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relacionamentos humanos (BARROS, 2005, p. 16). Nesse nível, o sujeito é quem opera as
transformações narrativas, assim, as determinações tensivo-fóricas, observadas no nível
anterior, convertem-se em modalizações: querer/dever/saber/poder/fazer que modificam as
ações e os modos de existência do sujeito e também a sua relação com os valores. Dessa
forma, dentro dos programas narrativos, conforme a relação do sujeito seja de junção
(disjunção = separado; conjunção = conjunto) ou de transformação (passagem de um estado
ao outro), o termo resultante dessa relação torna-se um actante da narrativa, podendo assumir
em um percurso narrativo vários papéis actanciais
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: destinador, destinatário, sujeito, objeto,
anti-sujeito.
É importante averiguarmos, contudo, que no nível narrativo, o sujeito passa
pelos percursos narrativos da manipulação, da ação e da sanção. Na manipulação
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existe um
contrato Destinador/Destinatário que atribui ao sujeito competência necessária à ação. A ação,
por sua vez, desdobra-se em dois programas narrativos, o da competência e o da performance
do sujeito. Segundo Fiorin (1992, p. 23), na fase da competência, o sujeito que vai realizar as
transformações da narrativa é dotado de um saber e/ou poder fazer; na performance, a fase em
que se dá a transformação, o sujeito que opera a transformação e o que entra em conjunção ou
em disjunção com o objeto podem ser distintos ou idênticos. Concluída a performance, chega-
se à sanção, quando o sujeito que operou a transformação é julgado e recebe uma recompensa
ou uma punição. Sancionado o percurso do sujeito, passa-se à modalização veridictória que,
segundo Barros (2005, p. 33), assegura a existência dos sujeitos, ditos verdadeiros (parecem e
são), falsos (não parecem e não são), mentirosos (parecem e não são), ou secretos (não
parecem e são). E, ainda, essas modalizações do sujeito podem ser sobre determinadas pelas
modalizações epistêmicas da certeza ou da dúvida: afirmado ou recusado, admitido ou posto
em dúvida.
Por último, no nível discursivo, o mais complexo e concreto, o enunciado
projeta na enunciação
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os atores, o espaço e o tempo, essas projeções actoriais, espaciais e
temporais dão origem a duas operações que são a debreagem e a embreagem. Desse modo, os
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V. Propp ao estudar a morfologia dos contos maravilhosos russos define as personagens pelas funções que elas
desempenham em suas esferas de ação, Greimas estabeleceu os papéis actanciais reduzindo a lista das
personagens definidas por Propp.
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São quatro os tipos de manipulação do sujeito: provocação - o Destinador cria a imagem negativa do
Destinatário e leva-o a DEVER-FAZER; sedução - o Destinador cria imagem positiva do Destinatário e leva-o a
QUERER-FAZER; intimidação - o Destinador oferece valores negativos ao Destinatário e leva-o a DEVER-
FAZER; tentação - o Destinador oferece valores positivos ao Destinatário e leva-o a QUERER-FAZER.
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Os estudos de Benveniste sobre a enunciação foram de grande relevância para a semiótica, visto que o homem
se constitui na e pela linguagem: “O ato individual de apropriação da língua introduz aquele que fala em sua fala.
Este é um dado constitutivo da enunciação. A presença do locutor em sua enunciação faz com que cada instância
de discurso constitua um centro de referência interno” (BENVENISTE, 1989, p. 84).