106
Na busca do contexto do profeta Habacuque, tentamos responder, agora, sobre quem
seria o “opressor”, denominado em 1,6 de “caldeus”. Pergunta-se se esses seriam os
assírios (antes de 612 a.C) ou os egípcios que mataram o rei Josias (609 a.C).
202
Há quem
defenda que o opressor seria Alexandre Magno (considerando o livro numa época
posterior), sugerindo que o termo do texto massorético em 1,6akasdim (“caldeus”) pode
ser substituído por kittim “gregos”.
203
No entanto, o nome aparece no ostraca de Tell ‘Arad,
o que sugere o período que o profeta é tradicionalmente datado.
204
Alguns autores pensaram que as duas lamentações (1,2-4 e 1,12-17) se referiam
originalmente à opressão assíria, à qual Javé poria fim mediante a vinda dos caldeus.
205
Assim, o profeta pode ser datado “de cerca de uma década antes do óbvio sucesso
babilônico de 625 em diante”
206
.
Outros estudiosos, como Domingos Sávio da Silva, pensam que o livro refere-se a um
problema interno, onde o rei judaíta chefiava a perversidade e exploração. Domingos
Sávio da Silva defende que Habacuque é da época de rei judaíta Jeoaquim.
207
O profeta
está questionando a hamas “violência”, que era um elemento característico da situação
interna de Judá nos dias de Jeoaquim. Além disso, para Domingos S. da Silva, a menção de
3.13a, “ungido”, não se refere ao rei
208
. Pois, o rei, longe de cumprir sua função que lhe
competia, principalmente a favor dos oprimidos da sociedade (com os quais Habacuque
identificava-se), coloca-se, sim, na posição totalmente ao contrário. Domingos Sávio da
Silva identifica a maior parte da atuação maldosa do ímpio intestino contra justo (1,2-4)
como uma alusão à ação do rei judaíta contra os empobrecidos da sociedade judaíta.
209
O
201
Claude Tresmontant, O problema da revelação, São Paulo, Edições Paulinas, 1972, p.256.
202
Antonio Bonora, Naum, Sofonias, Habacuc, Lamentações – Sofrimento, promessa e esperança, tradução
de Lucy R. M. César, São Paulo, Edições Paulinas, 1993, p.118 (Coleção Pequeno Comentário Bíblico – AT).
203
Jesus Asurmendi, “Os profetas do século VII – Naum, Sofonias e Habacuc”, p.172.
204
J. Alberto Soggin, Introduction to the Olde Testament – From its origins to the closing of the Alexandrian
canon, Westminster, John Knox Press, 1989, p.327-331 (The Old Testament Library).
205
Albert Gelin, “Os livros proféticos posteriores”, em Introdução à Bíblia – Antigo Testamento, os livros
proféticos posteriores, André Robert e André Feuillet (editores), São Paulo, Editora Herder, vol.2,1967, p.53.
206
John Eaton, Misteriosos mensageiros - Curso de profecia hebraica, tradução Cacília Camargo Bartalotti,
São Paulo, Edições Loyola, 2000, p.101.
207
Domingos Sávio da Silva, Habacuc e a resistência dos pobres – Tradução crítica do profeta Habacuc,
p.173-216.
208
Domingos Sávio da Silva, Habacuc e a resistência dos pobres – Tradução crítica do profeta Habacuc,
p.162-165.
209
Domingos Sávio da Silva, Habacuc e a resistência dos pobres – Tradução crítica do profeta Habacuc,
p.20-21.