privativo de uma única área do conhecimento e, portanto, a fecunda interlocução entre
elas constitui importante estratégia de alargamento e flexibilidade dos conhecimentos”.
O paradigma cartesiano
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foi importante para moldar o que hoje entendemos por
civilização, na medida em que permitiu o nascimento das ciências naturais (biologia,
química, medicina, física) e sociais. Todavia, a crise mundial que assola a civilização
não pode ser enfrentada sem que diferentes caminhos possam ser seguidos. As teorias
têm seus limites, e, por isso mesmo, a pluralidade de conhecimentos é indispensável
para enfrentar o mundo e a realidade do presente.
Nesse cenário, em que se buscam opções que reconheçam a nova condição
humana e uma proposta de pensamento capaz de explicar e contemplar simultaneamente
a vida em todas as suas dimensões, a teoria da complexidade
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surge como importante
contribuição epistêmica de articulação entre os conhecimentos das ciências humanas e
da natureza. Essa teoria é concebida como uma via para conjugar conhecimentos,
religando o particular e o universal através de um olhar que concebe simultaneamente
todas as realidades do sujeito, sem facções. Trata-se de uma proposta que pretende a
articulação entre razão e emoção, favorecendo, assim, a todos os fatores que dizem
respeito à vida humana para que sejam percebidos e conjugados de modo simultâneo.
Prevê atitudes que reeduquem e reavaliem, e, simultaneamente, descondicionem
percepções fragmentadas, na busca de uma abordagem complexa e contínua.
Por exemplo, a relação intrínseca que se estabelece entre as partículas
fundamentais da matéria, os insetos, as plantas, e os animais numa floresta é similar à
que ocorre entre os indivíduos de uma sociedade. Esta inter-relação significa que, para
entendermos profundamente um indivíduo, precisamos entender, conhecer e valorizar
seu dia-a-dia, seu contexto de vida, e, ao mesmo tempo, entender sua rede de relações.
Alguns pensadores do final do século XIX e início do século XX já apontavam para a
riqueza dos indivíduos dentro de seus contextos (BASARAB, 2005).
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Paradigma formulado por Descartes no século XIX com a proposta de separar o sujeito pensante (ego
cogitas) e a coisa entendida (res extensa), isto é, filosofia e ciência, e ao colocar como princípio de
verdade as idéias “claras e distintas”, isto é, o próprio pensamento disjuntivo. (MORIN, 2005, p. 11)
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Proposta teórico-metodológica produzida pelo pensador Edgar Morin, através de sua obra – O Método,
organizada em seis volumes: A natureza da natureza I; A vida da vida II; O conhecimento do
conhecimento III; As idéias – habitat, vida, costumes, organização IV; A humanidade da humanidade
– a identidade humana V; e A ética IV) , que “ consiste no esforço de pensar o não pensado, sem
enquadrar a realidade antropossocial. Mantém o propósito de confrontação e complementaridade e,
principalmente, de devolver o homem para o centro das investigações, das intervenções, das criações.”
(RODRIGUES, 2006, p. 19).