RESUMO
A Ordem Rickettsiales abriga um grupo de parasitas intracelulares obrigatórios,
responsáveis por várias doenças humanas conhecidas como riquetsioses. Artrópodes
hematófagos e seus hospedeiros são responsáveis pela disseminação da doença ao homem.
Desde a década de 20, o Brasil apresenta histórico de doença riquetsial, onde a febre maculosa
Brasileira destaca-se como a mais comum e a mais letal dessas riquetsioses. Embora os
métodos sorológicos ainda sejam os mais indicados na confirmação da doença, o emprego de
técnicas de biologia molecular vem modelando uma nova realidade ao diagnosticar e detectar
cada vez mais patógenos específicos em todo o mundo. O município de Santa Cruz do
Escalvado, localizado no Vale do Piranga, Zona da Mata, Minas Gerais, é considerado foco
antigo para riquetsioses. Dentro do município, na localidade de Soberbo foi construída em
2004, a Usina Hidrelétrica de Candonga, alterando assim, a paisagem natural da região. Com
o objetivo de compreender a atual situação desse município, dentro de uma concepção de
ocupação e transformação do espaço geográfico como nosso marco teórico, buscamos avaliar
o nível de transmissão de riquetsioses na população de animais domésticos e silvestres
coletados em duas localidades pertencentes ao município, utilizando métodos sorológicos e
ferramentas da biologia molecular. Foram capturados 94 vertebrados silvestres dentre eles, os
roedores Rattus rattus, Nectomys squamipes e Oryzomys subflavus, além de gambás Didelphis
aurita. Dos roedores capturados, foram obtidos tecidos (fígado e baço). Foram coletados 427
ectoparasitos, entre Amblyomma cajennense, Rhipicephalus sanguineus, Anocentor nitens,
Boophilus microplus e pulgas da espécie Ctenocephalides canis em animais domésticos (cães
e eqüinos). Foram também coletadas 166 amostras de soro dos roedores e dos animais
domésticos, sendo estas submetidas à reação de imunofluorescência indireta utilizando
antígenos específicos para Rickettsia rickettsii, Rickettsia parkeri, Rickettsia felis, Rickettsia
bellii e Rickettsia amblyommii. Após a extração de DNA das amostras de tecidos de roedores
e de pools dos ectoparasitos coletados, foi realizada a amplificação através de PCR duplex,
contendo pares de oligonucleotídeos iniciadores gênero-específicos (CS e 17kDa), sendo o
produto obtido reamplificado com um par de iniciadores internos de 17 kDa (full nested
PCR). Os produtos amplificados foram visualizados em gel de poliacrilamida 8% corado pela
prata e as amostras positivas foram purificadas, seqüenciadas e comparadas com outras
seqüências depositadas no GenBank. A análise das seqüências obtidas de tecidos de roedores
permitiu a identificação do gênero Rickettsia em pools de ectoparasitos das espécies A.
cajennense, A. nitens e B. microplus coletados em eqüinos e da espécie R. sanguineus em
pulgas coletadas em cães. Os dados sorológicos apontam o R. rattus como o único roedor
sororeativo com 81,25% de positividade para riquétsias do Grupo da febre maculosa,
comparado aos demais roedores capturados, cujos resultados sorológicos foram negativos. Foi
também encontrada uma freqüência sorológica relativamente expressiva entre os gambás
capturados apresentando 14,3% para R. rickettsii e 14,3% para riquétsias do Grupo da febre
maculosa (GFM). Os eqüídeos apresentaram 5,4% de sororeatividade para R. bellii e 2,7%
para riquétsias do GFM, enquanto os cães apresentaram somente 2% para R. rickettsii e 2%
para R. parkeri.
Palavras chave: Riquetsioses, febre maculosa Brasileira, Rickettsia spp., ectoparasitos,
reservatórios.