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A leitura não é, como se pensou, por muito tempo simples jogo
de fixação de imagens visuais e auditivas. Ler é uma atividade,
não só em sentido figurado: é ação, desde a visão das formas
das palavras, das frases ou silabas, ate a expressão final, em
linguagem oral (leitura expressiva) ou em linguagem interior
(leitura silenciosa) (LOURENÇO FILHO, 1969,P.43).
A escrita, por sua vez, necessita de nível de maturidade e de
desenvolvimento fisiológico geral, muscular e ósseo, não sendo apenas um
movimento capaz de desenhar as letras, mas sim, um movimento coordenado
ao comportamento da linguagem (oral e interior), o individuo que escreve já é o
seu primeiro leitor. Por isso a escrita seria capaz de:
Revelar, até certo ponto, o estado emotivo do individuo no ato
de escrever, ou melhor, no ato de pensar o que escreveu,
como permite aquilatar, de modo geral, se seu temperamento.
(LOURENÇO FILHO, 1969,P.49)
A partir destes entendimentos de leitura e escrita o autor esclarece:
Leitura e escrita não podem ser mais concebidas, como
processo de simples associação de estímulos e reações
isoladas, mantidas conexões por impulsos discretos que, dos
órgãos sensoriais, caminhem para os centros da visão e da
audição, e destes desperte a inteligência para, só então,
comunicar energias ao aparelho fonação. (LOURENÇO FILHO,
1969, P.51)
Os processos de leitura e escrita deveriam supor segundo Lourenço Filho
(1969) de um certo nível de desenvolvimento mental e principalmente certo
nível de maturidade. Segundo ele:
Ao invés de supor que a maior ou menor inteligência, tal como
a medimos pelos testes, seja a condição que permita fazer a
leitura e a escrita, será licito supor que uma causa de ordem
mais geral, subjacente tanto aos comportamentos do
pensamento como aos que as próprias técnicas em apreço
tenham de envolver, exista e possa ser revelada por meios
operacionais adequados. Chamemos a essa condição nível de
maturidade. (LOURENÇO FILHO,1969,P.48)
Opondo-se a explicar a dificuldade na aquisição da leitura e escrita em
termos de Quociente de Inteligência ligado à idade, como faziam muitos seus
contemporâneos, Lourenço Filho, com base em suas pesquisas experimentais,
baseou os Testes ABC nas diferenças individuais de maturidade: