se construindo e para discordar ou não de algum fato é necessário abrir essas
caixas pretas.
Acreditar num fato sem duvidar tem a mesma conseqüência: fortalece a
situação do que está sendo comprado ou acreditado, robustece-o como
caixa-preta. Desacreditar ou, digamos, “descomprar” um fato é enfraquecer
sua situação, interromper sua disseminação, transformá-lo em beco sem
saída, reabrir a caixa-preta, seccioná-la e recolocar seus componentes em
outro lugar (LATOUR, 2000, p. 52).
Assim, para desenvolver essa pesquisa algumas caixas-pretas foram abertas.
A metodologia que utilizei na pesquisa seguiu a abordagem qualitativa, por
corresponder da melhor forma aos objetos tomados nesse trabalho.
A pesquisa atendeu a alguns pontos da abordagem qualitativa, seguindo os
parâmetros dados por Bogdan e Biklen, no início da década de 80, conforme
exposto por Garnica (2006, p. 88)
(a) a transitoriedade de seus resultados; (b) a impossibilidade de uma
hipótese a priori, cujo objetivo da pesquisa será comprovar ou refutar; (c) a
não neutralidade do pesquisador que, no processo interpretativo, se vale de
suas perspectivas e filtros vivenciais prévios dos quais não consegue se
desvencilhar; (d) que a constituição de suas compreensões dá-se não como
resultado, mas numa trajetória em que essas mesmas compreensões e
também os meios de obtê-las podem ser (re)configurados; (e) a
impossibilidade de estabelecer regulamentações, em procedimentos
sistemáticos, prévios, estatísticos e generalistas.
Nos diferentes cenários utilizados para o desenvolvimento da pesquisa, sito
no locus do marcheteiro ou no ambiente escolar, procurei fazer uma descrição e
reconstrução cultural, focalizando o indivíduo em seus diversos aspectos, pois para
D’Ambrosio (2005, p. 102-103):
A pesquisa qualitativa é muitas vezes chamada etnográfica, ou participante,
ou inquisitiva, ou naturalística. Em todas essas nomenclaturas, o essencial
é o mesmo; a pesquisa é focalizada no indivíduo, com toda a sua
complexidade, e na sua inserção e interação com o ambiente sociocultural e
natural. O referencial teórico, que resulta de uma filosofia do pesquisador, é
intrínseco ao processo.
Para o desenvolvimento da pesquisa acompanhei o trabalho do marcheteiro,
Sr. Chistou, em meio a confecção de suas peças a fim de compreender sua cultura
1
,
seu saber-fazer, bem como considerei a cultura na visão de Geertz (1989), que
___________
1
O significado de cultura no dicionário Aurélio é “ato, efeito ou modo de cultivar. O complexo dos
padrões de comportamento, das crenças, das instituições e doutros valores transmitidos
coletivamente, e típicos de um sociedade; civilização.” Acreditamos que cultura é uma construção
coletiva e social e acrescentamos o sentido de cultura conforme Clifford Geertz.
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