Download PDF
ads:
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
LUCIANA LOPES CORRÊA SCHWARZBACH
BAMBUS E TAQUARAS: AVALIAÇÃO E PERSPECTIVAS DE USO
SUSTENTÁVEL
Curitiba
2008
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
2
LUCIANA LOPES CORRÊA SCHWARZBACH
BAMBUS E TAQUARAS: AVALIAÇÃO E PERSPECTIVAS DE USO
SUSTENTÁVEL
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-
Graduação em Agronomia, Área de Concentração
em Produção Vegetal, Departamento de Fitotecnia
e Fitossanitarismo, Setor de Ciências Agrárias,
Universidade Federal do Paraná, como parte das
exigências para obtenção do título de Mestre em
Ciências.
Orientadora: Prof
a
. Dra. Raquel R. B. Negrelle
Co-orientador: Prof. Dr. Carlos R. Sanquetta
Curitiba
2008
ads:
3
DEDICATÓRIA
Ao meu esposo Roberto.
Aos meus pais Luiz Carlos e Vera.
Aos meus irmãos Lucíola e Luis Felipe.
Pelo amor incondicional
Pelo incentivo e apoio nesse período de dedicação à pesquisa.
4
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora Dra. Raquel R. B. Negrelle pela compreensão em uma
fase difícil e, principalmente, pela valiosa orientação e contribuição para meu
crescimento científico.
À Dra. Gisele Caldas Lorenzi pela amizade e sugestões para o
desenvolvimento deste trabalho.
Ao M. Sc. Luiz Cezar Sakr pelo suporte nas avaliações estatísticas.
Ao Dr. Tarciso S. Filgueiras, IBGE – Brasília, pela identificação da espécie
estudada.
Ao prof. Dr. Carlos Sanquetta pelo apoio financeiro fornecido por meio do
Projeto Ecológico de Longa Duração Floresta de Araucária e suas Transições
(CNPq), que possibilitou o desenvolvimento deste trabalho.
Ao Fábio H. Veiga, acadêmico do curso de Ciências Biológicas, estagiário
dedicado durante todo o desenvolvimento deste estudo, pelo apoio em campo na
coleta dos dados.
Às Indústrias Pedro N. Pizzato (General Carneiro, PR) e especialmente à
sra. Gladis do Departamento de Recursos Humanos, pela disponibilização da área
de estudo e pelo apoio logístico durante as fases de campo, necessários ao
desenvolvimento desta pesquisa.
À CAPES, pela concessão de bolsa de Mestrado.
5
BIOGRAFIA DO AUTOR
Luciana L. C. Schwarzbach, filha de Luíz Carlos Lopes Corrêa e Vera do
Rocio Lopes Corrêa, casada com Roberto Schwarzbach, nasceu em Curitiba, estado
do Paraná, em 19 de março de 1980.
Em 1999, iniciou o curso de Ciências Biológicas na Universidade Federal do
Paraná. Em 2003, recebeu o grau de Licenciada e Bacharel em Ciências Biológicas
conferido pela Universidade Federal do Paraná. Em 2005, concluiu a especialização
em Gerenciamento e Auditoria Ambiental pela UNICENP (PR).
No período de 2004 a 2006 atuou na JTEKT Group como Analista de
Qualidade Jr no processo de implantação da Norma ISO 14001:2004 e manutenção
da ISO TS 16949:1996.
No ano de 2006, ingressou no Programa de Pós-graduação em Agronomia,
área de concentração Produção Vegetal, para realização do mestrado na linha de
pesquisa Desenvolvimento Rural Sustentável.
6
RESUMO
Bambus e taquaras são importantes produtos florestais não madeiráveis (PFNM) de
agricultura de subsistência e estão associados a diversas necessidades comerciais,
econômicas, sociais e ambientais. Botanicamente pertencentes à família Poaceae,
subfamília Bambusoideae, ocorrem em todos os continentes, exceto no Europeu.
Apesar da grande diversidade de bambus e/ou taquaras existentes no Brasil, este
grupo não é utilizado e nem estudado em todas as suas potencialidades. Em vista
da importância ecológica e cultural dos bambus e taquaras, o presente estudo
apresenta resultados sobre o tema em três partes. Na primeira parte, é abordado
levantamento junto a artesãos, lojas e feiras de artesanato visando identificar a
produção e comercialização de artefatos que utilizam bambu e/ou taquaras nos
municípios de Curitiba, Morretes, Antonina e Paranaguá, no Estado do Paraná. Na
segunda parte, apresenta-se revisão bibliográfica sobre aspectos botânicos e
ecológicos da taquara Merostachys skvortzovii Sendulsky. Na terceira parte,
apresentam-se resultados da dinâmica de produção e mortalidade de colmos no
período de pré-florescimento em M. skvortzovii. Inicialmente, foram entrevistadas 17
pessoas das quais 9 são artesãos e 8 de estabelecimentos comerciais. A partir das
entrevistas realizadas com artesãos infere-se que os colmos tanto de bambus
quanto de taquaras são as partes mais utilizadas na confecção dos mais diversos
artefatos (móveis, cestarias, talheres, entre outros), sua extração ocorre de maneira
predatória em áreas naturais e a maioria das espécies utilizadas é exótica. Nos
estabelecimentos comerciais, a pesquisa revelou que os proprietários buscam
variedade de produtos em diferentes regiões do país, que estes apresentam
sazonalidade de venda coincidente com as férias de final de ano e os turistas
caracterizam o perfil do consumidor dos artesanatos feitos de bambus e/ou
taquaras. Merostachys skvortzovii é uma taquara lenhosa de colmos eretos, verdes
e ocos. Ecologicamente, forma grandes adensamentos populacionais em áreas de
Floresta Ombrófila Mista interferindo na dinâmica ecológica deste ecossistema e sua
ocorrência está registrada para os Estados de São Paulo, Paraná e Rio Grande do
Sul. Devido à sua abundância e uso de outras espécies do mesmo gênero esta
espécie é potencialmente fonte de PFNM’s. Para M. skvortzovii, em relação à
produção e morte de novos colmos e à influência da pluviosidade e temperatura os
resultados mostraram que ao longo de 2007 o brotamento estava diminuindo e a
mortalidade aumentando. O brotamento foi independente da pluviosidade e
apresentou moderada correlação positiva com a temperatura e a mortalidade das
touceiras não apresentou relação com a pluviosidade, mas apresentou forte
correlação negativa com a temperatura. Acredita-se que a floração e a frutificação
da espécie estudada cessem a produção de novas partes vegetativas. Esta planta,
pela sua utilidade, deve ser melhor entendida, sistematicamente mais documentada
e manejada sustentavelmente como recurso econômico.
Palavras-chave: Poaceae. Bambusoideae. Produção. Colmos.
7
ABSTRACT
Bamboos and taquaras (one of the varieties of small bamboos) are an important non-
wood forest product (NWFP), for agriculture subsistence and are associated to
several mercantile, economics, socials and environmental needs. In botanical terms
constituent to Bambusoideae sub-family, occurring in all continents except in Europe.
Despite of the great diversity of bamboos and/or taquaras existent in Brazil, this
group is not used even researched in its all powerful. Given the ecological and
cultural importance of bamboos and taquaras, this apply shows the subjects results
in three sections. The first section presents results of enquire with artisans, shops
and workmanship markets, seeking identify the production and trade of artifacts that
use bamboo and/or taquara in cities of Curitiba, Morretes, Antonina and Paranaguá,
all they in the state of Paraná. In the second section are presented results of
bibliography review about Merostachys skvortzovii Sendulsky. The third section
shows results of standards and causes of variation of the dynamics of recruitment of
culms in a M. skvortzovii population. Initially, 17 people were interviewed, 9 of which
are artisans and 8 commercial businesses. From artisans interviews it appears that
culm both of bamboo as the taquara, are the most utilized parts in manufacture of the
various artifacts (furniture, baskets, cutlery, among others). Its extraction occurs
under a predatory way in natural areas and the majority of species used is exotic. In
shops were observed that they seek varieties of products in different regions of the
country, have seasonal sales which coincides with vacations of the end of the year
and tourist characterize consumer’s profile of bamboo and/or taquara handicrafts.
Merostachys skvortzovii taquara is a woody bamboo with erected, green and hollow
culms. Ecologically creates large condensate population in areas of Floresta
Ombrófila Mista interfering in the dynamics of this ecological biome and its
occurrence is recorded for São Paulo, Paraná and Rio Grande do Sul states.
Because its abundance and use of others species of same kind this specie is
potentially a source of NWFP. For this specie, regarding the production and death of
new culms, and the influence of rainfall and temperature the results showed that
throughout 2007 the sprouting was decreasing and mortality increasing. The
sprouting was independent of rainfall and showed moderate positive correlation with
temperature and mortality of thickets presented no relationship with rainfall, but had a
strong negative correlation with the temperature. It’s believed that the phenology of
species studied has been a limiting factor for the analysis of mortality and production
of culms. These very interesting and mostly useful plants can be better understood,
more systematically documented and managed as a resource.
Key words: Poaceae. Bambusoideae. Production. Culms.
8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 - COLMOS VERDES DE TAQUARA (Merostachys sp.) NA VERTICAL
PARA SAÍDA DA SEIVA E TRELIÇAS CONFECCIONADAS PELO ARTESÃO NO
MUNICÍPIO DE ANTONINA (PR).............................................................................. 22
FIGURA 2 - ARTESÃO UTILIZANDO MAÇARICO PARA SOLTAR ÓLEO QUE DÁ
BRILHO AO COLMO DA TAQUARA (Merostachys sp.). AO FUNDO, COLMO DE
BAMBU-BALDE (Dendrocalamus sp.)...................................................................... 23
FIGURA 3 - LOJA (ATELIER ART’S BAMBU) DE ARTESÃO LOCALIZADA NO
MUNICÍPIO DE PARANAGUÁ (PR): VISTA GERAL DE DIVERSOS ARTIGOS
CONFECCIONADOS PELO PROPRIETÁRIO ........................................................ 24
FIGURA 4 - DIFERENTES ARTESANATOS FEITOS DE BAMBU VENDIDOS EM
LOJAS DE ARTESANATO EM CURITIBA (PR)....................................................... 27
FIGURA 5 – A) DETALHE DO NÓ EM COLMO DE M. skvortzovii; B) COLMO DE M.
skvortzovii CORTADO EVIDENCIANDO SEU INTERIOR OCO;
FIGURA 6 - a) VISÃO GERAL DE UM RAMO COM INFLORESCÊNCIAS DE M.
skvortzovii; b) INFLORESCÊNCIAS DE M. skvortzovii; c) CARIOPSES DE M.
skvortzovii.................................................................................................................. 36
FIGURA 7 - FLORESTA OMBRÓFILA MISTA COM Merostachys skvortzovii
Sendulsky (COLMOS ERETOS) E Chusquea sp. (PROSTRADA)........................... 37
FIGURA 8 - REMANESCENTE DE FLORESTA OMBRÓFILA MISTA NO
MUNICÍPIO DE GENERAL CARNEIRO (PR)........................................................... 45
FIGURA 9 - LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE GENERAL CARNEIRO
(PR)........................................................................................................................... 46
FIGURA 10 - A) DESENHO ESQUEMÁTICO DA ESTRUTURA SUBTERRÂNEA DO
RIZOMA PAQUIMORFO; B) SISTEMA RIZOMÁTICO DE M. skvortzovii COM
CRESCIMENTO HORIZONTAL À SUPERFÍCIE DO
SOLO......................................................................................................................... 5
1
FIGURA 11 - GRÁFICO REPRESENTATIVO DAS QUANTIDADES MÉDIAS
MENSAIS DE COLMOS NAS DEZ TOUCEIRAS MONITORADAS EM 2007.
9
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - RESUMO DAS INFORMAÇÕES LEVANTADAS DURANTE AS
ENTREVISTAS COM ARTESÃOS EM LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO
REALIZADO EM CURITIBA (PR) E LITORAL DO
PARANÁ.................................................................................................................... 25
QUADRO 2 - RESUMO DAS INFORMAÇÕES LEVANTADAS JUNTO AOS
ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS EM LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO
REALIZADO EM CURITIBA (PR) E LITORAL DO
PARANÁ.................................................................................................................... 26
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO GERAL ............................................................................................. 11
REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 15
Parte 1: Artesanatos que utilizam bambus e taquaras produzidos e
comercializados em Curitiba e litoral do Paraná....................................17
1.1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 17
1.2 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................... 19
1.3 RESULTADOS..................................................................................................... 20
1.3.1 Levantamento etnobotânico.............................................................................. 20
1.3.2 Levantamento comercial ................................................................................... 26
1.4 DISCUSSÃO........................................................................................................ 29
1.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 31
1.6 REFERÊNCIAS.................................................................................................... 32
Parte 2: Merostachys skvortzovii Sendulsky: aspectos botânicos e ecológicos 34
2.1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 34
2.2 DESENVOLVIMENTO DO TEMA........................................................................ 35
2.2.1 Classificação botânica....................................................................................... 35
2.2.2 Descrição botânica............................................................................................ 36
2.2.3 Distribuição e ocorrência................................................................................... 38
2.2.4 Fenologia........................................................................................................... 39
2.2.5 Usos e aplicações ............................................................................................. 40
2.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 41
2.4 REFERÊNCIAS.................................................................................................... 42
Parte 3: Dinâmica de produção e mortalidade de colmos na fase de pré-
florescimento em Merostachys skvortzovii Sendulsky ........................................ 44
3.1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 44
3.2 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................... 46
3.2.1 Área de estudo.................................................................................................. 46
3.2.2 Espécie estudada.............................................................................................. 47
3.2.3 Caracterização morfológica do sistema rizomático ........................................... 48
3.2.4 Padrão de produção e mortalidade de colmos e influência do extrativismo de
colmos sobre produção e mortalidade de colmos...................................................... 48
3.2.6 Influência de fatores extrínsecos sobre a dinâmica de produção e mortalidade
de colmos................................................................................................................... 49
3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................... 50
3.3.1 Caracterização morfológica do sistema rizomático de M. skvortzovii................ 50
3.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 54
3.6 REFERÊNCIAS.................................................................................................... 55
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 59
11
INTRODUÇÃO GERAL
A biodiversidade é um elemento de importância estratégica para o ser
humano por desempenhar papel fundamental no seu desenvolvimento e bem-estar,
bem como no equilíbrio ambiental global além de fornecer matéria-prima para
diversos setores da economia. Para a exploração adequada deste potencial,
necessita-se garantir a manutenção e a disponibilidade dos recursos no ambiente,
sendo assim fundamental a aplicação de mecanismos de conservação ambiental e
modelos de desenvolvimento sustentável (FERRO; BONACELLI; ASSAD, 2006).
Os esforços para preservar a biodiversidade, às vezes se chocam com as
necessidades humanas, sendo o desenvolvimento sustentável a forma de se
trabalhar com o propósito de solucionar este confronto, a partir da busca de um
modelo de desenvolvimento econômico que satisfaça tanto as necessidades
humanas de recursos e de emprego, ao mesmo tempo em que minimize seu
impacto sobre a diversidade biológica (LUBCHENCO et al., 1991).
No que se refere à biodiversidade, o Brasil tem sido considerado como um
dos países com maior diversidade biológica do mundo. No entanto, diversos biomas
brasileiros, que apresentam significativa diversidade, vêm sendo devastados e
explorados de forma descontrolada, sendo o extrativismo predatório de espécies
vegetais uma das formas mais comuns de exploração.
De forma a evitar o extrativismo predatório, o manejo florestal sustentado é
uma das formas de gerir a atividade extrativista vegetal, possibilitando a produção,
direta ou indireta, na quantidade e qualidade requerida por uma organização e por
toda uma sociedade no presente e no futuro e, ainda, garantir a conservação das
florestas nativas e/ou plantadas, mantendo sua capacidade regenerativa. A
exploração sustentável de espécies nativas, subsidiada por estudos ecológicos é um
nicho importante a ser explorado e pode ser uma das formas de combate à crise
sócio-ambiental (MMA, 2005).
Dentre as espécies vegetais mundialmente exploradas, destaca-se o bambu,
considerado um grupo de plantas de importância ecológica nos ecossistemas, onde
naturalmente se incluem. Eles têm obtido atenção especial como culturas
alternativas com múltiplos usos e benefícios, devido ao seu rápido crescimento, alto
12
potencial para conservação do solo e adaptabilidade a ambientes de baixa qualidade
(DIVER, 2001; EMBAYE et al., 2003).
Nesse contexto, os bambus são plantas que ocorrem naturalmente em todos
os continentes, exceto no Europeu, apresentando mais de 1.200 espécies
espalhadas pelo mundo, divididas em cerca de 90 gêneros. São um grupo diverso,
com capacidade de propagar-se em regiões inóspitas, resistir a extremos de
temperaturas e sobreviver em solos de baixa fertilidade. Crescem como pequenas
gramíneas ou chegam a extremos de 40 metros de altura (LOPEZ, 1974). Além
disso, o diâmetro também varia em larga escala e dentre as espécies existem as
consideradas anãs, com pequeno diâmetro e porte (inferior a 1 m) e outras gigantes
com diâmetro superior a 20 cm (STAPLETON, 1987). No entanto, segundo Lopez
(1974), as características botânicas do bambu ainda não são totalmente conhecidas,
uma vez que estas plantas podem florescer em intervalos de 30, 60, 90 e até 100
anos, variando de acordo com a espécie, e as flores e frutos são indispensáveis
para este conhecimento.
No Brasil, há registro de diversas espécies de bambus tanto nativas quanto
exóticas. Em relação àquelas é um dos países que apresenta maior número de
espécies e áreas com florestas naturais de bambu, sendo neste caso algumas
espécies endêmicas. As espécies exóticas foram introduzidas pelos colonizadores
portugueses (gêneros Bambusa e Dendrocalamus) e outras mais recentemente por
imigrantes asiáticos (gêneros Sasa e Phyllostachys). Dentre as espécies nativas,
dispersas ao longo de todas as regiões brasileiras, destacam-se as popularmente
conhecidas por taquara, taboca, jativoca, taquaruçu ou taboca-açu, conforme sua
região de ocorrência. Existem grandes áreas desses tipos de bambu na Floresta
Amazônica (Acre), Parque Nacional do Iguaçu e nas margens de alguns rios do
Pantanal. Os estados de São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Santa Catarina e Paraná
são os que apresentam maior diversidade em espécies lenhosas de bambu. No sul
do Brasil, os gêneros mais representativos são Merostachys, Guadua e Chusquea
(VASCONCELLOS, 2008).
Devido às características botânicas e ecológicas, os bambus são plantas
com elevado potencial de utilização desde cestarias e artesanatos até móveis e
tecidos. Na maioria dos países da América e da África as informações sobre a
biologia e os recursos vindos do bambu, bem como seu potencial e usos comuns
ainda são incompletos (BYSTRIAKOVA; KAPOS; LYSENKO, 2004). De acordo com
13
FAO (2001), o bambu não é rotineiramente incluído em inventários florestais, assim
como pouco se sabe sobre seus usos como produto florestal não-madeirável
(PFNM). Infere-se que a exclusão de inventários florestais pode estar associada à
dificuldade em se delimitar o indivíduo, assim como ao número excessivo de colmos
a serem medidos.
Dentre as inúmeras possibilidades de uso do bambu cita-se: fabricação de
papel, carvão, móveis, cestarias, luminárias, cortinas, objetos de decoração,
utensílios domésticos, na construção civil e rural, irrigação e conservação do solo e
como elementos de projetos paisagísticos (PANT; VARMALI, 1981; FARRELLY,
1984; CROUZET; CROUZET; STAROSTA, 1998). O bambu pode ser utilizado,
ainda, como combustível, substituindo o uso tradicional e, muitas vezes, predatório
de madeiras importantes para os ecossistemas. Por ser um recurso natural
renovável, a intensificação de seu uso pode contribuir para diminuir a pressão da
procura por madeiras nobres – especialmente aquelas em risco de extinção – bem
como também complementar o uso de madeiras de florestas plantadas, cuja
demanda cresce além da capacidade instalada no país (IBAMA, 2008). Desta forma,
a exploração sustentável de espécies nativas de bambu, subsidiada por estudos
ecológicos é um nicho importante a ser explorado como fonte de renda,
especialmente no Brasil onde os bambus nativos ainda não são utilizados em toda
sua potencialidade.
No entanto, assim como qualquer outro produto florestal, para garantir a
sustentabilidade de sua exploração é preciso avaliar o potencial de produção e de
comercialização, bem como, do ponto de vista ecológico sua abundância,
distribuição, características do habitat, produtividade, reprodução e regeneração.
Parte dessas informações pode ser obtida informalmente nas populações indígenas
e/ou nativas e, outras requerem investigação científica (FAO, 2001). Além disso,
também é importante que se compreenda, primeiramente, os atributos fundamentais
destas plantas, de modo que este conhecimento básico possa ajudar a promover
uma melhor identificação, utilização e conservação das muitas espécies existentes
(WONG, 2004).
Nesse contexto, tendo em vista a importância ecológica e cultural dos
bambus e taquaras, o presente estudo teve como objetivo contribuir para o melhor
entendimento etnobotânico e ecológico deste grupo de plantas.
Especificamente, buscou-se:
14
1. Identificar a produção e comercialização de artefatos que utilizam
bambu e/ou taquaras.
2. Identificar espécie nativa de taquara abundante no Estado do Paraná,
potencialmente fonte de PFNM e realizar pesquisa botânico-ecológica no
intuito de fechar lacunas de conhecimento sobre a espécie.
O resultado deste trabalho é apresentado neste documento, subdividido em
três partes:
Na primeira parte, “Artesanatos que utilizam bambus e taquaras produzidos
e comercializados em Curitiba e litoral do Paraná” apresentam-se resultados de
levantamento junto a artesãos, lojas e feiras de artesanato visando identificar a
produção e comercialização de artefatos que utilizam bambu e/ou taquaras nos
municípios de Curitiba, Morretes, Antonina e Paranaguá, no Estado do Paraná.
Na segunda parte, “Merostachys skvortzovii Sendulsky: aspectos botânicos
e ecológicos” apresentam-se resultados de revisão bibliográfica sobre a espécie.
Na terceira parte, “Produção de colmos em Merostachys skvortzovii
Sendulsky” apresentam-se resultados dos padrões e causas de variação da
dinâmica de recrutamento de colmos em uma população taquara.
Finalizando este documento, apresenta-se uma análise sintética dos
resultados obtidos assim como recomendações de estudos e/ou pesquisas no
sentido de melhor subsidiar o uso sustentável do recurso estudado.
15
REFERÊNCIAS
BYSTRIAKOVA N.; KAPOS V.; LYSENKO I. Bamboo biodiversity: Africa,
Madagascar and the Americas. Cambridge: UNEP-WCMC/INBAR, 2004.
Disponível em: < http://www.unep-
wcmc.org/resources/publications/UNEP_WCMC_bio_series/19.htm>. Acesso em:
22/04/2006.
CROUZET,Y.; CROUZET, J.; STAROSTA, P. Bamboos. Itália: Evergreen, 1998.
DIVER, S. Bamboo: a multipurpose agroforestry crop. NCAT Agriculture Specialist,
Fayetteville, p. 1-13, 2001. Disponível em: <www.attra.ncat.org>. Acesso em:
23/08/2007.
EMBAYE, K.; CHRISTERSSON, L.; LEDIN, S.; WEIH, M. Bamboo as bioresource in
Ethiopia: management strategy to improve seedling performance (Oxytenanthera
abyssinica). Bioresource technology, Essex, v. 88, p. 33-39, 2003. Disponível em:
<www.sciencedirect.com>. Acesso em: 12/07/2006.
FAO Global forest resources assessment 2000: main report. FAO: v. 140, 2001.
Disponível em: < http://www.fao.org/forestry/FOP/FOPW/NWFP/new/nwfp.htm.>.
Acesso em: 18/07/2006.
FARRELLY, D. The book of bamboo. San Francisco: Sierra Club Books, 1984.
FERRO, A. F. P; BONACELLI, M. B. M.; ASSAD, A. L. D. Oportunidades
tecnológicas e estratégias concorrenciais de gestão ambiental: o uso sustentável da
biodiversidade brasileira. Gestão e Produção, São Carlos, v.13, n. 3, p. 489-501,
2006.
IBAMA Tecnologia do Bambu. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/ambtec>
Acesso 20/01/2008
LOPEZ, O. H. Bambú su cultivo y aplicaciones en: fabricación de papel,
construcción, arquitectura, ingeniería, artesanía. Cali: Italgraf, 1974.
LUBCHENCO, J. et al. The sustainable biosphere initiative: an ecological research
agenda. Ecology, Tempe, n. 72, v. 2, p. 371-412, 1991.
16
MMA. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Biodiversidade e Florestas. I
Reunião de avaliação e perspectivas do uso sustentável do bambu no Brasil.
Programa Nacional de Florestas. Relatório PNF – 01/2005. Brasília, 2005.
PANT, M. M.; VARMALI, J.C. Production and Utilization of Bamboos. Indian
Forester, Dehra Dun, v. 107, n. 8, p. 465-476, 1981.
STAPLETON, C.M.A. Bamboos, Gramineae. In: JACKSON, J. K. Manual of
Afforestation in Nepal. Kathmandu,1987, p. 199-214. Disponível em: <
http://bamboo-identification.co.uk/Jacksonbamboo.pdf>. Acesso em: 13/04/2006.
VASCONCELLOS, R. M. Info Bambu. Disponível em:
<http://www.bambubrasileiro.com/info/>. Acesso em: 09/04/2008.
WONG, K. M. Bamboo the amazing grass: a guide to the diversity and study of
bamboos in southeast Asia. Kuala Lumpur: IPGRI/University of Malaya, 2004.
17
Parte 1:
Artesanatos que utilizam bambus e taquaras produzidos e
comercializados em Curitiba e litoral do Paraná.
1.1 INTRODUÇÃO
No Brasil, estima-se que cerca de 8 milhões de pessoas vivem direta ou
indiretamente do artesanato. No entanto, não existem estimativas dos artesãos que
trabalham com bambu, mas sabe-se que são em grande quantidade
(VASCONCELLOS, 2006).
Os bambus e taquaras são gramíneas que possuem crescimento acelerado
e apresentam um grande potencial de utilização como produto florestal não
madeirável (PFNM), pois podem ser utilizados de diversas formas, sendo
documentados mais de 1500 usos e aplicações para as diferentes espécies. Dentre
as potencialidades de uso dos bambus, Diver (2001) categoriza três grupos
principais: 1. doméstico (p.e. estacas, treliças, cercas); 2. produção comercial para
uso em construção, alimentação e artesanato; e 3. paisagismo e conservação.
No caso específico das taquaras, esta é uma denominação comum a várias
espécies de bambus nativos do Brasil, a maioria com colmos ocos menores que os
dos bambus e as folhas inseridas nos entrenós. Devido à sua abundância, a taquara
é conhecida e utilizada desde tempos imemoriais pelos povos nativos, que lhe
davam as mais diversas utilidades. O uso de seus colmos como pequenos
recipientes, canudos para diversas finalidades (por exemplo, zarabatana), vigas e
travessas leves na construção de suas habitações, cercas ou paliçadas leves na
contenção de aves ou outros pequenos animais e, principalmente, suas fibras, para
feitio de cestas das mais diversas formas para diferentes utilidades, como alqueires
e balaios (WONG, 2004).
Atualmente, dentre as inúmeras possibilidades de uso dos bambus e
taquaras pode-se citar: a fabricação de papel, carvão, móveis, cestarias, luminárias,
cortinas, objetos de decoração, utensílios domésticos, na construção civil e rural,
irrigação e conservação do solo e como elementos de projetos paisagísticos (PANT;
VARMALI, 1981). O carvão de bambu é de excelente qualidade, possuindo poder
calorífico igual ou superior ao do carvão tradicional e possui propriedades
18
bactericidas, sendo utilizado na Ásia no tratamento do esgoto doméstico (BRITO;
TOMAZELLO FILHO; SALGADO, 1987; SBRT, 2006; Boletim Florestal, 2007). O
papel de bambu tem a mesma qualidade que o papel de madeira e é citado como o
uso industrial do bambu de maiores proporções do mundo, pois oferece seis vezes
mais celulose que o pinheiro de crescimento mais rápido (KUMAR; SASTRY, 1999).
Como ornamental, o destaque é para as espécies de porte reduzido como:
Bambusa gracilis, Pleioblastus chino var. elegantissimo, Shibatae kumasasa, dentre
outras (CROUZET; CROUZET; STAROSTA, 1998). Os bambus e taquaras podem
ser utilizados, ainda, como combustível, substituindo o uso tradicional e, muitas
vezes, predatório de madeiras importantes para os ecossistemas. Por ser um
recurso natural renovável, a intensificação de seu uso pode contribuir para diminuir a
pressão da procura por madeiras nobres – especialmente aquelas em risco de
extinção – bem como também complementar o uso de madeiras de florestas
plantadas, cuja demanda cresce além da capacidade instalada no país (IBAMA,
2008).
Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo contribuir para o
melhor entendimento do uso destes recursos, no Sul do Brasil, apresentando
resultados de levantamento junto a artesãos e lojas e feiras de artesanato.
Especificamente, buscou-se:
Identificar a produção e a comercialização de artefatos que utilizam
bambu e/ou taquaras nos municípios de Curitiba, Morretes, Antonina e
Paranaguá, no Estado do Paraná.
Identificar as espécies de bambus e/ou taquaras utilizadas pelos
artesãos.
19
1.2 MATERIAL E MÉTODOS
Em 2006, a partir da visitação na Feira Internacional de Artesanato
FEIARTE (Pavilhão de Exposições Parque Barigüi – Curitiba/PR), a Feira de
Artesanato de Morretes (PR), a Feira de Artesanato do Largo da Ordem em Curitiba
(PR) e indicação por comerciantes, identificaram-se artesãos que utilizavam taquara
e/ou bambu.
Os artesãos selecionados foram alvo de entrevistas semi-estruturadas, as
quais foram baseadas em roteiro previamente definido, buscando levantar
informações relativas às espécies utilizadas (partes da planta empregadas, formas
de utilização/ beneficiamento), dados sobre comercialização dos produtos gerados
(compradores, preços de venda; sazonalidade). Registraram-se também
informações relativas a problemas enfrentados por esta categoria de artesãos, no
que se refere ao uso da taquara e/ou bambu assim como existência de possíveis
associações de classe.
Adicionalmente, visitaram-se lojas de artesanato indicadas pelos artesãos
acima referidos, além de outras identificadas no Município de Curitiba e região
litorânea do Paraná (Morretes, Antonina e Paranaguá). Nestes estabelecimentos,
buscaram-se informações relativas aos artesanatos e produtos com bambu e/ou
taquara comercializados; fontes de obtenção dos mesmos; preços de compra e
venda e perfil do consumidor destes artesanatos e/ou produtos.
As espécies de bambus e taquaras, citadas durantes as entrevistas, foram
identificadas em nível de gênero por levantamento bibliográfico utilizando como base
o seu nome vulgar regional bem como características morfológicas dos colmos
empregados. A impossibilidade de coleta de exemplares floridos, na região litorânea
do Estado do Paraná, impediu a identificação em nível específico.
20
1.3 RESULTADOS
1.3.1 Levantamento etnobotânico
No total foram identificados e entrevistados nove artesãos, dos quais quatro
foram identificados na FEIARTE, três indicados por comerciantes, um na Feira de
Artesanato do Largo da Ordem e um na Feira de Artesanato de Morretes. Deste total
de entrevistados, dois não sobrevivem somente do artesanato de bambu, sendo o
artesanato de fibra de bananeira (Grupo Mãos de Fibra) e destilaria artesanal de
cachaça suas principais fontes de renda. Os entrevistados residiam em distintos
municípios paranaenses (Antonina (1), Morretes (1), Paranaguá (1), Curitiba (2),
Campina Grande do Sul (1), Ourizona (1), Mandaguaçu (1) e Quitandinha (1)).
A partir das entrevistas realizadas pode-se observar que todos os artesãos
utilizavam o colmo no feitio de seus artesanatos, sendo que 33,3% destes indicaram
obter a matéria-prima na sua propriedade; 55,6% em áreas florestadas localizadas
nos arredores de sua residência e 11,1% compravam de extratores e não sabiam
identificar a origem exata da matéria-prima.
A taquara (Merostachys spp.) e a taquarinha (Olyra spp.) foram citadas
como espécies fonte da matéria-prima por 33,3% dos entrevistados. Outros citaram
bambu mossô (Phyllostachys spp.), cana-da-índia (Phyllostachys spp.), bambu-de-
jardim (Phyllostachys spp.) e bambu-balde (Dendrocalamus spp.). Alguns citaram
bambu africano (sinônimo de bambu-rei) e bambu-do-reino, denominações que não
foram possíveis de serem associadas a um nome científico na literatura consultada.
No entanto, frente às características morfológicas do colmo, infere-se que estas
denominações corresponderiam a Dendrocalamus spp. Dentre os entrevistados,
22,2 % indicaram genericamente a denominação “bambu”, que freqüentemente pode
ser associada à Merostachys spp.
O uso do bambu gigante (Dendrocalamus spp.) e do bambu nacional ou
verde-amarelo (Bambusa vulgaris) foi relatado por um dos artesãos entrevistados,
mas o mesmo relatou que deixou de usá-los como matéria-prima no fabrico de
talheres. O primeiro devido à dificuldade em achá-lo na região e o segundo, apesar
de ter em abundância na região em que reside, foi descartado por ser considerado
21
mole para o fabrico de talheres e sujeito ao ataque de brocas, passando a usar o
bambu mossô por ser mais resistente para este tipo de material.
Dos gêneros utilizados pelos artesãos somente Merostachys e Olyra
possuem representantes de espécies nativas no Brasil, os demais são gêneros
exóticos introduzidos pelos colonizadores portugueses e, mais recentemente, por
imigrantes asiáticos. Entre os bambus e/ou taquaras citados, somente as espécies
pertencentes aos gêneros Dendrocalamus e Phyllostachys apresentam áreas
cultivadas no país.
A partir dos colmos, os mais diversos tipos de produtos são confeccionados.
Três artesãos entrevistados indicaram sua utilização para confecção de móveis.
Dois outros citaram seu uso para fabrico de objetos diversos (brincos, brinquedos,
treliças, luminárias, revisteiros, porta-retratos, entre outros). Um outro entrevistado
citou a confecção de incensários a partir dos colmos; outro para fabrico de talheres e
outro para confecção de cestarias. O uso do colmo somente para acabamento de
outros artesanatos foi indicado por apenas um outro entrevistado.
Cada artesão manuseia um tipo específico de colmo e cada um,
independentemente, estabeleceu uma forma de coleta e de processamento dos
colmos, pois, segundo os entrevistados, o bambu é uma planta de difícil manuseio e
necessita tratamento para garantir sua durabilidade e evitar o ataque de insetos
(FIGURA 1).
No que se refere à coleta dos colmos o padrão usual relatado por alguns
artesãos foi o corte na base dos colmos, após o corte alguns artesãos deixam os
colmos na vertical para a saída da seiva e secagem. No entanto, o artesão que
utiliza o bambu balde (Dendrocalamus spp.) relatou que, por esse bambu ser muito
grande e se emaranhar no ápice com árvores, ele amarra uma corda ao redor dos
colmos e puxa com trator para derrubá-los. Este mesmo artesão relatou cortar os
colmos na região do nó para não haver acúmulo de água.
Um fator coincidente entre dois artesãos, que moravam em municípios
distintos, foi o relato de que a fase da lua minguante é o melhor período para coleta
dos colmos. Ambos afirmaram que neste período a seiva desce para a “raiz” e não
fica acumulada no colmo, evitando o ataque de insetos.
22
FIGURA 1 – Colmos verdes de taquara (Merostachys sp.) na vertical para saída da seiva e treliças
confeccionadas pelo artesão no município de Antonina (PR)
FONTE: O autor (2006)
Dentre as técnicas relatadas por alguns artesãos, para evitar o ataque de
insetos aos colmos, pode-se citar o cozimento dos colmos e o uso do maçarico. Um
dos artesãos, quando iniciou o trabalho com bambu cozinhava os colmos coletados,
mas parou de usar esta técnica, pois era muito trabalhosa, cansativa e manchava
muito os colmos. Ele passou a utilizar o maçarico, técnica que aprendeu sozinho,
pois o calor faz o colmo soltar um óleo que quando espalhado pelo colmo fornece
brilho e evita o ataque de insetos (FIGURA 2). Nesta técnica ele relatou que após
espalhar o óleo deixa os colmos secando por cerca de 3 meses. Um outro artesão
relatou que utiliza tanto o cozimento quanto o maçarico no processamento dos
colmos. Outro artesão, que utilizava os colmos no acabamento de outros
artesanatos, relatou que utiliza o maçarico no processamento dos colmos logo após
sua coleta. O uso de estufa elétrica para secagem dos colmos foi relatado por
apenas um artesão.
23
FIGURA 2 – Artesão utilizando maçarico para soltar óleo que dá brilho ao colmo da taquara
(Merostachys sp.). Ao fundo, colmo de bambu-balde (Dendrocalamus sp.)
FONTE: O autor (2006)
Para cinco dos entrevistados não há sazonalidade na oferta e demanda,
realizando produção mais ou menos constante ao longo de todo o ano. Outros
quatro indicaram as férias de final de ano (meses de dez., jan., fev. e mar.) como a
melhor época de venda.
Dos entrevistados, apenas um possui loja própria, localizada no município de
Paranaguá e atende moradores da região, turistas e consumidores no exterior que
encomendam seu artesanato por site na internet
1
(FIGURA 3). Os demais
entrevistados indicaram vender somente para lojistas (3), sob encomenda (3),
lojistas e/ ou moradores/ turistas da região (2) e turistas e/ou moradores (1).
O preço de cada peça é via de regra, definido pelo artesão com base na
complexidade do feitio como, por exemplo, a necessidade de encaixes e amarrações
especiais. O preço mínimo de venda registrado foi R$ 2,50 para talheres e o máximo
R$ 800,00 para uma estante grande (aproximadamente 2,0 m x 2,0 m). Estes
valores correspondem ao valor repassado ao consumidor e não ao valor de custo,
pois estes dois produtos são confeccionados por artesãos que são proprietários de
pontos de venda (respectivamente, barraca na Feira do Largo da Ordem (Curitiba –
PR) e Loja Atelier Art’s Bambu (Paranaguá – PR)).
1
www.daicobambu.wppr.com
Especificamente, um dos artesãos entrevistados relatou que para melhor
aproveitamento do recurso seriam necessários cursos para melhorar a produção,
tratamentos químicos dos colmos e novas técnicas para utilizar em acabamentos.
Um outro relatou que devido à dificuldade em inserir seus produtos no mercado
optou por outro negócio, passando a realizar o trabalho artesanal com bambu e/ou
taquara somente sob encomenda. Outros relataram que o uso do bambu e/ou
taquara é um trabalho custoso, desde a retirada dos colmos até a realização da
mão-de-obra e o retorno financeiro nem sempre compensa.
Uma queixa comum entre os entrevistados refere-se à carência de apoio de
instituições públicas e/ou privadas, especialmente no que se refere às alternativas
de design, processamento da matéria prima e melhor inserção de mercado.
24
FIGURA 3 – Loja (Atelier Art’s Bambu) de artesão localizada no município de Paranaguá (PR): vista
geral de diversos artigos confeccionados pelo proprietário
FONTE: O autor (2006)
25
Nome
Popular
Espécie Potencial
A FEIARTE Ourizona (PR)
"Bambu-de-
jardim"
Phyllostachys spp.
Propriedade
de 10
alqueires
Colmo
Trabalho trançado
para cestarias
Comerciantes de diferentes
municípios e moradores da
região
Mín. R$ 5,00
Máx R$ 30,00
B FEIARTE
Quitandinha
(PR)
Cana-da-Índia
Phyllostachys spp.
Matas nos
arredores de
Quitandinha
Colmo Móveis
Comerciantes de diferentes
municípios (principalmente
Curitiba)
A partir de R$
80,00
C
Feira Largo da
Ordem
Curitiba Bambu Mossô Phyllostachys spp.
Matas nos
arredores de
Curitiba e
Registro
Colmo Talheres
Moradores da Cidade e
Turistas
Mín. R$ 2,50
Máx R$ 3,00
D
Indicação
Comerciante
Curitiba
Bambu do
Reino
Dendrocalamus spp.
Extratores de
Sta Catarina
Colmo Móveis e molduras Comerciante de Sta. Feliciade Não quis informar
E
Indicação
Comerciante
Paranaguá
Bambu Rei
(Africano) e
Taquarinha
Bambu Rei: não
identificado
Taquarinha: Olyra spp.
Propriedade Colmo
Artesanatos Diversos
(talheres, bengala,
castiçal, porta-vinho,
porta-retrato, porta
jóias, fontes,
luminárias, revisteiro,
porta canetas)
Possui a própria loja
Exporta pelo site sob
encomenda
Mín R$ 20,00
Máx R$ 800,00
F
Feira
Artesanato
Morretes
Morretes
Taquara e
Taquarinha
Taquara: Merostachys
spp.
Taquarinha: Olyra spp.
Propriedade
(sítio 1500 m
2
)
Colmo
Acabamento para
artesanatos feitos
com fibra de
Bananeira
Comércios em Curitiba e
Turistas da Região
Não quis informar
G
Indicação
Comerciante
Antonina
Taquara e
Bambu balde
Taquara: Merostachys
spp.
Bambu balde:
Dendrocalamus spp.
Mata Colmo
Artesanatos sob
encomenda (treliças,
tochas, porta facas,
trem, luminárias)
Sob encomenda
Mín R$ 5,00
Máx R$ 50,00
H FEIARTE
Mandaguaçu
(PR)
Bambu
Merostachys spp.
Matas nos
arredores de
Mandaguaçu
Colmo Incensário Sob encomenda
A partir de R$
25,00
I FEIARTE
Campina
Grande do Sul
(PR)
Bambu
Merostachys spp.
Matas nos
arredores da
região
Colmo Móveis Sob encomenda
Depende do
acabamento
PREÇO DE
VENDA
ORIGEM DO
MATERIAL
PARTE
UTILIZADA
FORMA DE
UTILIZÃO
COMPRADOR
ESPÉCIE
ARTESÃO LOCALIDADE
CIDADE DE
ORIGEM
QUADRO 1 – Resumo das informações levantadas durante as entrevistas com artesãos em levantamento etnobotânico realizado Curitiba (PR) e litoral do
Paraná.
FONTE: O autor (2006)
26
1.3.2 Levantamento comercial
As entrevistas foram realizadas em oito estabelecimentos comerciais, dos
quais cinco localizados no Município de Morretes, um no Mercado Municipal de
Paranaguá e dois em Curitiba, no Bairro de Santa Felicidade (QUADRO 2).
Estabelecimento Produtos Comercializados Origem Preço Mín Preço Máx Sazonalidade Perfil consumidor
A: Entreartes Decorações
(Santa Felicidade)
cestaria, móbiles, cortina,
gaiola, rede, sino dos ventos,
tocha, aparador, cama
MG R$ 25,00 R$ 185,00
datas
comemorativas
turistas e região
B: Arte da Terra
(Morretes)
quadro, floreira, descanso de
prato, fonte, sino dos ventos,
mexedor de suco, cortina,
vaso, porta incenso
Morretes e
SP
R$ 1,50 R$ 79,90 férias de verão turistas
C: Comercial Elsenezer
(Morretes)
móveis(jogo e sofá, cadeira),
vara de pescar
Antonina
(móveis) e
SC (varas)
R$ 2,00 R$ 450,00
férias de verão
(jan / mar)
turistas e nativos
D: Artesanato Moringa de
Barro (Morretes)
sino dos ventos, tocha
Morretes
(tocha) e MG
(sino)
R$ 10,00 R$ 12,00 ano inteiro turistas
E: Artesanato Carmem
Maria (Morretes)
cachepô não informou R$ 39,90 R$ 39,90 ano inteiro turistas
F: Mercado Municipal
Paranaguá (barraca
Jarede)
vara de pescar, cortina, sino
dos ventos, cestas de
taquara, palito para espetinho
NE (cortina),
Prngua(sino),
Ilha Cutinga
(cestos), Ilha
Valadares
(espetinhos)
R$ 2,00 R$ 80,00
férias de verão
ao longo do ano:
espetinho e sino
turistas e nativos
G: Encantos da Terra
(Morretes)
luminária, vaso, revisteiro,
treliça, bandeja, brincos,
mesa, fonte, estante, sino
dos ventos, tocha, ninho,
talher, incensário, suporte
para cachaça, porta vela,
portaretrato, relógio, porta
guardanapo, oratório, espelho
Morretes, N
(sino),
Matinhos
(incensários)
R$ 3,00 R$ 500,00 férias de verão turistas
H: Bambu Minatto (Santa
Felicidade)
móveis (mesa de centro, jogo
de sofá, cadeira, mesa,
aparador), badeja, tocha
Maringá R$ 20,00 R$ 450,00 ano inteiro turistas
QUADRO 2 – Resumo das informações levantadas junto aos estabelecimentos comerciais em
levantamento etnobotânico realizado em Curitiba (PR) e litoral do Paraná.
FONTE: O autor (2006)
Os estabelecimentos pesquisados apresentavam grande variedade de
artesanatos feitos de bambu e/ou taquara (Figura 4), desde pequenos brincos e
incensários, até conjuntos de móveis (jogo de sofá, poltronas, cadeiras, mesa de
centro e aparador). Assim como os artigos variaram, o mesmo aconteceu com os
preços, cujo valor estava associado ao tamanho e complexidade do produto, bem
27
como à distância do fornecedor, tendo sido registrados os valores mínimo e máximo,
respectivamente, de R$ 1,50 (talher) e R$ 500,00 (estante).
No que diz respeito à origem dos artesanatos, cinco estabelecimentos
vendiam produtos provenientes do litoral paranaense (municípios de Morretes,
Antonina, Ilha Valadares e Ilha da Cutinga) e três outros também vendiam produtos
provenientes de outras regiões do país (Norte, Nordeste, Sudeste e Sul). De acordo
com os entrevistados, a busca adicional de artesanatos com bambu e/ou taquara
nestas outras regiões resulta em maior variedade de oferta ao consumidor.
FIGURA 4 – Diferentes artesanatos feitos de bambu vendidos em lojas de artesanato de Curitiba (PR)
FONTE: O autor (2006)
Todos os estabelecimentos visitados indicaram turistas como sendo os
principais consumidores de artesanatos feitos com bambus e taquaras. Moradores
dos Municípios onde estes estabelecimentos estão localizados foram indicados
como outro tipo de consumidor destes produtos.
Em relação à sazonalidade, metade dos estabelecimentos indicou as férias
de verão (dezembro a março) como o período de maior procura pelo artesanato de
bambu e/ou taquara, dado que neste período há aumento da circulação de turistas.
Alguns referenciaram as datas comemorativas (dia das mães, Natal, dia dos
namorados, etc.) como período de maior busca por este tipo de artesanato. Para
28
três dos estabelecimentos entrevistados, a procura permanece relativamente,
constante ao longo do ano.
A maioria dos lojistas entrevistados relatou que o volume de compra e venda
varia muito entre os diferentes tipos de artesanato. Um deles relatou que comprava
cerca de 2000 cestas por mês, que possuía volume de venda alto, ao mesmo tempo
em que comprava 5 redes ao ano, porque este item era de venda esporádica. Um
outro realizava compras pequenas e somente de peças diferenciadas. A partir das
entrevistas realizadas em todos os estabelecimentos, percebeu-se que artesanatos
de grande volume como, por exemplo, cortinas, redes e móveis, apresentam pouca
saída devido ao preço mais elevado, o que leva a um menor volume de compra e de
venda.
29
1.
4 DISCUSSÃO
O artesanato brasileiro é um setor da economia cujo crescimento possui alto
potencial de geração de trabalho e renda. O manejo da matéria prima, a produção, a
divulgação e a comercialização do produto artesanal tanto no mercado interno
quanto no externo são os elos de sua cadeia produtiva (PAB, 2008).
No entanto, apesar de o artesanato ser capaz de gerar emprego e renda a
falta de padronização, bem como a pequena quantidade produzida e a ausência de
recursos e informações sobre o mercado por parte dos artesãos são empecilhos
para o artesanato conquistar grandes mercados (LÓCIO; POMPEU, 2006).
Nesse contexto, a organização social dos artesãos apresenta-se como um
instrumento estratégico importante para seu fortalecimento econômico, podendo
favorecer a superação do isolamento do setor e também mediar relações de
interesse com outros agentes econômicos e institucionais.
No caso específico da população de artesãos aqui avaliada, notou-se que os
artesãos, de uma mesma região, não estão organizados e nem recebem apoio de
nenhuma instituição para sua mobilização e/ou busca de sua inserção nos espaços
de formação, comercialização e/ou discussão.
Para tanto, se faz necessária a presença de articuladores como, ONGs,
grupos de fomento/apoio e instituições públicas, para que estes artesãos consigam
se organizar, mas sem torná-los dependentes de sua presença e atuação.
Estes articuladores podem interagir de forma cooperativa para potencializar
o uso sustentável de um capital natural disponível a favor do desenvolvimento local
(CASAGRANDE; UMEZAWA; TAKEDA, 2003).
Dentro deste contexto, observou-se que os comerciantes não valorizam os
produtores locais, visto que buscam novidades e produtos diferenciados em outras
regiões do país, como Norte e Nordeste. Mais uma vez, ressalta-se a necessidade
da presença dos articuladores para que haja esta conexão e também forneçam
formação aos artesãos para que os artesanatos com bambu e/ou taquara
produzidos na região tornem-se interessantes aos comerciantes.
Nesse ponto de vista, de acordo com Coelho (2006), insere-se a prática da
Economia Solidária, em que a atuação dos articuladores não se limita às questões
econômicas, mas sim dentro da teoria do desenvolvimento sustentável; desenvolve
30
um ciclo que engloba produção, relação humana, associativismo, materiais utilizados
para a produção e comercialização e, neste caso, inclui a distribuição, o escoamento
e a relação com o consumidor e os resíduos gerados.
Como segundo ponto, destaca-se a necessidade de geração de
conhecimento sobre a biologia das espécies de bambu e/ou taquaras utilizadas
pelos artesãos, uma vez que seus colmos são as partes mais utilizadas para a
confecção dos diferentes artesanatos. Conseqüentemente, os colmos são extraídos
sem a realização de um controle, baseados no conhecimento tradicional dos
artesãos, o qual está fundamentado no conceito de que os colmos dos bambus
crescem rapidamente.
Nesse contexto, de acordo com Burman; Filgueiras (1993), os ecossistemas
que abrigam algumas espécies nativas de bambu e taquaras estão sendo
destruídos, salientando a necessidade de proteção destas espécies do corte
indiscriminado e da extinção.
A exploração de espécies nativas de bambu na América Latina está limitada
ao uso local de espécies encontradas próximas às comunidades. De acordo com
Londoño (2001), somente no Brasil, Colômbia e Equador o bambu exerce um papel
mais evidente na economia local. Segundo a autora, dentre os bambus lenhosos
nativos do Brasil os gêneros Actinocladum, Apoclada, Chusquea, Guadua e
Merostachys apresentam potencialidade de usos como PFNM. No entanto, o
levantamento etnobotânico realizado neste estudo evidenciou o uso em maior escala
de espécies exóticas para a confecção de artesanato o que leva a uma pressão
negativa na dinâmica florestal, devido à presença destas espécies em áreas
naturais. Portanto, o incremento do uso de espécies nativas levaria a uma
diminuição dos impactos negativos causados pelas espécies exóticas de bambus.
Nesta perspectiva, salienta-se a necessidade da realização de estudos ecológicos
que busquem fornecer informações seguras para a elaboração de planos de manejo
adequados para as espécies nativas utilizadas com vistas à sua manutenção e não
somente sua exploração.
31
1.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com o levantamento etnobotânico realizado junto aos artesãos e
estabelecimentos comerciais infere-se que em relação àqueles não há organização
do grupo em associações e/ou cooperativas e nem recebem apoio de instituições
para sua formação, inserção de seus produtos no mercado, fornecimento de cursos
e/ou técnicas de processamento dos colmos dos bambus. No que se refere aos
estabelecimentos comerciais levantados estes não valorizam os artesãos locais,
visto que buscam produtos manufaturados com bambus e/ou taquaras em outras
regiões.
Em relação ao extrativismo de colmos para artesanato, devido à exploração
predatória, sugere-se a realização de estudos ecológicos para o manejo adequado
dos bambus e/ou taquaras utilizados, buscando sua manutenção e não somente sua
exploração.
32
1.6 REFERÊNCIAS
BOLETIM FLORESTAL, Bambu matéria prima do futuro. Boletim Florestal, Santo
Antônio da Platina, ano 1, ed. 6, dezembro 2007. Disponível em:
<http://www.forestbrazil.com.br>. Acesso em: 01/06/2008.
BURMAN, A. G.; FILGUEIRAS, T. S. A review of the woody bamboo genera of Brazil
(Gramineae: Bambusoideae: Bambuseae). Thaiszia, Kosice, n. 3, 53-88, 1993.
BRITO, J. O.; TOMAZELLO FILHO, M.; SALGADO, A. L. B. Produção e
caracterização do carvão vegetal de espécies e variedades de bambu. IPEF,
Piracicaba, n.36, p. 13-17, 1987.
CASAGRANDE JR, E. F.; UMEZAWA, H. A.; TAKEDA, J. Arranjo produtivo local
sustentável: estudo de caso para o uso do potencial do bambu na geração de
emprego e renda no Paraná. XXIII Encontro Nac. de Eng. de Produção, Ouro
Preto, 2003.
COELHO, J. Economia solidária e desenvolvimento sustentável: análise preliminar
visando avaliar os espaços da economia solidária no RS. Grupo de Pesquisa 13:
Socioeconomia Solidária e Desenvolvimento Local. In: XLIV CONGRESSO DA
SOBER: “Questões Agrárias, Educação no Campo e Desenvolvimento”. Artigo...
Fortaleza, 2006. Disponível em: < http://www.sober.org.br>. Acesso em: 16/04/2008.
CROUZET,Y.; CROUZET, J.; STAROSTA, P. Bambus. Itália: Evergreen, 1998.
DIVER, S. BAMBOO: a multipurpose agroforestry crop. ATTRA Appropriate
Technology, 2001. Disponível em: <www.atra.ncat.org.br>. Acesso em: 15/10/2006.
KUMAR, A.; SASTRY, C. B. The International Network for Bamboo and Rattan. In:
Unasylva: non-wood forest products and income generation. FAO: Roma, n.
198, 1999. Disponível em:
<http://www.fao.org/docrep/x2450e/x2450e0a.htm#TopOfPage>. Acesso em:
23/11/2006
IBAMA Tecnologia do Bambu. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/ambtec>.
Acesso 20/01/2008.
33
LÓCIO, A. B.; POMPEU, G. I. Artesanato cearense: mudança de posicionamento
estratégico do assistencialismo para o empreendedorismo. II Encontro Economia do
Ceará em Debate. Artigo... IPECE, Fortaleza, 2006. Disponível em:
<http://www.ipece.ce.gov.br/encontro/2006/aprigio.pdf>. Acesso em 13/05/2008.
LODOÑO, X. Evaluation of bamboo resources in Latin America. INBAR Working
Paper, Cali, n. 35, 2001.
PAB Programa do Artesanato Brasileiro. Disponível em:
<http://pab.desenvolvimento.gov.br>. Acesso em: 13/05/2008.
PANT, M. M.; VARMALI, J. C. Production and utilization of bamboos. Indian
Forester, Dehra Dun, v. 107, n. 8, p. 465-476, 1981.
SBRT Resposta técnica. Serviço Brasileiro de Respostas Técnicas, Rio de Janeiro,
2006. Disponível em: <http://sbrtv1.ibict.br/upload/sbrt2658.pdf>. Acesso em:
01/06/2008.
VASCONCELLOS, R. M. Bambúes en Brasil: una visión histórica y perspectivas
futuras. 2006. Disponível em: <www.bambubrasileiro.com/arquivos>. Acesso em:
23/08/2007.
WONG, K. M. Bamboo the amazing grass: a guide to the diversity and study of
bamboos in southeast Asia. Kuala Lumpur: IPGRI/University of Malaya, 2004.
34
Parte 2: Merostachys skvortzovii Sendulsky: aspectos botânicos e ecológicos
2
2.1 INTRODUÇÃO
Os bambus são plantas que ocorrem naturalmente em todos os continentes,
exceto no Europeu, apresentando mais de 1.200 espécies espalhadas pelo mundo,
divididas em cerca de 90 gêneros. São um grupo diverso com capacidade de
propagar-se em regiões inóspitas, resistir a extremos de temperaturas e sobreviver
em solos de baixa fertilidade. Crescem como pequenas gramíneas ou chegam a
extremos de 40 metros de altura (LOPEZ, 1974). Além disso, o diâmetro também
varia em larga escala e dentre as espécies existem as consideradas anãs, com
pequeno diâmetro e porte (inferior a 1 m) e outras gigantes com diâmetro superior a
20 cm (STAPLETON, 1987). No entanto, segundo Lopez (1974), as características
botânicas do bambu ainda não são totalmente conhecidas, uma vez que estas
plantas podem florescer em intervalos de 30, 60, 90 e até 100 anos, variando de
acordo com a espécie, e as flores e frutos são indispensáveis para este
conhecimento.
Dentre as inúmeras possibilidades de uso do bambu pode-se citar: a
fabricação de papel, carvão, móveis, cestarias, luminárias, cortinas, objetos de
decoração, utensílios domésticos, na construção civil e rural, irrigação e
conservação do solo e como elementos de projetos paisagísticos (PANT; VARMALI,
1981; CROUZET; CROUZET; STAROSTA, 1998). O bambu pode ser utilizado,
ainda, como combustível, substituindo o uso tradicional e, muitas vezes, predatório
de madeiras importantes para os ecossistemas. Por ser um recurso natural
renovável, a intensificação de seu uso pode contribuir para diminuir a pressão da
procura por madeiras nobres – especialmente aquelas em risco de extinção – bem
como também complementar o uso de madeiras de florestas plantadas, cuja
demanda cresce além da capacidade instalada no país (IBAMA, 2008). Desta forma,
a exploração sustentável de espécies nativas de bambu, subsidiada por estudos
ecológicos é um nicho importante a ser explorado como fonte de renda,
2
Trabalho a ser submetido à Revista Visão Acadêmica (ISSN 1518-5192)
35
especialmente no Brasil onde os bambus nativos ainda não são utilizados em toda
sua potencialidade.
Visando contribuir para o melhor entendimento da flora brasileira no que
concerne à família Poaceae, Subfamília Bambusoideae, apresenta-se resultado de
revisão bibliográfica sobre aspectos botânicos e ecológicos de Merostachys
skvortzovii Sendulsky, espécie de ocorrência freqüente na Floresta Ombrófila Mista
no Estado do Paraná.
2.2 DESENVOLVIMENTO DO TEMA
2.2.1 Classificação botânica
Em termos taxonômicos Merostachys skvortzovii Sendulsky
3
está
categorizada em (JUDZIEWICZ et al., 1999):
Família Poaceae (Gramineae)
Subfamília Bambusoideae
Tribo Bambuseae
Subtribo Arthrostylidiinae:
Gênero Merostachys Sprengel
Espécie Merostachys skvortzovii Sendulsky
A família Poaceae é considerada uma das maiores do grupo das
Angiospermas, apresentando ampla distribuição geográfica com cerca de 9000
espécies distribuídas em 650 gêneros. No Brasil ocorrem 1500 espécies
pertencentes a 180 gêneros. São plantas de grande importância econômica, com
destaque o cultivo para fins alimentícios, mas também com usos artesanal,
ornamental e medicinal. As gramíneas podem compor campos, como forrageiras e,
raramente, podem aparecer no interior de formações florestais, exceto pelas
3
Identificação botânica realizada por Dr. Tarciso Filgueiras, IBGE – Brasília (DF).
36
Bambusoideae e outras espécies herbáceas em locais mais abertos (e.g. gêneros
Pseudochinolaena, Ichnanthus, entre outros) (SOUZA; LORENZI, 2005).
Pertencente à subfamília Bambusoideae, o gênero Merostachys foi descrito
por Sprengel e seu nome tem origem do grego meris/meros que significa porção/
parte e stachys que significa espiga (QUATTROCCHI, 2006).
A subtribo Arthrostylidiinae, à qual pertence o gênero Merostachys, é
formada por um grupo monofilético de bambus lenhosos neotropicais e é composta
de 13 gêneros e cerca de 165 espécies descritas, cujas características morfológicas
muitas vezes se sobrepõem tornando difícil a taxonomia do grupo (TYRRELL et al.,
2007).
Merostachys skvortzovii Sendulsky foi descrita em 1995, por Tatiana
Sendulsky, sendo o epíteto skvortzovii em homenagem ao botânico Boris Skvortzov,
que dedicou os últimos anos de sua vida ao estudo da flora brasileira (SENDULSKY,
1995; QUATTROCCHI, 2006).
De acordo com Sendulsky (1995), há um grupo de 10 espécies de
Merostachys de difícil distinção entre si, que não podem ser agrupadas sob o
mesmo nome e que muitas vezes são erroneamente identificadas como
Merostachys multiramea Hackel, entre as quais está inserida M. skvortzovii. Algumas
delas já foram descritas e apresentam equívoco de identificação e outras são
claramente novas espécies, como é caso de M. skvortzovii.
2.2.2 Descrição botânica
O gênero Merostachys, de maneira geral, é representado por plantas
lenhosas, de colmos eretos com uma leve curvatura no ápice e inflorescências
racemiformes, apresentando uma relação taxonômica próxima ao gênero
Rhipidocladum (LONDOÑO, 1996). Inclui espécies semelparas e monocárpicas, ou
seja, que apresentam apenas um evento de reprodução sexuada em sua vida,
morrendo sincronicamente após o mesmo.
37
a
b
FIGURA 5 – a) Detalhe do nó em colmo de M. skvortzovii; b) Colmo de M. skvortzovii cortado
evidenciando seu interior oco;
FONTE: O autor
Merostachys skvortzovii é uma taquara lenhosa que apresenta crescimento
vegetativo por meio de rizomas do tipo paquimorfo, que se caracteriza por ser sólido,
grosso, curto, achatado dorsiventralmente e curvado para cima. Apresenta colmos
ocos (4-6 m) que formam densas touceiras, nós salientes com leve pubescência
esbranquiçada acima e abaixo (FIGURA 5: a e b); inflorescências (1,5-3 cm)
terminais nas folhas dos ramos com espiguetas solitárias, unifloras, acuminadas e
fusiformes e 2 glumas desiguais; cariopses com 5 mm de comprimento, ovais,
arredondadas no ápice, rostradas, amarelo-acinzentadas, macias, com hilo linear e
embrião dificilmente visível (FIGURA 6: a, b e c) (SENDULSKY, 1995; CLAYTON;
HARMAN; WILLIAMSON, 2002).
38
a
b c
FIGURA 6 – a) Aspecto geral de um ramo com inflorescências de M. skvortzovii; b) Detalhe das
inflorescências de M. skvortzovii; c) Cariopses de M. skvortzovii.
FONTE: SANQUETTA (2002)
2.2.3 Distribuição e ocorrência
O gênero Merostachys apresenta cerca de 48 espécies distribuídas desde a
Guatemala até a Argentina, sendo a maior diversidade encontrada no Brasil.
Encontram-se desde o nível do mar até 1500 m de altitude. Das espécies brasileiras,
87% encontram-se distribuídas nas florestas montanas do leste e sudeste brasileiro
e desempenham importante papel ecológico nos ecossistemas em que se
encontram, devido à sua influência na regeneração de espécies arbóreas
(SENDULSKY, 1995; LONDOÑO,1996; QUATTROCCHI, 2006; FARRELLY, 1984).
Há registro da ocorrência de M. skvortzovii em São Paulo, Paraná e Rio
Grande do Sul (SENDULSKY, 1995). No Estado do Paraná, representantes desta
espécie foram coletados nos municípios de Palmas e General Carneiro, em região
de Floresta Ombrófila Mista (FIGURA 7).
De acordo com a legislação do Estado de São Paulo, esta espécie está
incluída na lista de espécies da flora ameaçadas de extinção (SMA, 2004).
39
FIGURA 7 – Floresta Ombrófila Mista com Merostachys skvortzovii Sendulsky (colmos eretos)
e Chusquea sp. (prostrada)
FONTE: SANQUETTA (2002)
2.2.4 Fenologia
Quanto à fenologia de M. skvortzovii, coleções conhecidas são de 1941 e
1972-1974, sugerindo um ciclo de florescimento de 31-33 anos (SENDULSKY,
1995). Em 2004, registrou-se início de massivo florescimento e conseqüente
mortalidade (2005-2007) de touceiras de M. skvortzovii em diversas localidades do
sul do Estado do Paraná e norte de Santa Catarina. Com base em registros de
florescimento, para esta região, em herbário (Hatschbach et al. 28267, NY, SP,
1971) e no florescimento e mortalidade registrados em 2004-2007 confirma-se o
ciclo fenológico de aproximadamente 33 anos.
40
2.2.5 Usos e aplicações
Especificamente para M. skvortzovii, não se detectou registro de uso.
Ressalta-se, no entanto, que dado ao potencial de identificação equivocada,
especialmente, em relação à M. multiramea, esta ausência de registro pode não
representar a realidade de uso desta espécie.
Dentre as espécies de bambus lenhosos nativos, presentes no Brasil, o
gênero Merostachys, recebe destaque por ser um grupo com grande potencialidade
de uso como produto florestal não madeirável (PFNM) (LONDOÑO, 1996).
De acordo com Farrelly (1984), de maneira geral espécies de Merostachys
sp. são utilizadas na confecção de instrumentos musicais, como flautas, e na
confecção de cestos. No Brasil, segundo Bystriakova; Kapos; Lysenko (2004),
Merostachys spp. são utilizadas na fabricação de cestarias, no artesanato e, em
menor, escala na construção.
No Brasil, dos 17 gêneros nativos de Bambusoideae, somente cinco, dentro
os quais Merostachys, podem ser potencialmente utilizados na indústria de papel e
celulose (KAHLER, 2006). Especificamente, para o cerrado brasileiro cita-se a
obtenção de polpa celulósica a partir de espécies de Merostachys, juntamente com
espécies nativas de Chusquea e Arundinaria (CEBRAC, 1999).
Guilherme; Ressel (2001) citam o uso dos colmos de Merostachys riedeliana
Rupr. na construção de forros e balaios em propriedades rurais. Em Santa Catarina,
no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, outra espécie de taquara é utilizada
pelos índios na confecção de cestaria - seu artesanato de maior visibilidade,
importância e aceitação. Os guaranis Mbya, que habitam essa região, fabricam seus
cestos, chamados de ajaka ou balaio, com três tipos de bambu, dentre eles
Merostachys clausenii, também chamado de bambu pequeno ou takuapi (LITAIFF;
DARELLA, 2000).
Em Honduras, dentre os bambus utilizados para artesanato, inclui-se
Merostachys argyronema Lindman que representa 66,6% da demanda de matéria
prima (VALLE; BARBOSA; SOTO, 2000).
41
2.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da revisão bibliográfica do gênero Merostachys e de M. skvortzovii
pode-se concluir que as informações sobre aspectos taxonômicos, biológicos e
ecológicos sobre ambos são ainda escassas. Desta forma, sugere-se a realização
de estudos mais aprofundados com a realização de levantamento etnobotânico
desta espécie em comunidades tradicionais próximas às áreas de ocorrência natural
de Merostachys skvortzovii como forma de iniciar e/ou estimular seu uso, desde que
suportado pelo manejo sustentável das populações.
42
2.4 REFERÊNCIAS
BYSTRIAKOVA N.; KAPOS V.; LYSENKO I. Bamboo biodiversity: Africa,
Madagascar and the Americas. Cambridge: UNEP-WCMC/INBAR, 2004.
Disponível em: < http://www.unep-
wcmc.org/resources/publications/UNEP_WCMC_bio_series/19.htm>. Acesso em:
22/04/2006.
CEBRAC Oportunidades de geração de renda no cerrado: texto para
discussão. Brasília: CEBRAC, 1999.
CLAYTON, W. D.; HARMAN, K. T.; WILLIAMSON, H. Merostachys skvortzovii World
Grass Species: descriptions, identification, and information retrieval, 2002.
Disponível em: <http://www.kew.org/data/grasses-db.html>. Acesso em: 08/11/2007
CROUZET,Y.; CROUZET, J.; STAROSTA, P. Bambus. Itália: Evergreen, 1998.
FARRELLY, D. The book of bamboo. San Francisco: Sierra Club Books, 1984.
GUILHERME, F. A. G.; RESSEL, K. Biologia floral e sistema de reprodução de
Merostachys riedeliana (Poaceae: Bambusoideae). Revista Brasileira de Botânica,
v. 24, n. 2, p. 205-211, 2001.
IBAMA Tecnologia do Bambu. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/ambtec>.
Acesso 20/01/2008.
JUDZIEWICZ, E.J. et al. American bamboos. Washington and London: Smithsonian
Institution Press, 1999.
KAHLER, C. G. Global forest resources assessment 2005: report on bamboo
thematic study in the framework of FAO FRA 2005 for Latin America (Brazil, Chile,
Ecuador, Mexico, Peru). Working Paper, Rome, n. 123, 2006.
LITAIFF, A.; DARELLA, M. D. P. Os índios guarani Mbya e o Parque Estadual da
Serra do Tabuleiro. XXII Reunião Brasileira de Antropologia. Fórum de Pesquisa
3: “Conflitos Sócio-ambientais e Unidades de Conservação.” Brasília, 2000.
43
LONDOÑO, X. Diversity and distribution of new world bamboos, with special
emphasis on the Bambuseae. INBAR Working Paper, New Dheli, n. 8, 1996.
LOPEZ, O. H. Bambu su cultivo y aplicaciones en: fabricación de papel,
construcción, arquitectura, ingeniería, artesanía. Colombia: Italgraf, 1974.
PANT, M. M.; VARMALI, J.C. Production and utilization of bamboos. Indian
Forester, Dehra Dun, v. 107, n. 8, p. 465-476, 1981.
QUATTROCCHI, U. CRC world dictionary of grasses: common names, scientific
names, eponyms, synonyms and etymology. Boca Raton: CRC Press, 2006.
SANQUETTA, C. R. Impacto do controle mecânico de taquaras (Bambusoideae)
sobre a regeneração de araucária e espécies associadas numa área de
Floresta Ombrófila Mista. General Carneiro: Labiratório de Inventário Florestal –
UFPR, 2002. 250 p. (CNPq – Pesquisas Ecológicas PELD SITE 9: Floresta de
Araucária e suas transições. Edital 001/97) Projeto em andamento
SENDULSKY, T. Merostachys multiramea (Poaceae: Bambusoideae: Bambuseae)
and similar species from Brazil. Novon, Saint Louis, v. 5, p. 76-96, 1995.
SMA Espécies da flora ameaçadas de extinção no estado de São Paulo. Secretaria
de Estado de Meio Ambiente: Resolução SMA 48, 2004. Disponível em:
<http://sigam.ambiente.sp.gov.br/Sigam2>. Acesso em: 25/03/2008.
SOUZA, V. C.; LORENZI, H. Botânica sistemática: guia ilustrado para
identificação das famílias de Angiospermas da flora brasileira baseado em
APG II. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2005, p. 177.
STAPLETON, C.M.A. Bamboos, Gramineae. In: JACKSON, J. K. Manual of
Afforestation in Nepal. Kathmandu,1987, p. 199-214. Disponível em: <
http://bamboo-identification.co.uk/Jacksonbamboo.pdf>. Acesso em: 13/04/2006
TYRRELL, C. D.; SANTOS-GONÇALVES, A. P.; TRIPLETT, J.K.; CLARK, L. G.
Polyphyly of the New World fan-branching bamboos (Poaceae: Bambusoideae).
Botany & Plant Biology Joint Congress. Resumo... Systematics Seccion, 2007.
Disponível em: < http://www.2007.botanyconference.org>. Acesso em: 15/03/2008.
VALLE, G. R. R.; BARBOSA, K. O.; SOTO, R. V. Evaluación de los productos
forestales no madereros en América Central. FAO, Turrialba, 2000.
44
Parte 3:
Dinâmica de produção e mortalidade de colmos na fase de pré-
florescimento em Merostachys skvortzovii Sendulsky
3.1 INTRODUÇÃO
Algumas espécies de plantas perenes combinam a reprodução sexuada, por
sementes, com a assexuada, por propagação vegetativa. Eckert (2002) destaca que
as proporções relativas dos descendentes gerados e recrutados por estes dois tipos
de propagação variam muito dentro de uma espécie, devido a fatores ecológicos
e/ou genéticos que limitam ou favorecem um ou outro modo.
Esta característica biológica, presente nas plantas formadoras de touceiras
ou plantas clonais, possibilita que estas plantas cresçam indefinidamente por meio
da expansão horizontal, formando novas unidades denominadas ramets
4
. Isto
permite a ocupação eficiente do habitat, uma vez que os novos ramets que estão
mais distantes da planta-mãe podem explorar o novo ambiente e colonizar melhores
locais (MAKIHIKO, 2004). Portanto, a maneira como os ramets são distribuídos e
recrutados determina a base das características ecológicas das plantas clonais
(MAKITA, 1998).
Em vista disso, a produção de novos colmos e sua mortalidade nos ramets
são um dos fatores responsáveis pelo fluxo populacional de ramets em plantas
clonais. No entanto, apesar dos ramets serem capazes de crescer
independentemente, usualmente são integrados fisiologicamente por um sistema de
rizoma comum e isto pode influenciar no fluxo populacional (TAYLOR; ZISHENG,
1993). De acordo com Shanmughavel; Francis (1996), Li et al. (2000), Taylor;
Zisheng (1993) o recrutamento de colmos, em uma determinada área, depende de
diversos fatores, tais como: a idade da touceira, a quantidade de chuvas, a
temperatura, o amadurecimento de brotos, predação, disponibilidade de nutrientes
no habitat e da interação destes.
Os bambus, como plantas clonais de vida longa, apresentam um
crescimento vigoroso por meio de rizomas (MAKITA, 1998) e esta característica
4
Unidades produzidas vegetativamente (ramets), sendo que o indivíduo sexualmente gerado
(semente) é chamado genet – sensu Harper, 1977.
45
muitas vezes lhes permite invadir áreas perturbadas pelo homem ou naturalmente.
Conseqüentemente, provocam alterações na dinâmica florestal dos ecossistemas,
principalmente, quanto à regeneração das espécies arbóreas, como exemplo pode-
se citar as taquaras na Floresta Ombrófila Mista e a Guadua nas Florestas Abertas
com Bambu (CLARK, 1990; BURMAN; FILGUEIRAS, 1993; SANQUETTA et al.,
2005; SILVEIRA, 2001; STERN et al. 1999; VEBLEN, 1982).
Nesse contexto, a produtividade e clonalidade dos bambus fornecem uma
excepcional possibilidade e um desafio peculiar para a extração de seus brotos e
colmos, os quais são as partes da planta mais intensamente exploradas,
principalmente, em áreas naturais (FRANKLIN, 2006). Pelo aumento da demanda e
da diminuição de áreas florestadas, os bambus têm sofrido a super-exploração de
suas partes de interesse, principalmente, em seu ambiente natural. (BURMAN;
FILGUEIRAS, 1993; RAO; RAO, 1995; VASQUEZ-LOPES, 2000).
No entanto, pouco se conhece da dinâmica do crescimento vegetativo de
espécies tropicais (JANZEN, 1976; WONG, 1991 apud OLIVEIRA, 2000). O
crescimento vegetativo está relacionado com a expansão do rizoma, o brotamento e
emergência de novos colmos.
Neste contexto, visando contribuir para o melhor entendimento dos
bambus/taquaras enquanto plantas clonais em seu ambiente natural, o presente
estudo teve por objetivo identificar padrões e causas de variação da dinâmica de
recrutamento de colmos em uma população de Merostachys skvortzovii Sendulsky
(taquara) no período de pré-florescimento.
Segundo, Klein apud Keeley; Bond (1999); Lima (2003) e Maack (1968)
Merostachys é um dos gêneros de taquara citados como mais representativos no
Estado devido à sua abundância em formações denominadas taquarais,
especialmente associadas à Floresta Ombrófila Mista.
Especificamente, buscou-se:
1. Caracterizar morfologicamente o rizoma.
2. Avaliar dinâmica de produção e mortalidade de colmos na fase pré-
florescimento.
3. Avaliar influência de fatores extrínsecos (pluviosidade e temperatura),
sobre a dinâmica de produção e mortalidade de colmos na fase de pré-
florescimento.
46
3.2 MATERIAL E MÉTODOS
3.2.1 Área de estudo
A pesquisa foi desenvolvida em remanescente Floresta Ombrófila Mista
(FIGURA 8) localizado na propriedade das Indústrias Pedro N. Pizzatto Ltda.
(Município General Carneiro, PR, 26º 25' 39" S, 51º 18' 56" W, 983 m) (FIGURA 9).
FIGURA 8 – Vista geral de remanescente de Floresta Ombrófila Mista no município de
General Carneiro (PR).
FONTE: SANQUETTA (2002)
47
FIGURA 9 – Localização do Município de General Carneiro (PR) onde foi realizado estudo
de dinâmica de produção e mortalidade de colo em M. skvotzovii.
Esta região é caracterizada por clima do tipo Cfb (Subtropical Úmido
Mesotérmico), ou seja, temperado com verões frescos e invernos caracterizados por
geadas severas com ausência de estação seca, de acordo com a classificação de
W. Köppen (AYOADE, 1998). De maneira geral, no mês mais quente a média das
temperaturas é 22°C e no mês mais frio 18ºC (PARANÁ, 1987 apud LIMA, 2003;
IAPAR, 1994 apud LIMA, 2003).
De acordo com EMBRAPA (1984), cambissolos, associação de solos
litólicos com terra roxa estruturada, associação de terra bruna estruturada com
cambissolo e associação de solos litólicos com cambissolo são as quatro classes de
solo que caracterizam a área de estudo.
3.2.2 Espécie estudada
A taquara, Merostachys skvortzovii Sendulsky, pertencente à família
Poaceae, subfamília Bambusoideae, está presente na região Sul do Brasil, tendo
48
registros de ocorrência os Estados de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Esta
espécie é lenhosa de hábito perene, formando densas touceiras, as quais
apresentam colmos eretos e curvados no ápice. Os entrenós são ocos, verdes e
possuem parede delgada; os nós apresentam-se de forma saliente e com
pubescência tanto abaixo quanto acima. As folhas presentes nos colmos são
decíduas; as inflorescências são racemos e os frutos são cariopses ovais, amarelo-
acinzentadas (SENDULSKY, 1995; CLAYTON; HARMAN; WILLIAMSON, 2002).
3.2.3 Caracterização morfológica do sistema rizomático
A caracterização da estrutura rizomática da taquara foi efetuada de acordo
com Silveira (2001). Para tanto, realizou-se escavação com retirada da camada
superficial de solo, que foi removida cuidadosamente até a exposição do rizoma. A
escavação foi feita em ordem progressiva, ou seja, a partir de um broto que
seguramente foi produzido no ano (ausência de ramos e folhas), em direção aos
mais antigos. Esta metodologia visou caracterizar morfologicamente o rizoma de M.
skvortzovii.
3.2.4 Padrão de produção e mortalidade de colmos
A seleção das touceiras para monitoramento não pôde ser aleatória devido
ao evento de florescimento sincrônico da população da espécie estudada ocorrido
no período de 2005-2006. Portanto, devido à conseqüente morte de 80 a 90% das
touceiras selecionou-se uma área específica, onde permaneceu o remanescente de
touceiras que não floresceram. Por caminhamento na área selecionada, localizaram-
se as primeiras dez touceiras para monitoramento. Todas as dez touceiras foram
delimitadas e marcadas com fio de forma a individualizá-las para facilitar a contagem
dos brotos, colmos vivos e colmos mortos.
As dez touceiras foram delimitadas, marcadas e monitoradas mensalmente,
durante o período de 12 meses. Em cada touceira quantificou-se o número de brotos
(ausência de ramos e folhas), de colmos vivos e de colmos mortos. Esta análise
49
baseou-se em Ramanayake; Yakandawala (1998) e Taylor; Zisheng (1993). Os
resultados obtidos foram analisados estatisticamente de forma a analisar o padrão
de produção e mortalidade dos colmos.
As análises estatísticas realizadas foram referentes a Medidas de Tendência
Central, Correlação, ANOVA e Regressão linear. No que se refere à análise de
correlação utilizaram-se os seguintes intervalos para o coeficiente de correlação de
Pearson (r) como referência (RIUS; LÓPEZ, 2007; LEVINE et al., 2005):
r = +1: Correlação positiva perfeita entre os dados, à medida que x aumenta y
aumenta.
+0,8
< r < +1: Forte correlação positiva entre os dados, à medida que x
aumenta y aumenta.
+0,4 < r < +0,8: Correlação positiva moderada entre os dados, à medida que x
aumenta y aumenta.
-0,4 < r < +0,4: Fraca correlação entre os dados.
-0,8 < r
< -0,4: Correlação negativa moderada entre os dados, à medida que x
aumenta y diminui.
-1 < r < -0,8: Forte correlação negativa entre os dados, à medida que x
aumenta y diminui.
r = -1: Correlação negativa perfeita entre os dados; à medida que x aumenta y
diminui.
3.2.6 Influência de fatores extrínsecos sobre a dinâmica de produção e mortalidade
de colmos
Ao longo do ano, os valores referentes à média mensal de temperatura e
quantidade total de pluviosidade registrados para a região da área estudada, foram
levantados junto ao Sistema Meteorológico do Paraná (SIMEPAR). Estes dados
foram recolhidos a partir da estação mais próxima da área de estudo, localizada no
município de União da Vitória. A partir dos valores levantados realizou-se avaliação
sobre sua influência na dinâmica de produção e mortalidade de colmos.
50
3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.3.1 Caracterização morfológica do sistema rizomático de M. skvortzovii
O rizoma é um caule subterrâneo a partir do qual novos brotos e colmos
emergem e formam a parte aérea do bambu, sua profundidade varia entre as
espécies e depende das condições de crescimento. Cresce continuamente
ramificando-se e produzindo novos tecidos diferenciados, alternadamente, em nós e
entrenós. As raízes verdadeiras, que absorvem água e nutrientes, emergem dos nós
e, freqüentemente, são mais finas que o rizoma e não segmentadas (RECHT;
WETTERWALD, 1994). Esta estrutura está relacionada com o armazenamento e a
translocação de reservas para a emergência de novos colmos (SALGADO,
CIARAMELLO; AZZINI, 1987).
Os rizomas de Bambusoideae são classificados em paquimorfo e
leptomorfo. O primeiro é observado em espécies tropicais formadoras de touceiras e
caracterizado por ser curto e denso. O segundo, de maneira geral, é observado mais
comumente em espécies de clima temperado, como o gênero Phyllostachys, e
caracteriza-se por ser mais longo e delgado com um único broto lateral a cada nó.
No entanto, atualmente, tem-se observado que algumas espécies apresentam as
duas formas de crescimento (MAKITA, 1998). De acordo com Stapleton (1998), o
rizoma é utilizado por taxonomistas, junto com outras características, na separação
dos diferentes gêneros de bambus.
Especificamente, quanto ao rizoma M. skvortzovii a partir de escavação e
retirada da camada superficial do solo evidenciou-se rizoma do tipo paquimorfo,
coincidindo com o reportado para esta espécie em Sendulsky (1995); Londoño,
(2002) e Clayton; Harman; Williamson (2002). Este pode ser descrito como sistema
de rizoma extensivo, persistente, ramificado, com crescimento horizontalmente
próximo à superfície do solo (Figura 10 a e b). Morfologicamente, observou-se que o
rizoma era sólido, grosso, curto, achatado dorsiventralmente, curvado para cima.
Segundo Recht; Wetterwald (1994), Makita (1998) e Londoño (2002), este tipo de
rizoma é freqüentemente encontrado em espécies tropicais formadoras de touceiras,
como é caso da espécie estudada.
51
A partir do rizoma há emissão dos brotos, que contêm todos os órgãos
básicos para a formação de um novo colmo. Quando o rizoma volta seu ápice para
cima, inicia-se o armazenamento de todas as substâncias requeridas para o
brotamento, sendo que esta fase tem seu desenvolvimento inicial abaixo do solo.
Dependendo da espécie o aparecimento de brotos ocorre em uma estação
específica do ano e indica o diâmetro do colmo formado a partir dele, assim como o
número de entrenós também já é pré-determinado (RECHT; WETTERWALD, 1994).
Portanto, os rizomas controlam a emergência de colmos e sua forma de distribuição,
além de ditarem a forma de crescimento vegetativo da espécie (STAPLETON, 1998).
a b
Figura 10: a) Desenho esquemático da estrutura subterrânea do rizoma paquimorfo; b) Sistema
rizomático de M. skvortzovii com crescimento horizontal à superfície do solo.
FONTE: a) Vasconcellos (2008); b) O autor (2006)
52
3.3.2 Dinâmica de produção e mortalidade de colmos e influência dos fatores
pluviosidade e temperatura
Em relação à produção de colmos em M. skvortzovii observou-se que o
brotamento foi maior nos meses de janeiro, fevereiro e março, diminuindo ao longo
de todo o período avaliado (Figura 11).
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
j
an
ei
ro
fe
v
e
r
e
iro
m
ar
ço
a
b
r
i
l
maio
junho
julho
ag
ost
o
sete
m
bro
out
u
b
ro
n
ov
e
mb
r
o
d
ez
e
mb
r
o
2007
Número de colmos
colmos vivos brotamento colmos mortos
FIGURA 11 – Gráfico representativo das quantidades médias mensais de colmos nas dez touceiras
monitoradas em 2007.
Em relação à mortalidade de colmos, esta foi crescente ao longo do período
avaliado, iniciando em janeiro com média de 22 colmos mortos e chegando em
dezembro com média de 46 colmos mortos (Figura 11). Portanto, a análise mostrou
que o brotamento estava diminuindo e a mortalidade aumentando, ocorrendo uma
forte correlação negativa entre as duas variáveis (r= -0,80).
Durante o período de monitoramento, registrou-se início de florescimento
sincrônico das taquaras, inferindo-se que a redução do brotamento e o aumento da
mortalidade de colmos sejam em decorrência deste ciclo biológico. A confirmação é
53
fornecida por Janzen (1976) e Sendulsky (1995) quando afirmam que durante o
período de florescimento a planta cessa o crescimento vegetativo associado à
expansão de rizomas, emergência de brotos e colmos, reservando seus recursos
para a propagação sexuada.
Estudos comprovam a existência da influência climática (calor, umidade e/ou
luminosidade) sobre o recrutamento de colmos (TAYLOR; ZISHENG, 1993). No
entanto, para a espécie estudada não se observou interferência direta destes fatores
sobre a produção de colmos, devido a espécie encontrar-se em período fértil.
Estatisticamente, registrou-se fraca correlação entre a pluviosidade e o
brotamento (r= 0,14), bem como entre este fator e a mortalidade de colmos (r= -
0,17). Em relação ao fator temperatura, a correlação desta com o brotamento
detectou uma moderada correlação positiva (r= 0,46) e uma moderada correlação
negativa entre a temperatura e a mortalidade dos colmos (r= - 0,41).
Em decorrência dos prazos a serem cumpridos, buscando um melhor
entendimento da dinâmica de produção e mortalidade de colmos e dos fatores
pluviosidade e temperatura sugere-se a realização de novos monitoramentos com
abrangência temporal maior.
Desta forma, novas análises fornecerão informações que viabilizem, em
níveis técnicos e econômicos, o uso da taquara (M. skvortzovii) como matéria-prima
para vários e múltiplos fins. Portanto, há necessidade de maiores investimentos em
pesquisa de longa duração, tanto de natureza agronômica quanto ecológica.
54
3.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A espécie estudada cessa a produção de colmos durante o período de
florescimento e para melhor entendimento sobre a produção e mortalidade de
colmos da taquara (M. skvortzovii), em áreas naturais, sugere-se a realização de
novos monitoramentos com abrangência temporal maior.
Sabendo-se que o florescimento dos bambus reduz a produção de partes
vegetativas e em razão do comportamento observado para as touceiras monitoradas
acredita-se que este padrão tenha sido resultado da fenologia da espécie.
55
3.6 REFERÊNCIAS
AYOADE, J. O. Introdução para a climatologia para os trópicos. 5. ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
CLAYTON, W. D.; HARMAN, K. T.; WILLIAMSON, H. Merostachys skvortzovii
World Grass Species: Descriptions, Identification, and Information Retrieval,
2002. Disponível em: <http://www.kew.org/data/grasses-db.html>. Acesso em:
08/11/2007
CLARK, L.G. Diversity and biogeography of neotropical bamboos (Poaceae:
Bambusoideae). Acta Botanica Brasilica, Porto Alegre, v. 4, p. 125-132, 1990.
BURMAN, A. G.; FILGUEIRAS, T. S. A review of the woody bamboo genera of Brazil
(Gramineae: Bambusoideae: Bambuseae). Thaiszia, Kosice, v. 3, p. 53-88, 1993.
ECKERT, C. G. The loss of sex in clonal plants. Evolutionary Ecology, London, v.
15, p. 501–520, 2002.
FRANKLIN, D. C. Wild bamboos stands fail to compensate for a heavy 1-year
harvest of culm shoots. Forest Ecology and Management, Amsterdam, v. 237, p.
115-118, 2006. Disponível em: <www.sciencedirect.com>. Acesso em: 13/08/2007.
HARPER, J. L. Population biology of plants. London: Academic Press, 1977.
JANZEN, D. H. Why bamboos wait so long to flower. Ann. Rev. Ecol. Syst., Palo
Alto, n. 7, p. 347-391, 1976. Disponível em: <www.portaldacapes.com.br> Acesso
em: 05/05/2008.
KEELEY, J.E.; BOND, W.J. Mast flowering and semelparity in bamboos: the bamboo
fire cycle hypothesis. American Naturalist, Chicago, v. 154, n. 2, p. 383-391, 1999.
LEVINE David M. et al. Estatística - teoria e aplicações: usando o microsoft
excel em português. 3. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2005.
LI, R. M, WERGER. J. A., KROON H., DURING H. J., ZHONG, Z. C. Interactions
between shoot age structure, nutrient availability and physiological integration in the
56
giant bamboo Phyllostachys pubescens. Plant Biology, Stuttgart, n. 2, p. 437-446,
2000.
LIMA, E. C. Qualidade multitemporal da paisagem: estudo de caso na Floresta
Ombrófila Mista em General Carneiro – PR. 145 p. Dissertação (Mestrado em
Ciências Florestais) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2003.
LONDOÑO, X. P. Distribución, morfología, taxonomía, anatomía, silvicultura y
usos de los bambúes del nuevo mundo. Catedra Maestria en Construccion,
Modulo Guadua, Arquitectura. Bogotá: Universidad Nacional de Colombia, 2002.
MAACK, R. Geografia física do estado do Paraná. Curitiba: CODEPAR, 1968.
MAKIHIKO, I. Functional specialization of ramets in a clonal plant network.
Tekst: Proefschrift Universiteit Utrecht, 2004.
MAKITA, A. The significance of the mode of clonal growth in the life history of
bamboos. Plant Species Biology, Kyoto, n.13, p. 85-92, 1998.
OLIVEIRA, A. C. A. Efeitos do bambu Guadua weberbaueri Pilger sobre a
fisionomia e estrutura de uma Floresta no Sudoeste da Amazônia. 71 p.
Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas) - Universidade do Amazonas,
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus, 2000.
RAMANAYAKE, S. M. S. D.; YAKANDAWALA, K. Incidence of flowering, death and
phenology of development in the giant bamboo (Dendrocalamus giganteus Wall. ex
Munro). Annals of Botany, London, n. 82, p.779-785, 1998.
RAO, V. R.; RAO, A. N. Bamboo and Rattan: Genetic Resources and Use.
International Plant Genetic Resources Institute, Singapore, 1995.
RECHT, C. & WETTERWALD, M. F. Bamboos. 3. ed. Portland: Timber Press, 1994,
p. 28-37.
RIUS DIAZ, F. & LÓPEZ, F. J. B. Bioestatística. São Paulo: Thomson, 2007.
SALGADO, A.L.B.; CIARAMELLO, D. & AZZINI, A. Propagação Vegetativa do
Bambu. O Agronômico. Campinas: v. 39, n.3, 228-238, 1987.
57
SANQUETTA, C. R. Impacto do controle mecânico de taquaras (Bambusoideae)
sobre a regeneração de araucária e espécies associadas numa área de
Floresta Ombrófila Mista. General Carneiro: UFPR - Labiratório de Inventário
Florestal, 2002. 250 p. (CNPq – Pesquisas Ecológicas PELD SITE 9: Floresta de
Araucária e suas transições. Edital 001/97). Projeto em andamento.
SANQUETTA, C. R. et al. Sobrevivência de mudas de Araucaria angustifolia perante
o controle de taquaras (Bambusoideae) no Paraná, Brasil. Floresta, Curitiba, v.35,
n. 1, p. 127-135, 2005.
SCHWARZBACH, L. L. C. et al. Artesanatos que utilizam bambus e taquaras
produzidos e comercializados em Curitiba e litoral do Paraná. Curitiba, 2008.
Não publicado.
SENDULSKY, T. Merostachys multiramea (Poaceae: Bambusoideae: Bambuseae)
and similar species from Brazil. Novon, Saint Louis, v. 5, p. 76-96, 1995.
SHANMUGHAVEL, P.; FRANCIS, K. Above ground biomass production and nutrient
distribution in growing bamboo (Bambusa bambos (L.) Voss) Biomass and
Bioenergy, Great Britain, v. 10, n. 5, p. 383-391, 1996.
SILVEIRA, M. A Floresta Aberta com Bambu no sudoeste da Amazônia:
padrões e processos em múltiplas escalas. 109 p. Tese (Doutorado em Ecologia)
- Universidade de Brasília, Brasília, 2001.
STAPLETON, C. Form and function in the bamboo rhizome. The Journal of
American Bamboo Society, Baton Rouge, v. 12, n. 1, p. 21-29, 1998.
STERN, M.J., JUDZIEWICZ, E.J. & CLARK, L.G. Bamboos in native landscapes. In:
STERN, M.J., JUDZIEWICZ, E.J. & CLARK, L.G. American Bamboos. Washington:
Smithsonian Institution Press, 1999, p.55-86.
TAYLOR, A. H.; ZISHENG, Q. Structure and dynamics of bamboos in the Wolong
Natural Reserve, China. American Journal of Botany, Columbus, v. 80, n.4, p. 375-
384, 1993.
VAZQUEZ-LOPEZ, J. M.; BENZ, B. F., OLVERA VARGAS, M.; GRAF MONTERO,
S. Structure of populations of otate (Otatea acuminata subsp. aztecorum: Poaceae)
in harvested stands. Sida, Dallas, n. 19, p. 301–310, 2000.
58
VEBLEN, T. T. Growth patterns of Chusquea bamboos in the understory of Chilean
Nothofagus forests and their influences in forest dynamics. Bulletin of the Torrey
Botanical Club, New York, v. 109, n. 4, p. 474-487, 1982.
59
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os bambus e taquaras representam um papel ecológico importante nos
ecossistemas onde naturalmente se incluem. Além disso, de maneira geral, também
apresentam um alto valor econômico, podendo ser utilizados de diferentes formas,
tais como: material de construção, matéria-prima para celulose, móveis,
instrumentos musicais, artesanatos diversos, bioremediação, alimentação, entre
outros.
Em termos gerais, a partir do estudo realizado percebeu-se que a maioria
das informações sobre bambus vem de países como Índia, China e Japão, onde o
uso e a importância do bambu são amplamente divulgados e pesquisados. No
Brasil, apesar da grande diversidade de espécies nativas de bambus e taquaras,
este grupo vegetal ainda não é estudado em todas as suas potencialidades.
Sabe-se que determinados bambus nativos tais como, Chusquea Kunth,
Merostachys Sprengel, Guadua Kunth, invadem clareiras, formadas ou não por ação
antrópica, e formam grandes adensamentos populacionais, influenciando a
regeneração natural do ecossistema em que se encontram. Este grupo de plantas,
de maneira geral, forma densas touceiras e os colmos das diferentes touceiras
misturam-se formando barreiras impenetráveis às espécies arbóreas. Devido à
escassez de informações sugere-se a inclusão dos bambus e taquaras nos
inventários florestais como forma de melhor entender sua distribuição e ocupação,
bem como sua abundância em ambientes de ocorrência natural.
Em vista disso e das diversas possibilidades de uso destas plantas o manejo
sustentável de colmos com fins econômicos pode ser uma alternativa à geração de
renda para populações mais pobres, bem como um facilitador da regeneração
natural de espécies arbóreas em áreas florestadas dominadas por bambus e/ou
taquaras.
A partir do levantamento etnobotânico realizado percebeu-se que a
identificação taxonômica do grupo, principalmente no que se refere ao gênero
Merostachys Sprengel, é difícil e muitas vezes impossível devido à similaridade entre
algumas espécies e à ausência de exemplares floridos. Isto ocorre porque os
bambus e/ou taquaras apresentam intervalos de florescimento muito longos e há
pouco material florido herborizado.
60
Tendo em vista que durante o período de monitoramento (2007) registrou-se
o florescimento da taquara houve a possibilidade de uma identificação mais precisa
da espécie estudada (Merostachys skvortzovii).
Assim, em vista dos resultados obtidos neste estudo e do florescimento da
taquara, evento que só repetirá em aproximadamente 33 anos, abrem-se diversas
possibilidades de novos estudos. Estes devem ser realizados para o melhor
entendimento ecológico deste grupo de plantas e sua influência na regeneração de
espécies arbóreas, bem como para o melhor entendimento enquanto plantas clonais
e a formação de genets e ramets na população, aproveitando-se sua regeneração a
partir das sementes.
Além disso, sugere-se a realização de estudos sobre o amadurecimento dos
colmos, a distribuição dos nutrientes nos ramets, a biomassa produzida, assim como
estudos, em longo prazo, sobre o extrativismo de colmos com vistas ao manejo
sustentável da espécie e ao desenvolvimento de métodos e técnicas de manejo
desta espécie.
Em relação ao potencial de uso da espécie como produto florestal não
madeirável é necessário a realização de estudos sobre a resistência, design e
aplicações da taquara. Adicionalmente, realizar levantamento etnobotânico da
taquara (M. skvortzovii) em comunidades tradicionais próximas às áreas de
ocorrência natural desta espécie como forma de iniciar e/ou estimular seu uso,
desde que suportado pelo manejo sustentável das populações.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo