pessoas, entre os posseiros, jagunços, falsos policiais e policiais. Os camponeses
que ocupam e trabalham a terra como posseiros são muitas vezes maltratados,
acorrentados e levados para as cadeias como malfeitores. As suas miseráveis
casinhas e as suas plantações são derrubadas e queimadas, as pequenas
“criações”, afugentadas ou que não aparecem e, desesperados, defendendo
mulher, filhos e terra e as suas vidas, começam a lutar com as armas na mão. De
outro lado, os grandes proprietários, com ou sem apoio das autoridades ou da
justiça, com ou sem polícia, armando sorrateiramente jagunços também
desesperados, expulsam com maus-tratos, a fogo e bala. Presenciamos uma
verdadeira guerra, surda, escondida, muitas vezes até desconhecida. Parece
que está iniciando como uma luta contínua e sangrenta: o posseiro e os
camponeses pobres lutando para ter o direito de viver no seu chãozinho e
pelo seu trabalho (p. 270).
Paralelo à difusão da palavra de Deus, com o passar dos anos Dom Máximo,
confirma e documenta
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a sua opção bíblica/teologal, sob a luz da Teologia da Libertação,
uma consciência de missão a ser intensificada em toda a Diocese de Cáceres: “1)
Fortalecendo o processo de planejamento; 2) Educando o espírito comunitário; 3)
Despertando a responsabilidade em relação aos marginalizados em vista de sua
elevação social, cultural e religiosa” (p. 334). Este último baseava-se em uma
evangelização que privilegiasse a reflexão da palavra de Deus, a partir da realidade do
povo, em busca de encontrar solução para os problemas sociais. Em outras palavras, um
convite aos leigos e leigas a ficarem “atentos aos sofrimentos, tantas vezes silenciosos e
despercebidos, dos que a sociedade deixa à margem do desenvolvimento”. Sobretudo,
ser “(...) a voz dos sem-voz, o apoio dos fracos, a esperança dos sem-vez” (p.335).
O carisma e a determinação missionária, libertadora e profética de Dom Máximo
atraía cada vez mais adeptos à causa que defendia com veemência, a luta pela vida e pelos
direitos humanos. Dentre os jovens que o acompanharam estão Carlos Alberto Maldonado,
Leila Bisinoto, Dimas Santana, Antônio Donizete, Isidoro Salomão
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Ao mencionar a existência da guerra “surda”, “escondida” e “desconhecida”
acometida pelo aparelho estatal nos conflitos de terra, Dom Máximo denunciava as relações
desumanas estabelecidas no campo. Sendo apenas o início de uma longa jornada de
reivindicação por direitos. Apesar de não falar abertamente, a violência armada invade o
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Na ata da 10ª assembléia diocesana de Pastoral, no ano de 1978.
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Fundador da Paróquia Cristo Trabalhador atuou 14 anos à frente dos trabalhos pastorais e sociais com fortes
traços da pedagogia de Dom Máximo.