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Tomando como referência as idéias de Wittgenstein, a apropriação feita pelos meios
escolares da obra de Escher reflete que, qualquer explicação de uma estrutura social como
uma instituição, precisaria explicar os significados partilhados que criam e sustentam a
estrutura, e isso faz com que o estudo deste artista dentro de uma perspectiva matemática
possa ter um forte significado para o educador no seu trabalho docente.
Quem corrobora com este pensamento é Vilela (2006, p. 4), ao explicar que para
Wittgenstein os jogos de linguagem, estão relacionados, a formas de vida, e não convergem
para uma essência. Assim, jogos distintos geram significados também distintos, o que leva a
pesquisadora a discutir as tensões entre o que é chamado de matemática escolar e aquilo
que é conhecido como matemática da rua, indicando que as mesmas possuem pontos de
tangências ou semelhanças, mas, são de natureza diferentes – natureza essa definida aos
usos (não no sentido pragmático do termo) a que estão vinculados.
Ainda sob esta mesma perspectiva, Villela (2006) busca compreender esse movimento
dos saberes em práticas escolares e não escolares, partindo do estudo de trabalhos, em
especial no campo da Etnomatemática, que têm adjetivado a matemática como: matemática
escolar e cotidiana, ou matemática escolar e matemática da rua, entre outros. Para essa
busca, essa autora, apóia-se na já mostrada anteriormente na concepção wittgensteiniana
de Jogos de Linguagem. Logo, isto nos leva a concluir que a natureza da matemática não é
una, mas sim que ela apresenta múltiplas faces, isto é, vamos partir do princípio que não
existe uma matemática, mas diferentes matemáticas, produzidas, usadas e significadas nos
contextos de diferentes práticas sociais.
De acordo com Paul Ernst a preocupação com as dimensões sociais externas da
matemática, que inclui também suas aplicações e usos, tem reforçado o desejo de delinear um
quadro multidisicplinar da matemática inspirando em muitas correntes de pensamento nas quais
se incluem a etnomatemática, o social construtivismo e a retórica da ciência, o pós-
estruturalismo, o pós-modernismo, a semiótica, a psicologia social construcionista, a filosofia
geral entre outras correntes. Logo, as pesquisas mais modernas sobre a educação matemática
precisam passar pelo crivo das dimensões sociais e externas da matemática, passando pela
sua história, aplicações, usos e um forte desejo de ver uma consideração multidisciplinar da
matemática que acomode a etnomatemática, os estudos em educação matemática e as críticas
multiculturais, impelidos pelo senso da responsabilidade social da matemática.
Seguindo esta linha de raciocínio, nossas análises vão adentrando no campo da
Etnomatemática a qual será aqui compreendida como uma idéia vinculada em analisar os
conceitos, os sentidos e os significados de saberes matemáticos que emergem de diferentes
práticas, como aquelas que motivaram Escher a elaborar os seus desenhos em certo
período de sua carreira, bem como todos os artistas que fizeram da Matemática o pano de