, ainda não fui, as vezes desconfio da traição do marido. Ajude-me a
esclarecer essas dores, mostrando-me o horizonte, a direção a tomar.
Agradeço sempre pelo meu emprego, família, mas tem um vazio que preciso
descobrir. Ajude-me a ser mãe, ter filho(a) saudável, ser uma pessoa sucedida
profissional e manter meu lar livre de desentendimentos, raiva, mágoa, só com
atenção do meu marido. Obrigada.
103) Para São Longuinho
Gostaria de ser atendida pois meus pedidos são simples e talvez possíveis.
373
1° Gostaria que o Senhor achasse minha carta no dia do sorteio, queria ter
uma casa só minha, e isso não é egoísmo não, é um grande sonho que
sempre tive e vou ter sempre.
2° Agradecimento. Obrigada por ter encontrado o carro do meu sobrinho.
3° Quero ter um companheiro que divida comigo, minhas dores, minhas
alegrias e tudo aquilo que eu tiver que passar, mas tem que ser uma pessoa
sincera (para sempre).
4° O senhor vai ter que me ajudar em uma investigação sobre o meu genro,
que ele se revele perante minha filha se for verdade.
104) Peço paz e saúde para nós, que todas as pessoas que entre nesta entre de
coração limpo, sem inveja nem maldade para que haja cada vez mais
prosperidade e harmonia neste lar. Peço a vós proteção no trabalho de minha
filha. Meu São Longuinho estou lhe mandando estas flores e vela e lhe peço que
ajude e lhe prometo lhe fazer uma visita. Obrigada São Longuinho, São
Longuinho, São Longuinho, São Longuinho.
105) Meu São Longuinho eu não sei pedir mas vou te falar. Peço que minha neta
xxx tenha paciência com a mãe dela e não fazer mais nada de errado e que o xxx
venha para São Paulo morar com a xxx.
106) São Longuinho. Rogo a Deus por nosso intermédio, orientação para o
tratamento dos olhos.
107) São Longuinho
xxx melhore e possa me ajudar ou vender apartamento.
108) São Longuinho abençoe minha filha para que o caminho dela seja de paz.
109) São Longuinho faça com que eu ou minha filha consiga vender tudo do
restaurante. Ajude meu filho.
110) São Longuinho. Peço união entre minha família e irei te fazer uma visita
374
111) São Longuinho
Por favor não me deixe ir para o caminho das drogas.
112) São Longuinho por favor eu suplico, faça com que meu filho largue o álcool e
a bebida. Amém.
113) Peço proteção para a minha casa e toda a minha família.
114) São Longuinho
Ajude meu marido nos negócios.
115) São Longuinho cura a xxx.
116) São Longuinho tenha piedade de xxx.
117) Peço a cura de xxx.
118) Que xxx fique boa.
119) Peço a São Longuinho a melhora do meu filho e sua libertação o mais rápido
possível.
120) São Longuinho
Por favor curar a xxx de sua erupção (eu da gripe) Muito agradecida.
121) São Longuinho
Dê-nos saúde a todos os meus filhos e faça xxx voltar a ter amizade por
mim.
Obrigada.
122) Peço proteção para minha casa e toda a minha família.
375
123) São Longuinho me ajude com a sua lembrança a achar alguém especial na
minha vida.
124) Peço saúde para meu cunhado, emprego para meu irmão e juízo para meus
netos. Amém.
125) São Longuinho
Em nome de Deus nosso Criador e por seu intermédio agradeço e peço muita
proteção e recuperação da saúde de xxx (dentista) Obrigado.
126) São Longuinho
eu te peço com toda a fé do meu coração me ajude a entender minha família.
Reza para problemas do xxx.
127) São Longuinho
joguinho da mega sena
04-10-16-19-27-28
01-04-19-22-35-36
03-04-19-27-50-52
Em nome de Deus maior ajude-nos a realizar um sonho de pagar todas
nossas
dívidas, mudar de vida e poder ajudar nossos irmãos.
128) São Paulo, 11 de agosto de 2002
São Longuinho/amado santinho de meu coração. Venho te pedir que me dê
uma saída para mim, quero ser feliz no futuro, mas nada quer dar certo,
porque? Senhor me ajude a ter um rumo certo.
Me dê um bom emprego! Me
dê o meu filho amigo que está sempre longe, não se junta nunca comigo.
Ajude-o, não deixe ele descaminhar por estes caminhos que tem por aí, com
estes amigos falsos que ele tem, olhe ele sempre senhor, olhe ele para mim e
para as filhas e esposa dele – nos ajude senhor! Obrigada, obrigada mesmo
por tudo que tens feito por mim, tenho esperança no senhor que um dia, tudo
dará certo. Confio e obrigado.
376
129) Eu, xxx
Eu agradeço a São Longuinho a saúde da minha filha xxx o emprego de xxx a
bondade do meu filho xxx e peço a vós e todos os santos emprego para eles
todos. Paz e saúde para o nosso grupo da 3ª idade. Seja para sempre. Amém.
23/09/2002.
130) Senhor Longuinho, me dê uma solução para minha vida. Faça com que eu
consiga um dinheiro para por nos negócios e consiga salvar o meu filho, quem
sabe assim nós conseguimos nos juntar para sempre, ele não anda com boa
saúde, ele anda jogado por aí de casa em casa. Nos ajude senhor a mim e a
minha família todos tão dependentes dele e ele, nem liga para nós. São
Longuinho, abre a mente daquele rapaz faça com que ele se lembre que há 5
pessoas que querem ele junto e precisando do apoio dele nos ajude senhor a
resolver o nosso caso. Conto com voz.
131) São Longuinho
Eu preciso um bom emprego, fixo, quero pagar minha aposentadoria, ajudar o
pai e outras pessoas que tanto me ajudam e me ajudaram me ajude me ajude
me ajude Obrigado Senhor Obrigado São Longuinho xxx
132) São Longuinho faça com que meu filho xxx pare de fumar xxx que tenha
bom parto e que xxx seja efetivada na firma.Pedido de mãe – xxx.
133) São Longuinho. Para o nosso grupo continuar unido. E para nossa família
paz, amor e fraternidade na paz de Deus. xxx e xxx
134) São Longuinho é o 1º pedido que faço para o Sr. Resolva o problema do
INSS mais rápido possível. Eu quero. Eu posso. Amém. xxx
135) Espero São Longuinho um bom esposo para minha filha
377
136) São Longuinho
Abençoe a mim e minha família. E me dê a graça de alcançar e conseguir
outro emprego. Obrigada!!!
137) N. S. da Escada e São Longuinho peço de coração a cura da minha filha xxx
e do meu neto xxx e a minha cura das minhas dores e problemas de pele e do
coração. Deus nos pague e suas bênçãos. xxx
138) Eu, xxx, peço a São Longuinho, que ajude a mim e ao meu patrão que
consigamos sair desse sufoco em relação as dívidas a qual temos que pagar,
saindo dessas dívidas, que amenize o meu lado em relação ao Banco. Desde já
agradeço. Obrigada.
139) São Longuinho Esta medalha é um agradecimento para muitas graças
alcançadas. Muito obrigada. xxx.
140) Meu querido São Longuinho dá uma força para minha filha trabalhar logo.
141) São Longuinho peço que me ajude minha família que seja abençoada cada
vez mais, na saúde, na parte financeira, e também no trabalho da comunidade.
Que interceda por nós junto a Deus nosso senhor Amém.
142) São Longuinho ajuda xxx e xxx sair daquele lugar mais breve possível.
Obrigada
xxx.
143) Graças ao poderoso São Longuinho achar um bom fígado para o meu irmão
xxx.
144) São Longuinho por favor eu suplico, faça com que meu filho largue o álcool e
a bebida. Amém xxx.
145) Peço pro meu filho xxx deixar da bebida pás na casa dele pas na casa dele
pas para família.
378
146) São Longuinho me ajuda a resolver todos os meus propremas. Saúde-Paz-
147) São Longuinho
Proteja toda a minha família.
148) Meu são longuinho fazei com que eu sare e ajudá minha filha e meus netos
e que o pai amoleça seu coração com a xxx.
149) Eu xxx te peço São longuinho emprego, saúde e paz para meus familiares e
para o nosso grupo da terceira da paroquia de são pedro.
150) Peço a São Longuinho e Senhora da escada a benção saúde proteção paz
para xxx, xxx, xxx, xxx, xxx, xxx.
151) Que xxx, xxx, xxx sejam curados dos males físicos e espirituais.
152) São Longuinho Peço saúde para mim e todos familiares, prosperidade, união
para o grupo e para todos.
153) São Longuinho Obrigada pela cura de nervos da xxx. Obrigado por ela ter
conseguido passar no concurso da ordem dos advogados.
154) São Longuinho já que estou aqui a teus pés, queria lhe pedir pelo meu neto
xxx que tem um problema, que nenhum médico descobre o que é. Obrigado.
155) Peço ao Senhor São Longuinho Por Deus, peço uma grande ajuda para que
meu irmão arrume um emprego e meu marido se aposentar. Agradeço de
coração. Levarei seu nome a todos que te amar. xxx.
156) São Longuinho Peço que me ajude todos os meus familiares.
379
157) São Longuinho, Obrigada por tudo e por ter encontrado a minha saúde, e ter
curado para sempre o meu aneurisma celebral para que ele nunca volte. Amém.
Obrigado.
158) São Longuinho Saúde para meus filhos netos genros e nora. Um emprego
para o xxx.
159) Peço a São Longuinho e Nossa Senhora da Escada bastante saúde a todos
proteção toda minha família e que seja resolvido todos os problemas que estamos
passando. Obrigado.
160) São Longuinho Peço que o xxx fique bom
161) São Longuinho, Por favor, ajude a xxx a conseguir tudo que deseja, inclusive
o carro que ela necessita. Amém! Obrigado.
162) São Longuinho, Peço que o xxx fique bom, que reine a harmonia em casa.
Que minha irmã fique boa e obrigada por tudo.
163) São Longuinho Saúde São Longuinho juízo para xxx
164) Para minha filha xxx ganhar concurso miss primavera do Seminário N. S. da
Glória.
165) Glorioso São Longuinho peço-lhe a misericórdia de libertar a minha filha da
perseguição de xxx. Que xxx esqueça de xxx e saia do caminho dela. Liberte
os seguros de vida para ela.
166) São Longuinho Ajude a xxx a vender os congelados que arrumi mais
clientes. Obrigado.
167) São Longuinho Nós pedimos sua interseção para que não haja mais guerra,
para que os homens tenham mais amor no coração.
380
168) São Longuinho Que todos nós, seres humanos, possamos ser mais justos,
unidos para que pensemos como nosso pai que trata a todos com igual amor.
Amém.
169) São Longuinho que o xxx fique livre do tique nervoso. Obrigada
170) São Longuinho Proteção, Saúde para minha família e que todos tenham
serviço. Conseguir meu filho a arrumar emprego
171) São Longuinho, Pedido para arrumar serviço e passar nos exames de
escola. Para xxx e xxx –serviço, para xxx e xxx – exames Pedido de mãe
172) São Longuinho... fasa com que eu ache a minha chave da minha e do carro
que eu dou três pulinhos.
173) Peço a São Longuinho que livre minhas filhas de vícios e tentações.
174) Peço a Deus e São Longuinho Para que nos de graças e forças para
continuarmos a nossa formação nessa vida abençoada que nós temos. Abençoe
minha família, meus filhos, amigos, meu trabalho, enfim. Obrigado meu Deus.
175) Pedido de proteção a São Longuinho para meus filhos.
176) São Longuinho Obrigado pela cura de bebida de xxx. Cura dos vários
amigos errados. Juízo e amadurecimento, esclarecimento espiritual. Formatura.
177) São Longuinho, Saúde e paz para todos.
178) São Longuinho que eu xxx e xxx, tenhamos nossa casa própria. Que xxx
seja feliz nesta vida, forme nos estudos e tenha um ótimo casamento.
381
179) São Longuinho eu vos peço um bom casamento para minha família e saúde
para mim e para minha família (Amém).
180) São Longuinho Por favor eu não ter cancer no seio e a xxx ficar boa como
está. Obrigada.
181) Peço a São Longuinho que ajude o meu filho a resolver um problema de
cirurgia. Ajude deser a bolinha dele no saquinho. Que ficarei muito agradecida
ajude Também meu marido no novo emprego. Obrigado.
182) Meu São Longuinho. Fazei com que o meu pai ache um lugar para morar e
faz com que eu ache as multas. Senhor, Fazei com que eu ache as multas. Fazei
com que a xxx passe no vestibular. São Longuinhos, Saúde para xxx.
183) São Longuinhos, peço-lhe que ajude-me a pagar as minhas dívidas com
urgência que eu passe no concurso público, que arrume um bom marido que me
ame e a meus filhos.
184) Meu querido Solonguinho Peço a voz que va até Jesus pedir paz para minha
família e netos. Prosperidade para mim e todos e me traga um grande amor.
Obrigado.
185) São Longuinho. Peço para achar os meus documentos.
186) Peço para encontrar a minha aliança.
187) São Longuinho. Peço ajuda para vender nossa casa, saúde para todos da
minha família.
188) São Longuinho ajude a minha mãe e a minha vó e as crianças pobres.
189) São Longuinho Que eu consiga pagar a clínica.
190) São Longuinho que a luz da sua lanterninha ilumine o caminho de todos.
382
191) Meu poderoso São Longuinho peço cura-me derrame sobre nós todo vosso
poder para misericórdia. Senhor Santo de Deus cura-me pelo amor de Deus.
192) São Longuinho, juízo para o meu neto.
193) Ajude-me a ser promovida à CBPH Serei grato a ti pelo resto de minha vida.
194) São Longuinho Ajude o xxx a vender seus quadros, a concluir o mestrado e
entrar no doutorado.
195) Pela recolocação profissional de xxx rezemos ao Senhor por intercessão de
São Longuinho. Pela saúde de todos os familiares. Amém.
196) São Longuinho le pesso a bença para que me a judes a eu a remar em julho
de lues e me a judes nos meus negócios. Muito overigado muito overigado.
197) São Longuinho Peço-lhe do meu coração ajudar o meu irmão xxx achar a
caminhonete dele pois ele ainda não achou. Obrigado São Longuinho por esta
graça que o senhor já me concedeu. Beijos.
198) São Longuinho, eu vos peço, Abra meus caminhos no trabalho, para que eu
possa progredir . E eu darei muitos Pulinhos. xxx – SC Sul – SP
199) São Longuinho Obrigado pelo caminho aberto para xxx.
200) São Longuinho que a minha dor de cabeça tenha cura. Que o Senhor una
sempre os corações de xxx e xxx, dê paciência para ele e lhe proteja sempre no
trânsito, dê paz e o mais importante que o senhor e todos os santos esteja ao
lado dele.
201) São Longuinho peço oração para xxx. Ele é deficiente físico não anda ele
tem 14 anos. xxx
383
202) São Longuinho peço para xxx esquecer a bebida.
203) São Longuinho olhe pela minha filha xxx. Afaste a bebida dela.
204) São Longuinho Oração para todos os desempregados
205) Senhor Longuinho eu peço pela minha casa própria. Para isso tenho que
receber na Caixa. Pela minha saúde xxx.
206) São Longuinho Ache meus documentos xxx.
207) São Longuinho Peço a vós para arranjar trabalho para o xxx que tanto
precisa de servisso. Soldado, me ajude. Meu Santo Obrigado Amém
208) São Longuinho Peço benção para mim e minha família.
209) Meu querido São Longuinho faça que eu deixe que minha preocupação e
que de hoje em diante eu tenha pas e pas para a minha família.
210) São Longuinho peço a libertação do xxx. Prometo ter aqui ele para lhe
agradecer. São Longuinho intercedei por nós junto ao pai. Amém.
211) São Longuinho, Nós te pedimos para que nasça os cabelos do xxx.
212) São Longuinho Agradeço e peço que conserve este namoro do xxx até o
casamento e no casamento volto aqui e dou 1000 pulinhos e 1000 em casa antes
de vir.
213) São Longuinho - Para o Posto melhorar.
214) São Longuinho Ajude o meu filho xxx a achar a vaga de emprego que ele
perdeu.
384
215) Meu São Longuinho venho pedir se permitido por Deus para que meu exame
do útero não seja nada e para
216) Meu São Longuinho Peço uma graça para meu filho largar a maconha
217) São Longuinho peço uma graça junto ao pai, minha cura, um meio para sair
das dívidas e também resolver os problemas com xxx – uma vida digna –
mandarei celebrar uma missa em teu louvor.
218) Peço ao Senhor Longuinho para tirar este meu problema da próstata, joelho
direito e esquerdo desde já agradeço e também problema dos rins.
219) Meu companheiro São Munguinho, venho por meio de ti pedir para que me
ajude a arrumar um serviço. Obrigado xxx.
220) São Longos Faça meu pé melhorar.
221) São Longuinho eu peço em nome de Jesus protege minha família e abençoe
minha filha da depressão e cure de uma vez por todas peço também longuinho
dê saúde e força a meu filho que vai se casar e também que meu neto naca
perfeito e com saúde. Também peço em nome de Deus me cure deça doença que
me persegue de manhã assim que me acordo, me cure, tenho muita fé neste
santo.
222) São Longuinho faça com que apareça uma pessoa boa para mim.
223) São Longuinho peço por xxx que está desaparecido.
224) São Longuinho. Em nome de Jesus eu te peço por escrito fazei com que as
minhas irmãs freqüentem a minha casa, me telefonem por favor.
385
225) São Longuinho eu te peço por favor olhai pelo meu filho. Ele precisa muito
de livrar da bebida do cigarro e das más companhias e fazei com que ele respeite
o pai e a mãe. Ele está muito mal criado responde e não obedece. Por favor,
atende meu pedido de mãe. Se alcançar esta graça falarei o teu nome bem alto e
darei 3 pulinhos. São Longuinho rogai por nós.
226) São Longuinho ajude minhas 2 filhas a arranjar um bom partido, um bom
marido que as ame e respeite.
227) São Longuinho Peço ao senhor para minha filha e meu marido voltarem para
minha casa.
228) São Longuinho, peço a vossa intercessão junto a Deus pela minha paz, por
minha saúde e se for da vontade de Deus a minha mudança se for para minha
felicidade e que eu possa entender e aceitar todas as pessoas como são.
Obrigada.
229) São Longuinho Traga a paz e união para minha família.
230) São Longuinho, venho aqui na sua casa te pedir dois pedidos impossíveis
uma graça difícil mas para os seus olhos é fácil. Preciso urgente mudar de setor
na Embraer, me prepare outra seção e gostaria também de pedir a benção para
meu casamento. E se conseguir mudar de setor até 30 de agosto eu volto aqui
para assistir uma missa de joelho.
231) São Longuinho Ajude na aposentadoria de meu pai e serei muito grata a
você.
232) Por favor São Longuinho tenho um avô desaparecido a alguns meses, Peço-
lhe com toda fé! Traga ele de volta ou dei-me notícias dele.
233) Peço a Deus e a São Long que tire essa pessoa desce sofrimento e que faça
o que é melhor para ela. xxx.
386
234) São Longuinho Querido desculpe tudo mais creio em vós. Ajude meu neto a
entrar na faculdade. Muito obrigado.
235) São Longuinho ache e ajude a aparecer comprador para o que estou
vendendo
236) Peço graça para a vida do Roberto que cure do vício e arrume emprego.
237) São Longuinho Peço casamento para minha filha.
238) São Longuinho Uma esses dois corações que estão separados sem razão.
xxx e xxx.
239) São Longuinho, estou aqui neste dia 27/11, lhe visitando e aproveitando para
lhe pedir união com a pessoa que eu amo de verdade, faça com que nossos
corações se unam para sempre e não se separe nunca mais.
240) São Longuinho São Longuinho Se eu recuperar a minha vista eu dou treis
pulinhos. Amém.
241) Peço a São Longuinho para ele iluminar o anjo da guarda para que afaste o
ódio que xxx tem de mim e peço saúde para toda minha família. Afaste todo mal
da minha vida. Agradeço de coração.
242) Solonguinho hoje venho aqui lhe pedir ajuda porque sei que você pode
ajudar meu pai se libertar da bebidae trazer a paz na casa deles, transformar o
coração da minha mãe e trazer paz para todos.
243) São Longuinho diante de vossa image peço uma graça que eu possa ser
concebida de que minhas pernas volte . Alcançando esta graça dou diante de ti
200 pulos. Assim seja Solonguinho. Agradeço do fundo de meu coração e alma
desta pecadora que lhe pede. Peço também pelas minhas mãos adormecidas.
387
244) Salonguinho peço a você que abra os caminhos do meu emprego que é
transporte escolar e abra o caminho de meu amor também. O amor meu é meio
complicado preconceituoso, porque sou infeliz até hoje porque o meu amor que
sinto é do mesmo sexo que eu, sofro tanto porque as vezes me interesso por
pessoa errada é difícil hoje em dia a gente descobrir quem realmente é como eu
sou às vezes parece ser quando a gente vê não é nada daquilo. Por isso
solonguinho me mostra quem é igual eu falei as pessoas que são iguais a mim se
aproxima de mim. Tenho certeza que depois desta conseguirei encontrar uma
pessoa que me ame de verdade, espero ser realizada. O mais rápido possível
porque não está dando mais para ficar só. Desde já agradeço Obrigada. 11/2003.
245) Agradeço a São Longuinho por muitas graças alcançadas o meu joelho
desenganado pelo médico, e estou completamente curada, e muitas graças mais
que São longuinho atendeu. Abençoe a todos como abençoou a mim até a minha
cadela Ficou paralítica, eu pedi a São Longuinho pela melhora e hoje ela está
curada com 6 filhotes. Peço que abençoe o meu filho Abílio que a firma vai para a
frente que está muito mal mas como eu já recebi tanta graça espero que a vida
dele seja igual. São Longuinho obrigada por todas as graças alcançadas que eu
recebi. Animada. xxx - Vila Formosa – São Paulo 25/01/04
246) São Longuinho eu peço que tudo seja restaurado na minha vida familiar,
sentimental e financeira.
247) Peço que consiga a venda do prédio de xxx, logo antes do xxx não poder
assinar.
248) Peço que o exame do xxx na 5ª feira seja bom que darei 200 pulos.
249) Trarei pessoas para conhecer esta igreja no mês de julho/2003 vender todos
produtos Hoken que tenho. Trarei 10% dos lucros.
388
250) Obrigada por alcançar graça atendida. Até 21/10/2003 me ajude a encontrar
oportunidades para adquirir meu carro.
251) Câncer (xxx) Diabético (xxx)
252) Graças para todos os desempregados. xxx.
253) Obrigada por encontrar o carro de meu sobrinho
254) Quero ter um companheiro mas tem que ser meu peço sincero
255) O Senhor vai ter que me ajudar em uma investigação sobre o meu genro que
ele se revele perante minha filha se for verdade.
256) São Longuinho que minha neta xxx tenha paciência com a mãe dela
257) São Longuinho Mude a cabeça do xxx
258) São Longuinho Cura da xxx
259) São Longuinho não me deixe ir para o caminho das drogas. Me ajude.
389
ANEXO 6 – TRANSCRIÇÃO DAS FOLHAS FIXADAS NAS PAREDES
PRÓXIMAS AO ALTAR PRINCIPAL DA IGREJA DE NOSSA
SENHORA DA ESCADA – GUARAREMA – SP
A) Histórico sobre Guararema
Freguesia da Escada
Guararema – A Pérola do Vale
Segundo Ameliano Leite, em 1560, Braz Cubas se embrenha pelo sertão e
descobre ouro em vasta sesmaria que chega à margem esquerda do rio Anhembi
(Tietê). A descoberta é comunicada ao Rei por carta datada de 25 de abril de
1562. Em sua entrada pelo sertão, Braz Cubas desce a seguir pelo Rio Paraíba e,
atravessando a Mantiqueira, esbarra no Rio São Francisco (Isaac Grinderg,
História de Mogi das Cruzes, 1961 p. 19). Segundo o historiador, este foi o
primeiro homem a pisar em nosso solo.
1608 – 22 de dezembro, Gaspar Vaz fundou o aldeamento da Escada, para
aonde foram levados índios já catequizados. Já em 1625, o aldeamento havia
sido entregue aos jesuítas que sobreviviam da lavoura. Em 1652, os padres
jesuítas ergueram a primeira capela no arraial. Devido ao seu posicionamento
geográfico, durante séculos a localidade constitui-se como etapa obrigatória dos
caminhantes que iam de São Paulo para o Rio de Janeiro e vice-versa.
Por dar proteção aos índios, os jesuítas somaram muitos inimigos, inclusive
Gaspar Vaz, que defendia a escravização dos índios. Os inimigos atacavam as
aldeias e destruíam várias missões jesuíticas ao sul do Brasil e Uruguai: tão
freqüente se tornaram estes ataques, que os jesuítas foram reclamar ao Papa, o
qual, em 1640, declarou todos os índios da América livres. Com o acontecido, os
colonos decidiram pela expulsão dos jesuítas de toda a capitania.
Em 15 de dezembro de 1732, o índio chamado à moda portuguesa de
Sebastião Silva é nomeado capitão-mor dos índios do arraial da Escada, nesse
mesmo ano, a primeira capela foi demolida em virtude de má conservação para
dar lugar a outra capela. Em 1734, com a vinda dos franciscanos, ergueu-se um
alojamento anexo que passou a funcionar como convento. Construído em taipa de
390
pilão, o conjunto, representativo da Arquitetura Colonial Brasileira, foi tombado
pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no dia 25 de janeiro de 1941.
A capela recebeu o nome de Nossa Senhora da Conceição e logo passou
a chamar-se Nossa Senhora da Escada. Há várias hipóteses para a mudança de
nome. O fato mais provável talvez seja este: “Reza a tradição popular que os
indígenas tinham por hábito colocar sobre a sepultura de seus mortos um fardel
cheio de alimentos e uma escada para que a subida da alma até o reino de Tupã
se realizasse de maneira tranqüila”.
Conhecedores deste fato, os padres teriam tratado de esculpir degraus ao
redor da Virgem com o objetivo de estabelecer uma ligação entre as crenças
pagãs e a religião adventícia, de modo a facilitar a catequização.
Conhecedor dos fatos ocorridos no arraial da Escada, o padre da vila de
São Miguel, com o apoio do vigário da Vara de São Paulo, André Baruel, autoriza
o supervisor da Vila de São Miguel a levar para essa igreja “as imagens e alfaias”
da igreja da Escada junto com 46 índios que aqui viviam, com isso não concorda
a Câmara de Mogi das Cruzes, que, com povo reunido, vai a São Miguel e traz de
lá as imagens e os índios que haviam sido tomados a Escada.
(Leonardo Arreyo – Igrejas de São Paulo)
Foi o arraial da Escada elevado a Freguesia da Escada pela Lei nº 09 de
fevereiro de 1846, porém esse fato foi revogado pela Lei nº 06 de maio de 1850,
pois o arraial teve atrofiada sua propriedade em conseqüência da atuação
exercida pelos outros vizinhos. Só em 1872, pela Lei nº 01 de 28 de fevereiro, foi
definitivamente elevado a Distrito da Paz. Foram seus primeiros dirigentes:
Benedito Antônio de Paula, Antônio de Mello Franco e Joaquim Alves Pereira.
Como vigário da nova paróquia que surgia, veio o padre Miguel Piement e, a 03
de julho de 1872, a capela de Nossa Senhora da Espada foi instituída
canonicamente e hoje faz parte do Patrimônio Histórico Nacional. Em 1875, Dona
Laurinda de Souza Leite, a fim de auxiliar uma ex-escrava, Maria Florência, fez-
lhe doação de um quinhão de terra situado às margens do rio Paraíba, em lugar
plano, distante 3,5km do Arraial da Escada, pouco acima da foz do ribeirão
Guararema. Levada por sentimentos religiosos, Maria Florência construiu numa
parte do terreno recebido uma capela para o santo de sua devoção, São
391
Benedito. Com o auxílio de algumas pessoas e algumas economias suas, Maria
Florência, em pouco tempo, conseguiu terminar a construção da Capela de São
Benedito. Aos poucos, foram se estabelecendo outros moradores nos arredores
da capela, formando-se um vilarejo que recebeu o nome de “Guararema” (do tupi
guarani – Pau D’alho) devido à abundância dessa árvore na região. Em junho de
1846, inaugurou-se o trecho da EFCB – Estrada de Ferro Central do Brasil – entre
Mogi das Cruzes e Jacareí com a passagem da estrada de ferro pela vila: esta se
desenvolveu rapidamente e por Decreto nº 8 de 08 de janeiro de 1890, a sede do
Distrito de Paz de Escada foi transferida para o povoado de Guararema, que foi
elevado à categoria de município pela Lei nº 528 de 03 de junho de 1898, sendo
que era preciso ter um prédio para câmara e outro para a cadeia, logo construídos
a 19 de setembro de 1899, com a instalação da Primeira Câmara Municipal de
Guararema, foram empossados: Major José de Paula Lopes, Joaquim Paião,
Maximino Prudêncio de Mello, Benedito Pinto de Souza, Joaquim Alves Pereira e
Benedito de Souza Ramalho. Em 23 de setembro de 1899, foram realizadas
eleições dos Poderes Municipais, sendo presidente o Major José de Paula Lopes
e vice-presidente Joaquim Paião. Foi o primeiro intendente municipal (Prefeito):
Benedito de Souza Ramalho, Benedito Pinto de Souza e Maximino Prudêncio de
Mello. A sede municipal foi elevada à categoria de cidade, pela Lei Estadual nº
1.038 de 19 de dezembro de 1906. A denominação dos habitantes do município é
Guararenenses.
Por João Augusto da Silva
São Longuinho viveu no 1º século, foi contemporâneo de Jesus Cristo e, de
acordo com os raríssimos relatos a respeito da vida de santo, dizem-se tratar do
centurião que, na crucificação, reconheceu Cristo como “filho de Deus” (27:54
Mateus, Marcos 15:39, Lucas 23:47). Este centurião é identificado como o
soldado “que perfurou Jesus com uma lança” (João 19:34), provavelmente pelo
fato de o nome ser derivado do grego e significar “uma lança”.
Consta-se que os crucificados tinham seus pés quebrados a fim de facilitar
a retirada da cruz; mas, quando chegou a vez de Jesus, o mesmo já estava com
os pés soltos e, assim, em vez de quebrar seus pés, um dos soldados perfurou o
lado de seu corpo com uma lança. A água que saiu do lado do corpo de Jesus
392
teria respingado em seus olhos, curando-o instantaneamente de uma grave
doença nos olhos. Conseqüentemente, o soldado se converteu e, ao abandonar
para sempre o exército e sua moradia, transformou-se num monge a percorrer a
Cesaréia e a Capadócia, atual Turquia.
A tradição nos diz que São Longuinho destruiu algumas imagens
idolatradas na época com um machado, na presença de um homem que o
perseguia, e que das imagens quebradas saíram muitos espíritos malignos que
perseguiram e cegaram tal homem. Longuinho disse a ele que somente seria
curado e liberto após a sua conversão. Assim, depois de fazer uma prece,
imediatamente o homem foi curado da cegueira e converteu-se ao cristianismo.
São Longuinho foi preso e torturado por causa de sua fé cristã, tendo seus
dentes arrancados, e sua festa é comemorada em 16 de outubro. No Brasil e na
Espanha, a comemoração ocorre no dia 15 de março.
Na arte litúrgica, São Longuinho é representado como um soldado com
uma lança apontada para os seus olhos ou então com os braços abertos,
segurando uma lança. A lança de São Longuinho encontra-se hoje em Viena, na
Áustria e é muito referenciada como relíquia religiosa.
B) Oração a São Longuinho
Glorioso São Longuinho, a ti suplicamos, cheios de confiança em tua
intercessão. Sentimo-nos atraídos a ti por uma especial devoção e sabemos que
nossas súplicas serão ouvidas por Deus Nosso Senhor, se tu, tão amado por Ele,
nos fizeres representar.
Tua caridade, reflexo admirável, inclina-te a recorrer toda a miséria, a
cancelar todo o sofrimento, suprir toda necessidade em proveito de nossas almas,
e assegurar dada vez mais nossa eterna salvação, com a prática de boas obras e
imitação de tuas virtudes! Amém.
São Longuinho, roga por nós!
C) Cartaz colocado por uma devota na parede próxima ao oratório de São
Longuinho.
Acontecimentos
: surgiu uma ferida no nariz de dona Ana. Seus filhos,
preocupados, trouxeram-na para uma consulta na Santa Casa, Guararema, onde
393
um médico havia dito que aquela doença não tem cura. Então levaram D. Ana
para Mogi. Depois de outra consulta, iniciaram um tratamento. Só que, neste
tratamento, teria que ser feito um curativo todos os dias; ficou combinado que o
curativo seria feito dia sim e outro não, devido a idade avançada de D. Ana. Além
do tratamento, os familiares de D. Ana e seus amigos, com bastante fé, fizeram
um pedido a São Longuinho
, que intercedeu junto a Deus na cura de D. Ana, que
hoje está totalmente curada.
Em agradecimento a essa grande graça
recebida, hoje, dia 10 de maio de
2002, está sendo celebrada esta missa (celebração eucarística) em ação de
graça. Agradecemos também a Deus pela boa assistência dos médicos,
enfermeiros e todos aqueles envolvidos no tratamento e cura de Dona Ana.
“Eu sou o pão da vida: aquele que vem a mim não terá fome, e aquele
que crê em mim jamais terá sede”. João: cap. 6 v 35
Observação
: A devota entrou na Igreja durante o Ofertório carregando este cartaz
e o levou até o oratório de São Longuinho, com muita emoção dela e de toda a
comunidade.
394
ANEXO 7 – ALGUNS AGRADECIMENTOS POR GRAÇAS ALCANÇADAS
Obs.: Estes agradecimentos foram escritos por devotos no Livro de Registro da Igreja
ou colocados em folhas de papel dentro de tal livro.
Anotado no livro de registro em 21/12/2003
São Longuinho, muito obrigado por todas as graças alcançadas. Peço-vos que
apareça um serviço para xxx e xxx. Saúde para nossa família que o xxx afirme a perna e
seu xxx, para xxx sarar da vista e que desapareça o inchaço do pescoço. Peço que vai
embora a insônia e o estres de mim para xxx acostumar com o aparelho e que seja feliz na
casa e na escola que seja boa para meu pai e vó e professora e as amigas. Goste da igreja.
Para xxx ser feliz no serviço e a xxx também. Para xxx sarar do resfriado do pulmão.
Abençoe o serviço de xxx. Pela paz no mundo assim seja. São Longuinho rogai por nós.
Eu xxx – Endereço xxx – São Paulo – Mooca. Eu aqui na Igreja Nossa Senhora
da Escada e São Solonguinho agradecendo uma grande graça, que pedi sobre a vida da
minha netinha xxx que este na U.T.I. 12 dias. Um médico disse a minha nora só milagre
pode salvá-la. Hoje venho agradecer a graça recebida.
Peço oração, proteção, paz, prosperidade, saúde, sabedoria, salvação para toda
minha família.
Para todos um Feliz Natal e Próspero Ano Novo.
Xxx
Peço oração, proteção, paz, prosperidade, saúde, sabedoria, salvação para toda minha
família. Para todos um Feliz Natal e Próspero Ano Novo.
395
ANEXO 8 – PROGRAMAÇÃO DAS FESTAS EM LOUVOR A SÃO LONGUINHO
396
ANEXO 9 – ORAÇÃO E SANTINHO DE SÃO LONGUINHO
Oração de São Longuinho
397
ANEXO 10 – FOTOS
Figura 1 - Igreja Nossa Senhora da Escada –
Guararema - SP
Figura 2 - Imagem de São Longuinho no oratório
Figura 3 - Altar principal da Igreja de Nossa Senhora
da Escada – Guararema – SP. No centro,
imagem da Padroeira, N. S. da Escada. À
direita, oratório de São Longuinho e à
esquerda imagem de N. S. da Escada e de
São Longuinho, soldado, à venda
Figura 4 - Imagens à venda na Igreja
Figura 5 - Pia Batismal
F
i
g
ura 6 - Altar de S. Francisco de Assis, cuja
imagem foi roubada. No local, foi colocada
a imagem de Santa Terezinha
398
Figura 7 - D. Luíza, zeladora da Igreja há 36 anos Figura 8 - Ângela e Carlos, casal atuante na
pastoral
Figura 9 - Luíza, a índia mais velha da região Figura 10 - Gaveteiro onde foi encontrada a imagem
de São Longuinho, quebrada, em um
cômodo onde era o convento
Figura 11 - Imagem de São Longuinho em dia de
festa em Freguesia
Figura 12 - São Longuinho na Festa da Padroeira
em novembro de 2003 (fitas colocadas
por devotos)
399
Figura 13 - Devotos dando os três pulinhos Figura 14 - São Longuinho na Festa da Padroeira:
fitas colocadas por devotos, vasos,
flores, anéis, cordões
Figura 15 - Quadro pintado e doado por devota ao
santo
Figura 16 - Decoração da Igreja feita por
floricultura de São Paulo – promessa de
um advogado de São Paulo que, há 20
anos, manda decorar a Igreja de N. Sra.
da Escada na ocasião da Festa da
Padroeira
Figura 17 - Padre Roberto – atuou durante 20 anos
em Freguesia da Escada e faleceu em
2005
Figura 18 - Crianças vestidas para a procissão da
Padroeira, domingo, 16/11/2003.
400
Figura 19 - Procissão da padroeira seguindo em
direção ao rio para receber a imagem de
N. Sra. da Escada. Andor de São
Benedito
Figura 20 - A zeladora, D. Luíza, e pessoas da
comunidade aguardando a chegada da
procissão
Figura 21 - Padre Geraldo chegando a Freguesia
com a imagem da Padroeira
Figura 22 - Procissão de Barcos / Festa da
Padroeira, novembro de 2003
Figura 23 - Padre Geraldo e Padre Roberto
celebrando a missa da Festa da Padroeira
em novembro de 2003
Figura 24 - Festa de São Longuinho, em março de
2004
401
Figura 25 - Sr. Vicente encontrou a imagem de São
Longuinho
Figura 26 - A imagem de São Longuinho sendo
preparada para a festa
Figura 27 - João, morador de Freguesia, trabalha
para a Igreja de N. Sra. da Escada desde
que ficou “curado graças a São
Longuinho”.
Figura 28 - Imagens de São Longuinho no dia da
sua festa em 15 de março de 2004.
Figura 29 - Imagens de São Longuinho franciscano
ou São Longuinho frade e São
Longuinho soldado romano
Figura 30 - Casal de devotos de Mogi das Cruzes –
SP que compareceu no sábado da Festa
de São Longuinho, 2004. Afirmam que
a “imagem tentou falar” com eles
402
Figura 31 - Imagem de São Longuinho, soldado
romano
Figura 32 - Missa de abertura da Festa de São
Longuinho de 2004 – Padre Geraldo
Magela Lázaro e D. Lourdes, ministra
da eucaristia
Figura 33 - D. Luíza e João carregando o mastro na
missa de abertura da Festa de São
Longuinho / 2004
Figura 34 - Missa de abertura da Festa de São
Longuinho / 2004 (aniversariante do dia
e morador em Freguesia)
Figura 35 - Frei Alamiro e ministras da Eucaristia na
missa de sábado de São Longuinho /
2004
Figura 36 - Pessoas da comunidade na missa de
sábado da Festa de São Longuinho /
2004
403
Figura 37 - Frei Almiro na missa por ele celebrada,
com a imagem de São Longuinho
Monge. Festa de São Longuinho / 2004
Figura 38 - Pessoas da comunidade, Festa de São
Longuinho / 2004
Figura 39 - Pessoas da comunidade, Festa de São
Longuinho / 2004
Figura 40 - Festa de São Longuinho / 2004
Figura 41 - Imagens à venda no domingo da Festa de
São Longuinho / 2004
Figura 42 - Festa de São Longuinho / 2004
Figura 43 - Preparação para a procissão. Festa de
São Longuinho / 2004
Figura 44 - Festa de São Longuinho / 2004
404
Figura 45 - Festa de São Longuinho / 2004 Figura 46 - Devoto pagando promessa
Figura 47 - Procissão saindo da Igreja. Pessoas da
comunidade “puxando o terço”.
Figura 48 - Procissão de São Longuinho / 2004
405
Figura 49 - Procissão de São Longuinho / 2004 Figura 50 - Procissão de São Longuinho / 2004
Figura 51 - Procissão de São Longuinho / 2004 Figura 52 - Procissão de São Longuinho / 2004
Figura 53 - Chegada da procissão na praça em
frente à Igreja de N. Sra. da Escada –
Festa de São Longuinho / 2004
Figura 54 - Imagem semelhante à do oratório
carregada pela criança à direita durante
a procissão
Figura 55 - Missa campal celebrada por padre
Geraldo Magela Lázaro
Figura 56 - Festa de São Longuinho / 2004
406
Figura 57 - Festa de São Longuinho / 2004 – Fila
de devotos perante a imagem
Figura 58 - Devotos perante a imagem
Figura 59 - Devotos perante a imagem Figura 60 - Missa campal.
Figura 61 - Festa de São Longuinho / 2004.
407
III FESTA DE SÃO LONGUINHO/2005
São Longuinho saindo da Igreja Nossa Senhora da Escada, dando início à procissão/2005
TV e jornalistas presentes na procissão – III Festa de São Longuinho/2005
408
Missa campal – III Festa de São Longuinho/2005.
Padre Geraldo Magela Lázaro celebrando a missa campal – III Festa de São Longuinho/2005.
409
III Festa de São Longuinho/2005 – Entrega à comunidade da cópia da dissertação de mestrado:
“Um Estudo sobre São Longuinho”.
Padre Geraldo Magela Lázaro e D. Lourdes – homenagem à pesquisadora.
III Festa de São Longuinho/2005.
410
Missa campal – III Festa de São Longuinho – 2005.
D. Luíza, padre Geraldo, D. Lourdes e pessoas da comunidade na III Festa de São
Longuinho/2005
411
Missa Campal – Toalha que é uma réplica da usada quando o papa veio ao Brasil e celebrou
missa.
Pessoas presentes à missa de domingo na III Festa de São Longuinho/2005.
412
Missa Campal: em frente ao palco, dois cofres expostos para donativos.
Pessoas presentes à missa da III Festa de São Longuinho/2005.
413
Missa Campal 2005/III Festa de São Longuinho.
Participação de jovens na missa e devotos de São Longuinho.
414
IV Festa de São Longuinho/2006.
Cordão de isolamento para o oratório de São Longuinho – Devotos em fila.
415
Dom Paulo na missa de abertura da IV Festa de São Longuinho/2006.
Dom Paulo em celebração na IV Festa de São Longuinho/2006.
416
Pessoas da comunidade participando da missa de abertura da IV Festa de São Longuinho/2006.
Moradores de Freguesia.
417
D. Luíza e sua filha Heloísa na abertura da IV Festa de São Longuinho/2006.
Músicos de Guararema participando da IV Festa de São Longuinho/2006.
418
Professora da comunidade.
Moradores de Freguesia na missa da IV Festa de São Longuinho/2006.
419
Dom Paulo recebendo presente da comunidade de Freguesia/IV Festa de São Longuinho/2006.
São Longuinho sendo “arrumado” para a festa por D. Luíza e Cleide, única pessoa que pode ficar
perto da imagem nessas ocasiões.
420
Morador de Freguesia “cumprimentando” São Longuinho em seu oratório.
Em seguida, ajoelha e reza perante a imagem.
421
Parede ao lado do oratório de São Longuinho, onde fiéis colocam pedidos, pagam promessas...
São Longuinho e Nossa Senhora Aparecida aguardando a procissão.
422
Adolescentes de Freguesia participando da IV Festa de São Longuinho/2006.
Guarda-roupa de São Longuinho.
423
Devotos aguardando para serem entrevistados, dando seu “testemunho” a São Longuinho.
Segurança no oratório de São Longuinho.
424
A fila para o oratório de São Longuinho.
IV Festa de São Longuinho/2006.
Fila para o oratório de São Longuinho.
425
São Longuinho saindo da igreja, dando início a procissão da IV Festa de São Longuinho/2006.
À esquerda, segurança na procissão.
A procissão segue nas ruas de Freguesia.
426
Um segurança acompanha toda a procissão, próximo à imagem.
TVs e jornais presentes na IV Festa de São Longuinho/2006.
427
Jovens preparados por padre Geraldo prestam esclarecimentos sobre São Longuinho na IV Festa
de São Longuinho em Freguesia/2006.
GETUR – Grupo de empreendedores de turismo de Guararema – SP, presentes na IV Festa de
São Longuinho/2006.
428
Policiais presentes em todos os locais por onde a imagem passou em procissão – IV Festa de São
Longuinho/2006.
Devotos acompanhando a procissão da IV Festa de São Longuinho/2006.
429
A procissão próximo à praça da Igreja de Nossa Senhora da Escada.
A mídia presente na IV Festa de São Longuinho/2006.
430
Polícia “defendendo” São Longuinho de qualquer “infortúnio” que pudesse acontecer.
Freguesia de Escada – IV Festa de São Longuinho/2006.
431
A procissão retornando à praça da Igreja de Nossa Senhora da Escada para a missa campal/2006
O segurança (de roupa escura) presente em todo o trajeto da procissão.
432
Pela primeira vez, um padre esteve presente na procissão de São Longuinho – padre Adalberto –
IV Festa de São Longuinho/2006.
Padre Adalberto na procissão da IV Festa de São Longuinho/2006.
433
Procissão de São Longuinho – 2006.
Presença da polícia na procissão.
434
A procissão percorrendo as ruas de Freguesia, sempre acompanhada por policiais –
IV Festa de São Longuinho/2006 – Freguesia da Escada.
435
IV Festa de São Longuinho/2006 – Freguesia da Escada.
Wismar Rabelo (com camisa de listas), pessoa que fez, naquela ocasião, um documentário sobre
São Longuinho.
436
Pessoas participando da missa campal – IV Festa de São Longuinho/2006.
Praça da Igreja de Nossa Senhora da Escada.
437
IV Festa de São Longuinho/2006.
IV Festa de São Longuinho/2006.
438
IV Festa de São Longuinho/2006.
Vista parcial da praça da Igreja de Nossa Senhora da Escada – IV Festa de São Longuinho/2006.
439
Igreja de Nossa Senhora da Escada/2006
Acesso para o andar de cima (interditado).
Freguesia da Escada/2006.
440
Gaveteiro onde a imagem de São Longuinho foi encontrada.
Pessoas da comunidade preparam o almoço de sábado (só para quem trabalha em prol das
festas).
441
A galinhada sendo preparada para o almoço de domingo.
IV Festa de São Longuinho/2006.
Homens preparando a “galinhada” – IV Festa de São Longuinho/2006.
442
Festa de Nossa Senhora da Escada – 2005
São Longuinho em seu oratório.
Segurança presente no oratório de São Longuinho – Festa de Nossa Senhora da Escada/2005.
443
Oratório de São Longuinho
Festa de Nossa Senhora da Escada/2005.
O segurança auxilia devota que entrou na igreja de joelhos em pagamento de promessa a São
Longuinho/Festa de Nossa Senhora da Escada – 2005.
444
Devotas pagando promessa a São Longuinho.
Festa de Nossa Senhora da Escada/2005.
Pessoas na fila para o oratório de São Longuinho.
Festa de Nossa Senhora da Escada/2005.
445
Casal que foi a Freguesia pagar promessa a São Longuinho.
Festa de Nossa Senhora da Escada/2005.
Pessoas de São Paulo no oratório de São Longuinho.
446
São Longuinho no seu oratório.
Senhora que foi ofertar um presente a São Longuinho.
447
Devota no oratório de São Longuinho.
Festa de Nossa Senhora da Escada/2005.
Vicente sendo entrevistado pela Assistente Social Ângela M. Granato.
Festa de Nossa Senhora da Escada/2005.
448
São Benedito participando da procissão de Nossa Senhora da Escada, 2005.
D. Luíza na procissão de Nossa Senhora da Escada/2005
449
A procissão de Nossa Senhora da Escada pelas ruas de Freguesia/2005.
Procissão de Nossa Senhora da Escada.
Festa de Nossa Senhora da Escada/2005.
450
Festa de Nossa Senhora da Escada/2005.
Fila para o oratório de São Longuinho.
Festa de Nossa Senhora da Escada/2005.
451
Fila para o oratório de São Longuinho.
Festa de Nossa Senhora da Escada/2005.
Pessoas na igreja na Festa de Nossa Senhora da Escada/2005.
452
Pessoas na Igreja de Nossa Senhora da Escada na Festa da padroeira, em 2005.
À direita da foto, fila para o oratório de São Longuinho.
Oratório de São Longuinho.
Festa de Nossa Senhora da Escada/2005.
453
Oratório de São Longuinho/Festa de Nossa Senhora da Escada – 2005.
Procissão da padroeira/2005.
454
Nossa Senhora da Escada na Festa da Padroeira/2005.
São Benedito na Festa da Padroeira em 2005.
455
Festa de Nossa Senhora da Escada/2005.
Festa de Nossa Senhora da Escada/2005.
456
Obras de restauração da Igreja de Nossa Senhora da Escada – outubro/2008
457
458
ANEXO 11 – CRONOLOGIA DE FREGUESIA DA ESCADA
da Escada
mento
21 dias – Suprimiram Escada
1721 elo da Encarnação
1732 mento de nova Capela em Escada por Sebastião Caldeira e
1734 anos chegam a Escada/ Construção do convento ao lado da
anos
l dos franciscanos
to dos franciscanos
1802 s em Escada, sendo que 61 ficavam ausentes a maior parte
uiparados aos demais cidadãos
1870 veira)
1875 za Leite, distante a 3,5km
ararema
cional
HISTÓRICO
1608 Gaspar Vaz fundou o aldeamento
1625 Escada é entregue aos Jesuítas
1652 Jesuítas ergueram a Capela no aldea
1691 Aldeia entregue às ordens religiosas
1721
Após
Em Escada, somente
Novo repovoamento
Frei Francisco de Assis (franciscano) e Frei Âng
(carmelita) dando assistência religiosa à Escada
Levanta
índios
Francisc
capela
1735 A administração de Escada é passada para os francisc
1758 Término da administração tempora
1766 Escada com 56 índios e 67 índias
1767 Restauração do conven
1768 196 índios em Escada
210 índio
dos dias
1803 Dissolução do aldeamento: índios eq
1846 Escada passa a Freguesia de Mogi
Informações que o santeiro Rito Pituba (Benedito Amaro de Oli
esteve residindo nas redondezas de Escada e em Santa Isabel
Doação de um terreno por Laurinda de Sou
do Arraial da Escada para Maria Florência
1889 Transferência da sede de Freguesia da Escada para Gu
1890 Falecimento de Frei José de Santa Bárbara Bittencourt
1941 Escada é tombada para patrimônio histórico e Art. Na
1945 Restauração na Igreja de Nossa Senhora da Escada
1947 Restauração na Igreja de Nossa Senhora da Escada
459
1957 Restauração na Igreja de Nossa Senhora da Escada
Inauguração solene da Igreja de Nossa Senhora da Escada, com a
presença de Dom Paulo
1958
Rolim Lourenço, bispo auxiliar e vigário do
DINÂMICA DA DEVOÇÃO A SÃO LONGUINHO EM FREGUESIA
1957 agem (a data é “duvidosa” – entre
1958
Rolim Lourenço, bispo auxiliar e vigário do
z de Campos ia sempre a Freguesia e “já
existia São Longuinho lá”.
2001
ma é a única igreja que tem uma imagem de São
2002 Longuinho por
re Geraldo.
2003
e São Longuinho tendo em vista uma
2004
io
uco tempo depois
2005
ertação de mestrado para a comunidade,
2006 o da Igreja
arcebispo de São Paulo
1957 Restauração da Igreja
Miranda e Vicente “acham” a im
1954 e 1957, segundo Vicente)
Inauguração solene da Igreja de Nossa Senhora da Escada, com a
presença de Dom Paulo
arcebispo de São Paulo
O historiador Jurandir Ferra
Entre
1975-
1976
1975-
Padre Roberto, vigário em Freguesia;
Padre Geraldo assume em Freguesia;
Roubo do oratório de São Longuinho;
Freguesia entra com pedido de restauração da Igreja na R.B.R./SP;
Figueiredo coloca na internet o roubo do oratório de São Longuinho e
divulga que Guarare
Longuinho no altar
Colocação de um cartaz em agradecimento a São
cura de uma devota, por sugestão de pad
I Festa de São Longuinho em Freguesia
Início da pesquisa sobr
dissertação de mestrado
II Festa de São Longuinho em Freguesia
Lançamento de imagens semelhantes à do oratór
“Sumiço” dessas imagens po
III Festa de São Longuinho
Entrega de cópias da diss
padre, Igreja, prefeitura...
Missa de inauguração das obras de Restauraçã
460
Ida de padre Geraldo para os Estados Unidos
de contou com a presença de padre na
o definitivo de padre Geraldo, assumindo o padre
Público
cada fechada para reformas
ho
nhora da Escada
nhora da Escada, com a Igreja fechada
2007 e São Longuinho
São Longuinho
o da Igreja
da Igreja em novembro para a Festa de Nossa Senhora
a nos fins de semana para receber os devotos de São
2008
a igreja fosse aberta e “conseguiram ver São
enhora da Escada, celebrada por Dom Paulo Mascarenhas
Roxo.
IV Festa de São Longuinho em Freguesia
Primeira vez que a comunida
procissão de São Longuinho
Afastament
Adalberto.
D. Luíza é obrigada a entregar as chaves da Igreja ao Poder
Igreja de Nossa Senhora da Es
Segurança 24 horas na Igreja
A “prisão” de São Longuin
A revolta da comunidade
Reinício das obras na Igreja de Nossa Se
Paralisação das obras por falta de verba
Festa de Nossa Se
(realização na praça)
Mobilização da comunidade para a Festa d
V Festa de São Longuinho em Freguesia
Novena de São Longuinho (publicação)
Igreja aberta para a festa de
Novo fechament
Obras paradas
Reabertura
da Escada
Igreja abert
Longuinho
Festa de São Longuinho - Obras paradas novamente (“falta de
verba”). Em maio, o prefeito de Aparecida – SP, acompanhado de
moradores de lá, compareceu em Freguesia e solicitou ao prefeito de
Guararema que
Longuinho” (sic).
Em junho, missa do reinício das obras de restauração da Igreja de
Nossa S
461
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