174
substrato da madrepérola, da corda, do tronco da árvore, do deserto,
etc.”
[Objeção:] “Nesse caso, como um pote, etc. que contém água,
etc. é denotado por palavras, assim também turéya [a quarta parte]
deveria ser designada por palavras {positivas}, e não por negações, já
que é o substrato de todas as ilusões como präëa, etc.”
[Resposta:] “Não, porque a ilusão de präëa, etc. é irreal assim
como a prata, etc. o são com relação à madrepérola, etc. Pois uma
relação entre o real e o irreal não permite uma correta representação
verbal, já que a própria relação é insubstancial. Diferentemente de
uma vaca, por exemplo, o si-mesmo, em sua própria realidade, não é
objeto de nenhuma outra forma de conhecimento, pois o si-mesmo
está livre de todos os adjuntos limitantes {upädhi}. Diferentemente de
uma vaca, etc., ele não pertence a nenhuma classe; isso porque, em
virtude de ser um-sem-segundo, ele está livre de todos os atributos
genéricos e específicos. E também não está imbuído de atividade,
como um fogão, etc., já que é destituído de toda ação. E também não
está imbuído de nenhuma qualidade, como a cor azul, etc., porque é
livre de qualidades. Portanto ele torna impossível toda descrição
verbal.”
[Objeção:] “Nesse caso, [o si-mesmo] não serve a nenhum
propósito útil, assim como o chifre de uma lebre, etc.”
[Resposta:] “Não; porque quando turéya é percebido como o
si-mesmo, isso leva à cessação de todo esforço pelo não-si-mesmo,
assim como a ânsia pela prata cessa ao se reconhecer a madrepérola.
De fato, é impossível que existam tais defeitos como ignorância,
desejo, etc., após a percepção/realização de turéya como o si-mesmo.
Nem há nenhuma razão para que turéya, o si-mesmo, não seja
conhecido, bem porque todas as Upaniñad levam a essa conclusão [...]
Assim esse si-mesmo que é a suprema realidade {päramärthika}, mas
que possui falsas aparências, foi mencionado como imbuído de quatro
partes. Sua forma irreal foi tratada, a qual consiste numa criação da
ignorância que é análoga à cobra sobreposta à corda, e que consiste de
três partes [...] Agora, no texto que inicia com ‘näntaù prajïam, ‘não
é consciência interior’, a Upaniñad trata do supremo estado real, não-
causal, comparável à corda, etc., por meio da negação dos três estados
anteriores, comparáveis à cobra, etc.”
anäntaù prajïaà na bahiñ-prajïaà nobhayataù prajïaà na
prajïäna-ghanaà na prajïaà näprajïam / adåñtam avyavahäryam
agrähyam alakñaëam acintyam avyapadeçyam ekätma-pratyayasäraà
prapaïcopaçamaà cäntaà çivam advaitaà caturthaà manyante sa
ätmä sa vijïeyaù // 7 //
7 – Não é consciência interior, não é consciência exterior,
não é consciência de ambos, nem uma massa de consciência, nem
inconsciência. Não é das relações empíricas {a-vyavahärya, “não
praticável, não associável, não-transitivo”, de vy-ava-HÅ, “ter
intercurso, encontrar-se, comportar-se, relacionar-se”}, é
inapreensível {pelos sentidos ou pela mente}; não pode ser
inferido, é impensável, indescritível; sua única prova é o domínio