casa, a pessoa de referência, acha que é importante que o adolescente veja o
Jornal Nacional. Então ele chama o filho para ver. Nas casas que só tem um
televisor, quem manda é o pai. Então, ele foge da novelinha infantil no SBT
e ele assiste. No jornal impresso isso é mais difícil de acontecer. Existe o
mesmo aliado, mas é impossível garantir que o filho está lendo o jornal.
Mas isso é possível com a TV. E se não conseguimos falar pelo menos para
esse chefe, perdemos esse aliado. Porque, segundo as pesquisas que
fizemos, ele é o explicador da casa. Então, tudo que a dona de casa não
entende ou a mãe, as tias ou os garotos e as garotas, perguntam para esse
“explicador” e, se ele não sabe, ele fica humilhado, muda de assunto. E os
filhos sabem que ele ficou humilhado e mudam de assunto. Mas se
constantemente ele for desafiado e não conseguir traduzir a notícia estamos
matando o nosso telespectador. Então, nós temos uma brincadeira de que
temos pelo menos que nos fazer entender para todo mundo, mas em especial
para esse “explicador” . Porque é ele que vai, com a maior dificuldade do
mundo, tentar traduzir o que não conseguimos traduzir para os que têm mais
deficiências. Então, nós brincamos aqui que temos esse explicador que
também tem enormes dificuldades, não é o gênio da raça, ele tem
dificuldade de entender, mas se nós conseguimos traduzir para ele e ele
conseguiu explicar, ele é o nosso aliado. Isso em estatística também. Nós
não podemos abusar de números, entrou um número tem que entrar o
número escrito na imagem, na faixa, um gráfico. Nós usamos sempre um
personagem, nós sempre vamos a campo buscar um exemplo vivo do que
aquilo está dizendo e traduzir isso.
Embora o cotidiano seja pautado por uma série de referências quantitativas,
já incorporadas como naturais, os números são de difícil assimilação tanto nos
jornais como nas rádios e televisões. Por isso, nas reportagens as estatísticas
deixam as tabelas para se transformarem em histórias com nomes, caras e até
sofrimento. Assim, os jornalistas partem do pressuposto, possivelmente plausível,
que as estatísticas podem ser mais bem traduzidas e assimiladas com a utilização
de personagens. Segundo Marcelo Beraba, ombudsman da Folha de São Paulo,
essa solução ainda é um desafio para os jornais.
Tem recomendação, mas o mais importante é saber traduzir esses
números de uma maneira que você possa captar a essência deles,
que não seja uma coisa só numérica. Você deve ter a capacidade
de transformar esses números em uma maneira que o leitor consiga
compreender o fenômeno que você está tentando escrever. Não
precisa necessariamente ter uma avalanche de números, você tem
que saber captar os mais importantes e às vezes os mais
relevantes, mais importantes, não são aqueles que são mostrados
pelo próprio instituto ou por quem fez a pesquisa, às vezes você vai
perceber no meio daquilo ali algo que não estava sendo destacado.
E a segunda coisa, que é forte, é a dificuldade maior que os jornais
têm em geral de saber combinar esses números com a reportagem
propriamente dita, ou seja, saber transformá-los em vida, cor,
personagem, ambiente, rua. Quer dizer tirá-los daquela coisa fria da
estatística, da máquina de calcular e tudo mais. Esse é um desafio