Nas últimas décadas, o texto escrito tem se tornado a preocupação central de
pesquisadores e estudiosos da língua, que o vêem como objeto de estudo capaz de romper
barreiras e trazer melhoras significativas para o atual ensino de língua. Um dos estudiosos
que defende tal tese é Geraldi, no seu livro Portos de Passagem (2003), ao afirmar que a
presença do texto “pode corroer a identidade do ser professor tal como instituída nos tempos
de hoje” (p. 112), ou seja, a identidade de um professor como “capataz”.
No Brasil, o trabalho com o texto intensificou-se mais com a publicação dos
PCN, tanto de Língua Portuguesa (que vê o texto escrito como “a unidade básica de ensino”
(p. 24)), quanto de língua estrangeira (que, apesar de não apontar diretamente o texto como
unidade de ensino, fica implícito, na defesa que estes fazem à leitura, que, obrigatoriamente,
resulta num trabalho com o texto). Para os PCN-LE, a capacidade de o aprendiz “se engajar e
engajar os outros no discurso de modo a poder agir no mundo social” (p. 15) pode se dar,
sobretudo, por meio do texto,
então, esses documentos afirmam que
Para que isso seja possível, é fundamental que o ensino de língua estrangeira
seja balizado pela função social desse conhecimento na sociedade brasileira.
Tal função está, principalmente, relacionada ao uso que se faz de língua
estrangeira via leitura embora se possa também se considerar outras
habilidades comunicativas em função da especificidade de algumas línguas
estrangeira e das condições existentes no contexto escolar”. (p. 15)
Desta forma, um trabalho centrado, principalmente na leitura, vem colocar o
texto no centro do ensino, indo de encontro a propostas que priorizam o ensino explícito de
gramática e vocabulário e, principalmente, do ensino de texto que se utiliza de diálogos
pouco significativos, “pequenos textos descontextualizados seguidos de exploração de
palavras e das estruturas gramaticais para os alunos” e ainda de trabalhos voltados para a
“tradução, cópia, transformação e repetição” (PCN-LE, 1998, p. 37).
Vale ressaltar que o texto sempre foi objeto de estudo de pesquisadores que,
dependendo da época, tinha uma determinada definição desse objeto, e esta definição foi
evoluindo com o passar do tempo. Hoje em dia, poderíamos apontar várias dessas definições,
porém, para esse nosso trabalho, iremos partir do ponto de vista de texto na perspectiva
sócio-interacionista (BEAUGRANDE, 1997 apud KOCH, 2005), que o toma como:
lugar de constituição e interação de sujeitos sociais, como um evento,
portanto, em que convergem ações lingüísticas, cognitivas e sociais
(Beaugrande, 1997), ações por meio das quais se constroem interativamente
os objetos-de-discurso e as múltiplas propostas de sentido, como funções de
escolhas operadas pelos co-enunciadores entre as inumeráveis possibilidades
de organização textual que cada língua lhe oferece... (p. 9)
A definição acima deixa bem claro que o texto não pode mais ser visto como produto, ou
um objeto puramente lingüístico, no qual os sentidos jorrariam dele, sem a necessidade de
se conhecer o contexto sócio-histórico no qual está inserido.
Muitas das idéias dos autores acima têm por base os estudo de Mikhail Bakhtin, estudioso
russo do início do século passado, mas que veio ter suas idéias difundidas no ocidente,