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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
FACULDADE
DE
ARQUITETURA
E
URBANISMO
PROGRAMA
DE
PÓS-GRADUAÇÃO
EM
ARQUITETURA
-
PROARQ
VALÉRIA MICHIELIN VIEIRA
CONTRIBUIÇÃO DA ARQUITETURA NA QUALIDADE DOS ESPAÇOS
DESTINADOS AOS LABORATÓRIOS DE CONTENÇÃO BIOLÓGICA
Orientador:
Profª. Mônica Santos Salgado, DSc.
Rio de Janeiro
2008
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ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
FACULDADE
DE
ARQUITETURA
E
URBANISMO
PROGRAMA
DE
PÓS-GRADUAÇÃO
EM
ARQUITETURA
-
PROARQ
CONTRIBUIÇÃO DA ARQUITETURA NA QUALIDADE DOS ESPAÇOS
DESTINADOS AOS LABORATÓRIOS DE CONTENÇÃO BIOLÓGICA
Valéria Michielin Vieira
Orientadora: Profª. Mônica Santos Salgado, DSc
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2008
Tese de doutorado submetida ao corpo
docente do Programa de Pós-
graduação
em Arquitetura, Linha de Pesquisa
Projetos Arquitetônicos de Ambientes
de Atenção à Saúde
, da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio de Jan
eiro
(UFRJ), como parte dos requisitos
necessários à obtenção do grau de
Doutor em Ciências em Arquitetura.
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iii
CONTRIBUIÇÃO DA ARQUITETURA NA QUALIDADE DOS ESPAÇOS
DESTINADOS AOS LABORATÓRIOS DE CONTENÇÃO BIOLÓGICA
Valéria Michielin Vieira
Tese de Doutorado submetida ao corpo docente do Programa de
Pós-Graduação em Arquitetura, Linha de Pesquisa Projetos
Arquitetônicos de Ambientes de Atenção à Saúde, da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de
Doutor em Arquitetura.
Aprovada por:
Presidente, Profª. Mônica Santos Salgado, DSc
Prof. Afrânio Lineu Kritski, DSc
Prof. Hermann Gonçalves Schatzmayr, DSc
Profª. Maria Cristina Troncoso Ribeiro Pessoa, Dsc
Prof. Guilherme Carlos Lassance dos Santos Abreu, DSc
Rio de Janeiro
2008
iv
Vieira, Valéria Michielin.
Contribuição da Arquitetura na qualidade dos espaços
destinados aos laboratórios de contenção biológica/
Valéria Michielin Vieira.-Rio de Janeiro: UFRJ/FAU,2008.
xvii, 223f.:il.; 31 cm.
Orientadora: Mônica Santos Salgado
Tese (doutorado) – UFRJ/Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo/Programa de Pós-graduação em Arquitetura,2008.
Referências Bibliográficas:f.198-209.
1.Avaliação de desempenho. 2.Biossegurança.
3.Laboratórios de contenção. 4.Processo de projeto.
I.Salgado, Mônica Santos. II.Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Programa de Pós-graduação em Arquitetura.
III.Contribuição da Arquitetura na qualidade dos espaços
destinados aos laboratórios de contenção biológica.
v
Resumo
CONTRIBUIÇÃO DA ARQUITETURA NA QUALIDADE DOS ESPAÇOS
DESTINADOS AOS LABORATÓRIOS DE CONTENÇÃO BIOLÓGICA
Valéria Michielin Vieira
Profª. Mônica Santos Salgado - orientadora
Resumo da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-
Graduação em Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciências em
Arquitetura.
Esta pesquisa foi desenvolvida tendo como objeto de estudo as
instalações para trabalho em contenção biológica laboratórios NB3.
Neste contexto, os requisitos de biossegurança, como disciplina,
devem ser incorporados ao processo de projeto como parte do conjunto
sistematizado das necessidades de uso que nortearão as decisões a
serem tomadas pelos projetistas, atentando-se, ainda, para as
questões de biosseguridade. As diretrizes de projeto, organizadas a
partir de consulta à bibliografia especializada e regulamentações
identificadas, foram utilizadas como critério de desempenho na
realização de avaliação pós-ocupação em laboratórios NB3 construídos
no Brasil. O processo de projeto de instalações laboratoriais é
complexo e demanda a compreensão dos diversos fenômenos envolvidos,
caracterizando-se pela multidisciplinaridade. Assim, a Arquitetura
não deve atuar de forma isolada, mas à luz de abordagens que
reconheçam as interseções com outras áreas do conhecimento e possam
melhor responder às necessidades que emergem. A biossegurança é a
disciplina que permeia a consolidação de uma Arquitetura voltada
para laboratórios.
Palavras-chave: avaliação de desempenho, biossegurança, laboratórios
de contenção, processo de projeto.
Rio de Janeiro
Fevereiro – 2008
vi
Abstract
ARCHITECTURE´S CONTRIBUTION TO THE QUALITY OF SPACES
DESTINED TO BIOLOGICAL CONTAINMENT LABORATORIES
Valéria Michielin Vieira
Profª. Mônica Santos Salgado - orientadora
Abstract da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-
Graduação em Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Ciências em
Arquitetura.
The research was developed to study facilities used to work
under biological containment BSL 3 laboratories. In this context,
biosafety guidelines must be incorporated to the design process as
part of the set of users’ needs and priorities that will guide
design decisions taken by professionals, who must attempt to
questions related to biosecurity too. The design guidelines,
organized after consultation to specialized bibliography and
identified normalization, were used as performance criteria to a
post-occupancy evaluation undertaken in BSL 3 laboratories built in
Brazil. The design process of containment facilities is complex,
involves different phenomena and, as a consequence, is characterized
as multidisciplinary. In this way, the Architecture must approach
other knowledge areas to answer necessities of use. Biosafety is the
discipline that permeates the consolidation of a laboratory
Architecture field.
Key words: building performance evaluation, biosafety, laboratories
of containment, design process.
Rio de Janeiro
Fevereiro - 2008
vii
Apresentação
Algumas palavras ...
... àqueles que têm demonstrado curiosidade em saber o interesse que
moveu uma engenheira a se enveredar pelos caminhos da Arquitetura.
É parte da história de vidas que se cruzaram na Fiocruz de 1997 em
diante.
Tudo começou com uma dúvida sobre produto químico perigoso
manipulado em laboratório, depois vieram os radiosótopos e, por fim,
a biossegurança.
Quando nos demos conta, já éramos um grupo multidisciplinar
institucionalizado na CIBio/IOC que se reunia para “pensar” o
projeto: engenheiros de segurança do trabalho, engenheiro biomédico,
médico de saúde do trabalhador, médico veterinário e arquitetos.
Os colegas arquitetos instaram que escrevesse esta tese para
compartilhar com outros, de forma acadêmica, nossas experiências de
trabalho.
Chegamos juntos ao fim da jornada, com uma troca gratificante. Hoje,
eles são titulados especialistas em Engenharia de Segurança do
Trabalho.
viii
Agradecimentos
À professora Mônica Santos Salgado, pelo desafio em
orientar-me e pela confiança demonstrada ao longo da
condução do trabalho.
Aos professores do PROARQ e funcionários da
secretaria acadêmica, pela dedicação durante o curso.
À Coordenação de Saúde do Trabalhador da Fiocruz, em
especial a Jorge Machado, pela oportunidade que me
foi concedida para desenvolver esta etapa de minha
vida profissional e acadêmica.
Às amigas Cristina, pelo incentivo decisivo no início
desta jornada, e Renata, pela inestimável presteza e
incansável dedicação durante seu desenrolar.
A Alex, Camila e Stevan, que se desdobraram na
produção das ilustrações; Adriano, Bel, Marta e
Miranda, prestativos com o material bibliográfico;
Fátima, Rita, Romildo, Silmara e Solange por suas
palavras de estímulo. Aos colegas de turma e amigos
que, por lapso, deixo de mencionar e que
colaboraram, direta ou indiretamente, para a
realização deste estudo.
A Dr. Hermann Schatzmayr, virologista da Fiocruz,
encorajador dos trabalhos acadêmicos que tenham por
objeto de estudo os laboratórios – lugar de
desenvolvimento da ciência.
A Martinelli, pelo apoio durante o ano de 2006.
A Eliane, pela certeza da chegada.
ix
Dedicatória
À minha mãe, por seus sonhos, e a meu pai.
x
Sumário
Lista de quadros
xiii
Lista de figuras
xiv
Lista de siglas e abreviaturas
xvi
Introdução
1
Capítulo 1
Do paradigma pasteuriano ao conceito de biossegurança: a
demanda por soluções espaciais
9
1.1 O desenvolvimento das ciências médicas 11
1.2
A influência da revolução pasteuriana na arquitetura:
breve histórico
12
1.3
Manguinhos: marco da consolidação da nova medicina no
Brasil
16
1.4 Biossegurança: conceito e abrangência 21
1.4.1 Riscos químicos 26
1.4.2 Transmissão de energia: riscos físicos 26
1.4.3 Riscos ergonômicos e riscos de acidentes 27
1.4.4 Riscos biológicos e princípios de biossegurança 29
1.5 Biossegurança em laboratórios e arquitetura 31
Capítulo 2
Arquitetura de laboratórios NB3
34
2.1 Localização e acesso 38
2.2 Perímetro de contenção 40
2.3 Provisão de utilidades e serviços 42
2.4 Requisitos de conforto ambiental 44
2.4.1 Cor como efeito de iluminação 46
2.5 Considerações sobre o leiaute para o trabalho em contenção 50
2.6 Superfícies, revestimentos e mobiliário 59
2.7 Sistemas de ventilação e climatização 64
2.7.1
Importância da compatibilização do projeto com a
instalação das CSB
65
2.8 À guisa de conclusão 68
xi
Capítulo 3
Processo de projeto de laboratórios: o conceito de
biossegurança como ponto de inflexão
69
3.1 Gestão integrada de projetos: qualidade, meio ambiente,
saúde e segurança ocupacionais
71
3.1.1 Gestão da qualidade - SGQ 71
3.1.2 Gestão ambiental - SGA 72
3.1.3 Gestão de saúde e segurança ocupacionais - SGSSO 74
3.1.4 Sobre o sistema de Gestão Integrada
76
3.1.5 Certificação, acreditação e habilitação: gestão da
qualidade em laboratórios
77
3.2
Processo de projeto, inter e multidisciplinaridade
82
3.3 Processo de projeto de laboratórios 90
3.4 Processo de projeto e avaliação de desempenho 98
3.5 Breves considerações sobre os métodos de pesquisa 103
3.6
Elaboração dos instrumentos de pesquisa: metodologia para
avaliação de laboratórios de contenção biológica
106
3.6.1 Levantamento sistematizado e dados quantitativos 106
3.6.2 Entrevista com os usuários 107
3.6.3 Entrevista focalizada com os projetistas 108
3.6.4
Organização dos instrumentos de avaliação:
organização do caderno de pesquisa de campo
109
Capítulo 4
Indicadores da margem de incerteza das decisões arquitetônicas
para laboratórios NB3 a partir de estudo de casos
110
4.1
Determinação do universo de pesquisa e delimitação da
amostra
111
4.2
Caracterização do usuário respondente
116
4.3
Estudo de casos: medidas observáveis de desempenho das
instalações versus percepção dos usuários
116
xii
4.3.1 Laboratório NB3 - Centro de Pesquisa Aggeu
Magalhães – CPqAM
118
4.3.2 Laboratório NB3 - Instituto de Tecnologia em
Imunobiológicos - Biomanguinhos
131
4.3.3 Laboratório NB3 Klaus Eberhard Stewien - Instituto
de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo
139
4.3.4 Laboratório NB3 de baixo custo - Instituto de
Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo
149
4.3.5 Laboratório de AIDS e Imunologia Molecular –
Instituto Oswaldo Cruz
157
4.3.6 Laboratório de Referência Nacional para
Rickettioses e Regional para Hantaviroses –
Instituto Oswaldo Cruz
168
4.4
Resultados da pesquisa por sugestão visual
177
4.5
A visão do projetista
179
4.6 Discussão dos resultados: a percepção do usuário e a
avaliação de desempenho
181
Conclusão
191
Referências bibliográficas
198
Bibliografia
207
Anexos
Anexo I - Caderno de pesquisa de campo 210
Anexo II - Laboratórios NB3 instalados no Brasil 221
xiii
Lista de quadros
Quadro 1
Classificação de risco dos agentes patogênicos 24
Quadro 2
Classes de risco biológico e níveis de biossegurança
laboratorial
34
Quadro 3
Resumo dos requisitos para área física e instalações
conforme Nível de Biossegurança (NB1 a NB4)
37
Quadro 4
Matriz de localização e acesso de laboratórios NB3 39
Quadro 5
Matriz do perímetro de contenção para laboratórios
NB3
42
Quadro 6
Matriz de utilidades e serviços para laboratórios
NB3
43
Quadro 7
Matriz de revestimentos e mobiliário para
laboratório NB3
60
Quadro 8
Materiais e revestimentos 63
Quadro 9
Matriz de ventilação e climatização para
laboratórios NB3
65
Quadro 10
Identificação dos riscos potencialmente presentes em
laboratório
97
Quadro 11
Cores empregadas no laboratório NB3 do CPqAM 123
Quadro 12
Cores empregadas no laboratório NB3 de Biomanguinhos
135
Quadro 13
Cores empregadas no laboratório NB3 Klaus Eberhard
Stewien
143
Quadro 14
Cores empregadas no laboratório NB3 de baixo custo
ICB/USP
152
Quadro 15
Cores empregadas no laboratório NB3 do IOC para
trabalho com HIV
161
Quadro 16
Cores empregadas no laboratório NB3 do IOC para
trabalho com hantavírus
171
Quadro 17
Tabulação do questionário fechado 182
xiv
Lista de figuras
Figura 1
Implantação original do Instituto Soroterápico 18
Figura 2
Laboratório principal 19
Figura 3
Interior do laboratório principal 19
Figura 4
Ciclo da contenção 30
Figura 5
Planejamento em módulos 52
Figura 6
Estruturação de laboratórios NB3 53
Figura 7
Área de contenção para uso de uma CSB 55
Figura 8
Área de contenção para uso de duas CSB 55
Figura 9
Laboratório NB3 com ante-sala como zona de acesso 58
Figura 10
Laboratório NB3 com ante-sala como zona de acesso 58
Figura 11
Leiaute de laboratório com ante-sala como zona de
acesso
58
Figura 12
Laboratório NB3 com corredor como zona de acesso 58
Figura 13
Leiaute de laboratório NB3 com corredor como zona
de acesso
58
Figura 14
Laboratório NB3 com laboratório NB2 como acesso 58
Figura 15
Laboratório NB2 como zona de acesso à área de
contenção
58
Figura 16
Laboratório NB3 tipo suíte 58
Figura 17
Leiaute de laboratório NB3 tipo suíte 58
Figura 18
Conceituação do subsistema projeto 84
Figura 19
Chaves para o projeto de laboratórios NB3 95
Figura 20
Modelo do processo de avaliação de desempenho de
edifícios
101
Figura 21
Distribuição de laboratórios NB3 por estado 113
Figura 22
Distribuição geográfica da amostra
115
xv
Figura 23
Tomada da área de contenção do laboratório NB3 do
CPqAM
122
Figura 24
Setorização do laboratório NB3 do CPqAM 126
Figura 25
Área desperdiçada como circulação no NB3 do CPqAM 129
Figura 26
Comparação das salas de maior contenção com o
módulo básico
130
Figura 27
Vista interior do NB3 de Biomanguinhos 136
Figura 28
Setorização do laboratório NB3 de Biomanguinhos 137
Figura 29
Vista de atividades no interior do laboratório
NB3
do ICB/USP
143
Figura 30
Setorização do laboratório NB3 Klaus Eberhard
Stewien
146
Figura 31
Vista do interior do laboratório NB3 Klaus
Eberhard Stewien
147
Figura 32
Tomada do interior do laboratório NB3 de baixo
custo ICB/USP
153
Figura 33
Setorização do laboratório NB3 de baixo custo
ICB/USP
154
Figura 34
Área de contenção do Laboratório de AIDS e
Imunologia Molecular do IOC
162
Figura 35
Setorização do laboratório NB3 para pesquisa em
AIDS do IOC
163
Figura 36
Interior do laboratório para pesquisa em
rickettioses do IOC
172
Figura 37
Setorização do laboratório para pesquisa em
rickettioses do IOC
174
Figura 38
Projeto de ventilação executado sem
compatibilização
176
Figura 39
Projeto de intervenção para correção 177
Figura 40
Sobreposição das figuras 38 e 39 177
xvi
Lista de siglas e abreviaturas
ABNT
Associação Brasileira de Normas Técnicas
ADE Avaliação de Desempenho de Edifícios
AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
APO Avaliação Pós-Ocupação
ASHRAE American Society of Heating and Ventilating Engineers
BPF Boas Práticas de Fabricação
BPL Boas Práticas de Laboratório
BS British Standards
CDC Center for Disease Control and Prevention
COC Casa de Oswaldo Cruz
CPqAM Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães
CSB Cabine de Segurança Biológica
CGLAB Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública
CIBio Comissão Interna de Biossegurança
COPPE
Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia
da Universidade Federal do Rio de Janeiro
CTBio
Comissão Técnica de Biossegurança da Fundação Oswaldo
Cruz
CTNBio Comissão Técnica Nacional de Biossegurança
DAD Departamento de Arquivo e Documentação
DICLA
Divisão de Credenciamento de Laboratórios e de Provedores
de Ensaios de Proficiência
FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz
HEPA High efficiency particulate air
ICB Instituto de Ciências Biológicas
IOC Instituto Oswaldo Cruz
ISO International Organization for Standardization
IN Instrução Normativa
xvii
INMETRO
Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e
Qualidade Industrial
LAMEV Laboratório de Metrologia e Validação
LATEV Laboratório de Tecnologia Virológica
MERCOSUL Mercado Comum do Sul
MS Ministério da Saúde
MTE Ministério do Trabalho e Emprego
NB Nível de Biossegurança
NBR Norma Brasileira
NESC Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva
NR Norma Regulamentadora
OECD Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento
OGM Organismo geneticamente modificado
OIT Organização Internacional do Trabalho
OMS Organização Mundial de Saúde
OPAS Organização Pan-Americana de Saúde
OSHA Occupational Safety and Health Administration
PCMSO Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional
PPRA Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
RDVG Rede de Diversidade Genética em Vírus
SARS SARS – Síndrome Respiratória Aguda
SGA SGA – Sistema de Gestão Ambiental
SGQ Sistema de Gestão da Qualidade
SGSSO Sistema de Gestão em Saúde e Segurança Ocupacionais
SISLAB Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública
SVS Secretaria de Vigilância em Saúde
UFPE Universidade Federal de Pernambuco
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
USP Universidade de São Paulo
WHO World Health Organization
Introdução
O desenvolvimento das atividades de pesquisa de base biológica
tem nos laboratórios o seu principal locus como espaço construído.
A qualidade destes ambientes, em especial dos laboratórios de
contenção biológica, envolve a interação de uma série de variáveis
diretamente relacionadas ao conceito de biossegurança, condição
necessária ao desempenho de atividades potencialmente perigosas à
saúde e ao meio ambiente em virtude dos riscos inerentes aos agentes
biológicos manipulados.
Para que laboratórios novos e existentes operem em segurança, é
necessário planejar a sua implantação e adequação física. É
importante identificar os aspectos que interferem de forma positiva
ou negativa no desenvolvimento das atividades de pesquisa realizadas
nestes espaços para se obter subsídios e evitar que as falhas
observadas se repitam no processo de produção de novas instalações
com características similares ou que possam ser corrigidas nos
laboratórios existentes.
Relevância do estudo
A iniciativa de eleger os laboratórios de Nível de
Biossegurança 3 (NB3) para o estudo deve-se ao interesse em
colaborar para superação das dificuldades encontradas no
desenvolvimento de projetos de arquitetura e engenharia em que a
antecipação e reconhecimento dos riscos para trabalho em contenção
biológica são decisivos para a qualidade dos resultados.
Instalações deste porte são cada vez mais necessárias face ao
surgimento de doenças emergentes e reemergentes, como apontam
Navarro et al. (2002, p.37) ao relacionarem a problemática associada
ao aumento da resistência dos agentes infecciosos. Segundo os
autores, a “preocupação com estes fatos desencadeou ações enérgicas,
direcionadas à contenção de doenças transmissíveis, culminando na
criação do conceito de doenças emergentes e reemergentes”. No
2
primeiro grupo enquadram-se aquelas causadas pela introdução de
novos organismos, como o HIV, ou patógenos reconhecidos, mas não
detectados previamente, como o hantavírus. São classificadas como
“re-emergentes” as doenças conhecidas que ressurgem após o declínio
ou controle de sua incidência, como a tuberculose e a dengue.
Observe-se que esta última patologia recrudesceu no país com a volta
do vetor Aëdes aegypti erradicado na década de 30 como resultado das
ações de combate à febre amarela. A volta desta condição sanitária
desfavorável possibilitou que tipos mais virulentos deste arbovírus
causador da dengue emergissem no país, como também a ocorrência de
óbitos por febre amarela adquirida nas regiões endêmicas.
Levando-se em consideração o surto da síndrome respiratória
aguda grave (SARS), em 2004, os casos de febre maculosa, a gripe
aviária potencialmente transmissível aos humanos que nos dias atuais
ainda paira como ameaça, os atos de bioterrorismo pela propagação
dos esporos do Bacillus anthracis, a ameaça de guerra biológica pela
disseminação do vírus causador da varíola considerado banido pela
Organização Mundial de Saúde (OMS) desde 1980, a existência de
patógenos de interesse econômico que podem dizimar regiões ou até
mesmo países pela destruição de rebanhos, como o vírus da aftosa, ou
lavouras, como o fungo da vassoura de bruxa, é oportuno destacar o
trecho do artigo The origin of plagues: old and new (KRAUSE, 1992)
tido como um clássico:
Uma nova epidemia pode estar sendo incubada agora mesmo em uma mega
cidade, sem saneamento e superpovoada, do mundo não desenvolvido ou nas
florestas remotas da África, da América ou Ásia regiões esparsamente
povoadas que recentemente têm sido alteradas pela civilização moderna.
Agentes biológicos podem ressurgir sob novas ou antigas formas.
Os surtos de doenças podem acontecer devido a mudanças no estilo de
vida, como o crescente número de deslocamento internacionais que
possibilita a disseminação quase instantânea de microorganismos,
minimizando a importância de fronteiras geográficas. Ou então serem
frutos de variações genéticas. Ao conectar o futuro com o passado,
as epidemias trazem lições, demandando ações de vigilância e
prevenção.
3
Navarro et al. (2002, p.46) destacam que a rede mundial de
vigilância epidemiológica, preconizada por organismos internacionais
como o Center for Disease Control and Prevention (CDC) e a
Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), precisa ser apoiada por
“instituições de excelência capazes de assegurar a necessária
retaguarda de pesquisa e desenvolvimento tecnológico”. Fica assim
demonstrada a imperiosa necessidade de se construírem instalações
que possibilitem o desenvolvimento de atividades de pesquisa e
diagnóstico microbiológico em condições de segurança individual e
ambiental para manipulação de agentes patogênicos, aos quais são
associadas graves enfermidades, em função dos riscos que lhes são
potencialmente peculiares dentro de escalonamento estabelecido por
autoridades sanitárias internacionais.
No Brasil, desde 2004 a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)
do Ministério da Saúde (MS), vem implantando a Rede Nacional de
Laboratórios de Saúde Pública de Nível de Biossegurança 3, que será
referência para a OMS na América Latina. Os laboratórios, em número
de 12 (doze), foram distribuídos de acordo com critérios
epidemiológicos, de capacidade técnica já instalada, demanda e
região geográfica e, considerando-se o potencial projetado, ainda
não entraram em plena operação. Entende-se que a instalação de
laboratórios de contenção biológica está estrategicamente inserida
nas políticas públicas de saúde de vigilância em doenças emergentes
e reemergentes. Assim, o momento é oportuno estudar as instalações
NB3 desde sua concepção até seu efetivo desempenho.
O problema
Considerando uma instalação NB3 um sistema ambiental
construído, é necessário identificar as variáveis que o afetam e
definir suas inter-relações com as questões de biossegurança com
fins diagnósticos em relação ao desempenho do bem construído. Esse
diagnóstico pode efetivamente auxiliar no planejamento, projeto,
construção, operação, uso e manutenção de um ambiente saudável,
adequado ao desenvolvimento de atividades de modo sustentável.
A avaliação de desempenho de laboratórios para trabalho em
contenção biológica não é um procedimento trivial pois deve ser
4
elaborado considerando elementos que interagem entre si, incluindo
parâmetros objetivos e subjetivos.
Na esfera da subjetividade, é oportuno lembrar que associada à
dificuldade de avaliação dos riscos biológicos se encontra uma
atitude psicológica de ideologia defensiva do trabalho (por
pesquisadores e técnicos). A mistificação da atividade de pesquisa
se reveste de certo caráter de aventura e essa ideologia faz com que
se desenvolva um savoir-faire de prudência, que rapidamente pode
expor seus limites de eficácia (SIMONS, 1991). Esta abordagem do
comportamento humano dos usuários em relação ao ambiente construído
e às atividades ali desenvolvidas se traduzem na necessidade de bem
ponderar as relações no âmbito do espaço pessoal e da
territorialidade, posto que podem influenciar no resultado da
avaliação de desempenho.
Quanto à avaliação de infra-estrutura laboratorial, devem ser
considerados os aspectos construtivos, funcionais, físicos e
comportamentais que reúnem tanto variáveis objetivas como subjetivas
em virtude da ocupação humana do ambiente construído. Acresça-se a
possibilidade da técnica de trabalho exigir rigor na aplicação de
alguns parâmetros a ponto de afetar de forma negativa os ocupantes
do espaço construído. Como exemplo pode-se citar o próprio nível de
contenção inerente à caracterização de um laboratório NB3, exigência
que pode provocar em técnicos e pesquisadores a sensação de
confinamento.
ainda que se considerar o arcabouço legal e normativo
condicionante do processo de projeto, em geral. Em se tratando de
ambientes de saúde, em particular, estes diplomas precisam ser
mediados pelos aspectos de biossegurança. Para tanto foi necessário
pesquisar o conjunto de leis, normas e diretrizes existentes que se
encontrava disperso e, por vezes, não se aplicava diretamente a
laboratórios, precisando, ainda, ser buscado junto a organismos
internacionais e de outros países.
5
Justificativa
No Brasil, verifica-se que carência de trabalhos sobre
arquitetura de laboratórios na esfera acadêmica e são poucas as
publicações sobre este assunto. Concentram-se em eventos científicos
na área de biossegurança e são incipientes nos encontros onde a
temática principal é a arquitetura ou construção civil. em outros
países, encontra-se uma cultura consolidada, com publicações
periódicas que tratam especificamente de projetos de laboratórios,
edição anual de coletânea com artigos sobre o tema, conferências
semestrais específicas e mesmo concursos anuais para premiar os
melhores projetos de laboratórios, iniciativas patrocinadas pelo
setor de pesquisa e desenvolvimento, com arquitetos e engenheiros se
apresentando como especialistas em biocontenção quando se trata de
laboratório para pesquisa biológica.
Desta forma, espera-se que a realização deste trabalho possa
contribuir para a consolidação de estudos acadêmicos sobre
arquitetura de laboratórios, firmando-se conceitos sobre o projeto
de espaços destinados a abrigar a pesquisa sob contenção biológica,
os laboratórios NB3, com qualidade.
Objetivos
O objetivo final deste trabalho é analisar laboratórios NB3 em
uso no Brasil considerando aspectos relativos à qualidade dos
ambientes construídos destinados à pesquisa em contenção biológica
e, assim, identificar a contribuição que as soluções arquitetônicas
podem trazer a estes espaços, levando-se em conta as diretrizes de
biossegurança.
Como objetivos específicos, é necessário identificar parâmetros
normalmente adotados em projetos desta natureza, estabelecendo-se
quais diretrizes se revestem de caráter mandatário.
Desta forma, procura-se determinar, como referencial teórico,
as diretrizes de projetos de laboratórios NB3 a partir da
bibliografia especializada, consolidando ferramentas que auxiliem os
profissionais de arquitetura na concepção de ambientes afins.
6
Assim, na busca dos objetivos deste trabalho, é necessário
realizar levantamento sobre diretrizes para elaboração de projetos
de arquitetura e engenharia destinados à construção de laboratórios
de contenção biológica a partir da aplicação dos princípios de
biossegurança ao processo de projeto.
A seguir, explorar o processo de projeto de laboratórios de
contenção com foco na gestão integrada e sua relação com o conceito
de biossegurança e respectivas ilações com qualidade, segurança
ambiental e segurança ocupacional. Através deste viés busca-se
constatar a multidisciplinaridade que envolve o processo de projeto
de laboratórios NB3.
Hipóteses
Vislumbrando-se atingir os objetivos propostos, para conduzir a
pesquisa foram formuladas as seguintes hipóteses:
H1: Através da interpretação do conceito de biossegurança é
possível estabelecer diretrizes de projeto para laboratórios NB3.
H2: A qualidade de instalações NB3, como sistema ambiental
construído, pode ser aferida através da avaliação de desempenho de
laboratórios.
H3: A avaliação de desempenho de laboratórios NB3 deve ser
pautada por parâmetros de biossegurança.
H4: Nem todas as decisões de arquitetura para projetos de
laboratórios NB3 são condicionadas pelas diretrizes de
biossegurança.
Estas hipóteses são formuladas a partir dos objetivos tratados
anteriormente e considera-se que a resposta ao conjunto de hipóteses
responderá aos propósitos da pesquisa.
Metodologia
Para a classificação da pesquisa, foi adotada a taxonomia
proposta VERGARA (1997).
7
Quanto aos fins, a pesquisa é tanto descritiva, pois discorre
sobre condicionantes para projeto de laboratórios NB3, quanto
analítica. Do ponto de vista analítico, estuda-se de forma crítica
as instalações de laboratórios em uso empregando-se técnicas de
avaliação pós-ocupação para estudo do seu desempenho.
quanto aos meios, a pesquisa se vale da investigação
documental e bibliográfica e da pesquisa de campo.
A pesquisa de campo se deu no universo de laboratórios de
contenção biológica, entendidos como aqueles que se destinam a
pesquisas básicas e aplicadas no campo da saúde, da educação e do
desenvolvimento científico e tecnológico.
A pesquisa documental permitiu a construção do arcabouço
teórico que embasou a pesquisa de campo. Esta, por sua vez, permitiu
o levantamento dos dados para a análise proposta.
O tratamento dos dados se deu através da análise e
interpretação do material recolhido através da pesquisa documental,
pesquisa bibliográfica e da pesquisa de campo.
A principal limitação do método foi quanto à obtenção dos dados
da pesquisa de campo, que dependeu de acesso a instalações de
laboratórios, situação restritiva face aos riscos apresentados pelos
agentes biológicos ali manipulados em nível de contenção.
Para fundamentar a discussão dentro da realidade brasileira,
foi realizado estudo de casos para se conhecer o estado-da-arte dos
laboratórios NB3 em uso no país, medindo-se seu desempenho.
Assim, primeiramente, foi necessário estabelecer o marco
teórico sobre diretrizes para elaboração de projetos de arquitetura
e engenharia destinados à construção de laboratórios NB3 a partir da
aplicação dos princípios de biossegurança ao processo de projeto.
A seguir, as diretrizes foram tratadas como dados de entrada e
aplicadas em metodologia para avaliação de desempenho de instalações
dessa natureza, conduzindo-se estudo de casos.
8
Como um dos resultados, espera-se determinar o estado-da-arte
das instalações existentes no Brasil, delineando-se a dinâmica que
permeia o processo de projeto de laboratórios NB3.
Finalmente, explora-se o que é próprio às decisões de
arquitetura no projeto de laboratórios para trabalho em contenção
biológica.
Estrutura
O capítulo I resgata o momento de fundação da microbiologia
como ciência, quando as descobertas de Pasteur e cientistas
contemporâneos acabaram por influenciar outras áreas do
conhecimento, dentre as quais a arquitetura, no âmbito da saúde, e o
urbanismo. O laboratório, com seus aparatos, consagra-se como locus
de desenvolvimento da nova ciência. São explicados os aspectos
conceituais ligados à biossegurança.
A partir das diretrizes de biossegurança, o capítulo II
descreve o ambiente de laboratórios para pesquisa biológica em
contenção, contemplando os aspectos construtivos, físicos e
funcionais que os caracterizam.
O processo de projeto de laboratórios é abordado no capítulo
III, explorando a multi e interdisciplinaridade da biossegurança
como disciplina. O tema foi contextualizado à luz dos sistemas de
gestão internacionalmente praticados e que estão conceitualmente
vinculados à biossegurança por tratarem de meio ambiente, qualidade,
e segurança e saúde ocupacionais. Trata da metodologia escolhida
para a pesquisa prática, desenvolvida através da avaliação pós-
ocupação, segundo critérios de desempenho estabelecidos a partir da
compreensão do conceito de biossegurança.
O capítulo IV apresenta os laboratórios escolhidos para o
estudo de casos, os resultados obtidos através da avaliação pós-
ocupação, bem como a discussão dos resultados e conclusão do
trabalho no segmento seguinte.
Capítulo I
Do paradigma pasteuriano ao conceito de
biossegurança: a demanda por soluções espaciais
É possível balizar a História através de grandes idéias.
Ou é possível balizar a História por eventos econômicos.
Ou pela luta de classes.
Mas também é possível balizar a História por meio das
doenças que acometem grandes grupos populacionais:
as epidemias.
Moacyr Scliar
Na Antigüidade, os desastres naturais, os grandes incêndios, a
fome provocada por insuficiência de alimentos e as epidemias eram
compreendidos como expressão divina. Para revelá-los e prevê-los era
necessário interpretar os sinais “sagrados” (THEYS apud FREITAS,
2003).
Desde o primeiro ato dirigido à domesticação, sujeição e
subjugação da natureza, o homem demonstrou vontade de manipular e
dominar o ambiente natural e a própria vida. No século XVI surge o
termo francês risque, com a acepção de “perigo, inconveniente mais
ou menos previsível”, originário do italiano rischio, associado ao
perigo da navegação marítima (HOUAISS, 2006). O vocábulo risco, como
se conhece atualmente, provém da teoria das probabilidades e
relaciona-se com a previsibilidade de ocorrência de certas situações
ou eventos através do emprego de métodos matemáticos. Freitas (2003)
lembra que o processo de laicização das situações e eventos tidos
como perigosos é impulsionado a partir da Revolução Industrial. É
transformado em “risco” previsibilidade e probabilidade e está
relacionado à filosofia iluminista, ao fim das epidemias e à ciência
e tecnologia, eixos das transformações na sociedade e na natureza.
Conclui o autor que nesse processo, através do desenvolvimento
científico e tecnológico e das conseqüentes transformações na
sociedade, na natureza e na própria característica e dinâmica das
10
situações e eventos perigosos, o homem passa a ser responsável pela
geração e remediação de seus próprios males.
Não obstante esta relação do homem com a natureza, ainda nos
dias atuais um dos males que mais aflige a humanidade são os
acontecimentos relacionados às doenças e epidemias. Segundo Moacyr
Scliar (UJVARI, 2003, p.10), epidemia é a ocorrência dos casos de
uma doença em número superior ao esperado, com base em cálculos, não
em adivinhações. Assim, observa que, mesmo resignadamente, se aceita
a ocorrência de doenças transmissíveis causadas por germes. Mas faz
uma ressalva, porque quando a:
[...] doença se espalha de uma forma aparentemente sem controle, quando
não se trata apenas de corpos individuais, mas do corpo social, estamos
diante de uma situação nova e apavorante, uma situação capaz de levar o
caos a cidades, a regiões, a países.
Ao longo de milhares de anos de civilização foram elaboradas
diferentes teorias na tentativa de explicar o contágio e a
disseminação das doenças. Enquanto os egípcios acreditavam na
propagação da doença através do toque, os hebreus julgavam que a
contaminação se dava pelo contato com roupas e objetos usados pelos
enfermos. Na Grécia antiga, século V a.C., Hipócrates contribui para
desvincular a causa das doenças das explicações dos deuses (UJVARI,
2003) difundindo que as doenças são ocasionadas pela natureza e que
os sintomas são reações do organismo.
A despeito de apregoar a investigação prática e a
desmitificação da medicina, o que certamente predominou no saber
médico a a Idade Média foi a especulação em detrimento da
observação (PIAZZO, 1997). Ujvari (2003) relaciona estudos
realizados no decorrer do século XIX, na Europa, que sugeriam a
hipótese de agentes vivos causarem doenças infecciosas. Mas por se
tratarem de trabalhos isolados não causaram impacto no meio
científico. A teoria dos miasmas, emanações a que se atribuíam a
contaminação das doenças infecciosas e epidêmicas, triunfou como
marco conceitual até as décadas finais do século XIX.
Em 1876, Koch publica os resultados dos trabalhos que
desenvolvera, na Alemanha, através dos quais consegue provar que a
11
causa do anthrax
1
que vitimava os rebanhos bovinos, caprinos e
eqüinos era um agente vivo o bacilo. No ano seguinte Pasteur foi
convidado pelo Ministério da Agricultura francês para colaborar no
controle da doença. Em 1878, complementando os trabalhos de Koch,
esclareceu pela primeira vez, a partir do bacilo do anthrax, o
mecanismo de transmissão de uma doença e as medidas profiláticas
(UJVARI, 2003).
Nesse momento ocorre a aceitação definitiva dos agentes
infecciosos como causadores das doenças e se estabelece a medicina
dos agentes patogênicos, processo que induziu a um novo saber e um
novo olhar positivo sobre o homem sujeito e objeto do conhecimento
inaugurando um discurso científico que determinava a utilização da
fidelidade e da obediência incondicionais ao conteúdo da experiência
(SILVA, 2001b).
Este corte epistemológico, ao ampliar o âmbito de circunscrição
da ciência hipocrática, influenciaria outros ramos do conhecimento.
1.1 O desenvolvimento das ciências médicas
Os estudos inovadores desenvolvidos por Pasteur, na França,
foram agrupados sob a denominação de microbiologia e vieram a
revolucionar a medicina. Surge um novo paradigma para essa ciência,
que Benchimol (1990, p.7) assim sintetiza:
[...] no plano epistêmico, a novidade da revolução pasteuriana foi ter
constituído objetos de ciência que não se identificam ao homem sofredor e
doente da tradição médica neo-hipocrática; foi ter inaugurado disciplinas
que transcorrem em outro lugar que não o hospital, segundo métodos e
regras que não são os da cura. Disciplinas que se realizam num universo
específico – o laboratório – onde a relação do cientista com o seu objeto
é mediatinizada por um conjunto cada vez mais complexo e sofisticado de
técnicas e instrumentos. Suas experiências visam, é claro, a compreensão
e erradicação da doença, quer seja no homem, nos animais ou mundo vegetal
mas esse é seu objetivo último, não sua causa ou motivação primeira. A
relação entre o laboratório e a terapêutica não é imediata, sequer
obrigatória para conferir legitimidade àquelas investigações mais puras
do espectro das disciplinas que vão compor a chamada medicina
experimental.
Através da experimentação, Pasteur pode revelar uma entidade
viva, de natureza vegetal ou animal, suscetível de se desenvolver
num meio propício, operando um fenômeno ao mesmo tempo químico e
1
Ujvari (2203, p.173) destaca que, se por volta de 1870 o anthrax preocupava os
órgãos responsáveis pela pecuária das nações, no primeiro ano do século XXI cartas
contaminadas com este agente deixariam em pânico a população dos Estados Unidos”.
12
biológico - a fermentação. Posteriormente, Koch, em laboratório
montado em sua própria casa, desenvolveu técnicas como a coloração
dos microrganismos, fotografia microscópica e o exame com lente de
imersão. A microbiologia acolhia o ser vivo como objeto pertinente
de investigação.
O laboratório foi definitivamente consagrado como locus
específico para geração de conhecimentos, considerados legítimos e
relevantes independentemente de sua eventual utilidade imediata.
Porém, mais do que contribuir para a consubstanciação da
microbiologia, as descobertas pasteurianas, ao transformarem
profundamente a medicina, influenciaram o pensamento e as estruturas
sociais da época. O novo paradigma impunha-se como modelo para a
formação daqueles que se dedicavam à arte de curar e, a partir
daquele momento, à ciência das doenças. A organização institucional
da saúde pública foi reformulada à luz de novos parâmetros. A
arquitetura dos hospitais ganhou nova conformação, sendo seus
serviços, a indumentária e a prática dos cirurgiões redefinidos
(BENCHIMOL, 1990).
1.2 A influência da revolução pasteuriana na arquitetura: breve
histórico
Até o século XVIII, os hospitais, geralmente mantidos por
instituições religiosas de caridade, mais se assemelhavam a asilos
de indigentes, com salas úmidas, escuras e lotadas, temidas como se
fossem antecâmaras da sepultura (BENCHIMOL, 1990). Os doentes
partilhavam leitos onde se misturavam os sexos, as idades e os
males. Com altíssimos índices de mortalidade, sob o ponto de vista
econômico os hospitais se constituíam em pesos inertes que
favoreciam a reprodução da pobreza. Sob o ponto de vista médico
configuravam-se como estruturas caducas que propiciavam a
multiplicação da doença em seu interior e a proliferação delas no
organismo urbano.
Ante a constatação de que a arquitetura hospitalar, embora
solene, era inadequada, os hospitais são repensados em consonância
com a corrente mecanicista dominante. Passam então ser concebidos
13
como máquinas de curar, onde as partes deviam interagir entre si
(SILVA, 2001b).
Nesta época eram conhecidos os experimentos de Lavoisier
segundo os quais o oxigênio e o gás carbônico tinham papel na
fisiologia da respiração: o pulmão desnaturava o ar vital (oxigênio)
e restituía à atmosfera maior quantidade de mofeta (gás carbônico).
Desta forma, o fundador da química moderna, ao decifrar o enigma da
respiração, pôs por terra as tradicionais práticas de purificação e
torna a renovação do ar um imperativo (BENCHIMOL, 1990). Jacques
Tenon, médico francês, estudou minuciosamente os hospitais de sua
época e chegou a estabelecer correlações rigorosas entre as
necessidades quantitativas e qualitativas de cada organismo humano e
as unidades espaciais por eles ocupadas (SILVA, 2001a).
Ao final do século XVIII surge a arquitetura pavilhonar
(MIQUELIN, 1992), fundamentada no princípio da dispersão, pelo qual
era necessário suprir os corpos doentes com quantidade suficiente do
fluído vital (ar) a fim de se evitar o contágio pela impregnação dos
miasmas. A medicina evolui e o hospital vai aos poucos abandonando o
estigma de ser associado à pobreza e morte passando a ser local de
aprendizado.
Mas a descoberta da transmissão dos germes, ao revolucionar
todo o saber médico, reformula a concepção hospitalar. Os trabalhos
de Pasteur demonstram a necessidade de isolar as diferentes doenças
para combater os seus respectivos agentes etiológicos, bem como
introduz os conceitos de desinfecção
2
e esterilização. Ao hospital
higienista e sua arquitetura pavilhonar são incorporados os
conceitos contemporâneos da teoria bacteriana pelos quais Pasteur
demonstrou que as doenças eram causadas por micróbios que tanto
podiam se propagar pelo ar atmosférico como pelas mãos de pessoas
sãs ou mesmo objetos. Silva (2001b) registra que, embora
permanecessem válidas as regras arquitetônicas do hospital
pavilhonar, o ordenamento espacial passara a atender os
procedimentos de fluxos de materiais que entravam em contato com
2
Lister, a partir dos estudos de Pasteur que demonstravam a transmissão de germes
pelo ar, é o primeiro médico a empregar substâncias químicas, como o fenol, como
método eficaz de anti-sepsia em ferimentos.
14
pacientes. Surgem outras regras de arquitetura tais como o
arredondamento de cantos nas interseções entre paredes, piso e
paredes, teto e paredes, banimento de decorações que formassem
saliências e reentrâncias, adoção de materiais lisos e impermeáveis,
resistentes à descontaminação e padronização de mobiliário
hospitalar. Não se pode deixar de lembrar que, além da anti-sepsia,
mais dois elementos de ordem tecnológica contribuíram para o
desaparecimento do estigma hospitalar antigo: a anestesia e o
desenvolvimento da enfermagem como profissão laica
3
(SILVA, 2001b).
É importante também registrar, dentre os avanços médicos e
científicos da época, as descobertas dos raios X por Röengten, em
1895, e das radiações ionizantes nucleares por Pierre e Marie Curie,
em 1898, tecnologias que irão auxiliar não na área de diagnóstico
como também até hoje desempenham papel importante na pesquisa
biomédica.
A revolução pasteuriana fez com que as ciências biológicas
tivessem um grande impulso e desenvolvimento. Os estudos de medicina
experimental avançaram céleres, muitos deles conduzidos pelo próprio
Pasteur, demandando a necessidade de outros espaços para a
realização das novas atividades científicas na área biomédica, tais
como a identificação de agentes causadores de doenças, produção de
vacinas e soros.
As transformações ocorridas no século XIX deflagraram as
reformas urbanas das grandes metrópoles mundiais norteadas pelo mote
da nova medicina, que através do binômio saneamento-higiene
vislumbrava arredar o perigo das epidemias.
A concentração populacional nos centros das principais cidades,
com casas e ruas estreitas e escuras, mal ventiladas e desprovidas
de saneamento urbano, constituía um sério risco para o controle de
epidemias que freqüentemente emergiam e afetavam, também, o
desenvolvimento econômico.
3
A organização da profissão de enfermagem como laica é atribuída a Florence
Nightgale, que organizou o serviço de enfermagem e de ambulâncias para as tropas
inglesas após a sua experiência na guerra da Criméia (1853-56), tendo fundado uma
escola de enfermagem e publicado diversas obras sobre elementos mínimos necessários
ao edifício hospitalar (SILVA, 2001b).
15
A cidade, que deveria espelhar o desenvolvimento dogmatizado
pela revolução industrial, passa a ser o grande doente do momento e
“os médicos saem de seus laboratórios, hospitais, universidades”,
chamados a cuidá-la, como um organismo canceroso (DEL BRENNA, 1985,
p. 570).
Como destaca Del Brenna (1985, p. 571), “qualquer que seja o
remédio proposto, os ingredientes comuns são: aeração, ventilação,
iluminação e limpeza”, que justificavam as intervenções
urbanísticas, por mais enérgicas que fossem. Assim, destruir adquire
conotação positiva e passa a ser compreendida como “destruição do
mal e seu veículo, a doença, que encarna as noções de obscuro,
velho, feio, fechado, estreito, tortuoso, malcheiroso, impenetrável,
sujo, sórdido, pobre, imoral”.
Sob a égide da modernização e do desejo de superar o passado
colonial, o Brasil, a partir da Proclamação da República, inicia um
período de renovação urbana do qual se destaca a Reforma empreendida
por Francisco Pereira Passos no Rio de Janeiro.
As intervenções urbanas e modernização de infra-estrutura das
quais foram palco algumas cidades brasileiras ressonaram não apenas
do sanitarismo, mas de um ideal de reprodução do cenário europeu,
liderado pela elite urbana, progressista, positivista,
cosmopolita”, em contraposição à sociedade tradicional, de índole
agrária e conservadora” (SEGAWA, 1999, p. 19).
Inspirados no modelo europeu e apostando na ciência e na
técnica como instrumentos do progresso nacional, os engenheiros
componentes da elite intelectual brasileira afirmavam-se como
agentes deste processo de modernização. Dentre as atuações e
contribuições da corporação, cabe ressalvar a figura do engenheiro
Francisco Saturnino de Brito, considerado o fundador da engenharia
sanitária brasileira (SEGAWA, 1999).
Os avanços da microbiologia deram nova forma à higiene e as
moléstias passam a ser combatidas pelo emprego de soros, vacinas e
medicamentos. A educação sanitária da população se desloca para o
centro das atenções. Entretanto, não se pode deixar de reconhecer o
16
legado da mudança física dos ambientes, cujas obras de infra-
estruturação urbana tornaram-no salubre.
1.3 Manguinhos: marco da consolidação da nova medicina no Brasil
Calmette (BENCHIMOL, 1990, p.12) registrou que, ao consagrar o
laboratório como local do desenvolvimento das ciências biológicas,
vanguarda do progresso, Pasteur profetizou que os mesmos seriam
“templos do futuro, da riqueza e do bem-estar”.
Fundado em 1888, o Instituto Pasteur pontuou o fechamento de um
ciclo iniciado a partir das pesquisas de seu fundador que culminaram
no domínio das doenças infecciosas e na delimitação do rico campo
científico da microbiologia. Entretanto, no que concerne ao modelo
de conhecimento e prática da investigação, o instituto fugia às
regras dominantes do saber na Academia e na escola médica francesa
o que provocou uma verdadeira revolução científica.
Com estatuto próprio e autonomia administrativo-financeira, o
instituto influenciou na criação, por todo o mundo, de estruturas
semelhantes. A segunda característica do Instituto Pasteur,
classificada como excêntrica por Benchimol (1990), era o fecundo
consórcio entre pesquisa, produção e ensino, tripé ao qual seria
agregado o hospital, selando as relações entre microbiologia e
medicina humana.
A medicina pasteuriana se revelara útil para os interesses
expansionistas da França, que criou instituições filiais em suas
colônias na África e no Oriente. Também outros países criaram
instituições assemelhadas para desenvolverem importantes pesquisas
sobre as doenças tropicais.
Portanto, como era de se esperar, a arquitetura também teve que
se desenvolver para acompanhar e atender as demandas da complexidade
da microbiologia como ciência.
Cabe aqui um parêntese para exemplificar a complexidade das
instalações físicas de instituições dedicadas ao vasto campo da
pesquisa, produção, ensino e assistência terapêutica em ciências
biológicas, demandando estudos de engenharia e arquitetura inéditos
17
para sua concepção e construção: a criação, em 1900, do Instituto de
Manguinhos, no Rio de Janeiro, posteriormente batizado de Instituto
Oswaldo Cruz em homenagem ao seu criador.
As semelhanças do instituto brasileiro com o Pasteur francês
são nítidas, mas a adoção do novo paradigma no Brasil, com a
institucionalização da medicina experimental, implicou na adaptação
às condicionantes locais no que se refere não apenas à realidade
geográfico-sócio-econômica do país, mas também à transposição de
obstáculos políticos e culturais ao reconhecimento da ciência e
tecnologia como alavancas do progresso de uma nação.
O Instituto Soroterápico de Manguinhos, fundado com o objetivo
principal de preparar e distribuir soro antes que a peste bubônica
chegasse ao Rio de Janeiro, vinda de Santos, seguia rigorosamente os
princípios da medicina experimental de Pasteur.
Suficientemente afastado do então centro urbano para minimizar
o risco que poderia advir do manuseio de material biológico
contaminante, o instituto ocupou, provisoriamente, as instalações da
Fazenda de Manguinhos. Seus laboratórios, inaugurados oficialmente
em 23 de julho de 1900, situavam-se sobre duas colinas, distantes
entre si aproximadamente 500 m. Numa colina, a mais alta,
localizava-se o laboratório para fabricação do soro e na outra, o
laboratório para cultura e preparo. Uma casa central e outras
construções anexas compunham o laboratório principal (OLIVEIRA,
2003).
O laboratório principal era constituído de ambiente único para
abrigar escritório e gabinete de microscopia na sala; no quarto ao
lado funcionavam os vestiários; a varanda da frente servia de
refeitório; entre as salas de visita e de jantar foram instalados
dois compartimentos separados por um corredor fazendo às vezes de
laboratório da peste e distribuição de soros e vacinas; a sala de
jantar, por sua vez, era um imenso laboratório comum, com mesas
revestidas de laca ou azulejos e providas de equipamentos tais como
tromba d’água e maçarico; em três cômodos distintos estavam
instalados o almoxarifado, a esterilização e a lavagem de vidrarias
junto com a preparação de meios de cultura; na varanda de trás uma
18
autoclave a carvão de pedra e um alambique. Havia ainda as cocheiras
e demais instalações de suporte para tratamento de animais e
obtenção dos soros através de sangria (BENCHIMOL, 1990).
Figura 1- Implantação original do Instituto Soroterápico
Fonte: DAD/FIOCRUZ
19
Figura 2 – Laboratório principal
Fonte: DAD/FIOCRUZ
Figura 3 – Interior do laboratório principal
Fonte: DAD/FIOCRUZ.
20
Posteriormente, as simplórias instalações, construídas em
caráter emergencial, foram substituídas por ambicioso projeto do
conjunto arquitetônico, concebido por jovem engenheiro português que
aceitou o desafio - Luiz de Morais Júnior - recebendo orientações do
próprio Oswaldo Cruz, materializando seu sonho. Foi um dos raros
artífices de seu tempo capaz de compreender as determinações da
medicina pasteuriana, criando soluções originais para as complexas
necessidades requeridas pelo laboratório, hospital e demais unidades
componentes, sem precedentes até então em nossa arquitetura. Sua
obra era pautada na dicotomia entre a exuberância decorativa das
fachadas e o despojamento dos interiores (BENCHIMOL, 1990), que
transparece sobremaneira no prédio principal do Instituto - o
castelo mourisco - contrastando a profusa decoração de alguns de
seus ambientes com a simplicidade de tantos outros, decorrente do
uso para qual o espaço era concebido. Os estuques e mosaicos são
constantes no hall e patamares, varanda e biblioteca, mas totalmente
ausentes nos laboratórios. Estes últimos eram caracterizados pela
mais absoluta funcionalidade, seguindo as rigorosas normas de
assepsia e desinfecção que, desde Pasteur, dominavam a arquitetura
biomédica.
Algumas destas normas, que tinham como objetivo neutralizar o
risco de contágio pelos morbígenos, eram até mesmo anteriores a
Pasteur, especialmente as que ditavam a facilitação da circulação do
ar. Segundo esta lógica, a localização dos laboratórios nos
pavimentos de maior direito e a disposição de grandes janelas,
demonstravam a preocupação com o arejamento do ambiente, assim como
as paredes lisas e desprovidas de ornamentos, cujos cantos com
acabamento arredondado denotavam a preocupação de impedir o acúmulo
de poeiras e contaminantes.
É importante ressaltar a dimensão arquitetônica do complexo
instalado em Manguinhos, para o qual foram concebidos detalhados
projetos para abrigar: a cavalaria destinada às inoculações
virulentas e outras operações com animais de grande porte visando a
obtenção de soros, provida de sistemas automatizados e instalações
engenhosas tanto do ponto de vista da assepsia e até mesmo ambiental
com o aproveitamento dos refugos animais; o pavilhão da peste para
21
preparação do soro antipestoso com isolamento de todas as atividades
relativas ao bacilo da peste; o pavilhão de medicamentos oficiais; o
aquário com piscinas para cultura de animais de água doce e salgada,
esta última em contato direto com o mar; o pombal, biotério para
pequenos animais; e também o hospital. Mas os laboratórios do prédio
principal foram concebidos e construídos de maneira relevante
considerando, em termos arquitetônicos, os meios para abrigar toda a
tecnologia disponível à época: sistema elétrico independente;
sistema de fechamento automático contra a luz exterior na sala de
projeções; bomba de sucção de poeira em ramificado por todos
laboratórios; sistema telefônico e sistema radiotelegráfico
4
;
ozonificador de água; aparelhos para registro de temperatura de
todas as dependências; termômetros elétricos capazes de acionar
campainhas, bombas, ventiladores, etc, conforme leituras
registradas; e, sistema de refrigeração (BENCHIMOL, 1990).
O advento da microbiologia pasteuriana demandou respostas
através de nova concepção arquitetônica visando a mais completa
possível esterilização dos ambientes de trabalho destinados a
abrigar os estudos e a terapêutica das doenças quanto aos agentes
biológicos.
1.4 Biossegurança: conceito e abrangência
Os riscos, de forma geral, permeiam o ambiente ocupacional.
em 1700, o médico italiano Ramazzini catalogou uma série de doenças
após acrescentar à anamnese médica a pergunta: – Qual é a sua arte?,
estabelecendo o nexo causal entre ofícios e patologias.
Com a Revolução Industrial e o estabelecimento das relações
entre capital e trabalho, alguns setores organizados da sociedade
começam a perceber a existência de doenças relacionadas à atividade
laboral, devidas principalmente à exploração social do trabalho e
submissão dos trabalhadores a condições extremamente adversas,
insalubres e perigosas.
4
Ainda antes da construção do complexo de Manguinhos, em 1905, quando o telégrafo
anunciou o aparecimento do cólera morbus em Hamburgo, cidade com a qual o Rio de
Janeiro mantinha relações portuárias, o então Instituto Soroterápico foi colocado
sob prontidão para enfrentar a doença com os mesmos processos empregados na
Alemanha (Benchimol, 1990).
22
Numa lenta evolução histórica iniciada na Inglaterra, a saúde
ocupacional relacionada com a segurança no local do trabalho tem
sido objeto de disciplina através de atos legais. Não obstante,
embora a maioria dos estudos nas áreas de higiene e segurança
ocupacional aponte que as condições de trabalho nas organizações
estejam melhores, muitos problemas básicos ainda permanecem. Vários
empregadores só se conscientizam da insalubridade no local de
trabalho quando a legislação os obriga a adotar medidas para seu
controle e, mesmo em sociedades ocidentais desenvolvidas, acidentes
e doenças ocupacionais continuam a ceifar alarmante parcela da vida
humana (MORGAN, 1996).
No Brasil, a questão da saúde e segurança no trabalho também é
disciplinada por leis e atos normativos. No tocante ao
reconhecimento dos riscos, em particular, cabe ressaltar a
legislação do Ministério do Trabalho e Emprego, notadamente a Norma
Regulamentadora nº 9 NR 9 (BRASIL, 1995), estabelecida na Portaria
3214/78 do Ministério do Trabalho (BRASIL, 1978), sobre as
definições legais dos agentes potenciais de risco à saúde do
trabalhador relativos a cada área de atividade, classificados em
riscos físicos, químicos e biológicos, estes últimos complementados
pela Norma Regulamentadora 32 NR 32 (BRASIL, 2005). Agentes
físicos são as diversas formas de energia a que possam estar
expostos os trabalhadores, tais como ruídos, vibrações, temperaturas
anormais, pressões anormais, radiações ionizantes, radiações não-
ionizantes, bem como o infra-som e o ultra-som; como agentes
químicos tem-se as substâncias, compostos ou produtos que possam
penetrar no organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras,
fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que, pela natureza da
atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvidos pelo
organismo através da pele ou por ingestão; agentes biológicos são as
bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus, príons e
organismos geneticamente modificados, entre outros.
O trabalho em laboratório envolve diversos riscos além daqueles
associados aos riscos biológicos. Quer sejam estes ambientes
destinados ao ensino e pesquisa (HIRATA,R.D., 2002) como também à
área de saúde (HIRATA,M.H., 2002), os riscos biológicos estão
23
coadunados aos riscos químicos e físicos, bem como a fatores de
origem ergonômica e mecânica que podem causar patologias ou provocar
acidentes.
Rapparini e Cardo (2004) lembram que, embora Ramazzini tenha
feito referência aos riscos biológicos em sua obra, somente no
início do século XX esta questão passa a ser considerada de forma
sistematizada entre os profissionais de saúde como um problema
ocupacional. Na década de 40 são realizados os primeiros
levantamentos de casos de infecções bacterianas relacionados com o
trabalho em laboratório, sendo mais conhecidos os estudos de Sulkin
e de Pike (TEIXEIRA, 1996 e 2003). Mas é na década de 70 que surgem
as primeiras normatizações e diretrizes sobre os aspectos de
prevenção em atividades realizadas em serviços de saúde, a partir
das publicações do Center for Diseases Control and Prevention CDC,
nos Estados Unidos (RAPPARINI; CARDO, 2004). Em 1983, a Organização
Mundial de Saúde - OMS, reconhecendo os perigos representados pelos
agentes biológicos lançou a primeira versão de seu manual sobre
biossegurança, incentivando que fossem implementadas regras, em
nível local, para a manipulação de microorganismos patogênicos em
laboratórios.
É neste contexto que a biossegurança se destaca como
disciplina, conceituada no âmbito da Comissão Técnica de
Biossegurança da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ, 2005) em sentido
lato como:
[...] o conjunto de saberes direcionados para ações de prevenção,
minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa,
produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, as
quais possam comprometer a saúde do Homem, dos animais, das plantas e do
ambiente ou a qualidade dos trabalhos desenvolvidos.
Os agentes biológicos são agrupados em quatro diferentes
classes de risco, crescentes segundo os perigos de infecção que
apresentam e resumidas no Quadro 1 - Classificação de risco dos
agentes patogênicos. Tal classificação diz respeito ao trabalho em
laboratório (WHO, 2004) considerando critérios como a patogenicidade
para o homem, o modo de transmissão, a endemicidade e a existência
ou não de profilaxia e de terapêutica eficazes.
24
Quadro 1 - Classificação de risco dos agentes patogênicos
Classe de risco
Descrição
Risco 1
Baixo risco individual e comunitári
o. Microorganismos que não
causam doenças ao homem ou a animais.
Risco 2
Moderado risco individual e baixo risco comunitário. Patógenos
que provocam doenças em humanos ou animais, embora não
representam um sério risco para quem os manipula, para a
comun
idade ou o ambiente. As exposições em laboratórios podem
causar infecções graves, mas tratamento efetivo e medidas de
prevenção são disponíveis; o risco de disseminação da infecção é
limitado.
Risco 3
Elevado risco individual e baixo risco comunitário.
Patógenos
que geralmente causam doenças graves ao homem e aos animais, mas
que não se disseminam de um indivíduo infectado para outro de
forma imediata; há medidas de prevenção e tratamento.
Risco 4
Patógenos que podem causar graves doenças no ser huma
no ou em
animais, transmitindo-
se de um indivíduo para outro direta ou
indiretamente e com muita facilidade; geralmente não medidas
de prevenção e tratamento efetivas.
Fonte: WHO (2004)
Os avanços científicos e tecnológicos contribuíram para a
redução da prevalência de determinadas doenças infecto-contagiosas,
mas, em contrapartida, trouxeram novos riscos de origem tecnológica
envolvendo agentes químicos e radioativos e, ainda, a engenharia
genética. De fato, o entendimento atual do termo risco nas
sociedades modernas ocidentais traz consigo a possibilidade de
prever situações por meio do conhecimento. Originalmente, o termo
risco é acompanhado por incertezas e pelo desafio de controlar as
gerações futuras. Desta forma, as descobertas científicas trazem
consigo a missão de serem convertidas em impactos benéficos sobre a
vida, mas também podem embutir um paradoxo, na medida em que o fator
da descoberta pode ser acompanhado de riscos aentão desconhecidos
(FREITAS, 2003).
Mastroeni (2004) denomina como Era Microbiológica os avanços e
desenvolvimento das atividades biológicas que geram risco à saúde,
marcada por quatro momentos históricos: a redução da incidência da
infecção hospitalar com medidas de higiene e limpeza, por Florence
Nightingale, em 1863; o fim da teoria da geração espontânea por
Louis Pasteur, em 1864; a anti-sepsia com fenol empregada por Joseph
Lister, em 1867; e a demonstração por Robert Koch de que uma doença
25
infecciosa específica é causada por um microorganismo específico, em
1876.
O autor ressalta que a evolução dos conhecimentos científico e
tecnológico nos últimos 40 anos, após ter sido desvendada a
constituição do DNA, marca o início da Era Genética, trazendo para
as ciências biológicas grandes avanços através do uso e aplicação na
pesquisa e na produção das técnicas da engenharia genética e da
biologia molecular. A aplicação de tais técnicas levou à necessidade
do debate de biossegurança, tema fundamental na área de saúde.
Segundo Mastroeni (2004, p.2):
[...] o conceito de biossegurança vem sendo cada vez mais difundido e
valorizado, na medida em que o entendimento da responsabilidade do
profissional... não se limita às ações de prevenção de riscos derivados
de sua atividade específica, mas também do colega que labuta ao seu
lado... Além disso, todo o meio ambiente que o circunda e a comunidade
onde está localizada a instituição devem ser considerados espaços
importantes a serem preservados e protegidos de ameaças e riscos.
Vale ressaltar que tal conceito em biossegurança envolve tanto
os agentes biológicos manipulados naquilo que se caracteriza como
Era Microbiológica, como aqueles agentes perigosos que permeiam o
trabalho dos cientistas na Era Genética.
A esse respeito, é conveniente lembrar Simons (1991), que
recomenda grafar o termo riscos biológicos no plural, não como uma
simples questão de ortografia. Significa uma distinção.
No singular, risco biológico simboliza a finalidade e
vicissitudes de todo o ser vivo, colocado em equilíbrio instável no
ambiente, expressão de fenômeno mais belo e exultante a vida. O
risco biológico, por definição, é inevitável.
o termo riscos biológicos, no plural, revela que são fruto
ou conseqüência da atividade humana. Ao contrário dos riscos
químicos e físicos, são difíceis de serem avaliados. Qualquer que
seja a problemática experimental, até o presente estágio do
conhecimento humano, os riscos biológicos estão sempre vinculados ao
agente biológico empregado. Mas isto não significa que sempre será
assim, havendo dois tipos de riscos biológicos: os objetivos, mais
ou menos conhecidos e prováveis; e os potenciais, conhecidos e
desconhecidos, de baixa probabilidade, mas não de todo nulos. Como
26
ponderou Freitas (2003), o risco reflete a dinâmica de uma sociedade
propensa à mudança, que deseja regular seu próprio futuro,
submetendo-o ao seu domínio. As tentativas de se controlar os riscos
com base na crescente cientificação e tecnificação têm sido por
vezes não insuficientes como também têm apresentado efeitos
colaterais não desejados ou previstos.
1.4.1 Riscos químicos
Os riscos químicos, na área da saúde, estão associados,
principalmente, a agentes químicos utilizados em laboratórios como
reagentes, resíduos de mercúrio e de outros metais pesados,
medicamentos, gases medicinais e até mesmo produtos químicos
utilizados em manutenção, conforme se pode constatar pessoalmente
(VIEIRA, 2004b). Tais substâncias podem apresentar periculosidade
devido às características físico-químicas que lhes conferem
inflamabilidade, corrosividade, toxicidade e reatividade. A presença
e manipulação de substâncias químicas perigosas no ambiente de
trabalho devem ser consideradas nos programas de necessidades
relativos aos projetos de laboratório uma vez que potencialmente
irão influenciar nas decisões projetuais relacionadas,
principalmente, a leiaute, condições de armazenamento, de
ventilação, instalações hidro-sanitárias e características dos
materiais de revestimento de superfícies.
1.4.2 Transmissão de energia: riscos físicos
Nos laboratórios de pesquisa, as técnicas de investigação
demandam a utilização de materiais e equipamentos que representam
riscos físicos, alguns deles bastante danosos ao organismo humano, e
mesmo ao ambiente, se manipulados sem as devidas medidas de
prevenção e contenção, sendo freqüentes os riscos associados ao
ruído, temperaturas extremas e às radiações ionizantes e não-
ionizantes.
Muitos dos impactos causados pelos agentes físicos têm sido
objeto de estudo no âmbito da saúde do trabalhador, de forma que
foram estabelecidos limites de exposição para as pessoas que são
27
submetidas a tais riscos. Os limites o mensurados através de
grandezas físicas.
O projeto de laboratório deve, a partir do reconhecimento da
presença e potencial de dano de tais riscos, ser elaborado com o
objetivo de contê-los, minimizando as exposições ocupacionais e
ambientais.
É freqüente encontrar-se na literatura específica a distinção
dos riscos radiológicos dos demais agentes físicos perigosos. Isto
ocorre em função da manipulação, nos laboratórios de pesquisa de
base biológica, de radiosótopos como fontes não seladas
5
, demandando
cuidados na elaboração de projetos para ambientes deste tipo,
havendo estudos específicos sobre o assunto como o desenvolvido por
Lapa (2005) em laboratórios de pesquisa do Instituto Oswaldo Cruz,
da Fundação Oswaldo Cruz.
Alguns dos agentes de risco físico, embora presentes no
ambiente de laboratório, não se constituem em riscos ambientais.
Entretanto devem ser considerados no âmbito dos estudos ergonômicos
e dos perigos de acidentes de origem mecânica. É importante
ressaltar que esta análise deve ser feita a partir da identificação
e reconhecimento dos riscos, seguida de avaliação quantitativa e
adoção de medidas de controle.
1.4.3 Riscos ergonômicos e riscos de acidentes
Destinada a abordar os aspectos da atividade humana de forma
sistêmica, a ergonomia contribui para o planejamento, o projeto e a
avaliação das atividades e locais de trabalho, produtos, ambientes e
sistemas de modo a torná-los compatíveis com as necessidades,
habilidades e limitações humanas.
A dimensão ergonômica implica na compreensão integrada dos
fenômenos que permeiam as atividades de trabalho, desde os físicos e
cognitivos até os sociais, organizacionais e ambientais.
5
As fontes não-seladas são aquelas cuja forma física e condições normais de uso não
permitem prevenir todas as formas de dispersão do material radioativo para o
ambiente.
28
Os parâmetros que dizem respeito às condições ergonômicas são
abordados na Norma Regulamentadora 17 NR 17, do MTE, que trata
da adaptação das condições de trabalho às características
psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um
máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente” (BRASIL,
2007)
6
.
São considerados riscos ergonômicos: esforço físico intenso;
posturas inadequadas de trabalho; trabalho em turno e noturno;
jornadas de trabalho prolongadas; monotonia e repetitividade e
condições ambientais que podem provocar desconforto (temperatura,
ventilação, iluminação e ruído) entre outras situações causadoras de
estresse físico e psíquico.
É oportuno ressaltar que a NR 17, sobre Ergonomia, fixa
condições mínimas de conforto ambiental para laboratório, citado
como exemplo de ambiente onde o trabalho requer esforço intelectual.
Em laboratórios biomédicos, cabe também destacar as situações
de estresse causadas pela própria natureza das atividades e dos
riscos a elas inerentes, especialmente nos laboratórios de maior
contenção biológica. Além da exigência intelectual e atenção
constante que o trabalho demanda, as atividades desenvolvidas
freqüentemente consistem em atos repetitivos e de longa duração, em
ou sentado, podendo exigir postura corporal inadequada (VIEIRA;
LAPA, 2006), conforme já se pode constatar no âmbito da prevenção
dos riscos em laboratórios. Associadas à necessidade de atenção e
concentração pela natureza dos riscos envolvidos, as tarefas são
caracterizadas pela repetição de movimentos que implicam em posturas
estáticas e envolvem principalmente a musculatura cervical e dorsal.
Nos laboratórios pode haver, ainda, acidentes de cunho
mecânico, cujas causas são atribuídas principalmente a arranjo
físico inadequado; máquinas e equipamentos sem proteção; utilização
de equipamentos inapropriados ou defeituosos; iluminação
insuficiente; sobrecarga elétrica; probabilidade de incêndio e
explosão; armazenamento inadequado; animais peçonhentos (trabalho de
campo) e outras situações de risco que poderão contribuir para a
6
A data de 2007 corresponde à última alteração da NR 17.
29
ocorrência de acidentes como, por exemplo, ausência de sinalização
de advertência.
As atividades laboratoriais devem ser previamente planejadas e
executadas em ambiente seguro, considerando o estado de conservação
das instalações, os locais de armazenamento, as condições
operacionais dos equipamentos, o mobiliário, as circulações e outros
fatores que possibilitem a realização do trabalho de forma
confortável e produtiva (HIRATA,R.D., 2002).
1.4.4 Riscos biológicos e princípios de biossegurança
A evolução das ciências biológicas após as descobertas de
Pasteur é inegável, com a busca de respostas na engenharia genética
para a solução de problemas relacionados a doenças infecto-
contagiosas ou não, sem cura até os dias atuais.
Biossegurança refere-se à aplicação do conhecimento, técnicas e
equipamentos, com a finalidade de minimizar a exposição do
trabalhador e do ambiente aos agentes perigosos, além de garantir a
boa qualidade dos trabalhos desenvolvidos. A biossegurança,
basicamente, define sob quais condições os agentes biológicos podem
ser seguramente manipulados e contidos, apoiada em três elementos
fundamentais: as técnicas e práticas, os equipamentos de segurança
coletivos e individuais e o projeto de arquitetura e engenharia das
instalações laboratoriais (BRASIL, 2000).
Os três mecanismos estão diretamente relacionados com a
contenção do agente biológico perigoso. O objetivo da contenção é
reduzir a exposição da equipe de laboratório, de outras pessoas
indiretamente envolvidas nas atividades e do ambiente em geral aos
agentes patogênicos.
A contenção deve ser considerada em dois níveis distintos:
contenção primária e contenção secundária.
A contenção primária objetiva a proteção da equipe de
laboratório e do meio de trabalho e está assentada em dois
elementos: as boas práticas e técnicas e uso de equipamentos de
proteção coletiva e individual adequados.
30
Em contrapartida, a contenção secundária visa a proteção do
meio externo ao local onde são manuseados os agentes infecciosos,
sendo que também está assentada em dois elementos: as boas práticas
e técnicas e o projeto de arquitetura e de engenharia da instalação.
Assim, conclui-se que os princípios de contenção primária e
secundária constituem um trinômio composto por elementos-chave: as
boas práticas e técnicas (procedimentos); o adequado provimento e
uso de equipamentos de proteção individual e coletiva e o projeto de
arquitetura. Em estudo sobre avaliação de desempenho de laboratórios
de pesquisa biológica, pode-se apresentar esta idéia com o uso do
pictograma o Ciclo da contenção, conforme a Figura 4 (VIEIRA et al.,
2004).
Figura 4 – Ciclo da contenção
Adaptado de: Vieira et al. (2004)
Atualmente, não se pode deixar de prescindir do conceito de
biosseguridade
7
quando se considera o projeto de laboratórios. O
termo foi recentemente incorporado à literatura haja vista a
potencialidade de emprego de agentes patogênicos como arma
biológica, destacando-se bem recentemente o episódio envolvendo os
esporos de anthrax nos Estados Unidos e sua repercussão no nosso
país. Enquanto biossegurança está diretamente identificada com os
princípios de contenção relacionados às exposições e contaminações
7
O termo biosseguridade tem sido empregado na língua portuguesa como tradução do
inglês biosecurity.
Equipam
entos
Procedimentos
Instalações físicas
31
ambientais acidentais, a biosseguridade refere-se às medidas de
segurança institucionais e individuais para prevenção da perda,
roubo, uso indevido ou liberação intencional de patógenos e toxinas
no ambiente (WHO, 2004). Os fundamentos da biosseguridade são as
práticas de biossegurança, requerendo, portanto, instalações
adequadas pelo provimento de barreiras arquitetônicas.
1.5 Biossegurança em laboratórios e arquitetura
O trinômio procedimentos–equipamentos de proteção–projeto das
instalações que compõem os dois princípios de contenção primária e
secundária em biossegurança denota por si a importância do
adequado projeto de arquitetura para o funcionamento dos
laboratórios com atingimento dos níveis desejados de proteção
individual, coletiva, saúde ambiental e qualidade dos trabalhos de
pesquisa biológica.
O primeiro fato, e o mais evidente deles, é que biossegurança
em laboratórios está diretamente relacionada à arquitetura, em
termos conceituais, pois somente um projeto espacialmente adequado
poderá fornecer a contenção secundária, um dos princípios da
biossegurança, de acordo com os perigos oferecidos pelo agente
patogênico em questão.
Mas não podemos deixar de considerar, como segundo item, o
primordial papel que a arquitetura desempenha quando considera, no
processo projetual, a questão da instalação dos equipamentos de
proteção coletiva, posto que os mesmos só terão o desempenho
adequado se atenderem a determinados requisitos de uso, operação e
manutenção da instalação.
O terceiro ponto do trinômio no qual se assenta a biossegurança
não é de menor importância arquitetônica porque as boas técnicas
laboratoriais serão tanto mais bem executadas quanto mais
adequadamente estiverem planejados os laboratórios.
É interessante se notar que neste trinômio as variáveis que o
compõem não são nem fixas nem absolutas. Assim, procedimentos
adicionais podem ser necessários para suprir eventuais condições não
32
oferecidas no que diz respeito aos requisitos de instalações físicas
oferecidas, ou então a demanda de medidas adicionais de
biossegurança por insuficiência de adequação das instalações físicas
pode recair sobre a utilização de equipamentos complementares de
proteção.
Portanto, fica patente que quanto mais o projeto de
arquitetura contemplar as questões e fundamentos específicos de
biossegurança, melhor será o uso e operação da instalação
laboratorial. Mais valorado ainda deve ser o projeto nos tempos da
Era Genética, onde os riscos biológicos são potenciais, porém não
ainda estabelecidos de acordo com o atual estágio do conhecimento
humano.
O saber e tecnologia médicos herdados da revolução pasteuriana
contribuíram para reformular os modelos clássicos de arquitetura
hospitalar então vigentes. A noção de contágio, as práticas e
tecnologias médico-terapêuticas e a experimentação estabelecem a
busca por soluções espaciais e parâmetros construtivos condizentes
com a nova realidade.
À especialização que advém do modelo pasteuriano que inaugurou
a Era Microbiológica exige-se correspondente espacialização,
desenvolvida no seio da arquitetura e engenharia em resposta às
novas demandas científicas das ciências médicas.
Ainda trilhando na busca por avanços científicos no campo da
microbiologia para desvendar novas patologias causadas por agentes
biológicos que se revelam ao homem a cada instante, os pesquisadores
ingressaram na Era Genética da ciência, com o uso e aplicação da
engenharia genética e das técnicas de biologia molecular,
demonstrando toda a sua vontade de manipular e dominar o ambiente
natural e a própria vida. Ao desafiar e tentar subjugar a natureza,
entretanto, o homem passa a ser responsável pela geração de seus
próprios males.
Assim, a promoção da saúde ocupacional e ambiental torna-se um
grande desafio para aqueles envolvidos no projeto arquitetônico de
ambientes destinados à pesquisa envolvendo agentes patogênicos e
33
engenharia genética. A antecipação e o reconhecimento de cada um dos
fatores de risco deve fazer parte do processo do projeto de
arquitetura, bem como deve ser considerado como tais riscos podem
afetar o ambiente construído e o ambiente externo. A contenção dos
riscos, para qual a arquitetura desempenha um papel-chave,
proporciona condições ocupacionais no que diz respeito à segurança e
saúde dos trabalhadores e do ambiente e também contribui para a
credibilidade dos resultados das pesquisas.
Fica evidente que no projeto de arquitetura de instalações
próprias à pesquisa de base biológica é fundamental o emprego do
conceito de biossegurança, considerando-se o trinômio: saúde e
segurança ocupacionais, ambiente e qualidade de trabalho.
Capítulo II
Arquitetura de laboratórios NB3
Os laboratórios onde são desenvolvidas atividades envolvendo
material biológico devem ser projetados e construídos à luz da
variável biossegurança. As designações do nível de biossegurança são
baseadas em composições que consideram as características de projeto
e construção, as barreiras de contenção, equipamentos de segurança
individual e coletiva e, ainda, os procedimentos de boas práticas e
técnicas laboratoriais.
Numa categorização construída em função das barreiras físicas e
protocolares aplicadas e obedecendo, ainda, o gradiente de risco
biológico, os laboratórios são designados como básicos nos casos que
requerem níveis de biossegurança 1 e 2 (NB1 e NB2), de contenção no
nível de biossegurança 3 (NB3), e de contenção máxima quando o nível
de biossegurança 4 (NB4) é exigido, conforme explicitado no Quadro 2
Classes de risco biológico e níveis de biossegurança laboratorial
(WHO, 2004).
Quadro 2 – Classes de risco biológico e níveis de biossegurança laboratorial
Classe de risco Nível de biossegurança Tipo de laboratório
1 Básico
Nível de biossegurança 1 – NB1
Laboratórios básicos de
ensino e pesquisa.
2 Básico
Nível de biossegurança 2 – NB2
Laboratórios clínicos;
laboratórios de serviços
de diagnóstico e
pesquisa.
3 Contenção
Nível de biossegurança 3 – NB3
Laboratórios de
diagnóstico e pesquisa
especiais.
4 Contenção máxima
Nível de biossegurança 4 – NB4
Unidades de agentes
patogênicos perigosos.
Fonte: adaptado de WHO, 2004
35
A classe de risco é uma das referências para determinar o nível
de contenção que será requerido na manipulação de agente patogênico
específico, mas segundo a Organização Mundial de Saúde - OMS, a
escolha do nível de biossegurança deve ser precedida de uma
avaliação que considere também as potencialidades do risco (WHO,
2004).
A determinação do nível de biossegurança deve ser efetuada em
função das tarefas que serão executadas e dependem de julgamento
profissional especializado, não devendo ser realizada somente pela
relação direta entre classe de risco biológico em correspondência
com respectivo nível de biossegurança. A este respeito Pessoa e Lapa
(2003, p.231-2) destacam que a:
[...] execução dos trabalhos em laboratório obedece a um gradiente de
risco, de acordo com as características dos agentes microbiológicos
manipulados... Todos os profissionais envolvidos nas atividades
laboratoriais devem estar conscientes dos riscos a que estão expostos, a
fim de adotarem procedimentos de segurança na sua rotina de trabalho. O
layout e as instalações são importantes no provimento de barreiras para
proteção dos trabalhadores, da comunidade, do meio ambiente e do próprio
trabalho contra a liberação acidental de agentes infecciosos.
A OMS recomenda que a classificação de risco dos
microorganismos deve ser feita de acordo com a realidade local,
considerando a patogenicidade do organismo; os modos de transmissão
e hospedeiros; avaliação das medidas preventivas efetivamente
disponíveis; e, avaliação de tratamento efetivamente disponível.
Da mesma forma, a determinação do nível de biossegurança
laboratorial requerido para manipulação de um agente biológico
específico deve ser precedida de avaliação de risco que contemple a
patogenicidade e dose para infecção; potenciais conseqüências da
exposição; rotas de exposição resultantes das manipulações
laboratoriais (parenteral, inalação e ingestão); estabilidade do
agente patogênico no ambiente; concentração e volume de manipulação;
presença de hospedeiro (humano ou animal); epidemiologia;
planejamento das atividades de laboratório; a realização ou não de
manipulação genética; e, possibilidade de efetiva intervenção
profilática e terapêutica.
36
A antecipação e reconhecimento dos riscos no ambiente de
trabalho em contenção biológica são fundamentais durante a fase de
concepção do projeto de arquitetura, pois é neste momento que grande
parte dos problemas pode ser detectada a fim de viabilizar a
adequada execução de atividades. Conforme já se constatou durante
estudo realizado sobre a avaliação de desempenho de instalações de
pesquisa, estes fatores tornam-se mais relevantes em espaços
destinados a laboratórios de pesquisa biológica pela necessidade de
se agregar aos mesmos os princípios e diretrizes de biossegurança,
considerando-se o trinômio: saúde e segurança ocupacionais, ambiente
e qualidade de trabalho (VIEIRA et al., 2004).
No Quadro 3 – Requisitos para área física e instalações – estão
apresentadas, resumidamente, as diretrizes que devem nortear os
projetos de laboratórios com níveis de biossegurança de 1 a 4.
Em biossegurança, a contenção tem por finalidade reduzir a
exposição de trabalhadores aos agentes potencialmente perigosos
empregados nas atividades laboratoriais, bem como evitar que tais
agentes alcancem o ambiente externo, oferecendo risco de transmissão
de doenças.
Os laboratórios classificados como NB3 também são designados
como laboratórios de contenção, numa alusão à contenção biológica
propiciada por estes ambientes de maneira que agentes de risco
patogênico sejam manipulados de forma segura para as equipes de
trabalho, sem comprometer o ambiente externo e asseverando que os
resultados das pesquisas desenvolvidas tenham a qualidade desejada.
37
Quadro 3 - Resumo dos requisitos para área física e instalações conforme o
Nível de Biossegurança (NB1 a NB4)
Requisito NB1
NB2
NB3
NB4
Sinalização com símbolo de risco biológico
R O O O
Laboratório separado de passagens públicas
R O O O
Laboratório com acesso
- controlado
- restrito
R
-
O
-
-
R
-
O
Lavatório para os próximo à entrada/saída do laboratório
O O O O
Torneira com acionamento sem o uso das mãos
- R O O
Ventilação mecânica, sem recirculação do ar para outras áreas
- R O O
Filtro HEPA nas saídas de ar
- - R* O
Pressão negativa
- - O O
Antecâmara
- com lavatório e local para jalecos
- dotada de portas com intertravamento
- com chuveiro
- pressurizada com chuveiro
-
-
-
-
R*
-
-
-
R*
O
R*
-
-
O
-
O
Paredes, tetos e piso lisos, impermeáveis e resistentes à
desinfecção
R O O O
Tratamento de efluentes
- - R* O
Sistema de geração de emergência de energia elétrica
- R* O O
Selagem/vedação de frestas nas paredes, tetos, piso e demais
superfícies
- - O O
Cabine de Segurança Biológica (CSB) - R**
O O
Autoclave
-próxima ao laboratório
-no laboratório
-dupla porta
O
-
-
O
-
-
O
R
R
-
O
O
Legenda: R – Recomendável; O – Obrigatório; Filtro HEPA: retém partículas 0,3µm.
*A adoção de barreiras adicionais, tais como antecâmaras, chuveiros, tratamento
(descontaminação) de efluentes e filtros HEPA na exaustão do ar deve ser
determinada pela avaliação de risco biológico e possíveis impactos no entorno.
A avaliação de risco deve preceder a determinação dos veis de biossegurança e
medidas de contenção a serem adotadas, considerando, além do perigo potencial do
agente, as atividades do laboratório e as condicionantes locais.
A concepção de ambientes laboratoriais deve ter por princípio a facilidade de
limpeza, descontaminação e manutenção.
**Obrigatória nos casos em que há potencial geração de aerossóis.
Fonte: FIOCRUZ (2005)
38
As suas características serão descritas a seguir, a partir de
requisitos para concepção física, levantados em pesquisa
bibliográfica. Os critérios identificados são: o leiaute deste tipo
de instalação, as cinco matrizes conceituais de referência para
projeto de laboratórios de risco biológico propostas pela agência
canadense de saúde pública e os requisitos regulatórios brasileiros
de conforto ambiental.
2.1 Localização e acesso
A localização do laboratório na edificação, bem como o acesso
às instalações do NB3, estão entre os principais fatores que devem
ser contemplados no projeto de arquitetura
8
. A localização apropriada
auxilia no controle do ambiente, devendo considerar, também, a
setorização estratégica das demais áreas que compõem o apoio do
laboratório, que devem ser projetadas segundo um gradiente de risco
e potencial de contaminação. O Quadro 4 Matriz de localização e
acesso de laboratórios NB3 - destaca os itens relevantes para este
tipo de ambiente.
Os laboratórios NB3 devem atender requisitos mínimos para
garantia da contenção biológica, em nível primário e secundário.
Alguns mecanismos de barreira são utilizados através do controle da
ventilação porque a via pulmonar é um dos meios mais importantes de
contaminação do homem no ambiente de trabalho e fora dele.
De acordo Gaillardin (1993) o vel de penetração das
partículas pelo trato respiratório varia de acordo com a dimensão
das poeiras e aerossóis. O autor ressalta que as partículas menores
que 10 µm se depositam nos alvéolos pulmonares, tornando-se muito
perigosas, pois nesta dimensão estão inclusos os agentes patogênicos
tais como vírus e bactérias em geral. Portanto, o controle da
variável ventilação é considerado como um meio vital na prevenção de
transmissão de doenças via aerossol.
8
Pessoa (2006) desenvolveu tese intitulada Impacto das condicionantes locacionais e
a importância da arquitetura no projeto de laboratórios de pesquisas biomédicas
pertencentes às classes de risco 2, 3 e 4 sob a ótica da biossegurança, onde aborda
a questão de localização de tais instalações.
39
Quadro 4 – Matriz de localização e acesso de laboratórios NB3
Requisito Recomendado
Obrigatório
1. Laboratório afastado de áreas de circulação
pública
2. Acesso limitado a pessoal autorizado
3. Sinalização de segurança nas portas da área
de contenção
4. Aberturas planejadas para permitir a
passagem de equipamentos
5. Portas de acesso providas de tranca
6. Portas de acesso providas de s
istema de
controle
7. Sistema eletrônico de acesso com
redundância
8. Escritórios fora da área de contenção
9. Antecâmara para acesso à área de contenção
10. Intertravamento das portas da antecâmara,
aceitando-se soluções visuais, sonoras o
u
protocolares para evitar que as portas sejam
abertas simultaneamente
11. Sistema emergencial de abertura manual das
portas da antecâmara nos casos em que for
adotado intertravamento
12. Vestiário para paramentação da equipe com
separação de áreas
(não contaminada e
contaminada), a depender de avaliação local de
risco
13. Chuveiro na antecâmara
14. Áreas de contenção localizadas nas
proximidades dos sistemas mecânicos para fins
de minimizar os riscos de contaminação das
instalações
15.
Áreas de contenção afastadas das paredes
do envelope externo da edificação
16. Laboratório de apoio adjacente à área de
contenção
Adaptado de: FIOCRUZ (2005), Canada (2004) e WHO (2004)
As amostras biológicas devem ser necessariamente manipuladas em
CSB, equipamentos que, através de um fluxo de ar contínuo, formam
uma barreira entre o operador e a fonte de contaminação. O ar de
exaustão é filtrado através de filtros HEPA
9
de alta eficiência para
9
HEPA é a sigla para High efficiency particulate air e refere-se a filtros capazes
de reter materiais particulados de dimensões mínimas, inclusive patógenos.
40
partículas aéreas. Tais filtros não têm nenhum efeito sobre gases,
mas são eficientes na retenção de 99,97 % das partículas de 0,3µm ou
maiores. Seu uso permite criar áreas de trabalho chamadas áreas
limpas, caracterizadas por terem um número máximo de partículas em
suspensão por volume de ar. Nos equipamentos para aplicações
biológicas, o ar que passa pelos filtros HEPA é classificado como
classe 100 de limpeza, isto é, tem, no máximo, 100 partículas de
0,5µm por cúbico de ar, ou 3.530 partículas por metro cúbico de
ar.
A garantia de que o equipamento funcionará corretamente,
oferecendo a proteção esperada, está condicionada a, dentre outros
requisitos:
Instalação adequada do equipamento;
Adequação do ambiente do laboratório às características
do equipamento;
Contenção em nível secundário através de projeto de
arquitetura e engenharia.
As barreiras primárias procuram separar o ambiente junto à
fonte de risco (material biológico), do restante do laboratório ou
do trabalhador, as secundárias separam o laboratório do ambiente
externo. Entretanto é de suma importância que o projeto das
instalações físicas, entendido como barreira secundária, contemple
adequadamente a instalação dos equipamentos de contenção primária de
proteção coletiva - as cabines de segurança biológica.
2.2 Perímetro de contenção
A denominação perímetro de contenção é referência a todos os
meios empregados para delimitar a área do ambiente NB3 do seu
entorno, assegurando a contenção ambiental através de barreiras
primárias e secundárias. Em termos práticos, significa dizer que o
perímetro de uma instalação NB3 deve dispor de meios que assegure a
descontaminação de todos os materiais que deixam o laboratório, o
que levou um profissional a afirmar que só o pesquisador “sai vivo”
41
de instalações desta natureza
10
. Desta forma, a superfície que limita
o volume de contenção, ou o invólucro do laboratório NB3, deve
dispor de meios para que todos os materiais possam ser física ou
quimicamente descontaminados antes de deixar o ambiente, destacando-
se os locais de comunicação direta entre interior e exterior da área
de contenção como pontos críticos do projeto: exaustão de ar,
tratamento de efluentes líquidos, tratamento de resíduos sólidos,
guichê de passagem e antecâmara. Além destas zonas de controle, a
estanqueidade do ambiente é obtida pela observância dos
detalhamentos que devem acompanhar o projeto executivo e pelo rigor
na execução dos acabamentos.
O Quadro 5Matriz do perímetro de contenção para laboratórios
NB3 explicita os cuidados que devem ser tomados no desenvolvimento
do projeto em relação às aberturas e acabamentos da área de
contenção NB3.
10
A frase “Daqui só sai vivo o pesquisador” é atribuída ao Dr. Edison Luiz Durigon
por ocasião da inauguração da instalação NB3 da USP (SÃO PAULO, 2003).
42
Quadro 5 – Matriz do perímetro de contenção para laboratórios NB3
Requisito Recomendado
Obrigatório
1. Autoclave dupla porta instalada,
preferencialmente, com os componentes mecânicos
no
lado externo à área de contenção para
facilitar o acesso de manutenção. Mediante
avaliação local de risco é possível substituir
o equipamento de dupla porta por aparato no
interior da área de contenção, principalmente
nos casos em que os agentes patogênic
os não
causam infecção por via aérea.
2. Portas da autoclave intertraváveis. Quando
não houver este dispositivo, deverão ser
instalados alarmes sonoros ou visuais para
garantia da contenção evitando-
se que as duas
portas sejam abertas ao mesmo tempo.
3. Previsão, na barreira de confinam
ento, de
guichê de passagem para os materiais que não
podem ser descontaminados por calor sob pressão
e necessitam de descontaminação química. Deve-
se considerar local para descontaminação
química gasosa de equipamentos de maior porte.
4. Tratamento de
efluentes antes de lançamento
na rede de tratamento.
5. Todas as junções no nível do perímetro de
contenção devem ser vedadas.
6. Selagem de todos os conduites e instalações.
7. As janelas, caso existentes, devem ser
seladas e construídas com vidro de segurança.
8. Visores de observação instalados na barreira
de confinamento.
Adaptado de: FIOCRUZ (2005), Canada (2004) e WHO (2004)
2.3 Provisão de utilidades e serviços
As linhas de fornecimento de utilidades e serviços para
laboratórios NB3 devem ser projetadas de forma a garantir o
funcionamento dos equipamentos vitais para assegurar a contenção dos
agentes de risco biológico. O Quadro 6 Matriz de utilidades e
serviços para laboratório NB3 sintetiza as diretrizes que orientam o
projeto quanto ao provimento de instalações elétrica, hidráulica,
gases canalizados e lógica.
43
Quadro 6 – Matriz de utilidades e serviços para laboratórios NB3
Requisito Recomendado
Obrigatório
1. Previsão de lavatório para descontaminação das
mãos na proxi
midade da saída do laboratório. Em
função de avaliação de risco, podem ser adotados
métodos para descontaminação química das mãos.
2. Lavatórios munidos de torneiras acionadas sem o
uso das mãos.
3. Lava-olhos.
4. Previsão de instalação das CSB
e outros
dispositivos primários de contenção
5. Instalação hidráulica com dispositivo anti-
refluxo e registro localizados perto da barreira de
contenção.
6. Descontaminação do esgoto antes do lançamento à
rede pública.
7. Dreno hermético para a autoclave.
8. Sifões de drenagem com selo hidráulico.
9. Sifões de drenagem localizados no solo somente
nos casos indispensáveis
10. Cilindros de gases comprimidos situados no
exterior do laboratório.
11. Substituir linha de vácuo por bomba portátil.
12. Iluminação de emergência.
13. Energia de emergência para os circuitos de
iluminação, CSB, ventilação e equipamentos
essenciais.
14. Disjuntores localizados no exterior da área de
contenção.
15. Reatores de lâmpadas fluor
escentes localizados
no exterior da área de contenção.
16. Sistema de comunicação entre a área de contenção
e a área de suporte.
17. Sistema de transmissão de dados entre a área de
confinamento e o exterior.
Adaptado de: FIOCRUZ (2005), Canada (2004) e WHO (2004)
Também devem ser adotadas medidas de segurança para evitar que,
acidentalmente, os meios fluídos sejam veículo de disseminação de
patógenos para o ambiente externo.
44
2.4 Requisitos de conforto ambiental
A legislação brasileira estabelece parâmetros que proporcionem
conforto, segurança e desempenho eficiente aos trabalhadores
(BRASIL, 2006). Classifica o laboratório, por ser local de trabalho
com exigência de atenção intelectual, em ambiente controlado quanto
às condições de conforto ambiental, com parâmetros sobre
temperatura, umidade, velocidade do ar, nível de iluminamento e
ruído.
Verifica-se, pelo teor da regulamentação, os cuidados com os
parâmetros relativos à qualidade do ar.
De fato, contemporaneamente, a preocupação com a qualidade do
ar é crescente em função das doenças relacionadas à sua baixa
qualidade devido a problemas na concepção de projetos, manutenção
inadequada ou mesmo questões relacionadas ao consumo energético
(SEDUIKYTE;BLIUDZIUS, 2003).
Em 1982, a OMS estabeleceu o termo Síndrome do Edifício Doente
(SDS) para qualificar a condição médica na qual pelo menos 20% dos
ocupantes de um edifício apresentam sintomas de patologias ou mal-
estar não relacionados a nenhuma causa específica e que se
manifestam através de irritação das vias respiratórias, da pele, dor
de cabeça, náuseas ou tontura.
Vários fatores afetam a qualidade do ar interno de edifícios
como, por exemplo, a localização geográfica, o clima, as fontes de
materiais poluentes, etc, além de fatores subjetivos.
Contribuem diretamente para a determinação da qualidade do ar
agentes de natureza física, química e biológica (ASHRAE, 1997).
Dentre os agentes de natureza física tem-se a temperatura, a
umidade, a velocidade de deslocamento do ar e, eventualmente, a
presença de partículas ou ondas eletromagnéticas ionizantes. Para os
três primeiros, a NR 17 sobre Ergonomia determina que laboratórios
atendam os seguintes valores: temperatura efetiva entre 20º e 2C,
umidade relativa do ar superior a 40% e velocidade do ar inferior a
0,75 m/s (BRASIL, 2007a).
45
Nos casos de laboratório NB3, dado o rigor do projeto de
ventilação como barreira de contenção, estes requisitos são
potencialmente passíveis de serem obtidos.
De origem química e biológica, sob a forma de poeiras, fumos e
microorganismos tais como vírus, bactérias e fungos, tem-se os
particulados. Enquanto a contaminação por agente biológico é
eminentemente acidental haja vista os rigores das barreiras primária
e secundária adotadas na concepção de projetos de laboratórios para
pesquisa biológica, nos ambientes internos de edifícios encontra-se
vários outros agentes de natureza química sob a forma de gases ou
vapores. A presença de substâncias químicas, dependendo das
concentrações atingidas, pode trazer malefícios à saúde dos
usuários. Na ausência de ventilação adequada num prédio ocupado, a
própria fisiologia humana contribui para elevação da taxa de gás
carbônico durante a respiração, com diminuição do teor de oxigênio.
Também os materiais construtivos, mobiliários etc contribuem para a
liberação de substâncias químicas sob a forma de compostos orgânicos
voláteis, tendo sido identificados cerca de 900 diferentes
agentes químicos, alguns considerados como perigosos.
Um agente químico em particular é objeto de maior interesse na
avaliação ambiental, segundo Seduikyte e Bliudzius (2003). Trata-se
do formaldeído, liberado por componentes construtivos em
edificações, especificamente lembrado por ser carcinogênico e
irritante a concentrações tão baixas como 0,5 ppm.
Para a qualidade do ar no interior de laboratórios para
trabalho em contenção biológica, o formaldeído deveria ser tratado
como um contaminante importante, pois é rotineiramente empregado
como agente de descontaminação química. Por ser um gás, o
formaldeído é muito utilizado como desinfetante de alto nível em
fumigações de ambientes fechados, inclusive de equipamentos de
proteção coletiva como as CSB (PENNA, 2004). Entretanto, não
registros de estudos sobre a contaminação ambiental em laboratório
de contenção biológica referente a este poluente químico em
específico.
46
Outro parâmetro de conforto ambiental refere-se ao ruído que,
pelo estabelecido na NR 17 sobre Ergonomia, deve atender as
exigências normatizadas na NBR 10.152 Níveis de ruído para conforto
acústico (ABNT, 1987).
Os materiais de acabamento em NB3, atendendo às exigências de
facilidade de limpeza e descontaminação, devem ser lisos e
impermeáveis, qualidade que não favorece a absorção de ruído, cujas
fontes principais são os motores dos equipamentos laboratoriais.
Desta forma, para se alcançar a condição de conforto acústico, é
necessário atentar para o nível de pressão sonora causado pelas
fontes de ruído ainda na fase de desenvolvimento de projeto.
2.4.1 Cor como efeito de iluminação
O texto da norma regulamentadora faz a abordagem dos ambientes
de trabalho de forma geral, determinando que em todos os locais deve
haver iluminação adequada, natural ou artificial, geral ou
suplementar, apropriada à natureza da atividade. Em laboratórios de
contenção, a iluminação natural, via de regra, é indiretamente
evitada em razões do nível de segurança biológica desejado uma vez
que recomendação para que as paredes que delimitam a área de
contenção sejam afastadas do envelope da edificação (vide Quadro 5
Matriz do perímetro de contenção para laboratórios NB3, p. 42).
A iluminação geral deve ser uniformemente distribuída e difusa,
devendo ser projetada e instalada de forma a evitar ofuscamento,
reflexos incômodos, sombras e contrastes excessivos, recomendações
que devem ser respeitadas nos casos de iluminação suplementar.
Sobre os níveis mínimos de iluminamento, devem ser observados
nos locais de trabalho os valores de iluminâncias estabelecidos na
NBR 5.413 - Iluminância de interiores (ABNT, 1992).
quanto ao seu uso, as cores não são contempladas de forma
objetiva como quesito de ergonomia, segundo o previsto na legislação
sobre o tema. Entretanto, pode ser abordado sob este aspecto no que
diz respeito ao conforto ambiental no local de trabalho tanto de
forma direta naquilo que é relacionado com a qualidade da
47
iluminação, como de forma indireta no que diz respeito às questões
de fadiga ocupacional.
Por definição, a luz é entendida como energia radiante avaliada
de acordo com a sua capacidade de produzir sensações visuais.
Enquanto o ouvido humano consegue distinguir o som de dois ou mais
instrumentos tocados simultaneamente numa orquestra, o olho humano
apresenta maior complexidade no processo de percepção de luz e cor.
Para percepção das cores é necessário que o olho humano seja
estimulado por um objeto iluminado. Desta forma, a qualidade da
iluminação depende dos níveis de iluminamento e também da aparência
de cor das fontes de luz.
Assim, a cor da superfície a ser percebida é, obviamente,
influenciada pelo conteúdo de cores da fonte luminosa - efeito este
conhecido como de reprodução da cor. É, portanto, importante que as
fontes de luz proporcionem uma reprodução das cores correta de
acordo com os objetivos específicos do projeto, desde uma galeria de
arte até um laboratório.
O estudo físico da cor é desenvolvido na área da ciência
denominada cromologia. Mas a cor também é objeto de estudo de outras
áreas do conhecimento, destacando-se a cromoterapia e a cromosofia.
A cromoterapia, ou medicina da cor tem abordagem curativa e, a
partir do conceito de doença como desequilíbrio energético, procura
curá-la pela manipulação dos campos energéticos sutis injetando
energia no corpo por meio da aplicação de luzes coloridas (GOMES,
1999).
a cromosofia, segundo a autora, pode ser conceituada como
conhecimento transcendente sobre a estética e psicologia da cor,
preocupando-se com a interação entre as cores, suas harmonias,
contrastes e seus efeitos sobre a psique humana.
Pela psicologia das cores, cada cor exerce um efeito ou ação
psico-espiritual. O vermelho fortalece a determinação, o laranja
impulsiona as atividades mentais, o amarelo expressa alegria, o azul
é relaxante mas pode causar cansaço, o verde desperta estados de
48
otimismo, o violeta desperta inspiração de êxito, o branco a
inocência, e o preto pode causar angústia, frustração, desconfiança
ou medo.
Como elemento de conforto no espaço interior, Gomes (1999)
destaca que a cor influencia o aspecto do ambiente, alterando sua
atmosfera. E se a percepção da cor se faz de modo diverso, sua
aplicação pode resultar em subseqüentes reações diferenciadas.
O estudo do conforto visual está diretamente ligado à percepção
visual por parte do homem (TEIXEIRA et al., 2006), podendo ser
enfocado tanto pelo aspecto do ambiente físico iluminado como sob o
ponto de vista psico-fisiológico do observador.
Por definição, conforto visual seria a condição de iluminação
que não conduz a esforço visual ou dificuldade de visão, gerando
bem-estar. Assim, os aspectos de iluminação que influenciam no
conforto visual são o nível de iluminação, os contrastes de brilho e
cor, o ofuscamento provocado por excesso de brilho, e os efeitos
causados pela posição da fonte luminosa.
Um ambiente de trabalho que apresente uma utilização adequada
das cores proporcionará aos seus usuários uma atmosfera agradável,
segura e com menos propensão de danos a sua saúde (PEREIRA;SOUZA,
2000). Este ambiente agradável diminuirá os riscos de fadiga visual,
evitando, assim, falhas na execução das tarefas.
Segundo estes autores, a cor dos ambientes de trabalho deve ser
em tons suaves, pois as cores vivas tornam-se cansativas nas
jornadas de trabalho desenvolvidas neste tipo de ambiente, havendo
recomendação de refletâncias para teto (entre 90-70), paredes (entre
70-50) e pisos (entre 40-20). Cunha (2004) ainda relaciona valores
de reflexão para móveis (entre 45 e 25) e equipamentos (entre 50 e
30). Observa-se que são recomendadas cores mais escuras para pisos
no local de trabalho em geral, mas no caso de laboratórios as cores
devem ser mais claras para fins de facilitar a percepção visual de
sujidades.
49
Segundo Cunha (2004) o contraste entre cores também deve ser
objeto de cuidado pois, na percepção visual, pode ocorrer
ofuscamento da visão provocado pelo tempo para adaptação da retina
às mudanças bruscas dos níveis de iluminamento. Assim, Hora (1995)
recomenda fatores de refletância mais baixos nos ambientes de
trabalho pois nestas condições diminuição do cansaço visual, da
tensão nervosa e melhoria na segurança e produtividade. O fator de
refletância, ou contraste, é obtido pela relação entre a diferença
dos valores de reflexão no plano de trabalho e a reflexão da cor de
fundo. O contraste forte está situado na faixa entre 0,40 e 0,80, o
médio na faixa entre 0,20 e 0,40 e o fraco na faixa entre 0,05 e
0,20.
Gomes (1999) destaca que em laboratórios a discriminação de cor
é crítica para o resultado da pesquisa, sugerindo que paredes e
tetos se mantenham neutros, pintados de branco ou cinza, quebrando-
se a monotonia visual pela introdução de cores nas portas e no
mobiliário. Observa, ainda, que a iluminação deve ser planejada de
modo que a fonte se localize fora do ângulo visual do pesquisador,
prevendo-se intensidade lumínica máxima sobre o plano de trabalho e
evitando-se sombras.
A aplicação de idêntica cor nas paredes e tetos causa a
sensação de confinamento e a cor branca pode causar monotonia.
Estas considerações são preciosas para o planejamento de
ambientes para trabalho em contenção. O processo de trabalho em tais
ambientes demanda características construtivas peculiares, dentre as
quais pode-se destacar a ausência de iluminação natural por ser uma
área confinada por questões de segurança, com contato visual através
de visores para outra dependência de trabalho para fins de
observação de segurança, e área sica limitada a bancadas e
equipamentos necessários ao trabalho de dois pesquisadores, em
média.
50
2.5 Considerações sobre o leiaute para o trabalho em contenção
A tendência em arquitetura por formas irregulares e curvas,
concepções espaciais que se distanciam do estilo modernista
caracterizado pela pureza geométrica, não é apropriada para
laboratórios, afirma Griffin (2005). O autor justifica que bancadas
e equipamentos, por serem retangulares, não se adaptam a formas
irregulares. Tanto Watch (2001) como também Fabrick (1997) propõem
que os laboratórios tenham o leiaute planejado a partir de módulos
11
retangulares, inclusive aqueles destinados a trabalho com agentes
biológicos. Esta última autora argumenta de forma detalhada que as
dimensões ideais do espaço laboratorial devem ter entre 3,0 m a 3,5
m de largura (excepcionalmente podem chegar a 3,7 m) e entre 8,0 m e
9,0 m de profundidade.
O dimensionamento da largura é resultante da necessidade de
circulação confortável e segura dentro do laboratório, espaço que é
compartilhado nas rotinas de trabalho de pesquisadores e técnicos.
Assim, os dois elementos que definem a largura são a circulação e
profundidade de bancadas, que devem ser dimensionadas de forma a
comportar todo o aparato de pesquisa e permitir a manutenção
adequada.
A dimensão da largura proposta (entre 3,0 e 3,5 m) é suficiente
para acomodar, longitudinalmente, os equipamentos que são colocados
diretamente no piso, cuja profundidade varia entre 0,90 e 1,00 m;
bancadas com profundidade suficiente para acomodar aparelhos das
rotinas de pesquisa, medindo entre 0,75 e 0,90 m, restando
circulação para o trânsito seguro de pessoas e de carrinhos de
apoio, entre aproximadamente 1,20 e 1,40 m. A profundidade total das
bancadas pode ser um pouco maior nos casos em que se utilize um
frontispício para distribuição das linhas de utilidade. A espessura
das paredes, 7,5 cm, também é considerada no dimensionamento do
módulo. Watch (2001) também se baseia nos elementos bancadas de
trabalho e circulação ao definir a medida de 3,20 m como largura
ideal de um módulo de laboratório.
11
O termo “módulo de laboratório” é aqui utilizado para definição do espaço interno
da instalação, mesma acepção empregada por Griffin (2005), não se referindo à
coordenação modular, entendida como sistema capaz de ordenar e racionalizar a
confecção de qualquer artefato, desde o projeto até o produto final.
51
Quanto à profundidade do módulo, Fabrick (1997) pondera que é
uma medida mais difícil de se predizer por falta tanto de critérios
fixos como de aspectos ergonômicos que subsidiem a decisão
arquitetônica.
Considerando ser senso comum que um pesquisador necessite entre
3,0 e 3,7 m lineares de bancada, com uma cuba na extremidade
demandando mais 60 cm lineares, a autora faz um exercício
posicionando este conjunto como uma ilha ao centro de um módulo
duplo, com necessidade de área de trânsito ao seu redor
12
. E,
propondo que o espaço seja funcionalmente racionalizado, ao longo
das paredes de dimensão menor prevê a alocação de equipamentos e uma
área de trabalho na parede que lhe é paralela, obtendo-se a dimensão
final do comprimento de cada módulo entre 8,0 e 9,0 m. Watch (2001)
não é tão preciso nas suas argumentações, determinando que a
profundidade dos módulos básicos pode variar entre 6 e 10 m.
Assim, o módulo pode ser empregado como chave para
desenvolvimento de projetos de laboratório. Quando desenhado
corretamente, o módulo de laboratório poderá ser completamente
coordenado com todos os sistemas de arquitetura e engenharia,
apresentando vantagens de flexibilidade e expansão. A flexibilidade
é fundamental para atendimento da área de pesquisa. Caracterizada
pela dinâmica que lhe é peculiar, as pesquisas estão mudando
constantemente e os prédios devem ser projetados com vistas às
intervenções futuras. O planejamento em módulos facilita a adaptação
para expansão ou contração sem prejudicar a funcionalidade do prédio
(WATCH, 2001). As diferentes necessidades de espaços, tais como
áreas de apoio e escritórios, podem ser expressas em múltiplos (ou
frações) do módulo. Na Figura 5 – Planejamento em módulos –
exemplifica o aproveitamento dos espaços laboratoriais a partir de
dimensões estabelecidas.
Especificamente sobre as instalações NB3, também Crane e Riley
(2004) propõem que sejam pensadas a partir de módulos, afirmando,
ainda, que o controle de acesso (Quadro 4 - Matriz de localização e
12
Estudo de pós-ocupação recentemente realizado por Burke et al.(2007) revê o uso
do espaço em laboratórios em função do comportamento dos pesquisadores no ambiente
de trabalho.
52
acesso de laboratórios NB3, p. 39), juntamente com o fluxo de
trabalho, é um fator restritivo no desenvolvimento de projetos para
laboratórios de contenção biológica.
Figura 5 – Planejamento em módulos
53
Pessoa (2006) diagramou sob forma de estrutura hierárquica de
contenção os diferentes ambientes que compõem uma instalação NB3,
representada na Figura 6 – Estruturação de laboratórios NB3.
Figura 6 – Estruturação de laboratórios NB3
Adaptado de: Pessoa (2006)
as diretrizes de biossegurança, segundo Crane e Riley (2004)
causam impacto mínimo na planta de leiaute da área de contenção
destes espaços de pesquisa. De fato, em relação aos demais
laboratórios de pesquisa biológica, os NB3 não apresentam nenhum
requisito extraordinário que demande solução arquitetônica diferente
de leiaute para a área de contenção biológica. Isto porque as áreas
de contenção devem ser projetadas a partir do posicionamento das
Cabines de Segurança Biológica (CSB), principal equipamento de
Escritórios
Ante-sala
Corredor
Laboratório NB2
Lavagem /
esterilização
Antecâmara
Laboratório NB3
Zona de acesso
54
proteção coletiva para o trabalho em contenção e determinante na
definição do leiaute.
As manipulações dos agentes patogênicos perigosos têm lugar nas
CSB, equipamento que foi desenvolvido para assegurar a proteção
individual e coletiva dos pesquisadores e técnicos que exercem suas
atividades no ambiente de contenção, a garantia da qualidade dos
resultados das pesquisas pela minimização do risco de contaminação
dos experimentos e a proteção do meio ambiente externo, evitando a
propagação do risco biológico para fora da edificação.
Assim, os módulos de NB3 devem ser desenhados para acomodar
adequadamente as CSB, que têm dimensões compatíveis com os demais
equipamentos que são utilizados regularmente na área de pesquisa
biológica e foram, portanto, considerados no estabelecimento do
tamanho do módulo por Watch e Fabrick. A largura de 2,5 m é
suficiente para instalação de uma única cabine, e 3,5 m atende
adequadamente a provisão de duas cabines. Por ser uma área dedicada
ao trabalho em contenção biológica, os NB3 são mais despojados em
mobiliário, ficando o restante da área liberada para acomodação de
equipamentos de grande porte necessários, tais como centrífugas,
tanques de criogenia, incubadoras etc. Desta forma, Crane e Riley
(2004) estabelecem que o comprimento do módulo pode variar de 3 m,
nos casos de alocação de uma única CSB, a 6 m, quando são instaladas
duas CSB.
A partir das propostas dos autores estudados, pode-se
estabelecer que a área de contenção NB3 deve ter a configuração
retangular, dimensões básicas de 2,5 m x 3,0 m a 3,5 m x 6 m, para
uso de uma CSB ou de dois equipamentos, respectivamente, conforme
ilustram as figuras 7 e 8.
55
Figura 7 – Área de contenção para uso de uma CSB
Figura 8 – Área de contenção para uso de duas CSB
Segundo os autores, os modelos que podem ser adotados como
configuração de NB3 são limitados em quantidade, entretanto permitem
diferentes soluções arquitetônicas.
As três primeiras alternativas possíveis basicamente se referem
a um mesmo modelo e se diferenciam apenas pelo tipo de espaço
escolhido como zona de acesso à área de contenção: uma ante-sala, um
corredor, ou laboratório.
56
A resposta - o leiaute - deve ser desenvolvida segundo o
programa de trabalho de pesquisa e das necessidades específicas.
O projeto mais simples contempla uma instalação com sala de
acesso à área de contenção ou sala de NB3 propriamente dita. A ante-
sala pode ser utilizada como vestiário, depósito de materiais ou
funções de apoio. O trabalho com agentes perigosos deve ser
realizado em ambiente que proporcione a contenção do espaço NB3, o
qual é acessado através de outra porta. Crane e Riley (2004) apontam
que uma possível variação é a ampliação da ante-sala de forma a
proporcionar que as atividades de preparação sejam desenvolvidas
junto ao NB3, mas fora da área de contenção. As Figuras 9 e 10 (vide
p. 58) apresentam esquema de laboratórios NB3 com ante-sala como
zona de acesso.
A Figura 11 (vide p. 58) ilustra o leiaute de instalação NB3
com ante-sala como zona de acesso.
Este tipo de laboratório tem limitação de utilização em função
do pouco espaço disponível. Crane e Riley (2004) comentam que
algumas organizações consideram como aceitável a utilização da
ante-sala para armazenamento de agentes de risco biológico
congelados. Consideram, também, que este modelo é popular em função
do menor custo de construção e da facilidade de aproveitamento da
área de contenção para a realização de cultura de tecidos NB2 quando
não estiver sendo usada como laboratório NB3. Assim, é geralmente
encontrado em locais onde o trabalho desenvolvido em maior contenção
é esporádico ou de pequeno porte.
Uma segunda alternativa para este modelo de disposição
espacial, é aquela que permite o acesso às áreas de contenção a
partir de um corredor fechado e de circulação restrita. Esta
disposição espacial traz as mesmas desvantagens do anterior,
entretanto é mais apropriada quando existem programas separados a
serem desenvolvidos no NB3. Tal proposição, segundo Crane e Riley
(2004), deve ser cogitada quando da conversão de instalações
existentes em áreas de contenção NB3 porque a área a ser construída
não seria tão extensa. A Figura 12 (vide p. 58) contém esquema de
57
laboratórios NB3 com corredor como zona de acesso e a Figura 13
(vide p. 58) exemplifica a adoção deste modelo.
A terceira alternativa para o modelo de sala de acesso à zona
de contenção, é desenvolver um laboratório NB2 como área contígua ao
NB3. A área do NB2 pode ser entendida como uma ante-sala ampliada
para servir de laboratório operacional de apoio fora da área de
contenção, esquematizado e ilustrado nas Figuras 14 e 15 (vide p.
58).
O segundo modelo proposto por Crane e Riley (2004) refere-se ao
laboratório tipo suíte, conforme ilustrado por esquema e leiaute nas
Figuras 16 e 17 (vide p. 58). Este tipo atende bem instalações mais
complexas, criando espaços maiores e mais diversificados.
Uma ante-sala leva à chamada suíte, sala a partir da qual estão
instaladas as áreas de contenção NB3. Esta sala serve como área de
preparação, permitindo que os módulos NB3 funcionem a propósitos
dedicados como, por exemplo, cultura de células. Podem ser dispostas
salas para equipamentos e instrumentos a serem partilhados por em
uso comum. Trata-se de um ambiente com segregações que aumentam a
segurança em função de um fluxo de trabalho bastante adequado a
materiais perigosos.
Figuras 9 e 10 – Laboratório NB3 com ante-sala como zona de acesso
Fonte: Crane e Riley (2004)
Figura 11 – Leiaute de laboratório NB3 com
ante-sala como zona de acesso
Figura 12 – Laboratório NB3 com corredor como zona de acesso
Fonte: Crane e Riley (2004)
Figura 13 – Leiaute de laboratório NB3 com
corredor como zona de acesso
Figura 14 – Laboratório NB3 com laboratório NB2 como acesso
Fonte: Crane e Riley (2004)
Figura 17 – Leiaute de laboratório NB3 tipo suíteFigura 16 – Laboratório NB3 tipo suíte
Fonte: Crane e Riley (2004)
Figura 15 - Laboratório NB2 como zona de acesso
à área de contenção
58
59
2.6 Superfícies, revestimentos e mobiliário
No planejamento das instalações de contenção, os revestimentos
devem ser objeto de especial atenção. Por se tratar de local onde
são manipulados agentes perigosos, a facilidade de limpeza e a
resistência aos produtos empregados devem ser privilegiadas haja
vista que as superfícies serão freqüentemente descontaminadas.
O projeto de mobiliário deve atentar para detalhes que previnem
a ocorrência de acidentes, principalmente a geração de aerossóis e
até mesmo movimentação do fluxo interno de ar. A presença de
partículas sólidas ou líquidas em suspensão se movimentando no
volume interno da contenção não é desejada uma vez que os aerossóis
podem carrear os agentes biológicos e, desta forma, aumentar o risco
de contaminação individual.
O Quadro 7 – Matriz de revestimentos e mobiliário para
laboratórios NB3 - traz requisitos que devem ser necessariamente
seguidos e outros que são recomendados na concepção do projeto de
arquitetura.
60
Quadro 7 – Matriz de revestimentos e mobiliário para laboratórios NB3
Requisito
Recomendado
Obrigatório
1. As superfícies de portas, portais e
mobiliário não devem ser absorventes
2. Em função das atividades, as superfícies
de trabalho devem ser resistentes a corantes,
u
midade, produtos químicos, calor e à
formação mecânica de sulcos
3. As superfícies de trabalho devem ser
resistentes a impactos mecânicos típicos de
laboratório
4. Todas as superfícies devem ser contínuas,
sem saliências e reentrâncias aceitável
que as juntas entre paredes e juntas de piso
sejam vedadas/soldadas)
5. Deve haver continuidade do piso para as
paredes, preferencialmente com acabamento
arredondado
7. Os revestimentos devem ser resistentes aos
produtos químicos utilizados
8. Os revestimentos devem ser laváveis
9. Os revestimentos das bancadas não devem
apresentar juntas
10. As bancadas devem possuir rebordo para
evitar derramamentos de líquidos e, ainda,
sistema de drenagem
11. Tampos, gavetas, maçanetas, etc. d
evem
ter acabamento arredondado
12. Frontispícios de bancadas próximas às
paredes devem ser selados na junção com a
mesma
13. As prateleiras para guarda de reagentes
químicos devem ser providas de borda
14. As gavetas devem ser providas de
limitador de curso
15. As portas dos móveis não devem se fechar
autonomamente
Adaptado de: FIOCRUZ (2005), Canada (2004) e WHO (2004)
As paredes do perímetro de contenção devem ser construídas de
materiais estruturantes e permanentes, com resistência mecânica
adequada, apresentando, ainda estanqueidade para minimizar o risco
de contaminação. Portanto, materiais como tijolos cerâmicos, blocos
61
de concreto e assemelhados são adequados. Caso haja necessidade de
subdividir o espaço para adequação de leiaute dentro da área de
contenção, poderão ser empregadas divisórias móveis construídas com
materiais nobres tais como chapa de aço, observando-se que as
superfícies devem ser monolíticas (Azeredo, 2004).
Para o revestimento de paredes, a pintura em acrílico é uma boa
opção pois é economicamente viável, de fácil manutenção e bastante
resistente à limpeza, sendo empregada com sucesso em áreas onde tais
procedimentos são mais agressivos como, por exemplo, em biotérios de
experimentação.
Embora a ANVISA (2002) também indique a pintura epóxi para
áreas consideradas críticas
13
, este acabamento é de manutenção mais
difícil e custo mais dispendioso. Mesmo assim, é bem indicado para
pintura das paredes das áreas dos boxes de chuveiros nas
antecâmaras, quando existentes, uma vez que estes locais podem
permanecer úmidos em caso de uso constante.
Quanto aos pisos, nos boxes podem ser à base de resina epóxi
por suas características de impermeabilidade e por ser anti-
derrapante.
na área de contenção, que não estará potencialmente sujeita
ao mesmo nível de umidade, pode ser empregado um material
impermeável, de fácil limpeza e manutenção. Atendendo estes
requisitos, as mantas vinílicas têm sido bem aceitas (AZEREDO,
2004). Por oportuno, deve-se lembrar que os processo de trabalho
podem exigir pisos com resistência a uma variação considerável de
temperatura porque devem suportar desde o calor emanado por
equipamentos utilizados na esterilização por vapor úmido
(autoclaves), como também ao frio extremo (-196ºC) do nitrogênio
líquido que eventualmente derrama dos tanques de criogenia.
No planejamento do mobiliário, Fabrick (1997) destaca que o
usuário deve trabalhar junto ao arquiteto para que sejam atendidas
as necessidades funcionais, ressaltando que a segurança deve ser o
13
Áreas críticas o definidas como ambientes onde existe risco aumentado de
transmissão de infecção ou onde se realizam procedimentos de risco.
62
item primordial na orientação do projeto. Para Griffin (2001) a
automação de tarefas que até um passado recente eram executadas
manualmente, requer a inserção de equipamentos que interferem no
planejamento do laboratório.
disponibilidade no mercado de materiais de revestimento com
as características de resistência mecânica, química e
impermeabilidade necessárias para aplicação no revestimento de
mobiliário para o NB3. Destacam-se o aço inoxidável e laminados
melamínicos, com características e valor agregado distintos. Como
materiais de revestimento, o primeiro é adequado às bancadas com
cuba. As demais superfícies de trabalho podem ser revestidas em
laminado melamínico. Mas a estrutura de todas bancadas deve ser,
necessariamente, construída em o inox porque este material
apresenta mais resistência aos desinfetantes químicos como o
hipoclorito de sódio
14
. Principal agente de desinfecção utilizado na
limpeza de laboratórios, é efetivo, apresenta vantagens econômicas e
relativamente baixa toxicidade ambiental, mas em contra-partida é
bastante corrosivo. Watch (2001) recomenda a adoção de revestimento
em resinas nas bancadas para trabalho com água, material que foi
adotado como acabamento das bancadas ditas secas no projeto de
laboratórios NB3 de saúde pública recentemente desenvolvido no país
(Azeredo, 2004).
As portas dos móveis devem ser construídas e estruturadas de
modo a garantir a perfeita vedação do ambiente e, como revestimento,
podem ter o mesmo acabamento aplicado ao mobiliário.
No Quadro 8 Materiais e revestimentos - estão relacionados
aqueles adequados para instalações de contenção.
14
As soluções comerciais de hipoclorito de sódio são quimicamente estabilizadas com
hidróxido sódio, substância cáustica e corrosiva.
63
Quadro 8 – Materiais e revestimentos
Materiais
NB3
Alta resistência S
Vinílico (placa) N
Vinílico (manta) S
Piso
Resina epóxica S
Concreto celular S
Gesso acartonado S
Paredes/painéis
Poliuretano expandido S
Pintura acrílica N
Pintura PVC S
Chapa de melamina N
Pintura resina epóxica S
Pintura poliuretano S
Chapa de aço pintada S
Revestimento paredes/painéis
Chapa de aço inox S
Forro de gesso N
Forro removível N
Forro gesso acartonado S
Tetos
Forro autoportante de poliuretano
com núcleo:de rocha, fibra de
vidro, poliestireno etc
S
Pintura acrílica N
Pintura PVC S
Chapa de melamina N
Pintura resina epóxica S
Chapa de aço pintada S
Revestimento tetos:
lajes e forros
Chapa de aço inox S
Legenda: S: Sim; N: Não
Fonte: Adaptado de ANVISA (2002), Azeredo (2004) e Pessoa (2006)
64
2.7 Sistemas de ventilação e climatização
O projeto de arquitetura e engenharia deve contemplar as
barreiras secundárias definidas em biossegurança com vistas à
estanqueidade do ambiente do laboratório, constituindo-se o projeto
de ventilação e condicionamento do ar em aliado essencial na
obtenção dos níveis adequados de contenção biológica.
Nos laboratórios para trabalho em contenção é necessária a
adoção sistemas mecânicos para ventilação, condicionamento e
tratamento de ar. Tais projetos exercem papel fundamental na
segurança laboratorial e ambiental.
No Quadro 9 Matriz de ventilação e climatização para
laboratórios NB3 são levantados aspectos importantes sobre o
funcionamento dos sistemas a serem empregados, impactando
diretamente as decisões arquitetônicas para a área de contenção.
65
Quadro 9 – Matriz de ventilação e climatização para laboratórios NB3
Requisito
R
O
1. Tomada de ar 100% externa
2. Fluxo de ar unidirecional através da aplicação de diferencial de
pressão segundo gradiente do menor para o maior risco
3. Visualização dos diferenciais de pressão através de manômetros
localizados na entrada da área de contenção
4. Sinalizaçã
o visual e sonora na área de contenção e adjacências
para alertar falha no sistema de ventilação (admissão de ar)
5. Dutos de admissão de ar protegidos por mecanismo anti-
refluxo
através de damper
automático ou pela instalação de filtro HEPA.
Nestes ca
sos, os dutos de admissão de ar deverão ser selados. Esta
diretriz depende de avaliação local de risco.
6. Sistema de admissão de ar independente de outras áreas
laboratoriais. Excepcionalmente poderá ser aceito o compartilhamento
da admissão mediante instalação de barreira anti-
refluxo como no
item 5. Este critério é recomendado, mas não obrigatório, nos casos
em que a infecção individual provocada pelo agente biológico em
estudo não ocorre por inalação
7. Intertravamento do sistema de ventilação (
admissão e exaustão)
para evitar pressão positiva no ambiente de contenção
8. Ar de exaustão filtrado por filtro HEPA. Este critério é
recomendado, mas não obrigatório, nos casos em que a infecção
individual não ocorre por inalação
9. Independência
do sistema de exaustão do ar da área de contenção.
Excepcionalmente poderá ser aceito o compartilhamento da exaustão
mediante instalação de barreiras como no item 5. Este critério é
recomendado, mas não obrigatório, nos caso em que a infecção
individual não ocorre por inalação
10. Acesso aos sistemas de ventilação (casa de máquinas e filtros)
pelo exterior da área de contenção para fins de manutenção e reparo
11. Dutos de exaustão, externos ao perímetro de contenção, selados
12. Dispositivos anti-refluxo e filtros HEP
A instalados o mais
próximo possível do perímetro de contenção
Adaptado de: FIOCRUZ (2005), Canada (2004) e WHO (2004)
2.7.1 Importância da compatibilização do projeto de ventilação com a
instalação das CSB
Miranda (2004) aponta como essencial observar a
compatibilização dos projetos de arquitetura com os demais projetos
de instalação para que as cabines de segurança biológica funcionem a
contento. Na instalação de equipamentos com exaustão externa deve-se
observar:
66
Exaustor externo que atenda aos requisitos de pressão e
vazão de ar;
Saída de exaustão do ar afastada de captações de ar,
janelas e áreas de circulação;
Abertura que permita a entrada de ar (fluxo de ar) na
sala onde o equipamento está instalado;
Conexão no duto de ventilação próximo à CSB;
Válvula junto ao equipamento que permita bloquear a saída
de ar de forma estanque;
Válvula que permita regular o volume de ar de exaustão;
Válvula de fluxo unidirecional para impedir fluxo reverso
na exaustão;
Boa vedação das conexões dos dutos;
Janela no duto, próxima ao equipamento, com fechamento
estanque, para medições no fluxo de ar;
Dutos de captação de ar com mínima resistência ao fluxo;
Uso de pré-filtros na captação de ar.
No projeto de laboratório deve-se observar os parâmetros a
seguir para que os equipamentos funcionem corretamente:
Localização da CSB em ponto distante da entrada e isolado
das demais rotinas;
Distância de portas, janelas, difusores de ar, trânsito
de pessoas, e equipamentos que possam gerar turbulências
no ar próximo ao equipamento;
Considerar as interferências do sistema de ventilação no
equipamento e vice-versa.
Espaço para mover o aparelho em manutenções;
Observar a distância entre uma e outra CSB para não haver
interferência nos fluxos de ar;
Dimensionamento da área de trabalho do operador
compatível com o desempenho das atividades;
Registros de pontos de utilidades próximos (linhas de
abastecimento hidráulico e de gases), acessíveis e
sinalizados;
Circuito elétrico independente para cada CSB, conectado à
rede de emergência;
Tomada elétrica para ligar a CSB em local visível e de
acesso tal que não seja necessário mover o equipamento.
O sistema de exaustão não deve servir a outras partes da
instalação. A adoção desta precaução minimiza a possibilidade de
67
contaminação de áreas mais limpas como, por exemplo, os laboratórios
contíguos de apoio. Segundo avaliação de risco, esta condição pode,
em caráter excepcional, não ser atendida quando o agente patogênico
específico que será manipulado dentro da área de contenção não
provoque infecção individual mediante inalação.
O fluxo da ventilação deve ser unidirecional, que pode ser
obtido através do emprego de diferenciais de pressão. O fluxo de ar
direcionado faz com que as correntes se movimentem das áreas de
menor risco para as áreas de maior risco.
O ar de exaustão deve passar por sistemas de filtração HEPA.
Tais filtros devem ter a instalação projetada de forma a permitir
sua descontaminação química gasosa por ocasião das trocas de
manutenção, através de fumigação com formaldeído. Tecnicamente, para
minimizar os riscos de acidentes nas operações de trocas de filtros
do ar de admissão e exaustão, é possível a adoção dos sistemas bag
in/bag out, através dos quais a possibilidade de intercambiar o
filtro sem contato manual do operador.
Os sistemas de suprimento e exaustão de ar devem ser conectados
à geração elétrica de emergência. Se possível, o sistema deve ser
dotado de intertravamento para evitar que a ventilação não ocorra,
caso os exaustores não funcionem, prevenindo a pressurização
positiva da área de contenção.
O ar de admissão deve passar por pré-filtros a fim de serem
eliminadas as partículas de maior diâmetro. Cirrota (2004) realizou
pesquisa onde se constata que nos laboratórios de pesquisa biológica
NB3, para garantia da contenção, vem se empregando a tecnologia de
salas limpas. Por tal tecnologia, o ar de admissão também é filtrado
por sistema HEPA. São inúmeras as vantagens deste tipo de
instalação, pois o número de partículas em suspensão no ambiente
diminui acentuadamente, fazendo com que o risco de contágio por
inalação também se minimize. A melhor qualidade do ar prolonga a
vida útil dos filtros HEPA das cabines de segurança biológica
(contenção primária) e dos filtros HEPA de exaustão (contenção
secundária). A desvantagem do emprego da tecnologia de salas limpas
68
está inserida no plano econômico, com maior custo de instalação e
operação.
Uma das variáveis mais importantes para a obtenção dos
requisitos de contenção em níveis primário e secundário é a
ventilação. É oportuno lembrar que em laboratórios NB3 são
manipulados microorganismos patogênicos de fácil transmissão de
doenças pelas vias aéreas e para os quais não há vacinas disponíveis
nem tratamento eficaz para a cura das patologias que se desenvolvem
no homem. Assim, os projetos de ventilação são aliados da
biossegurança no que se refere à contenção para fins de se alcançar
a proteção de pesquisadores, ambiente externo e garantia de que os
resultados obtidos nas análises sejam confiáveis em qualidade,
afastadas as hipóteses de contaminação de amostras por patógenos
presentes no ar.
2.8 À guisa de conclusão
Quanto maiores as exigências de contenção biológica, mais
relevantes serão as etapas para a antecipação e o reconhecimento de
riscos no trabalho em laboratórios, minimizando as incertezas do
ambiente onde o projeto se desenvolve uma vez que atualmente os
empreendimentos são cada vez mais complexos, revestindo-se de
caráter único e demandando esforços de cooperação entre
profissionais de diferentes formações.
Cabe ao arquiteto, a partir de um bem elaborado programa de
necessidades, coordenar o desenvolvimento dos projetos necessários à
construção do espaço concebido, compatibilizando todas as etapas das
especialidades envolvidas.
Capítulo III
Processo de projeto de laboratórios:
o conceito de biossegurança como
ponto de inflexão
Os laboratórios são construções que talvez
melhor simbolizem a era em que vivemos.
Caroline Langley
O trabalho do arquiteto na área de saúde possui peculiaridades
que transcendem a simples questão do uso de ambientes (CARVALHO,
2006b). Na opinião deste autor a “arquitetura, como arte de adequar
os espaços às ações humanas, influencia e é influenciada por estas
atividades, relacionando-se estreitamente com a saúde” (CARVALHO,
2006a, p.1).
É senso comum que, dentre as etapas do processo construtivo, a
fase de projeto é aquela que apresenta as maiores oportunidades de
intervenção e agregação de valor ao empreendimento. Portanto, os
processos de concepção e projeto tornam-se estratégicos para o
desempenho do edifício ao longo do seu ciclo de vida.
Ao projeto cabe a tarefa de agregar eficiência e qualidade ao
produto, a partir da consideração de interesses em comum das partes
envolvidas, beneficiárias diretas ou indiretas do bem construído.
O campo da construção civil, caracterizado pela competitividade
e por níveis de exigência cada vez mais elevados sobre processos e
produtos, tem passado por mudanças no que se refere à qualidade das
edificações ao longo de todo seu ciclo de vida.
Entre estas mudanças, destaca-se a influência cada vez maior da
opinião e necessidades dos usuários na avaliação da qualidade dos
edifícios. As construtoras têm adotado os métodos relacionados com a
avaliação pós-ocupação (APO) para atender de forma positiva aos
70
anseios dos futuros usuários. Entretanto, Melhado (2005) observa que
as evoluções ocorrem principalmente no campo das especificações de
materiais e componentes e dos detalhes construtivos e nem tanto em
relação a aspectos funcionais e de concepção.
Acresça-se que, nos dias atuais, marcados pela expansão dos
mercados, as empresas necessitam aprimorar-se para sobreviver em
ambiente caracterizado pela competitividade e inovação tecnológica.
Mas a sobrevivência das empresas também depende de outro fator não
menos importante que é seu comprometimento com o bem estar da
sociedade, tanto dos indivíduos como do ambiente em que vivem.
É nesse cenário que se aborda a questão do processo de projeto
de edificações destinadas a uso específico, como é o caso dos
laboratórios de pesquisa biológica voltados para o trabalho em
contenção, quando a variável biossegurança deve ser considerada como
fator basilar.
Enquanto produto, o projeto arquitetônico se refere à
edificação que se pretende construir. na visão de processo, o
projeto se refere à seqüência de atividades necessárias que
transformarão a idéia concebida em diretrizes a serem obedecidas
para se realizar o produto – a edificação (SALGADO, 2007).
Durante o desenvolvimento dos projetos, um sem número de
informações e contribuições advindas das diversas partes e áreas do
conhecimento envolvidas precisa ser consultada, articulada e
conciliada. Da relevância de um sistema que organize os dados e
possibilite o acesso imediato às informações necessárias ao pleno
desenvolvimento do projeto.
A adoção de sistemas de gestão da qualidade no processo de
projeto está relacionada à padronização de processos que resultem em
parâmetros de controle para os projetistas. A partir da
identificação de variáveis que fazem parte do processo de projeto,
pode-se propor uma sistematização e organização de informações, tal
qual os procedimentos de gestão da qualidade estabelecidos em
normas. Segundo Salgado (2004), “as normas de gestão da qualidade
não foram elaboradas pensando na atuação do arquiteto [...]
71
entretanto a adoção de seus princípios pode ser um caminho para a
organização dos processos de trabalhos ligados ao projetar.”
Os sistemas de gestão de projetos devem ser entendidos em
sentido amplo, não mais se restringindo sob a égide da certificação
da qualidade, mas sim como estratégia e forma de relacionamento com
os demais agentes da cadeia de produção (MELHADO, 2005).
3.1 Gestão integrada de projetos: qualidade, meio ambiente, saúde e
segurança ocupacionais
A adoção de normas de gestão pelas empresas permite que
barreiras físicas e tecnológicas sejam superadas pela utilização de
padrões regulados por normas internacionalmente aceitas. As mais
conhecidas são aquelas estabelecidas pela International Organization
for Standardization ISO
15
, entidade não governamental sediada na
Suíça que conta com uma rede da ordem de 150 países participantes.
Trata-se de uma instituição cujo objetivo é propor e monitorar
normas que representem e traduzam o consenso de diferentes países
para a normalização de procedimentos, medidas e materiais em todos
os domínios da atividade produtiva.
3.1.1 Gestão da qualidade - SGQ
Com o advento do Mercado Comum Europeu, as normas de gestão da
qualidade firmaram-se definitivamente como instrumento que
viabilizou a transposição das barreiras técnicas que existiam entre
países com diferentes níveis de desenvolvimento tecnológico. O
sistema da qualidade, que consiste na estrutura organizacional,
responsabilidades, procedimentos, processos e recursos para a
implementação da gestão da qualidade, consolidou-se na série de
normas ISO 9000(SALGADO, 2002).
As empresas, para se manterem competitivas, estão sendo levadas
a se adequar ao SGQ por exigência do mercado. A grande vantagem da
adoção das normas é possibilitar qualidade ao produto através de um
15
É interessante observar que a sigla ISO foi adotada para identificar a
instituição como uma marca ou padrão, evitando-se a sua modificação ou adequação
quando da tradução para os idiomas dos países associados à organização. A escolha
recaiu sobre a sigla conhecida por ser originária da palavra grega isos, que
significa igual. Assim, por analogia igual também pode ser entendida como padrão.
72
sistema gerencial estruturado que se preocupa com os procedimentos,
treinamento de pessoas, auditorias, registros etc (MOURA, 2002). O
atendimento às normas não garante qualidade ao produto, mas assegura
que a empresa possui um sistema de garantia da qualidade bem
estruturado, o que é caminho para que o produto apresente qualidade.
O conjunto da família ISO 9000:2000, publicado pela ABNT, é
constituído pela NBR ISO 9000 que trata dos fundamentos dos sistemas
de gestão da qualidade, pela NBR ISO 9001, requisitos para
implantação e implementação dos sistemas de gestão da qualidade, e
pela NBR ISO 9004, diretrizes para a melhoria o desempenho.
Face à dinâmica do mundo globalizado, a norma sobre sistema de
gestão da qualidade passa, periodicamente, por adequação. Em
processo de revisão para ISO 9001:2008, as atualizações mantêm sua
essência inalterada. Dentre os ajustes propostos, destaque-se a
inclusão de nota sobre o termo ambiente de trabalho, a qual
relaciona-o às condições necessárias para atingir a conformidade com
os requisitos do produto (SGS, 2008).
A magnitude dos resultados alcançados pelas normas do sistema
de gestão da qualidade, após a primeira edição na década de 80,
levou a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento - ECO 92 realizada no Rio de Janeiro solicitar à
ISO um sistema de gestão ambiental normalizado.
3.1.2 Gestão ambiental - SGA
O modelo econômico de desenvolvimento fez com que as pressões
das sociedades, diante da iminência de desastres ecológicos e
deterioração da qualidade de vida, repercutissem sobre os governos,
acarretando o recrudescimento das políticas públicas de preservação
ambiental. Esta nova ordem veio a influenciar o processo de gestão
das organizações, que passaram a incluir nos seus planejamentos
estratégicos a questão ambiental por necessidade de demonstrar nas
suas políticas a valorização da temática como forma de consecução de
novos negócios.
73
Segundo Regazzi (2001), a gestão ambiental passou a ser
associada a atitudes empresariais pró-ativas, com auto-regulação do
desempenho ambiental e foco na prevenção da poluição em todo ciclo
de vida do produto (do berço ao túmulo), caracterizado pela seleção
de matérias-primas, desenvolvimento de novos processos e produtos,
racionalização do consumo de energia, reciclagem e reaproveitamento
de resíduos e disposição final, até a integração de controle
ambiental na gestão administrativa da empresa. A questão ambiental
deixa de ser apenas uma imposição legal e se constitui em ameaças e
oportunidades de negócios a serem consideradas no planejamento das
empresas por estar diretamente relacionada com a competitividade,
permanência no mercado e sobrevivência.
A ação ambiental assenta-se sobre princípios, dentre os quais
destacam-se a sustentabilidade, baseada na necessidade de se reduzir
os desequilíbrios entre o grau de exploração dos recursos naturais e
a sua capacidade de regeneração, e a responsabilidade estendida pelo
produto, que atribui a quem produz a responsabilidade pelo ciclo de
vida do produto, do berço ao túmulo.
Em 1996, foi publicada a primeira versão do conjunto de normas
da série ISO 14000, estabelecendo diretrizes para a implementação
dos sistemas de gestão ambiental nas organizações numa tentativa de
homogeneizar conceitos, ordenar atividades e criar padrões de
procedimentos que sejam reconhecidos por quem executa atividades
laborativas capazes de gerar impactos ambientais. Enfim, foram
estabelecidos requisitos para desempenho ambiental quanto ao
comprometimento das organizações, com atendimento à legislação e
regulamentos aplicáveis e busca de melhoria continuada.
Por compartilharem requisitos comuns aos sistemas de gestão da
qualidade, as empresas podem utilizar seu próprio SGQ como base para
o sistema de gestão ambiental, distinguindo-se que os sistemas de
gestão da qualidade tratam das necessidades de produção e do
cliente, enquanto os sistemas de gestão ambiental buscam o controle
ou eliminação de atividades que possam gerar impactos negativos no
meio ambiente.
74
Entretanto, a série ISO 14000 não trata de aspectos relativos à
saúde ocupacional e segurança do trabalhador, não desencorajando as
empresas que pretendam desenvolver a integração de tais elementos no
sistema de gestão.
3.1.3 Gestão de saúde e segurança ocupacionais - SGSSO
Não existe uma norma ISO para gestão da saúde ocupacional e
segurança do trabalhador. As discussões são realizadas, no âmbito
internacional, na Organização Internacional do Trabalho OIT por
entendimento, em 1997, da própria ISO (ROMERO, 2004).
Na busca de um sistema de gestão de saúde e segurança
ocupacional nos moldes dos sistemas de gestão da qualidade, foram
desenvolvidas normas tanto na Inglaterra, como nos Estados Unidos,
respectivamente a BS
16
8800 e a OSHA
17
18001.
A BS 8800 é essencialmente um guia que explica os vários
elementos necessários para se desenvolver um SGSSO. Orientativa,
assim como a OSHA 18001, foi elaborada para ser compatível com o
sistema de gestão da qualidade da ISO 9001 e com o sistema de gestão
ambiental da ISO 14001. Para tanto, fornece os requisitos
necessários para o estabelecimento de um sistema de gestão de saúde
e segurança ocupacionais sistema preventivo através do qual são
planejadas as atividades produtivas e é controlada uma série de
etapas do processo, garantindo que o produto final seja obtido em
conformidade com o que foi prescrito. Assim como a ISO 14001, a OSHA
18001 (e BS 8800) não tem o foco no produto (ISO 9001), mas em
questões que são conseqüências da produção. Tais normas buscam
auxiliar na minimização dos riscos ocupacionais para os
trabalhadores, estabelecendo uma imagem responsável perante o
mercado.
A OIT publicou em 2001 as diretrizes de saúde e segurança no
trabalho, explicitando que não exigem certificação, redigindo-as de
16
British Standards são padrões estabelecidos pelo grupo BSI (Reino Unido), fundado
em 1901.
17
Occupational Health and Safety Administration, órgão do Departamento do Trabalho
(Estados Unidos).
75
forma a serem adaptadas às diferentes realidades regionais,
respeitando as autonomias governamentais locais.
No Brasil, não norma editada para SGSSO, mas a página
governamental do Ministério do Trabalho e Emprego MTE - divulga,
em versão na língua portuguesa, a BS 8800. Entretanto, deve-se
ressaltar que na da legislação trabalhista brasileira de proteção à
saúde do trabalhador e segurança no trabalho há duas disposições
legais nas Normas Regulamentadoras do MTE que guardam relação com a
idéia de sistema de gestão. São a NR 7 e NR 9, respectivamente
Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional PCMSO - e Programa
de Prevenção de Riscos Ambientais PPRA (BRASIL, 1994 e BRASIL,
1995)
18
. O PPRA apresenta algumas características das normas de
sistemas de gestão, trazendo em seu bojo, junto com a proposta de
antecipação, reconhecimento, avaliação e controle da ocorrência de
riscos ambientais no trabalho, uma estrutura mínima que contempla o
planejamento anual com metas, prioridades e cronograma; estratégia e
metodologia de ação, forma de registro, manutenção e divulgação dos
dados; periodicidade, forma de avaliação e desenvolvimento do
programa.
Talvez por isso não seja surpreendente o fato de que tenha sido
brasileira a primeira empresa do ramo da construção civil a obter
certificação do SGSSO - a Tecnum & Corporate Empreendimentos
Imobiliários, empresa sediada em São Paulo (UBALDO, 2002). Sobre a
construção civil em particular, cujos acidentes de trabalho são
geralmente bastante graves, a legislação brasileira estabeleceu
regulamentação específica através da NR 18 - Condições e Meio
Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (BRASIL, 2007b), que
objetiva a implementação de medidas de controle e sistemas
preventivos de segurança nos processos, nas condições e no meio
ambiente de trabalho na indústria da construção.
18
Quando se tratar de atividade na área de saúde humana, o PCMSO e PPRA deverão ser
desdobrados em conformidade com norma específica, NR 32 Segurança e Saúde no
Trabalho em Serviços de Saúde (BRASIL, 2005).
76
3.1.4 Sobre o sistema de Gestão Integrada
Os sistemas de gestão SGQ, SGA, SGSSO, de adesão voluntária,
não deveriam ser entendidos como restrições, mas como oportunidades
de sustentabilidade ambiental e melhoria da qualidade de vida da
sociedade, atendendo às demandas de inovação tecnológica e pressões
por competitividade, a serem incorporados na metodologia de processo
de projeto, numa visão sistêmica e integradora.
Segundo Dias (2004, p.62), a implementação de sistemas
integrados de gestão na construção civil “tem vindo a ser
reconhecido internacionalmente como uma ferramenta útil... em
promover a melhoria da qualidade do produto construído (um edifício,
uma ponte, uma estrada), reduzir a poluição ambiental resultante da
atividade de construção e os acidentes de trabalho e doenças
profissionais quer durante a fase de construção quer durante as
intervenções posteriores na fase de utilização”. Porém, para atingir
tal objetivo é “necessário e fundamental intervir desde logo na fase
de concepção... tendo em conta o processo construtivo mais adequado
e a sua exploração, utilização e intervenções de manutenção... Os
donos das obras possuem grandes responsabilidades... considerando
não apenas objetivos de prazo e custo, como tradicionalmente, mas
também atender às questões ambientais, da qualidade e da Segurança e
Saúde no Trabalho. Devem dar também a autoridade, o poder e os meios
aos seus agentes (que atuam em seu nome) para implementar e manter
essa política baseada em critérios de organização e responsabilidade
os dois “pilares” para o sucesso de qualquer sistema de gestão.”
Pela proposta do professor da Universidade de Lisboa o sucesso na
implementação de sistemas integrados de gestão reside na capacidade
tanto da equipe responsável pela elaboração dos projetos como da
equipe responsável pela execução dos trabalhos integrando para
qualificar.
Diante do exposto, apesar de observarmos a importância da
implementação de sistemas de gestão na construção civil as propostas
desta gestão integrada em qualidade, segurança e ambiente são
extremamente tímidas no país.
77
A adoção da gestão integrada no processo de projeto de
ambientes com utilização específica, como é o caso de laboratórios
de segurança biológica, constituiria-se em importante ferramenta
para consolidar diretrizes projetuais assentadas no trinômio
qualidade-ambiente-segurança e saúde ocupacionais, elementos que
sustentam o conceito de biossegurança.
3.1.5 Certificação, acreditação e habilitação: gestão da qualidade
em laboratórios
O conteúdo das normas da família NBR ISO 9000 é suficientemente
amplo e versátil, viabilizando-se como “aplicável por qualquer tipo
de organização, seja de produção de insumos ou produtos, seja de
prestação de serviços, inclusive organismos públicos com objetivos
exclusivamente sociais e não competitivos” (SILVA;ROSENBERG, 2006,
p.16).
Para laboratórios norma específica, a NBR ISO IEC 17025
(ABNT, 2001), a qual estabelece os requisitos gerais para a
competência de laboratórios de ensaio e calibração. Valle e Bicho
(2001) destacam que através da norma ISO 17025 buscou-se estabelecer
um padrão internacional e único para atestar a competência dos
laboratórios na realização de ensaios, havendo também uma relação
mais estreita, clara e sem ambigüidade com as normas ISO 9000 de
gestão da qualidade.
Historicamente, o processo de padronização em laboratórios de
ensaio e calibração teve início em 1978, entretanto sem detalhamento
para a aplicação do conteúdo mínimo a ser apresentado na política da
qualidade, na rastreabilidade da medição ou na confiabilidade do
laboratório. Em 2000, foi reeditada, incorporando-se na revisão as
diretrizes difundidas pela norma ISO 9000. A posterior publicação da
nova série ISO 9001:2000 demandou a atualização da ISO 17025 em
2005.
Alguns critérios e requisitos da ISO 9000 e ISO 17025 guardam
bastante semelhança. A ISO 17025 estabelece uma relação estreita com
a ISO 9001:2000, trazendo em seu bojo requisitos gerenciais de forma
que os laboratórios também desenvolvam um sistema de qualidade.
78
Porém, se diferencia pelos critérios de avaliação da competência
técnica do laboratório para implementar ensaios e calibrações
específicas, apresentando 10 requisitos técnicos a serem seguidos
pelo laboratório que busca a certificação, incluindo pessoal,
equipamentos e ambiente.
A acreditação é o reconhecimento formal por um organismo de
acreditação de que um laboratório (ou organismo de certificação ou
inspeção) atendeu os requisitos previamente definidos e se mostrou
competente para realizar suas atividades com confiabilidade. Podem
ser acreditados pelo INMETRO organismos de certificação, através da
Divisão de Credenciamento de Organismo, e laboratórios de ensaio e
calibração, através da Divisão de Credenciamentos de Laboratórios
DICLA.
Tanto a certificação ISO 9000 quanto a acreditação pela NBR ISO
IEC 17025 asseguram a existência de um sistema de gestão qualidade
em laboratórios, evidência da credibilidade da gestão. Entretanto, o
sistema de gestão da qualidade, por si só, é indicação necessária
mas não suficiente quando se trata de laboratórios de calibração e
ensaios, haja vista a necessidade de demonstrar a competência
técnica da instalação. Desta forma, para fins de credibilidade
laboratorial, o instrumento mais adequado a ser adotado é a
acreditação, uma vez que esta atesta tanto a gestão da qualidade
como também a competência técnica.
Especificamente para laboratórios clínicos, foi editada a norma
Laboratórios de análises clínicas Requisitos especiais de
qualidade e competência, que obedece ao mesmo conteúdo da norma ISO
17025, porém incorporando requisitos de aplicação específica. No
Brasil a ABNT realizou a tradução e publicação da norma em questão
como NBR (ABNT NBR NM ISO 15189). Coube ao Instituto Nacional de
Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial INMETRO, regulá-la
sob forma da norma NIT-DICLA 083 Critérios Gerais para Competência
de Laboratórios Clínicos (INMETRO, 2001) uma vez que este órgão é o
único que oficialmente pode expedir certificado de acreditação de
laboratórios clínicos no Brasil. Entretanto, Silva e Rosenberg
79
(2006) observam que pode haver ações de habilitação de laboratórios
por parte de organismos de regulação tais como a ANVISA.
Há, ainda, os princípios de Boas Práticas de Laboratório – BPL,
regulamentados através da norma NIT-DICLA 028 - Critérios para o
Credenciamento de Ensaios Segundo os Princípios BPL Boas Práticas
de Laboratório (INMETRO, 2003). Sua origem é de 1982, quando a
Organização para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento (OECD)
publicou os princípios de boas práticas laboratoriais no teste com
produtos químicos, posteriormente complementando-os com diretrizes
sobre propriedades de produtos químicos e segurança química. Em
nosso país, as BPL são de aplicação compulsória nas áreas
laboratoriais de toxicologia, eco-toxicologia e ecossistemas, com
aplicação cada vez maior em laboratórios de pesquisa
(SILVA;ROSENBERG, 2006). Em síntese, as BPL constituem o sistema de
gestão da qualidade que abrange o processo organizacional e as
condições sob as quais são planejados, realizados, monitorados,
registrados e arquivados estudo em laboratório e no campo. Seus
princípios abrangem estudos com produtos químicos, biológicos e
biotecnológicos, obtendo-se dados sobre a substância em questão a
fim de se garantir a segurança quanto ao seu uso com respeito à
saúde humana, vegetal, animal e ao meio ambiente, sendo eficaz nos
objetivos científicos (INMETRO, 2003).
Além desses regulamentos, cabe acrescentar que na área de
produção todas as operações que tratam da fabricação de medicamentos
devem obrigatoriamente buscar a certificação em Boas Práticas de
Fabricação BPF (ANVISA, 2003). A resolução da ANVISA é de mesma
natureza que outras normas da qualidade, elaboradas especificamente
para a produção e controle da qualidade de medicamentos e a última
versão foi publicada em 2003 como Resolução RDC 210.
na área hospitalar, os sistemas de acreditação baseados
nas BPC Boas Práticas Clínicas, direcionadas para os estudos
clínicos em humanos. No Brasil, o Ministério da Saúde (BRASIL, 2001)
aprovou o Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar, um
instrumento específico para avaliar a qualidade assistencial destas
instituições de forma sistêmica e global. Trata-se de certificação
80
voluntária a ser obtida através de instituições acreditadoras
credenciadas.
Os sistemas de gestão da qualidade tendem a convergir em
critérios e requisitos comuns, diferenciando-se em relação ao foco
ou objetivo do sistema, com aspectos específicos complementares
aplicáveis a determinados processos, sejam eles na área de produção
de insumos para saúde, hospitalar, de pesquisa em biotecnologia ou
de pesquisa clínica.
Ao aplicar os sistemas de gestão da qualidade em qualquer
destas áreas de atuação, é imprescindível considerar os princípios
de biossegurança com o objetivo de minimizar os riscos ocupacionais
e ambientais, notadamente aqueles relativos à exposição aos agentes
biológicos. Assim, são múltiplos os recortes através dos quais se
verifica a interface entre a gestão da qualidade e a biossegurança,
exigindo atendimento de normas nacionais e internacionais sobre a
organização de ambientes de trabalho, com risco biológico, para
realização de pesquisa ou prestação de serviços.
No Brasil, o Ministério da Saúde, através da Secretaria de
Vigilância em Saúde (Brasil, 2004b), estabeleceu critérios para
habilitação dos laboratórios de referência, dentre as quais destaca-
se a implantação compulsória de um sistema de gestão de qualidade
que obedeça a uma das normas anteriormente citadas (NIT-DICLA 083,
ABNT NBR ISO IEC 17025 ou NIT-DICLA 028) e também a implantação
compulsória de um sistema de gestão da biossegurança. A habilitação
é concedida pela CGLAB Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde
Pública, do Ministério da Saúde.
A norma ABNT NBR NM ISO 15189 (ABNT, 2007)
19
, regulamentada pelo
INMETRO como NIT-DICLA-083 sobre critérios gerais para competência
de laboratórios clínicos, que trata dos procedimentos para
acreditação de laboratórios clínicos, textualiza como um dos seus
requisitos técnicos as acomodações e condições ambientais. O item
7.2 Acomodações e condições ambientais é um dos dez requisitos
técnicos da norma. Os demais tratam de pessoal, equipamentos,
19
Esta norma foi atualizada em 2007 em consonância aos regulamentos previstos para
o Mercosul.
81
processos, procedimentos, resultados e saúde, segurança e meio
ambiente. Os aspectos arquitetônicos da instalação são bastante
valorizados como exigências de acomodação e condições ambientais.
É exigido, com vistas à minimização de interferências que
possam comprometer a qualidade dos exames contidos no laudo, que o
laboratório tenha sua construção e localização compatíveis com as
necessidades e que as dimensões sicas sejam adequadas tendo em
vista os processos que serão desenvolvidos no local.
A citada norma também ressalva que a planta do laboratório deve
prever locais específicos para o desenvolvimento de diferentes
atividades, com separação efetiva entre áreas vizinhas nas quais
existam atividades incompatíveis e com adoção de medidas para
prevenir contaminação cruzada. Portanto, o leiaute da instalação
deve atentar para o fluxo de trabalho que será desenvolvido no
ambiente, com adequada setorização das atividades. Na concepção do
laboratório, devem ser previstas salas, áreas, instalações,
equipamentos e suprimentos que assegurem a realização dos exames e o
armazenamento dos materiais, documentos, reagentes e sistemas
biológicos.
Tendo em vista que condições ambientais adversas podem
influenciar negativamente os resultados dos exames, a norma
recomenda que tais condições devem ser monitoradas de acordo com as
especificações exigidas, especificações estas que, necessariamente,
devem ser consideradas na fase de projeto.
A regulamentação também destaca como relevante o controle de
acesso às distintas áreas do laboratório, determinando que os níveis
de controle devem ser baseados nas circunstâncias particulares que
afetam a setorização dos ambientes.
Na normalização são destacados os aspectos de higienização do
ambiente laboratorial, remetendo aos cuidados que devem ser seguidos
na especificação de materiais como forma de se garantir a assepsia e
desinfecção das áreas para trabalho em contenção biológica.
82
Finalizando as recomendações, é determinado que o laboratório
deva atender aos requisitos da legislação vigente relativa às
exigências para acomodações e condições ambientais.
Face às exigências contidas na normatização adotada no Brasil,
verifica-se que, para se implantar um sistema de gestão da
qualidade, é necessário um bom desempenho da edificação, inclusive
quanto aos requisitos de biossegurança. Estes requisitos têm que ser
considerados desde a concepção do projeto sob pena de comprometer e
inviabilizar o uso da instalação de acordo com os fins a que foi
destinada.
3.2 Processo de projeto, inter e multidisciplinaridade
No rigor técnico, projeto é a definição qualitativa e
quantitativa dos atributos técnicos, econômicos e financeiros de um
serviço ou obra de engenharia e arquitetura, com base em dados,
elementos, informações, estudos, discriminações técnicas, cálculos,
normas e disposições especiais (ABNT, 1995).
Esta definição, segundo a percepção de Novaes (apud MYSSIOR,
2003) estaria ligada à dimensão estática da função projeto,
referindo-se ao produto, sendo constituído por elementos gráficos e
descritivos, ordenados e elaborados para o atendimento das
necessidades da etapa de produção. projeto, numa dimensão
dinâmica possui o sentido de processo, indicando que as soluções são
elaboradas e precisam ser compatibilizadas. Segundo Myssior (2003),
o projeto assume um caráter tecnológico e outro gerencial. A questão
tecnológica está diretamente ligada às soluções presentes nos
detalhamentos dos projetos elaborados. A abordagem gerencial refere-
se às fases diferenciadas para as quais concorrem um conjunto de
participantes com responsabilidades específicas.
É de forma abrangente que Melhado e Agopyan (1995, p.18)
conceituam projeto como parte de um processo maior, definindo-o como
“atividade ou serviço integrante do processo de construção
responsável pelo desenvolvimento, organização, registro e
transmissão das características físicas e tecnológicas especificadas
83
para uma obra, a serem consideradas na fase de execução”, conferindo
maior interação e movimento à atividade de projetar.
Os autores supra registram que Handler desenvolveu um enfoque
sistêmico para o trabalho em arquitetura, que ele denominou de
sistema arquitetônico, dividindo-o em quatro sub-sistemas: projeto,
construção, uso, operação/manutenção, ilustrado na Figura 18
Conceituação do subsistema projeto.
Destacam suas palavras, segundo as quais para “projetar
satisfatoriamente um produto, o arquiteto tem que considerar todo
espectro do processo, desde seu início até a conclusão, quando
deverão tornar-se evidentes os objetivos da construção proposta e as
atividades para as quais ele foi projetado” (MELHADO;AGOPYAN, 1995,
p.7).
Por esta proposição, o projeto se desenvolve a partir de um
conjunto de dados de entrada, dos quais fazem parte restrições no
âmbito dos objetivos, limitações e critérios condicionantes do
empreendimento. Entretanto, deve-se observar que tal proposição é da
década de 70 e, atualmente, à luz dos sistemas de gestão, deve-se
entender que tais restrições são oportunidades.
São etapas do processo de projeto em si a sua concepção,
planejamento, análise, seleção e síntese final. Como resultante
obtêm-se os dados de saída como soluções de projeto, representadas
pelos componentes, arranjos, dimensões e detalhes.
Sobressai a visão sistêmica proposta por Handler, integrando à
etapa de projeto às demais atividades ligadas ao ciclo produtivo
através da retroalimentação. Assim, os demais subsistemas
construção, uso e operação/manutenção transformam-se em dados de
entrada de outros projetos.
84
Figura 18 – Conceituação do subsistema projeto
Adaptado de: Melhado e Agopyan (1995)
20
20
A figura proposta por Melhado é Agopyan conceitua o subsistema projeto a partir de
modelo proposto por Handler em 1970. Atualmente, entende-se que as restrições de
projeto devem ser percebidas como oportunidades.
Objetivos humanos
ambientais
de construção e operação
Limitações características humanas
situação e clima
tecnologia, normas e legislação
custos
Critérios humanos: funcionalidade, conforto
sociais: significado comunitário
técnico: análise de desempenho
econômicos: custo/benefício
OPORTUNIDADES
Metodologia de
projeto
Conhecimento prático
Apoio de consultoria
Concepção
Planejamento
Análise
Seleção
Síntese final
Soluções de projeto:
componentes
arranjos
dimensões
detalhes
PROJETO
SAÍDAS
DADOS DE ENTRADA
RETROALIMENTAÇÃO E CONTROLE
DADOS DE ENTRADA
PARA A EXECUÇÃO
PROJETO
CONSTRUÇÃO
USO
OPERAÇÃO
E
MANUTENÇÃO
85
No pensamento de Melhado e Agopyan (1995, p.9), uma das
diretrizes do processo de projeto deveria ser a abordagem sistêmica
das etapas do ciclo construtivo, sintetizando este enfoque com as
seguintes palavras:
A atividade de projeto deve estar integrada, quanto aos objetivos
e procedimentos, com o conjunto das atividades vinculadas ao
empreendimento e às relações externas da empresa, sendo
considerada um subsistema deste conjunto.
Entretanto, na prática tem-se verificado a fragmentação do
processo de projeto, desenvolvido sob uma ótica cartesiana pela qual
busca-se aperfeiçoar o todo pela otimização das partes, porém, em
geral, a resultante não se apresenta com tais valores agregados.
As práticas da construção civil brasileira no que diz respeito
ao processo de desenvolvimento dos projetos, em particular,
demonstram uma enorme diferença entre os conhecimentos adquiridos no
que diz respeito aos modelos de gestão que enfatizam conceitos como
integração entre projeto e produção, por exemplo, e o que é
efetivamente praticado pelas empresas (LANA;ANDERY, 2001). Segundo
os autores, até mesmo empresas que procuram “assumir esses conceitos
nas práticas de projeto esbarram na falta de conhecimento dos
profissionais, imersos em uma cultura que segmenta a cadeia de
produção e separa o projeto de sua execução”.
Nos ramos de edificação residencial e comercial, pesquisa
realizada acerca das práticas de projeto de escritórios de
arquitetura verificou que o processo de projeto é subdividido
(CASTELLS;HEINECK, 2001). Segundo os autores, “há uma tendência
consagrada de dividir a elaboração e o gerenciamento do processo de
projeto em duas etapas separadas e independentes”.
A dicotomia do processo de projeto também foi constatada por
Bordin e Schmitt (2003) sob outro aspecto. Para estes autores
dois grandes momentos no desenvolvimento de um projeto, apresentando
como resultado produtos com diferentes níveis de detalhamento e
finalidades. Primeiramente é contemplada a concepção do
empreendimento para satisfação das necessidades dos usuários,
desenvolvido respeitando as limitações legais - o projeto legal.
Complementando-o, é desenvolvido o projeto executivo, contendo a
86
representação de detalhes construtivos dispensáveis ao processo de
aprovação e que apresenta detalhamento das várias especialidades
para fins de execução dos serviços.
Para Romano et al. (2001), a carência de qualidade no processo
de projeto é relacionada ao desenvolvimento não planejado,
segmentado e seqüencial das etapas, destacando-se a ausência de uma
visão abrangente e integrada no que chamam binômio projeto-execução.
Neste sentido, Kamei e Franco (2001) identificam como consenso,
entre determinado grupo de agentes da construção civil, a
necessidade de se evoluir dos tradicionais projetos particulares de
cada área técnica para o projeto tendo em foco a produção, este
último agregando o “valor de representar no papel, antecipadamente,
com ações de engenharia, a execução do empreendimento”.
Na opinião de Melhado (2001), no projeto de arquitetura,
freqüentemente, “a idéia da técnica construtiva desenvolve-se como
uma resultante de argumentos de ordem estética ou funcional, muitas
vezes apresentando uma relação tênue com a realidade futura de sua
execução”. Para o autor, apenas uma minoria de profissionais
arquitetos tem se “empenhado para antecipar as inconsistências e os
conflitos freqüentes, através de um trabalho conjunto e precoce com
engenheiros de projeto e de obra, para embasamento das decisões de
projeto”.
É neste sentido que Grilo e Melhado (2003) afirmam que o
“processo de projeto constitui uma das interfaces mais complexas e
um dos principais desafios para a modernização da indústria da
construção”. A superação das deficiências de gestão de projetos
poderia contribuir para decidir as questões mal resolvidas e
propiciar a integração entre soluções formais e tecnológicas.
As pesquisas que vêm sendo desenvolvidas sobre processo de
projeto referem-se, via de regra, ao mercado imobiliário. Trabalho
recentemente realizado por Silva (2006) constatou que
fragmentação do processo de projeto na área de saúde. A autora
conclui que no caso dos hospitais, a gestão do processo de projeto
revela-se ainda mais importante que nos empreendimentos
87
convencionais em vista de sua maior complexidade, o volumoso fluxo
de informações e mais elevado número de especialistas envolvidos nos
projetos.
À medida que as interfaces se revestem de nível mais elevado de
complexidade a necessidade por informações acerca do empreendimento
se amplia. Assim, o projeto desdobra-se em maior número de etapas,
sobretudo envolvendo crescente variedade de especialistas no intuito
de bem atender os objetivos de desempenho da edificação.
Neste contexto, Salgado (2004) lembra que para atender
satisfatoriamente as necessidades do empreendimento é preciso
elaborar cuidadosamente o programa de necessidades, responsável por
uma parcela significativa das decisões de projeto. Assim, desde as
etapas iniciais de projeto devem estar identificadas as áreas do
conhecimento envolvidas e os clientes do projeto, sejam estes um
tipo de usuário, um processo de trabalho, um determinado
comportamento a ser desencadeado nas pessoas ou esse conjunto de
elementos.
A multiplicidade de questões que surgem no decorrer dos
projetos implica na mobilização de profissionais de diferentes
disciplinas de sorte a tratar com propriedade as demandas
apresentadas, principalmente diante do grau de complexidade e
desenvolvimento tecnológico relacionado aos empreendimentos da
construção civil. Assim, a qualidade do projeto e conseqüente
satisfatório desempenho do empreendimento estão diretamente
relacionados à capacidade de integração entre os colaboradores
internos e externos durante o desenvolvimento simultâneo ou
seqüencial das diversas etapas de projeto, para o qual se faz uso de
diferentes disciplinas.
Melhado (2005) indaga se não é o momento de se estabelecer uma
especialização profissional nova e que se volte à formulação
fundamentada de programas de necessidades como dados de entrada, que
permitiriam o desenvolvimento de projetos focados em demandas
legítimas.
88
Ao abordar a questão da multidisciplinaridade do processo de
projeto, Melhado (2001) alerta que este se desenvolve dentro de um
ambiente de incerteza cada vez mais acentuada pela “complexificação”
dos empreendimentos sendo que cada novo empreendimento de
construção, por ser único, exige esforços de organização e de
cooperação particulares.
Neste cenário, o projeto de arquitetura para ambientes
destinados ao trabalho em contenção biológica adquire uma conotação
de maior relevância uma vez que atua como o eixo central das
diretrizes do processo e precursor do desenvolvimento das demais
especialidades de projeto, revelando-se ao mesmo tempo
interdisciplinar e multidisciplinar.
Interdisciplinar por estabelecer relações entre pelo menos dois
ramos do conhecimento, quais sejam a arquitetura e as ciências
médicas - a arte de adequar os espaços às ações humanas,
influenciando e sendo influenciada pelas ciências médicas.
Multidisciplinar por distribuir-se por várias disciplinas e
diversas pesquisas associadas ao ciclo construtivo estando na ordem
do dia a abordagem sistêmica do processo de projeto em detrimento da
práxis comumente encontrada pela qual o todo é fragmentado em etapas
tratadas como se a cadeia de produção não fosse constituída de elos
interdependentes.
Sem negar a criatividade inerente ao processo de projeto,
Salgado (2004) afirma que esta pode ser desenvolvida e educada pelo
conhecimento, pelo treinamento e pela capacidade de compreensão dos
fenômenos onde está imersa a arquitetura. Um destes fenômenos é o
crescente volume de informações próprias ao ato de projetar.
O desenvolvimento de um projeto é marcado pela consulta,
articulação e conciliação de múltiplas informações e contribuições
originadas das diversas partes e áreas do conhecimento envolvidas.
Assim, um sistema que organize os dados e possibilite o acesso
imediato às informações necessárias ao pleno desenvolvimento do
projeto, desde a definição do programa de necessidades a o uso-
operação do empreendimento construído é de extrema relevância.
89
A gestão do projeto como processo consiste num conjunto de
ações de planejamento, organização e controle voltadas à obtenção da
qualidade.
A qualidade do projeto e o desempenho da edificação estão
diretamente relacionados à integração entre os agentes do processo,
internos e externos, sustentada por uma coordenação efetiva durante
o desenvolvimento simultâneo ou seqüencial das diversas disciplinas
de projeto.
Melhado e Fabrício (2004), destacam dentre os principais
objetivos relacionados à coordenação das decisões e soluções de
projeto:
a) fomento e garantia da qualidade das soluções técnicas
adotadas nos projetos (qualidade dos projetos stricto
sensu);
b) validação dos projetos e das etapas em desenvolvimento
(gestão do escopo);
c) fomento da comunicação entre os participantes do
projeto e coordenação das soluções das várias
especialidades (gestão da comunicação);
d) coordenação das interferências entre diferentes
projetos (gestão das interfaces);
e) integração das soluções de projeto com o processo de
produção do empreendimento (gestão integrada: projeto-
obra).
Verifica-se que a coordenação trata, sob uma perspectiva mais
ampla, de uma função de caráter técnico-gerencial com vistas à
integração das necessidades, conhecimentos e técnicas de todos os
intervenientes num dado empreendimento.
É freqüente o arquiteto atuar como coordenador das equipes de
projeto, gerenciando as relações entre agentes do empreendimento e
resultados desejados de projeto. Os desafios deste profissional são
ampliados pela inclusão de diferentes conjuntos de conhecimento e
90
pela participação de diferentes projetistas e consultores de áreas
específicas.
O processo de projeto de laboratórios, marcados pela multi e
interdisciplinaridade ratifica a coordenação como uma questão
essencial, uma vez que coloca em xeque a superação de questões
particularmente conflitantes quando da tomada de decisões, tendo em
vista a complexidade das instalações dessa natureza.
3.3 Processo de projeto de laboratórios
Segundo Lord (2004), entender uma instalação equivalente a um
laboratório NB3 é etapa que antecede ao ato de projetá-la.
Bastante eloqüente, Carvalho (2006b) afirma ser fato comum a
intervenção direta de profissionais de saúde no espaço construído ou
a contratação de arquitetos que apenas se limitam a passar para o
papel as soluções definidas”. Na opinião deste autor, a tarefa
inicial do projetista de edificações para a saúde deve ser
estabelecer uma base de conhecimentos que permita o entendimento
geral do que se procura fazer, “inserindo cada participante de forma
a transformar os desejos dos trabalhadores da área em soluções
corretas e bem determinadas” e “seus todos de trabalho devem
primar pelo didatismo, tornando cada etapa objeto de discussão e
decisão conjunta”.
Ao afirmar que a concepção de um projeto envolve variáveis
diversas e específicas a cada área de atuação, não se tolerando nos
dias atuais o método de tentativa e erro no qual esteve calcado,
durante muito tempo, o ato de projetar, Lapa (2005) também
preconiza, mesmo que de forma subjacente, a necessidade de se
desenvolver uma didática de projeto para a área da saúde.
No caso dos empreendimentos arquitetônicos que guardam
interdisciplinaridade com as ciências médicas, particularmente no
âmbito de laboratórios de pesquisa biológica para trabalho em
contenção, essas preocupações não são diferentes, concentrando-se no
compromisso de se obter ambientes capazes de assegurar o
comportamento e o desempenho desejados e esperados.
91
Os laboratórios de pesquisa e diagnóstico em biologia são
espaços que devem ser projetados levando-se em consideração os
agentes perigosos ali manipulados. Portanto, a segurança que tais
instalações demandam é um item a acrescentar à complexidade dos
empreendimentos.
Para projetar unidades de produção de insumos e de serviços na
área da saúde, é preciso atentar para a ocorrência de exposição a
situações de risco. Desta forma, “a ênfase dos projetos recai em uma
visão moderna de engenharia de segurança do trabalho, influenciada
por técnicas de gestão de risco em prol da qualidade ambiental”
(LAPA, 2005, p.41).
Assim, no contexto de laboratórios, é preciso desenvolver uma
didática específica de processo de projeto, aqui entendida como a
arte de transmitir conhecimento, que esteja em conformidade e plena
harmonia com os objetivos da edificação quais sejam o atendimento
dos requisitos de biossegurança e suas estreitas relações com a
qualidade, meio ambiente e segurança e saúde ocupacionais.
A compreensão da relevância dos fundamentos de biossegurança
para a construção de laboratórios de contenção biológica faz com que
este conceito deva integrar o que Carvalho (2006b) denominou como
estabelecimento da base de conhecimentos que permite o entendimento
geral do que se procura fazer como tarefa inicial do projetista de
edificações para a saúde. Assim, a biossegurança como disciplina
deve ser incorporada ao processo de projeto de tais ambientes como
parte do conjunto sistematizado das necessidades de uso que
nortearão as decisões a serem tomadas.
Quando se refere ao trabalho do especialista no âmbito da
arquitetura para a saúde, Carvalho (2006b) lembra que este não se
resume à solução técnica, mas sim à capacidade de interagir e
obedecer a uma metodologia focada na totalidade do objeto alvo da
intervenção, sem fragmentá-lo. E para interagir é necessário estudar
e compreender a linguagem dos parceiros que constituirão a equipe
multidisciplinar de projetos.
92
Também Griffin (2005) destaca que, via de regra, arquitetos e
engenheiros não estão familiarizados com a linguagem científica na
área das ciências médicas. Assim, durante a elaboração do programa
de projeto deve-se recomendar aos interlocutores de outras áreas do
conhecimento que a descrição das necessidades seja elaborada tendo-
se em mente o leitor. Da mesma forma, é de se supor que esta
preocupação deva existir em sentido inverso, com arquitetos e
engenheiros zelando no emprego do vocabulário para evitar que o
tecnicismo provoque ruído na comunicação.
Cabe ressaltar, ainda, que a verdadeira solução em arquitetura
deverá ir além da mera interpretação do programa de necessidades e
do cumprimento de exigências técnicas preconizadas nas diretrizes de
biossegurança.
É exatamente esta percepção que, às vezes, escapa à compreensão
de pesquisadores e cientistas que, por serem especialistas em seus
campos de atuação, por vezes não reconhecem a importante
contribuição que o profissional de arquitetura pode trazer à
qualidade do ambiente construído, neste caso, o laboratório.
A percepção de conforto é propiciada pelo jogo de superfícies,
texturas, luz e cores que o profissional de arquitetura pode
organizar. Na maioria das vezes esse aconchego é perfeitamente
compatível com as exigências das diretrizes de biossegurança.
Encontrar o equilíbrio entre as necessidades da atividade e a boa
solução em arquitetura deve ser o papel do processo de projeto.
Para Richmond e Howard (1997), durante a construção do programa
de necessidades compete à equipe de projeto esgotar respostas para
as questões: quem? o quê? quando? onde? como? No entendimento dos
autores, a equipe deve ser integrada por arquitetos e engenheiros
com experiência em projetos desta natureza, além de profissionais
que sustentem os pontos de vista e os entendimentos do empreendedor,
dos pesquisadores e técnicos que atuarão na instalação, de
representantes da área de manutenção e também representantes de
segurança e saúde ocupacionais.
93
Pela experiência de Langley (2005), pesquisadores e técnicos de
laboratório estarão envolvidos na elaboração de um programa para
projeto de uma nova instalação uma ou duas vezes durante toda a sua
vida profissional. Mesmo que tenham base de conhecimento quanto aos
riscos ocupacionais envolvidos nas suas atividades, por vezes podem
não dispor de tempo suficiente para prestarem informações ou então
não têm plena compreensão do processo de projeto e suas limitações.
Para esta autora, as informações sobre segurança e saúde
ocupacionais como dados de entrada de projeto são cruciais para
assegurar a funcionalidade, segurança e eficiência das instalações.
Neste sentido, ela ressalta a importância da participação de
profissionais da área de segurança do trabalho no acompanhamento do
processo de projeto de laboratórios e destaca que a fase de projeto
é ímpar ao proporcionar a oportunidade de controle dos riscos na
fonte. Ramsey e Roberts (1997) também destacam a importância da
participação dos profissionais da área de biossegurança na equipe de
projeto por serem treinados quanto a segurança na manipulação dos
agentes perigosos de natureza biológica, física, radiológica e
química, estarem familiarizados com as regulamentações
governamentais na área e por assumirem responsabilidades
operacionais durante as emergências, inclusive quanto aos
procedimentos de descontaminação.
As informações obtidas a partir da avaliação de risco devem ser
pautadas em conjunto com os requisitos necessários para a operação
segura do laboratório, constituindo-se no programa de necessidades
que fundamentará as demais etapas do processo de projeto a ser
desenvolvido por especialistas de arquitetura e engenharia.
Conforme explanado em estudo desenvolvido acerca da
prevenção dos perigos inerentes ao trabalho em laboratórios, a
avaliação de risco tem se mostrado um importante instrumento para
fornecer subsídios aos processos decisórios (VIEIRA;LAPA, 2005). Sob
uma perspectiva abrangente, corresponde à etapa intermediária entre
a identificação e a tomada de decisões para o gerenciamento e
controle dos riscos, iniciada quando reconhecimento da existência
de agentes potencialmente perigosos, cujos efeitos sobre a saúde e o
ambiente devem ser mediados.
94
A avaliação do risco para atividades de laboratórios da área da
saúde é essencial na determinação dos níveis de biossegurança que
minimizam a exposição de trabalhadores e do meio ambiente aos
agentes perigosos de qualquer natureza.
O potencial em afetar o ambiente e seus ocupantes, intrínseco
aos fatores e agentes perigosos, deve ser considerado na orientação
do processo de projeto de arquitetura e engenharia das instalações
laboratoriais. A antecipação e reconhecimento dos riscos têm a
finalidade de introduzir condutas preventivas sendo fundamentais na
etapa de concepção dos projetos de laboratórios, sejam estes novos
ou adaptados.
Richmond e Howard (1997) destacam que as informações obtidas
durante a avaliação de risco devem ser depuradas e documentadas de
forma clara e concisa, integrando o programa de necessidades que
orientará a equipe de arquitetos e engenheiros encarregados do
projeto.
Lord (2004) aponta cinco questões como chaves para o
desenvolvimento de projeto de laboratórios NB 3:
Avaliação do risco
Procedimentos laboratoriais
Contenção primária
Contenção secundária
Sistemas de operação e manutenção
O diagrama na Figura 19 – Chaves para o projeto de laboratórios
NB3 - ilustra o inter-relacionamento entre as diversas
características a serem consideradas quando da análise operacional
com vistas a atingir a contenção desejada e posterior
desenvolvimento do projeto. As inter-relações entre as questões
chaves formam o processo decisório. Portanto, respondê-las é
essencial para o planejamento, projeto e construção de instalações
NB 3. Para Lord (2004, p.2), “alcançar o resultado desejado é
95
similar a utilizar o método científico: afirmação.. hipótese...
fatos... proposição... testes... conclusão... comunicação.”
Figura 19 – Chaves para o projeto de laboratórios NB3
Fonte: Lord (2004)
A avaliação de risco pressupõe o entendimento qualitativo e
quantitativo dos riscos associados ao trabalho com os agentes
identificados. Durante a avaliação devem ser identificados os
elementos de prevenção às infecções que possam ser adquiridas pelo
trabalho em laboratório e os modos pelos quais tais requerimentos
possam ser atingidos. Estes requerimentos englobam os procedimentos
laboratoriais, equipamentos necessários, áreas físicas e sistemas. A
avaliação resulta numa listagem de requisitos que comporão as outras
quatro questões chave. Uma avaliação completa de riscos apresenta as
Acesso à
manutenção
equipamentos
Requerimentos
espaciais
Agente/Procedimentos/Equipe
Avaliação de risco
Procedimentos
laboratoriais
Interface Procedimentos
e Contenção
Equilíbrio
Interface Procedimentos
e Operações
Contenção
primária
Equipamentos
Contenção
secundária
Instalações
Operação e
Manutenção
Equip./Inst.
Acesso à
manutenção
instalações
Requerimentos
equipamentos
96
circunstâncias que devem ser compreendidas para fins de projetar um
laboratório efetivamente seguro dentro do contexto da edificação
como um todo.
A avaliação de risco também determina quais requerimentos devem
ser atendidos por sistemas redundantes. As redundâncias tanto podem
ser necessárias em função das diretrizes gerais para trabalho em
laboratório como determinadas pelo nível de risco avaliado pela
equipe de biossegurança. Os requerimentos para redundância são
complexos e nem todos são baseados apenas nas questões de segurança,
considerando-se também investimentos financeiros, sociais e de tempo
para valorar redundâncias de sistemas e operações.
Langley (2005) propõe a confecção de um plano de pesquisa de
riscos como forma de identificá-los e incorporá-los no projeto de
laboratórios. Segundo a autora, os riscos em laboratório estão
associados ao local de trabalho, métodos e procedimentos empregados,
equipamentos e substâncias utilizadas. Onde são identificados
perigos com risco elevado ou significante, necessidade de por em
prática medidas prévias de controle e um dos métodos sugeridos é a
Hierarquia de Controle, que consiste de seis estágios hierarquizados
em ordem decrescente de prioridade e efetividade:
Eliminação
Substituição
Isolamento
Controles de engenharia
Controles administrativos
Utilização de equipamentos de proteção individual
Para levantamento dos riscos, tarefa a ser desenvolvida pela
equipe de pesquisadores e técnicos, sugere-se um instrumento
abrangente quanto aos riscos potencialmente presentes no ambiente de
trabalho, sumarizada no Quadro 10 Identificação de riscos
potencialmente presentes em laboratório.
Segundo a proposta de Langley (2005) a equipe de laboratório
responsável pela “lição de casa” referente à identificação e
97
reconhecimento dos riscos deve contar com apoio técnico da equipe de
projeto e do setor de segurança do trabalho.
Quadro 10 – Identificação de riscos potencialmente presentes em laborario
1. Mecânicos (planta)
1.1 Veículos
1.2 Máquina e equipamentos com movimentos
1.3 Compressão/tensão de partes
1.4 Ruído
1.5 Vibração
1.6 Pressão
2. Radiação
2.1 Ionizante (diferentes naturezas)
2.2 Ultravioleta
2.3 Infravermelho
2.4 Laser
2.5 Radiofreqüência
2.6 Campo eletromagnético
2.7 Freqüências extremamente baixas
3. Fogo e explosão
3.1 Substâncias combustíveis e inflamáveis
3.2 Explosivos
4. Temperatura
4.1 Calor
4.2 Líquidos criogênicos
5. Ambientes perigosos
5.1 Espaços confinados
5.2 Áreas de acesso restrito
5.3 Trabalho em altura
5.4
Ambiente frio/quente (estresse térmico)
5.5 Trabalho a quente
6. Eletricidade
6.1 Equipamentos de alta voltagem
6.2 Equipamentos com eletricidade “viva
6.3 Descarga eletrostática
7. Biológico
7.1 Amostras biológicas
7.2 Alergênicos
7.3 Irritantes
7.4 Genotoxinas
7.5 Zoonoses
7.6
Manipulação de animais de pequeno porte
7.7 Manipulação de animais de grande porte
7.8 Manipulação de amostra humana
8. Químicos perigosos
8.1 Carcinogênicos
8.2 Substâncias alergizantes
8.3 Substâncias corrosivas
8.
4 Substâncias irritantes
8.5
Genotóxicos (mutagênicos, teratogênicos)
8.6 Substâncias tóxicas
8.7 Geração de gases, vapores, neblinas,
fumaças, fumos, poeiras, fibras ou
odores
8.8 Atmosferas asfixiantes
9. Indivíduo
9.1 Manipulação
9.2 Golpes, inclusive cortes
9.3 Escorregões e desníveis
9.4 Posturas fixas
9.5 Movimentos repetitivos
9.6 Trabalho sozinho
9.7 Trabalho fora do horário administrativo
9.8 Recepção de visitantes
10. Outros
10.1 Biosseguridade
Fonte: Langley (2005)
98
A partir da avaliação de risco como questão chave para as
decisões de projeto, Lord (2004) remete às outras quatro questões de
relevância. Três das questões referem-se ao ciclo de contenção sobre
o qual se assenta a biossegurança: procedimentos de laboratório,
contenção primária e contenção secundária, abordadas no Capítulo
I intitulado Do paradigma pasteuriano ao conceito de biossegurança:
a demanda por soluções espaciais e no Capítulo II Arquitetura de
laboratórios NB 3. A quinta chave decisória apontada pelo autor é a
operação e manutenção do laboratório, ou seja, Lord demonstra desde
a fase de concepção a importância da abordagem sistêmica no processo
de projeto que leva à preocupação quanto ao desempenho do bem
construído.
Enquanto Crane e Riley (1997) defendem como ponto mais
importante do projeto de NB3 os cuidados projetuais quanto aos
equipamentos de contenção primária, Lord (2004) aponta como crítico
o equilíbrio entre as questões chaves, observando que valorizar
sobremaneira uma das questões em detrimento de outras não favorece o
alcance do indispensável equilíbrio entre os elementos fundamentais.
Para se atingir os objetivos de projeto deve-se procurar respostas a
todas as questões. Os procedimentos de trabalho em laboratório podem
ser restritivos em relações às outras questões consideradas chaves.
Todos os cinco pontos são relevantes para a adequada operação de uma
instalação NB3, porém a questão que menos contribui para o
balanceamento do equilíbrio é a que diz respeito aos procedimentos
laboratoriais. Tais procedimentos são relativos à qualidade da
investigação científica e condução segura das operações. As outras
quatro questões são respostas às diretrizes de procedimentos de
trabalho de pesquisa biológica em contenção.
No contexto brasileiro, Fonseca e Abdalla (2005) destacam que
as decisões sobre projetos para a área de saúde também são tomadas
nas etapas iniciais do processo de projeto, com muitas das soluções
definidas no programa de necessidades.
3.4 Processo de projeto e avaliação de desempenho
Pelas técnicas consagradas sob a designação de avaliação pós-
ocupação, o ambiente construído passa por um processo de avaliação
99
semelhante ao controle de qualidade, entendida como a aptidão de um
produto em satisfazer, no presente e no futuro, seus usuários.
Historicamente, a APO surge após a Guerra Mundial com o
desenvolvimento das ciências sociais. No campo da arquitetura,
pesquisas relativas ao ambiente construído e o comportamento humano
envolvendo disciplinas como a psicologia, a antropologia e a
sociologia, propiciaram a busca por elementos auxiliares na
elaboração de projetos arquitetônicos.
Além das demandas originadas pela construção civil em larga
escala durante a recuperação de cidades no período pós-guerra, nos
anos 60 também foram desenvolvidas pesquisas quando problemas
relacionados a ambientes de uso coletivo tais como alojamentos de
estudantes, hospitais e prisões surgiram como efeitos provocados por
edifícios em seus usuários, envolvendo questões de saúde, segurança
e efeitos psicológicos.
Na década de 70 a APO consolidou-se através da publicação dos
trabalhos anteriormente realizados e seu emprego foi ampliado,
passando, ainda, a incorporar aspectos técnicos e funcionais nos
instrumentos de avaliação.
firmada como atividade rotineira, nos anos 80 a APO passou a
se constituir em atividade profissional, englobando avanços nos
planos teórico e metodológico.
Teoricamente as informações geradas pela sistematização das
avaliações recorrentes em ambientes com características semelhantes
permitiriam, em curto prazo, detectar problemas e corrigi-los. Em
longo prazo, os subsídios colhidos realimentariam o processo de
projetos novos.
Na visão sistêmica de projeto como processo, Melhado e Agopyan
(1995) destacam que as informações resultantes da avaliação do uso-
operação-manutenção do bem construído devem retornar ao projeto como
medida do nível de satisfação dos usuários e realimentá-lo. Segundo
os autores, a avaliação envolve as relações entre homem e ambiente
construído e consiste em estimar o impacto das soluções de projeto
100
no desempenho técnico e funcional da obra através de estudos de caso
e técnicas de mapeamento e consulta aos usuários.
Entretanto, transcorridos mais de dez anos, um dos autores
(MELHADO, 2005) constata que, no cenário brasileiro, existe um
número razoável de trabalhos envolvendo a integração entre as fases
de projeto e de execução, mas muito poucas pesquisas enfocaram a
fase de uso, operação e manutenção, o que significa que essa visão
holística do ciclo de vida de empreendimentos permanece pouco
explorada. Porém, segundo o autor, a integração entre as fases de
projeto, de execução, e de uso, operação e manutenção tem avançado
de forma consistente, destacando-se a pressão exercida pelo enfoque
voltado ao ciclo de vida dos empreendimentos, fruto do crescimento
da preocupação com a sustentabilidade. A existência de iniciativas
para a criação de métodos de avaliação de desempenho ambiental pode
contribuir para a retroalimentação do processo de projeto.
Pelo entendimento de Longhi et al. (2000) a APO não pode
representar um fim em si mesma e as informações obtidas devem ser
utilizadas como ponto de partida para o desenvolvimento de outros
projetos.
O termo desempenho tem sido empregado ao longo deste capítulo
para caracterizar o resultado da avaliação da fase de uso, operação
e manutenção do bem construído dentro da abordagem sistêmica de
processo de projeto.
De fato, constata-se no meio acadêmico que se ocupa
primordialmente dos estudos de APO a migração para um entendimento
de avaliação de desempenho do edifício (ADE), definido por Preiser e
Vischer (2005) como inovador e próximo às demais etapas de
planejamento, concepção, projeto, construção ocupação e adaptação de
edifícios. Segundo os autores, as informações obtidas através da APO
raramente são utilizadas em novos projetos. a ADE propõe
sistematizar as informações de forma a retroalimentar o processo de
projeto.
De acordo com os autores, a avaliação de desempenho de edifício
é o processo de sistematicamente comparar o desempenho real com o
101
desempenho esperado, segundo critérios documentados. Já a avaliação
pós-ocupação, subentendida como um sub-processo da avaliação de
desempenho, pode ser definida como o ato de avaliar edifícios,
depois de construídos e ocupados por algum tempo, de maneira
sistemática e rigorosa.
A estrutura da ADE está representada na Figura 20 Modelo do
processo de avaliação de desempenho de edifícios. No centro do
modelo estão os critérios de desempenho esperados e para cada
interface é proposta, em correspondência, uma fase para
retroalimentação do processo. É oportuno observar que, ao se
confrontar o modelo proposto por Preiser e Schramm com o sistema
arquitetônico de Handler, ilustrado na Figura 18 Conceituação do
subsistema projeto (vide p.84), este último confere maior interação
e movimento ao processo de projeto pois que, por sua dinâmica, a
realimentação é contínua, não se restringindo às etapas seqüenciais
do
processo.
Figura 20 – Modelo do processo de avaliação de desempenho de edifícios
Fonte: Preiser e Schramm (2005)
Planejamento
Programação
Adaptação
Pro
jeto
Ocupação
Construção
CRITÉRIOS DE
DESEMPENHO DO
EDIFÍCIO
Efetividade
Revisão
Programa
Revisão
Necessidades
Análise
Avaliação
pós-ocupação
Projeto
Revisão
Operação
RETROALIMENTAÇÃO
PRÓXIMO
CICLO DO EDIFÍCIO
102
Como destacam Preiser e Vischer (2005), a ADE é desencadeada a
partir da avaliação pós-ocupação e, para ser objetiva, deve haver
uma comparação com critérios estabelecidos. As fontes para
determinação de critérios são diversas, podendo ser consultados a
literatura publicada, casos análogos, outras avaliações e o
conhecimento de profissionais experientes e familiarizados com um
tipo específico de construção.
Para Lord (2004), o bom desempenho de uma instalação NB 3
pressupõe operação e manutenção das barreiras de contenção primárias
e secundárias, sejam elas o próprio espaço físico ou os equipamentos
empregados. A operação confiável dos sistemas construtivos é crítica
para a segurança laboratorial.
Segundo o autor, é necessário que o projeto incorpore e se
antecipe aos passos de manutenção futura do laboratório,
especialmente no que diz respeito ao controle dos sistemas
construtivos, instalações complementares, funcionamento, monitoração
das operações e manutenção preventiva.
Ao evocar como parâmetro de desempenho dos laboratórios de
contenção biológica o funcionamento das barreiras de contenção, Lord
(2004) nos remete ao conceito de biossegurança como critério
desempenho na avaliação de laboratórios NB 3.
Verifica-se que em trabalho anteriormente realizado
especificamente sobre a avaliação de laboratórios de pesquisa
biológica como espaço construído, referenciado na variável
biossegurança (VIEIRA et al., 2004), foram privilegiados os
princípios básicos a serem considerados no processo de produção,
uso, operação e manutenção do ambiente construído destacando-se: a
substituição da abordagem linear pela abordagem sistêmica; a
utilização de normas de desempenho em detrimento de normas
descritivas; e a busca de qualidade visando o atendimento do
usuário.
Ao reunir no seu conceito questões relativas à segurança e
saúde ocupacionais, meio ambiente e qualidade, a biossegurança
revela-se como ponto de inflexão no processo de projeto de
103
laboratórios NB3, vislumbrando-se a possibilidade de desenvolvimento
de sistema de avaliação de desempenho de edificações desta natureza
a partir deste mesmo conceito.
3.5 Breves considerações sobre os métodos de pesquisa
O papel da avaliação de desempenho do patrimônio construído tem
crescido em significado no panorama atual de globalização de
negócios e instituições. Se por um lado há a tendência de padronizar
alguns tipos de construção, por sua vez as diferenças sociais e
culturais requerem distinções no projeto para fins de adaptação em
contextos específicos (PREISER;SCHRAMM, 2005).
Segundo os autores, a avaliação de desempenho pode ser
efetivada de diferentes maneiras, empregando-se as técnicas
tradicionalmente aplicadas em Ciências Sociais, utilizando-se
pesquisa quantitativa e qualitativa.
Enquanto o uso de métodos quantitativos tem o “objetivo de
trazer à luz dados, indicadores e tendências observáveis”, o método
qualitativo se aplica ao estudo das relações, das representações,
das percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os
humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a
si mesmos, sentem e pensam” (MINAYO, 2007b, p.56-7).
A avaliação pós-ocupação é um sub-processo da avaliação de
desempenho do edifício como um todo e pode ser definida como o ato
de avaliar edificações de maneira sistemática e rigorosa depois que
os mesmos tenham sido construídos e ocupados por algum tempo
(PREISER;VISCHER, 2005).
Segundo os autores há vários tipos de avaliações que são
realizadas durante as fases de planejamento, programação (programa
de necessidades), projeto, construção e ocupação, etapas da produção
de edifícios. Trata-se, freqüentemente, de avaliações de caráter
técnico. a avaliação pós-ocupação difere deste tipo de avaliação
técnica por ser dirigida às necessidades, atividades e objetivos de
pessoas e organizações que usam uma instalação, incluindo
manutenção, operação do edifício e questões relacionadas ao projeto.
104
A APO é um conjunto de métodos e técnicas aplicados para
avaliar o ambiente construído após a sua ocupação e visa aferir se
ele atende as funções para as quais foi destinado e se preenche as
necessidades de seus usuários (REIS;LAY, 1995). Na APO verifica-se o
nível de atendimento das necessidades sem minimizar a importância de
avaliação de desempenho físico, pois segundo Preiser e Vischer
(2005) as medidas empregadas na APO incluem desde índices relativos
ao desempenho organizacional, satisfação dos trabalhadores e
produtividade como também as medidas de desempenho da edificação
referentes a parâmetros físicos, adequação espacial, etc.
Segundo Sanoff (2001), o sucesso ou fracasso de uma avaliação
pós-ocupação pode depender dos métodos utilizados para reunir os
dados para análise. O autor menciona três categorias
21
de métodos que
podem ser utilizados: observação direta, entrevista e simulação.
a) Observação direta as informações são coletadas a
partir da observação do comportamento natural das
pessoas no ambiente e os uso que fazem dele. Consiste
na verificação sistemática das atividades e das
adequações do ambiente para o desenvolvimento das
mesmas, das adaptações que foram feitas para adequá-lo
ao uso (REIS;LAY, 1995).
b) Entrevista – método mais comumente empregado como
ferramenta na avaliação da reação de pessoas ao
ambiente físico. Tem por objetivo descobrir o que elas
pensam sobre o mundo ao seu redor.
c) Simulação por este método os comentários são
evocados a partir de representações de ambientes, mais
do que dos ambientes em si.
As observações também podem ser de natureza quantitativa quando
se referem a levantamentos físicos (PREISER;VISCHER, 2005) para
obtenção de medidas ambientais. Também podem ser usadas listagens
elaboradas com base em observações prévias e com o intuito de
21
A classificação mencionada é atribuída a Friedman, Zimring e Zube (SANOFF, 2001).
105
verificar informações que serão repetidas. Cabem, também, registros
fotográficos e filmagens como técnicas de observação.
Minayo (2007a, p.64) denomina as entrevistas como conversas
com finalidade” e classifica-as em sondagem de opinião (entrevista
sistemática ou estruturada), semi-estruturada, aberta ou em
profundidade, focalizada e projetiva.
As entrevistas sistemáticas ou estruturadas são elaboradas na
forma de questionários fixos e direcionados. As respostas do
informante são condicionadas.
São ditas como semi-estruturadas as entrevistas que combinam
perguntas fechadas e abertas. Possibilitam que o informante se
manifeste sem se prender à pergunta.
Na entrevista aberta ou em profundidade (não estruturada) o
interlocutor fala livremente sobre o tema, cabendo ao entrevistador
aprofundar o discurso com eventuais perguntas.
Chama-se focalizada a entrevista com finalidade de esclarecer
apenas um determinado problema.
A entrevista projetiva faz uso de dispositivos visuais
(gravuras, fotos, poesias, etc) para que o entrevistado discorra.
Observe-se que este tipo de entrevista equivale à simulação
mencionada por Sanoff.
Como fonte de informação, a entrevista pode fornecer dados de
natureza primária e secundária. Dados secundários são aqueles que
poderiam ser obtidos através de outras fontes. os dados
primários, ou subjetivos, são o objeto principal da investigação
qualitativa. Trazem informações construídas no diálogo com o
entrevistado que tratam de sua reflexão sobre a realidade que
vivencia, só podendo ser conseguidas com a contribuição da pessoa.
Constituem uma representação da realidade, maneiras de pensar,
sentir e atuar, com razões conscientes e inconscientes de
determinadas atitudes e comportamentos (MINAYO, 2007a).
106
3.6 Elaboração dos instrumentos de pesquisa: metodologia para
avaliação de laboratórios de contenção biológica
Sanoff (2001) recomenda que, antes de se iniciar uma avaliação
pós-ocupação, esta seja cuidadosamente preparada através de um plano
que inclua desde o conhecimento da natureza dos processos e
atividades desenvolvidas, definição de métodos de coleta e
amostragem, autorização para fotografar os ambientes, dentre outras
etapas de planejamento de um trabalho de pesquisa.
A seleção dos métodos de coleta de informações precede a
realização da APO, bem como a pré-definição das técnicas analíticas
que se pretende empregar.
Preiser e Vischer (2005) observam que o termo evaluation contém
a palavra value, conseqüentemente as avaliações ocupacionais devem
explicitar quais valores são considerados no desempenho da
edificação. Uma avaliação cresce em significado quando é focada nos
valores que sustentam os objetivos daqueles que promovem o processo
de verificação do desempenho da edificação.
Em se tratando de um trabalho sobre laboratórios de contenção
biológica, os aspectos de biossegurança se revelam como valor
integrante da investigação por ser intrínseco a este tipo de
edificação.
Os métodos utilizados para realização do presente trabalho
foram levantamento de arquivos, observações, medições, entrevistas e
questionários e os instrumentos são apresentados, na íntegra, no
Anexo I – Caderno de pesquisa de campo.
3.6.1 Levantamento sistematizado e dados quantitativos
A primeira parte da pesquisa é constituída pelo levantamento de
dados secundários sobre à Arquitetura de Laboratórios NB3,
explorados anteriormente no Capítulo II.
Foram sistematizadas listagens para verificação in loco das
instalações e avaliação dos respectivos projetos com fins de se
coletar as informações referentes aos quesitos de Localização e
107
acesso; Perímetro de contenção; Provisão de utilidades e serviços;
Requisitos de conforto ambiental; Superfícies e revestimentos;
Conforto ambiental; Estrutura e leiaute; e Ventilação e
climatização.
A primeira parte da avaliação é aplicada com a intenção de
verificar a aderência das instalações às diretrizes de biossegurança
previstas nas regulamentações nacional e internacionalmente aceitas
e que foram consultadas para elaboração do segundo capítulo deste
trabalho.
3.6.2 Entrevista com os usuários
Como segunda parte do trabalho, tem-se a oitiva dos usuários da
instalação, utilizando-se recursos de entrevista semi-estruturada,
sugestão visual ou simulação (entrevista projetiva) e pergunta
aberta. Reis e Lay (1995, p.8) ressaltam que
:
[...] a disparidade entre sucesso e fracasso identificada no
desempenho ambiental, principalmente em relação à intensidade com
que o ambiente construído corresponde (ou não) aos requisitos
básicos para apoiar e satisfazer as necessidades e valores dos
usuários ocorre devido à lacuna existente entre as intenções do
projetista enquanto proposta, os resultados previstos pela
proposta e o desempenho dessa proposta enquanto ambiente
construído.
Assim, procura-se extrair, através da percepção dos usuários, o
efetivo desempenho ambiental das instalações NB3 estudadas, fazendo-
se a abordagem dos ocupantes das instalações em quatro etapas
distintas.
A primeira etapa consiste da entrevista com os usuários através
de questionário semi-estruturado com perguntas referentes ao
levantamento de campo sistematizado, solicitando-se ao usuário que
se manifeste sobre sua satisfação quanto ao desempenho da
instalação.
A segunda etapa da abordagem aos usuários é a apresentação de
um painel com fotos de dependências de laboratórios a título de
sugestão visual, solicitando-se que discorram livremente sobre as
imagens, tanto do ponto de vista positivo como do negativo. Tomou-se
o cuidado de se buscar fotos sugestivas ao ambiente específico em
108
estudo que sensibilizassem o interlocutor quanto aos materiais de
acabamento, mobiliário, equipamentos, cores, sensação de segurança
ou conforto etc, sem, entretanto, reproduzir a imagem de qualquer
laboratório que fosse familiar ao grupo que, potencialmente, seria
entrevistado. Assim, empregou-se imagens obtidas em sítios de
instituições de pesquisas biológica que são livremente
disponibilizadas na rede mundial de computadores.
Na seqüência da entrevista, terceira etapa da abordagem ao
usuário, são apresentados quatro arranjos, com visualização em três
dimensões, referentes a instalações hipotéticas de laboratórios NB3.
Solicita-se que sejam feitas livres considerações sobre os
respectivos projetos arquitetônicos e condições de biossegurança
transmitidas.
Finalizando a entrevista, a quarta etapa se constitui de
pergunta aberta sobre quais mudanças o usuário proporia se pudesse
modificar a instalação.
Levou-se em consideração que aos entrevistado deve-se facultar
a gravação das respostas, instrumento mais usual de garantia de
fidedignidade da fala (MINAYO, 2007a), bem como assegurar a
preservação das fontes faladas de informação.
3.6.3 Entrevista focalizada com os projetistas
Segundo Bordass e Leaman (2005), os projetistas devem conhecer
mais sobre como edifícios funcionam, numa perspectiva técnica, de
modo a fazê-los melhores, mais robustos, mais usáveis e melhor
administráveis.
Ao explorar a opinião do projetista sobre a contribuição
técnica da variável biossegurança na concepção de tais espaços
arquitetônicos, pretende-se verificar se esta variável é restritiva
à atuação do arquiteto.
Desta forma, aos projetistas das instalações NB3 objeto deste
estudo de casos, apresenta-se pergunta focalizada sobre a
interferência das diretrizes de biossegurança nas decisões de
109
arquitetura. Para esta pergunta solicita-se resposta escrita haja
vista a natural dificuldade de encontro pessoal.
3.6.4 Organização dos instrumentos de avaliação: caderno de pesquisa
de campo
Para se realizar o trabalho de pesquisa de campo os
instrumentos foram organizados em pequeno volume, cuja íntegra
compõe o Anexo I – Caderno de pesquisa de campo.
A título de abertura, o caderno contém uma breve carta de
apresentação onde se explica, em poucas palavras, o objetivo do
trabalho. Entretanto, a carta de apresentação não prescinde a
aplicação de algumas das demais considerações práticas que Minayo
(2007a) recomenda serem adotadas em situações de interação, tais
como menção do interesse da pesquisa, explicação dos seus motivos,
justificativa da escolha e conversa inicial, esta última para criar
um clima o mais descontraído possível. A autora destaca que sempre
haverá dificuldades, as quais classifica como típicas da atividade
de campo e que os procedimentos são sugeridos como ajuda ao processo
de interação e diálogo com os interlocutores, não se tratando de
preceituário a ser cumprido.
Capítulo IV
Indicadores da margem de incerteza das
decisões arquitetônicas para laboratórios NB3
a partir de estudo de casos
No capítulo I foi abordado como as novas descobertas
refletiram-se na arquitetura através da incorporação da noção de
contágio ao planejamento hospitalar e da consolidação do laboratório
e outros ambientes específicos como locus do exercício da medicina
experimental. O aprimoramento do saber sobre os riscos que permeiam
o ambiente de laboratórios resultou no conceito de biossegurança e
conseqüentes recomendações com vistas à segurança individual e
ambiental nas manipulações patogênicas, bem como preocupação com a
qualidade dos resultados das pesquisas. Assim, referendou-se que é
nos princípios de biossegurança que se consolidam a antecipação e
reconhecimento dos riscos biológicos que podem afetar a tomada de
decisões sobre arquitetura laboratorial. que se mencionar, ainda,
a biosseguridade, que trata das precauções a cerca do uso indevido
ou intencional de agentes biológicos perigosos como ameaça à
humanidade, reforçando a necessidade das práticas de biossegurança.
A arquitetura de laboratórios NB3 foi contemplada no Capítulo
II e verificou-se que muitas das diretrizes de projeto para
laboratórios devem ser mediadas pelo conceito de biossegurança pois
é a partir do entendimento de contenção que são definidas as
barreiras construtivas necessárias para o ambiente NB3.
A modelagem do processo de projeto de laboratórios em
conformidade com os requisitos de biossegurança e suas estreitas
relações com a qualidade, meio ambiente e segurança e saúde
ocupacionais foram tratadas no Capítulo III, contextualizando-se a
111
temática sob a ótica do sistema integrado de gestão e certificação
de laboratórios.
Contemplados os objetivos teóricos da tese, os instrumentos de
pesquisa foram então preparados de forma a se usar a APO, pois o
objetivo principal será atendido após a resposta ao conjunto de
hipóteses formuladas na Introdução.
4.1 Determinação do universo de pesquisa e delimitação da amostra
Para realização do estudo de casos foi necessário,
inicialmente, determinar o universo de laboratórios NB3 construídos
no Brasil. Destacam-se, como fontes de consulta, a pesquisa
bibliográfica e na rede mundial de computadores, em ambos os casos
fazendo-se uso de palavras chaves ligadas ao tema.
O levantamento consta do Anexo II e não se pretende que tenha
esgotado toda e qualquer possibilidade de haver outras unidades além
daquelas identificadas. Observou-se que este universo está
concentrado nas intuições públicas de saúde dedicadas ao ensino e
pesquisa, em níveis federal e estadual, incluindo-se as
universidades.
Para delimitar a amostra na população definida, usou-se como
referência a tipologia adotada por Costa Neto (2002) que classifica
a amostragem em dois grandes grupos: probabilística e não-
probabilística. Segundo o autor, a amostragem será probabilística se
todos os elementos da população tiverem probabilidade conhecida e
diferente de zero de pertencer à amostra. É dita não-probabilística
nos demais casos. O autor chama a atenção que a amostragem não-
probabilística deve ser usada quando não é possível se obter uma
amostra probabilística, destacando a importância de não se
introduzir vícios haja vista a confiabilidade desejada dos
resultados da pesquisa.
São citadas por Costa Neto (2002) as seguintes situações onde
se aplica o uso de amostra não-probabilística:
a) Inacessibilidade a toda população quando somente
parte da população está acessível à pesquisa, tal
112
parte é adotada como amostra. Ou quando parte da
população não tenha existência real, apenas
“hipotética” (COSTA NETO, 2002, p. 42). Tem
confiabilidade equivalente a uma amostragem
probabilística quando as características da variável
de interesse forem iguais as da população.
b) Amostragem a esmo ou sem norma é utilizada quando a
população é homogênea e, portanto, sem possibilidade
de haver influência de um dos elementos da população
sobre quem seleciona a amostra.
c) População constituída de material contínuo aplica-se
às situações em que se necessita extrair amostra de
material em estado líquido, gasoso ou sólido. O
material é preliminarmente submetido à homogeneização
e depois parte dele colhida a esmo.
d) Amostragens intencionais a seleção é realizada por
escolha deliberada de elementos para constituir a
amostra, selecionando-os por considerar que são
representativos da população.
e) Amostragem por voluntários amostra formada a partir
da concordância dos seus membros constituintes.
Assim, tem-se que, dadas as características que definem o
universo a ser pesquisado laboratórios NB3 construídos no Brasil -
a amostragem que melhor se aplica é a do tipo não-probabilística,
caracterizada, ainda, pelas situações de inacessibilidade a toda a
população e intencionalidade da amostragem.
Ressalte-se que a intencionalidade de amostragem é, em parte,
conseqüência da inacessibilidade ao universo de laboratórios NB3
construídos no Brasil uma vez que o levantamento realizado
identificou instalações desta natureza nas regiões sul, sudeste,
centro-oeste, nordeste e norte do país. Por outro lado, observou-se
que maior concentração de laboratórios de contenção no sudeste
brasileiro, conforme Figura 21.
113
Figura 21 - Distribuição de laboratórios NB3 por estado
A partir dessa constatação, este indicador foi empregado para
delinear a escolha das unidades a serem estudadas. Admitindo-se que
ao empregar intencionalidade como técnica de amostragem pode-se
incorrer em erros caso a seleção tenha como base princípio
equivocado, conforme adverte Costa Neto (2002), foram usados outros
critérios além da localização geográfica dos ambientes a serem
estudados. Desta forma, espera-se ter eliminado eventual vício de
amostragem.
De acordo com levantamento realizado para identificar os
laboratórios para trabalho em contenção biológica existentes no
Brasil, verificou-se que estes pertencem, na sua maioria, ao setor
público. Assim, adotou-se, também, como critério de escolha
políticas públicas, considerando-as como planejamento de governo que
utilizam instalações desta natureza para serem efetivamente
implementadas: o Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública
SISLAB, e Rede Nacional de Laboratórios de Saúde Pública de Nível de
Biossegurança 3.
O Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública é o
conjunto de redes nacionais de laboratórios, organizadas em sub-
1
1
1
1
13
6
2
1
3
1
1
114
redes, de forma hierarquizada, por grau de complexidade das
atividades relacionadas à vigilância em saúde - compreendendo a
vigilância epidemiológica e vigilância em saúde ambiental,
vigilância sanitária e assistência médica. As redes são
estruturadas, por agravos ou programas, identificando-se o
laboratório de referência, área geográfica de abrangência e
definição de competências. As unidades laboratoriais que estruturam
as sub-redes são classificadas em sete diferentes níveis: centro
colaborador, referência nacional, referência regional, referência
estadual, referência municipal, laboratórios locais e laboratórios
de fronteira (Brasil, 2004a e Brasil, 2004b).
a Rede Nacional de Laboratórios de Saúde Pública de Nível de
Biossegurança 3, em implantação, desde 2004, pela Secretaria de
Vigilância em Saúde - SVS, do Ministério da Saúde, será referência
para a Organização Mundial da Saúde na América Latina. Os
laboratórios constituintes da rede foram distribuídos de acordo com
critérios epidemiológicos, de capacidade técnica já instalada,
demanda e região geográfica.
Os dados obtidos a partir do levantamento da distribuição
geográfica de laboratórios e das redes nacionais de laboratórios do
Ministério da Saúde foram considerados para se definir a amostra de
estudo de casos.
Mesmo estando localizada fora dos limites geográficos da região
sudeste, ponderou-se incluir a unidade do Centro de Pesquisa Aggeu
Magalhães localizada em Recife, Pernambuco, em vista de ser a
primeira instalação da Rede Nacional de Laboratórios de Saúde
Pública de Nível de Biossegurança 3 inaugurada, bem como ser
referência nacional para Peste.
O laboratório de Biomanguinhos, Rio de Janeiro, também foi
selecionado em virtude da natureza de suas atividades. Neste caso,
procurou-se contemplar a pesquisa com ambiente dedicado ao
desenvolvimento de insumos para saúde tendo em vista a
impossibilidade de ser aplicar o estudo nos laboratórios de produção
da Rede Nacional de Laboratórios de Saúde Pública de Nível de
Biossegurança 3.
115
Como instalações de referência do SISLAB, o estudo foi
contemplado com o Laboratório de Rickettsioses e Hantaviroses do
Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro.
O Laboratório de AIDS e Imunologia Molecular foi incluído como
objeto de estudo em continuação ao trabalho de pesquisa realizado
por Cirrota (2004), versando sobre considerações projetuais de salas
limpas.
Ampliando-se a amostra para além dos critérios inicialmente
adotados no intuito de que a amostragem final fosse representativa
do universo de laboratórios NB3 instalados no país, foram
incorporados dois laboratórios do Centro de Ciências Biológicas da
Universidade de São Paulo (ICB/USP): o Laboratório Klaus Eberhard
Stewien, em virtude da grande repercussão havida na imprensa por
ocasião da inauguração, tido como o mais seguro do país até então, e
o laboratório NB3 de baixo custo, pela oportunidade que se
apresentou.
A distribuição da amostra definida para pesquisa está
demonstrada abaixo:
Figura 22 - Distribuição geográfica da amostra
Laboratório Klaus Eberhard Stewien ICB/USP
Laboratório NB3 de baixo custo ICB/USP
Laboratórios AIDS IOC/Fiocruz
Laboratório NB3 Biomanguinhos/Fiocruz
Laboratório Rickettsioses IOC/Fiocruz
NB3 CPqAM/Fiocruz
116
4.2 Caracterização do usuário respondente
A seleção de amostras de usuários pode ser feita de forma
aleatória ou pode ser fixada, pois segundo Ornstein e Roméro (1992,
p. 85) a adequação do procedimento deve considerar realização de
análise prévia.
Os laboratórios de contenção são ambientes de acesso restrito a
poucos usuários em vista dos riscos envolvidos e do elevado nível de
responsabilidade, tanto naquilo que se refere à biosseguridade
quanto no que diz respeito à condução dos trabalhos desenvolvidos
nestes locais.
Além disso, tais instalações pertencem, via de regra, a
instituições públicas de ciência, tecnologia e ensino, às quais
estão vinculados significativo número de alunos para desenvolvimento
dos projetos de pesquisa, sendo proporcionalmente reduzido o corpo
de pesquisadores com efetivo vínculo profissional.
Assim, o perfil de fonte primária buscado como respondente foi
o de pesquisador envolvido com a concepção das instalações e que se
mantém como usuário. Sabe-se que este critério restringiu o número
de respondentes aos pesquisadores, entretanto, entende-se que
estender a pesquisa a usuários “flutuantes” desses ambientes poderia
trazer vícios às respostas obtidas, que seriam fruto de uma
experiência pontual.
Compreende-se que a vivência do espaço por um período de tempo
mais longo aufere ao respondente pesquisador (usuário fixo)
conhecimento para fins de avaliação de desempenho do seu
laboratório.
4.3 Estudo de casos: medidas observáveis de desempenho das
instalações versus percepção dos usuários
O questionário e demais instrumentos aplicados, conforme
tratado no capítulo anterior, foram apresentados ao usuário reunidos
em caderno que está apensado como Anexo I.
117
Além da percepção do usuário, foi feito levantamento sobre
Localização e acesso; Perímetro de contenção; Provisão de utilidades
e serviços; superfícies e revestimentos; Estrutura e leiaute; e
Ventilação e climatização das instalações, calcado na base teórica
desenvolvida no Capítulo II.
Este levantamento foi realizado através de observações durante
visita aos laboratórios pesquisados para entrevista com o usuário.
As informações foram complementadas por esclarecimentos obtidos
junto aos próprios usuários, projetistas, equipes de manutenção, de
metrologia, membros de comissões de biossegurança, consultando-se,
ainda, projetos e plantas disponibilizados.
Para realizar a pesquisa de campo foram empregados instrumentos
para gravação de entrevistas e tomada de imagens dos locais
pesquisados, a critério do usuário. Além destes recursos, havia a
disponibilidade de instrumental para realização de medidas físicas
de temperatura, umidade, velocidade do ar, nível de ruído e nível de
iluminamento dos locais avaliados.
As gravações foram acompanhadas de anotações para consulta como
medida de segurança em caso de eventual perda dos registros de
falas. Sempre que possível, as entrevistas foram acompanhadas por
assistente encarregado das anotações de forma que o entrevistado não
fosse interrompido durante a exposição de suas idéias,
possibilitando fluidez da fala.
A gravação das entrevistas otimizou o tempo disponibilizado
pelos usuários e possibilitou que a reprodução fidedigna da fala dos
entrevistados fosse acessada durante a análise do conjunto de
informações, buscando-se recuperar os sentimentos, emoções e
sensações que são expressas pela voz.
Em todas as oportunidades houve permissão para fotografar os
laboratórios estudados ou então os próprios entrevistados se
anteciparam cedendo fotos dos locais sob avaliação. As fotos
facilitaram a descrição dos resultados obtidos com a pesquisa,
auxiliando, também, na reprodução das plantas de leiaute que
ilustram a tese.
118
Os dados obtidos são apresentados a seguir, complementados com
plantas dos locais avaliados.
4.3.1 Laboratório NB3 - Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães -
CPqAM
Criado em 1950, no Recife, o instituto nasceu com a missão de
combater as doenças endêmicas. Hoje, além de sua atividade
principal, dedica-se também à formação de recursos humanos e à
produção de tecnologias. Em 1970, tornou-se unidade técnico-
científica da Fiocruz, passando a denominar-se Centro de Pesquisa
Aggeu Magalhães
22
. Nesta mesma década, foi transferido para o campus
da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) onde, atualmente, ocupa
uma área de 16.250 m², quase 90% correspondendo à área construída.
Projetado por equipe própria da Fiocruz no final dos anos 70, o
prédio principal de dois pavimentos abriga a administração, o
auditório e laboratórios. No limiar de 2000, o CPqAM sofreu sua
principal ampliação, com a construção do Pavilhão Josué de Castro.
Como a área disponibilizada pela UFPE dentro de seu campus era
bastante exígua, o projeto pautou-se pelo planejamento global da
instituição, com uma reflexão voltada para o futuro. O projeto foi
concebido reservando áreas para incluir novos laboratórios, dentre
eles o NB3.
De acordo com informações obtidas junto à instituição, a
ampliação objetivava abrigar o Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva
(NESC). Assim, para não prejudicar o fluxo de trabalho, destinou-se
a área térrea para a projeção futura de novos laboratórios, de forma
contígua aos já existentes. Nos andares superiores, acomodou-se a
escola, as áreas administrativas e a biblioteca.
Em entrevista com os responsáveis pelo projeto do edifício,
ficou evidenciado que foi privilegiada a flexibilidade e a
otimização, com a primeira ocupação da nova edificação nos 2º e
pavimentos, deixando-se a área do pavimento livre para abrigar
futura expansão laboratorial. Para tanto, foram adotados espaços
22
A principal fonte de pesquisa utilizada foi a página da instituição na internet:
http://www.cpqam.fiocruz.br.
119
técnicos horizontais (sub-solo e pavimento intermediário) e
verticais (ao longo das paredes laterais do prédio). Nesta área
física foram, posteriormente, construídos dois laboratórios que
colocam o CPqAM em posição estratégica para o desenvolvimento de
pesquisas em saúde: o Laboratório de Nível de Biossegurança 3 e o
Laboratório de Virologia e Terapia Experimental.
O projeto do laboratório NB3 foi desenvolvido por empresa
contratada pela Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da
Saúde (SVS/MS). Inaugurado em 2005, o laboratório NB3 integra a Rede
Nacional de Laboratórios de Saúde Pública e nele são desenvolvidas
atividades científicas nas áreas de hantavirose, tuberculose e
peste, patologia da qual é referência nacional para o Ministério da
Saúde. A unidade encontra-se em processo de habilitação em gestão da
qualidade a ser concedida pela CGLAB, adotando como norma de
referência a norma NIT-DICLA-083 Critérios Gerais para Competência
de Laboratórios Clínicos.
A. Localização e acesso
Levantamento de dados
Confrontados os requisitos de localização durante visita ao
laboratório, verificou-se que são atendidos 9:10 dos itens
obrigatórios para este tipo de instalação, conforme listados no
Anexo I. O requisito não atendido diz respeito ao sistema
emergencial de abertura manual das portas da antecâmara nas
situações em que for adotado o intertravamento eletro-mecânico das
mesmas. Os requisitos recomendados foram atendidos na razão de 4:5
pois uma das paredes que delimitam a contenção pertence ao envelope
externo da edifício.
Percepção do usuário
No viés do usuário, a localização do laboratório foi
considerada como satisfatória, registrando que a automação não
funciona. Evidenciou-se, desta forma, problemas de operação e
manutenção dos sistemas automatizados. Também foi registrado que o
acesso se pela circulação interna do prédio, aberta para um
120
jardim, e o trânsito de pessoas por área aberta traz um nível de
sujidade indesejado ao ambiente, haja vista o laboratório estar
situado no primeiro pavimento do prédio, ligeiramente elevado em
relação ao nível da rua e funcionar com pressão negativa.
B. Perímetro de contenção
Levantamento dos dados
Houve aderência na proporção de 4:5 dos itens considerados como
obrigatórios em relação ao perímetro de contenção, Anexo I. O item
não atendido diz respeito à janela, construída sem atender
parâmetros de segurança quanto ao tipo de vidro utilizado.
Os quesitos recomendados foram atendidos uma vez que há
instalação de guichê de passagem e visor na barreira de
confinamento. Entretanto a instalação do visor interno foi
incorreta, com os caixilhos invertidos, trazendo problemas de
manutenção e uso devido à pressão negativa na área de contenção.
Percepção do usuário
O item é tido como satisfatório pela parte respondente. Foi
afirmado que a janela existente é construída com vidro de segurança.
Porém, cabe destacar que o usuário, como leigo em relação a aspectos
técnico-construtivos, não tem a percepção de que o material
empregado não possui as características de segurança necessárias. É
entendimento do pesquisador que as paredes externas da área de
contenção devem ser cegas, evitando-se a distração.
C. Provisão de utilidades e serviços
Levantamento dos dados
De acordo com o levantamento secundário, houve aderência em 6:9
dos itens considerados obrigatórios, conforme avaliação cujo modelo
encontra-se no Anexo I. A vulnerabilidade é encontrada na instalação
hidrossanitária, desprovida de dispositivo anti-refluxo na
alimentação, bem como inexistência de sifões de drenagem com selo
hidráulico. O item referente ao uso de bomba de vácuo em
substituição de linha é não aplicável.
121
Os itens recomendados foram atendidos na proporção de 3:5,
verificando-se que os reatores das mpadas fluorescentes não são
exteriores à área de contenção e que não há sistema de transmissão
de dados entre a área de contenção e seu exterior.
Percepção do usuário
O resultado apurado na avaliação é compatível com o nível de
satisfação pronunciado pelo usuário, que considerou que as
utilidades e serviços atendem ao uso de forma satisfatória, sem
quaisquer comentários.
D. Requisitos de conforto ambiental
Levantamento dos dados
Os parâmetros de temperatura, umidade e velocidade do ar são
controlados através de sistema central automatizado de climatização
em função das exigências de contenção biológica. Entretanto,
constatou-se junto ao setor de engenharia que a climatização vem
apresentando falhas detectadas ainda na fase de operação inicial dos
sistemas. Os problemas persistem por descontinuidade de manutenção,
gerando desconforto térmico por calor. A sensação de desconforto é
aumentada pelo uso obrigatório de vestimentas de proteção que cobrem
todo o corpo. Também foi constatado que as salas de maior contenção
(onde são localizadas as CSB) estão delimitadas pelo envelope da
edificação e possuem janelas para o exterior. A película de proteção
aplicada no vidro não é suficiente para amenizar os efeitos da
radiação solar incidente em função da orientação cardeal do prédio.
Medições realizadas
23
mostraram que o nível de ruído contínuo e
intermitente dos equipamentos acionados por motores e compressores
das CSB e freezeres para armazenamento de materiais a temperaturas
de -80ºC varia numa faixa entre 60 e 70 dB, superior ao estabelecido
como limite nos ambientes de trabalho em laboratórios de saúde
(entre 40 e 50 dB(A)). Estes resultados corroboram levantamento
feito por Macedo e Lapa (2007) sobre o nível de pressão sonora dos
equipamentos de laboratório, mostrando que estão acima do que é
23
Utilizado medidor de pressão sonora marca MINIPA, modelo MSL 1351C.
122
preconizado nas normas da ABNT, cujas referências são adotadas na
legislação trabalhista.
Observou-se que a iluminação é feita de forma natural e
artificial. As cabines onde são manipulados os agentes biológicos
são providas de iluminação própria que proporcionam nível entre 1000
e 1500 lux
24
, adequado ao solicitado pelas tarefas.
A Figura 23 – Tomada da área de contenção do laboratório NB3 do
CPqAM mostra à direita o salão de contenção de uso comum, à esquerda
as salas de maior contenção onde estão instaladas as CSB e ao fundo
a autoclave de dupla-porta, instalada na parede que delimita o
laboratório com a sala de descontaminação-lavagem-preparo-
esterilização.
(FOTO DISPONÍVEL APENAS NA VERSÃO IMPRESSA)
Figura 23 – Tomada da área de contenção do laboratório NB3 do CPqAM
Fonte: Foto obtida no local
Foram empregadas as seguintes cores nos revestimentos,
acabamentos, equipamentos e mobiliário:
24
Utilizado luxímetro marca Minipa, modelo MLM-1010.
123
Quadro 11 – Cores empregadas no laboratório NB3 do CPqAM
Local
Material
Cor
Observação
Teto Pintura Branca -
Paredes Pintura Branca -
Divisórias Pintura Branca -
Piso Manta vinílica Bege claro -
Esquadrias Pintura Vermelha Somente estrutura
Bancadas Resina Preta -
Bancadas Aço - -
Equipamentos Aço - -
Equipamentos Pintura Cores claras -
A cor branca empregada no teto beneficia a reflexão da luz. Já
no piso de ambientes de trabalho em geral, é recomendado o uso de
cores com reflexão entre 20 e 30%. Em laboratórios de pesquisa
biológica deve-se adotar cores claras e sólidas para fins de
otimizar a percepção visual de sujidades e, neste caso, a opção foi
pela cor bege claro, com reflexão um pouco superior. O aço inox, por
suas características de impermeabilidade é comumente utilizado na
confecção de equipamentos tais como autoclaves, freezeres, CSB,
estufas, bancadas e divisórias, tornando-se praticamente inevitável
a sua presença nos laboratórios para trabalho em contenção
biológica, com desvantagem de refletir a luz em 65%, nível maior que
o desejado para máquinas e aparelhos em ambientes de trabalho. No
mobiliário, além do aço inox de algumas bancadas, foi empregada
resina na cor preta em outras, dois extremos de refletância,
respectivamente, 65% e 3%.
A cor branca, aplicada nas paredes, tem reflexão acima do
desejado para conforto visual. Provoca situação de maior esforço de
adaptação visual no plano de trabalho em vista, principalmente, do
forte contraste (faixa de 0,40 0,80) entre as cores branca e
preta. Por sua vez, o contraste das paredes brancas em relação ao
vermelho das esquadrias situa-se nesta mesma faixa, contribuindo
para fadiga visual uma vez que fatores de refletância menores
proporcionam diminuição da tensão nervosa e minimizam o cansaço
124
visual. Outro fator negativo ao emprego da cor vermelha como
elemento decorativo no ambiente de trabalho é a sua natureza
condicionante (CUNHA, 2004), pois está atrelada aos avisos de
perigo, provocando reação de defesa no espectador.
Percepção do usuário
Este item foi considerado como insatisfatório pela parte
respondente, com reclamações quanto a desconforto térmico, acústico,
visual e respiratório.
A queixa de desconforto térmico causado pelo calor é
referenciada pela parte usuária como decorrência de falha nos
controles do sistema automatizado e falta de manutenção do sistema
de climatização e ventilação, que também é considerada como muito
onerosa para a instituição. Foi mencionado que as vestimentas de
segurança necessárias agravam a sensação de desconforto rmico e
causam desconforto respiratório pelo uso compulsório de máscaras de
proteção não autônomas.
Outro fator de desconforto mencionado refere-se ao ruído.
Devido a falhas no sistema de automação, os alarmes passaram a soar
de forma intermitente, causando desconforto acústico, o que levou a
equipe a desligar o sistema de alarmes. Não foram feitas queixas
quando ao ruído originado do funcionamento dos equipamentos típicos
de laboratório.
O nível de iluminamento não foi referido como queixa. Em
contra-partida, a principal reclamação foi em relação às cores
empregadas nos acabamentos do ambiente e no mobiliário, com tripla
referência feitas de forma bastante enfática. O primeiro comentário
surgiu na resposta sobre a avaliação das condições de conforto
ambiental. Foi dito que as cores empregadas incomodam muito,
causando desconforto visual por poluírem o ambiente, referência ao
acabamento empregado nas esquadrias confeccionadas em alumínio com
pintura eletrostática em vermelho vivo.
125
E. Superfícies e revestimentos
Levantamento de dados
Não houve aderência a apenas um dos itens obrigatórios, que diz
respeito à continuidade de superfícies, sem saliências e
reentrâncias, atingindo a proporção de 4:5. Verificou-se que o forro
rebaixado em gesso acartonado possui fresta em seu perímetro, não
havendo junção com as paredes. O recurso de teto falso foi adotado
considerando que a estanqueidade é dada pela laje de cobertura,
através da qual passam os principais dutos de insuflação e
exaustão, calhas etc minimizando os locais que necessitavam vedação.
Os dutos de distribuição foram instalados no entreforro, suprindo os
pontos da área de contenção com insuflação e exaustão através de
grelhas instaladas no forro. O recurso permitiria flexibilidade e
facilidade de futura adequação do sistema de ventilação em caso de
necessidade de alteração do leiaute de equipamentos, principalmente
para realocação das CSB. Não haveria necessidade de promover a
vedação na junção entre forro e paredes uma vez que a estanqueidade
seria dada pela laje (Azeredo, 2004). Entretanto, a execução da obra
apresenta falhas que comprometem o funcionamento do sistema.
De forma geral, os revestimentos são adequados ao uso em
laboratórios. Porém, há alguns detalhes específicos a estes
ambientes que demandariam maior detalhamento de projeto e rigor na
execução que não foram contemplados.
Percepção do usuário
A parte respondente considerou como satisfatórios os
revestimentos e mobiliários quanto à adequação ao uso, sem
comentários adicionais.
F. Estrutura e leiaute
Levantamento dos dados
A configuração do laboratório é do tipo suíte, com três salas
de maior contenção destinadas à manipulação individualizada de três
agentes biológicos classe de risco 3 distintos, além de área de uso
126
comum. Conta, ainda, com área de apoio para o processo de
descontaminação-lavagem-preparo-esterilização, com instalação de
autoclave dupla-porta, e laboratório NB2 para preparo de materiais
provido de guichê de passagem. O fluxo de pessoas entre as áreas NB2
e NB3 é realizado através de antecâmara com três compartimentos. A
estrutura sica foi concebida de forma a atender o gradiente de
risco biológico. O leiaute da instalação encontra-se na Figura 24
Setorização do laboratório NB3 do CPqAM.
Legenda
Área de contenção Fluxo de entrada
Área NB2 Fluxo de saída
Área de apoio
Figura 24 – Setorização do laboratório NB3 do CPqAM
As salas para manipulação em contenção foram projetadas com
dimensões aproximadas de 2,9 m X 3,5 m, área com cerca de 10 m
2
. Tais
medidas são suficientes para abrigar o trabalho com uma CSB,
bastante próximo das dimensões mínimas básicas de 2,5 m X 3,0 m.
Entretanto, a combinação adotada entre arranjo físico, proporção,
disposição de mobiliário e equipamentos conferem às salas aspecto de
sub-dimensionamento. As CSB foram corretamente localizadas em
relação ao posicionamento e distanciamento das portas, mas a
127
insuflação do ar condicionado é bastante próxima, fator de
interferência no uso dos equipamentos por causar turbulência nas
correntes de ar do entorno. Complementando a área de contenção nível
3, o salão de uso comum e, em separado, câmara para realização de
procedimentos que requerem ambientes abrigados da luz.
O laboratório NB2 de apoio possui 26 m
2
, aproximadamente. O
maior ambiente é ocupado pela sala de descontaminação-lavagem-
preparo-esterilização, superior a 57 m
2
. Este ambiente é
compartilhado com outros laboratórios.
Todos os ambientes de trabalho são em forma retangular e
tiveram o leiaute organizado a partir da concepção periférica de
equipamentos e bancadas com 0,60 m e 0,35 cm de profundidade. Esta
dimensão de bancadas é insuficiente para acomodar, de forma segura,
muitos dos equipamentos utilizados em pesquisa biológica como
estufas, incubadoras e centrífugas. As bancadas mais estreitas
comportam cubas.
Percepção do usuário
A parte respondente entende que a estrutura e leiaute
oferecidos atendem de forma satisfatória as necessidades de
trabalho. A percepção da satisfação com o dimensionamento das áreas
e fluxo de amostras e de trabalhadores foi confirmada através de
considerações e comentários feitos durante a aplicação do restante
do instrumento de pesquisa.
G. Ventilação e climatização
Levantamento de dados
Os requisitos obrigatórios têm 100% de aderência e apenas o
requisito que recomenda a proteção dos dutos de admissão de ar por
mecanismos anti-refluxo ou filtro HEPA deixou de ser atendido.
Percepção do usuário
a parte respondente considerou o sistema de ventilação e
climatização como pouco satisfatório, com críticas desde as
dificuldades de operação inicial do sistema, falhas na automação e
128
problemas de manutenção. O sistema foi certificado por empresa
credenciada, mas houve necessidade de refazer a instalação da
autoclave dupla-porta devido a falhas na vedação na parede,
resultando em provável comprometimento de seu balanceamento.
queixas desde desconforto térmico por calor até a insegurança
originada pelo não religamento automático das CSB nos casos de falta
de energia elétrica e suprimento através do gerador de emergência.
Outra dificuldade apontada foi quanto ao nível de sofisticação do
sistema de automação, em geral, para o qual a manutenção é bastante
cara, inviabilizando-se pelos altos custos por demandar mão-de-obra
especializada.
O sistema de automação instalado foi proposto pela equipe de
projeto, trazendo um grau de sofisticação que não é condizente com
as possibilidades de manutenção no tocante a aspectos orçamentário-
financeiros e logísticos, situação que compromete sua operação.
Segundo o usuário, a equipe de arquitetura que participou da
concepção do conjunto passou uma grande segurança em relação ao
sistema gerador e à automação. Mas, pela experiência vivenciada um
sistema que tivesse sido planejado dentro da realidade local seria
mais adequado.
H. Considerações finais
As queixas da parte usuária entrevistada concentram-se em
questões de conforto e segurança biológica individual e coletiva. As
principais causas de desconforto ambiental são de origem visual,
térmica, respiratória e acústica, apontadas nesta ordem de
importância.
De fato, constatou-se que não houve um planejamento cromático
mais adequado às atividades laboratoriais.
quanto ao leiaute do laboratório, apesar de não haver queixa
do usuário, não se pode deixar de tecer algumas considerações a
respeito.
Segundo relatório descritivo dos dados levantados pela equipe
de projeto, “a condição geométrica dos espaços disponibilizados”
129
(Ministério da Saúde, 2003, p. 228) era altamente favorável devido à
existência de pavimentos técnicos nos níveis superior e inferior ao
pavimento onde se localizaria o laboratório. Mesmo assim, verificou-
se que a estrutura e leiautes poderiam ter sido otimizados em função
da área total disponibilizada para projeto da instalação, prevendo-
se, por exemplo, salas que comportassem a instalação de duas CSB ao
invés de uma cabine por sala, fluxo de pessoas sem cruzamento;
antecâmara para fumigação de equipamentos; local para guarda de
materiais e equipamentos para manutenção primária e limpeza,
atividades estas que foram concebidas para serem realizadas pelos
próprios pesquisadores.
A sala de uso comum do NB3 está dimensionada de tal forma que é
subutilizada. Com superfície totalizando aproximadamente 45 m
2
,
apresenta área excedente para circulação, conforme evidenciado na
Figura 25 Área desperdiçada como circulação no NB3 do CPqAM,
marcada em cor sólida.
Figura 25 – Área desperdiçada como circulação no NB3 do CPqAM
Em contrapartida, nas salas das CSB (zona de maior contenção) o
laboratório foi ocupado usando a sobreposição de equipamentos em
130
bancada como recurso para otimização dos reduzidos espaços, por
exemplo.
A proporção de área entre o salão NB3 de uso comum e as três
salas para manipulação de agentes patogênicos perigosos é de 5:3. A
área excedente na circulação poderia ter sido contemplada com outro
uso. A título de exercício sobre a ocupação dos espaços do
laboratório NB3 do CPqAM, na Figura 26 Comparação das salas de
maior contenção com o módulo básico, são desenhadas três situações
distintas. À esquerda está reproduzido o módulo básico para operação
simultânea com 2 CSB, conforme tratado no Capítulo II. Ao centro,
reprodução de uma das salas de manipulação biológica, hachurada em
cor a área de circulação subutilizada. Finalmente, à direita,
simulação de leiaute, incorporando-se a área subutilizada na
circulação à sala de manipulação biológica, com projeções
pontilhadas em cor. Nesta solução, seria possível o funcionamento
simultâneo de duas CSB, observando-se que a bancada com cuba, neste
caso, recuperaria a dimensão de profundidade mínima necessária para
trabalho em laboratório.
Figura 26 – Comparação das salas de maior contenção com o módulo básico
Conforme mencionado anteriormente, o rápido estudo ora sugerido
foi elaborado apenas a título de exercício e é apresentado como
crítica à estrutura e leiaute projetados na área disponibilizada
131
para construção do NB3 no CPqAM. Tem-se convicção que outras
soluções de projeto seriam possíveis neste mesmo espaço, atendendo
de forma mais otimizada os trabalhos em contenção biológica.
Por sua vez, o projeto foi totalmente desenvolvido, a obra
construída e recebida sem participação de projetistas e técnicos de
manutenção da própria instituição, não contemplando as etapas de
uso, operação e manutenção. Problemas de construção, como o
aparecimento de trincas no visor e a não instalação de janela
exterior com vidros de segurança, persistem sem solução ou sequer
foram identificados.
Não houve continuidade na manutenção dos sistemas centralizados
de ventilação e climatização e de automação depois que o laboratório
foi entregue para uso.
4.3.2 Laboratório NB3 - Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos -
Biomanguinhos
O Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos
25
– Biomanguinhos -
é unidade da Fiocruz para produção e desenvolvimento de
imunobiológicos com vistas ao atendimento das demandas de saúde
pública por produtos como vacinas, reativos para diagnóstico
laboratorial e biofármacos. De sua criação, em 1976, até os dias de
hoje, evoluiu de um grupo de pequenos laboratórios de febre tifóide,
cólera, meningite e febre amarela, projetados para pesquisa, para um
complexo industrial e tecnológico com capacidade instalada para
produção na ordem de 300 milhões de doses de vacinas por ano. Em
2001 foi qualificado pela OMS como fornecedor internacional da
vacina contra a febre amarela. Biomanguinhos segue as normas de Boas
Práticas de Fabricação (BPF), com produtos chancelados pela ANVISA.
Situado no campus da Fiocruz no Rio de Janeiro, ocupa área
construída de 35.000 m
2
, em fase de expansão das instalações para
área superior a 53.000 m
2
.
25
A principal fonte de pesquisa utilizada foi a página da instituição na internet:
http://www.bio.fiocruz.br/.
132
De acordo com informações obtidas junto à instituição, alguns
setores da unidade estão localizados no Pavilhão Rocha Lima, prédio
compartilhado com laboratórios de pesquisa biológica em
bacteriologia, virologia e micologia do Instituto Oswaldo Cruz.
Projetada ao final da década de 50 pelo arquiteto Waldyr Ramos, a
edificação foi construída para abrigar hospital de pneumologia. A
obra com quase 6.000 m
2
, concluída em 1965, teve sua ocupação
posteriormente redefinida para ocupação do Departamento de Soros e
Vacinas do Ministério da Saúde (OLIVEIRA et al, 2003). Em 1970, foi
incorporado à, então recém criada, Fundação Instituto Oswaldo Cruz.
Em 2002, segundo a Comissão de Biossegurança local, foi
executada reforma no quarto pavimento do prédio para abrigar sala
limpa acrescida das características de laboratório NB3. Destinava-se
a ser usada como plataforma tecnológica, conforme demanda de grupos
de pesquisa por instalações desta natureza para desenvolvimento de
seus projetos. Assim, o Laboratório de Tecnologia Virológica LATEV
- foi o usuário da área no projeto de desenvolvimento tecnológico de
produtos com vírus da hepatite A não-recombinante
26
antes da
desmobilização do ambiente programada para fins de correção de
problemas projetuais e construtivos detectados durante o uso, bem
como readaptação ao uso para comportar, também, futuras manipulações
genéticas em contenção biológica nível 3 em função das exigências de
infra-estrutura requeridas nas orientações normativas promulgadas
pela CTNBio.
Biomanguinhos possui em sua estrutura o Laboratório de
Metrologia e Validação LAMEV, que responde pela certificação
interna de seus laboratórios de produção e suporte de acordo com as
BPF. Com equipamentos rastreados pelo INMETRO e seguindo normas
nacionais e internacionais, todos os processos para funcionamento do
NB3 foram habilitados em 2004.
26
O vírus da hepatite A é classificado como de risco 2. Entretanto, sua resistência
à temperatura ambiente, fez com que o projeto fosse desenvolvido em nível de
contenção NB3.
133
A. Localização e acesso
Levantamento de dados
Dos requisitos de localização e acesso, Anexo I, apenas não
está atendida a recomendação para que a construção seja afastada do
envelope da edificação. Foi observado que, embora afastado de
circulação pública e com acesso controlado, a existência de visores
na circulação principal do prédio interfere um pouco na privacidade
do trabalho, possibilitando eventual distração.
Percepção do usuário
A parte respondente considera a localização pouco satisfatória
haja vista que se trata de instalação em prédio adaptado ao uso, sem
disponibilidade de pavimento técnico, opinando que a experiência
atual faz repensar que, nestas condições, os laboratórios devem ser
projetados para ocupar pavimento térreo.
Em que pese as restrições enfatizadas pelo usuário, entende-se
que as mesmas referem-se à locação destinada pela instituição para
que o espaço disponível tivesse seu uso adaptado para laboratório de
contenção biológica, mas no tocante aos requisitos de localização e
acesso, considera-se que estão atendidos de forma satisfatória.
B. Perímetro de contenção
Levantamento de dados
O laboratório é provido de todas as barreiras obrigatórias,
conforme modelo de levantamento no Anexo I. Na parede com janela
para o exterior foi executada vedação por painel de fibrocimento em
sua extensão completa, recobrindo-se a janela, conforme entendimento
dos próprios usuários. O item referente a tratamento de efluentes
antes do lançamento na rede é não aplicável. Quanto às recomendações
projetuais de biossegurança, não possui guichê de passagem de
materiais para a área de maior contenção.
134
Percepção do usuário
A parte respondente considera que as barreiras arquitetônicas
são pouco satisfatórias por preocupação com a vulnerabilidade do
laboratório NB2 adjacente, que possui pressão positiva em relação à
circulação. Este recurso foi utilizado para obter o gradiente
negativo de pressão necessário para trabalho em ambiente NB3. A
solução do problema é apontada pelo usuário como uma das mudanças
que almeja, estando praticamente definida a construção de
antecâmara com pressão positiva entre a área NB2 e a circulação
principal do pavimento, a ser incorporada na reforma do laboratório.
C. Provisão de utilidades e serviços
Levantamento de dados
Tem aderência a 7:9 dos requisitos obrigatórios, deixando de
atender apenas a condição de instalação de dispositivo anti-refluxo
na instalação hidráulica, observando-se como não aplicável os sifões
de drenagem com selo hidráulico uma vez que foi implementado recurso
alternativo para coleta das águas servidas do lavabo em bombonas,
com tratamento químico preliminar e posterior tratamento físico de
descontaminação. Dos itens recomendados, não está atendida a
colocação de reatores no exterior da área de contenção, perfazendo
aderência na proporção de 4:5.
Percepção do usuário
A parte respondente considerou que as utilidades e serviços
atendem ao uso de forma satisfatória, comentando que a substituição
dos cilindros de gases comprimidos por linha e a substituição da
canalização sanitária dos lavabos por bombonas foram melhorias
obtidas mediante intervenção física posterior à obra inicial.
D. Requisitos de conforto ambiental
Levantamento de dados
O laboratório foi construído com sistema central de
climatização com controle das variáveis de temperatura, umidade e
velocidade do ar. Entretanto, houve problema com umidade nas CSB,
135
tendo como provável nexo o ponto de coleta do ar, localizado em
ambiente aquecido e mais úmido. O ar captado, ao entrar em contato
com a temperatura de conforto do laboratório, condensa água. As CSB
serão substituídas e refeito o projeto de instalação dos novos
equipamentos com vistas a captação de ar com qualidade adequada,
evitando-se problemas de contaminação microbiológica ambiente.
Neste laboratório, como nas demais instalações NB3, são
utilizados materiais pouco absorventes das radiações sonoras, pois
as condicionantes de biossegurança requerem o emprego de materiais
bem lisos para fins da qualidade de limpeza e higienização. Assim,
os motores das CSB, quando ligados, e compressores de freezeres,
quando acionados, ultrapassam o nível de conforto em relação ao
ruído estabelecido nos regulamentos trabalhistas brasileiros.
A iluminação é totalmente artificial, e as CSB são construídas
com lâmpadas para iluminar o campo de trabalho, proporcionando
condições de manipulação biológica com segurança lumínica.
Quadro 12 – Cores empregadas no laboratório NB3 de Biomanguinhos
Local
Material
Cor
Observação
Teto Pintura Branca -
Paredes Pintura Branca -
Divisórias Aço - -
Piso Resina Verde -
Esquadrias Aço - -
Bancadas Aço - -
Equipamentos Aço - -
Equipamentos (CSB) Pintura Azul Substituição por aço
As paredes são brancas, assim como o rebaixamento do teto, e o
piso verde, cor e tonalidade com reflexão mais próxima ao adequado
para pisos no ambiente de trabalho.
As novas CSB serão construídas em aço, sob encomenda, com os
painéis frontais estampados para minimizar o efeito fisiológico
causado pelo contraste elevado de cores.
136
(FOTO DISPONÍVEL APENAS NA VERSÃO IMPRESSA)
Figura 27 – Vista do interior do NB3 de Biomanguinhos
Fonte: Foto cedida pelo LAMEV
Percepção do usuário
Este item foi considerado como satisfatório pela parte
respondente, fazendo ressalva quanto às cadeiras que apresentaram
problemas com o uso.
A temperatura e umidade são controladas pelo sistema
centralizado de climatização e ventilação, não havendo queixas a
respeito. Com iluminação totalmente artificial, não há queixas
quanto à quantidade de luz para execução das tarefas. As CSB são
providas de lâmpadas para iluminar o campo de trabalho. Não foram
feitas queixas quanto ao ruído.
E. Superfícies e revestimentos
Levantamento de dados
Verificou-se que há aderência a todos os itens obrigatórios e
recomendados aplicáveis.
137
Todos os materiais empregados buscam minimizar a formação de
partículas em suspensão, rigor usado na construção de salas limpas
que preenche de forma muito satisfatória as necessidades de
descontaminação de laboratório NB3.
Percepção do usuário
A parte respondente considerou como satisfatórios os
revestimentos e mobiliários quanto à adequação ao uso, sem
comentários adicionais.
F. Estrutura e leiaute
Levantamento de dados
O laboratório NB3 de Biomanguinhos foi concebido tendo como
zona de acesso um laboratório NB2, contando com área de apoio para o
processo de descontaminação-lavagem-preparo-esterilização e com
instalação de autoclave dupla-porta. A circulação de pessoas entre
as áreas NB2 e NB3 é realizada através de antecâmara de
paramentação, sucedida por ambiente de acesso à sala de equipamentos
e ao laboratório NB3 propriamente dito, com fluxo de pessoas
determinado por portas de entrada e saída. Desta forma, a concepção
do laboratório atentou para o gradiente de risco.
Legenda
Área de contenção Fluxo de entrada
Área NB2 Fluxo de saída
Área de apoio
Figura 28 – Setorização do laboratório NB3 de Biomanguinhos
138
A sala das CSB é superdimensionada e divida em dois ambientes
pelo mobiliário. Em cada ambiente assim delimitado está instalada
uma CSB, posicionadas afastadas das grelhas de ventilação e de
portas.
O direito é rebaixado em função da dutagem do sistema de ar
condicionado central, com altura inferior a 2,4 m. Houve necessidade
de moldar nichos para receber as coifas das CSB.
Percepção do usuário
A estrutura física e leiaute foram considerados como
satisfatórios pela parte respondente. O usuário demonstrou bastante
preocupação com o fluxo para circulação na instalação. Observou que
os requisitos de biossegurança da instalação podem ser atendidos com
acesso único para entrada e saída da área de maior contenção.
Entretanto, as BPL exigem fluxos de processo e pessoas bem definidos
para evitar quaisquer cruzamentos.
A sala de manipulação foi considerada como grande demais,
trazendo, na opinião do usuário, dificuldade de manutenção.
G. Ventilação e climatização
Levantamento de dados
Os requisitos recomendados têm 100% de aderência, já os
requisitos obrigatórios totalizaram aderência na proporção de 4:6.
Os itens de segurança recomendados e o atendidos dizem respeito à
falta de intertravamento entre exaustão e admissão do ar, para
evitar pressão positiva acidental, e à ausência de sinalização de
alerta nos casos de falha na insuflação de ar.
Percepção do usuário
A parte respondente considerou os sistemas de ventilação e
climatização como satisfatórios, enfatizando que houve balanceamento
e que o problema de umidade havido é pontual nas CSB.
139
H. Considerações finais
Os requisitos de projeto exigidos pelas BPL suprem as condições
de biossegurança para NB3.
engajamento da Comissão de Biossegurança de Biomanguinhos no
projeto, trabalhando de forma articulada com o Laboratório de
Metrologia e Validação, atuando como instâncias decisórias na
concepção dos ambientes.
Algumas das dificuldades de projeto são devidas às
características da edificação, que é antiga, foi projetada como
hospital, adaptada para abrigar laboratórios e posteriormente
reformada para receber o NB3 com características de sala limpa.
Tanto o projeto de arquitetura como os projetos de instalações
tiveram limitações em seu desenvolvimento, dentre elas a falta de
espaço técnico para as casas de máquinas e tratamento de efluentes.
4.3.3 Laboratório NB3 Klaus Eberhard Stewien - Instituto de Ciências
Biomédicas da Universidade de São Paulo
O Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) é uma unidade da
Universidade de São Paulo USP. Em 1970, foi constituído o
Departamento de Microbiologia do ICB, mas somente em 1985 foram
reunidos fisicamente no Edifício Biomédicas II os laboratórios que
se encontravam distribuídos em diversos locais do campus da USP,
situado na Zona Oeste da cidade de São Paulo, bairro do Butantã.
A maior parte dos edifícios deste campus foi construída a
partir de meados da década 60, evidenciando-se uma intenção
funcionalista na constituição dos seus espaços e na organização das
unidades da Universidade, segundo a lógica da arquitetura moderna
27
.
O prédio do Edifício Biomédicas II é uma construção em concreto
aparente, com três pavimentos. Segundo seus ocupantes, foi concebido
com finalidade de abrigar áreas administrativas e posteriormente
adaptado para receber o Departamento de Microbiologia, constituído
27
A principal fonte de pesquisa utilizada foi a gina da instituição na internet:
http://www.usp.br/.
140
por 19 laboratórios de pesquisa, setor administrativo, centrais de
distribuição de material para laboratório, lavagem e esterilização,
serviço de informática, biotério para manutenção de animais em
experimentação e central de equipamentos multiusuários.
O laboratório NB3 Klaus Eberhard Stewien foi inaugurado em 2003
e ficou conhecido como NB3 plus ou NB3+ em alusão ao atendimento de
mais requisitos de segurança do que o mínimo exigido para trabalho
em contenção com agentes patogênicos da classe de risco 3 e rigor no
cumprimento compulsório dos procedimentos de biossegurança
estabelecidos.
Com objetivo de abrigar estudos sobre hantavírus, arbovírus e o
vírus do Oeste do Nilo (vírus exótico), o laboratório integra a Rede
de Diversidade Genética de Vírus RDGV que tem, dentre seus
objetivos, antecipar problemas através da virologia preditiva
(FIORAVANTI, 2003).
A. Localização e acesso
Levantamento de dados
Durante avaliação no local, foi constatado que o acesso, na
prática, é feito diretamente através de área administrativa uma vez
que a circulação interna foi ocupada para atividades desta natureza.
Os vazios centrais, resultado do partido original da construção com
pátio interno, foram fechados por laje, interligando as circulações
periféricas internas e obtendo-se um grande salão usado como área de
apoio acadêmico-administrativo. Assim, apesar da aderência a todos
os requisitos obrigatórios, verificados segundo o Anexo I, e deixar
de atender apenas o requisito recomendado referente a afastamento do
envelope da edificação de todas as paredes delimitantes da área de
contenção, a localização e acesso não são de todo satisfatórios.
Percepção do usuário
No entendimento do usuário a localização do laboratório foi
considerada como pouco satisfatória por não haver laboratório NB2
adjacente. O acesso se diretamente da circulação, uma vez que não
foi disponibilizada área suficiente para conceber configuração
141
espacial mais adequada. A vulnerabilidade da localização foi
compensada pela adoção de duas medidas construtivas de segurança: o
isolamento da contenção através de envelope interno em concreto
celular autoclavado e a instalação de portas com vedação ativa.
B. Perímetro de contenção
Levantamento de dados
Houve aderência a todos os itens considerados como obrigatórios
e como recomendados listados no Anexo I. Por não haver janelas
externas, a segurança das mesmas foi considerada como item não
aplicável.
Percepção do usuário
A avaliação pela parte respondente corrobora com a avaliação
realizada no local ao considerar como muito satisfatórios os
recursos empregados para se obter garantias de contenção biológica.
Na utilização das demais etapas do instrumento de pesquisa, a parte
respondente enfatizou os aspectos relevantes para contenção que
nortearam a concepção do laboratório, tal como a preferência por não
haver janela externa como fator de segurança, a descontaminação
através de autoclave de dupla porta e a instalação de guichê de
passagem. Entretanto, os componentes externos da autoclave estão
localizados dentro da área de contenção, sala separada, quando o
ideal é que fossem disponibilizados para acesso externo.
C. Provisão de utilidades e serviços
Levantamento de dados
Verificou-se que são atendidos na proporção de 6:9 os itens
tidos como obrigatórios. Dos itens recomendados não há aderência
quanto à localização de reatores na área externa à contenção,
provendo-se o local com luminárias autoclaváveis. O sistema de
comunicação entre a área de contenção e seu exterior foi
redimensionado após incidente no trajeto de saída do laboratório.
Com programação de banho compulsório em duas etapas, descarga de
30 litros de água clorada pelo chuveiro do box depois que a primeira
142
porta se fecha, única rota de saída possível. A seguir, há descarga
de 20 litros de água corrente para enxágüe antes que se possa abrir
a próxima porta de saída, acesso à sala de recuperação da
indumentária pessoal (Figura 30 Setorização do laboratório NB3
Klaus Eberhard Stewien, p. 146). Por falha da automação, o
trabalhador ficou retido e somente após este episódio foi instalado
sistema de comunicação das áreas reservadas com o exterior.
Percepção do usuário
Para o usuário as utilidades e serviços atendem ao uso de forma
muito satisfatória depois que foi instalado recurso de comunicação
entre as áreas reservadas e a área de suporte. Não foram feitas
observações adicionais.
D. Requisitos de conforto ambiental
Levantamento de dados
Através de sistema central de climatização, a temperatura
ambiente é regulada para 20ºC no intuito de compensar termicamente a
exigência de uso de vestimentas que cobrem totalmente o corpo do
pesquisador, dos pés à cabeça, com macacões confeccionados em tecido
impermeável. O efeito térmico gerado é de desconforto causado por
frio.
Verificou-se, mediante avaliação local, que outros fatores
contribuem para a sensação de desconforto térmico percebido. Além de
alguns equipamentos, todo o mobiliário é confeccionado em aço inox,
bem como portas, esquadrias e dutos internos aparentes de admissão e
exaustão de ar. As cadeiras em aço transmitem frio por condução e os
tecidos das vestimentas de segurança não ajudam no isolamento
térmico do corpo. A cor azul que produz efeito de frio, é empregada
no piso e estrutura de portas, visores e guichê.
143
(FOTO DISPONÍVEL APENAS NA VERSÃO IMPRESSA)
Figura 29 – Vista de atividades no interior do laboratório NB3 do ICB/USP
Fonte: Foto cedida pelo laboratório
Quadro 13 – Cores empregadas no laboratório NB3 Klaus Eberhard Stewien
Local
Material
Cor
Observação
Teto Pintura Branca -
Paredes Pintura Branca -
Divisórias Aço - -
Piso Resina Azul -
Esquadrias Aço - -
Esquadrias Pintura Azul Estrutura
Bancadas Aço - -
Equipamentos Aço - -
Equipamentos Pintura Cores claras -
O azul empregado no piso reflete a luz mais do que o
recomendado para ambientes de trabalho, situação que se repete com
as demais cores empregadas nas paredes e mobiliário, parte
144
construído em inox. O azul em tom mais forte empregado na estrutura
das esquadrias tem reflexão mais adequada à altura do campo visual.
Quanto à iluminação, é toda artificial e a cor branca empregada
no teto e paredes beneficia na reflexão da luz no ambiente de
trabalho, não havendo queixas sobre o nível de iluminamento
necessário para execução das tarefas, com iluminação suplementar nas
CSB. sala para trabalho em ambiente escurecido para as técnicas
que assim o exigem.
O ruído foi mencionado, com sua origem de incômodo localizada
nas CSB, uma vez que insufladores e exaustores de ventilação são
providos de atenuadores. O nível de ruído produzido está acima 50
dB(A), valor máximo que a legislação toma como adequado para em
ambientes para trabalho com exigência intelectual.
O ar interno apresenta boa qualidade microbiológica em função
da recente adoção de tratamento por radiação ultravioleta através de
dispositivos instalados antes da filtragem HEPA do ar de admissão.
Percepção do usuário
A parte respondente considerou as condições de conforto
ambiental como pouco satisfatórias, com muitas queixas quanto a
desconforto térmico por frio e alguma reclamação quanto ao nível de
ruído causado pelas CSB, porém qualificando-o como inerente às
atividades de pesquisa em laboratórios de contenção biológica.
As condições desfavoráveis de conforto térmico e ruído, na
opinião da parte respondente, influenciam no tempo de permanência
dos pesquisadores no laboratório.
F. Estrutura e leiaute
Levantamento de dados
A configuração do laboratório NB3 Klaus Eberhard Stewien não
prevê área como zona de acesso, razão pela qual foi adotado maior
rigor na barreira de contenção como, por exemplo, fechamento
pneumático de portas. A estrutura obedece a gradiente de risco, com
fluxo de pessoas e amostras bem definido. A autoclave está
145
localizada em sala separada, mas os componentes mecânicos encontram-
se instalados dentro da área de contenção embora a área física
disponibilizada para construção permitisse arranjo mais favorável.
Concebido de forma a evitar o cruzamento de pessoas ou de
materiais, inclusive com a previsão de antecâmara de passagem
dimensionada para descontaminação de equipamentos, área de apoio
para o processo de descontaminação-limpeza-preparo-esterilização de
materiais. A sala de microscopia é separada dos demais ambientes
permitindo maior concentração ao pesquisador ao mesmo tempo em que
evita exposições desnecessárias aos agentes de risco manipulados.
A Figura 30 Setorização do laboratório NB3 Klaus Eberhard
Stewien apresenta o leiaute da instalação.
Legenda
Área de contenção Fluxo de entrada
Área NB2 Fluxo de saída
Área de apoio
Figura 30 – Setorização do laboratório NB3 Klaus Eberhard Stewien
Os equipamentos e bancadas são organizados de forma periférica
na sala principal, em forma retangular. As duas CSB classe IIB2
estão localizadas lado a lado em detrimento de arranjo mais
favorável, o qual posicionaria os equipamentos frente a frente para
146
minimizar possíveis interferências no fluxo de ar. Foi observado que
não interferência de corrente de ar de admissão e exaustão pois
as CSB estão afastadas das grelhas de ventilação. O dimensionamento
da sala de contenção é compatível para trabalho com duas CSB e
arranjo dos demais equipamentos como centrífuga, geladeiras,
freezeres e bancadas de apoio no mesmo ambiente.
Percepção do usuário
A parte respondente considera que os requisitos de estrutura e
leiaute estão contemplados de forma muito satisfatória para trabalho
com agentes biológicos de elevado risco ou mesmo risco desconhecido.
Durante a aplicação dos demais instrumentos de pesquisa, a parte
respondente valorizou as barreiras físicas que contribuem para
atingir condições de biossegurança.
Em que pese a satisfação do usuário com a estrutura compacta
montada e leiaute arranjado, verifica-se que a parte respondente
faria modificações caso as mesmas estivessem ao seu alcance. Algumas
não são tangíveis pois, em virtude da exigüidade da área física
disponibilizada, salas tiveram suas dimensões ideais prejudicadas
como, por exemplo, as antecâmaras de saída, não havendo local
adequado para descontaminação dos protetores de cabeça e
respiradores. A propósito, segundo o usuário, o ponto fraco da
instalação é a falta de um espaço adequado para vestimenta e
descontaminação da scara e capuz de uso compulsório. Outras
poderiam ter sido otimizadas, como a instalação dos componentes
mecânicos da autoclave no lado externo da área de contenção, melhor
aproveitamento da área utilizada para o processo de descontaminação-
lavagem-esterilização e preparo, construída em formato de L, dentre
outras.
E. Superfícies e revestimentos
Levantamento de dados
aderência a todos itens obrigatórios e não atendimento
apenas do item recomendado referente à adoção de rebordo nas
bancadas para evitar o derramamento de líquidos.
147
O mobiliário e revestimentos são todos de fácil e higienização.
O visor para o exterior do laboratório é em esquadria dupla. O piso,
em resina epóxi, apresenta rachaduras localizadas. Sua integridade
foi comprometida por não resistir ao choque térmico por condução ao
contato com o nitrogênio líquido (-196ºC), material empregado na
preservação de materiais por criogenia e que geralmente vaza durante
o enchimento das bombonas.
Percepção do usuário
A parte respondente considerou como satisfatórios os
revestimentos e mobiliários quanto à adequação ao uso. Mas, no
entendimento do usuário, a manta vinílica vem sendo empregada em
instalações desta natureza com bons resultados e, caso fosse
possível, introduziria esta modificação no laboratório em
substituição ao epóxi do piso.
Outra modificação que o usuário faria seria utilizar bancadas
em resina
28
, material não empregado na concepção do laboratório em
vista do custo proibitivo.
(FOTO DISPONÍVEL APENAS NA VERSÃO IMPRESSA)
Figura 31 – Vista do interior do laboratório NB3 Klaus Eberhard Stewien
Fonte: Foto obtida no local
28
Referência ao produto Corian®, polímero acrílico com conteúdo mineral.
148
G. Ventilação e climatização
Levantamento de dados
Dos requisitos obrigatórios, somente não é atendido aquele
referente à sinalização sonora e visual em caso de falha do ar de
admissão, ficando apenas os devidos registros no sistema de
automação, resultando em aderência de 5:6 dos itens obrigatórios,
com cumprimento de todos itens recomendados.
O laboratório abriga duas CSB classe IIB2 e o sistema foi
balanceado. Há, ainda, uma coifa de exaustão de vapores químicos,
mas este equipamento não pode ser ativado haja vista sua operação
causar turbulência no fluxo unidirecional de ar, comprometendo a
manutenção do gradiente de pressão.
Percepção do usuário
A parte respondente considerou os sistemas de ventilação e
climatização como muito satisfatórios.
Esclareceu que, como o laboratório está localizado no último
pavimento do prédio, foi possível construir uma casa de máquinas do
sistema de ventilação e refrigeração sobre o mesmo, adaptação que se
mostrou adequada às necessidades, embora haja dificuldade de acesso
que se dá através de escada do tipo marinheiro. Na opinião do
usuário, o ideal seria que instalações desta natureza fossem
concebidas em prédios que disponham de pavimento técnico, recurso
que considera excelente.
H. Considerações finais
De acordo com o entrevistado, a concepção do laboratório não
contou com a participação de profissional em arquitetura e foi
idealizada a partir de sua experiência em relação a instalações
existentes em outros países, consultando especialistas em sistemas
de climatização e ventilação. Posteriormente, a proposta de
setorização foi submetida a equipes de engenheiros de renomadas
instituições no exterior, de onde adveio a sugestão de acrescentar
sala para fumigação de equipamentos de maior porte. As decisões de
149
projeto, e de pequenas intervenções posteriormente realizadas, são
tomadas pelos pesquisadores, que realizam algumas das manutenções e
acompanham as manutenções terceirizadas.
4.3.4 Laboratório NB3 de baixo custo - Instituto de Ciências
Biomédicas da Universidade de São Paulo
O laboratório NB3 de baixo custo foi concebido para funcionar
no mesmo Edifício Biomédicas II onde está situado o laboratório NB3
Klaus Eberhard Stewien, do Departamento de Microbiologia do
Instituto de Ciências Biomédicas da USP (vide item 4.3.3, p. 139).
Conforme constatado durante visitação ao local, trata-se de
adaptação de um laboratório NB2 existente, com mínima intervenção
física possível, onde está sendo testado sistema de ventilação e
refrigeração mais simples, com menor custo de implantação, bem como
operação e manutenção menos onerosas. Assim, em contra-posição ao
laboratório NB3 clássico, o laboratório de baixo custo é referido
como NB3 light (HERNANDES, 2007).
Instalado no mesmo pavimento que o laboratório NB3 plus, no NB3
light são manipulados agentes classe de risco 3 sobre os quais
estão estabelecidos conhecimentos de virulência e respectivos riscos
de transmissão de doenças, considerando-se que os procedimentos
podem ser realizados com os recursos de equipamentos e instalações
físicas ali disponibilizados, suficientes para atender os princípios
de biossegurança requeridos.
Este laboratório é piloto para implantação de outros similares
no interior do Estado de São Paulo, distribuídos de forma
estratégica para responder com maior brevidade às ocorrências de
surtos de doenças atribuídas a patógenos emergentes. Foram
construídas outras cinco unidades, duas na capital e três no
interior, para atendimento de demanda emergencial em vista da
necessidade de monitoramento da entrada, no Brasil, do coronavírus
humano SARS e na resposta diagnóstica de uma possível pandemia de
influenza (HERNANDES, 2007).
150
A. Localização e acesso
Levantamento de dados
Os requisitos de localização e acesso obrigatórios estão
atendidos na proporção de 8:10, não havendo controle de acesso, que
é feito através de chave, com uma cópia distribuída a cada usuário
da instalação. O item referente à necessidade de sistema emergencial
de abertura de portas é não aplicável uma vez que não
intertravamento e o controle é realizado por medidas protocolares.
Os requisitos recomendados são atendidos na proporção de 4:5 por
conta da delimitação da área de contenção por parede externa do
próprio prédio.
Percepção do usuário
A parte respondente considera a localização muito satisfatória
haja vista existência de antecâmara com função de zona de acesso ao
laboratório NB2 contíguo à área de contenção NB3, frisando que há
vantagem pelo fato do conjunto estar localizado no final do salão
que também faz as vezes de circulação.
B. Perímetro de contenção
Levantamento de dados
Dos requisitos obrigatórios, somente aquele que determina a
selagem de conduites e instalações não foi atendido. Como não
suprimento hidráulico, conseqüentemente não tratamento de
efluentes. O material sólido é descontaminado através de autoclave
de bancada. Não foi instalado guichê de passagem de materiais na
barreira de confinamento, requisito recomendado.
Percepção do usuário
A parte respondente considerou como muito satisfatória as
barreiras providas através do perímetro de contenção. Há, entretanto
restrição à existência de janela, mantida de acordo com a paginação
da fachada original do prédio, selando-se suas junções pelo lado
interno da edificação. De forma enfática, é entendimento do
respondente que não deva haver janelas em ambientes para trabalho em
151
contenção biológica, considerando elemento que pode causar
distração.
O usuário ponderou que se tivesse possibilidade instalaria uma
autoclave de barreira e, no momento, estão cogitando colocar uma
câmara para capturar imagens do interior do NB3 em vista do
isolamento do local, sem contato visual.
C. Provisão de utilidades e serviços
Levantamento de dados
Dos requisitos obrigatórios, verificou-se a aderência na
proporção de 3:9 itens, sendo quatro itens considerados como não
aplicáveis e, portanto, dois itens não atendidos, este últimos
referentes à instalação de lava-olhos e existência de sistema de
comunicação entre a área de contenção e a área de suporte.
Adaptado em laboratório NB2 existente, a proporção maior de
itens não aplicáveis é reveladora do despojamento das utilidades e
serviços do laboratório NB3 de baixo custo, no qual estão em
funcionamento duas CSB do tipo classe IIA, equipamento que requer
menos sofisticação técnica para sua instalação.
Dos itens recomendados, verificou-se que houve aderência na
proporção de 2:5, com os cilindros de gases utilizados localizados
na área de contenção ao invés de suprimento por linha, não
instalação de reatores de lâmpadas fluorescentes pelo exterior da
área de contenção, adotando-se luminárias do tipo autoclavável e,
inexistência de sistema de transmissão de dados disponível na área
de contenção.
Percepção do usuário
A parte respondente considera que as utilidades e serviços são
poucos satisfatórios, destacando as restrições hidrossanitárias da
edificação.
152
D. Requisitos de conforto ambiental
Levantamento de dados
O laboratório é refrigerado através de condicionadores do tipo
split, e com renovação de ar por insuflação e exaustão mecânica e
tratamento do ar de saída e de entrada. A temperatura interna está
regulada para trabalhar em 22 ± 2º C.
A cor azul foi aplicada no mobiliário e no piso, branco nas
paredes, teto e divisórias e os equipamentos são em tons claros.
Quadro 14 – Cores empregadas no laboratório NB3 de baixo custo ICB/USP
Local
Material
Cor
Observação
Teto Pintura Branca -
Paredes Pintura Branca -
Divisórias Pintura Branca -
Piso Manta vinílica Azul -
Esquadrias Laminado Cinza azulado Portas
Bancadas Resina Branca -
Equipamentos Pintura Cores claras -
Mobiliário Laminado Azul -
Os tons de azul empregados no piso e mobiliário e o cinza
azulado do revestimento das portas têm índice de reflexão bem
próximo do adequado aos ambientes de trabalho. Entretanto o azul do
piso, por ser mais escuro deixa de atender o critério de
biossegurança que recomenda a aplicação de cores clara para
facilitar a identificação de sujidades.
153
(FOTO DISPONÍVEL APENAS NA VERSÃO IMPRESSA)
Figura 32 – Tomada do interior do laboratório NB3 de baixo custo ICB/USP
Fonte: Foto obtida no local
A iluminação é feita de forma natural, através da janela à
direita dos postos de trabalho na CSB, e artificial, com iluminação
suplementar da superfície de trabalho.
Os motores das CSB provocam ruído acima do limite estabelecido
para conforto acústico em laboratório.
Percepção do usuário
Este item foi dado como satisfatório pela parte respondente.
Não há queixa quanto à temperatura do ambiente, conforto visual
e lumínico.
Quanto ao ruído, a parte respondente informou que o
funcionamento das CSB causa desconforto acústico.
E. Superfícies e revestimentos
Levantamento de dados
Verificou-se que aderência a todos os itens obrigatórios, e
proporção de 3:6 de atendimento aos itens recomendados. Tanto
154
bancadas como prateleiras não são providas de rebordo e os tampos
das bancadas apresem arestas vivas.
Os materiais empregados são adequados à freqüente
descontaminação química.
Percepção do usuário
A parte respondente considerou como muito satisfatórios os
revestimentos e mobiliários.
F. Estrutura e leiaute
Levantamento de dados
O laboratório NB3 de baixo custo foi concebido como adaptação
de instalações NB2, parte delas mantidas como laboratório adjacente
de apoio, incluindo-se sala para cultura de células. De forma
retangular, a área de contenção ocupa pouco mais de 17 m
2
e é
internamente subdividida em dois ambientes de igual tamanho: sala
com um posto de trabalho em CSB e sala com dois postos de trabalho
em CSB, dispostas lado a lado.
Legenda
Área de contenção Fluxo de entrada
Área NB2 Fluxo de saída
Área de apoio
Figura 33 - Setorização dolaboratório NB3 de baixo custo ICB/USP
155
Foram providas duas portas na antecâmara de acesso à área de
contenção, definindo-se, desta forma, fluxo para entrada e saída de
pessoas apesar das limitadas dimensões que resultaram em ambiente
com menos de 2,5 m
2
. A antecâmara é utilizada para paramentação de
vestimentas de segurança por sobre a roupa de uso do trabalhador. As
salas para manipulação de patógenos o interligadas por porta e têm
formato quadrado com dimensões de 2,9 m por 2,9 m cada, medidas que
se revelam mínimas para abrigar duas CSB em funcionamento
simultâneo. As bancadas têm profundidade de 60 cm, inadequada para o
porte dos equipamentos que sustenta.
A configuração atende ao gradiente de risco, não havendo área
de apoio para o processo de descontaminação, realizado em autoclave
de bancada instalada na área de contenção. Não antecâmara de
descontaminação para equipamentos.
Percepção do usuário
A parte respondente considera que as instalações são bastante
compactas, entendendo que este tipo de estrutura e leiaute são muito
satisfatórios.
G. Ventilação e climatização
Levantamento de dados
Denominado como laboratório NB3 light, a instalação foi
construída para trabalho em condições adequadas com agentes classe
3, com o objetivo de atender os requisitos de biossegurança a baixo
custo. Um dos sistemas que foram simplificados é a ventilação e
climatização, reduzindo o investimento para construção e os gastos
na operação do laboratório. A pressão é mantida negativa em relação
ao ambiente externo por exaustão e admissão de ar exterior,
alcançando-se o equilíbrio desejado através de variador de multi-
freqüência sincronizado com as aberturas das portas. As CSB
existentes são do tipo classe IIA, não interferindo na manutenção da
pressão negativa na área de contenção. Um sensor de diferencial de
pressão, instalado no ambiente entre a área de contenção e o
ambiente externo, envia sinal para controladora (HERNANDES, 2007).
156
O ar é tratado por radiação ultravioleta antes da admissão no
ambiente de contenção para fins de melhoria de sua qualidade
microbiológica. A refrigeração do ar é feita antes da admissão no
ambiente de contenção por aparelho de ar refrigerado tipo split.
Os requisitos obrigatórios têm total aderência, ressaltando-se
que 70% do ar é recirculado para o mesmo ambiente após tratamento
por filtragem e que os manômetros estão instalados na antecâmara de
acesso ao NB2, portanto afastados da área de contenção. Dos itens
recomendados não é atendido apenas aquele referente à proteção anti-
refluxo na insuflação de ar.
Percepção do usuário
A parte respondente entende que as condições de ventilação e
refrigeração são muito satisfatórias, atendendo a proposta de
concepção de uso deste tipo de instalação NB3.
H. Considerações finais
A proposta de construção de laboratórios de baixo de custo
surge como resultado alternativo à experiência em laboratório onde
os procedimentos de biossegurança foram estabelecidos de forma
rigorosa, com tais rigores transformando-se em determinantes de
projeto (vide item 4.3.3, p.139).
a concepção dos laboratórios NB3 de baixo custo foi mediada
a partir do reconhecimento e antecipação dos riscos. As instalações
foram adequadas aos procedimentos de biossegurança necessários para
as manipulações biológicas. Assim, os meios de contenção empregados
nas barreiras primárias e secundárias atendem aos objetivos
delineados, com a ressalva do usuário de que a adesão a todos os
requisitos de biossegurança não implica, necessariamente, num
projeto que melhor responda às finalidades do laboratório.
Entretanto, trata-se de adaptação feita em um laboratório NB2
existente e a reforma foi executada procurando preservar o que fosse
possível da instalação original. Tais limitações impactaram o
projeto de forma que o laboratório deixou a desejar quanto ao
leiaute e estrutura. Vale ressaltar que as decisões de projeto foram
157
tomadas pelo pesquisador titular, apoiado por engenheiros que
dominam os sistemas de ventilação, climatização e automação.
4.3.5 Laboratório de AIDS e Imunologia Molecular - Instituto Oswaldo
Cruz
Instituição centenária, o IOC foi criado para produzir vacinas
no combate à peste
29
. Diversificou suas ações durante sua trajetória
ao longo de 107 anos de existência e hoje atua nas áreas de
pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação e na prestação de
serviços de referência para diagnóstico de doenças infecciosas e
genéticas e controle de vetores, contando com comissões internas
responsáveis pela biossegurança, qualidade e gestão ambiental e
mantendo acervo biológico organizado em coleções científicas de
importância nacional e internacional. Também forma recursos humanos
através da atuação na educação profissional e de pós-graduação em
programas lato sensu e stricto sensu.
Instalado em vários prédios do campus de Manguinhos da Fiocruz,
Rio de Janeiro, conta com 66 laboratórios de pesquisa,
desenvolvimento tecnológico e inovação, dedicados ao estudo e à
geração de produtos e insumos para diversas doenças.
Parte de suas instalações está localizada no Pavilhão Leônidas
Deane, edificação tida como uma das últimas grandes realizações
arquitetônicas na década de 50 do campus de Manguinhos. Prédio
projetado como hospital pelo arquiteto Ramiro Pereira, sua
construção foi iniciada em 1956 e implantada incorretamente. Segundo
Oliveira et al. (2003, p. 142), foi concebido com volumes de
proporções pouco elaboradas e desarmônicas e suas dimensões são
incompatíveis com a localização no alto de uma colina. Sua primeira
inauguração aconteceu nos anos 70, sofrendo, posteriormente,
diversas intervenções.
A última grande reforma do prédio foi concluída em 2000 e
conduzida com a finalidade de abrigar laboratórios de pesquisa
biológica do IOC, dentre os quais o Laboratório de AIDS e Imunologia
29
A principal fonte de pesquisa utilizada foi a página institucional na internet:
http//:www.ioc.fiocruz.br.
158
Molecular que realiza pesquisas, desenvolvimento tecnológico e
presta serviços de referência em HIV-AIDS. Tais obras iniciaram em
1996 e não previam a dependência NB3, cuja inclusão foi solicitada
durante o transcorrer dos serviços. Como narra Cirrota (2004), a
readequação de projeto num prédio em reforma e de concepção
antiquada resultou em imensas dificuldades de projeto e em falhas na
execução da obra. Dentre as adaptações físicas necessárias, Cirrota
(2004, p. 76) destaca a construção da casa de máquinas do sistema de
ventilação e refrigeração como anexo à lateral do Pavilhão Leônidas
Deane, desde o rreo até o pavimento, que, por seu volume e
posicionamento, “transformou-se em aberração arquitetônica”. A
instalação NB3 entrou em funcionamento em 2001.
A. Localização e acesso
Levantamento de dados
Os requisitos tidos como obrigatórios, segundo o Anexo I, foram
atendidos. Entretanto, a abertura das portas de antecâmaras é
controlada por medidas protocolares porque o sistema de
intertravamento eletro-mecânico foi desligado voluntariamente após
incidentes pelos quais houve retenção de trabalhadores dentro da
área de contenção. Não foi atendido nenhum dos itens recomendados.
Percepção do usuário
A parte respondente considera a localização e acesso do
laboratório como muito satisfatórios, referindo-se como ideal” a
locação ao final do pavimento, precedido de ante-sala provida de
tranca e que faz às vezes de zona de acesso aos dois laboratórios
NB3 instalados no 4º pavimento do Pavilhão Leônidas Deane.
B. Perímetro de contenção
Levantamento de dados
Os requisitos obrigatórios são atendidos, destacando-se que a
descontaminação dos resíduos sólidos é feita em autoclave que
permanece dentro da área de contenção. As janelas existentes são em
vidro simples, vedadas com silicone e obedecem à paginação do
159
prédio, mas foram duplicadas internamente. Entretanto, apresentam
problemas de infiltração, comuns às demais janelas do prédio, com
crescimento de fungos por umidade absorvida do exterior, condição
não aceitável em instalações deste porte. Após intervenção física
recente houve redução na formação de mofos no local. O item
obrigatório referente ao tratamento de efluentes foi constatado como
não aplicável pois não disponibilidade de instalação hidráulica.
Os itens recomendados não estão atendidos.
Percepção do usuário
A parte respondente entende como satisfatórias as barreiras
arquitetônicas previstas para fins de contenção biológica. A
recomendação não atendida para instalação de guichê de passagem de
materiais não foi considerada durante a concepção do projeto, e a
parte respondente apontou como item que faz bastante falta.
C. Provisão de utilidades e serviços
Levantamento de dados
O laboratório maior foi concebido para comportar quatro CSB,
atualmente abrigando duas cabines classe IIB2 e uma cabine classe
IIA. o menor, foi concebido para abrigar uma cabine classe IIB2
e, no entanto, há instalado outro equipamento do tipo IIA.
Verifica-se que aderência a cinco dos requisitos obrigatórios,
proporção de 5:9, sendo os demais considerados como não aplicáveis.
Os requisitos recomendados referentes à localização dos cilindros de
gases e de instalação dos reatores de lâmpadas fluorescentes no
exterior da área de contenção não são atendidos, bem como não
rede de transmissão de dados disponível, resultando numa aderência
de 2:5 itens recomendados atendidos.
Percepção do usuário
A parte respondente considera que as utilidades e serviços são
pouco satisfatórios. Destacou, quanto aos requisitos recomendados,
que os cilindros de gases estão instalados dentro da área de
contenção, enquanto seria mais adequado existir linha de suprimento,
e que não rede de lógica. À época do projeto, o usuário
160
considerava que não era necessária a proposta feita pela equipe de
concepção da instalação, pois dentro da área de contenção não deve
haver computadores para uso administrativo. Hoje, estão para receber
equipamentos que trabalham em rede e será necessária adaptação no
local. Também mencionou que o interfone precisou ser deslocado de
lugar em vista da acomodação dos equipamentos e a instalação da
fiação está parcialmente aparente quando deveria ser totalmente
embutida.
D. Requisitos de conforto ambiental
Levantamento de dados
sistema central climatizado, mas o balanço térmico nos
períodos mais quentes do ano está comprometido levando a desconforto
por calor, sensação agravada pelo uso obrigatório de vestimentas de
proteção por sobre as roupas de uso comum.
Foi apurado junto à equipe de validação das CSB que as cabines
classe IIB2 estão instaladas com 100% de captação de ar ambiente
para seu funcionamento e, desta forma, o ar condicionado à
temperatura de conforto é exaurido para o exterior em número de
trocas que não são compensadas termicamente pelo ar admitido na
insuflação. Tecnicamente, foi proposto um ajuste para captura
externa parcial de ar de funcionamento das CSB, solução considerada
inviável pelo usuário, em vista da pesquisa biológica. Segundo os
pesquisadores, receio de que a temperatura de trabalho dentro da
CSB, com captura de ar exterior, poderia atingir níveis que
comprometeriam a integridade das amostras pois, no presente caso, os
agentes patogênicos seriam suscetíveis às temperaturas mais quentes
do ambiente externo.
No laboratório maior três CSB e freezer com motor de duplo
estágio instalados, havendo efeito aditivo de ruído. O ruído
provocado pelo funcionamento de equipamentos típicos de laboratório,
como as CSB, está acima da faixa determinada na legislação para
trabalho com exigência intelectual, não ultrapassando o limite
estabelecido como danoso ao aparelho auditivo. A expressão
matemática para cálculo do efeito aditivo de ruído é em escala
161
logarítmica e, mesmo com equipamentos funcionando simultaneamente, a
pressão sonora esperada não atingiria o nível danoso, destacando-se
que as divisórias instaladas a meia altura para separar as CSB em
boxes também exercem efeito atenuante do ruído.
Quadro 15 – Cores empregadas no laboratório NB3 do IOC para trabalho com HIV
Local
Material
Cor
Observação
Teto Pintura Creme -
Paredes Pintura Creme -
Divisórias Laminado Cinza claro Meia altura
Piso Resina Creme -
Esquadrias Metal Branca Portas
Bancadas Laminado Cinza claro -
Equipamentos Pintura Cores claras -
Mobiliário Laminado Cinza claro -
iluminação natural através de janela protegida com película
atenuante da radiação solar e iluminação artificial, com iluminação
suplementar no campo de trabalho em CSB.
Nas superfícies construtivas predominam acabamentos em tons
cremes, cor com índice de reflexão apropriado para paredes de locais
de trabalho. As divisórias, bancadas e mobiliário são revestidos em
materiais de cores claras, resultando em contraste fraco (valores
entre 0,05 e 0,20), adequado para trabalho, não provocando esforço
visual. A condição de conforto visual poderia ser otimizada com
emprego de cor com maior grau de reflexão no teto e menor grau de
reflexão no piso.
162
(FOTO DISPONÍVEL APENAS NA VERSÃO IMPRESSA)
Figura 34 – Área de contenção do Laboratório de
AIDS e Imunologia Molecular do IOC
Fonte: Foto cedida pelo laboratório
Percepção do usuário
A parte respondente considera que o laboratório possui
condições de conforto ambiental muito satisfatórias.
Entretanto, relatou queixas quanto à temperatura do ambiente
nos períodos mais quentes do ano por insuficiência do sistema de
refrigeração.
Quanto ao ruído, a parte respondente informou que o
funcionamento das CSB causa desconforto acústico mas, com o passar
do tempo, acostumou-se ao nível de pressão sonora, considerando que
a fala de terceiros causa mais perturbação à concentração do que o
ruído dos motores de equipamentos. Entretanto, ressaltou que as
conversas ocorrem com as equipes que trabalham nos postos
principais, junto às CSB, e são suficientemente atenuadas, no seu
entendimento, pelas divisórias em meia altura colocadas separando os
equipamentos.
Não há queixas quanto à iluminação e não foi relatado
desconforto visual. Ao longo da aplicação do instrumento de
163
pesquisa, a parte respondente destacou que a vista para a copa das
árvores através de janela é condição bastante positiva para conforto
ambiental.
F. Estrutura e leiaute
Levantamento de dados
A configuração das instalações NB3 do Laboratório de AIDS e
Imunologia Molecular foram concebidas tendo ante-sala como zona de
acesso e a estrutura obedece ao gradiente de risco biológico,
contemplando antecâmara para entrada nas áreas de contenção, não
havendo laboratório NB2 e sala para o processo de descontaminação-
lavagem-preparo-esterilização contíguos.
Legenda
Área de contenção Fluxo de entrada
Área NB2 Fluxo de saída
Área de apoio
Figura 35 – Setorização do laboratório NB3 para pesquisa em AIDS do IOC
A estrutura foi concebida para trabalho com até quatro CSB, na
sala maior, atualmente comportando três equipamentos, e uma CSB na
sala menor, estando instalados dois equipamentos.
164
Bancadas e equipamentos foram dispostos, inicialmente, de forma
periférica nas salas de contenção. Entretanto, as dimensões exíguas
dos ambientes, principalmente da sala que comporta atualmente três
CSB em funcionamento, não eram suficientes para receber todos os
demais equipamentos necessários ao desenvolvimento das pesquisas
biológicas em andamento, sejam eles apoiados em bancada ou
diretamente no piso. Desta forma, foram feitas adaptações do arranjo
de mobiliário ao uso e instaladas bancadas adicionais na sala maior
de forma peninsular e insular. Como resultado, a circulação ficou
reduzida a medidas entre 0,80 e 1,00 m ao longo das bancadas,
inviabilizando a passagem de pessoas quando houver outro trabalhador
em atividade posicionado, tanto nas bancadas como nas CSB, tornando-
se um fator de risco adicional. As CSB foram projetadas para não
sofrer interferência das correntes de insuflação de ar, movimentação
de portas ou pessoas. Verifica-se que, com a ocupação adensada, só
restam protegidas as cabines localizadas ao fundo de ambos
laboratórios. As antecâmaras de paramentação são bastante pequenas.
Percepção do usuário
Nos dizeres da parte respondente, o trânsito interno é
“difícil” em função do número de equipamentos instalados e da
operação simultânea de mais de um posto de trabalho de CSB para
manipulação biológica. Ressaltou que o desenvolvimento da tecnologia
faz com que, cada vez mais, se agregue equipamentos ao laboratório.
Também considerou que as antecâmaras são exíguas em área, não
acomodando a contento os jalecos, estantes de apoio para material e
paramentação e vasilhames de descarte de roupas usadas. Valorizou a
separação das CSB em “baias” pela colocação de divisórias a meia
altura, o que melhora as condições de concentração em vista de
outras equipes trabalhando simultaneamente, lado a lado. Apesar de
todas observações restritivas, obtidas ao longo da aplicação do
instrumento de pesquisa, a parte respondente considera que os
requisitos de estrutura e leiaute estão contemplados de forma
satisfatória, valorizando a estrutura compacta em ambientes para
trabalho em contenção.
165
Se pudesse realizar modificações no laboratório, ampliaria a
área de contenção destinada aos equipamentos, mantendo compacta a
área destinada à manipulação patogênica nas CSB. A configuração
proposta pelo usuário é uma variante do laboratório tipo suíte,
pois, na sua proposição, as CSB seriam segregadas apenas por
divisórias a meia altura ao invés de serem instaladas em salas
estanques.
E. Superfícies e revestimentos
Levantamento de dados
Constatou-se algumas ressalvas quanto aos materiais empregados.
O nitrogênio líquido (-196ºC) para preservação de amostras sob
criogenia, em bombonas, é com freqüência derramado acidentalmente,
danificando o piso porque a resina epóxi empregada teve sua
integridade comprometida com o choque térmico. As bancadas têm
estrutura em metal pintado, material que corrói pela ação química
das substâncias de limpeza comumente empregadas na desinfecção
biológica. Também as divisórias são estruturadas em metal passível à
corrosão química, formando, além disso, sulcos que dificultam a
limpeza.
O problema de infiltração externa na janela, mencionado
anteriormente, foi parcialmente resolvido com a instalação de
soleira em mármore, material permeável considerado como revestimento
não apropriado ao uso em laboratórios.
Assim, os itens obrigatórios foram atendidos na proporção de
3:5 e os itens recomendados na proporção de 2:6. O item recomendado
não atendido é referente à não existência de rebordo para evitar
derramamento de líquidos nas bancadas. Outros três itens foram
identificados como não aplicáveis.
Percepção do usuário
O usuário considerou que superfícies e revestimentos oferecem
satisfatória segurança ao uso. Observou, também, que está na
expectativa do resultado que será alcançado com o uso de manta
vinílica aplicada em outras instalações da Instituição para então
166
decidir sobre intervenção para substituição do piso epóxi. Revelou
que a pintura epóxi da parede também rompeu quando foi perfurada
para colocação de equipamento. Esclareceu que o problema de
infiltração externa na janela, que considera resolvido em 90%, foi
solucionado sob sua orientação, ou seja, sem participação
profissional de arquiteto, para colocação de painel interno de vidro
fixo por sobreposição e soleira de mármore.
F. Ventilação e climatização
Levantamento de dados
Segundo dados apurados, o sistema de ventilação e climatização
atende aos requisitos obrigatórios na proporção de 3:6, não havendo
sinalização visual e sonora na área de contenção para alertar sobre
falha no sistema de admissão de ar, inexistência de intertravamento
do sistema de ventilação e porque os dutos externos ao perímetro de
contenção não são selados. os requisitos recomendados são
atendidos na proporção de 2:5, não havendo manômetros nas
proximidades da área de contenção para visualização dos diferenciais
de pressão, instalação dos filtros HEPA de exaustão afastados do
perímetro de contenção haja vista o distanciamento da casa de
máquinas do local do laboratório e sistema de admissão de ar
desprotegido por mecanismo anti-refluxo. Quanto a este último
quesito, foi informado que o filtro HEPA de insuflação foi retirado
na tentativa de otimizar o equilíbrio térmico ante as queixas de
desconforto por calor nos períodos mais quentes.
Foi apurado junto à equipe de validação das CSB que as mesmas
funcionam com tomada de ar 100% externo, cabendo ao usuário
controlar manualmente a exaustão através de botoeira que interrompe
a exaustão do ar ambiente pelas grelhas do sistema dutado, passando
a ser exaurido pelas CSB. Este procedimento foi regulado para
funcionamento com apenas uma das CSB em operação e, quando do
funcionamento simultâneo dos equipamentos classe IIB2 da sala de
contenção, desequilíbrio na vazão de ar, com conseqüente
desequilíbrio térmico nos dias mais quentes, e comprometimento
parcial do desempenho das CSB.
167
Percepção do usuário
A parte respondente entende que o sistema de ventilação e
climatização é pouco satisfatório, concentrando suas queixas na
dificuldade institucional de garantia da manutenção do sistema e no
desconforto térmico nos períodos mais quentes do ano.
H. Considerações finais
O laboratório concebido está sub-dimensionado em relação às
atividades que são desenvolvidas no local. As antecâmaras são
exíguas em relação ao movimento do laboratório, não havendo espaço
suficiente para acomodar as vestimentas de segurança de todos os
usuários.
A área disponibilizada não comporta os equipamentos necessários
para as pesquisas que são ali realizadas. Esta situação levou os
usuários a fazerem adaptações no ambiente, provendo-o com bancadas
de apoio de forma a criar circulações que, por sua vez, têm
dimensões insuficientes.
O uso intenso provoca desgaste dos revestimentos e a
recuperação dos problemas, bem como a correção daqueles detectados
durante o uso, é feita com algum grau de improviso, embora como
elogiosa boa vontade, por equipes próprias da instituição que não
têm conhecimento dos requisitos de biossegurança. Assim, houve a
introdução de materiais que não o apropriados ao uso em
laboratórios como, por exemplo, o mármore.
A questão do sistema de ventilação e refrigeração vem sendo
administrada com soluções paliativas, como a retirada dos filtros
HEPA do fluxo de ar de insuflação na tentativa de equacionar o
desequilíbrio térmico, ao passo que a casa de máquinas permanece sem
estrutura para receber manutenção preventiva desejada.
Ressalte-se que, para uso do laboratório, são seguidos
procedimentos rigorosos de biossegurança, estabelecidos a partir dos
riscos associados ao agente perigoso manipulado no local. É em
função dos riscos que algumas medidas de contenção sica, por
168
exemplo, podem ser relaxadas, como neste caso, pois o agente
biológico não causa transmissão de doença por via aérea.
Verifica-se, ainda, que este foi o único dos laboratórios
pesquisados em que o usuário valorizou expressamente o fato de haver
janela exterior, considerando a mesma como item de conforto visual
ao proporcionar vista da copa das árvores, não mencionando que
represente um risco ou que cause distração. Observe-se que este
laboratório, situado no pavimento do prédio, não tem contato
visual com outro ambiente interno.
4.3.6 Laboratório de Referência Nacional para Rickettsioses e
Regional para Hantaviroses – Instituto Oswaldo Cruz
Os serviços de referências têm como missão apoiar as ações do
Ministério da Saúde e seus pares no âmbito da vigilância
epidemiológica, prevenção e controle das doenças de interesse para a
saúde pública. Além das atividades laboratoriais especializadas e de
alta complexidade, prestam consultoria e assessoramento nas suas
respectivas áreas de atuação, bem como promovem a formação de
recursos humanos para a Rede Oficial de Laboratórios de Saúde
Pública e instituições públicas
30
.
Assim, o Laboratório de Referência Nacional para Rickettsioses
e Regional para Hantaviroses realiza pesquisa, desenvolvimento
tecnológico, inovação e formação de recursos humanos relacionados a
hantaviroses e rickettsioses, colaborando com o conhecimento destas
zoonoses, no Brasil, e com a vigilância epidemiológica em seu
território.
Situado no Pavilhão Rocha Lima, prédio de uso compartilhado
entre IOC e Biomanguinhos (vide item 4.3.2, p.131), as instalações
que entraram em funcionamento em 2003 serão transferidas,
provavelmente ainda em 2008, para novo edifício, também situado no
campus de Manguinhos da Fiocruz, Rio de Janeiro.
30
A principal fonte de pesquisa utilizada foi a página institucional na internet:
http://www.ioc.fiocruz.br.
169
Como laboratório de referência, está em fase de habilitação
pela CGLAB, adotando-se como critério a norma NIT-DICLA-083 do
INMETRO.
A. Localização e acesso
Levantamento de dados
Somente um dos requisitos obrigatórios avaliados, segundo os
instrumentos apresentados no Anexo I, deixou de ser atendido. Assim,
constatou-se que não sistema emergencial de abertura das portas
da antecâmara, as quais são dotadas de dispositivo eletro-mecânico
de intertravamento. Em contrapartida, somente um dos requisitos
recomendados foi atendido, não havendo separação de áreas no
vestiário para paramentação da equipe, a antecâmara não é provida de
chuveiro e a área de contenção é delimitada por paredes que demarcam
o envelope do edifício e afastada da casa de máquinas do sistema de
ventilação.
Percepção do usuário
O usuário considera como satisfatório, valorizando a
localização do laboratório ao afirmar que, neste aspecto, foi uma
“construção privilegiada” por estar isolado da circulação e com
acesso muito restrito. O controle de acesso por meio eletro-
eletrônico foi desligado e substituído por rigoroso controle
protocolar. O motivo do desligamento foi a condição de instabilidade
da instalação elétrica que fazia alarmar o sistema de controle de
acesso, muito sensível.
B. Perímetro de contenção
Levantamento de dados
Os itens obrigatórios são atendidos, sendo não aplicável a
exigência de tratamento de efluentes sanitários por não haver
disponibilidade de instalação hidráulica, bem como não
disponibilidade de janela no laboratório. A parede com janela
existente foi vedada, internamente, com painel em gesso acartonado
na extensão do NB3 e do NB2, sendo que neste último ambiente foi
170
providenciado visor externo na parte superior. Os itens recomendados
são atendidos.
Percepção do usuário
A parte respondente considera que o perímetro de contenção está
estruturado de forma satisfatória. Ressaltou que não é
construção” mas também uma questão de treinamento de equipe e
conhecimento dos riscos.
C. Provisão de utilidades e serviços
Levantamento de dados
Os itens obrigatórios são atendidos na proporção de 4:9,
considerando-se, dentre os não aplicáveis, aqueles referentes à
segurança das instalações hidrossanitárias uma vez que não há
provisão de água em virtude da impossibilidade de tratar os
efluentes pois o local não dispõe de espaço técnico. A comunicação
entre a área de contenção e a área de apoio é obtida somente pelo
contato visual através de visor, considerando-se este item como não
atendido.
Percepção do usuário
Pela percepção do usuário, as utilidades e serviços chegam ao
laboratório de forma satisfatória, destacando que questionou a
existência de chuveiro de emergência que fora instalado no interior
da contenção uma vez que, no seu entendimento, disseminaria o agente
biológico caso fosse utilizado. O pedido de adequação foi atendido e
as provisões de utilidades e serviços atendem às necessidades do
laboratório.
D. Requisitos de conforto ambiental
Levantamento de dados
A instalação é provida de sistema central de ventilação e
climatização, com parâmetros controlados de temperatura, umidade e
velocidade do ar.
171
O nível de ruído emitido pelas CSB é acima do preconizado pelas
determinações trabalhistas, gerando situação de desconforto
acústico.
A iluminação na área de contenção é artificial, com iluminação
suplementar nos postos de manipulação biológica (CSB).
Quanto às cores empregadas, composição entre branco e verde
em diferentes tonalidades, com índice de reflexão um pouco acima do
recomendado para ambientes de trabalho. Entretanto, o contraste na
altura do campo visual entre os tons de verde e o branco das paredes
está na faixa fraca (0,05 – 0,20), propiciando conforto visual.
O verde é cor que tem efeito entre frio a neutro e,
psicologicamente, é muito tranqüilizante.
Quadro 16 – Cores empregadas no laboratório NB3 do IOC para trabalho com hantavírus
Local Material Cor Observação
Teto Pintura Branca -
Paredes Pintura Branca -
Divisórias Laminado Verde -
Piso Resina Verde -
Esquadrias Laminado Verde Portas
Bancadas Aço - Na área de contenção
Bancadas Laminado Verde claro Nas áreas de apoio
Equipamentos Pintura Cores claras -
Mobiliário Laminado Verde claro -
Percepção do usuário
A parte respondente entende que as instalações são pouco
satisfatórias quanto a conforto.
Apresentou queixa quanto ao nível de ruído, identificando a
casa de máquinas do ar condicionado como a principal fonte causadora
de incômodo. Inicialmente deveria ser alocada em outra dependência
172
do prédio mas foi necessário trazê-la para dentro da área, cedida
pelos demais ocupantes do edifício para comportar a instalação.
Também a temperatura foi motivo de queixa quanto a desconforto
térmico por frio, relacionando este efeito à dificuldade de ajuste
do sistema para temperatura de conforto sem prejuízo da temperatura
técnica. Há problemas com a manutenção.
(FOTO DISPONÍVEL APENAS NA VERSÃO IMPRESSA)
Figura 36 – Interior do laboratório NB3 para pesquisa em rickettsioses do IOC
Fonte: Foto obtida no local
Segundo o usuário, a falta de janela externa na extensão do NB2
de apoio torna o ambiente desconfortável, como se todos estivessem
“dentro de uma caixa” onde “não se vê absolutamente nada”. O fato de
não haver janela no NB3 não foi considerado um problema de conforto,
pois naquele ambiente o tempo de permanência é reduzido.
Entretanto, considera que o laboratório é de “bonito aspecto”
por causa da cor empregada, que é muito confortável”. Ressaltou
que, se pudesse realizar modificações no laboratório, manteria a cor
porque ela traz leveza e harmoniza o ambiente.
E. superfícies e revestimentos
Levantamento de dados
Todos os requisitos obrigatórios foram atendidos. Entretanto,
observou-se que tanto o piso como uma das paredes apresenta fissuras
e rachaduras no revestimento epóxi. Este fato decorre da radiação
173
solar no plano da fachada, pois a dilatação causa as rachaduras em
ambiente que deveria ter todas as superfícies lisas e sem
reentrâncias.
Quanto aos requisitos recomendados, é atendido somente o item
referente ao acabamento arredondado de tampos.
Percepção do usuário
Segundo o usuário, as bancadas são muito boas. Entretanto, com
o passar do tempo surgiram as rachaduras no piso e paredes, condição
não compatível com a segurança exigida. Em vista disto, no
entendimento da parte respondente, os revestimentos são pouco
satisfatórios.
F. Estrutura e leiaute
Levantamento de dados
O Laboratório de Rickettsioses e Hantaviroses tem a configuração
de NB3 com NB2 de acesso e foi estruturado atendendo gradiente de
risco biológico.
A instalação ocupa uma área de cerca de 60 m
2
, sendo 20 m
2
para o
laboratório NB3, 26 m
2
de área de apoio (NB2 e escritórios) e 14 m
2
de ante-salas. Segundo apurado por Vieira (2004a), as ante-salas
foram criadas como contingência de aproveitamento da área,
localizada no final do pavimento e com acesso único através de um
longo corredor com cerca de 1,50 m de largura. A solução de
arquitetura procurou tirar partido dessa configuração espacial,
criando três ante-salas no corredor de acesso. Na primeira está
localizado o quadro elétrico de toda a instalação, na segunda um
guarda-volumes para objetos pessoais do corpo técnico e, através da
terceira ante-sala, o acesso à casa de máquinas do sistema de ar
condicionado e ventilação (aproximadamente 8 m
2
).
A sala de contenção NB3 tem dimensões mais do que suficientes
para comportar as duas CSB previstas no projeto. Por falta de uso, a
cabine classe III foi posteriormente retirada, com o objetivo de
liberar a área para instalação de bancada de apoio.
174
Legenda
Área de contenção Fluxo de entrada
Área NB2 Fluxo de saída
Área de apoio
Figura 37 – Setorização do laboratório NB3 para
pesquisa
em
rickettsioses
do IOC
Percepção do usuário
O usuário ponderou que a estrutura e leiaute foram objeto de
adequação à área concedida e que dentro dos limites, ficou um
espaço muito legal”.
Entretanto, avalia que a área física disponibilizada é pequena
demais, resultando em estrutura física insatisfatória, concentrando
suas queixas no dimensionamento da instalação em função das
atividades que desempenham como laboratório de referência em duas
patologias.
Assim, se tivesse oportunidade de realizar mudanças no
laboratório, ampliaria as instalações de forma a ocupar espaços de
outros setores do prédio, inclusive removendo a casa de máquinas do
sistema central de ventilação, resolvendo, também, o problema de
ruído. Com o ganho em área seria possível acrescentar uma sala para
o processo de descontaminação-lavagem-preparo-esterilização e criar
fluxo independente para entrada e saída da contenção. Na proposta de
ampliar o espaço laboratorial, transferiria os escritórios para
ambiente fora da área laboratorial.
G. Ventilação e climatização
Levantamento de dados
Os requisitos obrigatórios são atendidos na proporção de 4:6,
não estando contemplados sistema de alarme visual ou sonoro para
alertar sobre eventual falha na admissão de ar e não
175
intertravamento entre a admissão e exaustão para evitar que o
ambiente de contenção seja pressurizado acidentalmente.
Quanto aos requisitos recomendados, verificou-se que estão
atendidos na proporção de 3:5. A casa de máquinas do sistema de
ventilação é afastada da área de contenção e, conseqüentemente, o
filtro HEPA de exaustão foi instalado distante da parte NB3
propriamente dita. O outro item o atendido é referente à
instalação de filtro HEPA na admissão de ar, que existia mas foi
retirado em função de saturação constante devido à qualidade do ar
na região, com bacia atmosférica muito poluída.
Percepção do usuário
A parte respondente considera que o sistema de ventilação como
pouco satisfatório. um histórico de problemas de manutenção que
levou à adoção de medidas como a retirada da filtragem do ar de
insuflação. A sala de contenção NB3 permanece com pressão negativa e
as primeiras manipulações com amostras potencialmente contaminadas
são desenvolvidas na cabine classe IIB2 existente. Entretanto,
técnicas mais perigosas não são mais realizadas neste local. Na
percepção do usuário “a questão é mais de manutenção, com certeza”.
O usuário informou que, se pudesse, mudaria a locação do
laboratório porque a poluição atmosférica a que hoje está submetido
causa impacto negativo na instalação.
H. Considerações finais
Este laboratório apresentou problemas construtivos pois durante
a execução da obra não foi respeitado o posicionamento projetado da
CSB e os dutos do sistema de condicionamento e tratamento do ar
foram instalados de tal modo que ficaram sobrepostos ao espaço
destinado ao equipamento, inviabilizando sua correta instalação. A
falha de execução do projeto impediu a instalação da CSB classe IIB2
uma vez que o espaço necessário à coifa da cabine, parte do
equipamento que é interligada aos dutos de exaustão, estava ocupado
pelos dutos do sistema de condicionamento do ar e ventilação do
laboratório (VIEIRA, 2004a).
176
Além disso, o rebaixo do teto do laboratório também foi
executado em altura inferior ao inicialmente projetado, havendo
necessidade de intervenção pontual para garantir a adequada
instalação e correta operação da CSB.
A posição das grelhas de insuflamento e calhas de iluminação
também foram alteradas quando da execução dos dutos, em desacordo
com os projetos originais. Estas incompatibilidades criadas no
decorrer da obra levaram à necessidade de elaboração de projetos
para correção das falhas. Com isso, foi elaborado novo leiaute de
arquitetura, principalmente no que se refere às bancadas de
trabalho. O projeto de iluminação teve que ser refeito e as
luminárias reposicionadas em função da nova disposição de bancadas,
grelhas de insuflamento e exaustão do sistema de condicionamento do
ar, as quais foram deslocadas. Ao final das intervenções, todo o
sistema de ventilação teve de ser rebalanceado, restabelecendo o
gradiente de pressão entre os laboratórios NB 2 e NB 3 para eficácia
do sistema de contenção.
A Figuras 38 e 39 ilustram, respectivamente, as falhas de
execução e as intervenções do projeto de condicionamento e
ventilação do laboratório NB 3 que impactaram decisivamente no
projeto de segurança biológica originalmente concebido na fase de
antecipação e reconhecimento dos riscos, desenvolvido por equipe
multidisciplinar coordenada por arquiteto.
Figura 38 – Projeto de ventilação executado sem compatibilização
177
Figura 39 – Projeto de intervenção para correção
Figura 40 – Sobreposição das figuras 38 e 39
Os problemas de manutenção persistiram e, de forma paliativa,
posteriormente foram feitas intervenções no funcionamento do sistema
de ventilação.
Devido a problemas quanto à exigüidade de área física, a CSB
classe III alocada no projeto original foi retirada da instalação.
Atualmente, o laboratório opera basicamente com atividades que
tem exigência de nível 2 de biossegurança enquanto aguarda mudança
para novo prédio onde estão sendo instaladas plataformas NB3
multiusuários.
4.4 Resultados da pesquisa por sugestão visual
A aplicação dos instrumentos de sugestão visual foi constituída
de painel com fotos de laboratórios e com modelos de leiautes de
instalações, Anexo I.
Permitiu que os usuários entrevistados, através de
comportamento lúdico, pudessem fazer ilações com a situação que
vivenciam em função do lugar o laboratório desprovidos do
formalismo da entrevista semi-estruturada. Pode-se contrapor o real
com o imaginário e o disponível com o desejado.
178
Na esfera da subjetividade, ficou manifesta a sensação de
enclausuramento vivenciada por pesquisadores, seus receios e
inseguranças.
Confirmou-se a opinião da maioria
31
dos entrevistados de que
ambientes para trabalho em contenção não devam ter janelas para o
exterior pois a concentração durante as manipulações biológicas
assim o exigem. Entretanto, consideram que necessidade de contato
visual com os ambientes adjacentes. Mas mesmo este contato, através
de visores, deve ser mediado entre a segurança que proporciona e a
sensação desagradável de ser observado.
Também preocupação expressa com os locais reservados, as
antecâmaras, que são dotadas de dispositivos para intertravamento.
Nos casos em que não são provisionadas botoeiras de emergência,
possibilidade concreta de trabalhadores ficarem retidos. Assim, os
interfones de comunicação, entre outros dispositivos de alarme para
acionamento manual, são necessários.
Outro aspecto valorizado foi o planejamento cromático dos
ambientes e a influência que exerce sobre os ocupantes das
instalações. Destaque-se que as opiniões foram manifestadas tanto
pelos usuários que consideram este quesito como uma demanda em vista
de seus ambientes de trabalho apresentarem desconforto pelas cores
usadas nos revestimentos como também por aqueles que afirmaram
satisfeitos com seus laboratórios.
No âmbito da funcionalidade, pode-se reconstituir o modelo de
instalação que, em linhas gerais, melhor preencheria as necessidades
para desenvolvimento das tarefas pertinentes às atividades de
pesquisa.
Assim, a configuração de instalação mais adequada é de
laboratório que tenha o ambiente de contenção dimensionado de forma
otimizada para abrigar as CSB e demais equipamentos de pesquisa,
despojado em relação a mobiliário e sem área excedente. Como apoio,
31
Observe-se que, dos usuários ouvidos, somente um foi espontaneamente favorável à
existência de janela externa na contenção. Ressalve-se que, neste caso a área NB3
não dispunha de contato visual com outra dependência da instalação. Desta forma, a
sensação de enclausuramento foi compensada pela vista externa [...] “a minha
janela é melhor porque se avista a copa das árvores” [...] segundo o entrevistado.
179
deveria ser provido de laboratório NB2 como zona de acesso. O
trânsito de pessoas entre as áreas NB2 e NB3 deve respeitar fluxo
com entrada e saída distintas, sem cruzamento e com antecâmaras
dimensionadas de forma a comportar a indumentária de segurança, bem
como facilitar a entrada e saída de equipamentos de maior porte pela
disposição perpendicular de portas. Para fluxo de materiais, a
instalação deve ser provida de guichê de passagem e de autoclave de
barreira entre a contenção e sala de apoio para o processo de
descontaminação-lavagem-preparo-esterilização. A preocupação com o
sistema de ventilação também foi mencionada pois, na percepção do
usuário, nenhum leiaute será bom o suficiente sem que se considere o
real valor do projeto de ventilação como fator de segurança pessoal
e ambiental.
Durante a aplicação do instrumento de sugestão visual também
houve relatos sobre impasses entre projetistas e usuários durante a
concepção dos ambientes pesquisados. Embora pontuais, são sugestivos
das dificuldades a serem superadas no processo de projeto posto que
a presunção do conhecimento, tanto de projetistas como de usuários,
precisa ser dirimida com esforços de ambas as partes. A
biossegurança, como disciplina, pode fazer às vezes de linguagem
comum.
4.5 A visão do projetista
Em complementação à pesquisa, procurou-se conhecer o
entendimento do projetista sobre como as diretrizes de biossegurança
interferem no desenvolvimento do projeto de arquitetura de
laboratórios NB3.
Através de levantamento realizado junto às instituições e aos
usuários, verificou-se que dos seis laboratórios que compuseram a
amostra da pesquisa, dois foram totalmente concebidos pelo próprio
usuário, com a participação de engenheiro especializado em sistemas
de ventilação e refrigeração. O projetista de um dos laboratórios
se retirou da atividade. Em outro dos casos estudados, não souberam
identificar o autor do projeto de arquitetura, mas como a instalação
estava em fase de desmobilização para reforma, foi indicado o nome
do projetista encarregado de conceber a intervenção. Das duas
180
unidades restantes, obteve-se as credenciais de cinco arquitetos que
participaram dos respectivos projetos.
Assim, foram contatados, além do pesquisador e do engenheiro
referenciados acima, seis arquitetos com experiência em projetos de
laboratórios NB3, convidando-os para breve depoimento sobre esta
experiência, esclarecendo que se tratava de trabalho acadêmico.
Dos seis projetistas, quatro confirmaram o interesse em
participar do trabalho. A eles foi feita a pergunta:
Na sua opinião, de que maneira as diretrizes de biossegurança interferem
no desenvolvimento do projeto de arquitetura de laboratórios
NB3? Justifique.
Na prática, o interesse demonstrado em participar da enquete
não se confirmou e só se obteve resposta, até o fechamento deste
trabalho, de um dos projetistas consultados.
Na opinião do projetista respondente, profissional com mais de
25 anos de experiência na área de saúde, o projeto de arquitetura de
laboratório deve ser desenhado visando propiciar as condições
adequadas para que se execute de maneira correta procedimentos e
atividades aos quais se destina. Assim, enfatiza que o projeto
espacial deve prever as barreiras de contenção como forma de evitar
qualquer contaminação acidental ou advinda de fluxos mal planejados.
Quando não o cuidado de deixar estanques as áreas não
contaminadas em relação às potencialmente contaminadas, tem-se o
chamado fluxo cruzado. Este se torna um ponto crítico no projeto,
dificultando o procedimento adequado no processo de trabalho.
Prosseguindo, afirma que as diretrizes de biossegurança balizam
todo o processo de trabalho de um laboratório. As diretrizes contêm
os procedimentos e os métodos de segurança utilizados na manipulação
de materiais infecciosos. Assim, contribuem para a redução da
exposição dos trabalhadores, de terceiros e do ambiente em geral aos
agentes potencialmente perigosos.
Em função do uso a que se destinam laboratórios NB3, “torna-se
mister que os projetistas conheçam minuciosamente todas as barreiras
de contenção que devem ser atribuídas ao projeto”.
181
Concluindo seu ponto de vista, o projetista pondera que as
diretrizes de biossegurança devem servir como o documento norteador
de todo o projeto e que, ao atendê-las, o projeto terá incorporado
todas as barreiras e espaços necessários para que os procedimentos
sejam realizados com maior segurança.
Este parecer corrobora o levantamento realizado por Lapa et al.
(2007), segundo o qual a disciplina de biossegurança foi considerada
como relevante na especialização de profissionais com formação em
arquitetura que pretendem se dedicar ao projeto de ambientes
destinados à saúde em geral, constituindo-se em variável que
contribui para “compreensão das necessidades que permeiam a
concepção de tais espaços arquitetônicos”.
4.6 Discussão dos resultados: a percepção do usuário e a avaliação
de desempenho
A amostra de laboratórios pesquisados no trabalho de campo
corresponde a cerca de 20% do universo identificado no Anexo II.
Se por um lado o número de laboratórios avaliados acarretou
volumosa descrição sobre os ambientes pesquisados (p. 118-179), este
número é bem representativo de seu universo, possibilitando inferir
com segurança os resultados alcançados sobre o estado-da-arte dos
laboratórios NB3 em uso no Brasil.
os métodos empregados mostraram-se importantes para obtenção
dos resultados finais e permitiram confrontar as observações
realizadas com a percepção do usuário.
No questionário perguntou-se qual o nível de satisfação do
usuário em relação ao desempenho da instalação sob diferentes
aspectos, com comentários livres. Na prática, tais comentários
fluíram durante a aplicação da parte subjetiva do instrumento de
pesquisa com indução de sensações e percepções livres obtidas
através da observação de imagens. Tomou-se o cuidado de não se
preparar questionário muito extenso de forma a não cansar a parte
respondente e não levá-la ao desinteresse pela pesquisa.
182
Os dados das respostas à entrevista semi-estruturada, parte
fechada do questionário, foram tabulados conforme demonstrado no
Quadro 17 Tabulação do questionário fechado. Os dados foram
tratados de forma a se obter a moda, que em estatística é uma medida
de posição e, segundo Costa Neto (2002), indica a região das máximas
freqüências. Para cada pergunta foram somadas as respostas
referentes ao nível de satisfação do usuário dos seis laboratórios,
destacando-se em negrito a moda assim obtida.
Quadro 17 – Tabulação do questionário fechado
QUESITO I PS S MS
1. Considerando os requisitos de segurança, como
você avalia o laboratório quanto à sua localização
e acesso?
2
2
2
2. Como você avalia a instalação quanto às
barreiras arquitetônicas necessár
ias para garantir
a contenção biológica?
2
3
1
3. As linhas de utilidade e instalações (gases,
hidráulica, esgoto) são supridas em quantidade
suficiente e localização adequada?
2
3
1
4. Como você avalia as condições de conforto
(iluminação, temperatura
, ruído, ergonomia etc) do
ambiente para a atividade de pesquisa biológica?
1
2
2
1
5. Como a estrutura física e o dimensionamento do
laboratório atendem às necessidades de trabalho?
1
3
2
6. Os materiais de acabamento empregados oferecem
segurança ao uso?
1
4
1
7. De que maneira o sistema de ventilação e
refrigeração está adequado ao trabalho em
contenção?
3
1 2
I– Insatisfatório PS– Pouco Satisfatório S– Satisfatório MS– Muito Satisfatório
O resultado obtido em resposta à primeira pergunta foi tri-
modal e perfeitamente distribuído com igual número de ocorrências
para pouco satisfatório, satisfatório e muito satisfatório. Assim,
tomou-se este resultado como uma classe modal, determinando-se que a
moda é o ponto satisfatório.
183
à quarta pergunta, sobre as condições de conforto ambiental
dos laboratórios, obteve-se resultado bi-modal, também perfeitamente
distribuído, entre pouco satisfatório e satisfatório. Nestes casos,
Ornstein e Roméro (1992, p. 72) recomendam como uma das alternativas
voltar a campo para entrevistas específicas no sentido de dirimir
dúvidas eventuais”. Ora, o questionário foi aplicado de forma semi-
estruturada e, assim, já se dispunha, previamente ao fechamento do
mapa estatístico, das considerações dos usuários a respeito das
instalações, como também observação destas condições in loco. Assim,
entende-se que a percepção dos usuários quanto às condições de
conforto dos laboratórios de contenção tem tendência para pouco
satisfatórias, ponto que se determinou como moda.
A seguir, será apresentada a discussão dos resultados
propriamente dita.
Localização e acesso
Confrontando-se a percepção do usuário com os requisitos de
localização e acesso examinados in loco ou obtidos de forma
secundária, verifica-se que consistência entre o nível de
satisfação do usuário e o atendimento das diretrizes de
biossegurança.
As diretrizes de biossegurança que foram assumidas como
obrigatórias (Capítulo II) são, de forma geral, muito bem atendidas
em todos os casos, excetuando-se às situações encontradas onde as
portas de antecâmaras com intertravamento eletro-mecânico não
dispõem de sistema emergencial para abertura manual, situação que
traz insegurança aos usuários pela iminência de ficarem retidos.
Já quanto às diretrizes de biossegurança recomendadas, a
aderência foi menos significativa. Houve manifestação expressa
quanto à necessidade de laboratório NB2 de apoio contíguo ao
laboratório NB3, como também foi enfatizada a importância de haver
independência de entrada e saída da contenção de maneira a evitar o
cruzamento de fluxos.
184
a recomendação para que as áreas de contenção tenham as
paredes limítrofes afastadas do envelope externo da edificação,
condição não atendida em nenhum dos laboratórios pesquisados, não
foi valorizada por nenhum usuário. Esta providência es mais
relacionada à biosseguridade e questões ligadas ao bioterrorismo,
comportamento que parece não suscitar preocupação no Brasil.
Entretanto a localização do laboratório dentro do edifício é muito
valorizada. Quanto mais afastado da circulação de público, tanto
melhor pois o usuário se sente mais seguro face à responsabilidade
com a gestão de agentes patogênicos perigosos.
Perímetro de contenção
Na percepção do usuário, as diretrizes de biossegurança
providas através das barreiras construtivas entre o interior da
contenção e o seu entorno são satisfatórias.
Pelo levantamento realizado, os perímetros de contenção
atendem, de fato, às diretrizes tidas como obrigatórias (Capítulo
II). Constatou-se um único caso com maior vulnerabilidade, não
percebida pelo usuário.
Outro ponto que chama atenção é a questão de janela para o
exterior que, no entendimento de 5:6 usuários não deve ser provida
em ambientes NB3, mas não por uma questão de contenção biológica. A
polêmica que surgiu nesta pesquisa é sobre até que ponto a
existência de janela deixa de ser um elemento de conforto visual e
passa a afetar a concentração do cientista em trabalho de elevado
risco. Encontra-se esta mesma questão colocada na arquitetura
hospitalar onde, observou Sampaio (2005, p.186), em centros
cirúrgicos a “janela, segundo os que não a consideram importante,
pode atrapalhar o profissional dispersando-o durante um procedimento
que exija muita concentração, fornece uma qualidade de luz não
adequada e pode causar excesso de calor...”.
Sobre os requisitos de biossegurança recomendados, constatou-se
que os usuários de laboratórios que o têm comunicação com a área
de apoio através de guichê de passagem, metade da amostra,
providenciariam este recurso se tivessem oportunidade.
185
Provisão de utilidades e serviços
As diretrizes de biossegurança elencadas como obrigatórias
(Capítulo II) são providas de forma satisfatória, na opinião dos
usuários de instalações NB3.
Entretanto, segundo o levantamento feito, tem-se abolido o uso
de água corrente nos ambientes em contenção por falta de espaço
técnico para instalação de barreiras para tratamento de efluentes
pois os laboratórios são construídos como adaptação em prédios
existentes.
quanto aos requisitos recomendados, também pela falta de
espaço técnico superior, em nenhum dos laboratórios pesquisados os
reatores de lâmpadas fluorescentes estão localizados no lado externo
à contenção para fins de otimização da manutenção.
Constatou-se, ainda, baixa aderência de projetistas em prover
as instalações de rede lógica. Com os avanços tecnológicos os
laboratórios começam a receber aparatos eletrônicos que demandam
estes recursos, surgindo necessidade de intervenção física nestes
ambientes para que possam ser instalados.
Requisitos de conforto ambiental
Os requisitos de conforto ambiental são estabelecidos pela NR
17, norma regulamentadora do Ministério do Trabalho sobre Ergonomia
(Capítulo II), que classifica o ambiente de laboratório como local
de trabalho onde são executadas atividades que exigem solicitação
intelectual e atenção constantes, estabelecendo parâmetros de
conforto para temperatura, umidade, nível de pressão sonora e nível
de iluminamento. Para fins de avaliação da qualidade do ambiente,
foram considerados, também, aspectos de conforto visual.
As repetidas situações de desconforto registradas pelos
usuários de todos os laboratórios levou ao entendimento que os
ambientes pesquisados são pouco satisfatórios em relação aos
requisitos de conforto ambiental.
186
Conforme mencionado anteriormente, nenhum dos laboratórios
pesquisados vetou que se adentrasse o recinto de contenção. Mas os
usuários têm um posicionamento muito firme em relação à visitação
dos ambientes, que, entretanto, não se pode classificar como
resistência. É uma questão de territorialidade, padrão de
comportamento baseado no controle do espaço físico que envolve a
defesa do seu trabalho. São cuidados que se procurou respeitar em
vista das seguintes circunstâncias favoráveis ao desenrolar da
pesquisa: é possível confrontar o nível de conforto percebido pelo
usuário através de informações secundárias, todos os laboratórios
visitados têm visores para observação e foi permitido fotografar os
recintos, independentemente de alguns usuários cederem fotos de seus
acervos.
Os ambientes para trabalho em contenção são todos
artificialmente climatizados e ventilados, imposição da própria
contenção. As atividades de pesquisa biológica exigem paramentação
de segurança, que, em função dos riscos ou do grau de pureza do ar
exigido, podem ser vestimentas e acessórios utilizados por sobre as
roupas comuns ou então vestuário completo recobrindo o pesquisador
dos pés a cabeça. Assim, foram registradas queixas de desconforto
térmico tanto por frio ou como por calor, relacionadas com a
dificuldade de ajustar a temperatura do ambiente, cujos controles
são automatizados. O conforto térmico é recorrente motivo de
insatisfação no ambiente de trabalho e segundo constado por Leaman e
Bordass (1998) afeta a produtividade, apontando que o processo de
projeto deva ser otimizado. No caso de laboratórios NB3, precisa ser
considerada a influência que as roupas especiais de trabalho exercem
na obtenção da condição de conforto. Também se registrou que, em
alguns casos, os usuários relacionam os problemas de climatização à
deficiência de manutenção.
Quanto ao ruído, as queixas de desconforto acústico são
procedentes, estando comprovado que equipamentos tais como CSB
funcionam com nível de pressão sonora acima do critério de conforto
187
estabelecido para trabalho em laboratório (MACEDO;LAPA, 2007)
32
. Por
sua vez, são empregados materiais refletores em superfícies de piso,
paredes e teto, ampliando o tempo de reverberação no interior do
laboratório, contribuindo para aumento do nível de ruído. Recomenda-
se, desta forma, gestão junto aos fabricantes de equipamentos para
que se desenvolvam estudos com vistas a segregar o ruído na fonte.
Outra recomendação é que se desenvolvam estudos para mascaramento
sonoro, conforme apontam Macedo e Lapa (2007), com também
desenvolvimento de materiais absorventes sonoros de fácil limpeza.
Nos casos de ruídos advindos de casa de máquinas do sistema de
ventilação, o problema acústico deve ser solucionado no projeto, não
se admitindo que seja desconsiderado tal cuidado.
Não houve relato de desconforto lumínico, entretanto um
resultado da pesquisa, que de certa forma causou surpresa, é a
manifestação dos usuários quanto ao conforto visual.
As áreas de contenção não são muito espaçosas, devendo apenas
comportar os equipamentos necessários para desenvolvimento das
técnicas e área de circulação. Geralmente são desprovidas de janela
para o exterior e o acesso é facultado aos pesquisadores
diretamente envolvidos no trabalho em contenção. Desta forma, são
espaços que podem causar a sensação de enclausuramento, não se
devendo confundir com espaços confinados posto que estes últimos,
tecnicamente, não são áreas projetadas para ocupação humana, têm
ventilação insuficiente para remover contaminantes, bem como não
dispõem de controle da concentração de oxigênio presente no ambiente
(BRASIL, 2006b). É recomendado que haja contato visual entre a área
de contenção e as áreas de apoio adjacentes, mas tal recomendação
ocorre no sentido de se observar os usuários da contenção, o que
pode ser feito de maneira remota através de monitoração. Deve-se
lembrar, ainda, que pesquisadores trabalham com indumentária que
recobrem todas as partes do corpo, o que pode corroborar na sensação
de enclausuramento percebida.
32
As autoras ressaltam que os níveis de ruído podem ser inferiores aos limites
legais e, ainda assim, extremamente incômodos já que a percepção sonora está ligada
a fatores objetivos e subjetivos.
188
Trabalhando em ambientes fechados, a maioria dos usuários
percebe que o uso das cores nos acabamentos das instalações traz um
diferencial nos espaços de laboratórios. De fato, foi constatado
que, em alguns casos, o planejamento cromático foi negligenciado,
deixando-se de agregar condições de conforto aos ambientes.
Entretanto, deve-se frisar que também foi registrado caso em que o
usuário destacou que o estresse da rotina de pesquisa é, de certa
forma, compensado pela sensação de conforto, elogiando a sensação de
aconchego trazida pela escolha das cores utilizadas no ambiente que
ocupa.
É, também, motivo de queixa relativa a conforto visual o brilho
do aço inox, material bastante empregado devido às suas
características mas que pode ofuscar a visão.
O planejamento cromático, acústico e térmico destacam-se como
margens de incerteza em projetos de laboratórios NB3 uma vez que
podem tornar o ambiente mais agradável e beneficiar a produtividade.
Estrutura física e leiaute
Dos seis laboratórios pesquisados, encontrou-se um do tipo
suíte, três com NB2 como zona de acesso, um com ante-sala como zona
de acesso e um com acesso diretamente da circulação principal,
fragilidade compensada com barreiras adicionais de segurança tais
como vedação ativa de portas.
Na percepção dos usuários, os laboratórios estão estruturados e
desenhados de forma satisfatória.
Entretanto, o resultado do conjunto dos instrumentos aplicados
aponta que a estrutura e o leiaute desejados pelos usuários é de
laboratório que tenha configuração espacial provida de mais
funcionalidade. Assim, além da sala de contenção NB3 com dimensões
otimizadas, os usuários relataram sobre a necessidade de fluxos
distintos para entrada e saída de pessoal, laboratório NB2 de apoio
provido de guichê de passagem de materiais, autoclave dupla porta
como barreira entre a área de contenção e sala dedicada ao processo
de descontaminação-lavagem-preparo-esterilização, ante-câmaras
189
dimensionadas para abrigar a indumentária de segurança de maneira
adequada e estrutura apoiada por pavimentos técnicos.
Portanto, entende-se que a funcionalidade dos laboratórios pode
ser implementada dotando-os de estrutura e leiaute mais bem
adequados às necessidades de pesquisa.
Como resultado tem-se que o nível de satisfação manifesto pelo
usuário é maior do que o encontrado na pesquisa pela aplicação da
entrevista semi-estruturada. Infere-se que esta diferença a maior
deva ser creditada ao reconhecimento que, dentro das limitações
impostas, o usuário reconhece que o projetista fez o melhor
possível. É oportuno lembrar que a maioria dos laboratórios es
localizada em prédios originalmente concebidos para outro uso, foram
reformados para abrigarem laboratórios e, posteriormente, adaptados
para receber os laboratórios de contenção. Também não se pode deixar
de observar que o pesquisador que “projetou” seu laboratório é mais
tolerante com as limitações impostas do que os demais usuários.
Superfícies e revestimentos
Neste item, a percepção dos usuários está mais equalizada e
superfícies e revestimentos foram apontados como satisfatórios.
Observou-se que os requisitos obrigatórios sobre superfícies e
revestimentos (Capítulo II) foram os que tiveram maior aderência em
toda a pesquisa e, com algumas exceções, atendem de forma muito
satisfatória.
Como resultado da pesquisa, apenas sugere-se que pisos em
resina epóxi e pintura em epóxi sejam empregados somente nos casos
em que haja exigência quanto à classe de limpeza visto que este
material é sensível ao choque térmico (-196ºC) com nitrogênio
líquido.
Os requisitos recomendados tiveram expressiva ocorrência de
itens não aplicáveis, todos referentes às características do
mobiliário, praticamente inexistentes uma vez que o ambiente requer
despojamento.
190
Ventilação e climatização
A percepção do usuário é de pouca satisfação com o sistema de
ventilação, reveladora da falta de confiança numa das principais
barreiras de contenção em laboratórios NB3. Esta insegurança está
relacionada à deficiência dos projetos, problemas de manutenção, não
aplicação de critério para escolha do sítio (PESSOA, 2006), mas
também à falta de informação do usuário sobre o comportamento do
sistema durante o uso do laboratório, que poderia ser obtida
através da disponibilidade de informações como manômetros na entrada
da contenção e sinalização de alarme em caso de comprometimento do
sistema, acessórios não disponibilizados na maioria dos casos. Como
destacam Leaman e Bordass (1998), os controles podem ser manuais ou
automatizados. Segundo os autores, talvez os projetistas sejam tão
seduzidos pelas promessas da tecnologia que relegam seu efetivo
desempenho. O desconforto térmico, por frio ou calor, também
contribui para a pouca satisfação percebida pelo usuário.
A percepção dos usuários é compatível com o resultado apurado
através da observação secundária. Apesar da relativa aderência do
sistema aos requisitos de biossegurança verificados, na prática os
sistemas de ventilação estão comprometidos em seu funcionamento.
Evidencia-se, desta maneira, que o projeto de laboratórios para
trabalho em contenção biológica, como processo, é bastante
fragmentado e deveria ser objeto de maior atenção por parte dos
arquitetos com a atribuição de coordenação de projetos. Em situações
em que a própria segurança possa ser ameaçada, a ventilação e
refrigeração devem ter papel mais relevante no processo de projeto
de laboratórios NB3 pois trata-se, sem dúvida, do principal meio de
se obter segurança individual e ambiental, refletindo-se, ainda, na
qualidade do resultado das pesquisas.
Conclusão
Em resposta ao conjunto de hipóteses apresentado na Introdução deste
trabalho, os resultados da investigação que foi desenvolvida serão
desdobrados a seguir como formulão da tese.
H1: Através da interpretação do conceito de biossegurança é possível
estabelecer diretrizes de projeto para laboratórios NB3.
H2: A qualidade de instalações NB3, como sistema ambiental
construído, pode ser aferida através da avaliação de desempenho de
laboratórios.
H3: A avaliação de desempenho de laboratórios NB3 deve ser pautada
por parâmetros de biossegurança.
H4: Nem todas as decisões de arquitetura para projetos de
laboratórios NB3 são condicionadas pelas diretrizes de biossegurança.
O referencial teórico sobre arquitetura de laboratórios foi
desenvolvido por consulta ao arcabouço normativo no âmbito do Ministério
da Saúde e do Ministério do Trabalho e por pesquisa bibliográfica em
literatura especializada sobre projeto de laboratórios.
Verificou-se que não regulamentação específica para projeto de
laboratórios
33
, devendo-se atender ao regulamento técnico geral para
planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de
estabelecimentos assistenciais de saúde elaborado pela ANVISA.
Tal regulamento técnico é suficientemente flexível para permitir
liberdade de ação aos projetistas, propiciando pensar o projeto com
segurança e confiabilidade.
33
regulamentação específica ao trabalho com material geneticamente modificado, que
não foi abordado neste estudo.
192
No escopo do regulamento da ANVISA, o projeto de laboratórios é
pautado em diretrizes de biossegurança internacionalmente aceitas, que
foram abordadas no Capítulo I Do paradigma pasteuriano ao conceito de
biossegurança: a demanda por soluções espaciais e no Capítulo II
Arquitetura de laboratórios NB3.
Segundo as diretrizes de biossegurança, as instalações físicas
destinadas às manipulações patogênicas devem ser planejadas a partir da
idéia de contenção biológica e do emprego de barreiras construtivas, que
devem ser implementadas a partir da avaliação de risco ao trabalhador e ao
ambiente.
as regulamentações do Ministério do Trabalho são calcadas em
critérios de prevenção contra a exposição aos riscos, sejam eles
biológicos, físicos, químicos, ergonômicos ou mecânicos.
Também o Ministério do Trabalho regulamenta as condições ambientais
com vistas à adequação dos locais de trabalho às características
psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser
executado, estabelecendo parâmetros para conforto rmico, lumínico e
acústico, dentre outros, utilizando como referência as normas da ABNT.
Desfaz-se, assim, o mito segundo o qual as “normas de biossegurança”
fazem com que os padrões se repitam em projetos de laboratório. O
entendimento das diretrizes de biossegurança não é fator restritivo ao
processo de projeto. Trata-se de oportunidade para realizá-lo à luz da
segurança individual dos ocupantes de laboratórios, da segurança ambiental
e da garantia da qualidade dos resultados das atividades que serão
desenvolvidas nos empreendimentos.
Infelizmente não se pode consubstanciar este resultado da pesquisa
com o ponto de vista dos projetistas em virtude do diminuto índice de
retorno de arquitetos à sondagem de opinião. Entretanto, é oportuno
lembrar o alerta do Ministério do Trabalho (2002, p.59) sobre os limites
de uma norma:
193
[...] não aponta soluções para todas as situações precisas encontradas na
prática. A solução dos problemas só é possível pelo esforço conjunto de todos
os interessados. É imprescindível também o acompanhamento das pesquisas que
têm sido feitas mais recentemente e a consulta a manuais especializados e
normas de outros países.
A pesquisa de campo para realização da APO nos laboratórios
confrontou a opinião dos usuários com a aderência aos requisitos
construtivos de biossegurança, avaliando também as condições de conforto
ambiental.
É importante frisar que um dos objetivos desta tese foi testar se
parâmetros de biossegurança devem pautar a avaliação de desempenho de
laboratórios NB3. Assim, o que se esteve explorando foi a possibilidade de
usar a ferramenta para avaliar a qualidade do sistema ambiental
construído. Não se teve por objetivo comparar laboratórios entre si.
Também não foi objeto da discuso estabelecer se dado laboratório pode
ser, ou não, classificado como NB3 posto que esta condição precisa,
necessariamente, ser mediada pela avaliação do risco envolvido em cada
caso. Lembra-se, ainda, que o atendimento das condições de biossegurança
são fruto de equação onde, além de barreiras secunrias, que se
considerar a disponibilidade de barreiras primárias e os procedimentos
protocolares.
Confirmou-se que é necessário pautar a avaliação de desempenho de
laboratórios NB3 pelos requisitos de biossegurança, condão necessária,
porém não suficiente, para atestar a qualidade do ambiente construído.
Desta forma, fica comprovado que nem todas as decisões de arquitetura para
projetos de laboratórios são condicionadas pelas diretrizes de
biossegurança.
Dentre os requisitos analisados, observou-se que o item referente a
Superfícies e revestimentos é aquele que tem melhor desempenho quando
comparado com o preconizado nas diretrizes de biossegurança.
Já o item que trata da Ventilação e climatização revelou-se como o de
desempenho mais frágil, refletindo-se na sensação de insegurança por parte
de alguns pesquisadores. Os problemas detectados variam desde sítio
inadequado para locação do laboratório, passando por deficiência de
projeto, descontinuidade de manuteão etc.
194
O resultado da pesquisa também permitiu estabelecer que o estado-da-
arte dos laboratórios NB3 em uso no Brasil. A maioria dos laboratórios de
contenção está localizada em prédios originalmente concebidos para outras
finalidades, posteriormente adaptados para abrigar laboratórios e, por
fim, parcialmente reformados para receber as instalações NB3.
Em vista disto, a Estrutura e leiaute são condicionados ao espaço
disponibilizado, não oferecendo configuração mais adequada ao trabalho dos
laboratórios pesquisados, mas, em outro extremo, foram encontrados casos
de espaços mal aproveitados. Da mesma forma, são afetadas as barreiras
arquitetônicas e de instalações referentes a Localização e acesso,
Perímetro de contenção e Provisão de utilidades e serviços.
Os Requisitos de conforto ambiental, de modo geral, não atendem às
recomendações do Ministério do Trabalho quanto a ruído e temperatura de
conforto. O nível de ruído emitido pelos motores e exaustores dos
equipamentos causa desconforto acústico. Os sistemas centralizados de
climatização, além dos problemas mencionados, são automatizados e de
difícil regulagem para temperatura de conforto, principalmente em vista
das necessidades de paramentação, havendo queixas de desconforto tanto por
frio como por calor. Um dos pesquisadores entrevistados observou que o
tempo de permanência dentro da área de contenção é delimitado pelas
situações de desconforto acústico e térmico. A pesquisa também revelou que
os ambientes de laboratório, por suas características de contenção,
requerem condições de conforto visual, que são reconhecidas por
pesquisadores tanto no que se refere ao planejamento cromático das
instalações bem como pela possibilidade de contato visual com as áreas
adjacentes, havendo restrições a janelas em empenas externas.
Por fim, pode-se apurar que o processo de projeto de laboratórios de
contenção em uso no país tem sido mediado pelos aspectos de biossegurança,
mas com abordagens diferenciadas.
Segundo averiguado na pesquisa de campo, projetos que foram
desenvolvidos com forte orientação da literatura sobre biossegurança,
pautando-se pelo cumprimento das diretrizes tidas como obrigatórias em
detrimento da avaliação de risco, contando com pouca participação dos
usuários.
195
Em outra vertente, constatou-se casos de projetos também calcados,
com rigor, na literatura sobre biossegurança, valendo-se, ainda, da
experiência vivenciada por usuários obtida em outros países, caso em que o
arquiteto só participou na representação gráfica de plantas já concebidas
pelo próprio usuário.
Numa terceira linha, percebe-se que es em formação uma cultura
própria de concepção de projetos de laboratórios, com equipes
multidisciplinares e participação de usuários, centrada na avaliação de
riscos que, por sua vez, é fundamentada no conceito de biossegurança.
Entretanto, o projeto de laboratórios em contenção ainda se desenrola
como se fosse constituído de etapas discretas, sem a prática de processo
contínuo, com conseqüentes falhas na operação, uso e manutenção das
instalações, o que compromete seus desempenhos.
Por sua vez, estes laboratórios precisam atender critérios de
desempenho pautados num compromisso estabelecido por regras
internacionalmente aceitas, uma linguagem universal pela qual se busca um
entendimento comum centrado na geso da qualidade.
Quando se trata de laboratórios para manipulação de agentes
patogênicos, o alcance dos requisitos de qualidade não pode prescindir do
atendimento dos princípios de biossegurança.
A qualidade do projeto é condição primeira para se obter o adequado
desempenho do bem construído. Assim, o ato de projetar deve ser
incorporado ao conjunto de atividades ligadas ao empreendimento.
Organismos internacionais como a OMS e a OPAS demandam que os
laboratórios de referência tenham compromisso formal com sistemas de
gestão da qualidade. Seguindo a mesma lógica, também no Brasil os
laboratórios de referência, em suas respectivas áreas de atuação, precisam
atender critérios de competência atentando para requisitos gerenciais e
requisitos técnicos para fins de certificação.
Dentre os requisitos técnicos, esprevisto que as instalações devam
ter acomodões e condições ambientais compatíveis com a natureza de seus
trabalhos e, desta forma, é mister que os requisitos de biosseguraa
196
sejam considerados nos seus processos e na sua gestão, inclusive quanto ao
espaço construído.
Encerra-se esta tese sobre desempenho de laboratórios em contenção
biológica após pesquisa teórico-prática, que o pretendeu esgotar o tema,
com as palavras de um dos cientistas entrevistados no transcorrer do
trabalho:
[...] São coisas que têm que ter um início muito bem
fundamentado, com multiprofissionais, com arquiteto, com pessoal
de biossegurança, qmico, todos, incluindo o usuário. Mas, além
disto, a própria vivência... Se que tudo isto que a gente
vivenciou está sendo considerado nos outros (laboratórios) que
estão sendo construídos? Será que isto valeu? Então você chega à
conclusão que a história, o benefício, ele é desperdiçado. O
exercício do outro não é bônus numa vivência de futuro. Esta
perda é muito ruim.[...]
Espera-se que esta pesquisa possa auxiliar de forma positiva no
processo de projeto de futuras instalações, desejando-se que se some aos
poucos trabalhos acadêmicos até agora realizados de forma a se consolidar,
no país, o exercício de uma arquitetura voltada para laboratórios.
Assim, sugere-se que outros estudos sejam realizados, tendo como
objeto laboratórios de contenção biológica e ambientes afins.
Face aos resultados obtidos com a pesquisa, mostra-se como fértil
campo para exploração e futura prospecção acadêmicas questões como os
sistemas de ventilação e refrigeração e respectiva harmonização com o
projeto de arquitetura.
Identificou-se, também a possibilidade de se desenvolver trabalhos
que visem aprofundar o processo de projeto pela mediação da variável
biossegurança, disciplina multidisciplinar, e as peculiaridades que
permeiam as etapas que antecedem a construção de laboratórios.
A avaliação pós-ocupação emerge com dois pontos a serem aprofundados.
Por um lado, a avaliação pós-ocupação de caráter técnico-econômico para
obtenção de índices econômicos em relação à produção e ao uso dos
ambientes de forma a se obter parâmetros de eficiência tais como custo
versus benefício e custo das intervenções necessárias para otimização de
desempenho no decorrer do uso, lembrando-se que a pesquisa detectou que
197
parte significativa dos projetos é desenvolvida para re-uso de edifícios,
com adaptação de espaços não apropriados à finalidade, impondo
dificuldades aos projetistas, desafiados a praticar verdadeiro malabarismo
arquitetônico.
E, também, a avaliação pós-ocupação pelo viés comportamental,
considerando que o risco, inerente aos processos de trabalhos
desenvolvidos em laboratórios que manipulam agentes biológicos perigosos,
tem sua percepção associada a fatores subjetivos que podem impactar,
direta e indiretamente, as decisões arquitetônicas.
Entende-se que a falta de tradição local neste campo de estudo é
reflexo dos baixos investimentos públicos e privados em Ciência e
Tecnologia no Brasil, o demandando, conseqüentemente, avanços na
construção de laboratórios.
Desta forma, acredita-se que a realização deste trabalho possa firmar
conceitos sobre o projeto de espaços destinados a abrigar a pesquisa sob
contenção biológica - os laboratórios NB3 - com qualidade.
Por fim, espera-se que este estudo inédito, onde se aplicou
parâmetros de biossegurança na avaliação de desempenho de laboratórios
para trabalho em conteão biológica, somado aos poucos trabalhos
acadêmicos desenvolvidos no âmbito dos programas de pós-graduação
stricto sensu em Arquitetura da UFRJ e da UNB, em Engenharia de Produção
da COPPE da UFRJ e em Interunidades em Biotecnologia da USP, venha a
contribuir para a consolidação da Arquitetura de laborarios no Brasil
como aliada do desenvolvimento da Ciência e Tecnologia no país.
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Anexo I
Caderno de pesquisa de campo
Universidade Federal do Rio de Janeiro - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Programa de Pós-graduação em Arquitetura - PROARQ
Curso de Doutorado em Arquitetura
211
Caro pesquisador,
Este caderno contém ferramentas a serem aplicadas com o objetivo de
identificar características positivas e negativas de ambientes
laboratoriais para trabalho em contenção biológica e é parte integrante da
pesquisa de campo de tese sobre arquitetura de laboratórios NB3.
A Parte I refere-se à arquitetura de laboratórios NB3 e foi
estruturada a partir de requisitos para concepção física levantados em
pesquisa bibliográfica. Os critérios identificados são: localização e
acesso à instalação, perímetro de contenção, provisão de utilidades e
serviços, requisitos de conforto ambiental, incluindo aqueles regulatórios
no país; superfícies e revestimentos, estrutura e leiaute do laboratório,
ventilação e climatização. Esta parte será preenchida por mim, valendo-se
de visita in loco para obtenção de parâmetros físicos de temperatura,
umidade, velocidade do ar, nível de pressão sonora e nível de iluminação,
se não houver restrição de qualquer natureza para acesso à instalação,
utilizando-se também as plantas dos projetos de arquitetura e engenharia do
laboratório para obtenção de dados.
Solicita-se que o usuário da instalação responda à Parte II, dividida
em quatro tópicos.
O primeiro consiste de sete perguntas referentes ao desempenho da
instalação construída, a serem respondidas de forma objetiva, com
comentários livres.
O segundo tópico consiste na apresentação de imagens pré-selecionadas
de ambientes com funções semelhantes aos existentes no objeto de estudo em
questão a título de sugestão visual, podendo incluir também imagens de
ambientes o existentes, mas considerados desejáveis. Solicita-se que o
usuário comente livremente as imagens que escolher, reconhecendo, a partir
das imagens selecionadas, atributos positivos e atributos negativos com o
intuito de identificar características ou elementos dos espaços que possam
fornecer diretrizes a serem incorporadas ao projeto de arquitetura.
No terceiro tópico são apresentados leiautes de instalações para
laboratório NB3 para que o usuário faça considerações livres sobre o
projeto arquitetônico e condições de biossegurança oferecidas.
Concluindo a colaboração do usuário, solicita-se que ele se manifeste
propondo mudanças na infra-estrutura física do seu laboratório.
A pesquisa de campo contempla, ainda, uma parte dirigida, através de
pergunta aberta, ao arquiteto que projetou a instalação, sondando-se sobre
as restrições à concepção arquitetônica em função das exigências de
biossegurança requeridas para trabalho em laboratórios NB3.
Sua colaboração é muito importante!
Obrigada,
Valéria Michielin Vieira
212
Arquitetura de Laboratórios NB 3
Instrumento de pesquisa
Parte I – Verificação in loco das instalações
LOCALIZAÇÃO E ACESSO
S N N/A N/D
1. Laboratório afastado de áreas de circulação pública
2. Acesso limitado a pessoal autorizado
3. Acesso provido de sinalização de segurança
4. Aberturas planejadas para permitir a passagem de equipamentos
5. Portas de acesso providas de tranca
6. Portas de acesso providas de sistema de controle
7. Escritórios fora da área de contenção
8. Antecâmara para acesso à área de contenção
9. Intertravamento das portas da antecâmara, aceitando-
se soluções
visuais, sonoras ou protocolares
10. Sistema emergencial de abertura manual das portas da antecâmara
nos casos em que for adotado intertravamento
11. Vestiário para paramentação da equipe com separação de áreas
(não contaminada e contaminada)
12. Chuveiro na antecâmara
13. Áreas de contenção localizada nas proximidades dos sistemas
mecânicos para fins de minimizar
os riscos de contaminação das
instalações
14. Áreas de contenção afastadas das paredes do envelope externo da
edificação
15. Laboratório de apoio adjacente à área de contenção
213
PERÍMETRO DE CONTENÇÃO
S N N/A N/D
1. Autocl
ave dupla porta instalada, preferencialmente, com os
componentes mecânicos no lado externo à área de contenção para
facilitar o acesso de manutenção, ou autoclave simples no interior
da contenção.
2. Previsão, na barreira de confinamento, de guichê d
e passagem para
os materiais que não podem ser descontaminados por calor sob pressão
e necessitam de descontaminação química.
3. Tratamento de efluentes antes de lançamento na rede de
tratamento.
4. Junções vedadas no nível do perímetro de contenção.
5. Conduites e instalações selados.
6. Janelas, caso existentes, seladas e construídas com vidro de
segurança.
7. Visores de observação instalados na barreira de contenção.
UTILIDADES E SERVIÇOS
S N N/A N/D
1. Previsão de l
avatório (ou outros meios químicos) para
descontaminação das mãos na proximidade da saída do laboratório.
2. Lavatórios munidos de torneiras acionadas sem o uso das mãos.
3. Lava-olhos.
4. Previsão de instalação das CSB.
5. Instalação hidráulica com dispositivo anti-
refluxo e registro
localizados próximos da barreira de contenção.
6. Sifões de drenagem com selo hidráulico.
7. Cilindros de gases comprimidos situados no exterior do
laboratório.
8. Linha de vácuo substituída por bomba portátil.
9. Iluminação de emergência.
10. Energia de emergência para os circuitos de iluminação, CSB,
ventilação e equipamentos essenciais.
11. Disjuntores localizados no exterior da área de contenção.
12. Reatores de lâmpada
s fluorescentes localizados no exterior da
área de contenção.
13. Sistema de comunicação entre a área de conteão e a área de
suporte.
14. Sistema de transmissão de dados entre a área de confinamento e o
exterior.
214
CONFORTO AMBIENTAL
Medição/observação
1. Temperatura efetiva (temperatura ambiente)
2. Velocidade do ar
3. Umidade
4. Nível de ruído
5. Nível de iluminamento
6. Qualidade do ar
7. Cores – reflexão e contraste
SUPERFÍCIES E REVESTIMENTOS
S N N/A N/D
1. Superfícies de portas, portais e mobiliário não absorventes.
2. Superfícies de trabalho resistentes a corantes, umidade, produtos
químicos, calor e à formação mecânica de sulcos por impactos
mecânicos típicos de laboratório.
3. Superfície
s contínuas, sem saliências e reentrâncias (é aceitável
que as juntas entre paredes e juntas de piso sejam
vedadas/soldadas).
4. Continuidade entre piso e paredes, preferencialmente com
acabamento arredondado.
5. Revestimentos Laváveis e resisten
tes aos produtos químicos
utilizados.
6. Bancadas com rebordo para evitar derramamentos de quidos e,
ainda, sistema de drenagem.
7. Tampos, gavetas, maçanetas, etc com acabamento arredondado.
8. Frontispícios de bancadas próximas às parede
s selados na junção
com a mesma.
9. Prateleiras para guarda de reagentes químicos providas de borda.
10. Gavetas providas de limitador de curso.
11. Portas do mobiliário sem fechamento autônomo.
12. Especificação Revestimentos
Piso
Paredes
Teto
Portas
Janelas
Mobiliário e equipamentos
215
ESTRUTURA E LEIAUTE
Observação
1. Gradiente de risco
2. Configuração da estrutura (incluir figura)
3. Dimensões da área de contenção (número de CSB)
4. Posicionamento das CSB
5. Leiaute (periférico, península, ilha, misto)
VENTILAÇÃO E CLIMATIZAÇÃO
S N N/A N/D
1. Tomada de ar 100% externa.
2. Fluxo de ar unidirecional através da aplicação de diferencial de
pressão segundo gradiente de risco.
3. Visualização dos diferenciais de pressão através de manômetros.
4. Sinalização visual e sonora na área de contenção e adjacências
para alertar falha no sistema de ventilação (admissão de ar).
5. Dutos de admissão de ar protegidos por mecanismo anti-
refluxo
através de damper automático ou pela instalação de filtro HEPA.
6. Intertravamento do sistema de ventilação (admissão e exaustão)
para evitar pressão positiva acidental no ambiente de contenção.
7. Ar de exaustão fil
trado por filtro HEPA. Este critério é
recomendado, mas não obrigatório, nos caso em que a infecção
individual não ocorre por inalação.
8. Independência do sistema de exaustão do ar da área de contenção.
9. Acesso aos sistemas de ventilação (cas
a de máquinas e filtros)
pelo exterior da área de contenção para fins de manutenção e reparo.
10. Dispositivos anti-
refluxo e filtros HEPA instalados o mais
próximo possível do perímetro de contenção.
11. Dutos de exaustão, externos ao perímetro de contenção, selados.
216
Arquitetura de Laboratórios NB 3
Instrumento de Pesquisa
Parte II – Opinião dos usuários
Laboratório
2.1 Os quesitos abaixo são relativos ao desempenho da instalação
construída. Aponte de que maneira o seu laboratório atende cada um dos
quesitos, considerando as suas atividades de trabalho:
I – Insatisfatório
PS – Pouco Satisfatório
S – Satisfatório
MS – Muito Satisfatório
QUESITO I PS S MS
1. O laboratório oferece segurança à sua
localização e acesso.
2. O laboratório dispõe das barreiras
arqui
tetônicas necessárias para garantir a
contenção biológica.
3. As linhas de utilidades e instalações são
providas adequadamente.
4. O ambiente é confortável para trabalho nas
atividades de pesquisa biológica.
5. A estrutura sica e o dimensi
onamento do
laboratório atendem às necessidades de trabalho.
6. Os materiais de acabamento empregados oferecem
segurança ao uso.
7. O sistema de ventilação e refrigeração é
adequado ao trabalho em contenção.
Comentários:
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217
2.2 Sugestão visual
Observe o painel
34
e escolha, dentre as fotos apresentadas, aquelas
imagens que sugerem aspectos positivos ou aspectos negativos para
trabalho em pesquisa biológica. As observações a fazer podem ser em
relação à ambiência dos locais, materiais de acabamento, mobiliário,
equipamentos, cores, sensação de segurança ou conforto, etc. Os
comentários podem ser verbalizados ou escritos.
2.3 Observe atentamente os arranjos
35
apresentados, referentes a
instalações de laboratórios NB3, e faça considerações sobre o projeto
arquitetônico e condições de biossegurança oferecidas. Os comentários
são livres e podem ser verbalizados ou escritos.
2.4 Se votivesse a oportunidade de modificar o laboratório, quais
mudanças proporia?
34
O painel foi apresentado aos entrevistados no formato A3.
35
O conjunto de arranjos foi apresentado aos entrevistados no formato A3.
Instrumento de sugestão visual
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
Leiaute 1
Leiaute 2
Leiaute 3 Leiaute 4
Projeto arquitetônico e condições de biossegurança oferecidas
220
Arquitetura de Laboratórios NB 3
Instrumento de Pesquisa
Parte III – Projetista
3. Na sua opinião, de que maneira as diretrizes de
biossegurança interferem no desenvolvimento do projeto de
arquitetura de laboratórios NB3? Justifique.
Anexo II
Laboratórios NB3 no Brasil
Laboratórios NB3 no Brasil
Unidade Finalidade das pesquisas Localização
1 LACEN
Secretaria Estadual de Saúde
Hantavírus Porto Alegre/RS
2 Instituto Pasteur
Secretaria Estadual de Saúde
Rhabdovirus
(produção de insumos)
São Paulo/SP
3 Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães
FIOCRUZ
Yersinia pestis, hantavírus e Micobacterium
tuberculosis
Recife/PE
4 LACEN
Secretaria Estadual de Saúde
Micobacterium tuberculosis
Brasília/DF
5 LACEN
Secretaria Estadual de Saúde
Micobacterium tuberculosis
Fortaleza/CE
6 Instituto Adolfo Lutz
Secretaria Estadual de Saúde
Micobacterium tuberculosis
São Paulo/SP
7 Centro de Pesquisa Gonçalo Moniz
FIOCRUZ
HIV e Micobacterium tuberculosis Salvador/BA
8 Fundação de Medicina Tropical
Secretaria Estadual de Saúde
Hantavírus e arbovírus Manaus/AM
9 Instituto Octávio Magalhães - FUNED
Secretaria Estadual de Saúde
Arbovírus e rickettsias Belo Horizonte/MG
10 Centro de Pesquisa em Medicina Tropical
Secretaria Estadual de Saúde
Arbovírus
(em obras)
Porto Velho/RO
11 Instituto Evandro Chagas
Secretaria de Vigilância em Saúde
Arbovírus
(produção de insumos)
(em obras)
Ananindeua/PA
12 Centro de Referência Professor Hélio Fraga
Micobacterium tuberculosis
(em obras)
Rio de Janeiro/RJ
13 Instituto Oswaldo Cruz
FIOCRUZ
Retrovírus e antraz
Rio de Janeiro/RJ
Unidade Finalidade das pesquisas Localização
14 Instituto Oswaldo Cruz
FIOCRUZ
Hantavírus e rickettsias Rio de Janeiro/RJ
Unidade Finalidade das pesquisas Localização
15 Instituto Oswaldo Cruz
FIOCRUZ
HIV Rio de Janeiro/RJ
16 BIOMANGUINHOS
FIOCRUZ
Desenvolvimento de vacinas Rio de Janeiro/RJ
17 UFPE Micobacterium tuberculosis Recife/PE
18 Laboratório Nacional Agropecuário Influenza animal Campinas/SP
19 Laboratório de Referência Animal
Ministério da Agricultura
Aftosa Pedro Leopoldo/MG
20 NB3 ICB/USP São Paulo/SP
21 NB3 Baixo custo ICB/USP Vírus respiratórios São Paulo/SP
22 NB3 de baixo custo
Instituto Adolfo Lutz
Vírus respiratórios São Paulo/SP
23 NB3 de baixo custo Vírus respiratórios São José do Rio Preto/SP
24 NB3 de baixo custo Vírus respiratórios Botucatu/SP
25 NB3 de baixo custo
Instituto de Medicina Tropical USP
Vírus respiratórios São Paulo/SP
26 NB3 de baixo custo
Faculdade de Medicina/USP
Vírus respiratórios Ribeirão Preto/SP
27 Hospital São Paulo - UNIFESP Infecções respiratórias São Paulo/SP
28 Hospital Universitário Clementino Fraga Filho
UFRJ
Micobacterium tuberculosis
(em obras)
Rio de Janeiro/RJ
29 Unifesp Retroviroses São Paulo/SP
30 Instituto Adolpho Lutz Rickettioses São Paulo/SP
31 NB3 de baixo custo
Ministério da Agricultura
Influenza aviária Recife/PE
Laboratórios NB3 no Brasil
Unidade Finalidade das pesquisas Localização
1 LACEN
Secretaria Estadual de Saúde
Hantavírus Porto Alegre/RS
2 Instituto Pasteur
Secretaria Estadual de Saúde
Rhabdovirus
(produção de insumos)
São Paulo/SP
3 Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães
FIOCRUZ
Yersinia pestis, hantavírus e Micobacterium
tuberculosis
Recife/PE
4 LACEN
Secretaria Estadual de Saúde
Micobacterium tuberculosis
Brasília/DF
5 LACEN
Secretaria Estadual de Saúde
Micobacterium tuberculosis
Fortaleza/CE
6 Instituto Adolfo Lutz
Secretaria Estadual de Saúde
Micobacterium tuberculosis
São Paulo/SP
7 Centro de Pesquisa Gonçalo Moniz
FIOCRUZ
HIV e Micobacterium tuberculosis Salvador/BA
8 Fundação de Medicina Tropical
Secretaria Estadual de Saúde
Hantavírus e arbovírus Manaus/AM
9 Instituto Octávio Magalhães - FUNED
Secretaria Estadual de Saúde
Arbovírus e rickettsias Belo Horizonte/MG
10 Centro de Pesquisa em Medicina Tropical
Secretaria Estadual de Saúde
Arbovírus
(em obras)
Porto Velho/RO
11 Instituto Evandro Chagas
Secretaria de Vigilância em Saúde
Arbovírus
(produção de insumos)
(em obras)
Ananindeua/PA
12 Centro de Referência Professor Hélio Fraga
Micobacterium tuberculosis
(em obras)
Rio de Janeiro/RJ
13 Instituto Oswaldo Cruz
FIOCRUZ
Retrovírus e antraz
Rio de Janeiro/RJ
Unidade Finalidade das pesquisas Localização
14 Instituto Oswaldo Cruz
FIOCRUZ
Hantavírus e rickettsias Rio de Janeiro/RJ
Unidade Finalidade das pesquisas Localização
15 Instituto Oswaldo Cruz
FIOCRUZ
HIV Rio de Janeiro/RJ
16 BIOMANGUINHOS
FIOCRUZ
Desenvolvimento de vacinas Rio de Janeiro/RJ
17 UFPE Micobacterium tuberculosis Recife/PE
18 Laboratório Nacional Agropecuário Influenza animal Campinas/SP
19 Laboratório de Referência Animal
Ministério da Agricultura
Aftosa Pedro Leopoldo/MG
20 NB3 ICB/USP São Paulo/SP
21 NB3 Baixo custo ICB/USP Vírus respiratórios São Paulo/SP
22 NB3 de baixo custo
Instituto Adolfo Lutz
Vírus respiratórios São Paulo/SP
23 NB3 de baixo custo Vírus respiratórios São José do Rio Preto/SP
24 NB3 de baixo custo Vírus respiratórios Botucatu/SP
25 NB3 de baixo custo
Instituto de Medicina Tropical USP
Vírus respiratórios São Paulo/SP
26 NB3 de baixo custo
Faculdade de Medicina/USP
Vírus respiratórios Ribeirão Preto/SP
27 Hospital São Paulo - UNIFESP Infecções respiratórias São Paulo/SP
28 Hospital Universitário Clementino Fraga Filho
UFRJ
Micobacterium tuberculosis
(em obras)
Rio de Janeiro/RJ
29 Unifesp Retroviroses São Paulo/SP
30 Instituto Adolpho Lutz Rickettioses São Paulo/SP
31 NB3 de baixo custo
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Influenza aviária Recife/PE
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