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espírito da época: “É assim - ou você tem beleza, tem peitão ou não é ninguém”. Franca,
enumera: "Nas novelas, toda garota tem, no cinema idem, no colégio há várias... até a
secretária do meu pai está com os seios da moda". O redesenho do corpo se tornou uma
necessidade teen - até os garotos resolveram aderir. E, para atender à explosão da demanda, as
clínicas estão a todo vapor. No Brasil, cerca de 650 mil intervenções foram realizadas em
2005, 15% em jovens de 14 a 18 anos (nos Estados Unidos, não passa de 7%). Eles não
desistem mesmo sabendo que o pós-operatório será sofrido.
(Reportagem da Revista Cláudia, julho, 2006.)
TEXTO III
O homem
"O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos
mestiços neurastênicos do litoral.
A aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a
plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.
É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a
fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso,
aparenta a translação de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida,
num manifestar-se de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. A pé,
quando parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que encontra; a
cavalo, se sofreia o animal para trocar duas palavras com um conhecido, cai logo sobre os
estribos, descansando sobre a espenda da sela. Caminhando, mesmo a passo rápido, não traça
trajetória retilínea e firme. Avança celeremente, num bambolear característico, de que
parecem ser o traço geométrico os meandros das trilhas sertanejas. E se na marcha estaca pelo
motivo mais vulgar, para enrolar um cigarro, bater o isqueiro, ou travar ligeira conversa com
um amigo, cai logo - cai é o termo - de cócoras, atravessando largo tempo numa posição de
equilíbrio instável, em que todo o seu corpo fica suspenso pelos dedos grandes dos pés,
sentado sobre os calcanhares, com uma simplicidade a um tempo ridícula e adorável.
É um homem permanentemente fatigado.
Reflete a preguiça invencível, a atonia muscular perene, em tudo; na palavra
remorada, no gesto contrafeito, no andar desaprumado, na cadência langorosa das modinhas,
na tendência constante à imobilidade e à quietude.
Entretanto toda esta aparência de cansaço ilude.
Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso. Naquela
organização combalida, operam-se, em segundos transmutações completas. Basta o
aparecimento de qualquer incidente, exigindo-lhe o desencadear das energias adormidas. O
homem transfigura-se. Empertiga-se, estadeando novos relevos, novas linhas na estatura e no
gesto; e a cabeça firma-se-lhe, alta, sobre os ombros ossantes, acirrada pelo olhar
desassombrado e forte; e corrigem-se-lhe, prestes, numa descarga nervosa instantânea, todos
os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos; e da figura vulgar do tabaréu canhestro reponta
inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente num desdobramento
surpreendente de força e agilidade extraordinárias.
(CUNHA, Euclides Rodrigues Pimenta da. Os Sertões. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1968.)
A coletânea acima apresenta os três fragmentos (I, II e III), cuja leitura você já
realizou previamente por meio de uma atividade orientada. Depreenda o tema comum aos
excertos e o escreva na linha abaixo; em seguida, elabore uma dissertação
desenvolvendo esse tema na folha anexa.
TEMA: ________________________________________________________________