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outras: Exposição da Lei
101
e Questões e respostas. Destas, a primeira parece mais simples,
introdutória, e, no entender de Peder Borgen, pode ser entendida como uma re-escritura da
Bíblia, comparável, por exemplo, a Antiguidades Judaicas de Josefo (BORGEN, 2005, p. 63-
80). Questões e Respostas, por sua vez, é um comentário corrido do texto bíblico. Uma
pergunta é apresentada a respeito de algum ponto específico e, em seguida, uma resposta é
proposta. Os escritos que compõem este grupo nos chegaram por meio de uma tradução para
o armênio.
Há outros escritos de Fílon que não se enquadram em nenhum dos grandes grupos
acima descritos, entre eles o já muito citado nesta dissertação Sobre a vida contemplativa, de
caráter histórico ou quase etnográfico, e outros dois de cunho histórico-apologético: Contra
Flaco e Embaixada a Caio.
Em comparação com Exposição da Lei e Questões e respostas, pode-se, em
princípio, afirmar que os tratados que compõem Alegorias da Lei (entre eles Sobre os Sonhos)
reúnem a pretensão de unidade temática de um (Exposição...), e a composição de um
comentário do texto bíblico passo a passo, característica de outro (Questões...). Ademais,
parecem mais complexos, além de mais exigentes com relação ao conhecimento prévio do
leitor.
102
Não obstante, afirmar que, neles, “Fílon expõe o mais importante de seu pensamento
e personalidade”
103
(TOVAR, 1995, p. 40) me parece precipitado, se não preconcebido. O
pensamento de Fílon, provavelmente inapreensível em sua inteireza, se mostra mais claro se
considerados com igual importância seus diversos tipos de escritos, a meu ver, provenientes
de diferentes projetos. Talvez, acrescento, compreender o pensamento e personalidade de
Fílon requeira uma melhor consideração desses projetos e, se possível, a visualização de uma
agenda filônica. Os estudos da obra de Fílon progridem continuamente e, para que continuem
produzindo resultados consistentes, o todo de sua obra deve ser alvo de igual interesse.
101Desta série, temos os seguintes tratados: Sobre a criação do mundo segundo Moisés, Sobre
Abraão, Sobre José, Sobre o decálogo, Sobre as leis especiais, Sobre as virtudes, Sobre prêmios e
penas. Talvez se possa, ainda, incluir como uma introdução a este grupo de tratados os dois livros
de Sobre a vida de Moisés. Esta hipótese, proposta por Erwin Goodenough (GOODENOUGH,
1933), não é bem aceita por Samuel Sandmel (SANDMEL, 1979, p. 47), o qual nega um dos
argumentos apresentados, a saber, a destinação do tratado a um público não-judeu. De minha parte,
creio que, ainda que este argumento seja colocado em questão, a proposta geral de Goodenough é
válida. Fílon parece querer apresentar a vida do “comunicador” da Torah antes de passar aos
demais assuntos nela comunicados. No mais, observo que, entre outros filonistas recentes, Peder
Borgen aceita a proposta (BORGEN, 2005, p. 46).
102Com isso, não digo que Exposição apresente textos simplistas, haja vista o desenvolvido em Sobre
a criação do mundo segundo Moisés.
103Minha tradução de: Filón expone lo más importante de su pensamiento y personalidad.