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Os auditórios não são independentes; que são auditórios concretos
particulares que podem impor uma concepção do auditório universal que
lhes é própria; mas, em contra partida , é o auditório universal não definido
que é invocado para julgar da concepção do auditório universal própria de
determinado auditório concreto, para examinar, a um só tempo, o modo
como é composto, quais os indivíduos que, conforme o critério adotado, o
integram e qual a legitimidade desse critério. Pode-se dizer que os
auditórios julgam-se uns aos outros.
5.1.5 Instância
Em nossa análise, um dos tópicos considerados será a instância em
que se encontra a situação retórica.
Bitzer (1980, p. 26), a especifica do seguinte modo: “A instância é uma
imperfeição marcada por um certo grau de urgência […] um obstáculo […] algo a ser
corrigido”.
Composição da instância: na instância consideraremos o contexto
histórico em que o discurso acontece. Nesse caso, a condição social, na qual o
orador está inserido, o local onde ele se encontra, sua maneira de abordar o tema,
ou seja sua identidade (Ethos) terão influência sobre o discurso (BITZER, 1980).
Halliday (1988, p. 124) acrescenta:
Essa instância é composta de um elemento factual, objetivo, e de um
componente de “interesse”. Em outras palavras, somente quando um retor
(orador, escritor, anunciante) “se importa” com determinada situação factual,
ou tem interesse em modificá-la, é que ela contém uma “instância” passível
de ser transformada mediante discurso. Isto porque as situações retóricas
são construções simbólicas da realidade – um composto de realidade
objetiva mais a interpretação de quem as vivencia.
Alguns atos retóricos (como os discursos de posse, as eulogias, as
saudações de aniversário ou despedida) tornam-se padronizados pela
repetitividade das situações retóricas onde eles se fazem desejáveis.
Mesmo assim, cada situação carrega instâncias histórico-temporais únicas.
Por exemplo, um discurso de posse de um governador será marcado pela
sua formação individual (se foi seminarista, formado em direito, ou
pecuarista, ou jogador de futebol), por sua filiação partidária e pelo
momento político. Uma desculpa oficial ou nota de esclarecimento de uma
organização (a necessidade de pedir desculpas é uma das situações
retóricas; mais “universais”) será condicionada à gravidade da instância e às
expectativas do público. Um documento institucional firmando posição sobre
tema controvertido tenderá a tomar a forma que a instituição
tradicionalmente usa para comunicar-se, mas variará de acordo com as
exigências da situação, como é o caso dos sermões, homilias e encíclicas
da Igreja Católica, ao longo dos séculos.