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Resolução Resolução
Finalmente, entrou num quarto todo
dourado onde viu, numa cama, com as
cortinas abertas de todos os lados, o mais
belo espetáculo que jamais seus olhos
tinham contemplado: uma princesa que
parecia ter quinze o dezesseis anos, e cujo
brilho fulgurante tinha algo de luminoso e
divi
no.
Aproximou
-se, trêmulo de admiração e
ajoelhou
-se junto a ela.
Então, como o encantamento chegara ao
fim, a princesa despertou.
Olhando
-o com o olhar mais terno que uma
primeira vista podia permitir, perguntou:
.- É você, meu príncipe? Levei muito tempo
à sua espera.
Encantado com essas palavras, e mais
ainda com a maneira pela qual elas foram
ditas, o príncipe ficou sem saber como
poderia dar uma prova de sua alegria e
reconhecimento.
E garantiu que a amava mais do que a si
mesmo.
Seus discursos podiam ser mal
arrumados
,
mas por isso mesmo agradaram ainda
mais.Pouca eloqüência e muito amor.
Estava anda mais embaraçado do que ela,
o que não é de espantar: ela tivera muito
tempo para imaginar o que deveria dizer a
ele, pois tudo indica (embora a história não
diga nada a respeito) que a boa fada, no
decorrer de um sono tão comprido,
procurara garantir o prazer de sonhos
agraváveis.
Enfim, os dois já tinham conversado umas
quatro horas e ainda não haviam dito nem a
metade das coisas que tinham a dizer um
ao outro.
Enquanto isso, todo o palácio havia
acordado junto com a princesa. Cada um
procurava cumprir suas tarefas e, como
nenhum deles estava apaixonado, morriam
de fome.
A dama de honra, apressada como os
outros, perdeu a paciência e acab
ou
dizendo à princesa, em voz alta, que a
carne estava servida.
O príncipe ajudou a princesa a se levantar.
Ela estava magnificamente vestida. Mas ele
teve o cuidado de não lhe dizer que ela
estava com roupas parecidas com as da
avó dele, com aquele tipo de gola, tão fora
de moda. Nem por isso estava menos bela.
Afinal, numa câmara riquíssima, tôda de
ouro finamente lavrado, viu sobre um leito,
de cortina entreabertas, um quadro de
maravilhosa beleza: uma jovem donzela
de quinze para dezesseis anos, cujo rosto
resplandecia como um sol.
O príncipe
aproximou
-se, trêmulo de
comoção, e ajoelhou-se ao lado dela, num
enlêvo.
Foi o bastante para que o encantamento
se quebrasse e a bela adormecida abrisse
os olhos.
Abriu os olhos, e com voz trêmula de
ternura disse ao príncipe:
.- És tu, meu príncipe? Oh, como se fêz
esperado!
Encantado com estas palavras, e mais
ainda com o tom amoroso com que foram
ditas, ficou o príncipe sem saber como
demonstrar a sua felicidade; por fim
declarou à donzela que a amava mais do
que a si mesmo.
Mas atrapalhou-se ao dizer isso, porque
êsses amores repentinos atrapalham as
criaturas.
Já com a princesa se dava o contrário;
como havia tido cem anos de
adormecimento para, nos sonhos,
preparar as frases para aquele desfecho,
falou que nem um livro aberto
Durou quatro horas aquêle colóquio
amoroso
- e êles não disseram nem
metade do que tinham a dizer.
Nesse meio tempo todos os serviçais do
palácio também saíram do longo sono de
cem anos e como não estivessem
tomados de amor, como a princesa e o
príncipe, trataram de atender ao
estômago, que lhes doía de fome.
A mesa foi posta, e a primeira dama de
honra veio dar parte à princesa de que o
jantar estava servido.
O príncipe deu a mão à bela adormecida e
conduziu
-a ao salão, sem, entretanto dar-
lhe a perceber que ela estava vestida à
moda de um século atrás, o que,
entretanto , em nada diminuía a sua
resplandecente beleza
.