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Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
Faculdade de Ciências Farmacêuticas
ALCOOLISMO – ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO NO
MUNICÍPIO DE ARARAQUARA (SP).
Angélica de Moraes Manço Rubiatti
Orientadora: Profa. Dra. Juliana Alvares Duarte Bonini Campos
Araraquara
2008
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Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
Faculdade de Ciências Farmacêuticas
ALCOOLISMO – ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO NO
MUNICÍPIO DE ARARAQUARA (SP).
Angélica de Moraes Manço Rubiatti
Orientadora: Profa. Dra. Juliana Alvares Duarte Bonini Campos
Tese de Doutorado apresentada ao
Programa de Pós-graduação em Alimentos
e Nutrição – Ciências Nutricionais,
Faculdade de Ciências Farmacêuticas de
Araraquara/SP, Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita” – UNESP.
Araraquara
2008
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Ficha Catalográfica
Elaborada Pelo Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação
Faculdade de Ciências Farmacêuticas
UNESP – Campus de Araraquara
Rubiatti, Angélica de Moraes Manço
R896a Alcoolismo – estudo epidemiológico no município de Araraquara (SP) /
Angélica de Moraes Manco Rubiatti. – Araraquara, 2008.
128 f.
Tese (Doutorado) – Universidade Estadual Paulista. “Júlio de Mesquita
Filho”. Faculdade de Ciências Farmacêuticas. Programa de Pós Graduação
em Alimentos e Nutrição.
Orientador: Juliana Alvares Duarte Bonini Campos
. 1.Alcoolismo. 2.Epidemiologia. 3.Transtornos relacionados ao uso do
álcool. I.Campos, Juliana Alvares Duarte Bonini, orient.. II. Título.
CAPES: 50700006
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________________________________
Profa. Dra. Juliana Alvares Duarte Bonini Campos
__________________________________________________________________________
Prof. Dr. João Bosco de Faria
__________________________________________________________________________
Profa. Dra. Leonor de Castro Monteiro Loffredo
__________________________________________________________________________
Profa. Dra. Cíntia Alessandra Matiucci Pereira
__________________________________________________________________________
Profa. Dra. Patrícia Petromilli Nordi Sasso Garcia
Dedico este trabalho à memória do meu pai,
Carlos Alberto Manço, à minha mãe, Maria Célia de
Moraes Manço e à memória da minha avó, Maria
Conceição Braga de Moraes, que sempre me
incentivaram a estudar e a nunca desistir dos meus
ideais.
AGRADECIMENTOS
Expresso meus sinceros agradecimentos à minha orientadora Profa. Dra. Juliana, pela
seriedade, compreensão, competência e dedicação.
Aos participantes da pesquisa, pela disponibilidade em aceitar participar da pesquisa.
Às amigas Elenice e Gladis, pelo apoio, incentivo e carinho.
À Ana Carolina Mori, pela sua competente atuação na coleta dos pontos posicionais
dos participantes para realização das entrevistas telefônicas.
Ao meu irmão Carlinhos, ao meu avô e a todos os meus familiares, pelo incentivo e
confiança, especialmente minha prima Beatriz.
Ao meu marido, Tiago, pela compreensão, incentivo, cooperação e paciência.
Aos meus alunos, colegas de trabalho e amigos, que dividiram comigo os bons e maus
momentos desta longa caminhada.
Aos membros da Banca Examinadora pelas importantes contribuições ao nosso
trabalho e disposição para participar deste processo de avaliação.
Ao corpo docente do Programa de Pós-graduação em Alimentos e Nutrição da
Faculdade de Ciências Farmacêuticas da UNESP, por contribuírem com meu processo de
formação no mestrado e doutorado, em especial ao Prof. Dr. Bosco.
Aos funcionários do Programa de Pós-Graduação, pelo apoio e compreensão.
“Quando, exatamente em que ponto é o que o rosa se transforma em vermelho?
Distinguir entre o rosa inicial e o vermelho final não nos causa problema.
O difícil é distinguir o momento em que o rosa não é mais rosa.
Este é o problema que ocorre quando pensamos se alguém bebe normalmente ou é
alcoolista. O tempo da interface entre o beber normal e o alcoolismo leva anos.
É uma lenta passagem do rosa para o vermelho.”
Jandira Masur
RESUMO
O objetivo deste estudo foi estimar a prevalência do alcoolismo e sua associação com
os indicadores antropométricos do estado nutricional e com as características sócio-
demográficas de moradores do município de Araraquara, SP, maiores de 18 anos de idade.
Adotou-se delineamento amostral probabilístico estratificado segundo setor censitário e sexo.
Participaram do estudo 1.710 indivíduos. Foram realizadas entrevistas por telefone por um
único examinador. Como instrumento de rastreamento utilizou-se o teste de identificação das
desordens relacionadas ao uso de álcool (AUDIT). Os dados foram analisados por meio de
estatística descritiva. Para estudo das associações de interesse utilizou-se o teste de qui-
quadrado (χ
2
). O nível de significância adotado foi de 5,00%. A amostra foi composta por
50,00% de homens e os participantes eram predominantemente casados (62,98%), nível
econômico C (42,05%), nível de escolaridade colegial completo ou superior incompleto
(37,89%), com religião (89,59%), trabalhadores (58,95%), que relataram não ser tabagistas
(87,43%) e estado nutricional eutrófico (46,67%). Verificou-se elevado número de indivíduos
com excesso de peso (51,01%). Dos entrevistados, 21,52% foram classificados como
abstêmios, 60,06% como consumidores de bebida alcoólica moderados e 18,42%
apresentaram comportamento de beber de risco. Houve associação significativa entre o padrão
de consumo de bebida alcoólica e o sexo (χ
2
=154,105, p=0,001), nível econômico (χ
2
=7,469,
p=0,024), religião (χ
2
=12,360, p=0,001), trabalho (χ
2
=28,795, p=0,001), tabagismo
(χ
2
=28,486, p=0,001) e estado nutricional (χ
2
=9,357, p=0,009). O comportamento de beber
em binge foi observado em 11,40% dos participantes. Houve associação significativa entre o
comportamento de beber em binge e o sexo (χ
2
=96,323, p=0,001), nível econômico (χ
2
=9,297,
p=0,010), nível de escolaridade (χ
2
=4,502, p=0,034), religião (χ
2
=11,652, p=0,001), trabalho
(χ
2
=24,574, p=0,001), tabagismo (χ
2
=8,182, p=0,004) e estado nutricional (χ
2
=11,851,
p=0,009). Frente aos achados, entende-se que a prevalência de beber de risco e sua associação
com os fatores sócio-demográficos na população estudada merece atenção das autoridades do
município de Araraquara para direcionar estratégias de prevenção e de combate ao consumo
de risco de álcool e ao alcoolismo.
Palavras-chave: Alcoolismo, Epidemiologia, Transtornos relacionados ao uso de álcool.
ABSTRACT
This work aimed to study the prevalence of alcoholism associated with
anthropometrical indices from the nutritional status as well as its relation to demographic
characteristics of inhabitants over 18 years old from Araraquara, SP. The experiment design
consisted of selecting samples from probabilistic stratified analysis according to census
sectors and gender. A total of 1,710 adults were included in this study. It was performed
interviews by telephone, all made by one person. As screening test it was applied the Alcohol
Use Disorder Identification Test (AUDIT). Data were analyzed by descriptive statistics. In
order to verify the associations of interest it was applied the chi-square test (χ
2
). The
significance level implemented was 5.00%. The sample was composed of 50.00% of men and
the participants were predominantly married (62.98%), social class C (42.05%), high school
level complete or graduation incomplete (37.89%), participant in some religion (89.59%),
workers (58.95%), non-smokers (87.43%) and eutrophic nutritional status (46.67%). It was
verified high number of overweight individuals (51.01%). From all interviewed, 21.52% were
classified as abstainers, 60.06% as moderate drinkers and 18.42% presented risk drinking
behavior. There was significant association between drinking alcohol pattern and gender
(χ
2
=154.105, p=0.001), economical level (χ
2
=7.469, p=0.024), religion (χ
2
=12.360, p=0.001),
occupation (χ
2
=28.795, p=0.001), smoking habit (χ
2
=28.486, p=0.001) and nutritional status
(χ
2
=9.357, p=0.009). The binge drinking behavior was observed in 11.40% of the participants.
There was significant association between binge drinking behavior and gender (χ
2
=96.323,
p=0.001), economical level (χ
2
=9.297, p=0.010), school level (χ
2
=4.502, p=0.034), religion
(χ
2
=11.652, p=0.001), occupation (χ
2
=24.574, p=0.001), smoking habit (χ
2
=8.182, p=0.004)
and nutritional status (χ
2
=11.851, p=0.009). In front of the results, the risk drinking
prevalence and its association with social-demographic characteristics in the population
evaluated justify attention of authorities from the city of Araraquara in order to address the
strategies for prevention and combat to risk alcohol consumption and to alcoholism.
Key-words: Alcoholism, Epidemiology, Alcohol related disorders.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Perfil sócio-demográfico da amostra. Araraquara, 2008..........................................80
Tabela 2. Distribuição dos participantes segundo as respostas do Teste de Identificação de
Problemas Relacionados ao Uso de Álcool (AUDIT). Araraquara,
2008...........................................................................................................................................81
Tabela 3. Padrão de consumo de bebida alcoólica segundo o AUDIT. Araraquara, 2008......82
Tabela 4. Padrão de consumo de bebidas alcoólicas (G1: beber moderado; G2: beber de risco)
segundo as variáveis sócio-demográficas de interesse. Araraquara, 2008................................83
Tabela 5. Comportamento de beber em binge segundo as variáveis sócio-demográficas de
interesse. Araraquara, 2008.......................................................................................................86
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Divisão territorial e sorteio das quadras de cada setor do município de Araraquara
(SP), 2007..................................................................................................................................72
Figura 2. Pontuação da escala socioeconômica da Associação Brasileira dos Institutos de
Pesquisa de Mercado (ABIPEME, 1978).................................................................................76
Gráfico 1. Padrão de consumo de bebidas alcoólicas segundo a classificação do AUDIT.
Araraquara, 2008.......................................................................................................................84
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Classificação do risco dos indivíduos segundo o consumo de bebidas alcoólicas
(BABOR et al., 2001)...............................................................................................................75
Quadro 2. Classificação socioeconômica segundo o critério de pontuação proposto pela
Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisa de Mercado (ABIPEME, 1978)..................77
Quadro 3. Classificação do estado nutricional dos indivíduos a partir do IMC (WHO,
1995).........................................................................................................................................77
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABIPEME: Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisa de Mercado
AEQ-III: Alcohol Expectancy Questionnaire
ANATEL: Agência Nacional de Telecomunicações
APS: Atenção Pirmária à Saúde
AUDIT: Alcohol Use Disorders Identification Test
AUDIT-C: First-three AUDIT questions inquiring quantity-frequency
BMAST: Brief Michigan Alcohol Screening Test
BRFSS: Behavioral Risk Factor System Surveillance
CAGE: Cut down, Annoyed by criticism, Guilty and Eye-opener
CDC: Centers for Disease Control and Prevention
CIDI: Composite International Diagnostic Interview
DATASUS: Dados da Empresa de Processamento de Dados do Sistema Único de Saúde
DSM-III: Manual de Diagnóstico e Estatística - Terceira edição
DSM-IV: Manual de Diagnóstico e Estatística - Quarta edição
GENACIS: Gender, Alcohol and Culture: an International Study
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IC
95%
: Intervalo de Confiança de 95%
IMC: Índice de Massa Corporal
LDL-C: Low Density Lipoprotein - Cholesterol
MAST: Michigan Alcohol Screening Test
NHANES: Nacional Health and Nutrition Examination Survey
OMS: Organização Mundial da Saúde
OR: Odds Ration
PSAD: Psychosomatic-Anxiety-Depression
ROC Curve: Receiver Operating Characteristic Curve
RP: Razão de Prevalência
SCID: Structured Clinical Interview for Diagnosis
SMAST: Short Michigan Alcohol Screening Test
SQR-20: Self-Report Questionnaire-20
TWEAK: Tolerance Worry Eye-opener Annoyed Cut-down
UBS: Unidade Básica de Saúde
VIGITEL: Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito
Telefônico
WHO: World Organization Health
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..............................................................................................16
2 OBJETIVO.....................................................................................................21
3 REVISÃO DE LITERATURA......................................................................23
3.1 Métodos de diagnóstico do alcoolismo.............................................23
3.2 Consumo de álcool por adultos no mundo......................................34
3.3 Estudos epidemiológicos brasileiros................................................53
4 MATERIAL E MÉTODOS...........................................................................71
4.1 Delineamento.....................................................................................71
4.2 Entrevistas..........................................................................................73
4.3 Aspectos Éticos..................................................................................74
4.4 Variáveis de Estudo e Instrumento de Medida...............................75
4.5 Planejamento Estatístico...................................................................78
5 RESULTADOS...............................................................................................80
6 DISCUSSÃO...................................................................................................88
7 CONCLUSÃO...............................................................................................107
REFERÊNCIAS..............................................................................................110
ANEXOS..........................................................................................................125
Introdução
16
1 INTRODUÇÃO
O consumo de bebidas alcoólicas e as conseqüências de seu abuso, na população em
geral, têm sido amplamente estudados a partir da segunda metade do século XX,
principalmente em países desenvolvidos (DEMERS et al., 2001).
Cerca de 2 milhões de pessoas no mundo consomem bebidas alcoólicas, sendo
responsável por 3,20% de todas as mortes e por 4,00% de todos os anos de vida útil perdidos.
O consumo global de álcool tem aumentado nas últimas décadas, principalmente em países
em desenvolvimento (THE WORLD HEALTH REPORT, 2002).
De acordo com Jernigan (2002), os adultos residentes em países em desenvolvimento
são mais abstinentes ao álcool do que os adultos moradores de países desenvolvidos.
Entretanto, em alguns países em desenvolvimento, o uso de álcool tem se tornado cada vez
mais freqüente, principalmente aos finais de semana.
O consumo excessivo de álcool, ou seja, aquele que causa riscos ou danos importantes
ao indivíduo, pode ocorrer de diferentes maneiras como o consumo elevado diário, episódios
repetitivos de beber até causar intoxicação, consumo que leva a danos físicos ou mentais,
consumo que ocasiona o desenvolvimento de dependência ao álcool ou aumento da
quantidade ingerida (BABOR et al., 2001).
Babor et al. (2001); Paz Filho et al. (2001) e Reis e Rodrigues (2003) ressaltam que o
consumo exagerado de álcool representa uma grande perda econômica para as nações. Dados
da Empresa de Processamento de Dados do Sistema Único de Saúde (DATASUS), de 2001 a
2003, apontam que, dentre as drogas psicotrópicas utilizadas no Brasil, o uso abusivo de
álcool representa 84,50% (BRASIL, 2004).
Cardim et al. (1986); Masur e Jorge (1986); Galduróz e Caetano (2004); Organização
Mundial da Saúde (WHO, 2004b) e Gorgulho e Rós (2006) apresentam em trabalhos de
17
revisão, dados epidemiológicos brasileiros sobre alcoolismo, alertando para a importância da
detecção precoce nas diferentes populações, uma vez que o álcool exerce importante
influência na etiologia e permanência de vários problemas sociais, econômicos e de saúde.
Em novembro de 2005, foi realizada no Brasil a Primeira Conferência Pan-Americana
de Políticas Públicas para o Álcool, que contou com representantes governamentais de 26
países. Nesta Conferência, discutiu-se o impacto causado pelo uso indevido de álcool na
saúde e na segurança de populações pan-americanas. De acordo com o parecer emitido pelos
participantes, o álcool é o fator de risco mais importante para o desenvolvimento de doenças
crônicas nas Américas. Contudo, alertam que seus danos têm sido negligenciados, mesmo
com evidências científicas de que o consumo de risco do álcool causa morte prematura,
doença e incapacidade, além de mortes violentas, lesões intencionais e não-intencionais e
danos sociais para os próprios bebedores e para outras pessoas. Outro aspecto salientado nesta
Conferência é o fato de em muitos países haver um significativo consumo de álcool não
registrado.
Para Moraes et al. (2006), cada vez mais a sociedade brasileira sofre o impacto do
custo social gerado pelo consumo abusivo de álcool. Os investimentos dispensados à
prevenção e tratamento do alcoolismo não têm reduzido a prevalência deste comportamento,
nem os problemas decorrentes do mesmo. Cardim et al. (1986) e Moraes et al. (2006)
acreditam que a realização de estudos epidemiológicos brasileiros possa propiciar o maior
ganho de saúde possível, com menor utilização dos escassos recursos destinados ao sistema
de saúde, uma vez que irão direcionar as estratégias de intervenção.
Para vislumbrar alteração no cenário do consumo de álcool de maneira positiva faz-se
necessária a detecção precoce do beber de risco (HENRIQUE et al., 2004; CORRADI-
WEBSTER et al., 2005). Assim, pesquisas relacionadas ao consumo de álcool na população
podem facilitar a triagem dos indivíduos com consumo alcoólico abusivo.
18
Diante deste cenário, Trois et al. (1997) enfatizam a necessidade de novas pesquisas
nesta área com o emprego de métodos confiáveis e válidos de detecção do uso de álcool.
Demers et al. (2001) ressaltam que a partir dos estudos epidemiológicos do
alcoolismo, é possível quantificar o consumo de álcool e identificar as características dos
usuários e os locais de maior consumo e problemas relacionados, facilitando o direcionamento
das propostas de prevenção e intervenção. Outro aspecto relevante é que estudos
epidemiológicos do consumo de álcool podem e devem ser repetidos de tempos em tempos,
para possibilitar o monitoramento da situação de consumo na sociedade e para avaliação das
iniciativas políticas na prevenção do alcoolismo.
Pelo fato do alcoolismo encontrar-se entre os dez mais importantes problemas de
saúde, entende-se que este deve compor a lista de prioridades na saúde pública. Dentre os
projetos da Organização Mundial da Saúde (OMS) em vigência no Brasil pode-se destacar
aquele que visa programar e desenvolver intervenções breves, técnicas terapêuticas concisas e
de curta duração, em relação ao consumo de álcool, especialmente voltados aos usuários com
padrão de consumo de risco ou diagnóstico de uso nocivo. A proposta é de que estas
intervenções sejam adotadas como um recurso básico, efetivo e economicamente viável
(MARQUES; FURTADO, 2004).
Para a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2004a), o álcool não é um produto
comum e enquanto for carregado de conotações de prazer e sociabilidade, graves
conseqüências serão atribuídas ao seu uso, especialmente em países em desenvolvimento.
A negação da dependência de álcool por parte dos consumidores, o despreparo dos
profissionais de saúde, a necessidade de um diagnóstico precoce e a falta de critérios para
determinar quando o consumo de álcool é excessivo resultam na dificuldade de diagnóstico do
alcoolismo (REIS; RODRIGUES, 2003; AMARAL; MALBERGIER, 2004; BRASIL, 2004).
19
Estas dificuldades tornam, muitas vezes, o diagnóstico do alcoolismo impreciso e
subestimado, fazendo com que o mesmo ocorra quando o paciente alcoólatra já está em um
estágio de dependência avançado, com comprometimentos físicos, psíquicos e sociais (PAZ
FILHO et al., 2001; REIS; RODRIGUES, 2003).
Para Henrique et al. (2004), mesmo reconhecida a necessidade de equilíbrio entre as
atuações assistenciais e preventivas no uso de álcool, a formação dos profissionais de saúde é
ainda muito direcionada à intervenção curativa. Meloni e Laranjeira (2004) ressaltam que os
profissionais de saúde são agentes privilegiados na formulação de políticas públicas e
deveriam estar preocupados com a situação do consumo de álcool no país.
Demers et al. (2001) alertam que este tipo de pesquisa ainda é pouco comum em
países em desenvolvimento e que a falta de critério ou padronização metodológica muitas
vezes inviabiliza a comparação entre os diversos estudos. Assim, os métodos diagnósticos
representam um obstáculo a ser ultrapassado pelos profissionais (HENRIQUE et al., 2004).
Mesmo com a necessidade de estudos mais abrangentes e específicos associados ao
álcool no Brasil, os resultados existentes já são suficientes para confirmar a prioridade de
intervenções eficientes para este grupo (GALDURÓZ et al., 1999; CARLINI et al., 2002;
MELONI; LARANJEIRA, 2004; GALDURÓZ et al., 2005a; GALDURÓZ et al., 2005b;
LARANJEIRA et al., 2007).
Assim, a realização de estudos que utilizem instrumentos de rastreamento validados
para determinação de padrão de consumo de álcool é de extrema importância, pois, além
destes serem de fácil aplicação e baixo custo, são mais sensíveis para detecção de
consumidores de álcool com padrão de risco e, desta forma, facilitará a intervenção
direcionada à prevenção da dependência de álcool e dos diversos problemas associados ao
álcool.
Objetivo
21
2 OBJETIVO
Considerando a importância do diagnóstico precoce para implementação de políticas
públicas voltadas para a prevenção e tratamento do alcoolismo realizou-se este estudo com o
objetivo de estimar a prevalência do alcoolismo e sua associação com os indicadores
antropométricos do estado nutricional e com as características sócio-demográficas de
moradores do município de Araraquara, SP, maiores de 18 anos de idade.
Revisão de Literatura
23
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 Métodos de diagnóstico do alcoolismo
O alcoolismo contribui na etiologia e manutenção de problemas sociais, econômicos e
de saúde enfrentados no Brasil. Galduróz e Caetano (2004) apontam a necessidade de se
aumentar a ênfase dada aos estudos epidemiológicos de consumo de álcool nos país, não
somente com a ampliação, como também a renovação sistemática das pesquisas.
De acordo com Dawe e Mattick (1997) e com Formigoni e Castel (1999) para a
escolha de um método de rastreamento ou diagnóstico de alcoolismo é necessário levar em
consideração o objetivo, a utilidade clínica, o período de tempo que se pretende avaliar, a
população-alvo, a existência de normas, o tipo de administração, o nível de treinamento
necessário e o custo. Os instrumentos comumente utilizados podem ser classificados em
triagem, diagnóstico, avaliação do consumo de álcool, dos comportamentos associados ao
consumo de álcool, do comprometimento de outras áreas, planejamento do tratamento e
avaliação de resultados. Independente do motivo da escolha do método, os autores alertam
para a necessidade de se trabalhar com um instrumento confiável e válido.
Os instrumentos de triagem ou rastreamento são de rápida aplicação e destinados à
investigação de populações que provavelmente apresentam problemas relacionados ao uso,
abuso ou dependência de álcool. A diferença dos instrumentos de triagem e de diagnóstico,
segundo Formigoni e Castel (1999), é que os primeiros apresentam maior sensibilidade,
enquanto que os últimos são mais específicos. Como exemplos de instrumentos de
rastreamento destacam-se o Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT), Cut down,
Annoyed by criticism, Guilty and Eye-opener (CAGE) e Michigan Alcohol Screening Test
(MAST) (FORMIGONI; CASTEL, 1999; DAWE et al., 2002; LARANJEIRA et al., 2003).
24
O AUDIT é composto por 10 questões e foi desenvolvido pela OMS, baseado em
estudos conduzidos na Austrália, Kenia, Noruega, Bulgária, México e Estados Unidos
(BABOR et al., 1992; SAUNDERS et al., 1993b). A versão em português brasileira do
AUDIT foi proposta por Mendéz (1999) e posteriormente, validada por Lima et al. (2005).
O AUDIT é um instrumento que avalia problemas associados ao consumo de álcool e
detecta o padrão de consumo de risco. É, particularmente, indicado para atenção primária à
saúde e utilizado por diferentes países, em diversos grupos culturais. O ponto de corte para
determinação de consumo de beber de risco é 8 ou mais pontos. Contudo, pode variar de
estudo para estudo, sendo que este padrão de consumo de risco está associado às
conseqüências médicas, problemas psicológicos e sociais, entre outros (DAWE et al., 2002;
KNIBBE et al., 2006; CROTON, 2007).
Este instrumento é capaz de identificar a quantidade, freqüência de consumo de bebida
e dependência. As três primeiras questões permitem estimar o uso de álcool e as demais
mensuraram as conseqüências relacionadas ao consumo de álcool, sendo que as questões de
número 4, 5 e 6 avaliam a dependência de álcool e as questões 7, 8, 9 e 10, os prejuízos com
seu consumo abusivo (DAWE et al., 2002; KNIBBE et al., 2006).
O AUDIT diferencia-se de outros instrumentos de triagem para alcoolismo, pois para
sua elaboração foi utilizado um raciocínio estatístico-conceitual para a seleção das questões,
enfatizando a identificação do consumo de risco em lugar da dependência de longa duração e
as conseqüências do beber excessivo, se concentrando em sintomas apresentados em um
passado recente. Sua sensibilidade foi avaliada em 0,9 e a especificidade acima de 0,8. O
AUDIT pode ser auto-aplicado ou respondido por entrevista. Seu preenchimento pode ser
concluído entre 2 e 4 minutos. As pontuações do AUDIT se correlacionam positivamente com
as medidas de conseqüências do consumo, alterações de comportamento, vulnerabilidade à
dependência de álcool e estados de ânimo negativos (BABOR et al., 2001; CROTON, 2007).
25
O CAGE é composto por quatro questões, um instrumento simples e breve, sendo que
a partir de duas respostas afirmativas há indícios de dependência de álcool (DAWE et al.,
2002; CROTON, 2007). Foi proposto por Mayfield et al. (1974) na língua inglesa e traduzido
e validado para o português por Masur e Monteiro (1983).
O CAGE é menos sensível para determinar consumo abusivo de álcool entre os mais
jovens e em populações e os casos de abuso ou dependência de álcool nos últimos 12 meses
ou mais recentes. Por ser rápido, aplicável em menos de 1 minuto, quando acompanhado de
questões sobre quantidade e freqüência de consumo de álcool, torna-se um instrumento útil
para ser incorporado às rotinas médicas ou entrevistas psicológicas (DAWE et al., 2002;
LARANJEIRA et al., 2003; CROTON, 2007).
O MAST, composto por 25 questões, é capaz de identificar os casos mais graves de
alcoolismo e não permite a diferenciação do alcoolismo no passado ou no presente. É um
instrumento auto-aplicado, podendo ser preenchido em 10 minutos. O ponto de corte
estabelecido para a possibilidade de alcoolismo é treze pontos. O MAST é útil para identificar
a história pregressa de dependência de álcool e pode ser aplicado por qualquer profissional da
saúde. Como desvantagens deste instrumento pode-se citar o fato do mesmo ser composto por
um maior número de questões e ser ausente de questões relacionadas ao consumo de álcool e
episódios de binge drinking, comumente encontrado em jovens e em consumidores de álcool
não-dependentes. Está também disponível nas versões Short Michigan Alcohol Screening Test
(SMAST), composto de 13 questões, Brief Michigan Alcohol Screening Test (BMAST),
composto de 10 questões e Michigan Alcohol Screening Test-Geriatric (MAST-G) para
avaliar os problemas associados álcool em indivíduos idosos (DAWE et al., 2002). O MAST
foi originalmente desenvolvido por Selzer (1971) na língua inglesa e traduzido e validado
para o português por Vaz-Serra e Lima (1973).
26
MacKenzie et al. (1996) desenvolveram um trabalho, cujo objetivo foi comparar o
AUDIT, o CAGE e o MAST abreviado, quanto à caracterização dos padrões de consumo
seguro, prejudicial e perigoso de álcool. Os participantes da pesquisa foram recrutados do St
John’s Hospital, Livingston, Reino Unido. A pesquisa teve a duração de 11 semanas, entre
fevereiro e maio de 1995. Participaram 240 indivíduos voluntários com idade acima de 17
anos. Os pacientes classificados como “casos” foram aqueles que apresentaram ingestão de
álcool semanalmente acima de 14 doses para mulheres ou acima de 21 doses para homens
(pontos de corte para AUDIT: 8, CAGE: 1 e MAST abreviado: 6). A idade média da amostra
foi de 54,0±18,8 anos, sem diferenças significativas entre os sexos ou na prevalência de
diagnóstico clínico primário relacionado ao álcool. Seis mulheres e 22 homens foram
considerados “casos”. Os usuários de álcool com consumo considerado prejudicial ou
perigoso eram significativamente mais jovens do que os consumidores de uso seguro. A área
da curva ROC foi de 0,96, 0,85 e 0,63 para o AUDIT, o CAGE e o MAST abreviado,
respectivamente, para o consumo acima de 14 doses (mulheres) e acima de 21 doses
(homens). Para o consumo de doses de bebida alcoólica acima destes valores as áreas foram
de 0,99, 0,91 e 0,70, respectivamente. Já, utilizando o critério “diagnóstico clínico”, cujo
ponto de corte para o AUDIT é de 19, para o CAGE de 3 e para o MAST abreviado de 13, as
áreas foram de 0,86, 0,83 e 0,81, respectivamente. Com base nestes achados, os autores
concluem que o AUDIT foi significativamente mais sensível e específico do que o CAGE e o
MAST abreviado, com exceção da sensibilidade para o “diagnóstico clínico”, sugerindo que o
AUDIT deve fazer parte do prontuário de rotina de admissões médicas para obtenção de
informações adicionais.
Bradley et al. (1998) compararam a performance dos questionários CAGE, AUDIT e
CAGE adaptado (um questionário que contém as quatro questões do CAGE associada às duas
primeiras questões do AUDIT mais uma questão para verificar a presença de problemas
27
relacionados ao álcool) na identificação de padrões de consumo pesado de álcool e abuso ou
dependência ativa de álcool. A pesquisa foi realizada com 6.116 pacientes de três Centros
Médicos em 1994, no Hospital Universitário de Washington, Estados Unidos. Dos
participantes, 2.875 (47,00%) foram considerados bebedores, por consumirem 5 doses ou
mais de bebida alcoólica no último ano. Para este grupo foi enviado um Questionário de
Práticas de Consumo de Álcool e foram selecionados 261 pacientes, que foram entrevistados
pelo telefone e forneceram detalhes dos tipos e quantidade de bebidas alcoólicas consumidas.
Destes, 127 (49,00%) apresentaram abuso ou dependência de álcool durante sua história de
vida, 56 (22,00%) abuso e dependência ativa de álcool, 89 (34,00%) consumo pesado de
álcool e 105 (40,00%) consumo pesado de álcool e/ou abuso e dependência ativa de álcool. E
ainda, 39,00% relataram consumir 6 ou mais doses de álcool em uma mesma ocasião durante
o último ano. Foram analisadas a sensibilidade e a especificidade dos questionários CAGE,
AUDIT e CAGE adaptado, por meio das curvas ROC. A comparação das áreas destas curvas
indicou que para identificação de abuso ou dependência de álcool, o CAGE adaptado
apresentou melhor performance (p<0,001) do que o CAGE ou AUDIT. Para identificação do
consumo pesado de álcool e também do consumo pesado de álcool e abuso ou dependência de
álcool ativo juntos, o AUDIT apresentou melhor performance quando comparado aos demais
instrumentos (p<0,001). Utilizando os pontos de corte tradicionais para os questionários,
47,00% dos pacientes apresentaram CAGE positivo ( 2) para consumo pesado de álcool ou
abuso ou dependência ativa de álcool, 45,00% pelo AUDIT (8) e 28,00% pelo CAGE
adaptado (2). O AUDIT ainda apresentou alta especificidade para identificação de consumo
pesado de álcool ou abuso ou dependência ativa de álcool. O CAGE e o CAGE adaptado
apresentaram melhor performance para identificação de abuso ou dependência de álcool
durante a história de vida do paciente. Assim, os autores salientam que a escolha de um
instrumento vai depender da meta a ser alcançada e que, neste estudo, o AUDIT mostrou-se
28
melhor que os demais instrumentos avaliados na identificação de pacientes com consumo
pesado ou abuso e dependência de álcool.
Bisson et al. (1999) avaliaram a sensibilidade e a especificidade do CAGE em cada
sexo utilizando dados da Pesquisa Social e de Saúde na cidade de Quebec realizada em 1992.
O estudo foi realizado com 18.299 indivíduos residentes em Quebec, Canadá, com exceção
dos moradores das regiões norte e reservas nativas americanas. Os dados foram obtidos
mediante a entrevista pessoal com o chefe de cada residência. Além disso, cada morador com
idade acima de 15 anos preencheu um questionário, contendo questões sobre o consumo de
álcool e as questões do CAGE. Dos participantes, 52,00% eram homens, na faixa etária de 15
a 92 anos, com idade média de 39,40±15,40 anos. Entre os homens, 9,10% relataram
consumir 15 doses ou mais de álcool semanalmente, sendo que destes, 3,90% consumiram 22
doses ou mais e 1,70%, 29 doses ou mais. Entre as mulheres, 1,20% consumiram
semanalmente 15 doses ou mais e destas, 0,30% e 0,10% consumiram 22 doses ou mais e 29
doses ou mais, respectivamente. Pelo CAGE, 10,10% dos homens e 5,50% das mulheres
apresentaram consumo pesado de álcool. Foi avaliada também a prevalência do CAGE, para
uma, três e quatro respostas positivas, sendo que 15,00% dos homens apresentaram uma
resposta positiva, 11,00% três respostas positivas e 2,90% quatro respostas. Nas mesmas
condições, 9,80%, 4,00% e 0,60% das mulheres apresentaram respostas positivas ao CAGE,
respectivamente. Ao ser analisada cada questão do CAGE, 27,80% dos homens e 12,90% das
mulheres afirmaram sentir a necessidade de diminuir a quantidade de bebida alcoólica
consumida, 21,00% dos homens e 7,70% relataram se sentir aborrecido, quando as pessoas
criticam seu modo de beber, 23,00% dos homens e 12,70% das mulheres confirmaram sentir
culpa ou remorso depois de beber e 8,10% dos homens e 1,80% das mulheres necessitaram
beber pela manhã para se sentir melhor. No consumo pesado de álcool, a sensibilidade e a
especificidade do CAGE foi de 73,10% e 77,90%, respectivamente. Entre as mulheres, estes
29
valores foram de 60,80% para sensibilidade e 90,50% para especificidade. Dentre os
problemas associados ao consumo de bebidas alcoólicas, os mais prevalentes entre os homens
foram beber e dirigir (21,60%) e brigas e problemas com a polícia (17,70%) e entre as
mulheres, problemas no trabalho ou na escola (5,50%) e rompimentos familiares e com
amigos (5,40%). Segundo os pesquisadores, o CAGE não apresentou simultaneamente boa
sensibilidade e boa especificidade, não identificando os consumidores de álcool pesado
recentes ou os problemas associados ao consumo de álcool entre a população geral de
Quebec.
Figlie et al. (2000), ao comparar os instrumentos CAGE, MAST e AUDIT, afirmaram
que o AUDIT é o instrumento que melhor identifica problemas com uso abusivo de álcool e
dependência. Segundo os pesquisadores, o CAGE não identifica adequadamente estes
indivíduos, enquanto o MAST apresenta-se falho na identificação dos problemas recentes
decorrentes do consumo pesado de álcool.
Um estudo transversal em pacientes da clínica médica do pronto-socorro do Hospital
Universitário Cajuru, São Paulo, foi realizado por Paz Filho et al. (2001), com a participação
de 374 pacientes, com objetivo de determinar se o CAGE é capaz de suprir a dificuldade de
detecção do alcoolismo. Como instrumentos de medida foram utilizados o CAGE e o
Composite International Diagnostic Interview (CIDI). Dos pacientes entrevistados, 46,80%
eram homens, a idade média dos participantes foi de 37,00±15,60 anos, com a faixa etária
predominante de 14 a 32 anos (44,40%). Dentre os entrevistados, 49,20% eram casados,
68,20% católicos, a média de filhos foi de 2,28±2,44, a média de anos de estudo foi de
6,63±4,43 anos e 62,00% estavam empregados. Com base nas respostas ao CAGE e pelo
CIDI, a prevalência de transtornos decorrentes do uso de álcool foi de 35,80 e 15,80%,
respectivamente. Ao serem analisados os diferentes pontos de corte para o CAGE, observou-
se que utilizando o ponto de corte 1, a sensibilidade encontrada é de 91,52% e a
30
especificidade de 57,46%. Com o ponto de corte 2, preconizado pela literatura, a sensibilidade
é de 84,74% e a especificidade de 73,33%. Em relação ao ponto de corte 3, a sensibilidade é
de 57,62% e a especificidade de 87,61%. Quanto ao ponto de corte 4, encontrou-se a
sensibilidade de 30,50% e especificidade de 97,14%. Diante destes resultados, pode-se
concluir que o ponto de corte igual a 2 apresentou os melhores valores de sensibilidade e
especificidade simultaneamente, o que permite minimizar a inclusão de falsos-positivos e de
falsos-negativos na triagem. Frente aos achados, os autores ressaltam a praticidade do
questionário CAGE, levando vantagem, segundo eles, sobre outros testes mais extensos,
como AUDIT e MAST, podendo ser útil na identificação de pacientes com desordens de uso
de álcool no departamento de emergências clínicas.
Segundo Babor et al. (2001) e Donovan et al. (2006), o AUDIT apresenta uma
precisão igual ou superior aos demais instrumentos, tendo como principais vantagens o fato
de ser validado em seis países e ser o único instrumento direcionado especificamente ao uso
internacional para identificação do consumo de risco, consumo prejudicial e dependência de
álcool. Além disso, os autores apresentam como vantagens do AUDIT sua brevidade, rapidez,
flexibilidade e consistência.
Segundo Dawe et al. (2002), o AUDIT deve ser a primeira escolha entre os
instrumentos de rastreamento disponíveis, pois é extremamente útil para identificar indivíduos
com alto consumo de álcool e problemas a ele relacionados, além de ser mais sensível, do que
o CAGE e o MAST.
Hearne et al. (2002) realizaram um estudo para quantificar a prevalência de abuso e
dependência de álcool e comparar a sensibilidade e a especificidade de instrumentos
utilizados para sua detecção. O estudo foi conduzido no Mater Misericordie Hospital em
Dublin, Irlanda, durante os últimos sete meses de 1999. Dentre os instrumentos avaliados,
encontra-se o AUDIT, o CAGE e o MAST abreviado. Os pacientes admitidos entre os meses
31
de setembro e dezembro participaram do estudo e aqueles que se apresentaram acima do
ponto de corte estabelecido por pelo menos um dos instrumentos, preencheram a Structured
Clinical Interview for Diagnosis (SCID), proposto pela Associação de Psiquiatria Americana
e o Manual de Diagnóstico e Estatística (DSM-IV) para confirmação do diagnóstico. Dos 424
pacientes entrevistados, 134 apresentaram pontos de corte acima em pelo menos um dos
questionários. Destes, 37 (29 homens e 9 mulheres) foram diagnosticados pelo DSM-IV como
consumidores abusivos de álcool e 42 (36 homens e 6 mulheres) como dependentes de álcool.
De acordo com o AUDIT, 28,00% dos pacientes apresentaram consumo perigoso de álcool,
porém, quando comparados ao DSM-IV verificou-se que 30,00% deste diagnóstico eram
falso-positivos. A sensibilidade do AUDIT foi de 0,89 e a especificidade de 0,91. Utilizando-
se o CAGE, 16,0% dos pacientes apresentaram problemas de abuso ou dependência de álcool
e comparado ao DSM-IV, somente 6,00% dos casos foram considerados falso-positivos. A
sensibilidade do CAGE foi de 0,77 e a especificidade de 0,99. Os resultados obtidos com o
MAST abreviado apontaram que este apresenta alta especificidade (1,00), porém baixa
sensibilidade (0,37), mostrando-se um instrumento ruim para detecção de consumo excessivo
de álcool. Os autores concluíram que o CAGE é um bom instrumento para detecção de
consumo abusivo e dependência de álcool em pacientes hospitalizados.
Kelly et al. (2002) estudaram a confiabilidade e validade dos instrumentos CAGE,
AUDIT e Tolerance Worry Eye-opener Annoyed Cut-down (TWEAK) quando aplicados em
adolescentes. Como critérios de inclusão adotou-se idade entre 12 e 20 anos, não apresentar
problemas mentais, pacientes menores de 18 anos acompanhados de familiares ou
representantes legais e com capacidade de ler e preencher sozinho o questionário. Dos 282
participantes, 60,30% relataram não fazer uso de álcool, 3,20% apresentaram respostas
inconsistentes sobre consumo de álcool e 36,50%, sendo 48 mulheres e 55 homens, afirmaram
consumir álcool e foram alvo desta pesquisa. A correlação entre o AUDIT e o TWEAK foi de
32
0,83, entre o AUDIT e o CAGE foi de 0,43 e entre o TWEAK e o CAGE foi de 0,53. Pelo
AUDIT e pelo CAGE, 30 pacientes foram classificados com consumo perigoso, enquanto que
pelo TWEAK, 28 pacientes apresentaram este padrão de consumo. Para o AUDIT a
consistência dos dados foi maior (α=0,88), seguido pelo CAGE (α=0,66) e pelo TWEAK
(α=0,50). Dos três instrumentos, o AUDIT apresentou melhor performance para identificar o
uso problemático de álcool entre os adolescentes tratados em departamentos de emergência.
Marques e Furtado (2004) afirmaram em seu estudo que na atual situação financeira
do Brasil, o foco e a prioridade de políticas assistenciais devem ser de grande alcance e
efetividade, uma vez que o uso dos recursos é limitado. Para a eficácia destas intervenções
sugerem o uso de um instrumento padronizado de rastreamento, como o AUDIT, para que se
possa conhecer o usuário de álcool e direcionar a intervenção ou aconselhamento de modo
mais preciso.
Agabio et al. (2006) estimaram o número de pacientes de atenção primária com a
possibilidade de desordens no consumo de álcool em Cagliari, Sardinia, Itália, por meio da
auto-aplicação dos questionários CAGE e AUDIT. A seleção dos participantes foi realizada
por 10 médicos. Os pacientes responderam os questionários CAGE e AUDIT e dados sobre
sexo, idade, educação e estado civil. Aqueles que apresentaram resultado positivo para o
consumo de risco de álcool, em pelo menos um dos questionários, foram incluídos na
pesquisa, totalizando 506 pessoas. Os pacientes foram analisados segundo três diferentes
pontos de corte para o CAGE e o AUDIT. Considerando os pontos de corte 1 para o CAGE e
5 para o AUDIT, 79 (15,60%) pacientes foram diagnosticados com desordens no consumo de
álcool, com proporção significativamente maior em homens (73,40%), do que em mulheres
(26,60%), já considerando pontos de corte 2 para o CAGE e 8 para o AUDIT, 30 (5,90%)
deles foram diagnosticados com desordens ao álcool, com proporção significativamente maior
em homens (83,30%), do que em mulheres (16,70%) e finalmente, considerando pontos de
33
corte para homens (2 para CAGE e 8 para AUDIT) e para mulheres (1 para CAGE e 5 para
AUDIT), 46 (9,10%) apresentaram desordens ao álcool, com proporção significativamente
maior em homens (54,40%) do que em mulheres (45,60%). Os resultados também apontaram
diferenças não-significativas, quanto à idade, nível de escolaridade e estado civil entre os
sujeitos diagnosticados com ou sem desordens no consumo de álcool. Segundo os autores, o
uso concomitante dos questionários CAGE e AUDIT leva a identificação de um maior
número de pacientes com desordens associadas ao uso de álcool. Os autores sugerem que os
questionários CAGE e AUDIT são instrumentos úteis que devem ser utilizados em
consultórios médicos para identificação de pacientes com desordens relacionadas ao álcool.
Coulton et al. (2006) avaliaram a eficácia de métodos de rastreamento para
identificação de problemas associados ao uso de álcool no Reino Unido. Participaram da
pesquisa 194 pacientes de seis consultórios médicos do Sudoeste do País de Gales, com 18
anos ou mais, que responderam ao AUDIT. Destes participantes, 112 foram classificados com
consumo de álcool de risco. Foram avaliados os marcadores bioquímicos utilizados na prática
clínica, o AUDIT, episódios de binge drinking e utilizou-se também o critério DSM-IV. O
AUDIT comparado aos marcadores bioquímicos apresentou boa sensibilidade 69,00% (IC
95%
:
57,0-81,0) e excelente especificidade 98,00% (IC
95%
: 97,0-100,0) com valor preditivo positivo
de 95,00% (IC
95%
: 97,0-100,0) para identificação do consumo perigoso de álcool. Quanto aos
episódios de binge drinking, o AUDIT apresentou sensibilidade de 66,00% (IC
95%
: 54,0-78,0),
especificidade de 97,00% (IC
95%
: 95,0-99,0) e valor preditivo positivo de 91,00% (IC
95%
:
95,0-99,0). Em se tratando do diagnóstico de dependência de álcool, o AUDIT apresentou
sensibilidade de 84,00% (IC
95%
: 66,0-100,0), especificidade de 83,00% (IC
95%
: 81,0-86,0) e
valor preditivo positivo de 41,00% (IC
95%
: 32,0-50,0). Os autores concluíram que o AUDIT é
bom um instrumento de rastreamento, de baixo custo na identificação de indivíduos com
consumo de álcool de risco e que pode ser utilizado na atenção primária à saúde.
34
3.2 Consumo de álcool por adultos no mundo
Benjarano (1999) estudou o consumo de álcool na Costa Rica. Participaram 2.731
pessoas na faixa entre 12 e 70 anos. O questionário utilizado foi composto por 100 questões,
relacionadas à idade, ocupação, escolaridade, religião, etnia, aspectos de saúde,
conhecimentos e opiniões a respeito de drogas e outros problemas psicossociais. A ingestão
de álcool foi aferida pelo CAGE. A maioria dos participantes eram mulheres (50,20%), na
faixa etária entre 30 e 49 anos (38,55%), com baixo nível de escolaridade (57,50%), casados
(50,85%) e residentes na área urbana (51,40%). Entre os homens, 55,20% eram consumidores
habituais de álcool, enquanto entre as mulheres, este número foi de 29,60%. A faixa etária
mais acometida foi de 20 e 49 anos, tanto para homens, quanto para as mulheres. Os homens
com 7 a 12 anos de estudo foram os mais acometidos, enquanto para as mulheres com mais de
13 anos de estudo foram as com maior consumo de álcool. Uma em cada duas mulheres e um
em cada cinco homens nunca ingeriu álcool na vida. O número de homens abstinentes
diminuiu com a idade e nas mulheres, o número de abstinentes foi uniforme entre as faixas
etárias avaliadas. Quanto à freqüência de consumo de álcool, 38,10% dos entrevistados
afirmaram fazê-lo mensalmente ou menos, 40,90% entre uma e três vezes por mês e 21,00%
relataram consumo regular, ou seja, uma vez ou mais por semana. O consumo regular de
álcool foi maior entre os homens (28,20%) do que entre as mulheres (7,60%). O consumo de
álcool aumentou com a idade e com a escolaridade em ambos os sexos. Dos consumidores
habituais, 23,00% apresentaram comportamento de beber pesado. A prevalência dos
problemas associados ao álcool foi maior entre os homens com padrão de beber pesado. A
maioria das mulheres (70,00%) relatou não beber diariamente e o beber ocasional e o beber
pesado foi raro entre elas. Entre os homens verificou-se que 50,00% eram consumidor
habitual de álcool e 20,00% era consumidor pesado de álcool. Diante dos resultados, os
35
autores apontaram a necessidade de elaboração de estratégias voltadas aos problemas
associados ao uso de álcool e a inclusão de variáveis culturais em próximas pesquisas para
melhor conhecimento da diversidade dos padrões de consumo de álcool.
Obot (2001) avaliou o consumo de álcool da população nigeriana e determinou os
tipos de bebidas alcoólicas consumidas e os fatores demográficos associados ao seu uso,
avaliou também a natureza dos problemas psicossociais com o uso pesado de álcool e as
crenças, atitudes e regras nas comunidades. As entrevistas foram realizadas pessoalmente com
1.404 indivíduos do sexo masculino, dentre os quais 756 foram classificados como
consumidores de álcool, aproximadamente 50,00% dos entrevistados estavam na faixa etária
entre 30 e 49 anos, 72,60% apresentaram baixa e média condição econômica, 52,80% eram
cristãos e 61,00% residentes na área rural. Os abstinentes eram muçulmanos (66,30%) e
residentes nas áreas rural (42,20%) e urbana (41,50%). Dentre os consumidores de álcool, a
bebida mais consumida foi a cerveja (43,00%) e 64,90% reportaram consumir cinco ou mais
doses em uma mesma ocasião no mínimo uma vez por mês, ou seja, apresentaram consumo
pesado de álcool. O beber pesado foi mais freqüente na área urbana (69,60%), entre aqueles
com maior nível de escolaridade (74,20%), maior renda (88,20%) e que realizaram consumo
de álcool 3 a 4 vezes por semana (72,20%). Os problemas associados ao álcool mais
freqüentes entre os consumidores habituais e pesados foram sentir que deveria diminuir ou
parar de beber (58,30%) e preocupar-se com as conseqüências do modo de beber (72,20%).
Os consumidores habituais de álcool justificaram seu consumo, principalmente, pela bebida
deixá-los felizes (25,70%) e os consumidores pesados pelo fato da bebida fazer parte da sua
vida social. A razão principal para não consumir mais do que a quantidade habitual ou parar
de beber se relacionou à religião para 41,80% dos consumidores habituais e ao aumento nas
despesas para 42,90%. Diante dos achados, indica-se urgência no monitoramento do uso de
álcool e problemas associados na Nigéria.
36
Na China, o padrão de utilização de álcool tem mudado e aumentado rapidamente
desde o início da década de 80, o que tem despertado interesse nos profissionais de saúde para
identificação das causas destas alterações. Assim Wei et al. (2001) realizaram um estudo com
o objetivo de obter informações sobre o padrão de consumo de álcool em seis áreas do país,
descobrir os tipos de problemas associados ao álcool e os motivos que levaram ao seu
consumo. Participaram 23.513 indivíduos residentes nas províncias de Hunan, Anhui, Jilin,
Sichuan e Shandong, compreendidos na faixa etária entre 15 e 65 anos. O questionário
utilizado avaliou características demográficas (sexo, idade, nacionalidade, estado civil,
escolaridade e renda familiar), padrões de consumo de álcool (freqüência, quantidade por
ocasião de consumo, tipo de bebida consumida), atitudes associadas ao consumo de álcool e
razões para o consumo. A relação entre homens e mulheres na pesquisa foi de 1:0,96 e a idade
média dos participantes foi de 36,3 anos. Quanto ao estado civil, 84,20% eram casados,
30,50% estudaram por 10 a 12 anos, 43,50% pertencentes à classe social média e 44,60%
eram assalariados. Os consumidores habituais de álcool foram 54,80%, sendo que 82,60%
eram homens. Os homens apresentaram freqüência de consumo maior do que as mulheres
(χ
2
=7857,40, p<0,0001). Entre os homens, 22,70% relataram consumo de álcool semanal,
enquanto 13,30% o faziam no mínimo uma vez ao dia. Em ambos os sexos, os que
consumiram álcool com mais freqüência foram aqueles na faixa etária entre 30 e 49 anos, com
13 ou mais anos de estudo, casados, classe social baixa a média e trabalhadores assalariados.
As bebidas preferidas pelos homens foram as destiladas (38,20%) e pelas mulheres, o vinho
(36,10%). As razões para o consumo de álcool em ambos os sexos incluíram uma boa maneira
para celebrar (76,20%), atividades sociais (69,20%) e para aumentar a amizade (66,80%). Os
homens apresentaram mais problemas relacionados ao consumo de álcool do que as mulheres,
principalmente no tocante às queixas familiares e incapacidade de parar de beber. O abuso e a
dependência de álcool foram encontrados em 1,10% e 3,40% dos chineses, aumentando com a
37
idade, sendo mais comum entre assalariados e agricultores, divorciados, de menor nível de
escolaridade e classe social média. Diante dos resultados, conclui-se que os homens
consumiram álcool em maior freqüência e quantidade do que as mulheres e apresentaram
maiores problemas associados a este consumo. Os chineses geralmente criticam as mulheres
que ingerem bebida alcoólica em grande quantidade, o que influenciou no comportamento de
beber neste grupo. Os fatores que poderiam explicar o aumento do consumo de álcool na
população avaliada incluem o aumento da influência do mundo ocidental nas tradições
chinesas e a melhora do desenvolvimento econômico no país. Os autores sugerem que futuras
pesquisas necessitam ser conduzidas da mesma forma para melhor compreensão das
tendências de consumo e problemas associados ao álcool.
O consumo de álcool na Índia, de acordo com Mohan et al. (2001), é realizado há
muitos séculos, mas o aumento da quantidade ingerida, padrão de uso e problemas associados
resultaram em mudanças significativas nas últimas duas décadas. A mudança no padrão de
consumo segundo os autores faz parte da rotina de interação social e diversão. O estudo
realizado foi representativo de todo país. O questionário utilizado foi o DSM-III. Participaram
32.019 indivíduos, sendo 12.157 de Lucknow, 10.296 de Mandsaur e 9.566 de Thoubal, que
são as três regiões do país. As informações foram dadas pelo chefe da família de cada
residência entrevistada. Os indivíduos foram questionados sobre a freqüência e quantidade de
álcool ingerida. Considerou-se consumidor de álcool, aquele que reportasse o consumo nos
últimos 30 dias e consumidor pesado de álcool, aquele com ingestão de 75ml ou mais de
álcool em uma única ocasião. Noventa e sete por cento das mulheres apresentaram-se
abstinentes. A prevalência de consumo de álcool entre os homens foi de 20,80% em
Mandsaur, 27,10% em Lucknow e 37,50% em Thoubal e o padrão de beber aumentou com a
idade nas três regiões até a faixa etária entre 30 e 49 anos e diminuiu aos 50 anos ou mais.
Dos consumidores habituais de álcool, a prevalência daqueles que realizaram consumo pesado
38
foi de 79,70% entre os homens de Lucknow, 87,90% de Mandsaur e 89,00% de Thoubal. Na
faixa etária entre 25 e 40 anos, o beber em binge foi mais comum. Os problemas associados
ao consumo de bebida alcoólica entre os homens foram encontrados em maior proporção
entre os moradores de Thoubal. O problema mais relatado pelos participantes foi não ter
controle da quantidade de álcool ingerida (81,80% em Thoubal, 58,50% em Mandsaur). Em
Lucknow o problema mais relatado foi não conseguir cumprir com seus compromissos por
causa da bebida (62,80%). Os problemas associados foram semelhantes entre os
consumidores habituais e pesados de álcool. Os autores afirmam que existem evidências
suficientes apontando para o alto nível de consumo de bebidas alcoólicas entre os indianos e
para o fato de problemas de saúde e sociais estarem presentes entre os consumidores de
álcool.
Para Mustonen et al. (2001), o abuso de álcool é considerado um dos problemas
enfrentados na Namíbia. O Ministério de Saúde e Serviços Sociais fundou um Centro de
Recursos de Álcool e Drogas, visando o tratamento, reabilitação, prevenção e aconselhamento
dos indivíduos alcoolistas e viciados em drogas. Entre junho e agosto de 1998 foi conduzido o
primeiro estudo nacional sobre álcool e drogas, cujo objetivo foi obter informações sobre o
uso destas substâncias para elaboração de programas nacionais e desenvolvimento de
políticas. A população envolvida na pesquisa foi composta de homens e mulheres acima de 18
anos, que responderam a um questionário, incluindo questões sobre conhecimentos, atitudes e
práticas a respeito do álcool e drogas, além do consumo alimentar. Os participantes foram
divididos em dois grupos, abstinentes e consumidores ocasionais de álcool (n=2.823) e
consumidores pesado de álcool (n=1.186). A abstinência entre as mulheres foi de 52,90% e
entre os homens, 39,10%. O consumo semanal de álcool entre os homens foi de 42,80% e
mulheres de 31,00%. Os abstinentes e aqueles que consumiram álcool com baixa freqüência
foram os homens e mulheres mais jovens, com maior nível de escolaridade, empregados,
39
residentes na área urbana. O consumo pesado de álcool no último ano foi observado em
45,60% dos homens e 26,70% das mulheres. Neste grupo de consumidores foram mais
prevalentes os casados, adultos e mais velhos, baixa escolaridade, trabalhadores e residentes
na área urbana. A bebida mais consumida na Namíbia foi a cerveja produzida em casa
(67,00%). Quase metade dos homens e um quarto das mulheres relataram ter tido pelo menos
um problema associado ao álcool durante os últimos três meses, sendo que o remorso e a
culpa depois de beber foram os mais relatados. Um em cada cinco consumidores foi
considerado consumidor pesado de álcool, com freqüência de consumo de no mínimo uma
vez ao mês. Os resultados obtidos apontam que o aumento da escolaridade e do nível
econômico pode reduzir a freqüência de consumo de álcool. Os autores alertam que a
prevalência de abstinência pode ter sido superestimada, pelo tipo de questionário utilizado,
pelo fato da cerveja produzida em casa para os participantes não ser considerada como bebida
alcoólica e sim como alimento, ou pelo fato dos namibianos desconsiderarem o consumo de
bebida alcoólica em ocasiões especiais. Outros estudos serão necessários no país, levando em
consideração a cultura local e suas diferenças e o significado do álcool para seus
consumidores. Segundo os autores, a Namíbia enfrentará dificuldades em diminuir os efeitos
maléficos do uso de álcool enquanto não houver a melhora nos salários e aumento do nível de
escolaridade da população. Somente mudanças nas condições de vida poderiam modificar o
papel do álcool na vida dos consumidores.
O consumo de bebida alcoólica em Seicheles tem sido considerado como um problema
de saúde pública há anos e esforços estão sendo feitos na tentativa de seu controle há mais de
20 anos. Seicheles é formado por 115 ilhas no Oceano Índico e para identificar a utilização de
bebidas alcoólicas, Bovet (2001) realizou dois estudos, um em 1989 e outro em 1994. Em
1989, participaram 1.081 indivíduos, na faixa etária entre 25 e 64 anos, que preencheram um
questionário contendo 130 questões sobre características sócio-econômicas, ocupação, fatores
40
de risco cardiovasculares, escolaridade e hábitos alimentares e ainda, foi realizado exame
físico e coleta de sangue. A avaliação do consumo de álcool foi associada à avaliação do
consumo alimentar, por meio de doze questionários de freqüência alimentar semi-
quantitativo, que analisou a média de consumo de seis diferentes tipos de bebidas alcoólicas.
O consumo de álcool foi verificado em 50,00% dos entrevistados, sendo que 75,00% dos
homens consumiram álcool. A bebida mais consumida foi a cerveja (67,00%) e o volume
diário consumido foi maior na faixa etária entre 40 e 64 anos, tanto para os homens, quanto
para as mulheres. A quantidade de etanol encontrado em bebidas caseiras foi duas vezes
maior do que a quantidade presente nas bebidas industriais. No estudo de 1994 foi utilizado
um questionário composto de 207 questões associadas ao contexto sócio-econômico,
escolaridade, ocupação, fatores de risco cardiovasculares, hábitos alimentares, peso e altura,
pressão arterial e exames laboratoriais, eletrocardiograma, ultrassonoagrafia das artérias
femoral e cervical e ecocardiograma. Além disso, os participantes foram questionados quanto
aos conhecimentos e hábitos de saúde e de estilo de vida, incluindo o consumo de bebida
alcoólica e as quatro questões do CAGE para detectar o hábito de beber pesado. Foram
entrevistadas 1.067 pessoas, também na faixa etária entre 25 e 64 anos. A correlação entre o
consumo de bebida alcoólica e a idade foi estatisticamente não-significativa (r= 0,064,
p=0,157). Os participantes com baixa escolaridade consumiram álcool mais freqüentemente
que os demais. O consumo de álcool pelas mulheres foi baixo. O nível sócio-econômico
determinou o tipo de bebida alcoólica consumida, havendo maior consumo de bebida caseira
entre os participantes de menor nível sócio-econômico. A melhoria da condição sócio-
econômica favoreceu o aumento do consumo de álcool, inclusive pelas mulheres. Houve
associação entre a média de volume de consumo de álcool diário, a idade e a escolaridade dos
participantes. Os homens mais velhos ingeriram volume de álcool mais alto do que os mais
novos (r= 0,106, p=0,027) e as pessoas com menor escolaridade ingeriram maior volume de
41
álcool do que aquelas com maior escolaridade (r= -0,290, p=0,000). A freqüência de consumo
de álcool se correlacionou fortemente com o volume de álcool ingerido em ambos os sexos
(r= 0,685, p=0,000 para os homens e r= 0,584, p=0,000 para as mulheres). O CAGE apontou
que 253 indivíduos eram consumidores regulares de álcool. O tabagismo e a pressão arterial
estiveram fortemente associados ao consumo de álcool (p=0,000), o que não ocorreu com o
Índice de Massa Corporal (p=0,591). Entretanto, os autores sugerem a utilização de outros
instrumentos, como o AUDIT, para realização de um melhor rastreamento, por permitir a
detecção mais precoce dos problemas relacionados ao uso de álcool.
De acordo com Medina-Mora et al. (2001), o padrão de consumo de álcool no México
tem sofrido modificações, com a incorporação de mulheres e jovens, dentre os indivíduos que
fazem uso de bebida alcoólica. Os resultados obtidos sobre o consumo de bebida alcoólica
foram baseados em duas pesquisas, sendo a primeira, um estudo nacional realizado em 1989 e
a segunda conduzida na capital do México em 1994. No estudo de 1989 foram entrevistados
11.157 indivíduos de ambos os sexos, na faixa etária entre 12 e 65 anos, utilizando-se um
formulário aplicado por assistentes sociais, psicólogos e enfermeiros, que permitiu a obtenção
de resultados sobre a prevalência do uso de tabaco, álcool e outras drogas. A abstinência de
álcool no último ano foi entre as mulheres de 33,60% e entre os homens de 12,10%. O grupo
mais abstinente foi aquele composto por indivíduos na faixa etária entre 15 e 19 anos
(50,50%) e na faixa etária acima de 50 anos (34,80%). O consumo de álcool foi relatado por
51,60% dos participantes, sendo que os homens consumiram álcool 1 a 3 vezes por mês
(23,40%) ou menos (21,60%), enquanto 23,60% das mulheres consumiram álcool menos que
uma vez ao mês e 8,00% delas, 1 a 3 vezes por mês. A abstinência diminuiu com o aumento
do nível de escolaridade e o aumento da freqüência de consumo foi maior entre aqueles com
menor nível de escolaridade. O consumo pesado de álcool foi o comportamento caracterizado
como sendo masculino. Este comportamento de beber foi encontrado em 52,00% dos
42
participantes que consumiram bebida alcoólica, sendo 71,80% entre os homens. Ao ser
avaliado somente os homens, a faixa etária entre 20 e 29 anos apresentou maior prevalência
de consumo pesado de álcool com freqüência de 1 a 3 vezes por mês (30,40%). Entre as
mulheres, a faixa etária que mais apresentou consumo pesado de álcool foi entre 30 e 49 anos
(15,50%), cuja freqüência de consumo foi menor que mensalmente. Quanto ao nível de
escolaridade, o consumo pesado de álcool foi mais observado em homens e mulheres com
nenhuma escolaridade. Um em cada dez homens na região urbana do país desenvolveu
dependência ao álcool e 0,60% entre as mulheres. Se considerados apenas os consumidores
correntes de álcool, esta porcentagem aumentou para 15,30% entre os homens e 1,60% entre
as mulheres. A dependência também foi observada em 35,00% dos homens e 27,40% das
mulheres que realizaram consumo pesado de álcool. Os problemas associados ao consumo de
álcool mais citados foram os problemas familiares (25,00%), no trabalho (16,90%) e com a
polícia (15,30%). No estudo realizado em 1994 participaram 1.932 pessoas com faixa etária
de 18 a 65 anos. O instrumento utilizado foi um formulário modificado da Pesquisa Nacional
de Co-morbidades dos Estados Unidos, em que foi adicionado questões sobre freqüência e
quantidade de consumo de bebida alcoólica, idade de início de consumo e informações sobre
dependência de álcool. A abstinência foi observada em 10,90% da população, sendo mais
comum entre as mulheres (17,20%). A abstinência no último ano foi de 52,00%, sendo
64,90% entre as mulheres. Os consumidores habituais de álcool foram 37,10% da população,
sendo 62,20% entre os homens. Quanto aos homens consumidores de álcool, a maioria esteve
na faixa etária entre 20 e 29 anos (60,80%), com 1 a 6 anos de estudo (63,60%). Quanto às
mulheres consumidoras de álcool, a maioria esteve na faixa etária entre 30 e 49 anos
(20,50%), com 13 ou mais anos de estudo (23,50%). O consumo pesado de álcool foi relatado
como ocorrido uma vez ao mês por 13,10% dos consumidores de álcool, 1 a 3 vezes ao mês
por 7,90% e semanalmente ou mais por 5,30% dos consumidores. A prevalência dos
43
problemas relacionados ao consumo de bebida alcoólica foi maior entre os homens, sendo o
mais relatado a freqüente intoxicação ou síndrome de abstinência (19,50%). Diante dos
achados e levando-se em consideração as tendências na disponibilidade de bebidas alcoólicas,
na composição demográfica da população e o caos econômico que a população mexicana
enfrenta, os autores afirmam que as diferenças no padrão de consumo de álcool e seus
problemas associados merecem estar em constante estado de vigilância.
Conforme Mello et al. (2001), entre os países-membros da União Européia, Portugal é
um dos maiores consumidores de bebidas alcoólicas, bem como o que apresenta maior
número de problemas relacionados ao álcool, sendo que aproximadamente 10,00% da
população do país apresentam graves incapacidades. Cerca de apenas 15,00 a 25,00% dos
portugueses se abstêm ou consomem bebidas alcoólicas esporadicamente, enquanto 60,00%
da população adulta são consumidores regulares de álcool. Neste grupo se encontram os
consumidores de risco, muitas vezes, não diagnosticados. Nos últimos anos têm sido
observadas alterações nos hábitos tradicionais de consumo de bebida alcoólica entre os
portugueses, como o aumento no consumo de cerveja e bebidas destiladas, crescente consumo
de bebidas alcoólicas por mulheres e pelos jovens, internacionalização e uniformização dos
hábitos de beber. O consumo regular de bebidas alcoólicas por menores de 18 anos foi
identificado em mais de 60,00% dos jovens com idades entre 12 e 16 anos e em 70,00% dos
jovens acima de 16 anos. Mais de 80,00% dos homens e 50,00% das mulheres consomem
bebidas alcoólicas, o vinho é a bebida mais consumida e o consumo de álcool é realizado
diariamente, ao longo do dia, durante e entre as refeições.
Giesbrecht et al. (2005) avaliaram o padrão de consumo de bebida alcoólica, baseado
em duas pesquisas conduzidas em Ontário, Canadá, nos anos de 2000 e 2002. As entrevistas
foram realizadas por telefone e participaram apenas indivíduos adultos (18 anos ou mais). Foi
utilizado delineamento amostral probabilístico. Foram avaliadas as características
44
demográficas da população, o padrão de consumo (atual, pregresso e abstinente de álcool), a
freqüência de consumo de álcool, o número usual de doses ingeridas, o volume de doses
consumidas semanalmente, a freqüência de consumo de cinco ou mais doses em uma mesma
ocasião e aplicou-se o AUDIT. No ano de 2000, em que foram avaliados 1.294 participantes,
a maioria eram mulheres (55,79%), na faixa etária entre 30 e 39 anos (23,33%), casados
(59,35%), nível de escolaridade médio (30,13%) e nível econômico médio (21,94%). Quanto
aos resultados em relação ao consumo de álcool, 78,83% dos participantes eram
consumidores de álcool, 13,37% consumidores pregressos de álcool e 7,80% abstinentes. A
freqüência de consumo mais observada foi de 1 a 3 vezes por mês (21,56%). O número usual
de doses consumidas foi de 1 a 2 (56,64%). O número de doses ingeridas semanalmente foi de
1 a 7 doses para 54,09% dos participantes. A freqüência de beber em binge não foi relatada
pela maioria dos indivíduos (51,85%). O AUDIT identificou 13,21% dos entrevistados com
consumo de álcool de risco. No ano de 2002 foram entrevistados 1.206 indivíduos, na sua
maioria mulheres (53,80%), na faixa etária entre 30 e 39 anos (20,72%), casados (54,06%),
nível de escolaridade médio (32,25%) e nível econômico alto (23,13%). Destes indivíduos,
78,19% foram considerados consumidores de álcool, 15,34% consumidores pregressos de
álcool e 6,47% abstinentes ao álcool. A freqüência de consumo de álcool mais observada foi
de 1 a 3 vezes por mês (24,54%). O número usual de doses consumidas foi de 1 a 2 (52,32%).
O número de doses ingeridas semanalmente foi de 1 a 7 doses para 54,89% dos participantes.
A freqüência de beber em binge não foi relatada pela maioria dos indivíduos (53,39%). O
AUDIT identificou 12,35% dos entrevistados com consumo de álcool de risco. Para os
autores, as ações direcionadas ao controle do uso de álcool não modificaram o consumo de
beber de alto risco ou o nível de prejuízos à população associados ao álcool.
Coulton et al. (2006) compararam variáveis associadas ao consumo de risco de álcool
entre 112 homens que apresentaram positividade no AUDIT e 82 homens que não
45
apresentaram positividade no AUDIT. Estes indivíduos foram entrevistados em 6 consultórios
médicos do Sudoeste do País de Gales, Reino Unido. Dos participantes AUDIT positivo, a
idade média foi de 42,80±18,30-75,30 anos e a maioria era casado (54,00%). No grupo de
participantes AUDIT negativo, a idade média foi de 50,90±18,70-80,90 anos e a maioria era
casado (62,00%). A média de doses consumidas foi de 14,00 (2,40-53,00) entre o grupo
AUDIT positivo contra 5,20 (0,00-20,50) entre o grupo AUDIT negativo. A porcentagem de
dias de abstinência ao álcool, no intervalo dos últimos 180 dias em que foram avaliados, foi
de 37,60% (0,0-96,7) entre o grupo AUDIT positivo contra 73,20% (0,0-100,0) entre o grupo
AUDIT negativo. A abstinência ao álcool não foi encontrada entre o grupo AUDIT positivo,
durante os 180 dias em que foram avaliados enquanto no grupo AUDIT negativo 5,00%
apresentaram abstinência ao álcool. A freqüência de episódios de binge drinking, nos 180 dias
em que foram avaliados, no grupo AUDIT positivo foi 4,00% nunca, 5,00% menos que
mensalmente, 21,00% mensalmente, 56,00% semanalmente, 13,00% diariamente ou quase
todos os dias e 1,00% dos participantes não responderam a esta questão. Já no grupo AUDIT
negativo, a freqüência de episódios de binge drinking foi de 43,00% nunca, 34,00% menos
que mensalmente, 7,00% mensalmente, 12,00% semanalmente, nenhum participante relatou
binge drinking diariamente ou quase todos os dias e 4,00% não responderam a esta questão. O
consumo de álcool perigoso foi observado em 100,00% dos participantes do grupo AUDIT
positivo e em 11,00% do grupo AUDIT negativo. Casos de dependência de álcool foram
observados apenas entre os indivíduos do grupo AUDIT positivo, com a prevalência de
45,00%. Desta forma, conclui-se que os indivíduos AUDIT positivo apresentam
comportamentos de risco associados ao consumo de bebida alcoólica, quando comparados aos
indivíduos AUDIT negativo. Vale ressaltar ainda que durante o processo de recrutamento da
amostra dos participantes, o AUDIT foi aplicado em 1.794 homens e destes 24,90%
46
apresentaram consumo de risco de álcool, mas somente 112 indivíduos aceitaram participar da
pesquisa.
Conforme Sthare et al. (2006), o consumo pesado de álcool nos Estados Unidos é
caracterizado pelo consumo de 14 ou mais doses de álcool por semana para os homens e 7 ou
mais doses semanais para as mulheres. Segundo os autores, neste país é comum o consumo de
álcool em binge (5 ou mais doses em uma mesma ocasião para homens e 4 ou mais para as
mulheres). A tendência dos americanos é a de subestimar a quantidade de álcool consumida,
omitidos os episódios de beber em binge. Desta forma, Stahre et al. (2006) conduziram um
estudo para estimar a média de consumo de álcool e a quantidade de consumo em binge. O
estudo utilizou dados de 2003 do Sistema de Vigilância dos Fatores de Risco
Comportamentais (Behavioral Risk Factor System Surveillance BRFSS), coordenado pelo
Centro de Prevenção e Tratamento de Doenças (Centers for Disease Control and Prevention
CDC). Estes dados foram obtidos por meio de ligações telefônicas e participaram da pesquisa
no ano de 2003, 253.365 americanos adultos (maiores de 18 anos de idade). Destes, 56,10%
relataram consumo de álcool nos últimos 30 dias e 16,00% reportaram o consumo em binge.
Dos indivíduos que beberam em binge, 6,77% apresentou consumo pesado de álcool, sendo
mais comum entre os homens (8,39%). A média de consumo de álcool diária foi de 0,45
doses diárias, sendo maior o consumo entre os homens (0,67 doses diárias). A faixa etária que
mais bebeu em binge foi entre 18 e 34 anos, raça branca, nível econômico alto, estudantes e
solteiros. A análise somente dos participantes que apresentaram consumo em binge
(n=33.149) indicou que 28,05% destes participantes apresentaram consumo pesado de álcool
e média de doses diárias de 1,68 para as mulheres e 2,00 para os homens, denotando, portanto,
que o consumo de bebidas alcoólicas no país é um sério problema de saúde pública.
Tomkins et al. (2007) estimaram a prevalência de comportamentos de beber de risco
entre homens na faixa etária entre 25 e 54 anos, residentes na cidade de Izhevsk, Rússia e
47
identificaram os fatores associados. Os pesquisadores avaliaram dois comportamentos do
beber de risco na Rússia, o zapoi (períodos de embriaguez contínuos por vários dias) e o
sugorrate alcohols (substâncias que contêm álcool, cuja concentração de etanol está acima de
95,00% por volume), além de avaliarem a freqüência de consumo de bebidas destiladas e a
freqüência de episódios de ressaca depois de beber. As entrevistas foram administradas por
meio de um questionário aplicado aos familiares próximos (esposas, mães) dos avaliados,
envolvendo questões sobre aspectos sócio-econômicos, indicadores de comportamentos de
beber de risco derivados da freqüência episódios de ressaca e zapoi, freqüência de consumo
de bebidas destiladas e sugorrates e freqüência de consumo e quantidade de bebida alcoólica
ingerida no último ano. Dos 1.750 homens avaliados, 78,40% consumiram cerveja, 77,70%
bebidas destiladas e 39,50% vinho no último ano. De acordo com a freqüência de consumo, as
bebidas destiladas foram consumidas menos de uma vez no último ano (53,80%), a cerveja foi
consumida semanalmente por 40,10% dos participantes e diariamente por 8,60% e o consumo
de sugorrates foi relatado como nunca ou quase nunca por 90,90%. Quanto aos
comportamentos de beber de risco, 7,20% dos participantes consumiram sugorrates no último
ano, 10,60% apresentaram zapoi, 12,80% afirmaram ficar de ressaca freqüentemente e
21,00% consumiram bebidas destiladas todos ou quase todos os dias. Menos de 1,00%
apresentaram os quatro comportamentos de risco simultaneamente, 4,00% apresentaram dois
ou três destes comportamentos associados. Dos 135 homens que consumiram sugorrates,
64,00% apresentaram episódios de zapoi e dos 183 homens que apresentaram episódios de
zapoi, 48,00% consumiram sugorrates. Em geral, os homens com menor nível de
escolaridade, desempregados e que não tinham carro ou aquecedor central apresentaram
maior prevalência dos comportamentos de beber de risco. Os homens com menor nível de
escolaridade e econômico apresentaram maior consumo de sugorrates (OR=7,70; IC
95%
: 3,20-
18,50, p<0,001), episódios de zapoi (OR=5,20; IC
95%
: 2,30-11,80, p<0,001) e freqüência de
48
episódios de ressaca (OR=3,70; IC
95%
: 1,80-7,40, p<0,001). No grupo avaliado, os quatro
comportamentos de beber de risco apresentaram alta prevalência e houve associação entre o
consumo de sugorrates, episódios de zapoi e de ressaca com os padrões sócio-econômicos.
Estes resultados sugerem que as pesquisas que avaliam comportamentos de beber de risco não
devem ser baseadas apenas na freqüência de consumo de bebidas alcoólicas, mas também nas
características sócio-demográficas da população.
Ardila e Herrán (2008) realizaram estudos transversais em 2005 e 2006, na cidade de
Bucaramanga, Colômbia, com o objetivo de estabelecer as expectativas referentes ao
consumo de álcool na população. Participaram da pesquisa 601 adultos residentes na área
urbana, na faixa etária entre 18 e 60 anos. Foram realizadas entrevistas por uma enfermeira ou
uma nutricionista para levantar informações sócio-demográficas, consumo de bebida alcoólica
no último ano e preenchimento do questionário Alcohol Expectancy Questionnaire (AEQ-III),
que avalia os efeitos do álcool sobre o comportamento, o estado de ânimo e emoções, que são
considerados fatores de risco responsáveis pela iniciação, manutenção, uso problemático e
dependência de álcool. Dos participantes, 55,60% eram homens, com nível sócio-econômico
baixo, médio e alto (33,30% cada), idade média 34,70 anos (IC
95%
: 33,80-35,60). A idade
média de início do consumo de álcool foi de 15,90 anos (IC
95%
: 15,60-16,10), sendo um ano
mais tarde entre as mulheres (p=0,000). A idade média da primeira embriaguez foi de 17,60
anos (IC
95%
: 17,30-17,90), sendo dois anos mais tarde entre as mulheres (p=0,000). A média
de anos de estudo foi de 12,80 (IC
95%
: 12,50-13,10), sem diferenças entre os sexos. O Índice
de Massa Corporal acima de 25 Kg/m
2
foi observado em 48,40% dos entrevistados. Quanto ao
consumo de álcool, 88,70% (IC
95%
: 85,40-91,90) dos participantes consumiram álcool, sem
diferenças entre a idade, sexo, índice de massa corporal, escolaridade, nível sócio-econômico.
Os resultados apontaram que iniciar o consumo de álcool antes dos 16 anos aumenta o risco
de ser consumidor de álcool em 17,00% (IC
95%
: 9,00-24,00), da mesma forma que
49
embriagar-se antes dos 16 anos aumenta a chance de consumo em 11,00% (IC
95%
: 6,00-
17,00). Os pesquisadores alertam que retardar a idade de início do uso de álcool deve ser um
dos objetivos de futuras intervenções em escolares e adolescentes para diminuir a prevalência
de consumo de álcool.
Ahnquist et al. (2008) avaliaram o consumo de álcool na Suécia para estudar a sua
relação com a condição social dos participantes. Os dados foram baseados na Pesquisa
Nacional de Saúde Pública Sueca, coletados em 3 meses no ano de 2006, por meio de
questionário auto-aplicado enviados pelo correio. O AUDIT foi utilizado como instrumento
de medida do consumo de álcool na versão AUDIT-C, que engloba as três primeiras questões
deste questionário e o escore máximo é de 12 pontos, sendo que o ponto de corte 5 para
homens e 4 para mulheres indica o consumo de risco ou perigoso de álcool. Também foram
levantadas características sócio-demográficas. Dos 56.889 entrevistados na faixa etária de 16
a 84 anos, 53,76% eram mulheres e o consumo de risco de álcool estimado foi de 29,50%
entre os homens e 8,50% entre as mulheres. A maioria dos participantes afirmou ter condição
social baixa (34,90%), apresentou idade entre 45 e 64 anos (31,90%), 90,80% era nascido na
Suécia, 52,75% apresentou escolaridade baixa, 83,45% não apresentou problemas financeiros,
50,30% estava empregado e afirmou ter alta confiança interpessoal (75,50%). A prevalência
de consumo de risco de álcool para homens e mulheres diminuiu com o aumento da condição
social, aumento da idade, aumento da escolaridade, ausência de problemas financeiros e
aumento da confiança interpessoal. Na análise multivariada ajustada verificou-se associação
estatisticamente significante entre o consumo de risco de álcool e a baixa condição social
tanto para os homens, quanto para as mulheres (OR=1,52; IC
95%
: 1,36-1,70 e OR=1,50; IC
95%
:
1,35-1,66) e a alta confiança interpessoal para os homens e para as mulheres (OR=2,00;
IC
95%
: 1,79-2,24 e OR=2,09; IC
95%
: 1,88-2,33). Os pesquisadores sugerem que as evidências
50
por eles encontradas pode ser uma importante contribuição para políticas e estratégias
relacionadas ao consumo de álcool.
O consumo de álcool em 8 países da antiga União Soviética foi avaliado por
Pomerleau et al. (2008). Participaram do estudo a Armênia, a Bielo-Rússia, a Geórgia, o
Cazaquistão, o Quirguistão, a Moldávia, a Rússia e a Ucrânia, onde foram conduzidas
pesquisas nacionais com amostras representativas de no mínimo 2.000 indivíduos adultos, por
meio de metodologia padronizada. Os 18.428 participantes da pesquisa responderam a um
questionário, contendo questões sobre características sócio-demográficas, condições de
moradia, estilo de vida, uso do serviço de saúde e percepção do estado de saúde. Quanto ao
consumo de álcool foram questionados sobre a alta ingestão de bebida alcoólica e os
episódios de consumo pesado de álcool. Os episódios de consumo pesado foram separados
por sexo e tipo de bebida alcoólica consumida. Os países, onde houve o maior consumo
pesado de cerveja entre os homens foram a Geórgia, o Cazaquistão e a Rússia. Quanto ao
vinho, a Geórgia foi o país onde se realizou o maior consumo pesado entre os homens. Os
países, onde se identificou o maior de bebidas destiladas entre os homens, foram a Bielo-
Rússia, o Cazaquistão, a Rússia e a Ucrânia. A alta ingestão de álcool por semana foi maior
que 210g de álcool puro por semana para homens e maior que 140g para as mulheres na
Bielo-Rússia, na Moldóvia, na Geórgia e na Rússia. O episódio de consumo pesado de álcool
esteve associado à idade dos participantes (p<0,001), com maior acometimento dos
indivíduos com 40 a 49 anos de idade, ao país (p<0,001), sendo o menor consumo entre os
moradores do Quirguistão, da Moldávia e da Armênia, ao estado civil (p<0,005), sendo o
menor consumo entre os homens solteiros e o maior consumo entre as mulheres solteiras, à
situação laboral (p=0,001 para os homens), com menor acometimento dos desempregados, ao
tabagismo (p<0,001), sendo mais acometidos os fumantes. Os autores da pesquisa enfatizam a
51
importância do desenvolvimento de ações políticas efetivas para a redução do consumo
perigoso de álcool nesta região.
Fan et al. (2008) avaliaram a associação do padrão de consumo de álcool e a síndrome
metabólica. Os dados utilizados foram obtidos da Pesquisa de Análise Nutricional e de Saúde
Nacional – Nacional Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) de 1999-2002.
Participaram 1.529 indivíduos americanos, com 20 a 84 anos de idade, que relataram ser
consumidores habituais de álcool. A coleta das informações foi realizada por entrevista e
exame físico. Foram levantados dados sobre as características demográficas da população,
presença de síndrome metabólica, número de anormalidades metabólicas e padrão de
consumo de álcool. As características dos consumidores habituais de álcool apontam que a
maioria eram homens (62,85%), idade média 42,3 anos, brancos (77,40%) e alto nível de
escolaridade (59,40%). A freqüência de consumo de álcool foi menor que 1 vez por semana
para 37,90% dos participantes. Dos entrevistados, 42,50% afirmaram ingerir usualmente três
ou mais doses de bebida alcoólica, 32,70% duas doses e 24,80% uma dose. Cinqüenta e oito
por cento dos participantes excederam o consumo de álcool recomendado pelo guia dietético
americano, sendo que as mulheres foram as que mais excederam (67,10%). A freqüência de
binge drinking foi observada em 52,10% dos participantes, sendo maior entre os homens
(66,50%). Quanto ao número de anormalidades metabólicas, 29,90% dos entrevistados não
apresentou nenhuma, 28,60% apresentou uma anormalidade, 21,80% duas anormalidades e
19,70% três ou mais anormalidades. Na análise multivariada, a freqüência de consumo de
álcool de um a dois dias por semana esteve associada à redução do Low Density Lipoprotein -
Cholesterol (LDL-C) (OR=0,43; IC
95%
: 0,27-0,68) e a freqüência de consumo de três ou mais
dias por semana esteve associada ao aumento da pressão arterial (OR=2,00; IC
95%
: 1,28-3,01).
O consumo usual de três ou mais doses por dia esteve associado ao aumento da glicemia ou
Diabetes Mellitus (OR=2,96; IC
95%
: 1,06-8,31), hipertrigliceridemia (OR=2,37; IC
95%
: 1,16-
52
4,84), obesidade abdominal (OR=1,80; IC
95%
: 1,22-2,66) e aumento da pressão arterial
(OR=1,80; IC
95%
: 1,13-2,86). O consumo de bebida alcoólica que excede a recomendação do
guia dietético americano esteve associado à hipertrigliceridemia (OR=1,20; IC
95%
: 0,70-2,05),
obesidade abdominal (OR=1,77; IC
95%
: 1,30-2,40) e aumento da pressão arterial (OR=1,72;
IC
95%
: 1,23-2,41). A freqüência de beber em binge uma ou mais vezes por semana esteve
associada à hipertrigliceridemia (OR=1,71; IC
95%
: 1,12-2,63) e aumento da pressão arterial
(OR=2,08; IC
95%
: 1,11-3,90). Para os autores, são necessários esforços na prevenção dos
fatores de risco associados às doenças cardiovasculares e síndrome metabólica direcionados à
redução do consumo de álcool para os níveis seguros recomendados.
Kilmer et al. (2008) avaliaram os comportamentos de risco associados às causas de
morte nos Estados Unidos, utilizando o Sistema de Vigilância dos Comportamentos de
Fatores de Risco Comportamentais – Behavioral Risk Factor Surveillance System (BRFSS),
no ano de 2006. A pesquisa foi realizada por entrevistas telefônicas com 355.710 adultos
(acima de 18 anos) nos 50 estados americanos e nos países vizinhos (Distrito da Colômbia,
Porto Rico e Ilhas Virgens). Por este sistema são identificados indicadores do estado de saúde,
comportamentos de risco (como o consumo excessivo de álcool), práticas preventivas e
doenças crônicas. O consumo de álcool foi avaliado pelos episódios de binge drinking. Dos
entrevistados, a prevalência destes episódios foi de 15,40%, variando entre 8,60% a 24,30%.
Segundo os autores, uma das limitações do estudo foi o fato das entrevistas somente terem
sido realizadas com residências com linhas telefônicas fixas, sendo excluídas as residências
que dispunham apenas de telefones celulares e as residências sem telefone. Outra limitação se
relacionou com o fato dos dados serem obtidos mediante a resposta do entrevistado, o que
necessita contar com a capacidade de lembrança dele no momento da entrevista e levar em
consideração que as respostas dos indivíduos costumam ser guiadas pelos efeitos desejáveis
sociais.
53
3.3 Estudos epidemiológicos brasileiros
Capriglione et al. (1985) desenvolveram um estudo em São Paulo, utilizando o
questionário CAGE, que foi aplicado a 700 pessoas acima de 18 anos, sendo 350 homens,
com o objetivo de detectar a síndrome de dependência do álcool em população adulta. O
delineamento amostral adotado foi não-probabilístico, sendo que 400 indivíduos foram
entrevistados na Estação Rodoviária da cidade e o restante, em um hospital geral. O CAGE
foi positivo em 11,50% das pessoas entrevistadas. Em função da simplicidade e rapidez do
teste CAGE, os pesquisadores sugerem sua aplicação em estudos nas comunidades.
Segundo a revisão de literatura realizada por Cardim et al. (1986), apesar do hábito de
beber ser um fenômeno muito antigo, foi somente no século XX que cientistas, pesquisadores,
sanitaristas, psicólogos, sociólogos, biólogos e outros estudiosos têm se voltado para estudar o
assunto, em decorrência dos problemas associados ao consumo de álcool. No Congresso
Brasileiro de Alcoolismo, em 1985, realizado na Cidade do Rio de Janeiro, Brasil, as
autoridades que participaram, divergiram sobre a freqüência, causas e tratamento do alcoolista
no Brasil. As prevalências de alcoolismo variaram de 2,00% a 10,00% entre os estudos. Além
disso, foi destacado o aumento progressivo do alcoolismo no sexo feminino o que, segundo a
revisão realizada pode estar relacionado à inserção das mulheres no mercado de trabalho e às
mudanças sociais ocorridas na última década.
Rego et al. (1990) desenvolveram um estudo no município de São Paulo, Brasil, em 8
subdistritos e 2 distritos, com o objetivo de identificar os fatores de risco relacionados às
doenças crônicas não-transmissíveis no Brasil. O total de domicílios pesquisados foi 1.479.
Em cada domicílio foi sorteado um indivíduo de 15 a 59 anos de idade. A todos os
participantes foi aplicado um questionário, abrangendo questões de identificação sócio-
demográfica, percepção de saúde, hipertensão arterial, estresse e apoio social, tabagismo,
54
consumo de álcool e atividade física. Para avaliação do consumo de álcool foi utilizado o teste
CAGE. A prevalência de alcoolismo observada foi de 7,70%, sendo quatro vezes maior em
homens (12,60%), do que em mulheres (3,30%). Os pesquisadores destacaram como
importante, o planejamento de um próximo estudo transversal de metodologia semelhante a
este para acompanhar a tendência do alcoolismo e dos fatores de risco associados, como base
para o desenvolvimento e avaliação de programas de intervenção direcionados às doenças
crônicas.
Almeida e Coutinho (1993) estudaram a prevalência de consumo de bebidas alcoólicas
e alcoolismo na Ilha do Governador, na cidade do Rio de Janeiro, em indivíduos maiores de
13 anos de idade. Os autores utilizaram delineamento amostral por conglomerados em três
estágios. Para a avaliação do consumo de bebida alcoólica foi utilizado o CAGE, que permitiu
aos pesquisadores categorizar os indivíduos em alcoolistas ou não-alcoolistas. Dezoito
estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro foram treinados para a realização do
mapeamento dos setores censitários e aplicação dos questionários. Foram entrevistados 1.459
indivíduos, com predominância de indivíduos do sexo feminino (60,00%), com menos de 40
anos (59,70%), casados (60,20%), católicos (74,20%), com primeiro grau incompleto
(26,80%) e renda familiar menor ou igual a três salários mínimos (34,70%). Em relação ao
consumo de bebida alcoólica, 52,00% das pessoas foram classificadas como consumidores de
álcool, sendo a cerveja, a bebida mais consumida (88,80%). A idade média de início do
consumo de bebidas alcoólicas foi de 18,80±4,96 anos. A prevalência de consumidores na
amostra foi maior na faixa etária entre 20 e 40 anos e menor a partir dos 50 anos. A proporção
de abstinentes foi maior entre os indivíduos com mais de 50 anos (OR=0,55), viúvos
(OR=0,59), protestantes (OR=0,52), menor renda (OR=0,25), já o consumo de bebida
alcoólica foi associado positiva e significativamente com o sexo masculino (OR=1,66). A
prevalência de dependência ao álcool foi de 3,00%. Se considerados somente os entrevistados
55
com 18 anos ou mais, a prevalência de dependência encontrada foi de 3,20% e no caso dos
maiores de 21 anos, atingiu 3,50%. Houve diferença estatística não-significativa (p=0,33)
entre a idade de início do consumo dos indivíduos CAGE positivo e negativo. Os
pesquisadores salientam a escassez de estudos com amostras representativas da população
brasileira. Além disso, as comparações de estudos brasileiros são dificultadas pela falta de
padronização metodológica, em decorrência do uso de instrumentos de rastreamento e
diagnóstico distintos.
Em 1999, Galduróz et al. realizaram o I Levantamento domiciliar nacional sobre o uso
de drogas psicotrópicas nas 24 maiores cidades do Estado de São Paulo. Foram entrevistadas
2.411 pessoas com idades de 12 a 65 anos. O álcool foi uma das drogas com maiores
prevalências de uso na população (53,20%). A prevalência de consumo de álcool entre os
homens foi maior do que entre as mulheres em todas as faixas etárias avaliadas, sendo a faixa
de maior consumo entre 25 e 34 anos. A estimativa de dependentes de álcool foi de 6,60%,
sendo 10,90% entre os homens. Em todas as faixas etárias avaliadas, a prevalência de homens
dependentes de álcool foi maior do que entre as mulheres, sendo que a faixa etária mais
acometida foi a de 18 a 24 anos. Diante dos resultados, os pesquisadores sugerem a
implantação de programas de prevenção adequados à situação de abuso de álcool no Estado
de São Paulo.
Carlini et al. (2002) realizaram o I Levantamento domiciliar sobre o uso de drogas
psicotrópicas, com amostra representativa de 107 cidades com mais de 200.000 habitantes no
Brasil. Os autores verificaram que os indivíduos do sexo masculino bebem com maior
regularidade que os do sexo feminino e, por volta de cinco vezes mais, nas faixas etárias a
partir dos 25 anos. O consumo de álcool no Brasil foi realizado por 68,70% da população e a
dependência de álcool foi estimada em 11,20%, sendo a faixa etária dos 18 aos 24 anos de
idade, a que apresentou maior prevalência de dependentes. A porcentagem de dependentes do
56
sexo masculino foi três vezes maior do que do feminino. Para região Sudeste, observou-se que
71,50% dos indivíduos afirmaram consumir bebidas alcoólicas, sendo 78,80% entre os
homens e 9,20% foram classificados como dependentes de álcool. Dentre as complicações
decorrentes do uso de álcool e drogas, 5,00% dos entrevistados discutiram com outras pessoas
quando estavam com nível de consciência alterado pelo uso de substâncias psicotrópicas,
3,30% sofreram quedas, 3,00% se machucaram, 2,40% relataram ter provocado ferimentos
em outras pessoas, 2,00% se envolveram em acidentes de trânsito, 1,80% agrediram pessoas e
1,00% apresentaram problemas no trabalho. Os autores apontaram que 14,50% dos
entrevistados já tentaram parar ou diminuir o uso de álcool, 9,40% relataram perda de
controle sobre o álcool, 7,10% já tiveram problemas pessoais por causa do álcool, 6,20%
sofreram riscos físicos sob efeito do álcool, 5,80% apresentaram tolerância ao álcool e 4,40%
afirmaram gastar muito tempo para conseguir e usar álcool. Os pesquisadores concluíram que
a cada seis brasileiros que fizeram uso na vida de álcool, um deles tornou-se dependente.
Mendoza-Sassi e Béria (2003) realizaram um estudo com objetivo de identificar a
prevalência do abuso de álcool pela população urbana maior 15 anos de idade da cidade de
Rio Grande, Rio Grande do Sul. O delineamento amostral foi probabilístico e o instrumento
de medida utilizado foi o AUDIT, aplicado em 1.230 indivíduos. Incluiu-se ainda questões
relacionadas à classe social, idade, sexo, saúde mental e tabagismo. Houve predomínio na
amostra do sexo feminino (53,90%), faixa etária entre 15 e 29 anos (32,40%), classe social C
(39,70%), que relataram nunca fumar (50,30%), sem problemas de desordens psiquiátricas
menores (82,20%) e idade média de 40,30±17,71 anos. A prevalência do consumo de álcool
foi de 43,00%, sendo 56,80% entre os homens. Observou-se beber de risco em 7,90% dos
participantes. Encontrou-se associação significativa entre o beber de risco e o sexo (p=0,001),
o hábito de fumar (p=0,001) e as desordens psiquiátricas menores (p=0,040), com maior
acometimento dos homens, fumantes e aqueles com desordens psiquiátricas menores
57
diagnosticadas. Houve associação não-significativa entre o beber de risco e a faixa etária dos
indivíduos (p=0,200) e a classe social (p=0,090). O AUDIT apontou que 40,80% dos
participantes consumiram mais que 2 drinques em dia típico, 18,40% ingerem 6 ou mais
drinques 1 vez ao mês ou menos, mais de 8,00% relataram esquecer de acontecimentos da
noite anterior, devido à bebida, 7,00% reportaram ter se prejudicado por causa da bebida e
15,00% tiveram pessoas preocupadas com sua ingestão de álcool. Os pesquisadores alertaram
para a dificuldade da estimativa do consumo de álcool, ressaltando que a verdadeira
prevalência do abuso no consumo de álcool pode ser maior do que a encontrada.
Com o objetivo de determinar a prevalência e os fatores associados ao consumo
abusivo de álcool em uma população adulta da cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul. Costa et
al. (2004) desenvolveram estudo de corte transversal, no período entre dezembro de 1999 e
abril de 2000. Participaram 1.968 indivíduos acima de 20 anos. O processo de amostragem foi
probabilístico em múltiplos estágios. As unidades amostrais primárias foram os 281 setores
censitários da zona urbana do município, dos quais 40 foram sorteados. Nos setores sorteados,
procedeu-se amostragem sistemática de domicílios. Foram entrevistados todos os moradores
dos domicílios sorteados na faixa etária de interesse do estudo. As variáveis estudadas foram
sexo, idade, etnia, escolaridade, nível social, estado civil, distúrbios psiquiátricos menores,
hipertensão arterial, índice de massa corporal, atividade física, tabagismo e presença de
doenças crônicas. O consumo de álcool foi mensurado a partir de questionário, elaborado
pelos próprios autores, que avaliou tipos, quantidade e freqüência de consumo de bebidas
alcoólicas. O ponto de corte definido como consumo abusivo de álcool foi 30g/dia de etanol.
A maioria da população avaliada era do sexo feminino (57,00%), idade média de 41,6 anos,
faixa etária predominante entre 20 e 29 anos (23,70%), raça branca (83,00%), classe social C
(37,20%), com 5 a 8 anos de estudo (32,10%), casados (61,20%), sem a presença de
distúrbios psiquiátricos menores (71,50%), eutróficos (46,80%), com nível de atividade física
58
insuficientemente ativo (80,60%), sem a presença de hipertensão arterial (76,50%) e de
doenças crônicas (76,60%) e não-fumantes (48,00%). Em relação ao consumo de álcool,
21,00% da amostra afirmaram nunca ter ingerido bebida alcoólica, 65,10% relataram
consumo moderado (até 30g de etanol/dia) e 13,90%, consumo abusivo (acima de 30g de
etanol/dia). Encontrou-se associação estatisticamente significante entre o consumo abusivo de
álcool e sexo (p<0,001), etnia (p<0,001), nível social (p=0,001), nível de escolaridade
(p<0,001), atividade física (p=0,020), presença de doenças crônicas (p<0,001) e tabagismo
(p<0,001). O maior risco encontrado foi para o sexo masculino (OR=9,53). Observou-se uma
tendência linear de aumento da prevalência de consumo exacerbado de álcool nos menores
níveis de escolaridade e classe social e houve relação positiva entre a quantidade de álcool
consumida e o consumo de cigarros (OR=13,88). Os pesquisadores ressaltaram a necessidade
de realização de estudos de consumo de álcool e seus fatores de risco, visando o
monitoramento das prevalências do consumo abusivo para que as ações de saúde voltadas
para os grupos com maior risco sejam elaboradas.
Identificar a prevalência de abuso e dependência de álcool na zona urbana de Rio
Grande, Rio Grande do Sul, em indivíduos de 12 a 75 anos de idade e estudar sua associação
com fatores biológicos, demográficos, socioeconômicos e comportamentais foram os
objetivos do estudo proposto por Primo e Stein (2004). Trata-se de um estudo transversal com
delineamento de base populacional. Participaram 1.044 indivíduos. Foi aplicado um
questionário padronizado e pré-codificado com 86 questões, as quais contemplavam as
variáveis em estudo, que incluíram o Self-Report Questionnaire (SRQ-20) e o CAGE. As
variáveis independentes avaliadas foram sexo, etnia, idade, classe social, escolaridade, renda,
tabagismo, consumo de café, chimarrão, obesidade, padrão de atividade física, distúrbios
psiquiátricos menores, história familiar de consumo de álcool, procedência, situação laboral e
ocupação. Houve o predomínio de participantes casados (58,80%), de cor branca (85,80%),
59
faixa etária entre 30 e 49 anos (37,60%), sexo feminino (59,00%), sem história familiar de
consumo de álcool (64,40%), classe social C (46,90%), renda familiar entre 3,1 e 6 salários
mínimos (28,00%), 4 a 8 anos de estudo (53,90%), nascidos em Rio Grande (56,10%),
trabalhadores (79,60%) e trabalho informal (61,60%). O estudo apontou que 88,20% dos
entrevistados eram sedentários, 16,20% obesos, 22,50% portadores de transtornos
psiquiátricos menores e 26,00% fumantes. Aproximadamente um terço da população estudada
revelou que havia ingerido álcool no último mês. Destes, a bebida mais consumida foi a
cerveja (24,00%). Da amostra, 5,50% dos indivíduos bebiam de modo abusivo e 2,50% eram
dependentes de álcool. Observou-se associação significativa entre abuso e dependência de
álcool e idade (p=0,040), sexo (p=0,000), história familiar de consumo de álcool (p=0,000),
classe social (p=0,030), tabagismo (p=0,000) e consumo diário de chimarrão (p=0,030). Na
análise multivariada, a associação significativa entre abuso e dependência de álcool e as
variáveis sexo (p=0,000), tabagismo (p=0,001) e classe social (p=0,020) se manteve. O estudo
evidenciou que o grupo formado por homens fumantes e de baixo nível socioeconômico
foram mais vulneráveis ao abuso e dependência de álcool. Os pesquisadores sugeriram aos
serviços de saúde local, o desenvolvimento de campanhas direcionadas à diminuição do
consumo de álcool na população, com ênfase ao grupo de maior risco.
Almeida-Filho et al. (2004) investigaram a associação da etnia, sexo e classe social no
consumo de álcool, utilizando inquérito domiciliar. Participaram do estudo 2.302 indivíduos
adultos do município de Salvador, Bahia. Foi utilizado um questionário para levantamento de
sócio-demográficas e realizou-se avaliação nutricional e da saúde mental dos participantes
(Psychosomatic-Anxiety-Depression – PSDA). Os padrões de consumo de álcool foram
identificados utilizando-se questões sobre freqüência de consumo, tipo de bebida alcoólica e
quantidade de bebida ingerida. Dos entrevistados, 54,30% eram mulheres, 26,30% estavam na
faixa etária entre 35 e 44 anos, 64,80% eram casados, 50,20% eram migrantes, 58,40%
60
apresentavam nível de escolaridade básico, 55,30% foram classificados como pobres. Quanto
ao consumo de bebida alcoólica, 56,20% da amostra afirmaram ter consumido bebidas
alcoólicas nos últimos 12 meses. O consumo de álcool foi significativamente associado ao
sexo (p<0,005), com predomínio do sexo masculino. Notou-se maior consumo entre os
solteiros, não-migrantes, com alto nível de escolaridade e classe social alta. A cerveja foi o
tipo de bebida alcoólica mais consumida pelo grupo (54,10%). Foi definido como consumo de
alto risco o beber em binge associado a episódios de embriaguez, além do alto consumo diário
(2 ou mais doses). Este tipo de comportamento foi observado em 6,90% da população
estudada, sendo seis vezes mais prevalente entre homens. Foi encontrada associação positiva
entre o consumo de alto risco e o nível de escolaridade e econômico, com predomínio do nível
superior e classe social alta. Os autores concluem que aspectos sócio-culturais podem
determinar padrões locais de consumo de bebidas alcoólicas e sugerem o desenvolvimento de
novas pesquisas para avaliação mais detalhada da relação entre etnia, classe social, sexo e o
consumo de álcool.
Uma pesquisa domiciliar junto à população de Cuiabá, Mato Grosso, sobre o uso de
drogas psicotrópicas foi desenvolvida por Costa et al. (2005). Dos 859 entrevistados, na faixa
etária de 12 a 70 anos, 45,60% afirmaram não fazer uso de bebida alcoólica, 44,00%
afirmaram fazer uso e 9,90% já fizeram uso, mas não o fazem mais. Dos que afirmaram
consumir álcool, 50,30% o fazem apenas nos finais de semana, 17,20% usam eventualmente,
7,40% em festas, 4,80% usam diariamente, 4,20% usam socialmente e 1,60% usam três vezes
por semana. Quanto ao tipo de bebida mais consumida, a cerveja foi apontada por 48,70% dos
entrevistados, seguido do vinho (15,00%), destilados (14,20%) e pinga (7,60%). A faixa etária
com maior consumo de bebidas alcoólicas é a de 18 a 24 anos. O sexo masculino consumiu
mais álcool e houve maior número de usuários de álcool entre os indivíduos com maiores
níveis de escolaridade.
61
Galduróz et al. (2005a) conduziram o II Levantamento domiciliar sobre o uso de
drogas psicotrópicas no Brasil, envolvendo as 108 maiores cidades do país. Os resultados
obtidos apontam que o sexo masculino faz mais uso na vida de álcool que o feminino em
todas as faixas etárias. O consumo de álcool foi observado em 74,60% da população avaliada
e a dependência de álcool foi estimada em 12,30%. As maiores taxas de dependência foram
encontradas na faixa etária de 18 a 24 anos de idade e a porcentagem de dependentes do sexo
masculino foi três vezes maior que a do sexo feminino. Na região Sudeste, observou-se que
80,40% dos indivíduos afirmaram consumir bebidas alcoólicas e 12,70% foram classificados
como dependentes de álcool. Dentre as complicações decorrentes do uso de álcool e drogas
foram apontadas a discussão com outras pessoas (6,30%), quedas (4,00%), lesões (3,00%),
agressão a outras pessoas (2,30%), envolvimento em acidentes de trânsito (2,00%) e
problemas no trabalho (1,20%). Os autores ainda apontaram que 11,40% dos entrevistados já
tentaram parar ou diminuir o uso de álcool, 9,10% relataram perda de controle sobre o álcool,
7,90% já tiveram problemas pessoais por causa do álcool, 7,30% sofreram riscos físicos sob
efeito de álcool, 7,10% apresentaram tolerância ao álcool e 5,80% afirmaram gastar muito
tempo para conseguir e usar álcool.
Sentindo a necessidade de expandir as pesquisas de consumo de bebidas alcoólicas
pelo sexo feminino, Kerr-Corrêa et al. (2005) realizaram um estudo na cidade de Botucatu,
São Paulo, com 740 indivíduos, nos anos 2001 e 2002. Foi aplicado o questionário Gender,
Alcohol and Culture: an International Study (GENACIS), desenvolvido para comparar
padrões de consumo de bebidas alcoólicas entre os sexos em diferentes contextos e culturas.
Este instrumento foi composto de 59 itens dos 100 itens deste questionário, envolvendo dados
demográficos, experiências de trabalho, nível social, variáveis de consumo de bebidas
alcoólicas (quantidade, freqüência, contexto do uso, histórico familiar de uso de álcool e as
conseqüências de seu uso), relacionamento íntimo e sexualidade, violência, vitimização,
62
saúde, estilo de vida e uso de drogas lícitas e ilícitas. Além disso, foi utilizado o Self-Report
Questionnaire (SRQ-20) para avaliar a saúde mental dos participantes. Dos entrevistados,
50,30% eram homens, idade média 41,60±16,50 anos, 73,40% casados, 64,10% estudaram
menos de oito anos, 84,60% brancos, 70,80% católicos, 45,60% apresentavam renda familiar
de sete ou mais salários mínimos e 80,60% tinham trabalho remunerado. No que diz respeito
ao padrão de consumo de álcool homens e mulheres foram divididos em grupos segundo
faixas etárias (18 a 34 anos, 35 a 49 anos, 50 a 64 anos, 65 anos ou mais). A abstinência na
amostra foi de 45,50% em todas as faixas etárias, em ambos os sexos. Observou-se diferença
no padrão de consumo entre os sexos (p<0,050), sendo que o “beber leve infreqüente” foi
duas vezes mais comum entre as mulheres e o “beber problemático” foi quase quatro vezes
maior entre os homens. Pessoas da raça branca, com nível de escolaridade mais alto e maior
renda familiar consumiram mais bebidas alcoólicas. O consumo de bebida alcoólica entre as
mulheres esteve relacionado com o trabalho remunerado (OR=4,16), ter um parceiro com
padrão de beber pesado (OR=2,93) ou ser desempregada (OR=10,96). Já entre os homens, ter
amigos que consomem bebidas alcoólicas (OR=3,64), apresentar baixo SQR-20 escore
(OR=2,13), fumar (OR=2,41) e o estado civil (viúvo, amasiado e casado, OR=4,41, 3,16 e
2,20, respectivamente) estiveram associados ao consumo de álcool. Para ambos os sexos, o
aumento do consumo de álcool esteve associado ao aumento do nível de escolaridade. Beber
sozinho (OR=3,26) esteve associado ao beber pesado e/ou problemático de álcool entre as
mulheres e o tabagismo (OR=1,95) e faixa etária de 35 a 49 anos (OR=3,10) estiveram
associados ao beber pesado e/ou problemático de álcool entre os homens. Entretanto, os
autores salientaram a necessidade de mais estudos, com amostras representativas para
identificação das diferenças no padrão de consumo de álcool entre os sexos.
Em 2007, foi realizado o I Levantamento Nacional sobre os padrões de consumo de
álcool na população brasileira por Laranjeira et al. (2007). Foram realizadas 3.007 entrevistas,
63
entre os meses de novembro de 2005 e abril de 2006, com a participação de amostra
representativa de 143 municípios brasileiros. O consumo de bebida alcoólica pelo menos 1
vez no último ano foi relatado por 52,00% dos indivíduos maiores de 18 anos, 3,00%
apresentaram uso nocivo e 9,00% dependência de álcool. Dentre os consumidores de bebida
alcoólica, 60,00% dos homens e 33,00% das mulheres relataram consumir 5 ou mais doses de
uma única vez no último ano. As mulheres se apresentaram mais abstinentes e com menores
freqüências de consumo. O consumo de bebidas alcoólicas esteve associado com o nível
socioeconômico, sendo que as classes A, B e C apresentaram maior consumo de álcool. Os
brasileiros mais jovens consomem bebidas alcoólicas em maior quantidade e freqüência e o
tipo de bebida mais consumida foi cerveja ou chope. Uma grande preocupação é o consumo
de bebida alcoólica em volume excessivo em um curto espaço de tempo (binge drinking), por
se tratar de comportamento freqüentemente associado a problemas físicos, sociais e mentais,
demandando maiores custos sociais e de saúde do que o uso contínuo e dependente de álcool.
Mais da metade dos consumidores de álcool relataram beber em binge mais de 1 vez ao mês e
mais de 20,00% dos entrevistados afirmaram fazê-lo em freqüência maior do que semanal. Os
jovens fizeram uso de bebida alcoólica em binge nos bares, enquanto os mais velhos, em casa.
A população de jovens e do sexo masculino apresentou maior risco de problemas decorrentes
do álcool, como problemas físicos (38,00%), familiares (18,00%), sociais (17,00%) e de
violência (17,00%). O uso nocivo e a dependência de álcool foram predominantes entre os
homens.
Com objetivo de estimar a prevalência de dependência de álcool e sua associação com
fatores demográficos, familiares, socioeconômicos e de saúde mental, Barros et al. (2007)
realizaram um estudo na cidade de Campinas, São Paulo, com 515 indivíduos maiores de 14
anos de idade. O delineamento amostral adotado foi probabilístico por conglomerados. Os
instrumentos de medida utilizados foram o Self-Report Questionnaire (SQR-20) e o AUDIT.
64
O abuso/dependência de álcool foi de 8,60% (IC
95%
: 5,90-11,80), sendo 13,10% (IC
95%
: 8,40-
19,90) entre os homens. Esta prevalência foi significativamente associada ao sexo (OR=3,53),
renda (OR=6,49), morar sozinho (OR=11,81), religião (OR=7,08), relação com vizinhos
(OR=2,03) e uso de drogas ilícitas (OR=4,4). Dos indivíduos em que o AUDIT foi positivo,
22,30% consomem bebidas alcoólicas quatro ou mais vezes por semana e 32,40% consomem
entre sete e nove doses em um dia típico. Observou-se maior proporção de adultos e idosos
que consomem álcool quatro ou mais vezes durante a semana, do que de jovens. Na análise
multivariada notou-se associação significativa entre o consumo de álcool e renda (OR=10,29),
escolaridade (OR=13,42), religião (OR=9,16) e uso de drogas ilícitas (OR=4,47). Os
pesquisadores salientam que o conhecimento da prevalência e dos fatores associados ao
consumo de risco de álcool são primordiais para o estabelecimento de ações de vigilância e
avaliação do impacto de futuros programas intervencionistas.
Magnabosco et al. (2007) avaliaram o padrão de uso de álcool de 921 usuários de
serviços de atenção básica de saúde nos municípios de Juiz de Fora e Rio Pomba, Minas
Gerais. O AUDIT foi utilizado como instrumento de medida e o delineamento amostral
adotado foi não-probabilístico. A maioria dos usuários era do sexo masculino (51,90%),
84,40% dos participantes foram atendidos em Unidades Básicas de Saúde (UBS) e 15,60%
em outros serviços de atenção primária à saúde (APS). A idade média dos atendidos em UBS
foi de 41,00±16,00 anos e dos atendidos em APS foi de 40,00±8,00 anos. Do total da amostra,
77,90% foram classificados como consumidores de beber moderado ou abstêmio, 15,10%
como consumidores de beber de risco, 3,30% como consumidores de alto risco e 3,80% com
possível dependência. Os homens apresentaram consumo de risco significativamente maior
que as mulheres (χ
2
=52,16; p<0,001). A taxa de abstêmios e usuários ocasionais entre as
mulheres (87,40%) foi maior do que entre os homens (69,0%). O uso freqüente foi maior
entre os homens (19,30%), do que entre as mulheres (7,20%) (χ
2
=67,73; p<0,001). O escore
65
médio do AUDIT foi significativamente mais elevado entre os homens (6,49±7,06 pontos) do
que entre as mulheres (2,90±4,38 pontos) (p<0,001). Os entrevistados na faixa etária entre 38
e 47 anos apresentaram consumo de risco maior do que os demais. Trinta e cinco por cento
dos participantes relataram a ocorrência de beber em binge, sendo um comportamento
observado mais em mulheres (53,10%) do que em homens (37,30%). Os autores concluem
que no contexto da saúde pública, não somente a prevalência da dependência de álcool, mas
também o uso de risco revelou-se importante, em decorrência dos prejuízos que o álcool pode
trazer.
Peixoto et al. (2008) avaliaram o consumo de risco de bebida alcoólica e o consumo
grave de álcool na cidade de Goiânia, Goiás, por meio de entrevistas telefônicas. O consumo
de risco foi caracterizado pelo consumo de álcool superior a uma dose para as mulheres e
duas doses para os homens em um ou mais dias da semana e o consumo grave de álcool foi
caracterizado pela ingestão de 5 ou mais doses qualquer bebida alcoólica em pelo menos uma
vez no último mês. Dos 2.002 adultos entrevistados, 62,40% eram mulheres, faixa etária
predominante 35 a 44 anos (22,50%) e com 9 a 11 anos de estudo (38,80%). Foi observado
que 23,20% dos participantes apresentaram consumo de risco, sendo mais freqüente no sexo
masculino (37,70%). O consumo grave de álcool foi verificado em 15,90%, sendo também
mais freqüente no sexo masculino (29,80%). O consumo inadequado de álcool entre os
homens foi menor com o aumento da idade (p<0,010) e maior com o aumento da escolaridade
(p<0,010). Entre as mulheres, o consumo de bebida alcoólica foi maior entre as mais jovens
(p<0,010) e com escolaridade mais alta (p<0,010).
Castro-Costa et al. (2008) investigaram o consumo de álcool no Brasil e sua
associação com as características sócio-demográficas. Este estudo foi pioneiro em avaliar o
padrão de consumo de álcool em brasileiros mais velhos, utilizando os dados de Laranjeira et
al. (2007). Foram selecionados 400 indivíduos com 60 ou mais anos. Verificou-se que
66
55,80% dos participantes eram do sexo feminino, na faixa etária entre 60 e 69 anos (63,50%),
casados (59,80%), nível de escolaridade baixo (87,30%), baixo nível econômico (73,60%) e
residentes nas cidades com menos de 200.000 habitantes (81,00%). O padrão do consumo de
álcool apontou que 12,40% dos participantes apresentaram consumo pesado de álcool,
10,40% consumo em binge e 2,90% dependência de álcool. A cerveja foi a bebida alcoólica
mais consumida pelos entrevistados. O consumo pesado de álcool somente esteve associado
ao sexo, sendo mais freqüente entre os homens (OR=6,66; IC
95%
: 2,40-18,44), enquanto o
consumo em binge esteve associado ao sexo e ao nível econômico, sendo mais freqüente nos
homens (OR=3,22; IC
95%
: 1,29-8,03) e nível econômico mais alto (OR=12,83; IC
95%
: 2,66-
61,87). A dependência de álcool somente foi diagnosticada nos homens e esteve associada ao
nível econômico, sendo mais freqüente entre aqueles com nível econômico mais alto
(OR=33,11; IC
95%
: 1,26-86,45). Segundo os pesquisadores, os problemas associados ao
consumo de álcool em idosos são comuns e necessitam ser mais investigados pelos
profissionais da saúde.
O Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por
Inquérito Telefônico (VIGITEL), desenvolvido pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2008)
avaliou o consumo de álcool na população adulta nas 26 capitais brasileiras e do Distrito
Federal no ano de 2007. De acordo com os resultados obtidos, 17,50% da população adulta
apresentou comportamento de beber em binge, sendo São Paulo e São Luís, as capitais com
menor e maior número de participantes com este comportamento (13,40% e 23,10%)
respectivamente. Este comportamento foi três vezes mais freqüente entre os homens
(27,20%), do que entre as mulheres (9,30%) e a faixa etária entre 35 e 44 anos foi a mais
acometida em ambos os sexos (17,10%). Em relação ao nível de escolaridade dos
participantes, o consumo de beber em binge foi mais prevalente entre os entrevistados com 12
ou mais anos de estudo (18,70%).
67
Bastos et al. (2008) analisaram o padrão de consumo de álcool de uma amostra
representativa da população brasileira urbana. Os dados foram obtidos dos achados da
pesquisa “Comportamento sexual e percepções da população sobre HIV/AIDS” desenvolvida
em 2005. Participaram 5.040 indivíduos de ambos os sexos, na faixa etária entre 16 e 65 anos.
Os participantes foram questionados sobre suas características sócio-demográficas, questões
relativas à religião, à vida pessoal e consumo de álcool, por meio de entrevista pessoal. O
consumo de bebidas alcoólicas foi relatado por 86,70% dos entrevistados. Destes, 26,50%
afirmaram não consumir mais álcool, 37,10% relataram consumir bebida alcoólica raramente
e 4,90% referiram consumir bebida alcoólica 3 ou mais vezes por semana. A idade média do
primeiro consumo de álcool foi de 17±8,38 anos. A média de doses consumidas entre os
usuários de álcool foi de 5,7±6,28. O consumo regular de álcool foi confirmado por 17,90%
dos participantes. Destes indivíduos, 26,30% continuaram a beber regularmente, 68,10%
referiram beber moderado, 3,40% referiram ter parado, mas voltado a beber regularmente e
2,20% afirmaram ter parado completamente de beber. Os resultados referentes às regiões do
Brasil apontaram que o consumo regular de álcool foi encontrado em 28,40% dos residentes
da região Centro-Oeste, 18,80% da região Nordeste, 18,0% da Sudeste, 13,70% do Norte e
13,70% do Sul. O consumo regular de álcool esteve significativamente associado à etnia
(p=0,001), estado civil (p=0,020), faixa etária (p=0,022), religião (p=0,021) e morar com os
pais até os 18 anos (p=0,041), com maior predomínio dos entrevistados não brancos
(RC=1,475; IC
95%
: 1,171-1,859), casados (RC=1,332; IC
95%
: 1,046-1,697), na faixa etária
entre 50 e 65 anos (RC=1,589), religião evangélica (RC=1,536; IC
95%
: 1,067-2,021) e não
morar com os pais até os 18 anos (RC=1,299; IC
95%
: 1,011-1,669). Na análise multivariada, o
consumo regular de álcool esteve associado significativamente com a faixa etária, etnia e
religião, sendo predominantes os entrevistados na faixa etária entre 50 e 65 anos (OR=1,911;
IC
95%
: 1,334-2,738), não brancos (OR=1,457; IC
95%
: 1,143-1,857) e sem religião (OR=1,326;
68
IC
95%
: 1,063-1,654). O fator protetor ao uso regular de bebida alcoólica foi o sexo, sendo as
mulheres as mais protegidas (OR=0,303; IC
95%
: 0,230-0,398).
Kerr-Corrêa et al. (2008) compararam o padrão de consumo de álcool segundo o sexo
em 740 indivíduos da cidade de Botucatu, São Paulo e 525 indivíduos da cidade de Rubião
Júnior, São Paulo, maiores de 17 anos. O questionário para identificação do padrão de
consumo de álcool utilizado para a realização das entrevistas pessoais foi o GENACIS. Em
Botucatu, a idade média dos homens foi de 50,10±21,70 anos e das mulheres de 53,50±22,50
anos, 50,30% eram homens e a maioria estudou por 8 a 11 anos (64,10%), católicos (70,80%),
casados (61,40%), com renda familiar maior que 7 salários mínimos (45,60%) e assalariados
(80,60%). Em Rubião Júnior, a idade média dos homens foi 41,60±16,50 anos e das mulheres
de 39,50±16,50 anos, 63,00% eram mulheres e a maioria estudou por 7 anos ou menos
(57,30%), católicos (60,90%), casados (42,10%), com renda familiar entre 3 a 6 salários
mínimos (36,60%) e assalariados (61,00%). A avaliação do consumo de álcool em Botucatu
apontou que 45,50% dos entrevistados eram abstêmios, 36,50% apresentaram consumo baixo
de álcool, 7,00% consumo moderado de álcool, 6,80% consumo pesado de álcool e 4,20%
apresentaram problema com a bebida. A avaliação do consumo de álcool em Rubião Júnior
apontou que 68,30% dos entrevistados eram abstêmios, 20,30% apresentaram consumo baixo
de álcool, 0,20% consumo moderado de álcool, 10,70% consumo pesado de álcool e 0,20%
apresentaram problema com a bebida. O consumo de álcool em Rubião Júnior esteve
associado ao sexo (p<0,001), com maior acometimento dos homens, o que não ocorreu em
Botucatu. Na análise multivariada em Botucatu, a abstinência foi estatisticamente associada
ao fato de se ter um parceiro com consumo pesado de álcool (OR=0,40; IC
95%
: 0,15-0,97). O
consumo de álcool esteve associado ao tabagismo e nível de escolaridade, sendo mais
acometidos os homens tabagistas (OR=2,12; IC
95%
: 1,20-3,74) e homens e mulheres com
baixa escolaridade (OR=7,16; IC
95%
: 2,75-18,65 e OR=3,57; IC
95%
: 1,61-7,91). Em Rubião
69
Júnior, a abstinência esteve estatisticamente associada à idade das mulheres (OR=0,96; IC
95%
:
0,94-0,99). O consumo de bebida alcoólica esteve associado ao tabagismo, renda familiar e
nível de escolaridade, sendo mais freqüente em homens e mulheres tabagistas (OR=6,57;
IC
95%
: 2,96-14,58 e OR=3,08; IC
95%
: 1,54-6,16), homens e mulheres com renda familiar de 7
ou mais salários mínimos (OR=4,47; IC
95%
: 1,28-15,58 e OR=3,41; IC
95%
: 1,05-11,14) e
mulheres com baixo nível de escolaridade (OR=10,44; IC
95%
: 2,52-43,24). Observou-se
diferenças significativas nos dados sócio-demográficos e no padrão de consumo de álcool nas
duas cidades avaliadas. O consumo de álcool em Botucatu foi semelhante entre homens e
mulheres e em Rubião Júnior, os homens apresentaram maior consumo do que as mulheres.
Material e Métodos
71
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Delineamento
Trata-se de um estudo observacional do tipo transversal.
O delineamento amostral adotado foi o probabilístico estratificado segundo o número
de domicílios dos setores censitários do município de Araraquara e sexo.
Os setores censitários são classificados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) em urbanos, rurais e especiais. Devido à metodologia de levantamento dos
dados proposta neste estudo, entrevistas telefônicas, optou-se por incluir apenas, os setores do
tipo urbano. No município de Araraquara estes totalizam 261.
A seleção dos domicílios, nos setores censitários foi realizada de maneira
probabilística a partir dos mapas dos setores fornecidos pelo IBGE. Cada quadra, de cada
setor, foi numerada e as faces das quadras, identificadas com letras atribuídas em sentido
horário. Utilizando-se uma tabela de números aleatórios as quadras a serem visitadas foram
sorteadas, assim como a face de cada quadra e o domicílio a ser incluído na amostra (Figura
1).
72
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
A
B
C
D
Figura 1. Divisão territorial e sorteio das quadras de cada setor do município de Araraquara
(SP), 2007.
Considerando que a base cartográfica do município não possui codificação completa
de endereço, foram realizadas visitas às ruas correspondentes às faces previamente sorteadas
para anotação da numeração dos domicílios. De posse destas informações, realizou-se o
sorteio do domicílio participante e de dois reservas para eventual substituição, que foi
realizada nos casos de não atendimento ao chamado telefônico.
Em cada domicílio, foi entrevistado apenas um morador, que preencheu os critérios de
inclusão da amostra. Cabe esclarecer que foram considerados moradores da casa os indivíduos
que residiam naquele domicílio, excluindo-se os empregados remunerados.
73
O tamanho da amostra foi estabelecido por meio do processo de amostragem para
população finita (COCHRAN, 1977; SILVA, 2004). Os dados de estimativa de população
foram obtidos junto ao IBGE (2007), de modo que, para os moradores do município de
Araraquara (SP), maiores de 18 anos de idade, este valor foi de 140.884 habitantes. O nível de
confiança adotado foi de 95,00% e considerou-se como estimativa preliminar da verdadeira
proporção de dependentes de álcool o valor de 9,20%, encontrado por Carlini et al. (2002)
para a região Sudeste. A margem relativa de erro amostral foi fixada em 15,00%.
Nestas condições, o tamanho amostral mínimo ficou estimado em 1.666 indivíduos.
Tendo-se admitido um absenteísmo da ordem de 20,00%, o tamanho da amostra foi corrigido,
segundo os critérios de Alves (2005) e passou a ser de 2.083 indivíduos.
4.2 Entrevistas
Apoiados na literatura (IVIS et al., 2000; REA; PARKER, 2000; WHO, 2000;
GALÁN et al., 2004) optou-se por realizar as entrevistas por meio de ligações telefônicas.
Para verificar a adequação desta escolha, previamente à execução deste estudo, Campos et al.
(2008a) realizaram um estudo piloto utilizando a mesma população alvo em delineamento
cruzado para investigar a detecção do padrão de consumo de bebidas alcoólicas por meio de
entrevistas pessoais e telefônicas. Os autores verificaram que quando se estuda alcoolismo ou
problemas relacionados ao álcool, as situações nas quais os respondentes não interagem
diretamente com os entrevistadores, favorecem respostas verdadeiras, este estudo foi enviado
para publicação em 2008. A Organização Mundial da Saúde (WHO, 2000) aponta como uma
das vantagens da técnica de aplicação de entrevistas pelo telefone o aumento da taxa de
adesão da população à pesquisa (60,00% a 80,00%) uma vez que ela não se sente exposta ao
julgo do entrevistador.
Considerando-se o instrumento selecionado para a coleta dos dados entende-se que o
74
mesmo possui características adequadas para entrevistas realizadas por telefone uma vez que
sua aplicação é simples, propiciando entrevistas com duração em torno de dez minutos, tempo
menor do que o sugerido por Rea e Parker (2000) para uma entrevista por telefone.
Ao ter a ligação telefônica atendida, o pesquisador se identificou e leu o
Esclarecimento ao Sujeito da Pesquisa, no qual informou ao morador sobre o objetivo e
conteúdo da pesquisa e ressaltou o sigilo das informações, podendo assim optar por participar
ou não da mesma. Deve-se ressaltar que foram incluídos na amostra, apenas os indivíduos
com idade superior a dezoito anos.
As ligações foram realizadas, por um único entrevistador devidamente calibrado em
estudo piloto (κ= 0,88) (MANÇO; CAMPOS, 2007).
Cabe ressaltar que as entrevistas foram realizadas em horários variados, incluindo
sábados e domingos e períodos noturnos.
4.3 Aspectos Éticos
Em se tratando de entrevista por telefone, o Consentimento Livre e Esclarecido foi
substituído pelo Consentimento verbal obtido por ocasião dos contatos telefônicos
(MONTEIRO et al., 2005; WHO, 2000). Ao ter a ligação atendida, o pesquisador se
identificou e leu o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ao Sujeito da Pesquisa. O
morador foi informado sobre o objetivo e conteúdo da pesquisa podendo optar por participar
ou não da mesma. Caso optar por participar foi garantido ao sujeito, sigilo das informações.
A execução deste trabalho foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Faculdade de Ciências Farmacêuticas – UNESP (Protocolo nº 09/2007) (ANEXO 1).
75
4.4 Variáveis de Estudo e Instrumento de Medida
Para identificação de desordens devido ao álcool utilizou-se o questionário AUDIT
(Alcohol Use Disorders Identification Test) desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde
(OMS) composto por 10 questões objetivas que permitem respostas com pesos pré-
estabelecidos de 0 a 4 (BABOR et al., 2001), o somatório dos pesos de cada questão indicou a
classificação de cada indivíduo frente ao consumo de bebidas alcoólicas (Quadro 1).
Quadro 1. Classificação do risco dos indivíduos segundo o consumo de bebidas alcoólicas
(BABOR et al., 2001).
Risco Pontos Classificação
I 0 a 7 Beber moderado
II 8 a 15 Padrão de beber de risco
III 16 a 19 Padrão de beber de alto risco
IV 20 a 40 Possível dependência de álcool
O AUDIT foi desenvolvido e avaliado por um período de duas décadas em um projeto
colaborativo entre seis países (Austrália, Bulgária, Quênia, México, Noruega e Estados
Unidos), com o objetivo de atender às diferentes realidades socioculturais e econômicas
(SAUNDERS et al., 1993a; SAUNDERS et al., 1993b; ALLEN et al., 1997).
De acordo com Allen et al. (1997), o AUDIT encontra-se em quarto lugar mundial
entre os instrumentos de rastreamento de transtornos pelo uso do álcool e quando comparado
a pelo menos outros 22 instrumentos, é aquele que apresenta as características psicométricas
mais sofisticadas com sua fidedignidade e validade estimada em várias populações de
diversos países (FLEMING et al., 1991; SINCLAIR et al., 1992; CLAUSSEN; AASLAND,
1993; SAUNDERS et al., 1993a; SAUNDERS et al., 1993b; ISAACSON et al., 1994;
POWELL; MCLNNESS, 1994; BOHN et al., 1995; CHERPITEL, 1995; CONIGRAVE et al.,
1995a; CONIGRAVE et al., 1995b; HAYS et al., 1995; RIGMAIDEN et al., 1995; ALLEN et
al., 1997; PICCINELLI et al., 1997; SKIPSEY et al., 1997; VOLK et al., 1997; CLEMENTS,
76
1998; LAPHAM et al., 1998; STEINBAUER et al., 1998; FIELLIN et al., 2000; MARSH et
al., 2002; DONOVAN et al., 2006).
Neste estudo, utilizou-se a versão em português do Brasil do AUDIT, validada por
Mendéz (1999) e posteriormente por Lima et al. (2005) (ANEXO 2).
Para a caracterização da amostra foram levantadas ainda informações referentes à
idade, sexo, estado civil, presença ou não de religião, nível econômico, nível de escolaridade,
situação laboral, tabagismo, peso e altura.
A idade foi analisada em anos completos. Para o estado civil foram consideradas as
categorias solteiro, casado, viúvo e desquitado/divorciado. O nível econômico e de
escolaridade foram classificados, segundo a escala proposta pela Associação Brasileira dos
Institutos de Pesquisa de Mercado (ABIPEME, 1978) (Figura 2 e Quadro 2).
Item Não tem 1 2 3 4 5 6 ou mais
TV 0 2 4 6 8 10 12
Rádio 0 1 2 3 4 5 6
Banheiro 0 2 4 6 8 10 12
Automóvel 0 4 8 12 16 16 16
Empregada 0 6 12 18 24 24 24
Aspirador 0 5 5 5 5 5 5
Máquina de lavar 0 2 2 2 2 2 2
Pontos Instrução do chefe de família
0 Analfabeto/primário incompleto
1 Primário completo/ginasial incompleto
3 Ginasial completo/colegial incompleto
5 Colegial completo/superior incompleto
10 Superior completo
Figura 2. Pontuação da escala socioeconômica da Associação Brasileira dos Institutos de
Pesquisa de Mercado (ABIPEME, 1978).
77
Quadro 2. Classificação socioeconômica segundo o critério de pontuação proposto pela
Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisa de Mercado (ABIPEME, 1978).
Pontos Classes
35 ou mais A
21 a 34 B
10 a 20 C
5 a 9 D
0 a 4 E
O Índice de Massa Corpórea (IMC), a ser utilizado neste estudo, foi calculado a partir
do peso e da altura referidos pelos entrevistados apoiados em estudos realizados por Chor et
al. (1999) e Silveira et al. (2005). Campos e Manço (2007) realizaram um trabalho com
objetivo de estimar a reprodutibilidade de medidas de peso e altura referidos e aferidos de 50
moradores da cidade de Araraquara (SP), de ambos os sexos, maiores de 18 anos e
verificaram uma concordância excelente, tanto para as medidas de peso (ρ=0,992; IC
95%
:
0,987-0,995), quanto de altura (ρ=0,981; IC
95%
: 0,970-0,990) concluindo que as medidas de
peso e altura referidas podem ser utilizadas com confiança pelos pesquisadores em
substituição às aferições em estudos epidemiológicos uma vez que, este método, diminui os
custos e o tempo de execução do trabalho, o que também foi ressaltado por Chor et al. (1999)
e Silveira et al. (2005).
A classificação do estado nutricional dos indivíduos a partir do IMC foi realizada
utilizando-se a referência proposta pela Organização Mundial da Saúde (WHO, 1995)
(Quadro 3).
Quadro 3. Classificação do estado nutricional dos indivíduos a partir do IMC (WHO, 1995).
IMC Classificação
< 18,5 Baixo Peso
18,5 25,0 Eutrofia
25,0 30,0 Sobrepeso
30,0 35,0 Obesidade Grau I
35,0 40,0 Obesidade Grau II
40,0 Obesidade Grau III
78
4.5 Planejamento Estatístico
Os dados foram organizados e apurados para todas as variáveis de estudo (idade, sexo,
estado civil, pontuação do AUDIT, classificação dos sujeitos segundo o risco de beber e beber
em binge, nível econômico e escolaridade, religião, tabagismo, trabalho e estado nutricional),
com o auxílio do programa STATA 9.0 e apresentados em tabelas e gráficos.
A consistência interna do AUDIT foi avaliada pelo coeficiente α de Cronbach (α)
utilizando-se toda amostra e a reprodutibilidade aferida pela estatística Kappa (κ) com
ponderação linear intra-examinador, utilizando-se uma amostra de 100 indivíduos.
A classificação do AUDIT permitiu a classificação dos participantes em dois grupos,
beber moderado (G1) e beber de risco (G2).
Para as associações de interesse (classificação AUDIT – sexo; classificação AUDIT –
nível econômico; classificação AUDIT – nível de escolaridade; classificação AUDIT – estado
civil; classificação AUDIT – estado nutricional; classificação AUDIT – religião; classificação
AUDIT – situação laboral; classificação AUDIT – tabagismo) realizou-se o teste de qui-
quadrado (χ
2
), adotando-se um nível de significância de 5% para tomada de decisão.
Em seguida, os participantes foram agrupados segundo o comportamento de beber em
binge. Foram considerados como “bebedor em binge aqueles que obtiveram pontuações
igual ou superior a sete nas questões do AUDIT segundo proposta de Tuunanen et al. (2007).
As associações de interesse foram estudadas pelo teste de qui-quadrado (χ
2
).
Resultados
80
5 RESULTADOS
Participaram 1.710 indivíduos apontando para uma perda amostral de 18,00%,
entretanto, a mesma já esteve prevista e o tamanho mínimo da amostra foi atingido. A idade
média dos indivíduos foi de 43,78±15,83 anos, com mínimo de 18 e máximo de 95 anos,
sendo 855 (50,00%) do sexo masculino.
As demais características sócio-demográficas da amostra encontram-se na Tabela 1.
Tabela 1. Perfil sócio-demográfico da amostra. Araraquara, 2008.
Características n %
Estado civil
Solteiro 439 25,67
Casado 1077 62,98
Viúvo 101 5,91
Desquitado, divorciado 93 5,44
Nível econômico
A 216 12,63
B 619 36,20
C 719 42,05
D 155 9,06
E 1 0,06
Nível de escolaridade
Analfabeto ou primário incompleto 327 19,12
Primário completo ou ginasial incompleto 149 8,71
Ginasial completo ou colegial incompleto 232 13,57
Colegial completo ou superior incompleto 648 37,89
Superior completo 354 20,70
Você possui alguma religião?
Não 178 10,41
Sim 1532 89,59
Você trabalha?
Não 702 41,05
Sim 1008 58,95
Você fuma?
Não 1495 87,43
Sim 215 12,57
Estado nutricional
Baixo peso (IMC < 18,5) 40 2,34
Eutrofia (IMC 18,5 a 24,9) 798 46,67
Sobrepeso (IMC 25,0 a 29,9) 607 35,50
Obesidade grau 1 (IMC 30,0 a 34,9) 200 11,70
Obesidade grau 2 (IMC 35,0 a 39,9) 49 2,87
Obesidade grau 3 (IMC > 40) 16 0,94
Total
1.710 100,00
A amostra foi composta predominantemente por participantes casados (62,98%), nível
econômico C (42,05%), nível de escolaridade colegial completo ou superior incompleto
81
(37,89%), com religião (89,59%), trabalhadores (58,95%), que relataram não ser tabagistas
(87,43%) e estado nutricional eutrófico (46,67%). Chama-se atenção ainda o elevado número
de indivíduos com excesso de peso (sobrepeso e obesidade) (n= 872, 51,01%).
A consistência interna do AUDIT neste estudo foi considerada excelente (α=0,85) e na
reprodutibilidade foi considerada adequada (κ=0,87).
Na Tabela 2 encontra-se a freqüência das respostas a cada questão do AUDIT.
Tabela 2. Distribuição dos participantes segundo as respostas do Teste de Identificação de
Problemas Relacionados ao Uso de Álcool (AUDIT). Araraquara, 2008.
Respostas
Questões A B C D E
*1. Com que freqüência o(a) Sr.(a)
toma bebidas de álcool?
435(25,44) 433(25,32) 399(23,33) 336(19,65) 107(6,23)
**2. Nas ocasiões em que bebe,
quantas doses, copos ou garrafas o(a)
Sr.(a) costuma tomar?
675(52,94) 325(25,49) 163(12,78) 50(3,92) 62(4,86)
***3. Com que freqüência o(a) Sr.(a)
toma “seis ou mais doses” em uma
ocasião?
979(76,78) 51(4,00) 25(1,96) 185(14,51) 35(2,75)
***4. Com que freqüência, durante o
último ano, o(a) Sr.(a) achou que não
seria capaz de controlar a quantidade
de bebida depois de começar?
1137(89,18) 72(5,65) 32(2,51) 17(1,33) 17(1,33)
***5. Com que freqüência, durante o
último ano, o(a) Sr.(a) não conseguiu
cumprir com algum compromisso por
causa da bebida?
1239(97,18) 17(1,33) 12(0,94) 5(0,39) 2(0,16)
***6. Com que freqüência, durante o
último ano, depois de ter bebido
muito, o(a) Sr.(a) precisou beber pela
manhã para se sentir melhor?
1244(97,57) 4(0,31) 7(0,55) 8(0,63) 12(0,94)
***7. Com que freqüência, durante o
último ano, o(a) Sr.(a) sentiu culpa
ou remorso depois de beber?
1159(90,90) 62(4,86) 25(1,96) 21(1,65) 8(0,63)
***8. Com que freqüência, durante o
último ano, o(a) Sr.(a) não conseguiu
se lembrar do que aconteceu na noite
anterior por causa da bebida?
1172(91,92) 55(4,31) 28(2,20) 15(1,18) 5(0,39)
****9. Alguma vez na vida o(a)
Sr.(a) ou alguma outra pessoa já se
machucou, se prejudicou por causa
de o Sr.(a) ter bebido?
1631(95,38) 37(2,16) 42(2,46)
****10. Alguma vez na vida algum
parente, amigo, médico ou outro
profissional da saúde já se preocupou
com o(a) Sr.(a) por causa de bebida
ou lhe disse para parar de beber?
1393(81,46) 90(5,26) 227(13,27)
*A: nunca, B: uma vez por mês ou menos, C: duas a quatro vezes por mês, D: duas a três vezes por semana, E: quatro ou mais vezes por
semana.
**A: 1 ou 2 “doses”, B: 3 ou 4 “doses”, C: 5 ou 6 “doses”, D: 7 a 9 “doses”, E: 10 ou mais “doses”.
*** A: nunca, B: uma vez por mês ou menos, C: uma vez ao mês, D: uma vez por semana, E: todos os dias ou quase todos.
****A: não, C: sim, mas não no último ano, E: sim, durante o último ano.
82
Em relação ao consumo de bebida alcoólica no último ano, 25,44% dos participantes
relataram ser abstêmios, enquanto os demais afirmaram ingerir álcool com alguma freqüência.
Nas ocasiões em que consumiram bebida alcoólica no último ano, 52,94% relataram consumo
de 1 ou 2 doses, enquanto 21,56% apontaram ter um consumo de 5 ou mais doses. Quanto à
freqüência de consumo de 6 ou mais doses em uma mesma ocasião no último ano, chama-se
atenção que 14,51% e 2,75% relataram realizar este comportamento, uma vez por semana e
todos os dias ou quase todos, respectivamente. Dos entrevistados, 2,66% não foram capazes
de controlar a quantidade de bebida a ser ingerida depois de começar pelo menos uma vez por
semana e menos de 1,00% não conseguiram cumprir compromissos pelo menos uma vez por
semana. Outro fato que merece destaque é que 2,43% dos entrevistados afirmaram já ter
precisado beber pela manhã para se sentir melhor. O sentimento de culpa ou remorso depois
de beber foi observado em 9,10% dos entrevistados, variando a freqüência de episódios entre
uma vez por mês ou menos a todos ou quase todos os dias no último ano. Não se lembrar do
que aconteceu na noite anterior por causa da bebida foi confirmado por 8,08% dos
entrevistados e 4,62% das pessoas relataram ter se prejudicado ou prejudicado outra pessoa,
devido à bebida. A preocupação de parentes, amigos, médico ou profissional da saúde por
causa do consumo de bebida alcoólica ou o pedido para parar de beber foi confirmado por
18,53% dos entrevistados.
A classificação dos indivíduos, conforme o padrão de consumo de bebidas alcoólicas
aferido pelo AUDIT está exposto na Tabela 3.
Tabela 3. Padrão de consumo de bebida alcoólica segundo o AUDIT. Araraquara, 2008.
Classificação n %
Abstêmio 368 21,52
Beber moderado 1027 60,06
Beber de risco
248 14,50
Beber de alto risco
27 1,58
Possível dependência de álcool
40 2,34
Total
1.710 100,00
83
Nota-se que a maioria dos participantes (60,06%) consome bebida alcoólica de forma
moderada e 18,42% apresentaram comportamento de beber de risco.
O padrão de consumo de bebidas alcoólicas segundo as variáveis sócio-demográficas
de interesse está exposta na Tabela 4.
Tabela 4. Padrão de consumo de bebidas alcoólicas (G1: beber moderado; G2: beber de risco)
segundo as variáveis sócio-demográficas de interesse. Araraquara, 2008.
Padrão de consumo
Características sócio-demográficas G1 G2 Total
χ
2
p
Sexo
Masculino 598 257 855
Feminino 797 58 855 154,105 0,001
*
Estado civil
Solteiro 353 86 439
Casado 876 201 1077
Viúvo 91 10 101
Desquitado, divorciado 75 18 93 5,374 0,146
Nível econômico
A e B 660 175 835
C 607 112 719
D e E 128 28 156 7,469 0,024
*
Nível de escolaridade
Baixa 586 122 708
Alta 809 193 1002 1,137 0,316
Você possui alguma religião?
Não 128 50 178
Sim 1267 265 1532 12,360 0,001
*
Você trabalha?
Não 615 87 702
Sim 780 228 1008 28,795 0,001
*
Você fuma?
Não 1247 247 1494
Sim 148
68 215 28,486 0,001
*
Estado nutricional
Baixo peso (IMC < 18,5) 33 7 40
Eutrofia (IMC 18,5 a 24,9) 675 123 798
Sobrepeso e obesidade (IMC 25,0) 687 185 872 9,357 0,009
*
Total
1.395 315
*
Diferença estatística significante para α=0,05
Houve associação significativa entre o padrão de consumo de bebida alcoólica e o
sexo (χ
2
=154,105, p=0,001), nível econômico (χ
2
=7,469, p=0,024), religião (χ
2
=12,360,
p=0,001), trabalho (χ
2
=28,795, p=0,001), tabagismo (χ
2
=28,486, p=0,001) e estado nutricional
(χ
2
=9,357, p=0,009), com maior prevalência para o sexo masculino, entre as classes
84
econômicas A e B, sem religião, trabalhadores, tabagistas e classificados como sobrepeso ou
obesidade.
As variáveis que apresentaram associação significativa com o padrão de consumo de
bebidas alcoólicas estão descritas segundo a classificação do AUDIT no Gráfico 1.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
baixo peso eutrofia sobrepeso e
obesidade
Estado Nutricional
%
possível dependência
alto risco
beber de risco
beber moderado
abstêmio
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Não Sim
Tabagismo
%
possível dependência
alto risco
beber de risco
beber moderado
abstêmio
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Não Sim
Re ligião
%
possível dependência
alto risco
beber de risco
beber moderado
absmio
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Não Sim
Trabalho
%
possível dependência
alto risco
beber de risco
beber moderado
abstêmio
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
A e B C D e E
Nível econômico
%
possível dependência
alto risco
beber de risco
beber moderado
abstêmio
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
masculino feminino
Sexo
%
possível dependência
alto risco
beber de risco
beber moderado
abstêmio
Gráfico 1. Padrão de consumo de bebidas alcoólicas segundo a classificação do AUDIT.
Araraquara, 2008.
Em relação ao sexo, observa-se que os homens foram menos abstêmios do que as
mulheres e apresentaram padrão de beber de risco, alto e possível dependência de álcool
maior que as mulheres. Quanto à religião, o grupo de participantes que relataram não tê-la foi
85
associado ao menor absenteísmo e maior comportamento de beber de risco, de alto risco e de
possível dependência de álcool. Os tabagistas apresentaram-se menos abstêmios, com
comportamentos mais prevalentes de beber de risco, de alto risco e possível dependência de
álcool. Sobre o nível econômico notou-se que quanto menor o nível, maior foi o número de
abstêmios, entretanto nas classes menos favorecidas (D e E) observou-se maior consumo de
alto risco e de possível dependência de álcool. Entre os participantes com nível econômico
mais alto, o consumo de beber de risco foi maior. Os trabalhadores apresentaram
comportamento de beber de risco e de alto risco maior que aqueles que não trabalham, sendo
que estes últimos foram mais abstêmios ao álcool e com maior predominância de padrão de
consumo moderado. Quanto ao estado nutricional, os indivíduos classificados como baixo
peso foram mais abstêmios e não apresentaram padrão de consumo de álcool de alto risco. O
padrão de consumo de beber de risco e de alto risco foi maior entre os entrevistados com
sobrepeso e obesidade.
Quanto ao comportamento de beber em binge, 195 (11,40%) dos participantes
apresentaram este comportamento. Na Tabela 5 encontra-se o estudo de associação entre o
comportamento de beber em binge e as características de interesse.
86
Tabela 5. Comportamento de beber em binge segundo as variáveis sócio-demográficas de
interesse. Araraquara, 2008.
Beber em binge
Características sócio-demográficas Ausente Presente Total
χ
2
p
Sexo
Masculino 693 162 855
Feminino 822 33 855 96,323 0,001
*
Estado civil
Solteiro 388 51 439
Casado 955 122 1077
Viúvo 94 7 101
Desquitado, divorciado 78 15 93 4,082 0,253
Nível econômico
A e B 720 115 835
C 655 64 719
D e E 140 16 156 9,297 0,010
*
Nível de escolaridade
Baixa 641 67 708
Alta 874 128 1002 4,502 0,034
*
Você possui alguma religião?
Não 144 34 178
Sim 1371 161 1532 11,652 0,001
*
Você trabalha?
Não 654 48 702
Sim 861 147 1008 24,574 0,001
*
Você fuma?
Não 1336 158 1494
Sim 178
37 215 8,182 0,004
*
Estado nutricional
Baixo peso (IMC < 18,5) 37 3 40
Eutrofia (IMC 18,5 a 24,9) 728 70 798
Sobrepeso e obesidade (IMC 25,0) 750 122 872 11,851 0,009
*
Total
1.515 195
*
Diferença estatística significante para α=0,05
Houve associação significativa entre o comportamento de beber em binge e o sexo
(χ
2
=96,323, p=0,001), nível econômico (χ
2
=9,297, p=0,010), nível de escolaridade (χ
2
=4,502,
p=0,034), religião (χ
2
=11,652, p=0,001), trabalho (χ
2
=24,574, p=0,001), tabagismo
(χ
2
=8,182, p=0,004) e estado nutricional (χ
2
=11,851, p=0,009), sendo que este tipo de
comportamento foi significativamente maior entre os homens, nas classes econômicas A e B,
com maior escolaridade, sem religião, entre os trabalhadores, tabagistas e classificados como
sobrepeso ou obesidade.
Discussão
88
6 DISCUSSÃO
O consumo de álcool excessivo tem aumentado de forma preocupante nos países
desenvolvidos e em desenvolvimento e faz parte dos fatores de risco associados às doenças
crônicas. Segundo Monteiro et al. (2005), os fatores de risco associados às doenças crônicas,
embora potencialmente relevantes no perfil epidemiológico da população, principalmente por
serem passíveis de prevenção, não vêm sendo monitorados adequadamente. Os motivos que
poderiam dificultar este monitoramento se relacionam ao grande intervalo de tempo entre as
pesquisas realizadas no país e à impossibilidade de desagregação dos resultados para Estados
e municípios.
Uma das alternativas para solucionar este problema, são pesquisas como a de
Monteiro et al. (2005) e Peixoto et al. (2008) que vêm utilizando um sistema de
monitoramento de fatores de risco para as doenças crônicas, cujas vantagens se relacionam à
simplicidade, baixo custo e agilidade na obtenção dos resultados. Este sistema utiliza
inquéritos anuais, por meio de entrevistas por telefone em amostras probabilísticas da
população residente em domicílios com linhas fixas de telefone. Sistema semelhante vem
sendo realizado com sucesso nos Estados Unidos (KILMER et al., 2008).
O Ministério da Saúde (BRASIL, 2008) também vem realizando pesquisas por
entrevistas telefônicas, por meio da implantação do Sistema Vigilância de Fatores de Risco e
Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL). Este sistema tem como
objetivo munir o Brasil de instrumentos eficazes na monitoração da freqüência e da
distribuição dos fatores de risco associados às doenças crônicas não-transmissíveis. Dentre os
fatores avaliados por este sistema estão o tabagismo, sobrepeso e obesidade e consumo
excessivo de álcool.
89
Segundo Silveira et al. (2005), é possível conhecer o perfil de saúde de uma população
pela auto-informação, o que permite por meio de amostras representativas da população,
acompanhá-la por um período de tempo mais longo, associado ao menor custo e simplificação
do trabalho de campo.
De acordo com Peixoto et al. (2006), a alta prevalência de doenças crônicas vem
aumentando o interesse em estudos nos quais as informações sobre sinais, sintomas e fatores
de risco associados são obtidas por meio de auto-informação da população. A sugestão é que
os dados sejam coletados mediante as entrevistas pessoais, envio de questionários pelo correio
ou entrevistas por telefone, proporcionando menor custo, simplificação do trabalho de campo
e acompanhamento ao longo do tempo da população.
Para Peixoto et al. (2008), as pesquisas realizadas por telefone apresentam limitações
que necessitam ser consideradas na interpretação dos resultados. A acurácia das informações
relatadas depende do conhecimento dos entrevistados de informações relevantes para a
entrevista e da capacidade e fidedignidade de recordá-las. Evidências vêm apontando que os
entrevistados têm a tendência de omitir determinados comportamentos, que podem ser
interpretados como inaceitáveis socialmente, como o consumo excessivo de bebida alcoólica
e excesso de peso. Assim como, tendem a superestimar comportamentos julgados como
desejáveis, como por exemplo, a prática de atividade física. Desta forma, a situação real da
freqüência de consumo de bebida alcoólica pode ser ainda maior, do que o relatado pelos
participantes das pesquisas. Mesmo com limitações, as pesquisas por telefone possibilitam o
monitoramento de fatores de risco associados à saúde em nível local, fundamentando o
planejamento, implementação e avaliação de intervenções em saúde pública.
Conforme Dawe e Mattick (1997), a recomendação das informações relacionadas ao
consumo de álcool por meio de dados auto-referidos é questionável na literatura científica. Há
muito a ser discutido sobre este método de obtenção de dados sobre a freqüência e quantidade
90
de álcool consumidas. Desta forma, sugere-se a aplicação de instrumentos de rastreamento já
validados, como AUDIT, MAST, CAGE, para aumentar a acurácia das respostas. A
confiabilidade dos problemas relacionados ao consumo de álcool auto-reportados também tem
sido questionada, pelo fato das pessoas subestimarem seus problemas, por mecanismo de
defesa inconsciente ou conscientemente para evitar repercussões com a admissão do
problema.
Para melhor identificar o padrão de consumo de álcool na população em geral, Knibbe
et al. (2006) recomendam utilizar questionários padronizados que estabeleçam parâmetros
para verificação da presença ou ausência dos problemas associados ao álcool. As vantagens se
relacionam à sua rápida aplicação e uniformidade das questões. Por outro lado, limitam a
capacidade de identificação da variabilidade dos problemas, que é particular de cada local a
ser avaliado.
O AUDIT, comparado aos outros instrumentos de rastreamento, como CAGE e MAST
é o instrumento mais indicado para determinar o padrão de risco de consumo de bebida
alcoólica, bem como os problemas relacionados ao consumo de álcool em indivíduos
(MACKENZIE et al., 1996; BRADLEY et al., 1998; FIGLIE et al., 2000; BABOR et al.,
2001; DAWE et al., 2002; KELLY et al., 2002; MARQUES; FURTADO, 2004; AGABIO et
al., 2006; COULTON et al., 2006; DONOVAN et al., 2006; KNIBBE et al., 2006; CROTON,
2007).
O AUDIT com o propósito de ser utilizado para a detecção do consumo excessivo de
bebida alcoólica e direcionar políticas públicas na área de alcoolismo, necessita levar em
consideração três aspectos relevantes. Interpretar adequadamente as respostas de cada item
do AUDIT, comparar os resultados da pesquisa com resultados de outros trabalhos que
levaram em consideração a população em geral e analisar criteriosamente as intercorrelações
entre os itens do AUDIT e sua pontuação final (KNIBBE et al., 2006).
91
Neste estudo, pôde-se notar excelente consistência interna do AUDIT (α=0,85, r=0,36)
e adequada reprodutibilidade (κ=0,87) garantindo a confiabilidade das informações obtidas.
Devido à falta de consenso, realizou-se previamente à coleta de dados, um estudo
piloto para verificar o comportamento dos entrevistados pessoalmente e por telefone,
adotando-se um delineamento cruzado (CAMPOS et al., 2008b) e verificou-se uma maior
facilidade dos indivíduos em relatar comportamentos de risco de consumo de bebidas
alcoólicas quando entrevistados pelo telefone.
Para Stahre et al. (2006), as pesquisas por telefone podem subestimar o padrão de
consumo de álcool, por não avaliar o consumo dos indivíduos sem telefones, ou que não
estavam em casa no momento da pesquisa, ou se recusaram a participar. Nos dois últimos
casos, não foi um problema enfrentado nesta pesquisa, uma vez que os indivíduos que não
estavam em casa ou que se recusaram a participar da pesquisa foram substituídos por outros
participantes, respeitando a representatividade da amostra por sexo e setor censitário.
Segundo Monteiro et al. (2005), a avaliação da representatividade da amostra de
indivíduos estudada por entrevistas telefônicas deve considerar o quanto esta amostra
representa o conjunto de indivíduos que possuem telefone e o quanto esta amostra representa
o conjunto da população que se deseja avaliar. No primeiro caso, deve-se considerar a
qualidade do cadastro de linhas telefônicas utilizado para o sorteio das linhas residenciais, a
adequação do sistema de amostragem adotado para sortear as linhas telefônicas e usuários a
serem entrevistados e a proporção de entrevistas completas diante do total de entrevistas
previstas. No segundo caso, é importante verificar o grau de cobertura do serviço de telefonia
na população em que se quer monitorar.
Nesta pesquisa foi utilizada para sorteio dos participantes a lista telefônica da cidade
de Araraquara atualizada (2007-2008), onde constam os números de telefones segundo o
nome das ruas. A amostragem utilizada levou em consideração a representatividade dos
92
participantes, em cada setor censitário urbano de Araraquara. A proporção de entrevistas
realizadas foi de 82,09% das entrevistas previstas na pesquisa. Em relação ao grau de
cobertura do serviço de telefonia na cidade, estima-se que 75,06% das residências possuam
linhas telefônicas fixas segundo dados de 2008 da Agência Nacional de Telecomunicações
(ANATEL). Assim, diante da melhor detecção de fatores de risco associados ao álcool
observados no estudo piloto (CAMPOS et al., 2008b) e da grande cobertura da telefonia fixa
no município, entende-se que a realização de entrevistas telefônicas é uma técnica adequada
para levantamento de informações fidedignas.
Outras limitações das entrevistas telefônicas, apontadas por Monteiro et al. (2005), são
a maior taxa de insucesso na realização de entrevistas com homens, entretanto na presente
pesquisa resolveu-se esta questão estratificando a amostra segundo sexo e a maior
participação de indivíduos de maior nível econômico e escolaridade o que pode ser
comprovado com os dados deste estudo (Tabela 1).
Em relação às características demográficas, estado civil, escolaridade e religião, os
dados do presente trabalho são semelhantes às estimativas apresentadas pelo IBGE (2007). A
prevalência de entrevistados que relataram trabalhar neste estudo foi de 58,95%, enquanto
pelo IBGE (2004b) este valor é de 83,90%, porém este último dado se refere à distribuição
relativa das pessoas acima de 10 anos de idade e não acima de 18 anos como na presente
pesquisa.
A prevalência de tabagismo em Araraquara foi de 12,57%. Este resultado foi menor
que o encontrado por Monteiro et al. (2005), que avaliaram 2.122 participantes, por meio de
entrevistas telefônicas, na cidade de São Paulo, cuja prevalência de tabagismo foi de 19,70%.
O percentual de adultos acima de 18 anos fumantes, avaliados pelo Sistema VIGITEL
(BRASIL, 2008) na cidade de Aracajú foi de 12,30%, em Belém 14,30%, em Belo Horizonte
15,60%, em Boa Vista 17,00%, em Campo Grande 16,40%, em Cuiabá 14,10%, em Curitiba
93
17,90%, em Florianópolis 20,20%, em Fortaleza 14,50%, em Goiânia 13,40%, em João
Pessoa 14,90%, em Macapá 17,50%, em Maceió 12,10%, em Manaus 16,30%, em Natal
13,20%, em Palmas 13,50%, em Porto Alegre 21,70%, em Porto Velho 16,10%, em Recife
15,90%, em Rio Branco 20,10%, no Rio de Janeiro 15,80%, em Salvador 11,50%, em São
Luís 13,40%, em São Paulo 20,00%, em Teresina 14,80%, em Vitória 14,80% e no Distrito
Federal 16,40%.
Peixoto et al. (2008) também avaliaram a prevalência de tabagismo entre os 2.002
participantes adultos da pesquisa realizada por entrevistas telefônicas na cidade de Goiânia,
Goiás em 2005. Dos participantes, 11,10% eram fumantes.
Em relação ao estado nutricional verificou-se que 2,34% dos participantes apresentam
baixo peso, 46,67% eutrofia, 35,50% sobrepeso e 15,51% obesidade, apontando que 51,01%
dos moradores de Araraquara entrevistados estão com excesso de peso (Tabela 1), sendo que
58,70% e 43,30% dos homens e mulheres, respectivamente apresentaram-se acima do peso.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2004c), a prevalência de
sobrepeso e obesidade está aumentando de forma preocupante em todo o mundo. Segundo a
pesquisa do Centers for Disease Control and Prevention (CDC, 2007), mais de um terço dos
adultos americanos, ou seja, mais de 72 milhões de pessoas, foram classificados como obesos
em 2005-2006, sendo 35,30% entre as mulheres.
Branca et al. (2007) afirmam que o sobrepeso e a obesidade se constituem um grande
desafio à saúde pública em países europeus. Estima-se que o sobrepeso acomete 30,00 a
80,0% dos adultos europeus e que a obesidade está aumentando rapidamente.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2004a),
12,70% das mulheres e 8,80% dos homens adultos brasileiros são obesos e as prevalências
mais altas são observadas nas regiões Sul e Sudeste do país. Esta tendência de ganho de peso
foi registrada para homens e mulheres no período entre 1974 e 1989.
94
Estes dados, assim como os encontrados em Araraquara, apontam que o excesso de
peso deve ser considerado um sério problema de saúde pública no Brasil. Apesar do excesso
de peso ser compreendido como um agravo de caráter multifatorial, englobando questões
biológicas, históricas, ecológicas, econômicas, sociais, culturais e políticas, os principais
fatores responsáveis pelo aumento acelerado do ganho de peso da população estão
relacionados ao ambiente e às mudanças no modo de vida, passíveis de intervenções
(BRASIL, 2006b).
Esta informação é reforçada pelo mais recente inquérito nacional que estimou as
prevalências de sobrepeso e obesidade na população adulta (com 20 anos ou mais de idade)
no Brasil, a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada em 2002-2003, pelo IBGE e
Ministério da Saúde. Esta pesquisa revelou agravos de grande expressão em todas as regiões
do país, sendo estimada a presença de excesso de peso (sobrepeso e obesidade) em 40,00% da
população e de obesidade em 11,10%. Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2006a), os
dados obtidos sobre o estado nutricional de populações, por meio de informações auto-
referidas de peso e altura têm sido muito similares aos encontrados pela POF (2002-2003).
Para Anjos (1992) e Branca et al. (2007), o uso do Índice de Massa Corporal (IMC)
como indicador do estado nutricional em estudos epidemiológicos apresenta como vantagens
a facilidade de sua mensuração, a grande disponibilidade de dados de peso corporal e altura e
sua relação com morbi-mortalidade, mesmo não indicando a composição corporal dos
indivíduos avaliados. Branca et al. (2007) alertam que o peso e altura referidos devem ser
tratados com cautela, uma vez que os indivíduos tendem a subestimar o peso, especialmente
aqueles com excesso de peso e superestimar a altura, principalmente aqueles mais baixos e
com mais idade e, portanto, os dados aqui apresentados podem estar subestimados podendo
ser o problema de excesso de peso mais preocupante do que o relatado.
95
O Sistema VIGITEL (BRASIL, 2008) avaliou o percentual de adultos com excesso de
peso nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal. Na cidade de Aracajú, a prevalência de
excesso de peso foi de 37,70%, em Belém 41,80%, em Belo Horizonte 40,50%, em Boa Vista
41,40%, em Campo Grande 45,30%, em Cuiabá 49,70%, em Curitiba 44,90%, em
Florianópolis 44,00%, em Fortaleza 44,90%, em Goiânia 39,40%, em João Pessoa 45,50%,
em Macapá 42,20%, em Maceió 42,00%, em Manaus 43,60%, em Natal 44,20%, em Palmas
33,40%, em Porto Alegre 45,10%, em Porto Velho 43,40%, em Recife 42,70%, em Rio
Branco 40,00%, no Rio de Janeiro 46,70%, em Salvador 38,60%, em São Luis 36,30%, em
São Paulo 43,20%, em Teresina 39,70%, em Vitória 40,40% e no Distrito Federal 37,70%.
Em Araraquara, a prevalência de excesso de peso encontra-se acima de todos os resultados
obtidos pelo Sistema VIGITEL, o que merece atenção das autoridades do município.
Pelas respostas do AUDIT (Tabela 2) nota-se que 25,44% dos participantes relataram
nunca consumir bebida alcoólica. O número de doses de bebida alcoólica freqüentemente
consumida é de 1 a 2 doses, segundo o relato de 52,94% dos entrevistados. A maioria dos
participantes afirmou não consumir 6 ou mais doses de álcool em uma mesma ocasião
(76,78%). Entre aqueles que realizam este comportamento, a maior parte o faz 1 vez por
semana. A maioria dos entrevistados relatou conseguir controlar a quantidade de bebida
depois de começar (89,18%) e não deixar de cumprir com seus compromissos, por causa da
bebida (97,18%). Beber pela manhã para se sentir melhor, depois de ter bebido muito na noite
anterior não foi um problema apresentado por 97,57%, embora entre aqueles que
apresentaram este problema, 12 pessoas relataram ter que beber pela manhã todos ou quase
todos os dias. O sentimento de culpa ou remorso depois de beber foi relatado por 116
indivíduos, 103 participantes afirmaram não lembrar do que aconteceu na noite anterior
depois de beber e 317 pessoas relataram ter alguém preocupado com seu consumo de álcool.
96
Outro estudo que apresentou o resultado de todas as questões do AUDIT foi o de
Mendoza-Sassi e Béria (2003), realizado em Rio Grande, Rio Grande do Sul, com 1.206
participantes. O número de indivíduos que nunca consomem álcool foi maior que na presente
pesquisa (57,00%), mas a freqüência de consumo mensalmente ou menos foi também a mais
prevalente entre os consumidores de álcool. O número de doses consumidas na população
riograndense também foi de 1 a 2 doses de bebida alcoólica. A freqüência do consumo de 6
ou mais doses em uma mesma ocasião foi realizada com maior prevalência, mensalmente ou
menos, enquanto que na Tabela 2 nota-se que a freqüência mais prevalente observada entre os
participantes foi de 1 vez por semana. Outro aspecto a ser ressaltado é que a prevalência de
consumo de 6 ou mais doses em uma mesma ocasião foi maior (38,20%) na população do Rio
Grande, do que entre os moradores de Araraquara (23,22%). A maioria dos participantes do
estudo de Mendoza-Sassi e Béria (2003) também relataram não apresentar problemas em
relação ao consumo de álcool, como não conseguir controlar a quantidade de consumo depois
de começar (94,50%), não conseguir cumprir com compromissos por causa da bebida
(96,70%), beber pela manhã para se sentir melhor, depois de ter bebido muito na noite
anterior (98,10%), sentir culpa ou remorso depois de beber (93,20%) e não se lembrar do que
aconteceu na noite anterior por causa da bebida (91,70%). O fato de ser prejudicado ou
prejudicado outra pessoa, devido à bebida e a preocupação de outras pessoas com seu
consumo de álcool também não foram observadas entre a maioria dos entrevistados (84,00% e
91,70%). Entre aqueles que relataram ter apresentado estes problemas, os resultados foram
semelhantes aos obtidos na presente pesquisa e os problemas mais prevalentes entre estes
participantes também foram semelhantes aos encontrados.
Knibbe et al. (2006) divulgaram resultados sobre a freqüência de consumo de álcool 2
ou mais vezes por semana, avaliados por meio da aplicação do questionário AUDIT em nove
países (Suíça, Espanha, Reino Unido, Suécia, Finlândia, Países Baixos, República Checa,
97
Hungria e Islândia). Em todas as pesquisas, todos ou quase todos os itens do AUDIT foram
incluídos. Na Suíça, a pesquisa foi nacional, realizada no ano de 1997, com indivíduos com
15 anos ou mais, por meio de entrevistas por telefone. Nestes participantes, 79,40% dos
homens e 55,60% das mulheres relataram a freqüência de consumo de 2 ou mais vezes por
semana. Na Espanha, a pesquisa foi regional, realizada no ano de 2003, com indivíduos com
18 anos ou mais, por entrevistas pessoais e 59,00% dos homens e 28,00% das mulheres
afirmaram esta mesma freqüência de consumo. No Reino Unido, a pesquisa foi nacional,
realizada no ano de 2000, com indivíduos com 18 anos ou mais, por meio de entrevistas
pessoais e a freqüência de consumo 2 ou mais vezes por semana foi observada em 63,70% dos
homens e em 44,40% das mulheres. Na Suécia, a pesquisa foi nacional, realizada no ano de
2002, com indivíduos entre 17 e 82 anos, por meio de entrevistas por telefone, em que foi
identificado que 20,30% dos homens e 12,50% das mulheres apresentaram este padrão de
freqüência de consumo. Na Finlândia, a pesquisa foi nacional, realizada no ano de 2000, com
indivíduos entre 16 e 70 anos, por meio de entrevista pessoal e o AUDIT auto-aplicativo e
consumir bebida alcoólica 2 ou mais vezes por semana foi relatado por 60,60% dos homens e
por 37,20% das mulheres. Nos Países Baixos, a pesquisa foi regional, realizada no ano de
1999, com indivíduos entre 16 e 69 anos, por meio de cartas pelo correio, onde foi
identificada a prevalência de freqüência de consumo de álcool de 2 ou mais vezes por semana,
sendo confirmada por 48,70% dos homens e por 25,10% das mulheres. Na República Checa,
a pesquisa foi nacional, entre indivíduos com 18 e 64 anos, por meio de entrevistas pessoais e
62,00% dos homens e 30,70% das mulheres consumiram álcool na freqüência de 2 ou mais
vezes por semana. Na Hungria, a pesquisa foi nacional, realizada em 2001, com indivíduos
entre 19 e 65 anos, por meio de entrevistas pessoais e AUDIT auto-aplicativo, sendo que
43,20% dos homens e 11,20% consumiram álcool 2 ou mais vezes por semana. Na Islândia, a
pesquisa foi nacional, realizada em 2001, com indivíduos com 18 e 75 anos, com metade das
98
entrevistas enviadas por carta e metade realizadas por telefone. Neste país, a mesma
freqüência de consumo foi observada por 36,80% dos homens e por 18,80% das mulheres. No
presente estudo, a freqüência de consumo de 2 ou mais vezes por semana foi encontrada em
37,19% dos participantes do sexo masculino e 14,60% do sexo feminino, resultados
superiores somente aos obtidos pelos homens e mulheres suecos e pelas mulheres húngaras.
No mesmo estudo, Knibbe et al. (2006) apresentaram as conseqüências do consumo de
bebida alcoólica. A principal conseqüência do uso de álcool na Suíça foi a incapacidade de
cumprir algum compromisso por causa da bebida. Na Espanha, no Reino Unido, na Suécia, na
Finlândia, nos Países Baixos e na República Checa, a conseqüência mais encontrada entre os
participantes foi o fato de não conseguir se lembrar do que aconteceu na noite anterior por
causa da bebida. Entre os húngaros, a conseqüência associada ao consumo de álcool mais
comum foi a necessidade de beber pela manhã para se sentir melhor, depois de beber muito na
noite anterior. Na Islândia, a principal conseqüência do consumo de álcool mencionada foi o
sentimento de culpa ou remorso depois de beber. Em Araraquara, a principal conseqüência
atribuída ao consumo de álcool, relatada pelos participantes, foi a preocupação de parentes,
médicos, outros profissionais da saúde e amigos por causa da bebida ou o pedido para parar
de beber (Tabela 2), diferindo dos resultados apresentados por estes nove países.
A prevalência de abstinência verificada em Araraquara apresentou diferença, quando
se compara a primeira questão do AUDIT (Tabela 2) à classificação do padrão de consumo de
álcool a partir da pontuação final deste instrumento (Tabela 3), o que pode ser explicado pelo
fato de que apesar do entrevistado ter relatado não consumir bebida alcoólica na questão 1,
este pode tê-lo consumido alguma vez na vida e ter se prejudicado ou prejudicado outra
pessoa, ou ainda ter tido alguém preocupado com sua maneira de beber, resultando em uma
pontuação maior que zero e assim, o participante não foi classificado como abstêmio, diante
da pontuação final do AUDIT.
99
A prevalência de indivíduos que relataram consumir bebidas alcoólicas na presente
pesquisa foi de 74,56%. Este resultado é superior aos encontrados nos estudos realizados por
Almeida e Coutinho (1993) na cidade de São Paulo, Benjarano (1999) na Costa Rica,
Galduróz et al. (1999) no Estado de São Paulo, Wei et al. (2001) na China, Carlini et al.
(2002) no Brasil, Mendoza-Sassi e Béria (2003) em Rio Grande, Rio Grande do Sul, Costa et
al. (2005) em Cuiabá, Mato Grosso, Magnabosco et al. (2007) em Juiz de Fora e Rio Pomba,
Minas Gerais, Bastos et al. (2008) no Brasil e Kerr-Corrêa et al. (2008) em Botucatu e Rubião
Júnior, São Paulo. Entretanto, deve-se ressaltar que os mesmos estudaram a prevalência de
consumo de álcool incluindo a população adolescente.
Dos estudos realizados com indivíduos maiores de 18 anos, as prevalências de
consumidores de bebidas alcoólicas observadas por Bovet (2001) em Seicheles, Mello et al.
(2001) em Portugal, Mustonen et al. (2001) na Namíbia, Costa et al. (2004) na cidade de
Pelotas, Rio Grande do Sul e Giesbrecht et al. (2005) em Ontário, Canadá são semelhantes à
encontrada na população de Araraquara, observada neste estudo (74,56%).
Sthare et al. (2006) encontraram menor prevalência de consumidores de álcool entre
os indivíduos adultos dos Estados Unidos, do que o verificado neste estudo, enquanto Ardila e
Hérran (2008) verificaram maior prevalência de consumidores de álcool entre os
colombianos.
Em relação ao consumo de risco verificou-se que 18,42% dos participantes
apresentaram este comportamento de consumo de álcool (Tabela 3), corroborando com os
resultados de Coulton et al. (2006) no Reino Unido, Magnabosco et al. (2007) em Juiz de
Fora e Rio Pomba, Minas Gerais e Peixoto et al. (2008) em Goiânia, Goiás. Já a prevalência
de consumo de alto risco e dependência observada na população de Araraquara (1,58% e
2,34%) foi inferior à verificada por Capriglione et al. (1985) em São Paulo, Rego et al. (1990)
em São Paulo, Almeida e Coutinho (1993) na Ilha do Governador, Rio de Janeiro, Galduróz et
100
al. (1999) no Estado de São Paulo, Wei et al. (2001) na China, Carlini et al. (2002) no Brasil,
Primo e Stein (2004) em Rio Grande, Rio Grande do Sul, Galduróz et al. (2005a) no Brasil,
Kerr-Corrêa et al. (2005, 2008) em Botucatu, São Paulo, Laranjeira et al. (2007) no Brasil e
Castro-Costa et al. (2008) no Brasil, o que pode ter ocorrido pelas diferenças inerentes às
populações e metodologia empregada para o rastreamento do consumo de bebidas alcoólicas e
para a classificação do risco dos indivíduos.
Na Tabela 4 pode-se notar associação entre o padrão de consumo de álcool e o sexo,
sendo os homens os mais acometidos, o que vai ao encontro da literatura (REGO et al., 1990;
ALMEIDA; COUTINHO, 1993; BENJARANO, 1999; GALDURÓZ et al., 1999; BOVET,
2001; MEDINA-MORA et al., 2001; MELLO et al., 2001; MOHAN et al., 2001;
MUSTONEN et al., 2001; WEI et al., 2001; CARLINI et al., 2002; MENDOZA-SASSI;
BÉRIA, 2003; ALMEIDA-FILHO et al., 2004; COSTA et al., 2004; PRIMO; STEIN, 2004;
COSTA et al., 2005; GALDURÓZ et al., 2005a; KERR-CORRÊA et al., 2005; BARROS et
al., 2007; LARANJEIRA et al., 2007; MAGNABOSCO et al., 2007; AHNQUIST et al.,
2008; BASTOS et al., 2008; CASTRO-COSTA et al., 2008).
Apesar do maior número de consumidores de álcool do sexo masculino, a literatura
tem apontado para um aumento significado de consumidores do sexo feminino.
Cardim et al. (1986) ao revisarem o padrão de consumo de álcool no Brasil,
observaram um aumento progressivo do alcoolismo no sexo feminino o que, segundo os
autores, pode estar relacionado à inserção das mulheres no mercado de trabalho e às
mudanças sociais ocorridas nas últimas décadas.
Na Índia, a melhoria da condição sócio-econômica favoreceu o aumento do consumo
de álcool, inclusive pelas mulheres, a ascensão das mulheres no mercado de trabalho
contribuiu com este aumento (BOVET, 2001). Medina-Mora et al. (2001) verificaram que o
padrão de consumo de álcool no México tem sofrido modificações, com a incorporação de
101
mulheres, dentre os indivíduos que fazem uso de bebida alcoólica. Em Portugal, apesar do
consumo de álcool ser maior entre os homens, 50,00% das mulheres relataram consumir
bebida alcoólica (MELLO et al., 2001).
No estudo de Kerr-Corrêa et al. (2008) foi observado que o consumo de álcool pelas
mulheres foi semelhante aos dos homens na cidade de Botucatu, São Paulo, o que não foi
observado no mesmo trabalho em Rubião Júnior, São Paulo, onde o consumo de álcool pelas
mulheres foi menor.
Para Kerr-Corrêa et al. (2005, 2008), as mulheres vêm apresentando mudanças nos
papéis socioculturais habituais, ao trabalhar fora de casa. Para os autores, na medida em que o
papel da mulher torna-se mais semelhante ao papel dos homens, o mesmo ocorrerá ao seu
padrão de consumo de álcool.
Na Tabela 4 nota-se associação entre o padrão de consumo de bebida alcoólica e o
nível econômico, com maior predomínio entre os indivíduos com classes sociais mais altas (A
e B). Este dado vai ao encontro dos resultados apresentados por Almeida-Filho et al. (2004)
para a cidade de Salvador, Bahia, Kerr-Corrêa et al. (2005) em Botucatu, São Paulo,
Laranjeira et al. (2007) pelo Levantamento Nacional, Castro-Costa et al. (2008) no Brasil e
Kerr-Corrêa et al. (2008) em Rubião Júnior, São Paulo. Por outro lado, Almeida e Coutinho
(1993), Costa et al. (2004) e Primo e Stein (2004) verificaram associação significativa entre o
padrão de consumo de bebida alcoólica e o nível econômico, com maior acometimento das
classes sociais menos privilegiadas, nas cidades de Ilha do Governador (RJ), Pelotas (MS) e
Rio Grande (RS), respectivamente.
O padrão de consumo de bebida alcoólica também apresentou associação
estatisticamente significante com a religião, com predomínio de consumidores de álcool entre
os indivíduos sem religião, concordando com os achados da literatura (ALMDEIDA;
COUTINHO, 1993; OBOT, 2001; BARROS et al., 2007; BASTOS et al., 2008).
102
Entre os indivíduos que afirmaram ter um trabalho, o consumo de álcool, neste estudo,
foi maior (Tabela 4). Na China, os entrevistados que consumiram álcool com maior
freqüência foram os trabalhadores assalariados, segundo o estudo realizado por Wei et al.
(2001). Já no estudo de Mustonen et al. (2001) na Namíbia foi observado que os abstinentes e
aqueles que consumiram álcool com baixa freqüência foram os indivíduos que estavam
empregados, enquanto Primo e Stein (2004) não encontraram associação significativa entre o
consumo abusivo de álcool e a situação laboral entre os indivíduos avaliados na zona urbana
de Rio Grande, Rio Grande do Sul.
O padrão de consumo de álcool esteve ainda associado ao tabagismo, sendo mais
freqüente o consumo entre os fumantes, indo ao encontro de outros trabalhos (BOVET, 2001;
MENDONZA-SASSI; BÉRIA, 2003; COSTA et al., 2004; PRIMO; STEIN, 2004; KERR-
CORRÊA et al., 2005, 2008).
Quanto ao estado nutricional, verificou-se neste estudo que os participantes com
excesso de peso e obesidade apresentaram maior prevalência de consumo de risco de álcool
(Tabela 4).
Para Kachani et al. (2008), o álcool possui valor energético e tem a habilidade de
suprir as necessidades energéticas diárias de um indivíduo, podendo levá-lo ao ganho de peso,
dependendo da quantidade, freqüência e modo de consumo. Mesmo com o aumento do gasto
energético basal nos consumidores de álcool, muitas vezes não é suficiente para compensar a
grande quantidade de calorias ingeridas, provocando um balanço energético positivo e o
excesso de peso pode ocorrer.
Estudos como o de Bovet (2001), Costa et al. (2004), Primo e Stein (2004) e Ardila e
Hérran (2008) encontraram diferença estatística não-significativa entre o padrão de consumo
de álcool e o estado nutricional dos entrevistados.
103
O comportamento de beber em binge se refere ao consumo de grande quantidade de
bebida em uma única ocasião e tem sido avaliado por países desenvolvidos e em
desenvolvimento, devido às graves conseqüências atribuídas a este tipo de consumo. Os
pesquisadores têm adotado denominações diferentes para se referir a este comportamento de
beber, como consumo abusivo de álcool (BRASIL, 2008), comportamento de beber pesado
(BENJARANO, 1999), consumo pesado de álcool (MEDINA-MORA et al., 2001; MOHAN
et al., 2001; OBOT, 2001), freqüência de cinco ou mais doses em uma mesma ocasião
(GIESBRECHT et al., 2005), episódios de binge drinking (COULTON et al., 2006; STHARE
et al., 2006), beber em binge (ALMEIDA-FILHO et al., 2004; LARANJEIRA et al., 2007;
CASTRO-COSTA et al., 2008), beber pesado (KERR-CORRÊA et al., 2005, 2008;
MAGNABOSCO et al., 2007), consumo grave de álcool (PEIXOTO et al., 2008), episódio de
consumo pesado de álcool (POMERLEAU et al., 2008) e freqüência de binge drinking (FAN
et al., 2008).
Dos participantes, desta pesquisa, 11,40% apresentaram comportamento de beber em
binge (Tabela 5), enquanto os estudos de Almeida-Filho et al. (2004), Kerr-Corrêa et al.
(2005, 2008) e Castro-Costa et al. (2008) encontraram menor prevalência de indivíduos com
este comportamento. Por outro lado, um maior número de estudos verificou prevalência de
beber em binge acima de 20,00% nas populações avaliadas (BENJARANO, 1999; OBOT,
2001; MEDINA-MORA et al., 2001; MOHAN et al., 2001; MUSTONEN et al., 2001;
GIESBRECHT et al., 2005; COULTON et al., 2006; LARANJEIRA et al., 2007;
MAGNABOSCO et al., 2007; FAN et al., 2008).
O Sistema VIGITEL (BRASIL, 2008) avaliou o beber em binge nos últimos 30 dias
na população adulta das 26 capitais brasileiras e do Distrito Federal no ano de 2007. Em
Aracajú, a prevalência foi de 15,40%, em Belém 20,30%, em Belo Horizonte 19,60%, em Boa
Vista 20,70%, em Campo Grande 18,90%, em Cuiabá 21,10%, em Curitiba 14,10%, em
104
Florianópolis 18,90%, em Fortaleza 19,30%, em Goiânia 16,20%, em João Pessoa 20,00%,
em Macapá 19,70%, em Maceió 18,90%, em Manaus 15,30%, em Natal 17,90%, em Palmas
20,70%, em Porto Alegre 15,10%, em Porto Velho 17,40%, em Recife 19,90%, em Rio
Branco 15,50%, no Rio de Janeiro 18,90%, em Salvador 21,10%, em São Luís 23,10%, em
São Paulo 13,40%, em Teresina 20,90%, em Vitória 19,20% e no Distrito Federal 18,60%.
Nota-se que a prevalência de beber em binge na população de Araraquara foi menor
do que as encontradas nas capitais brasileiras e Distrito Federal.
O comportamento de beber em binge na presente pesquisa esteve associado ao sexo,
sendo os homens os mais acometidos (Tabela 5).
Este comportamento de beber também foi predominante entre os homens nos estudos
realizados na Costa Rica por Benjarano (1999), no México por Medina-Mora et al. (2001), na
Namíbia por Mustonen et al. (2001), em Salvador, Bahia por Almeida-Filho et al. (2004), em
Botucatu, São Paulo por Kerr-Corrêa et al. (2005), nos Estados Unidos por Stahre et al.
(2006), na população brasileira por Laranjeira et al. (2007), nas 26 capitais brasileiras e no
Distrito Federal pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2008), no Brasil por Castro-Costa et al.
(2008), nos Estados Unidos por Fan et al. (2008), em Botucatu e em Rubião Júnior, São Paulo
por Kerr-Corrêa et al. (2008), na cidade de Goiânia, Goiás por Peixoto et al. (2008) e em oito
países da antiga União Soviética por Pomerleau et al. (2008).
Somente no estudo realizado por Magnabosco et al. (2007) com usuários de serviços
de atenção básica de saúde nos municípios de Juiz de Fora e Rio Pomba, Minas Gerais é que a
prevalência de beber em binge foi maior entre as mulheres.
Na Tabela 5 verifica-se que a associação do comportamento de beber em binge com o
nível econômico foi significativa, sendo que entre os indivíduos das classes sociais A e B,
este comportamento foi mais prevalente.
105
Obot (2001), Almeida-Filho et al. (2004), Kerr-Corrêa et al. (2005), Sthare et al.
(2006) e Castro-Costa et al. (2008), ao avaliarem o comportamento de beber em binge,
observaram que esta forma de consumo também foi mais freqüente entre os entrevistados com
maior renda.
A escolaridade também esteve associada ao comportamento de beber em binge entre
os indivíduos entrevistados (Tabela 5), corroborando com os trabalhos de Medina-Mora et al.
(2001), Mustonen et al. (2001), Almeida-Filho et al. (2004), Kerr-Corrêa et al. (2005), Sthare
et al. (2006), Brasil (2008) e Peixoto et al. (2008).
Observou-se ainda associação entre o comportamento de beber em binge e o trabalho
(Tabela 5), indo ao encontro dos achados por Mustonen et al. (2001) e Pomerleau et al. (2008)
e de encontro aos resultados obtidos por Kerr-Corrêa et al. (2005).
O hábito de fumar esteve associado significativamente com o comportamento de beber
em binge, o que também foi relatado por Kerr-Corrêa et al. (2005) e Pomerleau et al. (2008).
Desta maneira, entende-se que a prevalência de beber de risco e sua associação com os
fatores sócio-demográficos na população estudada merece atenção das autoridades do
município de Araraquara para direcionar estratégias de prevenção e de combate ao consumo
de risco de álcool e ao alcoolismo.
Conclusão
107
7 CONCLUSÃO
Frente aos achados verificou-se que 25,44% dos participantes relataram não consumir
bebidas alcoólicas. Nas ocasiões de consumo de bebida alcoólica no último ano, a maioria
relatou ter consumido 1 ou 2 doses. Quanto à freqüência de consumo de 6 ou mais doses em
uma mesma ocasião no último ano, apesar da maioria ter afirmado nunca consumir esta
quantidade de bebida alcoólica, 14,51% e 2,75% relataram realizar este comportamento, uma
vez por semana e todos os dias ou quase todos, respectivamente. A maioria informou ser
sempre capaz de controlar a quantidade de bebida depois de começar a beber, nunca deixar de
cumprir algum compromisso por causa da bebida, nunca ter bebido pela manhã depois de ter
bebido muito para se sentir melhor, nunca sentir culpa ou remorso depois de beber, sempre se
lembrar do que aconteceu na noite anterior ao beber, nunca ter se prejudicado ou prejudicado
outra pessoa por causa da bebida e não ter sido motivo de preocupação para familiares,
médico ou amigos pelo seu modo de beber.
Na cidade de Araraquara nota-se que 60,06% dos entrevistados foram classificados
como consumidores de bebida alcoólica de forma moderada e 18,42% consumidores de beber
de risco.
O padrão de consumo de álcool no grupo avaliado apresentou associação significativa
com o sexo, nível econômico, religião, trabalho, tabagismo e estado nutricional, com maior
risco para o sexo masculino, entre as classes econômicas A e B, indivíduos sem religião,
trabalhadores, tabagistas e classificados como sobrepeso ou obesidade.
O comportamento de beber em binge foi verificado em 11,40% dos participantes.
Houve associação significativa entre este comportamento de beber e o sexo, nível econômico,
nível de escolaridade, religião, trabalho, tabagismo e estado nutricional, sendo
significativamente maior entre os homens, nas classes econômicas A e B, com maior
108
escolaridade, sem religião, trabalhadores, tabagistas e classificados como sobrepeso ou
obesidade.
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Anexos
125
ANEXOS
126
ANEXO 1 – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Faculdade de
Ciências Farmacêuticas – UNESP, Araraquara.
127
ANEXO 2 – Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT): versão em português do
Brasil, proposta por Mendéz (1999).
1. Com que freqüência o(a) Sr.(a) toma bebidas de álcool?
(0) Nunca (1) Uma vez por
mês ou menos
(2) Duas a quatro
vezes por mês
(3) Duas a três
vezes por semana
(4) Quatro ou mais
vezes por semana
2. Nas ocasiões em que bebe, quantas doses, copos ou garrafas o(a) Sr.(a) costuma tomar?
(0) 1 ou 2 “doses” (1) 3 ou 4 “doses” (2) 5 ou 6 “doses” (3) 7 a 9 “doses” (4) 10 ou mais “doses”
3. Com que freqüência o(a) Sr.(a) toma “seis ou mais doses” em uma ocasião?
(0) Nunca (1) Uma vez por
mês ou menos
(2) Uma vez ao
mês
(3) Uma vez por
semana
(4) Todos os dias ou
quase todos
4. Com que freqüência, durante o último ano, o(a) Sr.(a) achou que não seria capaz de controlar a
quantidade de bebida depois de começar?
(0) Nunca (1) Uma vez por
mês ou menos
(2) Uma vez ao
mês
(3) Uma vez por
semana
(4) Todos os dias ou
quase todos
5. Com que freqüência, durante o último ano, o(a) Sr.(a) não conseguiu cumprir com algum
compromisso por causa da bebida?
(0) Nunca (1) Uma vez por
mês ou menos
(2) Uma vez ao
mês
(3) Uma vez por
semana
(4) Todos os dias ou
quase todos
6. Com que freqüência, durante o último ano, depois de ter bebido muito, o(a) Sr.(a) precisou beber pela
manhã para se sentir melhor?
(0) Nunca (1) Uma vez por
mês ou menos
(2) Uma vez ao
mês
(3) Uma vez por
semana
(4) Todos os dias ou
quase todos
7. Com que freqüência, durante o último ano, o(a) Sr.(a) sentiu culpa ou remorso depois de beber?
(0) Nunca (1) Uma vez por
mês ou menos
(2) Uma vez ao
mês
(3) Uma vez por
semana
(4) Todos os dias ou
quase todos
8. Com que freqüência, durante o último ano, o(a) Sr.(a) não conseguiu se lembrar do que aconteceu na
noite anterior por causa da bebida?
(0) Nunca (1) Uma vez por
mês ou menos
(2) Uma vez ao
mês
(3) Uma vez por
semana
(4) Todos os dias ou
quase todos
9. Alguma vez na vida o(a) Sr.(a) ou alguma outra pessoa já se machucou, se prejudicou por causa de o
Sr.(a) ter bebido?
(0) Não (2) Sim, mas não
no último ano
(4) Sim, durante o
último ano
10. Alguma vez na vida algum parente, amigo, médico ou outro profissional da saúde já se preocupou
com o(a) Sr.(a) por causa de bebida ou lhe disse para parar de beber?
(0) Não (2) Sim, mas não
no último ano
(4) Sim, durante o
último ano
128
Fonte: http://www.previ.com.br/noticias/boletins/revista_200701_121/images/6_4.gif
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