costuma denominar Razão Política. As suas formulações sobre o
biopoder e a biopolítica têm sido da maior importância para
compreendermos os processos pelos quais se estabeleceram — e se
mantêm — o Estado moderno, o liberalismo, a lógica capitalista. Tudo
isso adquire hoje ainda mais importância, quando a ênfase na
disciplina está se deslocando para a ênfase no controle e quando o
modelo imperialista de dominação e exploração está dando lugar a
esse novo modelo que Antonio Negri e Michael Hardt denominam
modelo imperial. E, no terceiro eixo, coloco as contribuições de
Foucault no campo da constituição do sujeito moderno através das
práticas de si mesmo, isso é — e para usar a própria expressão do
filósofo —, como um sujeito da ética. Vêm sendo muito numerosas e
interessantes as investigações que têm descrito e mostrado práticas
escolares — seja na educação infantil, seja no ensino universitário —
que operam no sentido de nos constituírem como sujeitos cujas
identidades são cada vez mais descentradas, instáveis, mutantes. Aqui,
lembro Raul Seixas; com suas antenas sensíveis, o artista criou, há
mais de duas décadas, a excelente expressão “metamorfoses
ambulantes” (VEIGA-NETO, 2006, p. 5).
Essa retomada da modernidade, num debate com contemporaneidade, teve
como finalidade as possibilidades de uma priorização de elementos que estão à base da
forma moderna de conceber, como nos embates entre subjetivo/objetivo,
universalização/regionalização, formação/vida, conteúdos/produção, resultados,
método/processo, e outros conceitos, no sentido de uma não-cristalização como
determinante, mas numa acontecência de “metamorfose ambulante”. O que
procuramos apresentar não foi uma nova proposta pedagógica, mas refletir as
possibilidades de repensar e de propor novas formas pedagógicas de conduzir a
educação. Compreendemos que essas possibilidades podem ser concretizadas no
momento em que for situado aquilo que é o elemento organizador das justificações e
fundamentações que regem uma forma de ser, de pensar e de agir, aqui, a educação.
Uma das questões que permanece em aberto, como novas possibilidades de
pensar com Foucault e a partir dele, é o que fazer com a instituição, o que fazer com a
formalização de discursos, como este, também em relação aos desejos, tal como ele
apresenta de forma embativa no texto A Ordem do Discurso? Como é possível que a
instituição e a formalização, podem ser veículos de proposição daquilo que foi
refletido neste texto e que vai contra elas em quase sua totalidade? De que forma é
possível uma institucionalização contemporânea, como formadora de sujeitos,