políticas decisórias, dos debates externos e diplomáticos. Assim, se as
conclusões sobre a singularidade das espécies humanas, no Brasil, nunca
constaram das leis ou documentos oficiais, conformaram um argumento
freqüente que levaram à elaboração dessas mesmas medidas (Schwarcz,
2004: 247).
Suas conclusões sugerem que, mesmo diante da ausência de uma formalização
jurídica e governamental, que pudesse explicar as desigualdades naturalizadas pelo aspecto
racial dos indivíduos, a sociedade estruturou-se tendo este argumento como inspiração. A
extensão das concepções raciais foi, nesse sentido, materializada na política pública
sanitarista do século XIX e inicio do XX, nas políticas educacional, econômica e jurídica.
A implicação das teorias raciais, desse modo, aparece na vida política do Brasil atingindo
diretamente a vida cotidiana das pessoas negras, brancas, indígenas, asiáticas e mestiças, de
modo diferenciado, o que evidencia o caráter racializado destas. Portanto, efetiva-se entre
nós, em nossas relações, o estabelecimento da proposição apresentada anteriormente,
construído por Todorov e citada por Santos, de que as teorias raciais estruturam uma
“política fundada no saber”, isto é, organiza-se uma política entre os grupos raciais a partir
da própria teoria (Santos, citando Todorov, 2005).
A política de atenção à criança também se fundamentou em pressupostos políticos
com inspirações nas teorias raciais, além de princípios baseados na eugenia e higienização
da infância. Nos primórdios do atendimento a infância, pela caridade, por exemplo, a
função da localização da criança dentro dos critérios classificatórios, consistia basicamente
em considerar, a partir dessa informação, tanto o seu destino social, quanto o tipo de
atendimento e expectativas que sobre este sujeito poder-se-ia construir (Piza & Rosemberg,
2003).
Hoje, nos prontuários de atendimento do Programa Sentinela, no campo de
“identificação da criança” há uma questão que remete à identificação de sua “cor”. Passo a
questionar, assim, qual seria a função desta informação, do ponto de vista das profissionais
que elaboram os atendimentos? Seria essa informação pertinente para pensar a infância
inserida em contextos de violências, bem como, os encaminhamentos propostos para o seu
atendimento? As profissionais entrevistadas, respondem a essa questão, ora relacionando-a
com a informação que justifica o quesito raça para produção de estatísticas, ora alegando