RESUMO
O presente texto apresenta os resultados da investigação acerca das manifestações
afetivo/emocionais de crianças durante a primeira infância em contextos coletivos,
mais especificamente no ambiente da educação infantil. Vinculada à linha de
pesquisa “Práticas educativas na formação de professores”, adotou-se como objeto
as manifestações afetivo-emocionais nas interações criança-criança que se
estabelecem no contexto educativo. Estudos recentes, com destaque para aqueles
orientados pela teoria walloniana, revelam que a criança, em seu processo de
desenvolvimento, é orientada para o outro, forma vínculos afetivos, compartilha e
constrói significados objetivos e subjetivos na interação não apenas com parceiros
adultos, mas também com seus pares. Assim, apoiando-se na teoria psicogenética
de Wallon, buscou-se examinar as interações das crianças com seus coetâneos,
adotando os seguintes objetivos específicos: apreender os tipos de manifestações
afetivo-emocionais individuais que ocorrem no contexto educativo; examinar os
recursos expressivos utilizados pelas crianças nas interações com seus pares;
apontar e refletir sobre possíveis direções que propiciem um ambiente produtivo e
satisfatório para o desenvolvimento da criança. Para tanto, o estudo, com nuances
etnográficas, teve como participantes crianças que se encontram na faixa etária
entre o primeiro e o terceiro ano de vida, de um agrupamento de berçário II de uma
instituição de educação infantil no município de Presidente Prudente, onde foram
realizadas observações assistemáticas entre os meses de fevereiro e junho do ano
de 2008. Do material registrado foram selecionados e analisados 15 episódios
interativos, nos quais foi possível verificar a exuberância expressiva das crianças.
Notou-se que os recursos expressivos que marcam o período de oposição ocorrem
mais precocemente do que postula a teoria walloniana, ou seja, confirmou-se que as
características e os estágios de desenvolvimento importantes para a formação do
ser humano não são demarcados pela idade cronológica e sim pelas experiências
sociais e afetivas vivenciadas individualmente, que deflagrarão regressões, conflitos
e contradições que propiciam, reformulam e ampliam conceitos e funções. Além
disso, os dados permitiram corroborar as teorias que apontam tanto para o fato de o
processo de desenvolvimento infantil se realizar nas interações, que objetivam não
só a satisfação das necessidades básicas, como também a construção de novas
relações sociais, com o predomínio da emoção, como para o fato de a interação
criança-criança representar um espaço promotor do desenvolvimento, fortalecendo a
idéia de que ela é interlocutora ativa e protagonista de seu desenvolvimento. Assim,
reitera-se o importante papel desempenhado pelas instituições de educação infantil,
no sentido de garantir que as interações em seu interior se pautem na qualidade, a
fim de ampliar o horizonte da criança e levá-la a transcender sua subjetividade e se
inserir no social. Neste sentido, se faz necessário que a educação infantil adote
propostas pedagógicas que enfatizem a importância das interações entre crianças,
visto que são uma das molas propulsoras do desenvolvimento destas e que criem,
intencionalmente, situações que permitam contatos entre grupos variados e
situações interativas que favoreçam o desenvolvimento da autonomia, baseando-se
no respeito pelas características próprias da inteligência infantil, bem como nas
necessidades específicas de cada grupo.
Palavras-chave: interação criança-criança; expressividade; manifestações afetivas;
primeira infância; teoria walloniana; educação infantil.