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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Cristina Martins Torres Masiero
A resiliência em pessoas com lesão medular que estão no mercado de trabalho.
Uma abordagem psicossomática.
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
NÚCLEO DE PSICOSSOMÁTICA E PSICOLOGIA HOSPITALAR DO
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM PSICOLOGIA
CLÍNICA
SÃO PAULO
2008
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Cristina Martins Torres Masiero
A resiliência em pessoas com lesão medular que estão no mercado de trabalho.
Uma abordagem psicossomática.
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
NÚCLEO DE PSICOSSOMÁTICA E PSICOLOGIA HOSPITALAR DO
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM PSICOLOGIA
CLÍNICA
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora como exigência parcial para
obtenção do título de MESTRE em
Psicologia Clínica, pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, sob
orientação da Profa. Dra. Ceres Alves
Araújo.
SÃO PAULO
2008
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Banca Examinadora
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, pela constante valorização e investimento na minha formação
profissional. E neste trabalho, agradeço, também, pela participação na revisão do Português e
do conteúdo. Especificamente à minha mãe, Helena, agradeço pelo constante apoio e carinho,
que muito contribui para meus processos de resiliência. Ao meu pai, Danilo, por ter me
apresentado à reabilitação, por ter me mostrado a importância do compromisso social no
desenvolvimento de um trabalho científico e por ter participado, como médico e pesquisador
experiente, na construção deste trabalho.
Ao Marcelo C. da A. Fonseca, meu marido, pelo constante suporte emocional, pela
revisão do conteúdo e do Português deste trabalho, e, mais ainda, pelo respeito e tolerância
durante toda a jornada do mestrado.
Agradeço às minhas irmãs, sogros, cunhados e sobrinho pelas demonstrações de
carinho, respeito e compreensão com a minha restrição de tempo nos últimos meses. Em
especial à Camila M. T. Masiero e Marcia M. T . Masiero, pelas orientações em informática e
à Angela C. da A. Fonseca, pela revisão do resumo na língua inglesa.
Agradeço à Dra. Therezinha Rosane Chamlian, Chefe da Disciplina de Fisiatria da
UNIFESP e Diretora Técnica do Lar Escola São Francisco (LESF), pela confiança e constante
suporte para o meu trabalho e pela autorização para a coleta dos dados desta pesquisa. À
Claudia Regina Pirani Xande, Superintendente do LESF, pelo apoio e confiança.
Aos colegas da Equipe de Lesão Medular do LESF que muito me ensinam sobre
reabilitação. Em especial, ao Dr. Ricardo D. Savodeli, à Heloize C. Borges, Paula Uenish,
Nadia Ap. do Amaral, Marcia Nardi e Fabiana Y. Takatuzi, pela ajuda para a coleta dos
dados. À Stella M. Molinari, Roberta G. Nardi, Maria Aparecida B. P. Valença e Flavia
Varga, pela parceria, por compartilharem experiências e discutirem comigo sobre a inclusão,
com entusiasmo. Às colegas Mirian Metello, Simone M. P. F. Lima, Josywanda B. Russo, às
professoras Edineide e Zilda e às secretárias Carla e Claudete, pelo carinho e atenção.
Às psicólogas do LESF, Sandra R. Rodrigues, Janaina de Carvalho, Lydiane R. P.
Fabretti e Sabine A. Zanotello, pela amizade, pelo carinho e por dividirem comigo seus
conhecimentos e experiência em Psicologia com toda a confiança e intimidade, que muito me
faz crescer.
Ao Dr. Luiz Antônio de Arruda Botelho, Diretor Superintendente da Fundação Selma,
pela autorização para a coleta dos dados, confiança e apoio profissional, e oportunidade de
aprendizagem e desenvolvimento da visão humanista e holística da reabilitação.
Às amigas Adnamare Tikasawa, Rebeca Santos e Andrea, pelo auxílio no
levantamento da amostra e organização para a coleta dos dados na Fundação Selma.
Ao Dr. Antonio Carlos Fernandes, Diretor Clínico da Associação de Assistência à
Criança Defeituosa, pela confiança e autorização para coleta de dados. Às Equipes de
Psicologia e de Lesão Medular da AACD, pela abertura do espaço e, em especial, à psicóloga
Claudia V. Pessoa, pela dedicação e auxílio para a coleta dos dados.
À Sra. Elisa Guskuma Henna, Diretora Clínica da Associação dos Policiais Militares
do Estado de São Paulo, pela autorização para a coleta de dados. E à amiga Silvia S. Cavalli,
coordenadora da Fisioterapia, pelo envolvimento direto na organização da coleta dos dados.
À Profa. Dra. Mathilde Neder, Coordenadora do Programa de Estudos Pós-graduados
em Psicologia Clínica da PUC-SP, por ter me guiado no início da jornada deste trabalho e
compartilhar experiências importantes para a elaboração de um trabalho científico.
À Profa. Dra. Ceres Alves Araújo, minha orientadora, pelos conhecimentos
compartilhados, pela delicadeza, apoio e confiança demonstrados.
À Profa. Dra. Edna Peters Kahhale, pelo incentivo desde o início, pelo apoio durante
o processo e por despertar em mim uma postura crítica e consciente sobre a prática em
Psicologia. Ao Prof. Dr. Esdras Guerreiro Vasconcellos, pelo incentivo e motivação, e pela
sensibilidade com a qual apresentou as questões da prática em psicoterapia e pesquisa.
À Profa. Yara P. G. de Castropela, pela produção das tabelas e orientação em
estatística sempre com carinho e paciência.
Ao Dr. George Barbosa, pelo estímulo para o início da minha jornada no mestrado,
pela amizade, pela autorização do uso do questionário de resiliência que validou, bem como
pela ajuda para tabulação dos dados e para a análise dos resultados dos fatores de resiliência.
Aos colegas da PUC-SP, pela postura sempre colaboradora, e em especial, à Maria
Cecília Chequini, Karoline de S. Barbosa, Fernando Maeda, Maria Thereza Nappi, Mariana
C. Taliba, Rosângela Fígaro, Rita Motooka e Mariângela Donice.
Ao Dr. João Ribas, pelas importantes contribuições feitas na ocasião da banca de
qualificação que muito contribuíram para a finalização deste trabalho.
Aos participantes da amostra, que foram a razão deste estudo, que colaboraram e
dedicaram um pouco do seu tempo para a coleta de dados.
Ao CNPQ, pela bolsa concedida para uma parte do curso de Mestrado.
Agradeço ainda a todos aqueles que, de alguma forma, participam do meu caminho
profissional.
MASIERO, C.M.T. A resiliência em pessoas com lesão medular que estão no mercado de
trabalho. Uma abordagem psicossomática. Dissertação de mestrado, pelo Núcleo de
Psicossomática e Psicologia Hospitalar, do Programa de Estudos Pós-graduados em
Psicologia Clínica da PUC-SP, 2008.
RESUMO
Introdução: A aquisição de uma deficiência física por lesão medular, pode ocasionar o
quadro de paraplegia, exigindo, muitas vezes, o uso de cadeira de rodas para locomoção.
Além da mobilidade reduzida e de outras conseqüências clínicas, as pessoas com lesão
medular podem ter que lidar com os impactos emocional e social da aquisição dessa
deficiência. Estudos epidemiológicos apontam que a maioria das pessoas que sofrem a lesão
medular são jovens adultos, do sexo masculino, fazendo com que o retorno ao trabalho seja
um tema de extrema importância. Para justificar a relevância deste trabalho, soma-se à última
informação, o atual movimento pela inclusão profissional de pessoas com deficiências,
promovido pela lei de cotas”. A mobilidade reduzida e a existência de barreiras físicas e
atitudinais podem constituir-se como fatores de risco para o desenvolvimento esperado para
esses adultos, uma vez que podem sofrer alterações nos seus papéis familiares, sociais e
profissionais. Nessa perspectiva, torna-se importante o estudo da resiliência dessas pessoas,
que envolve os recursos de enfrentamento de adversidades e a habilidade de adaptação
positiva, que traduzem a capacidade de algumas pessoas de lidarem com as adversidades e
aprenderem com elas. O retorno ao trabalho pode representar a retomada do processo do
desenvolvimento pessoal, após a aquisição da lesão medular. Objetivos: levantar as
características sócio-demográficas e de resiliência de uma amostra de 60 pessoas com lesão
medular, comparar essas características entre os 30 participantes da amostra que estavam
trabalhando e os 30 que não estavam e levantar os aspectos psicológicos da amostra, a partir
dos resultados dos fatores de resiliência. Método: para a coleta de dados utilizamos um
“Questionário de Dados Sócio-demográficos” e o “Questionário de Resiliência Adultos
Reivich-Shatté/Barbosa”. Os dados foram submetidos a análise estatística permitindo a
descrição das características sócio-demográficas e de resiliência da amostra, bem como a
comparação dessas características nos dois grupos. A partir da análise desses dados, pudemos
levantar alguns aspectos psicológicos da amostra. Resultados: A amostra apresentou
características condizentes com os estudos epidemiológicos sobre a população de pessoas com
lesão medular, com relação ao sexo, faixa etária e forma de aquisição da lesão. Os resultados
para os fatores de resiliência permitiram levantar alguns aspectos psicológicos da amostra. Na
comparação entre os grupos, não encontramos diferenças significantes para os fatores de
resiliência, contudo, os dados apontaram que as barreiras físicas, as barreiras atitudinais e a
dificuldade para autonomia são fatores que dificultam o retorno dessas pessoas ao trabalho.
Encontramos indicativos que sugerem a importância do trabalho do psicólogo em auxiliar
essas pessoas a elaborarem suas emoções para desenvolverem melhor os fatores de resiliência
e conseguirem retomar seu percurso de desenvolvimento pessoal, incluindo a capacidade da
construção de uma nova identidade profissional.
Palavras-chave: deficiência física, resiliência, inclusão profissional.
MASIERO, C.M.T. A resiliência em pessoas com lesão medular que estão no mercado de
trabalho. Uma abordagem psicossomática. Dissertação de mestrado, pelo Núcleo de
Psicossomática e Psicologia Hospitalar, do Programa de Estudos Pós-graduados em
Psicologia Clínica da PUC-SP, 2008.
ABSTRACT
Introduction: Paraplegia may be caused by physical deficiency as a result of a spinal cord
injury, often being necessary the use of wheelchair for locomotion by the injured person. On
top of reduced mobility and other clinical consequences, people with spinal cord injury might
have to deal with emotional and social impacts. Epidemiological studies show that most of
spinal cord injury patients are young male adults, what makes returning to work an extremely
important topic. Furthermore, the relevance of this study is justified/highlighted by the recent
movement for inclusion of handicapped people in the work environment, as outlined in the
“quote law” in Brazil. Reduced mobility, as well as some environmental barriers (physical
barriers and society’s atittudes) may be risk factors that could negatively affect the
development of these young adults, once they could alter their roles in their families and in
the society (socially and professionally). There comes the importance of studying these
people’s resilience which involves the ability to cope and positively adapt when dealing with
adversities, and their capacity to learn from these situations. Returning to work might
represent the re-start of their personal development after the spinal cord injury has occurred.
Objectives: to collect social-demographics and resilience characteristics of 60 participants
with spinal cord injury, to compare these characteristics between 30 worker with 30 non-
worker participants, and to collect the psychological aspects of this study sample from the
resilience results. Method: A “Social-Demographic Questionnaire” and the “Questionário de
Resiliência Adulto Reivich-Shatté/Barbosa” were used to collect the data. The data statistical
analysis showed the social-demographic and resilience characteristics of the study sample, as
well as the comparison of these characteristics between the two groups. From the data
analysis, it was possible to collect some psychological aspects of the study sample. Results:
the study sample showed similar characteristics to the epidemiological studies done with
spinal cord injury population as it relates to sex, age and how the spinal cord injury was
acquired. When comparing the two groups, no significant differences were found for the
resilience factors. However, the data showed that environmental factors (physical barriers and
society’s attitude), and the difficulty to have autonomy are factors that could make it more
challenging for people with spinal cord injury to return to work. It also was possible to collect
some psychological aspects of the sample based on the resilience factors results. That showed
the importance of the psychologists in helping people with spinal cord injury to deal with
their emotions and to better develop their resilience factors. This would allow them to return
to their personal development, including their capacity to rebuild a new professional identity.
Key-words: handicapped persons, resilience, returning to work.
SUMÁRIO
CAPÍ
TULO 1
-
INTRODUÇÃO
......................................................................................
11
CAPÍTULO 2 - OBJETIVOS ............................................................................................
16
CAPÍTULO 3 - REVISÃO DA LITERATURA .............................................................. 17
3.1 LESÃO MEDULAR E REABILITAÇÃO .................................................................... 17
3.1.1 Etiologia e Epidemiologia ...................................................................................... 19
3.1.2 Aspectos Psicológicos e Qualidade de Vida ..........................................................
21
3.2 DEFICIÊNCIA FÍSICA ADQUIRIDA - ASPECTOS PSICOLÓGICOS .....................
22
3.2.1 O Impacto Emocional da Deficiência Física Adquirida .........................................
23
3.2.2 O Impacto Emocional na Aquisição da Lesão Medular ......................................... 25
3.2.3 O Impacto da Deficiência na Família ..................................................................... 27
3.3 DEFICIÊNCIA E INDIVIDUAÇÃO – RETOMADA DO PROCESSO DE
DESENVOLVIMENTO .......................................................................................................
28
3.4 INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA ......................................................... 31
3.4.1 A Deficiência na Pré-História e Idade Antiga ........................................................ 33
3.4.2 A Deficiência na Idade Média ................................................................................ 34
3.4.3 A Deficiência na Idade Moderna ............................................................................
35
3.4.4 A “Lei de Cotas” e os Movimentos Atuais de Inclusão ......................................... 44
3.5 A TENDÊNCIA EXCLUDENTE COMO CARACTERÍSTICA ARQUETÍPICA ...... 45
3.6 INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO 51
3.7 RESILIÊNCIA ...............................................................................................................
56
3.7.1 O Conceito de Resiliência ......................................................................................
56
3.8 AVALIAÇÃO DE RESILIÊNCIA ................................................................................
67
CAPÍTULO 4 - MÉTODO ................................................................................................
71
4.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO ............................................................................
71
4.2 LOCAL DA COLETA ...................................................................................................
71
4.3 PARTICIPANTES .........................................................................................................
71
4.4 INSTRUMENTOS .........................................................................................................
72
4.4.1 Questionário dos Dados Sócio-demográficos ........................................................
72
4.4.2 Questionário de Resiliência: Adultos Reivich – Shatté / Barbosa .........................
73
4.4.2.1 Fator Administração das Emoções ..............................................................
74
4.4.2.2 Avaliação dos resultados para o fator Administração das Emoções ...........
74
4.4.2.3 Fator Controle dos Impulsos .......................................................................
74
4.4.2.4 Avaliação dos resultados para o fator Controle dos Impulsos ....................
75
4.4.2.5 Fator Otimismo ...........................................................................................
75
4.4.2.6 Avaliação dos resultados para o fator Otimismo ........................................
75
4.4.2.7 Fator Análise do Ambiente .........................................................................
76
4.4.2.8 Avaliação dos resultados para o fator Análise do Ambiente ......................
76
4.4.2.9 Fator Empatia ..............................................................................................
76
4.4.2.10 Avaliação dos resultados para o fator Empatia .........................................
76
4.4.2.11 Fator Auto-eficácia ....................................................................................
77
4.4.2.12 Avaliação dos resultados para o fator Auto-eficácia .................................
77
4.4.2.13 Fator Alcançar Pessoas .............................................................................
77
4.4.2.14 Avaliação dos resultados para o fator Alcançar Pessoas ..........................
77
4.5 PROCEDIMENTOS .......................................................................................................
78
4.6 CUIDADOS ÉTICOS ....................................................................................................
78
4.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA .............................................................................................
78
CAPÍTULO 5
-
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
............................................
80
5.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA ........................................................................
80
5.2 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA QUANTO À LESÃO MEDULAR ................
88
5.3 CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA APÓS A LESÃO MEDULAR .......................
91
5.4 CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA COM RELAÇÃO À SITUAÇÃO
PROFISSIONAL ..................................................................................................................
95
5.5 CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA COM RELAÇÃO À COMPOSIÇÃO
DA RENDA FAMILIAR .....................................................................................................
101
5.6 COMPARAÇÕES DAS CARACTERÍSTICAS DOS GRUPOS QUE
TRABALHAVAM E NÃO TRABALHAVAM ..................................................................
102
5.7 CORRELAÇÕES COM FATORES DE RESILIÊNCIA ..............................................
110
CAPÍTULO 6 - DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .....................................................
121
6.1 CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA AMOSTRA DE PESSOAS COM
LESÃO MEDULAR ............................................................................................................
121
6.1.1 Com Relação aos Dados Sócio-Demográficos .......................................................
121
6.1.2 Com Relação à Aquisição da Lesão Medular .........................................................
123
6.1.3 Análise das Características da Amostra Após a Lesão Medular ............................
123
6.2 COMPARAÇÕES DAS CARACTERÍSTICAS NOS GRUPOS DOS QUE
TRABALHAVAM E NÃO TRABALHAVAM ..................................................................
125
6.2.1 Com Relação à Situação Profissional dos Participantes da Amostra .....................
125
6.2.2 Com Relação à Escolaridade ..................................................................................
127
6.2.3 Com relação ao Estilo de Vida Afetiva ..................................................................
128
6.2.4 Com Relação ao Recebimento de Benefício Previdenciário ..................................
128
6.2.5 Com Relação ao Tempo de Aquisição da Lesão Medular .....................................
128
6.2.6 Com Relação à Causa da Lesão Medular ...............................................................
129
6.2.7 Com Relação a Fazer Atividades de Manutenção ..................................................
129
6.2.8 Com Relação à Independência para Atividades de Vida Diária .............................
129
6.2.9 Com Relação à Freqüência com que Encontram com Amigos ..............................
130
6.3 ANÁLISE DOS FATORES DE RESILIÊNCIA ...........................................................
131
6.3.1 Análise dos Resultados da Amostra para o Fator Otimismo ..................................
131
6.3.2 Análise dos Resultados da Amostra para o Fator Análise do Ambiente ................
131
6.3.3 Análise dos Resultados da Amostra para o Fator Controle dos Impulsos ..............
132
6.3.4 Análise dos Resultados da Amostra para o Fator Administração das Emoções ....
132
6.3.5 Análise dos Resultados da Amostra para o Fator Auto-eficácia ............................
133
6.3.6 Análise dos Resultados da Amostra para o Fator Alcançar Pessoas ......................
134
6.3.7 Análise dos Resultados da Amostra para o Fator Empatia .....................................
134
6.4 COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS DOS FATORES DE RESILIÊNCIA NOS
GRUPOS DOS QUE TRABALHAVAM E DOS QUE NÃO TRABALHAVAM .............
135
6.4.1 Para o Fator Otimismo ............................................................................................
136
6.4.2 Para o Fator Análise do Ambiente ..........................................................................
136
6.4.3 Para os Fatores Controle dos Impulsos e Administração das Emoções .................
136
6.4.4 Para o Fator Auto-eficácia ......................................................................................
137
6.4.5 Para o Fator Alcançar Pessoas ................................................................................
137
6.4.6 Para o Fator Empatia ..............................................................................................
137
6.5 COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS DOS FATORES DE RESILIÊNCIA
ENTRE OS QUE VOLTARAM E OS QUE NÃO VOLTARAM A ESTUDAR ...............
138
6.6 COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS DOS FATORES DE RESILIÊNCIA
ENTRE OS QUE FAZEM E OS QUE NÃO FAZEM ATIVIDADES DE
MANUTENÇÃO ..................................................................................................................
138
CAPÍTULO 7 - CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................
139
REFERÊNCIAS .................................................................................................................
145
ANEXOS .............................................................................................................................
151
ANEXO A - Questionário dos Dados Sócio-demográficos .................................................
152
ANEXO B - Questionário de Resiliência: Adultos Reivich – Shatté / Barbosa ..................
156
ANEXO C - Autorização dos centros de reabilitação para compor a amostra da pesquisa .
163
ANEXO D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ................................................
166
ANEXO E - Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo.
Universidade Católica de São Paulo .....................................................................................
169
11
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
Este estudo consiste em uma pesquisa sobre as características sócio-demográficas dos
fatores de resiliência e dos aspectos psicológicos de pessoas com lesão medular. Além disso,
pretende comparar esses elementos entre os grupos de pessoas da amostra que estão inseridas
e as que não estão inseridas no mercado de trabalho.
Antes mesmo de iniciar meu trabalho como psicóloga de reabilitação, meu interesse
pelos assuntos referentes às pessoas com deficiências surgiu desde a infância. Em casa, eram
freqüentes as conversas sobre a saúde dessas pessoas, as possibilidades de independência, a
importância da estrutura familiar e do acesso à educação para o seu bom desenvolvimento
biopsicossocial e espiritual. Ouvi muitas histórias de superação, de sucesso e, também de
dificuldades e sofrimento. Eu gostava de saber que a Medicina oferecia recursos para a
melhora da qualidade de vida e desenvolvimento da autonomia, mas me impressionava muito
saber da influência dos fatores sociais, econômicos, familiares e psicológicos no processo de
reabilitação e no curso de vida dessas pessoas.
Quem contava essas histórias era meu pai. Como médico ortopedista e fisiatra, ele
trabalha, com verdadeira paixão, na reabilitação de pessoas com deficiência sica, desde o
início de sua jornada profissional, e também na formação de profissionais dessa área.
A busca pela espiritualidade e por uma postura humanista também foram estimuladas
em casa, pelos meus pais e irmãs, que influenciaram a minha formação pessoal e me ajudaram
a trilhar o meu caminho profissional na Psicologia.
Na minha prática como psicóloga clínica e escolar em Centros de Reabilitação, tenho tido a
oportunidade de acompanhar pessoas com deficiências físicas durante o processo de
reabilitação no período de manutenção dos ganhos reabilitativos e no processo de inclusão
social, educacional e profissional. Compreender os processos psicológicos e sociais
vivenciados pelas pessoas que adquirem uma deficiência tem pautado a minha prática
profissional, e me motivado a estudar este assunto em maior profundidade.
A importância de pesquisas sobre o tema se justifica pela expressividade da população
de pessoas com deficiência no Brasil que, segundo os dados do Censo do IBGE de 2000,
representam 14,5% da população brasileira somando, aproximadamente, 24,5 milhões de
pessoas. Desse grupo de pessoas, 15,22 milhões estão em idade laboral, sendo que apenas
metade está empregada. (CLEMENTE, 2008)
12
Por uma necessidade metodológica, escolhi um dos diagnósticos com os quais
trabalho: a lesão medular.
A lesão medular pode ocorrer por um trauma ou doença, produzindo, como
conseqüência, déficits sensitivos e motores, além das alterações viscerais e sexuais.
O nível da medula espinhal em que ocorre a lesão determina os déficits motores,
sensoriais e alterações do quadro clínico do paciente. Portanto, cada paciente necessitará de
um programa de reabilitação e tratamento médico em conformidade com o tipo da lesão e as
limitações adquiridas.
A partir da ocorrência da lesão, essas pessoas têm que se dedicar continuamente a
tratamentos e terapias de manutenção e, após alguns avanços no processo de reabilitação
muitas delas se tornam aptas para retornar às atividades sociais e ocupacionais.
Supõe-se que no Brasil cerca de sete mil pessoas por ano apresentem esse grave
comprometimento neurológico, devido à lesão medular. (CASALIS 2007)
Pesquisas brasileiras indicam que grande parte da população de pessoas com lesão
medular é jovem e ainda em idade de atividade profissional intensa. (CARAVIELLO, 2005 e
CASALIS, 2003)
Devido às alterações motoras e sensitivas, muitas dessas pessoas passam a depender
de adaptações para sua movimentação, locomoção, permanência em ambientes diversos e para
realizar atividades de vida diária. Exemplos dessas adaptações são: muletas, cadeira de rodas,
utensílios adaptados para higiene, alimentação e vestuário, modificações nas edificações
públicas e em suas casas. Em alguns casos, mesmo após a reabilitação, a pessoa pode não
conseguir retomar à atividade ocupacional anterior, principalmente se essa exigir esforço e
habilidades físicas específicas.
Além de terem que se adaptar a uma nova forma de realizar as atividades práticas,
essas pessoas têm que se adaptar ao impacto social e emocional de todas essas mudanças,
muitas vezes comprometendo sua auto-estima e autoconfiança, podendo passar, ainda, por
episódios de depressão ou ansiedade.
O estudo deste tema na abordagem psicossomática envolve a compreensão de que a
lesão medular pode ser entendida como um evento que ocorre no plano físico/corporal e,
concomitantemente, no plano psíquico, pois passa a ser um componente da elaboração da
identidade e do desenvolvimento pessoal de quem a adquire.
Entendo que a lesão medular e suas conseqüências podem colocar o paciente em uma
situação de crise, uma vez que são impostas mudanças em sua vida. Uma situação de crise
proporciona à pessoa uma condição de maior vulnerabilidade. Contudo, algumas pessoas
13
vivenciam esse processo de forma que as mudanças parecem ser extremamente ameaçadoras
para a sua integridade, e outras conseguem lidar com o sofrimento e fazer com que a
aquisição da deficiência passe a fazer parte do processo de estruturação da sua identidade.
É neste ponto que encontro a justificativa para utilizarmos os conceitos e instrumentos
de avaliação de resiliência que, segundo Grotberg, (2005, p. 15) é “a capacidade humana para
enfrentar, vencer e ser fortalecido ou transformado por experiências de adversidade.”
A decisão pelo estudo da resiliência em adultos com lesão medular, dependentes de
cadeira de rodas, que voltaram e não voltaram a trabalhar, está pautada na concepção de que
essa condição motora específica pode denotar uma adversidade objetiva, uma vez que pode
causar restrições que se constituem como riscos para o desenvolvimento pessoal. A
dependência da cadeira de rodas, bem como lidar com as demais conseqüências clínicas e
sociais podem interferir ou prejudicar as atividades de vida prática e diárias esperadas para a
fase adulta como, por exemplo, impedir o retorno para a atividade profissional anterior.
Tão importante quanto a natureza objetiva, o estudo se justifica pela conotação
subjetiva da adversidade, que depende de como a pessoa e o grupo no qual está inserida
percebem e lidam com a aquisição da deficiência.
Superadas as etapas do processo reabilitativo, observo que algumas dessas pessoas
continuam se dedicando quase que exclusivamente à sua saúde física, mantendo expectativas
de recuperação da condição anterior, enquanto outras conseguem dividir sua atenção entre os
cuidados com a saúde e a continuidade das atividades sociais, culturais e ocupacionais. Estas
últimas parecem conseguir retomar o caminho do seu desenvolvimento pessoal, ainda que
tenham que lidar com as limitações físicas e sociais.
Os recursos que cada indivíduo utiliza para lidar com as mudanças ocorridas parecem
depender da sua história de vida, do seu desenvolvimento psicológico, assim como do
contexto afetivo, social e econômico no qual está inserido. (ALVES ET AL., 1992;
KOVÁCS, 1997 e VASCH, 1988)
Sabe-se que os fatores constitutivos da resiliência de uma pessoa têm suas raízes no
seu processo de desenvolvimento (ARAÚJO, 2006). Sauaia (2003) identificou habilidades
que considerou fundamentais para o processo resiliente e as dividiu em duas categorias: a
primeira refere-se à habilidade de percepção de si”, que engloba características como
autonomia, senso de objetivo e futuro, habilidade cognitiva e percepção corporal. A segunda,
refere-se à percepção do “outro” e engloba características como competência social e
habilidade para resolver problemas.
14
Ao longo da revisão da literatura apresentada neste trabalho, poderemos observar que
os fatores citados como necessários para lidarmos de forma resiliente com adversidades são,
muitas vezes, citados por autores que estudam os fatores influenciadores nas reações
emocionais relacionadas à aquisição de uma deficiência física.
Dessa forma, o estudo da resiliência parece fornecer suporte para a compreensão dos
aspectos envolvidos na reabilitação e inclusão de pessoas com deficiências físicas.
Entendo a inserção no mercado de trabalho como um dos possíveis resultados da
reabilitação, que exige um bom vel de resiliência, pois é necessário que a pessoa reconheça
seus potenciais e consiga lidar adequadamente com suas dificuldades e limitações, para que
consiga se expor socialmente e assumir responsabilidades e direitos como cidadão.
Neste trabalho, a Psicologia Analítica fornecerá o suporte teórico para a reflexão a
respeito da influência da aquisição da deficiência física no processo de desenvolvimento
pessoal e para a análise dos fatores pessoais e sociais envolvidos no processo de inclusão.
Este trabalho pode ter relevância para psicólogos e profissionais da reabilitação, pois
pretende levantar as características sócio-demográficas e os fatores de resiliência de uma
amostra de pessoas com lesão medular, permitindo o estudo dos seus aspectos psicológicos.
Além disso, visa comparar essas características em grupos de pessoas com lesão medular que
estão inseridos no mercado de trabalho e os que não estão, proporcionando o levantamento de
aspectos que podem favorecer ou criar barreiras para a inclusão dos mesmos.
Além de fornecer subsídios aos profissionais interessados na reabilitação desses
pacientes, o trabalho poderá contribuir para os setores envolvidos no movimento pela inclusão
profissional, tão estimulado atualmente pelo Ministério Público do Trabalho, através da “lei
de cotas” - Lei 8.213/91 e Decreto 3.298/99, que exige que empresas contratem uma
porcentagem de pessoas com deficiências, dependendo do número total de funcionários, da
seguinte forma:
[...] serão reservados de 2% a 5% de cargos de trabalho para pessoas portadoras de
deficiência habilitadas e/ou beneficiários reabilitados, em empresas com mais de
100 empregados, nas seguintes proporções: até 200 empregados 2%; de 201 a 500
3%; de 501 a 1000 4%; 1001 em diante 5%. (MINISTÉRIO PÚBLICO DO
TRABALHO, 2001)
Os temas que esta dissertação pretende abordar estão distribuídos em capítulos, da
seguinte forma: Capítulo 2, com a descrição dos objetivos; Capítulo 3, com a revisão da
15
literatura sobre lesão medular, os aspectos emocionais da pessoa com deficiência física
adquirida, a perspectiva histórica da inclusão da pessoa com deficiência, os aspectos
arquetípicos da postura excludente, a inclusão da pessoa com deficiência no mercado de
trabalho, a resiliência e por fim, a avaliação da resiliência; no Capítulo 4 será apresentado o
método utilizado para a pesquisa; no Capítulo 5 serão apresentados os resultados da pesquisa;
no Capítulo 6 a discussão desses resultados e no Capítulo 6 as considerações finais.
16
CAPÍTULO 2 - OBJETIVOS
a) Levantar as características sócio-demográficas e de resiliência da amostra de pessoas
com lesão medular.
b) Comparar as diferenças das características sócio-demográficas, entre o grupo de
pessoas com lesão medular que trabalham e o grupo dos que não trabalham.
c) Comparar os fatores de resiliência entre o grupo de pessoas com lesão medular que
trabalham e o grupo dos que não trabalham.
d) Levantar os aspectos psicológicos da amostra, a partir dos resultados dos fatores de
resiliência.
17
CAPÍTULO 3 - REVISÃO DA LITERATURA
Este capítulo pretende apresentar uma revisão da literatura sobre a lesão medular, os
aspectos psicológicos e sociais de pessoas que adquirem uma deficiência física, o conceito e a
história da inclusão de pessoas com deficiências, e as pesquisas realizadas sobre a inclusão de
pessoas com deficiências no mercado de trabalho.
Serão explorados, ainda, o conceito de resiliência e os seus instrumentos de avaliação.
A fundamentação teórica, que dará suporte para a reflexão sobre os temas
apresentados, está pautada na Psicologia Analítica.
3.1 LESÃO MEDULAR E REABILITAÇÃO
A medula espinhal é a via de comunicação entre o cérebro e as diversas partes do
corpo. Além disso, funciona como um centro regulador que controla as funções de respiração,
circulação, a bexiga, intestino, controle térmico e a atividade sexual. (LIANZA, 2007)
Independentemente da etiologia, a lesão da medula espinal provoca alterações
motoras, sensitivas e autonômicas. As manifestações clínicas variam de acordo com o nível e
o grau da lesão medular, sendo que sua instalação pode ser abrupta, originando o quadro
clínico denominado choque medular; ou progressiva, cujas alterações surgem gradualmente.
O choque medular é caracterizado por paralisia flácida, anestesia abaixo do nível da
lesão, alterações esfincterianas, sexuais e na termorregulação. Se a lesão comprometer
segmentos cervicais ou torácicos altos, podem ocorrer problemas respiratórios. O quadro pode
variar quanto à sua duração, portanto, não revela fielmente a intensidade da lesão, não sendo
possível à equipe de reabilitação fazer um prognóstico funcional do paciente até que se supere
a fase aguda. (CASALIS, 2007)
Após a fase do choque medular, inicia-se a reorganização funcional das estruturas
medulares localizadas abaixo da lesão, ficando melhor definido o quadro clínico.
O diagnóstico e prognóstico funcional são feitos a partir de avaliação neuro-fisiátrica,
e inclui as determinações: do quadro clínico de paraplegia (comprometimento dos membros
inferiores) ou tetrapelgia (comprometimento dos quatro membros); do nível da lesão, que é
determinada pelo segmento mais caudal da medula com funções motora e sensitiva
preservadas; do nível motor, determinado pela avaliação da força muscular (segundo a
classificação proposta pela American Spinal Injury Association) e do grau de lesão, que pode
18
ser incompleta (com existência de função sensitiva e/ou motora abaixo do nível da lesão) ou
completa (ausência de função sensitiva ou motora abaixo do nível da lesão) (CASALIS,
2007). “Em termos gerais, podemos dizer que quanto mais alta é a lesão, maior é a perda das
funções motora, sensitiva e autônoma, e maiores as alterações metabólicas do organismo.”
(LIANZA, 2007).
A partir daí, o paciente passa para a fase de ajustamento à nova condição, quando
passa a conviver com suas seqüelas, buscando o domínio sobre todas as suas funções, mesmo
que elas não respondam ao controle voluntário.
A falta de movimento e a aspiração em voltar a adquirir a independência em
locomoção constituem a preocupação inicial de todo paciente com lesão medular,
porém, toda uma gama de complicações devido às alterações da fisiologia nervosa
devem ser controladas pelo médico responsável pelo programa de reabilitação, a fim
de se atingir o objetivo principal, que é a reintegração familiar e comunitária dentro
das maiores possibilidades físicas e funcionais. (LIANZA, 2007)
Assim como Lianza (2007), outros autores como Chamlian (1999) e Battistella (2003)
ressaltaram que a reabilitação desses pacientes deve ter como foco, além da melhora das
condições clínica e motora, a recuperação ou a reorganização de seus papéis sociais, conforme
as características individuais de cada um.
Com relação ao início do processo de reabilitação, um dado relevante encontrado por
Caraviello et al. (2005) diz respeito ao tempo que a amostra estudada levou para chegar ao
centro de reabilitação, cuja média foi de 29,7 meses.
Feito o diagnóstico, o paciente deverá iniciar um programa de reabilitação que inclui o
acompanhamento de especialidades médicas como Fisiatria, Neurologia, Neurocirurgia,
Ortopedia, Urologia, Psiquiatria, e de especialidades terapêuticas, de assistência à saúde e
social como: Atividade Física Adaptada, Enfermagem, Fisioterapia, Nutrição, Orientação
Profissional, Psicologia, Terapia Ocupacional e Serviço Social, entre outras.
O programa de reabilitação motora visa o alcance de algumas metas funcionais,
envolvendo atividades de vida diária (AVD
1
): alimentação, vestuário, higiene, escrita, manejo
de aparelhos, mudanças de posição e transferências, além do manejo dos auxiliares para
locomoção (órteses, cadeira de rodas, andadores, muletas e condução de automóvel). O grau
de independência para a realização destas atividades dependerá do comprometimento motor
causado pela lesão (ARES, 2007). Além destes, fatores sociais e psicológicos também podem
1
A partir deste ponto, utilizaremos a sigla AVD para nos refirirmos ao termos Atividades de Vida Diária.
19
influenciar o grau de independência e autonomia de pessoas com deficiência física. Estes
fatores serão discutidos mais adiante.
A amostra deste estudo foi caracterizada pelo quadro de paraplegia, com lesões em
níveis torácicos e lombares.
As pessoas com estes níveis de lesão podem adquirir independência total para AVD,
incluindo conduzir a própria cadeira de rodas ou veículos adaptados, à medida que seu
equilíbrio melhora. Em alguns casos, pode ser necessária a utilização de equipamentos
adaptados, como, por exemplo: alcançadores e cadarços adaptados. Em níveis mais baixos,
poderá haver prognóstico de marcha independente ou com utilização de auxiliares, como:
andadores, muletas e órteses (STAAS, 2002; ARES, 2007). Contudo, para a composição da
amostra, foi adotado como critério de inclusão que os participantes fossem dependentes de
cadeira de rodas para locomoção comunitária, mesmo que estivessem aptos à marcha
domiciliar com o uso de auxiliares.
Além do quadro de paraplegia, as lesões torácicas e lombares podem ocasionar
espasticidade, dores, problemas respiratórios, alterações vasculares (trombose venosa
profunda), alterações autonômicas (hipotensão ortostática, disreflexia autonômica, respostas a
mudanças de temperatura) e aquisição de deformidades músculoesqueléticas. E, devido à
paralisia e falta de sensibilidade pode ocorrer dificuldade de mudança de posição, aumentando
o risco de desenvolver úlceras de pressão. Isso causa sérias restrições às atividades da própria
reabilitação e de atividades sociais e ocupacionais, uma vez que o seu tratamento é
prolongado, exige posturas com total alívio da pressão e uso de curativos, podendo exigir
recursos de cirurgia plástica. (GRANERO, 1999; CASALIS, 2003; ARES, 2007)
3.1.1 Etiologia e Epidemiologia
As estatísticas mundiais revelam que, por ano, a cada um milhão de pessoas, 30 a 40
delas sofrem lesão medular (STAAS, 2002; CASALIS, 2003b e 2007a). Segundo Casalis
(2007), aplicando tais dados à população brasileira, pode-se supor que cerca de sete mil
pessoas por ano apresentam esse grave comprometimento neurológico.
levantamentos estatísticos feitos na cidade de São Paulo, indicando que as lesões
medulares acontecem em maior percentagem em pessoas jovens, com predominância do sexo
masculino. Os dados levantados por Caraviello et. al (2005) indicaram que 66,7% da
população estudada era do sexo masculino, com média de idade de 35,7 anos. O levantamento
20
estatístico, citado por Casalis (2003), mostrou que a média de idade da população era de 30
anos, sendo que 80% correspondia ao sexo masculino.
Estes dados são compatíveis com estudos internacionais, que registram que a lesão
medular acontece principalmente em adultos jovens, sendo o sexo masculino também
responsável pela maioria dos casos (NATIONAL SPINAL CORD INJURY STATISTICAL
CENTER, 2008; STAAS, 2002).
Da mesma forma, no levantamento realizado por Valledor (2005), em Toledo -
Espanha, encontrou-se 75% de pessoas do sexo masculino e 25% do feminino.
As causas da lesão medular podem ser traumáticas ou não traumáticas. Dentre as o
traumáticas, destacam-se as relacionadas a tumores, doenças infecciosas, vasculares e
degenerativas. Entretanto, os estudos nacionais têm apontado uma maior percentagem de
traumas como causas de lesão medular. Dentre eles, as maiores percentagens indicam os
ferimentos por arma de fogo como a principal causa de lesão medular na população brasileira,
sendo também relevantes as percentagens relativas a acidentes automobilísticos e quedas.
(CASALIS, 2003; CARAVIELLO, 2005)
Para Battistella (2003) e Casalis (2003), a alta incidência de ferimentos por arma de
fogo e acidentes automobilísticos reforça a necessidade de multiplicar as campanhas de
prevenção de acidentes, que deve incluir respeito às regras de segurança no trânsito, cuidado
ao mergulhar e evitar o uso de armas, além de programas que visem promover melhorias das
condições sociais.
Semelhante a esses estudos, no âmbito internacional os dados apresentados pelo
National Spinal Cord Injury Statistical Center (2008) apontam os acidentes automobilísticos
como a causa mais freqüente, seguida de quedas e, posteriormente, os atos de violência,
principalmente, ferimentos por arma de fogo, além das lesões adquiridas por atividades
esportivas.
O estudo epidemiológico realizado por Valledor (2005) também aponta para os
eventos traumáticos como a causa de maior freqüência na lesão medular e, neste caso, a
maioria também por acidente automobilístico, não sendo referidos casos de ferimento por
arma de fogo. Em menor percentagem, encontrou as causas médicas e congênitas.
Esses estudos indicam que as causas da lesão medular estão, predominantemente,
relacionadas a traumas, principalmente em situações de violência e acidente automobilístico.
Com relação às informações sócio-demográficas desta população, encontramos poucos
estudos. Contudo, o realizado pelo National Spinal Cord Injury Statistical Center (2008)
encontrou mais da metade (57,4%) das pessoas com lesão medular admitidas em um centro
21
modelo, que referiram estar empregadas à época do acidente, e que, após o décimo ano depois
do acidente 32,4% das pessoas com paraplegia estavam empregadas. Com relação aos estado
civil, encontraram que a maioria (52,5%) era solteira quando adquiriu a lesão medular, e que,
entre os que estavam casados quando se lesionaram, assim como os que casaram depois da
lesão, a probabilidade de que seu casamento permaneça intacto é um pouco menor, quando se
compara com a população geral. Encontraram, também, que a probabilidade de se casarem
diminui depois da lesão medular.
3.1.2 Aspectos Psicológicos e Qualidade de Vida
Granero (1999), Staas (2002), Casalis (2003) e Lianza (2007) citaram, além das
seqüelas motoras e sensitivas, as dificuldades psicológicas como uma das conseqüências da
lesão medular que requerem atenção da equipe de reabilitação, para que as metas de ganhos
funcionais possam ser atingidas. Referiram que os conflitos relacionados com a imagem
corporal, afetando a estrutura emocional da pessoa, além dos diversos fatores como idade,
fase de vida, condições familiares e sócio-culturais, influenciam a reação à nova condição
vivida após a lesão medular.
Esses autores fizeram referência às fases de choque, negação, reconhecimento e
adaptação, pelas quais notaram que a maior parte dos pacientes com lesão medular passam.
Essas fases serão apresentadas, e melhor exploradas, no tópico seguinte, que tratará
especificamente das questões emocionais relacionadas à aquisição de uma deficiência física.
Vall et al. (2006) desenvolveram uma pesquisa, cujo objetivo era avaliar os domínios
qualidade de vida de pessoas com lesão medular traumática, na cidade de Fortaleza, Ceará,
Brasil. Para isso, aplicaram o questionário “The MOS 36-item Short-Form Health Survey” em
uma amostra de 32 pacientes paraplégicos adultos, sendo, a maioria, do sexo masculino, com
idade entre 20 a 47 anos e com entre 5 a 10 anos de lesão.
Como definição de qualidade de vida, utilizaram aquela proposta pela Organização
Mundial de Saúde (OMS):
... qualidade de vida é a percepção do indivíduo em relação a sua posição na vida, no
contexto da cultura e do sistema de valores nos quais vive e em relação aos seus
objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Essa definição, inclui seis domínios
principais: saúde física, estado psicológico, níveis de independência, relacionamento
social, características ambientais e padrão espiritual. (VALL et al., 2006, p. 452)
22
Dentre os domínios investigados, consideraram os aspectos sociais como um dos mais
importantes, visto que a amostra apresentou grande comprometimento na reinserção à
sociedade. Encontraram comprometimentos, também, nos domínios “aspectos físicos” e
“aspectos emocionais”, demonstrando que o equilíbrio entre corpo e mente não estavam
ocorrendo satisfatoriamente, propiciando baixa qualidade de vida.
Para estes pesquisadores, a avaliação da qualidade de vida se mostrou importante,
devido à possibilidade de ampliar as decisões da equipe de saúde, que devem envolver,
também, as condições sociais, as crenças e motivações desses pacientes.
Este tópico apresentou uma descrição clínica da lesão medular, incluindo alguns
aspectos psicológicos e da qualidade de vida observados pelos estudiosos deste diagnóstico.
Nos tópicos seguintes, procuraremos compreender a lesão medular sob a perspectiva
psicossomática, tomando-a como um evento físico/corporal e também psíquico, uma vez que
passa a ser um componente da elaboração da identidade e do desenvolvimento pessoal de
quem a adquire.
3.2 DEFICIÊNCIA FÍSICA ADQUIRIDA - ASPECTOS PSICOLÓGICOS
A atuação do psicólogo na reabilitação de pessoas com deficiências físicas, é pautada
nos mesmos conhecimentos teóricos e técnicas de intervenção que se utilizam para o
atendimento da população em geral. Entretanto, concordando com as observações feitas por
Amiralian e Kovács (1997), podemos dizer que algumas adaptações se fazem necessárias,
devido às especificidades dessa população. Essas adaptações envolvem, por exemplo, o
conhecimento das seqüelas motoras, dos problemas clínicos e as possíveis alterações
cognitivas e comportamentais, além dos efeitos dos medicamentos.
O trabalho do psicólogo numa equipe interdisciplinar parece ser fundamental, pois, o
contato com diversos profissionais permite a troca de informações e a compreensão da pessoa
em atendimento, na sua totalidade.
Ao conceituar o termo reabilitação, Neder (1959) chamou atenção para o fato de
considerar necessário atender o sujeito na sua totalidade e, de acordo com esta postura,
ressaltou a importância do conjunto de profissionais:
[...] entendemos que a reabilitação seja a ação coordenada e contínua de uma equipe
de técnicos competentes junto à pessoa portadora de deficiência física ou mental,
23
com o fim de auxiliá-la a realizar suas potencialidades e objetivos física, social,
psíquica e profissionalmente, de modo a alcançar um melhor controle sobre si
mesma e sobre seu ambiente, enfrentando a realidade da vida.(NEDER, 1959, p.1)
Os aspectos psicológicos de pessoas com deficiência têm sido estudados, e muitos
achados se aplicam à população com deficiência em geral. No entanto, aspectos a se
considerar quando estamos trabalhando com deficiências físicas congênitas e deficiências
físicas adquiridas.
O presente capítulo tem como foco os temas relacionados à deficiência física
adquirida, e faremos algumas considerações sobre a sua influência no processo de
desenvolvimento pessoal. Esse foco foi escolhido pelo fato de a amostra deste estudo ter
como característica a aquisição de lesão medular.
3.2.1 O Impacto Emocional da Deficiência Física Adquirida
Neste ponto, abordaremos os estudos sobre os aspectos psicológicos de pessoas que
vinham cursando seu processo de desenvolvimento biopsicossocial e, por decorrência de um
trauma ou doença, sofreram uma perda ou alteração de estrutura orgânica relacionadas ao
aparelho locomotor (deficiência física). Por conseqüência dessa deficiência, essas pessoas
podem ter que lidar com restrições para a execução de algumas funções e com as
desvantagens decorrentes disso, o que interfere ou altera o processo de desenvolvimento no
qual a pessoa já estava.
Ao discutirem os aspectos psicológicos de pessoas com deficiências adquiridas,
autores como Kovács (1997), Alves et al. (1992) e Vash (1988) escreveram sobre a influência
do momento de vida em que a deficiência ocorre e na maneira como a pessoa enfrenta as
mudanças impostas por ela. Da mesma forma, a história de vida, as habilidades sociais e os
recursos emocionais desenvolvidos aentão foram citados como fatores que influenciam a
reação às limitações adquiridas.
E, ainda, o suporte e estrutura familiar, os recursos financeiros disponíveis para a
aquisição de aparelhos, medicamentos e tratamentos também parecem interferir na adaptação
à nova condição.
Com relação à própria deficiência, os mesmos autores apontam algumas características
que poderiam influenciar a reação frente a ela, tais como: a forma de instalação da deficiência,
que pode ser súbita, traumática, ou lenta e gradual; as funções prejudicadas; severidade da
24
deficiência; visibilidade das alterações corporais e de outras seqüelas e estabilidade ou
progressão das limitações.
Vash (1988) descreveu recursos internos e externos que, segundo ela, influenciam a
maneira como cada pessoa e cada família lidam com a deficiência. Como recursos internos,
citou a estabilidade emocional, os aspectos intelectuais, de personalidade e sicos, e como
recursos externos citou a condição financeira e a habilidade social.
Os recursos descritos por esses autores assemelham-se, em alguns aspectos, com as
qualidades que Flash (1991) descreveu como fundamentais numa personalidade considerada
resiliente. Entre as qualidades estão: ter forte e flexível sentido de auto-estima; ser
independente em pensamento e ação; ter habilidade em reconhecer e desenvolver seus
próprios talentos; grande tolerância ao sofrimento e habilidade de interpretar as experiências
pessoais com significado e esperança.
Job (2000) levantou mais alguns fatores e padrões importantes para a personalidade
resiliente, que nos remeteriam aos citados por Kovács (1997), Alves et al. (1992) e Vash
(1988), tais como: estrutura familiar adequada, posse de recursos financeiros e estar em
atividades ocupacionais e de laser.
Embora a maioria dos estudos e livros sobre deficiência física adquirida estejam
focados no sujeito adulto, isso também pode acontecer na infância, quando o desenvolvimento
biopsicosocial está em pleno curso e as alterações sensoriais, de tônus, de movimento, de
linguagem e das demais habilidades neuropsicológicas poderão alterar o desenvolvimento
neuropsicomotor. Essas crianças poderão ter dificuldade em explorar o ambiente e de
perceberem a si mesmas, o que alterará o processo de aprendizagem e a interação sócio-
afetiva que, anteriormente, ocorriam a partir do desenvolvimento sico natural e das
experiências concretas e afetivas que a criança vinha tendo.
Batshaw (1990) escreveu sobre o risco de crianças com deficiências terem menores
possibilidades de interação social, o que poderia levar a uma menor habilidade no
desempenho do convívio social. Habilidade esta que a pesquisa de Cecconello e Koller (2000)
apontou como um recurso necessário para o enfrentamento de situações adversas, conforme
veremos no tópico 3.7 Resiliência, deste trabalho.
A aquisição de uma deficiência física na adolescência também pode causar reações
emocionais e dificuldades psicológicas, envolvendo a auto-imagem que, nesta fase, é de
fundamental importância para a construção da identidade pessoal. Além disso, a restrição da
autonomia e a dependência para as atividades de vida diária podem dificultar a interação
25
social nesta fase em que o sentimento de pertencer a um grupo é de grande valia para a auto-
estima.
O conceito de resiliência e os fatores que a constituem pareceram ser muito úteis para
a compreensão sobre como as pessoas podem reagir ao impacto da aquisição de uma
deficiência. E, também, como esse evento pode ser experienciado pelo sujeito, influenciando
o seu processo de desenvolvimento pessoal.
Araújo (2006) apontou a auto-estima como a base para que o processo de resiliência
não apenas se instale, mas se mantenha ao longo da vida, pois, admirar-se e amar-se promove
o que ela chamou de “fé na vida”, e isto fornece força e suporte para viver com significado,
para lutar e ganhar com as adversidades.
A dificuldade em executar atividades, que muitas vezes são elementares na vida diária,
pode causar sentimentos de inutilidade, prejudicando a auto-estima de pessoas com
deficiência.
3.2.2 O Impacto Emocional na Aquisição da Lesão Medular
As pesquisas e relatos de casos têm mostrado que não uma única forma de
experienciar a aquisição de uma deficiência. No caso da lesão medular, diversos autores
(LIANZA, 2007; CASALIS, 2003; STAAS, 2002; GRANERO, 1999) reconheceram o
impacto emocional e os conflitos relacionados com a imagem corporal como eventos que
produzem uma quebra da unidade psicofísica, sendo necessário que a equipe se atente para
essas questões.
Eles também consideraram que diversos fatores, como idade, fase de vida, condições
familiares e sócio-culturais podem influenciar a reação à nova condição vivida após a lesão
medular. E citaram quatro fases que provocam mudanças de comportamento diante da
ocorrência da lesão medular. São elas:
1- fase de choque: em que o paciente encontra-se desorientado e assustado, sem
consciência de sua real situação, sendo importante a ação da equipe para a orientação à
família sobre os cuidados e condutas imediatas. Segundo Lianza (2007, p.343), “[...] o
paciente interrompe seu vínculo com o mundo exterior, numa tentativa inconsciente de
proteger sua imagem corporal, mantendo-a íntegra”.;
2 - fase de negação: em que a pessoa restabelece o vínculo com o mundo exterior e
começa a perceber a sua realidade, mas, diante da dificuldade em aceitá-la, mantém a crença
de que poderá se recuperar completamente, sendo útil por parte da equipe que haja
26
compreensão e respeito pelas expectativas do paciente, que façam recomendações firmes e
objetivas e que, gradativamente, forneçam informações realistas para que se tomem as
providências necessárias para o processo de reabilitação;
3 - fase de reconhecimento: em que a pessoa toma maior consciência de sua real
situação, podendo sentir-se ansiosa e/ou deprimida. Nesta fase, é comum o comportamento
queixoso, referindo desconforto, dores, dificuldade em obter ajuda adequada dos cuidadores,
ou de sentir-se culpado pelo trabalho que causa à família.
Embora haja muito sofrimento nesta fase, a pessoa começa a reconstruir sua auto-imagem de
forma realista, sem negar sua condição. Por isso, passa a ser muito importante que a equipe
estimule a participação do paciente nas decisões sobre a sua reabilitação, estabelecendo metas
realistas a curto e longo prazos, valorizando o potencial preservado.
Oliveira (2001) apresentou a reação depressiva como um fato que parece ser inevitável
nos casos de aquisição de deficiência por lesão medular, uma vez que as perdas funcionais
apresentam-se como uma realidade. Contudo, em alguns casos essa tonalidade depressiva
pode estender-se por determinado período ou consolidar-se como a base para a estrutura de
personalidade, valendo a investigação das características psicológicas prévias;
4 - fase de adaptação: em que a pessoa compreende os objetivos do processo de
reabilitação e se mantém colaborativo e participativo. Nesta fase, pode haver uma melhora na
consciência corporal, reestruturação da auto-imagem, auto-estima e autoconfiança.
Embora sejam sempre citadas, esses autores ressaltaram que essas fases são uma
esquematização dos comportamentos comumente observados pelas equipes de reabilitação, o
que não significa que todos os pacientes passem por todas as fases, nem exatamente nesta
seqüência.
Lianza (2007) escreveu que a fixação ou regressão a alguma dessas fases pode gerar
conseqüências graves no processo de reabilitação.
Sabemos que uma das reações psíquicas mais negativas que o paciente pode
apresentar é a indiferença diante da lesão medular; é o paciente que não se deprime
nem se mostra agressivo, apresentando-se passivo, desmotivado, sem iniciativa,
conduta que reflete grave perturbação psíquica, devendo ser corretamente tratada antes
de se iniciar o processo de reabilitação. (LIANZA, 2007, p. 344)
Oliveira (2001) escreveu que algumas pessoas com lesão medular se utilizam,
inconscientemente, de mecanismos de defesa que ocasionam um distanciamento afetivo e
27
uma racionalização a respeito do sofrimento inerente às perdas vividas. Desta forma,
costumam conseguir a construção de relações sociais importantes e estáveis que, de certa
forma, lhes retribuem o esforço e lhes reforçam o recurso defensivo.
Para o autor, essas pessoas podem apresentar uma boa estabilidade emocional e
manterem boa integração social, embora possam estar abusando deste mecanismo de defesa,
tornando-se distantes afetivamente de si mesmos e dos outros. Assim, podem conseguir ter
uma vida ocupada, com atividades sociais, mas sem “apaixonar-se” ou conseguir atribuir
significado para as coisas e pessoas que estão à sua volta. Nestes casos, correm o risco de
terem que confrontar-se inesperadamente com emoções fortes, que provoquem movimentos
regressivos, que os façam vivenciar, de novo, emoções e dores passadas que não foram
elaboradas.
3.2.3 O Impacto da Deficiência na Família
Concordando com Kovács (1997) e Sobrinho et al. (1992), poderíamos dizer que a
deficiência adquirida acontece com um membro da família, porém, o processo de elaboração
de sentimentos e de mudanças na vida diária acontece com todas as pessoas pertencentes ao
sistema no qual a pessoa com deficiência está inserida.
E, da mesma forma que a pessoa com deficiência passa por diferentes estágios, o
grupo familiar também pode vivenciar diferentes sentimentos que podem se alterar com o
tempo e com as experiências que tiverem. A vivência desses estágios pode ocorrer de formas
diferentes em cada membro da família.
Quando um dos membros da família adquire uma deficiência física, as mudanças
sofridas pelo indivíduo podem causar mudanças em todo o sistema familiar.
Em famílias de pessoas adultas que adquirem uma deficiência física, a primeira
mudança parece envolver o fato desse membro passar a necessitar de cuidados especiais,
mobilizando uma ou mais pessoas para atender às suas necessidades. O nível de ajuda pode
diferir em termos de tempo e disponibilidade, podendo ser necessário que o cuidador deixe
suas próprias atividades para dedicar-se aos cuidados do paciente, acarretando mudanças de
papéis em todo o sistema familiar.
Estas mudanças podem gerar sentimentos ambivalentes, nos quais os cuidadores
percebem a real necessidade de ajudarem, mas, ao mesmo tempo, podem se sentir frustrados
por terem que abrir mão de sua rotina e independência.
28
Para lidar com o sentimento de culpa, os familiares podem superproteger a pessoa com
deficiência que, segundo Buscaglia (1997), se configura como um cuidado inadequado, que
não favorece o desenvolvimento da autonomia.
De outra forma, cuidadores que encontram um sentido para sua vida, à medida que
existe alguém dependendo dos seus cuidados. Nestes casos, corre-se o risco de a pessoa com
deficiência sentir-se aprisionado em sua condição, o que pode impedir o desenvolvimento da
sua autonomia.
Diante da complexidade dessas relações, o psicólogo junto à equipe de reabilitação,
deve dedicar-se ao atendimento às famílias, visando informá-las e auxiliá-las a elaborar os
sentimentos envolvidos na situação.
Ao psicólogo caberão os cuidados em auxiliar essas pessoas a retomarem o seu
processo de desenvolvimento pessoal.
3.3 DEFICIÊNCIA E INDIVIDUAÇÃO - RETOMADA DO PROCESSO DE
DESENVOLVIMENTO
Como vimos, a pessoa que adquire uma deficiência pode passar por diversas fases e
processos psicológicos até que consiga adaptar-se à nova condição física de forma objetiva,
passando a utilizar-se dos recursos auxiliares, a solicitar a ajuda necessária e fazer os ajustes à
sua rotina diária. Entretanto, a aceitação da nova condição, envolvendo a possibilidade de
transformações pessoais profundas e a atribuição de significado à deficiência no processo de
vida, é um fenômeno complexo. Cabe ao psicólogo e à equipe de reabilitação atentar para
isso, para auxiliar essas pessoas a retomarem seu processo de desenvolvimento pessoal, ou
seja, seu processo de individuação.
Para falarmos deste tema, nos apoiaremos na fundamentação teórica da Psicologia
Analítica desenvolvida por Carl Gustav Jung.
Para Jung (1985), o processo de individuação, envolve a busca de tornar-se “Si
Mesmo”. É um processo de diferenciação como ser único, que não exclui a consciência de
que fazemos parte de um todo coletivo. Pode ser descrito como o processo do
desenvolvimento da personalidade individual, ou como um processo de desenvolvimento
pessoal em que buscamos a totalidade psíquica. Esse processo ocorre ao longo de toda vida,
por diversas formas de tentativas de integrarmos os conteúdos inconscientes à consciência, o
29
que nos aproxima cada vez mais do nosso Self, nossa identidade mais profunda, dando, assim,
um sentido para a nossa existência.
Segundo Alves et al. (1992), em função do impacto da deficiência e dos sentimentos
negativos relacionados a esta condição, as pessoas que adquirem uma deficiência podem
vivenciar um período de depressão, momento em que o são capazes de se ver na sua
totalidade, pois os aspectos sadios e deficientes estão cindidos.
Neste primeiro momento, sua atenção parece ficar voltada apenas para o que
perderam, ocorrendo uma tendência a supervalorizarem as perdas, fazendo com que as
incapacidades passem a dominar o psiquismo.
Wahba (2006), no texto em que se dedicou à compreensão do funcionamento psíquico
de pessoas com lesões encefálicas, citou Guggenbühl-Craig (1980 apud WAHBA, 2006),
quem escreveu sobre a nossa tendência de entendermos que a totalidade psíquica tem a ver
com um estado de saúde perfeita, e assim, retirarmos do arquétipo do inválido seu direito de
expressão.
Posteriormente, neste trabalho, serão retomados, tanto o conceito de arquétipo como o
arquétipo do inválido proposto pelo autor. Contudo, para a melhor compreensão deste tópico,
consideramos útil citarmos que arquétipos são componentes psíquicos impessoais, que o
herdados e se manifestam no inconsciente de todas as pessoas. (JUNG 1985a; 1987)
De acordo com Wahba (2006), como todo conteúdo que é negado pelo ego, o
arquétipo do inválido, em determinado momento exigirá seu direito a expressão, fazendo com
que a sua incorporação seja necessária para o processo de individuação de cada um de nós.
O que parece ocorrer em casos de pessoas com deficiências adquiridas é que, por
algum tempo, esse arquétipo se faz presente e atuante de tal forma, que reduz a percepção de
outros potenciais. Porém, identificando-se essa “invasão”, pode-se integrar seus conteúdos à
consciência e deixar espaço para a expressão dos potenciais preservados ou que ainda podem
ser desenvolvidos. Assim, o contato com o arquétipo do inválido pode favorecer a adaptação
às limitações impostas pela deficiência e, também, pode impulsionar a retomada do processo
de desenvolvimento pessoal.
O que acontece com pessoas que adquirem uma deficiência física é que, em grande
parte dos casos, a persona (“máscara” com a qual nos apresentamos socialmente) sofre um
rompimento, uma vez que se torna difícil, temporária ou permanentemente, manter os papéis
sociais desempenhados anteriormente.
Inicialmente, o abrupto rompimento com a persona pode ocasionar dificuldades para
recuperar o senso de identidade individual, porém, se o processo de desenvolvimento pessoal
30
for ativado, este pode ser um primeiro passo para que o indivíduo perceba que em sua
totalidade há outros potenciais que podem ser assumidos ou desenvolvidos.
Segundo Goldbrunner (1961), a partir da percepção de que a persona não corresponde
à totalidade da personalidade, o ego pode fazer contato com os conteúdos que antes foram
reprimidos, pois não estavam de acordo com as exigências do padrão da persona, e que
constituem o que Jung denominou a sombra daquela personalidade. O reconhecimento da
sombra nos dá a devida humildade necessária para aceitarmos a imperfeição.
Além disso, o ego encontra-se disponível para entrar em contato com os conteúdos do
inconsciente coletivo, como, por exemplo, o arquétipo do inválido.
Temos, nessa situação, uma possibilidade de ampliação da consciência e um
aprofundamento no auto-conhecimento. Assim, gradualmente a pessoa poderá desenvolver
uma nova persona, constituída de novos papéis sociais, mas, talvez, mais flexível e consciente
de que não corresponde à totalidade psíquica deste indivíduo.
Contudo, como veremos a seguir, embora atualmente hajam muitos movimentos para
a inclusão social, educacional e profissional de pessoas com deficiências, em muitos casos
essas pessoas encontram-se excluídas da sociedade, seja por dificuldades de acessibilidade,
preconceito, ou fatores psicológicos de baixa auto-estima e auto-confiança.
E, de acordo com Wahba (2006), retraídos, permanecendo em ambientes
empobrecidos de contato social e de estímulos, essas pessoas ficam sem muitas possibilidades
de expressão e de experimentação, dificultando a possibilidade de encontrarem um sentido
para a vida.
Após estas considerações a respeito da possibilidade de a deficiência adquirida
estimular a continuidade do processo de individuação, vale, agora, nos dedicarmos à
compreensão de sua possível colaboração para o desenvolvimento das demais pessoas que
participam do sistema familiar ou social.
A começar pelo fato da aquisição da deficiência poder promover transformações
profundas na pessoa acometida, vimos que isso pode exigir alterações em todo o sistema
familiar.
A relação de dependência para atividades de vida diária é um outro aspecto que pode
promover transformações nos demais membros da família, não apenas pela necessidade de
reorganização das tarefas e dos papéis, mas, num nível mais profundo exige que a pessoa com
deficiência e o cuidador lidem com verdades da vida íntima, que, em outra situação não se
faria. Por exemplo, a mãe de um adolescente, ou a parceira de um adulto, poderão ter que
lidar com os ritmos biológicos e com a sexualidade de uma forma franca e aberta. Assim,
31
pode ocorrer uma quebra na superficialidade das relações, pois passa a ser inevitável que as
pessoas entrem em contato com quem realmente são.
Neste sentido, poderíamos considerar que a ocorrência de uma deficiência física pode
ser um agente transformador também na família, podendo gerar amadurecimento e o
descobrimento de potenciais em todos os membros envolvidos e não somente para a pessoa
que a adquiriu.
Da mesma forma que na família, para a sociedade, lidar com a inclusão de pessoas
com deficiências pode ser um fator de transformação e evolução. O próximo tópico, 3.4 A
Inclusão da Pessoa com Deficiência, pretende abordar essa possibilidade.
3.4 A INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
Este capítulo traz a perspectiva histórica e a situação atual da inclusão social,
educacional e profissional de pessoas com deficiências no Brasil e no mundo.
Ao apresentar informações coletadas por estudiosos, teremos como objetivo fazer uma
reflexão a respeito do desenvolvimento da nossa sociedade diante dessas questões.
Por movimento de inclusão, entendemos o processo que envolve não somente as pessoas
com deficiência, mas todos os indivíduos da sociedade, e que ocorre em diversos segmentos
como a escola, o mercado de trabalho, arquitetura e urbanismo, cultura, lazer, esportes e etc.”
(MASIERO, 2006). Tal movimento, segundo Amiralian (2005), retoma a luta de diferentes
grupos que se sentem prejudicados e excluídos dos benefícios da sociedade, pelos preceitos
básicos da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948.
No mesmo artigo, a autora refletiu sobre o uso dos termos “inclusão” e “integração” e
concluiu que estes podem ser considerados como complementares, mas ressaltou que tais
termos têm sido utilizados de diferentes formas, ora como sinônimos, ora como descritores de
processos históricos diferentes.
No texto em que discutiu essa terminologia, ela adotou definições para os termos
“inclusão” e incluir”, que apontaram a idéia de compreensão, além dos fenômenos e atos de
conter, envolver e pertencer. E, para as palavras integração” e integrar” foram assinalados
os processos de unificação social, que asseguram a inteireza de um grupo social ou
instituição.
Sendo assim, quando falamos em inclusão, estamos falando de uma situação em que,
ao conhecermos e compreendermos as necessidades específicas de cada pessoa ou grupo de
32
pessoas, inicia-se a possibilidade de que elas sejam integradas, que passem a pertencer aos
espaços comuns e fazer parte integrante deles.
Esclarecidos os termos e identificada a complementariedade dos dois, decidimos
adotar neste texto apenas o termo “inclusão”, tanto por ser o termo adotado pelas
comunidades interessadas no assunto, quanto para facilitar a fluência para o leitor.
Alguns autores sistematizaram informações sobre a história da deficiência, sobre como
a sociedade, a medicina e a escola se relacionavam com pessoas com deficiências ao longo do
tempo e até a atualidade. E, a partir daqui, apresentaremos uma síntese dessas informações,
mantendo o foco em como aconteciam as práticas inclusivas em cada período.
No tópico seguinte, apresentaremos algumas características arquetípicas, que parecem
estar envolvidas na relação dos grupos sociais com as pessoas com deficiências ao longo da
história.
Ao iniciar o relato da história sobre como as pessoas com deficiência foram e são
tratadas na sociedade, Nardi (2007) refletiu sobre o fato de que as pessoas constroem sua
existência ao assumirem os papéis sociais em determinado contexto histórico.
E, foi desta perspectiva que a autora descreveu a maneira como as pessoas ‘portadoras
de diferenças’, como ela chamou, foram tratadas ao longo da história, trazendo sempre as
características das sociedades e dos papéis sociais necessários para a manutenção e
sobrevivência daquele grupo.
Parece digno de nota que a habilidade para o trabalho é, e sempre foi, determinante na
definição dos papéis sociais e do status de cada membro da comunidade. Ao longo deste
tópico poderemos observar esse fato e verificaremos que a capacitação para o trabalho, por
muito tempo, foi pautada unicamente nas características do trabalhador. Entretanto, com o
avanço tecnológico, o acesso a ferramentas e materiais adaptados desencadeou uma mudança
do foco para as alterações no trabalho, favorecendo a inclusão de pessoas com deficiências no
mercado de trabalho e, portanto, na sociedade.
Nardi (2004), assim como outros estudiosos sobre o assunto (AMARAL, 1995 e
PESSOTI, 1984), notou que poucos registros e documentos científicos sobre as pessoas
com deficiência em tempos antigos, período que antecede o começo do século XIX.
Até o começo do século XIX, vamos perceber que:
[...] a forma que a sociedade lidava com pessoas com deficiência parecia estar
pautada na dificuldade de lidar com as diferenças, mostrando estarem no nível do
desenvolvimento da consciência em que é necessário obedecer às regras rígidas,
ditadas pela cultura que pregava padrões rígidos de comportamento e
33
relacionamento. Com estes padrões severos, pessoas com dificuldade de movimento,
que necessitavam de adaptações para as atividades diárias (comer, vestir-se,
higienizar-se, etc), com dificuldade para falar, compreender ou, ainda, exercer
extremo controle sobre suas emoções, dificilmente conseguiam corresponder às
expectativas de comportamento. (MASIERO, 2006, p.4)
A seguir, apresentaremos algumas informações contidas nesses achados, referentes ao
período que antecede o século XIX.
3.4.1 A deficiência na Pré-História e Idade Antiga
Segundo Screnci (2008)
2
, na Pré-História (antes de 3000 AC), a partir do período
Neolítico o desenvolvimento das técnicas de agricultura proporcionou uma reorganização das
sociedades, cuja sobrevivência, antes, dependia da caça e, a partir daí os papéis sociais, a
cultura e os bitos sofreram severas modificações. Contudo, embora naquele período as
sociedades primitivas tivessem conseguido se organizar melhor e adquirido maior controle
sobre a natureza (passaram a fazer previsões sobre o clima, a armazenar sementes e a se
organizar enquanto grupo), a sobrevivência ainda dependia das condições e habilidades
físicas, propriedade que as pessoas com deficiências físicas poucas vezes possuíam.
(informação verbal)
Notamos, então, que a diminuição da capacidade para o trabalho, limitava a
participação dessas pessoas na sociedade e, portanto, comprometia sua possibilidade de fazer
parte do grupo social.
Na Grécia Antiga podem ser destacadas, a referência espartana, que primava pela
beleza e perfeição dos movimentos do corpo, e a referência ateniense, na qual se cultivava a
supremacia do trabalho intelectual. Portanto, aqueles que não possuíam as habilidades físicas
e educacionais ideais eram considerados incapazes e desmerecedores dos mesmos direitos.
(NARDI, 2007)
Naquele período, surgiram os poemas homéricos, contando as histórias de batalhas, e
também desenvolveu-se a mitologia.
Esta autora encontrou, nos mitos gregos, evidências de que o abandono e a exclusão
eram as formas predominantes de se lidar com as pessoas com deficiências.
2
Screnci, N. Curso: História da Arte. Mube, São Paulo, 2008.
34
São seres como os apontados acima que remontam o mito do bode expiatório de
uma sociedade excludente, que a todo momento elege como defendemos nesta tese,
alguns indivíduos, vistos como capazes de aglutinar todo mal existente no país[...]
(NARDI, 2007, p. 53)
No tópico seguinte, faremos uma reflexão a partir dos mitos de Procusto, do Bode
Expiatório e do Arquétipo do Inválido, sobre como os movimentos de aceitação do que é
diferente, em diversas sociedades e épocas, pareceram apontar características arquetípicas,
que envolvem os movimentos de integração e inclusão.
3.4.2 A Deficiência na Idade Média
Voltando agora para a descrição da história, chegamos à Idade Média (500 a 1500
DC).
Ao pesquisar sobre como eram vistas as pessoas com deficiências na Idade Média,
Nardi (2007) ressaltou a forte influência dos pressupostos religiosos em toda a construção de
conhecimento e de posturas sociais produzidas na época, e encontrou referências de que
aquelas pessoas eram consideradas como possuidoras de alguma força do bem ou do mal.
Vemos, novamente, a sociedade categorizando as pessoas com deficiências e, de forma
autoritária, atribuindo significado à diferença, sem deixar oportunidade para o próprio
deficiente definir sua existência e seu papel social.
É relevante notar que, mais uma vez, a forma de produção da sobrevivência
determinava a organização social naquela época, que era marcada pelas atividades agrícolas.
Aqui, notamos que o nível de evolução da consciência social continuava sendo guiado pelo
suprimento das necessidades básicas, mas, agora também, pela orientação religiosa que
pregava a noção da perfeição como ideal, fazendo com que os imperfeitos representassem os
pecados.
Apesar disso, de forma dúbia, a doutrina cristã impôs os sentimentos de misericórdia e
caridade, substituindo as atitudes de abando e extermínio das pessoas consideradas ‘anormais’
por movimentos de acolhimento e proteção para elas.
Desta época, encontram-se registros do surgimento de abrigos, hospitais e instituições
para tratamento e educação de pessoas pobres ou doentes. E, dentre os considerados doentes
35
estavam as pessoas com deficiências: cegos, deficientes intelectuais, auditivos e físicos.
(NARDI, 2007)
Ainda assim, embora nesta época tenha havido uma maior tolerância com a presença
de pessoas com deficiências na sociedade, o movimento excludente predominava.
Na Idade Média, a ciência e a filosofia foram se desenvolvendo e iniciou-se a
transformação das explicações dos fenômenos que, até então, eram pautadas nos mitos e na
superstição.
3.4.3 A Deficiência na Idade Moderna
Na Idade Moderna (depois de 1500), no século XVIII, com o desenvolvimento das
ciências e a busca por uma sociedade saudável e pura, a doença (inclui-se a deficiência) era
vista como algo que perturbava a ordem e que deveria ser diagnosticada, classificada, tratada
e curada para evitar o caos.
Da mesma forma, as diferenças sociais, que causavam comportamentos sociais
diferentes, eram vistas como desorganizadoras da comunidade e, para manter a ordem, foram
formuladas leis que beneficiavam instituições de caridade e filantrópicas, que tinham a função
de cuidar das camadas minoritárias e, com isso, moldar seu comportamento através da
educação e saúde. (NARDI, 2007)
Neste período, vemos que a sociedade procurava organizar-se para acolher as pessoas,
cujas características as colocavam como minorias. Entre elas estavam pessoas com diversos
tipos de deficiências, com distúrbios de comportamentos, nascidas em condições sócio-
econômicas baixas e enfermos.
Nestes espaços de acolhimento eram oferecidos tratamento e educação, mas ainda de
forma excludente e segregatória, uma vez que essas pessoas eram confinadas em instituições
especializadas. Estas instituições “confinavam e isolavam no mesmo espaço todos os que
tinham seqüelas físicas ou mentais” (RIBAS, 2007, p. 13), sem considerar as peculiaridades
de cada tipo de deficiência e, muito menos, as características de cada pessoa.
No culo XIX, por influência da Revolução Francesa ocorreu uma forte tendência a
se erradicar quaisquer injustiças sociais. E, influenciada por esta postura filosófica, a ciência
começou a estudar as questões envolvidas com as deficiências, tendo como foco buscar a cura
e/ou evitar o nascimento de bebês com deficiências.
No século XX a sociedade precisou lidar com as conseqüências da Segunda Guerra
Mundial e, a partir dos avanços tecnológicos e científicos, desenvolveu instrumentos para
36
avaliar e classificar os aspectos envolvidos nas deficiências, ainda com o objetivo de buscar a
correção destes aspectos identificados. Um exemplo disso é o fato de, neste período, terem
surgido alguns dos testes psicológicos para a avaliação da inteligência como, por exemplo, o
“WISC” (Escala Wechsler de Inteligência Infantil), em 1949.
Mais especificamente para o tratamento da lesão medular, segundo Rivas (2005), no
ano de 1944 começou a funcionar a Unidade de lesão medular no Hospital Stoke Mandeville,
sob responsabilidade do governo Britânico.
Segundo Battistella (2003), diferentemente dos países do Hemisfério Norte, no Brasil
a Fisiatria esteve inicialmente atrelada às seqüelas de poliomielite e, mais recentemente, com
as conseqüências do grande número de lesões por acidentes do trabalho, decorrentes do
desenvolvimento industrial.
Ao conhecer e compreender melhor as causas e as características específicas das
deficiências, a sociedade passou a ver essas pessoas como merecedoras de atenção e de
esforços para a sua recuperação, assumindo posturas assistencialistas (MASIERO, 2006).
Neste período, podemos identificar um outro nível do desenvolvimento da consciência
coletiva em que a questão da sobrevivência não dependia unicamente do trabalho físico,
surgindo tempo e espaço para que a sociedade se dedicasse a questões de ordem moral, na
maioria das vezes pautadas pelos princípios religiosos.
Segundo Amiralian (2005, p. 63), esta postura estava pautada na “cultura da culpa”
em que “[...] esteve sempre nodal a idéia de reparação, a idéia básica de consertar aquilo que
de alguma forma fora estragado”.
A partir desta época encontramos um número maior de documentos científicos sobre a
questão das deficiências nas áreas da saúde e educação. Na década de 50, na Dinamarca,
surgiram os primeiros estudos sobre Educação Especial, apontando a preocupação da
comunidade em garantir às pessoas com deficiências o acesso à educação, através de serviços
especializados.
Na mesma época, no Brasil, encontramos no texto de Neder (1991) o relato sobre o
início do seu trabalho como psicóloga no hospital, sendo, ela, pioneira na atuação em
psicologia hospitalar. É relevante o fato de que isso aconteceu em 1954, na Clínica de
Cirurgia de Coluna do Hospital das Clínicas, caracterizando o foco das equipes de saúde na
reabilitação de pessoas com dificuldades de movimentos.
Segundo a autora (1991, p. 6), “interessavam aos médicos e a outros profissionais a
capacidade reativa do paciente e a força colaborativa da família, para aumento da
probabilidade de sucesso pela cirurgia.”
37
Vemos, então, acompanhando as ões de cuidados com esta população, a postura da
equipe da saúde focada na recuperação, mais do que na compreensão do processo vivido pela
pessoa.
Contudo, o seu relato expôs a visão do psicólogo sobre a pessoa com deficiência nesta
época, já numa posição crítica e fundamentada em teorias filosóficas, que compreendiam o ser
humano na sua totalidade, dentro de uma perspectiva sistêmica:
Era um trabalho em que se destacava sempre a abordagem da pessoa como um todo,
consideradas as diferenças individuais. As pessoas eram vistas em suas interações
umas com as outras, na instituição hospitalar, na família, nos ambientes em que
viviam, na comunidade (NEDER, 1967). Sem caracterizar as pessoas em função da
deficiência física, esta era por mim considerada como um dos contribuintes para sua
diferenciação. A família era assistida como componente necessário para a
compreensão dos reabilitados e para as mudanças desejadas, sempre consciente de
que o comportamento de qualquer um dos membros da família influenciava e era
influenciado pelos comportamentos de todos os outros. (NEDER, 1961; 1967; 1973;
NEDER, 1991, p. 7)
Com relação à questão profissional, encontramos no texto de Mayer (1959), a
descrição do funcionamento do serviço de orientação profissional do centro de reabilitação
que, na época, se pautava na avaliação dos profissionais da saúde sobre as condições motoras,
psíquicas, cognitivas e comportamentais da pessoa com deficiência, para que, então, fosse
feita a orientação, considerando as escolhas dessa pessoa.
Citou, ainda, a importância da análise física do trabalho, considerando as operações
envolvidas e verificando as habilidades e qualidades físicas do empregado e que eram
necessárias para a realização da atividade. E, para a finalização do processo de colocação
profissional de pessoas com deficiência, considerava a necessidade de “[...] modificar o
homem e o trabalho” (p. 4), com o uso de próteses, realização de treinamentos e fazendo
adaptações no próprio posto de trabalho.
Marques et al. (2003) estudaram sobre os acontecimentos na década de 60 e
consideraram que este foi um período caracterizado pelas tentativas de ruptura em relação às
práticas excludentes.
Mesmo assim, as ações sociais e educacionais pareciam estar estritamente relacionadas
com a visão dica que primava por diagnosticar e estabelecer a conduta de recuperação ou
superação dos limites impostos pelas deficiências. Nesta época, as propostas educacionais
para estas pessoas aconteciam em ambientes especializados, com a convicção de que a melhor
38
assistência era aquela em que as ações estavam pautadas no conhecimento das especificidades
e cujo ambiente estava preparado para atender às necessidades especiais.
Com a preocupação da comunidade em prestar assistência às pessoas com
deficiências, nas áreas da saúde e educação, muitos avanços científicos foram feitos.
Na área da psicologia, Neder (1991, p. 8) refere que, nesta época, identificou a
necessidade de transformação da sua prática, pautada na formação psicanalítica, que
caminhou para o modelo da psicoterapia breve, “[...] porque objetivos específicos se
impunham em cada caso e o tempo de permanência no Hospital, embora mais prolongado, por
se tratar de reabilitação, ainda assim era limitado[...]”.
Segundo Nardi (2004), as preocupações assistencialistas adotadas nas décadas de 50 e
60 conduziram as ações no âmbito escolar, caracterizadas pela existência de dois sistemas
paralelos de educação: o Regular e o Especial. Este último garantia aos alunos “excepcionais”
o direito de estudar numa escola especializada para suas características e, se atingissem
padrões de semelhança com os alunos “normais” poderiam ser encaminhados para a escola
regular.
Esta autora escreveu que o paradigma vigente na época estava pautado no Princípio da
Igualdade e não no da Eqüidade. Isso significa que as ações se baseavam no princípio de que
todos teriam os mesmos direitos ao acesso à educação, já que eram todos iguais ou, ao menos,
procurava-se atingir padrões de igualdade.
Porém, ela esclareceu que “[...] o deficiente necessita o direito à igualdade. Não o
direito de ser igual, mas a possibilidade de, sendo diferente, ter acesso aos mesmos direitos,
de ter respeitada a sua diversidade e garantida a eqüidade.” (NARDI, 2004, p. 5)
Eqüidade, segundo o Minidicionário da língua portuguesa é a disposição de reconhecer
igualmente o direito de cada um” (FERREIRA, 1993, p. 215).
Concordando com Marques et al. (2003), podemos concluir que, nesta época, embora
o processo de inclusão de pessoas com deficiência ainda precisasse evoluir, tais movimentos
iniciaram o deslocamento do chamado paradigma da exclusão para o da inclusão, cada vez
mais difundido e assumido na atualidade.
Segundo Battistella (2003), a utilização da tecnologia, como ferramenta para produção
de bens e serviços, provocou uma mudança no perfil do trabalho, que não mais exigia força
física, mas as habilidades cognitivas, de relacionamento interpessoal, criatividade e
capacidade de resolução de problemas por parte dos trabalhadores. Tais mudanças no cenário
atual do trabalho se apresentavam como um fenômeno positivo para as pessoas com
deficiências físicas.
39
Veremos que nas décadas seguintes, gradativamente, o princípio da eqüidade passou a
reger as ações, constituindo-se um novo paradigma: o da inclusão.
Neste movimento, incluíram-se as discussões sobre a terminologia adotada para se
referir às pessoas com deficiências e à forma de classificação dos tipos de deficiência. Nas
áreas da saúde e educação, e aa década de 80, as pessoas com deficiências eram incluídas
numa mesma categoria, sendo tratadas como “excepcionais”.
Em 1989, a Organização Mundial de Saúde (OMS) escreveu a Classificação
Internacional das Deficiências, Incapacidades e Desvantagens (CIDID), que segundo Ribas
(2007), constituiu-se na compreensão de que há diversidade entre as pessoas com deficiência.
Em 2001 a OMS criou a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade
e Saúde (CIF), que “[...] oferece uma ferramenta científica internacional para mudar o
paradigma do modelo puramente médico para um modelo integrado biopsicossocial de
funcionalidade humana e incapacidade.” (OMS, 2002, p. 18). Esta classificação propôs a
descrição das alterações nas funções e/ou estruturas corporais (deficiência) de uma pessoa,
juntamente com a descrição do ambiente em que ela vive e das atividades consideradas
comuns (capacidades) e das barreiras ou facilitadores encontrados para a realização de tais
atividades (desempenho).
A respeito da terminologia, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (2007), as
discussões, pautadas em reflexões filosóficas, propuseram alterações que se sucederam de
“excepcionais”, “pessoas deficientes”, pessoas portadoras de deficiências”, “pessoas com
necessidades especiais” e, por fim, pela determinação da OMS, em 2006, o termo adotado
atualmente, de “pessoa com deficiência”.
A adoção de um termo faz-se necessária para a clareza e eficiência nas comunicações.
Entretanto, apesar da preocupação em adotar um que seja o mais respeitoso possível, deve-se
evitar a tendência de agrupar ou classificar essas pessoas como parte de um conjunto
homogêneo.
As práticas inclusivas devem considerar cada pessoa com suas especificidades, sem
tentar agrupá-las por semelhança.
A Declaração de Salamanca (1994) pode ser tomada como um exemplo da mudança
de paradigma, uma vez que propôs que a forma de educação considerada mais democrática
passava a ser aquela na qual os alunos com necessidades especiais (termo adotado à época)
deviam estudar em classes regulares, quando se considerou que a maior parte dessa população
não apresentava características que não permitissem esta inclusão, desde que as adaptações
necessárias fossem providenciadas.
40
Em concordância com a evolução histórica e mudanças de paradigma na educação,
encontramo-nos no Brasil com a Resolução CNE/CEB nº 2, de setembro de 2001, que
instituiu as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. E a partir
dela, muitas escolas e professores vêm tentando colocar em prática as suas propostas e
exigências.
Assistimos, agora, a um passo adiante no desenvolvimento da consciência da nossa
sociedade, em que se começa a considerar que não é preciso corrigir as diferenças e igualar a
todos, mas sim reconhecer e assumir que diferenças existem e que o esforço deve estar em
aprender a lidar com elas.
Tal postura, segundo Amiralian (2005), está pautada na cultura do Concern
3
”,
sugerindo que a sociedade tenha:
[...] a preocupação, o envolvimento e o desejo de que [pessoas com deficiências]
possam desenvolverem-se de acordo com suas peculiaridades, em um ambiente
suficientemente bom, capaz de lhes proporcionar as condições necessárias para que
possam desenvolverem-se espontaneamente [...] (AMIRALIAN, 2005, pg. 64)
O paradigma da inclusão revela a possibilidade de que pessoas com deficiências
tenham acesso às mesmas oportunidades de experiências e direitos que todas as outras
pessoas, tendo respeitada a sua diversidade e garantida a eqüidade, independentemente de ter
um tipo de vida mais próximo do considerado “normal”.
Conforme vimos, em outras épocas a relação entre a forma de sobrevivência e as
necessidades econômicas exerceram influência sobre como a sociedade lidou com as pessoas
com deficiência e, de acordo com Masiero (2005)
4
, o que acontece na atualidade, além do
envolvimento e preocupação com estas pessoas, encontramos também os interesses do
Capitalismo em transformar os não contribuintes em contribuintes, além de reduzir a
necessidade de uso dos recursos do Estado. (informação verbal)
3
Concern é uma paravra da Língua Inglesa cujas definições oferecidas pelo Pequeno Dicionário Michaelis são:
concernência; interesse; negócio; inquietação; companhia; referência. v. concernir, afetar; interessar
4
MASIERO, D. Deficiente ou Diferente ? Inclusão: Um longo caminho foi percorrido. Por quê continuar ?.
Aula ministrada no Curso: Diálogo Interdisciplinar sobre Deficiências e Distúrbios no Processo de Escolarização
– Reflexões sobre a Inclusão, São Paulo, 2005.
41
Por ser o foco de interesse deste trabalho, destacaremos, em um tópico a seguir, os
acontecimentos atuais relacionados à inclusão profissional de pessoas com deficiências. Estes,
vem acontecendo paralelamente com os que já foram e serão citados na área de educação.
Entretanto, antes de nos determos ao tema da inclusão profissional, vale citar alguns
estudos atuais, que ajudam a ilustrar a maneira como a sociedade lida com as questões da
deficiência no momento presente. Veremos que, em alguns momentos a influência deste novo
paradigma encontra-se caracterizada e, em outros, que ainda dificuldade e preconceitos
permeando as ações diante da diversidade.
Um dos artigos encontrados (KASSAR, 2000) discute a constituição social da pessoa
com deficiência, contribuindo para a reflexão sobre o tema do preconceito e da exclusão
dessas pessoas.
Da mesma forma que Nardi (2007), Kassar (2000) entendeu a constituição da
subjetividade como um processo de apropriação de relações sociais e, assim, pretendeu
identificar e analisar, na fala da pessoa estudada, aspectos do pensamento coletivo.
A coleta de dados consistiu no registro vídeogravado dos encontros de um grupo de
jovens, alunos de uma sala de educação especial. Do material empírico, a pesquisadora
destacou alguns diálogos que diziam respeito a um dos jovens, de dezessete anos, com
diagnóstico de atrofia de nervo óptico em ambos os olhos, retardo no desenvolvimento
neuropsicomotor e microcefalia. Além do registro dos diálogos dos jovens entre si, o estudo
analisou os diálogos entre a mãe e a pesquisadora, o professor e o jovem, a pesquisadora e o
jovem e a pesquisadora e o professor.
A partir do material coletado, discutiu a influência do pensamento social no
pensamento individual.
Identificou, na fala do professor, sua descrença em relação ao aluno e a conseqüente
recusa do ensino, não em relação à profissão desejada por ele, mas também em relação às
atividades básicas de leitura e escrita.
Na fala da mãe, os diálogos apontaram as contradições e os conflitos a respeito da
capacidade/normalidade de seu filho, em que, ora se refere à sua independência para as
atividades do lar, considerando-o "normal", ora parece incorporar e aceitar a fala de uma
profissional a respeito da inesperada aprendizagem que ele adquiriu até o momento.
Na fala do jovem, identificou, tanto a sua indignação com relação à descrença do professor,
quanto a algum conformismo sobre seu fracasso.
A pesquisadora supôs que o discurso do jovem foi marcado pelas condições de sua
produção, e que a significação de sua condição como uma "pessoa deficiente" foi se
42
constituindo na tensão entre as possibilidades e impossibilidades, referidas pelas diferentes
vozes que se cruzaram em sua história pessoal.
Assim, concluiu que a visão do jovem sobre si mesmo pareceu ser uma luta entre ser
ou não ser diferente.
Esse estudo nos permitiu observar um recorte da postura social atual no contexto de
educação, onde pareceu prevalecer a postura assistencialista, em que se oferece a
possibilidade de educação, porém, as ações pareceram ser pautadas na constatação das
dificuldades e limitações como justificativas para o baixo desempenho da pessoa com
deficiência.
Outros estudos, como o de Kafrouni (2001) e Bastos (2004), apontaram para as
dificuldades das escolas em praticar a inclusão de alunos com necessidades educacionais
especiais.
Kafrouni (2001) realizou uma pesquisa em escolas públicas da cidade de Curitiba, cujo
objetivo foi compreender as principais necessidades dos profissionais da educação básica em
relação à inclusão de alunos com necessidades especiais na rede regular de ensino, prevista na
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Os resultados da pesquisa indicaram que a maioria das escolas investigadas não
tinham um projeto específico de inclusão, o que parecia acarretar dificuldades como: rigidez
curricular, metodológica e avaliativa, bem como falta de esclarecimento sobre as necessidades
educativas especiais, o que os levou a concluir sobre a necessidade de capacitar os professores
para o atendimento a esses alunos.
A pesquisa permitiu constatar, também, que a concepção de aluno, vigente nas escolas
investigadas, tendeu à homogeneização. Assim, viu que ainda era creditada ao aluno com
necessidades especiais a responsabilidade pelo seu aprendizado nas classes regulares de
ensino. Tal postura desconsidera o princípio da eqüidade em que todos devem ser tratados
com igualdade à medida das desigualdades.
Com estes dados, o pesquisador concluiu que a implementação da inclusão ainda
requer o preparo das escolas e dos profissionais da educação para esta nova realidade.
Como sugestão de conduta, o autor apontou para a necessidade do Estado se
comprometer com a inclusão, pois caberia ao poder público oferecer as condições que
permitissem a instrumentalização das escolas e dos profissionais da educação.
Outras dificuldades também foram detectadas por Bastos (2004), quem fez uma
pesquisa e na qual aplicou questionários a professores, diretores e especialistas que
43
trabalhavam diretamente com alunos com Síndrome de Down, e que faziam parte do processo
de inclusão.
Ela concluiu que, embora a maioria dos professores que tinham alunos com deficiência
apresentassem tentativas esforçadas em acertar, haviam lacunas entre os ideais propostos e a
prática existente nas escolas.
Essa autora apontou para a necessidade de uma mudança na da mentalidade individual
dos professores que trabalham com inclusão, tirando a responsabilidade, única e exclusiva, do
Estado ou das instituições.
Ao final, fez algumas sugestões para o sucesso da inclusão escolar:
- o professor deveria ter informações sobre a deficiência de seu aluno e conhecer seus
aspectos biopsicossociais;
- o professor e a escola deveriam abordar os pais dos demais alunos, para que estas
famílias acompanhem as mudanças de mentalidade;
- o professor deveria promover situações para sensibilizar os demais colegas;
- o professor deveria fornecer ao aluno com necessidades educacionais especiais os
recursos necessários para a sua escolarização, bem como auxiliá-lo a conscientizar-se
sobre suas potencialidades e limites.
Estes estudos pareceram indicar que a nossa sociedade es convencida sobre a
importância do processo da inclusão. Porém, mostraram que ainda encontramos professores,
escolas e profissionais da saúde com muitas dificuldades na sua prática.
No próximo capítulo, veremos quais dificuldades também são encontradas pelas
empresas.
Tais dificuldades parecem estar relacionadas tanto à falta da capacitação dos
professores e profissionais de recursos humanos, quanto à aquisição de materiais adaptados e
recursos para acessibilidade. Além disso, os estudos indicaram que ainda muito o que se
caminhar na direção de uma mudança de atitude das pessoas. Estas, precisariam assumir um
compromisso maior com as posturas condizentes com o paradigma da inclusão.
Sabemos que só podemos assumir uma nova postura filosófica quando refletimos
sobre nossos valores e nos colocamos abertos para as transformações. Assim, passamos por
evoluções de consciência, que ocorrem nos âmbitos pessoal e coletivo.
Por ser o foco de interesse da presente dissertação, apresentarei no tópico seguinte a
“Lei de Cotas” e a visão atual do Ministério do Trabalho e Emprego sobre a empregabilidade
de pessoas com deficiências.
44
3.4.4 A “Lei de Cotas” e os Movimentos Atuais de Inclusão
A conhecida Lei de cotas”, refere-se à Lei 8.213, de 24 de julho de 1991, que foi
instituída na mesma época em que, como vimos, surgiram diversos movimentos de inclusão
da pessoa com deficiência e, que, da mesma forma, mostrava o desejo da sociedade, por via
das políticas públicas, de estar em consonância com o princípio da eqüidade.
Esta lei fixa para empresas com cem ou mais empregados o percentual de 2% a 5% de
contratação obrigatória de pessoas com deficiências. Nesta época, segundo o Ministério do
Trabalho e Emprego, os valores que lastreavam as determinações da lei visavam:
[...] assegurar os princípios da dignidade e cidadania, do valor social do trabalho e
da livre iniciativa, e o da igualdade real de todos perante a lei, [além de construir],
[...] por meio dela, uma sociedade livre, justa e solidária, promovendo-se o bem do
grupo aquinhoado pela medida, combatendo-se a discriminação e o preconceito que
sempre excluiu as pessoas com deficiência do convívio social. (MTE, 2007, pg. 6)
Em 1999, o Decreto 3.298/99 visou esclarecer os critérios sob os quais uma pessoa
seria considerada deficiente, e em 2004, segundo o MTE (2007), após longas discussões no
Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência (CONADE), e pelo
Decreto 5.926/04, atualizou-se esta definição considerando que seriam aqueles que têm
“[...] uma limitação física, mental, sensorial ou múltipla, que incapacite a pessoa para o
exercício de atividades normais da vida e que, em razão dessa incapacitação, a pessoa tenha
dificuldades de inserção social. (MTE, 2007, p. 18)”
Embora tenha havido este forte e importante movimento de inclusão na década de 90,
até os primeiros anos do século XXI, sabe-se que, na prática, muito pouco se concretizou,
uma vez que a fiscalização do cumprimento das leis era feita de forma inconstante. Segundo
Jaime (2008)
5
, foi a partir de 2004 que a Delegacia Regional do Trabalho começou a investir
na capacitação dos fiscais, com foco no cumprimento da lei de cotas, e começou-se a efetivar
a autuação de empresas. (informação verbal)
Desde então, temos indícios de que a contratação de pessoas com deficiência vem
sendo feita em maior proporção, embora, na maioria das vezes, em função de as empresas
esquivarem-se da multa. Segundo o manual desenvolvido pelo Ministério do Trabalho e
Emprego (2007, p. 7), a lei de cotas visa que o “[...] processo de exclusão historicamente
45
imposto às pessoas com deficiência deve ser superado por intermédio da implementação de
políticas afirmativas e pela conscientização da sociedade acerca das potencialidades desses
indivíduos.”
Num próximo tópico desta dissertação abordaremos estudos sobre a inclusão de
pessoas com deficiência no mercado de trabalho, onde serão apontadas algumas
características deste processo.
Retomando o foco do presente capítulo, a perspectiva histórica, é importante ressaltar
que no momento presente muito tem sido feito na direção da efetivação da inclusão de
pessoas com deficiências.
Encontramos Organizações Não Governamentais, empresas e grupos de pessoas
envolvidas com a questão da diversidade e da inclusão de grupos caracterizados como
minorias, promovendo eventos, oferecendo informações e participando de movimentos
sociais, que visam multiplicar os conceitos envolvidos no movimento da inclusão.
Além disso, políticas públicas têm sido desenvolvidas com maior foco na questão da
inclusão, sendo mais um exemplo a Lei 10.098 de 19 de dezembro de 2000, que estabelece
normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas com
deficiências ou com mobilidade reduzida, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos
nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos
meios de transporte e de comunicação (MTE, 2007).
E ainda, a criação da Secretaria Especial da Pessoa com Deficiência e Mobilidade
Reduzida, da cidade de São Paulo em 2005 e da Secretaria Estadual dos Direitos das Pessoas
com Deficiências, em 2008.
3.5 A TENDÊNCIA EXCLUDENTE COMO CARACTERÍSTICA ARQUETÍPICA
Neste capítulo apresentaremos alguns “mitos” e faremos uma reflexão a respeito da
exclusão e da busca pela inclusão, como tendências arquetípicas.
Arquétipo é o nome que Jung (1985a; 1987) usou para designar as imagens
primordiais, os conteúdos coletivos, não pessoais. São componentes psíquicos impessoais,
herdados, idéias universais, que se manifestam no inconsciente de todas as pessoas.
5
JAIME, L.R. A Lei de Cotas. Palestra ministrada no 19
0
Fórum Serasa de Empregabilidade, São Paulo, março
de 2008.
46
Ao longo da história de como a sociedade lidou e lida com as pessoas com
deficiências, vimos que sempre houve dificuldades na relação entre os que têm alguma
deficiência e os que não as têm. Essas dificuldades pautadas, ora na falta de informações, de
recursos técnicos e tecnológicos, ora na dificuldade em lidar com o que é diverso e com o que
é estranho, freqüentemente geraram posturas preconceituosas e excludentes. Entretanto,
pudemos observar, com certa freqüência, que movimentos na direção da inclusão também
foram e são presentes na história das sociedades.
De acordo com RIBAS (2007), atualmente é raro encontrarmos pessoas que,
deliberadamente, não queiram conviver com uma pessoa pelo fato dela usar uma cadeira de
rodas, não enxergar, ou ter qualquer deficiência. Contudo, o autor alerta para a importância de
que esta atitude não seja transitória, superficial, o que acontece quando o se conhece e não
se convive de fato com estas pessoas. Para ele “[...] a Inclusão Social se pratica na
convivência entre as pessoas e que, portanto, a maneira com as pessoas me vêem reflete
também a imagem da maneira como eu quero que elas me vejam, ainda que este possa ser um
processo inconsciente.” (RIBAS, 2007, p. 9)
Este trecho indica a importância de que a discussão sobre a inclusão e a exclusão
envolva as pessoas com e sem deficiência, sem que se busque por um responsável, um
culpado.
Aqui nos deparamos com a característica arquetípica deste tema, e tomamos
emprestada a passagem de Jung (1985b):
A psicologia do inconsciente comporta-se da mesma forma que as sagas, lendas,
mitos e religiões, com as figuras psíquicas, que surgem nos sonhos, nas fantasias,
nas visões e alucinações. No conjunto desse campo psíquico existem motivos, quer
dizer, figuras típicas, cujos rastros podem ser seguidos até a história antiga e mesmo
até a pré-história e, por conseguinte, podem ser chamadas de arquetípicas. Parece-
me que pertencem simplesmente aos componentes estruturais do inconsciente
humano, pois não consigo encontrar outra explicação para a sua presença universal e
sempre idêntica a si mesma[...] (JUNG, 1985b, p. 118, par. 254)
Nardi (2007) usou o mito de Procusto para ilustrar como as pessoas com deficiências
foram tratadas ao longo da história:
Dentre as muitas figuras da mitologia grega, havia um gigante chamado Procusto,
que convidava as pessoas para passar a noite em sua estalagem, numa cama de ferro.
Nessa aparente hospitalidade, porém, se escondia um tenebroso ardil: ele exigia que
os visitantes coubessem, com perfeição, na cama. Se o tamanho do hóspede fosse
menor que o leito, Procusto torturava-o, esticando-o até que tivesse (depois de
47
morrer) o comprimento do leito; caso se tratasse de alguém muito alto, com
dimensões superiores às do leito, reduzia-o ao tamanho da cama, decepando-lhe a
cabeça ou as pernas que sobravam. (NARDI, 2007, p. 52)
Para a autora, a simbologia contida neste mito revela a que extremos pode chegar a
ideologia para tentar “dirigir”, “enquadrar” ou “ajustar” a vida das pessoas ou das sociedades
a padrões, conceitos ou idéias pré-estabelecidos.
Essa tendência de enquadrar a todos nos mesmos padrões de comportamento, modo de
viver e de pensar tem sido observada inúmeras vezes nas sociedades antigas e
contemporâneas como um padrão, sugerindo ser esta uma característica arquetípica. Ao longo
do relato da história, notamos que diversas vezes isso foi percebido por algumas comunidades
que realizaram movimentos integrativos e inclusivos das pessoas consideradas diferentes.
Esta segunda tendência também poderia ser tratada como arquetípica, uma vez que se
repete ao longo da história e diz respeito a habilidade de perceber e trazer à consciência
individual e coletiva o fato de que podemos lidar com o que é diferente e estranho, e obter os
benefícios da transformação e da renovação.
Tomaremos emprestado da teoria sistêmica o conceito de “homeostase”, que consiste
na tendência de todo sistema que envolve pessoas - seja ele familiar, social, de trabalho e etc.
- de manter os padrões de funcionamento da maneira como foram concebidos. Desta forma, o
sistema procura manter-se íntegro e organizado (CAVERNY, 2001). Porém, para que haja
evolução e crescimento, tanto dos seus membros quanto do sistema em si, faz-se necessário
que haja alguma flexibilidade em absorver atitudes e conceitos novos.
Absorver novas atitudes e conceitos exige que o sistema se permita passar por um
período de desorganização, onde a instabilidade, segundo Andolfi (1989), pode gerar
sentimentos de confusão e incerteza, uma vez que a mudança de um aspecto ou de um
membro do sistema acarretará mudanças em outros aspectos e na função de outros membros
do mesmo sistema.
O mito de Procusto ilustra a tendência homeostática dos sistemas sociais de todas as
épocas e, mais especificamente, nos remete à questão da acessibilidade dos espaços, sendo
essa uma das grandes barreiras para a inclusão de pessoas com deficiências nos espaços
coletivos.
Nardi (2007) ressalta que “a não adaptação é o resultado de como o espaço foi
concebido e a sociedade foi constituída. O espaço jamais foi pensado como locus aglutinador
48
de todos. Antes, foi previamente construído para todos aqueles classificados como “normais.”
(NARDI, 2007, p. 52)
Como vimos, o mito nos permite analisar a tendência segregatória e excludente da
sociedade como uma característica arquetípica. E, entendendo desta forma, à luz da Psicologia
Analítica podemos tentar compreender este mecanismo para que este padrão seja integrado à
consciência coletiva e dê espaço para uma outra forma de lidar com as diferenças, legitimando
os movimentos de integração e inclusão das pessoas com deficiências.
Um outro arquétipo pode nos auxiliar a compreender o mecanismo excludente
observado em todas as épocas das sociedades. O arquétipo do Bode Expiatório nos permite
compreender a tendência coletiva de expiar o mal, escolhendo um objeto que o represente.
Segundo Perera (1996, p. 139) “O fenômeno do bode expiatório representa uma expressão
particular - junto com Caim, Ismael, Satã, a caça às bruxas, a perseguição de minorias e as
guerras - , do problema genérico da projeção da sombra.”
Sombra é um conceito da Psicologia Analítica, que consiste no mecanismo psíquico de
manter no inconsciente os conteúdos que são rejeitados pelo ego, sendo dificultada a sua
integração à consciência por representarem aspectos considerados negativos, ou vergonhosos.
Segundo Whitmont (1969, p.144): [...] refere-se à parte da personalidade que foi reprimida
em benefício do ego ideal.”
Não sendo possível assumir tais conteúdos como características próprias, as pessoas
ou grupos de pessoas projetam-nos e enxergam-nos em outras pessoas ou grupos.
O fenômeno do bode expiatório, ocorre quando necessitamos, enquanto indivíduos ou
parte de um grupo com identidade específica, achar alguém ou algum outro grupo no qual
enxergamos o mal, ou aquilo que não podemos reconhecer como nosso. Desta forma, segundo
Perera (1996), podemos responsabilizá-los pelos problemas e dificuldades, sendo justificáveis
as ações de segregação e expulsão.
Este mecanismo psíquico proporciona um sentimento de não ser culpado por tais
problemas e dificuldades, permitindo a reconciliação com os padrões de comportamento
esperados.
“Em termos junguianos, o bode expiatório é um recurso de negação da sombra, tanto
do homem como de Deus. Aquilo que é percebido como impróprio a conformar-se
ao ego-ideal ou à perfeita benignidade de Deus, é reprimido e negado, ou
desmantelado e tornado inconsciente[...] Nem sempre chegamos sequer a perceber
que eles fazem parte da nossa constituição psicológica. Temos porém, uma aguda
percepção de sua pertinência aos outros, os bodes expiatórios[...] Os que são
49
identificados com o bode expiatório, em contrapartida, identificam-se com as
inaceitáveis qualidades da sombra. Sentem-se inferiores, rejeitados e culpados.”
(Perera, 1996, p. 13)
A pessoa ou grupo de pessoas que são alvo da projeção dos males dos outros podem
sentir-se rejeitadas com suas características peculiares, mantendo uma percepção de que
perderam a conexão com a coletividade. Assim, as características peculiares podem ser
entendidas como um fardo para o indivíduo e não como um elemento gerador de
transformações e crescimento pessoal e coletivo.
Todo grupo, cultura ou nação têm um determinado ego ideal e, naturalmente, cria uma
sombra coletiva. Desta forma, toda minoria e todo grupo dissidente carrega a projeção da
sombra da maioria, e disso provém o preconceito racial onde enxergamos a outra raça,
grupo ou cultura, normalmente a partir da projeção de nossa sombra, da sombra de nossa
cultura. Por isso, temos que reprimi-los, tentar fazê-los desaparecer, e não podemos conviver
com esse grupo ou aceitar a sua existência, que rejeitamos suas qualidades, que são as que
não podemos aceitar em nosso grupo, qualidades estas que estão à margem do padrão de
ideal, normalmente veiculado pelas instituições sociais. (SANFORD, 1988)
Para Perera (1996, p. 70) aqueles, sobre os quais a sombra foi projetada, e que
conseguem resistir e o assumir o papel de bode expiatório, têm uma capacidade de manter-
se em posição consciente de que não fazem parte da imagem “sustentada ritualísticamente
pela comunidade.”
Guggenbühl-Craig (1997, p. 106) ao descrever o arquétipo “O Inválido” nos presta
grande ajuda para compreender a necessidade de projetarmos as deficiências e rejeitá-las
como partes constituintes de todos. Para ele “É uma verdade de nossa condição existencial
que somos parcialmente defeituosos sem reparos. Esta é uma vivência básica da vida e é esta
que deve definir nossa idéia de saúde.”
Portanto, considera a vivência da invalidez como um padrão humano, uma vez que
desde que nascemos até a velhice vivenciamos imperfeições, deficiências e, como o autor
chama, destruições de ordem física, mental e psíquica. Ressalta ainda que, por ser uma
experiência arquetípica, esta pode ser vivenciada na presença ou na ausência de uma situação
de invalidez concreta.
Para ele, a vivência deste arquétipo está relacionada com a necessidade humana de
contrabalancear a imagem arquetípica do herói independente ou do viajante, sempre livre, não
50
ligado a alguém. E, embora um arquétipo tenha em si uma valência neutra, por traduzir um
padrão coletivo, humano, sua vivência psíquica pode ser positiva ou negativa.
Na sua vivência positiva, pode ocorrer uma compreensão profunda sobre a condição
da fragilidade humana, da fragilidade do próprio corpo e dos funcionamentos mentais e
psicológicos, promovendo a modéstia, uma atitude não egocêntrica e ciente da necessidade de
viver em relação com o outro, incluindo a aceitação da condição de dependência em relação a
outros ou ao próprio meio ambiente.
A vivência negativa do arquétipo do Inválido, entretanto, parece ser mais freqüente,
uma vez que nos é naturalmente desagradável a idéia de que, no fundo, somos todos
parcialmente inválidos, ou temos o potencial de adquirir uma deficiência. Por este motivo,
uma forte tendência em tentarmos rejeitar este conhecimento e negar este arquétipo,
colocando-o na Sombra.
Para Guggenbühl-Craig (1997) o fato de não encontrarmos com facilidade imagens
míticas que representem o arquétipo do Inválido aponta para a nossa tendência em reprimi-lo,
devido à sua natureza difícil e problemática. A compreensão negativa da condição humana de
fragilidade e suceptibilidade a adquirir deficiências pode causar uma atitude fatalística. Nestes
casos, como defesa à sensação de impotência, observarmos comportamentos autoritários,
egoístas, prepotentes, de fuga da realidade, quase sempre em busca de recursos para sanar o
mal-estar e os sintomas inoportunos.
Tal vivência parece prejudicar a possibilidade criativa em que a psique encontra
caminhos através da reflexão, para ir além da noção concreta da vida, desenvolvendo o que o
autor chama de um tipo de espiritualização.
O autor fala da idéia de saúde na nossa cultura, como um estado de plenitude física e
mental. Para ele, isto explica os avanços da medicina que desenvolve recursos para a cura de
doenças, sendo esse um benefício para a humanidade. Contudo, ressalta o risco da fascinação
pela saúde, como se este estado fosse a única possibilidade de vivência do arquétipo de Deus,
o que desconsidera os benefícios de reconhecermos o arquétipo do Inválido como constituinte
da condição humana.
Ele explica que esta fantasia do que é saúde nos faz projetar nossa invalidez em
crianças e adultos com deficiências e limitações, nos motivando a tomar providências para a
cura e o bem estar delas, esquecendo-nos de que esta condição está presente nas menores
queixas do cotidiano.
Ao projetar a invalidez no outro, mesmo que numa atitude de proteção e cuidado,
estamos classificando este outro como diferente, como alguém que esnuma condição que
51
precisa ser modificada. Esta atitude torna-se excludente e sua vivência negativa pode
ocasionar reações às pessoas com deficiências, como se elas assumissem o papel do Bode
Expiatório, detentor de tudo o que de mal, retratando a dificuldade em integrar os aspectos
frágeis e deficientes em nós mesmos.
A postura da nossa sociedade, de negar o arquétipo do inválido como algo presente em
todos, pode fazer com que as pessoas que se vêem em situação de real deficiência/invalidez,
por menor que seja a limitação, sintam-se merecedoras de investimentos o altos que as
coloquem em situação de total proteção e garantias, visando sair da condição de perigo e
prejuízos. Nestes casos, parecem ter que deixar sua psique ser tomada pelo arquétipo, numa
vivência negativa dele, uma vez que não pode mais negá-lo ou rejeitá-lo.
Num processo mais criativo, tanto a pessoa com deficiência quanto o grupo social
podem compreender que lidar com limitações faz parte da condição humana, e que as
desvantagens com as quais tem que conviver são uma das características do processo de vida.
3.6 INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO
Este capítulo trata do tema da inclusão profissional da pessoa com deficiência, com
foco na atualidade.
Apresentaremos, inicialmente, duas pesquisas sobre o retorno ao trabalho e as
condições para a reabilitação profissional de amostras de pessoas com diagnósticos
específicos. E, em seguida, um estudo sobre o ponto de vista de empregadores com relação à
contratação de pessoas com deficiências.
Guarino et al. (2007) realizaram um estudo retroativo, entrevistando 78 pacientes
amputados em membros inferiores, que haviam sido reabilitados em um centro de reabilitação
de São Paulo no período de 1999 a 2005. O objetivo do estudo era verificar a situação de
trabalho e do uso de próteses de membro inferiores. Todos os entrevistados estavam
trabalhando ou estudando à época da amputação, sendo que a média da faixa etária era de
46,3 anos.
Como um dos objetivos da reabilitação, os autores apontaram a importância da
inclusão social, sendo que o retorno ao trabalho poderia proporcionar bem estar, melhora da
auto-estima, e a retomada de um sentido para a vida. Citaram estudos internacionais que
indicaram que grande parte das pessoas que sofreram amputações, ao retornarem ao trabalho
52
não ocupavam as mesmas atividades profissionais, passando a exercer atividades mais
sedentárias e de maior complexidade intelectual.
Os resultados encontrados na amostra do estudo apontaram que 69,2% da amostra
recebia benefício previdenciário ou aposentadoria e apenas 10,2% voltou a trabalhar, sendo
que, destes, todos voltaram para mesma função após a amputação, diferentemente dos
achados internacionais. Os motivos do não retorno ao trabalho, citados pelos entrevistados,
foram: opção pessoal e dificuldade de encontrar trabalho. Entre os que voltaram a trabalhar,
todos haviam sido protetizados.
Esse estudo pode contribuir com a discussão sobre o tema, uma vez que apresenta uma
descrição da amostra com relação aos dados sócio-demográficos, situação da reabilitação e
retorno ao trabalho. O que parece ser relevante é que poucos retornaram ao trabalho e muitos
recebiam benefício previdenciário. As questões sociais e educacionais foram apontadas como
fatores negativos para o retorno ao trabalho.
Gomes (2000) desenvolveu um estudo piloto, cujo principal objetivo foi conhecer os
problemas de reabilitação profissional de Pessoas com Epilepsia.
O pesquisador alertou para as dificuldades que essas pessoas podem ter em achar e
manter um emprego regular, devido às restrições impostas pelas suas deficiências e prejuízos
sociais.
Com relação a isso, comentou a questão do estigma, que sempre foi citado como um
impedimento para a inclusão social, podendo ser menos importante do que o reconhecimento
de barreiras reais dos empregos, e das poucas oportunidades para a escolaridade.
Para o estudo, analisou os prontuários de quinze pacientes, registrados em 1997 e
1998, obtendo dados sobre suas condições de saúde e trabalho, além de dados sócio-
demográficos e sobre os treinamentos feitos.
A amostra apresentou predominância de sujeitos do sexo masculino, a maioria em
idade ativa para o trabalho, com baixa escolaridade e sem especialização profissional. Todos
recebiam benefício por incapacidade muitos anos. Verificou-se alta freqüência de crises,
com múltiplas referências ao uso de fenobarbitúricos.
Da amostra, apenas uma pessoa foi elegível para o programa de treinamento.
A predominância de sujeitos solteiros, o número significativo de relatos de uso de
drogas, e a presença de epilepsia associada a outras co-morbidades, permitiu ao pesquisador
inferir sobre as dificuldades sociais enfrentadas por aquela clientela.
53
Segundo o pesquisador, a baixa escolaridade e a não especialização profissional não
deveriam ser atribuídas ao fato de serem pessoas com epilepsia, mas refletir o perfil da
sociedade brasileira.
Gomes (2000) concluiu que os baixos resultados da amostra para a possibilidade de
reabilitação profissional podem estar relacionados aos fatores prognósticos desfavoráveis,
como: dor de cabeça, levando a perda de consciência, outras doenças crônicas simultâneas, o
número de crises, além do nível sócio-cultural e educacional dessas pessoas. Entretanto, citou
outros estudos que indicaram que as variáveis psicossociais, assim como escolaridade e
habilidades cognitivas, têm maior relevância do que a freqüência de crises para manter um
emprego. (SILLANPAA E HELENIUS, 1993 apud GOMES, 2000)
O artigo parece apresentar uma falha no método com relação ao número de
participantes da amostra, fazendo com que os resultados não possam ser generalizados para a
população brasileira de pessoas com epilepsia.
O estudo, entretanto, possibilitou o levantamento de alguns problemas enfrentados por
essa população para a reabilitação profissional, o que contribui para os estudos na área.
O estudo realizado por Tanaka e Manzini (2005) teve o objetivo de identificar o ponto
de vista dos empregadores sobre a pessoas com deficiência, o seu trabalho e a sua admissão
como funcionário da empresa.
Os pesquisadores contextualizaram o estudo diante do movimento atual de inclusão,
no qual as empresas têm sido pressionadas a cumprirem as leis que obrigam a que 2 a 5% dos
funcionários de uma empresa sejam pessoas com deficiência, desde que a empresa tenha mais
do que 100 funcionários.
Consideraram que embora o movimento seja lento, o assunto passou a gerar interesse
após o início de fiscalização mais rigorosa, feita pelo Ministério Público do Trabalho,
mediante punições às empresas que não vinham cumprindo a lei. Contudo, apontaram alguns
problemas para o aumento do número de vagas para pessoas com deficiência. Por um lado,
expuseram as questões da realidade do país, que já apresentava um número reduzido de vagas
para a população em geral e, por outro, a falta de informações sobre a deficiência, aliada à
possível crença de que a pessoa com deficiência o corresponderia ao ritmo imposto pela
produtividade.
Tanaka e Manzini (2005) discutiram as questões do preconceito e o fato de a
desinformação a respeito da deficiência produzir desconhecimento sobre as reais
incapacidades e limitações da pessoa, assim como das suas potencialidades, necessidades,
expectativas e sentimentos.
54
Assim, questionaram as condições nas quais um funcionário com deficiência poderia
ser admitido em uma empresa se, de antemão, ele corre o risco de as próprias pessoas que irão
recebê-lo não acreditarem no seu potencial para o trabalho.
Para eles, conhecer a visão que o empresário tem sobre o trabalho da pessoa com
deficiência também deveria fazer parte do processo de compreensão das dificuldades que essa
população enfrenta para ocupar um espaço no mercado de trabalho, que, por força da lei,
ele acaba sendo obrigado a reservar-lhe um percentual de vagas.
Segundo Ribas (2007, p. 106), Inscrever as pessoas com deficiências na política de
recursos humanos das empresas é aprender a lidar com uma diversidade até então nunca
lidada pelo mundo corporativo”. Portanto, a preocupação dos pesquisadores em conhecer a
visão dos empregadores sobre a inclusão nos parece pertinente.
Os dados foram coletados, por meio de entrevista semi-estruturada, junto a seis
responsáveis pelo setor de Recursos Humanos de empresas pertencentes aos ramos de
comércio, indústria e prestação de serviços de uma cidade do norte do Paraná.
A entrevista continha questões que abrangiam a concepção de deficiência, opinião
sobre o trabalho e a formação profissional da pessoa com deficiência, e fatores que pudessem
interferir na sua colocação no mercado de trabalho.
As entrevistas foram gravadas, transcritas e, posteriormente, analisadas em seu
conteúdo, permitindo o agrupamento das respostas por categorias.
Os resultados apresentados indicaram que essas empresas possuíam funcionários com
diferentes tipos de deficiência e a sua contratação ocorreu, predominantemente, pela
obrigatoriedade da lei. Os entrevistados acreditavam que as pessoas com deficiência tinham
condições de exercer um trabalho, mas apontaram algumas dificuldades em função:
a) dela própria - falta de escolaridade, de interesse e de preparação profissional e social;
b) da empresa - condições inadequadas do ambiente físico e social, falta de conhecimento
sobre a deficiência;
c) das instituições especiais - inadequação dos programas de treinamento profissional e
social, falta de contato com as empresas para conhecer as suas necessidades;
d) do governo - de proporcionar acesso à escola e ao transporte, falta de incentivo para as
empresas promoverem adaptações ergonômicas e desenvolverem programas de
responsabilidade social.
As respostas obtidas também indicaram que os cargos que os funcionários com
deficiência ocupavam exigiam pouca qualificação e o seu treinamento era realizado no
55
próprio local de trabalho. E, que prevaleceu entre os entrevistados a concepção de que as
dificuldades desse trabalhador eram decorrentes das suas condições orgânicas.
Apesar de o caminho de acesso ao mercado de trabalho aparentemente ter se tornado
mais curto, os dados deste estudo mostraram que o número de pessoas com deficiência que
agora participa do quadro de funcionários das empresas contatadas ainda está muito aquém do
percentual que a lei prevê. Essa situação foi justificada pelos empregadores com base nas
inúmeras dificuldades apontadas para a ocupação de um cargo por pessoas com deficiência,
conforme apresentado anteriormente.
Assim, embora os empregadores fossem influenciados por concepções que situavam
essas dificuldades em elementos intrínsecos à pessoa com deficiência, colocaram também os
fatores externos como possíveis causas para os obstáculos que essa população enfrenta para
ter acesso ao mercado de trabalho.
Parece, ainda, que faltam qualificação profissional e preparo social para que a pessoa
com deficiência possa ocupar cargos, cujo perfil seja compatível com as suas habilidades e
com as reais necessidades da empresa. Além disso, a sua reduzida participação no mercado de
trabalho acabou também sendo reforçada pelas inúmeras barreiras de ordem social,
arquitetônica e funcional, comprometendo o seu direito fundamental de ir e vir. Por outro
lado, a falta de informação sobre a deficiência acabou restringindo a oportunidade de
ocupação de funções que fossem efetivamente adequadas às suas reais dificuldades e
possibilidades.
Tanaka e Manzini (2005) concluíram que a “lei de cotas” acabou sendo um importante
instrumento de reivindicação dos direitos da pessoa com deficiência, mas que ela não foi
suficiente para resolver os problemas que essa população enfrenta para chegar ao mercado de
trabalho.
Refletiram sobre a ação de contratar a pessoa com deficiência, apenas para cumprir
uma lei, sem remover os obstáculos existentes no caminho que ela terá que percorrer para
buscar um trabalho, o que acabará colaborando para criar o estigma que ela não possui
competência para disputar no mercado competitivo do trabalho.
Consideraram que a simples promulgação de leis para assegurar os direitos da pessoa
com deficiência em ter um trabalho não irá mudar a sua realidade, se os fatores que dificultam
a sua inserção no meio social não forem detectados, discutidos e minimizados, por meio de
uma ação conjunta entre o indivíduo, a família, a sociedade e o governo.
O artigo apresenta pontos importantes para a discussão do assunto. Entretanto, é
possível que o mesmo estudo, se aplicado a uma população maior, com um tratamento
56
estatístico das respostas, além da análise qualitativa das mesma, fornecesse informações que
poderiam ser apresentadas às entidades envolvidas, o que poderia sensibilizá-las para as
modificações necessárias.
3.7 RESILIÊNCIA
No levantamento bibliográfico, o resultado da busca para a palavra chave “resiliência”
mostrou muitos artigos que tratam de problemas relacionados à agricultura e condições do
solo. E muitos, que são aplicados às ciências humanas, na maioria das vezes tratam do tema
do ponto de vista conceitual.
Neste capítulo apresentaremos as contribuições de trabalhos teóricos que apresentam o
construto da resiliência, diferenciando alguns termos, como: enfrentamento, fatores de risco e
fatores de proteção.
Embora nenhum artigo tenha sido encontrado para a combinação das palavras chaves
“resiliência e deficiência”, encontramos um que apresenta pesquisa sobre o enfrentamento do
trauma raquimedular e outro que trata da visão do envelhecimento em pessoas com
deficiências. Ambos, poderão contribuir para a reflexão sobre o tema neste capítulo.
Dentro do tema da resiliência, encontramos muitos artigos que apresentam pesquisas
empíricas com foco em crianças e jovens em situação de risco. Entretanto, como o presente
trabalho tem como foco a resiliência em adultos, esses artigos não serão explorados em
profundidade, mas apenas citados, à medida em que contribuírem para o esclarecimento do
construto.
Encontramos, também, pesquisas sobre a tradução e validação de escalas de
resiliência, que serão apresentadas no Tópico 3.8: Avaliação de Resiliência.
3.7.1 O Conceito de Resiliência
O conceito de resiliência vem sendo estudado e discutido por diversos autores, que,
segundo Araújo (2006), vêm se preocupando cada vez mais com o rigor dos termos utilizados.
O artigo escrito pela autora apresenta uma revisão da literatura a respeito do assunto em que
são explorados diversos estudos atuais, que discorrem sobre o conceito de resiliência e
termos, como: risco, proteção, vulnerabilidade, estresse, enfrentamento.
57
Assim como Araújo (2006), adotaremos a definição de Grotberg (2005, p.1) para o
termo resiliência: [Resiliência é] a capacidade humana para enfrentar, vencer e ser
fortalecido ou transformado por experiências de adversidade”.
Entretanto, para esclarecer sobre a origem do termo resiliência, temos que nos remeter
à Física, que o utiliza para descrever a capacidade dos materiais modificarem sua forma e
depois recuperarem sua condição original. Como, por exemplo, a madeira que, quando
molhada se expande e ao secar-se retorna ao estado anterior.
As ciências humanas tomaram este termo emprestado, quando diversos autores se
interessaram em estudar a habilidade de certas pessoas de enfrentarem situações de extrema
adversidade e conseguirem manter-se saudáveis e, ainda, tornarem-se fortalecidas a partir
disso. A adversidade é compreendida, pelos estudiosos sobre resiliência, como eventos que
denotam uma dificuldade, um problema, mas que podem ser administrados.
Araújo (2006) retomou a motivação dos primeiros estudos sobre resiliência que
focaram a capacidade de crianças, que desde pequenas sofreram situações de stress e
prejuízos para o desenvolvimento e que, apesar disso, conseguiram enfrentar as adversidades
e transformar as perdas em desafios.
Afirmou que esse tema é muito estudado ainda hoje. Entretanto, comentou que as
pesquisas em resiliência passaram a adotar perspectivas sistêmicas e ecológicas, ampliando a
compreensão do fenômeno da resiliência para além do foco no indivíduo, e considerando que
este, em conjunto com seu ambiente, constitui sistemas de formação mútuas. Essa abordagem
está pautada na noção de que a mente se estrutura na interação entre os processos
neurofisiológicos e as experiências dos relacionamentos interpessoais. Assim, fatores
ambientais passaram a ser considerados essenciais ao entendimento dos fatores de resiliência.
Infante (2005, p. 25), também, falou dessa perspectiva para a compreensão da
resiliência baseada no modelo ecológio-transacional, que “consiste em o indivíduo estar
imerso em uma ecologia determinada por diferentes níveis que interatuam entre si, exercendo
uma influência direta em seu desenvolvimento humano”, sendo que os níveis referidos
envolvem os planos individual, familiar, comunitário e o cultural.
Essa concepção parece fundamental para o tema aqui estudado, uma vez que, além dos
fatores físicos e psicológicos, os fatores ambientais e sociais foram freqüentemente citados
pelos autores que estudaram como pessoas que adquirem uma deficiência lidam com as
mudanças ocorridas em sua vida. (VASCH, 1988; BATSHAW, 1990; KOVÁCS, 1997;
WAHBA, 2006).
58
Além disso, e como vimos anteriormente, a OMS (2002) propõe, por meio da
Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF), que o estudo da autonomia de uma
pessoa deve considerar a avaliação das condições das estruturas orgânicas e mentais e,
também, das barreiras ambientais e atitudinais presentes no seu contexto de vida.
Para a definição do conceito de adversidade, adotamos o proposto por Infante (2005).
Para a autora, a ocorrência de uma adversidade pode dar-se devido à presença de fatores de
risco, como: viver na pobreza ou num contexto de violência ou restrições ou, também, devido
a uma situação de vida específica, como o falecimento de um ente querido. A natureza do
risco pode ser subjetiva, dependendo da percepção e do valor que a pessoa atribui ao evento,
ou objetiva, quando pode ser medida por escalas que investigam os eventos negativos ou por
avaliações da sociedade ou de cientistas.
Segundo o modelo proposto pela autora, para a compreensão de um processo resiliente
faz-se necessário definir a adversidade, verificar a ocorrência da adaptação positiva e o
impacto no desenvolvimento humano.
A adaptação positiva denota o resultado do comportamento da pessoa que lidou com
um evento adverso, sem sofrer desajustes ou impedimentos para o processo de
desenvolvimento esperado para a fase em que se encontra. Além disso, pode ainda ocasionar
o desenvolvimento de alguma habilidade ou aspecto pessoal. (INFANTE, 2005)
Segundo Grotberg (1997), o comportamento resiliente pode surgir em resposta à
adversidade, embora não necessariamente seja promovido por ela. Esse comportamento tem
como resultado a manutenção do desenvolvimento normal da pessoa, apesar da adversidade
vivida. Além disso, pode promover transformações e crescimento para além do presente nível
de funcionamento.
Assim, a resiliência está além da capacidade de sobreviver a adversidades, mas está
ligada à capacidade de confronto, de adaptação flexível e competente.
Segundo Araújo (não publicado), a resiliência não deve ser pensada como um atributo
com o qual nascemos ou como um traço de personalidade, mas, sim, como um conjunto de
habilidades construídas a partir de processos sociais e intra-psíquicos que ocorrem ao longo
da vida, dependendo de condições benéficas nos níveis pessoal, familiar, social e cultural.
Dessa forma, a resiliência pode ser considerada como um potencial humano que deve
ser promovido desde o nascimento.
Um dos termos que merece atenção na construção do conceito de resiliência é o
enfrentamento.
59
Segundo Lazarus e Folkman (1984) o termo enfrentamento pode ser descrito como a
maneira pela qual as pessoas reagem a situações estressantes, sendo isso que faz a diferença
nas conseqüências deste estresse.
Segundo Araújo (2006), respostas de enfrentamento podem ser características de
resiliência, mas não dizem respeito ao processo de resiliência vivenciado pela pessoa, pois tal
processo pressupõe que haja uma aprendizagem, uma evolução após a experiência adversa.
A seguir, apresentaremos o estudo realizado por Pereira e Araújo (2005) num serviço
de reabilitação de um hospital do Distrito Federal, que teve como objetivo investigar as
estratégias de enfrentamento adotadas por pacientes com trauma raquimedular e seus
familiares durante a participação em um programa de reabilitação hospitalar, visando:
descrever e compreender as estratégias de enfrentamento desenvolvidas; identificar e avaliar
diferenças nas estratégias de enfrentamento adotadas no momento de admissão e no momento
de alta e, compreender a influência das atividades do programa de reabilitação no
enfrentamento do paciente e seu familiar.
Como compreensão do termo enfrentamento, aqueles pesquisadores afirmam ser uma
resposta destinada a diminuir os encargos físico, emocional e psicológico, relacionados aos
eventos estressantes. Portanto, seriam aquelas respostas efetivas para reduzir a angústia
imediata, ou que contribuem para melhores resultados a longo prazo.
Para tal estudo foi selecionada uma amostra constituída por seis díades paciente/familiar.
Como instrumento de pesquisa, utilizaram a Escala Modos de Enfrentar Problemas -
The Ways of Coping Checklist - Revised, derivada do Modelo Transacional de Estresse de
Lazarus, e também foram aplicados quatro roteiros de entrevista semi-estruturada destinados,
respectivamente, ao paciente em pré-reabilitação e em pós-reabilitação e ao familiar em pré-
reabilitação e em pós-reabilitação.
O procedimento consistiu na entrevista das díades, antes de qualquer intervenção da
equipe e na semana da alta do programa de reabilitação.
Ao analisarem as díades, observaram que os familiares adotaram estratégias
semelhantes aos dos pacientes nas duas etapas. As estratégias utilizadas com maior freqüência
em pré-reabilitação e pós-reabilitação foram: religiosidade, pensamento
desiderativo/fantasioso, pensamento positivo, focalização no problema e busca de suporte
social.
Constataram, também, que na etapa de pré-reabilitação ocorreu utilização mais
freqüente das estratégias: religiosidade e busca de suporte social, seguidas por pensamento
positivo e esquiva. Na etapa de pós-reabilitação, as estratégias mais utilizadas foram: busca de
60
suporte social, focalização no problema e pensamento positivo. Os pesquisadores destacaram
que religiosidade foi apresentada como a estratégia mais freqüentemente utilizada apenas pelo
grupo dos familiares.
Os achados sobre a busca de suporte social parecem condizentes com os apontamentos
de Oliveira (2001), que referiu a habilidade das pessoas com lesão medular em manterem
relações sociais, mesmo que estas ocorram num vel superficial, isto é, nem sempre
acompanhadas de verdadeira vinculação afetiva.
Pereira e Araújo (2005) concluíram, a partir dos dados, que na pré-reabilitação existiu
maior diferenciação entre as estratégias utilizadas por pacientes e familiares, enquanto que na
pós-reabilitação as modalidades adotadas tenderam a se assemelhar. Sendo assim, levantaram
a hipótese de que o programa de reabilitação influenciou o modo de enfrentamento dos
participantes, podendo ter mobilizado os sujeitos a buscar estratégias que viabilizassem uma
melhor adaptação à situação da lesão medular.
Sugeriram que a clareza das informações e o repasse consistente das orientações
possibilitaram uma reorganização da vida, o somente da pessoa com lesão medular, mas
também dos integrantes da rede sócio-familiar, contribuindo, desta maneira, para a melhoria
da qualidade de vida de todos os implicados.
Embora os pesquisadores não tenham apresentado uma análise compreensiva das
estratégias de enfrentamento, o método da pesquisa permitiu a descrição de algumas das
estratégias utilizadas pelos pacientes e seus familiares nas fases de pré e pós-reabilitação,
assim como nas diferenças ocorridas nas duas fases. Seria interessante discutir, por exemplo,
se a estratégia de focalização no problema, sendo mais utilizada na pós-reabilitação, tem a ver
com a maior consciência sobre o diagnóstico e condição física.
No artigo o foram descritas as atividades de reabilitação, mas teria sido interessante
verificar se relação entre essas atividades reabilitativas específicas e o desenvolvimento de
estratégias de enfrentamento.
A religiosidade, que foi identificada como uma das estratégias utilizadas pelos
pacientes e familiares para o enfrentamento da nova situação, parece ser um tema de grande
relevância e de interesse entre os estudiosos sobre saúde e resiliência.
Saad et al. (2001) realizaram um levantamento bibliográfico de estudos sobre
espiritualidade e sua relação com a saúde. Os autores consideraram a religiosidade como uma
das formas da manifestação da espiritualidade e encontraram diversos estudos científicos, que
apontaram que as pessoas que têm melhor saúde e se adaptam com mais sucesso ao estresse
são religiosas. A partir desses achados, propuseram que dicos e terapeutas fossem
61
treinados para levantar as expressões da espiritualidade de seus pacientes e respeitá-las de
forma que pudessem contribuir para o sucesso do tratamento.
Bezinelli (2007)
6
descreveu a espiritualidade como uma imagem arquetípica que
proporciona resiliência. Definiu espiritualidade como um movimento psíquico no sentido de
algo que transcende o ego, sendo a religião uma das formas de vivenciá-la. Este movimento
pode ser acionado quando, diante de uma situação adversa, o ego (a consciência) não encontra
recursos suficientes para o enfrentamento e permite a ampliação da consciência, percebendo
que algumas experiências fazem parte da condição humana e que podem ser superadas ou
toleradas. (informação verbal)
A compreensão do termo fatores de proteção também pode auxiliar na construção do
conceito de resiliência e, para isso, nos apoiaremos em Rutter (1993, p.630), que o apresenta
“como influências que modificam, melhoram ou alteram respostas pessoais a determinados
riscos de desadaptação.”
Segundo ele, há quatro principais mecanismos de proteção:
1) redução do impacto dos riscos;
2) redução das reações negativas em cadeia que seguem a exposição da pessoa ao
risco;
3) estabelecimento e manutenção da auto-estima e da auto-eficácia, mediante a
existência de relações de apego seguras e incondicionais e o sucesso no cumprimento
das tarefas da vida;
4) criação de oportunidades para que se possa transformar uma trajetória de risco em
um caminho com possibilidade de um final feliz.
Assim, entendemos que os fatores de proteção são habilidades pessoais e condições
sócio-culturais que favorecem o processo de resiliência.
Outros autores estudaram as características e atributos de indivíduos considerados
resilientes, e entre eles estão Reivich e Shatté (2002) e Sauaia (2003).
Sauaia (2003) criou duas categorias que englobam as diferentes habilidades de
resiliência: “a percepção de si” e “a percepção do outro”.
Segundo essa categorização, a “percepção de si” poderia ser avaliada através da
autonomia, auto-estima, auto-eficácia, auto-controle, senso de objetivo e futuro, das
habilidades cognitivas e da percepção da imagem corporal. E, a “percepção do outro”
6
BEZINELLI, J. Espiritualidade e Resiliência. Aula Ministrada no curso de Resiliência, do Núcleo de
Psicossomática e Psicologia Hospitalar do Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Clínica da PUC-
SP, em 10 de outubro de 2007.
62
poderia ser avaliada através da competência social, empatia, capacidade de comunicação,
habilidade de adaptação ao meio, e habilidade para solucionar problemas.
Algumas habilidades descritas por Sauaia (2003) foram estudadas por Cecconello e
Koller em 2000. Tal estudo teve como objetivo avaliar a competência social e a empatia em
crianças escolares que vivem em situação de pobreza (risco).
E, embora o presente trabalho não tenha como foco a resiliência na infância, apresentaremos o
estudo pela sua contribuição à compreensão do conceito de resiliência e dos fatores
constitutivos desta habilidade.
As pesquisadoras consideram que crianças em situação de risco pessoal e social são
aquelas cujo desenvolvimento não ocorre de acordo com o esperado para a sua faixa etária,
Justificaram o estudo, apontando para os aspectos do meio-ambiente que devem ser
considerados para o entendimento dos processos adaptativos dos indivíduos no curso de suas
vidas.
Como exemplo, apontaram a pobreza como um tipo de ameaça constante, que aumenta
a vulnerabilidade da criança, pois pode causar subnutrição, privação social e desvantagem
educacional. Acrescentaram o fato de a miséria econômica ser um fator de risco, que muitas
vezes vem acompanhada da miséria afetiva.
Assim, contextualizaram a importância da avaliação da competência social e da
empatia, por serem dois, entre alguns dos fatores de proteção, mais citados por diversos
autores como importantes para a promoção de resiliência.
Definiram competência social como uma característica individual, que leva em conta a
interação do indivíduo com a família e outras pessoas significativas. E explicaram que, para
que essa habilidade seja eficiente a pessoa precisa perceber as expectativas do ambiente,
regular o tipo de comportamento que se faz necessário em determinada situação, além de
apresentar uma boa auto-estima e auto-eficácia.
Definiram empatia como a habilidade em compartilhar uma emoção percebida de
outra pessoa, sentindo a mesma emoção que ela está sentindo. E com base na bibliografia
consultada, as autoras verificaram que o desenvolvimento da empatia está relacionado à
expressividade emocional e à habilidade em manejar as próprias emoções, que por sua vez,
está relacionada com o suporte de outras pessoas.
A partir do estudos desses fatores, verificaram uma possível relação entre a empatia e
a competência social das crianças e sua influência na resiliência.
Foram sujeitos desse estudo 50 meninos e 50 meninas, com idade entre seis e nove anos, que
estavam em constatada condição de pobreza .
63
A coleta de dados permitiu avaliar características importantes para a competência
social, tais como: confiança, auto-eficácia e iniciativa. Utilizaram a Escala de Empatia de
Bryant (1982) e o Teste das Histórias Incompletas (Mondell & Tyler, 1981)
Os resultados revelaram que quanto mais empática era uma criança, mais competente
socialmente ela tendia a ser.
Concluíram que o nível de risco vivenciado pelas pessoas dessa amostra tendeu a ser
amenizado pela correlação entre dois fatores de proteção: a competência social e a empatia.
E que, de um modo geral, os resultados obtidos sobre a competência social e a empatia de
crianças em situação de pobreza destacam a importância desses dois fatores para o
desenvolvimento de estratégias para a adaptação a situações adversas, favorecendo a
resiliência e reduzindo a vulnerabilidade.
Ceconnello e Koller (2000) indicaram a importância de se trabalhar no incremento dos
recursos disponíveis, tanto em vel individual quanto em nível ambiental, para minimizar os
danos causados pelas adversidades. Proporcionar situações nos mais variados contextos para o
desenvolvimento de características, como empatia e competência social, assim como oferecer
condições para o estabelecimento de uma rede de apoio social, foram identificadas como
formas de favorecer a resiliência.
A Empatia é um dentre os sete fatores que Reivich e Shatté (2002) descreveram como
constitutivos do potencial resiliente de uma pessoa. Os demais são: Administração das
Emoções, Controle dos Impulsos, Otimismo, Análise do Ambiente, Auto-eficácia e
Alcançar Pessoas.
Esses autores apresentaram um questionário de avaliação de resiliência, o “Resilience
Quotient Test”, que foi traduzido e validado para a população brasileira por Barbosa (2006).
O questionário traduzido foi utilizado como instrumento de pesquisa neste trabalho e a
pesquisa para a validação, desenvolvida por Barbosa (2006), seapresentada no tópico 3.8
Avaliação da Resiliência.
No Capítulo 4 Método, tópico 4.4 Instrumentos, o questionário e os fatores serão
apresentados em detalhes, e será descrita a forma de avaliação de cada um.
Pesce et al. (2005) fizeram a adaptação transcultural para o português da escala de resilência
de Wagnild & Young, cuja pesquisa será apresentada também no tópico 3.8 Avaliação da
Resiliência.
Os mesmos autores (Pesce et al.), em outro artigo publicado em 2004, fizeram um
ensaio exploratório sobre a associação da resiliência com eventos de vida adversos (risco) e
com fatores de proteção, pois acreditavam que, apesar das diversas incertezas sobre os
64
processos ocorridos no indivíduo até que ele consiga alcançar a resiliência, as variáveis risco
e proteção seriam peças fundamentais e que se combinariam no cerio complexo desse
construto.
O método consistiu na entrevista de 997 jovens com idade entre 12 e 19 anos,
pertencentes à mesma amostra utilizada para a validação e adaptação transcultural da Escala
de Resilência de Wagnild & Young.
Além da aplicação da Escala de Resiliência citada, para medir eventos de vida foram
utilizadas escalas de violência física (Straus, 1979) e psicológica (Pitzner & Drummond,
1997), itens de violência na escola e na localidade, violência entre irmãos e entre pais, e
violência sexual. Para avaliar os fatores de proteção, utilizaram: Escala de Apoio Social de
Shebourne e Stewart, Escala de Auto-Estima (Rosemberg, 1989) e itens abordando supervisão
familiar.
Os dados encontrados nesse estudo mostraram que os eventos traumáticos de vida não
estavam relacionados com características de um indivíduo resiliente. Portanto, não se pode
afirmar que ter vivenciado um tipo de evento ou várias experiências negativas contribui para a
capacidade de lidar com a adversidade.
Esses achados estão de acordo com a teoria, que não encontra relação direta entre risco
e resiliência, pois há que se considerar que o processamento da experiência negativa é um
fator importante para a resiliência.
Os fatores de proteção, por sua vez, tiveram associação com a resiliência,
confirmando a hipótese teórica que molda esse construto. Pode-se interpretar essa relação
entendendo que os fatores de proteção aqui abordados (auto-estima, apoio social, gênero e
relacionamento com outras pessoas) atuam como facilitadores no processo individual de
perceber e enfrentar o risco.
O estudo desenvolvido por Resende e Neri (2005) pretendeu analisar as atitudes de
pessoas com deficiência congênita ou adquirida, frente a outras pessoas com deficiência, ao
idoso e à própria velhice. Os achados dessa pesquisa estão apresentados aqui, pois podem
contribuir para a articulação do conceito de resiliência e dos termos relacionados com as
questões da deficiência.
Para justificar a relevância do estudo, os autores apresentaram algumas considerações
sobre a deficiência física e sobre a velhice, que valem a pena citar.
Com relação à deficiência física, ressaltaram os aspectos sociais e a escassez ou
inadequação instrumental como as maiores dificuldades enfrentadas para a manutenção da
autonomia e auto-estima da pessoa com deficiência. Afirmaram que além dos recursos
65
instrumentais, a pessoa com deficiência precisa desenvolver recursos pessoais para enfrentar
os preconceitos e estereótipos existentes na sociedade, que, segundo Araújo (2006), poderiam
ser considerados fatores de risco psicossociais.
Os pesquisadores acrescentaram que, ao contrário do que geralmente se espera,
pessoas com deficiência são bem-sucedidas na idade adulta, graças a uma combinação
peculiar de condições ambientais e de características pessoais, apesar das limitações impostas
pela deficiência.
Embora o citem o termo, tal constatação nos remete imediatamente à resiliência,
como o conjunto de fatores que colaboram para a superação das adversidades impostas pela
deficiência.
E, apoiando-se em outros autores, apontaram para a dificuldade da sociedade em
atender e aceitar as necessidades específicas das pessoas com deficiência, como causa das
maiores dificuldades sociais enfrentadas pelos deficientes e pessoas idosas.
Comentaram estudos que mostram que a atitude frente à velhice é influenciada pelas
crenças que a pessoa detém em sua habilidade, para ativar motivação, resgatar cognição e
mecanismos de ação, que são necessários para exercer controle sobre tarefas específicas.
E, embora o tenham exposto o referencial teórico adotado, afirmaram que as
atitudes e as crenças que o indivíduo detém sobre si mesmo, e sobre suas relações com o
mundo, são um aspecto essencial da adaptação do self. E que, graças ao concurso de
mecanismos de auto-regulação do self, atuando com diferentes graus de eficácia, adultos e
idosos em diferentes graus de funcionalidade física podem lidar com as perdas do processo de
envelhecimento e, também, adaptar-se a eventuais desvantagens e incapacidades ocorridas na
velhice ou em fases anteriores do desenvolvimento.
Parece que, usando esta linha de raciocínio, os pesquisadores acreditavam que
mecanismos de comparação social intervêm na maneira como as pessoas com deficiência
física antecipam e vivem a própria velhice, pois, de certa forma, a sua condição é análoga à de
idosos que apresentam incapacidade sica, dado que necessitam de ajuda tecnológica e de
auxílio instrumental de outras pessoas, além de sofrerem os efeitos de preconceitos e de
limitações em oportunidades.
A amostra do estudo foi composta por 242 pessoas com deficiência física, sendo
65,3% mulheres e, com relação à origem da deficiência 6,4% tinham deficiência física
congênita e 92,4% apresentaram deficiência física adquirida. Dos sujeitos, 36% utilizavam
auxílio ortopédico (cadeira de rodas, muletas, bengalas e aparelhos ortopédicos). A maioria
66
dos participantes (85,5%) era totalmente independente para as atividades básicas de vida
diária.
A pesquisa envolveu a utilização de quatro escalas: 1) questionário informativo sobre
dados pessoais e dados sobre a deficiência; 2) escala para avaliação de atitudes em relação ao
idoso e à velhice pessoal (Neri, 1991; 1997); 3) Escala de atitudes em relação a pessoa com
deficiência física (Neri, 1991; 1997); 4) Índice Barthel para avaliação de independência no
desempenho de atividades de vida diária (Mahoney & Barthel, 1965).
A análise de dados evidenciou que a amostra avaliou mais positivamente o conceito de
adulto com deficiência física do que o de idoso. E, que quanto mais antiga a convivência com
a deficiência, mais positivas as atitudes em relação à velhice pessoal.
As pessoas com nível mais alto de escolaridade foram as que tiveram uma visão
menos positiva dos idosos. Segundo os pesquisadores, isto ocorreu, provavelmente, em
função de terem um nível de aspiração mais alto, serem mais informadas e terem mais acesso
às oportunidades e aos bens de consumo.
Com relação ao próprio envelhecimento, as pessoas com deficiência sica também
relataram uma atitude positiva, porém, as pessoas com deficiência física com maior índice de
dependência para as atividades de vida diárias têm visão menos positiva em relação ao
envelhecimento.
A atitude das pessoas com deficiência física em relação a outras pessoas, na mesma
condição que elas, também foi positiva, sendo que as mulheres relataram atitudes mais
positivas que os homens.
Segundo os pesquisadores, a atitude que as pessoas com deficiência física
apresentaram em relação ao próprio envelhecimento, provavelmente, foi influenciada pelas
crenças e atitudes que elas têm frente à deficiência. Concluíram, que conhecer suas atitudes
frente à deficiência ajudou a compreender como elas imaginam o futuro e como elas esperam
lidar com a velhice. Isto poderia dar indícios, aos profissionais, em como estruturar programas
educativos voltados a pensar o processo de envelhecimento, particularmente o das pessoas
com deficiência física.
A preocupação em fornecer subsídios para os profissionais estruturarem tais
programas parece coerente com a importância que diversos autores vêm dando à promoção de
resiliência para a saúde mental.
Na discussão, os pesquisadores consideraram que a deficiência é apenas mais uma
característica de quem a tem. E, apesar de exercer influência sobre os indivíduos, outros
aspectos relativos à personalidade pareceram ser preponderantes na sua forma de encarar o
67
mundo. O convívio social e as regras do grupo tiveram influência sobre a construção e a
manutenção das crenças e atitudes. Tal consideração parece coerente com o estudo
apresentado anteriormente sobre a constituição social da pessoa com deficiência (KASSAR,
2000).
Embora esse artigo não tivesse a pretensão de contribuir para a reflexão e estudo do
construto da resiliência, alguns dos achados, nele contidos, nos permitem fazer essa
ampliação, como quando discutem sobre as crenças de auto-eficácia, estas desempenhando
um papel importante nas relações dos indivíduos com o mundo. Os autores perceberam que a
crença de ser auto-eficaz reflete a avaliação que a pessoa faz da própria capacidade de se
comportar de forma adequada e produtiva. Essa crença, influencia os tipos de atividades que
as pessoas escolherão, o esforço que vão imprimir em suas ações, sua perseverança frente às
dificuldades, suas auto-avaliações, suas avaliações sobre o mundo externo e suas experiências
emocionais.
O alcance dessas competências exige a combinação de diversos fatores biológicos,
psicológicos e sociais e depende das oportunidades que o indivíduo teve ao longo da vida e de
condições adequadas para sua sobrevivência e desenvolvimento, tais como: educação, saúde,
habitação e trabalho.
3.8 AVALIAÇÃO DA RESILIÊNCIA
Além dos trabalhos que contribuem para a compreensão do conceito de resiliência,
alguns autores vem estudando instrumentos que permitem avaliar a capacidade e os fatores de
resiliência das pessoas.
No levantamento bibliográfico, encontramos dois artigos apresentando formas de
avaliação da resiliência em adultos, que serão apresentados a seguir:
Pesce et. al (2005) apresentaram os resultados da adaptação transcultural para a língua
portuguesa da escala de resilência de Wagnild & Young e da avaliação psicométrica desta.
Os autores justificaram a importância do estudo, considerando que o conceito de
resiliência tem se revelado como fator importante nos movimentos pela promoção de saúde.
Com relação ao conceito, ressaltaram que este encontra-se ainda em fase de construção,
merecendo mais estudos e o desenvolvimento de instrumentos que colaborem para avaliação
desse construto.
68
Para a adaptação transcultural, adotaram o método proposto por Herdman et al. (1998),
através do qual verificaram a equivalência dos instrumentos na língua original (inglês) e na
língua portuguesa, nos seguintes aspectos: equivalência do conceito na cultura original em
comparação à cultura-alvo, equivalência dos domínios avaliados pela escala e sua relevância
em ambas as culturas, na tradução do instrumento original, garantindo o efeito na cultura
alvo; manutenção das propriedades psicométricas, utilizando-se de medidas de confiabilidade
e validade.
Correlacionaram a escala de resiliência com alguns construtos, teoricamente
relevantes, da literatura sobre o tema: supervisão familiar, auto-estima, satisfação de vida,
apoio social e violência psicológica. Os conceitos citados foram mensurados,
respectivamente, da seguinte forma: aplicação de três itens independentes, abordando
supervisão dos pais, aplicação da escala de auto-estima de Rosenberg, escala de satisfação de
vida, escala de apoio social e escala de violência psicológica.
Após a tradução, foram entrevistados 997 jovens com idade entre 12 e 19 anos.
Os resultados obtidos indicaram que, no que se refere à validade de construto, a escala
de resiliência mostrou-se correlacionada com alguns conceitos teoricamente relevantes na
literatura sobre o tema. Apresentou correlação direta e significativa com auto-estima,
supervisão familiar, satisfação de vida e apoio social.
No que se refere à equivalência funcional da escala de resiliência, constataram um
satisfatório grau de equivalência conceitual, de itens, semântica, operacional e de mensuração
entre a versão original e a brasileira, embora salientassem algumas questões.
Entre as questões a se considerar, ressaltaram que a escala de resiliência foi
originalmente construída com uma amostra de mulheres e somente aplicada em população
adulta. E, pelo fato de ainda não se ter como aferir se a resiliência se manifesta da mesma
forma em diferentes faixas etárias, a tradução da escala pode não atender completamente às
especificidades dos adolescentes da população.
Diante de algumas dificuldades encontradas, e dos resultados positivos obtidos, os
autores sugeriram que a escala pode ser aplicada na população brasileira e que se
desenvolvam novos estudos, visando o aprimoramento da própria escala, que poderá
contribuir para o corrente estudo sobre o construto da resiliência nas diferentes faixas etárias e
culturas.
Considerando que poucos instrumentos para avaliação de resiliência, Barbosa
(2006) dedicou-se à tradução, validação e adaptação para a língua portuguesa e cultura
69
brasileira da versão original do “Resilience Quotient Test” (Reivich e Shatté, 2002), citado
anteriormente.
No levantamento bibliográfico, o autor citou a escala traduzida e validada por Pesce et.
al (2005) e argumentou que, por esta possibilitar a identificação de indivíduos resilientes, sem
avaliar o quão resilientes e quais as habilidades e fatores são melhor ou pior desenvolvidos, é
que se deu a importância de validar a proposta por Reivich e Shatté.
O estudo visou, também, avaliar a consistência do instrumento, verificando se os seus
56 itens realmente se relacionavam com os sete fatores que a escala se propôs a avaliar:
Administração das Emoções, Controle dos Impulsos, Otimismo, Análise do Ambiente,
Empatia, Auto-eficácia e Alcançar Pessoas. E, por fim, medir os índices dos fatores de
resiliência em professores do Ensino Fundamental no Estado de São Paulo.
Conforme citou Barbosa (2006), já havia sido feita uma tradução deste questionário
por um grupo de pesquisadores da PUC-SP, que sugeriu a seguinte tradução para os fatores:
Regulação das Emoções, Controle de Impulsos, Otimismo, Análise Causal, Empatia,
Auto-eficácia e Exposição. Contudo, neste trabalho, adotaremos a tradução feita por Barbosa
(2006), uma vez que esta foi considerada validada para a população brasileira.
O pesquisador realizou uma revisão da literatura sobre o assunto e apresentou o tema
da resiliência associado a fatores de risco, proteção, coping e espiritualidade. Além disso,
apresentou a relação entre resiliência e a abordagem da Terapia Cognitiva, citando a
fundamentação teórica que os autores do questionário original utilizaram para a escolha dos
sete fatores que o instrumento avalia.
Barbosa (2006) realizou a tradução e adaptação do instrumento segundo o modelo de
Blaya et al. (2004). Porém, por considerar as diferenças regionais muito presentes no Brasil,
adicionou ao RQTest um levantamento sócio-demográfico para melhor caracterizar a
população estudada e considerar as possíveis diferenças na análise dos resultados.
Após a análise dos resultados de doze juízes, alguns ajustes foram realizados e foi montada a
versão Questionário de Resiliência: Adultos Reivich-Shatté/Barbosa”, para a aplicação na
amostra selecionada.
A aplicação do instrumento adaptado foi feita em 110 professores do Ensino
Fundamental em escolas públicas de São Paulo.
O pesquisador considerou que o questionário original possui validade de conteúdo,
uma vez que os autores embasaram a construção do instrumento original em fatores que estão
descritos na literatura sobre resiliência.
70
Os resultados das análises estatísticas mostraram que houve concordância entre os
juizes, o que possibilitou a conclusão da versão consolidada do instrumento.
Com relação à equivalência dos fatores avaliados no questionário original e aquele
traduzido e adaptado, Barbosa (2006) observou haver consubstancialidade na amostra
estudada, embora o fator Administração das Emoções mereça maiores estudos.
Com relação aos índices dos fatores de resiliência da população estudada, o
pesquisador indicou a necessidade de novos estudos, uma vez que os resultados apontaram
para uma tendência das crenças negativas nos professores, devido à correlação baixa entre os
itens pelo “aspecto positivo” e a preponderância dos “aspectos negativos”. Para ele, novos
estudos poderiam verificar se esta é uma característica desta amostra, ou se o aumento do
número da amostra mudaria este resultado.
Embora o pesquisador considere que os estudos sobre o tema devam ser continuados,
sugeriu que os resultados apontam para a necessidade da busca por políticas públicas, que
visem incrementar a conduta resiliente dos professores.
Optamos por utilizar o “Questionário de Resiliência: Adultos Reivich-Shatté/Barbosa”
na presente pesquisa, considerando nosso interesse em levantar como estão desenvolvidos os
fatores de resiliência na amostra, a fim de desenvolvermos estratégias de intervenções para a
promoção da resiliência em pessoas com deficiência.
71
CAPÍTULO 4 – MÉTODO
4.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO
Este estudo foi realizado a partir de uma pesquisa de levantamento de dados, com
abordagem quantitativa, cuja análise estatística permitiu a observação da freqüência dos
fenômenos na amostra, a correlação entre os dados sócio-demográficos e os fatores de
resiliência. (COZBY, 2006)
A partir dos resultados, foram realizadas a análise dos dados e a discussão, com base
no levantamento bibliográfico apresentado e nos pressupostos teóricos da Psicologia
Analítica.
4.2 LOCAL DA COLETA
A coleta de dados foi feita em quatro centros de reabilitação do estado de São Paulo:
Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), Associação dos Policiais Militares
Deficientes do Estado de São Paulo (APMDFESP), Fundação Selma e Lar Escola São
Francisco – Centro de Reabilitação da Universidade Federal de São Paulo (LESF/UNIFESP).
4.3 PARTICIPANTES
Os participantes da amostra eram pessoas maiores de 16 anos, com lesão medular,
nível tóraco-lombar, com independência para atividades de vida diária e de vida prática, e que
eram dependentes de cadeira de rodas para locomoção comunitária, podendo utilizar outros
auxiliares para locomoção domiciliar (andador, muletas ou bengala).
A idade de 16 anos foi escolhida como um dos critérios, devido ao fato de ser a idade
mínima para o exercício de atividades laborativas.
A amostra foi selecionada a partir dos critérios estabelecidos e os participantes
agrupados da seguinte forma:
Grupo A - pessoas com lesão medular, que estão exercendo atividade de trabalho
remunerado em empresas ou em atividade autônoma no Estado de São Paulo.
Grupo B - pessoas com lesão medular, que o estão exercendo atividade de trabalho
remunerado.
72
Cada grupo foi composto de trinta 30 participantes, na expectativa da obtenção de
significância estatística e que se pudesse estabelecer correlações entre os dados.
A amostra foi composta por abordagem não probabilística. Isto permitiu o
levantamento de hipóteses e tendências que, futuramente, poderão ser estudadas em amostras
maiores, o que permitirá generalizações para a população de pessoas com lesão medular.
4.4 INSTRUMENTOS
Foram aplicados os seguintes instrumentos:
4.4.1 Questionário dos dados sócio-demográficos (ANEXO A):
Este instrumento foi elaborado para coletar informações sobre os critérios de inclusão
e caracterizar a amostra quanto a:
sexo
faixa etária
local de nascimento e residência
escolaridade
religião
estado civil
constituição familiar
fontes de renda da família
diagnóstico
reabilitação
independência para atividades de vida diária e locomoção
atividade social
profissão
atividade de trabalho
73
4.4.2 “Questionário de Resiliência: Adultos Reivich – Shatté / Barbosa” (ANEXO B).
O Questionário de Resiliência: Adultos Reivich Shat/ Barbosa” é a tradução do
questionário original “RQTest” (Reivich e Shatté, 2002) para a língua portuguesa, validado
para a população brasileira por Barbosa (2006).
O instrumento avalia sete fatores considerados constitutivos da resiliência:
Administração das Emoções, Controle dos Impulsos, Empatia, Otimismo, Análise
Causal, Auto-Eficácia e Alcance das Pessoas. Posteriormente, apresentaremos a descrição de
cada fator, bem como a forma de interpretação dos resultados, segundo os autores que
estudaram este instrumento.
Para cada fator oito questões, divididas em quatro que avaliam os aspectos
positivos e quatro os aspectos negativos.
Segundo Barbosa (2006, p.32), trata-se de uma Escala Nominal, “devido ao fato de
que as quatro gradações da escala no questionário (Nunca, Algumas Vezes, Quase Sempre e
Sempre) elaboradas para indicar o comportamento de resposta não serem intercambiáveis
(não guardarem uma propriedade numérica ou quantitativa entre si)”.
As respostas dos participantes devem ser tabuladas e transformadas em escores. Os
escores utilizados para calcular os resultados para os fatores de resiliência foram estabelecidos
após a validação do questionário para a população brasileira, que foi aplicado numa amostra
de 2.375 participantes. Esses escores permitem calcular os resultados dos participantes em
cada fator de resiliência e classificá-los nas seguintes modalidades: na dia, Abaixo da
Média, Muito Abaixo da Média, Acima da Média e Muito Acima da Média.
A seguir, apresentaremos a descrição dos sete fatores avaliados pelo questionário e a
interpretação dos resultados, utilizando os estudos de Reivich e Shatté (2002), Araújo (2005,
2007)
7
(informação verbal) e Barbosa (2006 e 2008).
Devido à escassez de literatura sobre a resiliência de pessoas com deficiências, a
forma de interpretação dos resultados da amostra para o “Questionário de Resiliência: Adultos
Reivich Shatté / Barbosa”, utilizada no Capítulo 6 Discussão dos Resultados, foi baseada na
proposta dos autores citados.
7
ARAÚJO, C. A. de. Curso de Resiliência, ministrado como disciplina do Núcleo de Psicossomática e
Psicologia Hospitalar do Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Clínica da PUC-SP; 2005 e 2007.
74
4.4.2.1- Fator Administração das Emoções
O fator Administração das Emoções é definido como a habilidade de uma pessoa em
se manter calmo, quando sob pressão.
Quando essa habilidade é rudimentar, as pessoas podem ter dificuldades em manter
relacionamentos e, segundo Reivich e Shatté (2002), com freqüência, essas pessoas desgastam
emocionalmente os que convivem com elas, e se tornam pessoas difíceis no ambiente
profissional.
Assim, segundo Araújo (2007), a Administração das Emoções influencia a
sociabilidade, o sucesso no trabalho e a manutenção da saúde. Está relacionada com a
capacidade de identificar as próprias emoções e saber expressá-las de maneira proporcional. O
desenvolvimento deste fator também se relaciona com identificar a emoção dos outros.
O fator Administração das Emoções está relacionado com a habilidade de elaboração
e controle das emoções, para garantir um enfrentamento eficiente aos problemas e
adversidades.
4.4.2.2 Avaliação dos resultados para o fator Administração das Emoções
Segundo Araújo (2007), o resultado Abaixo da Média pode indicar uma pessoa muito
sensível, que apresenta uma exacerbação das emoções positivas e negativas.
O resultado Acima da Média pode indicar que a pessoa tem um controle excessivo da
expressão das emoções, podendo parecer insensível e afetar sua interação social.
4.4.2.3 Fator Controle dos Impulsos
Segundo Reivich e Shatté (2002), o fator Controle dos Impulsos é compreendido
como a habilidade de não agir impulsivamente.
Araújo (2007) escreveu que o Controle dos Impulsos adequado exige a habilidade do
ego em mediar a elaboração do impulso e a sua satisfação, controlando a capacidade de
adiamento, ou a criação de alternativas possíveis de satisfação.
Barbosa (2008) apresentou uma dimensão, que descreveu como psicossomática da
compreensão do fator Controle dos Impulsos. Desta perspectiva, descreveu-o como sendo a
“capacidade de regular a intensidade de seus impulsos no sistema muscular” (pg.1). Isso,
envolve a aprendizagem de não se deixar levar impulsivamente para a experiência de uma
75
emoção, sendo que a capacidade de controle do sistema muscular frouxo”ou rígidopode
influenciar a vivência da emoção de forma “exacerbada ou inibida”.
4.4.2.4 Avaliação dos resultados para o fator Controle dos Impulsos
Segundo Araújo (2007), o resultado Abaixo da Média pode indicar uma pessoa que
não consegue controlar os impulsos, causando um comportamento de desadaptação. Em geral,
são pessoas que tem dificuldade de perceber o outro.
O resultado Acima da Média pode indicar que a pessoa faz uso excessivo de
mecanismos de defesa, reprimindo exageradamente os impulsos. Nestes casos, a pessoa pode
ter um comportamento apático, ser conformista e ter a criatividade embotada, e isso pode
aumentar o nível de tensão, deixando a pessoa sujeita a “explosões” e aumentando muito o
nível de estresse.
4.4.2.5 Fator Otimismo
O fator Otimismo diz respeito à habilidade da pessoa de ter a convicção de que as
situações irão mudar, quando envolvida em adversidades. Nessa situação, a pessoa consegue
manter a esperança de um futuro melhor. Essa habilidade está relacionada com a crença de
possuir habilidades para enfrentar as adversidades, que inevitavelmente ocorrerão.
Reivich e Shatté (2002) ressaltaram que os fatores Otimismo e Auto-eficácia,
geralmente, estão relacionados. O fator Otimismo, quando desenvolvido adequadamente,
proporciona uma percepção realista e contextualizada das situações adversas.
4.4.2.6 Avaliação dos resultados para o fator Otimismo
Segundo Araújo (2007), o resultado Abaixo da dia pode indicar uma pessoa com
tendência ao negativismo e à antecipação de eventos negativos.
O resultado Acima da Média pode indicar que a pessoa tem dificuldade em analisar
realisticamente os eventos, mantendo uma visão fantasiosa do futuro.
76
4.4.2.7 Fator Análise do Ambiente
O fator Análise do Ambiente descreve a habilidade de identificar, precisamente, as
causas dos problemas e adversidades. Para Araújo (2005), se relaciona com a habilidade da
pessoa em reconhecer os próprios erros e aprender com eles, e para Barbosa (2008, p. 1)
“habilita a pessoa a se colocar em um lugar mais seguro, do que se posicionar em situação de
risco.”
4.4.2.8 Avaliação dos resultados para o fator Análise do Ambiente
Segundo Araújo (2007), o resultado Abaixo da Média pode indicar uma pessoa com
dificuldade de aceitar os próprios erros, com tendência a responsabilizar os outros pelas
dificuldades que encontra. Ao mesmo tempo, pode sentir-se incapaz de fazer as coisas
adequadamente.
O resultado Acima da Média pode indicar que a pessoa tende a responsabilizar-se por
tudo o que acontece de errado, indicando uma dificuldade em analisar as reais causas do
problema.
4.4.2.9 Fator Empatia
O fator Empatia revela a habilidade de ler os estados emocionais e psicológicos de
outras pessoas, a capacidade para decodificar a comunicação não verbal e organizar atitudes a
partir dessa leitura.
Segundo Araújo (2007), a Empatia esrelacionada com a capacidade da pessoa em
se colocar no lugar do outro, inclusive de perceber como o outro a percebe.
4.4.2.10 Avaliação dos resultados para o fator Empatia
Segundo Araújo (2007), o resultado Abaixo da Média pode indicar uma pessoa com
dificuldade para perceber o que está ao seu redor, além da dificuldade de perceber o que
acontece consigo mesma, uma vez que só podemos nos perceber a partir do olhar do outro.
O resultado Acima da Média pode indicar que a pessoa tende a se preocupar
excessivamente com o que os outros pensam sobre ela. E, ficando tão atenta ao outro, pode
77
perder a referência de si mesma, comprometendo a sua objetividade em interpretar as relações
interpessoais.
4.4.2.11 Fator Auto-eficácia
O fator Auto-eficácia diz respeito à convicção de ser eficaz nas ões, sinaliza a
crença de que se tem recursos para encontrar soluções para os problemas. E, segundo Araújo
(2007), é uma habilidade não inata, que é desenvolvida a partir da relação com os outros e das
experiências bem sucedidas, tendo, assim, uma relação com a auto-estima.
4.4.2.12 Avaliação dos resultados para o fator Auto-eficácia
Segundo Araújo (2007), o resultado Abaixo da Média pode indicar uma pessoa que
não acredita em si mesma e nas suas habilidades em efetivar ações que solucionem os
problemas.
O resultado Acima da Média pode indicar que a pessoa tende a crer que já está
preparada para enfrentar qualquer situação e não a necessidade de aprender novas
habilidades.
4.4.2.13 Fator Alcançar Pessoas
O fator Alcançar Pessoas esrelacionado com a habilidade de se expor e lidar com
os resultados da própria ação. Além disso, envolve a habilidade de se conectar com outras
pessoas para viabilizar soluções para os problemas. Segundo Barbosa (2006), trata-se de não
alimentar o medo de se expor ao fracasso e ao ridículo em publico e, também, de não
supervalorizar as tentativas fracassadas como resultados catastróficos.
4.4.2.14 Avaliação dos resultados para o fator Alcançar Pessoas
Segundo Araújo (2007), o resultado Abaixo da Média pode indicar uma pessoa que
evita fazer algumas coisas por receio de obter um resultado ruim, indicando dificuldade em
tolerar os próprios erros. Assim, torna-se uma pessoa desencorajada de expor-se aos desafios.
O resultado Acima da Média pode indicar que a pessoa tende a expor-se sem crítica,
podendo não perceber situações em que é inadequado.
78
4.5 PROCEDIMENTOS
Neste estudo, contatamos e obtivemos autorização verbal ou escrita (ANEXO C) dos
responsáveis pelos centros de reabilitação e associações de pessoas com deficiências, para
compor a amostra da pesquisa.
Foram realizadas diversas visitas a esses locais, nos quais os participantes foram
abordados individualmente ou em grupos, conforme a disponibilidade e a conveniência deles
próprios ou dos locais de coleta.
Os sujeitos foram convidados a participar da pesquisa e assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, em consonância com as determinações estabelecidas pela
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (ANEXO D).
O Questionário de Dados Sócio-demográficos e o Questionário de Resiliência foram
distribuídos aos participantes dos grupos A e B, que responderam às questões apresentadas.
Os dados coletados foram submetidos a tratamento e análise estatística, para posterior análise
dos resultados quantitativos.
A partir dos resultados quantitativos os dados foram analisados e interpretados, com
base na literatura sobre o tema e no referencial teórico da Psicologia Analítica.
4.6 CUIDADOS ÉTICOS
O projeto de pesquisa foi submetido e aprovado, recebendo parecer positivo, pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (ANEXO E).
Os participantes foram convidados para a coleta de dados e, devidamente esclarecidos
sobre os objetivos da pesquisa e dos seus direitos, assinaram o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido.
Esta pesquisadora se comprometeu a fazer o encaminhamento para atendimento
psicoterapêutico ou a assumir, pessoalmente, o atendimento, caso identificasse tal necessidade
durante a coleta de dados. Comprometeu-se, também, a convidar os participantes da pesquisa
para palestras sobre resiliência e sobre os resultados obtidos na pesquisa.
4.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA
O processamento dos dados obtidos nos questionários foi realizado por meio dos
seguintes programas: Excell utilizado para construção do banco de dados e construção dos
79
gráficos apresentados; SPSS (versão 12.0) para elaboração de tabelas simples e cruzadas,
cálculo das medidas descritivas e realização dos testes estatísticos. Esses procedimentos
foram realizados sob a orientação da Profa. Yara Pisanelli G. de Castro, Consultora Estatística
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
As respostas referentes ao questionário dos dados sócio-demográficos foram
agrupadas em forma de tabelas e gráficos. Isto permitiu a apresentação em percentagem das
características da amostra, quanto aos dados sócio-demográficos, características da lesão
medular, dados da vida após a aquisição da lesão medular, com relação à situação profissional
e à composição da renda familiar.
Os dados obtidos foram utilizados para a comparação entre os grupos dos participantes
que estavam trabalhando e dos que não estavam, e os resultados apresentados em forma de
tabelas e gráficos com as percentagens obtidas para as características estudadas.
Para a análise estatística intergrupal foram aplicados os testes Qui-Quadrado (χ
χχ
χ
2
) e
Mann-Whitney (não paramétricos), que permitiram a verificação da significância das
diferenças encontradas em algumas variáveis.
Para todos os testes estatísticos, o nível de significância considerado foi de 0,05 (5%).
Quanto aos fatores de resiliência, as respostas dos participantes foram tabuladas pelo
Instituto de Pesquisas em Terapia – ALIANÇA, detentor dos direitos autorais do questionário.
Para a análise dos resultados dos participantes no Questionário de Resiliência, realizamos a
média dos postos obtidos pelos grupos A e B em cada fator de resiliência.
Para a análise dos resultados da amostra, utilizamos os escores estabelecidos pela
pesquisa de validação do Questionário de Resiliência Adultos Reivich-Shatté/Barbosa, a partir
dos resultados de uma população de 2.375 participantes. De acordo com estes escores
encontramos a posição de toda a amostra e também dos grupos A e B, nas seguintes
modalidades: na Média, Abaixo da Média, Muito Abaixo da Média, Acima da dia e Muito
Acima da Média.
Entretanto, a amostra de 60 participantes mostrou-se pequena para utilizarmos a
graduação de resultados, quando dividida em 5 categorias (na Média, Abaixo da dia,
Muito Abaixo da dia, Acima da Média e Muito Acima da Média). Por isso, agrupamos as
cinco categorias em três: na Média, Abaixo da Média e Acima da Média. Utilizamos o Teste
de Mann-Whitney para verificar se as diferenças eram significantes entre os grupos A e B.
80
CAPÍTULO 5 - APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
5.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
Para a caracterização da amostra foram utilizadas informações do Questionário de
Dados Sócio-demográficos e do “Questionário de Resiliência Reivich-Shaté/Barbosa” e as
tabelas serão apresentadas a seguir.
Tabela 1 - Distribuição da amostra quanto ao gênero.
Sexo N %
Masculino 48 80,0
Feminino 12 20,0
Total 60 100,0
A amostra foi composta por 80% de homens e 20% de mulheres.
Tabela 2 - Distribuição da amostra quanto à faixa etária.
Idade N %
16 a 20 4 6,7
21 a 30 14 23,3
31 a 40 18 30,0
41 a 50 14 23,3
50 a 65 10 16,7
Total 60 100,0
A amostra foi composta na sua maioria por pessoas com idades entre 21 e 50 anos
(76,6%), sendo que a maior concentração (30%) estava na faixa entre 31 e 40 anos.
81
Tabela 3 - Distribuição da amostra quanto à região de nascimento.
Região de nascimento N %
Nordeste 13 21,7
Sudeste 44 73,3
Sul 2 3,3
Exterior 1 1,7
Total 60 100,0
73,3% dos participantes da amostra nasceu na região Sudeste, 21,7% na região
Nordeste, 3,3% na região Sul e 1,7% (1 participante) nasceu em outro país.
Tabela 4 - Distribuição da amostra quanto à cidade de moradia.
Cidade em que mora N %
São Paulo 49 81,7
Outra 11 18,3
Total 60 100,0
A maior parte dos participantes da amostra residia na cidade de São Paulo (81,7%) e
18,3% em outras cidades do Estado de São Paulo.
Tabela 5 - Distribuição da amostra quanto à religião.
Religião N %
Católico(a) 31 54,4
Espírita 5 8,8
Evangélico(a) 12 21,1
Outra 9 15,8
Total 57 100,0
SR = 3
Três participantes não responderam à questão. Entre os demais, a maior parte era
católica (54,4%), 21,1% evangélicos, 8,8% espíritas e 15,8% referiu adotar outras religiões.
82
Tabela 6 - Distribuição da amostra quanto ao nível de escolaridade.
Escolaridade N %
Superior completo 9 15,0
Superior incompleto 1 1,7
Ensino médio completo 25 41,7
Ensino médio incompleto 8 13,3
Ensino fundamental completo 7 11,7
Ensino fundamental incompleto 9 15,0
Alfabetizado 1 1,7
Total 60 100,0
Gráfico da Tabela 6 - Distribuição da amostra quanto ao nível de escolaridade.
Escolaridade
(em %)
Ensino fundamental
completo
11,7
Superior incompleto
1,7
Superior completo
15,0
Ensino médio
completo
41,7
Ensino médio
incompleto
13,3
Alfabetizado
1,7
Ensino fundamental
incompleto
15,0
Foi observado que 41,7% tinha Ensino Médio Completo, representando a maior
concentração dentro da amostra, 15% dos participantes tinha Ensino Superior Completo, 15%
Ensino Fundamental Incompleto, 13,3% Ensino dio Incompleto, 11,7% Ensino
Fundamental Completo, 1,7% (1 participante) tinha Ensino Superior Incompleto e 1,7% (1
participante) relatou ter sido apenas alfabetizado.
Para analisarmos a situação escolar da amostra, a tabela abaixo exibe a concentração
dos níveis de escolaridade de Ensino Médio Completo e Superior Completo e Incompleto,
nomeados “escolaridade alta”, e os níveis alfabetizado, Ensino Fundamental Incompleto,
Ensino Fundamental Completo, Ensino Médio Incompleto, nomeados “até ensino médio”.
83
Tabela 7 - Distribuição da amostra segundo as categorias “escolaridade alta” e “aensino
médio”.
Escolaridade
N
%
Alta 35 58,3
Até ensino médio 25 41,7
Total 60 100,0
Gráfico da Tabela 7 - Distribuição da amostra segundo as categorias “escolaridade alta” e “até
ensino médio”.
Escolaridade
(em %)
Até ensino médio
41,7
Alta
58,3
Foi observado que 41,7% compunha o grupo dos que tinham “até ensino médio” e
16,7% àquele com nível superior, concluído ou não, somando 58,3% com escolaridade
alta”.
84
Tabela 8 - Distribuição da amostra quanto ao estado civil.
Estado Civil N %
Solteiro 19 31,7
Casado 24 40,0
Separado 2 3,3
Divorciado 4 6,7
Comunhão Estável 11 18,3
Total 60 100,0
A maior parte da amostra era casada (40%) ou vivia em Comunhão Estável (18,3%),
31,7% eram solteiros, 6,7% divorciados e 3,3% separados.
Os Casados e os que viviam em Comunhão Estável somaram 58,3%.
Tabela 9 - Distribuição dos participantes solteiros que namoram.
Namora
N %
Sim 11 47,8
Não 12 52,2
Total 23 100,0
SR=2
NSA=37
Em 37 participantes da amostra a pergunta sobre namorar não se aplicava, pois eram
casados ou viviam em Comunhão Estável, sendo que dois o responderam à pergunta. Entre
os demais, 52,2% não namoravam e 47,8% namoravam.
Tabela 10 - Distribuição da amostra quanto a filhos.
Tem filhos
N %
Sim 42 70,0
Não 18 30,0
Total 60 100,0
O quesito exibiu que 70% dos participantes tinha filhos e 30% não os tinha.
85
Tabela 11 - Distribuição da amostra quanto à quantidade de filhos.
Nº de filhos N %
Um 15 36,6
dois 14 34,1
três 5 12,2
quatro 4 9,8
cinco 2 4,9
mais que 5 1 2,4
Total 41 100,0
SR = 1
NSA = 18
Em 18 participantes a questão não se aplicava e um não respondeu à questão. Entre os
demais, a maioria (36,6%) tinha um filho, 34,1% dois filhos, 12,2% três filhos, 9,8% quatro
filhos, 4,9% (2 participantes) cinco filhos, e 2,4% (1 participante) tinha mais do que cinco
filhos.
Tabela 12 - Distribuição da amostra quanto a com quem vivem (residem).
Com quem vive N %
Pais 12 20,0
Cônjuge 6 10,0
Cônjuge e filhos 32 53,3
Outros familiares 6 10,0
Sozinho 4 6,7
Total 60 100,0
A maior parte da amostra, representada por 53,3%, afirmou viver com o cônjuge e
filhos, 20% com os pais, 10% com os cônjuges ou com outros familiares e, representando a
minoria, 6,7% viviam sozinhos.
86
Tabela 13 - Distribuição da amostra quanto ao recebimento de benefício previdenciário.
Recebe benefício
Previdenciário
N %
Sim 44 73,3
Não 16 26,7
Total 60 100,0
Gráfico da Tabela 13 - Distribuição da amostra quanto ao recebimento de benefício
previdenciário.
Recebe Benefício Previdenciário
(em %)
Sim
73%
Não
27%
A maior parte da amostra (73,3%) afirmou estar recebendo algum tipo de benefício
previdenciário e 26,7% negou receber tal benefício.
87
Tabela 14 - Distribuição da amostra quanto ao valor do benefício previdenciário recebido.
Valor do benefício
N
%
200 a 400 reais 12 36,4
400 a 600 reais 6 18,2
600 a 1000 reais 5 15,2
1000 a 2000 reais 8 24,2
Mais de 2000 reais 2 6,1
Total 33 100,0
SR=11
NSA=16
Gráfico da Tabela 14 - Distribuição da amostra quanto ao valor do benefício previdenciário
recebido.
Valor dos Benefícios
(em %)
6,1
24,2
15,2
18,2
36,4
0
5
10
15
20
25
30
35
40
200 a 400 reais 400 a 600 reais 600 a 1000 reais 1000 a 2000 reais Mais de 2000 reais
Em 16 participantes da amostra a pergunta não se aplicava, uma vez que não recebiam
qualquer benefício, e 10 participantes não responderam à pergunta. Entre os demais, a maior
concentração (36,4%) estava entre os que recebiam valores entre R$ 200,00 e R$ 400,00,
15,2% entre R$ 600,00 e R$ 1000,00, 24,2% entre R$ 1000,00 e R$ 2000,00 e, apenas 6,1%
(2 participantes) recebiam benefícios com valor acima de R$2000,00.
88
Tabela 15 - Distribuição da amostra quanto aos tipos de benefícios previdenciários recebidos.
Tipo de benefício N %
LOAS
8
2 3,3
Auxílio Doença 13 21,7
Aposentadoria por invalidez 26 43,3
Aposentadoria por tempo de serviço 2 3,3
Aposentadoria por idade 1 1,7
Total 44 73,3
NSA=16
Em 16 participantes da amostra a questão o se aplicava. Entre os que admitiram
receber benefício previdenciário, 43,3% recebiam proventos de aposentadoria por invalidez,
21,7% por auxílio doença, 3,3% recebiam LOAS , 3,3% aposentadoria por tempo de serviço
e, apenas 1 participante(1,7%) aposentadoria por idade.
5.2 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA QUANTO À LESÃO MEDULAR
Tabela 16 - Distribuição da amostra quanto ao nível da lesão medular.
Nível da lesão N %
Toráxica 50 83,3
Lombar 10 16,7
Total 60 100,0
A lesão medular a nível torácico foi observada em 83,3% da amostra e a lesão medular
nível lombar em 16,7%.
8
BRASIL - Presidência da República - Lei Orgânica da Assistência Social LOAS. A lei 8.742, de 7 de
dezembro de 1993, define que, no Brasil, a assistência social é direito do cidadão e dever do Estado. Como
política de seguridade social não contributiva, a assistência social deve garantir os mínimos sociais e ser
realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o
atendimento às necessidades básicas da população.
89
Tabela 17 - Distribuição da amostra quanto à idade em que a lesão medular ocorreu.
Idade em que a lesão
aconteceu
N %
Até 6 anos 9 15,0
7 a 12 anos 7 11,7
13 a 17 anos 5 8,3
18 a 28 anos 17 28,3
29 a 39 anos 7 11,7
40 a 49 anos 8 13,3
50 a 60 anos 5 8,3
60 anos e mais 2 3,3
Total 60 100,0
A maior concentração da amostra (28,3%) sofreu a lesão medular entre os 18 e 28
anos de idade, 15% aos 6 anos, 13,3% entre 40 e 49 anos, 11,7% entre 29 e 39 anos, 8,3%
entre 13 e 17 anos, 8,3% entre 50 e 60 anos e 3,3% com mais de 60 anos de idade.
Tabela 18 - Distribuição da amostra quanto ao tempo de aquisição da lesão medular.
Tempo de lesão N %
Seis meses 4 6,7
Seis meses a um ano 6 10,0
Um a dois anos 10 16,7
Mais de dois anos 40 66,7
Total 60 100,0
À época da avaliação, observou-se que 66,7% da amostra teve a lesão medular há mais
de dois anos, 16,7% no período de um a dois anos, 10% no período de seis meses há um ano e
6,7% (4 participantes) há seis meses.
90
Tabela 19 - Distribuição da amostra quanto a forma de aquisição da lesão medular.
Forma de Aquisição da Lesão Medular N %
Doença 3 5,0
Queda 9 15,0
Acidente com veículo 17 28,3
Ferimento por arma de fogo 25 41,7
Ferimento por arma branca 1 1,7
Outros 5 8,3
Total 60 100,0
Gráfico da Tabela 19 - Distribuição da amostra quanto a forma de aquisição da lesão medular.
Forma de aquisição da lesão medular
(em %)
Ferimento/arma
branca
1,7
Ferimento /arma de
fogo
41,7
Acidente com veículo
28,3
Queda
15,0
Doença
5,0
Outros
8,3
Na maioria (41,7%) a lesão medular foi adquirida devido a ferimento por arma de
fogo, em 28,3% por acidente com veículo, em 15% por queda, em 5% por doença definida,
em 1,7% devida a ferimento por arma branca e, em 8,3% por outras diversas causas.
91
5.3 CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA APÓS A LESÃO MEDULAR
Tabela 20 - Distribuição da amostra quanto à freqüência de quem voltou a estudar após a
lesão medular.
Voltou a estudar
depois da lesão
N %
Sim 14 23,3
Não 46 76,7
Total 60 100,0
A maioria dos participantes (76,7%) não voltou a estudar após a lesão. Apenas 23,3%
retornou aos estudos.
Tabela 21 - Distribuição da amostra quanto à freqüência de participantes que voltaram a
estudar no Nível de Ensino Médio, após a lesão medular.
Escola regular: nível N %
Não se aplica 54 90,0
Ensino Médio 6 10,0
Total 60 100,0
Foi observado que após a lesão medular 10% da amostra voltou a estudar no Ensino
Médio.
Tabela 22 - Distribuição da amostra quanto à freqüência de participantes que voltaram a
estudar no Nível de Curso Superior, após a lesão medular.
Curso superior N %
Não fizeram 57 95,0
Administração de empresas 3 5,0
Total 60 100,0
Foi observado que após a lesão medular 5% (3 participantes) voltou a estudar em
Curso Superior, e todos fizeram o Curso de Administração de Empresas.
92
Tabela 23 - Distribuição da amostra quanto à freqüência de participantes que voltaram a
estudar em Cursos de Capacitação, após a lesão medular.
Curso de Capacitação N %
Não fizeram 49 81,7
Fizeram Cursos de Capacitação 11 18,3
Total 60 100,0
Foi observado que após a lesão medular 18,3% (11 participantes) fez algum curso de
capacitação.
Tabela 24 - Distribuição da amostra quanto aos cursos de capacitação feitos após a lesão
medular.
Curso de Capacitação N %
Inglês 2 18,2
Técnico em aviação 1 9,1
Informática 6 54,5
Eletrotécnica 1 9,1
Artes Plásticas 1 9,1
Total 11 100,0
NSA=49
Entre os 11 participantes que afirmaram ter voltado a estudar em cursos de capacitação
após a lesão medular, a maioria, representada por 6 participantes (54,4%), fez cursos de
Informática, 2 (18,2%) curso de Inglês, e 1 (9,1%) em cada uma das seguintes modalidades:
Técnico em aviação, Eletrotécnica e Artes Plásticas.
Tabela 25 - Distribuição da amostra quanto a terem feito algum programa de reabilitação.
Fez algum programa de
reabilitação
N %
Sim 54 90,0
Não 6 10,0
Total 60 100,0
Foi observado que 90% da amostra afirmou ter participado de algum programa de
reabilitação e 10% (6 participantes) que não.
93
Tabela 26 - Distribuição da amostra quanto, até quando os participantes fizeram algum
programa de reabilitação.
Até quando N %
Até 2000 3 5,6
Até 2006 13 24,1
Até hoje 38 70,4
Total 54 100,0
NSA=6
Em 6 participantes da amostra a questão não se aplicava, pois não fizeram reabilitação.
Dos que fizeram, a maior parte da amostra (70,4%) afirmou que fazia algum programa de
reabilitação à data da avaliação, 24,1% ter feito reabilitação até 2006 e, apenas 5,6%, afirmou
ter feito até o ano de 2000.
Tabela 27 - Distribuição da amostra quanto à realização de alguma atividade de manutenção
do condicionamento físico e de prevenção a deformidades.
Faz atividades
de manutenção
N %
Sim 31 51,7
Não 29 48,3
Total 60 100,0
À data da avaliação, 51,7% da amostra afirmou realizar alguma atividade de
manutenção e 48,3% negou realizá-las.
Tabela 28 - Distribuição da amostra quanto ao nível de independência para locomoção
comunitária em cadeira de rodas.
Locomoção com a cadeira N %
Independência total 51 85,0
Semi-independência 8 13,3
Dependência de outras pessoas 1 1,7
Total 60 100,0
A maior parte dos participantes, representando 85% da amostra, tem independência
total para locomoção em cadeira de rodas, 13,3% inclui os semi-independentes (necessitam de
94
alguma ajuda, de adaptações ou despendem um tempo maior) e, apenas 1,7% (1 participante)
depende de outra pessoa.
Tabela 29 - Distribuição da amostra quanto ao uso de outros auxiliares para locomoção na
residência.
Utiliza outros auxiliares para
locomoção na residência
N %
Andador 10 43,5
Muletas 1 4,3
Órteses 7 30,4
Apoio de outras pessoas 5 21,7
Total 23 100,0
NSA= 37
Em 37 participantes da amostra a pergunta não se aplicava, pois não utilizavam outros
auxiliares, além da cadeira de rodas para locomoção na residência. Entre os que utilizavam
algum auxiliar, 10 (43,5%) utilizavam andador, 7 (30,4%) órteses, 5 (21,7%) o apoio de
outras pessoas, e apenas 1 participante (1,7%) utilizava muletas para locomoção na residência.
Tabela 30 - Distribuição da amostra quanto ao meio de transporte utilizado.
Meio de transporte N %
Dirige o próprio carro 26 43,3
Utiliza transporte coletivo com independência 12 20,0
Depende de acompanhante 22 36,7
Total 60 100,0
O próprio carro era dirigido por 43,3% da amostra, 36,7% dependia de acompanhante
e 20% utilizava transporte coletivo com independência.
95
Tabela 31 - Distribuição da amostra quanto à freqüência de convívio com amigos.
Contato com amigos N %
Encontros freqüentes 37 61,7
Encontros pouco freqüentes 23 38,3
Total 60 100,0
A maior parte da amostra, representada por 61,7%, afirmou encontrar os amigos com
freqüência, 38,3% afirmou encontrar-se pouco com os amigos, e nenhum participante afirmou
nunca se encontrar com os amigos.
Tabela 32 - Distribuição da amostra quanto a sair para passear, ou se divertir.
Sai para passear,
ou se divertir
N %
Sim 46 76,7
Não 14 23,3
Total 60 100,0
A maior parte da amostra, representada por 76,7%, afirmou sair para passear, ou se
divertir, e 23,3% afirmou que não.
5.4 CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA COM RELAÇÃO À SITUAÇÃO
PROFISSIONAL
Tabela 33 - Distribuição da amostra quanto a ter alguma profissão.
Profissional N %
Sim 55 91,7
Não 5 8,3
Total 60 100,0
A maior parte da amostra, representada por 91,7%, tinha profissão definida, e apenas
8,3% (5 participantes) não tinha.
96
Tabela 34 - Distribuição da amostra quanto a ser estudante.
Estudante N %
Sim 3 5,0
Não 57 95,0
Total 60 100
Apenas 3 participantes (5%) afirmaram ser estudantes e não exercer atividades
profissionais.
Tabela 35 - Distribuição da amostra quanto a estar trabalhando no exercício da profissão de
origem, ou estar trabalhando em outra profissão.
Trabalha Não trabalha Total Exerce outra
atividade
N % N % N %
Sim 22 73,3 0,0 22 38,6
Não 8 26,7 27 100,0 35 61,4
Total 30 100,0 27 100,0 57 100,0
Gráfico da Tabela 35 - Distribuição da amostra quanto a estar trabalhando no exercício da
profissão de origem, ou estar trabalhando em outra profissão.
73,3
26,7
0,0
100,0
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Trabalha Não trabalha
Situaçãode trabalho X Exerce outra atividade
(em %)
Tem outra atividade Não tem outra atividade
97
Entre os que estavam trabalhando, a maioria (73,3%) estava exercendo outra profissão
e 26,7% continuava trabalhando no exercício da mesma profissão. Considerando que 3
participantes da amostra definiram-se como estudantes, não profissionais, a amostra sob a
qual incide a percentagem foi de 57 participantes.
Tabela 36 - Distribuição das atividades profissionais citadas pelos participantes, que estão
exercendo outra atividade profissional.
Outra atividade que exerce N %
Administrador de pequena empresa 6 24,0
Gerente de estabelecimento 3 12,0
Diretor de associação para deficientes 3 12,0
Auxiliar administrativo 2 8,0
Artesão 2 8,0
Monitoramento por câmera 1 4,0
Escultor 1 4,0
Digitador 1 4,0
Torneiro mecânico 1 4,0
Montador de rodas 1 4,0
Vendedor ambulante 1 4,0
Representante de associação para deficientes 1 4,0
Músico 1 4,0
Instrutor de sistemas de aeronaves 1 4,0
Total 25 100,0
NSA= 35
Em 35 participantes da amostra a questão não se aplicava. Entre os que estavam
exercendo outra atividade profissional, 24% (6 participantes) trabalhavam na administração
de pequena empresa; em igual distribuição (12%), 3 participantes eram gerentes de
estabelecimento ou diretores de associação para deficientes; também em igual distribuição
(8%), 2 trabalhavam como auxiliares administrativos ou como artesãos. Os demais,
constituídos por 9 participantes (4% cada), relataram trabalhar como: monitor de câmeras,
escultor, digitador, torneiro mecânico, montador de rodas, vendedor ambulante, representante
de associação para deficientes, músico e instrutor de sistemas de aeronaves.
98
Tabela 37 - Distribuição do grupo dos que trabalham, quanto ao tipo de contrato de trabalho.
Contrato de trabalho N %
CLT
9
4 13,3
Autônomo 15 50,0
Outro 11 36,7
Total 30 100,0
NSA= 30
Entre os que trabalhavam, 50% constituía o grupo de autônomos, 36,7% relatou ter
outro tipo de contrato e 13,3% eram celetizados.
Tabela 38 - Distribuição do grupo dos que trabalham, quanto a encontrar dificuldades no
trabalho.
Encontra dificuldades
no trabalho
N %
Sim 9 30,0
Não 21 70,0
Total 30 100,0
NSA= 30
Entre os que trabalhavam, a maioria (70%) não encontrava dificuldades no trabalho e
30% encontrava dificuldades.
9
CLT é a sigla para Consolidação das Leis do Trabalho.
99
Tabela 39 - Distribuição das dificuldades para o trabalho entre os participantes que
trabalhavam.
Dificuldades no trabalho
N*
retirar e guardar a CR no carro 2
Relacionamento interpessoal com
colegas
1
locomover-se no local de trabalho,
acessibilidade nos banheiros
1
gostaria de mudar de atividade, mas
não tem estudo
1
ter que se expor ao púbico 1
Acessibilidade das ruas, depender de
alguém que o leve
1
Total 7
não foram calculadas porcentagens porque a amostra é pequena
SR=2
NSA=51
Entre as 9 pessoas que trabalhavam e relataram encontrar dificuldade, 2 não
descreveram quais eram e 7 descreveram as seguintes dificuldades: retirar e guardar a cadeira
de rodas do carro (2), no relacionamento interpessoal com colegas (1), locomover-se no local
de trabalho (1), acessibilidade nos banheiros (1), gostaria de mudar de atividade, mas não tem
estudo (1), ter que se expor ao púbico (1), acessibilidade das ruas (1) e, depender de alguém
que o leve (1).
Tabela 40 - Distribuição dos participantes do grupo dos que não trabalhavam, quanto ao
desejo de trabalhar.
Gostaria de trabalhar
N %
Sim 27 90,0
Não 3 10,0
Total 30 100,0
NSA=30
No grupo dos que não trabalhavam, a maioria (90%) gostaria de trabalhar e 10%, não.
100
Tabela 41 - Distribuição dos participantes do grupo dos que não trabalhavam, quanto às
dificuldades encontradas para trabalhar.
Quais dificuldades para trabalhar N %
Não ter transporte 4 23,5
Dificuldade motora 4 23,5
Não quer perder o benefício 2 11,8
Não ter concluído os estudos 2 11,8
Não encontra emprego 1 5,9
Pegar peso 1 5,9
Aprender trabalhos manuais 1 5,9
Problema com a vista 1 5,9
Não ter carro adaptado 1 5,9
Total 17 100,0
NSA= 30
SR= 13
Entre os 30 participantes que o trabalhavam, 13 não responderam quais eram as
dificuldades que encontravam para não trabalhar, 23,5% afirmou que o problema para
trabalhar estava na dificuldade motora, 23,5% citou como dificuldade não ter transporte e, em
igual distribuição (5,9% cada), 1 participante indicou não ter encontrado emprego; 1, não
querer perder o benefício previdenciário; 1, não poder pegar peso; 1, não ter concluído os
estudos; 1, não ter aprendido a fazer trabalhos manuais; 1, ter problemas com a visão e 1, não
ter carro adaptado.
101
5.5 CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA COM RELAÇÃO À COMPOSIÇÃO DA
RENDA FAMILIAR
Tabela 42 - Distribuição das composições de fonte de renda familiar.
Fontes de Renda N %
Benefício 12 20,0
Salário + Benefício 11 18,3
Benefício + Salário de familiares 9 15,0
Salário 6 10,0
Salário + Benefício+Salário do cônjuge 5 8,3
Salários Familiares 4 6,7
Benefício + Salário do Cônjuge 3 5,0
Salário do Cônjuge 2 3,3
Salário + Salário do cônjuge 2 3,3
Ajuda de outros 1 1,7
Benefício + Ajuda de Outros 1 1,7
Salário +Ajuda de outros 1 1,7
Salário + Salário de familiares 1 1,7
Salário + Benefício + Ajuda de outros 1 1,7
Salário+Benefícios+Salário do Cônjuge+Salário de Familiares 1 1,7
Total 60 100,0
Foi observado que 20% tinha a renda familiar composta apenas pelo benefício
previdenciário da pessoa com lesão medular; quase na mesma proporção (18,3%) a renda era
composta pelo salário da pessoa com lesão medular mais o seu benefício previdenciário; em
15% apresentava renda composta pelo benefício previdenciário da pessoa com lesão medular,
mais o salário de familiares; em 10% a renda familiar era composta apenas pelo salário da
pessoa com lesão medular; em 8,3% era composta pelo salário da pessoa com lesão medular,
mais o seu benefício previdenciário, além do salário do cônjuge; em 6,7% a renda era
composta apenas pelo salário de familiares; em 5% era composta pelo benefício
previdenciário da pessoa com lesão medular, mais o salário do cônjuge e, em igual
distribuição (3,3% cada) tinha a renda familiar composta apenas pelo salário do cônjuge, ou
pelo salário do cônjuge, mais o salário da pessoa com lesão medular. E, também, em igual
distribuição (1,7% ), com 1 participante em cada grupo, encontramos as seguintes
composições de fontes de renda: apenas ajuda de outros; ajuda de outros, mais o benefício da
pessoa com lesão medular; ajuda de outros, mais o salário da pessoa com lesão medular;
salário da pessoa com lesão medular, mais o salário de familiares; salário da pessoa com lesão
medular, mais o benefício da pessoa com lesão medular, mais a ajuda de outros; salário da
102
pessoa com lesão medular, mais o benefício previdenciário da pessoa com lesão medular ,
mais o salário do cônjuge e mais o salário de familiares.
Em 88,4% da amostra a composição da renda familiar contava com a participação da
pessoa com lesão medular., sendo que 48,3% dependia somente da pessoa com lesão medular
(benefício previdenciário ou salário, ou um mais o outro).
5.6 COMPARAÇÕES DAS CARACTERÍSTICAS NOS GRUPOS DOS QUE
TRABALHAM E NÃO TRABALHAM
Tabela 43 - Correlação do nível de escolaridade entre estar trabalhando e não estar.
Escolaridade Trabalha Não trabalha Total
Até ensino médio 30,0 53,3 41,7
Alta 70,0 46,7 58,3
Total 100,0 100,0 100,0
N 30 30 60
Gráfico da tabela 43 - Correlação do nível de escolaridade entre estar trabalhando e não estar.
30,0
70,0
53,3
46,7
41,7
58,3
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
Trabalha Não trabalha Total
SITUAÇAÕ DE TRABALHO x ESCOLARIDADE
(em %)
Até ensino médio Alta
χ
χχ
χ
2
=3,36 p>0,05
No grupo dos que trabalhavam, a maioria (70%) tinha “escolaridade alta” (Ensino
Médio completo, Superior Completo ou Incompleto), e 30% ainda não havia completado o
103
Ensino Médio. No grupo dos que não trabalhavam, 53,3% tinham “a Ensino Médio” e
46,7% “escolaridade alta”. O teste estatístico indicou que as diferenças não são significantes.
Tabela 44 - Correlação das variáveis “com parceiro” e “sem parceiro” nos grupos dos que
trabalhavam e não trabalhavam.
Para este teste, agrupamos os tipos de respostas para o Estado Civil em duas
categorias:
“Sem parceiro”: Solteiros, Separados, Divorciados e Viúvos
“Com parceiro”: Casados e Comunhão Estável
Trabalha Não trabalha Total
Estado Civil
N % N % N %
Sem parceiro 10 33,3 15 50,0 25 41,7
Com parceiro 20 66,7 15 50,0 35 58,3
Total 30 100,0 30 100,0 60 100,0
χ
χχ
χ
2
= 1,714; p = 0,190
A maior concentração da amostra (58,3%) foi encontrada no grupo dos “com parceiro”
e 41,7% no grupo “sem parceiro”. No grupo dos que trabalhavam, a maioria (66,7%) estava
no grupo “com parceiro” e 33,3% no grupo “sem parceiros”, e no grupo dos que não
trabalham, os participantes estavam distribuídos igualmente entre os dois grupos.
Ao fazermos o teste estatístico χ2 não observamos diferenças significantes entre as
categorias com parceiro” e “sem parceiro” entre os que trabalhavam e os que não
trabalhavam, mas a descrição da amostra apontou para uma maior concentração de “com
parceiros” entre os que trabalhavam.
Tabela 45 - Correlação da variável namorar, entre os participantes solteiros nos grupos dos
que trabalhavam e que não trabalhavam.
Trabalha Não trabalha Total
Namora
N % N % N %
Sim 5 6 11 47,8
Não 4 8 12 52,2
Total 9 14 23 100,0
Dos 23 participantes que eram solteiros, 9 trabalhavam e 14 não. Dentre os que
trabalhavam, 5 namoravam e 4 não, sugerindo que estas variáveis não são influenciadas uma
104
pela outra. Da mesma forma, isso ocorreu entre os que não trabalhavam, onde 6 namoravam e
8 não.
Tabela 46 - Correlação da variável receber benefício previdenciário, nos grupos dos que
trabalhavam e não trabalhavam.
Trabalha Não trabalha Total Benefício
Previdenciário
N % N % N %
Recebe 19 63,3 24 80,0 43 71,7
Não recebe 11 36,7 6 20,0 17 28,3
Total 30 100,0 30 100,0 60 100,0
χ
χχ
χ
2
= 2,052; p = 0,152
No grupo dos que trabalhavam, a maior parte da amostra representada (63,3%) recebia
algum tipo de beneficio previdenciário e 36,7% não. Da mesma forma, entre os que o
trabalhavam, a maioria (80%) recebia benefício previdenciário e 20% não.
O teste estatístico χ2, não mostrou indícios de diferença estatística significante.
Tabela 47 - Correlação da variável tempo de lesão medular, nos grupos dos que trabalhavam e
que não trabalhavam.
Trabalha Não trabalha Total
Tempo de lesão
N % N % N %
Seis meses 1 3,3 3 10,0 4 6,7
Seis meses a um ano 2 6,7 4 13,3 6 10,0
Um a dois anos 2 6,7 8 26,7 10 16,7
Mais de dois anos 25 83,3 15 50,0 40 66,7
Total 30 100,0 30 100,0 60 100,0
U Mann-Whitney = 304,000 ; p=0,01
No grupo dos que trabalhavam, a maior parte da amostra (83,3%) apresentava a lesão
medular mais de dois anos, 6,7% de um a dois anos, 6,7% de seis meses a um ano e 3,3%
(1 participante) seis meses. No grupo dos que não trabalhavam, também a maior parte da
amostra (50%) teve a lesão mais de dois anos, 26,7% de um a dois anos, 13,3% de seis
meses a um ano e 10% há seis meses.
105
O teste estatístico Mann-Whitney
10
registrou diferença significante entre as variáveis
tempo de lesão medular e trabalho, tendo sido observado que no grupo com mais tempo de
lesão estava o maior número de pessoas trabalhando.
Tabela 48 - Correlação da variável forma de aquisição da lesão medular, nos grupos dos que
trabalham e não trabalham, e teste estatístico χ2 para verificar se as diferenças
são significantes.
Para o teste χ2 agrupamos os tipos de respostas para a forma de aquisição da lesão
medular em três categorias:
“saúde”: doença, outros (acidentes em cirurgia)
“violência”: ferimento por arma de fogo, ferimento por arma branca
“acidente”: queda, acidente com veículo
Situação de trabalho
Trabalha
Não
trabalha
Total
Saúde 13,3 13,3 13,3
Violência 40,0 46,7 43,3
Acidente 46,7 40,0 43,3
Total 100,0 100,0 100,0
χ
χχ
χ
2
=0,308 p>0,05
10
O teste estatístico Mann-Whitney foi utilizado para verificar se as diferenças são significativas, uma vez que o
teste Qui-quadrado não possibilitou a avaliação de todas as possibilidades de respostas necessárias.
106
Gráfico da Tabela 48 - Correlação da variável forma de aquisição da lesão medular, nos
grupos dos que trabalhavam e não trabalhavam.
13,3
40,0
46,7
13,3
46,7
40,0
13,3
43,3
43,3
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
45,0
50,0
Trabalha Não trabalha Total
SITUAÇÃO DE TRABALHO x FORMA DE AQUISIÇÃO DA LESÃO MEDULAR
(em %)
Saúde Violência Acidente
No grupo dos que trabalhavam encontramos a maior concentração (46,7%) de
aquisição da lesão medular por “acidentes”, sendo 40% por eventos de violência” e 13,3%
por eventos relacionados à “saúde”. No grupo dos que não trabalhavam, inversamente,
encontramos a maior concentração (46,7%) de participantes, cujos eventos de “violência”
foram a causa da lesão medular, seguida (40%) por “acidente” e, com a menor concentração
(13,3%) dos eventos relacionados à saúde .
O teste estatístico apontou que estas diferenças não são significantes.
Tabela 49 - Correlação da variável fazer atividades de manutenção, nos grupos dos que
trabalhavam e não trabalhavam.
Trabalha Não trabalha Total Faz atividades
De manutenção
N % N % N %
Sim 21 70,0 10 33,3 31 51,7
Não 9 30,0 20 66,7 29 48,3
Total 30 100,0 30 100,0 60 100,0
χ
χχ
χ
2
= 8,076; p = 0,004
107
No grupo dos que trabalhavam 70% fazia atividade de manutenção e 30% não fazia.
No grupo dos que não trabalhavam 33,3% fazia atividade de manutenção e 66,7% não fazia.
O teste estatístico χ 2 apontou para uma diferença significante, mostrando que a
maioria dos que trabalhavam fazia atividades de manutenção e a maioria dos que o
trabalhavam não fazia atividades de manutenção.
Tabela 50 - Correlação da variável independência para locomoção em cadeira de rodas nos
grupos dos que trabalhavam e que não trabalhavam.
Trabalha Não trabalha Total
Uso da cadeira de rodas
N % N % N %
Independência total 28 93,3 23 76,7 51 85,0
Semi-independência 2 6,7 6 20,0 8 13,3
Dependência de outras pessoas 0 0,0 1 3,3 1 1,7
Total 30 100,0 30 100,0 60 100,0
No grupo dos que trabalhavam a maior parte (93,3%) era independente para
locomover-se em cadeira de rodas e 6,7% era semi-independente. Da mesma forma, no grupo
dos que não trabalhavam a maioria (76,7%) era independente para locomover-se em cadeira
de rodas, enquanto 20% era semi-independente e 3,3% dependia de outras pessoas.
Tabela 51 - Correlação da variável utilizar outros auxiliares para locomoção domiciliar nos
grupos dos que trabalhavam e que não trabalhavam.
Utiliza outros auxiliares para
locomoção na residência
Trabalha Não trabalha Total
Andador 42,9 44,4 43,5
Muletas 7,1 0,0 4,3
Órteses 35,7 22,2 30,4
Apoio de outras pessoas 14,3 33,3 21,7
Total 100,0 100,0 100,0
N 14 9 23
108
Gráfico da tabela 51 - Correlação da variável utilizar outros auxiliares para locomoção
domiciliar nos grupos dos que trabalhavam e trabalhavam.
42,9
7,1
35,7
14,3
44,4
0,0
22,2
33,3
43,5
4,3
30,4
21,7
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
45,0
Trabalha Não trabalha Total
SITUAÇÃO DE TRABALHO x USO DE AUXILIARES PARA LOCOMOÇÃO
(em %)
Andador Muletas Órteses Apoio de outras pessoas
Dos participantes que utilizavam outros auxiliares para locomoção domiciliar, além da
cadeira de rodas, encontramos no grupo dos que trabalhavam a maior concentração (42,9%)
de usuários de andador, seguida de usuários de órteses (35,7%), dos que precisavam de apoio
de outras pessoas (14,3%) e de usuários de muletas (7,1%). No grupo dos que o
trabalhavam, a maior concentração (44,4%), fazia uso de andador, seguida de 33,3% que
precisava do apoio de outras pessoas e de 22,2% de usuários de órteses, sendo que nenhum
utilizava muletas.
109
Tabela 52 - Correlação da variável meios de transportes utilizados, nos grupos dos que
trabalhavam e que não trabalhavam.
Trabalha Não trabalha Total
Meio de transporte
N % N % N %
Dirige o próprio carro 17 56,7 9 30,0 26 43,3
Utiliza transporte coletivo com independência 7 23,3 5 16,7 12 20,0
Depende de acompanhante 6 20,0 16 53,3 22 36,7
Total 30 100,0 30 100,0 60 100,0
χ
χχ
χ
2
= 7,340; p = 0,025
Gráfico da Tabela 52 - Correlação da variável meios de transportes utilizados, nos grupos dos
que trabalhavam e que não trabalhavam.
56,7
23,3
20,0
30,0
16,7
53,3
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
Sim Não
Situação de trabalho X Meio de transporte
(em %)
Dirige o próprio carro Utiliza transporte coletivo com independência Depende de acompanhante
No grupo dos que trabalhavam 56,7% dirigia o próprio carro, 23,3% utilizava
transporte coletivo com independência e 20% era depende de acompanhante. No grupo dos
que o trabalhavam 30% dirigia o próprio carro, 16,7% utilizava transporte coletivo com
independência, e a maioria (53,3%) era depende de acompanhante.
O teste estatístico χ 2 apontou que as diferenças são significantes, mostrando que a
variável da independência para o meio de transporte influencia o fato de trabalhar ou não.
110
Tabela 53 - Correlação da variável freqüência com que encontravam com amigos, nos grupos
dos que trabalhavam e não trabalhavam.
Trabalha Não trabalha Total
Com relação ao contato com amigos
N % N % N %
Os encontra com freqüência 22 73,3 15 50,0 37 61,7
Os encontra pouco 8 26,7 15 50,0 23 38,3
Total 30 100,0 30 100,0 60 100,0
χ
χχ
χ
2
= 3,455; p = 0,063
No grupo dos que trabalhavam, a maioria (73,3%) encontrava os amigos com
freqüência e 26,7% se encontrava pouco com os amigos. No grupo dos que o trabalhavam,
50% encontrava os amigos com freqüência e 50% se encontrava pouco com os amigos.
O teste estatístico χ 2 não registrou significância estatística entre as diferenças, mas as
percentagens parecem indicar uma tendência de que a atividade social dos que trabalhavam
era mais freqüente do que aquela dos que não trabalhavam.
Tabela 54 - Correlação da variável sair para passear ou se divertir, nos grupos dos que
trabalhavam e dos que não trabalhavam.
Trabalha Não trabalha Total Sai para passear
ou se divertir
N % N % N %
Sim 27 90,0 19 63,3 46 76,7
Não 3 10,0 11 36,7 14 23,3
Total 30 100,0 30 100,0 60 100,0
χ
χχ
χ
2
= 5,963; p = 0,015
No grupo dos que trabalhavam, a maioria (90%) saía para passear ou se divertir, e 10%
não saía. No grupo dos que não trabalhavam, também, a maioria (63,3%) saía para passear ou
se divertir e 36,7% não saía.
O teste estatístico χ 2 não apontou diferenças significantes, mas as percentagens
parecem sugerir que a atividade de laser dos que trabalhavam era mais freqüente do que
aquela dos que não trabalhavam.
5.7 CORRELAÇÕES COM FATORES DE RESILIÊNCIA
Realizamos a dia dos postos obtidos pelos grupos dos que trabalhavam e que não
trabalhavam, em cada fator de resiliência e aplicamos o teste estatístico Mann-Whitney. O
111
teste indicou que não há diferenças significantes entre os resultados dos participantes dos dois
grupos. Portanto, podemos apenas observar tendências, que serão apresentadas a seguir.
Para a análise dos resultados da amostra, as respostas dos participantes foram
tabuladas pelo Instituto Aliança, que utilizou os escores estabelecidos pela pesquisa de
validação do questionário numa população de 2.375 participantes. De acordo com esses
escores, encontramos a posição de toda a amostra, e também dos grupos que trabalhavam e
que não trabalhavam, nos índices: Abaixo da Média, na Média e Acima da Média.
112
Tabela 55 - Distribuição dos resultados dos participantes, dos grupos dos que trabalhavam e
que não trabalhavam, para os Fatores de Resiliência do Questionário de
Resiliência Adultos Reivich-Shatté/ Barbosa.
%
Posição
Trabalha Não trabalha Total
Abaixo da Média
66,7 73,3 70,0
Na média
33,3 26,7 30,0
Administração das Emoções
Acima da Média
0,0 0,0 0,0
Abaixo da Média
0,0 0,0 0,0
Na Média
6,7 13,3 10,0
Controle dos Impulsos
Acima da média
93,3 86,7 90,0
Abaixo da média
3,3 20,0 11,7
Na média
93,3 63,3 78,3
Otimismo
Acima da média
3,3 16,7 10,0
Abaixo da média
6,7 10,0 8,3
Na média
86,7 83,3 85,0
Análise do Ambiente
Acima da média
6,7 6,7 6,7
Abaixo da média
40,0 56,7 48,3
Na média
60,0 43,3 51,7
Empatia
Acima da média
0,0 0,0 0,0
Abaixo da média
63,3 63,3 63,3
Na média
30,0 36,7 33,3
Auto-eficácia
Acima da média
6,7 0,0 3,3
Abaixo da média
60,0 76,7 68,3
Na média
40,0 23,3 31,7
Alcançar Pessoas
Acima da média
0,0 0,0 0,0
113
Tabela 56 - Correlação dos resultados obtidos nos fatores de resiliência, nos grupos dos que
trabalhavam e que não trabalhavam.
Administração
das emoções
Controle
dos
impulsos
Otimismo Análise
do
Ambiente
Empatia Auto-
eficácia
Alcançar
Pessoas
Mann-Whitney U 420,000 420,000 435,500 436,000 375,000 439,000 375,000
Significância 0,576 0,393 0,766 0,739 0,200 0,847 0,169
* variável de agrupamento: Situação de trabalho
Para esta correlação, utilizamos o teste estatístico Mann-Whitney, que indicou que não
diferenças significantes entre os resultados dos participantes que trabalhavam e que não
trabalhavam, nos fatores de resiliência. Portanto, podemos apenas observar tendências, que
serão descritas nas tabelas, a seguir.
Gráfico 57 - Distribuição dos resultados dos participantes, dos grupos dos que trabalhavam e
que não trabalhavam, para o Fator de Resiliência Administração das Emoções.
66,7
33,3
0,0
73,3
26,7
0,0
70,0
30,0
0,0
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
Trabalha Não trabalha Total
ADMINISTRAÇÃO DAS EMOÇÕES
(em %)
Abaixo da média Na média Acima da média
No fator Administração das Emoções, a maior parte da amostra (70%) apresentou
resultado Abaixo da Média e 30% apresentou resultado dentro da Média.
114
No grupo dos que trabalhavam 66,7% apresentou respostas Abaixo da Média e 33,3%
apresentou respostas dentro da Média.
No grupo dos que o trabalhavam 73,3% apresentou respostas Abaixo da Média e
26,7% apresentou respostas dentro da Média.
Gráfico 58 - Distribuição dos resultados dos participantes, dos grupos dos que trabalhavam e
que não trabalhavam, para o Fator de Resiliência Controle dos Impulsos.
0,0
6,7
93,3
0,0
13,3
86,7
0,0
10,0
90,0
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
100,0
Trabalha Não trabalha Total
CONTROLE DOS IMPULSOS
(em %)
Abaixo da média Na média Acima da média
No fator Controle dos Impulsos a maior parte da amostra (90%) apresentou resultado
Acima da Média e 10% apresentou resultados dentro da Média.
No grupo dos que trabalhavam 6,7% apresentou respostas dentro da Média e 93,3%
apresentou respostas Acima da Média.
No grupo dos que não trabalhavam 13,3% apresentou respostas dentro da Média e
86,7% apresentou respostas Acima da Média.
115
Gráfico 59 - Distribuição dos resultados dos participantes, dos grupos dos que trabalhavam e
que não trabalhavam, para o Fator de Resiliência Otimismo.
3,3
93,3
3,3
20,0
63,3
16,7
11,7
78,3
10,0
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
100,0
Trabalha Não trabalha Total
OTIMISMO
(em %)
Abaixo da média Na média Acima da média
No fator Otimismo a maior parte da amostra (78,3%) apresentou resultado dentro da
Média, 11,7% apresentou resultados Abaixo da Média e 10% apresentou resultados Acima da
Média.
No grupo dos que trabalhavam 93,3% apresentou resultados dentro da Média, 3,3%
apresentou resultado Abaixo da Média e, na mesma proporção, 3,3% apresentou resultado
Acima da Média.
No grupo dos que o trabalhavam 63,3% apresentou resultados dentro da Média,
20% apresentou resultado Abaixo da Média e 16,7% apresentou resultado Acima da Média.
116
Gráfico 60 - Distribuição dos resultados dos participantes, dos grupos dos que trabalhavam e
que não trabalhavam, para o Fator de Resiliência Análise do Ambiente.
6,7
86,7
6,7
10,0
83,3
6,7
8,3
85,0
6,7
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
90,0
Trabalha Não trabalha Total
ANÁLISE DO AMBIENTE
(em %)
Abaixo da média Na média Acima da média
No fator Análise do Ambiente a maior parte da amostra (85%) apresentou resultado
dentro da Média, 8,3% apresentou resultados Abaixo da dia e 6,7% apresentou resultados
Acima da Média.
No grupo dos que trabalhavam 86,7% apresentou resultados dentro da Média, 6,7%
apresentou resultado Abaixo da Média e, na mesma proporção, 6,7% apresentou resultado
Acima da Média.
No grupo dos que o trabalhavam 83,3% apresentou resultados dentro da Média,
10% apresentou resultado Abaixo da Média e 6,7% apresentou resultado Acima da Média.
117
Gráfico 61 - Distribuição dos resultados dos participantes, dos grupos dos que trabalhavam e
que não trabalhavam, para o Fator de Resiliência Empatia.
40,0
60,0
0,0
56,7
43,3
0,0
48,3
51,7
0,0
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
Trabalha Não trabalha Total
EMPATIA
(em %)
Abaixo da média Na média Acima da média
No fator Empatia 51,7% apresentou resultado dentro da Média, 48,3% apresentou
resultados Abaixo da Média.
No grupo dos que trabalhavam 60% apresentou resultados dentro da Média e 40%
apresentou resultado Abaixo da Média.
No grupo dos que não trabalhavam 56,7% apresentou resultados Abaixo da Média e
43,3% apresentou resultado dentro da Média.
118
Gráfico 62 - Distribuição dos resultados dos participantes, dos grupos dos que trabalhavam e
que não trabalhavam, para o Fator de Resiliência Auto-eficácia.
63,3
30,0
6,7
63,3
36,7
0,0
63,3
33,3
3,3
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
Trabalha Não trabalha Total
AUTO EFICÁCIA
(em %)
Abaixo da média Na média Acima da média
No fator Auto-eficácia a maior parte da amostra (63,3%) apresentou resultado Abaixo
da Média, 33,3% apresentou resultados dentro da Média e 3,3% apresentou resultado Acima
da Média.
No grupo dos que trabalhavam, 63,3% apresentou resultados Abaixo da Média, 30%
apresentou resultado dentro da Média e, 6,7% apresentou resultado Acima da Média.
No grupo dos que não trabalhavam 63,3% apresentou resultados Abaixo da Média e
36,7% apresentou resultado dentro da Média.
119
Gráfico 63 - Distribuição dos resultados dos participantes, dos grupos dos que trabalhavam e
que não trabalhavam, para o Fator de Resiliência Alcançar Pessoas.
60,0
40,0
0,0
76,7
23,3
0,0
68,3
31,7
0,0
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
70,0
80,0
Trabalha Não trabalha Total
ALCANÇAR PESSOAS
(em %)
Abaixo da média Na média Acima da média
No fator Alcançar Pessoas 68,3% apresentou resultado Abaixo da Média e 31,7%
apresentou resultado dentro da Média.
No grupo dos que trabalhavam 60% apresentou resultado Abaixo da Média e 40%
apresentou resultado dentro da Média.
No grupo dos que o trabalhavam 76,7% apresentou resultado Abaixo da Média e
23,3% apresentou resultado dentro da Média.
120
Tabela 64 - Correlação dos resultados dos fatores de resiliência entre os participantes que
voltaram a estudar e os que não voltaram, depois da lesão medular.
Administração
das Emoções
Controle
dos
Impulsos
Otimismo
Análise
do
Ambiente
Empatia
Auto-
eficácia
Alcançar
Pessoas
Mann-Whitney U 232,000 250,500 299,50 271,50 147,000 193,000 153,000
Significância 0,115 0,203 0,88 0,33 0,001 0,024 0,001
* variável de agrupamento: Voltou a estudar depois da lesão
Para verificarmos a hipótese de que voltar a estudar após a lesão medular, assim como
o retorno ao trabalho, representava uma atitude resiliente, que recolocava a pessoa no curso
do seu desenvolvimento pessoal, resolvemos fazer esta correlação. Para isso, utilizamos o
teste estatístico Mann-Whitney, que comparou os resultados dos fatores de resiliência entre
quem voltou a estudar e quem não voltou, e o resultado indicou que diferença significante
nos fatores Empatia, Auto-eficácia e Alcançar Pessoas.
Tabela 65 - Correlação dos resultados dos fatores de resiliência entre os participantes que
faziam atividades de manutenção e prevenção de deformidades e os que não
faziam.
Administração
das emoções
Controle
dos
impulsos
Otimismo
Análise
do
Ambiente
Empatia
Auto-
eficácia
Alcançar
Pessoas
Mann-Whitney U 361 426,5 409,5 380 420 430 355,5
Significância 0,059 0,330 0,205 0,049 0,307 0,373 0,050
* Variável de Agrupamento: Faz atividades de manutenção
Para verificarmos a hipótese de que fazer atividades de manutenção e prevenção de
deformidades, representa uma atitude de autocuidado que denota uma boa reação emocional,
resolvemos fazer esta correlação. Para isso, utilizamos o teste estatístico Mann-Whitney, que
comparou os resultados dos fatores de resiliência entre quem estava fazendo alguma atividade
de manutenção e quem não estava e o resultado apontou diferenças significantes entre os
fatores Análise do Ambiente e Alcançar Pessoas, indicando que os que não fazem
manutenção têm maiores dificuldades nestes fatores.
121
CAPÍTULO 6 - DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Este capítulo visa apresentar as características da amostra estudada e a relação de
nossos achados com os dos estudos pertinentes, já apresentados na literatura consultada.
Para responder aos objetivos deste trabalho serão discutidos: as características da
amostra com relação aos aspectos sóciodemográficos e dos fatores de resiliência, a
comparação destas características nos grupos dos que trabalham e que não trabalham, e o
perfil psicológico da amostra, a partir da análise dos fatores de resiliência.
6.1 CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA AMOSTRA DE PESSOAS COM LESÃO
MEDULAR
6.1.1 Com Relação aos Dados Sóciodemográficos
A amostra estudada foi composta de 60 pessoas com lesão medular, na sua maioria de
nível torácico, havendo, também, lesões de nível lombar. A grande maioria estava constituída
por participantes do sexo masculino. (tabelas 1 e 16).
Para compor a amostra, de forma que se pudesse atender aos objetivos deste trabalho,
selecionamos 30 participantes que trabalhavam e 30 que não trabalhavam, sendo que todos
utilizavam cadeira de rodas para locomoção comunitária e eram independentes para atividades
de vida diárias (AVDs).
A amostra foi composta de uma maioria de adultos jovens, sendo que a maior
concentração estava na faixa de 31 a 40 anos. Esses dados indicam que a maior parte da
amostra estava em idade de intensa atividade laborativa. (tabela 2)
Com relação ao gênero e à idade, a amostra apresentou características condizentes com
os dados encontrados em estudos nacionais e internacionais ( STAAS, 2002; CASALIS,
2003; CARAVIELLO ET. AL, 2004; VALLEDOR, 2005 e, NATIONAL SPINAL CORD
INJURY STATISTICAL CENTER, 2008).
Uma discreta maior percentagem da amostra era casada ou vivia em regime de
Comunhão Estável. Ao longo deste capítulo, faremos referência a este último grupo pela
qualificação de “com parceiro”.
O grupo que qualificamos como “sem parceiro”, era composto na sua maioria por
solteiros, seguidos pelos divorciados e os separados. Encontramos este grupo, dividido entre
os que estavam namorando e os que não estavam. (tabelas 8 e 44)
122
A maioria tinha filhos e, com relação a com quem viviam, um pouco mais do que a
metade da amostra afirmou viver com o cônjuge e filhos. Ainda encontramos os que moravam
somente com os cônjuges, outros, com os familiares e aqueles que viviam sozinhos, sendo
relevante o fato da minoria viver com os pais. (tabelas 10 e 12)
Esses dados sugerem que grande parte da amostra estava num contexto social e
familiar com grandes necessidades de consumo, como: providências para moradia,
alimentação, vestimenta educação, saúde e lazer. Vale lembrar que a maior parte da amostra
era composta de homens, e que na nossa cultura ainda prevalece a expectativa de que eles
supram as necessidades da família. Com isso, podemos supor que incidia nessa amostra uma
alta expectativa de geração de renda e colaboração no sustento familiar.
Por ter sido um critério para a composição da amostra, 50% dos participantes exercia
alguma atividade de trabalho remunerado.
Com relação ao recebimento de benefício previdenciário, a grande maioria da amostra
afirmou receber algum tipo. A maior concentração recebia aposentadoria por invalidez,
seguida dos que recebiam auxílio doença. Uma pequena parte recebia o LOAS (Lei Orgânica
da Assistência Social) ou aposentadoria por tempo de serviço e, apenas um participante
recebia aposentadoria por idade. (tabelas 13 e 15)
Quanto à composição da renda familiar, a maior parte das famílias contava com a
participação da pessoa com lesão medular, sendo que quase a metade dependia somente
dessas pessoas (benefício previdenciário ou salário, ou um mais o outro). Disso, fica
ressaltada a importância da discussão sobre a empregabilidade dessas pessoas.
Os resultados, apontando a alta freqüência da participação das pessoas com lesão
medular na composição da renda familiar, o fato da amostra ter sido composta de uma maioria
de homens e o fato da maior parte da amostra ter adquirido a lesão medular em idade
laborativa, indicaram que a questão do trabalho era um evento importante na fase do
desenvolvimento em que se encontravam. (tabelas 1, 17 e 41)
Portanto, as dificuldades para exercer atividades laborativas podem ser compreendidas
como fatores de risco para essa população.
Para a variável escolaridade, os dados encontrados nesta pesquisa indicaram que a
maior concentração da amostra tinha escolaridade “alta” (nomeamos “alta” a escolaridade
daqueles que concluíram no mínimo Ensino Médio), sendo que neste grupo a maioria
concluiu o Ensino Médio, e uma menor parte teve nível superior concluído ou estava
cursando. Menos da metade da amostra estava no grupo dos que tinham “até Ensino Médio”,
123
o que incluiu ser alfabetizado, ter Ensino Fundamental Completo ou Incompleto e o Ensino
Médio Incompleto. (tabela 7)
6.1.2 Com Relação à Aquisição da Lesão Medular
A maior parte da amostra sofreu a lesão medular mais de dois anos, enquanto
estavam nas faixas etárias entre os 18 e 49 anos de idade (tabelas 17 e 18). São características
dessa faixa etária: o fato de ser um período de decisão e formação da identidade profissional e
o fato de ser um período de intensa atividade laborativa. Estes dados parecem confirmar a
importância do tema da empregabilidade para os grupos estudados.
Os resultados para a causa da lesão medular foram condizentes com os estudos
epidemiológicos brasileiros (CASALIS, 2003 e CARAVIELLO, 2005), sendo que a maior
concentração da amostra adquiriu a lesão medular mediante ferimento por arma de fogo,
seguida pelos que sofreram acidente com veículo, os que sofreram quedas, doenças e
acidentes em cirurgias. Foi registrado que apenas um participante teve a lesão medular devida
a ferimento por arma branca. (Gráfico da tabela 19)
Os estudos citados na literatura contaram com amostras que incluíram paraplégicos e
tetraplégicos. Portanto, vale considerar que um estudo específico para paraplégicos permitiria
uma comparação mais fidedigna com os resultados da amostra deste estudo.
Contudo, em concordância com Battistella (2003), os dados encontrados, tanto no
presente estudo quanto nos demais citados, indicaram que a aquisição da lesão medular esteve
mais freqüentemente relacionada a questões sociais, como a violência e os comportamentos
de risco, do que com problemas relacionados à saúde.
6.1.3 Análise das Características da Amostra Após a Lesão Medular
A maioria da amostra afirmou ter feito algum programa de reabilitação após a
aquisição da lesão medular.
Esse achado pode ter sofrido a influência do fato da coleta de dados ter sido feita em
centros de reabilitação, havendo, portando, maior probabilidade dos participantes terem feito
reabilitação. Contudo, é interessante notar que a maior parte deles sofreu a lesão mais de
dois anos e ainda continuavam em programas de reabilitação. (tabelas 18 e 26)
124
Segundo o estudo de Caraviello et al. (2005), o tempo para a chegada do paciente ao
centro de reabilitação é prolongado, sendo que a média para os 306 sujeitos daquele estudo foi
de 29,7 meses.
O fato de a maioria da amostra ter feito algum programa de reabilitação permite inferir
que receberam cuidados e orientações sobre a própria saúde, sobre acessibilidade e,
possivelmente, receberam algum atendimento psicológico.
A amostra estava dividida entre aqueles que faziam alguma atividade de manutenção
do condicionamento físico e de prevenção a deformidades, e os que não faziam.(tabela 27)
Embora o programa de reabilitação possa oferecer recursos para condicionamento
físico e prevenção de deformidades, e a maioria da amostra ainda estivesse em reabilitação,
foi digno de nota o fato de apenas metade da amostra dedicar-se a esse cuidado para com a
própria saúde.
Com relação à independência para atividades da vida diária, a maior parte dos
participantes tinha independência total para locomoção em cadeira de rodas, um grupo, bem
menor, definiu-se como semi-independente, o que significa que precisavam de alguma ajuda
de adaptações ou, ainda, que levam um tempo maior para locomover-se em cadeira de rodas,
e apenas um participante relatou depender de outra pessoa. (tabela 28)
A maior parte da amostra tinha independência para locomover-se de um lugar para
outro, seja por dirigir o próprio carro, seja por ter independência para utilizar-se de transporte
coletivo. Este dado também é relevante e diz respeito à autonomia dessas pessoas, o que pode
interferir na condição para o trabalho. (tabela 29)
Todos os participantes da amostra afirmaram que encontravam os amigos com maior
ou menor freqüência, e a maioria afirmou sair para passear ou se divertir (tabelas 31 e 32).
Estes dados sugeriram a hipótese de que a sociabilidade não pareceu ser uma dificuldade para
os participantes da amostra, e são condizentes com as afirmações de Oliveira (2001), com
relação às características de comportamento social da população de lesados medulares.
Encontrar-se com os amigos e manter atividades de lazer, são ações que sugerem boa
sociabilidade, o que pode ser um facilitador para a inclusão no trabalho e para o
desenvolvimento da resiliência, segundo Cecconello e Koller (2000) e Pereira e Araújo
(2005).
No que diz respeito ao retorno aos estudos após a lesão medular, apenas quatorze
participantes voltaram a estudar. Destes, seis voltaram a estudar no Ensino Médio e três
voltaram a estudar em curso superior. Dentre os que voltaram a estudar em curso superior,
verificamos que todos fizeram o curso de Administração de Empresas. (tabelas 21 e 22)
125
Onze participantes afirmaram ter voltado a estudar em cursos de capacitação após a
lesão medular, tendo sido interessante notar que seis deles fizeram cursos de informática.
(tabelas 23 e 24) Isso, nos permitiu levantar algumas questões que merecem um estudo mais
aprofundado: a escolha pela área de informática se deveu ao fato da maior facilidade para a
acessibilidade, encontrada nessa atividade? O mercado de trabalho oferecia mais vagas para
paraplégicos nessa área? Essas pessoas eram de uma geração em que havia mais profissionais
da área de informática, e isso nada tinha a ver com a deficiência ?
O entendimento dessas questões nos parece importante, uma vez que é bastante
freqüente as empresas determinarem os tipos de vagas que disponibilizam para profissionais
com deficiências, o que pode representar um equívoco na compreensão sobre a construção da
identidade profissional e do direito de escolha dessas pessoas.
Um outro aspecto importante está em identificarmos o quanto as pessoas com deficiência
estão atualizadas e disponíveis para o que o mercado de trabalho exige dos profissionais
contratados.
Como pudemos observar, os resultados da amostra pareceram indicar que a questão da
escolaridade não se apresentou como um grande déficit ou obstáculo para a empregabilidade.
6.2 COMPARAÇÕES DAS CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA NOS GRUPOS DOS
QUE TRABALHAVAM E NÃO TRABALHAVAM
Para respondermos a um dos objetivos deste trabalho, apresentaremos, aqui, a análise
da situação profissional dos participantes da amostra e a discussão dos resultados, que se
mostraram relevantes na comparação dos grupos dos que trabalham e que não trabalham.
6.2.1 Com Relação à Situação Profissional dos Participantes da Amostra
A maior parte da amostra afirmou ter profissão (tabela 33). Conforme apresentado
anteriormente, vimos que a maior parte da amostra adquiriu a lesão medular em idades
consideradas de intensa atividade laborativa ou durante o período de decisão e formação da
identidade profissional (tabela 17). Entre os que estavam trabalhando, a maioria estava no
exercício de outra profissão. Poucos conseguiram manter a mesma atividade profissional de
antes da lesão medular. (tabela 35)
Este resultado nos remete à questão da identidade profissional que, na maioria dos
casos, precisou ser reconstituída ou adaptada. A necessidade de abandonar a atividade
126
profissional escolhida originalmente e a necessidade da construção de uma nova identidade
profissional, podem ter sido vivenciadas como fatores de risco para o desenvolvimento
pessoal. Entretanto, dependendo dos recursos para o enfrentamento e dos fatores de resiliência
de que dispunham, podem ter conseguido descobrir novos potenciais para desenvolverem.
Como vimos, para muitas pessoas que adquirem uma deficiência, torna-se difícil
manter os papéis sociais desempenhados anteriormente, o que pode dificultar a recuperação
do senso de identidade individual. Contudo, se o processo de desenvolvimento pessoal for
ativado, este rompimento com a persona pode favorecer a descoberta de novos potenciais a
serem desenvolvidos e com os quais poder contar. (WAHBA, 2006)
Com relação às profissões adotadas por quem mudou de atividade, os resultados não
apontaram para uma tendência específica na busca por outra atividade profissional.
Entretanto, vale ressaltar a alta concentração de administradores de pequenas empresas,
seguida de diretores e representantes de associação para deficientes, e de gerentes de
estabelecimentos. (tabela 36)
No grupo dos 30 participantes que trabalhavam, 50% era autônomo. Na outra metade,
a minoria tinha contrato CLT, e uma maior concentração relatou ter outro tipo de contrato,
não especificado. (tabela 37)
Estes resultados, junto com os dados sobre os tipos de atividades desenvolvidas por
aqueles que trocaram de atividade profissional, parecem indicar uma tendência da amostra em
exercer atividades autônomas, sem contrato CLT, o que pode justificar o fato de a maioria da
amostra, incluindo os que trabalhavam, receberem algum benefício previdenciário. Contudo,
valeria indagar se eles recebiam benefício e trabalhavam com outros tipos de contratos, que
não o CLT, em função da dificuldade de se inserirem no mercado formal de trabalho.
Entre os que trabalhavam, a maioria não encontrava dificuldades no trabalho. Entre as
poucas dificuldades apontadas, estavam: retirar e guardar a cadeira de rodas do carro; no
relacionamento interpessoal com colegas; locomover-se no local de trabalho; acessibilidade
nos banheiros; baixo nível escolar; ter que se expor ao púbico; acessibilidade das ruas, e
depender de alguém que o levasse. (tabelas 38 e 39)
As dificuldades apontadas indicaram que são as barreiras físicas, atitudinais e
emocionais, conforme a descrição da CIF (OMS, 2002), que ainda precisam ser resolvidas
para a melhora nas condições de trabalho das pessoas com deficiência.
No grupo dos 30 participantes que não trabalhavam, a grande maioria informou que
gostaria de trabalhar. Entre esses, 13 não responderam sobre as dificuldades encontradas para
trabalhar, e os demais apresentaram as seguintes dificuldades: um grupo afirmou que o
127
problema para trabalhar estava na dificuldade motora, outro grupo citou como dificuldade não
ter transporte, e alguns participantes apontaram problemas, tais como: não ter encontrado
emprego, não querer perder o benefício previdenciário, o poder pegar peso, não ter
concluído os estudos, não ter aprendido a fazer trabalhos manuais ou ter problemas com a
visão. (tabelas 40 e 41)
Dentre as dificuldades mais apontadas por quem não estava trabalhando, encontramos
fatores que pareceram estar relacionados com a construção de uma identidade profissional,
que fosse condizente com as limitações motoras e com a acessibilidade no transporte.
6.2.2 Com Relação à Escolaridade
A escolaridade tem sido apontada como uma das grandes dificuldades para a
empregabilidade de pessoas com deficiências (TANAKA, 2005). Entretanto, e como vimos, a
questão da escolaridade nesta amostra não se apresentou como um grande problema (tabela
7).
Embora não tenhamos encontrado diferença significante no teste estatístico, ao
compararmos os dois grupos estudados, encontramos uma tendência à maior concentração de
participantes com “escolaridade alta” entre os que trabalhavam.
No grupo dos que trabalhavam, a percentagem de participantes com “escolaridade
alta” (Ensino dio Completo, Superior Completo ou Incompleto) era maior do que aquela
dos que ainda o haviam concluído o Ensino Médio, diferentemente do grupo dos que o
trabalhavam, em que a percentagem dos que tinham “escolaridade alta” e dos que tinham “até
Ensino Médio” era quase a mesma. Os resultados sugeriram que o nível escolar pode
influenciar o retorno ao trabalho, após a lesão medular. (tabela 43)
A diferença de nossos resultados para escolaridade com aqueles apresentados na
literatura merece maiores estudos. A amostra da presente pesquisa não foi composta por
abordagem probabilística, o que não permite a generalização dos resultados para a população
de pessoas com lesão medular (COZBY, 2006). Além disso, cabe a discussão sobre a
qualidade da formação escolar oferecida por nossas escolas públicas, o que pode comprometer
o desempenho, não só das pessoas com deficiências, mas de toda a população do nosso país.
128
6.2.3 Com Relação ao Estilo de Vida Afetiva
Com relação ao Estilo de Vida Afetiva, embora o teste estatístico não tenha indicado
diferenças significantes, os resultados apontaram para uma tendência, no grupo dos que
trabalhavam, de viver “com parceiro”. Sendo que, no grupo dos que não trabalhavam, os
participantes estavam divididos igualmente entre os que viviam “com parceiros” e “sem
parceiros”. (tabela 44)
Entre os solteiros, os resultados não apontaram diferenças ou tendências entre os que
estavam trabalhando e os que não estavam. (tabela 45)
Os resultados descritos sugeriram que, nesta amostra, estar trabalhando e manter um
estilo de vida afetiva com parceiro, o se influenciaram significantemente. Contudo, estudos
futuros poderão investigar melhor a tendência encontrada no grupo dos que trabalhavam, onde
se observou um maior número de participantes vivendo “com parceiro” do que “sem
parceiro”.
6.2.4 Com Relação ao Recebimento de Benefício Previdenciário
Com relação ao recebimento de benefício previdenciário, o resultado indicou que
trabalhar ou não trabalhar, não influenciou a amostra quanto a receber algum tipo de benefício
previdenciário. Como vimos, notou-se uma tendência no grupo dos que trabalhavam em
exercer atividades profissionais autônomas ou com contratos de trabalho diferentes daquele da
CLT, o que, provavelmente, explica o recebimento de benefício previdenciário, inclusive
pelos que estavam trabalhando. (tabela 46)
6.2.5 Com Relação ao Tempo de Aquisição da Lesão Medular
No grupo dos que trabalhavam, a maioria dos participantes teve a lesão medular
mais de dois anos e no grupo dos que não trabalhavam, embora a maior concentração tivesse
adquirido a lesão medular mais de dois anos, a diferença entre os dois grupos foi
significante, conforme exibiu o teste estatístico aplicado.
Dessa forma, os resultados indicaram que o tempo de lesão medular influenciou o fato
de trabalhar ou não, sendo que os que tiveram a lesão medular há mais de dois anos tenderam
a estar trabalhando em maior proporção do que os que sofreram a lesão nos períodos
inferiores a dois anos. (tabela 47)
129
6.2.6 Com Relação à Causa da Lesão Medular
Embora não tenhamos encontrado diferença significante, no grupo dos que não
trabalhavam encontramos uma discreta maior concentração de participantes, cuja causa da
lesão medular estava relacionada com eventos de “violência”. Na mesma proporção, a
discreta maioria no grupo dos que trabalhavam, teve como causas aquelas relacionadas a
“acidentes”.(tabela 48)
6.2.7 Com Relação a Fazer Atividades de Manutenção
O teste estatístico indicou diferença significante para a variável fazer atividade de
manutenção, tendo sido exibido que a maioria dos que trabalhavam fazia atividades de
manutenção e a maioria dos que não trabalhavam não fazia. (tabela 49)
Estes resultados indicam que existe uma relação direta entre trabalhar e ser ativo para
os auto cuidados, indicando que o trabalho exerce uma influência positiva na atitude diante da
vida e de assumir responsabilidades consigo mesmo.
6.2.8 Com Relação à Independência para Atividades de Vida Diária.
Considerando que foi critério de inclusão na amostra o fato de terem independência
funcional para atividades de vida diária, o questionário investigou a independência para
locomoção em cadeira de rodas, deslocamento de um local para outro e o uso de auxiliares de
locomoção domiciliar, devido à hipótese de que esses aspectos poderiam influenciar o retorno
ao trabalho.
Os dados indicaram que a independência para locomover-se em cadeira de rodas o
influenciou o fato de trabalharem ou não. Mas, notamos que no grupo dos que não
trabalhavam havia mais participantes semi-independentes, e foi o único grupo em que
registrou-se a dependência de outras pessoas. (tabela 50)
Diante deste resultado, podemos levantar a hipótese de que, entre aqueles que o
trabalham pode haver participantes com maiores dificuldades no desenvolvimento da
autonomia, por justificativas não motoras, mas atitudinais.
Esta hipótese parece ser coerente, também, com os resultados da comparação dos tipos
de auxiliares utilizados para locomoção domiciliar, em que o uso de andador estava dividido
igualmente entre os grupos dos que trabalhavam e não trabalhavam. Porém, no grupo dos que
130
trabalhavam a percentagem de participantes que utilizavam órteses foi maior do que aqueles
que se utilizavam do apoio de outras pessoas, e o inverso ocorreu no grupo dos que não
trabalhavam, sendo mais freqüente o uso do apoio de outras pessoas do que o de órteses.
(tabela 51)
O teste estatístico apontou que a variável da independência para o meio de transporte
influenciou o fato de trabalhar ou não.
Vale notar, que entre os que trabalhavam a maioria dirigia o próprio carro, permitindo
levantar a hipótese de que, quem têm poder aquisitivo para adquirir este bem, além de assumir
uma postura de independência para a locomoção, pode ter maior facilidade em conseguir
trabalhar. Observamos, também, pessoas com lesão medular que trabalhavam utilizando meio
de transporte coletivo com independência, mesmo sendo dependentes de acompanhantes, o
que nos permite concluir que dirigir o próprio carro facilita, mas não é fator determinante da
possibilidade de trabalhar. (tabela 52)
no grupo dos que não trabalhavam, a maioria era dependente de acompanhante para
a locomoção.
6.2.9 Com Relação à Freqüência com que Encontravam com Amigos
Com relação à freqüência com que se encontravam com amigos e saíam para passear e
se divertir, os testes estatísticos não apontaram diferenças significantes, mas as percentagens
sugerem que a atividade social dos que trabalhavam era mais freqüente do que a dos que não
trabalhavam. De forma geral, esta amostra apresentou uma tendência de boa sociabilidade e
atividade de lazer, o que está em consonância com os achados da literatura (OLIVEIRA,
2001). (tabela 53 e 54)
131
6.3 ANÁLISE DOS FATORES DE RESILIÊNCIA
Neste tópico, apresentaremos a análise dos resultados da amostra para os fatores de
resiliência avaliados pelo “Questionário de Resiliência: Adultos Reivich Shatté / Barbosa”
(tabela 55), segundo as propostas de interpretação dos resultados feitas por Reivich-Shatté
(2002), Araújo (2005, 2007) e Barbosa (2006 e 2008).
Como vimos, o levantamento bibliográfico sobre resiliência e deficiência indicou que
esse ainda é um assunto pouco pesquisado. Encontramos uma escassez de artigos científicos
que pudessem ser utilizados na discussão dos resultados desta pesquisa, para os fatores de
resiliência. Dessa forma, utilizamos alguns autores que estudaram empiricamente e
teoricamente o tema da deficiência e outros que estudaram o tema da resiliência.
6.3.1 Análise dos Resultados da Amostra para o Fator Otimismo
Os resultados obtidos para o fator Otimismo, onde a maior parte dos participantes
situou-se na Média, indicaram que a amostra mantinha postura otimista e esperançosa diante
de situações adversas, acreditando que o futuro poderia ser melhor. Segundo as interpretações
de Reivich e Shatté (2002) e de Barbosa (2008), essa habilidade pode estar relacionada com a
crença de possuir potencial para enfrentar as adversidades, e com uma percepção realista e
contextualizada da situação.
6.3.2 Análise dos Resultados da Amostra para o Fator Análise do Ambiente
As características da amostra apontadas pelos resultados no fator Otimismo, parecem
coerentes com o resultado da amostra para o fator Análise do Ambiente, no qual a maioria
também estava na Média, confirmando que os resultados apontavam para uma tendência de
analisar o ambiente de forma adequada.
Contudo, vale retomarmos a literatura, onde Oliveira (2001) apontou para uma
tendência das pessoas com lesão medular de se servirem, inconscientemente, de mecanismos
de defesa como, por exemplo, a racionalização para lidar com o sofrimento inerente às perdas
vividas.
Dessa forma, podem conseguir identificar adequadamente as causas dos problemas e
adversidades que enfrentam, embora, e não necessariamente, consigam lidar com o
132
reconhecimento dos próprios erros e a possibilidade de aprender com eles, conforme a
interpretação de Araújo (2005) para este resultado.
Ainda que com dificuldade para lidarem com os aspectos pessoais ao analisarem o
ambiente, a habilidade em perceber a realidade objetivamente pode lhes permitir posicionar-
se em situações de segurança, evitando situações que ofereçam riscos de maior
vulnerabilidade física e emocional. (BARBOSA, 2008)
6.3.3 Análise dos Resultados da Amostra para o Fator Controle dos Impulsos
A amostra foi caracterizada pela tendência de respostas Acima da Média para o fator
Controle dos Impulsos. Este resultado, também, pareceu ser condizente com a literatura
(OLIVEIRA, 2001), uma vez que, pode indicar o uso excessivo de mecanismos de defesa,
com repressão exagerada sobre os impulsos. Essas características podem ocasionar um padrão
de comportamento mais conformista, oferecer dificuldade com a criatividade e causar
aumento do nível de tensão, tornando essas pessoas mais sujeitas a “explosões”, e
aumentando o nível de estresse. (ARAÚJO, 2007)
Barbosa (2008, p. 1), ao apresentar a compreensão deste fator numa dimensão
psicossomática, relacionou essas habilidades com a capacidade de regulação do sistema
muscular. Considerou que a capacidade de controle do sistema muscular, que ele nomeou
como frouxoou rígido, poderia influenciar a vivência de emoções de forma exacerbada
ou inibida
Embora pareça tentadora a idéia de associarmos o resultado Acima da Média para o
fator Controle dos Impulsos à condição motora da amostra, caracterizada pela paraplegia,
sabemos que a postura psicossomática não pressupõe uma relação de causalidade entre os
eventos psíquicos e orgânicos.
Contudo, vale deixarmos essa discussão para um outro momento, em que o
levantamento dos dados permita melhor avaliar a dinâmica mente-corpo numa amostra com
tais características.
6.3.4 Análise dos Resultados da Amostra para o Fator Administração das Emoções
Os resultados da amostra para o fator Controle dos Impulsos pareceu coerente com
os encontrados para o fator Administração das Emoções, cuja tendência de respostas Abaixo
da Média indicou um grupo muito vulnerável frente a emoções e afetos, uma vez que poderia
133
não estar conseguindo utilizar adequadamente a habilidade egóica de mediar a elaboração do
impulso e a sua satisfação, de forma alternativa.
De acordo com essa hipótese, estariam investindo mais energia para manter uma
estrutura defensiva, do que em processos criativos. Segundo Oliveira (2001), isso coloca tais
indivíduos diante do risco de regredirem ao confrontarem-se inesperadamente com emoções
fortes, fazendo-os vivenciarem as dores passadas e que não foram elaboradas.
Como vimos, encontramos nesta amostra uma tendência para a maior facilidade na
manutenção de atividade social, o que segundo os estudos de Pesce et. al (2004), caracteriza-
se como uma boa habilidade para o enfrentamento de adversidades.
Contudo, a habilidade em buscar apoio social pareceu não estar, necessariamente,
relacionada com a habilidade de reconhecer as próprias emoções e expressá-las de maneira
proporcional, o que Araújo (2007) caracteriza como o bom desenvolvimento do fator
Administração das Emoções. Tampouco, pareceu estar diretamente relacionada com a
habilidade de identificar as emoções dos outros e utilizá-las como pistas para reorientar o
próprio comportamento, que resultaria na boa elaboração e controle das emoções, que por sua
vez, poderia auxiliar no enfrentamento eficiente de problemas e adversidades. (BARBOSA,
2008)
6.3.5 Análise dos Resultados da Amostra para o Fator Auto-eficácia
A amostra foi caracterizada pela tendência de respostas Abaixo da Média para o fator
Auto-eficácia, o que poderia indicar uma dificuldade em acreditarem em si mesmos, de
acreditarem na capacidade de efetivar ões que solucionassem os problemas (ARAÚJO,
2007). Além disso, poderiam ter um baixo grau de confiança, no fato de que o ambiente pode
oferecer recursos para o enfrentamento de adversidades (BARBOSA, 2008).
Considerando que as habilidades da Auto-eficácia são desenvolvidas na relação com
os outros, e a partir de experiências bem sucedidas, podemos levantar a hipótese de que por
esta amostra ter como característica a aquisição de uma deficiência, a limitação motora, as
barreiras físicas e atitudinais passaram a oferecer uma situação de maior vulnerabilidade,
porque nem todas as atividades que antes eram desempenhadas com sucesso, são possíveis
agora.
Reivich e Shatté (2002) escreveram que os fatores Otimismo e Auto-eficácia
geralmente estão relacionados. Entretanto, nesta amostra não pareceram estar diretamente
correlacionados.
134
O resultado da amostra para o fator Auto-eficácia, Abaixo da Média, não acompanhou
o resultado do fator Otimismo na Média. Uma hipótese para explicar este fato está na
consideração das especificidades da amostra, no que diz respeito à possibilidade de execução
de tarefas, devido à mobilidade reduzida, o que pode ter influenciado negativamente a
confiança na capacidade de obterem sucesso.
6.3.6 Análise dos Resultados da Amostra para o Fator Alcançar Pessoas
O resultado Abaixo da Média no fator Alcançar Pessoas, com maior concentração na
amostra, pareceu coerente com o resultado obtido no fator Auto-eficácia, uma vez que a
dificuldade de confiar nas próprias habilidades para solucionar problemas não ajuda o
desenvolvimento da habilidade de se expor e enfrentar desafios.
Este resultado pode indicar uma tendência do grupo de evitar o enfrentamento de desafios,
devido ao receio de obterem um resultado ruim, sugerindo uma dificuldade em tolerar os
próprios erros. (ARAÚJO, 2007)
O fator Alcançar Pessoas está relacionado com a capacidade de se expor e lidar com
os resultados da própria ação, além da habilidade de conectar-se com outras pessoas,
formando fortes redes de apoio, que favoreçam a solução de problemas (BARBOSA, 2006).
Com relação à capacidade de conectarem-se com outras pessoas, embora a amostra
tenha mostrado boa sociabilidade, deparamo-nos, novamente, com a possibilidade de a
dificuldade no fator Administração das Emoções influenciar negativamente a habilidade de
formação de vinculação afetiva. Tal dificuldade poderia desfavorecer a construção de uma
forte rede de apoio, onde deveria haver envolvimento e comprometimento de uns com os
outros.
Esses resultados nos levam a refletir sobre a importância das estratégias da psicologia
no processo de reabilitação, uma vez que a questão da elaboração das emoções parece
determinante no enfrentamento de situações de vulnerabilidade que as pessoas com lesão
medular podem ter que lidar.
6.3.7 Análise dos Resultados da Amostra para o Fator Empatia
Os resultados da amostra para o fator Empatia, estavam divididos entre respostas na
Média e Abaixo da Média.
135
O desenvolvimento adequado do fator Empatia esrelacionado com a capacidade da
pessoa em se colocar no lugar do outro, inclusive de perceber como o outro a percebe
(ARAÚJO, 2007). Além disso, revela a habilidade para decodificar a comunicação não verbal
e organizar atitudes a partir dessa leitura (BARBOSA, 2006).
Sauaia (2003) citou a competência social e a empatia como algumas das habilidades
que fazem parte da categoria “percepção do outro”, que é uma das habilidades de resiliência
de uma pessoa. Além dessas, a categoria engloba, segundo aquela autora, a capacidade de
comunicação, a habilidade de adaptação ao meio e a habilidade para solucionar problemas.
foi citada, anteriormente, a tendência da amostra deste estudo em manter atividade
social. Segundo o estudo de Pesce et al (2004), a busca pelo suporte social pode contribuir
para o enfrentamento de adversidades, uma vez que a correlação entre competência social e
empatia, identificados como fatores de proteção, mostraram-se eficientes para a amenizar os
fatores de risco, na amostra estudada por eles.
Entretanto, como discutimos nos resultados para o fator Administração das Emoções,
buscar apoio social pode não estar relacionado com a habilidade em reconhecer e expressar as
próprias emoções de forma adequada, ou de identificar e utilizar a emoção dos outros para
reorientar o próprio comportamento.
No próximo tópico veremos que no fator Empatia é onde os dois grupos apresentaram
maiores diferenças nos resultados, sugerindo que estar em atividade pode ter favorecido o
desenvolvimento destas habilidades.
6.4 COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS DOS FATORES DE RESILIÊNCIA, NOS
GRUPOS DOS QUE TRABALHAVAM E DOS QUE NÃO TRABALHAVAM
Realizamos a média dos postos obtidos pelos grupos em cada fator de resiliência e
aplicamos o teste estatístico Mann-Whitney, que indicou que não diferenças significantes
entre os grupos dos participantes que estavam trabalhando e os que não estavam. (tabela 56)
Portanto, pudemos apenas observar tendências, que serão apresentadas e discutidas a seguir:
136
6.4.1 Para o Fator Otimismo
Embora os testes estatísticos não tenham indicado diferenças significantes, os
resultados apontaram para uma tendência entre os que não trabalhavam a terem maiores
dificuldades no fator Otimismo. (gráfico 59)
A tendência encontrada no grupo dos que não trabalhavam, com uma maior
concentração de participantes cujos resultados estão Abaixo e Acima da Média, sugere que
um novo estudo avalie a relação destas pessoas com o trabalho.
Valeria explorar, também, se as características do mercado de trabalho atual
favorecem a absorção de profissionais que não confiem na própria habilidade de enfrentar
adversidades.
6.4.2 Para o Fator Analise do Ambiente
Como vimos anteriormente, os resultados sugeriram que a amostra apresentava uma
tendência a analisar o ambiente de forma adequada, e não encontramos diferenças entre os
grupos dos que trabalhavam e dos que não. (gráfico 60)
Portanto, identificar adequadamente as causas dos problemas e adversidades não
pareceu influenciar a decisão de retorno ao trabalho.
6.4.3 Para os Fatores Controle dos Impulsos e Administração das Emoções
Tanto para o fator Controle dos Impulsos, quanto para o fator Administração das
Emoções, não encontramos diferenças entre os grupos dos que trabalhavam e dos que não,
sugerindo que a tendência de repressão exagerada aos impulsos e de maior susceptibilidade
diante das emoções, não eram influenciadas pelo fato de trabalhar. (gráfico 58)
Embora Reivich-Shatté (2002) tenham escrito que quando as habilidades do fator
Administração das Emoções encontram-se mal desenvolvidas maiores possibilidades das
pessoas tornarem-se difíceis no ambiente profissional, não encontramos diferenças
significantes entre os grupos dos que trabalhavam e dos que não. Mas, vale levantar a
importância de um novo estudo, que investigue a qualidade das relações interpessoais das
pessoas com deficiência, no trabalho.
137
6.4.4 Para o Fator Auto-eficácia
Embora pudéssemos supor que o fator Auto-eficácia deveria estar melhor
desenvolvido nos participantes que estavam trabalhando, devido à maior exposição a
situações, aumentando a chance de vivenciarem experiências bem sucedidas, o resultado nesta
amostra não confirmou esta hipótese. o encontramos diferenças nos resultados dos
participantes dos grupos que trabalhavam e que não trabalhavam, indicando que a dificuldade
em confiar nas próprias habilidades de obter êxito permanecem, independentemente da
decisão ou da experiência de trabalhar. (gráfico 62)
6.4.5 Para o Fator Alcançar Pessoas
No fator Alcançar Pessoas, embora os testes estatísticos o tenham indicado
diferenças significantes, os resultados apontaram para uma maior concentração de respostas
Abaixo da Média entre os participantes que não trabalhavam, suscitando a importância de
num futuro estudo explorar a relação entre estes dois eventos. (gráfico 63)
O que observamos é que embora toda amostra tenha apresentado dificuldade na
capacidade de se expor e em formar fortes redes de apoio social, esta apareceu com mais
freqüência entre os que não estavam trabalhando.
6.4.6 Para o Fator Empatia
Os resultados encontrados para o fator Empatia indicaram que a amostra estava
dividida entre aqueles em que estes aspectos estavam adequadamente desenvolvidos e aqueles
em que poderiam se desenvolver melhor. Vale ressaltar que no grupo dos que não
trabalhavam, encontramos uma maior concentração de participantes com respostas Abaixo da
Média do que no grupo dos que trabalhavam e, inversamente, no grupo dos que trabalhavam,
tivemos uma maior concentração de participantes com respostas dentro da Média (gráfico 61).
Esses resultados sugerem que trabalhar pode influenciar o desenvolvimento da
habilidade de reconhecer e expressar as próprias emoções de forma adequada, ou de
identificar e utilizar a emoção dos outros para reorientar o próprio comportamento.
138
6.5 COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS DOS FATORES DE RESILIÊNCIA ENTRE OS
QUE VOLTARAM E OS QUE NÃO VOLTARAM A ESTUDAR
Quando comparamos os resultados obtidos no Questionário de Resiliência, o teste
estatístico Mann-Whitney registrou diferença significante para os fatores Empatia, Auto-
Eficácia e Alcançar Pessoas, entre os que voltaram a estudar e os que não voltaram (tabela
64). Este dado nos permite supor que a atitude de voltar a estudar, representando uma
retomada do percurso de vida após a lesão medular, pode estar relacionada com o
desenvolvimento das habilidades de estabelecer vínculos de afeto, formando redes sociais de
apoio, além da percepção adequada das próprias capacidades e da confiança em conseguir
êxito nas ações.
6.6 COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS DOS FATORES DE RESILIÊNCIA ENTRE OS
QUE FAZIAM E OS QUE NÃO FAZIAM ATIVIDADES DE MANUTENÇÃO
Na análise dos resultados para os fatores de Resiliência, o teste estatístico apontou
diferença significante nos fatores Análise do Ambiente e Alcançar Pessoas, indicando que
os que não faziam atividades de manutenção tinham maiores dificuldades. (tabela 65)
Este resultado sugere que os participantes da amostra que não se dedicavam a
autocuidados e a atividades de manutenção e prevenção de deformidades, possivelmente
tendiam a o aceitar as suas dificuldades, a sentirem-se incapacitados, a evitar situações de
exposição e a responsabilizar os outros pelas dificuldades encontradas.
Tais dificuldades podem denotar carência de recursos para o enfrentamento da
aquisição da deficiência, diminuindo as possibilidades de adaptação positiva.
139
CAPÍTULO 7 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
As pessoas que adquirem uma deficiência física na idade adulta são pessoas que
vinham cursando seu processo de desenvolvimento, assumindo papéis sociais, estabelecendo
relações interpessoais e profissionais, e passam a ter que lidar com alterações motoras que
influenciam todos esses aspectos das suas vidas.
O estudo da aquisição de uma deficiência física, sob o enfoque psicossomático,
pressupõe a compreensão de que este é um evento vivenciado pela pessoa no plano
físico/corporal e, também, nos planos psíquico e social.
As alterações produzidas pela lesão medular, e mais especificamente pela paraplegia,
podem interferir nas atividades de vida diária e no curso do desenvolvimento pessoal de quem
a adquire. A maneira como as pessoas lidam com essas alterações e interferências depende de
aspectos objetivos e subjetivos que esta pesquisa pretendeu estudar.
O retorno ao mercado de trabalho foi um dentre os diversos desafios enfrentados por
esses adultos que mereceu atenção neste trabalho.
Além da relevância do tema sob o enfoque da pessoa com deficiência, o atual e
crescente movimento pela inclusão social também ressalta a importância de pesquisas sobre o
assunto.
Este trabalho consistiu em uma pesquisa sobre as características sócio-demográficas,
os fatores de resiliência e dos aspectos psicológicos de pessoas com lesão medular. Além
disso, pretendeu comparar esses elementos entre os grupos de pessoas da amostra que
estavam inseridas e as que não estavam no mercado de trabalho. Visou assim, levantar
elementos que possam ter influenciado os participantes, que estavam em condições funcionais
de exercer atividade laboral, a entrar ou não no mercado de trabalho.
Para alcançarmos estes objetivos selecionamos uma amostra composta de 30 pessoas
com lesão medular que estavam trabalhando e 30 que não estavam. Aplicamos o Questionário
de Dados Sócio-demográficos e o “Questionário de Resiliência Adultos Reivch-Shatté/
Barbosa” e a partir da discussão dos resultados, pudemos identificar as características e
aspectos da amostra que nos propusemos a investigar, bem como compará-los entre os grupos
dos que estavam trabalhando e dos que não estavam.
Os resultados deste estudo forneceram informações que podem ser importantes para a
compreensão dos processos psicológicos, sociais e sobre as condições em que acontece a
inclusão de pessoas com deficiências no mercado de trabalho.
140
A partir dos resultados do Questionário de Dados Sócio-demográficos, atendemos o
primeiro objetivo deste trabalho de caracterizar a amostra estudada. E encontramos que a
predominância de participantes do sexo masculino na amostra, em idade de intensa atividade
laborativa, com relevante participação na composição da renda familiar, confirmaram a
importância do estudo sobre a empregabilidade e da inclusão profissional de pessoas com
lesão medular. Estes dados foram condizentes com os apresentados na literatura.
Os resultados da amostra para o nível de escolaridade foram diferentes dos
apresentados na literatura. A maior parte da amostra tinha escolaridade alta, tendo a maioria
concluído o Ensino dio e um grupo menor estava cursando ou havia concluído o Nível
Superior. Entretanto, os dados apontaram para um tendência de que o nível escolar
influenciou o retorno ao mercado de trabalho.
Chamou a atenção o fato de que uma minoria da amostra dedicou-se a cursos de
capacitação após a aquisição da lesão medular, sugerindo a importância de programas que
promovam a formação escolar e a qualificação profissional dessas pessoas.
A forma da aquisição da lesão medular não foi identificada como um fator que
influenciou a inserção no mercado de trabalho. Foi apontada apenas uma discreta tendência
em que os que tiveram a lesão por ferimento por arma de fogo estavam em maior
concentração entre os que não trabalhavam.
O que nos pareceu relevante e condizente com os dados apresentados nos estudos
epidemiológicos da literatura nacional diz respeito ao alto índice de ferimento por arma de
fogo como causa da lesão medular. Este dado nos remete aos problemas sociais do nosso país,
sugerindo a importância e a urgência de estudos que investiguem os fatores envolvidos no
cenário atual, tão marcado pela violência.
Outros estudos poderiam investigar a relação dos eventos de violência, causadores de
deficiências, com o impacto emocional e o aumento das dificuldades para a retomada do
desenvolvimento pessoal.
Os resultados indicaram que, mesmo entre os que estavam trabalhando, a maioria
recebia algum tipo de benefício previdenciário. Outro dado complementar, diz respeito ao fato
da maioria dos que estavam trabalhando exercerem atividades autônomas, sem contrato CLT,
sugerindo a importância de futuros estudos sobre os fatores relacionados a esta situação.
Valeria investigar a hipótese de que as pessoas com deficiência tendem a trabalhar com outros
contratos, que não o CLT, em função da dificuldade de se inserir no mercado formal de
trabalho.
141
Quanto ao objetivo de levantar os aspectos psicológicos da amostra, encontramos
alguns dados que pareceram importantes.
O fato de terem que lidar com a dificuldade de manterem os papéis sociais, seja
temporária ou permanentemente, parece representar um fator de risco, que interfere no
desenvolvimento pessoal. Um exemplo disso foi encontrado nesta pesquisa, quando os
resultados apontaram que, entre os participantes que estavam trabalhando, a maioria tinha
uma atividade diferente da exercida antes da lesão medular. Este dado nos remete à questão
da identidade profissional que, na maioria dos casos, precisou ser reconstituída ou adaptada,
ilustrando a vivência de uma ruptura da persona. Essa ruptura pode ser experienciada como
uma ameaça à integridade da personalidade, ou como uma oportunidade de desenvolvimento
de novos potenciais.
Foi foco deste trabalho a questão do retorno das pessoas com lesão medular ao
trabalho, tanto na perspectiva social e de como está o processo da inclusão, como na
perspectiva do desenvolvimento pessoal. Nesta última, tomamos o retorno ao trabalho como
uma forma de retomada do caminho do desenvolvimento pessoal, uma vez que, na nossa
sociedade, espera-se que pessoas com as características desta amostra estejam exercendo
atividades de trabalho remunerado. Adquirir uma deficiência e assumir atividades laborativas
exige um processo resiliente por envolver a necessidade do enfrentamento a possíveis
situações adversas e a capacidade de adaptação positiva, incluindo a vivência de
transformações e crescimento pessoal.
Os resultados apontaram que, além do retorno ao trabalho, voltar a estudar, também,
pode representar uma retomada do processo de desenvolvimento pessoal. Esta hipótese é
sustentada pela indicação de diferenças significantes obtidas na comparação entre os que
voltaram a estudar e os que não, para os fatores Empatia, Auto-eficácia e Alcançar Pessoas.
Estes resultados sugerem que os participantes que voltaram a estudar tenham bem
desenvolvidas as habilidades de estabelecer vínculos de afeto, formar fortes redes sociais de
apoio, perceber adequadamente as próprias capacidades e confiar na capacidade de conseguir
êxito nas ações, sendo estas, características importantes para o processo de resiliência.
Nos resultados da amostra estudada, dentre as dificuldades para trabalhar apontadas
por quem não estava trabalhando, encontramos fatores que estavam relacionados com a
dificuldade de construção de uma identidade profissional que fosse condizente com as
limitações motoras e com a acessibilidade no transporte.
142
Vimos, por meio dos dados obtidos, que as limitações físicas e as barreiras
arquitetônicas e atitudinais constituem-se como fatores de risco, comprometendo as
possibilidades de ação e participação dessas pessoas.
Um dos dados levantados nesta pesquisa que permitiu a compreensão dos processos
psicológicos vivenciados pelos participantes da amostra, diz respeito à busca pelo suporte
social, que se apresenta como um fator de proteção utilizado pela expressiva maioria deles.
Entre os participantes que estavam trabalhando, a sociabilidade e a freqüência com que se
dedicavam às atividades de lazer estavam discretamente mais presente do que entre os que
não estavam trabalhando, sugerindo que trabalhar pode ser um fator de melhora da qualidade
de vida e ter um efeito positivo no enfrentamento de situações adversas.
Os resultados da amostra para os fatores de resiliência, também, nos permitiram
compreender os processos psicológicos das pessoas com lesão medular diante da aquisição
desta deficiência física, atendendo aos objetivos a que nos propusemos. Quanto ao objetivo de
compararmos os fatores de resiliência entre os grupos dos que trabalhavam e o
trabalhavam, não foram encontradas diferenças significantes. Contudo, pudemos identificar
discretas diferenças que serão apresentadas a seguir.
Os dados encontrados, para os fatores Otimismo e Análise do Ambiente, apontaram
que os participantes da amostra tinham uma percepção realista e contextualizada diante de
situações adversas e mantinham uma postura otimista e esperançosa, sugerindo que se
utilizavam de recursos como a racionalização para a enfrentarem situações difíceis.
O uso de mecanismos de defesa como a racionalização podem ser úteis para a
manutenção da integridade psíquica em momentos de maior vulnerabilidade, entretanto, seu
uso exagerado pode dificultar a possibilidade de lidarem com as próprias limitações e
aprenderem com elas.
Da comparação dos resultados entre os grupos dos que estavam trabalhando e dos que
não estavam, poderíamos sugerir o desenvolvimento de estudos que avaliem se a tendência de
antecipar eventos negativos ou se a visão fantasiosa do futuro podem interferir na decisão
sobre retornar ao trabalho. Valeria à pena explorar, também, se as características do mercado
de trabalho atual favorecem a absorção de profissionais que não confiem na própria
habilidade de enfrentar adversidades.
Os resultados da amostra, para os fatores Controle dos Impulsos e Administração
das Emoções, foram condizentes com a hipótese de que os participantes fazem um uso
excessivo de mecanismos de defesa, com repressão exagerada sobre os impulsos. Tornam-se
assim, mais susceptíveis e vulneráveis frente a emoções e afetos, sem conseguir se utilizar
143
adequadamente da habilidade egóica de mediar a elaboração de impulsos e a sua satisfação,
de forma alternativa.
Como característica da amostra, notamos que a habilidade em buscar apoio social
pareceu não estar, necessariamente, relacionada com a habilidade de reconhecerem as
próprias emoções e de expressá-las de maneira adequada.
Os resultados encontrados para o fator Alcançar Pessoas indicaram, como
característica da amostra, a dificuldade de exporem-se e em formarem redes de apoio social
baseadas em relações de forte vinculação afetiva.
Encontramos, neste estudo, diferenças significantes para os fatores Análise do
Ambiente e Alcançar Pessoas, quando comparamos os participantes que faziam e que não
faziam atividades de manutenção. Este resultado sugere que aqueles que se dedicavam aos
autocuidados, possivelmente, tendiam a ter um bom nível de aceitação das suas dificuldades,
a reconhecer suas habilidades e potenciais, a conseguir se expor e a responsabilizarem-se
tanto pelos êxitos obtidos, quanto pelas falhas, sem responsabilizar os outros pelas
dificuldades encontradas.
Tais características parecem apontar para o fato de que aqueles que possuíam recursos
para o enfrentamento de adversidades e para a adaptação positiva, conseguiram manter uma
boa auto-estima diante da aquisição da deficiência física.
Para o Fator Auto-eficácia, os resultados apontaram que a amostra era caracterizada
por o confiar nas próprias capacidades de obtenção de sucesso na realização de tarefas.
Uma hipótese que merece maiores estudos está relacionada com as especificidades
relacionadas à mobilidade reduzida, o que pode influenciar negativamente a confiança na
capacidade de realização de atividades.
Futuros estudos poderiam contribuir para uma melhor compreensão do processo de
desenvolvimento da Auto-eficácia em pessoas com lesão medular. No presente estudo,
podemos apenas ressaltar a importância das equipes de reabilitação atentarem para esta
questão e oferecerem a estas pessoas orientações práticas, treinos e reflexões sobre a
importância de adotarem uma postura flexível diante de suas expectativas. Estas devem ser
revistas, de forma que se adeqüem à sua nova situação, sem que isso seja compreendido como
um fracasso, mas como uma oportunidade de transformação.
É importante alertarmos, também, para a importância das políticas públicas atentarem
para a questão da acessibilidade, o que certamente influencia nas possibilidades de execução
de atividades por pessoas com mobilidade reduzida.
144
A habilidade de identificar a emoção dos outros e de reconhecer e expressar as
próprias emoções foi mensurada na amostra pelo fator Empatia. Os resultados apontaram
que, no grupo dos que não trabalhavam, havia uma maior concentração de participantes com
dificuldades nestas habilidades do que no grupo dos que trabalhavam, sugerindo que trabalhar
pode influenciar o desenvolvimento da empatia.
Estes resultados sugerem a importância de que outros estudos investiguem se as
pessoas com o fator Empatia melhor desenvolvido estão mais disponíveis para a procura de
uma colocação no mercado de trabalho, ou se o fato de terem entrado no mercado favoreceu o
desenvolvimento dessas habilidades.
Para as equipes de reabilitação e outros grupos envolvidos com as pessoas com
deficiências e sua inclusão, os dados da pesquisa indicam a importância da oferta de
estratégias que desenvolvam os recursos pessoais, incluindo os aspectos psicológicos das
pessoas com lesão medular. Também ficaram evidentes as necessidades de atenção no
âmbitos da acessibilidade e do desenvolvimento de uma cultura que diminua as barreiras
atitudinais.
Com relação aos aspectos psicológicos, evidenciou-se a importância do trabalho de
percepção e elaboração das emoções vivenciadas diante da aquisição da deficiência, para que
haja um melhor enfrentamento das adversidades e se constitua num processo resiliente. O
desenvolvimento dessas habilidades poderão favorecer que a pessoa com lesão medular
retome o seu processo de desenvolvimento pessoal, fazendo as transformações necessárias,
aprendendo a lidar com suas limitações e reconhecendo seus potenciais.
Entre os aspectos apontados pelos resultados como influenciadores para o retorno das
pessoas da amostra ao mercado de trabalho estavam: a independência para locomoção em
meios de transporte e o tempo de lesão medular maior que dois anos.
Estes dados indicam a importância do investimento em acessibilidade dos transportes
públicos, o que permitiria maior independência para esta amostra.
Considerando-se que a maior parte da amostra teve a lesão medular mais de dois
anos e que o tempo de lesão influenciou o retorno ao trabalho, podemos identificar a
importância do sistema de saúde prestar atendimento a este público com maior brevidade,
visando o mais rápido retorno aos papéis sociais e à capacidade de produtividade anteriores.
Os resultados da pesquisa reforçam a indicação de outros autores para a necessidade
de ações de prevenção a acidentes e programas sociais para controle da violência, visando
diminuir o índice de aquisição de deficiências por lesão medular.
145
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SAUAIA, N. Psicoterapia de orientação junguiana com foco corporal para grupos de
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150
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TIMBÓ, N. V.; GONÇALVES, J. M. S. Normas para elaboração e apresentação de
trabalhos acadêmicos: baseado em normas vigentes da ABNT NBR 6023, 6027, 6028,
10520, 14724. São Bernardo do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, s.d.
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Paraplejicos, Servicio de Salud de Castilla la Mancha (SESCAM). Toledo, 2005. p. 21-23
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WAHBA, L. Plasticidade Neuronal e Recursos Criativos da Reabilitação. Anais do IV
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WITHMONT, Edward C. “A Sombra”. In: _____________ A Busca do Símbolo - Conceitos
Básicos de Psicologia Analítica, São Paulo, Cultrix, 1969. pp. 144-152.
151
ANEXOS
152
ANEXO A - Questionário dos Dados Sócio-demográficos.
153
QUESTIONÁRIO DE DADOS SÓCIODEMOGRÁFICOS
Data: _____/_____/_____ Local: Pesquisador:
I - DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Nome:
Sexo:
1 -( ) Masculino 2 -( ) Feminino
Data Nascimento: Idade:
Local de Nascimento: UF: Local de Residência:
Escolaridade:
[indique se concluiu (C)
1 -( ) Superior (C) (NC)
Qual? _________________
2 -( ) Ensino Médio
(C) (NC)
ou não concluiu (NC)]
3 -( ) Ensino
Fundamental (C) (NC)
4 -( ) Alfabetizado
informalmente
Você voltou a estudar depois da lesão?
1 -( ) Escola regular Nível: _______________________________
2 -( ) Curso Superior Qual? _______________________________
3 -( ) Cursos de capacitação para o trabalho Quais? _________________________
II - CONSTITUIÇÃO FAMILIAR
Estado Civil:
1 -( ) Solteiro 2 -( ) Casado 3 -( )Separado
4 -( )Divorciado 5 -( ) Viúvo 6 -( )Comunhão
Estável
Se solteiro, você namora?
1 -( ) Sim 2 -( ) Não
Filhos:
1 -( ) Sim 2 -( ) Não
Quantos Filhos?
_________
Vive com:
1 -( ) Pais 2 -( ) Cônjuge 3 -( )Cônjuge e
Filhos
4 -( )Outros
Familiares
5 -( ) Amigos 6 -( ) Sozinho
Recebe Benefício
Previdenciário?
1 -( ) Sim
Valor:
2 -( ) Não
Tipo de benefício:
1 -( ) LOAS 2 -( ) Auxílio
Doença
3 -( ) Aposentadoria
por invalidez
4 -( ) Aposentadoria por
tempo de serviço
5 -( ) Aposentadoria
por idade
154
Fonte de Renda da Família:
(indique todas as fontes)
1 -( ) Seu salário 2 -( ) Seu Benefício
Previdenciário
3 -( ) Salário do
Cônjuge
4 -( ) Salário
de familiares
5 -( )Ajuda
de outros
III - INFORMAÇÕES SOBRE O DIAGNÓSTICO
Lesão Medular adquirida por:
1 -( ) doença 2 -( ) queda 3 -( ) acidente
com veículo
4 -( ) ferimento por arma
de fogo
5 -( ) ferimento por arma
branca
6 -( )outros:
______________________
Nível da Lesão:
1 -( ) Cervical 2 -( ) Toráxica 3 -( ) Lombar
4 -( ) Sacral Vértebra:________
Tempo de Lesão:
1 -( ) Seis meses 2 -( ) Um ano
3 -( ) Dois anos 4 -( ) Mais de dois anos
Fez algum programa de reabilitação?
1 -( ) Sim Até quando? 2 -( ) Não
Faz atividades para manutenção ?
1 -( ) Sim Quais? ________ 2 -( ) Não
IV - INDEPENDÊNCIA PARA ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA
Você se alimenta com:
1 -( )Independência total
2 -( )Semi-independência (Com ajuda de adaptação, de outra pessoa, com tempo maior)
3 -( )Dependência de outras pessoas
Você se veste com:
1 -( )Independência total
2 -( )Semi-independência (Com ajuda de adaptação, de outra pessoa, com tempo maior)
3 -( )Dependência de outras pessoas
Você toma banho com:
1 -( )Independência total
2 -( )Semi-independência (Com ajuda de adaptação, de outra pessoa, com tempo maior)
3 -( )Dependência de outras pessoas
Você faz a higiene pessoal (escovar dentes, fazer a barba, higiene íntima) com:
1 -( )Independência total
2 -( )Semi-independência (Com ajuda de adaptação, de outra pessoa, com tempo maior)
3 -( )Dependência de outras pessoas
Usa cadeira de rodas para locomoção comunitária (externa à residência) ?
155
1 -( ) Sim 2 -( ) Não
Você se locomove com a cadeira de rodas com:
1 -( )Independência total
2 -( )Semi-independência (Com ajuda de adaptação, de outra pessoa, com tempo maior)
3 -( )Dependência de outras pessoas
Utiliza outros auxiliares para locomoção na residência?
1 -( ) Andador 2 -( ) Muletas 3 -( ) Bengala 4 -( )Órteses 5-( ) Apoio
de outra pessoa
Meio de transporte:
1 -( ) Dirige o próprio carro
2 -( ) Utiliza transporte coletivo com independência
3 -( ) Depende de acompanhante
V - ATIVIDADE SOCIAL
Com relação ao contato com amigos:
1 -( ) Os encontra com
Freqüência
2 -( )Os encontra pouco 3 -( ) Nunca encontra
Você sai para passear, ou se divertir?
1 -( ) Sim 2 -( )Não
Descreva o que gosta de fazer:
VI - ATIVIDADE DE TRABALHO
1 -( ) Profissão: 2 -( ) Estudante
Situação atual de trabalho:
1 -( ) Em exercício da profissão
2 -( ) Em exercício de outra atividade Qual? _________________________________
3 -( ) Afastado devido à situação de saúde
4 -( ) Desempregado
É remunerado pelo seu trabalho?
1 -( ) Sim 2 -( ) Não
Como é o seu contrato?
1 -( ) CLT 2 -( ) Autônomo 3 -( ) Outro ________
(Ex. trabalho informal)
Se você trabalha, você encontra dificuldades?
1 -( ) Sim 2 -( ) Não
Se sim, quais?
Se você não trabalha, gostaria de trabalhar?
1 -( ) Sim 2 -( ) Não
Em qual atividade ? _______________________________________________________
Quais são as suas dificuldades para trabalhar? ________________________________
156
ANEXO B - Questionário de Resiliência: Adultos Reivich – Shatté / Barbosa.
157
158
159
160
161
162
163
ANEXO C - Autorização dos centros de reabilitação para compor a amostra da pesquisa.
164
165
166
ANEXO D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
167
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM PSICOLOGIA CLÍNICA
NÚCLEO: PSICOSSOMÁTICA E PSICOLOGIA HOSPITALAR
COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA – CEP
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
(Resolução do Conselho Nacional de Saúde 196/96, de 10 de outubro de 1996)
I – DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO PARTICIPANTE DA PESQUISA
Nome do Participante: ____________________________________________________________
Documento de Identidade nº: _______________________________
Data de Nascimento: ______/______/______
Endereço: _________________________________________________________ nº: ___________
Complemento: _____________________ Bairro: ________________________________________
Cidade: ___________________________CEP: __________________________________________
Telefones: _______________________________________________________________________
II- DADOS SOBRE A PESQUISA CIENTÍFICA
Título do protocolo de pesquisa: “FATORES DE RESILIÊNCIA EM PESSOAS COM LESÃO
MEDULAR, QUE ESTÃO INSERIDAS NO MERCADO DE TRABALHO. UMA ABORDAGEM
PSICOSSOMÁTICA.”
Pesquisadora: Cristina Martins Torres Masiero
Profissão: Psicóloga
Inscrição no Conselho Regional nº: 06/48403-6
Avaliação de Risco da Pesquisa:
( X) SEM RISCO ( ) RISCO BAIXO ( ) RISCO MÉDIO
III- REGISTRO DAS EXPLICAÇÕES DA PESQUISADORA AO PARTICIPANTE SOBRE A
PESQUISA
Você está sendo convidado a participar de uma pesquisa que tem como tulo: “Fatores de Resiliência
em Pessoas com Lesão Medular, que Estão Inseridas no Mercado De Trabalho. Uma Abordagem
Psicossomática.”
Essa pesquisa está sendo realizada para avaliar os fatores de resiliência em pessoas com deficiência
física e possibilitar formas de promoção da mesma.
Para coleta de dados serão utilizados 02 (dois) instrumentos:
- Questionário com informações sócio-demográficas;
- Questionário de Resiliência;
168
Através do estudo de suas respostas, junto com as de outros participantes, poderemos compreender os
fatores de resiliencia e procurar auxiliá-lo, ministrando palestras que permitam o entendimento da
resiliência e que o auxiliem a desenvolver estes fatores. Os resultados da pesquisa serão utilizados para
a defesa de tese de Mestrado da pesquisadora e para futura publicação de um artigo sobre o tema
pesquisado. Seu nome jamais será divulgado.
IV ESCLARECIMENTOS DADAS PELA PESQUISADORA SOBRE GARANTIAS DO
PARTICIPANTE DA PESQUISA:
1. Acesso, a qualquer tempo, às informações sobre procedimentos, riscos e benefícios relacionados à
pesquisa, inclusive para diminuir eventuais dúvidas.
2. Liberdade para retirar seu consentimento a qualquer momento e de deixar de participar do estudo.
3. Salvaguarda da confidencialidade, sigilo e privacidade.
V INFORMAÇÕES DE NOME, ENDEREÇO E TELEFONE DA RESPONSÁVEL PELO
ACOMPANHAMENTO DA PESQUISA, PARA CONTATO CASO NECESSITE
Pesquisadora: Cristina Martins Torres Masiero
Endereço: Rua dos Açores, 310 Bairro: Jardim Luzitânia
Telefone: 5904-8049
VI – OBSERVAÇÕES COMPLEMENTARES
Os resultados desta pesquisa estarão disponíveis aos participantes, a qualquer momento, bastando para
tanto, contatar a pesquisadora e agendar data e horário.
VII – CONSENTIMENTO
Declaro que, após convenientemente esclarecido pela pesquisadora e ter entendido o que me foi
explicado, consinto em participar da presente pesquisa.
São Paulo, _________ de _____________________ de 2007.
_____________________________________ ________________________________
Assinatura do participante da pesquisa Assinatura da pesquisadora
169
ANEXO E - Parecer positivo, pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo.
170
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
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