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R E S U M O
Esta dissertação versa sobre um Programa Educacional de Resistência às Drogas e à
Violência - O PROERD, desenvolvido nas escolas públicas e privadas de Santa
Catarina. O PROERD advém de um Programa norte-americano, conhecido como Drug
Abuse Resistance Education – O DARE - adaptado para a realidade brasileira pela
Polícia Militar, desde 1992, e destinado aos educandos e as educandas da quarta série do
Ensino Fundamental. O objetivo que orientou minhas ações nesse período foi
compreender o que torna a Polícia Militar responsável por implementar, nas escolas
públicas, um Programa de combate às drogas e às violências. E ainda, nos espaços
escolares, alinhavar os significados expressos nas formas como a comunidade escolar
tecia suas impressões sobre o cotidiano deste Programa. Como um Estudo de Caso, a
abordagem se pauta num recorte etnográfico e qualitativo, onde os meus olhares
estiveram atentos ao rigor do trabalho de campo, da construção dos referenciais que
animaram os esforços para construir as sínteses explicativas. Estas sínteses contemplam
as observações implicadas no âmbito do empírico e as trocas dialógicas com os sujeitos
envolvidos nesse estudo. A partir dessa experiência, assumi como perspectiva para
construir as reflexões desta pesquisa considerar as drogas, e as violências, fenômenos
plurais, cujas práticas e manifestações são tecidas por uma multidimensionalidade de
aspectos que são, a um só tempo, visíveis, ambíguos, dispersos, escondidos, fluídos, de
cores e sinuosidades que não permitem uma apreensão conceitual única e universal.
Nesse movimento fui tecendo a minha dimensão pesquisadora, curiosa e em parceria
com os fios que tramaram a pesquisa, mesclando os registros pela interlocução com a
minha trajetória e pela convivência com a comunidade observada. Uma comunidade,
inserida em duas escolas públicas, de Ensino Fundamental, localizadas no entorno da
favela. Mergulhada nesse cenário organizei as explicações em torno de como, e porque,
o PROERD se consolidou como um Programa de prevenção às drogas e à violência.
Nessa trajetória de ir a campo, estudar o conteúdo das fontes documentais, conversar
com os profissionais da escola e da instituição militar, observar, com olhos implicados,
os sem-fins do cotidiano, fui conhecendo, aos poucos, o enredamento provocado pela
ambigüidade das tramas do agir policial. A pesquisa evidenciou, entre outros aspectos,
que há, na proposta do Programa, um interesse pastoral, disciplinador e racional, guiado
por uma crença na sua missão salvacionista para “tirar” os meninos e as meninas do
mundo do mal. Como um Programa preventivo, é atravessado por um agir de controle
das crianças e jovens, ordenando modelos adequados de conduta social. Paradoxalmente,
nesse universo muitos policias militares, como aqueles que foram partícipes dessa
pesquisa, evidenciaram o desejo de criar alternativas educacionais para provocar
mudanças na realidade com a qual convivem, e a qual afirmam não tolerar. Mostram-se
como “pastores” ávidos por construir uma afetividade que os faça se sentirem especiais
diante da comunidade onde atuam. Ao contrário de julgar o Programa, nessa dissertação
assumi como responsabilidade ética problematizar as dinâmicas entrelaçadas nos
sentidos de prevenção que ele anuncia, enfatizando a crítica aos fundamentos
epistemológicos do currículo PROERD.